TCC Oficial Ayrllione Barbosa Silva

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FACULDADE EVANGÉLICA DE SALVADOR

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

AYRLLIONE BARBOSA SILVA

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE CONTRIBUEM PARA A PREVENÇÃO DO


BULLYING NA ESCOLA

Igarapé do Meio- MA
2022
AYRLLIONE BARBOSA SILVA

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE CONTRIBUEM PARA A PREVENÇÃO DO


BULLYING NA ESCOLA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade Evangélica de
Salvador, como requisito avaliativo para
obtenção do título de Graduado na
Primeira Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Prof. Esp. Maria Ivanilde da


Silva Lima

Igarapé do Meio-MA
2022
AYRLLIONE BARBOSA SILVA

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS QUE CONTRIBUEM PARA A PREVENÇÃO DO


BULLYING NA ESCOLA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade Evangélica de
Salvador, como requisito avaliativo para
obtenção do título de Graduado na
Primeira Licenciatura em Pedagogia.

Orientadora: Prof. Esp. Maria Ivanilde da


Silva Lima

Data de aprovação: ____ / ___ /_____.

BANCA DE APRESENTAÇÃO

_______________________________________________
Orientadora: Prof. Esp. Maria Ivanilde da Silva Lima

_______________________________________________
Professor Avaliador 1

___________________________________________________
Professor Avaliador 2

Igarapé do Meio- MA
2022
SILVA, Ayrllione Barbosa. Práticas pedagógicas que contribuem para a
prevenção do bullying na escola. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Pedagogia) – Faculdade Evangélica de Salvador- FACESA, Igarapé do Meio,
2022.

RESUMO

Buscou-se com essa pesquisa discorrer sobre as práticas pedagógicas que


contribuem para a prevenção do bullying na escola, configurando-se também
como objetivo central da mesma, partindo do ponto de que o bullying é problema
mundial, que leva às várias consequências futuras influenciando na formação do
cidadão, normalmente são três os envolvidos, o agressor, a vítima, e o
espectador e a escola e a família ainda não puderam compreender a proporção
desse grande problema que vem sendo gerado. As causas desse tipo de
comportamento abusivo são inúmeras e variadas. Deve-se à carência afetiva, à
ausência de limites e ao modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais
sobre os filhos, por meio de "práticas educativas" que incluem maus tratos físicos
e explosões emocionais violentas. A metodologia utilizada para desenvolver
esse trabalho foi a pesquisa bibliográfica, onde aportou-se em autores
renomados como: Abramovay (2005); Chalita (2008); Charlot (2000); Fante
(2005); Peralva (1997); Priotto (2008) dentre outros. Acredita-se que um possível
caminho para prevenir e intervir a prática do bullying é trabalhar a partir de um
projeto pedagógico coletivo tendo como princípio a cultura da paz, onde todos
os envolvidos na educação sejam capazes de entender e compartilhar
informações para que a prática do bullying seja combatida de maneira eficaz.
Espera-se, então, que este trabalho venha incentivar aos demais profissionais
da educação a conhecerem e identificar melhor o fenômeno bullying, adotando
então uma postura de esclarecimento e conscientização, para os alunos, família
e comunidade, em busca da qualidade de vida e do bem estar social de todos
os indivíduos.

Palavras-chave: Bullying; Causas e efeitos; Práticas pedagógicas.


SILVA, Ayrllione Barbosa. Práticas pedagógicas que contribuem para a
prevenção do bullying na escola. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Pedagogia) – Faculdade Evangélica de Salvador- FACESA, Igarapé do Meio,
2022.

ABSTRACT

The aim of this research was to discuss the pedagogical practices that contribute
to the prevention of bullying at school, also constituting its central objective,
starting from the point that bullying is a worldwide problem, which leads to several
future consequences influencing the formation of the citizen, normally there are
three involved, the aggressor, the victim, and the spectator and the school and
the family have not yet been able to understand the proportion of this great
problem that has been generated. The causes of this type of abusive behavior
are numerous and varied. It is due to the lack of affection, the absence of limits
and the way in which parents assert power and authority over their children,
through "educational practices" that include physical abuse and violent emotional
outbursts. The methodology used to develop this work was the bibliographic
research, where it was based on renowned authors such as: Abramovay (2005);
Chalita (2008); Charlotte (2000); Fan (2005); Peralva (1997); Priotto (2008)
among others. It is believed that a possible way to prevent and intervene in the
practice of bullying is to work from a collective pedagogical project having as a
principle the culture of peace, where everyone involved in education is able to
understand and share information so that the practice of bullying bullying is
effectively tackled. It is hoped, then, that this work will encourage other education
professionals to know and better identify the bullying phenomenon, adopting an
attitude of clarification and awareness, for students, family and community, in
search of quality of life and social well-being of all individuals.

Keywords: Bullying; Causes and effects; Pedagogical practices.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
2 A VIOLÊNCIA HUMANA AO LONGO DOS TEMPOS ................................. 10
3 A VIOLÊNCIA NA ESCOLA ......................................................................... 16
3.1 Breve histórico do fenômeno da violência no contexto educacional
brasileiro ........................................................................................................ 18
3.2 A violência na escola enquanto fenômeno social ................................. 26
3.3 Manifestações da violência no contexto escolar .................................. 30
4 O BULLYING..................................................................................................37
4.1 Manifestações do bullying........................................................................40
4.2 Causas e consequências do bullying no ambiente escolar..................41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................47
REFERÊNCIAS.............................................................................................49
7

1 INTRODUÇÃO

A escolha da temática, “Práticas pedagógicas que contribuem para a


prevenção do Bullying na escola”, foi motivada por meio de convivências reais,
estabelecidas no âmbito escolar, onde foi possível perceber um elevado grau de
atitudes envolvendo xingamentos, insultos, brincadeiras de mau gosto entre
outras em sala de aula.
Essa realidade nos chama atenção, visto que há uma concepção de
que a escola e a sala de aula representam os lugares ideais para o exercício da
tolerância, porém no momento atual se transformou em palco onde ocorrem
agressões verbais e físicas com maior frequência, e por trás da maioria dessas
atitudes indesejadas está a prática do bullying.
Todavia, apesar do bullying ser visto como algo ameaçador para a
convivência social, no contexto escolar pouco se tem feito para a intervenção e
prevenção desse fenômeno, visto que ainda predomina a ideia de que isso é
brincadeira, algo comum entre as pessoas, portanto não é motivo de
preocupação.
Com os avanços dos estudos sobre bullying, sua prática passou a
representar a intolerância pela diferença, desrespeito ao próximo e que tem
efeitos psicológicos e físicos extremamente traumáticos para quem o sofre,
portanto não deve ser banalizado.
Assim, em decorrência do agravamento da prática do bullying,
precisam-se adotar práticas pedagógicas que contribuam para a prevenção
deste. Todavia o que se observa no contexto escolar é que essas atitudes são
na maioria dos casos ignorados e quando reconhecidas como bullying, os
profissionais da escola não sabem o que fazer.
Para a maioria dos supervisores, diretores e até mesmo professores,
certas ofensas não passam de brincadeiras entre alunos, porém, o que muitos
desconhecem, é que essas atitudes sucedidas de forma contínua e repetitiva e
que estão presentes no dia a dia das escolas, sempre desencadeiam para o
problema que chamamos de bullying. Sendo assim, devido ele constituir uma
prática cada vez mais comum nas escolas e as iniciativas adotadas na sua
prevenção e intervenção serem poucas, busca-se, neste estudo, analisar as
8

possíveis práticas que possam contribuir para a prevenção do mesmo no


contexto escolar.
Quando nos perguntamos: o que se entende por violência?
Pensamos no quanto essa pergunta é aparentemente simples, encerra grande
complexidade e dificuldade. Não é fácil definir ou conceituar o que se entende
por violência. Em geral, se oscila entre dois extremos: a redução dos
comportamentos violentos, àqueles referidos à criminalidade ou à agressão
física de maior ou menor gravidade, e a ampliação da abrangência do conceito
de tal modo que toda manifestação de agressividade, conflito ou indisciplina é
considerada como violência.
A violência, nas suas mais diversas manifestações, vem tomando
proporções cada vez maiores em nossa sociedade. O seu surgimento na vida
escolar tem sido motivo de preocupação para os educadores, pais e alunos, pois
está muito frequente a incidência de atos de violência no ambiente escolar,
sendo a maioria destacada pela mídia.
O bullying está presente na maioria das salas de aula e casos de
agressões físicas e verbais ocorrem dentro destas, muitas vezes na presença do
professor. Mas porque essas agressões ocorreram na presença do professor?
O professor simplesmente não interferiu ou sua atitude perante a sala não bastou
para que os alunos entendessem que o respeito deve haver em todo e qualquer
ambiente, principalmente escolar.
O professor que critica constantemente o seu aluno, o compara com
outros, o ignora, está expondo esse aluno a ser mais uma das vítimas do bullying
e, de certa forma, está agindo com desrespeito ao espaço pedagógico.
Para o melhor desenvolvimento e entendimento desta monografia
trataremos o Bullying como toda ação repentina com a intenção de machucar o
outro ou também como um sinônimo para violência, dessa forma, estas palavras
serão continuamente reversadas neste trabalho.
O objetivo geral dessa pesquisa é discorrer sobre as práticas
pedagógicas que contribuem para a prevenção bullying na escola. E de forma
específica, ampliar o conhecimento acerca da natureza do social em que
manifestações de violência têm lugar; Ressaltar que as possíveis relações entre
manifestações de fenômeno de violência e processos de globalização jamais se
dão a perceber de forma imediata e direta, haja vista que só serão passíveis de
9

compreensão se aprendidos através de múltiplos mecanismos que se


estabelecem entre ambos os fenômenos ; Discorrer sobre as manifestações do
bullying , bem como suas causas e consequências no ambiente escolar.
A metodologia utilizada para desenvolver esse trabalho foi a pesquisa
bibliográfica, onde aportou-se em autores renomados como: Abramovay (2005);
Chalita (2008); Charlot (2000); Fante (2005); Peralva (1997); Priotto (2008)
dentre outros.
Esse trabalho encontra-se estruturado em cinco capítulos, sendo o
primeiro a parte introdutória dessa pesquisa. No segundo capítulo será falado
sobre a violência humana ao longo dos tempos. No terceiro capítulo será
apresentado um breve histórico do fenômeno da violência no contexto
educacional brasileiro. Em seguida será falado sobre a violência na escola
enquanto fenômeno social e as manifestações da violência no contexto escolar.
No quarto capítulo será falado sobre o bullying; as manifestações do bullying e
as causas e consequências do bullying no ambiente escolar. E por fim e não
menos importante as considerações finais e as referências.
10

2 A VIOLÊNCIA HUMANA AO LONGO DOS TEMPOS

Etimologicamente, o termo violência vem do latim, “violentia”, que


significa violência, caráter bravio. Tais significados estão constantemente
relacionados a uma forma de força ou potência, que agride e transgrede algo ou
alguém. Michaud (1989, p. 102) afirma que “a força se torna violenta quando
passa da medida ou perturba uma ordem”. Ancestrais, os hominídeos
sobreviveram na medida em que substituíram a utilização regular da força física
pela construção de artefatos de defesa e ataque. Tínhamos, aí, a manifestação
violenta como uma forma de sobrevivência do homem pré-histórico.
As definições da violência envolvem padrões sociais diversos,
implicando formas variadas de expressão. Cada sociedade está às voltas com
sua própria violência, com aquilo que ela pontua como violento, dependendo de
critérios de valores, leis, normas, religião, tradição, história e outros fatores.
Num outro ângulo, Debarbieux (2002, p. 33) aponta para a exclusão
social como um desafio aos governos da atualidade:
A violência representa um desafio à democracia: o desafio da guerra
contra a exclusão e a desigualdade social. Essa desigualdade não se
refere apenas aos “bairros sensíveis”, ela existe em escala planetária:
existe uma comunidade global de problemas, porque, se existe de fato
essa coisa chamada globalização, ela é a globalização da
desigualdade, que afeta os bairros de classes trabalhadoras tanto nos
países desenvolvidos quanto nos países em dificuldades. A
mobilização deve ser, portanto, em nível internacional.

