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Apostila 2020 PDF
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2020
CONTÉUDO PROGRAMÁTICO
1.1 Histórico
Segundo aqueles autores, o direito processual civil clássico era, até então, incapaz de
tutelar o direito coletivo porque institutos clássicos como a legitimidade ordinária, de
perspectiva liberal individualista (cada um defende o que é seu individualmente) e a coisa
julgada intra partes (a decisão beneficia só as partes - art. 506 do NCPC), entre outros, são
incompatíveis com o processo coletivo.
Não que o processo coletivo nega a importância do processo individual para
determinadas situações, mas reconhece o caráter egoístico deste, com o indivíduo pensando
só em si. O caráter do processo coletivo, ao contrário, é altruístico, porque sempre tem em
mente o bem comum; daí a necessidade real de reformular conceitos processuais civis
tradicionais, adequando-os à tutela dos interesses metaindividuais.
A ordem jurídica reconhece a necessidade de que, em matéria de interesses
transindividuais, “o acesso individual dos lesados à Justiça seja substituído por um
processo coletivo, que não apenas deve ser apto a evitar decisões contraditórias como ainda
deve conduzir a uma solução mais eficiente da lide, porque o processo coletivo é exercido de
uma só vez, em proveito de todo o grupo lesado.”
Por influência lusitana, o Brasil já convive com a ação popular desde as Ordenações
Manuelinas, não obstante era de forma extremamente precária e limitada (na origem só cabia
contra atos do poder público).
As ações coletivas (re)surgiram mesmo pela influência direta da doutrina italiana na
década de 70, quando emergiu uma doutrina processual coletiva brasileira representada por
Barbosa Moreira, Kazuo Watanabe, Ada Pellegrini Grinover, Waldemar Mariz Oliveira
Júnior, e, posteriormente, Antônio Gidi, Nelson Nery Júnior e Aluísio Mendes.
Apesar de já existir a ação popular desde antes (Lei 4.717/65), a doutrina costuma
vincular o surgimento do processo coletivo no Brasil com a Lei 6.938/1981 (Lei Nacional da
Política do Meio Ambiente), que, em seu art. 14, §1º, previa a legitimidade do MP para propor
a ação civil pública em proteção ao meio ambiente.
Todavia, só em 1985, com a Lei de Ação Civil Pública (7.347/85), que houve a
consolidação do processo coletivo no Brasil. Essa lei resolveu o problema dos bens ou direitos
de titularidade indeterminada, mas não o problema dos bens e direitos cuja tutela individual é
inviável e os bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável. Esses últimos dois problemas
só foram efetivamente solucionados com a CF/88 e em especial com o Código de Defesa do
Consumidor, em 1990, quando então houve a potencialização do processo coletivo, e a sua
complementação pelo Estatuto da Cidade (2001), do Idoso (2003) etc.
Por outro lado, não podemos ignorar os retrocessos. O Governo tem utilizado
Medidas Provisórias para atacar a ação civil pública, tentando restringir sua eficácia, limitar o
acesso à justiça, frustrar o momento associativo e reduzir o papel do Poder Judiciário. Ex: a
Lei 9.494 é o resultado de uma MP, que incluiu o atual art. 16 da LACP. Este dispositivo traz
uma norma que limita bastante o processo coletivo, já que determina que “a sentença civil fará
coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.”
Quanto ao futuro do processo coletivo brasileiro, destaca-se 2 tentativas frustradas
de criação do Código de Processo Civil Coletivo:
- uma que partiu de três projetos (oriundo da USP - Ada Pellegrini Grinover; da
UERJ/UNESA - Aloísio Castro Mendes; e de Antônio Gidi);
- e outra, em 2008, quando o Ministério da Justiça nomeou uma comissão de juristas para
tanto. Porém, tal comissão entendeu que o ideal não é fazer um novo código (que demorará
muito para sair do Congresso), mas sim uma Nova Lei de Ação Civil Pública.
Com efeito, esta nova Lei é o atual PL 5139/09.
Vê-se, resumidamente, que a ação e o processo coletivos tem por objeto a realização
do interesse público, ou seja, “servem às demandas judiciais que envolvam, para além dos
interesses meramente individuais, aqueles referentes à preservação da harmonia e à realização
dos objetivos constitucionais da sociedade e da comunidade” (DIDIER JR, 2008, p. 38), como,
por exemplo, dos consumidores, do meio ambiente, do patrimônio artístico, histórico e
cultural, bem como os interesses individuais dos necessitados e minoritários marginalizados,
ou seja, os direitos coletivos lato sensu e individuais indisponíveis.
Trata-se, assim, de um processo de interesse público, não interessando a “estrutura
subjetiva”, mas a “matéria litigiosa” discutida. Desta feita, não se confunde processo coletivo
com litisconsórcio multitudinário.
Este está assentado no velho arquétipo de processo individual (de estrutura
atômica), ainda que sejam muitos em um dos pólos, posto que defendem seus direitos
subjetivos individuais (o juiz pode, inclusive, fragmentar tal litisconsórcio quando dificultar o
andamento do processo ou a defesa).
Já o processo coletivo é de estrutura molecular, ou seja, mesmo que interesse a uma
série de sujeitos distintos, identificáveis ou não, pode ser ajuizada e conduzida por uma única
pessoa já que veicula matéria de natureza comum a todos, à coletividade.
Justamente por servir o processo coletivo ao interesse público é que tem se
experimentado uma maior politização da Justiça e ativismo judicial, pois “ao Poder Judiciário
foi conferida uma nova tarefa: a de órgão colocado à disposição da sociedade como instância
organizada de solução de conflitos metaindividuais”.
1.3.3 Legislação pertinente aplicável
a) Quanto ao sujeito:
- processo coletivo ATIVO: é o processo coletivo por excelência, em que a coletividade é
autora, por meio de um legitimado coletivo. Essas são as mais comuns.
