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CÁLCULOS

TRABALHISTAS
Juros e correção
monetária

Pós-Graduação “lato sensu”


Prof. Gustavo Guimarães Caldeira Vieira
Pós-Graduação “lato sensu” | Cálculos trabalhistas – Juros e correção
monetária
Prof. Gustavo G. C. Vieira

Unidade I
Juros e correção monetária
Aula 3
Juros e correção monetária
A incidência de juros e correção monetária em ações trabalhistas está
disciplinada no artigo 39, da Lei 8177/91:

Art. 39. Os débitos trabalhistas de qualquer natureza, quando


não satisfeitos pelo empregador nas épocas próprias assim
definidas em lei, acordo ou convenção coletiva, sentença
normativa ou cláusula contratual sofrerão juros de mora
equivalentes à TRD acumulada no período compreendido entre a
data de vencimento da obrigação e o seu efetivo pagamento.
§ 1° Aos débitos trabalhistas constantes de condenação pela
Justiça do Trabalho ou decorrentes dos acordos feitos em
reclamatória trabalhista, quando não cumpridos nas condições
homologadas ou constantes do termo de conciliação, serão
acrescidos, nos juros de mora previstos no caput, juros de um
por cento ao mês, contados do ajuizamento da reclamatória e
aplicados pro rata die, ainda que não explicitados na sentença ou
no termo de conciliação.

O texto da lei é um pouco rebuscado e merece explicações.

No caput do art. 39, a expressão “juros de mora equivalentes à TRD”, na


verdade, se refere à correção monetária e a expressão adotada (“juros de mora”) é
equivocada e leva à incorreta interpretação de incidência de juros sobre juros uma
vez que no parágrafo 1º, há incidência de juros de mora (estes sim corretos) sobre os
juros previstos no caput.

Observe que o caput prevê a incidência da TRD a partir do vencimento da


obrigação até o efetivo pagamento.
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Já no parágrafo primeiro temos a incidência dos juros de mora, tal e qual


estabelecido no art. 883, da CLT, a partir do ajuizamento da ação.

Com tais considerações legais podemos fixar o marco inicial e o marco final da
incidência de correção monetária e juros conforme abaixo:

marco marco
inicial final
correção monetária vencimento da obrigação efetivo pagamento
juros distribuição da ação efetivo pagamento

Sobre o marco inicial da correção monetária, para podermos visualizar


concretamente em casos reais, precisamos analisar o art. 459, § 1º, da CLT:

Art. 459 - O pagamento do salário, qualquer que seja a


modalidade do trabalho, não deve ser estipulado por período
superior a 1 (um) mês, salvo no que concerne a comissões,
percentagens e gratificações.
§ 1º Quando o pagamento houver sido estipulado por mês,
deverá ser efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do
mês subsequente ao vencido. (Redação dada pela
Lei nº 7.855, de 24.10.1989)

A maioria das parcelas trabalhistas, pagas com periodicidade mensal, estará


submetida à regra prevista no art. 459, § 1º, da CLT. Exemplos: salário mensal, horas
extras, adicionais, gratificações de função etc.

De acordo com a norma acima, sendo devidas 5 horas extras realizadas em


mar/2017, o pagamento deveria ocorrer, no mais tardar, até o 5º dia útil de abr/2017.

Se as horas extras não foram pagas, qual será o marco inicial da correção
monetária?

Muitos acreditam que seria o 5º dia útil do mês subsequente, conforme grifado
acima. Porém, o entendimento do TST, consolidado na Súmula 381, não é bem assim:
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Vejam que a Súmula 381/TST interpreta o art. 459 da CLT e determina a


incidência da correção monetária, em caso de inadimplemento, a partir do dia 1º do
mês subsequente ao da prestação de serviços.

Assim, no exemplo citado anteriormente, as 5 horas extras realizadas em


mar/2017, se não pagas até o 5º dia útil do mês de abril/2017 estarão sujeitas à
incidência de correção monetária a partir do dia 1º do mês subsequente, ou seja, 1º de
abril de 2017.

Veja que o parágrafo 1º estabelece uma tolerância até o 5º dia útil do mês
subsequente, mas se tal prazo não for observado pelo empregador haverá incidência
de correção monetária já a partir do dia 1º.

