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VIAGENS COM MANUEL TEIXEIRA GOMES

Nascido em 1860, em Vila Nova de Portimão, Manuel Teixeira


Gomes foi Presidente da República Portuguesa e autor de uma
vasta obra literária. A relevância política e cultural desta perso-
nalidade algarvia justifica, a nosso ver, a elaboração do roteiro
turístico com base na sua vida e obra que aqui apresentamos e
que constitui um complemento à oferta turística da região.

Liliana Frieza – ex-aluna da ESGHT


Nádia Castro – ex-aluna da ESGHT
Sancha Pina – ex-aluna da ESGHT
Elisa Coke – Docente da ESGHT
Sílvia Quinteiro - Docente da ESGHT

A proposta de criação de um roteiro exposes in his book. Throughout cenários sugeridos na obra e aqueles
turístico com base na vida e/ou obra the tour we will have discussions em que são feitas as filmagens da sua
de um autor tem vindo a ser uma prá- led by Rebecca on how what we are adaptação ao cinema. Aproveitando
tica cada vez mais comum em vários learning relates to our own beliefs, a popularidade de Harry Potter, os or-
pontos do mundo. O caso recente stories of the history of Christianity, ganizadores remetem os seus clientes
mais conhecido é provavelmente o dos and the meaning of religion. You may para outros espaços que sugerem o
percursos definidos com base em The come away from this adventure with mesmo tipo de ambiente mágico ou
Da Vinci Code, de Dan Brown. Neste an entirely new view of many of the que estão simplesmente associados a
caso, o sucesso da obra determinou stories you have heard your entire outras obras da literatura infantil, e não
o surgimento de propostas como life. só, como explicam:
Following The Da Vinci Code Trail, que (http://www.ipswichtours.
se insere num conjunto de propostas com./davinciitinerary.htm) What a fantastic opportunity to visit
designadas Small Group European England with the ‘kids’ or ‘grandkids’, in-
Gourmet Tours: Seguir os percursos efectuados troduce them to British culture, history and
pelas personagens de uma obra é, literature, while at the same time disco-
This small group gourmet tour pois, um dos critérios possíveis para vering the world of J K Rowling and Harry
traces the footsteps of Dan Brown’s a criação de um roteiro turístico. De Potter through visits to film locations and
protagonists Robert Langdon and facto, e como atesta o fenómeno sites and attractions associated with the
Sophie Neveu through Paris, London, desencadeado por The Da Vinci Code, boy-wizard and friends. Quite unashamedly
and Roslin, Scotland. Much more este pode mesmo ser o único critério, we’ve designed this tour to capitalize on
than following the plot of the DaVinci contrariando a ideia de que na base de the appeal of Harry Potter to include many
Code bestseller, our tour is an exci- um roteiro desta natureza teriam de other magical works of children’s literature.
ting chance to brainstorm the many estar um autor ou uma obra gran- […]..All this and visits to the historic cities
fascinating themes found within diosos, no sentido da excelência da of Gloucester and Oxford. […] We bring alive
the book with our theologian expert qualidade literária. through a selection of visits Lewis Carroll’s
guide, Rebecca Brown. The Louvre Um outro caso recente em que a ‘Alice in Wonderland’, J R R Tolkien’ ‘Lord of
Museum and St. Sulpice Church in popularidade da obra deu origem à the Rings’, C S Lewis ‘Lion, Witch and the
Paris, Temple Church in London, and criação e exploração turística de um Wardrobe’, Kenneth Graham’s ‘Wind in the
Rosslyn Chapel in Scotland are exam- conjunto de percursos é o de Harry Willows’ and the romance of the King Arthur
ples of the venues where local expert Potter, de J. K. Rowling. As Harry Potter legends.
guides will give us new insights into Tours têm uma duração que oscila (http://www.emcoinc.com/travel/
the controversial theories Dan Brown entre um e nove dias e utilizam os html/Europe/HarryPotterbackr.htm )

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VIAGENS COM MANUEL TEIXEIRA GOMES