- processo coletivo PASSIVO: é aquele em que a coletividade é ré. Seria a situação inusitada de
a coletividade ser demandada como ré numa ação.
Na doutrina, existem duas posições diametralmente opostas sobre ação coletiva
passiva:
✓ 1ª corrente (DINAMARCO): não existe ação coletiva passiva, por ausência de previsão
legal. O art. 5º LACP só trata dos legitimados ativos, enquanto não há essa previsão para a
ação coletiva passiva.
✓ 2ª corrente (majoritária – GRINOVER, DIDIER): existe ação coletiva passiva, pois a
prática tem demonstrado que há situações em que a coletividade deve ser acionada (Ex.: em
caso de greve, a representação da coletividade passiva é do sindicato ou da associação ).
Ademais, a sua existência decorre de uma interpretação sistemática, dispensando previsão
expressa:
a) o art. 5º, §2º da Lei 7.347/85 (LACP) permite o ingresso do Poder Público e das
associações como litisconsortes de “qualquer das partes”, o que abrange a passiva.
b) o art. 83 do CDC determina que para a defesa dos direitos coletivos são admissíveis
todas as espécies de ações capazes a propiciar a adequada e efetiva tutela, o que inclui a
ação rescisória proposta pelo réu da ação coletiva originária, os embargos à execução
coletiva ou o mandado de segurança impetrado pelo réu da ação coletiva contra ato
judicial.
b) Quanto ao objeto:
- processo coletivo ESPECIAL: são os processos das ações de controle abstrato de
constitucionalidade (ADI, ADC, ADPF).
- processo coletivo COMUM: o processo coletivo comum é composto por todas as ações para
a tutela dos interesses e direitos metaindividuais não relacionados ao controle abstrato d e
constitucionalidade. São elas:
✓ Ação popular – Tem previsão na Lei 4.717/65.
✓ Ação civil pública – Tem previsão da Lei 7.347/85.
✓ Ação coletiva (?) – Alguns autores (ex: Mazzilli) sustentam que ação coletiva é algo
diverso da ação civil pública, servindo à tutela dos interesses individuais homogêneos.
Para eles, a ação coletiva é a que tem previsão no CDC, enquanto a ação civil publica
seria a prevista na Lei 7.347/85. Na prática, os regimes da ação coletiva e da ação civil
pública são idênticos.
✓ Ação de improbidade administrativa (?) – O STJ e alguns autores sustentam que a
improbidade administrativa é uma espécie de ação civil pública. Para outros autores,
são ações distintas, pois possuem legitimidade, objeto, regime de coisa julgada e
outros institutos diferentes.
✓ MS coletivo – Tem previsão na Lei 12.016/09.
✓ Mandado de injunção coletivo (?) – Existe a discussão sobre sua criação, mas ele ainda
não foi formalmente criado.
1.6 Princípios do direito processual coletivo
d) Possibilidade de controle pelo Judiciário das políticas públicas: O STF e o STJ têm
permitido, em situações de extrema necessidade, a implementação de políticas públicas
definidas pela Constituição mediante intervenção do próprio Poder Judiciário, sempre que os
órgãos estatais competentes descumprirem os encargos políticos-jurídicos, de modo a
comprometer, com sua omissão, a eficácia e integridade de direitos sociais e culturais
impregnados de estatura constitucional.
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De acordo com o parágrafo único do art. 81 do CDC, a tutela coletiva recairá sobre os
direitos ou interesses difusos, coletivos, e individuais homogêneos, in verbis:
Vale registrar que para vários autores tais direitos ou interesses acidentalmente
coletivos não são metaindividuais, porque não transcendem os limites do indivíduo.
1 Na ação coletiva, cujo pedido é a tutela de um direito individual homogêneo, não há necessidade de, no seu
início, identificar os seus titulares nem a extensão dos danos, sendo a sentença proferida de forma genérica e a
coisa julgada com efeitos erga omnes. Porém, no momento da liquidação e da execução, os mesmos devem ser
identificados para que recebam suas respectivas indenizações, de acordo com os danos suportados
individualmente. Caso, transcorra o prazo de 1 ano, não havendo a referida identificação ou habilitação em
número compatível com a gravidade da lesão, poderá o MP ou qualquer co -legitimado promover a liquidação e
execução coletiva da indenização, a qual irá para o Fundo de Direitos Difusos.
Alta conflituosidade
interna: dentro do grupo Há uma baixa Não há conflituosidade
Nível de que é titular deste direito conflituosidade interna, interna, porque os interesses
Conflituosid existem as mais diversas sendo eficiente a mediação são individuais, que, por
a- de interna opiniões/posicionamentos dos conflitos. questão de política
. Justamente por isso, legislativa, podem ser
conforme aponta Mazzilli, tutelados coletivamente,
se mostram ineficientes os fazendo com que o direito
procedimentos e a individual padronizado
estrutura que (ações repetitivas) ou
normalmente se prestam à antieconômico receba
mediação dos conflitos. tratamento coletivo.
Alta abstração: os
Nível interesses difusos existem Os direitos são de menor Mínima, pois são direitos
de muito mais no plano abstração (são mais reais, concretos.
Abstra- hipotético do que no concretos).
ção plano real.
Na prática, o mesmo fato pode dar ensejo a ações coletivas para proteger todos estes
interesses, inclusive por intermédio da cumulação de pedidos em uma única ação.
Vale destacar o caso hipotético proposto por Donizetti e Cerqueira, senão
comentemos:
Imagine um fabricante de iogurte que, buscando aumentar suas vendas, divulga,
mediante propaganda televisiva, que seu produto reduz o “colesterol ruim”. Pesquisas
científicas demonstram, porém, que na verdade, o consumo daquele iogurte aumentos os
níveis de colesterol ruim. Três ações judiciais podem ser propostas em decorrência desse fato:
1ª Ação – vários indivíduos buscam indenização pelos danos materiais e morais
sofridos, decorrentes dos gastos efetuados com a compra do produto e o aumento dos níveis
de colesterol.
