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BARTEN, Ulrike. What´sin a Name?

Peoples, Minorities, IndigenousPeoples,


Tribal GroupsandNations, JournalonEthnopoliticsandMinorities in Europe, vol.
14, no. 1, pp. 1-24, 2015.

 Este artigo traz algumas definições do que significa povos, minorias, povos
indígenas, grupos tribais e nações, segundo o direito internacional, bem como
seus efeitos e demais repercussões no campo internacional.
O princípio da autodeterminação dos povos confere aos povos o direito de
autogoverno e de decidirem livremente a sua situação política, bem como aos
Estados o direito de defender a sua existência e condição de independente. Os
povos, principais destinatários do princípio, são, segundo o conceito sociológico,
conjuntos de pessoas unidas por laços de sentimento de pertencerem a um mesmo
grupo, laços estes motivados por fatores em comum, os quais podem ser objetivos e
subjetivos. Os elementos objetivos são a cultura, religião, história, etnia, idioma,
entre outros, e os subjetivos são a vontade de viverem juntos e a consciência de
pertencerem ao mesmo grupo.
O princípio da autodeterminação dos povos pode ser exercido nas modalidades
de independência, associação, integração, autonomia e reconhecimento de direitos
de minorias, e, por possuir um forte conteúdo democrático, é aplicável a um povo
somente em conformidade com a sua vontade, podendo esta ser apurada pelo
plebiscito. Formulado no século XX, como uma fornia de superação do princípio
das nacionalidades, o princípio da autodeterminação dos povos foi concedido a
povos específicos por meio de tratados e previsto no Pacto da Sociedade das Nações
como um direito dos povos sob mandato.
Após a II Guerra Mundial, ele foi consignado na Carta de São Francisco como
um direito dos povos em territórios não autónomos e em territórios sob tutela, bem
como aos povos em geral e para ser observado nas relações entre as nações. Sendo
utilizado pela ONU no processo de descolonização, esse princípio foi reconhecido
como norma de Direito Internacional. Até a Declaração de 1970, prevalecia o
entendimento de que a autodeterminação era exclusiva dos povos colonizados e aos
que sofreram querelas na II Guerra Mundial, aceitando parte dos juristas, com a
referida Declaração, a sua aplicabilidade a todos os povos.
1) Povo: comunidade de indivíduos. Estamos falando de uma povoação
permanente que poderá ser homogênea ou heterogênea, sem que isso ou que
seu tamanho influencie na legitimidade do Estado interna ou externamente.
Povo é, essencialmente, o elemento humano do Estado, o responsável pela
manutenção estrutural dele. É justamente a essência do princípio da
continuidade do Estado que garante sua existência em eventual vacância,
revolução ou período anarquista.
2) Minorias: Mesmo em face das eventuais dificuldades que ainda impedem a
implementação efetiva e plena da normativa internacional na seara interna,
as minorias nacionais, particularmente vulneráveis socialmente, podem
encontrar, no contexto internacional, uma esfera na qual tenham seus direitos
garantidos e efetivados. Encaradas sob perspectiva histórica, pôde-se
observar que, situando-se à margem do processo de consolidação dos
Estados nacionais, tais minorias encontraram significativas dificuldades para
terem atendidas suas reivindicações, fato que repercute na atual situação por
elas vivenciadas.
Sendo essa configuração social presente em quase todos os países, enseja-se
o seu tratamento por meio do paradigma transnacional, que requer uma
atitude colaborativa das autoridades nacionais e internacionais, com o intuito
de oferecer uma resposta adequada e coerente para ambos os ordenamentos
jurídicos. A despeito desse processo de exclusão, tais grupos necessitam, por
meio da consonância entre as instituições democráticas e a garantia de seus
direitos fundamentais, da participação política nacional a fim de terem
atendidas suas demandas e estimularem uma discussão sobre eventuais
medidas que visem melhorar seu bem- -estar.
Embora regida pelo princípio majoritário, as democracias e suas respectivas
maiorias encontram nos direitos fundamentais limites para sua atuação,
devendo ser criados mecanismos que viabilizem a participação de todos os
grupos, elemento legitimador das decisões resultantes. O sistema
internacional, por meio de seus órgãos, auxilia, significativamente, na
proteção desses grupos, ao assegurar o cumprimento dos direitos previstos
em tratados de direitos humanos quando as autoridades nacionais não atuem
conforme suas responsabilidades em conferir efetividade a estes. Fornecendo
parâmetros jurisprudenciais, enseja-se um diálogo com os Estados para que,
paulatinamente, o sentido de tais normas possa convergir e, assim, efetivar,
plenamente, tais disposições.
