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Para Susan Huggett Williams, por tudo que você fez. e Úrsula
Vernon, a filha que nunca tive — isso é o mais perto que posso
chegar para explodir carruagens.
Capítulo Um
Cara Charlotte,
A escola deve ser um lugar vazio quando seus alunos forem para
a temporada de Natal. Espero que você tenha amigos por perto que
possam cuidar de você. Uma mulher sozinha nunca está totalmente
segura.
Yorkshire
Dezembro de 1823
Ellie não viu seu anfitrião novamente naquela tarde. Não que
isso importasse; ela estava muito ocupada para pensar nele. Pouco
depois que ele saiu, o médico chegou, e uma longa discussão seguiu
ao exame da tia Alys. Felizmente o ferimento na cabeça de sua tia
não era tão ruim quanto parecia, mas ela realmente tinha quebrado a
perna. O médico recomendou que ela não fosse movida por pelo
menos uma semana.
O que levou seus filhos a histeria, uma vez que isso significava
que iriam perder o Natal em Sheffield. Ellie e a mãe deles tiveram que
dar garantias extravagantes de guloseimas e passeios futuros, a fim
de acalmá-los. Pelo menos os seus presentes estavam em suas malas,
que tinha aparecido depois que o médico saiu, assim como sua
senhoria havia prometido.
O sr. Huggett, um homem que demonstrou ser tão alegre
quanto seu empregador era assustador, dera-lhe a certeza de que
fora enviado um mensageiro a cavalo para informar seu pai sobre o
que tinha acontecido com eles. Mas dado o estado das estradas e ele
se encontrar em Lancashire, não havia muito que Papa pudesse fazer.
Ellie passou o resto da sua tarde ajeitando todos, certificando-se
de que sua tia estivesse confortável, e consultou o Sr. Huggett sobre
as refeições das crianças. Até o momento que o mordomo veio buscá-
los para jantar, ela se sentia muito confortável com ele.
Essa foi à única razão pela qual ela abordou a difícil questão.
— Sr. Huggett — disse ela em voz baixa para que as crianças
não ouvissem já que elas corriam à sua frente. — Por que é que o
seu senhorio é chamado Barão Negro?
A mistura de pânico e desconfiança em seu rosto a fez lembrar-
se de seu pai sempre que ela fazia uma pergunta indelicada.
— Eu... bem, você sabe, Senhorita... — ele começou a gaguejar.
— Não pode ser apenas por causa da fuligem — ela falou
amavelmente.
— A fuligem? Ah, sim, a fuligem. — Ele franziu o cenho quando
a escoltou até lá embaixo. — Na verdade, é... er... por causa de suas
roupas. Você deve ter notado que ele usa nada além de preto.
Ela tinha notado. Ainda assim...
— Essa é a única razão pela qual eles o chamam assim?
— O que mais poderia ser? — ele disse alegremente, embora ele
não olhasse em seus olhos. — Aliás, o médico me disse que sua tia
deve comer alimentos macios até estarmos certos de que sua lesão
na cabeça não é grave, por isso, tomei a liberdade de falar com o
cozinheiro...
Como ele tagarelava, ela percebeu que a pergunta dela tinha
atingido um ponto sensível. Mas parecia rude pressioná-lo para
fofocar sobre seu empregador. O homem parecia estranhamente fiel
ao Sr. Thorncliff, evidência de que o seu anfitrião pode não ser tão
temível quanto parecia.
Ela notou outros indícios, também, a forma como o barão tinha
acomodado todos eles apesar de seus murmúrios, o fato de que ele
tenha enviado alguém para buscar um médico e seus baús com muita
pressa, a sua vontade de desistir de seu próprio quarto. E quando eles
entraram na sala de jantar, ela teve a evidência mais forte de todas.
Lorde Thorncliff tomara banho. O homem que se virou da lareira
para cumprimentá-los não tinha nenhuma semelhança física com o
homem que os resgatou.
Ele usava o mesmo tipo de casaco preto, colete, e gravata como
antes, exceto que estes pareciam recém-lavados e passados. E o
rosto dele... Deus do céu, o Barão Negro pode ter o temperamento de
uma besta, mas ele tinha uma aparência bastante marcante. Na
verdade, ele tinha muito em comum com o herói pirata de Byron The
Corsair, uma obra que ela insistiu em desfrutar apesar da reputação
vergonhosa de seu autor. O Sr. Thorncliff era "robusto, mas não
hercúleo" e suas "sobrancelhas escuras" faziam de fato uma sombra
dando-lhe "um olhar de fogo." E como o corsário, "tinha o rosto
queimado, a testa alta e pálida, os cabelos eram cacheados numa
profusão selvagem”.
Exceto que o cabelo do barão não era realmente preto. Era de
um castanho escuro, que a luz do fogo tinha reflexos vermelho
cintilante. E agora que ele não estava coberto de fuligem e ela não
estava distraída com as crianças, ela podia ver a verdadeira cor de
seus olhos, também: um cinza esfumaçado, cobertos por longos cílios
escuros.
Ele não era classicamente bonito, seu rosto era muito angular e
seu queixo muito proeminente para o tipo de características
consideradas bonitas em Londres. Mas ele era atraente o suficiente
para fazer seus joelhos fraquejar. Ele a pegara totalmente
desprevenida, pois homens atraentes a intimidavam, e esta era a
última coisa que ela precisava sentir por seu anfitrião.
Sua aparência melhorada, no entanto, teve o efeito contrário em
Meg, que foi correndo examiná-lo com grande curiosidade.
— Quem é você?
— Eu sou Thorncliff. E quem é você, mocinha?
Reconhecendo a voz de antes, Meg encolheu-se e colocou o
polegar na boca.
Ellie deu um passo adiante para aliviar o constrangimento.
— Perdoe-me, senhor, eu esqueci que você ainda não sabe seus
nomes — Ela apresentou as crianças, e por uma vez, teve o prazer de
ver os meninos se comportando como cavalheiros.
Quando os lacaios trouxeram os pratos de comida e colocaram
sobre o aparador na sala de jantar, porém, os garotos saíram
correndo para ver o que seria a comida.
— Oh, ótimo, tem carne — disse Tim enquanto olhava para um
pedaço grande — Eu estou quase morrendo de fome!
— Olha, Charlie, tem presunto, também — gritou Percy da outra
extremidade. — E pudim!
— Talvez nós devamos sentar — o Sr. Thorncliff murmurou para
ela. — , antes que os garotos, de onde estão, devorem nosso jantar.
E assim começou a sua primeira noite em Thorncliff Hall. Com
mais fome do que ela percebera, ela estava contente em deixar os
meninos se encarregar da conversa. Fizeram perguntas impertinentes
sobre a idade da casa, se ele tinha todos os brinquedos, em que
córregos ele pescava. Seu anfitrião lhes respondeu de bom grado, se
não com grande entusiasmo.
Até mesmo Meg ficou confortável o suficiente para arriscar uma
pergunta.
— Por que você estava tão sujo hoje, senhor?