2ª Ação - entidade legitimada pleiteia indenização pelos danos materiais e morais
sofridos por todos os consumidores que adquiriram aquele produto.
3ª Ação - entidade legitimada que, com base na proteção ao direito à saúde do
consumidor, pleiteia que a fabricante seja condenada a retirar seus produtos do mercado.
CONCLUSÃO: os interesses tutelados são, respectivamente, individuais homogêneos,
coletivos em sentido estrito, e difusos. Ou seja, o direito deve ser identificado no caso
concreto, de acordo com o pedido e com a causa de pedir, pois um mesmo fato pode originar
pretensões difusas, coletivas ou individuais homogêneas.
Assim, o que define qual o direito tutelado é a afirmação feita na inicial e não a
classificação doutrinária (outros exemplos: 1 - propaganda enganosa → se for para tirar do ar,
é difuso; se para indenizar, é individual homogêneo; 2 - numa ACP é possível combater os
aumentos ilegais de mensalidades escolares já aplicados nos contratos dos alunos atuais -
o direito é coletivo; buscar a repetição do indébito – o direito é individual homogêneo; e,
ainda, pedir a proibição de aumentos futuros – trata-se de direito difuso, envolvendo futuros
alunos).
Na verdade, alguns autores não vislumbram diferença entre os difusos e os coletivos
(Dinamarco) e outros, entre os coletivos e os individuais homogêneos (não é a posição
dominante). Mas o importante é saber que há zonas cinzentas, em que realmente não é fácil
afirmar se o direito é difuso, coletivo ou individual homogêneo.
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2 Exceto, no caso dos direitos individuais homogêneos, em que o indivíduo pode intervir como assistente
litisconsorcial.
3.2 Características
Parece-nos que a corrente adotada para legitimidade nas ações coletivas é que a da
legitimação por substituição processual, com as seguintes características:
O rol dos legitimados coletivos ativos encontra-se, basicamente, nos artigos 5º da Lei
de Ação Civil Pública e art. 82 do CDC, in verbis:
LACP, art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I – o Ministério Público;
II – a Defensoria Pública;
III – a união, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V – a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.
CDC, art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I – o Ministério Público;
II – a união, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direi tos
protegidos por este Código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre
sues fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código,
dispensada a autorização assemblear.
A Defensoria Pública não detinha legitimidade ampla e expressa para propor ação
coletiva, quadro que mudou com a edição da Lei 11.448/2007, que inseriu a defensoria no rol
dos legitimados extraordinários do artigo 5º da Lei de Ação Civil Pública.
Antes disso, só se conhecia duas situações nas quais a Defensoria Pública poderia
atuar: 1) representando judicialmente uma associação economicamente hipossuficiente em
ação civil pública para coibir danos ambientais; 2) por força do art. 82, III, do CDC, o órgão da
Defensoria Pública, desprovido de personalidade jurídica, teria legitimidade para promover
ação coletiva na defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (detalhe: para
além do direito do consumidor, em nome da interação das leis no microssistema da tutela
coletiva).
Todavia, a questão que mais se debate, atualmente, sobre a atuação da defensoria em
sede coletiva é a seguinte: teria ela legitimidade ativa apenas nos caos em que a coletividade
fosse composta de pessoas hipossuficientes economicamente?
A questão é bastante controvertida, mas a posição dominante defende que basta a
existência de algumas pessoas hipossuficientes ou necessitados para que já se justifique a
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Todavia, a jurisprudência dos tribunais superiores já fixou entendimento que o M.P. não tem legitimidade para
a tutela de direitos individuais homogêneos em matéria tributária e previdenciária.
atuação da Defensoria Pública, não havendo necessidade de todos os integrantes sejam
necessitados. Didier e Zaneti Jr. (pág. 219) bem explicam a questão:
Para que a Defensoria seja considerada como “legitimada adequada” para conduzir o
processo coletivo, é preciso que seja demonstrado o nexo entre a demanda coletiva e o
interesse da coletividade composta por pessoas “necessitadas”, conforme locução
tradicional. Assim, por exemplo, não poderia a Defensoria Pública promover ação coletiva
para a tutela de direitos de um grupo de consumidores de PlayStation III ou de Marcedes
Benz. Não é necessário, porém, que a coletividade seja composta exclusivamente por pessoas
necessitadas. Se fosse assim, praticamente estaria excluída a legitimação da Defensoria para
a tutela de direitos difusos, que pertencem a uma coletividade de pessoas indeterminadas.
A disposição legal citada destina-se a propiciar que órgãos como o PROCON possam
igualmente propor ações coletivas.
Há ação coletiva passiva quando se formula uma demanda contra uma coletividade.
Dessa forma, conclui-se que, assim como uma coletividade pode ser titular de um direito,
pode também estar em situação de sujeição ao direito do autor. Exemplos:
a) litígios coletivos trabalhistas, em que em cada um dos pólos se encontra o sindicato
(representante adequado) das respectivas categorias – empregados e empregadores.
b) ação proposta em face de categoria de servidores públicos, em casos de greve, com a
pretensão de voltem ao trabalho. Noticia-se que a ação pioneira ocorreu em 2004, quando a
categoria dos policiais federais entrou em greve. Naquela oportunidade, a União ingressou
com ação em face da Federação Nacional dos Policiais Federais e o Sindicato dos Policiais
Federais do Distrito Federal, pleiteando o retorno das atividades;
c) caso de uma empresa que ingressa com ação a fim de ver declarado que seu projeto é
ambientalmente correto, ou ação proposta por empresa que se vale de contratos de adesão, a
fim de ver declarada a legalidade das cláusulas desse mesmo contrato.
De acordo com o art. 16 do NCPC, “a jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais
em todo território nacional, conforme as disposições deste código”. Ou seja, todo juiz é dotado de
JURISDIÇÃO, de poder jurisdicional.
