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Sabrina Jeffries

Quando Faíscas Voam

#4.5 – Série Escolas de Senhoritas


Sinopse
Quando uma intrépida herdeira se vê longe de
casa, para as celebrações de Natal – e ainda por
cima, na mansão de um barão moreno e atraente.

Elinor Bancroft, simples e estudiosa, está


viajando com a sua tia e jovens primas para passar as
celebrações de Natal com o seu pai, quando um
acidente de carruagem deixa o grupo encalhado na
remota mansão de Lorde Martin Thorne.
Também conhecido como "o Barão Negro", ele
não tem paciência para inválidos ou herdeiras
mimadas e as crianças, geralmente, têm pavor dele.
Mas ele lhes dá refúgio durante a tempestade de
neve, e para manter as crianças fora do seu caminho,
Elinor as ajuda a transformar a vazia mansão, num
refúgio de férias para o Natal.
Lorde Thorne, não está muito feliz em receber
quatro crianças e duas mulheres, na sua época do
ano menos favorita. “Mas faíscas voam sempre que
ele e Elinor estão juntos, e, rapidamente, percebem
que o Natal assume um novo brilho quando você o
compartilha com quem ama."

Para Susan Huggett Williams, por tudo que você fez. e Úrsula
Vernon, a filha que nunca tive — isso é o mais perto que posso
chegar para explodir carruagens.
Capítulo Um
Cara Charlotte,
A escola deve ser um lugar vazio quando seus alunos forem para
a temporada de Natal. Espero que você tenha amigos por perto que
possam cuidar de você. Uma mulher sozinha nunca está totalmente
segura.

Seu preocupado primo,


Michael

Yorkshire
Dezembro de 1823

Não haverá mais casamento. Esse seria o presente de Natal que


Elinor Bancroft queria para si este ano.
Ignorando as palhaçadas de seus primos e amigo, enquanto a
carruagem Bancroft era lançada em direção a Sheffield para o feriado,
Ellie deu um sincero e entediado suspiro. Ela preferia ser uma
solteirona em Sheffield, do que suportar mais uma temporada
humilhante em Londres. Apenas o pensamento de ser lançada
novamente, em apenas três meses, para o redemoinho social fazia
seu estômago revirar.
Agora tudo o que ela tinha que fazer era convencer tia Alys e
Papa a desistir de quererem casá-la. Ela franziu a testa. Isso era
improvável.
— O ganso de Natal na casa do tio Joseph é o melhor — disse
Percy Metcalf de onze anos de idade a seu calmo colega de escola,
Charlie Dickens, que viera com eles para o feriado — Ele comprou o
maior da cidade.
— Haverá pudim de ameixa? — perguntou Meg Metcalf de cinco
anos de idade, com o polegar preso em sua boca. — Eu gosto de
pudim de ameixa.
— Eu espero que nós possamos brincar de snapdragon — disse
Timothy Metcalf, de oito anos.
— Eu gostaria que pudéssemos — disse Ellie. — , mas duvido
que Papa vá permitir isso. Ele dirá que pegar passas de uma tigela
quente de conhaque é muito perigoso.
— Mas snapdragon é uma tradição de Natal! — Percy protestou.
— Se Mama nos permite fazer, por que o tio Joseph tem que nos
proibir? — disse Tim fazendo beicinho — Pare o carro, e vamos pedir
que ela o convença. De qualquer maneira, eu quero viajar com ela,
pois Percy continua ocupando todo o assento.
— Se você já não a tivesse deixado louca esta manhã — Ellie
respondeu — , você poderia estar viajando com ela agora. Deixe-a
cochilar sozinha, e quando chegarmos à próxima cidade, eu tenho
certeza que ela ficará feliz em ter você e Meg de volta em sua
carruagem.
Fizeram a viagem em um navio de Londres até Hall, ao
chegarem encontraram um dos cocheiros de seu pai esperando para
levá-los de carruagem até Sheffield. Os negócios o haviam chamado
para Lancashire, mas ele prometera estar de volta antes do Natal.
Infelizmente a carruagem do pai, não era suficientemente grande
para todos eles, apesar da babá das crianças ficar em Londres, pois
tinha muita febre, ainda assim, eles tiveram que contratar uma
carroça apenas para suas bagagens.
— Podemos cantar canções de Natal? — Meg perguntou.
— Se você quiser — disse Ellie. — Que tal O amanhecer no dia
de Natal?
— Vamos cantar Uma noite divertida com uma tigela de wassail
— disse Tim. Hoje, ele parecia ter apenas tigelas na mente.
— Esta é muito grande — Percy protestou. — Eu quero O
Azevinho e a hera.
— Você escolheu essa ontem, hoje eu deveria escolher a canção
- Tim reclamou, empurrando o cotovelo para o lado de Percy.
Percy reagiu empurrando Tim, que empurrou Charlie, que disse:
— Parem com isso, seus bobos! — E empurrou os dois. Em
poucos segundos, os garotos estavam brigando. De novo.
— Basta! — Ellie protestou, inclinando-se para frente para
separá-los. — Parem com essa besteira!
A próxima coisa que ela sentiu foi uma pontada no seio, foi
Percy que acidentalmente cutucou seu seio com o cotovelo.
— Ai! — Ellie gritou, e recuou.
Meg que adorava sua prima, de dezenove anos, com um amor
que só tinha pelos gatinhos e gotas de limão, se lançou na briga.
— Você a machucou! Você não pode machucar minha Ellie!
Ela então começou imediatamente a arder em lágrimas, o que
parou momentaneamente a briga, já que os meninos mimavam Meg
como se ela fosse uma princesa de contos de fada.
— Não, não chore. — Percy desajeitadamente deu um tapinha
no ombro dela para confortá-la.
— Saia! — Meg protestou, empurrando a mão dele. — Você foi
malvado com a Ellie!
Mordendo de volta um sorriso pela defesa feroz de Meg, Ellie
pegou-a no colo.
— Está tudo bem, boneca — Ela acariciou os perfumados cachos
louros da menina. — Estou bem, de verdade. Ninguém me machucou.
— Ela franziu o cenho para Percy sobre a cabeça de Meg. — Não
muito, de qualquer maneira.
Percy estendeu o queixo com covinhas.
— Eu não quis bater no seu... Você sabe onde.
— No seio? — Tim forneceu ajuda.
— Tim! — Ellie repreendeu. — Você não deveria usar essa
linguagem vulgar!
— Essa linguagem vulgar — ele repetiu em um tom meticuloso,
empinando o nariz no ar para imitá-la e bufou em desgosto. — Você
tem se tornado mais formal e chata ultimamente. Você era mais
divertida antes de ir para aquela escola.
— Ela está tentando conseguir um marido, seu grosso — disse
Percy. — Isso é o que eles ensinam na Escola de herdeiras.
Ellie olhou para Percy.
— Não o chame assim. Além disso, eles me ensinaram etiqueta e
literatura e também ciência. Não era só sobre a captura de um
marido, você sabe.
Mas realmente era, e ela estava destinada ao fracasso. Ela não
era uma beleza, como sua amiga Lucy Seton ou a Sra. Harris,
proprietária da escola para Senhoritas, onde Ellie e Lucy tinham
permanecido até sua saída. Ellie era simples e um pouco gorda. Seu
cabelo preto e liso, era tão escorrido que desafiava qualquer tentativa
de enrolá-lo, por isso ela tinha que usá-lo trançado em uma coroa no
alto da cabeça.
Lucy elogiava seus olhos verdes, mas estes lhe eram de pouca
ajuda, pois ficavam escondidos pelos óculos que era obrigada usar.
Ela tentara deixar os óculos de lado, apenas para descobrir que se
tornava difícil fazer qualquer coisa sem eles.
De acordo com Thomas Nashe, seu poeta favorito a beleza é
como Uma flor que rugas devorarão, ainda assim ela gostaria de ser
uma flor ao menos por um tempo.
E o que um homem sabe sobre isso, de qualquer maneira?
Nashe não tinha ideia de como era viver com a falta de qualquer um
dos atributos físicos que atraiam um marido.
— Para que você precisa de um marido? — Charlie perguntou.
Ele não era muito falante, mas era bastante doce. — Você nos trouxe
para cuidar de você.
— Sim, Ellie — disse Tim. — Eu vou casar com você.
Arqueando uma das sobrancelhas, ela limpou os óculos.
— Eu pensei que você tinha dito que as meninas eram estúpidas.
— Mas você não é uma menina. Você é a Ellie — O rosto de Tim
se iluminou. — Pense como seria divertido. Poderíamos subir nas
árvores, pescar e passear com os cães de caça.
Uma imagem dela em pé no altar ao lado de Tim com os cabelos
claros, e dele segurando uma vara de pesca com atenção, trouxe um
sorriso aos seus lábios.
— Claro, você teria que usar algo mais resistente do que aquela
coisa boba. — Tim apontou para seu vestido comprido de senhora.
— Boba não é uma palavra muito legal — ela atirou de volta. — ,
e eu gosto deste vestido — ele era o único que a fazia parecer quase
bonita.
— Você não pode limpar um peixe com ele, você sabe —
comentou Tim.
— Não tenho a intenção de limpar peixe nunca, nem mesmo
para você. Além disso, do que viveríamos enquanto estamos
ocupados pescando?
— Você tem uma fortuna, não é? — Tim disse com a sinceridade
de uma criança. — Nós vamos viver com isso.
Seu sorriso vacilou, e ela colocou os óculos para esconder as
lágrimas repentinas. Mesmo Tim sabia que seu maior trunfo era sua
fortuna. Pelo menos ele era honesto sobre isso, o que era mais do
que ela poderia dizer da maioria dos Senhores. Felizmente, ela podia
reconhecer um caça dotes a dez passos, graças à sua formação na
escola, para não mencionar a informação oferecida por meio de cartas
do benfeitor anônimo da escola, o "Primo Michael". E caçadores de
fortuna eram tudo que ela sempre atraiu.
Como a herdeira mais rica no norte da Inglaterra, Ellie era a
mulher mais elegível para um casamento vantajoso e o menos
desejado.
Quão ingênua ela tinha sido antes de sair, sonhando em casar
com um sujeito selvagem e poético como Lorde Byron, mas é claro,
sem suas vexatórias falhas de caráter. Em vez disso, houve um desfile
constante de homens que não só não tinham poesia em suas almas,
mas possuíam uma falha que não podia tolerar – a ganância. Eles
olharam para ela como se ela fosse uma vaca trazida ao mercado.
Eles também a fizeram se sentir como uma.
Ela teve o suficiente. Uma vez que estivesse em casa com seu
papai, agindo como sua anfitriã, ela iria ficar. Para sempre. Sua tia e
seus primos retornariam a Londres sem ela.
— Você é muito jovem para Ellie — Percy disse a seu irmão mais
novo com um ar de superioridade. — Ellie poderia casar comigo, só
que eu não quero casar. Charlie e eu queremos ser soldados, e ela só
iria ficar no caminho.
Tia Alys nunca iria deixá-lo ir para a guerra. Apesar de seu
temperamento doce e sua tenra idade de trinta e dois anos, sua mãe
tinha uma vontade de aço, e seus filhos eram sua vida. Então Ellie,
era a amada filha da única irmã de tia Alys. Fora tia Alys quem tinha
insistido que Papa a matriculasse na escola da Sra. Harris. Depois que
Mama morreu, tia Alys tinha patrocinado Ellie durante sua ida. Tinha
certeza de que Ellie iria encontrar o marido perfeito a tempo, sendo
assim ela não aprovaria o plano de Ellie de desistir de casamento.
Mas Ellie estava se preparando para isso. Ela havia treinado com
Lucy, para aprender a falar o que pensava e manter a sua
determinação. Ela nunca teve problemas em ser firme com as
crianças, ela só tinha de aprender a fazê-lo com... crianças muito
maiores.
Pensar nas crianças a fez suspirar. Essa era uma desvantagem
de seu plano — ela nunca teria para si, uma doce Meg ou um
inteligente Percy.
Ela segurou Meg mais perto.
Esqueça isso.
Ela tinha seus primos e, eventualmente, teria os filhos destes.
Era melhor do que ficar presa em um matrimônio com um homem
que tomaria uma amante porque a única atração de sua esposa era o
seu dinheiro.
— Você já olhou para fora, Ellie? — Percy estava observando
pela janela, com uma profunda preocupação em seu rosto
rechonchudo. — Está nevando.
— O quê? — Ela puxou a cortina mais próxima, desanimada por
encontrar as árvores pingando com pingentes de gelo. Agora, eles
não teriam nenhuma chance de chegar em Sheffield ao anoitecer.
Ela ouviu Jarvis, o cocheiro de Papa, gritar algo para o lacaio
sobre a carroça contratada à frente deles. Ela se esforçou para ver o
que estava acontecendo, mas eles estavam fazendo uma curva perto
do bosque, e do ângulo que ela estava não dava para ver.
De repente, soou um grito de algum lugar na estrada, e sua
própria carruagem derrapou. Meg foi lançada para o de colo de Ellie, e
os meninos foram jogados como se fossem palitos de fósforo.
— Condenação! — Jarvis parou bruscamente o coche e desceu.
Depois de prender os cavalos, ele se arrastou pela grama coberta de
gelo, usando a bengala para se equilibrar.
— Fiquem aqui — Ellie ordenou as crianças, em seguida, deixou
o coche para segui-lo.
Lá fora, ela viu que ele estava indo para a ponte. O granizo
rapidamente revestiu seus óculos, forçando-a a dobrá-los e guardá-los
no bolso do seu vestido. Agora ela mal podia ver, embora Jarvis
parecia ter desaparecido no aterro ao lado da ponte.
Um pressentimento repentino tomou conta dela enquanto corria
atrás dele para espiar. Jarvis desceu a encosta, e muito perto das
águas correntes do rio jazia a carruagem, encostada a um carvalho
espesso.
— Tia Alys — Ellie gritou.
— Afaste-se, Senhorita — Jarvis ordenou. — Eu não quero que
você caia no rio.
E quanto ao Jarvis? Sua perna ruim tornaria difícil para ele
conseguir, especialmente agora que a neve se misturava com o gelo
formando uma crosta traiçoeira no chão. O lacaio estava com as mãos
cheias, ocupado lidando com os cavalos.
Jarvis chamou por sua tia, mas não houve resposta, e o pânico
tomou conta de Ellie.
— O que está acontecendo? — perguntou Percy atrás dela.
Ela se virou e encontrou os três meninos saindo da carruagem e
Meg olhando para fora da janela.
— Fiquem aí, rapazes.
— Onde está a mamãe? — Tim perguntou em tom de queixa.
Seu coração torceu ao vê-los lá, todos de olhos azuis e loiros,
exceto Charlie Dickens que era mais escuro. Eles pareciam tão
pequenos e desamparados - o esbelto Tim puxando seus calções
amassados, Percy mais forte, empurrando seus cachos para trás com
impaciência, e seu calmo amigo Charlie, pisando no instável granizo.
Ela deveria dizer-lhes a verdade? Não, eles não deveriam ficar
perto do rio, e eles certamente ficariam se imaginassem que sua mãe
estava em perigo.
Ela marchou ao encontro deles, colocando um sorriso
tranquilizador em seu rosto.
— Jarvis foi se aliviar, isso é tudo. Voltem para a carruagem.
— Estou cansado da carruagem — Percy lamentou. — Eu quero
ir com Jarvis.
— Você não pode!
Ele olhou-a desconfiado.
Desesperada para distraí-lo e aos outros, ela disse:
— Não íamos cantar? Vamos lá, vamos cantar 'The Holly e Ivy' e
'The Jolly Wassail Bowl'. Meg gostará disso — Tentando enviá-los para
o transporte, ela começou a cantar: ‘O azevinho e a hera, quando
ambos estão crescendo cheio’... até que os outros se juntaram.
Dentro de instantes as crianças entraram no espírito da coisa,
mas ela não parava de olhar para trás, perguntando-se se Jarvis
estava bem, ou se ela deveria escapar para ajudar.
Então, uma voz soou a partir da estrada.
— Pelo amor de Deus, por que todo esse cantar de galo?
Imediatamente pararam de cantar. Aliviada que tinha chegado
ajuda, Ellie se virou, pronta para receber e cumprimentar seu
salvador.
Porém a imagem a sua frente turvou sua visão e o medo a
emudeceu. Uma criatura com mais de seis pés de altura estava
sentado em cima de um enorme cavalo, apenas o vermelho dos olhos
quebrava o negro, mas não aliviava o impacto de sua figura. Por um
segundo, ela se lembrou dos contos de papai sobre animais estranhos
vagando pelas florestas perto de Sheffield.
Então ela apertou os olhos e percebeu que a criatura era um
homem. Ele usava um capote escuro, e seu chapéu de castor,
revestido de gelo, estava posto no topo de cachos negros rebeldes.
Seu rosto estava coberto por manchas pretas criadas pelo que parecia
ser fuligem. E ele cheirava a cinzas.
Um mineiro? Tinha que ser. Quem mais poderia viajar pelas
estradas assim?
Ela se aproximou para falar com ele, mas Percy agarrou seu
braço.
— Cuidado, Ellie. Qualquer sujeito que não gosta de músicas
natalinas tem que ser um canalha.
O homem trotou seu cavalo mais perto.
— Qualquer sujeito que impõe sua passagem é claramente uma
dor real na...
— Senhor! — ela gritou, cobrindo as orelhas do seu primo contra
o palavrão qualquer que o homem poderia vomitar com seu sotaque
de Yorkshire. — Há crianças aqui!
— Sim, e eu nunca vi um lugar pior para deixá-los correr. Seria
melhor pegar seu caminho de volta, senhora, antes que o gelo torne
impossível a viagem — Com um estalar de sua língua, colocou seu
cavalo em marcha.
— Espere senhor, por favor! — ela pediu angustiada.
Ele soltou um impropério de péssimo gosto, e por um momento
ela considerou se seria sábio envolver-se com esse sujeito mal-
educado, que poderia ser um ladrão ou coisa pior. Mas Jarvis nunca
conseguiria salvar tia Alys sem ajuda, e o mineiro parecia ter
músculos, suficientemente fortes para gerir a situação. Ela não ousou
desafiar seu salvador.
— Houve um acidente — disse rapidamente. — , a carruagem de
minha tia saiu da estrada.
— Onde? — ele gritou antes que ela pudesse terminar de dizer
as palavras.
Atingida por seu modo rude, ela apontou para o aterro. Ele
desmontou e correu para o rio.
— É necessário que a Senhorita mantenha esses pirralhos fora
do meu caminho.
Embora surpresa com as palavras duras, ela entrou em ação.
— Venham, crianças — ela disse, conduzindo-os para o lacaio.
Pálido, Percy bloqueou seu caminho.
— Mama está ferida?
— Eu não tenho certeza — ela admitiu. — , Jarvis ainda está
tentando alcançar a carruagem.
— Então eu tenho que ir ajudar! — Percy exclamou, passando
por ela.
Ela agarrou seu braço.
— Vamos deixar Jarvis e o estranho lidarem com isso.
— Mas nós nem sequer sabemos se podemos confiar naquele
sujeito!
— Vai ficar tudo bem, não se preocupe. Se ele quisesse nos
fazer mal, certamente ele já teria tentado.
Sua perversa grosseria a reconfortava, especialmente depois de
passar meses na sociedade, onde os homens menos confiáveis eram
sempre os mais charmosos.
Quando Percy ainda hesitou, ela acrescentou:
— Temos que preparar um lugar na carruagem para sua mãe.
Ela vai precisar de cobertores e almofadas, no caso dela ter se
machucado.
Aquilo fez com que os meninos corressem para transformar um
dos assentos em uma cama confortável, enquanto isso, Meg estava
encolhida em um canto, chupando o dedo e chorando baixinho.
— Está tudo bem, Meg — Percy disse a ela, enquanto ajeitava
uma almofada. — , assim que Mama estiver aqui, vamos para uma
pousada e conseguiremos chocolate, não vamos, Ellie?
— Certamente. — Dar aos meninos algo que fazer tinha sido a
abordagem correta.
— Aquele homem nos chamou de pirralhos — Tim reclamou
enquanto espalhava um cobertor. — Ele ainda não conhece a gente!
— Tenho certeza que se ele conhecesse, ele não iria chamá-lo
disso — Ellie disse suavemente enquanto saía para procurar a garrafa
de uísque de Jarvis. Tia Alys poderia precisar.
Ao ouvir um barulho, ela olhou na direção do aterro e viu o
estranho trazendo tia Alys. O lacaio e Jarvis vinham logo atrás,
conduzindo os cavalos da carruagem.
— E a minha tia está bem? — Ellie perguntou, com o coração
apertado.
— Ela está viva — respondeu o homem. — , mas inconsciente.
Eu acho que a perna está quebrada, e ela bateu a cabeça. Ela precisa,
imediatamente, de um médico.
Ellie correu para abrir a porta da carruagem.
— Existe uma cidade próxima?
O homem se inclinou para dentro e colocou tia Alys sobre o
banco com uma delicadeza estranha num homem tão rude. Então, ele
olhou para ela com uma carranca.
— Como eu disse a seu cocheiro, mesmo que você pudesse
dirigir além da ponte pela colina gelada, você não encontraria um
médico, até que chegasse em Hensley, que está a uma distância de
oito milhas. Minha casa fica nas proximidades, você pode ficar por um
tempo. E mando alguém buscar um médico.
— Oh, minha nossa, eu não sei — Ellie murmurou. Será que este
homem poderia acomodar sete pessoas a mais em sua casa de
campo, e também fornecer alimentos e roupas de cama para as
crianças? Eles poderiam ficar presos por dias. — Talvez você deva
consultar sua esposa em primeiro lugar.
— Eu não tenho esposa. E você tem pouca escolha.
Se eles seguissem para a próxima cidade poderiam comprar o
que precisavam, mas ele parecia tão certo de que isso fosse
impossível.
— Ele está certo, Senhorita — disse Jarvis. — , nesse momento,
ir além desta ponte, não é recomendável. E a estrada de volta para a
última cidade com certeza deve estar bem ruim.
Eles olharam para ela aguardando uma decisão. Parecia
estranho estar no comando, pois geralmente tia Alys era quem decidia
tudo. Mas Ellie confiava em Jarvis, embora não confiasse inteiramente
no estranho com fuligem.
— Acho que não temos escolha.
Enquanto os homens discutiram a melhor forma de virar a
carruagem, ela percebeu que ela e as crianças precisavam de alguns
itens que estavam na carroça abandonada. Ela só precisava correr até
o rio para buscar algumas roupas e outros itens. Ela poderia até
mesmo arrastar a...
— Onde diabos você está indo? — o estranho falou quando ela
caminhou em direção à carroça.
— Estou indo buscar algumas coisas que precisaremos para
vestir.
— Deixe para lá — Ele veio atrás dela. — Não temos tempo para
essas tolices.
— Mas há coisas que precisamos — ela protestou.
Agarrando-a pelo braço, ele começou a puxá-la de volta para a
carruagem.
— Nada vale a pena o risco de afogamento no rio, Srta.
Bancroft.
— Não seja bobo — Inutilmente ela lutou contra o abraço de
ferro. — Eu não estou prestes a… espera, como é que você sabe o
meu nome?
— Seu cocheiro me disse que você é a filha de Joseph Bancroft.
— Sem cerimônia, ele abriu a porta da carruagem e colocou-a para
dentro. — Agora fique quieta. Eu já tenho o suficiente com que me
preocupar, sem arriscar à ira de seu pai rico, depois que souber que
você quebrou seu pescoço tolo para resgatar seus vestidos
extravagantes.
— Mas não era isso o que eu queria...
Ele bateu a porta e saiu.
Tomada completamente de surpresa, piscando, ela se sentou no
chão da carruagem onde ele a colocou. Bem! Ele não era um caipira
grosseiro? Se ele não tivesse resgatado tia Alys, ela bateria com um
taco em sua cabeça!
E como é que até mesmo aquele estranho sabia que ela tinha
dinheiro?
Com um sorriso de desculpas, Jarvis se aproximou pela janela e
disse:
— Tenho certeza que milorde, ficará feliz em enviar alguém para
resgatar os baús mais tarde, Senhorita.
— Milorde? — Poderia o sujeito sujo e mal-educado, ser um
cavalheiro?
Jarvis inclinou mais perto do vidro.
— Ele é o Barão Thorncliff, Senhorita, mas não se preocupe com
o Barão Negro, isso é só um absurdo que as pessoas inventaram
sobre ele.
O Barão Negro? Ah, por causa de seu hábito peculiar de andar
coberto de fuligem. Ela estremeceu ao pensar como poderia ser então
a casa dele. E ela também estava muito curiosa para saber o que as
pessoas diziam sobre ele.
Antes que ela pudesse perguntar, Jarvis saiu apressado, e a
atenção de Ellie foi desviada pelo gemido de tia Alys. Ellie a olhou e
sentiu seu o pulso. Parecia forte, e ela estava respirando de forma
constante.
— Ellie? — sua tia sussurrou.
O alívio a inundou.
— Sim, eu estou bem aqui.
Tia Alys tentou sentar-se, em seguida, afundou-se com um
gemido. — Minha cabeça dói.
— Eu sei tia. — Ela afastou o cabelo castanho claro, da testa
pálida de sua tia. — Você sofreu um acidente.
Os olhos azuis de tia Alys se abriram, embora eles parecessem
fora de foco.
— As crianças...
— Eles estão aqui e ilesos. Nós estamos levando a senhora para
ver um médico. — Nesse momento, ela não queria perturbar sua tia
com muitas explicações. — Você precisa descansar.
Com um aceno de cabeça, sua tia fechou os olhos.
— Ellie, mama vai ficar bem? — Meg perguntou levantando-se
do colo de Percy.
— Certamente — disse Ellie com toda convicção que conseguiu
reunir.
Desejando poder fazer mais, Ellie arrumou sua tia mais
comodamente no assento, tomando cuidado para não mexer na perna
quebrada que estava encostada na almofada que lorde Thorncliff
usara para sustentá-la. Depois de dobrar o cobertor em volta dela,
Ellie não sabia mais o que fazer, a não ser rezar para que lorde
Thorncliff fosse confiável e que ele pudesse trazer rapidamente um
médico para sua casa.
Enquanto Jarvis e seu salvador se esforçavam para virar a
carruagem, ela pegou os óculos para que pudesse olhar para fora da
janela. O estranho montado no cavalo parecia ser bastante fino, e ele
se portava com uma aparência de educação. Se não fosse por seu
exterior de cheio de fuligem, ela poderia acreditar que ele era um
lorde.
Um professor lhes dissera uma vez que os homens eram bestas,
cavalheiros ou feras disfarçadas de cavalheiros. Poderia haver uma
quarta categoria - cavalheiros disfarçados de feras? Afinal de contas,
Lorde Thorncliff os resgatara, ainda que a contra gosto. Certamente
isso significava que em algum lugar, lá no fundo, ele era um
cavalheiro.
Muito no fundo, a julgar por seu temperamento ranzinza. Ainda
assim, talvez ele se comportasse dessa maneira para que as pessoas
em sua volta se colocassem na defensiva com ele.
Bem, ela não pôde evitar que sua família o incomodasse, mas
não poderia deixá-lo dando ordens sem prestar atenção nas opiniões
dela. Ela tinha que pensar nas crianças e em tia Alys. Alguém tinha
que enfrentá-lo, e esse alguém teria que ser ela.
Só tinha que manter a calma e deixar claro que ele não poderia
continuar a intimidá-la. E rezar para que Shakespeare estivesse certo
sobre não haver “feras tão ferozes, que não reconhecessem algum
toque de piedade”. Porque, se não houvesse um verdadeiro cavalheiro
à espreita dentro daquele exterior áspero, eles poderiam estar
buscando problemas.
Capítulo Dois
Querido primo,
Não me importo de estar sozinha. Nosso zelador vive em uma
casa de campo nas terras, e meu vizinho fica nas proximidades.
Quando as meninas estão longe, ele me convida, para se certificar de
que estou bem. Então você não precisa se preocupar com a minha
segurança.