— Meg! — Ellie repreendeu. — É falta de educação perguntar a
uma pessoa uma coisa dessas.
— Sim, é verdade — seu anfitrião disse acidamente. — Você
pode envergonhar as pessoas ao fazer suposições sobre elas, e
fofocar sobre elas com seus amigos, mas não pode nunca fazer a
alguém uma pergunta direta. Não, se você quiser manter a ordem
social.
Ele estava a repreendendo, o diabo ranzinza?
— Você deve aprender com sua senhoria — ela colocou. — Ele é
mestre das perguntas diretas. — Quando seu olhar disparou para ela,
ela acrescentou:
— Não, espere, é ordem direta de Lorde Thorncliff. Isso é uma
habilidade inteiramente diferente, mas aparentemente bem
desenvolvida.
O Sr. Huggett fez um som abafado, de onde ele estava, perto do
aparador, mas o Sr. Thorncliff realmente riu.
— Sim, e eu levei anos para aperfeiçoá-la. Obrigado por me dar
a oportunidade de experimentar em outra pessoa que não nos meus
servos e eventuais funcionários da mina de carvão.
— É por isso que você estava coberto de fuligem! — Percy
exclamou. — Você trabalha em uma mina de carvão.
— Eu, na verdade, tenho uma mina de carvão. Ela pertencia a
meu pai, e depois quando o pai morreu, ao meu irmão mais velho.
Mas eu assumi a titularidade depois... — A dor brilhou em seu rosto.
— depois de Rupert falecer a três anos.
— Eu sinto muito — Ellie murmurou.
Ele acenou aceitando suas condolências, em seguida, empurrou
sua cabeça em direção ao prato de Percy e prontamente mudou de
assunto.
— Então, Mestre Percy, eu vejo que você está apreciando a
carne.
Isso deixou Percy em êxtase sobre o seu jantar, porém fez Ellie
olhar para sua senhoria sob uma nova luz. Pobre homem, perder toda
a sua família tão cedo na vida. Não admira que ele fosse intratável.
Quando o silêncio mais uma vez, caiu sobre a mesa, Meg saltou
com outra pergunta.
— Onde está o seu verde fedorento, senhor?
O barão arqueou uma sobrancelha.
— Verdes fedorentos?
— Ela quer dizer galhos, que são usados para o Natal — disse
Percy. — Você sabe, para pendurar no corrimão e cornijas. Mama usa
cedro. Mas Meg não gosta do cheiro.
— Ah!
Como isso foi sua única resposta, Tim perguntou:
— Bem? Onde eles estão?
— Não seja rude — disse Ellie. — Tenho certeza que os servos
de sua senhoria irão colocar os galhos, quando for à hora certa. — Ela
não podia imaginar o homem fazendo isso.
— Mas o Natal já está chegando! — Tim disparou a sua senhoria
um olhar suplicante. — Você vai colocá-los amanhã?
O Sr. Thorncliff ficou tenso e disse em uma voz perfeitamente
comedida.
— Eu não posso incomodar minha equipe com essas coisas. Eles
são poucos, só o suficiente para fazer o trabalho básico. — Quando
um resmungo soou, ele olhou para seu mordomo. — Especialmente
com a casa cheia de convidados. Não é mesmo, Sr. Huggett?
— De fato, senhor — disse Huggett em voz evasiva.
Agora que seu anfitrião mencionou isso, ela percebeu que não
tinha a quantidade de pessoal adequado. Ela tinha visto algumas
servas, e apenas alguns lacaios e os cavalariços, um cozinheiro, e o
Sr. Huggett. Isso explicava o mau estado da mansão.
Ou o triste estado da mansão poderia ser causado pela mesma
coisa que fez com que a mantivesse a pequena equipe. A falta de
dinheiro.
Deve ser isso! Isso explicava muito: seus comentários maliciosos
sobre sua fortuna, seu traje preto simples... seu envolvimento intenso
com a mina que ele possuía. Seu pai possuía uma mina de prata, mas
nunca chegou em casa coberto de sujeira. Apenas os homens que
trabalhavam dentro da mina faziam isso e, aparentemente, sua
senhoria fazia, alguns precisam fazer isso. Sua mina estava falindo,
talvez?
E agora talvez eles estivessem onerando suas despesas ao
invadir sua casa. Essa certamente era outra causa para o seu pavio
curto. Como Corsair de Byron, que era "muito firme para produzir, e
orgulhoso demais para se inclinar," ele não estava disposto a admitir
sua pobreza para o mundo.
Ela teria que explicar-lhe que ele não precisava fazer dívida
ajudando-os. Eles não precisavam de carne assada e presunto, e que
galinhas e caças os deixariam perfeitamente bem. Ou ela poderia
encontrar alguma maneira delicada de oferecer pagamento por seus
alojamentos e comida. Não era certo tomar sua hospitalidade e não
fazer algo em troca.
— Você tem cavalos, senhor? — Percy perguntou. — Você deve
ter, pois vi seu cavalariço. Poderíamos montar amanhã?
— Não com este tempo — Ellie interrompeu, não querendo
colocar seu anfitrião na incômoda posição de ter que admitir que ele
não poderia pagar um estábulo cheio de cavalos. — Eu duvido que
sua mãe vá querer que você ande por aí quando há gelo no chão.
Sua senhoria se recostou na cadeira e limpou a boca com um
guardanapo.
— Mas quando o gelo derreter, não tenho nenhuma objeção de
que usem meu estábulo. Eu não tenho cavalos suficientes para
montarem e conhecerem ao redor, mas vocês podem se revezar.
— O que é que há nesse celeiro de pedra que Percy e eu vimos
na parte de trás da janela — perguntou Tim.
— Fiquem longe desse celeiro! — estalou Thorncliff, seu rosto
abruptamente escurecendo. Quando ele a pegou levantando uma
sobrancelha em sua direção, ele acrescentou: — Esta é uma ordem
direta e espero ser obedecido, Srta. Bancroft.
— Como queira, senhor — ela disse em uma voz cáustica, mas
os meninos não eram tão complacentes, especialmente depois de sua
veemência inesperada.
— Por quê? — Percy perguntou. — O que você mantém lá?
— Nada que lhe diga respeito — sua senhoria rosnou.
— É onde você guarda seus rifles de caça? — Tim perguntou,
excitado.
— Não, droga! — Sua cadeira raspou o chão quando ele se
levantou em toda sua altura. — Não devem ir a qualquer lugar perto
dele! Porque se você fizerem isso, eu juro que eu vou aplicar um
corretivo em vocês! Entendido?
Ninguém jamais havia ameaçado levantar a mão para os
meninos mimados de sua tia. Eles olharam boquiabertos para ele,
totalmente incapazes de responder.
— Pelo amor de Deus, Sr. Thorncliff — ela começou.
— Entendido? — ele repetiu, batendo os punhos na mesa.
Os garotos saltaram visivelmente. Em seguida, balançaram a
cabeça furiosamente.
Meg desatou a chorar.