Entretanto, pela impossibilidade física de os juízes exercerem tal poder em todo
território nacional, é que o ordenamento jurídico previu uma distribuição, uma repartição
desse poder entre todos os juízes que compõe o Poder Judiciário.
A essa distribuição ou repartição do Poder Jurisdicional é que se denomina
COMPETÊNCIA. Assim, competência é a medida da jurisdição; é a quantidade de poder
atribuído a determinado órgão judicial; é a delimitação da jurisdição.
A Constituição Federal de 1988 já faz a grande 1º distribuição de competência ao
dividir o Judiciário em 5 “Justiças”: Justiça Estadual, Justiça Federal, Justiça do Trabalho,
Justiça Militar, Justiça Eleitoral, a depender da causa, ou seja, da natureza do litígio (da
matéria).
Por darem solução a litígios específicos, as três últimas pertencem à chamada Justiça
Especial. Por exclusão, às 2 primeiras, a saber, à Justiça Estadual e à Justiça Federal, caberá a
solução de litígios comuns, ou seja, que não sejam trabalhista, eleitoral ou militar. Em virtude
disso, são conhecidas por Justiça comum, as quais, por possuirem vários órgãos jurisdicionais,
a competência será, por fim, distribuída através de quatro critérios, a saber:
a) Justiça Eleitoral (art. 121, CF): em princípio, caberá ação coletiva na Justiça Eleitoral, desde
que a causa de pedir for os assuntos relacionados no art. 121 da CF.
b) Justiça Do Trabalho (art. 114, CF): é perfeitamente cabível ação coletiva na Justiça do
Trabalho. Basta ler a Súmula 736 do STF: “Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham
como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos
trabalhadores.”
Exemplo comum: ACP proposta pelo MPT, para a defesa de interesses coletivos,
quando desrespeitados direitos sociais. Até mesmo para a defesa de direitos individuais
homogêneos, desde que haja relevante interesse social, é também cabível ação civil pública
pelo MPT perante a Justiça do Trabalho.
Outro exemplo: ações de nulidade de cláusula de contrato coletivo ou convenção
coletiva.
A regra básica de competência para a Ação Civil Pública (bem como para qualquer
ação coletiva, em prestígio ao princípio da integratividade do microssistema de tutela
coletiva) encontra-se no artigo 2º. da lei 7.347/85, que assim afirma:
Lei 7.347/85
Art. 2º. As ações previstas nesta lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Parágrafo único. A propositura da ação prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações
posteriormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o mesmo objeto.
• se o dano for local: a competência é do juízo do local do dano. Pode ocorrer, porém, de o
dano ocorrer em mais de uma localidade (município). Em tais casos, o foro de qualquer dessas
localidades é competente para a ação coletiva (um caso excepcional de competência
territorial absoluta concorrente) e, sendo a demanda proposta no foro de qualquer deles, este
se tornará prevento para quaisquer outras demandas que tenham a mesma causa de pedir ou
pedido, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 2º da LACP.
• se o dano for regional (estadual): o foro é o da capital do Estado (para Mazzilli e Ada
Pellegrini Grinover, a ação também poderia ser proposta no Distrito Federal,
alternativamente).
Um grande problema é que o art. 93 do CDC não define o que é dano regional e o que
é dano nacional, o que causa alta dose de insegurança quando se deve definir, no caso
concreto, o juízo competente para uma ação coletiva. Ex: dano atinge 3 grandes comarcas do
Estado de Goiás (esse dano é regional ou local?); dano atinge os Estados de GO, TO e BA (é
nacional ou regional?).
3º) os direitos coletivos lato sensu são essencialmente indivisíveis (art. 81, parágrafo único do
CDC), razão pela qual seria impossível cindir os efeitos da decisão judicial pelo lugar que foi
proferida, pois a lesão a um interessado implica a lesão a todos, e o proveito a um a todos
beneficia;
4º) e, por fim, o próprio artigo 93 do CDC define a competência para a ação coletiva de acordo
com a extensão do dano. Assim, em caso de dano nacional, por exemplo, o juízo da capital do
Estado ou do Distrito Federal terá, em tese, jurisdição nacional, e os efeitos de sua decisão
atingiriam, naturalmente, todo o Brasil.
Todavia, não obstante tais argumentos, a posição atual dos tribunais, notadamente
do STJ, é pela aplicação literal daqueles dispositivos.
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De acordo com o art. 104 4 do CDC, as ações coletivas não induzem litispendência
para as ações individuais. Isso porque nunca será possível a identidade total entre uma ação
individual e uma ação coletiva, já que as partes (legitimados coletivos) e o pedido (de tutela
de um interesse difuso ou coletivo ou, nos individuais homogêneos, de tutela genérica)
da coletiva são distintos das partes (indivíduo) e dos pedidos (pedido certo) da ação
individual.
Por outro lado, é possível a identidade parcial entre uma ação individual e uma ação
coletiva apenas no que diz respeito à CAUSA DE PEDIR. Neste caso, haverá CONEXÃO, e
não litispendência.
Mas atente: no processo coletivo, ao contrário do que ocorre no processo individual,
a consequência da identidade parcial entre ação coletiva e ação individual não é a reunião
das causas, mas sim a SUSPENSÃO da ação individual. Essa suspensão pode ser facultativa
(requerida pela parte – art. 104, CDC) ou obrigatória judicial (nas ações individuais
multitudinárias).
4Embora o dispositivo não aluda às ações envolvendo direitos individuais homogêneos, a rigor, nem mesmo
nestes casos haverá litispendência entre ação coletiva e ação individual.
controvertido:
- 1ª Corrente (Wambier, Antônio Gidi) => EXTINÇÃO da ação repetida, embora a parte da
ação extinta possa ingressar como litisconsorte na ação que remanesceu.