Ainda no âmbito da literatura es- desde então as obras, os autores ou, casos em que uma obra ou um autor
trangeira, uma das personagens mais até mesmo, as personagens têm vindo suscitam mais do que a visita isolada a
marcantes de sempre é, sem dúvida a sugerir. Exemplos que podem atestar um determinado ponto, destacando-se
alguma, o protagonista do Dracula, a popularidade crescente deste tipo de algumas propostas relativas à vida e
de Bram Stoker. Este é um caso muito turismo são os sites que variadíssimos obra de Eça de Queirós, de Fernan-
particular em termos do seu aprovei- organismos têm vindo a construir a do Pessoa e de Florbela Espanca.
tamento para a criação de itinerários, este propósito. É o caso do KwaZulu- É, pois, no sentido de contribuir
uma vez que estes não são traçados Natal Project (http://literarytourism. para o colmatar desta lacuna no
com base na obra propriamente dita, ukzn.ac.za/), que define mapas e turismo e na cultura portugueses que
nem sequer no seu famoso protagonis- itinerários literários para a África do propomos a criação de um roteiro com
ta. Percursos como as Dracula Tours, Sul, incluindo mesmo a referência a base na vida e obra de Manuel Teixeira
organizadas pelas Transylvania Tours Fernando Pessoa, do New Zealand Gomes. Conscientes de que não se
(http://www.transylvania-tours.com), Book Council (http://www.bookcou- trata de uma figura com projecção
e a Dracula Tour, promovida pela Inter- ncil.org.nz/tourism/index.html), que internacional e de que, mesmo a nível
national Tours and Events (http://www. construiu um mapa literário do país, ou nacional, há um enorme desconheci-
toursandevents.com), são constru- mesmo do New York Times, que traçou mento tanto da obra como do autor,
ídos a partir dos cenários sugeridos o mapa literário de Manhatan com a a nossa proposta tem um objectivo
pelo texto, da imagem do vampiro colaboração dos seus leitores. A par duplo: por um lado chamar a atenção
construída por Stoker e, também, da destes, existem agentes como a British para Teixeira Gomes e para a sua pro-
vida e do local de residência de uma Tours (http://www.britishtours.com), dução literária e, por outro, utilizá-los
figura real. O grande pólo de atracção responsável por percursos com base enquanto recursos que possibilitam
destes itinerários é o Castelo de Bran, nos já referidos The Da Vinci Code e uma diversificação da oferta turística
na Roménia, onde, no século XV, viveu Harry Potter e, também, em Pride and algarvia e a valorização de espaços
aquele que terá sido a fonte de inspi- Prejudice, de Jane Austen, ou a Literary pouco ou nada aproveitados presente-
ração de Stoker: o sanguinário príncipe Traveler (http://www.literarytraveler. mente, articulando-os com outros de
Vlad Tepes, também conhecido como com) que promove destinos/percursos maior relevo.
Vlad, o Empalador ou Vlad Dracula. literários em nove países diferentes O turismo literário surge no âmbito
Um outro fenómeno de sucesso (EUA, México, Irlanda, Polónia, França, do turismo cultural, definido pela
recente na área do turismo literário foi Grécia, Inglaterra, Escócia e Espanha). Organização Mundial de Turismo (OMT)
a criação do Quarteirão Jorge Amado, Existem ainda outros, bastante mais de duas formas. A mais ampla define
em Ilhéus. Neste caso, a atracção é o pequenos, que se limitam a propor turismo cultural como toda a viagem
próprio autor e o conjunto da sua obra, visitas guiadas de autocarro, de carro que, pela sua natureza, satisfaz a
ainda que seja evidente a relevância ou mesmo a pé. necessidade de diversidade e de am-
que dentro dela assume a famosa pro- Contudo, se noutros países as pliação de conhecimento que todo o
