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A GRAMÁTICA GERAL CLÁSSICA ENQUANTO

PROGRAMA DE PESQUISA CIENTÍFICA*

André Leclerc**
[traduzido do francês por Wildoberto B. Gurgel]

“[A] obra da gramática é um diamante bruto que a retórica deve polir [...]”1

1. A Gramática e a Lógica de Port-Royal: nascimento de um programa


de pesquisa

A Gramática (1660) e a Lógica (1662) de Port-Royal2 abriram uma


nova era na história das ciências da linguagem. Insiste-se muito sobre a dívida
dos Mestres de Port-Royal (Arnauld, Nicole, Lancelot) para com Descartes,
Agostinho, Sanctius ou mesmo Aristóteles3, no entanto, não existe nenhuma
dúvida quanto à profunda originalidade da obra lógico-gramatical dos famosos
“Messieurs de Port-Royal” 4. Quanto à influência dessa obra sobre os gramáticos

*
Esse texto é uma versão retocada de uma conferência apresentada no Congresso da
ACP (Associação Canadense de Filosofia), ocorrido em Québec em maio de 1989.
Trata-se de um pequeno corte resumido da primeira parte da minha tese de doutorado.
Essa tese tornou-se possível graças à ajuda financeira do FCAR e do CRSH. Também
aproveitei de uma bolsa de pós-doutorado (CRSH) para aprofundar as questões relativas
à racionalidade e ao uso normal da linguagem na gramática filosófica clássica. Tenho a
lhes exprimir toda minha gratidão (Nota do Autor).
[Artigo publicado em Dialogue XXXII (1993) 77-94. sob o título “La Grammaire
générale classique em tant programme de recherche scientifique”.] (Nota do Tradutor)
**
Université du Québec à Trois-Rivières e atualmente professor adjunto da Universidade
Federal da Paraíba. (Nota do Tradutor).

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e filósofos das gerações seguintes, ela é de uma notável persistência e se faz
sentir durante um século e meio, apesar das críticas, correções e inovações que
ela pode inspirar, bem como, da diversidade das orientações filosóficas ou
gnosiológicas dos mais ilustres gramáticos das luzes5. A obra dos “Messieurs”
propôs uma visão unificada dos fenômenos lingüísticos, e o “aparelho teórico
proposto em Port-Royal continua a funcionar essencialmente” (Cf Dominicy.
La naissance... p.14), para os “gramáticos filósofos” da Encyclopédie (Du
Marsais, Beauzée), bem como para Condillac e seus sucessores “ideólogos”
(em particular Destutt de Tracy).
Inspirando-me na metodologia dos programas de pesquisa científica de
Imre Lakatos6, gostaria de identificar e descrever o essencial do programa de
pesquisa dos gramáticos filósofos, bem como, tentar explicar através de argu-
mentos “internos” algumas de suas decisões metodológicas mais importantes
(Por que estudar tal fenômeno e não outro? Por que rejeitar tal tipo de hipótese?
etc). Veremos adiante que os gramáticos filósofos, além de se consagrarem à
Gramática geral propriamente dita (o estudo teórico e analítico das condições
que devem satisfazer todo sistema de signos para ser uma língua humana), se
ocuparam de questões que freqüentemente ultrapassam em muito esses limites,
questões tocantes à retórica, à poética, à lexicografia, à pedagogia (aprendiza-
gem das línguas), ou de problemas ligados à sinonímia, à não-literalidade, às
inversões, à tradução e à origem das línguas. Por trás da diversidade dessas
preocupações teóricas, há um único programa de pesquisa em jogo.
Desenvolvendo os princípios fundamentais do programa dos gramáticos
filósofos (núcleo duro), as teorias ou hipóteses auxiliares destinadas a precisar,
completar e proteger esses princípios da falsificação (cinturão de proteção), e,
enfim, certas indicações ou instruções (presentes na maior parte na obra dos
Messieurs) sobre a maneira de desenvolver uma teoria ou de resolver certos
“enigmas” (heurística positiva), acredito estar em condições de trazer à luz a
articulação de um conjunto suficientemente considerável de teorias no interior
de um mesmo programa, e de fazer ressair definitivamente “a autonomia relati-
va” da Gramática geral clássica frente às principais correntes filosóficas da épo-
ca, bem como, a unidade dessa tradição de pesquisa que se abriu, sobretudo na
França, de Port-Royal aos ideólogos.

2. Notas preliminares

Da Grammaire générale et raisonné (1660) de Arnauld e Lancelot à


Grammaire (1803) de Destutt de Tracy, os gramáticos filósofos não cessaram
de afirmar o caráter científico e teórico da Gramática geral opondo-a constante-
mente à “arte gramatical”. Esta última se limita ao estudo da gramática de uma

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língua particular, esforçando-se para respeitar o máximo possível “o bom uso”;
aquele dos melhores escritores e da “parte mais sana da Corte”, como dizia
Buffier7. A Gramática geral busca, ao contrário, explicar “o que é comum a
todas as línguas” (Port-Royal); ela se caracteriza, portanto, por uma preocupa-
ção com a adequação explicativa8, e por sua pretensão de universalidade. No
século seguinte, Du Marsais (Les véritables príncipes de la grammaire [1729])
fala também de uma “compilação de observações que convêm a todas as lín-
guas”, e Beauzée (Grammaire générale [1767]), mais explícito, a define como
“a ciência demonstrada dos princípios imutáveis e gerais da linguagem pronun-
ciada ou escrita, dentro de qualquer língua que essa seja”9. A Gramática geral
contém as regras constitutivas10 da “arte de falar” que fazem com que um siste-
ma de signos possa existir como língua11, ou ainda, os princípios da construção
dos enunciados em todas as línguas, inclusive a álgebra, “a menos arbitrária das
línguas” (Condillac).
Pode-se, ainda, definir com precisão a Gramática geral como o estudo
de dois tipos de condições: uns que concernem à representação dos pensamen-
tos da língua; os outros, à comunicação dos pensamentos do discurso. A Gramá-
tica geral é, assim, o estudo das condições que devem satisfazer todo sistema de
signos para representar (ou expressar, ou ainda, analisar) completamente o pen-
samento e para lhe comunicar eficazmente, isto é, dizê-lo claramente e sem muito
embaraço. Essas condições são, portanto, forçosamente satisfeitas pelas línguas
dos diferentes povos da terra, mais ou menos bem pelas línguas primitivas dos
nossos “primeiros ancestrais”, e de melhor em melhor pelas línguas ditas “poli-
ciadas” [policées] (como o grego, o latim, o francês etc.). As línguas evoluem
para melhor satisfazer as necessidades dos povos em matéria de comunicação.
Essa lenta evolução se faz em direção à completude expressiva, por um lado, e
à comodidade, à economia, à simplicidade e à elegância, por outro.
Nas teorias gramaticais dos gramáticos filósofos se encontram, então,
partes do discurso ou traços sintáticos que são necessários12 à expressão (ou
representação ou análise) do pensamento de todas as línguas humanas policia-
das. Na Gramática geral, a linguagem é a expressão (ou representação, etc) do
pensamento e o pensamento é o mesmo em toda parte e para todos. A forma
lógica do juízo e dos outros atos do pensamento (desejar, ordenar, interrogar
etc) em sujeito-predicado impõe às frases (convencionais) orais ou escritas, uma
estrutura análoga na qual se deixa reconhecer as palavras ou traços sintáticos
que servem para designar os objetos sobre os quais queremos falar. Essas condi-
ções são, em grande parte, impostas pela lógica, em particular pela teoria do
juízo. A primazia do juízo em lógica se faz sentir na gramática pelo fato de que
falamos raramente para dizer simplesmente o que concebemos, mas antes, qua-
se sempre, para dizer o que julgamos dos objetos concebidos.
Por outro lado, as línguas têm feito avanços para comunicar, e não sim-

