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Resumo
Esta dissertação resulta do estudo sobre as representações que os atores locais apresentam
relativamente à transferência das competências na área da Educação para o Poder Local e
enquadra-se no âmbito das políticas educativas municipais.
A fim de obter uma real compreensão do significado dessas representações foi necessário
conhecer que competências têm as autarquias na Educação. Para o fazermos partimos do
modelo de intervenção municipal na Educação, apresentado por Pinhal (2012). Introduzimos
ainda um conceito de Educação mais alargado que abarca a atuação da autarquia na área da
Educação Não Formal (Fernandes, 1995). Associámos a estas, a intervenção municipal no
domínio das Não Competências, atendendo a que Portugal ratificou em 1990 a Carta Europeia
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da Autonomia Local que exalta o contributo do poder local para o desenvolvimento de ações
que promovam o bem-estar da população. Este domínio encontra também expressão nos
municípios que aderiram à Rede das Cidades Educadoras, como é o caso do município que
estudámos. Ainda do ponto de vista teórico abordámos as tendências comuns na União
Europeia relativamente ao processo de transferência de competências. Foi a partir desta
análise que compreendemos que apesar das instâncias supranacionais inculcarem regras e
normas e, mesmo considerando a existência de políticas de empréstimo entre os países da
União Europeia, existem diferentes configurações nos processos de descentralização dos
sistemas educativos na Europa. Portanto, há dificuldade em estabelecer comparações entre os
sistemas educativos europeus, pelo que se opta pelo uso do conceito tendências comuns.
Sendo que esta análise da tendência comum passa pela identificação dos referenciais que são
utilizados e que compreendem um conjunto de mecanismos de orientação, corporizados em
dispositivos postos em prática na ação pública (Maroy, 2005). Concluímos que a tendência
comum no Espaço da União Europeia dita uma evolução dos modelos de regulação, que se
apresentam como modelos pós-burocráticos, o Estado Avaliador e o Quase Mercado (Maroy
2005, citado em Batista, 2015). Portugal afasta-se dessa tendência europeia, e Nathalie Mons
no Relatório Técnico elaborado pelo CNE (Canelas, 2018) descreve o país designando a
existência de um sistema educativo de descentralização minimalista.
A análise dos resultados permitiu demonstrar que o local se apresenta como um espaço
multirregulado onde se interrelacionam os diferentes níveis de regulação, permitindo a
presença de um certo hibridismo da regulação, pela utilização de dispositivos burocráticos e
pós burocráticos, mas onde sobressai a preponderância do controlo do Estado que conserva
a sua centralidade estratégica, transferindo para o local as tarefas de natureza executória.
Neste sentido, confirmamos a descentralização minimalista defendida por Nathalie Mons. Por
outro lado, registamos que há consenso entre os diretores e a autarquia relativamente à
aceitação que a regulação no local deva ser assumida pela autarquia. A autarquia exerce as
suas competências legais, mas ao mesmo tempo, consegue “ir além das competências”, quer
no apoio que presta aos Agrupamentos de Escolas quer no exercício daquilo a que no quadro
teórico designámos de Não Competências. Portanto, há uma tímida uma regulação por baixo da
ação pública que, nos atrevemos a dizer, consente a designação de um certo hibridismo, isto é,
da presença no local, das regulações de controlo e autónoma, respetivamente.
Pelos resultados obtidos, consideramos que não estamos na presença de território educativo, tal
como Barroso (2013) o definiu, pelo facto de existir falta de coesão entre os atores,
mormente pela ausência de envolvimento da comunidade na construção de um projeto
educativo de base local, vindo de baixo. Em relação às representações podemos afirmar que
os atores locais deste concelho desejam que a autarquia tenha mais competências na área da
Educação porque acreditam que a proximidade do decisor à realidade educativa tornará mais
eficaz e eficiente a ação e que esta será mais ajustada às necessidades educativas do Local.
Verificamos que os eleitos locais consideram que a transferência de competências deve ser
considerada no seguimento da criação de regiões administrativas. A autarquia defende que “a
descentralização de competências será sempre uma mais valia para a subsidiariedade entre os
vários níveis da administração, para um serviço público de qualidade” (Reunião de Câmara
Municipal de 11/03/2019- Deliberação sobre a transferência de competências da
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Administração Central). Não obstante esta resposta inequivocamente favorável, apresentam
um grande, mas.
E for foi esse, mas que levou a autarquia a rejeitar em reunião de Assembleia Municipal, em 22
de março de 2019, as competências no domínio da educação transferidas por via do decreto-
lei setorial Decreto-Lei nº21/2019, de 30 de janeiro. Esta rejeição diz respeito à forma como
está a decorrer o processo da transferência.
Dos resultados obtidos entendemos que esta vacilação é acompanhada pelos diretores dos
AE que reforçam a ideia de que há imprecisões, ambiguidades e desconhecimento do
processo.
Da investigação efetuada apurámos que estas inquietações não são exclusivas deste concelho,
encontramo-las em relatórios e em investigações que se têm debruçado sobre a temática da
descentralização e da transferência de competências, não só de âmbito nacional, mas também
a nível europeu. De entre as perplexidades, destacamos o receio das autarquias não terem
sustentabilidade financeira para acomodar as novas despesas, a ausência de recursos humanos
e organizacionais para a execução das novas tarefas.
Referências
Batista, S. (2015). Descentralização educativa e autonomia das escolas: para uma análise da
situação de Portugal numa perspetiva comparada. Tese de Doutoramento. Escola de Sociologia e
Políticas Públicas do Instituto Universitário de Lisboa. http://hdl.handle.net/10071/9492
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