tagonista de Gabriela, Cravo e Canela propostas associadas ao turismo ser humano traz em si. A mais restrita
(1958), levando mesmo a que os dois literário quer como produto isolado compreende a viagem com motivos de
roteiros propostos se intitulem “Roteiro quer como forma de diversificação e cariz cultural e educativo. Na realidade,
Cravo” e “Roteiro Canela”1. valorização dos recursos existentes toda a viagem envolve um elemento
Na verdade, efectuar percursos têm vindo a proliferar e a cativar um cultural pois, pela sua própria nature-
definidos com base na literatura é um número crescente de adeptos, em za, implica a deslocação temporária
fenómeno que, segundo Charis Heelan Portugal esta é uma realidade quase do turista para um ambiente cultural
(2004) remonta ao século V a.C., com inexistente. Casas-museu como as de diferente quer o destino seja uma
o escritor e historiador grego Heródoto Eça de Queirós, Fernando Pessoa, João cidade próxima quer um lugar situado
a inspirar milhares de gregos, e mais de Deus, Ferreira de Castro, Cami- no outro lado do mundo (McKercher e
tarde romanos, a visitar as margens lo Castelo Branco, Manuel Teixeira Cros, 2002:1)
do rio Nilo. Não podemos também Gomes, Virgílio Ferreira ou Alexandre Para Jafari (2000:360), o turismo
deixar de fazer referência à Bíblia, Herculano são normalmente ofertas literário é uma forma de turismo
seguramente o livro que fez movimen- isoladas, não estando inseridas no em que a principal motivação para
tar o maior número de ocidentais, por contexto de um roteiro pré-definido visitar certos locais se prende com um
motivos religiosos e não só. Todavia, a que certamente valorizaria tanto a interesse pela literatura. Aqui se pode
associação entre literatura e turismo própria casa-museu, como os restan- incluir a visita à casa do autor (vivo ou
remete inevitavelmente para o século tes pontos nele estabelecidos. Com já falecido), a lugares reais ou míticos
XIX e para as múltiplas viagens que efeito, em Portugal, são raríssimos os e a locais associados a personagens
e eventos descritos na literatura. O com o autor; durante, o turista tem divulgação da obra do autor, nomea-
turista visita os lugares procurando co- conhecimento da existência de um damente junto dos jovens estudantes
nhecer na realidade o que foi sugerido roteiro literário e decide experimentar, do ensino secundário, como veremos
pela ficção – são destinos literários, podendo surgir posteriormente o dese- adiante.
descritos pelas suas qualidades, sejam jo de conhecer a obra. A nosso ver, a vida e obra de Teixei-
elas naturais, culturais ou sociais. Em matéria de turismo cultural, é ra Gomes sugerem a criação de dois
Quando um autor nos descreve todavia necessário ter algum cuidado roteiros distintos, um para o Barlaven-
um destino, uma localidade, ou um no valor de consumo atribuído a estas to e outro para o Sotavento algarvios,
qualquer outro espaço físico, é natural “atracções”. O crescimento deste tipo o que se justifica pela dispersão dos
que sintamos a vontade de lá estar, de de turismo fez emergir a necessidade locais de interesse.
sentir o que o autor ou a personagem de se proteger e conservar os recursos
sentiram, física ou mentalmente. Com culturais de cada destino turístico. Na VIAGENS COM MANUEL
efeito, segundo Baptista (1997:44), verdade, o turismo cultural passou a TEIXEIRA GOMES: ROTEIRO
o turismo literário constitui um meio ser visto pelos gestores do património POR BARLAVENTO
que permite às pessoas conviver com cultural como uma espada de dois
determinadas fantasias, não apenas gumes. Por um lado, o aumento da Este roteiro contempla dois
sobre os livros e autores favoritos, mas procura turística deu uma podero- dias pelo Barlavento. No primeiro