O caráter transnacional dos problemas enfrentados pelas minorias nacionais
estimula a coerência, estabilidade e a própria igualdade de tratamento
perante grupos, fincando uma atitude de cooperação entre diversos atores
nacionais e internacionais. Avança-se para uma emergente sociedade global
que tenha, na tolerância ante o próximo, um de seus elementos fundantes,
conservando a diversidade ínsita ao ser humano por meio do respeito.
3) Povos indígenas: A relação entre o direito à autodeterminação dos povos
indígenas, como compreendido na Declaração, e os direitos de participação
revela-se complexa e dinâmica. Ambos os direitos possuem a natureza de
direitos coletivos políticos e ambos têm a finalidade de assegurar aos povos
indígenas um grau de autonomia para garantir sua sobrevivência física e
permitir a continuidade cultural e tradicional de suas instituições políticas,
econômicas e sociais.
O desenvolvimento do sistema de minorias significava igualmente a
preocupação política com certos grupos a que não foram reconhecidos a
titularidade de um Estado próprio, mas que representavam significativas
distinções culturais quando comparados com a sociedade dominante dos
Estados em que viviam. A inclusão do direito à autodeterminação nos dois
Pactos Internacionais sobre Direitos Humanos reforça o argumento de que
esse direito não se esgotaria na descolonização conduzida pela ONU
principalmente nas décadas de 1960 e 1970, mas teria aplicação universal.
Em uma leitura contemporânea e pós-colonial, o direito à autodeterminação
tem se caracterizado como um mecanismo que pretende facilitar e abrir
canais de acesso ao governo para grupos intraestatais que, embora
reivindiquem e possam eventualmente ser caracterizados como povos,
tendem a ser marginalizados ou reduzidos na sua capacidade de influência
política. A Declaração sobre Direitos dos Povos Indígenas amolda-se a esse
novo contexto do direito à autodeterminação. Embora mantenha o respeito à
integridade territorial, como ocorreu com as Resoluções da Assembleia
Geral da ONU predecessoras, ela busca atribuir uma autonomia aos povos
indígenas. Essa autonomia, fenômeno que tem sido caracterizado como
internalização ou, de um ponto de vista mais crítico, como a domesticação da
autodeterminação, tem como resultado conferir aos povos indígenas diversos
direitos vis-à-vis o Estado.
A autodeterminação surge como um instrumento voltado a defender suas
culturas e as posses imemoriais que possuem sobre determinado território
contra um histórico de exploração indiscriminada e autoritária, cuja
repercussão é a desintegração das comunidades indígenas e a assimilação
forçada desses povos à sociedade dominante.
O reconhecimento de um grupo indígena possui frequentemente um caráter
relacional e intersubjetivo entre esses povos, o Estado e a sociedade
internacional. Mais complexas são as distinções relacionadas às minorias
étnicas. A existência de fronteiras conceituais tênues entre esses dois grupos
e o fato de o direito internacional favorecer os povos indígenas do ponto de
vista do reconhecimento de direitos e espaços institucionais têm levado à
pressão para grupos que antes se definiam como minorias étnicas queiram
agora se afirmar como povos indígenas.
Os desafios emergem para todos os participantes do processo: os povos
indígenas, os Estados, os arranjos intergovernamentais e atores privados que
querem se ver beneficiados pela implementação de alguma medida. Do
mesmo modo, o comprometimento com um processo decisório, que leve a
uma negociação concertada, também deve ser demonstrado por todos os
participantes.
Longe de se constituírem como uma mera garantia formal, o direito à
autodeterminação e os direitos de participação significam uma oportunidade
para a superação de desconfianças históricas e para a realização de uma
sociedade que aspira ser mais plural e socialmente justa. Somente desse
modo é que os Estados pós-coloniais poderão se recompor com o passado e
oferecer bases democráticas mais sólidas para perseverar enquanto uma
comunidade política convergente, harmônica e real do futuro.
4) Povos tribais: tanto os povos indígenas quanto os povos tribais são aqueles
que têm: estilos de vida tradicionais; culturas e modos de vida diferentes de
outros segmentos da população nacional, por exemplo, modos de produzir,
língua, costumes, etc.; organização social própria e leis tradicionais. A
diferença entre os povos indígenas e os tribais é que os indígenas, além
daquelas características, vivem histórica e continuamente numa área
determinada, ou nela já estavam antes da colonização.
5) Nação: é um agrupamento humano que pressupõe compartilhamento de
elementos identitários, traz uma noção de pertencimento, e sua base é a
densidade cultural.

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