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DEUTERONÔMIO 6 E SEUS DESDOBRAMENTOS.

Por ¹Flavyandressa Lobato Sá

Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.


Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas
as tuas forças.
E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e deitando-te e levantando-te.
Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos.
E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.
Deuteronômio 6:4-9
Um Rei, um Reino e uma Mesa. Esse é o cerne da oração clássica do
monoteísmo. Deus ensinando seu povo de que amando-O de todo o seu coração(centro
de toda disposição humana), e de toda a tua alma(psiquê, existência), e de todas as tuas
forças(com todo o seu muito e tudo) todas as outras coisas permanecem na sua devida
ordem, já que o homem foi criado para glorificar a Deus e gozá-lO para sempre. Uma
vez privado de sua primeira e maior de todas as relações, tudo o mais entra em
desordem.
Esse ensino aponta para as três instituições formativas que o ser humano precisa
para estabelecer relações ao longo de sua vida; a família, a igreja e a escola. Afinal, a
tarefa de educar não é mono institucional. Mas antes, de chegar na escola vamos passear
um pouco pelas duas primeiras, a partir das instruções de Deus a seu povo.
Obediência é a palavra chave do último livro do Pentateuco escrito pelo
libertador do povo; Moisés.
Viaja comigo até as Campinas de Moabe e visualiza todo o povo sentado
recebendo instruções para entrar na Terra Prometida; esse é cenário. Era preciso
recapitular tudo para que o povo não esquecesse: “as palavras que Moisés falou a todo
o Israel além do Jordão, no deserto, na planície defronte do Mar Vermelho, entre Parã
e Tôfel, e Labã, e Hazerote, e Di-Zaabe.
Deuteronômio 1:1
Era uma nova geração, seus pais tinham morrido no deserto exatamente pela
desobediência as preciosas instruções de Deus. Não confiaram, então, não tinham o que
obedecer.
Ele começa dizendo: Escuta, depois Ama, em seguida Ensina, mas não esquece
que ensinar aqui tem várias formas; falando, andando, deitando, levantando, atando em
tuas mãos e escrevendo. Olha aí a Pedagogia surgindo. Afinal, estamos envolvidos na
formação do ser humano e quem é esse ser? Imago Dei. A antropologia cristã parte de
quem Deus é, pois, somos sua imagem e semelhança.
E Moises como bom educador estava fazendo seu papel. Cooperando
relacionalmente para que o ser humano (povo de Israel) corresponda ao máximo a
imagem de Deus.
Os umbrais das casas literalmente eram o estabelecimento do limite entre a vida
dentro e fora, privada e pública, a fronteira dessas relações. O exercício do nosso
mandato que é espiritual, social e cultural. O que aprendi de todas as maneiras dentro,
precisa sair e estabelecer relações com a criatura e a criação. O cristão dentro e fora de
casa.
E a escola então, qual sua função básica? Formação intelectual e cultural
E o que é escola senão uma instituição historicamente criada; uma associação de
famílias.
A escola nasceu no contexto de uma comunidade que exigia a formação dos seus
filhos, para além do oficio de seus pais e família. Os professores até então, eram pessoas
articuladas e com formações diferentes, a fim de responder a uma crescente e complexa
demanda advinda das revoluções e evoluções.
E assim, com as mudanças do ser humano as Pedagogias vão mudando para se
adaptar.
Seguimos viagem pela história da educação para entender como a “escola” foi se
adaptando ao ser humano.

A Educação Primitiva
A educação entre os povos primitivos ocorria de forma espontânea, não havia
uma pessoa dedicada à função de instruir as crianças ou jovens. Eles aprendiam o que
era necessário à própria sobrevivência.
As aprendizagens se restringiam à busca por alimentação, abrigo e defesa contra
os ataques tanto de animais quanto de outras tribos.
Podemos afirmar que a imitação era a principal forma de educar usada pelos
adultos para ensinar os mais jovens.
Com o passar dos séculos, começaram a fazer parte da educação à observação de
fenômenos naturais, alguns rituais sagrados e a preparação para a guerra, o que exigia
práticas de treinamento para os jovens.