Isso pareceu empurrar o temperamento de Lorde Thorncliff para
fora. Ele olhou para ela como se a visse pela primeira vez, com uma
expressão quase cômica de horror passando por suas feições. Em
seguida, ele soltou uma maldição baixa e saiu da sala.
— Ellieee! — Meg gritou, erguendo os braços.
Ellie imediatamente a pegou no colo, seu coração trovejando em
seus ouvidos depois de presenciar a exibição violenta do homem de
quem ela tinha sentido pena, ela baniu esse impulso. Como se atrevia
a ameaçar as crianças?
— Eu não gosto do homem mau! — Meg soluçou. — Eu quero ir
para casa!
— Vamos em breve — Ellie assegurou-lhe logo que viu o Sr.
Huggett se apressar. — Eu prometo.
— Você deve perdoar o meu senhor, senhora — disse Huggett
em voz baixa. — Tenho certeza de que ele não tinha a intenção de
alarmá-los, mas ele é muito... cauteloso sobre o celeiro.
— Sim, ele deixou isso bem claro — ela retrucou. — , embora eu
não veja por que ele tinha que ser tão incisivo.
— Não, minha senhora, você está certa. Vou falar com ele.
Em seguida, o mordomo, pôs-se a acalmar a todos, oferecendo
sobremesas para as crianças, acompanhando-os ao andar de cima
para sentarem-se com sua mãe por um tempo, ajudando Ellie
prepará-los para a cama, mesmo que isso não fosse algo que
mordomos geralmente fizessem.
Mas embora o Sr. Huggett oferecesse uma abundância de
sugestões para que as crianças pudessem no dia seguinte ocupar seu
tempo, e também respondesse às perguntas dos meninos sobre a
mina de carvão, quando se tratava de seu empregador, ele era tão
misterioso como uma esfinge.
Ela nunca tinha visto um servo menos inclinado à fofoca.
Qualquer dúvida sobre o barão ou seu celeiro foi recebida com: —
Você deve perguntar a sua senhoria e qualquer comentário afiado
sobre o temperamento de seu anfitrião ganhou a resposta: — Ele está
sob muita pressão, mas estou certo de que ele estará melhor amanhã.
Ela não tinha tanta certeza. Nem ela estava totalmente certa que
o Sr. Huggett iria falar com o barão, como prometido, ou que, se ele
fizesse, iria fazer diferença. Mas depois de assistir Meg chorar até
dormir e os meninos encontrarem-se cochichando em suas camas,
provavelmente tramando uma reunião secreta para descobrir os
mistérios mágicos do celeiro de pedra, ela decidiu que seria melhor
não deixar o assunto para o mordomo.
Ela não estava disposta a deixar seu anfitrião intimidar seus
primos. Mesmo que ela tivesse que enfrentar o leão em seu covil.
Martin foi ao seu escritório, impaciente tirou as roupas
espalhando-as pelo chão. Primeiro ele jogou seu casaco revestido
sobre a cadeira perto fogo, em seguida, deixou cair à gravata
asfixiante sobre sua mesa. Fazia anos desde que ele tinha se vestido
formalmente para o jantar, mas depois de fazer tal espetáculo de si
mesmo naquela tarde, ele queria mostrar que podia comportar-se
com alguma aparência de decoro.
E parecia ter dado certo no início, quando a Srta Bancroft tinha
olhado para ele com um claro interesse feminino. Depois disso, vieram
as intermináveis perguntas, mas até mesmo as crianças não tinham
o atormentado tanto, quanto a Srta Bancroft tinha feito, ao oferecer-
lhe seus comentários atrevidos e um ocasional e doce sorriso.
Embora tivesse se lembrado de que ela estava apenas sendo
gentil com ele porque ela não sabia a fofoca, ele não podia deixar de
gostar. Seja por seu hábito agradável de empurrar para cima os
óculos de vez em quando. Seja pela maneira doce dela morder o lábio
inferior carnudo sempre que algo lhe assustava.
Como acontecera no final, com sua explosão. Ela fizera uma
careta. Que tinha feito olhá-la com horror. Qualquer um teria pensado
que ele ameaçara matar seus primos, e não apenas dar-lhes umas
palmadas.
Ele não teve a intenção de perder a paciência, mas a ideia
dessas crianças fazendo graças no celeiro onde ele fazia suas
experiências esfriara sua alma.
Não que suas ameaças tenham ajudado. Os meninos ainda
estavam curiosos, ele vira em seus olhos. Amanhã ele teria que
arrumar tudo antes que eles decidissem começar a explorar. Ele não
poderia estar aqui para manter um olho sobre eles, com a
proximidade do Natal e do Boxing Day, ele tinha várias funções a
desempenhar dentro de sua propriedade. E os garotos não levariam
sua proibição a sério. Meninos dessa idade nunca obedeciam. Ele não
fizera.
Mas as meninas eram outra questão.
Ele gemeu, lembrando as lágrimas do querubim. Ele não tinha a
intenção de assustá-la, pobre menina. Nem tampouco a Srta.
Bancroft.
Outro gemido lhe escapou. Maldição, ele tinha arruinado tudo. A
Srta. Bancroft não lhe daria mais seus doces sorrisos.
Provavelmente isso era bom. Eventualmente, ela iria ter
conhecimento da fofoca e teria a mesma reação que todo mundo.
Mesmo se ela não o fizesse, ele não poderia permitir uma mulher em
sua vida. Então, era melhor que ele não gostasse muito dela. Nem
pensasse muito nela.
— Milorde, eu poderia ter uma palavra com você?
Ele quase saltou fora de sua pele ao som daquela voz
cadenciada. Será que a mulher pode ler mentes, também? E o que ela
queria falar com ele em seu próprio escritório ele havia se retirado
para esta ala da casa por uma razão, droga!
— O que quer Srta. Bancroft? — ele perguntou entre dentes,
esperando que seu tom pudesse desencorajá-la.
Isso só pareceu encorajá-la ainda mais. Ela realmente entrou no
quarto e fechou aporta.
— Eu preciso falar com você sobre as crianças.
— Eu também. — Poderia muito bem tê-la posto para fora antes
que alguém se machucasse.
Ele olhou para ela, então prendeu a respiração.
Ela parecia completamente diferente, sem os óculos, mais
acessível e menos como uma professora. Apesar de não ter uma
beleza deslumbrante, ela tinha olhos maravilhosos, e sua pele
mantinha um brilho juvenil que o fazia pensar em primavera e em
pêssegos macios, onde um homem podia cravar seus dentes. Era uma
figura exuberante.
— Onde estão seus óculos? — ele disparou para não pensar no
que ele queria fazer com a figura dela.
— Onde está o seu casaco? — ela respondeu perguntando,
lembrando-lhe que ele estava vestido de forma inadequada para um
cavalheiro a sós com uma senhora.
Ele resistiu ao desejo de tornar-se mais apresentável. Afinal, ele
não tinha pedido a ela para invadir seu escritório.
— Onde eu sempre o mantenho quando não estou esperando
companhia. Diga-me, você precisa mesmo dos óculos?
