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O caso sub examine se trata de uma clara hipótese de responsabilidade civil do Estado.

O
ordenamento jurídico brasileiro, atualmente adota, por força do art. 37, §6º, CF e do art. 43,
CC, a responsabilização objetiva em relação às pessoas jurídicas de Direito Público e às de
Direito Privado prestadoras de serviços públicos, o que é embasado pela Teoria do Risco
Administrativo. Segundo essa teoria, a atividade estatal é uma atividade de risco, devendo o
Estado ser responsabilizado pelos danos que provoca, independentemente de dolo e culpa.

A responsabilidade objetiva do Estado tem como característica a desnecessidade de o


lesado pela conduta estatal provar a existência da culpa do agente. Para configurar a
responsabilidade objetiva, bastam três pressupostos: (I) ocorrência do fato administrativo;
(II) dano patrimonial ou moral e (III) nexo causal entre fato e dano. Nesse sentido, existentes
os citados pressupostos, o Estado tem o dever de indenizar o lesado pelos danos que lhe
foram causados sem que tenha qualquer investigação de culpa. Tal orientação encontra-se
firmada em jurisprudência do Tribunal (STF ARE 644.395 AgR). 

No que tange à responsabilidade do Estado do Rio de Janeiro em relação à atuação do


policial, verifica-se que há responsabilidade objetiva estatal, basta ver que estão presentes
todos os pressupostos supracitados. Nesse sentido, como pessoa jurídica que é, o Estado
não pode causar dano a ninguém, de modo que sua atuação se consubstancia por seus
agentes. Dessa maneira, conforme o artigo 37, §6º da Constituição Federal, têm-se que o
Estado só pode ser responsabilizado se o preposto estatal estiver no exercício de suas
funções ou, ao menos, a pretexto de exercê-la. No caso em questão, o sargento estava se
conduzindo a exercer sua função estatal; uma vez que, apesar de estar sem farda, se
utilizou de arma pertencente à corporação. É assim que o STF tem se inclinado (RE nº
160.401-SP; RE nº 363.423-SP). 

Nesse contexto, entende-se que se um servidor estiver atuando em nome da União, do


Estado, do Município, do Distrito Federal ou de uma autarquia, o dano que causar será
atribuído, primeiramente, à pessoa jurídica estatal a que pertencer. Logo, compete ao
Estado o ressarcimento dos danos, independente da ilicitude da conduta do agente.
Todavia, em relação ao município de Vai e Vem, é necessário observar que a obrigação
médica, bem como a da instituição hospitalar, é de meio. Isso significa, em outras palavras,
atender o paciente adequadamente, observando a prudência e a diligência de acordo com
seu estado de saúde. Comprovado o nexo de causalidade entre a conduta do hospital e a
infecção adquirida por João, o Município deve ser responsabilizado, conforme orientação
jurisprudencial (TRF-2 - AC: 126012 96.02.40294-6). Além disso, a doutrina também
defende a tese de que na responsabilidade civil do Estado, em matéria de atendimento
médico, o que está em jogo é a chamada falta do serviço público causadora de dano ao
particular, e não a responsabilidade de um agente público em particular (VENOSA, 2008) 
Por ora, pode-se falar que o Estado, apesar de dar causa ao resultado, não foi o único
causador pelo dano posto em voga pelo lesado, vide incapacidade permanente e cicatriz na
perna; então, a ação do agente estatal juntamente com a infecção hospitalar são concausas
responsáveis pela ocorrência do dano. Portanto, por respeito à equidade, o Estado e o
município devem reparar o dano de forma proporcional a sua participação no evento lesivo. 

A indenização corresponde ao montante pecuniário que traz a reparação do dano e se


aplica por força dos arts. 186 e 927 do Código Civil. In casu, o lesado deve ser indenizado
da maneira mais ampla possível, devendo ter reconstituída suas despesas hospitalares e o
que deixou de ganhar em virtude da incapacidade para o trabalho pelo período de 60 dias (2
salários mínimos), isto é, a reparação dos danos materiais deve se dar tanto sob a forma de
danos emergentes, quanto sob a de lucros cessantes. Outrossim, devem ser acrescidos ao
montante indenizatório os juros de mora e a atualização monetária, conforme a súmula 54
do STJ. Além disso, caberá, ainda, indenização, em consonância com a jurisprudência da 3ª
Turma do STJ e o art. 950, CC, em função da incapacidade parcial permanente a que foi
acometida, indenização essa que deverá ter caráter vitalício e ser equivalente à redução da
capacidade laborativa. Isso porque a incapacidade para atividades laborativas, seja ela
parcial ou total, teve início com o evento danoso, mas se estenderá por toda a vida da
vítima. Ainda, cabível o pleito por indenização de dano estético, decorrente da cicatriz
resultante do fato, que causa embaraços ao indivíduo, pois, apesar da não exposição
cotidiana, há o constrangimento para manter relações íntimas e para se banhar em praias e
piscinas públicas, além de outras tantas situações que agora terá de suportar. Por
derradeiro, pertinente, também, o pedido de indenização por danos de natureza moral, uma
vez que João teve de se sujeitar a circunstâncias e transtornos para além daquilo que se
concebe como o ordinário, cotidiano, de modo que não houve mero aborrecimento, mas
ofensas graves que extrapolaram a esfera patrimonial, violando, sobretudo, seu direito
personalíssimo relativo à integridade física. Ressalta-se que é lícita a cumulação dos
pedidos de indenização por danos estéticos e morais, segundo a Súmula 387 do STJ.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou
profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do
tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à
importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

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