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Material de Apoio 1
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até então, fez com que novas técnicas de fundações fossem desenvolvidas, motivadas
principalmente pelos inúmeros problemas verificados, uma vez que os terrenos, que agora
recebiam estas construções mais pesadas, exemplificadas na Figura 1.1, não apresentavam
resistência suficiente, tendo sido verificado vários casos de insucessos.
Em geral, obras como castelos, palácios, templos, dentre outras, eram assentes sobre
fundações arrumadas com restos de outras estruturas ou paredes, misturadas ao solo e
convenientemente compactadas. Assim as construções eram sucessivamente colocadas umas
sobre as outras, resultando num escalonamento de acordo com as suas idades. Data desta
época também, aproximadamente século XVII A.C., o primeiro código de construção
conhecido, o código de Hamurabi, rei da Babilônia, no qual eram previstas duras penalidades
para os construtores cujas obras fracassassem.
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Figura 1.3 – Santuário de Afaya
Ao contrário dos gregos, que pouco escreveram sobre suas construções, o legado
romano em termos de técnicas construtivas pode ser verificado na obra do engenheiro militar
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e arquiteto Marco Vitrúvio Pollio (Séc. I a.C.). A obra de Vitrúvio contém uma série de
considerações interessantes a respeito das fundações das construções romanas, como por
exemplo, dimensões, profundidades de assentamento, distribuição das cargas transmitidas ao
solo e sobre as características de resistência do mesmo. Vitrúvio foi o precursor da técnica de
compactação de terrenos fracos pela cravação de estacas e da utilização de ensecadeiras para a
execução de fundações subaquáticas, além de reconhecer, assim com Plínio (Séc. I a.C.), a
existência de atrito nas areias, principalmente naquelas de grãos angulosos.
Na Idade Média pouco se avançou em relação às técnicas desenvolvidas na Idade
Clássica. Entretanto, podem-se observar alguns avanços, como a execução de fundações
subaquáticas favorecidas pelo bombeamento das ensecadeiras, a invenção do bate-estaca,
bastante próximo dos bate-estacas modernos, em 1450 por Francesco Di Giorgio, etc.
Na Idade Moderna, o Renascimento trouxe também grande desenvolvimento
científico, principalmente devido aos trabalhos de Leonardo da Vinci e Galileu, dentre outros.
Da Vinci muito contribuiu para a arquitetura e construção com projetos de bate-estacas,
ensecadeiras, etc. Philibert l’Orme (1561) escreveu o livro sobre técnicas construtivas mais
conhecido dessa época no qual já se tratava de técnicas fundações fluviais e marítimas.
A partir do século XVIII d.C., a experiência acumulada até então por meio da
execução de diversas obras começou a ser teorizada, simbolizando o que seria os primórdios
da Mecânica dos Solos (fase pré-clássica). Vários foram os trabalhos sobre aterros arrimados
(Gautier, 1717), pressões transmitidas por maciços de solos (Bélidor, 1729), superfícies de
deslizamento em taludes (Gadroy, 1746), efeito da água sobre a estabilidade de taludes
naturais e de aterros (Perronet, 1769), dentre outros.
O período clássico da Mecânica dos Solos, segundo Das (2005), se inicia em 1776
com Charles Augustin Coulomb. Coulomb utilizou os princípios de Máximos e Mínimos de
funções reais, vistos nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, para determinar a
verdadeira posição da superfície de deslizamento dos maciços de solo para o cálculo de muros
de arrimo. Nesta análise Coulomb empregou leis de atrito e coesão aplicáveis a corpos
sólidos, o que no futuro daria origem a uma das clássicas equações da Mecânica dos Solos, a
equação de Mohr-Coulomb, que expressa a resistência ao cisalhamento dos solos (τ) em
função da coesão (c), das pressões normais (σ) e do ângulo de atrito (tan φ). As equações
desenvolvidas por Coulomb para cálculo dos empuxos de terra sobre muros de arrimo são
aplicadas até os dias atuais para o cálculo dos empuxos de terra atuantes em muros de arrimo.
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(1846) realizou trabalhos sobre a superfície de deslizamento de taludes naturais coesivos, e
sobre a estabilidade de escavações e aterros. William John Macquorn Rankine (1845)
desenvolveu trabalhos a respeito do estado de tensão dos solos (ativo, passivo e de repouso),
contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento de teorias empregadas no cálculo
dos empuxos de terra e da capacidade de cargas de fundações. Henri Philibert Gaspard Darcy
(1856) estudou a percolação d’água nas areias e definiu a permeabilidade destas através de
seu coeficiente k, sendo este coeficiente um dos parâmetros mais utilizados atualmente na
engenharia geotécnica.
O período compreendido entre 1910 e 1927 caracterizou-se pela publicação dos
resultados de várias pesquisas realizadas sobre o comportamento dos solos argilosos, nas
quais foram estabelecidas as suas propriedades e parâmetros fundamentais. Segundo Das
(2005), as principais contribuições foram:
• Atterberg (1911): estudos sobre a consistência das argilas;
• Frontard (1914): ensaios de cisalhamento em argilas sob condições de carregamento
vertical;
• Bell (1915): pressões horizontais, capacidade de carga, ensaios de caixa de
cisalhamento para determinação da resistência ao cisalhamento não drenada em
amostras indeformadas de argilas;
• Fellenius: estudos sobre estabilidade de taludes de argila saturados;
• Karl Terzaghi: estudos sobre consolidação das argilas.
