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Direito Comercial I (08/05/2009)

 Obrigações dos sócios:


- contribuir para a formação do capital social
- dever de lealdade
 Direitos essenciais dos sócios:
- participação nos lucros (arts. 1.007 e 1.008/CC)
- participação nas deliberações sociais
- fiscalização
- retirada
- participação no acervo da sociedade em caso de liquidação
-direito de preferência no aumento do capital

O estatuto e o contrato social são considerados as leis internas das sociedades (limite dessa
regulação está sempre na lei; só pode haver disposição das partes quando a lei assim permitir).
Estas leis regulam a sociedade e as relações dos sócios entre si.
Existem regras dispositivas e regras de ordem pública. Apesar do direito societário ser um
ramo do direito privado, as regras de ordem pública não podem ser objeto de convenção das
partes, estas devem ser observadas de forma imperativa (se for contrário, há uma nulidade
absoluta). Já as regras dispositivas podem ser modificadas pela vontade dos sócios e só terão
eficácia na ausência de disposição dos sócios acerca da matéria (a lei só permite que essas
convenções sejam estabelecidas no contrato/estatuto social).
Ex. de regra dispositiva: Art. 1.007/CC – a participação nos lucros é de acordo com o
investimento de cada sócio no capital social da sociedade empresária, salvo estipulação em
contrário
Ex. de regra de ordem pública: Art. 1.008/CC

Existem convenções que dizem respeito à relação estritamente privada dos sócios, que são
estabelecidas nos acordos para-sociais. Acordos para-sociais são acordos privados celebrados
pelos sócios para regular determinados direitos e obrigações entre si, podendo produzir ou
não efeitos perante a sociedade. Mas é claro que esses acordos têm o limite, em primeiro
plano, na lei e, em segundo plano, no contrato/estatuto social. Não é dada publicidade a esse
acordo, ao contrário do que acontece com o contrato/estatuto social.

O contrato/estatuto social é levado a registro e é publicado. Para mudar o contrato social, em


regra, se exige um quorum mais qualificado. Por isso, se por ex., quiser mudar a participação
nos lucros a cada final de exercício social, é melhor acordar que essa divisão será determinada
em convenção, através de acordo para-social ou deliberação assembleiar e com decisão
unânime dos sócios. Diferentemente dos acordos para-sociais, a realização de Assembléia
Geral dos sócios tem que ser levada a registro tem que ser levada a registro.
É importante salientar que, no entanto, existem matérias de ordem pública que não podem
ser acordadas por convenção entre as partes, acordos para-sociais ou deliberação assembleiar.
Já as regras dispositivas estão suscetíveis a regulamentação privada de cada sociedade.
Art. 1.057/CC –> matéria reservadamente contratual (no caso do contrato não regular a
matéria, aplica-se essa regra): sócio poderá ceder sua quota a terceiro se não houver oposição
dos titulares de mais de ¼ do capital social; mas nada impede que os sócios regulem o direito
de cessão de quotas entre eles

Os sócios têm duas obrigações fundamentais:


- Contribuir para a formação do capital social –> Em algumas sociedades, essa contribuição
pode se dar em dinheiro ou em bens suscetíveis de avaliação pecuniária. Há algumas
sociedades que aceitam a integralização através de serviço, mas isso é raro.
O capital tem que estar subscrito pelos sócios, senão a sociedade não se constitui. Na
integralização do capital subscrito é que se realiza essa obrigação. A obrigação de integralizar o
capital subscrito vai ser regulada através das disposições do contrato social (regula a forma e o
prazo – se o contrato social não dispor quanto a forma da integralização, a regra é que ela
pode ser feita através de dinheiro ou bens). A integralização é regulada segundo a vontade e a
necessidade dos sócios. Quando integraliza, passa a gozar do status de sócio e adquire direitos
e obrigações próprias desta figura.
O sócio que não integralizar o capital subscrito na forma, prazo e condição do contrato é
chamado de sócio remisso (ele está em mora).

O patrimônio social é formado a partir da contribuição dos sócios para formar o capital social,
primeiramente, e depois, a partir dos lucros aferidos pelo exercício da empresa.
Capital social ≠ patrimônio da sociedade
O capital social é o índice que mede a capacidade da patrimonial da sociedade. Ele é estático,
está declarado no contrato/estatuto social; traduz a transferência de valores e bens que os
sócios movem do seu patrimônio privado para o da sociedade com o fim de capacitá-la a
explorar o seu objeto. Já o patrimônio da sociedade é dinâmico, aumenta e diminui todo dia
de acordo com o sucesso do exercício da atividade econômica pela sociedade.
O capital social somente vai representar o patrimônio da sociedade naquele momento zero,
em que a sociedade se constitui, o que é muito difícil de ser aferido concretamente.