Ela olhou para ele, perplexa.
— Eu não iria usá-los se não precisasse.
— Você não está usando-os agora.
— Verdade. — Ela deixou escapar um suspiro. — O fato é...
bem... eu pensei que poderia ser mais fácil falar com você, se eu não
pudesse vê-lo.
Essa não era a resposta que ele esperava. Ela parecia tão segura
de si mesma, esta tarde. E como poderia se tornar mais fácil para ela
falar com ele sem seus óculos?
— Você faz isso com cada homem ou só comigo?
— Só com os homens que me deixam nervosa.
Ele a deixava nervosa? Claro que ele a deixava. Ele deixava a
maioria das mulheres nervosas.
— Mas não foi isso que eu vim discutir — ela prosseguiu.
— Eu não acho que seja — disse ele secamente.
— Primeiro de tudo, eu percebo que nós o incomodamos muito.
— Você não tem ideia — ele murmurou sob sua respiração.
Um tom cor-de-rosa atraente atingiu suas faces.
— Eu lhe asseguro que meu pai ficará feliz de recompensá-lo por
quaisquer despesas em nosso nome, a comida e o médico e quaisquer
outras despesas que possam incorrer.
— Eu não preciso do dinheiro de seu pai. — A ideia de ela tentar
lhe pagar por sua hospitalidade provocou seu temperamento.
— Claro que não, mas é justo que você seja recompensado
por...
— Eu não quero seu dinheiro, droga! Isto não é uma pousada,
Srta. Bancroft, onde você dá suas ordens e obtém o que você paga.
Você vai ter que se contentar com o que eu posso oferecer. E se você
não puder, fique à vontade para sair quando quiser.
Um sorriso duro apertou seus lábios.
— Você sabe perfeitamente bem que não podemos fazer isso.
— Então você vai ter que aturar minha inadequada
hospitalidade.
— Eu não disse que era inadequada! — Sua expressão mostrou
pura exasperação. — Meu Deus, você é tão espinhoso. ‘Você
despertaria a ira de um coração de pedra', como diz Sófocles.
Ele piscou.
— Você está citando Sófocles? Que tipo de herdeira é você?
— Acontece que eu leio muito — disse ela defensivamente. —
Poesia na maior parte. O que você teria descoberto por si mesmo se
você conversasse com a gente no jantar em vez de esbravejar e gritar
— Ela cruzou os braços sobre o peito. — Isso é exatamente por que
as pessoas fofocam sobre você. Já lhe ocorreu que eles podem
chamar-lhe o Barão Negro por causa de seu temperamento negro?
Se ela soubesse...
— Obrigado pelo comentário sobre meu personagem, Srta.
Bancroft. Agora, se você vai desculpar...
— Eu não acabei — disse ela alegremente. — Como eu estava
dizendo, estamos muito gratos pela sua atitude nos ajudando em
circunstâncias difíceis. — Ela fez uma pausa significativa.
— Mas?
— Mas isso não lhe dá o direito de assustar as crianças.
Ele odiava que ela estivesse certa.
— Eu não estava tentando assustá-los — disse ele, irritado. —
Eu estava tentando certificá-los de que eles não cheguem perto do
meu celeiro, algo que você pode considerar em me ajudar.
— Pelo amor de Deus, o que há de tão importante nesse seu
precioso celeiro?
— Está cheio de explosivos.
— Explosivos! — Seus olhos se arregalaram. — Por que diabos
você manteria explosivos em seu celeiro?
— Eu tenho tentado desenvolver um fusível que seja mais
seguro para utilizar em minha mina. Ele requer experimentos com
pólvora, enxofre e similares, os quais são altamente perigosos.
— Mas por que aqui? Por que não o fazer lá?
— Porque muitas pessoas têm acesso a entrada na mina. Há
muita chance de um visitante ou um estranho se machucar. — Como
Rupert tinha. — Eu posso manter melhor um olho nas coisas aqui.
Meus servos sabem que arriscam suas posições se forem a qualquer
lugar perto desse celeiro ou se deixarem alguém perto dele. — Ele fez
uma careta para ela. — Mas seus primos podem ser um problema,
dada à forma como são meninos imprevisíveis.
Isso pareceu amortecer um pouco seu fogo.
— Se você apenas explicar-lhes sobre os explosivos...
Ele bufou.
— Certo. Diga a um monte de garotos curiosos que há um
celeiro cheio de produtos químicos emocionantes ao lado. Isso seria
como definir uma partida para o pó. Você não viu como os olhos de
seu primo se iluminaram quando ele perguntou se eu mantinha rifles
lá? Você não sabe nada sobre meninos nessa idade?
— Não, eu não sei! — Seu tom beirava o desespero. — Eu não
estou acostumada a cuidar deles!
Ela tinha razão. De acordo com Huggett, a enfermeira tinha sido
inteligente, o suficiente para escapar, deixando os filhotes barulhentos
durante o feriado. Ele mal podia esperar para ver como iria se sair a
prima rica com todos eles em seu calcanhar.
— Então aqui vai uma pequena lição para você — disse ele. — :
Os meninos dessa idade desfrutam em explodir coisas. Eu certamente
gostaria. Foi como eu me interessei por explosivos em primeiro lugar.
E se os seus primos radicais descobrirem que eu tenho algo tão
fascinante como pólvora no meu celeiro, vai ser impossível mantê-los
afastados.
Ela fungou.
— Bem, agora que você já despertou a curiosidade deles, estão
certo ao tentar fazê-lo. De qualquer maneira, mantê-los no escuro é
tão ruim quanto lhes dizer a verdade.
— Então, diga-lhes uma mentira, droga! Diga-lhes o que quiser,
eu não me importo. Apenas mantenha-os longe desse celeiro!
— Eu vou fazer o meu melhor — ela disse com um aceno
cansado de sua cabeça. — , mas eu não posso prometer nada. Eles
têm uma mente própria, às vezes.
— Tudo bem. Mas se eles seguirem suas mentes no meu celeiro
vou esquentar suas peles.
— Você não vai! — ela protestou. — Você não tem direito!
— Isso não vai me impedir.
Ela colocou as mãos nos quadris bem formados.
— Se você colocar uma mão sobre aqueles meninos, eu juro que
vou fazer você se arrepender.
— Mesmo? — ele disse, sufocando uma risada. Com seus olhos
verdes disparando a ele e seus seios tremendo debaixo de seu vestido
decotado, ela parecia um anjo vingador. Ou pelo menos uma leiteira
vingadora. — E o que exatamente você vai fazer?
Claramente que não tinha pensado tão longe.
— Eu vou... Eu vou… dizer ao meu pai — disse ela
resolutamente.
— Continue. — Ele caminhou em direção a ela. — Diga a ele que
eu disciplinei seus sobrinhos imprudentes para impedi-los de se
matar. Aposto que ele toma meu lado no assunto. Ele sabe os que
explosivos podem fazer.
Ela empalideceu quando ele se aproximou dela.
— Ele ainda não vai aprovar.