As expressões violentas podem revelar uma inquietação diante da


degradação humana, expressando um reflexo do inconformismo ante injustiças
sociais. Talvez este problema possa ser amenizado, quando as pessoas
conseguirem organizar-se socialmente sem que haja tanta desigualdade e tanta
exclusão.
Por outro lado, o homem é um ser que sonha e aspira à realizações,
numa sociedade que oprime e reclama disciplina. Daí, ou ele rebela-se ou
integra-se às regras. A busca do equilíbrio interno, nestes altos e baixos de
desejos e abnegações é que compõe a organização e reorganização interior
humana e social. Portanto, neste sentido, a violência pode ser reflexo destes
conflitos internos e externos que enfrentamos no dia-a-dia, com os quais ainda
não aprendemos a lidar.
11

O bullying está se infiltrando no mundo inteiro, é um problema global.


Seus estudos, segundo Silva (2010, p. 89) tiveram início dos anos 70. Tudo
começou na Suécia, onde grande parte da sociedade demonstrou preocupação
com a violência entre estudantes e suas consequências no ambiente escolar.
Em pouco tempo, a mesma onda de interesses contagiou todos os demais
países escandinavos.
A violência permeia todas as nossas relações cotidianamente, mas
como disse Elias (1994, p. 194):
Com mais controle e menos exaltação. As nossas crianças, por
exemplo, embora nasçam numa sociedade mais civilizada, precisam
internalizar esses processos de socialização necessários para que os
indivíduos saibam como se comportar em sociedade. Isso não significa
que nossas crianças sejam violentas, mas apresentam, sem dúvida,
uma série de comportamentos incivilizados que podem ser vistos e
sentidos pelos adultos como violentos.

E isso obviamente acaba gerando uma ruptura entre as expectativas


alimentadas e a realidade encontrada. Mesmo os adultos, uma vez civilizados,
não estão imunes a rompantes de agressão. Como lembra Elias (1994, p.20), “a
vida dos seres humanos é repleta de contradições, tensões e explosões [...], a
vida dos seres humanos em comunidade certamente não é harmoniosa”. Fato
este, que coloca o processo civilizador sob constante ameaça.
O outro fator essencial para classificar um comportamento violento é
a questão cultural, pois há ainda situações ou comportamentos que para
determinadas culturas são a expressão máxima da violência e barbárie, e ferem
brutalmente a moral coletiva daquele povo e para outras culturas, a interpretação
de violência diante da mesma situação não se aplica. A luta pelo direito não é
apenas o fortalecimento da cidadania, mas a adoção de uma postura que
contribui para a proliferação de uma doença grave, que ataca a grande maioria
da população, que se chama hipocondrismo jurídico.
Um destaque nas pesquisas e investigações sobre o bullying,
segundo Chalita (2008, p. 125) e Fante (2005, 46), o pesquisador Dan Olweus,
professor da Universidade de Berger, na Noruega, onde desenvolveu uma
pesquisa em forma de questionário, com 25 questões. Estimulado pelos índices
e as respostas vindas aos primeiros questionários decidiu estender a sua
pesquisa, chegando a alunos, professores e pais, seu material coletado
desencadeou possíveis inquietações e conflitos despertados no ambiente
12

escolar.
Neste período os resultados de suas pesquisas não impactaram a
sociedade, apenas pequenos grupos de pessoas, só a partir de 1983, quando
aconteceu um caso alarmante: três meninos, com idades entre 10 e 14 anos,
cometeram suicídio, foi que a população deu credibilidade para os
questionamentos de Olweus, pois acreditava ser mais um caso de bullying.
Todavia, o medo que tomou conta da sociedade em geral, tornou-se a força para
desenvolver o seu estudo, pois para ele o bullying era um mal a combater.
Depois dos estudos de Olweus, até os dias atuais a sociedade
mostrou-se preocupada com as questões do bullying, porque as ideias
primordiais deram sentido aos fatos que foram acontecendo no mundo inteiro, a
partir de então a sociedade acordou, mobilizando-se para difundir o que é essa
violência e como devemos preveni-la.
Segundo Silva (2010, p. 88), no Brasil estas pesquisas e a atenção
dedicadas ao bullying chegam de forma lenta, em 2001, a Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência – ABRAPIA iniciou um
estudo, realizando uma pesquisa por meio de questionários distribuídos a alunos
de 5ª a 9ª ano do Ensino Fundamental de 11 escolas no estado do Rio de Janeiro
e seus resultados apresentaram dados significativos:
Dos 5.482 alunos participantes, 40,5% (2.217) admitiram ter tido algum
tipo de envolvimento direto na prática do bullying, seja ela com vítima
ou agressor. Houve um pequeno predomínio do sexo masculino
(50,5%) sobre o sexo feminino (49,5%) na participação ativa das
condutas do bullying. As agressões ocorrem principalmente na própria
sala de aula (60,2%), durante o recreio (16,1%) e no portão das escolas
(15,9%). Em torno de 50% dos alvos (vítimas) admitem que não
relataram o fato para o professor, tão pouco os pais. (SILVA, 2010,
p.113)

Na constatação desses dados, percebe-se a imensidão do problema


que assola a nossa sociedade, muitas vezes despercebido este fenômeno
penetra nas escolas e se torna vício para crianças e adolescentes. Se
pensarmos bem, talvez até já tivéssemos sofrido bullying e não sabíamos.
Quantas vezes foi ridicularizado ou perseguido por um colega na escola? Com
certeza, inúmeras, pois sensibilizar o ser humano da diversidade não é uma
tarefa fácil, e sim a ação mais difícil na prática social.
Dentro dessa malévola social, isto é, o bullying, há uma divisão
representativa de suas personagens: o agressor, também conhecido por bullies,
13

a vítima e a plateia. Os agressores, por sua vez são aquelas crianças que
abusam de privilégios e detêm o controle em suas mãos, ou aquelas crianças
que já foram interiorizadas pelas ações do bullying e tentam se “vingar”,
amedrontando outras crianças; as vítimas são os alvos dos agressores, crianças
aparentemente feias, com defeitos notórios, crianças tímidas e isoladas que não
têm uma boa socialização com o grupo e, por fim, a plateia que visualiza toda a
violência e muitas vezes silencia por não querer ser a próxima vítima, a ela detém
o poder de julgar se continua ou para, porque o agressor se manifesta para que
a plateia o aceite, tornando-se o centro das atenções, neste momento os
expectadores podem salvar uma vida se não concordarem com as atitudes do
agressor.
Partindo das pesquisas realizadas neste campo é muito importante
saber identificar cada elemento, prestar bastante atenção para não correr o risco
de rotular alguém, porque teve uma reação negativa num momento qualquer, só
lembrando que para uma violência ser considerada bullying, deve ser intencional
e de forma repetitiva ocorrendo no ambiente escolar.
Ao observar essas formas e características do bullying, remete-se
que, tais comportamentos refletem a imagem da família, por exemplo: quando
um pai demonstra seu lado “masculino” para o filho homem quando criança,
utiliza a força e a agressividade como forma de soberania, associando à ideia de
“homem” a “força”, mas o filho ainda não tem maturação suficiente e acaba
trazendo esse pensamento que o pai impregnou para a escola, principalmente
para a sala de aula. Assim acontece com aquele filho que o pai não dá atenção
devida, e a falta de carinho, de amor, deixam a criança indefesa.
A criança quando não tem relações afetivas dentro da família está
propícia a receber qualquer tipo de violência, seja ela física ou psicológica,
porque a falta de afeto desprotege a criança tornando-a fragilizada. Quando
chega à escola se sente reprimida por não desenvolver uma boa relação com a
família, por consequência, ou ela vai tornar-se uma vítima, ou por tanta retenção
tenta chamar atenção dos demais, com comportamentos conflituosos, tornando-
se um agressor, pois despeja todas as suas angústias no outro, através da
agressividade.
Na realidade, a escola é o palco onde as crianças mantêm a sua
socialização, mas os reflexos de comportamentos abusivos e o isolamento social
14

estão restritamente ligados à figura da família.


É indispensável que se estabeleça uma parceria entre a escola e a
família. Sobretudo, é preciso que pais e educadores tenham um olhar
atento, amoroso e sensível, que propicie atitudes afetivas no
acolhimento das angústias e dos medos. É fundamental que os adultos
não neguem os fatos, nem se coloquem à parte dos acontecimentos,
arriscando diagnósticos precipitados ou naturalizados tais
“brincadeiras de mau gosto”. (CHALITA, 2008, p.152)

A ideia de família hoje é muito fragmentada, as virtudes e os conceitos


familiares vão sendo quebrados todos os dias; pais separados; crianças sendo
abandonadas; filhos criados só pela mãe ou vice-versa; mães que precisam
trabalhar e não têm tempo para seus filhos; filhos que são criados por parentes
entre outros. Não que situações parecidas sejam a causa desses males, mas de
certa forma contribuem, porque muitas crianças ou adolescentes não têm mais
a visão do que é família, porque não têm a oportunidade de vivenciá-la, uma
família equilibrada, onde os pais acompanham os filhos da gestação à
independência, a falta desse alicerce familiar afeta diretamente no
comportamento dos filhos, vulnerando crianças e adolescentes a praticarem ou
serem vítimas de qualquer violência.
Quando se relatam os tipos de comportamentos agressivos e
abusivos de forma intencional e repetitiva, ou seja, o bullying, a família por um
lado, é a primeira a desprezar o assunto e achar que tudo não passa de um mal
entendido e acaba deixando o problema para que a sociedade e a escola o
resolvam. Por outro, a escola ainda não está totalmente preparada para
solucionar todos esses conflitos, porque este fenômeno vai se infiltrando de
maneira silenciosa e dolorosa entre as crianças. Outrora a escola o interpreta de
maneira incorreta, por isso é fundamental que todos desempenhem
verdadeiramente seus papéis, sendo que é indispensável à relação de escola e
família, na ausência desta, a resposta é mais violência e conflituosa.
A família tem o papel de educar os filhos com amor, sabedoria e
equilíbrio entre direitos e deveres, garantindo a formação pessoal, e a escola
desenvolve a educação com base na inteligência por meio da instrução voltada
para formação científica e profissional. No contexto do bullying, estas não
trabalham isoladamente, uma depende da outra, porque dentro da família ou da
escola só a educação é que pode mudar essa realidade, educar com
responsabilidade e compromisso, educar de maneira preventiva para reduzir a
15

violência em nosso dia a dia. Somente desta forma conseguiremos obter a


eficácia de nossas lutas.
A escola deve manter-se informada sobre este tema, porque não é
fácil identificá-lo, muito menos resolvê-lo. Apesar de ser considerado um
problema antigo, os seus estudos são recentes devidos ao grande número de
episódios frequentes na sociedade. A partir dessa preocupação o fenômeno
bullying vai perdendo força, as informações trazem soluções e mudanças.
O bullying é a verdadeira intolerância pela diferença, desrespeitar o
próximo, não ter amor mútuo e nem a si mesmo. Não podemos banalizá-lo, achar
que não é nada demais, precisamos arregaçar as mangas e ir à luta, convictos
de que os sofrimentos que hoje simplesmente ignoramos podem se tornar muito
piores adiante, por isso não devemos cruzar os braços e deixar por conta, porque
o problema é de todos nós.
16

3 A VIOLÊNCIA NA ESCOLA

A violência na escola se reflete em variadas formas de


comportamentos. Porém, em um sentido geral, têm-se o bullying como todos os
atos “criminosos” e/ou de agressão física e moral. Nesta perspectiva,
observamos que o bullying está no sentido de coação e a sua aplicação no uso
da força no plano físico ou moral torna-o uma violência.
Uma aproximação ao termo violência é apresentada no Dicionário do
pensamento marxista (1988, p. 1291):
Por violência entende-se a intervenção física de um indivíduo ou grupo
contra outro indivíduo ou grupo (ou também contra si mesmo). Para
que haja violência e preciso que a intervenção física seja voluntária
(...). A intervenção física, na qual a violência consiste tem por finalidade
destruir, ofender e coagir (...). a violência pode ser direta ou indireta. E
direta quando atinge de maneira imediata o corpo de quem sofre. (p,
1291).

