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1872-1945
Palavras-chave
Huizinga; historiografia.
Key words
Huizinga, historiography.
seus próprios progressos [...] Hoje em dia, ele insistia em chamar de desenvolvimen-
o homem médio está diariamente e notur- to da cultura, implicava o equilíbrio entre
namente informado de todas as coisas e as dimensões materiais, morais e intelec-
mais algumas outras coisas [...]. tuais da vida social. Ainda para ele, esse
E, então, adenda Carpeaux: equilíbrio tinha sido rompido na socieda-
de contemporânea, o que fez com que o
Quase sempre pode dispensar e dispensa as progresso técnico não fosse incompatí-
experiências próprias e a meditação, e rece-
vel com a decadência intelectual e moral.
be, em latas, os conhecimentos, as opiniões e
Huizinga viveu uma época de gran-
as conclusões. Valores discutíveis são tidos
como absolutos porque não é preciso ne- des catástrofes: duas guerras mundiais, a
nhum esforço intelectual para aceitá-los. A barbárie nazi-fascista, a tragédia stalinis-
capacidade crítica desaparece [...]. ta. A epígrafe de seu livro de 1935, Nas
sombras do amanhã, é uma frase de São
A conclusão de Huizinga:
Bernardo – “Habet mundus iste noctes suas et
ciência é poder, este lema jubiloso da época non paucas” (“Este mundo tem as suas noi-
burguesa ressoa hoje como uma marcha fú- tes, e não são poucas”). Numa dessas noi-
nebre [...] e quem se oporia hoje a estas tes, em 1944, outro grande historiador,
palavras, escritas em 1935? (Huizinga apud Marc Bloch, foi assassinado pelos nazis-
Carpeaux, 1992; Carpeaux, 1992, p. 98 e 99) .
tas. Em 1942, Huizinga foi preso pela
E assim, quem, com mais razão mesma máquina assassina e confinado,
ainda, poderá se opor a essas palavras até que, debilitado, morreu em 1945, an-
hoje, em 2005? tes que seu país fosse libertado. Mas to-
Não se trata aqui, como também dos sabem que, ainda longas, frias e tris-
não era o caso no tempo de Huizinga, de tes, as noites se vão. O que alguns sabem,
se fazer condenação espúria e inaceitável e Huizinga foi um deles, é que as noites
do desenvolvimento da ciência e da tec- não se vão por decreto natural, é que es-
nologia como se incompatíveis fossem sas noites, essas noites de chumbo, só se
com a plena emancipação humana, isto é, vão movidas pela irrupção do brilho que
a que implica bem-estar material, liberda- vem dos que sabem, como Marc Bloch,
de e solidariedade. Para Huizinga, o ple- “que nós somos os vencidos provisórios
no desenvolvimento da civilização, que de um destino injusto”.
Referências bibliográficas