— Deixe que ele desaprove que não vai mudar a forma como eu
me comporto. Ele pode me castigar se achar que deve pouco me
importa.
— Não seja ridículo. Papa tem cinquenta anos e ele não pode
castigá-lo.
— Então o que você espera conseguir falando com ele sobre
mim? — Ele veio até onde ela estava diante da porta fechada e pairou
sobre ela em uma tentativa deliberada de intimidá-la. Essa questão,
ele queria que fosse do seu jeito.
Endireitando sua espinha, ela olhou para baixo.
— Um passo para trás, senhor.
Ele apoiou um braço contra a porta.
— Ou o quê? Você vai dizer ao seu pai?
— Eu vou fazer isso. — Ela prontamente o chutou na canela.
— Ai! — ele gemeu quando se afastou da porta e se inclinou
para esfregar o ponto dolorido. A garota tinha um bom chute, droga!
— Isso é para você parar de agir como uma besta — ela disse
afetadamente. — E se você continuar a agir assim, comigo ou com os
meus primos, vou chutar a outra perna. Apenas veja se farei ou não.
Afastando-se, ela estendeu a mão para a maçaneta da porta,
mas ele a pegou pelo braço antes que ela pudesse sair. Ele girou em
torno dela, ignorando sua expressão de indignação, então
rapidamente colocou seus dois braços para prendê-la contra a porta.
— Então, eu estou me comportando como uma besta, não
estou? — ele disparou. — Muito bem, desde que você se recusa a ser
sensata sobre seus primos, então você pode chutar a minha outra
perna. Considere um pagamento adiantado, para quando eu for
forçado a esquentar a pele desses meninos porque se aventuraram
onde não deviam!
Ele não tinha a intenção de perder a cabeça novamente, mas ele
nunca gostou de ser ameaçado, e certamente não por uma garota
sociedade.
— Se você não der um passo atrás senhor, irei chutá-lo de novo
— ela respondeu, embora suas bochechas corassem e sua voz tivesse
perdido algum fervor.
De repente, ele percebeu o quão perto estava. De repente, ele
estava dolorosamente ciente de como seus seios subiam e desciam
entre eles, e o quão perto estavam os quadris pressionados ao seu.
Naquele momento, ele já não se importava: com os meninos, com o
celeiro ou com seu pai. Especialmente quando ela mastigava
nervosamente o lábio inferior, um lábio inferior carnudo que ele
estava tentado a tocar e provar sua doçura.
O seu olhar fixo, e sua respiração acelerada... junto com seu
sangue pulsando e tudo o mais, fez que seu corpo respondesse ao
desejo de sua carne quente e macia.
— Vá em frente e me chute — disse ele com uma voz gutural. —
Você provavelmente fará de qualquer maneira depois que eu fizer
isso.
Então ele abaixou a cabeça para beijá-la nos lábios.
Capítulo Quatro
Querido primo,
Meu vizinho é um respeitável advogado, casado e com três
filhos. Mas se você achar essas credenciais insuficientes, você é
sempre bem-vindo para olhar por si mesmo.
Seu primo,
Michael
Nos dois dias seguintes, Ellie notou que o Senhor Thorncliff não
cruzou seu caminho criando de uma espécie de trégua. Ele parecia
menos espinhoso. Ela não podia atribuir a sua decoração, porque
Charlie insistiu que sua senhoria tinha chamado de "farsa de Natal." O
homem tinha dito algo semelhante sobre os cânticos quando ele os
resgatou. É evidente que ele tinha uma antipatia peculiar pela
temporada.
No entanto, ele não só tinha tolerado seus esforços, mas estava
tentando ser simpático à sua maneira. Embora ele passasse seus dias
em outro lugar enquanto ela e as crianças exploravam seus extensos
terrenos, a noite ele se juntava a eles para o jantar. Ele até se
sentava com eles na sala com as paredes pintadas para parecerem
painéis de nogueira. Ele olhava os jornais, olhava as crianças
brincarem de charadas, ou a ouvia ler em voz alta, Byron O cerco de
Corinto. Às vezes, ele mesmo lia para as crianças.
Mas a camaradagem terminava depois que ela levava as crianças
para a cama. Então ele desaparecia, e eles voltavam a ser estranhos
novamente. Mesmo se ela voltasse para a sala, ele não o fazia. Às
vezes, quando ela lia sozinha ou sentava-se com a tia Alys em seu
quarto, ela se perguntava se tinha imaginado o beijo incrível.
Em sua quarta noite em Thorncliff Hall, dois dias antes do Natal,
as crianças sugeriram que eles jogam snapdragon.
— Você estão loucos? — sua senhoria disse. — Está fora de
questão. Não haverá taças com queima de Brandy na minha casa.
— Não é tão ruim, você sabe — ela colocou, embora sua
resposta não a surpreendesse. — , se você tomar a precaução
adequada.
— A melhor precaução é não o jogar. Tal comportamento
acarreta em pessoas mortas.
— Snapdragon? — Percy disse cético. — É mais um jogo de
salão, senhor. Nossa mãe nos permite fazê-lo todos os anos.
— Então, sua mãe é uma tola — Quando as crianças se
arrepiaram com isso, ele franziu a testa e se levantou. — Perdoe-me,
eu não estou apto para companhia esta noite.
E com esse pronunciamento abrupto, ele os deixou.
O que na Terra tinha acontecido? Ela havia pensado que um
homem que fazia experiência com explosivos acharia snapdragon
inofensivo, se não chato. Certamente não levava as pessoas à morte.
Isso era ridículo!
Como ela ficou olhando para ele, Percy virou para ela.
— Podemos jogá-lo agora?
— Não, de fato. Seria rude fazer isso por trás das costas de
nosso anfitrião, e em sua própria casa.
Aquilo pôs fim à discussão. Mas mais tarde, depois que as
crianças foram para dentro e Ellie sentou-se na cama de sua tia ela
pôs-se a pensar nos eventos do dia, com o último encontro ainda
preso em sua mente. Ela queria entender por que ele era tão
espinhoso e imprevisível.
Então fez a sua tia uma pergunta que tinha estado relutante em
expressar até agora, não queria alarmar a tia Alys
desnecessariamente.
— Você já ouviu falar de um cavalheiro chamado "o Barão
Negro"?
Sua tia soltou um suspiro pesado.
— Eu me perguntei quanto tempo levaria para você ouvir sobre
a reputação de nosso anfitrião.
— Você sabia?
— Claro. Uma das crianças mencionou o apelido, e lembrei-me
dos rumores. No começo eu estava preocupada, mas ele tem sido
nada mais além de gentil para conosco. Em minha opinião isso fala
mais alto do que qualquer fofoca.
— Exatamente — disse Ellie. — Só porque ele é o sujeito mais
rabugento em Yorkshire, não é razão para as pessoas desprezá-lo. Ele
pode às vezes ser rude e tirar conclusões sobre as pessoas com
absolutamente nenhuma razão, mas...
— Você gosta dele.
