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Surfactantes na ETE: devo me

preocupar?
Surfactantes representam um grupo de químicos bastante diversos, mas
que são todos constituídos por uma região polar (solúvel em água) e outra
apolar (não solúvel em água) (Figura 1). Estes compostos são conhecidos por
sua solubilidade e capacidade de limpeza, o que faz com que estejam presentes
em detergentes e outros produtos de limpeza. Quantidades gigantescas de
surfactantes são utilizadas em domicílios e indústrias diariamente, fazendo com
que muito chegue até os solos e corpos d’água.
Figura 1. Exemplos da estrutura química de alguns surfactantes. 

Os quadrados verdes indicam as regiões polares da molécula (Adaptado


de Ivanković & Hrenović, 2010).

Após o uso, os surfactantes residuais são descarregados no sistema de


esgoto ou diretamente nos corpos d’água. Estes químicos também acumulam
em grandes quantidades em ETEs. Podemos afirmar que os elevados níveis de
surfactantes no ambiente podem afetar significativamente o ecossistema, uma
vez que sua toxicidade sobre diversos organismos (de bactérias até mamíferos)
é muito bem conhecida (Tabela 1).
Tabela 1. Toxicidade de diversos surfactantes sobre vários
organismos. (Adaptado de Ivanković & Hrenović, 2010).

 
A química dos surfactantes

Quando dissolvidos na água em baixas concentrações, os surfactantes


existem como monômeros (unidades dispersas). Em concentrações mais
elevadas, eles agregam-se para formar micelas, estruturas globulares nas quais
as frações polares são expostas na região externa, mantendo as partes
apolares da molécula no interior da micela (Figura 2). É a capacidade de formar
estas estruturas que garante aos surfactantes a sua capacidade de solubilização
e limpeza.
Figura 2. Exemplo genérico de estrutura de uma micela.
 
Ecotoxicidade dos surfactantes

Surfactantes apresentam uma notável atividade biológica. Alguns, como


os surfactantes aniônicos, são capazes de se ligar a moléculas bioativas, como
peptídeos, enzimas e até DNA. Este tipo de ligação pode alterar as
características moleculares, como a capacidade de enovelamento da proteína e
até mesmo sua carga, o que compromete sua função biológica. Outros tipos de
surfactantes, como os catiônicos e os não-iônicos, atacam membranas
biológicas, aumentando a permeabilidade da célula e levando a perda de
moléculas, muitas vezes fatal para o organismo. Mesmo após a degradação, os
efeitos da poluição por surfactantes podem ser sentidos. Subprodutos da
degradação de certos tipos destes compostos podem atuar como disruptores
endócrinos em peixes.

Um dos motivos pelos quais os surfactantes são tão preocupantes para o


ambiente é o seu uso massivo no dia a dia. Altas concentrações destes
compostos podem causar problemas sérios nas ETEs. O primeiro deles é a
espuma (Figura 3), que neste caso costuma ser branca, leve e brilhosa. Além
da aparência ruim, a espuma pode levar ao arraste de sólidos, um problema
bastante grave. Outra preocupação relacionada aos surfactantes está
relacionada com sua toxicidade sobre microrganismos do lodo ativado, o que
pode comprometer significativamente a qualidade do tratamento. De forma
geral, surfactantes nas concentrações de 100-500 mg/L causam inibição da
atividade bacteriana no lodo ativado.
Figura 3. Foto de espuma em sistema de lodos ativados.

Muita pesquisa é feita com compostos de amônio quaternário (QACs),


devido a sua atividade antimicrobiana. Estes compostos são muitos utilizados
como desinfetantes de superfícies e mãos no setor de saúde. Por conta disso,
alguns autores levantaram a hipótese de que os QACs podem exercer um efeito
prejudicial sobre as bactérias também do lodo ativado, comprometendo o
delicado equilíbrio do sistema. Para bactérias nitrificantes, os efeitos negativos
dos QACs já podem ser observados em concentrações de 2 mg/L.

Estudos futuros de toxicidade e biodegradação são necessários para


subsidiar a retirada de compostos altamente tóxicos e não biodegradáveis do
uso comercial e substituí-los por outros menos prejudiciais ao ambiente.
 
Referências
 
Tradução livre de:
 
Ivanković, T. and hrenović, J. Surfactants in The Environment. Arh Hig Rada
Toksikol. 61, 95-110, 2010.

Retirado da internet 23/09/2020: https://acquaexpert.com.br/surfactantes-na-


ete-devo-me-preocupar/

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