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plesmente para representar o pensamento conceitual. A comunicação impõe
também suas condições: ela deve ser desembaraçada, breve, clara, elegante,
etc. Essas condições não pertencem à representação dos pensamentos, mas à
atividade que consiste em comunicá-los eficazmente. Ao lado dos elementos
necessários do discurso, os gramáticos filósofos reconheceram, então, algumas
classes de palavras ou traços sintáticos que, sem serem necessários, são contu-
do “úteis” no sentido de que eles “simplificam o discurso” e o tornam mais ele-
gante. Esse é o caso, por exemplo, dos advérbios (equivalentes aos sintagmas
preposicionais, “sabiamente” = “com sabedoria”), dos verbos adjetivos (equi-
valentes ao verbo substantivo no presente do indicativo seguido pelo gerúndio
do verbo correspondente: “ama” = “está amando”), da maioria dos pronomes,
geralmente definidos na época pela sua capacidade de “tomar o lugar de um
nome” e que, em conseqüência, não são necessários à representação dos pensa-
mentos; e, enfim, das conjunções, que são, depois de Condillac (Grammaire
[1775]) e Destutt de Tracy (Grammaire [1809]), equivalentes às funções
proposicionais, isto é, à uma proposição incompleta tomando outras proposi-
ções como argumentos e compondo uma nova proposição, como se, que equiva-
le a “Sendo dada a suposição —, deve-se concluir que...”. Todas essas categori-
as de expressões são úteis, mas não necessárias à representação dos pensamen-
tos. O ideólogo Destutt de Tracy, por exemplo, após ter estudado as partes das
quais a proposição gramatical “é necessariamente composta” se propôs a “exa-
minar os diferentes tipos de palavras que se engastam nas línguas aperfeiçoa-
das, para tornar a expressão do pensamento mais completa e mais fácil”
(Grammaire [1809], Paris: Vrin, 1970, p.67). As línguas humanas, para sim-
plesmente “sobreviver”, devem fazer muito com pouco, expressar uma infinida-
de de idéias e de pensamentos com a ajuda de algumas milhares de palavras e de
um pequeno número de regras. Isso que explica, assinala também o ideólogo
(como os Messieurs um século mais cedo), que uma boa parte disso que expri-
mimos permanece subentendido, que as palavras que reaparecem mais
freqüentemente no discurso, como os artigos, ou ainda as indeclináveis, como
as conjunções e as preposições, sejam quase sempre as monossílabas, bem como,
que as partes do discurso, as mais fundamentais, tenham a capacidade de cumular
as significações, como os substantivos que, além de sua significação principal,
significam o número, o gênero e o caso, e do mesmo modo os verbos que signi-
ficam, além do atributo, a pessoa, o número, a existência, o tempo, a voz, o
aspecto e o modo. Os gramáticos filósofos reconheceram facilmente uma espé-
cie de “princípio do menor esforço” governando a evolução das línguas e o uso
da linguagem, uma espécie de “Lei de Zipf” ligando a extensão das unidades à
sua freqüência segundo uma relação de proporção inversa.
Uma Gramática geral compreende normalmente uma parte que estuda a
“face material” da linguagem, seus aspectos fonéticos ou fonológicos. Mas é,

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sobretudo, a “face espiritual” da linguagem que interessa aos gramáticos filóso-
fos e que retém nossa atenção a seguir13.

3. O núcleo duro

Creio que se pode reduzir o núcleo duro desse programa de pesquisa


aos seis princípios seguintes:
(P1) A linguagem é a expressão (ou a análise) do pensamento;
(P2) A principal função da linguagem é a comunicação dos pensamen-
tos;
(P3) O pensamento é o mesmo em toda parte e para todos (postulado da
universalidade do pensamento);
(P4) Há universais lingüísticos substanciais: para expressar (ou anali-
sar) completamente o pensamento, se usa sensivelmente as mesmas
categorias de expressões e as mesmas regras em todas as línguas poli-
ciadas;
(P5) O uso normal da palavra é uma atividade racional orientada para
um fim (principalmente a comunicação);
(P6) O princípio da analogia: as línguas se formam e evoluem respei-
tando certos modelos estáveis (como os paradigmas de declinação e de
conjugação), sem os quais elas se tornariam irregulares, as formas lin-
güísticas se multiplicariam inutilmente, e os mecanismos da língua se
confundiriam, dificultando sua aprendizagem e deixando seu uso mais
difícil (a analogia deve, portanto, sempre levar o melhor sobre a anoma-
lia).
A heurística negativa de nosso programa de pesquisa subtrai esses prin-
cípios à falsificação. Se um único desses princípios for ameaçado, ele é imedia-
tamente reafirmado ou declarado inatacável pelos pesquisadores engajados no
programa. O melhor exemplo é, sem dúvida, fornecido pelas reações dos
gramáticos filósofos às concepções de Maupertuis (Réflexions philosophiques
sur l’origine des langues et la signification des mots [1748]) que questionava o
postulado da universalidade do pensamento deixando pairar a ameaça de uma
incomensurabilidade entre as línguas não aparentadas14. Essas reações falam
alto e claro sobre a importância que eles davam a esse princípio: elas eram todas
negativas, e a cada vez reafirmava a universalidade dos sentidos, das operações
da mente e da natureza humana em geral. A linguagem poderia ser a expressão
do pensamento sem que o pensamento fosse o mesmo em toda parte e para
todos; mas, nesse caso, a Gramática geral seria sem fundamento, e a existência
de universais lingüísticos substanciais não poderia mais ser erigida como um
princípio. Várias teorias auxiliares do programa de pesquisa são destinadas a