Lado outro, existem parcelas que não vencem no último dia do mês e,
portanto, não se submetem à disciplina do art. 459, § 1º, da CLT. São exemplos o 13º,
as férias e as parcelas rescisórias.

De acordo com a Lei 4749/65 o pagamento do 13º deve ser feito até o dia 20 de
dezembro, ou seja, caso a parcela não seja paga a correção monetária será devida a
partir do dia 21/dez.

Já no caso das férias, conforme art. 145 da CLT estabelece a obrigação de pagar
até dois dias antes do início de gozo das férias. Assim, em caso de eventual não
pagamento da parcela a correção monetária terá seu marco inicial contado a partir de
1 dia antes do início de gozo das férias.
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Já as parcelas rescisórias, a teor do que dispõe o art. 477, § 6º, da CLT, devem
ser pagas em até dez dias, contados do término do contrato e, caso não pagas,
sofrerão incidência de correção monetária a partir do 11º dia após o término do
contrato.

Embora o marco final previsto em lei seja a data do efetivo pagamento,


quando da apresentação de cálculos em juízo, na maioria das vezes, ainda não temos
o efetivo pagamento e será então necessário fixar uma data final para a efetiva
realização dos cálculos. Tal data será sempre a data final prevista na tabela de
correção monetária utilizada.

O Conselho Superior da Justiça do Trabalho divulga mensalmente a tabela de


índices de correção monetária aplicáveis aos débitos trabalhistas. Tal tabela pode ser
acessada no sítio eletrônico do CSJT no link: http://www.csjt.jus.br/atualizacao-
monetaria. Um exemplo da referida tabela estará disponível como material de apoio
da presente aula.

Considerando então, exemplificativamente, o pagamento de adicional de


insalubridade referente ao mês de setembro/2015, no valor de R$ 78,80.

Como o marco inicial é o dia 01/10/2015 vamos usar o índice de correção que
está na tabela, indicado em out/2015:

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL - JUSTIÇA DO TRABALHO


TABELA ÚNICA PARA ATUALIZAÇÃO DE DÉBITOS TRABALHISTAS
ATÉ 31 DE MARÇO DE 2019 - PARA 1º DE ABRIL DE 2019*
*TR prefixada de 1º março/2019 a 1º abril/2019 (Banco Central) = 0,00% (ZERO)
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
JAN 1,086503930 1,078854786 1,071474984 1,058687023 1,055628769 1,053616119 1,044639348 1,026213718 1,005967334 1,000000000 1,000000000

FEV 1,084508435 1,078854786 1,070709426 1,057773107 1,055628769 1,052431081 1,043722960 1,024860901 1,004260092 1,000000000 1,000000000
MAR 1,084019542 1,078854786 1,070148669 1,057773107 1,055628769 1,051866229 1,043547644 1,023881047 1,003956897 1,000000000 1,000000000
ABR 1,082462960 1,078001009 1,068853218 1,056644610 1,055628769 1,051586507 1,042196956 1,021666075 1,002434199 1,000000000 1,000000000

MAI 1,081971745 1,078001009 1,068458957 1,056404806 1,055628769 1,051104050 1,041078838 1,020335558 1,002434199 1,000000000

JUN 1,081486158 1,077451509 1,066784106 1,055910640 1,055628769 1,050469567 1,039879856 1,018773777 1,001668924 1,000000000

JUL 1,080777168 1,076817264 1,065597031 1,055910640 1,055628769 1,049981325 1,037997966 1,016696666 1,001132317 1,000000000

AGO 1,079642464 1,075579272 1,064289020 1,055758611 1,055408188 1,048875810 1,035610883 1,015051268 1,000509000 1,000000000
SET 1,079429816 1,074602458 1,062084133 1,055628769 1,055408188 1,048244767 1,033681000 1,012474520 1,000000000 1,000000000

OUT 1,079429816 1,073848617 1,061019930 1,055628769 1,055324818 1,047330447 1,031700136 1,010882381 1,000000000 1,000000000
NOV 1,079429816 1,073341999 1,060362505 1,055628769 1,054354811 1,046244446 1,029856693 1,009266545 1,000000000 1,000000000
DEZ 1,079429816 1,072981478 1,059679012 1,055628769 1,054136605 1,045739354 1,028522699 1,007827367 1,000000000 1,000000000
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O cálculo da correção monetária seria então:

R$ 78,80 x 1,031700136 = R$ 81,30

Já o cálculo dos juros de mora é feito em sequência ao cálculo da correção


monetária, pois a teor do que dispõe a Súmula 200/TST os juros de mora incidem
sobre o montante da condenação já corrigida monetariamente.