também sobre um conjunto de outras sa justificação política e económica dia sugerimos as localidades de
atitudes e outros valores culturalmente para a expansão das actividades de Portimão e Ferragudo, terras onde
assumidos. conservação, por outro o aumento Teixeira Gomes viveu a sua infância.
O turista literário pode, também, dos visitantes e o uso excessivo e O visitante poderá explorar a cidade,
ser motivado pela admiração pelo inapropriado dos recursos ameaçou a conhecer as origens do escritor
escritor, o que o leva a deslocar-se a integridade e, em casos extremos, a (onde nasceu e cresceu) e visitar as
um determinado lugar com o intuito sobrevivência desses mesmos recur- principais atracções turísticas e a vila
de conhecer melhor o autor da obra. sos (McKercher e Cros, 2002:2) de Ferragudo. Aconselhamos o turista
Para muitos turistas, ditos literários, Para que a valorização do patri- a pernoitar em Portimão, para que no
visitar os locais associados à vida de mónio se concretize, é fundamental o dia seguinte a partida seja em direc-
um escritor famoso e admirado, como apoio da comunidade local, que muitas ção às Ruínas de Alcalar, à localidade
a casa onde nasceu e/ou viveu, o vezes não possui conhecimento das da Figueira, às Ruínas da Abicada, a
sítio onde está sepultado, os lugares histórias dos escritores, do seu valor Lagos e a Sagres.
de reflexão e estudo ou os espaços cultural, social e histórico. Nesta pers-
onde comia e bebia, pode surgir pectiva, torna-se complexa a preserva- DIA 1
como o apogeu da viagem (Takolan- ção e valorização da cultura, pois se os
der, M., Ommundsen, W., 2005). autóctones não a compreendem, não A avó morava em Ferragudo,
Sendo uma das formas de comuni- colaboram na sua preservação. alvejante aldeola levantada em
cação do Homem, a literatura reflecte, Em relação ao sujeito activo do pirâmide, sobre íngreme rochedo, no
naturalmente, a vida e os costumes da turismo literário (e sem querer genera- outro lado do rio, que ali forma uma
sociedade em que é produzida e con- lizar tendo em conta a importância da bacia para depois correr ao mar, por
tribui, portanto, para a divulgação da diversidade), constata-se a presença largo canal, entre duas fortalezas
cultura de um povo e do seu patrimó- de indivíduos ávidos de cultura, de co- desmanteladas
nio. A ligação entre os locais men- nhecimento, exigentes no serviço que (Gomes [1918] (1984):38).
cionados pelo autor e a realidade do consomem, autodidactas, acostuma- […] parámos no convento; o rio,
destino permite aproximar a cultura do dos a lidar com as novas tecnologias e em frente a Ferragudo, era de puro li-
turismo, atribuindo significado e valor a a organizar as suas próprias viagens. lás que, por toda a bacia se dissipava
esses locais. No entanto, há visitantes Logo, no público-alvo do presente em gradações de lilás-azulado, sob
que executam um roteiro literário sem roteiro, seja ele constituído por turistas um céu de inalterável azul, esfumado
nunca terem lido a obra que o susten- ou por excursionistas, incluem-se os de fogo. A serra parecia pegada à vila
ta. Verificamos, pois, que a influência conhecedores da personalidade po- e soltava as pinceladas de púrpura
da obra literária tanto pode surgir lítica de Manuel Teixeira Gomes e/ou que engrossavam a poente, e agita-
antes como durante a viagem: antes, os leitores assíduos ou ocasionais das vam-se em rede que subia pelo céu
o indivíduo lê a obra, desejando poste- suas obras, provenientes, ou não, da (Gomes [1904] (1986):49)
riormente conhecer o local descrito na região algarvia. Para a ampliação deste As rochas que acompanham a
mesma ou outros locais relacionados público preconiza-se uma melhor margem fronteira do rio até à Ponta