Educação Oriental
Compreendida os povos do Egito, Índia, China, além de hebreus e árabes, dentre
outros. Nesse momento da história já podemos identificar civilizações desenvolvidas.
Convém destacar que para se ter civilização é necessário ter alguma forma de
organização política, como Estado ou cidades. A educação que, no começo, era restrita
apenas a cunho religioso, ao longo do tempo tornou-se intencional. A escrita
sistematizada criada no oriente, associada à organização social mais ampla, se
estabeleceu e levou a criação de escolas e mestres em alguns dos países orientais.
No Egito, as crianças filhas do povo frequentavam as escolas elementares a
partir dos sete anos de idade para aprenderem a ler, escrever e contar. Os filhos dos
funcionários iam às escolas superiores ou eruditas, em que, além do nível elementar,
aprendiam astronomia, matemática e arte em geral, como música e poesia.Educação
entre os hebreus era baseada nos livros sagrados Tora e Talmud. Tinha duração de 10
anos. As crianças entravam com oito anos e concluíam aos 18 anos.
Entre os hindus, na sociedade de castas, a educação era privilégio apenas das
castas superiores, as escolas não eram comuns. Geralmente os pais, com base nos textos
Vedas, eram responsáveis pela educação dos filhos.
Na China, a educação sistematizada só ocorreu a partir do período imperial. No
século V a. C. dividia-se em elementar, do povo e superior, que se destinava aos
funcionários mandarins.

Educação Medieval
Quando ocorreu a expansão do cristianismo, a educação cristã também se
expandiu por toda a Europa (V – XV d. C.). O caráter é essencialmente religioso,
dogmático, predominando matérias abstratas, literárias, com prejuízo à educação
intelectual e científica. é empregado o uso do latim como língua única.

Educação Humanista
Após o século XIV é criada a educação humanista, no período da renascença,
que faz emergir a cultura clássica greco-romana. A disciplina e a autoridade, até então
predominantes, deixam espaço ao desenvolvimento do pensamento livre e crítico. As
matérias científicas, antes proibidas pela Igreja, agora compõem o currículo. Surge o
colégio humanista ou escola secundária, onde são estudados o latim e o grego, embora
não tenham caráter erudito. O ideal de educação na renascença eram os exercícios
físicos tais como o salto, a corrida, a luta, a natação etc.

Educação Cristã Reformada


No século XVI surge a reforma religiosa, e como resultado, uma educação cristã
reformada, tanto católica, como protestante. A educação católica pós-renascença foi
marcada por um movimento conhecido por Contrarreforma contra os protestantes. As
ordens religiosas, das quais se destacava a Companhia de Jesus, foram as responsáveis
pela divulgação do cristianismo durante séculos. O RatioStudiorum era o “currículo”
dos jesuítas, que ministravam uma educação inspirada nas escolas humanistas.

Educação Realista
Esta fase começa no século XVII, com base na filosofia e nas ciências novas de
Galileu, Copérnico, Newton e Descartes. A educação se renova em outras perspectivas e
dá início aos métodos da educação moderna com dois dos maiores nomes da didática
Moderna – Ratkee Comenius.

Educação Naturalista
Com base nas ideias de Jean-Jacques Rousseau, a educação naturalista teve
influência decisiva na educação moderna. São pressupostos para a educação: a
liberdade, a atividade pela experiência, a diferença entre a mente da criança e do adulto.
A criança deixou de ser vista como um adulto em miniatura, e passou a ser vista como
um ser em desenvolvimento. O propósito da educação é que ela seja integral, que atenda
aosaspectos físicos, intelectuais e morais. Para Rousseau, cada aluno deveria ter um
educador.