Sua amiga e parenta,


Charlotte

Martin Thorncliff resmungou para si mesmo enquanto encurvava


os ombros contra a neve. Deixou o cocheiro de Bancroft acompanhá-
lo da melhor maneira que pôde, porém deixou seu cavalo escolher
sua rota de volta a Thorncliff Hall. Ele já estava tendo um dia ruim. Os
novos fusíveis que ele inventara haviam queimado rápido demais
quando ele os testara na mina de carvão. Então, a caminho de casa, o
granizo tinha começado cair. E agora isso.
Dezembro já era bastante difícil para ele sem intrusos para
resgatar perto de sua terra. Imagine com intrusos ricos. Com crianças
cantando músicas natalinas, e todas essas coisas infernais.
O que Joseph Bancroft estava pensando, para deixar sua família
viajar tão escassamente protegida? O homem possuía Yorkshire
Silver, a maior empresa de mineração de prata na Inglaterra. Ele
deveria ser mais sensato, do que contar apenas com um cocheiro
envelhecido e alguns lacaios inúteis. Se essas mulheres e crianças
fossem de Martin, ele os protegeria melhor.
Ele deixou escapar um bufo. Certo. A maneira como ele tinha
protegido Rupert... Depois do que tinha acontecido a seu irmão mais
velho, nenhuma mulher com bom senso se colocaria
permanentemente sob a proteção do perigoso Barão Negro.
O apelido desagradável que a sociedade lhe dera, o fez
estremecer. De qualquer maneira ele não precisava de uma esposa,
mexendo em suas experiências e dando-lhe algo mais para se
preocupar. Embora ocasionalmente, ele desejasse...
Ridículo. Sua vida era tão boa quanto ele merecia. Era seu
irmão, que tinha sido o senhor jovial da mansão, que tinha
conversado com desenvoltura seja com inquilinos ou duques, que
tinha percorrido a propriedade com eficiência, atraindo cada menina
bonita deste lado de Londres.
Martin só conseguia explodir coisas.
E agora ele tinha convidados, que Deus o ajudasse. No salão de
Thorncliff havia lugar para uma mulher ferida e sua ninhada de
filhotes cantores. O terror se apoderou dele com o pensamento
daqueles garotos explorando o velho celeiro de pedra onde ele fazia
suas experiências.
Pelo menos ele não teria que se preocupar com sua prima. Não
era o tipo de lugar para seduzir uma herdeira elegantemente vestida.
Tudo nela gritava "moça rica e mimada," desde suas pequenas botas
e luvas caras até o jeito que ela o olhava como se visse através dele.
Em seguida, havia o vestido impraticável, embora exibisse sua figura
exuberante melhor do que um manto de lã teria feito. Provavelmente
por isso que ela o usava, era o tipo de moça que ansiava por atenção.
Elas eram criadas para exibir-se desde o início.
Bem, ela não iria conseguir nada com ele, não importa o quão
agradável fossem suas curvas e seus brilhantes olhos verdes. Ele
conhecera muitas de seu tipo, enquanto Rupert estava vivo e ainda o
forçava a frequentar a sociedade. Ele até gostara de algumas. Mas
uma vez que Rupert tinha morrido e os rumores começaram, elas se
voltaram contra ele. Ele já não se encaixava em suas noções do que
um cavalheiro deveria ser. A Srta. Bancroft, com certeza, também
seria da mesma opinião.
Pior ainda, ela não usava o bom senso. Buscar alguns itens de
seus baús, sinceramente... A moça era maluca? Ela não tinha
nenhuma ideia de como o gelo poderia ser traiçoeiro? Ela
provavelmente estava preocupada que algum meliante viesse roubar
suas joias e peles. Como se alguém ousasse sair nesse frio. Ele fez
uma careta. Suas joias podiam esperar, ele ainda tinha outras coisas
para fazer na mansão antes que a neve ficasse muito densa.
Uma vez que ele chegou à casa, conseguiu seguir em frente,
pois seu mordomo, o Sr. Huggett, já estava espalhando cascalho na
calçada gelada que cortava o muro baixo de pedra em volta da
mansão. Maldição, Martin ainda não tinha considerado como esta
situação poderia onerar sua pequena equipe.
Ele havia fechado metade dos aposentos após a morte de
Rupert, e nesses dias passava todas as horas no celeiro. É por isso
que ele aposentou todos, menos os empregados mais essenciais.
Felizmente Huggett era muito hábil. Ele saberia como lidar com esse
incidente.
— Eu trouxe algumas pessoas para casa comigo — Martin falou
logo que desmontou.
— Hóspedes? — O rosto de Huggett se transformou em
completa alegria. — Nós temos convidados?
— Está mais para visitantes indesejados — Martin rosnou. — ,
um dos veículos deles sofreu um acidente e eu não tive escolha a não
ser convidá-los para ficar.
Huggett bateu palmas.
— Excelente! Chegaram a tempo para o feriado,
também!
— Huggett... — começou em tom de aviso.
— Eu sei como você se sente em relação ao Yule, senhor, mas já
faz três anos, e agora que temos visitas, realmente precisamos
conseguir um pouco de hortaliças e talvez uma vela ou duas, sem
mencionar que podemos preparar um ganso e um pudim de ameixa...
— Huggett! — Quando ele tinha toda a atenção do mordomo,
acrescentou — Este não é o momento para as festividades. Um deles
está ferido.
— Oh, nossa — Huggett murmurou.
— Eu preciso que você envie alguém para buscar o Dr. Pritchard.
E certifique-se de que quem quer que você envie, encaixe os solados
com garras apropriadas para geada — há gelo sob a neve. — Ele
olhou para onde o cocheiro se dirigiu — Acho que vamos precisar de
mais provisões, nenhum ganso e pudim de ameixa, pelo amor de
Deus. Apenas certifique-se que tenhamos comida suficiente para as
crianças.
— Crianças! — Huggett exclamou, com o rosto iluminado
novamente. — Quantos?
— Eu não tenho certeza. Parecia um monte. E há uma mulher
jovem, também, sua prima. — Quando um sorriso iluminou o rosto de
Huggett, Martin fez uma careta: — Não tenha ideias. Ela não é o meu
tipo. Além disso, ela tomou uma antipatia imediata por mim.
— Eu não posso imaginar porque — Huggett disse secamente. —
Você sempre sorri tão lindamente para as senhoras.
Martin olhou para ele.
— Realmente, senhor — Huggett disse com ar suspeito — , você
tem que esperar que sexo mais sensível recue diante de você, quando
parece que rolou no carvão.
— Rolei no carvão? — Martin olhou para baixo e deparou
consigo coberto de fuligem. Ele correra para sair da mina e não tinha
se lavado. — Maldição!
— É melhor você refrear sua linguagem perto das crianças —
seu mordomo o repreendeu quando o cocheiro se aproximou.
Martin estava a ponto de punir seu mordomo com um chute no
traseiro quando o cocheiro parou em sua frente, a porta se abriu, e as
crianças irromperam por toda parte.
Desta vez, ele contou-as, tinha três filhotes que conversavam
como gralhas e um pequeno querubim com uma auréola de cachos
dourados. Ele só esperava que não houvesse bebês berrando
escondidos debaixo das almofadas do cocheiro.
A Srta. Bancroft foi a próxima a saltar, usando um par de óculos
muito severos para suas feições suaves. Como ela não tinha usado
antes, ele pensou que eles eram um enfeite, um desses caprichos que
às vezes possuíam as senhoras da sociedade.
Ela parou perto dele tempo suficiente para dizer:
— Minha tia acordou, mas alguém vai ter que levá-la para
dentro, então se você puder ser gentil.
— Certamente. Este é o meu mordomo, Sr. Huggett. Ele será
enviando para buscar o médico. — Em sequência, Huggett correu
como um noivo esperando para dar a instruções, mas como Martin
dirigiu-se para o cocheiro, ele ouviu a Srta. Bancroft exclamar:
— Este é o lugar onde você mora?
A incredulidade em sua voz o irritou. Tudo bem, então Thorncliff
Hall, com suas janelas de madeira maciça e enegrecidas, não era a
Villa grego-palladiana, que a alta sociedade considerava na moda nos
dias de hoje, mas ele se orgulhava dela o suficiente. Ela podia
precisar de um pouco de reparo, mas estava na família há mais de
duzentos anos. Isso devia contar para alguma coisa.
Mesmo que ela não a apreciasse. Tinha que estar pelo menos
grata.
— Sim — ele disparou de volta — , esta é a minha casa. E a
julgar pelo tempo provavelmente será sua nos próximos dias, assim
acho que é melhor, no momento, você se acostumar a ficar sem os
seus luxos de Londres.
— Eu não quis ofender. Oh, querida, Meg, não se atreva a comer
aquela neve suja! Desculpe-me, senhor, eu preciso ver as crianças.
Quando ela fugiu, ele ficou olhando-a surpreso. Ela foi olhar seus
primos? Não parecia ser algo que uma herdeira mimada faria. Então,
pensou novamente, mulheres como ela gostavam de mandar nas
pessoas. Que Deus ajudasse a qualquer homem que se casasse com
ela, pois ela pode ter uma fortuna, mas tem também uma série de
exigências petulantes para satisfazê-la.
Martin encontrou a tia reclinada sobre o assento dentro do
coche, com o braço dobrado sobre o rosto.
— Senhora? — ele falou.
— Onde estamos? — ela perguntou em voz desencarnada muito
parecida com a que sua mãe tinha usado antes de morrer.
Ele se alarmou, mas pelo menos ela estava consciente.
— Em Thorncliff Hall. Você vai ficar bem agora. — Inclinando-
se para pegá-la, ele a levou para a casa.
As crianças ficaram em volta deles, fazendo perguntas.
Justamente o que ele não precisava.
— Srta. Bancroft, mantenha aqueles pirralhos...
— Não os chame de pirralhos, senhor — ela atirou de volta. —
Eles estão perfeitamente bem comportados, para crianças que
acabaram de ver a mãe deles ferida. Tenha um pouco de simpatia,
por favor.
A advertência pegou-o de surpresa. A maioria das mulheres
tremia em suas botas quando estavam perto dele. Por que ela não?
Ignorando a risada estrangulada de Huggett, Martin entrou em
sua casa com a tia. Como Huggett e um lacaio se mantiveram ao seu
lado, ele emitiu ordens, sem se importar com a herdeira e os filhotes
que ela arrastava atrás.
— Vamos colocar a Sra. Metcalf em meu quarto de dormir, e o
resto deles no...
— Você não pode fazer isso! — a Srta. Bancroft interrompeu
quando ele pisou através do grande salão e subiu as escadas. — Ela é
uma jovem viúva, e você é solteiro!
— Oh, pelo amor de Deus! Eu não queria dizer que eu ia dormir
lá com ela, sua idiota. — Ele trocou o peso de sua tia em seus braços.
— Esse não é o ponto — disse ela, exasperada. — É impróprio
ela dormir no quarto de um homem solteiro, estando você nele ou
não.
— Ela está certa, meu senhor, — disse Huggett. — Se a notícia
circular...
— A notícia não estará circulando em qualquer lugar, eu me
certificarei disso. — Ele parou no corredor que ligava os aposentos. —
Eu tenho que colocá-la em algum lugar. E é o quarto mais
confortável, para não mencionar o único pronto para os hóspedes.
— Está tudo bem, — disse uma voz fina. Ele olhou para baixo
para encontrar a Sra. Metcalf olhando fracamente para ele. —
Realmente, senhor, é mais... apropriado para você.
— Viu? — disse Huggett a Srta. Bancroft. — Aqui está uma
Senhorita com bom senso.
Enquanto ele espreitava em seu quarto de dormir, ouviu um dos
meninos reclamar.
— Ellie, eu preciso ir ao banheiro! — Os outros começaram a
querer ir ao banheiro também.
— Primeiro eu preciso ver a sua mãe — ela falou — , por isso, se
você só esperar...
— Está tudo bem, Senhorita. — disse o lacaio. — , vou levar os
pequenos ao banheiro.
— Obrigada. — Ela correu para o quarto em que Martin havia
colocado sua tia na cama.
Imediatamente a Srta. Bancroft começou a organizar o espaço
para a mulher, afofando seu travesseiro, derramando a água de um
jarro, dando um show de inquietação ao brincar de enfermeira, mas
ela não iria manter isso por muito tempo; as de seu tipo se cansavam
rapidamente.
— Quais quartos hei de preparar para jovem e as crianças? —
Huggett perguntou a ele.
— Eu vou ficar aqui com a minha tia — a Srta. Bancroft disse
com firmeza e um olhar velado em sua direção.
E de repente ele entendeu.
— É por isso que você está sendo tão receosa com o local de
dormir — Embora ele geralmente ignorasse tais reações, hoje sentiu
um nó e um calafrio apertar na boca do seu estômago. — Você já
descobriu quem eu sou.
— Quem... quem é ele? — da cama, a Sra. Metcalf perguntou
suavemente.
— Ele é o Sr. Thorncliff, isso é tudo — disse a Srta. Bancroft. —
Sr. Huggett, você pode, por favor, certificar-se de que minha tia beba
um pouco de água enquanto eu falo com sua senhoria no corredor?
— Certamente, Senhorita.
Sem esperar por ela, Martin saiu, em seguida, virou-se para ela
quando ela se juntou a ele e fechou a porta.
— É isso, não é? — ele rosnou. — Você já ouviu falar sobre o
Barão Negro, então você está com medo de deixá-la sozinha na minha
casa.
— Eu tenho medo de deixá-la sozinha, porque ela está doente —
disse ela, com um olhar de espanto no rosto. — , eu só quero estar lá,
se ela precisar de alguma coisa.
Ele ignorou a explicação razoável, irritado porque ela não tinha
negado saber do que as pessoas o chamavam.
— Olhe aqui, Srta. Bancroft, eu não serei cauteloso dentro de
minha própria casa só porque vocês, senhoras da sociedade, ouviram
histórias absurdas sobre o terrível Barão Negro. Eu não vou ter meu
pessoal correndo atrás de seus pequenos pirra... primos, enquanto
você fica tremendo no quarto de sua tia, então você vai ficar com as
crianças onde quer que eu mande Huggett colocá-los!
Seus olhos se estreitaram.
— É assim que o senhor pensa, não é?
Esse tom gelado juntamente mais sua falta de temor, deveria ter
lhe avisado, mas hoje ele já aguentara o bastante, e ele não a
deixaria sair com as suas, enquanto ele tinha a cabeça fervendo.
— Eu sei que as de seu tipo estão acostumadas a ser bajuladas
e mimadas e que têm todos alimentando suas vontades.
— Meu tipo? — ela o interrompeu, seus olhos verdes cristalinos,
virando uma tempestade.
— Mas este é um momento de crise, e nós vamos ter que nos
contentar com o que temos, então eu vou esperar que você mantenha
para si, suas queixas mesquinhas e que não fique cansando minha
equipe com solicitações desnecessárias. Caso contrário, qualquer que
seja o absurdo que você ouviu sobre eu ser o Barão Negro será nada
comparado com o meu verdadeiro temperamento!
— Eu tremo só de pensar em como poderia ser — ela murmurou
baixinho.
— O que? — ele rosnou, não tinha certeza se tinha ouvido
direito.
— Nada. Você já terminou senhor? — Embora o queixo
tremesse, ela não lhe parecia terrivelmente intimidada, o que lhe deu
uma pausa.
— Er... bem... sim.
— Tudo bem. Vou fazer o meu melhor para cumprir suas
exigências. — Sua voz gotejava doçura, embora ele pudesse jurar que
ouviu sarcasmo sob o açúcar. — Agora, se você me der licença, tenho
que ver minha tia, enquanto ainda estou autorizada a ficar com ela.
Jogando a cabeça para trás, ela virou-se de volta para o quarto.
Foi quando ele se deu conta de que talvez tenha sido muito
contundente em suas declarações. No calor do seu temperamento, às
vezes ele dizia coisas que lamentaria mais tarde.
Mas antes que pudesse suavizar as suas palavras, ela abriu a
porta e fez uma pausa dramática na porta.
— Se você não quer que as pessoas lhe chamem de Barão
Negro, senhor, você poderia considerar lavar o rosto de vez em
quando. Tenho certeza de que iria melhorar imensamente a sua
reputação.
Ele ficou boquiaberto quando ela entrou no quarto como uma
rainha egípcia. Lavar o rosto? Que diabo? Uma olhada no espelho do
corredor o lembrou de seu estado de fuligem. Mas, certamente, ela
não acharia que era por isso que o chamavam de Barão Negro…
Maldição! Ela não sabia. Aparentemente, ela não ouvira os vis
rumores que o perseguiam desde a morte de Rupert. Ela pensava que
ele ganhara seu apelido por causa da fuligem. É por isso que ela não
tremia em suas botas como outras senhoras.
Ele começou ir para o quarto para se explicar, em seguida,
parou quando o lacaio voltou com as crianças. Quando eles correram
atrás dele com expressões cautelosas que sua prima deveria ter
usado, ocorreu-lhe que ele não tinha que dizer a Srta. Bancroft como
ele ganhara o apelido.
Por que deveria? Ela iria olhar para ele de forma diferente, ou
pior ainda, diria para a tia. Em seguida, ele teria duas mulheres
histéricas em suas mãos, tentando escapar de sua casa por medo de
perder suas vidas ou sua virtude.
Enquanto ele estava ali ponderando a ideia de não ter que ser o
temido Barão Negro ao menos uma vez, ele ouviu Huggett dizer:
— Você realmente não tem que ficar aqui com sua tia, senhorita.
Há um quarto adjacente que pertenceu a mãe do lorde. Certamente
você e a menina estarão mais confortáveis lá, e você sempre pode
entrar para verificar a Sra. Metcalf quando quiser sem incomodar
ninguém. Os garotos podem dormir no quarto verde onde tem uma
cama maior.
— Sua senhoria parece achar que devo acompanhar as crianças
em todos os
lugares — disse ela rigidamente.
— Está tudo bem, podemos lidar com alguns garotos, e, além
disso, o quarto verde é do outro lado do corredor, e eu ouso dizer que
você ouvirá se eles saírem.
— Obrigado, Sr. Huggett. Isso soa como o arranjo perfeito.
Seu tom quente deixou Martin nos cascos, uma vez que ela
ainda não tinha usado com ele. E ele foi a primeira pessoa que os
tinha resgatado.
— Agora, eu sugiro que nós coloquemos essas crianças fora de
suas roupas molhadas — disse Huggett.
— Eu temo que seja impossível — ela respondeu. — , as roupas
que temos estão em nossos corpos, e sua senhoria não se incomodou
em trazer as roupas secas que ficaram na outra carroça. Seu tom de
ressentimento testou sua paciência novamente.
Ele caminhou até a porta aberta. Logo que ele apareceu na
porta ela foi ladeada pelas crianças como se fosse um exército, e a
menina agarrou sua mão.
Ele ignorou as crianças para se concentrar na Senhorita alteza e
herdeira
— Certamente você separou malas arrumadas para a hospedaria
e...
— Apenas as que estão em nossos corpos — Ela o encarou, com
seu sorriso frio. — Se você se lembrar, eu lhe disse que havia coisas
neles que precisaríamos.
Pensando em seu curto encontro, ele fez uma careta. Ela tinha
lhe dito, mas ele tinha se concentrando em mantê-la longe do gelo. E
tinha presumido que os baús eram bagagem extra. Ora, ele não tinha
certeza. Mas provavelmente presumira pela mesma razão que tinha
assumido que ela sabia de sua reputação.
Ele começou a se perguntar se não tinha presumido demais.
Quando todos o olharam em expectativa, até mesmo Huggett,
ele teve que abafar um juramento.
— Vou mandar os lacaios de volta para buscar os seus pertences
— ele disparou. Então ele modulou seu tom. — Existe mais alguma
coisa que você precise?
A pergunta cordial pareceu pegá-la de surpresa. Em seguida, um
leve sorriso tocou seus lábios.
— Não, no momento não. Mas obrigada por perguntar, senhor.
Aquele sorriso o desfez completamente. Três anos se passaram
desde a última vez que uma jovem tinha sorrido para ele. Isso o
aqueceu. Muito. Isso o fez perceber seu cabelo preto sedoso e sua
figura agradável, e a cadência de suas palavras que o lembrou de sua
voz clara e alta cantando canções natalinas…
Maldição! Ele não podia ficar pensando em uma herdeira que
não sabia nem quem ele era. Além disso, há mais em uma mulher do
que a aparência agradável e ele ficaria surpreso se ela tivesse alguma
coisa em sua cabeça, além das tolices usuais e do fascínio por moda.
Ele não queria uma esposa. Ele não precisava de uma esposa.
— Eu buscarei seus pertences — ele murmurou.
Em seguida, ele fugiu.
Capítulo Três
Cara Charlotte,
O seu vizinho é um homem de boa reputação? Qual é a
profissão dele?
Ele é casado? Tome cuidado, muitos homens atacam mulheres
sozinhas, para satisfazer suas necessidades.