- Dever de lealdade –> O sócio sempre deve influir na sociedade de modo que ela exerça o seu
objeto e não em interesse pessoal ou de terceiros. Não deve entrar em relações econômicas
conflitantes com a sociedade.
Esse dever aflora no exercício de voto do sócio, pois ele está contribuindo para a formação da
vontade social (deve deixar de votar quando tiver conflito de interesses com a sociedade
naquela matéria). No caso de exercício abusivo do voto, o sócio deverá os outros sócios pelos
prejuízos resultantes dessa quebra de lealdade.

Os direitos essenciais dos sócios são aqueles que nem o contrato/estatuto social ou
deliberação assembleiar pode violar ou restringir. São garantidos por lei de ordem pública, são
impostergáveis. Se frustrado, o ato derivado deste será nulo de pleno direito.
- Direito na participação dos lucros –> Não há nenhuma ilegalidade em determinar que todo o
lucro seja destinado em prol da sociedade. O que não se fazer é excluir o sócio de participar
dos lucros ou concentrar os lucros na mão de um sócio apenas. Se houver uma disposição
neste sentido, haveria uma cláusula leonina, ou seja, nula de pleno direito. Cada sócio deve ter
seu lucro proporcional a sua quota; o capital social é o índice de referência para a distribuição;
mas pode haver convenção das partes quanto a variação das porcentagens (estipulada em
contrato, acordo para-social ou deliberação assembleiar com voto unânime, pois isso é um
interesse de todos os sócios, não há prevalência da vontade da maioria).

- Direito de participar nas deliberações sociais –> Pode haver sócios que não tenham direito de
voto nas deliberações sociais (na sociedade anônima, ele não é um direito essencial, já nas
outras, é). Assim faz-se diferença entre “direito de voz” (participar das deliberações em toda e
qualquer sociedade e fazer uso da palavra) e “direito de voto”.

- Direito de fiscalização –> Todo sócio tem direito de fiscalizar os atos da sociedade nos termos
da lei e do interesse da sociedade (se houver recusa, há uma ação judicial para exigir o
fornecimento de documentos). O sócio, porém, não pode usar tal prerrogativa de maneira
abusiva para comprometer o andamento da sociedade.
Na sociedade anônima, há a figura do Conselho Fiscal, pois ela é muito mais identificada com
grandes corporações. Na sociedade limitada, o Conselho Fiscal é opcional.

- Direito de retida/recesso –> Não é a venda da quota do sócio. É um direito potestativo do


sócio de se desvincular da sociedade, sendo indenizado pela sociedade em relação aos seus
haveres sociais (a sociedade se liquida parcialmente em relação á quota daquele sócio –
nomenclatura do CC: “resolução da sociedade em relação ao sócio”). A retirada do sócio
implica na diminuição do patrimônio e do capital social.
Rompimento do vínculo societário por vontade unilateral. Nas sociedades de capitais (ex:
sociedade anônima), a retirada do sócio tem suas hipóteses e possibilidades previstas em lei,
não pode se retirar pelo simples desejo de sair, diferentemente das sociedades de pessoas (ex:
sociedade limitada).
Art. 1.029/CC – O recesso é exercido livremente quando a sociedade é por tempo
indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de 60 dias.
Quando uma sociedade é contratada por tempo determinada, o sócio só pode exercer o
recesso através de decisão judicial.

- Direito de participação no acervo da sociedade em caso de liquidação –>Não é um direito


pessoal, mas um direito patrimonial. Cada sócio faz jus ao ativo remanescente (acervo da
sociedade que resta depois de todos os credores serem pagos e que será dividido de acordo
com a participação de cada sócio no capital social). No caso de liquidação da sociedade, o ativo
é, inicialmente utilizado para pagamento do passivo; o que sobre é partilhado entre os sócios
(acervo social).

- Direito de preferência de participar da subscrição de cotas/ações no aumento do capital


social –> Se o capital da sociedade for aumentado, é assegurado a cada sócio esse direito para
garantir a paridade na participação do sócio no caso de aumento do capital social. É
assegurado o direito de preferência para subscrever a proporção da quota que lhe pertence na
sociedade (manter a mesma posição societária) no caso de aumento do capital social. A lei
versa evitar que o sócio tenha que suportar uma dissolução injustificada da sociedade, o que,
conseqüentemente, diminuiria seu poder de deliberação na sociedade.

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