Foi pelo esforço de Terzaghi que diversos trabalhos foram publicados na primeira
conferência do ISSMFE cobrindo uma grande variedade de tópicos, tais como resistência ao
cisalhamento, princípio das tensões efetivas, ensaios de campo, ensaios de cone Alemão,
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consolidação e recalques, distribuições de tensões elásticas, técnicas de melhoria de solos,
ação do gelo, expansibilidade de argilas, efeito de arco nos solos, empuxos de terra, etc. Isto
mostra todo o esforço de Karl Terzaghi em consolidar todas as teorias apresentadas fundando
assim uma nova área na Engenharia, a Mecânica dos Solos, cujo principal marco foi a
publicação do livro “Theoretical Soil Mechanics” em 1943.
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Munarski, do Rio Grande do Sul; Pelópidas Silveira, de Pernambuco; Hernani Sávio Sobral,
da Bahia e Samuel Chamecki, do Paraná, os quais montaram e puseram em operação a seção
de solos nos respectivos Estados.
As principais atividades desenvolvidas no IPT visavam atingir dois campos de atuação
bem específicos, o de construção de estradas e o estudo das fundações de pontes e edifícios.
Na área de estradas, o desafio era desenvolver métodos de dimensionamento de pavimentos
baseados nas teorias da Mecânica dos Solos. Na área das fundações de edifícios, o desafio
inicial era desenvolver métodos de prospecção de subsolo, ou seja, projetar e construir
equipamentos de sondagem, e treinar mão-de-obra para a realização das sondagens. Isto foi
feito durante o ano de 1939 nas sondagens para estudos de fundações de pontes rodoviárias do
DER de São Paulo.
Em 1944, foi fundada a Geotécnica S/A, a primeira firma especializada em estudos e
projetos de solos e fundações no Brasil. Em 1948, chega ao Brasil a publicação de Terzaghi e
Peck, o “Soil Mechanics in Engineering Practice”, onde é apresentado um novo método de
prospecção geotécnica conhecido com SPT (Standard Penetration Test), e com ele um novo
parâmetro, o NSPT, largamente utilizado até os dias atuais como ferramenta de prospecção
geotécnica.
A partir deste momento foi crescente o desenvolvimento da engenharia geotécnica no
Brasil, com contribuições de autores de diversas partes do país, na área de melhoria dos solos,
desenvolvimento de novos métodos de dimensionamento e de novas técnicas construtivas
para fundações, barragens, obras de contenção, etc, como também de novas técnicas e
equipamentos para investigação geotécnica, seja de campo ou laboratório, etc. Ainda assim,
são inúmeras as incertezas existentes em vários métodos de dimensionamento e de avaliação
de desempenho de obras geotécnicas, sendo, portanto, necessária a busca contínua de
melhores metodologias de projeto e de técnicas construtivas mais eficientes.
Fundações profundas são aquelas em que a carga é transmitida ao terreno pela sua
base (resistência de ponta), por sua superfície lateral (resistência lateral) ou por uma
combinação destas, estando assente a uma profundidade igual ao dobro da sua menor
dimensão em planta, ou de no mínimo a 3 metros. Enquadram-se nesta definição:
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• Tubulões: elemento de fundação em que a carga é transmitida pela base (resistência
de ponta) que em qualquer fase de sua execução haja descida de operário;
• Estacas: elementos de fundação executada inteiramente por ferramentas ou
equipamentos, não ocorrendo descida de operário em qualquer de suas fases de
execução;
• Caixões: elemento de fundação de forma prismática concretado na superfície e
inserido no terreno por meio de escavação interna.
Apesar dos critérios empregados na escolha dos diferentes tipos de fundações e obras
de contenção serem apresentados detalhadamente nos capítulos seguintes, as informações
apresentadas na Tabela 1.1 permitem se ter uma visão geral de quando e onde um particular
tipo de fundação e obra de contenção pode ser empregado.
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Tabela 1.1 – Usos típicos para fundações e obras de contenção (Bowles, 1988)
Tipo Uso Características do solo
Fundações Superficiais
Sapatas isoladas, sapatas corridas, sapatas isolatas Colunas individuais, grupos de colunas e paredes Qualquer tipo de solo com capacidade de suporte
e vigas de fundação adequada ao carregamento aplicado. Pode-se
empregar sobre uma camada rígida sobreposta a
uma camada mole, e vice-versa, sendo em
qualquer caso necessário fazer-se a verificação dos
recalques
Radiês Várias linhas de colunas paralelas, elevadas cargas Solos com baixa capacidade de suporte e
nas colunas, etc. Empregadas para reduzir susceptíveis a elevados recalques diferenciais.
recalques diferenciais.
Fundações Profundas
Estacas Em situações diversas, colunas, grupos de colunas, Quando as camadas superficiais do subsolo
etc. apresentam baixa capacidade de suporte, ou
quando se deseja apoiar a estrutura em camadas
mais rígidas, e, portanto, menos deformáveis, que
se encontram a elevadas profundidades
Tubulões Cargas elevadas Mesmas considerações expostas para as fundações
em estacas
Obras de contenção
Muros de arrimo e gabiões Estabilização de aterros, escavações de médio a Qualquer tipo de solo, devendo-se apenas fazer as
pequeno porte. Obras permanentes. verificações quanto à capacidade de carga do solo
de fundação.
Estacas-prancha Estabilização de cortes. Obras temporárias ou Qualquer tipo de solo, apresentando limitações
permanentes, de rápida execução. com relação à altura da escavação que pode fazer
com que a ficha seja extremamente elevada
Cortinas atirantadas Estabilização de grandes cortes ou aterros. Qualquer tipo de solo, exceto, solos orgânicos
Aplicáveis a condições em que deve ser
minimizado a movimentação do maciço a ser
contido.
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