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proteger P3 contra objeções eventuais ou contra-exemplos aparentes. A heurística
negativa do programa dos gramáticos filósofos lhes desviaria de empreender
pesquisas sobre uma hipótese (a relatividade lingüística) totalmente incompatí-
vel com um dos princípios fundamentais do núcleo duro. A reação dos gramáticos
filósofos à hipótese de Maupertuis não é, então, uma simples manifestação de
dogmatismo ou uma obstinação de bode velho; ela pode ser reconstruída como
uma decisão racional dos pesquisadores engajados no programa.
Embora eles sejam bem conhecidos, gostaria de fazer aqui um breve
comentário sobre os princípios do núcleo duro a fim de precisá-los e de clarificá-
los. P1 faz da Gramática geral uma teoria “ideacional” da linguagem15, uma
teoria que explica os fatos das línguas e os universais lingüísticos ao reportá-los
às operações da mente que eles supostamente exprimem, como a concepção
(que produz as idéias ou os conceitos), o julgamento (que se exprime pelas
proposições), e os outros “movimentos da alma”, como a interrogação, o co-
mando, o desejo, a prece e as emoções vivas. Esse princípio é essencialmente
aristotélico. Se se consideram as partes da proposição, o princípio deveria ser:
as palavras são os signos das idéias (dos estados da alma, disse Aristóteles).
Reencontra-se o mesmo princípio em Agostinho (por exemplo, nas Confissões,
livro X, cap. XII); ele é a base da teoria dos signos dos lógicos e gramáticos de
Port-Royal, e poucos filósofos o desenvolveram e discutiram tanto quanto Locke
no famoso terceiro livro de seu Essay concerning Human Understanding (1690).
A semiologia das luzes se eleva em geral sobre uma estrutura ternária
(cf Auroux, La sémiotique..., cap. 1): o mundo se divide em coisas, o pensamen-
to em idéias e o discurso em palavras. As palavras são os signos das idéias que
são representações das coisas. Para ser mais preciso, uma mesma palavra não
pode ter como significação no discurso mais de uma idéia “principal” 16, mesmo
que ela pudesse se carregar de várias idéias “auxiliares”. Nós veremos mais
adiante, a significação de uma palavra é sua significação total, a qual deve ser
dividida para dar conta, além da significação principal, da função gramatical da
palavra (significação formal), de seus diversos “acidentes” (sentido acidental
para o tempo, o número, o modo etc), e, enfim, das conotações ou valores afetivos
reunidos às palavras.
P2 é comumente aceito na época clássica, salvo Berkeley (Principes de
la connaisance humaine, Introdução, parágrafo 20). Os filósofos clássicos reco-
nheceram facilmente que a linguagem comporta também outros fins além da
comunicação; em particular, ela serve de suporte à nossa memória para os pen-
samentos “abstratos” (Locke), ela serve para o raciocínio solitário e silencioso
(Leibniz), ela concede mais extensão [étendue] e mais exercício às faculdades
superiores do espírito (Condillac) etc. Mas, para a maioria dos filósofos, é a
comunicação que foi o principal motivo da criação das línguas, como pensava,
por exemplo, Leibniz: “Eu creio que, com efeito, sem o desejo de nos fazermos

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entender, não teríamos jamais formado a linguagem” (Nouveaux essais..., Livro
III, cap. 1, parag. 2).
O pensamento, “considerado em geral” como dizia Condillac, é o mes-
mo em toda parte e para todos (P3). As idéias se formam em todos da mesma
maneira, quer sejam inatas ou que provenham dos sentidos e da experiência. O
pensamento que importa aos olhos dos gramáticos e lógicos clássicos é o pensa-
mento conceitual. A imaginação de um polígono de 1996 lados, não produz
mais que uma imagem mental confusa; mas, a concepção do mesmo polígono
produz uma idéia “clara e distinta” que é a mesma para todos os geômetras de
todas as épocas (cf. Descartes, o início da sexta Méditation, e Arnauld e Nicole,
La logique ou l’art de penser, primeira parte, cap. I). A natureza humana sendo
em todos a mesma, as necessidades, os desejos, as emoções e todos os atos do
pensamento são também, em todos, os mesmos. Essa universalidade repousa
antes de tudo sobre a uniformidade da natureza humana, sobre a similaridade
dos órgãos e das faculdades, e não sobre as idéias inatas dos racionalistas. Para
Condillac, por exemplo, se todas nossas idéias vêm dos sentidos, estes são em
todos os mesmos, e a sensação, tanto para ele como para Descartes, é uma ope-
ração puramente espiritual, que se desenvolve totalmente na alma; uma sensa-
ção não se torna uma idéia senão uma vez que foi transformada em “imagem”
(ou representação de alguma coisa) pela reflexão ou razão. Além do mais, o
pensamento já está lá, antes de sua expressão, e todas as partes de um pensa-
mento estão presentes simultaneamente na mente do locutor; é a comunicação
dos pensamentos que obriga a dividi-los para apresentá-los sucessivamente e
segundo uma certa ordem. Na idade clássica, a lógica e a teoria da mente (“teo-
ria das idéias”, “psicologia racional” ou ainda “ideologia”) se ocuparam ambas,
cada uma à sua maneira, do “pensamento”. A Gramática geral se apoiou sobre
os ensinamentos dessas duas disciplinas.
A afirmação da existência de universais (P4) é possibilitada pelos três
primeiros princípios. Os “elementos necessários” do discurso e as regras uni-
versais de sua combinação são “constitutivos” de todos os sistemas de signos
satisfazendo as condições ligadas à representação e à comunicação dos pensa-
mentos. A linguagem é a expressão do pensamento e o pensamento é em todos o
mesmo; logo, a principal função da linguagem é a comunicação dos pensamen-
tos e, para chegar a comunicá-los eficazmente, é preciso decompor (analisar)
nossos pensamentos em meio aos únicos signos que podemos utilizar livremen-
te (ou seja, os signos convencionais). As proposições (consideradas gramatical-
mente), que são as imagens dos pensamentos, serão inevitavelmente compostas,
por um lado, dos signos designando a “matéria de um julgamento possível”, ou
seja, o sujeito e o atributo de uma proposição, e por outro lado, dos signos
exprimindo a operação da mente efetuada pelo locutor (juízo, desejo, comando,
interrogação, emoção viva etc.).