Mesmo que tal conceito seja oriundo de fonte de natureza muito


especifica, pode-se observar neste conceito que a palavra violência é um
sinônimo muito próximo da palavra bullying.
No primeiro, podemos notar que a violência exacerba o limite da
agressão física, aceitando, porém, uma violência de caráter psicológico e moral,
já no segundo, a ênfase aponta para a questão do moral, contudo, pode evoluir
para a violência física. Desta forma, percebemos então que não é fácil definir o
que é violência, apesar disso o bullying é uma violência.
Nesse sentido, o que caracterizaria o bullying, seria a tendência à
destruição do outro, ao desrespeito e a negação do outro, podendo a ação situar-
se no plano físico, psicológico ou ético.
Um dos fatores mais trabalhados nos estudos sobre violência e, sem
dúvida, a sua relação com a desigualdade social. Porém, não se pode afirmar
que a pobreza se apresenta como o único fator causal da violência na sociedade
brasileira. Ela sozinha não explica a perda de referenciais éticos que sustentem
as interações entre grupos e indivíduos.
No entanto, é possível afirmar que suas manifestações se multiplicam,
assim como os atores nelas envolvidos. O novo parece ser a multiplicidade da
forma que assume na atualidade, algumas especialmente graves, sua crescente
incidência chegando a configurar o que se pode chamar de uma “cultura da
17

violência”, assim como o envolvimento de pessoas cada vez mais jovens na sua
teia.
Diariamente, os diferentes meios de comunicação colocam diante de
nossos olhos, mentes e corações, numerosas cenas onde a violência constitui
um componente central, de tal modo que terminamos por naturalizar e banalizar
sua realidade e a considerá-la como um mero dado inerente e constitutivo de um
mundo competitivo e hostil, onde a lógica das relações sociais, as tensões e os
conflitos estão marcados fortemente por sua presença.
Agressões entre alunos é um tipo de violência e, a mais citada pelos
educadores, alunos e pais, e, em alguns pontos, apresenta relação bem próxima
com a depredação escolar. Roubos, insultos, brigas, exploração dos mais novos
pelos mais velhos são atos que, de tão frequentes no cotidiano escolar, acabam
por serem banalizados e/ou tidos como manifestações “normais” da idade e/ou
da condição sociocultural e econômica do jovem, fato que podemos comprovar
com a seguinte afirmativa:
A violência entre os alunos constrói-se em torno de duas lógicas
complementares: de um lado, encenação ritual e lúdica de uma
violência verbal e física; de outro, engajamento pessoal em relações
de força, vazias de qualquer conteúdo preciso, exceto de fundar uma
percepção do mundo justamente em termos de relações de forca.
(PERALVA, 1997, p. 20).

A razão que matem essa cultura da violência está diretamente ligada


a um sentimento de medo, onde ao refletirmos e analisarmos acerca do
problema nessa concepção, de que "a violência está em toda parte e que, para
enfrentá-la, é preciso poder defender-se”, o estudioso Peralva chega a afirmar
que:
O desenvolvimento de tal cultura... Só é possível porque ocorre a
margem do mundo dos adultos. Ele traduz a debilidade do controle
exercido pelos adultos. Sobre o universo juvenil, sua incapacidade
fundar, no interior do colégio, um modelo de ordem (PERALVA, 1997,
p. 21)

Desta forma, ainda que este tipo de violência, que tem origens que se
situam além dos muros da escola, observa-se que ela afeta, diretamente, a vida
escolar, o que força a instituição procurar meios possibilitadores de
transformação dessas relações.
18

3.1 Breve histórico do fenômeno da violência no contexto educacional


brasileiro

A trajetória da educação brasileira em legado é marcada por tragédia,


violência física, simbólica, violação de direitos, discriminação, racismo e bullying
(dias atuais). Apesar de nossa nação ser considerada pacífica e hospitaleira, os
estudos realizados por pesquisadores revelam que há desdobramentos
históricos da violência nas escolas no Brasil não só na relação professor x aluno
e aluno x aluno, mas com todos envolvidos no processo educativo, dentro e fora
da sala de aula, sendo este mais amplo do que se imagina, porque a violência
está presente na humanidade ao longo de décadas.
Para tentar compreender a trajetória da violência escolar, e suas
peculiaridades, é relevante que se registre aqui nesse texto, mesmo que esse
não seja o nosso objeto de pesquisa, a origem da escola e as suas finalidades
para sociedade, desde o século XVII, quando surgiu a escola.
A princípio as escolas existiam com a finalidade de atender aos
interesses da aristocracia. Assim, como seu significado que originou da Grécia
skole, que quer dizer ócio, que designa tempo livre das ocupações produtivas do
cotidiano, sendo esta uma prática que era delegada a classe dominante, pois
somente as pessoas de poder aquisitivo elevado tinham tempo para o lazer,
sendo este, o enriquecimento da mente.
Todavia, a escola contemporânea trás na sua história marcas da
exclusão principalmente aos que não tinham condições materiais e dela era
excluído. Para Bourdieu (1975) “[...] Tentar explicar os pressupostos inscritos na
situação de skole, tempo livre e liberado das urgências do mundo que torna
possível uma relação livre e liberada com tais urgências e com o próprio mundo”.
O autor ressalva os que usam de tempos livres da urgência do mundo,
que seria o mesmo que não precisar trabalhar para o seu próprio sustento. O
privilégio seria apenas da classe burguesa que dedicaria o tempo livre para o
ócio do pensar.
Somente após o renascimento, ainda com características fortes da
exclusão sobre a massa popular, surge a institucionalização da escola no século
XVII, sendo a mesma obrigatória, tanto quanto seus programas, níveis e
19

métodos. Nesse período se dá a formação da escola tradicional nos modelos


que se faz presente até os dias de hoje.
No século XIX, a questão da formação do homem se apresentava em
dois segmentos: o da formação clássica da burguesia,
Historicamente a escolar tem apresentado a interface, que de um lado
reforça a diferença entre as duas classes, dominante e a dominada, como
também por outro lado, possibilita que a dominada ascenda socialmente.
Assim como a escola tem esse poder de dominação que não tolera
as diferenças, ela também é recortada por formas de resistência. Compreender
esta situação implica em aceitar a escola como um lugar que se expressa numa
extrema tensão entre forças antagônicas.
Além de fornecer modelos comportamentais, fontes de conhecimento
e de ajuda para o alcance da independência emocional da família, a
escola também passa a ser o local para a formação do ser social e para
o desenvolvimento do processo de transmissão-assimilação do
conhecimento – que pode ser utilizado pelo aluno em seu meio de
sociabilidade como instrumento de sua prática. (SOUSA; JOSÉ FILHO,
2008, p. 5).

Mas, como a pluralidade das ações não se reduz à uniformidade, o


princípio da homogeneização, imposto pela escola, não se coloca
tranquilamente, pois ele repousa numa inquietação frente à existência dos
diferentes grupos.
A escola, como qualquer outra instituição, está planificada para que
as pessoas sejam todas iguais. Há quem afirme: quanto mais igual, mais fácil de
dirigir. A homogeneização é exercida por meio de mecanismos disciplinares, ou
seja, de atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o movimento, as
atitudes dos alunos, dos professores, impondo uma atitude de servilismo e
docilidade
O século XXI trouxe muitas mudanças na sociedade, algumas
positivas, porém, a instituição escolar passa por variáveis conflitos envolvendo a
violência na escola, violência à escola e a violência da escola, entre as quais
iremos dialogar com alguns autores que se ocuparam com essa problemática.
A luz da pesquisa realizada por Charlot (2002), Abramovay (2005) e
Priotto (2008), amplia-se a compreensão do fenômeno da violência no contexto
escolar e nos propõe uma diferenciação entre violência na escola, violência
contra a escola, e violência da escola.
20

A violência na escola é aquela que acontece no interior da escola,


sendo que não é uma atividade natural da escola. Acontecimentos que se dão a
partir de invasões de pessoas que não tem nenhuma ligação com a escola,
assim os atos de violência poderia acontecer em quaisquer outros lócus,
deixando a escola livre de ser palco da violência. Dentre tais situações estão
presentes as brigas que acontecem dentro e fora da escola.
A violência à escola segue diretamente ligada às ações da unidade
escolar quando os educandos provocam atos de vandalismos, quebram as
carteiras, casos não muitos isolados de alunos que batem em alunos e em
professores ou usam de agressões verbais, atitudes que é direcionada a escola
e a todo corpo docente que constituem a escola, também, pode ser
diagnosticado como indisciplina.
No artigo fruto da pesquisa sobre violências nas escolas, de Miriam
Abramovay e Maria das Graças Rua, (2003, p. 33) “a educação é um fenômeno
social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e
funcionamento de toda sociedade”.
No mesmo artigo, citado anteriormente, as autoras trazem alguns
depoimentos dos alunos que apontam uma grande dificuldade na escola,
principalmente no que tange ao cumprimento das regras, partindo da própria
gestão. Segundo os discentes a gestão não cumpre suas próprias regras que
são impostas somente aos educandos. Em segundo lugar, a prática violenta
presente na escola muitas vezes surge de dentro da escola, quando os discentes
se veem em situação de exclusão por seus agentes.
Em toda história da humanidade, o homem exerceu e foi alvo de
violência. Como exemplo, podemos citar um trecho bíblico que relata uma série
de crueldades das quais Jesus Cristo foi a vítima, da maldade de homens
desprovidos de compaixão e temor de Deus (Mt 27, 27-50), ainda podemos citar
ao longo da história fatos como: enforcamentos em praça pública, homens que
lutavam até à morte nos coliseus para deleite de um auditório sedento por
sangue, a Santa Inquisição que vitimou inúmeras pessoas, o nazismo e as
excessivas guerras que povoam a história da humanidade. “Podemos dizer que
as violências são herança deixada por nossa antiga forma de organização social”
(CADEMARTORI; ROSO, 2012, p. 406).
21

Este fenômeno tem chamado a atenção não só de estudiosos mais


de toda sociedade brasileira pelas imensuráveis mudanças nos índices
acelerados de atos violentos praticados pelos alunos e professores nas nossas
escolas brasileiras que se transformou em um problema realmente social,
obviamente pela forma com a qual esse fenômeno vem se apresentado na
relação professor - aluno, praticados por jovens, adolescentes, crianças e
professores nas escolas brasileiras. Dessa forma, é absolutamente inaceitável
vê-los de forma natural, por se tratar de um fenômeno indisciplinado que tem
tomado o espaço educativo da maioria das instituições educativas de nosso país,
tornando cada vez menor o número de escolas que a violência não predomine
no seu dia a dia.
É importante destacar que a violência vem desencadeando diversas
manifestações diferenciadas e, em muitos casos, não são denunciadas, ficando
no silêncio. Por essa razão torna-se necessário analisar e refletir sobre esse
fenômeno que não ocorre estritamente só nas escolas brasileiras, mas em todos
os países do mundo e passou ser uma questão de interesse global, uma vez que
os problemas são graves e afetam a sociedade de uma forma geral, como pontua
GARCIA, 2009:
A história da educação do homem tem no legado grande contribuição
quanto à manifestação da indisciplina, que pode ter sua origem no
desgaste das relações interpessoais, particularmente quando
associada a situações de conflito em sala de aula (GARCIA, 2009, p.
101).