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VIAGENS COM MANUEL TEIXEIRA GOMES

do Altar parecem escorrer sumo de Teixeira Gomes foi baptizado) e ao algumas ligadas por arcos naturais,
morango e desse tom sanguíneo e Antigo Colégio dos Jesuítas. e dispostas em torno de pátios onde
turvo se reflecte ali a água estagnada Duração da visita: 40 min. a água se faz transparente como
(Gomes [1918] (1984):192). • 16H30 – Portimão Praia da Rocha. esmeralda líquida; descobrem-se
O farol da Ponta do Altar, com Distância: 3 km. furnas alumiadas a arcos-íris que
o brilho insistente e límpido de um Tempo de viagem: 10 min. reflectem as suas cores pelas profun-
astro, estrelava-se no mar negro e • 16H40 – Visita à Fortaleza de Santa dezas desiguais do mar cristalino, ali
quieto. A «via láctea» movia-se mais Catarina. como semeado de pegos
vagarosa do que nunca, pelo céu Passeio pela Avenida Tomás Cabrei- (Gomes [1935] (1991):143).
doidamente polvilhado de rubis e ra. Sugestão: lanche na Marina de
diamante Portimão. • Portimão Alcalar
(Gomes [1937] (1991a):95). Duração da visita: 1H30. • 09H00 – Saída de Portimão em
Portimão, onde eu nasci (vai já • 8H15 – Fim do primeiro dia de roteiro. direcção a Lagos, pela EN 125. Após
em três quartos de século) não se Regresso ao local de origem ou aloja- sensivelmente 4 km, virar à direita
vê do mar: fica recolhida na bacia do mento numa das unidades hoteleiras em direcção a Alcalar.
rio Arade, encostada quase às faldas da cidade. Distância: 9 km.
da serra, que lhe serve de fundo, e Tempo de viagem: 20 min.
tendo fronteira uma pitoresca aldeia, DIA 2 • 9H30 – Chegada a Alcalar. Visita aos
em forma de pirâmide, que se chama monumentos megalíticos e ao centro
Ferragudo A Igreja de Santo António […], de acolhimento e interpretação.
(Gomes, [1937] (1991a):86). tem uma só nave, de belíssimas pro- Duração de visita: 45 min.
porções, toda ela revestida de talha • 10H20 – Alcalar Ruínas da Abi-
• 09H30 – Ponto de partida Ferra- dourada numa cornija, de florões cada.
gudo. que se armam à volta de anjinhos Saída de Alcalar. Regresso à EN 125,
Passeio pelo centro de Ferragudo. nus e alvos como marfim. O altar, em direcção a Lagos. Cerca de 5 km
Visita à Igreja da Nossa Sr.ª em retábulo com sofríveis imagens, adiante, surge a sinalética para as
da Conceição. ocupa inteiramente a parede do fun- Ruínas da Abicada, numa saída à
Duração da visita: 1H30. do, entre colunas torcidas, fechando esquerda.
• 11H00 – Paragem na Fortaleza S. num semicírculo de fantástica orna- Distância: 7 km.
João de Ferragudo. mentação. O rodapé, que terá um Tempo de viagem: 15 min.
Duração da paragem: 15 min. metro de alto, é de azulejos, imitando Duração da visita: 15 min.
• 11H20 – Fortaleza S. João Farol balaústres, em azul e branco; na sua • 10H45 – Ruínas da Abicada Quin-
Ponta do Altar. simplicidade, nobre e elegante, não ta do Convento e Centro Hípico de
Distância: aprox. 3 km. destoa do efeito geral, e como que Vale de Ferro.
Tempo de viagem: 10 min. lhe corrige o aspecto de bárbara Regresso ao nó de entrada para as
• 11H30 – Farol Ponta do Altar sumptuosidade, própria de outras ruínas e, 100 mts adiante, seguir em
Duração de visita: 30 min. célebres composições de barroco direcção à Figueira. Seguir a sinalé-
• 12H10 – Ponta do Altar Portimão- nacional tica até Mexilhoeira Grande e, após
Distância: aprox. 5 km. (Gomes [1935] (1991):144). a ponte, seguir a indicação para
Tempo de viagem: 20 min. Excursão à Ponta da Piedade. Centro Hípico de Vale de Ferro. O
• 12H30 – Chegada a Portimão. Para- Caminho estreito e arenoso, entre Centro dispõe de cerca de 30 cava-
gem para almoço. sebes de cornicabra por onde as- los de raça Lusitana, bem treinados
• 14H30 – Visita à Casa-Museu Manuel somam com frequência as pás das e preparados para oferecer passeios
Teixeira Gomes: a casa onde Teixeira figueiras da Barbaria, ali muito de- inesquecíveis. Os vários programas
Gomes nasceu e viveu é actualmente finhadas pela exposição e violência de equitação de que dispõe estão
uma sala de exposições também uti- dos ventos reinantes. No extremo da desenhados e organizados tanto
lizada para a realização de tertúlias terra firme levantaram uma capela, para os principiantes como para
literárias. Ali se encontra um impor- cuja cúpula caiada se arredonda no os mais experientes: “Equitação”,
tante fundo bibliográfico local e o anil do céu com todo o aspecto de “Dressage”, “Descoberta” e “Pas-
espólio pessoal de Teixeira Gomes. um oratório de marabuto africano. seios pelo Sol”. Além dos passeios a
Passeio pela rua do comércio. Dura- Ao longo da Ponta da Piedade, cavalo dispõe de outras facilidades,
ção da visita: 1H00. e depois cercando-a, crescem do como uma piscina rodeada por um
• 15H30 – Visita à Igreja Matriz (onde mar inúmeras rochas acasteladas, pátio florido e a natureza envolvente
que proporcionam um passeio pelos pela área envolvente. • 17H30 – Visita ao Teatro Lethes e