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P5 não é realmente atingido pelas querelas gnosiológicas da época entre
racionalistas e sensualistas. Faculdade de análise (discernimento) e de síntese
(ligação), a razão permite a análise dos pensamentos e nos torna capazes de
“combinar diversamente nossas palavras” (Descartes). Mas, é sobretudo no seu
uso prático, como capacidade de escolher o melhor meio (ou um meio satisfatório)
tendo em vista um fim, que a razão nos interessa aqui. Somente uma tal faculda-
de pode explicar o uso criador da linguagem, ou seja, não somente a capacidade
de “combinar diversamente nossas palavras” para compor enunciados novos,
mas também, a de adaptá-los de uma maneira apropriada à infinita variedade de
contextos de enunciações17. Os fatos da língua jamais são puramente “arbitrári-
os” para os clássicos; pelo menos se entendemos por isso “desmotivados”. As
convenções lingüísticas não são por si frutos do acaso ou de um capricho, mes-
mo se o acaso ou o capricho possam, por uma parte, delas participar. A não ser
assim, não se vê como a Gramática geral poderia pretender “explicar” os fatos
da língua, dando-lhes as razões. Alguns gramáticos clássicos (Lamy, Condillac)
preferem, de outro modo, falar de “signos artificiais” e não de “signos arbitrári-
os”, para sublinhar o fato de que os signos lingüísticos foram feitos “com arte”,
que resultaram de uma “escolha fundada na razão” (Condillac). O destino da
Gramática geral não está ligado às idéias inatas da “teoria racionalista da men-
te”, como o deixa entender Chomsky em Cartesian Linguistics (1966). A uni-
versalidade das categorias e das regras da Gramática geral é, antes de tudo,
assegurada pela universalidade da natureza humana em geral. Os racionalistas
nunca tiveram o monopólio da razão. A rejeição das idéias inatas pelos
sensualistas não é uma rejeição da razão, mas do conteúdo que lhe atribuíram os
racionalistas, ou seja, um conjunto de princípios inatos, a priori e de uma certe-
za intocável, como “o todo é maior que cada uma de suas partes”, “se subtraí-
mos uma mesma quantidade de duas quantidades iguais, a igualdade permane-
ce”, etc. Para os sensualistas, esses princípios não são, segundo a palavra de
Condillac, mais do que “provérbios dos filósofos”. De resto, o racionalismo não
é mal servido pelos sensualistas, se ouso dizer. A linguagem é um meio em vista
de um fim, a obra da razão prática, e a comunicação, ela mesma, é baseada sobre
uma pressuposição de racionalidade, como a teria visto claramente Arnauld e
Nicole: “[...] supõe-se ordinariamente que se fale a pessoas que se afastam o
menos possível da razão”18. Note que a concepção de racionalidade que está
aqui em causa quanto ao uso normal da palavra é aquela de uma racionalidade
imperfeita, e os Messieurs em particular aceitaram isso que nós chamamos hoje
em dia de critérios de racionalidade mínima19.
P6 intervém de diversos modos na Gramática geral: na gênese dos no-
mes comuns, na teoria dos tropos (para as metáforas e outras figuras semelhan-
tes: antonomásias, alegorias, catacreses de metáfora, etc), na teoria da origem e
da evolução das línguas (para a estabilidade das significações morfológicas e

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das regras de sintaxes), ou para reger os casos litigiosos no uso. Assim, deve-se
dizer “Eu vos tomo por testemunha” e não “Eu vos tomo por testemunhas”,
visto que se diz “Eu vos tomo à parte” e não “Eu vos tomo à partes”; ou ainda,
se “reação” faz “reacionário”, do mesmo modo “visão” fará “visionário”, etc.
Tal palavra deve se conjugar como tal outra, ou se declinar sobre o modelo de tal
outra, etc. A Analogia está em toda parte na língua; ou seja, é ela que confere a
uma língua seu caráter “regular” e sistemático, bem como, que faz de tal modo
que o número de anomalias (verbos irregulares, idiotismos, etc) não ultrapasse
um certo limite além do qual a aprendizagem de uma língua se torne difícil e seu
uso, flutuante, hesitante, incerto.

4. O cinturão de proteção

O cinturão de proteção do programa de pesquisa se compõe das seguin-


tes teorias:
(A) A teoria das idéias auxiliares;
(B) A teoria da sinonímia;
(C) A teoria dos tropos e outras figuras;
(D) A teoria das inversões;
(E) A teoria da tradução;
(F) A teoria da origem das línguas.
Quem quer que aceite os princípios P1-P6 do núcleo duro deverá cedo
ou tarde responder a questões do tipo: se as palavras não têm mais do que uma
significação (idéia) principal no discurso, de onde vem o fato de que elas não
fazem sempre “a mesma impressão na mente”, e que essa significação principal
não esgote toda a significação das palavras? Se o pensamento é o mesmo em
toda parte e para todos, então, de onde vem a dificuldade de traduzir? E, de onde
vem que a ordem das palavras não é a mesma em todas as línguas? Se as línguas
são formadas em toda parte sobre os mesmos princípios, então, de onde vem
toda essa diversidade? Como e em que direção elas evoluem? Em que consiste
seu maior ou menor grau de “perfeição”? Se todas as línguas são a obra da
razão, como explicar essa profusão de termos ditos “sinônimos”, que parece
contradizer os princípios da economia e da simplicidade da razão comum (a
eficácia ao menor custo, não multiplicar as entidades inutilmente, etc)? E essa
profusão de tropos (metáforas, metonímias, sinédoques, ironias, hipérboles, etc.)
e de idiotismos (latinismos, galicismos, anglicismos, etc) que desprezam sem
cessar as regras da língua e introduzem nela tantas irregularidades? As teorias
do cinturão de proteção enriquecem a Gramática geral dos meios lhe permitindo
responder a essas questões, prevenir as objeções, explicar os contra-exemplos
(transformar um defeito em vitória para o programa de pesquisa), e tudo isso
protegendo seus princípios fundamentais (núcleo duro) da falsificação.

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Na Gramática e na Lógica de Port-Royal, se encontram as indicações
(uma heurística positiva) para desenvolver a maioria das teorias do cinturão de
proteção. As teorias das idéias auxiliares [idées accessoires], da sinonímia e dos
tropos completam e protegem a teoria “ideacional” da significação (P1). As
palavras, no discurso, não podem ter como significação mais do que uma idéia
principal, mas, elas podem, regularmente ou dependendo da ocasião, se carre-
garem de idéias auxiliares que modificam ou diversificam sua significação prin-
cipal “lhe juntando a imagem dos movimentos, dos julgamentos e das opiniões
daquele que fala” (La logique ou l’art de penser, primeira parte, capítulo XVI).
Essas idéias auxiliares podem se juntar regularmente a um par son-sentido (uma
palavra) e lhe conferir diferentes caracteres (o que os lingüistas chamam
“conotações” ou “valores afetivos” de uma palavra); assim, a expressão “Você
mente” é mais injuriosa, mais ofensiva do que esta a seguir que lhe é, tanto,
sinônima: “Você sabe o contrário do que você disse”. Os Pais da Igreja utiliza-
ram livremente os termos lupanar, meretrix, leno, mas, hoje em dia, o uso tem
acrescentado às palavras equivalentes do francês, “a imagem de uma má dispo-
sição do espírito, e que tem algo a ver com a libertinagem e de impudência”
(ibid.). Essas idéias auxiliares associadas às palavras mais ou menos regular-
mente (ou conforme os estados da língua) podem entrar no léxico dessa língua.
De outro modo, as idéias auxiliares associadas às palavras pelo locutor no mo-
mento da enunciação somente, por suas mímicas ou pelo tom da voz (“Existe
voz para instruir, voz para bajular, voz para repreender”, ibid.), ou aquelas que
se deve juntar em cada contexto aos demonstrativos para interpretá-los correta-
mente (ibid. cap. XV). Existe, enfim, as idéias auxiliares servindo para interpre-
tar os morfemas acrescentados ao radical de uma palavra; assim, as diferentes
formas que pode assumir um verbo, como a série: amar, ame, amará, amavas,
amávamos, etc. somando a cada vez uma ou diversas idéias auxiliares à signifi-
cação principal do verbo para indicar a pessoa, o número, o tempo e o modo, em
suma, os “acidentes” suscetíveis de modificar qualquer verbo. A noção de idéia
auxiliar findava por compreender, no século XVIII, todas as espécies de “signi-
ficação acrescentada” à significação principal de uma palavra.
A teoria das idéias auxiliares ocupa um papel de primeira importância
para a construção do cinturão de proteção. Não somente ela completa utilmente
a teoria da significação, mas, ademais, ela fornece o conceito-chave permitindo
explicar a sinonímia, os tropos e mesmo aquilo que se chamou na época o “gê-
nio das línguas”. Inexistem sinônimos “perfeitos” para os gramáticos clássicos;
todos os termos ditos “sinônimos” (como “pai” e “papá”) devem se distinguir
uns dos outros pelas idéias auxiliares que bloqueiam a substituição desses ter-
mos em todos os contextos: existe sempre ao menos um contexto em que a
escolha de uma palavra é preferível a todas aquelas que têm a mesma significa-
ção principal. Se houvesse sinônimos perfeitos, teríamos “duas línguas na mes-