Quem de nós não ouviu de seus antepassados, histórias de violência


ou mesmo sofreu com episódios de agressões verbais, física, moral e, às vezes,
a violência não percebida por parte dos professores ou de outros colegas
A cada dia a desvalorização da vida vem se modificando. Casos de
violência passam despercebidos pela maioria da população, acostumada, talvez,
à sua presença cotidiana, ocorrendo, quando muito, expressões de espanto e
indignação de forma rápida e distante, apenas isso. O ser humano parece se
sentir impotente e inseguro diante de uma sociedade fragmentada, cujas
autoridades responsáveis pela segurança e integridade do cidadão parecem
incapacitadas para resolver o problema da violência, como nos diz Piaget (1999,
p. 176) “tal situação nos faz lembrar que atualmente a sociedade passa por
22

diversas transformações que tiveram significativa repercussão nos cenários


sociopolíticos e econômicos de todo o mundo”.
Ainda para reforçar, tomamos o ponto de vista de Dias (2002, p. 38)
que diz:
Vistos como adultos incompletos, os jovens representavam uma
parcela da população que tinha, constantemente, seus direitos
violados, sem qualquer possibilidade de interferir na construção da
realidade que eles próprios vivenciavam e imutável e à qual deveriam
adaptar-se, sob pena de serem considerados menores em situação
irregular.

No que se refere a falar da trajetória histórica da violência no cotidiano


das escolas do Brasil na relação professor - aluno dentro e fora do espaço
educativo, não se constitui uma tarefa das mais simples, porque é um dos temas
mais complexos dos dias atuais, visto que historicamente tem se desencadeado
de forma excessivamente alarmante e a maioria das vezes os atos violentos
tomam caminhos diferentes, levando o agressor a cometer atos cada vez mais
violentos, causando às vezes até a morte.
Sobretudo, quando enfatizamos o termo, pois estamos diante de um
termo cujo significado é perpassado por um conjunto de fatores que se
interpretam a começar pela ambiguidade e multidimensionalidade do termo, ou
seja, pelo seu caráter subjetivo o que faz com que ele tenha um conceito
polissêmico. Como conceitua Costa, (1997, p. 283), “a origem da violência
humana tem sido estudada por muitos sociólogos e historiadores, que vê na
escassez de bens e fonte maior de conflito entre o os homens”. Para esses
estudiosos, entre os quais estão Hobbes, Rousseau, Max e Engels, a origem dos
conflitos e da violência remonta às organizações humanas mais primitivas.
É mais que notório o reconhecimento de que a violência existe há
décadas, mas historicamente vem assumindo forma especifica de acordo com o
momento histórico de cada década.
No Brasil nos últimos anos, no que concerne à violência escolar contra
alunos e professores, são marcadas por diversas incidências. Uma dessas, é a
prática punitiva usada pelos professores como método de ensino no predomínio
do tradicionalista arraigado por limites impostos pelo autoritarismo e abuso de
poder, instituídos pela própria instituição e professores como castigos e
disciplina para obter respeito aos adultos, necessário na educação de crianças.
Bock; Furtado; Teixeira (1993, p. 286) afirmam: “na verdade, a maior violência
23

exercida pela escola é quando ela usa seu poder sobre as crianças e os jovens,
que são impedidos de pensar, de expressar suas capacidades e os leva a se
tornar meros reprodutores de conhecimento”.
Esses regimes estabelecidos se fundamentavam numa disciplina
rígida, sem restrições a qualquer aluno através das regras, permitindo o controle
e a imposição de limites punitivos(com palmatória, beliscões),que vão desde os
castigos onde os alunos eram constrangidos sendo expostos a agressões
físicas, como a palmatória que os professores batiam não só nas mãos, mas em
qualquer parte do corpo, não satisfeitos colocavam os alunos de joelhos em
sementes de milho, com orelhas de burro feitas com papelão atrás da porta da
sala de aula, quando as pessoas passassem tinham que fazer gestos como se
fossem um burro, sendo agredidos moralmente, verbalmente e constantemente
ameaçados, sofrendo danos psicológicos gravíssimos (DEBARBIEUX, 2002).
Charlot (2002) classifica a violência com o uso da força, do poder e da
dominação com a “vontade de destruir, de aviltar, de atormentar”.
Na sociedade brasileira, por sua vez, grandes reflexos desse ensino
autoritário tradicionalista emergiram nas escolas deixando nos alunos dessa
época sequelas psicológicas, e, muitos deles, foram ou são hoje professores
frustrados, irritados e fundamentados no tradicionalismo, causando um
distanciamento efetivo entre professor/aluno que interfere nas tomadas de
decisão e de julgamento sobre as regras sobre o que é certo ou errado e o que
pode ou não ser feito, o que é bom ou ruim, o que é justo ou não, Isso
desencadeou um conjunto de manifestações da violência contra professores e
alunos.
Muitas das escolas ainda praticam uma “Pedagogia Tradicional,
proposta de educação centrada no professor, cuja função se define
como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria
através de aulas expositivas, devendo os alunos a prestar atenção e
realizar exercícios repetitivos, a fim de memorizar e reproduzir a
matéria ensinada” (PCN, 1998, p. 56).

De acordo com os estudos realizados por vários pesquisadores, como


as autoras Miriam Abramovay e Maria das Graças Rua, violência escolar
aparecem com mais força no Brasil a partir da década de 80, os resultados
obtidos nas investigações feitas nessa época apontam que as principais formas
de violência na escola eram relacionadas ao crime contra o patrimônio público,
como depredação e pichações. Nesse período os atos da violência nas escolas
24

não expressavam grandes números e não era tão preocupante. Miriam


Abramovay depois de alguns anos percebeu que além dos fatores citados contra
o patrimônio, esse fenômeno desencadeou diversos tipos de violência, causando
na relação entre aluno e professor um impacto multidimensional,
desencadeando diversos atos violentos não só contra professores - alunos, mas
com todos os que estão inseridos nesse contexto da escola que está sendo
destaque na mídia.
Considerando que o desrespeito e as injustiças sociais são
incorporados na sociedade brasileira, elevando a um descontrole de seus
valores éticos e morais, criando a lei do mais forte com uma abrangência
histórica da multidimensionalidade da violência ocorrida nas escolas do nosso
país. Para, Miriam Abramovay, (2006, p. 106) "a falta de respeito, a indiferença
à presença do professor e a desconsideração pelo poder dos docentes na escola
são pontos de tensão no relacionamento entre alunos e professores".
Na atualidade brasileira as diversas faces da violência têm tomado de
conta a cada dia do espaço interior das escolas em todas as regiões do nosso
país. Apesar de toda transformação gerada por um mundo globalizado,
vivenciamos um mundo de muitos conflitos interpessoais. Sem contar que a
escola é o foco dessa realidade nesse cenário desafiador, em todo momento se
ouve falar de casos violentos ocorridos na escola na relação aluno/aluno e
professor/aluno. Esta se apresenta tanto de forma verbal e simbólica, ou mesmo
fisicamente, psicológica e discriminatória, bullying, por parte dos agressores que
ferem o sujeito que sofre o dano de tal forma que este passa a ser influenciado
negativamente e assim acabe se tornando um agressor e a maioria não se
interessam por continuarem na escola e alguns acabam evadindo-se, desta forma
aumentando o número de agressores tanto dentro da escola quanto fora.
Conforme coloca Maria Victória Benevides (1996, p. 38), esta
realidade serve para desmascarar a imagem tradicional de que o brasileiro é "um
povo sentimental, ordeiro e pacífico". Hoje, a violência, estampada nos grandes
centros do país, comprova que a sociedade brasileira é extremamente violenta,
e esta se apresenta sob diferentes formas de manifestações.
Diariamente, em diferentes meios de comunicação, são divulgados
atos de violência cometidos dentro e fora das escolas, os atos da violência não
aparece apenas no plano físico, mas também psíquico, moral, simbólico através
25

do desrespeito e da violação dos direitos humanos. As agressões físicas, verbais


e negligência entre os alunos e entre professores, a invasão de “gangues”, o
narcotráfico, têm sido elementos presentes nas escolas, causando insegurança,
medo, perplexidade e angústia aos alunos, professores, diretores e pais.
Recentemente foram divulgados pelos jornais, revista e noticiário
televisivo, atos de altas agressividades cometidas por alunos de uma escola
pública em São Paulo contra a professora que teve o dedo decepado ao tentar
trazer o aluno que estava escondido no banheiro após uma briga. Outro caso
gravíssimo noticiado pelos jornais aconteceu no Rio de Janeiro, onde uma
professora teve o cabelo queimado com um isqueiro pelo aluno, esse
acontecimento chocante fez muitos pais brasileiros chorarem apavorados com
tantas agressões ocorridas nas escolas, sofridas, não só por adolescentes, mas
também pelas crianças muito pequenas.
O caso que posso usar para exemplificar vítima típica de violência
cometida por aluno é o da professora Ana Lemos que cruelmente foi agredida,
divulgado no programa Hoje em dia na Record no dia 19 de novembro de 2015
às 10 h da manhã. Em entrevista exclusiva, a professora no programa ainda em
choque com um intenso medo de voltar a escola, relata que os primeiros golpes
foram nos olhos seguidos de chutes, socos no rosto, deixando várias sequelas,
uma delas foi o possível sangramento interno no rosto, causando indignações,
fobia, transtorno psicológico, emocional e físico. Revoltante é que não satisfeito
por ter agredido a professora, o agressor ameaça a filha que estuda na mesma
escola onde esta foi agredida.
São inúmeros os casos que tem aterrorizado a nossa sociedade
brasileira, colocando o Brasil na liderança no ranking mundial de violência contra
alunos e professores. Segundo Filho (2003, p. 68)
[...] A nossa sociedade vive hoje situação de violência e nas diversas
escolas temos tido violências em todos os níveis. Agressões físicas,
desavenças constantes, repressões, humilhações e exclusões,
desenham no cotidiano da escola que nos induz a um entendimento da
escola como reflexo da sociedade, sem possibilidades de mudanças
internas e forças para contribuir com uma mudança social.

A violência já é considerada nos dias atuais como um fenômeno


globalizado, portanto, não atinge somente os estudantes e professores, mas
atinge crianças, adolescentes, adultos e idosos, é influenciada tanto pelos
fatores externos quanto pelos internos, isso acontece em qualquer momento e
26

em qualquer lugar. Apesar de vários estudos é difícil de entender quais fatores


que influenciam esta problemática que permeia por nossa sociedade ao longo
de muitos anos, que tem se manifestado de diversas maneiras em nosso dia a
dia.
Entretanto, essa situação nos faz analisar o quanto os governantes
do nosso país têm negligenciado ao termo violência, que tem sido muito discutido
e pouco combatido o comportamento existente entre os homens que envolvem
diversas formas de agressão praticadas por um indivíduo ou grupo contra seus
semelhantes. Para Abramovay (2009, p. 1) “a negligência é o ato de omissão do
responsável pela criança/idoso/outra (pessoa dependente de outrem) em
proporcionar as necessidades básicas, necessárias para a sua sobrevivência,
para o seu desenvolvimento”.