Seu primo ainda ansioso,


Michael

Ellie não viu seu anfitrião novamente naquela tarde. Não que
isso importasse; ela estava muito ocupada para pensar nele. Pouco
depois que ele saiu, o médico chegou, e uma longa discussão seguiu
ao exame da tia Alys. Felizmente o ferimento na cabeça de sua tia
não era tão ruim quanto parecia, mas ela realmente tinha quebrado a
perna. O médico recomendou que ela não fosse movida por pelo
menos uma semana.
O que levou seus filhos a histeria, uma vez que isso significava
que iriam perder o Natal em Sheffield. Ellie e a mãe deles tiveram que
dar garantias extravagantes de guloseimas e passeios futuros, a fim
de acalmá-los. Pelo menos os seus presentes estavam em suas malas,
que tinha aparecido depois que o médico saiu, assim como sua
senhoria havia prometido.
O sr. Huggett, um homem que demonstrou ser tão alegre
quanto seu empregador era assustador, dera-lhe a certeza de que
fora enviado um mensageiro a cavalo para informar seu pai sobre o
que tinha acontecido com eles. Mas dado o estado das estradas e ele
se encontrar em Lancashire, não havia muito que Papa pudesse fazer.
Ellie passou o resto da sua tarde ajeitando todos, certificando-se
de que sua tia estivesse confortável, e consultou o Sr. Huggett sobre
as refeições das crianças. Até o momento que o mordomo veio buscá-
los para jantar, ela se sentia muito confortável com ele.
Essa foi à única razão pela qual ela abordou a difícil questão.
— Sr. Huggett — disse ela em voz baixa para que as crianças
não ouvissem já que elas corriam à sua frente. — Por que é que o
seu senhorio é chamado Barão Negro?
A mistura de pânico e desconfiança em seu rosto a fez lembrar-
se de seu pai sempre que ela fazia uma pergunta indelicada.
— Eu... bem, você sabe, Senhorita... — ele começou a gaguejar.
— Não pode ser apenas por causa da fuligem — ela falou
amavelmente.
— A fuligem? Ah, sim, a fuligem. — Ele franziu o cenho quando
a escoltou até lá embaixo. — Na verdade, é... er... por causa de suas
roupas. Você deve ter notado que ele usa nada além de preto.
Ela tinha notado. Ainda assim...
— Essa é a única razão pela qual eles o chamam assim?
— O que mais poderia ser? — ele disse alegremente, embora ele
não olhasse em seus olhos. — Aliás, o médico me disse que sua tia
deve comer alimentos macios até estarmos certos de que sua lesão
na cabeça não é grave, por isso, tomei a liberdade de falar com o
cozinheiro...
Como ele tagarelava, ela percebeu que a pergunta dela tinha
atingido um ponto sensível. Mas parecia rude pressioná-lo para
fofocar sobre seu empregador. O homem parecia estranhamente fiel
ao Sr. Thorncliff, evidência de que o seu anfitrião pode não ser tão
temível quanto parecia.
Ela notou outros indícios, também, a forma como o barão tinha
acomodado todos eles apesar de seus murmúrios, o fato de que ele
tenha enviado alguém para buscar um médico e seus baús com muita
pressa, a sua vontade de desistir de seu próprio quarto. E quando eles
entraram na sala de jantar, ela teve a evidência mais forte de todas.
Lorde Thorncliff tomara banho. O homem que se virou da lareira
para cumprimentá-los não tinha nenhuma semelhança física com o
homem que os resgatou.
Ele usava o mesmo tipo de casaco preto, colete, e gravata como
antes, exceto que estes pareciam recém-lavados e passados. E o
rosto dele... Deus do céu, o Barão Negro pode ter o temperamento de
uma besta, mas ele tinha uma aparência bastante marcante. Na
verdade, ele tinha muito em comum com o herói pirata de Byron The
Corsair, uma obra que ela insistiu em desfrutar apesar da reputação
vergonhosa de seu autor. O Sr. Thorncliff era "robusto, mas não
hercúleo" e suas "sobrancelhas escuras" faziam de fato uma sombra
dando-lhe "um olhar de fogo." E como o corsário, "tinha o rosto
queimado, a testa alta e pálida, os cabelos eram cacheados numa
profusão selvagem”.
Exceto que o cabelo do barão não era realmente preto. Era de
um castanho escuro, que a luz do fogo tinha reflexos vermelho
cintilante. E agora que ele não estava coberto de fuligem e ela não
estava distraída com as crianças, ela podia ver a verdadeira cor de
seus olhos, também: um cinza esfumaçado, cobertos por longos cílios
escuros.
Ele não era classicamente bonito, seu rosto era muito angular e
seu queixo muito proeminente para o tipo de características
consideradas bonitas em Londres. Mas ele era atraente o suficiente
para fazer seus joelhos fraquejar. Ele a pegara totalmente
desprevenida, pois homens atraentes a intimidavam, e esta era a
última coisa que ela precisava sentir por seu anfitrião.
Sua aparência melhorada, no entanto, teve o efeito contrário em
Meg, que foi correndo examiná-lo com grande curiosidade.
— Quem é você?
— Eu sou Thorncliff. E quem é você, mocinha?
Reconhecendo a voz de antes, Meg encolheu-se e colocou o
polegar na boca.
Ellie deu um passo adiante para aliviar o constrangimento.
— Perdoe-me, senhor, eu esqueci que você ainda não sabe seus
nomes — Ela apresentou as crianças, e por uma vez, teve o prazer de
ver os meninos se comportando como cavalheiros.
Quando os lacaios trouxeram os pratos de comida e colocaram
sobre o aparador na sala de jantar, porém, os garotos saíram
correndo para ver o que seria a comida.
— Oh, ótimo, tem carne — disse Tim enquanto olhava para um
pedaço grande — Eu estou quase morrendo de fome!
— Olha, Charlie, tem presunto, também — gritou Percy da outra
extremidade. — E pudim!
— Talvez nós devamos sentar — o Sr. Thorncliff murmurou para
ela. — , antes que os garotos, de onde estão, devorem nosso jantar.
E assim começou a sua primeira noite em Thorncliff Hall. Com
mais fome do que ela percebera, ela estava contente em deixar os
meninos se encarregar da conversa. Fizeram perguntas impertinentes
sobre a idade da casa, se ele tinha todos os brinquedos, em que
córregos ele pescava. Seu anfitrião lhes respondeu de bom grado, se
não com grande entusiasmo.
Até mesmo Meg ficou confortável o suficiente para arriscar uma
pergunta.
— Por que você estava tão sujo hoje, senhor?
— Meg! — Ellie repreendeu. — É falta de educação perguntar a
uma pessoa uma coisa dessas.
— Sim, é verdade — seu anfitrião disse acidamente. — Você
pode envergonhar as pessoas ao fazer suposições sobre elas, e
fofocar sobre elas com seus amigos, mas não pode nunca fazer a
alguém uma pergunta direta. Não, se você quiser manter a ordem
social.
Ele estava a repreendendo, o diabo ranzinza?
— Você deve aprender com sua senhoria — ela colocou. — Ele é
mestre das perguntas diretas. — Quando seu olhar disparou para ela,
ela acrescentou:
— Não, espere, é ordem direta de Lorde Thorncliff. Isso é uma
habilidade inteiramente diferente, mas aparentemente bem
desenvolvida.
O Sr. Huggett fez um som abafado, de onde ele estava, perto do
aparador, mas o Sr. Thorncliff realmente riu.
— Sim, e eu levei anos para aperfeiçoá-la. Obrigado por me dar
a oportunidade de experimentar em outra pessoa que não nos meus
servos e eventuais funcionários da mina de carvão.
— É por isso que você estava coberto de fuligem! — Percy
exclamou. — Você trabalha em uma mina de carvão.
— Eu, na verdade, tenho uma mina de carvão. Ela pertencia a
meu pai, e depois quando o pai morreu, ao meu irmão mais velho.
Mas eu assumi a titularidade depois... — A dor brilhou em seu rosto.
— depois de Rupert falecer a três anos.
— Eu sinto muito — Ellie murmurou.
Ele acenou aceitando suas condolências, em seguida, empurrou
sua cabeça em direção ao prato de Percy e prontamente mudou de
assunto.
— Então, Mestre Percy, eu vejo que você está apreciando a
carne.
Isso deixou Percy em êxtase sobre o seu jantar, porém fez Ellie
olhar para sua senhoria sob uma nova luz. Pobre homem, perder toda
a sua família tão cedo na vida. Não admira que ele fosse intratável.
Quando o silêncio mais uma vez, caiu sobre a mesa, Meg saltou
com outra pergunta.
— Onde está o seu verde fedorento, senhor?
O barão arqueou uma sobrancelha.
— Verdes fedorentos?
— Ela quer dizer galhos, que são usados para o Natal — disse
Percy. — Você sabe, para pendurar no corrimão e cornijas. Mama usa
cedro. Mas Meg não gosta do cheiro.
— Ah!
Como isso foi sua única resposta, Tim perguntou:
— Bem? Onde eles estão?
— Não seja rude — disse Ellie. — Tenho certeza que os servos
de sua senhoria irão colocar os galhos, quando for à hora certa. — Ela
não podia imaginar o homem fazendo isso.
— Mas o Natal já está chegando! — Tim disparou a sua senhoria
um olhar suplicante. — Você vai colocá-los amanhã?
O Sr. Thorncliff ficou tenso e disse em uma voz perfeitamente
comedida.
— Eu não posso incomodar minha equipe com essas coisas. Eles
são poucos, só o suficiente para fazer o trabalho básico. — Quando
um resmungo soou, ele olhou para seu mordomo. — Especialmente
com a casa cheia de convidados. Não é mesmo, Sr. Huggett?
— De fato, senhor — disse Huggett em voz evasiva.
Agora que seu anfitrião mencionou isso, ela percebeu que não
tinha a quantidade de pessoal adequado. Ela tinha visto algumas
servas, e apenas alguns lacaios e os cavalariços, um cozinheiro, e o
Sr. Huggett. Isso explicava o mau estado da mansão.
Ou o triste estado da mansão poderia ser causado pela mesma
coisa que fez com que a mantivesse a pequena equipe. A falta de
dinheiro.
Deve ser isso! Isso explicava muito: seus comentários maliciosos
sobre sua fortuna, seu traje preto simples... seu envolvimento intenso
com a mina que ele possuía. Seu pai possuía uma mina de prata, mas
nunca chegou em casa coberto de sujeira. Apenas os homens que
trabalhavam dentro da mina faziam isso e, aparentemente, sua
senhoria fazia, alguns precisam fazer isso. Sua mina estava falindo,
talvez?
E agora talvez eles estivessem onerando suas despesas ao
invadir sua casa. Essa certamente era outra causa para o seu pavio
curto. Como Corsair de Byron, que era "muito firme para produzir, e
orgulhoso demais para se inclinar," ele não estava disposto a admitir
sua pobreza para o mundo.
Ela teria que explicar-lhe que ele não precisava fazer dívida
ajudando-os. Eles não precisavam de carne assada e presunto, e que
galinhas e caças os deixariam perfeitamente bem. Ou ela poderia
encontrar alguma maneira delicada de oferecer pagamento por seus
alojamentos e comida. Não era certo tomar sua hospitalidade e não
fazer algo em troca.
— Você tem cavalos, senhor? — Percy perguntou. — Você deve
ter, pois vi seu cavalariço. Poderíamos montar amanhã?
— Não com este tempo — Ellie interrompeu, não querendo
colocar seu anfitrião na incômoda posição de ter que admitir que ele
não poderia pagar um estábulo cheio de cavalos. — Eu duvido que
sua mãe vá querer que você ande por aí quando há gelo no chão.
Sua senhoria se recostou na cadeira e limpou a boca com um
guardanapo.
— Mas quando o gelo derreter, não tenho nenhuma objeção de
que usem meu estábulo. Eu não tenho cavalos suficientes para
montarem e conhecerem ao redor, mas vocês podem se revezar.
— O que é que há nesse celeiro de pedra que Percy e eu vimos
na parte de trás da janela — perguntou Tim.
— Fiquem longe desse celeiro! — estalou Thorncliff, seu rosto
abruptamente escurecendo. Quando ele a pegou levantando uma
sobrancelha em sua direção, ele acrescentou: — Esta é uma ordem
direta e espero ser obedecido, Srta. Bancroft.
— Como queira, senhor — ela disse em uma voz cáustica, mas
os meninos não eram tão complacentes, especialmente depois de sua
veemência inesperada.
— Por quê? — Percy perguntou. — O que você mantém lá?
— Nada que lhe diga respeito — sua senhoria rosnou.
— É onde você guarda seus rifles de caça? — Tim perguntou,
excitado.
— Não, droga! — Sua cadeira raspou o chão quando ele se
levantou em toda sua altura. — Não devem ir a qualquer lugar perto
dele! Porque se você fizerem isso, eu juro que eu vou aplicar um
corretivo em vocês! Entendido?
Ninguém jamais havia ameaçado levantar a mão para os
meninos mimados de sua tia. Eles olharam boquiabertos para ele,
totalmente incapazes de responder.
— Pelo amor de Deus, Sr. Thorncliff — ela começou.
— Entendido? — ele repetiu, batendo os punhos na mesa.
Os garotos saltaram visivelmente. Em seguida, balançaram a
cabeça furiosamente.
Meg desatou a chorar.
Isso pareceu empurrar o temperamento de Lorde Thorncliff para
fora. Ele olhou para ela como se a visse pela primeira vez, com uma
expressão quase cômica de horror passando por suas feições. Em
seguida, ele soltou uma maldição baixa e saiu da sala.
— Ellieee! — Meg gritou, erguendo os braços.
Ellie imediatamente a pegou no colo, seu coração trovejando em
seus ouvidos depois de presenciar a exibição violenta do homem de
quem ela tinha sentido pena, ela baniu esse impulso. Como se atrevia
a ameaçar as crianças?
— Eu não gosto do homem mau! — Meg soluçou. — Eu quero ir
para casa!
— Vamos em breve — Ellie assegurou-lhe logo que viu o Sr.
Huggett se apressar. — Eu prometo.
— Você deve perdoar o meu senhor, senhora — disse Huggett
em voz baixa. — Tenho certeza de que ele não tinha a intenção de
alarmá-los, mas ele é muito... cauteloso sobre o celeiro.
— Sim, ele deixou isso bem claro — ela retrucou. — , embora eu
não veja por que ele tinha que ser tão incisivo.
— Não, minha senhora, você está certa. Vou falar com ele.
Em seguida, o mordomo, pôs-se a acalmar a todos, oferecendo
sobremesas para as crianças, acompanhando-os ao andar de cima
para sentarem-se com sua mãe por um tempo, ajudando Ellie
prepará-los para a cama, mesmo que isso não fosse algo que
mordomos geralmente fizessem.
Mas embora o Sr. Huggett oferecesse uma abundância de
sugestões para que as crianças pudessem no dia seguinte ocupar seu
tempo, e também respondesse às perguntas dos meninos sobre a
mina de carvão, quando se tratava de seu empregador, ele era tão
misterioso como uma esfinge.
Ela nunca tinha visto um servo menos inclinado à fofoca.
Qualquer dúvida sobre o barão ou seu celeiro foi recebida com: —
Você deve perguntar a sua senhoria e qualquer comentário afiado
sobre o temperamento de seu anfitrião ganhou a resposta: — Ele está
sob muita pressão, mas estou certo de que ele estará melhor amanhã.
Ela não tinha tanta certeza. Nem ela estava totalmente certa que
o Sr. Huggett iria falar com o barão, como prometido, ou que, se ele
fizesse, iria fazer diferença. Mas depois de assistir Meg chorar até
dormir e os meninos encontrarem-se cochichando em suas camas,
provavelmente tramando uma reunião secreta para descobrir os
mistérios mágicos do celeiro de pedra, ela decidiu que seria melhor
não deixar o assunto para o mordomo.
Ela não estava disposta a deixar seu anfitrião intimidar seus
primos. Mesmo que ela tivesse que enfrentar o leão em seu covil.
Martin foi ao seu escritório, impaciente tirou as roupas
espalhando-as pelo chão. Primeiro ele jogou seu casaco revestido
sobre a cadeira perto fogo, em seguida, deixou cair à gravata
asfixiante sobre sua mesa. Fazia anos desde que ele tinha se vestido
formalmente para o jantar, mas depois de fazer tal espetáculo de si
mesmo naquela tarde, ele queria mostrar que podia comportar-se
com alguma aparência de decoro.
E parecia ter dado certo no início, quando a Srta Bancroft tinha
olhado para ele com um claro interesse feminino. Depois disso, vieram
as intermináveis perguntas, mas até mesmo as crianças não tinham
o atormentado tanto, quanto a Srta Bancroft tinha feito, ao oferecer-
lhe seus comentários atrevidos e um ocasional e doce sorriso.
Embora tivesse se lembrado de que ela estava apenas sendo
gentil com ele porque ela não sabia a fofoca, ele não podia deixar de
gostar. Seja por seu hábito agradável de empurrar para cima os
óculos de vez em quando. Seja pela maneira doce dela morder o lábio
inferior carnudo sempre que algo lhe assustava.
Como acontecera no final, com sua explosão. Ela fizera uma
careta. Que tinha feito olhá-la com horror. Qualquer um teria pensado
que ele ameaçara matar seus primos, e não apenas dar-lhes umas
palmadas.
Ele não teve a intenção de perder a paciência, mas a ideia
dessas crianças fazendo graças no celeiro onde ele fazia suas
experiências esfriara sua alma.
Não que suas ameaças tenham ajudado. Os meninos ainda
estavam curiosos, ele vira em seus olhos. Amanhã ele teria que
arrumar tudo antes que eles decidissem começar a explorar. Ele não
poderia estar aqui para manter um olho sobre eles, com a
proximidade do Natal e do Boxing Day, ele tinha várias funções a
desempenhar dentro de sua propriedade. E os garotos não levariam
sua proibição a sério. Meninos dessa idade nunca obedeciam. Ele não
fizera.
Mas as meninas eram outra questão.
Ele gemeu, lembrando as lágrimas do querubim. Ele não tinha a
intenção de assustá-la, pobre menina. Nem tampouco a Srta.
Bancroft.
Outro gemido lhe escapou. Maldição, ele tinha arruinado tudo. A
Srta. Bancroft não lhe daria mais seus doces sorrisos.
Provavelmente isso era bom. Eventualmente, ela iria ter
conhecimento da fofoca e teria a mesma reação que todo mundo.
Mesmo se ela não o fizesse, ele não poderia permitir uma mulher em
sua vida. Então, era melhor que ele não gostasse muito dela. Nem
pensasse muito nela.
— Milorde, eu poderia ter uma palavra com você?
Ele quase saltou fora de sua pele ao som daquela voz
cadenciada. Será que a mulher pode ler mentes, também? E o que ela
queria falar com ele em seu próprio escritório ele havia se retirado
para esta ala da casa por uma razão, droga!
— O que quer Srta. Bancroft? — ele perguntou entre dentes,
esperando que seu tom pudesse desencorajá-la.
Isso só pareceu encorajá-la ainda mais. Ela realmente entrou no
quarto e fechou aporta.
— Eu preciso falar com você sobre as crianças.
— Eu também. — Poderia muito bem tê-la posto para fora antes
que alguém se machucasse.
Ele olhou para ela, então prendeu a respiração.
Ela parecia completamente diferente, sem os óculos, mais
acessível e menos como uma professora. Apesar de não ter uma
beleza deslumbrante, ela tinha olhos maravilhosos, e sua pele
mantinha um brilho juvenil que o fazia pensar em primavera e em
pêssegos macios, onde um homem podia cravar seus dentes. Era uma
figura exuberante.
— Onde estão seus óculos? — ele disparou para não pensar no
que ele queria fazer com a figura dela.
— Onde está o seu casaco? — ela respondeu perguntando,
lembrando-lhe que ele estava vestido de forma inadequada para um
cavalheiro a sós com uma senhora.
Ele resistiu ao desejo de tornar-se mais apresentável. Afinal, ele
não tinha pedido a ela para invadir seu escritório.
— Onde eu sempre o mantenho quando não estou esperando
companhia. Diga-me, você precisa mesmo dos óculos?
Ela olhou para ele, perplexa.
— Eu não iria usá-los se não precisasse.
— Você não está usando-os agora.
— Verdade. — Ela deixou escapar um suspiro. — O fato é...
bem... eu pensei que poderia ser mais fácil falar com você, se eu não
pudesse vê-lo.
Essa não era a resposta que ele esperava. Ela parecia tão segura
de si mesma, esta tarde. E como poderia se tornar mais fácil para ela
falar com ele sem seus óculos?
— Você faz isso com cada homem ou só comigo?
— Só com os homens que me deixam nervosa.
Ele a deixava nervosa? Claro que ele a deixava. Ele deixava a
maioria das mulheres nervosas.
— Mas não foi isso que eu vim discutir — ela prosseguiu.
— Eu não acho que seja — disse ele secamente.
— Primeiro de tudo, eu percebo que nós o incomodamos muito.
— Você não tem ideia — ele murmurou sob sua respiração.
Um tom cor-de-rosa atraente atingiu suas faces.
— Eu lhe asseguro que meu pai ficará feliz de recompensá-lo por
quaisquer despesas em nosso nome, a comida e o médico e quaisquer
outras despesas que possam incorrer.
— Eu não preciso do dinheiro de seu pai. — A ideia de ela tentar
lhe pagar por sua hospitalidade provocou seu temperamento.
— Claro que não, mas é justo que você seja recompensado
por...
— Eu não quero seu dinheiro, droga! Isto não é uma pousada,
Srta. Bancroft, onde você dá suas ordens e obtém o que você paga.
Você vai ter que se contentar com o que eu posso oferecer. E se você
não puder, fique à vontade para sair quando quiser.
Um sorriso duro apertou seus lábios.
— Você sabe perfeitamente bem que não podemos fazer isso.
— Então você vai ter que aturar minha inadequada
hospitalidade.
— Eu não disse que era inadequada! — Sua expressão mostrou
pura exasperação. — Meu Deus, você é tão espinhoso. ‘Você
despertaria a ira de um coração de pedra', como diz Sófocles.
Ele piscou.
— Você está citando Sófocles? Que tipo de herdeira é você?
— Acontece que eu leio muito — disse ela defensivamente. —
Poesia na maior parte. O que você teria descoberto por si mesmo se
você conversasse com a gente no jantar em vez de esbravejar e gritar
— Ela cruzou os braços sobre o peito. — Isso é exatamente por que
as pessoas fofocam sobre você. Já lhe ocorreu que eles podem
chamar-lhe o Barão Negro por causa de seu temperamento negro?
Se ela soubesse...
— Obrigado pelo comentário sobre meu personagem, Srta.
Bancroft. Agora, se você vai desculpar...
— Eu não acabei — disse ela alegremente. — Como eu estava
dizendo, estamos muito gratos pela sua atitude nos ajudando em
circunstâncias difíceis. — Ela fez uma pausa significativa.
— Mas?
— Mas isso não lhe dá o direito de assustar as crianças.
Ele odiava que ela estivesse certa.
— Eu não estava tentando assustá-los — disse ele, irritado. —
Eu estava tentando certificá-los de que eles não cheguem perto do
meu celeiro, algo que você pode considerar em me ajudar.
— Pelo amor de Deus, o que há de tão importante nesse seu
precioso celeiro?
— Está cheio de explosivos.
— Explosivos! — Seus olhos se arregalaram. — Por que diabos
você manteria explosivos em seu celeiro?
— Eu tenho tentado desenvolver um fusível que seja mais
seguro para utilizar em minha mina. Ele requer experimentos com
pólvora, enxofre e similares, os quais são altamente perigosos.
— Mas por que aqui? Por que não o fazer lá?
— Porque muitas pessoas têm acesso a entrada na mina. Há
muita chance de um visitante ou um estranho se machucar. — Como
Rupert tinha. — Eu posso manter melhor um olho nas coisas aqui.
Meus servos sabem que arriscam suas posições se forem a qualquer
lugar perto desse celeiro ou se deixarem alguém perto dele. — Ele fez
uma careta para ela. — Mas seus primos podem ser um problema,
dada à forma como são meninos imprevisíveis.
Isso pareceu amortecer um pouco seu fogo.
— Se você apenas explicar-lhes sobre os explosivos...
Ele bufou.
— Certo. Diga a um monte de garotos curiosos que há um
celeiro cheio de produtos químicos emocionantes ao lado. Isso seria
como definir uma partida para o pó. Você não viu como os olhos de
seu primo se iluminaram quando ele perguntou se eu mantinha rifles
lá? Você não sabe nada sobre meninos nessa idade?
— Não, eu não sei! — Seu tom beirava o desespero. — Eu não
estou acostumada a cuidar deles!
Ela tinha razão. De acordo com Huggett, a enfermeira tinha sido
inteligente, o suficiente para escapar, deixando os filhotes barulhentos
durante o feriado. Ele mal podia esperar para ver como iria se sair a
prima rica com todos eles em seu calcanhar.
— Então aqui vai uma pequena lição para você — disse ele. — :
Os meninos dessa idade desfrutam em explodir coisas. Eu certamente
gostaria. Foi como eu me interessei por explosivos em primeiro lugar.
E se os seus primos radicais descobrirem que eu tenho algo tão
fascinante como pólvora no meu celeiro, vai ser impossível mantê-los
afastados.
Ela fungou.
— Bem, agora que você já despertou a curiosidade deles, estão
certo ao tentar fazê-lo. De qualquer maneira, mantê-los no escuro é
tão ruim quanto lhes dizer a verdade.
— Então, diga-lhes uma mentira, droga! Diga-lhes o que quiser,
eu não me importo. Apenas mantenha-os longe desse celeiro!
— Eu vou fazer o meu melhor — ela disse com um aceno
cansado de sua cabeça. — , mas eu não posso prometer nada. Eles
têm uma mente própria, às vezes.
— Tudo bem. Mas se eles seguirem suas mentes no meu celeiro
vou esquentar suas peles.
— Você não vai! — ela protestou. — Você não tem direito!
— Isso não vai me impedir.
Ela colocou as mãos nos quadris bem formados.
— Se você colocar uma mão sobre aqueles meninos, eu juro que
vou fazer você se arrepender.
— Mesmo? — ele disse, sufocando uma risada. Com seus olhos
verdes disparando a ele e seus seios tremendo debaixo de seu vestido
decotado, ela parecia um anjo vingador. Ou pelo menos uma leiteira
vingadora. — E o que exatamente você vai fazer?
Claramente que não tinha pensado tão longe.
— Eu vou... Eu vou… dizer ao meu pai — disse ela
resolutamente.
— Continue. — Ele caminhou em direção a ela. — Diga a ele que
eu disciplinei seus sobrinhos imprudentes para impedi-los de se
matar. Aposto que ele toma meu lado no assunto. Ele sabe os que
explosivos podem fazer.
Ela empalideceu quando ele se aproximou dela.
— Ele ainda não vai aprovar.
— Deixe que ele desaprove que não vai mudar a forma como eu
me comporto. Ele pode me castigar se achar que deve pouco me
importa.
— Não seja ridículo. Papa tem cinquenta anos e ele não pode
castigá-lo.
— Então o que você espera conseguir falando com ele sobre
mim? — Ele veio até onde ela estava diante da porta fechada e pairou
sobre ela em uma tentativa deliberada de intimidá-la. Essa questão,
ele queria que fosse do seu jeito.
Endireitando sua espinha, ela olhou para baixo.
— Um passo para trás, senhor.
Ele apoiou um braço contra a porta.
— Ou o quê? Você vai dizer ao seu pai?
— Eu vou fazer isso. — Ela prontamente o chutou na canela.
— Ai! — ele gemeu quando se afastou da porta e se inclinou
para esfregar o ponto dolorido. A garota tinha um bom chute, droga!
— Isso é para você parar de agir como uma besta — ela disse
afetadamente. — E se você continuar a agir assim, comigo ou com os
meus primos, vou chutar a outra perna. Apenas veja se farei ou não.
Afastando-se, ela estendeu a mão para a maçaneta da porta,
mas ele a pegou pelo braço antes que ela pudesse sair. Ele girou em
torno dela, ignorando sua expressão de indignação, então
rapidamente colocou seus dois braços para prendê-la contra a porta.
— Então, eu estou me comportando como uma besta, não
estou? — ele disparou. — Muito bem, desde que você se recusa a ser
sensata sobre seus primos, então você pode chutar a minha outra
perna. Considere um pagamento adiantado, para quando eu for
forçado a esquentar a pele desses meninos porque se aventuraram
onde não deviam!
Ele não tinha a intenção de perder a cabeça novamente, mas ele
nunca gostou de ser ameaçado, e certamente não por uma garota
sociedade.
— Se você não der um passo atrás senhor, irei chutá-lo de novo
— ela respondeu, embora suas bochechas corassem e sua voz tivesse
perdido algum fervor.
De repente, ele percebeu o quão perto estava. De repente, ele
estava dolorosamente ciente de como seus seios subiam e desciam
entre eles, e o quão perto estavam os quadris pressionados ao seu.
Naquele momento, ele já não se importava: com os meninos, com o
celeiro ou com seu pai. Especialmente quando ela mastigava
nervosamente o lábio inferior, um lábio inferior carnudo que ele
estava tentado a tocar e provar sua doçura.
O seu olhar fixo, e sua respiração acelerada... junto com seu
sangue pulsando e tudo o mais, fez que seu corpo respondesse ao
desejo de sua carne quente e macia.
— Vá em frente e me chute — disse ele com uma voz gutural. —
Você provavelmente fará de qualquer maneira depois que eu fizer
isso.
Então ele abaixou a cabeça para beijá-la nos lábios.
Capítulo Quatro
Querido primo,
Meu vizinho é um respeitável advogado, casado e com três
filhos. Mas se você achar essas credenciais insuficientes, você é
sempre bem-vindo para olhar por si mesmo.