— Sim — Ela captou a expressão de sua tia. — Não! Eu... eu
quero dizer, não como você pensa. Eu sou apenas grata a ele por nos
ajudar, isso é tudo. — Como as sobrancelhas da tia arquearam, ela
protestou: — Ele não é meu tipo, é muito temperamental. Além disso,
qualquer homem que pensa que o Natal é uma farsa não é elegível
para um casamento adequado. — Mesmo se ele estivesse interessado
em casamento. O que ele não estava. Mas ela não estava disposta a
revelar a verdade embaraçosa para sua tia.
— Você não pode culpá-lo por não gostar de Natal, uma vez que
seu irmão morreu durante a temporada.
— O quê? Como você sabe disso?
— Todos sabem... O homem foi morto na explosão de uma
mina.
— Oh céus. — Essa era a razão do Senhor Thorncliff não gostar
de Natal, porque o lembrava de um momento doloroso. Seu estômago
revirou. Quão terrível ela tinha sido ao perseguir seus planos sem se
preocupar com a opinião dele! O que ele deve ter pensado, ter
sentido...
Mas espere! certamente o Sr. Huggett tinha conhecimento. Por
que ele não tentou pará-los?
— É por isso que eles chamam nosso anfitrião de o Barão Negro
— sua tia continuou. — Algumas pessoas afirmam que ele é
responsável pelo acidente.
— Por quê? — Ellie perguntou. — O que aconteceu?
— Ninguém sabe ao certo. É por isso que as pessoas inventaram
histórias desagradáveis para explicá-la. Parece que o falecido irmão
de sua senhoria organizou uma festa aqui em sua casa no Natal, e os
convidados testemunharam os dois homens discutindo. Então o
presente Senhor Thorncliff saiu e foi para a mina, seguido por seu
irmão mais velho. Algum tempo depois, ocorreu uma explosão. E esse
foi o fim de Rupert Thorncliff.
— Isso não significa que o nosso anfitrião seja responsável —
Ela não podia ter confundido a dor abjeta no rosto do Senhor
Thorncliff à menção da morte de seu irmão.
— Não, claro que não, e um inquérito o exonerou de qualquer
culpa. Mas ele herdou tudo, e como resultado, é por isso que alguns
dizem que o irmão mais novo aproveitou a oportunidade para ganhar
o título e a propriedade.
— Eu não acredito nisso — Ellie disse fortemente.
— Nem eu.
A justa indignação de Ellie cresceu quanto mais pensava sobre
isso.
— Ora, ele nem sequer parece se importar com o título. Ele
certamente não mostra nenhum interesse em dominar as pessoas. Ele
fala da sociedade com nojo.
— Eu acho que isso é parte do problema. Seu irmão era um
homem sociável, amado e admirado por sua forma gregária e pela
generosidade para com os amigos. Pelo que eu entendo, Lorde
Thorncliff, era muito como ele é agora. E as pessoas tendem a ficar
do lado das pessoas que gostam, essa é a lógica.
— Mas eles não devem espalhar fofocas sem saber as
circunstâncias.
— Concordo.
— O Barão Negro, na verdade, isso é muito cruel.
— Absolutamente.
— Eles deveriam ter vergonha!
— Certamente. — Os lábios de sua tia apertaram como se ela
lutasse com um sorriso. — Mas eu não sei por que você se importa se
você é "meramente grata a ele por nos ajudar”.
Ellie baixou o olhar. Sua tia viu demais.
— Eu só não gosto de pensar em alguém ser tachado de vilão de
forma errada. — Dando um bocejo exagerado, ela se levantou muito
emocionada para aguentar mais sondagem. — Eu acho que vou para
os meus aposentos agora. As crianças querem uma caça para a festa
de Natal logo pela manhã, e isso será desgastante.
— Durma bem, minha querida — sua tia disse suavemente.
Ellie deu um beijo em sua bochecha, em seguida, se dirigiu para
o quarto adjacente. Mas, quando ela se acomodou na cama ao lado
de Meg, o mistério da morte do barão anterior continuou a absorvê-la.
A própria ideia de Lorde Thorncliff organizar a morte do seu
irmão era tão injusta! Ela não podia acreditar. Ela não acreditava. No
entanto, ela passou uma noite agitada com fantasias lúgubres que só
terminaram nas primeiras horas da manhã, quando ela caiu em um
sono sem sonhos.
Quando ela acordou, percebeu duas coisas ao mesmo tempo:
tinha dormido mais tarde do que o habitual e a casa estava em
silêncio. Muito tranquila, uma vez que os meninos geralmente
acordavam de madrugada. Mesmo Meg estava faltando, embora uma
espiada no quarto de tia Alys revelou que estava aconchegada e
absorta na história lida por sua mãe.
— Onde estão os garotos? — Ellie perguntou.
Tia Alys olhou para cima.
— Lá fora, eu imagino. Percy disse que é para onde eles
estavam indo, enquanto a esperavam para o café da manhã. Eu disse-
lhes para deixar você dormir.
Será que os garotos se dirigiram sozinhos para floresta?
Certamente não. Não iriam tão longe sem o café da manhã. Mas um
sentimento mesquinho lhe dizia que algo estava errado o que a
impulsionou a correr para a janela de seu quarto com vista para a
floresta em volta. Quando ela abriu a janela, ela ouviu um rugido que
era inconfundivelmente de seu anfitrião.
Oh, não, o celeiro de pedra. Um rápido olhar mostrou os
meninos com seus passos congelados na porta, enquanto Sua
Senhoria caminhava para eles. Incomodá-lo traria problemas.
Depois de lançar seu manto sobre sua camisola e abotoando-a
rapidamente, ela enfiou os pés em suas botas e meia. Então ela
praticamente voou escada abaixo, o longo caminho até o celeiro, foi
feito como se fosse uma curta distância. Enquanto ela se aproximava
do grupo, ela viu o cadeado da porta do celeiro, com o que parecia
ser um fio pendurado para fora do mesmo. Eles tentaram arrombar a
fechadura? Ele estava indo para matá-los!
O Sr. Thorncliff içava Percy e Charlie no ar pelas costas de seus
casacos. Como Tim ficou bem fora de seu alcance, ele enfureceu-se
com todos eles.
— Vocês nunca escutam a ninguém, seus tolos? Eu não disse
para não chegar perto daqui? Eu quis dizer exatamente isso! Por
Deus, eu vou castigar cada um de vocês por isso...
— Milorde, por favor! — ela gritou, apressando-se para frente.
Quando ele se virou com um olhar selvagem sobre ela, ela
parou, lembrando-se do terror em seu rosto quando ele falou sobre o
motivo pelo qual deveriam ficar longe do celeiro. O que ele disse? Que
ele mantinha as coisas lá dentro porque muitas pessoas tinham
acesso a coisas na mina. Há muita chance de um visitante ou um
estranho se machucar. Assim como seu irmão?