192 A gramática geral clássica


ma língua”, como explica Du Marsais20, o que seria totalmente inútil e contrário
aos princípios da razão, que jamais produz dois instrumentos diferentes e igual-
mente apropriados para executar a mesma empreitada. Segundo Du Marsais, no
momento em que dois termos têm exatamente a mesma significação (a mesma
idéia principal e as mesmas idéias secundárias), como “vários” e “diversos”, o
uso deixa finalmente cair-lhe um dos dois. Quando se encontrou o nome próprio
de uma idéia, explica Du Marsais, não se procura mais por outro.
A Lógica de Port-Royal dá também indicações para explicar os tropos
para as idéias auxiliares (ibid. cap.XIV). Mas, é sobretudo Du Marsais quem
desenvolverá a teoria de uma maneira coerente e a aplicará às principais figuras
de significação. As figuras aparecem no discurso no momento em que coloca-
mos o signo de uma idéia auxiliar no lugar do signo da idéia principal que que-
remos exprimir. A relação entre a idéia auxiliar e a idéia principal varia segundo
a figura considerada. Na época da navegação à vela, por exemplo, o nome “bar-
co” fizera regularmente vir à mente a idéia (auxiliar) de vela; em tal contexto,
pode-se dizer “vela” para “barco” sem risco de engano, bem como, trocar a
parte pelo todo (sinédoque). No momento em que a relação entre a idéia auxiliar
e a idéia principal é de semelhança ou de comparação, a expressão é metafórica;
quando a relação é de contrariedade, ela é irônica; hiperbólica, no momento em
que troca o mais pelo menos ou vice-versa, etc. Além de completar a teoria da
significação e de explicar porque as palavras nos parecem ter às vezes mais de
uma significação no discurso, a teoria dos tropos, dando conta dos diversos
“desvios” da relação nos usos literais, simples e habituais, mostra também a
racionalidade dos usos não literais, sua contribuição à eficácia e à elegância da
comunicação. Os tropos não têm somente uma simples função ornamental, eles
preenchem a “carência de palavras” permitindo o uso de palavras já conhecidas
para exprimir coisas novas; eles dão mais extensão a nosso discurso, nos tor-
nando capazes de exprimir as coisas intangíveis emprestando-lhes figura das
coisas tangíveis, de exprimir nossa experiência de tempo, nossa experiência
amorosa, religiosa, etc. Os tropos, quando são utilizados segundo “as regras do
bom gosto e da razão” (Fontanier), aumentam a eficácia da comunicação, mui-
tas vezes abreviam o discurso e lhe conferem mais energia, vivacidade. Se os
tropos são tão freqüentes no discurso das crianças, das pessoas pouco instruídas
e dos “bons selvagens” da América, é porque eles permitem fazer muito com
pouco, tornando possível a expressão de uma multidão de coisas ao variar sim-
plesmente o uso de palavras já conhecidas e utilizadas. O número de nossas
idéias, percepções ou pensamentos, excede, em muito, aquele dos meios
lingüísticos que podemos aprender e dominar; os tropos contribuem, então, de
uma maneira muito importante para a completude expressiva das línguas natu-
rais.
Se o pensamento é o mesmo em toda parte e para todos, se pensamos

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 193


todos da mesma maneira e que a linguagem é a expressão de nossos pensamen-
tos, como explicar que a ordem de nossas palavras não seja a mesma em todas as
línguas? Os gramáticos filósofos se entenderam para afirmar que não existe,
que não pode haver inversão relativamente ao pensamento. A ordem “natural”
das palavras consiste em pôr inicialmente as palavras que exprimem as idéias
das quais se está mais ocupado ao falar, e por conseguinte, as palavras que
exprimem as idéias que se reportam às primeiras modificando-as (em compre-
ensão) ou determinando-as (em extensão); inicialmente todo o sujeito, depois
todo o atributo. É preciso ser inicial e simplesmente antes de poder estar quali-
ficado ou de poder agir ou sofrer a ação de um terceiro, quer essa existência seja
real e positiva ou imaginária; não pode haver adjetivo ou genitivo sem relação a
um substantivo, nem verbo sem nominativo (expresso ou subentendido). Os
Messieurs nos asseguram que, se “encontramos qualquer coisa aparentemente
contrária a essas regras, é por uso figurativo” 21. O francês, com sua ordem
sujeito-verbo-objeto, respeita maravilhosamente a “ordem natural” de nossos
pensamentos; mas, o que pensar das línguas que perturbam regularmente essa
ordem, como o latim? Os gramáticos filósofos, depois de Du Marsais, fizeram
uma distinção entre “construção” e “sintaxe”. Em latim, as funções gramaticais
são marcadas pela desinência dos nomes (flexões casuais) e não pela ordem das
palavras que, para o latim, é variável. Assim, as três construções seguintes têm
todas a mesma sintaxe: accepi litteras tua, tuas accepi litteras, litteras accepi
tuas (o exemplo é de Du Marsais). Essa possibilidade de variar a ordem das
palavras tem grandes vantagens para a versificação, mas, para a clareza da ex-
pressão, a ordem mais estrita do francês seria julgada preferível. Mas, em todas
as línguas, e para todas as proposições, deve sempre ser possível reencontrar,
sob os disfarces das figuras de construção (inversões, elipses, silepses, etc.), a
construção “natural” (ou “analítica”, “simples”, ou ainda “necessária”), que é o
fundamento de toda compreensão lingüística, como uma sintaxe universal que
funda todas as construções que se afastam dela a favor de certos efeitos expres-
sivos. As construções “elegantes”, quer sejam hiperbólicas, elípticas, ou
pleonásticas, não são compreendidas assim, visto que podemos facilmente re-
encontrar, sob o disfarce das figuras, a construção natural ou analítica. É por
isso que Diderot disse que “Cícero tem, por assim dizer, seguido a sintaxe fran-
cesa antes de obedecer à sintaxe latina” (Lettre sur les sourds et muets, p.371).
A teoria da tradução retoma e utiliza os achados das teorias das idéias
auxiliares, da sinonímia, dos tropos e das inversões. Se o primeiro dos “deveres
do tradutor” é o de bem encontrar na língua-alvo as expressões equivalentes
para os pensamentos expressos na língua-fonte, ele deverá, inicialmente, estar
atento às idéias auxiliares (conotações) associadas às palavras na língua-fonte,
esses valores suplementares que dão, às vezes, tanta preocupação aos traduto-
res; ele deverá pesquisar, na língua-alvo, os sinônimos mais apropriados. Deve-