- 2ª Corrente (Ada Grinover) => o caso não é de extinção, mas sim de REUNIÃO para
julgamento conjunto (mesmo efeito da conexão e continência) ou, não sendo isso possível, a
SUSPENSÃO de uma delas. Essa posição é majoritária na doutrina.
b) parcial (conexão/continência): também é possível a identidade parcial entre as ações. A
consequência da conexão/continência será a REUNIÃO das causas para julgamento
simultâneo ou, se não for possível, a SUSPENSÃO.
Obs: Súmula 489, STJ: “Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as
ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual.”
Sobre a regra, uma primeira observação importante: entende a doutrina que se deve
aplicar a mesma disposição, por analogia, aos ramos da Defensoria Pública.
A grande e tormentosa questão que se coloca nesses casos é: perante qual justiça
deverá tramitar essa ação: justiça estadual ou justiça federal? Outra: podem os ramos do
Ministério Público demandar perante qualquer justiça?
Trata-se de questão de difícil resolução, notadamente porque a legislação vigente não
fornece respostas. Há duas correntes doutrinárias que enfrentaram essa polêmica:
1ª) defende que cada Ministério Público deve ter sua atuação limitada à “sua justiça”;
2ª) entende que o Ministério Público poderia atuar perante qualquer justiça, desde que a
matéria discutida em juízo seja de sua atribuição.
Destaca-se a segunda corrente doutrinária, tendo em conta os seguintes
fundamentos:
- a delimitação das funções de cada Ministério Público não está constitucionalmente adstrita
a essa ou aquela justiça;
- não pode equiparar o Ministério Público Federal à União, de modo que a sua simples
presença na lide imponha a competência de justiça federal;
- a expressa autorização, contida na lei, para a formação do litisconsórcio entre Ministérios
Públicos já revela a possibilidade de sua atuação perante uma justiça que não lhe seria
correspondente;
- o Ministério Público Estadual não poderia ficar submetido à vontade do Ministério Público
Federal. (Ex: imagine-se um dano causado por um ente público federal: se o Ministério
Público Federal não propusesse a demanda coletiva, o Ministério Público Estadual não
poderia fazê-lo, por não poder pleitear perante a justiça federal).
Art. 94. Proposta a ação, será publicado no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
É oportuno destacar, antes de qualquer outra análise, que tal situação não se aplica
em qualquer ação coletiva, mas apenas naquelas em que o legitimado extraordinário defenda
direitos individuais homogêneos. Ou seja, não á cabível a intervenção do indivíduo em ações
coletivas para a tutela de direitos difusos ou coletivos stricto sensu.
Por outro lado, nada obstante tenha a lei se utilizado da expressão litisconsortes, trata-
se, conforme aponta a doutrina, de assistência litisconsorcial. Isso porque não pode o indivíduo
ser considerado litisconsorte ulterior pois não detém ele legitimidade para tutelar
coletivamente direitos individuais homogêneos. Mas, por outro lado, como o direito
individual coletivamente tutelado é também dele, a sua intervenção dar-se-á na condição de
assistente litisconsorcial.
A segunda hipótese de intervenção do indivíduo como assistente em ação coletiva é
bastante peculiar e liga-se à ação popular. Como se sabe, a lei defere ao cidadão-eleitor a
legitimidade para, em nome próprio, tutelar direito verdadeiramente difuso, consistente na
moralidade administrativa amplamente considerada. Nesses casos, não há dúvida: o cidadão-
eleitor atua, em nome próprio, na defesa de direito alheio, em verdadeira legitimidade
extraordinária.
Nesses casos, defende a doutrina, e com razão, que justamente por ser o cidadão -
eleitor colegitimado à tutela do mesmo direito via ação popular, possa ele intervir na ação
coletiva na qualidade de assistente litisconsorcial.
Em ambos os casos, afasta-se a incidência do art. 50 do CC, que adota a teoria maior,
para a aplicação da chamada teoria menor, já que a desconsideração da personalidade jurídica,
nesses casos, dar-se-á independente da comprovação de culpa, abuso ou fraudes, os quais se
presumem.
Isso porque, no caso da defesa dos interesses dos consumidores, busca-se a proteção
daqueles que se encontram em situação de nítida hipossuficiência. Na mesma medida, em se
tratando de danos ambientais, justifica-se o atingimento direto e ilimitado dos bens dos
sócios infratores em razão de sua atuação nociva ao meio ambiente e à coletividade.
Desta feita, sob a perspectiva do direito material, nunca houve óbice legal para a
aplicação plena do referido instituto no âmbito do processo coletivo, mesmo porque, em nome
do princípio da integratividade do microssistema coletivo, aplicar-se-á a todas as ações
coletivas as disposições do CDC e, principalmente, da Lei n. 9.605/98.
Todavia, o NCPC veio resolver algumas polêmicas procedimentais ao estabelecer,
por exemplo, a instauração do incidente da personalidade jurídica nas fases do processo de
conhecimento, incluindo a fase do cumprimento de sentença, ou na execução fundada em
título extrajudicial, em suspensão de tais processos (salvo se requerida a desconsideração já
na petição inicial - §2º do art. 134, NCPC), afastando a velha polêmica acerca da necessidade
do seu reconhecimento em ação autônoma.
Talvez o único ponto controverso, quanto à aplicação do incidente, estaria nas
causas que tenham por objeto relação de consumo, uma vez, por um lado, o artigo 133 do
NCPC impede a decretação de ofício da desconsideração da personalidade jurídica e, por
outro, a locução “o juiz poderá”, definida no artigo 28 do CDC, parece militar em favor da
possibilidade da decretação de ofício, especialmente porque o CDC se reveste de caráter de
norma de ordem pública.
No entanto, considerando que o propósito da norma processual é o de assegurar o
direito ao contraditório e à ampla defesa de quem possa vir a responder com seu patrimônio
pelas obrigações contraídas por outrem, desde que tais garantias sejam plenamente
observadas, seria sim possível a instauração do referido incidente em caráter oficial.