3.2 A violência na escola enquanto fenômeno social

As recentes transformações pelas quais tem passado a sociedade


brasileira podem ser analisadas como inseridas no contexto de transformações
maiores, que têm como palco o contexto mundial e que combinam em formas
múltiplas processos de globalização e fragmentação. As mudanças daí
decorrentes transformam de forma mais ou menos radical a natureza da trama
social, conduzindo a que reflexões voltadas a realidades nacionais tenham que
levar em conta sua inserção no mundo globalizado.
Assim, se por um lado, a globalização assume o estatuto de uma
categoria articuladora do pensamento e da análise a indicar a abrangência e a
radicalidade das mudanças, por outro, não implica a identificação entre
globalização e homogeneização. Se é pertinente supor que transformações,
sobretudo no nível tecnocientífico, atinjam o âmbito planetário, as formas através
das quais este movimento se realiza encontram, no entanto, configurações
sociais as mais diferenciadas, levando a definições e redefinições do espaço
sociocultural igualmente diferenciadas, em um movimento no qual globalização,
podem constituir de fato um processo único.
É a partir desses parâmetros de interpretação que se está
pretendendo compreender a inserção da sociedade brasileira na
27

contemporaneidade de um mundo globalizado, e é igualmente este o contexto


em que se espera poder refletir sobre o fenômeno da violência na sociedade.
Com relação ao primeiro aspecto, esta análise vai no sentido de
perceber que estaria ocorrendo no Brasil de hoje uma ressignificação da
violência. A dificuldade por vezes ressentida, ao se definir violência, decorre do
fato de que, não se tratando de um conceito sociológico, mas de uma categoria
empírica de manifestação do social, sua compreensão é dependente dos
arranjos societários de que emerge. Daí a recorrência das análises onde a
violência é caracterizada como algo ambíguo, relativo.
Michaud (1978, p. 23) assinala que:
Tais ambiguidade e relatividade da noção de violência necessitam ser
investigadas através de uma análise que se interrogue sobre o que ele
considera como a violência da violência, isto é, as condições a partir
das quais a violência é apreendida como tal.

Para este autor a noção de violência é, por princípio ambígua, sua


significação é estabelecida por procedimentos políticos segundo o grupo que,
em um dado momento, tem o poder de rotulá-la contra outros (grupos), pode
aparecer e desaparecer segundo quem fala. Concretamente, isto significa que
ela pode continuar sendo o que é ainda que nem sempre seja reconhecida ou
desconhecida como tal.
Deslocamento de sentindo semelhante pode ser detectado no
contexto da realidade brasileira, quando se reflete sobre crimes e violências de
natureza sexual, as situações com as quais se confronta o analista do social
aproximam-se, em certo sentido. Não faz muitas décadas, estupro ou
espancamento de mulheres eram fenômenos tratados na esfera privada, não
nomeados como violência. A própria criação de delegacias da mulher e a
criminalização de atos de violência contra a mulher sinalizam para novos
sentidos do que se considera violência, o que reflete um outro estatuto da
condição feminina. Apontam, também, para uma maior igualdade entre os sexos,
na medida em que a mulher se constitui enquanto portadora de direitos.
Mudanças na apreensão da noção de violência, como a acima
mencionada, sinalizam algo novo. Não se está pretendendo que formas de
preconceito, e manifestações de violência, que por vezes expressam-nas,
tenham desaparecido da sociedade brasileira, mas que tais mudanças estejam
evidenciando transformações na natureza do social; transformações que a
28

análise sociológica terá que se esforçar para compreender. É, pois, utilizando-


as como suporte que se pretende desenvolver uma argumentação que avança
a hipótese orientadora dessa reflexão. Hipótese que aponta duas direções para
o raciocínio.
A primeira, apropriando-se, talvez de forma pouco ortodoxa, da tese
defendida por Elias (1990), na análise do processo civilizatório, supõe a
sociedade brasileira transpondo novos patamares nesse/desse processo, o que
a levaria a uma reconceitualização da violência, de modo a incluir e a nomear
como violência acontecimentos que passavam anteriormente por práticas
costumeiras de regulamentação das relações sociais. Práticas fundadas em uma
rígida hierarquização do social que instituía a desigualdade como processo
legítimo, por assim dizer, de estruturação do social. Práticas nas quais a relativa
indiferenciação público/privado propiciava, nos dizeres de Freire, “o
desenvolvimento de uma sociedade (defendida) menos pela ação oficial do que
pelo braço e pela espada do particular” (FREIRE, 1963, p. 69).
A mudança, que parece pertinente assinalar, refere-se
fundamentalmente à propensão a se nomear e a se reconhecer a violência,
sendo concomitante a essa realidade a recusa em se atribuir legitimidade à
violência enquanto forma de estruturação e de regulação do social.
As novas possibilidades de organização da sociedade civil têm
propiciado indícios que confirmariam a pertinência dessa hipótese, ao sinalizar
como crise e até mesmo como barbárie, demonstrações de violência que foram,
tantas vezes, assumidas no passado como traços culturais. Nesse sentido,
pode-se afirmar que hoje a sociedade brasileira percebe a violência de uma
forma diversa daquelas que conformavam o social dos tempos da casa-grande
e senzala.
Não parece demais ressaltar que não se está fazendo nenhuma
afirmação em termos de uma avaliação quantitativa do fenômeno. Não se trata
de mais ou menos violência, mas do fato de que seu significado social parece
hoje distinto do que foi anteriormente.
Considere-se a seguir a segunda direção para a qual se encaminha a
hipótese. Mesmo sem presumir relações mecânicas de causa e efeito, não
convém, ainda assim, descartar, a priori, níveis de interdependência entre
29

reconceitualização da violência, nos termos acima estabelecidos, e a maior


visibilidade do fenômeno, potencializada com o processo de redemocratização.
Enquanto produto de demandas e conquistas da sociedade civil, o
retorno à democracia, ou de práticas sociais institucionalizadas, articula-se a um
movimento amplo de reivindicação do estado de direito enquanto condição de
realização da igualdade na cidadania. Mesmo que se admita que estes são
processos ainda elementares, seu significado para a reconstrução institucional
não parece desprezível.
Para os objetivos da análise que ora se realiza, por exemplo, parece
pertinente mencionar que a maior visibilidade do fenômeno da violência no
contexto da redemocratização, bem como sua rejeição decorrente de um
refinamento do que se está chamando sensibilidade coletiva, articulam-se,
igualmente, a uma postura muito mais enérgica da sociedade face ao fenômeno
da impunidade.
O apelo por punição e por justiça em relação à violência policial, que
os meios de comunicação de massa tornam muito mais visível na vigência de
práticas democráticas, é um exemplo do que se está afirmando. Para Michaud,
“ainda que o mundo moderno se pense mais violento do que no passado, tal
comparação é desprovida de sentido: o que era brutalidade, rudeza, ordem
normal da miséria ou da dominação tornou-se insuportável” (MICHAUD, 1978,
p. 101).
Da mesma forma, novos processos de produção do conhecimento
revolucionam os procedimentos de difusão da informação. Nesta esfera, pode--
se, talvez, falar da criação de um mundo virtual que convive em graus
diferenciados de tensão/integração com o mundo real, transformando de modo
radical o sentido do que venha a ser experiência. Os meios eletrônicos, ao
mesmo tempo que possibilitam a quase simultaneidade entre acontecimento e
informação (o mundo é aqui e agora), poupam os indivíduos, intermediando
vários de seus contatos com o mundo. O virtual constrói o real. O outro lado
desta mesma moeda transforma o real em espetáculo, produzido pelos meios de
massa. É o que ocorre, por exemplo, com o fenômeno da violência, transformado
em produto, com amplo poder de venda no mercado de informação, e em objeto
de consumo, fazendo com que a realidade da violência passe a fazer parte do
dia-a-dia, mesmo daqueles que nunca a confrontaram diretamente enquanto
30

experiência de um processo vivido. A violência passa a ser consumida num


movimento dinâmico em que o consumo participa também do processo de sua
produção, ainda que como representação. Também como representação,
multiplicam-se as categorias de percepção da violência.
As mudanças tecnológicas, ao incidirem diretamente sobre o mundo
do trabalho, deslocando seu caráter de centralidade enquanto organizador de
um ambiente sociocultural, transformam a natureza desse social e afetam
igualmente o trabalho em suas dimensões simbólica, ideológica e valorativa,
dimensões fundamentais, cada uma delas, na definição de condutas e estilos de
vida. Enquanto valor, o trabalho era responsável, não tanto pela unidade do
social, mas por sua representação como algo unificado. Atualmente, as
transformações desse universo do trabalho, e o deslocamento de valores nele
centrados, evidenciam o surgimento de um social atomizado, fragmentado,
carente de pontos fixos de referência. Os indivíduos e os grupos sociais não mais
reconhecem valores ou normas coletivas, ou não mais se reconhecem nesses
valores, o que propicia diferentes arranjos associados, articulados ao surgimento
de novos atores e ao deslocamento e/ou redefinição de atores tradicionais.
Contexto no qual a referência ao social como algo fragmentado, diferenciado e
plural parece adquirir pertinência.
Na perspectiva que aqui se está considerando, e tendo como
referência a sociedade brasileira, as transformações que se vêm analisando,
sobretudo o que se está chamando sua inserção na modernidade globalizada e
a reconstrução dos processos de democratização, são potencializadoras dessa
fragmentação valorativa, configurando um processo de dissolução de regras e
normas que unificariam o olhar sobre o social.
Estas considerações conduzem à outras reflexões, em que se
pretende discutir, sobre o que é violência, manifestações da violência no
contexto escolar e causas e consequências da violência na escola.

3.3 Manifestações da violência no contexto escolar

A violência pode se manifestar de várias formas e com diferentes


graus de severidade. Estas formas de violência não se produzem isoladamente,
mas fazem parte de uma sequência crescente de episódios, do qual a violência
31

física é a manifestação mais extrema. Primeiramente faremos uma breve


contextualização da violência no sentido mais amplo.
Podemos afirmar que na atualidade a violência está em toda a parte,
nas ruas, no trânsito, corrompendo as relações familiares. A violência, segundo
Abramovay (2002, p. 35) pode se expressar das mais variadas formas, como
listada a seguir:
• Violência física: Ocorre quando uma pessoa, que está em relação
de poder em relação à outra, causa ou tenta causar dano não acidental, por meio
do uso da força física ou de algum tipo de arma que pode provocar ou não lesões
externas, internas ou ambas. Segundo concepções mais recentes, o castigo
repetido, não severo, também se considera violência física. Esta violência pode
se manifestar de várias formas: Tapas, empurrões, socos, mordidas, chutes,
queimaduras, cortes, lesões por armas ou objetos, danos à integridade corporal
decorrentes de negligência (omissão de cuidado e proteção contra agravos
evitáveis como situações de perigo, doenças, gravidez, alimentação, higiene,
entre outros).
• Verbal: Insultar, ofender, xingar fazer gozações, colocar apelidos
pejorativos, fazer piadas ofensivas, caçoar etc.
• Físico e Material: Bater, chutar, espancar, empurrar, ferir, beliscar,
roubar, furtar ou destruir os pertences da vítima, atirar objetos contra as vítimas.
• Psicológico e Moral: Ação ou omissão que causa ou visa causar
dano à autoestima, à identidade ou desenvolvimento da pessoa. Inclui irritar,
humilhar, ridicularizar, excluir, isolar, ignorar, desprezar ou fazer pouco caso,
discriminar, aterrorizar e ameaçar, chantagear e intimidar, tiranizar, dominar,
perseguir, difamar, passar bilhetes e desenhos entre os colegas de caráter
ofensivo, fazer intrigas, fofocas ou mexericos.
• Violência Sexual: Compreende uma variedade de atos ou
tentativas de relação sexual sob coação ou fisicamente forçada, no casamento
ou em outros relacionamentos violência sexual é cometida na maioria das vezes
por autores conhecidos das mulheres envolvendo o vínculo conjugal (esposo e
companheiro) no espaço doméstico, o que contribui para sua invisibilidade. Esse
tipo de violência acontece nas várias classes sociais e nas diferentes
32

circunstâncias e cenários. Dentre eles podemos citar abusar, violentar, assediar,


insinuar.
• Violência Virtual: Os avanços tecnológicos também influenciam
esse fenômeno típico das interações humanas. Assim, novas formas surgiram
por meio da utilização de aparelhos e equipamentos de comunicação (celular e
internet), que são capazes de difundir, de maneira avassaladora, calúnias e
maledicências.
• Violência de gênero: Consiste em qualquer ação ou conduta,
baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico, tanto no âmbito público como no privado. A violência de gênero é
uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais entre homens
e mulheres, em que a subordinação não implica na ausência absoluta de poder.
• Violência econômica ou financeira: São todos os atos destrutivos
ou omissões do (a) agressor (a) que afetam a saúde emocional e a sobrevivência
dos membros da família. Inclui: Roubo, destruição de bens pessoais (roupas,
objetos, documentos, animais de estimação e outros) ou de bens da sociedade
conjugal (residência, móveis e utensílios domésticos, terras e outros) uso dos
recursos econômicos da pessoa idosa, tutelada ou incapaz, destituindo-a de
gerir seus próprios recursos e deixando-a sem provimentos e cuidados.
A escola como qualquer outra instituição, está planificada para que as
pessoas sejam todas iguais. Há quem afirme: "quanto mais igual, mais fácil de
dirigir". A homogeneização é exercida por meio de mecanismos disciplinares, ou
seja, de atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o movimento, os
gestos e as atitudes dos alunos, dos professores, dos diretores, impondo aos
corpos uma atitude de submissão e docilidade.
Além de fornecer modelos comportamentais, fontes de conhecimento
e de ajuda para o alcance da independência emocional da família, a
escola também passa a ser o local para a formação do ser social e para
o desenvolvimento do processo de transmissão-assimilação do
conhecimento – que pode ser utilizado pelo aluno em seu meio de
sociabilidade como instrumento de sua prática. (SOUSA; JOSÉ FILHO,
2008, p. 5).