Educação Nacional
Ideia originada com a Revolução Francesa no século XVII, a educação nacional
pressupôs a responsabilidade do Estado para o estabelecimento da escola primária
universal, gratuita e obrigatória, com vistas à formação da consciência patriótica.
O período Colonial durou de 1500 até a Independência, em 1822. A partir daí,
iniciou-se a fase política do Império, que durou até 1889. A educação escolar no período
político do Brasil Colônia passou por três fases: a de predomínio dos Jesuítas; a das
reformas realizadas pelo Marquês de Pombal, principalmente apartir da expulsão dos
jesuítas do Brasil e de Portugal em 1759; e a época de D. João VI no Brasil (1808 - 21),
quando então nosso país foi sede do império português (GHIRALDELLI, 2009 p. 1).
Em março de 1549, com o fim do regime das capitanias hereditárias, chegou ao
Brasil o primeiro Governador Geral, Tomé de Souza, que trouxe em sua comitiva seus
assessores e os primeiros jesuítas. Desembarcaram aqui o Padre Manoel de Nóbrega e
dois outros jesuítas. Somente mais tarde vieram mais alguns membros da Companhia de
Jesus para ajudar no trabalho de catequização dos índios e na educação dos filhos da
elite, os brancos europeus. O predomínio dos jesuítas na educação brasileira transcorreu
entre os anos de 1549 e 1759, com a expulsão de todos os padres pertencentes à
Companhia de jesus, de Portugal e seus domínios, pelo Marques de Pombal. Este
período se constituiu em dois séculos de memória e história do Brasil e da organização
escolar, que se consolidou a partir da instalação do Governo Geral, com a interferência
da Igreja, predominantemente através da atuação da ordem da Companhia de Jesus com
os padres jesuítas.Tomé de Souza fundou a cidade de Salvador para ser a capital e sede
do Governo Geral. Quinze dias após a chegada, os jesuítas criaram em Salvador a
primeira escola elementar brasileira. Os jesuítas permaneceram como mentores da
educação brasileira durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram expulsos de
todas as colônias portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o marquês de
Pombal, primeiro-ministro de Portugal. Quando foi expulsa, a Companhia tinha 25
residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e
escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades, nas quais havia casas da
Companhia de Jesus.

Todas as escolas jesuítas


eram regulamentadas por
um documento, escrito por
Inácio de Loiola, o Ratioatque
Instituto Studiorum, chamado
abreviadamente de Ratio
Studiorum.
Os jesuítas fundaram muitas escolas com a finalidade de formar fieis e
servidores. As escolas visavam dar educação elementar aos filhos dos colonos e aos
índios, educação média aos homens da classe dominante, e ensino superior para aqueles
que seguiam a carreira religiosa. Aos poucos a obra da catequese foi cedendo lugar à
educação da elite. Tão bem formados foram os da aristocracia rural brasileira, que se
mantiveram inalterados no poder por mais de três séculos. Foram os teólogos, juízes e
magistrados que permaneceram nos cargos políticos mais elevados do país.

visando a profissionalização
assume destaque como
veículo de instrução formal
da juventude, em detrimento
da frequência das escolas
elementares de primeiras
letras. O aprendiz era admitido
através de um contrato entre o
seu pai e o mestre, a princípio
oralmente e depois por escrito,
fixando o preço e a duração
da aprendizagem, detalhando
os deveres do mestre e do
aprendiz e submetido a
juramento perante outros
mestres, para marcar de forma
solene a entrada de um novo
membro na corporação. (Anais
do XXXIV COBENGE, 2006).