Curiosa sobre a sua identidade como sempre,


Charlotte

Ellie ficou chocada e imóvel. Um homem atraente, viril estava


selando a boca na dela. E ele não estava atrás de sua fortuna.
Isso nunca tinha acontecido. Sobre esse assunto, apenas dois
homens já lhe haviam beijado, e nenhum beijo tinha sido assim.
Caloroso. Profundo. Minucioso.
Muito, muito completo. Seus lábios sobre o dela com a garantia
inebriante de um homem que sabia exatamente o que estava fazendo.
E com quem. Que pensamento inebriante! Um homem a estava
beijando porque ele queria.
Não, isso não poderia ser o motivo.
Ela recuou para procurar no rosto uma explicação.
— Por que você está...
— Eu não sei — disse ele, claramente perturbado, embora seus
olhos tenham virado prata derretida, o que fez seu coração disparar.
— Você apenas me olhou como se precisasse ser beijada. E eu queria
ser o único a fazê-lo.
Seu olhar deslizou para baixo, até encontrar sua boca, e ele a
saboreou. Então, ele segurou seu queixo na mão, correndo o dedo ao
longo de seu lábio inferior.
— Eu receio que você terá que me dar um pouco mais de
pontapés na canela.
— O que? — Isso foi tudo que ela conseguiu falar antes dele
beijá-la novamente.
Só que desta vez ele fez isso de forma diferente, o polegar
pressionando os lábios separando-os para que ele pudesse colocar
sua língua ali dentro, a princípio com cautela, em seguida, com mais
ousadia. Era a coisa mais emocionante que um homem tinha lhe feito.
Seus ossos vacilaram, pareciam liquefeitos. Se ele não
continuasse segurando-a contra a porta, ela teria escorregado à
direita para baixo dele. Isso a deixou apenas com uma escolha: jogar
seus traços em volta do pescoço dele para que não caísse.
Não admira que Robert Burns tivesse falado em ser "conduzido
pela paixão." Pois ela parecia estar saltando para o desconhecido sem
nenhuma proteção.
Quando ele sentiu as mãos dela em volta de seu pescoço, um
som baixo saiu de sua garganta, em seguida, trouxe-a para mais
perto, pressionando-a com seu peso, envolvendo-a com seu calor. Ela
podia sentir o seu inebriante calor, mesmo através de sua camisa. Sua
língua fazia coisas más em sua boca, mergulhando e mergulhando e
deixando-a tonta de prazer...
— Milorde? — veio uma voz tão perto que soou como se
estivesse dentro da cabeça dela. Em seguida ouviram uma batida que
fez ambos saltarem — Você está aí?
— O Sr. Huggett! Oh, céus.
O Sr. Thorncliff soltou uma maldição em voz baixa, mas não se
afastou. Ela não se importou. Estava gostando da sensação do corpo
dele colado ao seu. Era aconchegante. E muito íntimo, especialmente
quando a espetava com seu olhar quente e arrastava as mãos por
suas costelas, em seguida, por seus quadris, em uma carícia que
lançava pequenas chamas por onde passavam.
— O que é Huggett? — ele perguntou com uma voz gutural.
— Eu disse a Srta. Bancroft que eu iria falar com você… — o
mordomo começou.
— Está tudo bem. — Um leve sorriso brincou em seus lábios. —
Ela mesma já veio.
— Mas eu prometi a ela...
— Boa noite, Huggett — disse com firmeza. — Tenho certeza de
que o que você tem a dizer pode esperar até de manhã.
— Muito bem, senhor — veio à resposta do mordomo, seguida
de passos se afastando.
O silêncio reinou. Dolorosamente consciente de quão perto eles
estiveram de serem descobertos em uma posição comprometedora,
Ellie deslizou entre a porta e o Sr. Thorncliff.
O beijo imprudente tinha lhe surpreendido. Tinha lhe lisonjeado.
Confundindo-a, especialmente tendo vindo do barão grosseiro. Ela
não podia olhar para ele ou recuperar o fôlego, enquanto sua barriga
doía de forma alarmante, fazendo-a sentir a desordem por dentro.
O que uma senhora adequada diria depois que um homem a
beijara incontrolavelmente?
Na verdade, não tinha sentido. Em primeiro lugar ela não
deveria tê-lo deixado beijá-la.
— Perdoe-me, Srta. Bancroft — disse ele. — Eu não deveria ter…
isto é, eu sei que foi impertinente da minha parte… — Ele parou sem
jeito.
— Está tudo bem — Pelo menos ele se sentia tão estranho
quanto ela. — Eu não me importo.
— Não com isso, pelo menos.
A afirmação estranha a fez olhar para ele. De repente, ele
parecia muito jovem para ela.
— Quantos anos você tem?
A pergunta pareceu assustá-lo.
— Vinte e sete anos. Por quê?
— Eu pensei que você fosse... mais velho — disse ela —
Mas...bem...você não é terrivelmente muito mais velho do que eu.
Uma sombra escureceu seu rosto.
— Eu não estou à procura de uma esposa — ele disse sem
rodeios.
Depois do que eles tinham acabado de compartilhar, as palavras
eram um tapa na cara.
Ela deve ter recuado, pois ele amaldiçoou, e em seguida,
acrescentou:
— Não foi assim que eu quis dizer.
— Ainda assim, eu entendi. — Arrastando os restos de sua
dignidade sobre si, ela forçou um sorriso. — Felizmente eu não estou
procurando um marido. — Ela teve que escapar antes que ele
percebesse como lhe magoara. — Sendo esse o caso, é melhor eu ir.
— Srta. Bancroft, eu não quis dizer que você não é...
— Vejo você no café da manhã, senhor — disse ela antes que
ele pudesse fazer com que se sentisse pior do que já estava.
Ignorando sua maldição murmurada, ela correu para fora.
Ela conseguiu conter as lágrimas até que chegou ao seu quarto,
mas teve que parar fora da porta, uma vez que as lágrimas
começaram a descer. Geralmente Meg dormia independente de
qualquer coisa, mas Ellie não queria que ela despertasse e a
encontrasse chorando. Isso significaria inventar desculpas e segredos
que a pequena de cinco anos pudesse manter. E Ellie morreria antes
de permitir que o Senhor Imprevisível notasse que sua declaração fria
a ferira.
Enrolando as mãos em punhos, ela lutou para controlar suas
emoções, que aumentavam descontroladamente. Eu não estou à
procura de uma esposa.
É claro que ele não estava. Não uma mulher simples como ela,
de qualquer maneira. Ela inclinou-se contra a porta. Um cavalheiro
com título poderia escolher a sua senhora, mesmo que fosse mau
humorado.
De qualquer maneira por que se preocupou em beijá-la? Então
ela pensou na conversa. Ah, claro. Ele provavelmente imaginou que
iria distraí-la de sua ameaça de punir os meninos. E conseguiu.
Dadas as suas prováveis dificuldades financeiras, ela deveria
estar feliz que ele não tenha planejado nada além disso. Se ele tivesse
permitido que Huggett os visse abraçados, ele teria o que nenhum
caçador de fortunas tinha conseguido. E isso seria desastroso.
Verdadeiramente.
Lágrimas ardiam em seus olhos novamente. Era uma pena que
ela não se sentisse como se tivesse escapado por um triz. Mas quem
poderia culpá-la? Ele foi o primeiro homem a despertar o seu desejo.
Um pensamento perturbador flutuava em sua mente, era
possível que o desejo pudesse compensar a desvantagem de ter um
homem casando com ela apenas por dinheiro?
Não seja absurda. Nada compensa tal coisa, e você sabe disso.
Então por que doía tanto que ele a tivesse rejeitado? Ela deveria
estar contente.
Um som na escada lhe assustou. Ela não podia ficar aqui a noite
toda, alimentando seus sentimentos feridos. Os céus sabiam que tinha
sofrido antes; ela sobreviveria desta vez também.
Deslizando para dentro, se despiu, vestiu sua camisola, e juntou-
se a Meg na cama. A querida menina aconchegou-se a ela quando ela
se deitou, e Ellie se agarrou nela em busca de conforto.
Mas mesmo o doce cheiro de Meg não pode fazer Ellie esquecer
o que tinha acontecido. Se não fosse por seu comentário mortificante,
o Senhor Thorncliff caberia em sua fantasia de um marido. Ele
certamente era perigoso e selvagem. Embora ela não tivesse certeza
se havia poesia em sua alma, havia muita poesia em seus beijos. Ela
ficou acordada durante horas, pensando em cada momento.
Mesmo depois que ela caiu em um sono profundo, ela sonhou
que era uma ambrósia crescente entre os lilases. Quando o Senhor
Thorncliff veio arrancar flores, ele pisou em cima dela sem perceber, e
tudo o que podia fazer era ficar ali esmagada.
Após uma noite de tanta miséria, ela despertou muito cedo,
quando os meninos correram logo após o amanhecer.
— Meg! Ellie! Vocês tem que olhar para fora! — exclamaram
enquanto dançavam sobre a cama. — A neve está em toda parte!
Tim puxou seu braço.
— Vamos, levante-se! Queremos fazer bonecos de neve!
— Vão embora — ela reclamou, enterrando a cabeça no
travesseiro. Ela não estava com disposição para seus primos.
Eles não se importavam. Eles saltaram sobre a cama até que
Meg chutou irritada. A briga que se seguiu significava que não haveria
mais possibilidade de sono.
As crianças queriam ir direto para fora, mas ela insistiu em que
deveriam lavar-se e irem dizer bom dia à sua mãe depois que ela os
fizesse se vestir para ficarem aquecidos. Depois disso, apenas o Sr.
Huggett, com suas promessas de muffins quentes e melado, poderia
tentá-los a ficar dentro de casa por mais tempo.
Enquanto engolia seu café da manhã com os meninos, o Sr.
Huggett inclinou-se para dizer em voz baixa:
— Eu entendi que você falou com meu senhor sobre o celeiro de
pedra na noite passada.
Lutando contra o rubor, levantou-se e o levou para fora do
alcance da voz das crianças.
— De fato, Eu fiz isso. Ele me explicou sobre os seus... er...
experimentos. Infelizmente temo que sua reação no jantar apenas
aumentou a curiosidade dos meninos.
— Talvez os homens que estão de pé e eu devêssemos ajudá-la
a mantê-los entretidos.
— Não, o Senhor Thorncliff deixou muito claro que ele não pode
abdicar de qualquer um de vocês — disse ela. — Além disso, já
estamos onerando seus poucos recursos para nos dar seu melhor, e
eu não gostaria de fazer qualquer coisa para piorar.
— Seus parcos recursos? — disse com surpresa o Sr. Huggett.
— Está tudo bem. — Ela deu um tapinha no braço. — Eu lhe
asseguro que nenhum dos servos têm fofocado, e eu entendo por
que você não pode discutir essas coisas com estranhos. Mas eu tirei
minhas próprias conclusões. A falta de pessoal, a condição da
mansão… claramente o seu empregador está tendo dificuldades
financeiras.
O Sr. Huggett ficou boquiaberta, em seguida fechou-a e deu-lhe
um olhar considerado.
— Como você diz, seria errado da minha parte discutir o
assunto.
— Eu entendo. É por isso que passei a noite pensando em como
devo cuidar das crianças — Durante os períodos em que ela estava
tentando não se lembrar dos braços fortes do Senhor Thorncliff e dos
seus beijos poéticos. — Sendo que você e o pessoal não podem
buscar os galhos para o Yule, como é de costume, eu pensei que as
crianças e eu poderíamos fazê-lo. Seria uma maneira de retribuir a
sua senhoria por sua bondade e ao mesmo tempo manter os meninos
fora de problemas.
— Buscar os galhos! — exclamou o Sr. Huggett, com um brilho
estranho nos olhos. — Que excelente ideia, o passatempo perfeito
para os jovens cavalheiros.
Ela assentiu com a cabeça.
— Nós fizemos isso nos últimos anos, por isso sabemos o que e
como se busca. Os meninos sobem em árvores como pequenos
macacos. Já falei com a minha tia sobre isso, e ela cordialmente
aprovou. Eu tinha algumas preocupações sobre o manuseio de um
machado, mas ela disse que Percy já fez isso antes, e seu amigo
Charlie parece forte o suficiente. No entanto, vou precisar que você
me arrume alguns itens.
— Certamente! Nós temos os machados, é claro, e você vai
querer uma carroça caso você reúna um grande número de galhos. —
Ele levantou uma sobrancelha. — Você estava planejando trazer o
suficiente para toda a mansão, não estava?
— Oh, sim. Todos os galhos que pudermos encontrar.
— Certifique-se de espalhá-los em todos os lugares — disse ele,
com uma estranha alegria em sua voz. — Nós poderíamos dar um
toque especial de festa por aqui.
— Nós vamos torná-la muito agradável. Uma casa grande tão
linda como esta não merece menos.
Ele olhou-a de perto.
— Então você gosta do lugar? Você não acha sombrio?
— Céus! Certamente não. — Ela lançou um olhar rápido ao redor
do grande salão, para suas paredes com painéis de carvalho, sua
tapeçaria envelhecida pendurado nas extremidades, e seu piso
resistente. — Faz-me lembrar de uma pintura, que uma vez eu vi do
Palácio Real de Hatfield, onde a Rainha Elizabeth gostava de ficar. É
do antigo estilo das casas Inglesas que me faz pensar nos gloriosos
dias de outrora.
Então ela corou.
— Perdoe-me, eu leio muita poesia. Às vezes, ela se infiltra em
minha conversa.
— Não há nada de errado com isso, lhe dá um certo brilho.
Ela riu.
— Eu não sei nada sobre isso.
— Confie em mim, Srta. Bancroft. — Com um sorriso genial, ele
a levou de volta para a mesa. — Você não deve deixar que os
resmungos do Lorde, diminuam seu espírito. Você é a coisa mais
brilhante que desembarcou em nossa porta em um longo tempo, e
deve se divertir. Você e as crianças.
— Muito bem — disse ela, sentindo-se menos melancólica. — ,
certamente vou tentar.

Martin levou metade do dia para arrumar os produtos químicos,


pólvora, e pedras que ele usava em seus experimentos. Tinha levado
muito mais tempo para parar de pensar de Srta. Bancroft e sua
maravilhosa boca. Mesmo indo à mina para certificar-se que o tempo
não tinha criado problemas para os homens, ela não tinha saído de
seus pensamentos.
Com um gemido, ele lavou-se na bacia que havia no escritório
do gerente da mina. Mas embora ele jogasse água gelada no rosto,
não conseguia lavar o gosto dela de seus lábios ou congelar o calor
que subia em seu corpo, sempre que ele pensava em como ela tinha
se rendido, numa mistura irresistível de fogo e inocência. Se ele
realmente pudesse cortejá-la.
Cortejá-la! Ele deveria estar louco. Ele não podia cortejar
alguém, certamente não agora, quando ele estava tão perto de obter
a fórmula certa para o que chamava de "fusíveis de segurança."
Mesmo depois que ele desenvolvesse a combinação certa de pó e do
mecanismo de levá-lo para o explosivo, o que poderia levar meses
para testá-lo sob diferentes condições. Nenhuma mulher deveria ser
envolvida durante tal experiência. Era muito perigoso, muito
perturbador.
Além disso, a Srta. Bancroft ainda não sabia que o casamento
com ele poderia marcar sua vida na sociedade. Se casar com ela só
daria combustível para alimentar as fofocas, também diriam que ele
se casara com ela por sua fortuna, assim como eles disseram que ele
matou seu irmão para ter o título e a propriedade.
Não importa que ele não quisesse o título ou precisasse de sua
fortuna. Ele não seguia as regras da sociedade para cavalheiros, o
que lhes deu desculpas suficientes para fofocar sobre ele. Só Deus
sabia por que ela não tinha lhe posto para fora por causa de sua falta
de modos.
Ou talvez ela tivesse. Certamente seus comentários idiotas
depois de beijá-la na noite passada não tinham lhe ajudado, a julgar
pela forma como a cor tinha sumido de seu rosto. Talvez devesse
contar a ela sobre a fofoca para empurrá-la sobre a borda. Ela
manter-se-ia em uma distância segura, removendo a tentação de seu
alcance e acabando com qualquer chance de intimidades insensatas.
Mas isso, tampouco lhe agradava.
Amaldiçoando-se para se apressar, ele vestiu o colete limpo e o
casaco, em seguida, dirigiu-se para casa. A escuridão tinha caído
horas atrás. Ele estava atrasado para o jantar. Não que ele se
importasse — ele preferia evitar compartilhar outra refeição com a
Srta. Bancroft. Ela era uma grande tentação, droga.
Desmontou na frente de casa e entregou seu cavalo para ao
cavalariço. O cheiro de cedro o assaltou enquanto se aproximava da
entrada. Ele piscou. Havia ramos pairados sobre sua porta. Quando e
como haviam chegado ali?
Huggett. É claro. Seu mordomo infernal tinha ignorado suas
ordens! Basta esperar até que ele pusesse as mãos no safado. O fato
de ter estranhos em casa havia encorajado o homem a ser mais
impertinente que o habitual, mas ele não iria deixar por isso mesmo!
Abrindo a porta bruscamente, Martin entrou pisando firme.
— Huggett! Venha aqui, desgraçado! Você sabe muito bem o
que penso desta farsa de Natal!
Uma voz saltou da janela.
— Por que você chama de farsa, senhor?
Ele virou-se e deu de cara com um garoto de cabelos escuros
parado ali sozinho, olhando para ele com os olhos arregalados. Não
era um Metcalf; era o amigo. Charlie Dicks ou Dickers ou algo assim.
Ele não podia dizer a verdade ao menino, que qualquer coisa
relacionada ao Natal o lembrava de como ele tinha falhado com
Rupert.
Em seguida, ele vislumbrou uma explosão de cor vermelha sobre
a cabeça do menino. Deus o ajudasse, os galhos na porta da frente
não eram os únicos. Galhos adornavam cada arco da janela e da
cornija no grande salão. Laços cheios de pontas sobre a mesa de
jantar, e em volta das velas amarelas e grossas que, segundo a
tradição, não deveriam ser acesas até a véspera de Natal. Ele andava
em transe, observando como os ramos que foram trançados juntos,
entrelaçados com fitas vermelhas brilhantes que eclodiram nas
extremidades em arcos extravagantes.
Este não foi o trabalho de Huggett. Apenas uma mulher poderia
fazer isso. Uma mulher em particular, para ser exato.
— O que você acha? — veio à voz hesitante de seu algoz, que
tinha, aparentemente, entrado na sala enquanto ele estava olhando.
Orando para que ela não tivesse ouvido o que ele dissera para o
jovem Charlie, ele a enfrentou. Então, ele prendeu a respiração, o seu
sangue ferveu em um frenesi.
Ela estava cercada pelas outras crianças, em um elegante
vestido de cetim vermelho que exibia seus seios exuberantes, mais
tentadora do que qualquer deleite de Natal.
Ela não parecia notá-lo boquiaberto, deliciado com seus seios,
pois ela balbuciou novamente:
— O Sr. Huggett foi gentil o suficiente para nos deixar ir até seu
sótão, onde as fitas de Natal são armazenadas. Felizmente havia até
algumas velas Yule não utilizadas. Suponho que você os armazenou
de um Natal anterior.
Ele forçou-se a olhar para seu rosto.
— Provavelmente foi minha mãe. Meu irmão sempre trazia
novos da cidade, e eu... er... não usei nenhuma desde... bem...
— Milorde diz que o Natal é uma farsa, — Charlie mexericou.
Como um olhar aflito atravessou seu rosto, ele corrigiu
rapidamente:
— Eu não disse isso. Bem, não exatamente isso. E eu estava me
referindo ao hábito do Sr. Huggett de abandona suas outras funções
para que possa deixar a mansão mais festiva. Eu não tinha percebido
que a Srta. Bancroft...
— Nós não usamos os lacaios ou Sr. Huggett, eu juro — ela
assegurou, sua expressão de dor desaparecendo. Ela empurrou os
óculos que haviam deslizado encantadoramente para baixo em seu
nariz. — Os meninos e eu fizemos isso tudo: entramos na mata para
cortar os galhos, encontramos as fitas e as velas, e penduramos os
galhos. A única coisa que o Sr. Huggett fez foi nos direcionar para
onde encontrar. E nos forneceu uma carroça.
— E deixá-los no sótão — disse ele secamente. Ele apostaria
Huggett tinha estado por trás de tudo.
Mas sua raiva já estava diminuindo. Curiosamente, os galhos
trouxeram menos lembranças daquele horrível Natal, quando Rupert
tinha sido morto do que de suas férias de infância, quando a mãe e o
pai ainda estavam presentes em suas festas de Natal. Com as
recordações estourando, vívidas, através de seus sentidos, ele teve
que se virar para esconder a dor rápida das perdas que se seguiram.
— Bem, você fez um excelente trabalho — ele engasgou. — Está
espetacular.
— Então você gostou? — ela perguntou, todo o teor de sua voz
mudando.
Ele acenou com a cabeça, incapaz de falar. O que libertou as
crianças a pulular sobre ele, ressaltando que parte cada um tinha
feito: como Percy tinha cortado os galhos com um machado, e como
Tim e Charlie lhes tinham trançado sob a instrução "de Ellie".
Embora ele tenha ouvido que a chamavam de Ellie antes, ele
não tinha percebido o quão bem lhe convinha. "Srta. Bancroft" ou
mesmo "Elinor" soava muito elegante da alta sociedade. "Ellie" soava
como se fosse uma camponesa com quem um homem poderia cair no
feno.
Por Deus, ele não deveria pensar nela desse jeito!
— Está todo mundo pronto para o jantar? — perguntou Huggett
da porta.
Martin disparou para a Srta. Bancroft um olhar surpreso.
— Nós não queríamos comer sem você — ela explicou. — Isso
seria rude.
Rude ou não, ninguém nunca tinha lhe esperado para jantar. Ele
não tinha conta das bandejas feitas por Huggett e levadas ao seu
escritório uma vez que chegava par a terminar o seu trabalho do dia.
Mas não era esse jantar que enchia sua barriga.
Era o jantar presidido por sua mãe até a sua morte há dez anos.
E mesmo que ela tenha dito que se ele não estivesse na mesa quando
fosse servido, ele não teria mais qualquer jantar, o que tinha
acontecido com bastante frequência, desde que ele tinha sido o tipo
de criança capaz de absorver-se tão plenamente em seus
experimentos científicos que ele perdia a noção do tempo.
— Senhor? Devo mandar os lacaios servirem? — Huggett
perguntou.
Martin olhou para o mordomo, desta vez observando como ele
esperava, nervoso, a reação de seu empregador, quanto aos galhos. A
pergunta de Huggett ia além da questão de jantar. O homem estava
pedindo aprovação. Ele sabia perfeitamente bem que ele ultrapassou
seus limites, incentivando a Srta. Bancroft e as crianças. Agora ele
queria absolvição. A questão era: Martin a daria para ele?
Ele precisou dá-la. Porque repreendendo Huggett significaria
castigar a Srta. Bancroft, e Martin não podia suportar a ideia de feri-la
novamente.
Forçando um sorriso em seu rosto, ele foi até a cabeceira da
mesa festiva.
— Sim, Huggett, mande os lacaios servirem. Estamos prontos
para jantar.
Capítulo Cinco
Cara Charlotte,
Tenha cuidado, minha cara. Um dia, quando você menos espera,
posso de fato aparecer na sua porta e me revelar nada como você
imagina.

Seu primo,
Michael

Nos dois dias seguintes, Ellie notou que o Senhor Thorncliff não
cruzou seu caminho criando de uma espécie de trégua. Ele parecia
menos espinhoso. Ela não podia atribuir a sua decoração, porque
Charlie insistiu que sua senhoria tinha chamado de "farsa de Natal." O
homem tinha dito algo semelhante sobre os cânticos quando ele os
resgatou. É evidente que ele tinha uma antipatia peculiar pela
temporada.
No entanto, ele não só tinha tolerado seus esforços, mas estava
tentando ser simpático à sua maneira. Embora ele passasse seus dias
em outro lugar enquanto ela e as crianças exploravam seus extensos
terrenos, a noite ele se juntava a eles para o jantar. Ele até se
sentava com eles na sala com as paredes pintadas para parecerem
painéis de nogueira. Ele olhava os jornais, olhava as crianças
brincarem de charadas, ou a ouvia ler em voz alta, Byron O cerco de
Corinto. Às vezes, ele mesmo lia para as crianças.
Mas a camaradagem terminava depois que ela levava as crianças
para a cama. Então ele desaparecia, e eles voltavam a ser estranhos
novamente. Mesmo se ela voltasse para a sala, ele não o fazia. Às
vezes, quando ela lia sozinha ou sentava-se com a tia Alys em seu
quarto, ela se perguntava se tinha imaginado o beijo incrível.
Em sua quarta noite em Thorncliff Hall, dois dias antes do Natal,
as crianças sugeriram que eles jogam snapdragon.
— Você estão loucos? — sua senhoria disse. — Está fora de
questão. Não haverá taças com queima de Brandy na minha casa.
— Não é tão ruim, você sabe — ela colocou, embora sua
resposta não a surpreendesse. — , se você tomar a precaução
adequada.
— A melhor precaução é não o jogar. Tal comportamento
acarreta em pessoas mortas.
— Snapdragon? — Percy disse cético. — É mais um jogo de
salão, senhor. Nossa mãe nos permite fazê-lo todos os anos.
— Então, sua mãe é uma tola — Quando as crianças se
arrepiaram com isso, ele franziu a testa e se levantou. — Perdoe-me,
eu não estou apto para companhia esta noite.
E com esse pronunciamento abrupto, ele os deixou.
O que na Terra tinha acontecido? Ela havia pensado que um
homem que fazia experiência com explosivos acharia snapdragon
inofensivo, se não chato. Certamente não levava as pessoas à morte.
Isso era ridículo!
Como ela ficou olhando para ele, Percy virou para ela.
— Podemos jogá-lo agora?
— Não, de fato. Seria rude fazer isso por trás das costas de
nosso anfitrião, e em sua própria casa.
Aquilo pôs fim à discussão. Mas mais tarde, depois que as
crianças foram para dentro e Ellie sentou-se na cama de sua tia ela
pôs-se a pensar nos eventos do dia, com o último encontro ainda
preso em sua mente. Ela queria entender por que ele era tão
espinhoso e imprevisível.
Então fez a sua tia uma pergunta que tinha estado relutante em
expressar até agora, não queria alarmar a tia Alys
desnecessariamente.
— Você já ouviu falar de um cavalheiro chamado "o Barão
Negro"?
Sua tia soltou um suspiro pesado.
— Eu me perguntei quanto tempo levaria para você ouvir sobre
a reputação de nosso anfitrião.
— Você sabia?
— Claro. Uma das crianças mencionou o apelido, e lembrei-me
dos rumores. No começo eu estava preocupada, mas ele tem sido
nada mais além de gentil para conosco. Em minha opinião isso fala
mais alto do que qualquer fofoca.
— Exatamente — disse Ellie. — Só porque ele é o sujeito mais
rabugento em Yorkshire, não é razão para as pessoas desprezá-lo. Ele
pode às vezes ser rude e tirar conclusões sobre as pessoas com
absolutamente nenhuma razão, mas...
— Você gosta dele.
— Sim — Ela captou a expressão de sua tia. — Não! Eu... eu
quero dizer, não como você pensa. Eu sou apenas grata a ele por nos
ajudar, isso é tudo. — Como as sobrancelhas da tia arquearam, ela
protestou: — Ele não é meu tipo, é muito temperamental. Além disso,
qualquer homem que pensa que o Natal é uma farsa não é elegível
para um casamento adequado. — Mesmo se ele estivesse interessado
em casamento. O que ele não estava. Mas ela não estava disposta a
revelar a verdade embaraçosa para sua tia.
— Você não pode culpá-lo por não gostar de Natal, uma vez que
seu irmão morreu durante a temporada.
— O quê? Como você sabe disso?
— Todos sabem... O homem foi morto na explosão de uma
mina.
— Oh céus. — Essa era a razão do Senhor Thorncliff não gostar
de Natal, porque o lembrava de um momento doloroso. Seu estômago
revirou. Quão terrível ela tinha sido ao perseguir seus planos sem se
preocupar com a opinião dele! O que ele deve ter pensado, ter
sentido...
Mas espere! certamente o Sr. Huggett tinha conhecimento. Por
que ele não tentou pará-los?
— É por isso que eles chamam nosso anfitrião de o Barão Negro
— sua tia continuou. — Algumas pessoas afirmam que ele é
responsável pelo acidente.
— Por quê? — Ellie perguntou. — O que aconteceu?
— Ninguém sabe ao certo. É por isso que as pessoas inventaram
histórias desagradáveis para explicá-la. Parece que o falecido irmão
de sua senhoria organizou uma festa aqui em sua casa no Natal, e os
convidados testemunharam os dois homens discutindo. Então o
presente Senhor Thorncliff saiu e foi para a mina, seguido por seu
irmão mais velho. Algum tempo depois, ocorreu uma explosão. E esse
foi o fim de Rupert Thorncliff.
— Isso não significa que o nosso anfitrião seja responsável —
Ela não podia ter confundido a dor abjeta no rosto do Senhor
Thorncliff à menção da morte de seu irmão.
— Não, claro que não, e um inquérito o exonerou de qualquer
culpa. Mas ele herdou tudo, e como resultado, é por isso que alguns
dizem que o irmão mais novo aproveitou a oportunidade para ganhar
o título e a propriedade.
— Eu não acredito nisso — Ellie disse fortemente.
— Nem eu.
A justa indignação de Ellie cresceu quanto mais pensava sobre
isso.
— Ora, ele nem sequer parece se importar com o título. Ele
certamente não mostra nenhum interesse em dominar as pessoas. Ele
fala da sociedade com nojo.
— Eu acho que isso é parte do problema. Seu irmão era um
homem sociável, amado e admirado por sua forma gregária e pela
generosidade para com os amigos. Pelo que eu entendo, Lorde
Thorncliff, era muito como ele é agora. E as pessoas tendem a ficar
do lado das pessoas que gostam, essa é a lógica.
— Mas eles não devem espalhar fofocas sem saber as
circunstâncias.
— Concordo.
— O Barão Negro, na verdade, isso é muito cruel.
— Absolutamente.
— Eles deveriam ter vergonha!
— Certamente. — Os lábios de sua tia apertaram como se ela
lutasse com um sorriso. — Mas eu não sei por que você se importa se
você é "meramente grata a ele por nos ajudar”.
Ellie baixou o olhar. Sua tia viu demais.
— Eu só não gosto de pensar em alguém ser tachado de vilão de
forma errada. — Dando um bocejo exagerado, ela se levantou muito
emocionada para aguentar mais sondagem. — Eu acho que vou para
os meus aposentos agora. As crianças querem uma caça para a festa
de Natal logo pela manhã, e isso será desgastante.
— Durma bem, minha querida — sua tia disse suavemente.
Ellie deu um beijo em sua bochecha, em seguida, se dirigiu para
o quarto adjacente. Mas, quando ela se acomodou na cama ao lado
de Meg, o mistério da morte do barão anterior continuou a absorvê-la.
A própria ideia de Lorde Thorncliff organizar a morte do seu
irmão era tão injusta! Ela não podia acreditar. Ela não acreditava. No
entanto, ela passou uma noite agitada com fantasias lúgubres que só
terminaram nas primeiras horas da manhã, quando ela caiu em um
sono sem sonhos.
Quando ela acordou, percebeu duas coisas ao mesmo tempo:
tinha dormido mais tarde do que o habitual e a casa estava em
silêncio. Muito tranquila, uma vez que os meninos geralmente
acordavam de madrugada. Mesmo Meg estava faltando, embora uma
espiada no quarto de tia Alys revelou que estava aconchegada e
absorta na história lida por sua mãe.
— Onde estão os garotos? — Ellie perguntou.
Tia Alys olhou para cima.
— Lá fora, eu imagino. Percy disse que é para onde eles
estavam indo, enquanto a esperavam para o café da manhã. Eu disse-
lhes para deixar você dormir.
Será que os garotos se dirigiram sozinhos para floresta?
Certamente não. Não iriam tão longe sem o café da manhã. Mas um
sentimento mesquinho lhe dizia que algo estava errado o que a
impulsionou a correr para a janela de seu quarto com vista para a
floresta em volta. Quando ela abriu a janela, ela ouviu um rugido que
era inconfundivelmente de seu anfitrião.
Oh, não, o celeiro de pedra. Um rápido olhar mostrou os
meninos com seus passos congelados na porta, enquanto Sua
Senhoria caminhava para eles. Incomodá-lo traria problemas.
Depois de lançar seu manto sobre sua camisola e abotoando-a
rapidamente, ela enfiou os pés em suas botas e meia. Então ela
praticamente voou escada abaixo, o longo caminho até o celeiro, foi
feito como se fosse uma curta distância. Enquanto ela se aproximava
do grupo, ela viu o cadeado da porta do celeiro, com o que parecia
ser um fio pendurado para fora do mesmo. Eles tentaram arrombar a
fechadura? Ele estava indo para matá-los!
O Sr. Thorncliff içava Percy e Charlie no ar pelas costas de seus
casacos. Como Tim ficou bem fora de seu alcance, ele enfureceu-se
com todos eles.
— Vocês nunca escutam a ninguém, seus tolos? Eu não disse
para não chegar perto daqui? Eu quis dizer exatamente isso! Por
Deus, eu vou castigar cada um de vocês por isso...
— Milorde, por favor! — ela gritou, apressando-se para frente.
Quando ele se virou com um olhar selvagem sobre ela, ela
parou, lembrando-se do terror em seu rosto quando ele falou sobre o
motivo pelo qual deveriam ficar longe do celeiro. O que ele disse? Que
ele mantinha as coisas lá dentro porque muitas pessoas tinham
acesso a coisas na mina. Há muita chance de um visitante ou um
estranho se machucar. Assim como seu irmão?
Oh, Senhor, por isso a ideia de que alguém chegue perto de
seus explosivos o enfurecia. E provavelmente por isso que ele estava
fazendo experiências para encontrar formas mais seguras de usá-los,
maneiras que ela e as crianças estavam colocando em risco pela sua
simples presença aqui, já que ele parecia relutante em trabalhar em
seus experimentos, enquanto eles eram seus convidados.
Como ela poderia culpá-lo por estar zangado com as crianças?
Ele estava tentando mantê-los seguros.
— Eu tenho que puni-los — disse ele em uma voz oca, com os
olhos fixos nela.
Ela engoliu em seco.
— Sim, você está certo.
Ele piscou.
— O que? — Percy gritou enquanto ele se contorcia para ficar
fora do alcance do barão. — Ellie, você não pode deixá-lo nos
castigar!
Olhando para Percy, ela cruzou os braços sobre o peito. Tia Alys
não ficaria feliz com isso, mas ela também, não queria ver nenhum de
seus meninos explodidos em pedaços.
— Ele avisou para não chegar perto daqui. Ele não poderia ter
feito mais claro. Vocês foram os únicos que não acataram suas
advertências.
— Eu lhe disse que devia esperar! — Tim gritou para os dois
garotos mais velhos. — Eu disse que ele não tinha deixado a mansão
ainda!
O rosto de Lorde Thorncliff corou violentamente.
— Você pensou que iria me evitar, não é? — Ele balançou Percy.
— Jovens tolos. Graças a Deus eu tive que buscar algo aqui fora. Um
dia você vai ficar feliz por isso, por eu lhe castigar, quero dizer que...
— Por favor, senhor, não! — Charlie gritou quando ele se
contorceu no ar. Ele tinha sentido o suficiente para perceber que a
negociação era sua melhor chance agora que Ellie não estava seu
lado. — Nós prometemos que esta é a última vez que nunca mais
vamos chegar perto de seu celeiro!
— Maldito! — o barão rosnou e sacudiu os dois novamente.
— Por favor, não nos castigue senhor! — Percy entrou na
conversa. — Nós não vamos fazê-lo novamente, nós prometemos!
— Você espera que eu acredite nisso? — ele disse rispidamente.
Ela não podia deixar de notar que ele ainda não tinha feito mais
do que rosnar para eles.
— Pelas nossas almas, nós prometemos! — disse Percy. — Diga-
lhe, Ellie!
Foi bom ver alguém colocar o temor de Deus nos garotos.
— Diga a ele o quê? Eu não tenho certeza de que qualquer um
de vocês pode ser confiável.
— Ellie! — Sentindo-se traído Tim desabou em lágrimas
violentas. — Nós só... fizemos porque você... não nos deixou jogar
snapdragon.
— Então você está dizendo que é minha culpa? — ela perguntou.
— Cale a boca, Tim! — Percy gritou. — Você não está ajudando!
Mas para Tim ainda não acabou.
— É tão chato aqui… — ele disse entre soluços. — Nossos
brinquedos es- estão em casa e a Mama está… sempre cansada, e
você...
— Pelo amor de Deus — o Senhor Thorncliff resmungou,
baixando os meninos para o chão. — Não culpe sua prima. Ela tem se
esforçado, tentando acompanhar vocês.
Ela lançou-lhe um olhar surpreso.
— Como você sabe?
— Eu tenho olhos, não é? Além disso, quando eu chego em
casa, Huggett me diz tudo o que você… — corou um pouco, ele
murmurou um juramento em voz baixa, depois virou com uma
carranca para os meninos. — Tudo bem, eu não vou castigar vocês,
mas vocês vão passar o resto da manhã esfregando panelas para o
cozinheiro, Está claro?
Os rapazes balançavam suas cabeças vigorosamente.
— Depois disso, vocês devem prometer ficar com Ellie em todos
os momentos. De outra forma...
— Nós prometemos, nós prometemos! — Percy gritou.
Sua respiração ficou presa na garganta. Não só o barão tinha
suavizado sua postura para com os meninos, mas ele a defendeu. Ele
até usou seu nome. Será que ele percebeu isso? Será que isso
significa alguma coisa?
Com um olhar para Tim ainda fungando, ele suspirou.
— E se você mantiver a sua promessa e se comportar hoje… —
Ele lhes lançou um olhar considerando — Então vamos jogar
snapdragon esta noite.
Os garotos olharam para ele, atordoados, em seguida, soltaram
um grito de alegria.
— Snapdragon! — exclamaram, dançando sobre ele. —
Snapdragon hoje à noite!
— Só se vocês se comportarem! — ele gritou sobre o barulho.
Quando isso os acalmou, ele baixou o tom de voz. — Porque se eu os
pegar perto de celeiro de novo, uma polegada que seja, vou castigá-
los e vocês lembrarão pelo resto de suas vidas. Entendido?
— Sim senhor! — eles gritaram em uníssono.
— Agora vão tomar café da manhã. Eu vou me juntar, em breve,
para informar o cozinheiro dos seus deveres.
Eles não precisaram de mais desculpa para ir para dentro da
segurança. Mas Ellie não os seguiu. Em vez disso, ela observou como
o Senhor Thorncliff destrancou o cadeado para ter certeza que ainda
funcionava, em seguida, foi para dentro do celeiro. Ela se arrastou
atrás dele.
Levantando os óculos, ela deu uma olhada rápida no misterioso
lugar que causara tantos problemas. Os barris estavam empilhados
em uma das extremidades, e uma longa mesa de trabalho ficava na
outra, sob uma grande janela de vidro colocada no telhado.
Aparentemente fora projetado para afunilar a luz do sol naquela
metade do celeiro, já que as paredes de pedra não tinham janelas.
Caixas e armários variados enchiam o resto do espaço, cheirando a
fogo, enxofre e carvão.
— O que você quer? — ele perguntou bruscamente, tirando-a de
seu exame. — Você não deveria estar aqui. Você poderia se
machucar.
A preocupação rude em sua voz a tocou.
— Ao contrário dos meus primos, não tenho interesse em
vasculhar seus explosivos. — Quando ele não disse nada, ela
acrescentou: — Além disso, eu queria agradecer a você. Os meninos
não mereciam sua tolerância, mas eu agradeço que você lhes tenha
dado de qualquer maneira, meu senhor.
— Martin — ele murmurou, parando de vasculhar uma gaveta do
armário.
Ela se aproximou.
— O que?
— Meu nome é Martin. Você também pode usá-lo. — Retirando
um canivete, ele enfiou no bolso. — Eu odeio essa farsa de 'meu
senhor'. Em minha opinião, Rupert ainda é o lorde Thorncliff.
Convinha-o melhor do que a mim, de qualquer maneira.
Seu coração ficou preso na garganta. Como poderia a sociedade
achar que ele matara seu irmão pelo título?
— Tudo bem. Então obrigada... Martin.
Um suspiro trêmulo escapou dele.
— Vou castigar seus primos se eles não se comportarem você
sabe — disse ele, um pouco defensivamente.
— Eu sei.
— Se você não tivesse aparecido, eu teria lhes colocado por
cima do meu joelho.
— Tenho certeza que você teria.
— Porque eles não deveriam ter vindo aqui...
Ellie começou a rir.
Ele virou-se para encará-la.
— O que, inferno, é tão divertido?
— Você não tem que continuar rosnando sobre isso agora que
eles se foram. Ao contrário dos meninos, estou plenamente
convencida de sua capacidade para desempenhar o covarde Barão
Negro tão frequentemente e ferozmente com o dever de protegê-los.
Como se notasse pela primeira vez os cabelos soltos e a capa
que abotoara sobre o vestido inapropriado, ele lhe deu uma longa e
lenta leitura que provocou arrepios em sua espinha.
— Você me acusa de fingir, Ellie?
O uso íntimo de seu apelido enviou um pouco de emoção
através dela.
— Eu acuso você de agir de forma mais mal-humorada do que é
a sua verdadeira natureza.
Uma súbita sombra surgiu em seu rosto.
— Você não sabe nada da minha verdadeira natureza.
— Na verdade eu sei. — E já era hora dele saber que nem
todos estavam contra ele. — E apesar do que as pessoas dizem, eu
não acredito que você tenha matado o seu irmão.
Capítulo Seis
Querido primo,
Meu, meu, você certamente tem despertado meu interesse.
Talvez eu devesse adivinhar a sua identidade, e você poderia me dizer
o quão longe eu estou de acertar. Você poderia ser um Hessian com
uma predileção por tortas de limão? Um antigo espião do Ministério
do Interior? Ou até mesmo uma mulher? Não, eu sei que você não é
uma mulher. Uma mulher não poderia ser tão arrogante como você.