Outra excelente diferença, trazida pelo saudoso e brilhante Agnelo Amorim Filho (in
“Critério cientifico para distinguir a prescrição da decadência e para identificar as ações imprescritíveis”), é a
que identifica:
- os prazos prescricionais às ações condenatórias: uma vez o titular do direito subjetivo
violado necessariamente vai buscar a sua reparação por meio de pretensões de nat ureza
condenatória.
- os prazos decadenciais estão ligados às ações constitutivas/desconstitutivas: pois, se a
decadência é a perda do direito potestativo, aquele insuscetível de ser violado, então seu
titular visa sua constituição ou desconstituição, e não sua reparação.
Conclui facilmente o referido autor que se o objetivo do titular do direito é
meramente declaração da sua existência ou inexistência (e normalmente este se relaciona a
direitos fundamentais, de natureza não patrimonial), o qual pressupõe uma perenidade
(declara-se algo que sempre existiu ou que nunca existiu), então as ações declaratórias não se
submetem nem a prazos prescricionais, tampouco decadenciais, sendo consideradas ações
perpétuas.
7.1.2 A Prescrição e a Decadência no Processo Coletivo
Como a Lei da Ação Civil Pública não prevê nenhum prazo prescricional, o tema da
prescrição e decadência dos direitos coletivos lato sensu é bastante controvertido, de molde
que há posições divergentes sobre a questão, a saber:
- 1ª corrente (minoritária): entende que a ação civil pública é imprescritível (está no rol de ações
perpétuas), pois ela nunca tem interesse patrimonial.
- 2ª corrente (adotada pelo STJ): entende que, como não há previsão legal, a integratividade
do microssistema impõe a aplicação de 5 anos (da Lei da Ação Popular), salvo quando se
discute patrimônio público (art. 37, §5º, CF; REsp 1.107.833/SP) e meio ambiente (REsp
1.120.117/SC), a qual a respectiva ação é imprescritível.
- 3ª corrente (majoritária na doutrina): entende que a prescrição da ação civil pública é
definida pela pretensão de direito material discutida, ou seja, a incidência da prescrição
dependeria da aferição da indisponibilidade do interesse material judicialmente deduzido.
Assim, salvo regra legal expressa em sentido contrário 5, as ações que tratem sobre a
proteção a direitos difusos e coletivos stricto sensu (naturalmente coletivos) devem ser
consideradas ações perpétuas, ou seja, não submetidas a prazos prescricionais ou
decadenciais.
Isso porque, como se sabe, os direitos essencialmente coletivos são indivisíveis e
impassíveis de serem apropriados por um indivíduo, já que seu titular é uma coletividade, não
tendo como se defender e exigir em juízo, por si mesma, seus direitos, razão pela qual a lei
instituiu um rol de legitimados extraordinários que o farão em seu lugar.
Na seara dos direitos individuais homogêneos o que se tem, por outro lado, são
direitos perfeitamente divisíveis e passíveis de serem defendidos em juízo por seus titulares
individuais. Tais direitos são apenas processualmente coletivos, na medida em que o
legislador, em homenagem à celeridade, economia processual e acesso à justiça, entendeu por
bem permitir a sua defesa em juízo de maneira coletiva.
Em assim sendo, não há dúvida que aos direitos individuais homogêneos aplicam-se
todos os prazos de prescrição e decadência normalmente aplicáveis ao direito
individualmente considerado. Nesses termos, se uma pretensão individual submete-se a prazo
prescricional de 5 anos, a esse mesmo prazo se submeterá a eventual ação coletiva para a
tutela coletiva dos direitos individuais homogêneos. Essa é a opinião que prevalece em
doutrina.
Todavia, ainda dentro do tema, surge uma interessante questão que merece análise: a
propositura da ação coletiva interrompe o prazo para o ajuizamento das ações individuais?
A resposta é sim, pois o contrário acabaria por forçar os legitimados individuais a
propor suas ações apenas com o fito de se evitarem a prescrição, e isso vai de encontro com o
principal objetivo da tutela coletiva, qual seja, evitar a proliferação de demandas
essencialmente idênticas. Por outro lado, de acordo com a Súmula 150 do STF, a execução
individual da sentença coletiva prescreve exatamente no mesmo prazo da ação individual.
Assim, sendo de três anos o prazo prescricional da ação, também de três anos será o prazo
para a execução da sentença coletiva proferida na ação para defesa de direitos individuais
homogêneos. Foi nesse sentido que decidiu o STJ, conforme Informativo n° 484, de 26 de
setembro a 7 de outubro de 2011.
Uma última observação que merece destaque é que o que prescreve (ou decai) é o
direito à via coletiva, e não o direito material, sendo plenamente possível ao indivíduo pleiteá-
lo por ação individual. É o que ocorre, por exemplo, no mandado de segurança coletivo.
Essa regra foi repetida no artigo 22, §2°, da lei 12.016/09 (“nova” lei do mandado de
segurança):
Art. 22. (...)
Art. 87. Nas ações coletivas de que trata este Código não haverá adiantamento
de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de
advogado, custas e despesas processuais.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os
diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente
condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo
da responsabilidade por perdas e danos.
1ª) os honorários devem ser arbitrados pelo juiz e destinados à pessoa jurídica de direito
público a que se encontram vinculados o órgão do Ministério Público ou da Defensoria;
2ª) os honorários devem ser arbitrados e recolhidos como recursos orçamentários do próprio
Ministério Público ou Defensoria;
3ª) os honorários devem ser arbitrados e recolhidos ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos,
criado pelo artigo 13 de Lei de Ação Civil Pública;
4ª) não deve haver condenação em honorários advocatícios quando atuarem o Ministério
Público e a Defensoria Pública.