A escola oferece oportunidades de conhecimento que é para a vida


toda. É onde se garante o futuro, pois a pessoa descobre o que almeja ser. A
escola faz parte da formação do indivíduo. Mas, como a pluralidade das ações
não se reduz à uniformidade, o princípio da homogeneização, imposto pela
33

escola, não se coloca tranquilamente, pois ele repousa numa inquietação frente
à existência dos diferentes grupos. A disciplina imposta, ao desconsiderar, por
exemplo, o modo como são partilhados os espaços, o tempo, as relações entre
os alunos, gera uma reação que explode na indisciplina incontrolável ou na
violência.
Se ensinar é mais do que transmitir conteúdos, ou seja, é poder gerir
relações com o saber, a aprendizagem implica uma tensão, uma violência para
aprender.
A classe é o lugar onde se tece uma complexa rede de relações. Mas
na medida em que o professor não consegue perceber essa teia ele concentra
os conflitos ou na sua pessoa, ou em alguns alunos, não os deslocando,
portanto, para o coletivo. Como não há reversibilidade de posições, forma-se
uma rígida divisão entre aquele que sabe e impõe e aquele que obedece e se
revolta. Dessa forma, cada um passa a ser movido por uma ordem, por uma
obrigação que é imposta e não incorporada.
O papel do professor na promoção de uma aprendizagem significativa
tem início na clareza que ele tem a respeito da concepção social da
educação e, consequentemente do seu próprio papel social. Somente
a consciência e o compromisso com esse papel vão dar forma a um
projeto real de sociedade, no qual se inserem e se inter-relacionam
cidadãos mais ou menos críticos, mais ou menos engajados, enfim,
mais ou menos conscientes. (SANTOS, 2014, p. 8-9).

Do ponto de vista prático, não são todos os professores que agem


dessa forma. O grande problema talvez esteja no fato de o professor se
concentrar apenas na sua posição normalizadora achando que, com isso, ele
conseguirá eliminar os conflitos. Mas, as efervescências da sala de aula marcada
pela diferença, pela instabilidade, pela precariedade, apontam para a inutilidade
de um controle totalitário, de uma planificação racional, pois os alunos buscam
de modo espontâneo e não planejado o "estar junto" que impede a instalação de
qualquer tipo de autoritarismo. Quanto maior a repressão, maior a violência dos
alunos em tentar garantir as forças que assegurem sua vitalidade enquanto
grupo.
A escola tende a reforçar ora a integração plena, ora a rejeição total
e, com isso, ela rompe o eixo das redes em que se apoiam a aproximação e a
recusa afetivas. Esse desequilíbrio desvincula a escola de seu enraizamento
34

junto aos alunos, repensando sentimentos que frequentemente explodem sob as


formas mais indesejáveis.
O objetivo de eliminar a violência e a indisciplina, ou de colocá-las
para fora do campo escolar, faz com que se perca a compreensão da
ambiguidade desses fenômenos que restauram a unicidade grupal e instalam
uma tensão permanente. Quando essa tensão é vivida coletivamente, ela
assegura a coesão do grupo; quando impedida de se expressar, transforma-se
numa violência tão desenfreada que nenhum aparelho repressor, por mais
eficiente que seja, poderá conter.
De um modo ou de outro, contudo a escola e seus atores constitutivos,
principalmente o professor, parecem tornar-se reféns de sobre
determinações que em muito lhes ultrapassam, restando-lhes um misto
de resignação, desconforto e, inevitavelmente, desincumbência
perante os efeitos de violência no cotidiano prático, posto que a gênese
do fenômeno e, por extensão, seu manejo teórico metodológico
residiriam fora ou para além, dos muros escolares. (AQUINO 1999, p.
8).

Portanto, nem uma liberação geral, nem uma ordem absoluta tem
eficácia sobre o movimento dos diferentes grupos que compõem o território
escolar, e que obedece a leis próprias. O confronto da escola com essas leis
obriga à negociação, à adaptação. Quanto maior a sua capacidade em assumir
e controlar a violência, mais a escola dará ao conjunto uma mobilidade que
permitirá driblar e agir com tolerância perante os diferentes tipos de agitação.
Mas, quando a escola se enrijece, aplicando uma lei única para todos
os casos, o coletivo se desestrutura porque há discordâncias, deixando de ser
objeto de negociação, enfraquecem os vínculos da trama social e começam a
ser tratadas por especialistas. O diretor passa a depender, por exemplo, dos
peritos (policiais, bedéis, orientadores, psicólogos, etc.) que se utilizam da força
física, moral e/ou psicológica para conter o movimento da violência.
É preciso construir práticas organizacionais e pedagógicas que levem
em conta as características das crianças e jovens que hoje frequentam as
escolas. A organização do ano escolar, dos programas, das aulas, a arquitetura
dos prédios e sua conservação não podem estar distantes do gosto e das
necessidades dos alunos, pois, quando a escola não tem significado para eles,
a mesma energia que leva ao envolvimento, ao interesse, pode transformar-se
em apatia ou explodir em indisciplina e violência.
35

Como encontrarmos um equilíbrio entre os interesses dos alunos e as


exigências da instituição? É preciso deixar de acreditar que paz signifique
ausência de todo conflito. Empreendimentos que flexibilizem o tempo e o espaço
do território escolar, que não excluam a possibilidade de dissidências e nem o
debate sobre estas questões, podem dar início ao despontar de uma
solidariedade interna que recuse o coletivismo, isto é, a imposição unitária de
comandos, e que engendre uma luta pelo coletivo, ou seja, uma atividade
conjunta que rompa com o isolamento das pessoas e crie uma comunidade de
trabalho.
Essa comunidade faz nascer a troca recíproca, sem eliminar a
autonomia das pessoas e as suas diferenças. Mas para que exista esta
solidariedade, é preciso correr o risco da separação, da hostilidade que
atravessa todas as redes da trama social escolar e que faz relembrar as bases
do seu funcionamento. Os múltiplos confrontos e o viver ambíguo (entre a
harmonia e o conflito) integrado a uma ação coletiva, não atomizada, são os
fatores que concretizam o gostar da escola, ainda que apenas para encontrar os
amigos.
Educar exige, ao mesmo tempo, criatividade, flexibilidade, escuta e
limite. Na teoria, isso parece fácil, mas na prática, não o é. Começando pelos
pais: na ânsia de acertar sempre, acabam cometendo erros primários, o que os
leva a um sentimento de culpa. Esse sentimento estimula a permissividade,
como forma de compensação. Da mesma forma, o medo de errar, frustrar ou
contrariar acaba transformando em problemas situações simples do dia-a-dia.
A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o
bastante para assumirmos a responsabilidade por ele, com tal gesto,
salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda
dos novos e dos jovens. A educação é também onde decidimos se
amamos nossas crianças o bastante para não as expulsar do nosso
mundo e abandoná-las a seus próprios recursos e tampouco arrancar
de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e
imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência
para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT apud
AMBROMOVAY, 2006, p. 247).

Como observamos, com o decorrer dos anos, a globalização, o


avanço da tecnologia, o amplo acesso à cultura, e diante de uma grande massa
de informação sobre o processo educativo (e sem saber muito bem o que fazer
com isso), educar torna-se um ato mais complexo, e a teoria se torna cada vez
mais distante da realidade familiar e educacional. Pais e educadores, por
36

confusão ou insegurança, são levados a posições excessivamente liberais,


mescladas de culpa, ao tentarem impor limites aos filhos e alunos (é proibido
dizer "não"). Isso resulta, muitas vezes, em uma completa ausência de
autoridade, já que educar implica sempre, em menor ou maior grau, a
necessidade de impor limites, mediante regras básicas claramente
estabelecidas. Nessa inversão de papéis, o autoritarismo e a tirania dos pais e
professores cedem lugar ao autoritarismo e à tirania dos filhos e alunos.
37

4 O BULLYING

A violência de crianças e jovens nas escolas tornou-se normal nos


dias de hoje, são inúmeros casos que nos imobilizam, antes até mesmo
confundida com agressão e indisciplina essa violência é conhecida como o
Bullying, uma palavra de origem inglesa, que é usada para caracterizar tais
comportamentos agressivos vivenciados por crianças e adolescentes no
ambiente escolar, transformando vidas e deixando sequelas para a vida inteira.
A palavra bullying é um verbo derivado do adjetivo inglês bullying, que
significa valentão, tirano. É o termo que designa o hábito de usar a
superioridade física para intimidar, tiranizar, amedrontar e humilhar
uma pessoa. A terminologia é adotada por educadores, em vários
países, a para definir o uso de apelidos maldosos e de toda forma de
atos desumanos empregados para aterrorizar, excluir, humilhar,
desprezar, ignorar e perseguir os outros. (CHALITA, 2008, p.81)

Nota-se que a palavra bullying é utilizada por vários educadores em


diversos países para definir o uso de apelidos maldosos e atitudes desumanas.
Com isso, o que muitas vezes é visto como uma simples brincadeira entre
crianças pode estar maquiando um relacionamento de grupo cheio de conflitos,
porque a prática desse fenômeno se desenvolve de maneira sombria e muitos
educadores não conseguem identificá-la. Segundo Fante (2005, 67),
pesquisadora que trata do tema, a denominação bullying é:
Palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para definir o
desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e
colocá-la sob tensão. Termo que conceitua os comportamentos
agressivos e antissociais utilizado pela literatura psicológica anglo-
saxônica nos estudos sobre o problema da violência escolar (FANTE,
2005, p.27).

É um comportamento violento que abrange a todas as camadas


populares e todos os países, ninguém está protegido em sua totalidade que não
seja maltratado, pisoteado por pessoas que se dizem superiores aos demais,
volta-se a ótica para as crianças e adolescentes, que estes para a sociedade são
considerados frágeis, estão principalmente expostos a esse tipo de
comportamento que ocorre de maneira repetitiva dentro da escola.
Observa-se que o bullying acontece dentro da escola, é uma violência
silenciada pelo medo, não escolhe classe social ou econômica, escola pública e
nem privada, ensino fundamental e médio, área rural ou urbana. Ele é
classificado por escritores e pesquisadores, de duas formas: direta e
38

indiretamente, a primeira acontece frequentemente, mais precisamente com o


sexo masculino, sendo identificado por atos agressivos que atingem o lado físico
de suas vítimas, expondo-as a empurrões, chutes e murros. Na sua forma
indireta, o intuito dos agressores é prejudicar a parte psicológica das vítimas,
utilizam as difamações, os boatos, fazendo com que a vítima se isole do meio
social, nesta forma destaca-se o cyberbulling, uma nova tendência, onde o
agressor utiliza as redes sociais, ou seja, programas da internet para manchar a
imagem do outro. O bullying indireto é mais comum entre o sexo feminino.
Ainda sobre os agressores praticantes de bullying, Fante (2005, p.73)
afirma que:
O agressor normalmente se apresenta mais forte que seus
companheiros de classe e que sua vítima em particular; pode ter a
mesma idade ou ser um pouco mais velho que suas vítimas; pode ser
fisicamente superior nas brincadeiras, nos esportes e nas brigas,
sobretudo nos casos dos meninos. Ele sente uma vontade imperiosa
de dominar e subjugar os outros, de se impor mediante o poder e a
ameaça e de conseguir aquilo que se propõe.