Sua "parente",
Charlotte

Martin olhou para Ellie. Ela realmente disse o que pensava?


Sim, é por isso que ela o estava observando tão de perto. Ela
tinha ouvido os rumores, e agora ela queria descobrir se eram
verdadeiros.
Um gemido lhe escapou. Ele passou os últimos dias em agonia,
aquecendo-se com seus sorrisos calorosamente inocentes, entretido
com ideias loucas de como seria tê-la como sua esposa, cuidando de
seus filhos. Ele passou três noites imaginando-a em sua cama,
embalando seu corpo entre suas coxas de mel, acariciando-o como só
uma mulher poderia. Ele não podia ver sua expressão quando ficou
claro para ela que ele realmente era responsável pela morte de
Rupert.
Ele se dirigiu para a porta.
— Já que você aparentemente descobriu a verdadeira razão pela
qual eles me chamam de Barão Negro, não há mais nada a dizer, não
é?
Ela pegou seu braço enquanto tentava passar por ela.
— Eu gostaria de ouvir a sua versão, uma vez que tudo o que eu
ouvi de minha tia eram rumores.
Ele congelou, sem olhar para ela, com medo de ver o que havia
em seus olhos.
— Estou surpreso que ela não tenha lhe pedido para levá-la para
longe daqui. Estou surpreso que você não foi por si mesma.
— Não seja bobo! Nós não precisamos prestar atenção a alguma
fofoca boba. Como Shakespeare disse: 'O boato é um cachimbo /
soprado por suposições, ciúmes, conjecturas.
Uma risada sufocada escapou dele ao vê-la alegremente citando
Shakespeare, enquanto ele estava esperando que ela fugisse.
— Você não tem ideia de como isso é verdade.
— Tenho certeza que não é. É por isso que você me deve uma
explicação.
Seu olhar disparou para ela. Ele se atreveria? O rosto dela
estava aberto, esperando. Ele não viu nenhuma reprovação, nos olhos
meio velados por seus óculos, mas isso significava pouco. Uma vez ele
que dissesse a ela, ela iria desprezá-lo. Deus sabia que ele desprezava
a si mesmo.
Afastando-se, dirigiu-se para a mesa de trabalho.
— Você deveria ir. Eu preciso esconder alguns produtos químicos
no caso de seus primos tentarem novamente. Eu empacotei os piores
alguns dias atrás, mas ontem eu tive que tirar alguns frascos.
— Martin — ela disse bruscamente, interrompendo seu fluxo
frenético de palavras. — Você pode se sentir melhor se você falar com
alguém. Diga-me o que realmente aconteceu. Eu prometo não o
julgar.
Os céus a levassem por dizer isso. Para ter alguém ouvindo e
não julgar .... Não, não apenas alguém - ela. Seus homens não o
julgavam, e nem o povo da cidade local. Foram apenas os iguais a ela
que o consideraram culpado.
Esse pensamento o estimulou a encará-la.
— Não é um grande segredo — ele disparou. — Os mineiros
testemunharam. Huggett sabe disso. Se as pessoas realmente se
importassem em saber, eles poderiam descobrir. No entanto, você é a
primeira na sociedade a perguntar-me diretamente. A maioria das
pessoas prefere inventar seu próprio conto em vez de buscar algo tão
maçante como a verdade.
— Você não torna fácil perguntar — ressaltou.
Isso o deteve.
— Acho que não. — Recostando-se na mesa, ele cruzou os
braços sobre o peito.
— Mas desde que eu enfrentei seu temperamento para fazê-lo, o
mínimo que poderia fazer é responder à pergunta — ela o incitou,
caminhando em direção a ele.
Por um momento, a dança sedosa de seu cabelo sobre seus
quadris o distraiu. Ele não podia acreditar que ela o usasse solto.
Teria vindo direto da cama? O próprio pensamento o fez endurecer,
imaginando seu corpo exuberante espalhado em sua cama com uma
cortina de mexas de carvão brilhantes, sua boca sorrindo, chamando-
o para levá-la. Idiota - você está deixando sua mente fugir
novamente. Ela não poderia ter vindo direto da cama - as mulheres da
sociedade não faziam isso. Além disso, o manto dela estava abotoado
com perfeita propriedade, e ela usava botas e óculos. Não o traje de
uma dama recém saída da cama. Provavelmente ela estava se
vestindo quando o ouviu com os meninos e não esperou para arrumar
o cabelo.
— Pelo menos, diga-me como um cavalheiro como você veio a
fazer experiências com explosivos — ela o incitou. — Foi por causa da
morte de seu irmão?
Ele saiu de sua distração.
— Não. Começou muito antes disso. — Ela não iria deixá-lo ir,
iria? E talvez fosse melhor se ela soubesse. Uma vez que ela se
afastasse dele, ele não seria mais tentado a mantê-la em sua vida.
Sua vida perigosa exigente, onde nenhuma mulher pertencia.
Com um suspiro, ele começou.
— Eu sempre fui interessado em química, por isso, quando eu
era um menino meu pai me deixava ir com ele sempre que ele
consultava o gerente da mina. Um dia chegamos logo depois de uma
má explosão. Eu tinha dez anos. Vi coisas que meus piores pesadelos
não poderiam ter conjurado: um mineiro com um braço pendurado
por um tendão, um outro sem...
Ele se conteve, percebendo que ela tinha ficado muito pálida.
— De qualquer forma, eu nunca esqueci. Isso me estimulou.
Então, quando meu pai me deu as escolhas habituais para um
segundo filho: se juntar ao exército, a marinha ou clero. Eu lhe disse
que queria estudar ciência. Eu li tudo o que pude sobre operações de
mineração. Explosivos podem ser um mal necessário na mineração,
mas eu sabia que poderia ser mais seguro. Eu só precisava de mais
conhecimento para saber como. Para minha surpresa, meu pai
concordou em me deixar seguir meu interesse.
— Ele não achava inadequado para um cavalheiro?
— Sim, mas ele entendeu. Ele tinha testemunhado muitos
acidentes. Então, enquanto ele ensinou Rupert a administrar a
propriedade, ele me permitiu estudar na Universidade de Edimburgo.
Uma vez eu voltei para casa, passei a trabalhar em melhorias para a
mina. A nossa foi a primeira a utilizar a lâmpada de segurança Davy.
— Seu pai deve ter se sentido muito orgulhoso de você — ela
murmurou.
Ele tinha se sentido, mas apenas porque ele não tinha vivido
para ver o que aconteceu com seus filhos.
— Depois que o meu pai morreu, Rupert e eu permanecemos
em nossos papéis circunscritos. Embora ele fosse o proprietário da
mina em virtude de ser o herdeiro, ele me deu total liberdade para
experimentar as melhorias. Tudo estava bem entre nós.
Sua voz ficou apertada.
— Até o Natal que ele morreu — Como sempre, lembrou-se do
cheiro, vivas, ganso assado, as gargalhadas e canções, o amontoado
de pessoas enchendo cada canto da casa. — Rupert tinha vários
convidados aqui para a temporada. Quando seus convidados
descobriram que eu estava testando um novo explosivo, menos volátil
na mina, eles clamaram para serem autorizado a assistir. Rupert
concordou, mas eu me recusei a permitir. Eu disse a ele que seria
muito perigoso.
Fixando o seu olhar para além dela, Martin viu novamente a
mortificação que tinha atravessado o rosto de Rupert.
— Então, nós discutimos sobre isso, e eu saí, dizendo-lhe que se
ele levasse alguém lá, eu iria colocá-los para fora. O que, claro, eu
não tinha o direito de fazer.
— É por isso que ele foi lá, fazer valer os seus direitos?
— De certa maneira. Ele sentiu que eu o envergonhava diante
de seus convidados. Ele apareceu bêbado, embora felizmente sozinho,
e tentou assumir o comando da detonação. Ele continuou dizendo que
ele era o proprietário e sabia tanto sobre, como eu.
Empurrando-se para longe da mesa, ele começou a andar.
— Ele dolorosamente despertou meu temperamento, então eu
disse-lhe para fazer o que quisesse, em seguida, saí correndo. Os
homens não sabiam como reagir. Ele era o proprietário, apesar de
tudo. Quando ele lhes ordenou para realizar a explosão, eles
obedeceram. Mas o pólvora fracassou antes de atingir os explosivos, o
que às vezes acontece. Ele foi para acendê-lo novamente, mesmo que
eu gritasse que ele deveria esperar até que ele tivesse certeza de que
o pó realmente tinha fracassado.
Um tremor sacudindo-o.
— Ele não tinha. — Se apenas Rupert tivesse escutado. Se
apenas Martin tivesse se afastado. Se apenas... se... se... As palavras
que torturavam suas noites. — Ela explodiu assim que ele chegou lá.
Ele morreu instantaneamente.
O silêncio que caiu entre eles enviou um calafrio na espinha. Ele
estava com medo de olhar para ela, a certeza de que ela estava
chocada. E por que não estaria? Ele tinha falhado com seu próprio
irmão. Furioso ele o abandonara e o resultado fora horrível.
Mas Ellie estava pensando outra coisa completamente - que a
sua história contava uma tragédia tão grande e profunda, e ela não
sabia como começar a aliviar sua dor.
— Eu sinto muito — ela sussurrou. Ele parou de andar, mas não
falou, então ela se atrapalhou — Deve ter sido terrível para você.
— Não horrível o suficiente, alguns diriam, considerando o que
eu ganhei com a sua morte. — Suas palavras concisas estavam cheias
de culpa.
— Qualquer um, que o diga, não tem coração — ela sussurrou,
seu próprio coração se partindo.
Ele prendeu a respiração irregular.
— Você não me culpa pelo que aconteceu? — ele perguntou com
uma nota de surpresa em sua voz, embora ele ainda não olhasse para
ela.
— Certamente que não. Por que culparia?
— Porque eu era responsável, droga! — Ele virou-se para
encará-la. — Eu não parti para matá-lo, mas eu fiz isso com tanta
precisão como se colocasse uma pistola na sua cabeça.
— Absurdo! — Ela apressou-se até onde ele estava tão rígido e
ereto como um dos soldadinhos de chumbo dos meninos, carregando
um fardo muito mais pesado do que o chumbo. — Perdoe-me por
falar mal dos mortos, mas o seu irmão trouxe a morte sobre si.
Martin sacudiu violentamente sua cabeça.
— Você não entende. Eu não deveria ter deixado ele me incitar.
Eu deveria ter permanecido firme. Eu deveria ter...
— Não foi culpa sua! — Ela colocou a mão em seu braço em
conforto. — Irmãos argumentam, mesmo sob as melhores
circunstâncias.
Ele virou para ela com uma expressão angustiada.
— Mas eu não deveria ter ido embora. Eu deveria tê-lo jogado
fora da propriedade como eu tinha ameaçado fazer com seus
convidados.
— Isso teria o enfurecido ainda mais. E os mineiros teriam sido
colocados na posição intolerável de ir contra o seu proprietário.
— Pelo menos ele estaria vivo — disse Martin.
— Talvez. Talvez não. Às vezes as pessoas fazem coisas tolas
não importa o quanto nós tentemos pará-los. — Ela acariciou seu
braço, tentando encontrar palavras para ajudar a amenizar a culpa
que o induzia a tristeza. — E o inquérito o absolveu de culpa.
— Sim, mas a sociedade não o fez. Os hóspedes do meu irmão
estavam muito ansiosos para correr e contar ao mundo a sua versão
dos acontecimentos. É por isso que todo mundo acha que eu matei
meu irmão por sua herança.
— Esqueça a sociedade! Quem se importa com o que eles
pensam? Eu certamente não.
Incrédulo, ele procurou seu rosto.
— Você realmente quer dizer isso.
— Claro. — Lágrimas picaram a parte de trás de sua garganta ao
vê-lo ainda tão incerto sobre ela. — Só porque os amigos do seu
irmão espalharam fofocas sobre você não significa que todos na
sociedade a escuta. Ou acredita nisso. — Ela deixou cair o olhar sobre
ele. — Alguns de nós somos pessoas boas, você sabe.
Seus sentimentos feridos devem ter sido evidente, pois ele disse:
— Oh, Ellie, me desculpe. Eu não queria magoá-la novamente —
Estendendo a mão, ele afastou o cabelo dela para trás, em seguida,
enredou os dedos nele. — É só que eu não estou acostumado a ter
uma mulher que pense qualquer coisa que não seja mal de mim.
Especialmente aquelas que me provocam.
— Eu lhe provoco? — ela perguntou, mal ousando acreditar nele.
Ele estava muito perto, e suas palavras eram muito doces. Isso a fez
querer tudo o que ele não lhe daria.
Sua mão deslizou para tocar seu rosto.
— Eu passei os últimos três anos me escondendo do mundo em
que vive — ele continuou com uma voz áspera — , tinha certeza de
que eu não queria ou precisava ser parte dele. Agora você vem, e me
faz perceber que eu quero.
Ela levantou o olhar para ele, o que se revelou um erro. Porque
ele estava olhando para ela como se tivesse acabado de encontrar um
mimo que não podia esperar para degustar.
Com os olhos escurecendo, ele lhe tirou os óculos com a
intenção deliberada de colocá-los sobre a mesa. Então sua boca
cobriu a dela. Desta vez não houve nenhuma hesitação, nenhuma
incerteza angustiante. Beijou-a com a fome que toda mulher, fica a
noite acordada sonhando, o tipo que nunca ninguém tinha lhe
mostrado.
Suas mãos desceram para desabotoar o manto que a envolvia
do pescoço até a bainha, mas ela estava tão abalada com o beijo que
mal se importou. Como poderia um homem tão rude beijar com tal
sentimento, dar tal delicioso prazer?
E por que ele tinha que fazer isso com ela? Ele disse que não
queria uma esposa, e por tudo o que ela sabia, não tinha mudado.
Uma linha do triste soneto de Michael Drayton passou por sua
mente Como não há nenhuma ajuda, vamos nos beijar e nos separar
Ela não queria beijar e separar. Era por isso que ela não deveria
deixar que a beijasse, não deve deixar que lhe ensinasse a amá-lo.
Ele iria quebrar seu coração, e para quê? Para acalmar seu orgulho
ferido? Para dar-lhe o conforto de um momento?
Por que ele fez isso? Por que ela permitiu?
Em um ato desesperado de auto preservação, ela retirou sua
boca da dele, mas ele deslizou o braço dentro do manto aberto,
trazendo-a enquanto ele espalhava beijos quentes e de boca aberta,
desde sua bochecha até o pescoço.
— Por favor... Martin... — ela implorou.
— Deixe-me apenas segurá-la por algum tempo — Sua mão
varreu ao longo de suas costelas antes que ele perguntasse com
surpresa — : Onde está o resto de suas roupas, amor?
Ele falou a palavra amor com a entonação áspera de um mineiro
de Yorkshire, mas ela não se importou. Ninguém nunca a tinha
chamado de amor.
— Eu não tinha tempo.... Eu estava com pressa... — Isso foi
tudo o que ela conseguiu dizer, pois suas mãos estavam vagando
mais longe agora, ao longo da parte inferior de seus seios, os
polegares roçando as ondas de baixo, fazendo seu coração disparar.
— Os céus, me ajude — ele recuou para sussurrar — você está
quase nua. — Seus olhos se encontraram com os dela, tão belamente
necessitados que faziam seu peito doer. Em seguida, eles brilharam
como mercúrio antes que ele tomasse sua boca novamente.
Desta vez o beijo foi tão duro e demorado que a deixou sem
espaço para pensar em nada, além de como de desfrutar das caricias
cada vez mais ousadas. Seus polegares agora subiam para provocar
seus mamilos através da cambraia fina, deixando-os eretos, a ponto
de doer e latejar.
Ela sabia que era errado, mas ela não se importava. Ele estava
virando-a pelo avesso, fazendo-a sentir coisas que nunca tinha
sentido.
Com muita força de vontade, ela interrompeu o beijo.
— Nós não deveríamos estar fazendo isso.
— Não — ele concordou, mas em vez de soltá-la, ele abriu seu
manto para olhar para ela. — , mas eu quero tocar em você, só um
pouco. Você vai me deixar?
— Alguém pode ver — ela protestou fracamente, olhando em
direção à porta aberta.
— Não sem entrar no interior. Os meninos não vão, sua tia não
pode, e os servos sabem que não devem chegar perto deste celeiro,
muito menos entrar nele.
— Mesmo o Sr. Huggett? — ela perguntou.
Seu olhar febril queimado dentro dela, fazendo seu sangue
correr mais quente.
— Mesmo Huggett — ele respondeu asperamente. Tomando-a
de surpresa, ele a ergueu sobre a mesa de trabalho, em seguida,
enfiou a mão dentro do seu manto e segurou um seio.
E pareceu muuuito bom, nada como ela teria esperado. Sem
nenhum pudor ele acariciou o seio, e em resposta ela se arqueou
descaradamente em sua mão, ele aninhou-se entre as pernas dela e
começou a espalhar beijos vorazes pelo pescoço.
Ela segurou em seus ombros, e o manto caiu. Ele tomou isso
como uma deixa para desabotoar sua camisola e ele pudesse revelar
um seio e colocá-lo na boca.
Senhor no céu... que incrível. Ele sugou e sua língua brincou
com seu mamilo, deixando-a louca de prazer. Ela devia detê-lo antes
que ela ficasse condenada para sempre, mas em vez disso ela apertou
a cabeça com as duas mãos, pedindo-lhe para sugar a outra mama
também. Emitindo um rosnado baixo do fundo de sua garganta, ele
obedeceu ansiosamente.
Era loucura. Qualquer um poderia encontrá-los.
Seria assim tão ruim? Em seguida, ele teria que se casar com
ela.
Não, ela também não queria isso. Mas ela também não queria
perder a chance de ter um homem tocando-a por sua livre vontade,
sem se importar com sua fortuna. E não apenas qualquer homem,
mas Martin, que não só fazia o corpo dela cantar, mas a tratava como
uma pessoa real. Ele pode não a querer como sua esposa, mas ele a
desejava como uma mulher, e isso era mais do que ela jamais
esperara.
Então sua mão começou a se mover para cima em suas coxas,
como se estivesse acendendo um rastro de pólvora que se dirigia para
mais próximo do local que aguardava a faísca, que ameaçava entrar
em erupção a qualquer momento nas profundezas de sua barriga.
— Eu deveria parar com isso — falou asperamente contra seu
ouvido. — Faça-me parar, amor.
Ela ouviu vagamente através da névoa de prazer que girava
sobre ela.
— Por quê?
Um gemido escapou quando ele levantou a cabeça para tomar
sua boca novamente. Enquanto a mão livre subia e acariciava seus
seios, sua outra mão varria entre as pernas até ele colocá-la em seu
lugar especial, aquele que ela nunca tocara exceto quando tomava
banho.
Deus Bondoso! Ele estava acariciando lá em baixo! Pior ainda,
ela estava deixando. Que criatura má que ela era!
Mas sua paixão a consumia. Ela nunca sonhou que um homem
pudesse transmitir essa paixão, como um poema cheio de palavras
tão fortes e ricas que mal podia evitar que se transformasse em
música. Esfregou-a como um servo esfrega gravetos para iniciar um
incêndio, e um calor a envolveu, flamejante, ardente, fazendo-a sentir
dor e se contorcer sob sua mão.
— Isso... — ele murmurou, sua boca descendo para tomar
liberdades mais selvagens com seu seio. — Deixe-me lhe mostrar...
Você é tão… incrivelmente doce... Eu quero... que Deus me ajude...
Seu dedo mergulhou dentro dela, e ela quase pulou da mesa.
— Martin!
— Shh, shh, — ele disse gentilmente, acariciando seu seio e o
pescoço, sua respiração suave no ouvido dela. — Eu quero lhe
compensar por ferir seus sentimentos.
— Você vai me arruinar — ela sussurrou, meio que esperando
que o que ele faria.
— Não, eu prometo. Eu vou apenas lhe dar prazer. Mas eu
preciso te tocar ou vou enlouquecer.
E todo o tempo, seus dedos estavam trabalhando nela,
atormentando-a com a promessa de uma conflagração que ela nunca
tinha sentido.
— Martin... você... oh, céus...
— Você está tão molhada, amor, como fruta madura... e eu
quero arrancar e devorar… — Cada palavra chegava mais vagamente
aos seus ouvidos, pois ela estava quase a ponto de explodir, o calor
tão ardente que ela só podia gemer e se debater sob a mão dele.
De repente, uma erupção bateu com a ferocidade de um
incêndio, arrancando um grito de sua garganta que ele silenciou com
a boca.
Quando seu corpo estremeceu, ela finalmente voltou à terra nos
braços dele, então percebeu que era isso que queria - essa intimidade
emocionante com um homem que cuidasse dela.
Depois de provar a paixão com Martin, ela nunca poderia ficar
satisfeita com qualquer outra pessoa. Agora, se ela pudesse descobrir
como mantê-lo.
Capítulo Sete
Cara Charlotte,
Eu acredito que você acha divertido me insultar sobre a minha
arrogância, mas você e eu somos mais parecidos do que você admite.
Você tem uma tendência a ser bastante arrogante.