Parece que a melhor opção é a 2ª, qual seja, aquela que defende o arbitramento dos
honorários advocatícios, com a reversão em benefício do próprio órgão do Ministério Público
ou da Defensoria, a fim de contribuir com seu melhor aparelhamento. Quanto à Defensoria,
aliás, há regra expressa nesse sentido (o art. 4°, XXI, da Lei Complementar 80/94):
b) Posição restritiva: cabe ao Ministério Público adiantar o valor dos honorários periciais,
incidindo na hipótese a Súmula 232/STJ, pela qual é dever da Fazenda Pública antecipar tais
pagamentos (Cfr. STJ - REsp 864.314/SP);
c.1) transferir tal ônus ao réu da ação coletiva, lançando mão o juiz, inclusive, da regra de
distribuição dinâmica do ônus da prova, que tem aplicação reconhecid a na seara do processo
coletivo;
c.2) possibilidade do custeio da prova pericial ser realizado, excepcionalmente, pelo autor
coletivo (MP, Defensoria etc) com a utilização de verbas do Fundo de defesa dos direitos
difusos, criado pelo artigo 13 da Lei de Ação Civil Pública. Entretanto, a utilização dos
recursos dos Fundos depende de regulamentação normativa, a fim de que evitar que deixem
de cumprir o seu escopo precípuo de reconstituição dos bens lesados, passando a servir de
forma oblíqua de custeio da prova pericial. Em tese, não haverá prejuízo aos Fundos, quando
os recursos são antecipados e, depois da sentença, retornam à origem;
c.3) a possibilidade de celebração de convênios entre o Ministério Púbicos e instituições
públicas ou privadas. Tal solução, todavia, passa pela credibilidade das instituições
conveniadas e, embora útil até para aproximar o Ministério Público da sociedade civil
organizada, não é a ideal, pois podem envolver outros interesses, nem sempre muito claros,
que não além da verdadeira apuração das lesões aos interesses transinviduais ou individuais
homogêneos;
c.4) a perícia deve ser custeada pela Fazenda Pública, seja como seus próprios órgãos, seja
com o seu custo, uma vez que o Ministério Público é órgão do Estado e, nas ações coletivas,
são defendidos interesses sociais e individuais indisponíveis. Assim, o entendimento
consagrado na Súmula 232/STJ incidiria não somente quando a Fazenda Pública fosse parte
no processo, mas também quando o Ministério Público fosse autor da ação civil pública. Tal
solução tem o inconveniente de esbarrar no argumento da ausência de recursos públicos
disponíveis, da necessidade de alteração legislativa ou da inclusão de verbas no próximo
orçamento;
c.5) o não adiantamento de honorários quando o perito aceita receber somente ao final. Esta
solução é possível, mas depende do consentimento do perito e, geralmente, envolve as perícias
de menor complexidade, as quais não dependem de gastos financeiros;
c.6) para evitar que o Ministério Público tenha que arcar com a antecipação dos honorários
periciais, podem ser elaborados pareceres técnicos por profissionais (v.g., médicos,
engenheiros, contadores etc.) que sejam servidores do Ministério Público. Todavia, tal
solução demandaria a maior profissionalização dos Ministérios Públicos, com a previsão de
recursos orçamentários compatíveis com a contratação de outros profissionais.
Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação
está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente, caberá apelação,
com efeito suspensivo.
Como se viu, há regra expressa sobre reexame necessário na ação popular, a saber, o
já citado art. 19 da LAP.
Tal regra, apesar de algumas manifestações em contrário, deve ser aplicada a toda
ação coletiva, já que a premissa assumida pela doutrina é a de que estamos a estudar um
microssistema, cujas normas têm aplicação interpenetrante.
Mas a grande questão é saber se tanto a hipótese do art. 19 (improcedência e
extinção por carência da ação, independente de envolver o Poder Público), como as genéricas
do art. 496 do NCPC (decisão desfavorável ao Poder Público), tem aplicação no processo
coletivo. Tem prevalecido o entendimento no sentido de que sim, pois que são compatíveis os
dois regimes.
Sabe-se que em algum momento é preciso dar cabo da busca pela decisão ideal e
conformar-se com a decisão possível, tudo em homenagem à segurança jurídica e à pacificação
das relações litigiosas.
A cessação dessa busca pela justiça e a assunção do valor segurança dá-se por meio do
que chamamos de “coisa julgada”, que, de acordo com a doutrina majoritária, liebmaniana,
consiste na qualidade de imutabilidade ou indiscutibilidade da decisão (e não em seu efeito, já
que este só poderá ser declaratório, constitutivo ou condenatório, quiçá mandamental e
executivo lato sensu), não mais sujeita a recurso.
Dessa forma, a coisa julgada se forma é no exato momento em que contra a decisão
não mais é possível o manejo de qualquer recurso, seja porque a parte irresignada os manejou
todos e esgotou os meios impugnativos, seja porque deixou transcorrer in albis o prazo de que
dispunha para oferecer o recurso cabível.
Todavia, para melhor ser compreendido tal tema no processo coletivo, é preciso ainda
fazer um paralelo com o processo individual, especialmente no que tange aos seus limites, que
neste podem ser:
✓ limites objetivos: a coisa julgada limita-se ao DISPOSITIVO da sentença (arts. 503 e 504,
NCPC).
✓ limites subjetivos: a coisa julgada produz efeitos INTRA PARTES (art. 506, NCPC).
✓ modo de produção: a coisa julgada se produz a favor ou contra, ou seja, se forma
independentemente do resultado do processo (ou seja, não é secundum eventum litis ou
probationis).
8.2 Limites subjetivos e modos de produção da coisa julgada nas ações coletivas
CDC, Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese
em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento val e ndo -
se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81 (ou seja, se tratar de
INTERESSES DIFUSOS);
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no
inciso II do parágrafo único do art. 81 (ou seja, se tratar de INTERESSES COLETIVOS EM
SENTIDO ESTRITO);
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus
sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81 (ou seja, se tratar de
INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS).
Vale destacar que, por força do 3º do art. 103 do CDC, independentemente do interesse
transindividual que fora julgado (difuso, coletivo em sentido estrito ou individual
homogêneo), ao indivíduo é sempre possível promover a sua ação individual, já que a coisa
julgada coletiva nunca lhe prejudica, só o beneficia6.
Lembremos: o indivíduo não pode ser impedido de promover suas próprias pretensões
uma vez que nunca foi consultado pelo legitimado extraordinário sobre o seu interesse pela
demanda coletiva. Aliás, caso venha a ter tal ciência (pela ampla divulgação), a lei lhe garante
inclusive o direito de nela não permanecer (right to opt out).
Dentro deste contexto, inclui a possiblidade, em caso de procedência da ação coletiva,
do transporte ou da extensão da coisa julgada coletiva para o plano individual, de modo que o
indivíduo legitimado possa passar diretamente à fase de liquidação e execução do crédito, sem
a necessidade de rediscutir o dever de indenizar. É a regra do transporte in utilibus.
Em outras palavras, por tal mecanismo, a sentença de procedência de uma ação
coletiva em defesa de direitos difusos ou coletivos stricto sensu pode ser aproveitada pelos
indivíduos, que promoverão a respectiva liquidação e execução de danos.
ATENÇÃO: É bom que se diga que o transporte in utilibus não se confunde com a
eficácia erga omnes das ações coletivas para defesa de direitos individuais homogêneos, prevista
no inciso III do artigo 103 do CDC.
6 Só há uma hipótese em que a coisa julgada coletiva prejudica o indivíduo, impedindo-o de promover sua ação
individual: quando ele intervém como assistente litisconsorcial na situação excepcional do art. 94 do CDC. Isso
porque, neste caso, por ingressar como parte no processo coletivo ficará sujeito aos efeitos da coisa julgada
nele formada.
Neste último caso, a condenação é expressa a favor dos indivíduos, atingindo e
beneficiando a todos eles; naquele (transporte in utilibus), como a sentença dirige-se a um
número indeterminado e indeterminável de pessoas e não ao indivíduo, então este é atingido
por via reflexa, razão pela qual poderá transportar o efeito da procedência para dele se
beneficiar, passando direto para à fase de liquidação e execução do seu crédito.
8.4 Incidência da coisa julgada coletiva sobre quem já tem ação individual em curso
De acordo com o art. 104 do CDC, para o autor da ação individual já proposta
aproveitar o transporte in utilibus da coisa julgada coletiva, deverá requerer a suspensão da sua
ação individual em 30 dias, a contar da data em que o autor é avisado, nos autos da ação
individual, de que há uma ação coletiva.
Art. 104 do CDC - As ações coletivas, previstas nos incisos I [difusos] e II [coletivos] e do
parágrafo único do art. 81, não induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da
coisa julgada erga omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II [coletivos] e III
[individuais homogêneos] do artigo anterior não beneficiarão os autores das ações
individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência
nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
Dessa forma, conclui-se que, caso o indivíduo não peça a suspensão de sua ação
individual, não será ele beneficiado pela coisa julgada coletiva. Isso significa dizer que a coisa
julgada individual prevalece sobre a coisa julgada coletiva.
Mas a grande questão se coloca é saber se tal suspensão da ação individual é faculdade
da parte ou o juiz pode determinar de ofício?
Em interpretação literal do art. 104 do CDC, trata-se de uma faculdade da parte, já que
a lei fala expressamente que a suspensão será “requerida”.
Todavia, em julgamento de REsp repetitivo em 2009 (Resp 1.110.549/RS), cujo
resultado é vinculante em relação aos demais recursos represados na orig em e aos
futuramente interponíveis, o STJ entendeu que, “ajuizada a ação coletiva atinente à macrolide
geradora de processos multitudinários (ações repetitidas), suspendem-se obrigatoriamente
as ações individuais, no aguardo da ação coletiva...”. Portanto, abriu-se um precedente
obrigatório para que se admita a suspensão de ofício da ação individual anteriormente
proposta à ação coletiva.
8.5 Incidência da coisa julgada coletiva sobre quem já tem coisa julgada individual
8.6 Extensão territorial da coisa julgada coletiva – art. 16 da Lei 7347/85 e art. 2º-A da Lei
9494/97
Por sua vez, a depender de qual pretensão está sendo executada (se individual ou
coletiva), a sentença coletiva que discute direitos difusos e coletivos pode dar ensejo a 2
modelos diferentes:
a) Liquidação/execução da pretensão coletiva => segue o padrão da liquidação/execução da
sentença individual.
b) Liquidação/execução da pretensão individual (pelo transporte in utilibus) => segue o mesmo
modelo de liquidação de sentença genérica envolvendo direitos individuais homogêneos.
Aplica-se, aqui, tudo aqui que foi dito no modelo da pretensão individual dos direitos
difusos e coletivos pelo transporte in utilibus (os legitimados e os destinatários são as vítimas e
sucessores, que procedem à liquidação imprópria, tudo como já exposto acima).
9.3.2 Liquidação/execução da pretensão individual pelo ente coletivo
7 Esse período de um ano dobra (passando a ser dois anos) se a ACP objetivar interesses de investidores
lesados no mercado de valores mobiliários (Lei 7.913/89).
8 No que diz respeito à sua finalidade, o objetivo inicial do fundo criado na LACP consistia em gerir recursos
para a reconstituição dos bens lesados. Gradativamente, por força de alterações legislativas, sua destinação
veio sendo ampliada: hoje, pode ser usado para a recuperação de bens, promoção de eventos educativos e
científicos, edição de material informativo relacionado com a lesão, bem como modernização administrativa
dos órgãos públicos responsáveis pela execução da política relacionada com a defesa do interesse envolvido
Alguns autores sustentam que, uma vez indenizado o fundo, prescreveriam as
pretensões das vítimas, de modo que, após isso, não poderia haver novas execuções. Mas esta
questão é polêmica.
Segundo Mazzilli, não se habilitando a tempo, só por ação direta individual poderão
os lesados discutir seus prejuízos.