194 A gramática geral clássica


rá, melhor ainda, identificar os tropos e procurar encontrar na língua-alvo, se isso
for possível, os tropos equivalentes; às vezes deverá enriquecer a língua-alvo
com novos tropos, ou ainda, recorrer à perífrase. Deverá, também, reparar na
língua-fonte as inversões e outras figuras de construção, rever a construção
analítica, e descobrir, se possível, como reconstituir essas diferentes figuras, na
língua-alvo, para figuras equivalentes. Já que o pensamento é o mesmo em toda
parte e para todos e que as línguas servem aos mesmos fins, a tradução deve
sempre, em princípio, ser possível, diferindo somente pelas idéias auxiliares 22.
Esses são os principais obstáculos à tradução identificados pelos gramáticos
filósofos; eles explicam as principais dificuldades encontradas nas traduções. A
teoria clássica da tradução explica também porque a dificuldade para traduzir
não é a mesma para todos os gêneros literários (cf Beauzée e Marmontel, artigo
“Traduction” da Encyclopédie).
A teoria da origem das línguas permite um aprofundamento da essência
da linguagem e de seu caráter “arbitrário” ou convencional. As diversas “expe-
riências do pensamento” que se encontram nos textos clássicos consagrados ao
problema da origem das línguas permitem uma espécie de “variação eidética”
em que são examinadas as diversas estratégias que nossos “primeiros antepas-
sados” poderiam ter adotado para resolver seus problemas de comunicação mais
urgentes. A variabilidade das línguas é limitada, nas reconstruções conjecturais,
por certos princípios do núcleo duro. Todas as línguas humanas servem aos
mesmos fins (análise e comunicação dos pensamentos) e todas se apóiam sobre
o princípio de analogia. Além disso, se o pensamento é o mesmo em toda parte
e para todos, bem como, se a razão prática talha todas as línguas no curso de sua
formação e de sua evolução, as línguas não podem divergir além de certos limi-
tes. Essas divergências se explicam, por exemplo, pelas influências do meio
natural ambiente, o clima, os costumes, etc. ou pelo “temperamento” e o “gênio
do povo” (cf. De Jaucourt, artigo “Langage” da Encyclopédie); é assim que se
explica o fato de que os povos foram diversamente influenciados nas suas “de-
cisões” ou nas escolhas que eles fizeram das palavras (sons) e dos meios de
sintaxe (em particular no que disse respeito à sintaxe do regime). As línguas
diferem também pela abundância de palavras (as línguas ditas “primitivas” têm
menos que as línguas “policiadas”) e pelos idiotismos (latinismo, galicismos,
etc.). Alguns gramáticos filósofos (Beauzée, Beattie) aceitam ainda a tese da
origem divina da linguagem e invocam os textos bíblicos (o episódio da Torre
de Babel, a dispersão dos povos após o Dilúvio, ou o texto de Gênese, capítulo
II, versículos 20-22); mas, a maioria dentre eles ensaiou, antes de tudo, mostrar
como os seres humanos chegaram a criar, sem recursos extraordinários e com o
auxilio apenas de suas faculdades naturais superiores, uma linguagem feita de
sons articulados. A formação das línguas é um processo que se estende por vári-
os séculos, como sublinha em várias ocasiões Condillac, Diderot e outros; desse

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 195


modo, não é de se surpreender que as línguas ainda em seu estado de formação
não disponham de todos os elementos julgados necessários à expressão (com-
pleta) e à comunicação (eficaz) dos pensamentos. Mas, esses elementos não
podem fazer falta por muito tempo nas línguas policiadas, como explica muito
bem Diderot (no artigo “Encyclopédie” da Encyclopédie):

Seria um preconceito acreditar que a língua sendo a base do comércio entre os


homens, defeitos importantes pudessem durar por muito tempo sem ser
percebidos e corrigidos por aqueles que têm o espírito justo e o coração reto. É
então verossímil que as exceções à lei geral que ficaram, serão antes abreviações,
energias, eufonias, e outras aprovações sem importância, que vícios
consideráveis 23.

Se as línguas são esculpidas pelas decisões racionais de seus usuários,


essas decisões não são sempre igualmente bem justificadas, sem contar que as
línguas modernas policiadas, como sublinha Condillac, foram feitas a partir de
fragmentos de outras línguas faladas pelos povos vencedores na ocasião das
conquistas e ocupações, bem como, que essas influências estrangeiras podem
ser fontes de anomalias; mas, se subsistem apesar das anomalias e das irregula-
ridades mesmo após um longo processo de correção (por “aqueles que têm o
espírito justo e o coração reto”), é porque as anomalias restantes não colocam
em causa a clareza e a eficácia da comunicação e podem mesmo aprimorá-la,
lhe dar mais energia, e assim, lhe render mais “eficácia”.

5. Conclusão

Alguns historiadores da Gramática geral tentaram “provar a inexistência


de um corpo qualquer de doutrina que caracterizasse a teoria lingüística entre
Port-Royal e Humboldt” 24. Tem-se muito freqüentemente insistido, em particu-
lar, sobre a oposição entre os gramáticos filósofos racionalistas e sensualistas.
Inspirando-nos na metodologia de Lakatos, pensamos ser bem sucedidos ao iso-
lar um conjunto de princípios (núcleo duro) comumente aceito pelos mais im-
portantes gramáticos filósofos durante um século e meio, quer sejam racionalistas,
empiristas, filósofos do senso comum ou de tendência neoplatônica como o
inglês James Harris. Esses princípios podem sofrer algumas qualificações ou
restrições em alguns autores, mas nada que afete o núcleo duro em seu conjun-
to. A rejeição das idéias inatas pelos sensualistas não foi um impacto tão impor-
tante como se acreditou para as discussões gramaticais, do mesmo modo, a re-
jeição do “ideísmo” lockiano pelos common sense philosophers. A Gramática
geral goza, então, de uma relativa autonomia em relação às questões gnosiológicas
da época. Por “autonomia relativa”, não entendo a autonomia de uma disciplina
provida de uma posição institucionalmente reconhecida, como a lingüística de