As descrições de algumas características peculiares dos agressores


praticantes do bullying são fundamentais para que qualquer pessoa consiga
identificar o protagonista dessa trama, permitindo não o confundir em situações
corriqueiras.
Bullying é um consciente, intencional, deliberado, hostil
comportamento repetido por uma ou mais pessoas, que se destina a prejudicar
o outro. O bullying assume muitas formas e podem incluir diferentes
comportamentos, tais como:
• Violência física e ataques
• Provocações verbais, xingamentos e humilhações;
• Ameaças e intimidações;
• Extorsão ou roubo de dinheiro e posses;
• Exclusão do grupo de pares;
As formas de bullying mais comuns são:
• Verbal (insultar, ofender, falar mal, colocar apelidos pejorativos, “zoar”);
• Física e material (bater, empurrar, beliscar, roubar, furtar ou destruir pertences
da vítima);
• Psicológica e moral (humilhar, excluir, discriminar, chantagear, intimidar,
difamar);
39

• Sexual (abusar, violentar, assediar, insinuar);


• Virtual ou cyberbullying (bullying realizado por meio de ferramentas
tecnológicas: celulares, filmadoras, internet etc.).
Vale ressaltar que nem todo tipo de conflito entre crianças é bullying,
as crianças aprendem a entender desde jovens que outras pessoas podem ter
uma opinião ou perspectiva diferente do sua, mas para desenvolver a
capacidade de respeitar essa opinião ela vai levar muito tempo e este processo
continua até a idade adulta.
No conflito, cada pessoa se sente à vontade para expressar seus
pontos de vista, e não há desequilíbrio de poder. Cada pessoa se sente capaz
de defender a sua opinião e/ou ponto de vista. Dependendo da forma como as
pessoas lidam com o conflito, estas podem desenvolver posições positivas ou
negativas. Conflito se torna negativo quando um indivíduo se comporta de forma
agressiva por dizer ou fazer coisas que magoam a outra pessoa.
Bullying é uma afirmação de poder através da agressão. Suas formas
mudam com a idade. O bullying não é sobre a raiva. Não é um conflito a ser
resolvido, é sobre o desprezo, um poderoso sentimento de antipatia em relação
a alguém considerado sem valor, inferior ou não merecedor de respeito.
O desprezo possui três características psicológicas que possibilitam
que as crianças prejudiquem umas às outras sem sentir empatia, compaixão ou
vergonha. São elas: um senso de direito - acredita que eles têm o direito de ferir
ou controlar os outros, uma intolerância para com as diferenças e uma liberdade
de excluir, barrar, isolar e segregar outros.
Bullying nunca é aceitável. Ele não deve ser considerado uma “parte
do crescimento”. As pesquisas e as experiências mostram que o bullying é um
problema sério, com consequências de longo alcance para os alunos envolvidos,
suas famílias e seus pares, e para a comunidade ao seu redor.
As crianças que são vítimas de intimidação por outras crianças,
costumam está em risco de desenvolverem muitos problemas emocionais,
comportamentais e de relacionamento. Elas irão precisar de apoio de adultos,
para ajudá-las a desenvolver relacionamentos saudáveis, não só na escola, mas
ao longo de suas vidas.
Os alunos que são maltratados muitas vezes experimentam a
ansiedade social, solidão, isolamento, doenças físicas e baixa autoestima. Eles
40

também podem desenvolver fobias, assumir um comportamento agressivo ou


quadros de depressão.

4.1 Manifestações do bullying

O homem se difere dos animais por raciocinar sem prejudicar o outro,


mas se esta reflexão não lhe é presente, ele é como um animal age como tal e
comporta-se como um.
Estas atitudes tornam a vítima do bullying um ser humano cheio de
angústias, que apenas o silencio conhece as ações que são determinadas por
contextos, como: o isolamento, a falta de vontade de viver, as angústias diante
de determinados problemas, medo e atitudes agressivas.
Ele é classificado por escritores e pesquisadores de duas formas:
direta, e indiretamente, a primeira acontece frequentemente, mais precisamente
com os sexos masculinos, sendo identificado por atos agressivos que atingem o
lado físico de suas vítimas. Na sua forma indireta, o intuito dos agressores é
prejudicar a parte psicológica das vítimas, utilizam as difamações, os boatos,
fazendo com que a vítima se sinta indesejada no meio social, buscando isolar-
se cada vez mais. Segundo Chalita, (2008, pág. 25) “trata-se de comportamentos
agressivos, que ocorrem nas escolas que são tradicionalmente admitidos como
naturais, sendo habitualmente ignorados ou não valorizados, tanto pelos
professores quanto pelos pais”.
Diante de atos extremistas, da não aceitação das mudanças de
contextos e da novidade dos conceitos, muitos ainda não construíram suas
ações ou pensamentos baseados nestas novas mudanças e acabam
construindo e praticando atos de violência e extrema rejeição.
Quando a mudança de um comportamento acontece e esta mudança
for proporcionalizada por ações ou atitudes, acima enfocadas, é importante
observar, pois pode ser que as ações do bullying estejam acontecendo com este
indivíduo.
Em geral, a vítima teme quem o agride e, por razão de ameaça, isola-
se e começa a comportar-se de maneira diferente podendo até atentar contra a
própria vida, criando assim, a perda dos meios de subsistência de forma moral,
41

intelectual ou psicológica, tendo um comportamento de insatisfação da imagem


própria ou das ações que comete.
A sociedade ainda não se preparou para diferenciar ações que
caracterizam a forma agressiva do bullying que é um problema mundial e que
causa uma das maiores reações de violência na sociedade. Sua ação pode
ocorrer em praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam, tais
como escola, faculdade/universidade, família, mas pode ocorrer também no local
de trabalho e entre vizinhos.
Há uma tendência nas escolas de não admitirem a ocorrência do
bullying entre seus alunos, ou desconhecem o problema ou se negam a enfrentá-
lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre em áreas onde a presença ou
supervisão de pessoas adultas é mínima ou inexistente. Estão inclusos no
bullying os apelidos pejorativos criados para humilhar os colegas, tornando estas
vítimas desgastadas sentimentalmente a tal ponto que o isolamento ou a falta da
vitalidade aconteça.
A maioria destas ações ocorre em lugares isolados e longe de quem
possa ser contrário a este ato.

4.2 Causas e consequências do bullying no ambiente escolar

No âmbito escolar algumas causas podem desencadear para a


prática do bullying, bem como a indiferença, desvalorização, competição,
exclusão, ressentimento, estética, raça, status, valores humanos irreconhecíveis
e frustrações em sala de aula, tanto por parte dos alunos, professor como
também de toda comunidade escolar.
Neste contexto, cabe à escola cuidar e proteger os discentes das
violências decorridas do bullying, tanto as que são diretas, (empurrões, socos,
etc.) quanto às indiretas, (difamações, discriminações, preconceitos, conversas
indecentes, fofocas, etc.). Uma das alternativas que a escola deve proceder
diante das ameaças do bullying é realizar diagnóstico, palestras em salas de
aula, utilizando-se sempre um diálogo aberto e franco com temas como:
amizade, respeito ao próximo, e adotar projetos coletivos que contemplem a
prevenção e a intervenção do bullying, lembrando que estas intervenções têm
42

que estar vinculadas ao Projeto Político Pedagógico da escola, não de forma


aleatória, orientando-os quanto ao perigo que tais ações podem provocar. E,
além disso, as vítimas, os agressores e os espectadores, aqueles que não
sofrem diretamente, mas que vivenciam as cenas, a escola e, principalmente, o
professor têm a tarefa de estar acompanhando suas dificuldades e tentando
combatê-las.
Segundo Chalita (2008, p.196):
[...] A qualidade da educação também inclui proteção cuidado e
responsabilidade com as crianças e os jovens expostos á violência.
Essa ação não pode estar desvinculada do projeto pedagógicos da
escola, a prevenção precisa ser pensada pedagogicamente.

Logo, a escola sendo o espaço de aprendizagem, tem por obrigação


está atenta para as ocorrências de violências provindas do bullying, criar meios
para combatê-las e preveni-las, sobretudo, informar a comunidade escolar do
transtorno que esta causa na vida do indivíduo, orientando todos dessa esfera
educacional para trabalharem com a cultura da paz dentro da sala de aula
mostrando os valores éticos, morais e ensinando a importância do respeito pelo
outro.
Chalita (2008, p.110) ainda reforça sua linha de pensamento quando
diz que “a escola, por delegação social, é um local de acolhimento e de estímulo
ao conhecimento intelectual, sem desprezar as necessidades pessoais, sociais
e afetivas dos alunos”.
Portanto, a escola é o local onde a criança encontra segurança,
abrigo, amizades, aprimora seu conhecimento prévio, sem levar em conta seus
valores, crenças e cultura. Desse modo, o professor como o sujeito mais próximo
do aluno em sala de aula deve exercer seu papel de maneira eficiente e solidária,
dando liberdade de pensamento e expressão.
O professor que não dá oportunidade para o aluno externar o que
sente e pensa, cria em sala uma competição, destacando os melhores, excluindo
outros e desrespeitando os que apresentam lentidão na aprendizagem, está
plantando o quase chamado de bullying, uma realidade que é comum nos dias
atuais, fazendo com que o aluno se sinta desvalorizado, desmotivado e
desinteressado pelos estudos.
De acordo com Chalita (2008, p.207),
43

[...] todo cuidado e atenção são bem-vindos. Um deslize do professor


pode ser um prato cheio para a ação do bullies. Estudantes mais fracos
ou mais lentos para cumprir as atividades não devem ser criticados ou
expostos por isso em sala de aula. Os diferentes ritmos e tempos de
aprendizagem devem ser respeitados acima de tudo. O desrespeito
seria uma incoerência. Se um professor deixa claro que todos são
tratados da mesma forma, os alunos veem nisso um sinal para não
excluir outro do grupo.