Oh, Senhor, por isso a ideia de que alguém chegue perto de
seus explosivos o enfurecia. E provavelmente por isso que ele estava
fazendo experiências para encontrar formas mais seguras de usá-los,
maneiras que ela e as crianças estavam colocando em risco pela sua
simples presença aqui, já que ele parecia relutante em trabalhar em
seus experimentos, enquanto eles eram seus convidados.
Como ela poderia culpá-lo por estar zangado com as crianças?
Ele estava tentando mantê-los seguros.
— Eu tenho que puni-los — disse ele em uma voz oca, com os
olhos fixos nela.
Ela engoliu em seco.
— Sim, você está certo.
Ele piscou.
— O que? — Percy gritou enquanto ele se contorcia para ficar
fora do alcance do barão. — Ellie, você não pode deixá-lo nos
castigar!
Olhando para Percy, ela cruzou os braços sobre o peito. Tia Alys
não ficaria feliz com isso, mas ela também, não queria ver nenhum de
seus meninos explodidos em pedaços.
— Ele avisou para não chegar perto daqui. Ele não poderia ter
feito mais claro. Vocês foram os únicos que não acataram suas
advertências.
— Eu lhe disse que devia esperar! — Tim gritou para os dois
garotos mais velhos. — Eu disse que ele não tinha deixado a mansão
ainda!
O rosto de Lorde Thorncliff corou violentamente.
— Você pensou que iria me evitar, não é? — Ele balançou Percy.
— Jovens tolos. Graças a Deus eu tive que buscar algo aqui fora. Um
dia você vai ficar feliz por isso, por eu lhe castigar, quero dizer que...
— Por favor, senhor, não! — Charlie gritou quando ele se
contorceu no ar. Ele tinha sentido o suficiente para perceber que a
negociação era sua melhor chance agora que Ellie não estava seu
lado. — Nós prometemos que esta é a última vez que nunca mais
vamos chegar perto de seu celeiro!
— Maldito! — o barão rosnou e sacudiu os dois novamente.
— Por favor, não nos castigue senhor! — Percy entrou na
conversa. — Nós não vamos fazê-lo novamente, nós prometemos!
— Você espera que eu acredite nisso? — ele disse rispidamente.
Ela não podia deixar de notar que ele ainda não tinha feito mais
do que rosnar para eles.
— Pelas nossas almas, nós prometemos! — disse Percy. — Diga-
lhe, Ellie!
Foi bom ver alguém colocar o temor de Deus nos garotos.
— Diga a ele o quê? Eu não tenho certeza de que qualquer um
de vocês pode ser confiável.
— Ellie! — Sentindo-se traído Tim desabou em lágrimas
violentas. — Nós só... fizemos porque você... não nos deixou jogar
snapdragon.
— Então você está dizendo que é minha culpa? — ela perguntou.
— Cale a boca, Tim! — Percy gritou. — Você não está ajudando!
Mas para Tim ainda não acabou.
— É tão chato aqui… — ele disse entre soluços. — Nossos
brinquedos es- estão em casa e a Mama está… sempre cansada, e
você...
— Pelo amor de Deus — o Senhor Thorncliff resmungou,
baixando os meninos para o chão. — Não culpe sua prima. Ela tem se
esforçado, tentando acompanhar vocês.
Ela lançou-lhe um olhar surpreso.
— Como você sabe?
— Eu tenho olhos, não é? Além disso, quando eu chego em
casa, Huggett me diz tudo o que você… — corou um pouco, ele
murmurou um juramento em voz baixa, depois virou com uma
carranca para os meninos. — Tudo bem, eu não vou castigar vocês,
mas vocês vão passar o resto da manhã esfregando panelas para o
cozinheiro, Está claro?
Os rapazes balançavam suas cabeças vigorosamente.
— Depois disso, vocês devem prometer ficar com Ellie em todos
os momentos. De outra forma...
— Nós prometemos, nós prometemos! — Percy gritou.
Sua respiração ficou presa na garganta. Não só o barão tinha
suavizado sua postura para com os meninos, mas ele a defendeu. Ele
até usou seu nome. Será que ele percebeu isso? Será que isso
significa alguma coisa?
Com um olhar para Tim ainda fungando, ele suspirou.
— E se você mantiver a sua promessa e se comportar hoje… —
Ele lhes lançou um olhar considerando — Então vamos jogar
snapdragon esta noite.
Os garotos olharam para ele, atordoados, em seguida, soltaram
um grito de alegria.
— Snapdragon! — exclamaram, dançando sobre ele. —
Snapdragon hoje à noite!
— Só se vocês se comportarem! — ele gritou sobre o barulho.
Quando isso os acalmou, ele baixou o tom de voz. — Porque se eu os
pegar perto de celeiro de novo, uma polegada que seja, vou castigá-
los e vocês lembrarão pelo resto de suas vidas. Entendido?
— Sim senhor! — eles gritaram em uníssono.
— Agora vão tomar café da manhã. Eu vou me juntar, em breve,
para informar o cozinheiro dos seus deveres.
Eles não precisaram de mais desculpa para ir para dentro da
segurança. Mas Ellie não os seguiu. Em vez disso, ela observou como
o Senhor Thorncliff destrancou o cadeado para ter certeza que ainda
funcionava, em seguida, foi para dentro do celeiro. Ela se arrastou
atrás dele.
Levantando os óculos, ela deu uma olhada rápida no misterioso
lugar que causara tantos problemas. Os barris estavam empilhados
em uma das extremidades, e uma longa mesa de trabalho ficava na
outra, sob uma grande janela de vidro colocada no telhado.
Aparentemente fora projetado para afunilar a luz do sol naquela
metade do celeiro, já que as paredes de pedra não tinham janelas.
Caixas e armários variados enchiam o resto do espaço, cheirando a
fogo, enxofre e carvão.
— O que você quer? — ele perguntou bruscamente, tirando-a de
seu exame. — Você não deveria estar aqui. Você poderia se
machucar.
A preocupação rude em sua voz a tocou.
— Ao contrário dos meus primos, não tenho interesse em
vasculhar seus explosivos. — Quando ele não disse nada, ela
acrescentou: — Além disso, eu queria agradecer a você. Os meninos
não mereciam sua tolerância, mas eu agradeço que você lhes tenha
dado de qualquer maneira, meu senhor.
— Martin — ele murmurou, parando de vasculhar uma gaveta do
armário.
Ela se aproximou.
— O que?
— Meu nome é Martin. Você também pode usá-lo. — Retirando
um canivete, ele enfiou no bolso. — Eu odeio essa farsa de 'meu
senhor'. Em minha opinião, Rupert ainda é o lorde Thorncliff.
Convinha-o melhor do que a mim, de qualquer maneira.
Seu coração ficou preso na garganta. Como poderia a sociedade
achar que ele matara seu irmão pelo título?
— Tudo bem. Então obrigada... Martin.
Um suspiro trêmulo escapou dele.
— Vou castigar seus primos se eles não se comportarem você
sabe — disse ele, um pouco defensivamente.
— Eu sei.
— Se você não tivesse aparecido, eu teria lhes colocado por
cima do meu joelho.
— Tenho certeza que você teria.