196 A gramática geral clássica


nossos dias; não entendo também como uma autonomia relativamente à lógica e
à teoria das idéias (mais tarde “ideologia”), o que seria uma falsidade manifesta,
visto que essas duas disciplinas, tão intimamente ligadas à época clássica (con-
trariamente à lógica formal contemporânea), são pressupostas para a Gramática
geral que se apóia constantemente sobre uma e outra. Entendo, antes de tudo,
simplesmente uma espécie de “insensibilidade relativa” da Gramática geral às
grandes controvérsias gnosiológicas que agitaram os séculos XVII e XVIII, como
aquelas sobre o inatismo e a gênese das idéias, ou sobre a solução ao famoso
problema de Molineux. Ao menos, os princípios do núcleo duro, em particular
P3, P4 e P5, não nos parecem atingidos de maneira significativa por essas dis-
cussões. Pode-se dizer o mesmo das teorias auxiliares do cinturão de proteção.
Assim, na controvérsia sobre a ordem natural das palavras e as inversões, Du
Marsais, um empirista (ver em particular o artigo “Fini, Finie” na Encyclopédie),
se junta a Arnauld, um racionalista; e mesmo Diderot, na sua Lettre sur les
sourds et muets, que chama de “ordem natural” a ordem da gênese das idéias, se
junta por sua vez a Du Marsais e Arnauld no que diz respeito à “ordem didáti-
ca”, aquilo que se deve impor às nossas idéias e pensamentos para comunicá-los
aos outros, quer seja pela “linguagem da ação”, ou por uma linguagem feita de
sons articulados 25. Do mesmo modo, se os sensualistas escrevem mais que os
racionalistas sobre a origem e a gênese da linguagem, encontra-se, contudo, no
cartesiano Cordemoy (Discours physique de la parole [1666]) a idéia de uma
linguagem de ação posteriormente desenvolvida por Condillac, Diderot, e ou-
tros, bem como, o retórico Bernard Lamy (La rhétorique ou l’art de parler
[1675]), partidário das idéias inatas, retoma-a na moldura de uma experiência
do pensamento sobre a formação e evolução das línguas. E mesmo se o exposto
dos princípios da Gramática geral sofreu variações no estilo ou na apresentação,
Du Marsais, Beauzée, Condillac, Court de Gébelin e Destutt de Tracy, são os
sucessores dos Messieurs de Port-Royal cujos trabalhos são até hoje citados
com respeito, eles são os guardiões de uma tradição de pesquisa cuja unidade é
inegável. A Gramática geral não é racionalista, nem empirista; não existe a “lin-
güística condillaciana” oposta à “lingüística cartesiana”.
Inspirei-me na metodologia de Lakatos e de suas distinções simples-
mente para identificar, sem mais, o programa de pesquisa dos gramáticos filó-
sofos (ou seja, identificar o núcleo duro e o cinturão de proteção). O aspecto
dinâmico de um programa de pesquisa, sua capacidade de engendrar séries de
modelos (ou de hipóteses auxiliares) empiricamente mais adequadas que seus
predecessores, foi deixada de lado na nossa “reconstrução racional”, e seu trata-
mento é além disso delicado para o programa de pesquisa que nos ocupa. Assim,
o conjunto de distinções propostas por Beauzée entre “significação formal” (aque-
la do verbo enquanto verbo, do adjetivo enquanto adjetivo, etc.) e “significação
acidental” (ambas opostas à significação “objetiva” ou “principal” de uma pala-

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 197


vra) constitui um novo “modelo” para a teoria das idéias auxiliares ou simples-
mente uma “precisão” fornecida a uma mesma hipótese teórica? E como se
pode falar de progressive (degenerating) problemshift a propósito de conjecturas
puramente especulativas dos gramáticos filósofos sobre a origem das línguas?
Contudo, as teorias auxiliares identificadas no cinturão de proteção substituem
a maioria dos fins que se espera geralmente das teorias auxiliares num programa
de pesquisa: completar e precisar os princípios do núcleo duro, protegê-los da
falsificação, dos contra-exemplos, das objeções eventuais, resolver certos enig-
mas, ou simplesmente permitir a aplicação desses princípios ao estudo de casos
concretos numa língua particular. Nossa abordagem, inspirada em Lakatos, per-
mite também explicar por razões internas algumas decisões metodológicas im-
portantes, dar conta da importância reconhecida a alguns temas, a alguns pro-
blemas, como a sinonímia, os tropos, as inversões e a origem da língua. Note-se
que diversos desses assuntos são freqüentemente abordados nos artigos ou tra-
tados de retórica pelos gramáticos filósofos. Mas, sobretudo, essa metodologia
é, a meu ver, um bom guia para por em evidência um corpo invariável de princí-
pios caracterizando a teoria lingüística por um período de tempo considerável, e
por seguinte, a unidade de uma importante tradição de pesquisa na história das
ciências da linguagem.

Notas:
1
Du MARSAIS, C.C. Œuvres de Du Marsais. Paris: Imprimerie Pougin, 1797, Tomo
III, artigo “Inversion”, p.365.
2
Utilizamos as seguintes edições: ARNAULD e LANCELOT. Grammaire générale et
raisonné (GGR), edição crítica de H. Brekle, impressão em fac-símile da terceira edição
de 1676, Stuttgart-Bad Cannstatt, Friedrich Frommann, 1966; e ARNAULD e NICOLE.
La logique ou l’art de penser (LAP), edição crítica de P. Clair e F. Girbal, Paris: PUF,
1965.
3
Sobre a influência de Descartes sobre Arnauld, ver por exemplo DOMINICY, M. La
naissance de la grammaire moderne. Bruxelas: Pierre Mardaga, 1984: “[...] Arnauld
nunca negou sua dívida filosófica. Em várias peças ele defendeu o cartesianismo contra
as condenações que o ameaçavam” (p.19). A. Robinet em Le langage à l’âge classique
(Paris: Klincksieck, 1978), sublinhou com insistência a influência de Agostinho sobre a
obra lógico-gramatical dos Messieurs. Sobre aquela de Sanctius, ver por exemplo
LAKOFF, R. “La grammaire générale et raisonné” In PARRET, H. (org.) History of
Linguistic Thought and Contemporary Linguistics. Berlim-New York: Gruyter, 1976.
Sobre Aristóteles, ver STÉFANINI, J. “De la grammaire aristotélicienne”, In JOLY A. e
STÉFANINI, J. (org.) La grammaire générale des Modistes aux Idéologues. Lille: Press
Universitaires de Lille, 1977, p.97-106.
4
Sobre a originalidade da obra lógico-gramatical dos Messieurs frente às tradições
anteriores, ver DOMINICY, M. La naissance de la grammaire moderne. Bruxelas: Pierre
Mardaga, 1984: “[...] a novidade profunda da GGR e da LAP tem confirmado, de um modo