jardins que rodeiam a casa principal, Duração da visita: 1H00. passeio pela baixa da cidade.
permitindo apreciar a variedade de • 18H30 – Fim do roteiro. Sugestão: Duração da visita: 1H00.
plantas e flores com pequenos lagos Conhecer a gastronomia local num • 18H30 – Fim do roteiro por Sota-
e repuxos num ambiente calmo e dos mais conceituados restaurantes vento. Regresso ao local de origem
relaxante. O Centro proporciona de Sagres, o Restaurante da Baleeira. ou alojamento numa das unidades
ainda serviços de restauração e Regresso ao ponto de origem. hoteleiras da cidade.
alojamento. Os espaços referenciados nestes
Imediatamente após a entrada para VIAGENS COM MANUEL roteiros foram analisados em função
o Centro Hípico, no lado direito, a TEIXEIRA GOMES: ROTEIRO da informação ao dispor do visitante
estrada de terra batida leva até à POR SOTAVENTO (quer no local quer nos postos de turis-
herdade de Pegos Verdes, a Quinta mo), das acessibilidades, da sinalética,
do Convento. São 3 km até avistar O roteiro pelo Sotavento consiste da possibilidade de visitas guiadas e da
os altos ciprestes que assinalam a num dia de visita às Ruínas de Milreu, ao existência de centros
entrada da propriedade que outrora Palácio de Estoi e a alguns dos pontos de interpretação.
pertenceu a Teixeira Gomes. A de maior interesse da cidade de Faro. Nas visitas efectuadas aos espaços,
herdade de Pegos Verdes, nome A excursão levou uma semana, constatámos que alguns destes locais
dado na época do escritor ao actual por Faro, o Milreu, S. Brás, Tavira e carecem de centros de interpretação,
convento, foi por ele escolhido como Vila Real de S. António, e terras de de sinalética adequada e de visitas
cenário para o assassinato da pro- Espanha guiadas, como sucede com o Palácio de
tagonista do conto O Sítio da Mulher (Gomes, [1938] (1992):53). Estoi e as Ruínas da Abicada. Para além
Morta. Actualmente, a herdade é • 9H00 – Ponto de partida Estoi disso, parte dos edifícios mencionados
propriedade privada, podendo ser E.N.125 rumo a Faro. No centro da no roteiro estão a ser, ou serão proxima-
observada, mas não visitada. cidade, o acesso faz-se pela estrada mente, alvo de requalificação e preser-
Tempo de viagem: 15 min. EN 2, Faro – S. Brás de Alportel, junto vação, como é o caso da Igreja do Colé-
Duração da visita: 1H15. ao nó de Estoi do IP1, Via do Infante, gio em Portimão e do Palácio de Estoi.
• 12H20 – Saída de Vale de Ferro, pelo a 9 km de Faro. Segue-se a sinalética Em nosso entender, o sucesso
mesmo percurso até Mexilhoeira até chegar à vila. dos roteiros que aqui apresentamos
Grande. Apanhar a saída para Lagos Distância: 15 km depende em grande medida de acções
pela EN 125. Tempo de viagem: 20 min. de valorização dos locais neles assina-
Distância: 11 km. • 10H30 – Visita às Ruínas de Milreu. lados, designadamente a manutenção
Tempo de viagem: 20 min. As instalações dispõem de um cen- e limpeza dos locais públicos, a preser-
• 12H45 – Chegada a Lagos. Paragem tro de Acolhimento e Interpretação vação através do restauro e recupe-
para almoço. que possui uma exposição perma- ração dos monumentos, a promoção
• 14h30 – Passeio pelo centro da nente de documentos e artefactos. do património através de técnicas de
cidade. Visita livre a algumas das Duração da visita: 45 min. interpretação como a sinalética e outro
atracções sugeridas: Igreja de Santo • 11H30 – Visita ao Palácio de Estoi e material de suporte. Seria também im-
António, Castelo de Lagos, Armazém passeio pelo centro da vila. portante o uso de animação em alguns
Regimental de Lagos, Museu de Duração da visita: 1H00. dos pontos de interesse sugeridos.
Lagos. • 12H30 – Estoi Faro Visitas guiadas, mapas ilustrados, pai-
Duração de visita: 1H30. Saída de Estoi para Faro, pelo mes- néis colocados em locais estratégicos,
• 16H00 – Na avenida principal de mo trajecto. Paragem para almoço. placas informativas ao longo do per-
Lagos, seguir em direcção à Praia Distância: 15 km. curso e equipamentos culturais como
D’Ana até chegar à Ponta da Piedade. Tempo de viagem: 20 min. filmes e exposições de mobiliário e de
Estacionamento em frente ao farol. • 14H30 – Visita ao Museu Municipal fotografias são igualmente técnicas a
Distância: 4 km. de Faro. ter em consideração no sucesso de
Tempo de viagem: 15 min. Duração da visita: 45 min. um roteiro literário. No entanto, todas
Duração da visita: 30 min. • 15H30 – Sé Catedral. Visita ao interior estas sugestões que visam contribuir
• 16H35 – Ponta da Piedade Sagres- da Sé e passeio pela área envolvente. para uma valorização dos espaços,
Distância: aprox. 35 km. Duração da visita: 45 min. não deverão ser excessivamente
Tempo de viagem: 45 min. • 16H30 – Visita ao Museu Etnográfico mercantilizadas na forma de artefactos
• 17H20 – Fortaleza de Sagres. Visita Regional. e souvenirs, sob pena de se perder
ao centro de acolhimento. Passeio Duração da visita: 45 min. autenticidade. A cultura encenada é

