Unidade Básica das Humanidades Curso de Psicologia
Projeto: Experiências sexuais violentas na infância: o panorama do abuso sexual em
Mineiros. Professora responsável: Dra. Cíntia de Souza Carvalho. Resenha: “Direitos sexuais de crianças e adolescentes: avanços e entraves”
O texto aborda as questões relacionadas aos direitos sexuais das crianças e
adolescentes, fazendo uma crítica ao protecionismo exagerado e a falta de oferta de liberdade e autonomia dos jovens em relação a isso. De início faz uma breve introdução sobre a sexualidade na adolescência, sendo que a primeira se refere a uma condição humana perpassada por questões de gênero (heterossexualização) e idade (desenvolvimento biológico sexual). Dentro desse contexto cabe a análise de Foucault em relação a sexualidade ser ou não uma dimensão do universo infantil. Ele, então, compara a história do conceito de infância com a questão levantada, considerando ser um termo criado recentemente e que traz uma ideia vinculada a inocência, retirando qualquer possibilidade de contato da criança com a sexualidade, sendo ela caracterizada, portanto, como um marco da transição para a idade adulta. O texto, a partir dessa contextualização diferencia três termos importantes: o sexo, a sexualidade e os direitos sexuais. O sexo que se refere um estado corporal, não natural, que permite a diferenciação homem/mulher pelo aparelho sexual que possui, é um elemento do corpo, mas é perpassado por questões culturais. A sexualidade por seu vez, é inerente à subjetividade, ao prazer, à afetividade e outros aspectos. Ela reflete os anseios sociais que esperam cada cultura para os sexos e comumente é relacionada ao comportamento genital como único meio para atingi-la. Já os direitos sexuais, CARVALHO et al. (2012) exploram mais este conceito em um tópico separado, pois se trata do foco de seu trabalho. Então, traz a reflexão de como o silenciamento sobre as questões sexuais voltou esse assunto à vida intima e como o tema só começou a ser tratado após a Segunda Guerra Mundial e a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento realizada em 1993 no Cairo, revisando o planejamento familiar e garantindo os direitos reprodutivos. Entretanto, muitas leis tratam os direitos sexuais apenas como uma forma de combate à violação sexual e da mesma forma é tratado o assunto nas escolas que o trabalham apenas pela perspectiva da prevenção ao risco e não da garantia dos direitos, refletindo um protecionismo exacerbado que pode ser perigoso, pois pode retirar a capacidade de autonomia do indivíduo frente a sua sexualidade. A partir disso, são apresentados duas pesquisas de investigação dos direitos sexuais. Uma em Rondonópolis com crianças de 5 a 6 anos na Educação Infantil a partir da observação das suas experiências lúdicas. Foi visualizado uma brincadeira com bonecas de “prexecar” que uma delas havia aprendido com uma novela da televisão. Tal conhecimento aparentemente lhes dava prestígio entre o grupo de crianças, mas quando a direção foi comunicada sobre isso optaram por retirar os brinquedos sem haver uma conversa sobre o assunto com os alunos da escola. Essa atitude vai contra os direitos sexuais, pois infringiu a liberdade de informação das crianças. Já a outra pesquisa foi feita em instituições públicas do Rio de Janeiro com adolescentes grávidas entre 13 e 18 anos de idade, ao todo foram entrevistadas 32 meninas acerca da vivencia de sua gravidez. Foi analisada a forma como os discursos sociais já explicitados acima afetam tal percepção. Contrariando expectativas, algumas responderam que a gravidez foi planejada, foram percebidas diferenças entre classes sociais relacionadas aos estudos e à inserção ao mercado de trabalho, relataram amadurecimento, sendo a gravidez um rito de passagem para a vida adulta, mudanças de estilo de vida, entre outros. Por fim, foram percebidas questões em relação a uma sensação de falta de autonomia sobre o próprio corpo e à vida. Dessa forma, em concordância com o exposto pelos autores, é possível perceber a necessidade do fomento ao debate sobre direitos sexuais, visando desmistifica-lo como assunto privado à vida adulta e sair da superficialidade do assunto, levando informações às crianças e adolescentes, claramente adequadas a cada faixa etária, mas lhes tirar o direito do conhecimento e lhes proporcionando maior liberdade e autonomia para lidar com a própria sexualidade.
Referências CARVALHO, Cíntia de Sousa, et al. Direitos sexuais de crianças e adolescentes: avanços e entraves. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 24, n.1, p. 69 – 88, 2012.