Observa-se que o professor deve saber falar quando for preciso, ser
maleável, tolerante, sábio nas suas palavras e atitudes tendo o cuidado para não
ferir os princípios do educando. E, como educador, o respeito pelo seu aluno é
inerente quando a questão é aprendizagem, sabendo-se que nem todos
assimilam o conhecimento da mesma forma, neste sentido, a compreensão do
professor frente a esse problema é de suma importância para incentivar e ajudar
no desempenho do seu aluno. Isto possibilita os outros estudantes a respeitar a
diferença e tratar a todos por igual.
No tocante aos amigos de classe dos alunos, costuma-se colocar
apelidos quanto à estética, cor, status, bem como gordo, magro, tripa de porco,
gigante, baleia, pé de maxixe, nanico, quatro olhos, branquelo, carvão, liso,
fedorento entre outros, atitudes essas que fazem com que estes não sintam mais
prazer em estudar, viver em grupo e interagir com os colegas. Geralmente ficam
isolados, não participam mais das aulas, sentem-se humilhados, fracassados e
até insignificantes, alguns começam a apresentar comportamentos agressivos,
como uma forma de se defender, outros preferem sofrer no silêncio.
Nesse contexto, a realidade é esta que comumente depara-se em
nossa frente, sendo que as causas e consequências que vigoram na vida do
educando no desenvolvimento de suas habilidades têm como peça fundamental
um agente protagonista desses acontecimentos. Chalita (2008, p.90), alerta para
não apontar quem foi o responsável da educação, porém ele desperta para
questionar qual princípio foi violentado? O que ficou esquecido no caminho? O
que foi deixado para traz? Tais indagações ajudam os professores a se
aproximarem do problema e entenderem os motivos dos assédios cometidos em
sala.
[...]. Nenhum comportamento surge do nada. Nenhuma atitude
agressiva ou destrutiva nasce de um instante. São sim, o resultado de
experiências dolorosas que vão se somando e que degringolam
quando menos se imagina. (CHALITA, 2008, p.28).
44

Como se pode notar tudo tem um princípio e, é essa essência que


explica o caráter, a personalidade, os comportamentos, as causas e efeitos das
atitudes do indivíduo. Na construção do ser humano sempre haverá uma metade
do ensinamento de alguém, não importando qual seja. Cabe à escola trabalhar
em cima dessa realidade aprimorando esse ensinamento ou construindo outro.
Quando tais princípios são violados, bem como os valores éticos e
morais, norteadores de sua conduta, os indivíduos normalmente sinalizam em
sala de aula com reações degradantes que nada está bem. Os que sofrem são
as vítimas mais vulneráveis, os reservados, passivos, indefesos, aqueles
chamados de nerds da sala, queridos do professor, QI acima do normal ou os
que têm dislexia na aprendizagem. Para Silva (2010, p.48), os efeitos são
tamanhos, “no recreio encontram-se frequentemente isolados, na sala
apresentam postura retraída, faltam frequentemente às aulas, mostram-se
comumente tristes, deprimidos ou aflitos, nos casos mais dramáticos
apresentam hematomas”. São comportamentos que podem ser observados
nitidamente pelo professor, o qual tem a tarefa de ajudar nas dificuldades que
seu aprendiz enfrenta. A maioria dessas vítimas não suporta as agressões e
termina saindo da escola ou desistindo do estudo.
Ainda na visão de Silva (2010, p.22-23), “[...] Os comportamentos
desrespeitosos do bullying costumam vim em bando, essa versatilidade de
atitudes maldosas contribui não somente para exclusão social da vítima, como
também para muitos casos de evasão escolar”. Observa-se que, as ações dos
bullies comumente ocorrem em conjunto, favorecendo os atos serem mais
veementes capazes de transtornar a vida da vítima, o educando. E, pelo fato das
atitudes severas, o aluno termina criando certa fobia social e isola-se, assim
como também o trauma de sofrer maus tratos, humilhação entre amigos, leva-
os a não querer frequentar a escola, chamado fobia escolar, choram, fingem que
estão doentes, revoltam-se. Para os bullies - vítimas, os efeitos que podem
aparecer são, agressores distantes de grupos, inibição e distanciamento nas
atividades pedagógicas em sala, prazer em cometer violência, sentem donos de
si mesmos, ditadores, hábeis em desenvolver estratégias para subordinar,
prepotentes, egoístas e frios. Atingem tanto fisicamente como psicologicamente
com palavras persuasivas, palavrões, perversidades, discriminação.
45

O fenômeno bullying estimula a delinquência e induz a outras formas


de violência explícita, produzindo em larga escala cidadãos
estressados, deprimidos, com baixa autoestima, capacidade de auto
aceitação, além de propiciar o desenvolvimento de sintomatologias de
stress doenças psicológicas de transtorno mentais e psicopatológicos
graves. (FANTE, 2005, p.09)

Como se pode apurar, os efeitos da ação do bullying podem trazer


consequências para a vida inteira, provocando doenças não apenas físicas,
todavia psicológicas, onde ocorre o maior risco do indivíduo cometer um
bullicídio, pois mexe com toda estrutura, evitando com que o indivíduo use suas
armas de defesa. Podendo causar também baixa estima, desinteresse, falta de
concentração, empatia em conviver em grupo, isolamento e fobia escolar.
Grandes são as lutas dessas vítimas para se libertarem dos agressores, tendo
em vista que afetam principalmente aqueles que se sentem ameaçados por tal
ato, os quais serão presas fáceis para subordinação.
De acordo com Silva (2010, p.25) “a prática do bullying agrava o
problema preexistente, assim como pode abrir quadros graves de transtorno
psíquicos/ e ou comportamentais que, muitas vezes, trazem prejuízos
irreversíveis”. Ou seja, problemas que existiam, porém pelo fato de as ações
serem ainda repetitivas, leva a outros sintomas. Os problemas psicossomáticos,
transtorno de pânico, depressão, anorexia/bulimia, fobia escolar, fobia social,
ansiedade generalizada, esquizofrenia e homicídio são os efeitos originados das
subordinações sofridas pelo agressor, causando graves transtornos, bem como
dores de cabeça, cansaço, insônia, medo, ansiedade, repetência por falta,
problemas na aprendizagem, afastamento do meio social por sensação de estar
sendo avaliado injustamente, insegurança pertinente, tristeza profunda ao ponto
de sentir um vazio na alma, alimentação excessiva e alimentação insuficiente,
alucinações, vontade de suicidar-se, tudo provocado por um ato repetitivo e
intencional do agressor.
A sociedade é o espaço em que recebe o fruto da aprendizagem do
indivíduo que foi adquirido na trajetória de vida. A probabilidade das violências
desencadearem é tamanha, onde podem aparecer as ações do bullying e as
causas que geram as atitudes desumanas, que estão estampadas nas condutas
que o indivíduo deixa transparecer. Chalita (2008, p.221-222) destaca que
“aquilo que se aprende em casa e na escola se expande para a sociedade,
cresce e se transforma”. A vida é uma teia de aprendizagem, tudo que o indivíduo
46

aprendeu transfigura nas atitudes que comete no meio social que está inserido,
visto que são frutos da sua caminhada. Pois se no seio familiar ocorrem marcas
do bullying, sofrimentos repetitivos, e na escola continuarem as ofensas,
certamente a sociedade receberá os frutos dessa aprendizagem o que torna um
perigo para esta, uma vez que podem ser bons ou não.
Nesse contexto, as causas que podem surgir são devido às
ignorâncias, críticas, desvalorização das ideias impostas, exclusão do grupo de
trabalho ou até mesmo quando dentro dos setores há a lei dos mais eficientes e
eficazes, acabam agindo dessa forma adquirindo consequências profundas que
na visão, de Moreira (2010, p.139.) são, “sensação de incompetência,
desmotivação, baixa estima, culpa, estresse, transtorno bipolar, transtorno
compulsivo obsessivo, depressão, homeopatia, perda de identidade profissional,
morte por doença”, ou seja, pelo fato das agressões repetitivas, sobrevêm todos
esses sintomas que para serem restaurados é necessário a ajuda de pedagogos,
psicólogos, psicopedagogos e se precisar demais profissionais que entendam
do caso e possam ajudar os indivíduos a superar os traumas.
No entanto, existe a necessidade de trabalhar nas escolas
metodologias voltadas para a prevenção do bullying, que sirvam de subsídios
para evitar que as consequências não se alastrem e nem apareçam mais
adiante. Portanto, é preciso que se questionem os princípios da educação que
recebeu.
[...]. Os pais de alguma forma contribuem para a descoberta da razão
de existir. É numa estrutura familiar sólida que a criança e o
adolescente vão suprir suas necessidades de amor, de valorização, de
limites e de coerência. Valores que contribuem para o desenvolvimento
de habilidades de autodefesa e autoafirmação. (CHALITA, 2008,
p.165).

Entende-se que, em razão dos pais serem as primeiras pessoas a


manter contato com os filhos, ensinando os primeiros passos e orientando-os
quanto às condutas legais, são responsáveis em grande parcela para o indivíduo
construir, a partir dos ensinamentos recebidos, suas concepções, valores, e
afetividade, sendo fatores que ajudam o indivíduo a confiar em si e enfrentar
obstáculos que a vida oferece, também servem de subsídio para defender seu
ponto de vista acerca de uma situação polêmica.
47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo teve como ponto de partida a problemática de que o


bullying constitui uma prática cada vez mais comum na escola, no entanto, ainda
são consideradas poucas as iniciativas pedagógicas voltadas para intervenção
e prevenção desse fenômeno.
Nesta perspectiva, o estudo do bullying das bases conceituais e
históricas, bem como as causas e os efeitos no âmbito familiar e educacional foi
significante para aprofundarmos o entendimento dos danos físicos e psicológicos
que este fenômeno provoca no indivíduo, e da necessidade de adotar-se
estratégias pedagógicas para assegurar uma aprendizagem voltada para o
saber conviver.
Iniciou-se esta pesquisa, evidenciando a questão do bullying no meio
escolar, como uma violência cotidiana que aparece no desrespeito ao outro e
isso é acompanhado da atribuição de estereótipos ou apelidos. Posteriormente,
focamos a sala de aula como um espaço que se organiza em torno de regras e
disciplinas e sobre as condições de trabalho do professor no combate às práticas
de bullying no âmbito escolar, aqui abordado com veemência. Aprofundando
ainda, sobre o significado dessa manifestação e da indisciplina que se torna cada
vez mais frequente entre os jovens os quais são reflexos dos problemas que
acontecem no seio da sociedade, principalmente na família, pois muitos jovens
autores e vítimas advêm de famílias desestruturadas, se considerarmos que a
família é a base da sociedade humana.
De fato, discutiu-se também, pela necessidade de uma mudança de
paradigmas. Assim, exploramos a importância de exercer um enfrentamento
dessa problemática segundo uma perspectiva de gestão escolar que seja capaz
de ampliar não somente o quadro dos recursos práticos a favor dos educadores,
mas, sobretudo de transformar culturas institucionais.
Aprendeu-se que o bullying no contexto escolar é uma situação que
se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira
repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. Nessa perspectiva
constatamos a necessidade de se trabalhar com a comunidade, a família, e
escola de forma sintonizada, unir forças, acreditando na possibilidade de
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oferecer a todos os alunos, a oportunidade de desenvolverem as suas


potencialidades de maneira tranquila e saudável, para o bem de todos.
Com esta pesquisa foi possível compreender também que a violência
escolar não é um fenômeno recente, porém, o contexto do alto índice da
violência em algumas pesquisas realizadas sobre o tema, ainda se faz
necessário a visualização com mais intensidade sobre os problemas que a
violência escolar causa na sociedade.
Dentre alguns fatores que ajudam na disseminação da violência,
tomamos dois para comentar um pouco: a discriminação e o bullying. um dos
fenômenos mais preocupantes de violência nas escolas.
O bullying, segundo Fante (2005), é um conceito específico e muito
bem definido, uma vez que não se deixa confundir com outras formas de
violência. Isso se justifica pelo fato de apresentar características próprias, dentre
elas, talvez a mais grave, seja a propriedade de causar “traumas” ao psiquismo
de suas vítimas e envolvidos. Possui ainda a propriedade de ser reconhecido em
vários outros contextos, além do escolar: nas famílias, nas forças armadas, nos
locais de trabalho (denominado de assédio moral), nos asilos de idosos, nas
prisões, nos condomínios residenciais, enfim, onde existem relações
interpessoais.
Enfim, pretende-se que este trabalho seja um legado para a
experiência de pesquisadores e como motivação para outros estudiosos da
temática em questão. Com a percepção e a certeza de que o bullying nas escolas
independe de classe social, cor, sexo ou religião. Nesse contexto, é necessário
que os pais, educadores e todos os profissionais responsáveis pela formação
das crianças e jovens, bem como o município estejam preparados para lidar com
os conflitos e atuarem em conjunto para minimizá-los, cada um cumprindo com
responsabilidade seu papel.
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