Seu primo,
Michael

Quando Martin sentiu seu pote de mel convulsionar sobre os


seus dedos, ele quis cantar, até mesmo chorar. Ele nunca tinha
desejado tanto uma mulher em sua vida. E ele nunca tinha sido
menos livre para viver esse desejo em sua plenitude. Em vez disso,
ele tinha que ficar aqui doente por ela, sabendo que ele nunca teria a
chance de encher a carne dela com a sua e reclamá-la para si.
Ele deve ter emitido algum som frustrado, pois ela se afastou
dele, com o rosto agradavelmente corado, e sussurrou:
— Você está bem?
Maldição, ele duvidava que pudesse ficar bem novamente.
Enxugando os dedos sobre sua camisola, ele conseguiu dar um
sorriso.
— Eu deveria lhe perguntar isso.
Com suas mãos ainda segurando seus braços, ela o beijou no
queixo.
— Eu não acho que está bem seja uma expressão que possa
começar a descrever você. Eu... Eu me sinto bêbada, mas minha
mente está clara.
Uma risada triste soou no fundo da garganta.
— Que estranho. Minha mente está quebrada. — Afastando-se
dela com pesar, ele puxou sua camisola para baixo. — Mas eu não
queria ir tão longe.
Ela olhou para ele alarmada.
— Nós não... você não...
— Não. Você ainda é casta.
O riso borbulhou fora dela.
— Casta? Me pareceu bom demais para ser casto.
O brilho em seus olhos o fez querer voltar para o que eles
estavam fazendo. O pênis continuava pesando em suas calças
intensificado pelo desejo.
Ele lutou contra o impulso, puxando o manto sobre seus ombros.
Ele nunca teve seus desejos tão fora de controle, especialmente com
uma virgem. Ellie era tão perigosa para ele como pólvora.
Mas ele não deveria tomá-la, exceto no leito conjugal o que era
impossível.
— É exatamente por isso que é errado eu...
— Não diga isso. — Ela pôs o dedo em seus lábios. — Foi
maravilhoso.
Seu coração inchou. O olhar de adoração em seu rosto era tão
doce que ele deixou escapar sem pensar.
— Oh, Deus, como eu posso deixar você ir?
No minuto que ele falou as palavras, ele desejou trazê-las de
volta, porque claramente ela acolheu-as.
Suas palavras confirmaram.
— Você não tem que me deixar ir — disse ela suavemente.
Que tortura nova era essa? Tinha sido muito mais fácil resistir a
ela antes. Ele tinha certeza que uma vez que ela ouvisse como Rupert
tinha morrido ela perderia o interesse, mas ela ainda lhe queria...
Quando ele não respondeu de imediato, ela baixou o olhar e
acrescentou:
— Claro, isto é, supondo que você quisesse casar, o que
claramente não é seu desejo.
Quando uma onda de humilhação e rubor surgiu em suas
bochechas, ela tentou deixar a mesa, mas ele não permitiu. Ele não
podia suportar que ela o achasse tão idiota.
— Você é a única mulher que eu já considerei casar — ele
murmurou, inclinando a testa contra a dela. — Mas eu não posso. —
Ele não podia correr o risco de tê-la aqui. Era muito perigoso.
— Por que não? — ela perguntou em voz baixa.
Não é óbvio? Ele queria gritar e se afastou da mesa. Olhe ao seu
redor, olhe para o que eu gasto meu tempo fazendo!
Mas ela não se importava. As mulheres sempre tentavam negar
os riscos. Ou pior, eliminar o problema, colocando condições sobre as
coisas. E ele se recusava a abandonar seus experimentos. Ele estava
cansado de ver pessoas morrerem ou serem mutiladas nas minas.
E se ela entender isso também? E se ela estiver disposta a
aceitar o que você se sente compelido a fazer?
Ele bufou. Ela nunca poderia entender completamente os
perigos. Tudo o que precisaria era que ela fosse ao celeiro uma noite
chamá-lo para jantar, levando uma vela na mão...
Não, ele não iria arriscar. Ele permitiria que ela se arriscasse.
Ela chamaria seus medos de irracionais. E talvez eles fossem,
mas isso não mudaria o terror que o agarrava quando ele a imaginava
caída no chão como acontecera com Rupert.
Ainda assim, ele tinha que dizer alguma coisa, dar-lhe uma razão
para fazê-la pensar duas vezes antes de se casar com ele.
— Seu pai nunca iria concordar com uma relação entre nós.
Tenho certeza que ele também ouviu os rumores sobre mim.
Uma estranha inquietação atravessou seu rosto.
— A aprovação dele importa para você?
— Não, mas eu imagino que importa para você.
Sua resposta trouxe um sorriso ao seu rosto.
— Você não tem ideia de quanto importa. Além disso, ele é um
homem razoável. Quando eu lhe disser a verdade sobre o que
aconteceu, ele verá que você não estava em falta.
Ele tentou engolir o nó na garganta.
— Nem todo mundo tem o seu coração indulgente, Ellie.
— Meu pai vai me ouvir, eu juro. — Ela levantou o queixo
quando deslizou para fora da mesa e arrumou sua camisola. — Se eu
deixar claro que eu quero casar com você, ele não irá se opor. Ele só
quer a minha felicidade, afinal de contas.
Ela sabia tão pouco sobre os homens.
— Eu tenho certeza que sim. E ele sabe que se você casar
comigo não vai acrescentar nada a ele. Por outro lado, você não vai
ser aceita na sociedade civilizada. Se você se casar comigo, você vai
ser a esposa do Barão Negro. Já pensou nisso? Eles irão fofocar sobre
você, também dirão que eu casei com você por sua fortuna ou alguma
podridão, e irão pensar que você é um monstro para se casar com o
homem que todo mundo acredita que assassinou seu irmão.
Seus olhos soltaram faíscas.
— Eu não me importo.
— Com o tempo você vai se importar. Você não sabe como lidar
com pessoas te rejeitando, sussurrando e te evitando.
— Você parece lidar com isso muito bem.
— Isso é porque eu não gosto de pessoas. Exceto você. —
Quando ela sorriu, ele aguçou seu tom. — Eu não me importo com a
sociedade, mas você foi criada para isso. Você é uma garota da
sociedade. Não vou ter tempo para passeios e compras em Londres,
Sheffield ou York, e você não vai querer fazê-los depois de ver como
as pessoas reagem a mim lá - estava fazendo isso um pouco marrom,
mas de que outra forma ele poderia atrapalhar essa atração antes que
ela o tentasse além de sua sanidade?
Ela olhou para ele.
— Você não notou nada sobre mim nos últimos dias? Acontece
que estou perfeitamente confortável no campo. Gosto de ler, costurar
e de fazer longas caminhadas. Eu não sou nem de longe uma garota
da sociedade.
— Você foi ou não a uma escola cara de mulheres? — ele
perguntou.
— Sim, mas...
— E você foi apresentada à rainha? Será que quis dançar no
Almack? Será que todas as suas amigas fizeram o mesmo?
— O que isso tem a ver com alguma coisa? — ela exigiu.
— Você disse que não era uma garota da sociedade. Estou
lembrando que você é. — Quando ela abriu a boca para protestar, ele
acrescentou apressadamente: — É o tipo certo de vida para a filha de
Joseph Bancroft.
— E o que dizer para a esposa de um senhor do reino? — Ela
retrucou.
— Aos olhos da sociedade, eu sou apenas um senhor porque eu
matei o meu irmão. As regras para outros homens de posição não se
aplicam a mim. Confie em mim, o Barão Negro não pode lhe dar o
tipo de vida que você merece.
— Talvez eu não queira esse tipo de vida!
Ele balançou sua cabeça.
— Você não sabe o que quer. Como você pode, depois de
apenas alguns dias mofando aqui em Thorncliff? Dê-se mais uma
semana, e você estará entediada e desanimada.
— E você não vai mesmo me permitir à oportunidade de
descobrir, você vai? — ela estalou enquanto abotoava o casaco. —
Você está me jogando de lado por alguma tentativa duvidosa de me
proteger... a partir de um disparate. — Ela cruzou os braços sobre o
peito. — Eu disse que não me importo com nada disso, e se você
optar por não acreditar em mim...
— Eu escolho fazer o que eu acho que é certo para você. Você
merece coisa melhor.
— Absolutamente — disse ela com veemência. — , eu mereço
um homem que me queira.
— Eu quero você!
Um rubor escureceu sua pele fina.
— Se você me quisesse, você encontraria uma maneira de ficar
comigo em vez de inventar um monte de desculpas.
— Não são desculpas!
Naquele momento, eles ouviram ruídos fora. Maldição, ele tinha
esquecido que, há meia hora, ele pedira ao cavalariço para selar seu
cavalo. Foi quando ele vira os garotos tentando entrar.
A voz de Huggett chegou onde eles estavam.
— Eu não consegui encontrá-lo em casa, então ele tem que
estar aqui.
— Talvez — disse o cavalariço. — Não é comum ele me manter
esperando tanto tempo.
— Milorde? — chamou o mordomo de uma distância saudável,
uma vez que ele sabia que era melhor não se aproximar da entrada.
— Droga — Martin falou baixinho. — Eu tenho que ir.
— Bem, então vá — disse ela com um suspiro e se virou para a
mesa procurando até encontrar seus óculos, e então os colocou.
Quando ela não fez nenhum movimento em direção à porta, ele
rosnou.
— Eu não vou deixar você aqui sozinha.
— Oh, pelo amor de Deus — Ignorando o braço oferecido ela
correu na frente dele, seus doces quadris balançando em um
movimento que o fez desejar reter de volta tudo o que ele tinha dito.
Ele moveu-se rapidamente ao lado dela, agarrando-lhe o braço a
tempo de saírem juntos.
— Eu estou aqui, Huggett. Eu estava apenas mostrando a Srta.
Bancroft o celeiro.
Quando os dois saíram para a dolorosa luz do sol da manhã,
Huggett e o cavalariço ficaram boquiabertos. Tarde demais. Martin
lembrou que o cabelo dela estava solto, embora o resto dela
parecesse bastante apresentável.
— Você permitiu que a Srta. Bancroft entrasse no celeiro? —
disse Huggett significativamente.
Martin estava prestes a dar uma desculpa a seu presunçoso
mordomo quando Ellie respondeu:
— Na verdade eu o segui até lá, e é por isso que ele está me
chutando para fora. — lançando em Martin um olhar frio. — Obrigado
pela turnê, meu senhor. — em seguida, livrou-se de seu aperto, deu-
lhe um frio aceno de cabeça e dirigiu-se para casa.
Enquanto observava seu gingado, usando o manto que mal
cobria seus encantos, algo torceu dentro dele. Talvez ele estivesse
apenas dando desculpas. Talvez um casamento fosse possível. Ele
ainda podia correr atrás dela e pedir-lhe para perdoá-lo, para ficar
com ele e partilhar a sua vida...
Sua perigosa, vida solitária.
Ele afastou o impulso.
— Huggett, eu disse aos garotos que eles terão que esfregar
panelas para o cozinheiro como punição por tentar entrar no celeiro.
Veja se eles obedecerão, você verá?
— Sim, senhor — disse ele. Quando o cavalariço correu para
onde o cavalo esperava em frente, Huggett diminuiu os passos e ficou
ao lado de Martin. — A Srta. Bancroft tem o cabelo lindo, não tem?
Ele compensa sua aparência bastante simples.
— Aparência simples! — ele perdeu a cabeça. — Você está
louco? — Quando Huggett arqueou uma sobrancelha, ele gemeu. —
Desista, homem. Eu já lhe disse que não posso ter uma mulher no
lugar.
— Por quê? Porque ela pode torná-lo quente e aconchegante?
Estimular seus dias? — A voz de Huggett cresceu compassiva. —
Libertá-lo da sua cega obsessão?
A raiva cresceu dentro dele.
— Cuidado, Huggett!
— Perdoe-me, senhor — o mordomo murmurou. — Eu não
pretendia presumir.
Martin aumentou seu ritmo. Claro que o homem tinha a intenção
de presumir. Ele sempre presumia.
Mas isso não queria dizer que ele estivesse errado.
Quando Martin montou em seu cavalo, tentou ignorar a
descrição apropriada de Huggett sobre sua vida. Sua "cega obsessão"
tinha um propósito digno. Se seus experimentos fossem bem
sucedidos, ele poderia salvar centenas de vidas.
Ao destruir a sua.
Ele bufou enquanto cavalgava em direção à cidade. Ele estava
bem antes dos Metcalfs terem vindo destruir sua paz. Antes de Ellie...
A visão de seu rosto extasiado passava diante dele. Que os céus
o ajudasse, ele desejava nunca os ter visto na estrada. Até então, ele
tinha existido em uma dormência abençoada que lhe permitirá fazer
nada além de trabalhar.
Depois de conhecê-la, ele seria capaz de fazer isso novamente?

Ellie passou sua manhã em um estado de fúria. Martin e suas


suposições! Garota da sociedade, de fato. Ele não a conhecia!
À medida que o dia passava, nem mesmo a tarefa de encontrar
um tronco de Yule com os meninos não conseguia evitar que certos
pensamentos invadissem sua mente.
Seja honesta, Ellie. Você gostaria de dançar em bailes, e de fazer
algumas compras. E o que dizer de visitar a escola em Londres ou ver
a Lucy? Você poderia realmente abrir mão disso?
Ela não teria, se ele dissesse às pessoas o que tinha acontecido
com seu irmão. Ele estava apenas sendo teimoso. E orgulhoso.
E realista. Os rumores tendiam a ganhar vida própria. Talvez a
maldade se desvanecesse quando ele se casasse, mas também
poderia aumentar. As fofocas poderiam simplesmente fazê-la entrar
na história, como ele havia dito.
Ela não se importava! Enquanto ela e Martin estivessem juntos,
isso não importava. Com uma carranca, ela pisou sobre um toco
podre. Ele não estava certo. Ele era um bom homem. Ele merecia ter
amigos ao seu redor, e a boa sociedade, e uma mulher que o amava.
Amava - o?
Quando a verdade a atingiu como um ramo que cai do céu, as
lágrimas brotaram de seus olhos, tornando-se difícil para ela ver para
onde estava indo. Olha o que ele tinha feito; o sujeito à fez se
apaixonar por ele! Era tão injusto.
Ainda assim, ela não podia ajudá-lo. Quem não amaria um
homem que passava suas horas de vigília tentando melhorar as
condições em sua mina? Um homem que não ligava para o que as
pessoas pensavam dele, contanto que ele pudesse fazer seus
experimentos? Um homem que fazia tudo para manter em segurança
aqueles que o rodeavam. Ele até lhe fez deixar o celeiro no final,
porque ele pensou que seria muito perigoso...
Ohhhh. Qual poderia ser a verdadeira razão por trás de sua
recusa em se casar com ela? Seria medo? Ou preocupação que
pudesse acontecer com ela o que aconteceu com seu irmão?
Por um momento inebriante, ela agarrou-se a essa
possibilidade, uma vez que acalmava seu dolorido coração. Mas tanto
quanto ela queria acreditar, não fazia sentido. Por que ele deveria se
preocupar com sua segurança? Não era como se ela fosse para perto
da mina. E ela era perfeitamente capaz de ficar fora do seu caminho,
se solicitado. Era ridículo pensar que ele poderia renunciar a felicidade
por isso.
O que fazia mais sentido era que ele simplesmente não a
quisesse o suficiente para fazer os ajustes necessários em sua vida.

Ela engoliu em seco. Porque ela era comum. Ele poderia dizer
que a desejava, mas muitos homens desejavam mulheres sem querê-
las como esposas. Não tinha havido nenhuma mulher aqui em um
longo tempo, assim Martin poderia estar apenas excitado. Isso não
queria dizer que ele a quisesse para passar o resto de sua vida.
Afastando as lágrimas de raiva, ela correu atrás dos meninos e
lacaios enquanto seguiam para floresta usando outro caminho. Por
duas horas, eles estavam em busca do tronco perfeito do Yule, tinham
descartado cada pedaço inútil de madeira que ela sugerira. Por que o
sexo masculino era tão perturbador e determinado a tornar a vida de
uma mulher miserável?
Bem, ela já teve o suficiente de todos eles. Ela não era boa o
suficiente para sua senhoria? Bem. Ela seria cordial e distante com ele
a partir de agora.
Mas naquela noite, quando eles terminaram o jantar, ela não
tinha tanta certeza se podia. Martin estava olhando para ela com um
desejo estranho que a confundia ainda mais. Será que ele a queria ou
não? Que outros segredos haviam por trás daquele olhar estranho e
enigmático para explicar a verdadeira razão pela qual não queria se
casar?
Ela só estava sendo fantasiosa? Ou simplesmente ele não estava
interessado nela porque ela não era bonita o suficiente para manter
seu interesse?
— Então, quando é que vamos jogar snapdragon? — Percy
perguntou, uma vez que a sobremesa foi servida.
Martin murmurou um juramento.
— Eu estava esperando que tivesse esquecido.
— Sem chance — ela disse secamente. — Meus primos nunca
esquecem uma promessa, mesmo uma feita sob coação.
— Muito bem — disse Martin. — Eu vou ver os preparativos.
— E eu vou levar Meg para a cama. Ela é jovem demais para
isso. — Ela olhou para onde a menina estava cochilando. — Além
disso, já é tarde.
Pegando sua querida prima, ela se dirigiu para as escadas.
— Você vai voltar, no entanto, não vai, Ellie? — Tim perguntou.
— Sim — a voz baixa de Martin juntou-se. — Volte.
Um pouco de emoção correu através dela com suas palavras.
Mas quando ela lhe lançou um olhar surpreso, ele acrescentou:
— Você não pode esperar que eu lide com esses garotos sem
ajuda.
Ela endureceu, tentada a dizer que ele estava sozinho, mas o
calor prateado nos olhos dele impediu de dizer isso.
— Me dê alguns minutos.
Quando ela voltou, tudo já tinha sido preparado. A tigela rasa de
conhaque colocada no lugar de destaque no centro da mesa de
jantar, carregado com tantas passas que arrancá-las não seria um
desafio, com ou sem nenhum fogo.
No entanto, Martin foi estabelecendo regras quando ela se
aproximou.
— Sem lançar passas em outras pessoas. Huggett irá contar
quantas cada um de vocês arrebata, e vocês devem respeitar sua
contagem. Tirem seus casacos, e arregacem as mangas. Eu não quero
que ninguém tenha seus punhos em chamas.
— E quanto a mim? — ela perguntou. — Minhas mangas são
muito apertadas para rolar para cima.
Um alarme impregnou seu rosto.
— Você quer jogar?
— Ellie sempre joga — Tim falou com naturalidade. — Ela quase
bateu todos da última vez. É porque ela tem dedos pequenos. Ela
pode colocar e tirar mais rápido.
— Deus nos ajude — Martin lançou-lhe um olhar resignado. —
Eu acho que não adianta pedir para que você fique de fora.
— Não nessa vida — disse ela, embora sua preocupação
palpável suavizasse a sua.
— Muito bem. — Ele gesticulou para as mangas. — Puxe-as
tanto quanto você puder — Ele se virou para os meninos. — Se
acontecer de queimar qualquer coisa, coloque-os fora em um dos
baldes, que estão em cada canto da mesa. Mas o que vocês não
podem fazer é jogar água sobre o Brandy, pois apenas dispersa o
fogo.
— Ouçam bem, meninos — ela colocou. — Sua senhoria sabe
tudo o que há para saber sobre o fogo.
— O que eu sei é que é perigoso — Martin rosnou.
Todos o ignoraram completamente.
Charlie olhou para a tigela.
— Onde está a passa da sorte?
— O que é isso? — Martin perguntou.
Ellie mostrou o botão de ouro que tinha trazido apenas para esta
finalidade.
— Em Londres, nós adicionamos o que chamamos de 'passas da
sorte' na tigela. Todo aquele que o tira é permitido pedir uma benção
de outra pessoa. Então ela soltou-o no conhaque e lançou a Martin
um olhar provocante. — E a quem é feito o pedido deve conceder o
benefício ou corre o risco de um destino terrível.
Martin arqueou uma sobrancelha.
— Um destino terrível, não é? Então eu vou garantir que eu seja
o único a consegui-lo.
O timbre rouco de sua voz vibrava ao longo de cada nervo seu.
Se ele pensava que ela iria deixá-lo vencer, ele teria uma surpresa. O
Barão Negro já havia tirado mais dela do que ela podia se dar ao luxo
de perder. Era a sua vez de ganhar.
Huggett acendeu a tigela, em seguida, apagou as velas,
deixando apenas a chama azul estranha jogando sobre a superfície.
Imediatamente os meninos começaram a cantar:

Aqui ele vem com flamejante tigela,


Não cobre seu preço,
Snip! Snap! Dragão!

Tome cuidado para não tomar muito,


Não seja ganancioso ao pegar,
Snip! Snap! Dragão!

Com a língua azul e lambendo


Muitos de vocês serão picados,
Snip! Snap! Dragão!

Eles mal terminaram o verso final, quando Tim mergulhou os


dedos no brilho luminoso para arrebatar a primeira passas, e o jogo
começou.
Preparando-se para o calor rápido, Ellie correu para frente para
agarrar o seu próprio prêmio. Ela o colocou na sua boca, dançando-o
sobre sua língua para apagando o fogo, em seguida, mastigou a
passas quente enquanto ela estendia a mão para a taça em busca de
outra.
Por um momento, Martin apenas observou e balançou a cabeça
enquanto eles se queixavam de seus dedos doloridos, mesmo quando
os empurravam de volta. Mas então ele começou a pegar as passas
com uma destreza que nem ela conseguia igualar.
— Diga-me novamente por que estamos fazendo isso? — ele
murmurou enquanto jogava uma passas azulada em sua boca e fazia
uma careta.
— Porque é divertido! — ela gritou, rindo do desgosto em seu
rosto.
Quando Charlie cantou depois pegando duas passas de uma vez,
ela percebeu que nos lábios de Martin nasceu um fantasma de sorriso.
Ela se aproximou, tentando identificar o botão dourado, o que
não era fácil, apenas com a chama azul da luz. Assim como ela viu
que Percy também fazia, e se lançou para frente. O braço dele pegou
o lado da cabeça dela, fazendo com que a trança que se soltara dos
alfinetes caísse no conhaque. Ela ainda conseguiu aproveitar a passa
da sorte, mas não antes de sua trança pegar fogo.
Quando o cheiro acre de cabelo queimado aumentou em torno
deles, Martin pegou a trança e puxou-a para o balde mais próximo.
— Eu sabia que isso era uma loucura — ele resmungou
enquanto mergulhava-a repetidamente. — Snapdragon, de fato. Não
têm nenhum sentido!
— Ai! — ela chorou, dividida entre a dor e riso. — Minha cabeça
está ligada a isso, você sabe. Pare de puxar tão forte! Há fogo aqui,
pelo amor de Deus!
Liberando sua trança, ele fez uma careta para ela, ignorando os
meninos, que tinha retornado para o jogo logo que tinham visto que
ela estava segura.
— O que você estava tentando fazer, inclinando-se tão perto das
chamas?
— Eu estava tentando fazer isso. — Ela levantou a passa da
sorte com um sorriso. — E eu consegui, não foi?
— Você quase conseguiu queimar toda a sua cabeça! — ele
respondeu, o pânico espelhado em sua voz e em sua expressão de
preocupação.
— Eu estou bem, realmente. — Ela varreu a trança para
examinar o fim. E quase nem queimou.
— Isso é só porque está tão bem trançado. Isso diminui a taxa
de… — Ele parou, seus olhos arregalados — É isso. Oh, meu Deus, é
isso!
— O que é isso? — ela perguntou. — A taxa de quê?
Mas sua mente parecia estar em outro lugar. Rapidamente, ele
reacendeu um par de velas, em seguida, colocou uma tampa sobre a
bacia para extinguir as chamas azuis.
— Espera! — Percy gritou. — Nós não terminamos!
— Sim, vocês terminaram — ele disparou de volta. — Eu tenho
que ir e eu não vou deixar vocês aqui sozinhos com uma tigela de
conhaque queimando.
— Onde você vai? — Tim perguntou. — Podemos ir?
— Certamente, não — Martin rosnou enquanto vestia o casaco.
— São quase dez horas, senhor — Huggett apontou. —
Certamente é muito perigoso sair andando nestas ruas congeladas.
— Eu não estou andando em qualquer lugar. — Martin caminhou
para a porta. — Certifique-se de que eles não acendam o Brandy
outra vez, Huggett. — Ele estava a meio caminho da porta quando
parou, virou-se e voltou para onde ela olhava boquiaberta para ele.
Antes que ela percebesse sua intenção, ele pegou a sua mão e
deu um beijo duro na palma.
— Obrigado — ele disse, seus olhos estavam sobre ela com tal
intensidade que um rubor subiu para seu rosto. — Você não sabe o
que fez.
— Certamente não — ela atirou de volta, mas no momento em
que as palavras saíram de sua boca, ele já estava indo para a porta
novamente.
Depois que ele se foi, Percy balançou a cabeça.
— Ele é um sujeito estranho, não é, Ellie?
Estranho não era a palavra que ela teria usado. Apaixonado era
mais parecido com ele.
Sua mão ainda ardia, e não a por causa das passas quentes. Ela
olhou para baixo, onde ele a beijou, em seguida, fechou os dedos na
palma da mão, desejando de alguma forma poder salvar aquele beijo.
Porque o toque de seus lábios sobre sua pele nua trouxe de volta
todos os seus sentimentos devassos desta manhã.
Tanto esforço para ser cordial e distante.
— O que você vai fazer com a sua passas da sorte? — Charlie
perguntou a ela.
Ela abriu a outra mão para olhar para o botão de ouro.
— Eu não sei.
— Você poderia pedir para Tim parar de ser tão bobo — disse
Percy, espicaçando seu irmão mais novo.
— Ou pedir para Percy desenvolver um cérebro, — Tim
respondeu, espicaçando de volta.
— Parem com isso, vocês dois — disse ela sem olhar para cima.
— Eu irei guardá-la até que eu decida.
Mas o que havia para decidir? Apenas uma pessoa poderia
conceder a ela o que ela queria, e não era seus primos. Porque o que
ela queria era uma noite de paixão com Martin.
Seu coração saltou no peito. Não era uma ideia terrivelmente
escandalosa, não é? Que importância tinha ela perder a inocência, se
de qualquer maneira, ela nunca fosse casar? O que ela pensou
poderia ir contra todos os princípios que a Sra. Harris tinha lhe
ensinado, mas esses princípios não lhe convinham muito bem
ultimamente.
Ela preferia muito mais o princípio de Nicolas Chamfort, que
"quando um homem e uma mulher têm uma paixão avassaladora para
com o outro… apesar de tais obstáculos os separar ... eles pertencem
um ao outro em nome da natureza, e são amantes por direito divino,
apesar da convenção humana ou as leis ".
Claro, Chamfort era francês. Ainda assim, como ela poderia viver
sua vida sem experimentar a paixão com o único homem que ela já
amou? Ela podia não ter o amor de Martin, mas ela poderia ter sua
paixão.
Ela teria sua paixão, pelo menos por uma noite. Ele lhe devia
uma benção. E ela se certificaria de que ele lhe concedesse, não
importa quais as consequências.
Capítulo Oito
Querido primo,
Eu não sou arrogante, mas cautelosa. Eu posso entender como
um homem pode confundir cautela com arrogância, mas eu garanto
que nenhuma mulher confundiria. Em geral, as mulheres são muito
mais conscientes dos perigos do mundo do que os homens acreditam.