— Porque eles não deveriam ter vindo aqui...
Ellie começou a rir.
Ele virou-se para encará-la.
— O que, inferno, é tão divertido?
— Você não tem que continuar rosnando sobre isso agora que
eles se foram. Ao contrário dos meninos, estou plenamente
convencida de sua capacidade para desempenhar o covarde Barão
Negro tão frequentemente e ferozmente com o dever de protegê-los.
Como se notasse pela primeira vez os cabelos soltos e a capa
que abotoara sobre o vestido inapropriado, ele lhe deu uma longa e
lenta leitura que provocou arrepios em sua espinha.
— Você me acusa de fingir, Ellie?
O uso íntimo de seu apelido enviou um pouco de emoção
através dela.
— Eu acuso você de agir de forma mais mal-humorada do que é
a sua verdadeira natureza.
Uma súbita sombra surgiu em seu rosto.
— Você não sabe nada da minha verdadeira natureza.
— Na verdade eu sei. — E já era hora dele saber que nem
todos estavam contra ele. — E apesar do que as pessoas dizem, eu
não acredito que você tenha matado o seu irmão.
Capítulo Seis
Querido primo,
Meu, meu, você certamente tem despertado meu interesse.
Talvez eu devesse adivinhar a sua identidade, e você poderia me dizer
o quão longe eu estou de acertar. Você poderia ser um Hessian com
uma predileção por tortas de limão? Um antigo espião do Ministério
do Interior? Ou até mesmo uma mulher? Não, eu sei que você não é
uma mulher. Uma mulher não poderia ser tão arrogante como você.
Sua "parente",
Charlotte
Seu primo,
Michael
Ela engoliu em seco. Porque ela era comum. Ele poderia dizer
que a desejava, mas muitos homens desejavam mulheres sem querê-
las como esposas. Não tinha havido nenhuma mulher aqui em um
longo tempo, assim Martin poderia estar apenas excitado. Isso não
queria dizer que ele a quisesse para passar o resto de sua vida.
Afastando as lágrimas de raiva, ela correu atrás dos meninos e
lacaios enquanto seguiam para floresta usando outro caminho. Por
duas horas, eles estavam em busca do tronco perfeito do Yule, tinham
descartado cada pedaço inútil de madeira que ela sugerira. Por que o
sexo masculino era tão perturbador e determinado a tornar a vida de
uma mulher miserável?
Bem, ela já teve o suficiente de todos eles. Ela não era boa o
suficiente para sua senhoria? Bem. Ela seria cordial e distante com ele
a partir de agora.
Mas naquela noite, quando eles terminaram o jantar, ela não
tinha tanta certeza se podia. Martin estava olhando para ela com um
desejo estranho que a confundia ainda mais. Será que ele a queria ou
não? Que outros segredos haviam por trás daquele olhar estranho e
enigmático para explicar a verdadeira razão pela qual não queria se
casar?
Ela só estava sendo fantasiosa? Ou simplesmente ele não estava
interessado nela porque ela não era bonita o suficiente para manter
seu interesse?
— Então, quando é que vamos jogar snapdragon? — Percy
perguntou, uma vez que a sobremesa foi servida.
Martin murmurou um juramento.
— Eu estava esperando que tivesse esquecido.
— Sem chance — ela disse secamente. — Meus primos nunca
esquecem uma promessa, mesmo uma feita sob coação.
— Muito bem — disse Martin. — Eu vou ver os preparativos.
— E eu vou levar Meg para a cama. Ela é jovem demais para
isso. — Ela olhou para onde a menina estava cochilando. — Além
disso, já é tarde.
Pegando sua querida prima, ela se dirigiu para as escadas.
— Você vai voltar, no entanto, não vai, Ellie? — Tim perguntou.
— Sim — a voz baixa de Martin juntou-se. — Volte.
Um pouco de emoção correu através dela com suas palavras.
Mas quando ela lhe lançou um olhar surpreso, ele acrescentou:
— Você não pode esperar que eu lide com esses garotos sem
ajuda.
Ela endureceu, tentada a dizer que ele estava sozinho, mas o
calor prateado nos olhos dele impediu de dizer isso.
— Me dê alguns minutos.
Quando ela voltou, tudo já tinha sido preparado. A tigela rasa de
conhaque colocada no lugar de destaque no centro da mesa de
jantar, carregado com tantas passas que arrancá-las não seria um
desafio, com ou sem nenhum fogo.
No entanto, Martin foi estabelecendo regras quando ela se
aproximou.
— Sem lançar passas em outras pessoas. Huggett irá contar
quantas cada um de vocês arrebata, e vocês devem respeitar sua
contagem. Tirem seus casacos, e arregacem as mangas. Eu não quero
que ninguém tenha seus punhos em chamas.
— E quanto a mim? — ela perguntou. — Minhas mangas são
muito apertadas para rolar para cima.
Um alarme impregnou seu rosto.
— Você quer jogar?
— Ellie sempre joga — Tim falou com naturalidade. — Ela quase
bateu todos da última vez. É porque ela tem dedos pequenos. Ela
pode colocar e tirar mais rápido.
— Deus nos ajude — Martin lançou-lhe um olhar resignado. —
Eu acho que não adianta pedir para que você fique de fora.
— Não nessa vida — disse ela, embora sua preocupação
palpável suavizasse a sua.
— Muito bem. — Ele gesticulou para as mangas. — Puxe-as
tanto quanto você puder — Ele se virou para os meninos. — Se
acontecer de queimar qualquer coisa, coloque-os fora em um dos
baldes, que estão em cada canto da mesa. Mas o que vocês não
podem fazer é jogar água sobre o Brandy, pois apenas dispersa o
fogo.
— Ouçam bem, meninos — ela colocou. — Sua senhoria sabe
tudo o que há para saber sobre o fogo.
— O que eu sei é que é perigoso — Martin rosnou.
Todos o ignoraram completamente.
Charlie olhou para a tigela.
— Onde está a passa da sorte?
— O que é isso? — Martin perguntou.
Ellie mostrou o botão de ouro que tinha trazido apenas para esta
finalidade.
— Em Londres, nós adicionamos o que chamamos de 'passas da
sorte' na tigela. Todo aquele que o tira é permitido pedir uma benção
de outra pessoa. Então ela soltou-o no conhaque e lançou a Martin
um olhar provocante. — E a quem é feito o pedido deve conceder o
benefício ou corre o risco de um destino terrível.
Martin arqueou uma sobrancelha.
— Um destino terrível, não é? Então eu vou garantir que eu seja
o único a consegui-lo.
O timbre rouco de sua voz vibrava ao longo de cada nervo seu.
Se ele pensava que ela iria deixá-lo vencer, ele teria uma surpresa. O
Barão Negro já havia tirado mais dela do que ela podia se dar ao luxo
de perder. Era a sua vez de ganhar.
Huggett acendeu a tigela, em seguida, apagou as velas,
deixando apenas a chama azul estranha jogando sobre a superfície.
Imediatamente os meninos começaram a cantar: