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O Perfil Das Deputadas
O Perfil Das Deputadas
Resumo Palavras-chave
Abstract Keywords
Introdução
O
presente estudo tem como objetivo o mapeamento dos perfis das deputadas
federais eleitas em 2018 pela região sudeste do Brasil, bem como a análise
desses dados buscando problematizar, a partir da análise de gênero como
categoria histórica (SCOTT, 1990), na disparidade na ocupação das cadeiras entre
homens e mulheres na Câmara dos Deputados, utilizando também como base para a
pesquisa a história das mulheres e a sociologia política.
Foram coletados dados referentes ao perfil das 28 deputadas que foram
eleitas no ano de 2018 na região Sudeste do Brasil formada pelos estados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Os dados coletados são referentes
ao número de candidatas eleitas por região, a faixa etária, o nível educacional,
1
Graduanda do curso de História na Universidade Estadual do Centro-Oeste. E-mail:
alanacmk@gmail.com
2
Doutora em Ciência Política pela Universidade Nova de Lisboa (2012). Professora do
Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste e do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em História (PPGH-Unicentro). E-mail: alels1@hotmail.com
KOPCZYNSKI, Alana Carolina; LOURENÇO, Alexandra
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Composta pela participação em todas as modalidades que compuseram as eleições de 2018.
Presidência, Governo estadual, Assembleias Legislativas, Câmara dos deputados e Senado.
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“Trata-se de um neologismo, incorporado do inglês (gendered) e ainda não dicionarizado. Pode-
se falar em corpo gendrado para designar não o corpo sexuado, mas o corpo formatado segundo
as normas do ser mulher ou do ser homem” (SAFFIOTTI, 2015, p. 81)
misoginia (LEMOS, 2017, p.8), Portanto, a partir dos dados analisados é possível
perceber que, mesmo com alguns avanços, a disparidade permanece significativa
entre mulheres e homens eleitos.
Tabela 1 – Distribuição dos mandatos das deputadas e deputados por estado e região em
porcentagem e frequência
Mulheres Homens Total
% F % F % F
Rio de Janeiro 19 10 81 42 100 52
São Paulo 15 11 85 63 100 74
Minas Gerais 7 4 93 57 100 61
Espírito Santo 25 3 75 9 100 12
Região Sudoeste 15 28 85 171 100 199
Fonte: organizado pela pesquisadora a partir de dados disponibilizados na internet pela câmara
legislativa
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De acordo com os dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 na
região Sudeste houve 4 candidaturas indígenas concentradas em São Paulo (3) e Minas Gerais (1),
e 18 candidaturas de pessoas amarelas concentradas nos estados de Rio de Janeiro (2), São Paulo
(4) e Minas Gerais (12). Ambas para ocupações de vagas na Câmara dos Deputados. Em nenhum
dos Estados pessoas indígenas e amarelas foram eleitas.
Através da análise dos dados consta que, 2 (7%) das 28 deputadas eleitas
concluíram o ensino médio e não deram continuidade nos estudos, as duas
deputadas são de partidos considerados de direita (PSC e PSL) e ambas durante um
período de suas vidas dedicaram-se a profissão de cantora gospel e pastora
evangélica. 26 (93%) das deputadas possuem formação no Ensino Superior.
Advogada 25%
Professora 14%
Cantora evangélica 7%
Jornalista] 7%
Outras 21%
Das 28 deputadas que fizeram parte dos dados, 7 eram advogadas, outras 7
eram servidoras públicas, 4 eram professoras, 2 eram cantoras evangélicas. A
categoria “outras” se refere as profissões que apenas uma deputada ocupa, como:
médica, arquiteta, gerente de projetos, escritora, ativista e técnica-administrativa.
cargos eletivos” (BRASIL, 2017, s/p). Os dados dessa pesquisa apontam que quando
elas chegam nesses espaços e conseguem lançar candidaturas, além de outros
problemas como o financiamento da campanha, elas enfrentam a mínima de votos,
principalmente mulheres negras, pardas, indígenas e amarelas.
Uma das perspectivas que acompanha a naturalização da exclusão da mulher
dentro dos espaços de poder, nesse caso, na política eletiva advém, como cita
Bourdieu (2020), de um processo de trabalho histórico de eternização, ou seja,
negar a constante da existência de dominação masculina presentes nesses espaços
decisivos, legitimando-a.
Nesse pensamento, o autor cita que não é o suficiente a história apenas
registrar a exclusão das mulheres em detrimento da desigualdade de gênero, mas
acusar instituições e estruturas de pensamento (subjetiva ou objetiva) que buscam
estabelecer a relação de dominação através da naturalização, bem como
acompanhar as transformações da condição da mulher ao longo dos processos
históricos (Ibidem, p.138).
Segundo a historiadora Joan Scott a “História é tanto objeto da atenção
analítica quanto um método de análise. Vista em conjunto desses dois ângulos, ela
oferece um modo de compreensão e uma contribuição ao processo através do qual
gênero é produzido” (SCOTT, 1994, p.12-13) dessa forma conhecer a história e seus
processos é fundamental para compreender a dimensão histórica que a dominação
masculina se faz presente majoritariamente nos espaços de políticos e públicos.
A legislação que permeia a candidatura das mulheres
de gênero seja alcançada, além disso, o estímulo aos projetos sociais que buscam
inserir e preparar mulheres para ocuparem esses espaços
Considerações finais
Bourdieu (2020) afirma que para que para analisar o fenômeno da dominação
masculina, faz-se necessário estudar as estruturas que favorecem a permanência
das desigualdades sociais, nesse caso, da desigualdade de gênero, ou seja, estudar
as instituições, sejam elas Escolas, Estados, Igrejas e etc. e como elas agem em
diferentes épocas.
Se o Estado não se entende como possível mantenedor das desigualdades, as
desigualdades se acentuam. A lei 12.034/2009 prevê a reserva de 30% das
candidaturas como foi citado, porém somente a reserva dessa porcentagem parece
não ser suficiente para que mulheres ocupem espaços de lideranças em diversos
setores, o avanço ainda não é suficiente para que as mulheres sejam representativas
e não sub-representadas. A questão da candidatura laranja ainda é presente nas
eleições, mesmo sendo inconstitucional.
Perceber a sociedade enquanto classe única, universal em sua essência é
negar as diversidades que existem, na categoria de mulheres a exclusão dos espaços
de poder e as desigualdades agem de diferentes formas para mulheres negras,
mulheres brancas, indígenas e amarelas, e elas possuem demandas específicas para
necessidade reparação.
As políticas públicas universalistas não têm demonstrado eficiência no
combate às desigualdades, pois são gerais e ignoram as possíveis diferenças
políticas, econômicas e sociais que permeiam as diferentes classes de mulheres.
O processo de exclusão da mulher se deu pela divisão desigual de gênero, a
naturalização da mulher enquanto corpo frágil e amputado socialmente provável de
participação e dedicação exclusiva em campos domésticos e/ou educativos,
enquanto o homem escrito enquanto corpo forte e provável de participação em
campos decisivos e representativos, decorrente de um longo processo histórico.
Para que a mulher enquanto categoria diversa alcance espaços de
representatividade, faz-se necessário compreender as demandas específicas, pois se
a mulher constitui 44% do eleitorado e 52,5% da população brasileira, por que
apenas 15% delas ocupam espaços representativos?
É principalmente, mas não somente função do Estado Democrático de Direito
viabilizar políticas públicas de acordo com as demandas específicas, estímulos ao
debate, a conscientização para o voto em mulheres, propor cursos de formação
política para mulheres, a problematização da condição feminina dentro do campo
político, bem como a desmitificação da existência da democracia racial para que as
desigualdades raciais e sexuais sejam efetivamente combatidas, ampliação do
financiamento de campanha. Para tal que o TSE estabelece a regra do
direcionamento de 5% do fundo partidário e 30% do fundo eleitoral para
candidaturas de mulheres.
Referência Bibliográfica