Sua terrivelmente cautelosa, parenta,


Charlotte

A véspera de natal amanheceu fria e clara, mas Martin mal


percebeu. Ele havia passado a noite em seu celeiro, trabalhando, em
um frenesi de excitação, em sua nova ideia de um fusível que
consistia numa corda impregnada com a pólvora, e agora ele estava
em sua terceira versão. Cada uma tinha sido sucessivamente melhor
em seus testes limitados. Ele imaginou que ao meio-dia ele teria uma
versão que valeria a pena ser testado, de maneira mais confiável na
mina.
Por que não tinha pensado em usar a corda antes?
Porque antes ele não tinha Ellie a sua volta. Ellie, com sua
propensão para trançar coisas... Ellie, com seus olhares
encorajadores... Ellie, que aparentemente aprovava qualquer tradição
de Natal que envolvesse a criação de incêndios.
Pequena tola. Ele quase perdeu dez anos de sua vida quando
seu cabelo pegou fogo. E ela nem sequer se encolheu! Ela
alegremente brincou com ele achando aquele botão idiota, como se
ela não tivesse acabado de se arriscar a pegar fogo.
A moça era tão louca quanto seus primos. Quanto mais cedo
eles fossem para Sheffield, melhor. Estão sua vida voltaria a ser como
antes. Previsível, segura… Solitária.
Com uma carranca, ele se inclinou sobre a mesa, cortando fios
de juta ao redor do núcleo de pólvora que ele havia desenvolvido.
Como ele se adaptou tão rapidamente ao prazer de ter um grupo
aconchegante ao redor da mesa de jantar? Com as noites cheias de
livros e música? Com certeza, os garotos eram malandros, mas a
pequena Meg tinha um jeito carinhoso de enfiar o polegar na boca
sempre que estava chateada, e Ellie...
Oh, Deus, Ellie. Uma vez que ela voltasse para Londres, ela
certamente encontraria um marido que não fosse suscetível a explodi-
la por acidente. Ele seria um cavalheiro respeitável com um bom
nome, que iria dançar com ela em bailes e jantaria com ela em casa e
se deitaria com ela durante a noite em seu íntimo leito conjugal...
O canivete cortou seu dedo indicador.
— Maldição, — ele murmurou para si mesmo, aquela mulher
maldita ainda será a minha morte.
Ele não podia ficar pensando nela na cama de outro homem. Ele
odiava a ideia de um outro homem beijando seus lábios grossos,
entrelaçando-se naquela cortina de cabelos, acariciando cada
polegada de seu exuberante corpo quente.
Você só tem que dar tempo ao tempo. Você vai esquecê-la
quando ela for embora. As lembranças desaparecerão, e sua vida
voltará ao normal.
Então por que a imagem dela não desaparecia de sua mente,
mesmo enquanto testava seus experimentos durante toda a manhã?
Por que que quando Huggett o chamou para vir comer alguma coisa,
ele ficou desapontado ao descobrir, quando ele entrou brevemente
para se alimentar, que Ellie e os meninos estavam no andar de cima
com a Sra. Metcalf? Ele teve que se conter para não subir apenas
para ter um vislumbre de seu sorriso.
Naquela tarde, ele foi até a mina, carregando seus três fusíveis
experimentais. Eles se apresentaram de forma espetacular. Embora
ele pudesse ver que melhorias seriam necessárias, os homens ficaram
impressionados com as possibilidades, e ele sabia, sem sombra de
dúvida, que finalmente havia descoberto a solução pela qual vinha se
esforçando.
No entanto, apesar dos parabéns, apesar de beber em
comemoração à véspera de Natal na mina, ele se irritou por estar de
volta à mansão. Ele disse a si mesmo que era só porque queria contar
a Ellie sobre seu "pavio seguro", que queria dar crédito a quem o
crédito era devido desde que foi ela que fez despertar a ideia em sua
mente. Não era porque ansiava ver o rosto dela florescer em um
sorriso, ou ouvi-la elogiar sua realização, ou roubar um beijo. Não, de
fato, não.
No entanto, em vez de beber até altas horas da manhã com os
mineiros como na Véspera de Natal passado, ele pediu para ser
liberado mais cedo. Depois de um banho rápido, por volta das nove
horas, ele andou de volta para a mansão, rezando para que Ellie ainda
não houvesse se deitado.
Ela não tinha. Encontrou-a sentada sozinha no grande salão,
perto da lareira, feita com um monstruosamente grande pedaço de
madeira.
— Eu suponho que eu perdi a iluminação da Yule log, — ele
murmurou quando se aproximou de onde ela estava sentada lendo
perto do fogo.
Ela olhou para cima, com um sorriso de boas-vindas a brincarem
seus lábios.
— Sim. E o jantar também, embora eu acredite que o Sr.
Huggett colocou uma bandeja de algo em seu escritório. Ele disse que
era o lugar onde você geralmente comia.
— É, de fato — De repente, ele percebeu que ele não tinha
comido nada, além de cerveja desde o meio dia, e não muito disso, de
qualquer maneira. Ele estendeu a mão para ela. — Você vai vir sentar
comigo enquanto eu como? Eu tenho muito a dizer.

— Certamente. — Tomando a mão, levantou-se, deixando seu


livro na cadeira. Enquanto se dirigiam juntos, com a mão aninhada na
curva de seu braço, ela acrescentou. — Você parece cansado.
— Eu estou. Cansado e faminto. Eu só dormi em pedaços na
noite passada, e o sono está começando a me pegar.
— As crianças estavam desapontadas porque você não estava
aqui para as festas de véspera de Natal — disse ela em tom de
indiferença forçada.
— Somente as crianças? — ele perguntou incapaz de se conter.
— Certamente não. — Seu olhar saltou para o dele, um sorriso
brincando em seus lábios. — O Sr. Huggett ficou positivamente
devastado por sua ausência.
Ele riu.
— O patife provavelmente aproveitou o tempo correndo com
aqueles meninos e acendendo velas Yule enquanto eu não estava aqui
para colocar um freio nas coisas. — Ele cobriu a mão dela com a sua.
— Mas eu não estava tentando evitar qualquer um de vocês. Eu
estava trabalhando na minha nova invenção.
Tinham chegado ao escritório, onde uma bandeja de frios:
presunto, pão e queijo o aguardava. Ela sentou-se do outro lado da
mesa quando ele começou a comer, descrevendo o fusível de
segurança entre mordidas em sua refeição. Algumas das sensações
ainda batendo no peito devem ter-se transportado para ela, sua
expressão se alterou mais rapidamente, animado como ele se sentia,
embora ela provavelmente não entendesse metade do que ele
balbuciava sobre misturas de produtos químicos e o bom enrolamento
da juta.
Até agora, ele nunca tinha percebido o quanto ele desejava ter
alguém compartilhando seus sucessos. Ela até parecia entender seu
entusiasmo. Nem mesmo seu pai já tinha feito isso, e lhe tocou
profundamente.
Empurrando a bandeja de lado, ele se inclinou sobre a mesa.
— É tudo por causa de você, você sabe. Sua trança me deu a
ideia.
— Você quer dizer, que ao ver minha trança incendiar você teve
a ideia — ela brincou. — Parece-me que desde que eu arrisquei minha
vida por sua causa, eu deveria receber pelo menos metade dos
rendimentos do seu fusível de segurança.
Ele riu.
— De fato, eu lhe devo duas — disse ele, combinando com seu
tom leve. — , a menos que você já tenha exigido sua benção de um
dos outros por sua passa da sorte.
A menção da "benção" inexplicavelmente baniu o sorriso de seus
lábios. Ela alisou as saias e mexeu-se por um momento, então
abruptamente se levantou e foi até onde a porta estava aberta.
— Na verdade eu … hum … tenho mantido o cumprimento do
benefício para você. Na verdade, eu estava esperando que você
pudesse fazê-lo esta noite.
Ela olhou para fora, em seguida, fechou a porta, e ele franziu a
testa. O que ela queria dele devia ser segredo, de fato. Algo para sua
tia, talvez?
Mas então ela guardou os óculos no bolso, e ele soube que isso
não seria um favor comum. Ela voltou para a mesa, olhando
decididamente. — Eu... hum... bem... Eu estive pensando, e eu estava
esperando… que é...
— Pelo amor de Deus, Ellie, me diga o que você quer. Eu vou
ficar feliz em lhe dar.
— Eu quero uma noite de paixão — ela deixou escapar.
As brasas que estavam latentes dentro dele desde ontem no
celeiro, instantaneamente, saltaram em chamas. Custou toda a sua
força de vontade acalma-las.
— O que diabos, você quer dizer? — ele disse, rezando para que
ele tivesse entendido errado.
Ela endireitou os seus ombros quando seu olhar encontrou o
dele.
— Quer dizer: eu quero que você faça amor comigo. Hoje à
noite, se- se você não estiver muito cansado.
Muito cansado? Ele poderia pular sobre montanhas agora se isso
significava a chance de ir para cama com ela. Mas isso não significava
que fosse sábio. Ele levantou-se da mesa de forma tão abrupta, que
sua cadeira caiu.
— Você está maluca?
— Não! — Seu queixo começou a tremer. — Eu - eu apenas
pensei que talvez você não se importasse de me dar o que eu quero
desde que você… pareceu desejar-me, pelo menos um pouco.
— Claro que eu desejo que você e mais que um pouco — ele
disparou. — , não sei como lidar com isso. Mas esse não é o ponto.
Você é uma donzela inexperiente. Um dia você vai se casar, e seu
marido vai esperar...
— Eu nunca me casarei — disse ela resolutamente. — Então,
dada a escolha entre ser uma solteirona sem nunca conhecer a paixão
e ter uma única noite com você, eu decidi ter a noite com você. Se
você não se importa.
Seu sangue correu em suas veias. Importar? Ele se importava
muito. Seu controle já estava esticado ao ponto de ruptura, e ele não
sabia como continuar se controlando, com as imagens que ela criou
deles juntos.
— Ellie — ele disse, tentando um tom suave enquanto se
aproximava dela. — ,é claro que você vai se casar. Por que não?
A raiva brilhou nos seus olhos.
— Se for para você ser condescendente sobre isso, esqueça o
que eu disse.
O que ela queria dizer? Ele estava apenas afirmando fatos!
Ela virou-se para a porta, mas ele a agarrou pelo braço para ela
ficar.
— Eu não tive a intenção de ser condescendente. Tudo o que eu
estava tentando dizer, embora pareça errado, é que algum homem
respeitável certamente oferecerá para você. — Deus apodreça o
sortudo.
— Alguns caçadores de fortunas respeitáveis, você quer dizer.
— Não, não é isso que eu quis dizer!
— Porque esse é o único tipo que vai oferecer para mim — ela
prosseguiu com uma voz torturada, seu braço tremendo em suas
mãos. — Eu não posso ter outra temporada de seus sorrisos
insinceros e suas conversas educadas enquanto eles seguem minha
amiga Lucy com os olhos. Eu prefiro morrer a casar com um homem
que não se importa comigo.
Puxando para libertar-se de seu aperto, ela o encarou. Seus
olhos tinham tanta dor que o chocou.
— Eu entendo porque você não quer se casar comigo, também.
Infelizmente, para mim, você é um homem de caráter, e como a
maioria dos homens de caráter, você não pode ser tentado por uma
mera fortuna. Eu até posso — sua voz tremeu antes que ela afirmasse
— aceitar isso. Mas eu não vejo por que deveria impedi-lo de me
mostrar o que é paixão.
Ele ainda estava tentando seguir o seu raciocínio distorcido
quando ela acrescentou em uma voz de cortar o coração
— Eu... eu sei que não sou bonita o suficiente para se casar… —
Ela estava chorando agora. — Mas certamente você me acha...
desejável o suficiente... para compartilhar sua cama... para apenas
uma... noite.
— Ellie, meu Deus — ele sussurrou, quando finalmente
compreendeu o que se passava em sua cabeça. Pegando seu rosto
nas mãos, ele a forçou a olhar para ele. — Você é bonita o suficiente
para se casar! Você está louca? Eu passei os últimos dias em um
tormento tentando manter as mãos longe de você. Eu não consigo
dormir sonhando como seria ter você na minha cama.
— Então por que você não vai fazer amor comigo? — ela
engasgou. — Eu prometo que ninguém nunca vai saber. Será apenas
uma noite...
— Uma noite, nunca seria o suficiente — disse ele ferozmente.
— Maldição, você não entende? Você é tudo que eu sonho em uma
mulher. Você tem um coração tão grande quanto o mundo. Você é
honesta e inteligente, e você faz meu sangue correr quente sempre
que vejo você. — Ele afastou as lágrimas de suas bochechas com os
polegares. — E sim, você é bonita. Para mim, você é tão bonita
quanto uma mulher pode ser. Eu não sei o que esses idiotas em
Londres andaram dizendo, mas eles estão errados.
Ela baixou o olhar.
— Você está apenas di-dizendo que para ser gentil.
— Quando eu já fui gentil antes? — ele disse desesperado para
aliviar a sua dor. — Eu estou dizendo isso porque é verdadeiro, amor.
Eu juro que eu me casaria com você em um instante, se não fosse...
— Se não fosse o quê? — Ela levantou seu lindo olhar, inocente
ao encontro do seu. — E não diga que tenha algo a ver com a fofoca,
porque você sabe que eu não me importo com isso. Além disso, nada
disso poderia me prejudicar quase tanto como me casar com um
homem que não me ama. Ou me tornar uma solteirona. Porque se
você não me quer, é isso que vai acontecer. Eu vou viver com o papai
e nunca conhecerei a paixão no leito conjugal.
— Pelo menos você estaria viva! — ele soltou, as palavras lhe
rasgando. Mas ele não podia deixá-la pensar que ele não a queria,
isso seria cruel.
Seu rosto estava incrédulo.
— É disso o que se trata? Você não vai se casar comigo porque
você está preocupado com a minha segurança?
— Você não vê? Eu não poderia suportar se alguma coisa
acontecesse com você. — Ele tinha que fazê-la entender. — Eu não
vou me casar com você, arriscando sua vida. Eu não posso.
Capítulo Nove
Cara Charlotte,
Os homens não acreditam que as mulheres sejam cautelosas
porque nós testemunhamos imprudências uma vez e outra. Mesmo
você, tem que admitir, que se deixar se levar por suas emoções, isso
a deixará em apuros.

Seu primo cabeça-fria,


Michael.

Ellie riu, tonta com o pensamento de que ele realmente a queria,


incrédula com sua vontade de deixar que o medo por sua segurança
ficasse entre eles. Ela tinha passado o dia inteiro com a certeza de
que ele não se importava com ela, e era isso que o preocupava?
— Quero dizer que, pode explodir em você! — Martin disse com
raiva, afastando-se dela. — É muito perigoso aqui no Thorncliff. — A
partir do olhar em seu rosto, ela percebeu que ele realmente
acreditava no que estava dizendo. — O que eu faço tem riscos.
Ellie ficou séria quando ele começou a andar por seu escritório
em passos bruscos rápidos.
— Eu sei disso. E eu não estou pedindo para você desistir do que
é importante para você. Mas seus servos vivem aqui com segurança
enquanto você realiza seus experimentos.
— Note que nenhum deles é mulher. Isso é de propósito.
— Porque as mulheres pegam fogo mais facilmente do que os
homens? — ela brincou incrédula, que este fosse seu raciocínio.
Com uma carranca, ele franziu a testa.
— Zombe se você quiser, mas meus servos masculinos
aceitaram os riscos. Mas não se pode esperar que uma mulher o faça.
Já é ruim o suficiente que eu precise de alguns funcionários, mas a
ideia de uma pobre empregada morrendo porque ela passou no
celeiro no momento errado — Ele esfregou as costas de seu pescoço.
— Eu nunca poderia suportar o pensamento.
— No entanto, você pode suportar a ideia de um servo morrer
em um acidente?
— Não! — Ele jurou em voz baixa. — Você não entende. Eu
mantenho a minha equipe pequena para reduzir os riscos. Mas uma
esposa precisa de mais servos, empregadas domésticas e lacaios e
uma babá para as crianças… — Ele lançou-lhe um olhar horrorizado.
— Crianças. Deus me ajude! Você pode imaginar? Você já viu como é
difícil controlá-los.
— Se você não os atormentar com advertências sobre o celeiro
misterioso, e se você os ensinar desde o início a serem cautelosos,
eles podem ser controlados, bem como qualquer um. Assim, pode-se
ter servos. Ela estendeu-lhe o queixo. — E uma mulher. Não há
nenhuma razão para as pessoas não seguirem as precauções
razoáveis se elas sabem o efeito.
— Da maneira como você seguiu as precauções razoáveis na
noite passada?
— Oh, pelo amor de Deus, o que poderia ter acontecido com
qualquer um de nós! Além disso, você apagou o fogo antes que ele
começasse a dispersar, e eu teria feito isso, se você não tivesse.
— O ponto é...
— O ponto é — ela o interrompeu — você age como se o resto
do mundo fosse geralmente seguro, mas não é. O fogo é uma
ameaça constante no melhor dos lares: com velas, carvões e faíscas
da lareira. — Ela marcou as coisas em seus dedos. — As pessoas
caem das escadas - você também vai bloquear suas escadas? E foi
simplesmente pela misericórdia de Deus que minha tia não morreu
naquela carruagem. Ou que não fomos enviados voando para as
árvores quando derrapamos no chão. Você pode banir carruagens da
sua vida também?
— Se isso é o que é preciso para manter as pessoas que eu amo
longe da morte, então sim!
E assim, ela entendeu seus medos. Não tinha nada a ver com
nada racional — surgia de uma fonte mais profunda.
Instantaneamente seu coração doeu por ele. — Oh, Martin, eu sinto
muito.
Ele lançou-lhe um olhar cauteloso.
— Pelo quê?
Ela se aproximou para segurar a bochecha dele em sua mão.
— Por tudo. Pelo que aconteceu com seu irmão. Que fez isso a
você.
Seus olhos eram de um cinza gritante, de aço quando eles
encontraram com os dela.
— Eu não sei o que dizer — disse ele com voz rouca.
— Sim, você sabe — Ela acariciou sua mandíbula com barba,
desejando que pudesse acalmar sua alma ferida tão facilmente. —
Trata de punir a si mesmo pela morte de Rupert.
Ele fechou os olhos, a garganta trabalhando convulsivamente.
— Não tem nada a ver com punição — ele disparou.
— Não? Você poderia ter colocado um fim à fofoca, contando a
sua história e esmagando os rumores. Em vez disso você criou estas
razões ridículas para ficar aqui sozinho, separado de qualquer um que
se preocupe com você. Porque você está fazendo uma penitência auto
imposta pela morte de Rupert.
— Não... — ele sussurrou, e tentou se afastar.
Mas ela colocou as mãos em volta de seu pescoço e não o
deixou ir.
— Sim. Dói menos condenar-se a uma vida sozinho do que
enfrentar a dura verdade de que a vida não é segura. Que você não
pode controlar o que acontece com aqueles que você ama. Que
algumas coisas devem ser deixadas para o destino. — Sua voz saiu
como um sussurro. — Sua culpa lhe dá uma desculpa para não ficar
muito perto de ninguém, para que você não arrisque que isso
aconteça novamente.
— Você não entende. — Seus olhos brilharam para ela, escuros
em seu tormento. — Eu morreria se você ficasse ferida. Ou nossos
filhos ou...
— Eu também ficaria — Ela apertou um dedo aos lábios. — Mas
a resposta não é negar a si mesmo a família, amigos ou amor. Isso só
envenena a alma. Samuel Johnson disse que: A solidão é a perigosa
razão, sem ser favorável à virtude. Condenando-se a esta vida
solitária, você não vai salvar ninguém, nem mesmo a si mesmo.
— Mas, trazendo-lhe para minha vida, corro o risco de colocá-la
em perigo.
— Não mais do que o perigo em que você se coloca todos os
dias. Enquanto, se nós enfrentarmos juntos, eu posso lidar com tais
perigos.
Um músculo moveu em sua mandíbula, enquanto olhava para
ela.
— E se eu não puder?
— Então você me condenará a uma vida de solidão também,
para servir a sua penitência com você contra a minha vontade.
— Eu não acredito nisso. Certamente os outros vão ver a joia
que você é, homens que podem lhe dar tudo o que eu… — Ele
engasgou com as palavras.
Ela se aproveitou de seu ciúme.
— E é isso que você quer? — Ela esticou-se para escovar os
lábios em sua garganta, desesperada para fazê-lo entender do que ele
estaria desistindo. — Que eu encontre algum outro companheiro?
Seu pulso batia forte sob seus lábios.
— Eu quero que você esteja segura e feliz.
— Na cama de outro homem?
Ele soltou uma maldição baixa.
— Deixá-lo fazer todas as coisas maravilhosas que você fez
ontem, quando você colocou suas mãos em mim? — ela continuou
implacável. — Deixá-lo me beijar e acariciar...
— Não, droga, não! — ele rosnou, cobrindo a boca com a mão.
— Você sabe que não é o que eu quero.
Quando ela beijou a palma da mão, ele agarrou-lhe o queixo e
olhou para ela por um momento longo e doloroso. Em seguida, outro
juramento explodiu fora dele, e ele tomou sua boca na dele.
Enquanto a beijava com uma paixão selvagem que nunca tinha
mostrado antes, ela exultou. Este era o amante fervoroso que ela
tinha imaginado em seus sonhos, que não podia viver sem ela. Ele
não conseguia obter o suficiente, saqueando sua boca enquanto suas
mãos percorriam seu corpo para tomar liberdades indecorosas com
uma urgência imprudente que a emocionou.
— Ellie — falou asperamente enquanto marcava suas bochechas,
queixo e testa com beijos ardentes. — Ellie... por que você insiste em
me infernizar?
— Porque é isso que é preciso para ter você — ela respondeu
com sinceridade. — E eu estou disposta a lutar por aquilo que eu
quero.
Uma risada áspera escapou dele. Então ele pegou-a nos braços e
caminhou em direção a uma porta na parte de trás do escritório.
— Onde estamos indo? — ela respirava.
— Você ganhou amor — Seu olhar cru perfurando o dela. —
Você queria uma noite de paixão, então eu vou levar você onde eu
estive dormindo na semana passada. — Sua voz ficou rouca. — Vou
levá-la para a minha cama.
Seu coração saltou. Tê-lo fazendo amor com ela era mais do que
esperava. Mas, quando eles entraram no quarto, ela sabia que nunca
seria suficiente. Mesmo seu alojamento temporário trazia vestígios
dele, um conjunto de barbear com um monograma deixado inclinado
torto sobre uma mesa, um colete preto pendurado em uma cadeira, o
cheiro de salitre que ele nunca poderia apagar de sua roupa...
Ela escondeu o rosto em seu peito. Ela não queria pensar no
amanhã.
Aparentemente, nem ele, pois ele a colocou no chão ao lado da
cama e começou a tirar sua roupa, uma criatura selvagem querendo
liberdade das armadilhas da civilização.
— Você acha que pode lidar com os perigos, não é? — Seus
olhos escureceram quando ele tirou o vestido dela e desfez seu
cabelo. — Você acha que pode viver com minhas horas imprevisíveis,
meus humores insociáveis, meus experimentos arriscados.
A promessa não dita de um futuro, presente nessas questões
fizeram seu coração pular.
— Sim. — Ela deslizou para fora de seu vestido. — Eu não tenho
medo de perigo ou risco. — Como ele a violava com seu olhar, ela
pôs-se a desatar seu espartilho. — E eu não tenho medo de você.
— Uma almazinha tão corajosa — ele rosnou. Agora vestindo
apenas suas calças e camisa, ele deslizou atrás dela, claramente
muito impaciente para esperar por suas tentativas desajeitadas de
remover seu espartilho. Enquanto seus dedos trabalhavam os cordões
soltos, sua boca traçou um caminho de beijos por cima de seu ombro
e por sua orelha.
— Mas eu me pergunto — ele continuou — quão corajosa você
será uma vez que você veja o que está por vir. — Ele largou seu
espartilho para o chão, em seguida, encheu as mãos com seus seios,
acariciando-os através de sua camisa. — Eu me pergunto como você
vai reagir quando você perceber as muitas coisas lascivas perversas
que eu quero fazer para você.
— Então faça todas! — ela falou, transformando-se em seus
braços. — Cada uma! — Ela rasgou sua camisa em um frenesi de
desejo, e quando ele puxou-a, ela se deliciou com a visão de seu peito
nu, envolto em músculo, ornamentada com cachos negros, e todos
dela. — Faça tudo, eu lhe peço.
— Que Deus me ajude — ele murmurou enquanto ela o
explorava com as mãos, sua respiração ficando mais irregular a cada
momento.
Quando ela parou timidamente no cós de sua calça, ele pegou
sua mão e pediu-a para acariciá-lo lá.
— Você disse que não estava com medo… — ele zombou dela.
— Eu não estou — disse ela com voz trêmula, embora ela não
tivesse certeza do que fazer com a longa e grossa ereção dele. Ver os
modestos soldados em estátuas lhe dera uma expectativa bastante
diferente do que um homem de verdade poderia ser.
— Devo dizer que este é bastante substancial...
Com uma risada entrecortada, ele moveu a mão para seus
botões.
— Então tire minhas calças. Vamos ver o quão corajosa você
realmente é, amor.
Ela fez o que ele pediu, sentindo-se um pouco nervosa. Mas isso
não era nada em relação ao que ela sentiu quando revelou sua carne
rígida, empurrando para a frente corajosamente, ansioso por sua
lição.
— Céus — ela sussurrou, metade emoção, metade alarme.
— Ainda quer a sua “noite de paixão"? — ele perguntou com voz
rouca.
Sua resposta foi tirar a camisola, depois subir na cama e
recostar-se com um sorriso trêmulo. Seus olhos se arregalaram,
depois vasculharam-na com um prazer excruciante, absorvendo seus
seios pesados, sua barriga arredondada, seus quadris largos.
— Eu estava errado — ele pronunciou num sussurro dolorido
enquanto a seguia para a cama. — Você não é apenas bonita, amor.
Você é linda. Mais bonita do que qualquer homem poderia pedir.
Suas lágrimas começaram de novo, não só por causa de suas
palavras, mas por causa de sua expressão de adoração. Ela nunca
tinha esperado tal adoração por parte de qualquer homem, e agora...
Agora, ele esbanjou sua reverência em cada parte que ela tinha
criticado por ser pouco atraente. Ele moldou seus seios, lambeu sua
barriga, acariciou entre as pernas até que ela doía tanto por ele que
ela começou a implorar para a liberação. Até o momento que ele se
levantou para pressionar sua carne contra suas partes macias, foi
quase um alívio.
Lançou seu olhar acalorado sobre seu corpo enquanto ele a
preparava com os dedos.
— Tão quente, tão adorável — ele murmurou, aliviando-se
dentro dela. — E toda minha.
— Sim, toda sua. — Ela se segurou em seus ombros, mais do
que um pouco ansiosa com a sensação estranha de ter ele lá, tão
palpável, duro e insistente.
— Seja corajosa um pouco mais, amor — ele sussurrou, com a
testa tensa com o esforço de tomar seu tempo com ela. — Se você
pode aguentar, eu prometo não o tornar muito terrível.
Horrível?
Em seguida, ele entrou todo dentro dela. A surpresa de tê-lo tão
profundamente a assustou mais do que doía. Então ele começou a
beijá-la em cima, e embaixo se movia dentro dela, e até mesmo a dor
foi rapidamente esquecida.
Porque ela estava andando com o corsário, ondulando pelos
mares, apreciando o vento, aventura e descobertas e, sim, perigo.
Quanto mais ele se movia, mais ela ansiava por ele, arqueando para
encontrar seus mergulhos, cravando as unhas em suas costas.
— Ellie... amor... eu quero... eu preciso... Deus me ajude... Eu
preciso de você, — falou asperamente trazendo-a para mais perto e
mais perto do prazer que ele prometeu a cada polegada que se
infiltrava.
— Eu preciso de você, também — ela sussurrou, com medo de
dizer-lhe que seus sentimentos eram muito mais imprudente do que
mera necessidade. — Leve-me, Martin. Para sempre.
Eles foram subindo mais alto, mais longe, mais rápido, até que a
crista de uma onda de bateu em uma glória de selvagem e impetuoso
perigo.
Ela gritou. Ou talvez tenha sido ele que gritou. Ou talvez ele fez.
Tudo o que ela sabia, enquanto ele tremia e se esforçava contra ela,
era que ela preferia morrer a abandoná-lo depois disso.
Será que ele sentia o mesmo? A questão estava lhe
atormentado, mesmo quando ele caiu sobre ela, sua boca arrastando
beijos lânguidos ao longo de sua bochecha, pescoço e cabelo.
Enquanto ele deslizava para se deitar ao lado dela, ela tentou ignorar
a pergunta incômoda, preferindo saborear a simples alegria de tê-lo
puxando-a para perto, acariciando sua orelha e entrelaçando seus
dedos preguiçosamente em seu cabelo.
Mas, como ele acomodou-se contra ela com um suspiro de
prazer, ela sabia que tinha de perguntar o que seu ato de amor
significava para o futuro. Talvez ele pensasse que estava resolvido,
mas ele não disse nada sobre o amor ou casamento no meio de todas
as doces palavras que ele murmurou. Se isso era para ser apenas
uma noite de paixão que ela tinha pedido, ela tinha que saber, para
que ela pudesse começar a aprender a esconder os pedaços de seu
coração.
— Martin — ela sussurrou depois de um momento.
Silêncio. Ela recuou para olhar para ele. Seus olhos estavam
fechados, e sua respiração firme e uniforme. Ora, o desgraçado
insensível estava dormindo!
— Martin! — ela disse bruscamente.
Ele despertou apenas o suficiente para se acomodar de forma
mais confortável ao lado dela, em seguida, escorregou de volta para
seu cochilo. Jogou-se sobre o travesseiro com uma careta. Então se
lembrou de que ele mal dormiu nos últimos dois dias.
Ela suspirou. Provavelmente não haveria como despertá-lo por
horas. Infelizmente ela não podia ficar em sua cama até que ele
acordasse. Meg poderia se mexer durante a noite e se perguntar onde
ela estava. Ela tinha que estar no quarto quando as crianças e a tia se
levantassem para a manhã de Natal, e se ela ficasse aqui por muito
mais tempo, ambos poderiam dormir até o meio-dia. Isso era muito
arriscado até mesmo para a nova e ousada Ellie.
Além disso, seria melhor ter essa discussão na parte da manhã,
quando ele estava totalmente no comando de suas faculdades. Ela
ainda não tinha vontade de forçá-lo a se casar: ele era um homem
adulto que conhecia sua própria mente, e ela tinha exposto seus
argumentos. Se ele ainda fosse tolo o suficiente para preferir sua vida
solitária, ela não iria implorar por seu amor. Até mesmo ser solteirona
era preferível a isso.
Saindo da cama, vestiu-se o melhor que pôde, sem ajuda. Em
seguida, voltou a ele apenas o tempo suficiente para afastar os
cachos castanhos de sua testa e pressionar um beijo em sua testa
lisa.
— Boa noite, meu amor — ela sussurrou.
Ele não se mexeu quando ela saiu pela porta.
Capítulo Dez
Querido primo,
Você quer dizer que deixei meu coração me levar a ter
problemas. Admito livremente. Mas ao contrário de você, senhor,
acredito que o coração nunca vai me dar a direção errada.