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VIAGENS COM MANUEL TEIXEIRA GOMES

vista como uma cultura descontextua- turismo sustentável. Os locais devem numa abordagem temática, prevista
lizada, que corrompe a autenticidade e ser utilizados de forma a possibilitar em alguns desses programas. A nosso
identidade do local, como nota Juliana que as pessoas, presente e futuramen- ver, seria de todo o interesse levar os
Menezes, a propósito do Quarteirão te, atinjam um nível satisfatório de de- alunos a conhecer a obra desta impor-
Jorge Amado: senvolvimento social e económico, de tante figura local, a assistir a palestras
realização humana e cultural, fazendo ou participar em sessões de esclare-
O trabalho parte do pressuposto de ao mesmo tempo um uso razoável dos cimento a seu respeito que poderiam,
que o turismo cultural pode andar de mãos recursos naturais e culturais. inclusive, decorrer na Casa-Museu ou
dadas com a sustentabilidade na medida Um roteiro literário em homenagem na Biblioteca Municipal, contribuin-
em que se busquem alternativas capazes de a Teixeira Gomes viria, a nosso ver, dar do para a dinamização e divulgação
contribuir para o desenvolvimento sustentá- a conhecer outra faceta do político e desses espaços. Os roteiros que aqui
vel em geral, visando promover o bem estar escritor e do próprio Algarve. Contu- propomos poderiam neste contexto
da comunidade e garantindo a preservação do, é necessária uma campanha de surgir como uma forma complementar
e valorização de sua identidade cultural. divulgação e sensibilização junto dos de motivação para o conhecimento
Este estudo demonstrou que o Quarteirão residentes, dos agentes culturais e simultâneo do autor, da sua obra e da
Jorge Amado está sendo explorado apenas postos de informação turística. Se o região e, também, como apoio à cria-
sob o ponto de vista mercadológico. Isto autor que sustenta um roteiro literário ção de uma geração mais consciente
devido à falta de um planejamento que não for conhecido, o roteiro pode desse património, da necessidade da
envolva a comunidade, assim como a falta não ter a adesão desejada. Assim, no sua preservação e da sua viabilidade
de ações interpretativas que venham a sentido de familiarizar a comunidade enquanto produto turístico.
valorizar a cultura do local e a experiência com a figura de Teixeira Gomes, seria
do turista cultural. interessante a criação de workshops,
(http://www.naya.org.ar/turismo/ grupos de discussão e/ou conversas 1 A propósito do Quarteirão Jorge Ama-
congreso2003/ponencias/Juliana_Me- informais acerca do autor e exposições do, confronte-se “Quarteirão Jorge Amado.
nezes.htm) com a sua obra literária e fotografias Um Potencial Local para o Turismo Cultural
da época que percorressem o Algarve. na Cidade de Ilhéus”, de Juliana Santos
A informação facultada ao visitante Haveria aqui que apelar à iniciativa das Menezes.
através do roteiro (em formato de bro- autarquias, das bibliotecas e das es- 2 Sobre o autor e da sua obra, confron-
chura e de outras fontes de informa- colas. Apesar de não constar dos pro- te-se Da Vida e Obra de Manuel Teixeira
ção) deve transmitir o turismo literário gramas de Português em vigor, a obra Gomes (1976), de Joaquim António Nunes.
como forma de desenvolvimento de de Teixeira de Gomes tem cabimento

BIBLIOGRAFIA

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14 15 dos algarves

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