198 A gramática geral clássica


pouco inesperado, as pesquisas recentes que se inspiraram, ao conceder de Lakoff (1976)
[cf a esse respeito n.3] e Padley (1976) [cf a esse respeito n.8]” (p.14).
5
Certos historiadores da Gramática geral dividem o movimento da gramática filosófica
clássica em duas correntes: haveria, por um lado, os gramáticos filósofos racionalistas,
e por outro, os gramáticos sensualistas, uma corrente de “lingüística cartesiana” e uma
outra de “lingüística condillaciana”. Ver, por exemplo, HARNOIS, G. Les théories du
langage em France, de 1660 à 1828. Paris: Les Belles Lettres, 1929. AARSLEFF, H.
From Locke to Saussure. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1982. JOLY, A.
“La linguistique cartésienne: une erreur mémorable” In JOLY A. e STÉFANINI, J. (org.)
La grammaire générale des Modistes aux Idéologues. Lille: Press Universitaires de
Lille, 1977, p. 165-199. E RICKEN, U. Grammaire et philosophie au siècle des Lumières.
Villeneuve-d’Ascq: Université de Lille III, 1978. Nossa abordagem vai contra a desses
historiadores; a aceitação ou a rejeição das idéias inatas não tem, a nosso ver, efeitos
consideráveis sobre as discussões gramaticais da época clássica.
6
Ver LAKATOS I. “Falsification and the Metodology of Scientific Research Programs”,
In WORRAL J. e CURRIE G. (orgs.) Philosophical papers. Cambridge: Cambridge
University Press, 1976. p.8-101.
7
BUFFIER, C. Grammaire Françoise sur um plan nouveau. Paris: Le Clerc, 1709.
Buffier, um jesuíta, é considerado como um precursor dos filósofos do senso comum.
8
Cf. CHOMSKY, N. La linguistique cartésienne. Paris: Seuil, 1969 (1966 para o original
inglês) e PADLEY, G. A. Grammatical Theories in Western Europe 1500-1700.
Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
9
BEAUZÉE, N. Grammaire générale, ou Exposition raisonné des éléments nécessaires
du Langage pour servir de fondement à l’étude de toutes les langues, 2 vol. Paris: Bardou,
1767.
10
Utilizo o termo no mesmo sentido que John Searle (Speech Acts, Cambridge: Cambridge
University Press, 1969) e que John Rawls (“Two Concepts of Rules”, Philosophical
review, vol. 64 [1955], p.3-32).
11
M. Foucault (“La grammaire générale de Port-Royal”, in Langages, vol. 7 [1967],
p.7-15) percebeu claramente o caráter constitutivo dos princípios da Gramática geral
(p.7). Ver também, a esse respeito, AUROUX, S. La Sémiotique des Encyclopédistes.
Paris: Payot, 1979, p.231, nota 171. Du Marsais dissera que a lógica e a gramática
“prescreviam ao orador regras segundo as quais não se pode dispensar, e que são comuns
a todos aqueles que pretendem fazer uso de sua razão e da palavra” ver suas Œuvres,
1797, p.364.
12
Para uma interpretação divergente ver AUROUX, S. “Le rationalisme et l’analyse
linguistique” In Dialogue, vol. 28, nº 2 (1989), p.203-233. Depois M. Auroux, para os
sensacionalistas, em particular Condillac, não existem partes do discurso “necessárias”;
elas não passam de meios “suficientes” para a expressão dos pensamentos, bem como,
visto que elas têm uma gênese, foram “inventadas”. Na minha interpretação, a necessidade
de certas partes do discurso (como o substantivo e o verbo) se entende relativamente às
línguas “policiadas”.
13
Sobre a materialidade da linguagem, a sintaxe e a semântica ver AUROUX, S. La
sémiotique..., 1979; igualmente para a semântica, e sobre a pragmática na análise da
linguagem em Port-Royal, DOMINICY, M. La naissance..., 1984.
14
No seu opúsculo de 1748 (que se encontra em Varia lingüística de C. Porset, Bordeaux,
Ducros, 1970), Maupertuis afirma: “[...] se inventa as línguas, sobretudo nas populações

Ciências Humanas em Revista - São Luís, v. 3, n. 1, julho 2005 199


mais fortemente afastadas, que parecem ter sido formadas sobre os planos de idéias
contanto que diferentes das nossas, que quase não se pode traduzir nas nossas línguas o
que foi uma vez expresso naquelas lá” (p.27). A hipótese de tais planos de idéias diferentes
das nossas é talvez a primeira formulação do princípio de “relatividade lingüística”.
Descobre-se igualmente na Varia lingüística de Porset as reações de Turgot aos planos
de idéias diferentes de Maupertuis; ver também a carta de Condillac a Maupertuis datada
de 25 de junho de 1752 nas Œuvres philosophiques de Condillac, tomo II:
Correspondance, Paris: PUF, 1948; e GRIMSLEY, R. Sur l’origine du langage. Genève:
Droz, 1971, para as reações de Maine de Biran.
15
Retomo a expressão de ALSTON, W. Philosophy of Language. Englewood Cliffs:
Prentice-Hall, 1964, p.11 et passim. O princípio das teorias ideacionais da linguagem é
claramente formulada na Grammaire générale et raisonné de Port-Royal, edição crítica
de H. Brekle, impressão em fac-símile da terceira edição de 1676, Stuttgart-Bad Cannstatt,
Friedrich Frommann, 1966, p.26: “o conhecimento do que se passa na nossa mente é
necessário para compreender os fundamentos da Gramática”.
16
Ver, por exemplo, DIDEROT, Lettre sur les sourds et muets à l’usage de ceux qui
entendent et qui parlent. Paris: Garnier-Frères, 1875 (reimpressão nas Œuvres completes
de Diderot, edição de J. Assézat, Liechtenstein, Krauss Ltée, Nendeln, 1966, p.363), em
que ele fala do “bom senso, que não permite à mesma expressão portar idéias diferentes”.
O “bom senso” ou a razão exige um certo grau de univocidade e de estabilidade nas
significações para assegurar a eficácia da comunicação.
17
A capacidade de formar enunciados novos e de adaptá-los à infinita variedade de
contextos de enunciação constitui para Descartes a pedra de toque permitindo distinguir
os homens providos de uma alma racional dos animais e das máquinas. Ver Discours de
la méthode, quinta parte, Paris: Vrin, 1966, p.120 seguintes.
18
Ver Arnauld e Nicole, Perpétuité de la foi de l’Église catholique sur l’Eucharistie,
publicada por M. l’Abbé M***, Paris, Imprimerie de Migne, chez l’éditeur rue
d’Ambrosie, Hors la barrière d’Enfer, 1841, t. 1, livro IV, cap. VII, p.538.
19
Sobre a racionalidade imperfeita de Pascal e Descartes, ver ELSTER, J. Ulisses and
the Sirens. Cambridge: Cambridge University Press, 1979; para a teoria contemporânea
da racionalidade mínima, ver CHERNIAK, C. Minimal Rationality (Bradford Books),
Cambridge: MA, MIT Press, 1986. Arnauld e Nicole já reconheciam um critério de
“coerência mínima” e um critério de “racionalidade dedutiva mínima” aplicado à
interpretação de textos.
20
Du MARSAIS, C. C. Traité des Tropes [1730], Paris: Ed du Nouveau Commerce,
1977, p. 246.
21
ARNAULD e LANCELOT, Grammaire générale et raisonné, 1979, p.154.
22
Ver AUROUX, S. La sémiotique..., 1979.
23
D. Diderot, artigo “Encyclopédie” [1751], em DIDEROT e D’ALEMBERT (orgs.)
Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers. Edição
conforme à de Pellet in quarto, Berne et Lausanne, Sociétés typographiques, 1780.
24
Ver DOMINICY, M. La naissance..., 1984, p.14.
25
DIDEROT, Lettre sur les sourds et muets... p.360: “Quando o assunto de uma
proposição oratória ou gesticulada não é anunciado, a aplicação de outros signos fica
suspensa. Isso é o que acontece a cada momento nas frases gregas ou latinas, e jamais
nas frases gesticuladas, quando elas são bem construídas”.

200 A gramática geral clássica

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