Sua amiga emocional,


Charlotte

Depois de uma noite passada em sonhos eróticos e


intermitentes, Ellie acordou pouco depois do amanhecer com sons de
uma confusão alta. Ela correu para o quarto contíguo, onde sua tia
mancava nas muletas que acabara de usar no dia anterior. Ela estava
tentando acalmar os meninos e Meg, que estavam agrupados em
cima de sua cama, cada um lutando para contar a ela sua própria
versão de algumas notícias terríveis.
— Oh, graças a Deus você está acordada — Tia Alys disse
quando viu Ellie. — Seu pai chegou. E, aparentemente, ele está
empenhado em nos levar de uma vez, assim que embalarmos as
coisas. Ou ao menos é os que as crianças me dizem.
— De uma vez só? — exclamou ela, seu coração caiu em seu
estômago.
Tim correu para ela.
— Sim, é muito horrível. Tio Joseph disse para acordar você e
mamãe, porque estamos indo imediatamente! Não vamos abrir nossos
presentes nem nada! E vamos sentir falta do pudim de ganso e
ameixa e do pudim de Yorkshire e...
— O que disse o Senhor Thorncliff com isso?
As crianças se entreolharam.
— Não sei. Ele não estava lá embaixo — disse Percy.
Ele provavelmente ainda estava dormindo.
— Fiquem aqui, crianças. Eu vou falar com papai.
— Sim, fale com ele, faça-o entrar em bom senso — disse a tia.
Levar-nos em pleno Natal? Eu não sei o que ele pode estar
pensando...
Ela se vestiu enquanto sua tia gritava, expressando altas queixas
do outro quarto. Então Ellie correu lá embaixo para encontrar seu pai
fazendo exigências, a um muito perturbado, Sr. Huggett. Martin não
estava à vista, embora como ele poderia dormir com tal comoção
estava além de sua compreensão.
— Eu não ligo para o jantar elaborado que você tenha
preparado, senhor, — seu pai bradou, seu peito tremendo de
indignação. — Minha filha e os outros não devem permanecer um
momento mais sob este teto. Onde estão seus lacaios com as
bagagens.
— Papa! — Ellie gritou dividida entre o prazer de vê-lo e a
consternação sobre o que ele estava fazendo.
— Ellie, minha menina! — Apressando-se para encontrá-la no pé
da escada, ele pegou-a em seus braços como se tivessem afastados
por anos, em vez de uma semana. — Me desculpe, eu não pude vir
antes disso. Eu nem sequer recebi a notícia até dois dias atrás, e as
estradas estão ainda escorregadia. É por isso que me levou tanto
tempo para chegar aqui.
— Está tudo bem — ela lhe assegurou. — Estivemos muito bem.
O Sr. Thorncliff tem sido muito gentil.
— Thorncliff é o próprio diabo — ele sibilou. Lançando ao Sr.
Huggett um olhar de esguelha, ele a puxou para fora da audição do
homem. — Eu sei que você não ouviu falar sobre a reputação do
sujeito, mas acredita-se que ele matou seu irmão para ganhar essa
propriedade. Por que o povo local não o prende é uma incógnita, mas
certamente duas damas respeitáveis não podem ficar sob o mesmo
teto que ele, sem uma acompanhante, sem manchar suas reputações.

— Bobagem, ele não tinha escolha — ela disparou irritada por


ele engolir as fofocas sobre Martin tão completamente. — Estamos
muito gratas ao nosso anfitrião ter nos recebido. Caso contrário, de
fato, teríamos estado em apuros. E eu sei dos rumores, mas eles
estão errados. O Sr. Thorncliff foi cortês conosco. Se você não
acredita em mim, pergunte à tia Alys.
Ele bufou.
— Sua tia ficou ferida e sua mente mal pode formar uma opinião
direito. Caso contrário, eu duvido que ela tivesse permitido que o
Barão Negro tirasse proveito de todos vocês.
— Não o chame assim! — Ela gemeu quando os olhos do pai se
estreitaram perigosamente. — Ele não tirou vantagem de nós. Nada
desagradável aconteceu.
— Mas nós estamos partindo, logo que estes lacaios malditos
tenham embalado os seus baús.
— Mas, papai, que seria rude ir sem sequer agradecer sua
senhoria!
— Eu ficaria feliz em ter uma palavra com o homem, se ele
estivesse aqui, mas ele não está. — Seu pai projetava o queixo na
direção do Sr. Huggett. — Ou assim seus servos afirmam.
— O que? — Ela se aproximou para levar o Sr. Huggett para o
lado enquanto seu pai foi até a porta procurar abordar o cocheiro. —
Onde está o Senhor Thorncliff? — ela perguntou, lutando para manter
a voz firme.
— Ele desceu pouco antes do amanhecer, Senhorita, e
perguntou se algum de vocês estava acordado. Quando eu disse que
não, ele disse que sairia e estaria de volta em poucas horas. — Mr.
Huggett inclinou-se com um ar auspicioso. — Ele disse para ter
certeza de que eu lhe diria, mais especificamente, no caso de
acontecer de descer mais cedo.
O que ela deveria fazer?
— Ele não disse para onde ia?
— Sinto muito, Senhorita, não. Mas alguém já verificou o celeiro,
e ele está bloqueado. Ele poderia ter ido para a mina, mas está
fechada hoje então eu não acho que ele foi lá, também.
— Encontre-o, por favor! — Tentando não entrar em pânico, ela
caminhou de volta para seu pai. — Papa, devemos, pelo menos, ficar
até a sua senhoria retornar.
— Na verdade, não. Eu não devo esperar aquele canalha. Se ele
quiser falar conosco, ele pode nos encontrar facilmente na pousada
em Hensley.
— Hensley? — Seu alarme aliviou um pouco. Hensley fica nas
proximidades.
— Eu parei lá para nos reservar quartos antes de eu vir aqui. Eu
quero consultar o médico sobre sua tia antes de continuar, e já que é
Natal, eu pensei que nós poderíamos passar a noite lá e voltar para
Sheffield, no dia seguinte.
— Uma ideia excelente — disse ela em uma corrida, lutando
para esconder seu alívio.
Seu pai chamou um lacaio que descia as escadas.
— Você aí, são os pertences que estão sendo embalados?
— Eu acredito que sim, senhor.
— Ellie, vá ajudar sua tia. — Ele lançou um olhar sombrio sobre
a sala pouco mobiliada. — Estou impaciente para estar longe deste
lugar sombrio.
— Não é sombrio! — Ellie protestou. — Acho que é bastante...
poético.
Ele balançou a cabeça, como sempre fazia com o que ele
chamava de "noções fantasiosas". Poético ou não, quanto mais cedo
estivermos longe, melhor.
Na próxima meia hora Ellie fez o seu melhor para atrasá-lo,
embora uma vez que ele veio ajudar a embalar, ela não conseguia
mais atrasar. Consolou-se que Martin certamente os seguiria até
Hensley, se eles deixassem a mansão antes que ele retornasse. Ele
queria apenas dizer adeus.
A menos que ele veja isso como a chance de se livrar de mim
sem qualquer problema.
Não, ela não podia acreditar nisso. Ela não o faria.
Quando tudo estava organizado, e Papa tinha levado sua tia
para baixo para deixá-la confortavelmente na carruagem, ela tomou
Sr. Huggett de lado.
— Diga a sua senhoria que ele é convidado a se juntar a nós
hoje, para o jantar de Natal no Rose and Crown em Hensley.
— Sim Srta.. — Mas ele não iria olhar nos olhos dela.
— Você vai dizer a ele, não vai? — ela pressionou.
— Eu vou, eu juro — Sr. Huggett suspirou. — Mas eu não posso
prometer que ele vai. Você sabe como ele é.
— Ele deve — ela disse determinada a ouvir o seu coração e não
o medo. Ela cavou em seu bolso para o botão de ouro. — Dê-lhe isso.
Diga-lhe que ele me deve uma benção. — Ele podia vir atrás dela
apenas para contestar essa mentira. De qualquer maneira, ela tinha
que vê-lo novamente antes de sair da área para sempre.
— Sim. — Sr. Huggett lançou lhe um sorriso melancólico. —
Aconteça o que acontecer, você deve saber que tem sido uma honra
servi-la. Eu acho que posso falar com segurança pelos serviçais que
nós ficaríamos felizes em tê-la de volta a qualquer hora.
— Obrigada, Sr. Huggett — ela sussurrou com um nó alojado em
sua garganta. — Espero vê-lo novamente em breve.
Enquanto cavalgavam nas duas carruagens do pai, ela se
agarrava fervorosamente à esperança de um retorno. Porque não
seria Natal para ela se não o fizesse.

Quando Martin despertou perto do amanhecer e descobriu que


Ellie havia retornado para sua cama, ele desceu e encontrou Huggett
e os lacaios ocupados com os preparativos para a manhã de Natal.
Embora ele tivesse desistido de qualquer um daqueles dias tempos
atrás, tinha sido demais para ele lidar com seus pensamentos em tal
tumulto. Ele teve um súbito impulso de escapar antes que as crianças
despertassem e aumentasse o caos a sua volta. Ele tinha que pensar,
planejar.

Depois de caminhar sem rumo, ele de alguma forma encontrou-


se no túmulo de seu irmão, que estava em um ponto distante na
propriedade, que tinha sido sempre o lugar favorito de Rupert, com
vista para o lago, onde ele gostava de remar.
Martin o tinha visitado a cada semana desde a morte de seu
irmão. Ele disse a si mesmo que fazia isso como um lembrete do que
ele devia a seu irmão e aos mineiros, mas depois da noite passada ele
pensava diferente. Ellie tinha razão. Tinha sido uma penitência. Tudo
isso: seu isolamento, suas regras rígidas para o pessoal, mesmo sua
negligência com a mansão. Ele havia punido a si mesmo, não apenas
por sua parte na morte de Rupert, mas por ser autorizado a trabalhar
e comer e respirar enquanto seu irmão definhou para sempre na
sepultura. Ele não estava certo. Não era justo. Mas então, a vida não
era geralmente certa ou justa.
Ou segura, como Ellie tinha apontado. Ele usou a morte de
Rupert como uma desculpa para se proteger da vida, e em vez disso
ele tinha condenado o seu coração a um vasto deserto onde sua culpa
tinha-se tornado uma espécie de consolo. Um consolo mortal e
ruinoso.
Então ela lançou sobre ele seus sorrisos brilhantes e suas
citações ridículas. E seu maravilhoso, e indulgente coração. Agora ele
tinha que fazer uma escolha. Abraçar a felicidade que ela oferecia ou
afundar ainda mais na culpa que havia se tornado sua prisão. Não
podia ser mera coincidência que a vinda dela lhe dera a solução para
o problema do seu fusível que o havia atormentado por três anos. Era
difícil pensar direito quando a mente estava atolada na miséria.
Ele não podia banir a culpa que ainda pesava sobre a sua alma,
e duvidou que ele pudesse livrar-se dela completamente. Mas talvez
ele pudesse colocá-la em seu devido lugar e viver a sua vida. Com
Ellie. Com a mulher que amava.
Um momento de pânico se apoderou dele. Amava? Oh, Deus, a
própria ideia colocava medo em sua alma. Amar era o maior perigo de
todos. Se ele a amava, e algo acontecesse com ela...
A resposta não é negar a si mesmo a família, amigos ou amor.
Isso só envenena a alma. Samuel Johnson disse que: A solidão é
perigosa para a razão, sem ser favorável à virtude. Condenando-se a
esta vida solitária, você não vai salvar ninguém, nem mesmo a si
mesmo.
Um leve sorriso tocou seus lábios. Deixe para sua Ellie citar
algum velho escritor e marcar seu ponto.
Sua Ellie?
Sim, sua. Ele não podia viver sem ela, aconteça o que acontecer.
Ele olhou para a sepultura outro momento, em seguida, bateu o
chapéu para trás em sua cabeça.
— Perdoe-me, Rupert, mas devo ir. É manhã de Natal. E eu acho
que é hora de parar com o luto de uma morte no Natal, e em seu
lugar, começar a comemorar um nascimento.
Com passos leves se voltou para casa, ansioso para abraçar o
seu futuro. Mas no momento em que ele entrou na mansão pairava
uma quietude, assim como no túmulo que ele tinha acabado de sair,
ele soube que algo estava errado.
Onde estavam as crianças clamando por seus presentes, os
lacaios a pôr a mesa? Onde estava Ellie?
— Eles se foram — veio uma voz cansada. Ele virou-se e
encontrou Huggett desconsolado caído em uma cadeira perto da
lareira, onde a tora ainda ardia — O Sr. Bancroft veio e os levou a
todos para o Rose and Crown em Hensley. Eles estarão deixando
Sheffield amanhã.
Ellie tinha ido embora? Sem esperar para falar com ele, para
resolver o que havia entre eles? Sem dúvida que era obra de seu pai.
Mas por um momento, Martin tentava aceitar como um sinal de que
ele não fora feito para a felicidade, que ele devia estar louco para
pensar o contrário.
Lembrou então do rosto doce e das conversas das crianças e a
esperança que ela trouxe trovejou no momento em que ela chegou.
Estou disposta a lutar por aquilo que eu quero, ela dissera.
E agora, ele também.
— A mocinha disse que está convidado para se juntar a eles
para o jantar de Natal no Rose and Crown. — Huggett levantou
demoradamente e veio em sua direção. — E que eu lhe desse isso. —
Ele entregou um botão de ouro para Martin.
Que diabo? Ah, sim, a passa da sorte.
— Eu disse a mocinha que você não gostaria de ir, mas ela disse
para lembrá-lo que você deve a ela uma benção.
Com uma risada que assustou Huggett, ele enfiou o botão no
bolso, com o coração mais leve do que tinha sentido em anos. Ele
deveria conhecer a sua Ellie ela nunca o deixaria tão facilmente.
— Diga-me, Huggett, você acha que eu vou ser capaz de
conseguir um ganso em Rose and Crown, hoje? Ou qualquer um dos
outros adornos, para um jantar de Natal decente?
O rosto de Huggett refletiu uma débil esperança.
— Eu ficaria muito surpreso se pudessem, meu senhor,
especialmente nesta data tardia.
— E não acontece de você ter tais necessidades na casa em
algum lugar, o suficiente para alimentar uma família grande?
— Eu conseguiria, de fato, senhor — disse Huggett, sua voz
vibrando de emoção.
— Bem, então, homem, arrume tudo — cada torta, panela e
pão. Estamos indo para a cidade.
Capítulo Onze
Cara Charlotte,
Siga seu coração, se você tem minha senhora. Suponho que é o
caminho de todas as mulheres, especialmente nesta época do ano.

Com os melhores votos de um Feliz Natal,


Michael

Se não fosse pela preocupação em seu coração, Ellie poderia ter


se divertido com a conversa acalorada que ocorria entre seu pai e o
estalajadeiro. The Rose and Crown não esperava sete pessoas para o
jantar a mulher do estalajadeiro só tinha planejado uma refeição
modesta, já que os outros funcionários estavam comemorando com
suas famílias, um fato que o estalajadeiro, um homem de Yorkshire
grisalho, continuou tentando pacientemente explicar.
— Nós deveríamos ter ficado em Thorncliff Hall — Tia Alys
murmurou ao seu lado — Seu pai pode ser tão impetuoso.
Ellie suspirou. Uma vez que haviam deixado a mansão, os
meninos tinham feito nada além de reclamar, e Meg ficava
perguntando quando eles iriam ver o Sr. Thorncliff de novo, uma
pergunta que Ellie queria muito responder.
De repente, Charlie gritou da janela:
— Venham ver, todos! Há um desfile!
Um desfile? No dia de Natal em uma cidade provinciana como
Hensley? Isso era pouco provável. Mas quando os outros correram
para olhar pela janela, ela o fez também. E o que ela viu tirou o ar
dos seus pulmões.
Martin levou uma grande provisão de servos em carroças, seu
enorme cavalo
Preto, majestoso, com fitas fluindo de sua sela. Os galhos que
ela e as crianças tinham usado para o deck da mansão agora
adornavam uma carroça puxada por um cavalo, Huggett montava
enquanto segurava uma grande vela Yule. E na carroça estavam..
— Veja! — Percy gritou. — Sua senhoria nos trouxe o jantar de
Natal!
Lágrimas brotaram dos olhos de Ellie, ela prendeu a mão à boca
para conter um soluço de alegria. Ele tinha vindo, de fato. Mais
importante, ele tinha vindo para ela. Ele tinha vindo!
Naquele momento, Martin olhou para cima e a viu na janela.
Tirando o chapéu, ele lançou lhe um sorriso tão brilhante que aqueceu
cada polegada de seu coração.
— Agora isso é um colírio para os olhos — o estalajadeiro disse
enquanto olhava para fora. — Não vi sua senhoria sorrir assim desde
o terrível dia que seu irmão morreu. Alguns disseram que ele nunca
iria se recuperar, ele estava tão esgotado.
Seu pai olhou para o estalajadeiro e depois para ela.
— É mesmo? Eu tinha ouvido falar de outra forma.
Papa sondou o homem para mais detalhes e o estalajadeiro
começou a fornecer o que ele sabia, mas Ellie não lhes deu mais
atenção. Ela levantou a saia e correu para fora.
Em segundos ela estava lá embaixo, atingindo a porta assim que
Martin abriu. Sem se importar com quem pudesse vê-os, ele a pegou
em seus braços e beijou-a profundamente, seus servos atrás dele
soltaram um grito.
Quando ele se afastou, seus olhos estavam brilhando e ela tinha
toda a resposta que queria. Mas antes que ele pudesse dar-lhe as
palavras, também, seu pai apareceu no topo das escadas.
— Veja aqui, senhor, solte a minha filha!
— Papa — ela começou.
— Deixe-me lidar com isso, amor, — Martin murmurou quando
ele a puxou para o seu lado, mantendo o braço ancorada sobre sua
cintura. — Bom dia, senhor. Eu vejo que você chegou com segurança.
— Não é 'bom dia' para mim, seu canalha, — seu pai disse logo
que desceu. — Eu quero saber o que você pensa que está fazendo
com minha filha.
Os meninos e Meg desceram atrás dele, os olhos brilhantes de
curiosidade, e o estalajadeiro ajudou sua tia a descer o suficiente para
ver o que estava acontecendo.
Quando Ellie olhou para Martin, com o coração na garganta, um
brilho apareceu em seus olhos. Ele tirou algo do bolso. — É muito
simples. Sua família e eu jogamos Snapdragon na outra noite, e no
processo eu adquiri isso. — Ele levantou o botão de ouro. —
Disseram-me que é a 'passa da sorte', permitindo-me exigir um
benefício de alguém na partida. Então, eu vim para exigir sua filha.
Percy bufou.
— Mas foi a Ellie que...
— Fique quieto, Percy! — Tia Alys sibilou, fazendo-o saltar.
Os olhos de papa se estreitaram quando ele marchou em direção
a eles.
— E que benefício pode ser isso?
Martin apertou seu lado.
— A mão dela em casamento, senhor. — Ele se virou para ela,
seu olhar tão brilhante como o botão de ouro. — Eu te amo, Ellie, e
eu não posso viver mais um dia sem você. Vou dar a minha penitência
para você. Você me aceitará, com perigos e tudo?
— Sim, Martin, sim — ela sussurrou. — Eu também te amo.
— Agora veja aqui — Papa interrompeu. — Você não é o
primeiro homem a ser tentado pela fortuna da minha filha, mas isso
não quer dizer...
— Eu não me importo com sua fortuna, senhor — Martin disse
firme, voltando-se para encontrar o olhar severo de seu pai — Embora
nós preferíssemos ter sua bênção.
— E se a minha bênção tiver um preço duro? — seu pai
perguntou em uma voz dura. — Você vai desistir de sua fortuna para
ter a minha bênção?
— Papa! Quero me casar com ele, e ele merece...
— Está tudo bem, Ellie — Martin murmurou. — Eu lhe disse
desde o início, eu não preciso do seu dinheiro.
— Ele não precisa, 'é verdade — o estalajadeiro colocou. — Todo
mundo sabe que o espólio de sua senhoria fatura mais de cinco mil
por ano. E a mina está ganhando mais agora do que já fazia quando
seu irmão era o dono.
— O que? — Ela torceu rodada para olhar para os servos. — Mas
o Sr. Huggett disse...
— Perdoe-me, Senhorita — o mordomo respondeu corado. —
Você estava tão convencida de que sua senhoria tinha caído em
tempos difíceis que parecia rude para dizer o contrário.
Ela soltou uma risada, lembrando como Huggett tinha
manipulando-a para enfeitar o solar com os galhos mesmo contra os
desejos de seu mestre.
Ela olhou para Martin, que estava olhando para ela e Huggett
com uma expressão perplexa, e lançou-lhe um sorriso vertiginoso.
— Muito bem, senhor, eu concederei sua bênção, embora eu
tenha uma condição.
— Oh? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Você tem que prometer nunca mais se livrar do Sr. Huggett.
Martin começou a rir, e ela também. Em seguida, os meninos se
juntaram a eles, dançando enquanto seu pai estava ali atordoado e
sua tia sorria.
— Vamos, — Martin gritou, puxando Ellie para fora da porta. —
A comida está ficando fria, e nós temos um jantar para comer.

Quando os servos trouxeram o ganso assado, a torta e o pudim


de ameixa no
Natal, os meninos estavam fora de si com alegria, exclamando
sobre cada novo tratamento que recebiam maravilhados.
— Sua senhoria sabe como manter o Natal bem, se eu posso
dizê-lo, — pronunciou o estalajadeiro.
Charlie Dickens olhou ao redor em toda a festa, e em uma
explosão de prazer gritou:
— Deus abençoe, cada um!
E assim Ele fez.
Nota do Autor
Sim, eu tomei o máximo de um dramático consentimento —
eu coloquei Charles Dickens no meu livro e dei-lhe algumas de suas
próprias linhas de A Christmas Carol. Felizmente o tempo do meu livro
foi perfeito para ele, ocorrendo exatamente quando sua família
mudou para um subúrbio de Londres e seu pai entrou na prisão de
devedores. Como eu poderia resistir?
Eu também me apropriei da invenção do fusível de segurança
para o meu herói. O verdadeiro inventor era um homem chamado
William Bickford, que viveu em uma cidade de mineração e decidiu
fazer algo sobre todas as mortes desnecessárias por explosão. Sua
invenção surgiu quando ele viu um homem tecer e teve um momento
"Eureka!". Seu design é o mesmo usado hoje para fusíveis explosivos.
E sim, snapdragon não era apenas um jogo real, mas tornou-se
bastante popular na era vitoriana. Não é tão ruim quanto parece (eu
experimentei para ter certeza). A canção (contida em Robert
Chambers da The Book of Days) também é real, embora mais longa.
A "passa da sorte" é uma variante, fiquei muito feliz por ser capaz de
usar.

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