Todavia, antes do cálculo do valor dos juros é necessário fazer a contagem de


datas para se estabelecer o correto percentual a partir das datas de distribuição e data
final da correção monetária. Vocês verão na tabela de índices que há uma seta branca
indicando a atualização monetária até 31/03/2019. Assim, nosso valor atualizado da
insalubridade no exemplo acima, no valor de R$ 81,30 representa o valor atualizado
até 31/03/19.

Usando o mesmo exemplo acima (adicional de insalubridade de R$ 78,80


referente ao mês de set/2015) vamos então apurar os juros supondo que a ação
trabalhista foi distribuída em 20/11/2015.

Como os juros são devidos na razão de 1% ao mês, pro rata (proporcionais


quando mês não é integral), temos:

20/11/15 a 20/11/18 = 36 meses = 36%

20/11/18 a 20/03/19 = 04 meses = 04%

20/03/19 a 31/03/19 = 12 dias = 1%÷ 30 x 12 = 0,40%

A taxa de juros devida será de 40,40% e o valor dos juros será:

R$ 81,30 x 40,40% = R$ 32,85

Assim, a insalubridade de R$ 78,80, referente ao mês de setembro/2015, que


não foi paga até o 5º dia útil de outubro/2015 deverá ser paga até 31/03/2019 no
valor total, já com correção monetária e juros, de R$ 114,15 (R$ 81,30 + R$ 32,85).
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Vejamos agora o exemplo do cálculo de juros em um caso concreto,


envolvendo várias parcelas:

PARCELAS ATUALIZADAS ATÉ 31.03.19


Horas extras 6.164,34
Reflexos em RSR 1.033,45
Reflexos em 13º 604,75
Reflexos em férias + 1/3 (gozadas) 543,34
Reflexos em férias + 1/3 (indenizadas) 183,40
Reflexos em aviso prévio 54,54
Reflexos em FGTS + 40% 825,10

Subtotal atualizado 9.408,92

A soma atualizada de todas as parcelas, devidas até 31/03/2019 é R$ 9.408,92.

Considerando que ação foi distribuída em 18/05/2016, temos:

Subtotal atualizado 9.408,92

Juros não tributáveis 34,43% 18/05/2016 até 31/03/2019 3.239,80

Total Bruto 12.648,73

O valor de juros foi assim calculado:

R$ 9.408,92 x 34,43% = R$ 3.239,80

Já o percentual de juros foi assim apurado:

18/05/16 a 18/05/18 = 2 anos = 24 meses = 24%

18/05/18 a 18/03/19 = 10 meses = 10%

18/03/19 a 31/03/19 = 13 dias = 0,43%

Total juros = 34,43%

Até a próxima aula!


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Cleber Lúcio de; ALMEIDA, Wânia Guimarães Rabêllo de. Execução
Trabalhista: temas controvertidos. Belo Horizonte: Inédita, 2000.

CANUTO, Raimundo. Cálculos Trabalhistas Passo a Passo. São José dos Campos:
Asseart, 2007.

DORNELLES, Gisele Mariano da Rocha. Cálculos Trabalhistas Para Rotinas, Liquidação


de Sentenças e Atualização de Débitos Judiciais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,
2007.

OLIVEIRA, Aristeu. Cálculos Trabalhistas. São Paulo: Atlas, 2008.

Manual de Cálculos do TRT da 3ª Região. Disponível em:


<https://portal.trt3.jus.br/internet/informe-se/downloads/calculos/2016/manual-
de-calculo-2016-1.pdf>. Acesso em: 02 abr. 2018.

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