A chegada da Família Real, em 1808, foi um marco decisivo para as mudanças


sociais, econômicas e políticas que começaram a ocorrer no Brasil, a partir de então. A
Coroa Portuguesa se viu obrigada a deixar Coimbra após a invasão de Portugal pela
França. Sob a guarda da Inglaterra cruzaram o atlântico trazendo mais de quinze mil
nobres e funcionários. Importantes medidas econômicas foram tomadas logo após a
chegada. A primeira foi àabertura dos portos. O Príncipe Regente foi obrigado a
decretar abertura dos portos às nações amigas que, naquele momento, se restringia à
Inglaterra. Desencadeiam-se então as forças renovadoras no sentido de transformar a
antiga colônia numa comunidade nacional e autônoma.
Essa medida favoreceu a comercialização, beneficiando os ingleses que
poderiam vender mais produtos sem a interferência de Portugal. Os grandes
proprietários de terras e de escravos sentiram-se beneficiados com a possibilidade de
auferirem maiores lucros.
Nesse processo acelerou-se a urbanização e com ela uma nova realidade, ocorreu
a criação da Imprensa Régia, da Biblioteca Pública, do Museu Nacional e a circulação
do primeiro jornal e da primeira revista. A abertura dos portos não ampliou apenas o
comércio, mas a vida social em todos os aspectos: cultural, intelectual e educacional.
Foram criadas as Academias Reais da Marinha e a Militar, além de várias
escolas de formação profissional e cursos superiores de agricultura, botânica, de
química e desenho técnico.
Embora fossem organizações isoladas, não se constituindo emuniversidades,
mas com preocupações mais profissionalizantes, tais iniciativas foram bastante positivas
e significaram o rompimento com o ensino jesuítico. O ensino primário e secundário
também recebeu um impulso, mais de 60 escolas de primeiras letras e mais de 20
cadeiras de gramática latina foram criadas.
A educação na era Colonial se restringia a algumas escolas primárias e médias,
seminários eclesiásticos e as aulas régias. Com a chegada de D. João, foram criados os
primeiros cursos superiores com a finalidade de atender à Marinha e ao Exército, as
Academias Reais da Marinha e a Militar, além dos cursos Médico-Cirúrgico precursores
das antigas faculdades de medicina. Foram criados também os cursos de Economia
Política, Química e Agricultura, além da Real Academia de Desenho, Pintura,
Escultura e Arquitetura Civil, que foi transformada depois na Escola Nacional de Belas
Artes.
Com o objetivo de formar uma elite aristocrática e nobre, o foco da educação foi
direcionado para o ensino superior em detrimento da escola primária e média. Outros
cursos foram criados, como a Faculdade de Direito e a de Engenharia. Os novos cargos
administrativos criados a partir da República foram preenchidos pelos letrados, que,
formados nas faculdades, principalmente de Direito, ocupavam as melhores posições
administrativas.
A escola funciona como aparelho ideológico de estado e atua como
dissimuladora das reais intenções do pensamento pedagógico que divulga. Faz crer que
há uma lógica interna na escola que justifica toda ação pedagógica como independente,
quando na verdade não o é. São decisões políticas, econômicas e sociais que norteiam o
pensamento pedagógico adotado em cada país.
As desigualdades de oportunidades sociais no Brasil foram atribuídas à escola
como desigualdades de oportunidades educacionais. Como se à escola coubesse à
responsabilidade de desenvolver todas as potencialidades individuais a ponto de
proporcionar aos indivíduos a possibilidade de superar as dificuldades que os impedem
de ascender socialmente. Quando na realidade, sabe-se que as causas estavam em
questões macros, exteriores à escola.
Sendo assim, concluímos que esse desenvolvimento; mudança através do tempo,
alienou-se do Deus Criador e de sua criação causando transtornos a todo seu contexto,
incluindo a forma de como se ver o homem e como ele será formado em sua
integralidade.
O retorno as veredas antigas, aponta para uma Pedagogia Cristã que tem sua
origem e foco em Deus para que todas as outras coisas entrem em ordem e se ajustem
como um corpo.

REFERENCIAS

BARBOSA, Maria Simara Torres. História da Educação- São Luís: UemaNet, 2010.

FONTES, Filipe. Educação em casa, na igreja, na escola. São Paulo. Cultural Cristã,
2018.

SAGRADA. Bíblia. Almeida Corrigida Fiel. 1996

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