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Balaio da Semente Crioula

arte, cultura popular e


agrobiodiversidade

1
F icha tecnica
A Rede Sementes da Agroecologia estimula a livre circulação do conteú-
do publicado neste caderno, desde que não tenha fins comerciais. Soli-
citamos que sempre ao reproduzir total ou parcialmente o conhecimento
aqui partilhado, cite “Balaio da Semente Crioula/ Rede Sementes da
Agroecologia” como fonte.

Realização: Rede Sementes da Agroecologia (ReSA)


Produção das poesias, composições, músicas, pinturas e ensaios
fotográficos: Dantas, Tatiana Sayuri Jo, Letícia Quirino dos Santos,
Cristina Aparecida Barbosa de Lima, Clara de Carvalho Vazelesk Ribei-
ro, Tatiana Carvalho, André Lacerda, Carlos Chaves e Zé Motta, Jessika
Cristina, Lunamar
Organização: Riquieli Capitani e Luiza Damigo
Projeto gráfico, diagramação e ilustrações: @demiandrumond

Paraná
Fevereiro de 2022
Conteudo
Apresentação 5

Estou pronto 6

Flores Guardiãs 7

Viver 8

Plantar? 9

O tempo 10

O morador de rua 11

Nas terras que semeei, colhi o que foi plantado 12

Há-belhas 14

Versos que fiz para o lançamento do cuscuz da paixão da minha


região... 15

Agroecologia 16

A Floresta 17

Pinturas e desenhos 19

Ensaio Visual: Agricultura familiar - cenários, imaginarios e outras his-


tórias 23

O Grito de Davi 29

Coco - Liberdade 31
Apresentacao
No balaio de palha trançado por mãos pintadas pela terra, se carrega alimento do bom. A
produção da roça, as sementes crioulas. As tramas carregam também a representação da
cultura popular e camponesa. E, assim, trazendo esse majestoso instrumento de trabalho
e partilha, apresentamos o nosso Balaio da Semente Crioula: Arte, Cultura Popular e
Agrobiodiversidade.

Esse balaio foi trançado e ganhou forma a partir do chamado artístico cultural, realizado
através das redes sociais da ReSA em 2021, aos artistas populares de todos os cantos
desse país. O convite foi para que compartilhassem suas manifestações culturais que
expressam a luta pela preservação das sementes crioulas, o acesso à terra, a produção de
comida de verdade no campo e nas cidades, a alimentação saudável e a vida camponesa.

Assim, em cada página desse material você verá quão bela, vasta e diversa foi a colheita!
Poesias, composições, músicas, pinturas e ensaios fotográficos colorem e dão vida ao ba-
laio da arte, cultura popular e agrobiodiversidade, graças às mãos talentosas de mulheres,
homens, juventudes e artistas populares que, através da sua essência e da sua capacida-
de de criar, materializam a luta do povo brasileiro em cada palavra, traço e olhar.

Portanto, deixamos aqui nosso profundo agradecimento a todas as pessoas que seguem
resistindo, lutando diariamente pela arte e a cultura brasileira em todas as suas
dimensões.

Para você, querida leitora e leitor, se sinta mais que à vontade para desfrutar dessa sabo-
rosa colheita. Convide quem está perto também! A cultura popular só se faz e se mantém
em comunidade.

Seguimos plantando e colhendo as sementes da cultura popular!

Ótima leitura!
Estou pronto
Dantas - agricultor e poeta

Acordei hoje bem cedo


Botei no pé o calçado
Lavei a cara sem medo
O sol nem havia apontado
Botei no fogo a chaleira
Com água pra fazer café
Tirei lá da geladeira
O doce pote de mé
Enchi o bucho de pão
Leite com chocolate
Antes um bom chimarrão
Preparado com bom mate.
Agora que clareou o dia
Preciso trabalhar
Não é o que o corpo queria
Mas a cama ficou pra lá.
Que a fé nos não falte
A coragem tenha de sobra
Que haja disposição
E pra labuta dessa obra.
Ao chegar o fim do dia
Possa eu agradecer
A Deus com muita alegria
Que vem sempre me proteger.

6
F lores Guardias Lunamar - camponesa e poetisa

Sementes pequenas
Sementes que somos
Semente não é só feijão e milho
Semente é da flor, da alface é de gente
Semente é renda e é comida…
Semente é uma missão que as mulheres
Fazem de forma aguerrida

Imagina o que seria da vida


Se não fossem as flores
De várias cores
De muitos sabores
Imagina o que seria da vida
Se não fossem as hortas e os quintais
Trazendo comida de verdade
Pro campo e pra cidade
Imagina o que seria da vida
Se não fossem as matas
E os povos que nelas vivem
E toda sabedoria que eles transmitem

Há quem, a vida cultiva


Há quem ela cuide
Há quem veja no viver
A motivação para cada dia
A vida saída da terra
Do ventre
A vida saída de tantas mulheres
E de tantas sementes

Mulheres que criam vida


Com seus corpos, suas mentes, seus espíritos
Que sopram sonhos e canções
Que reconhecem o canto dos pássaros
E o mudar das estações
Mulheres guardiãs
Sabedoras de como manter
Como melhorar
Como semear
Seus alimentos
Mulheres guardiãs
Que conhecem espécies de flores
De ervas, de animais e de tudo que vai no roçado
Mulheres guardiãs
Que cultivam na mata, sua comida
Suas medicinas, sua ancestralidade

7
V iver
Dantas - agricultor e poeta

Viver é atracar em algum lugar o navio que te trouxe de longe e pre-


tende levá-lo a outro lugar.

Viver é tirar o arreio de seu jumento e solta-lo para pastar, sabendo


que no dia seguinte terá que montar novamente e seguir seu caminho.

Viver é abraçar a carga daquilo que precisa para a jornada que


planejou.

Viver é jogar fora a carga que te faz cansar desnecessariamente.

Viver é construir sua morada mesmo que possas não habitar nela.

Viver é construir amizades sólidas, ainda que seus amigos possam


partir para algum lugar distante.

Viver é levar consigo saudade de Boa gente.

Viver é carregar -se de sabedoria e usar a inteligência ao tempo certo.

Viver é aproveitar o tempo com algo que precisa ser feito.

Viver é descansar quando a mente pede e o corpo exige.

Viver é abraçar pessoas.

Viver é ser carinhoso.

Viver é ter o Conselho certo quando precisar.

Viver é dar um brado ao acordar.

Viver é ser grato ao fim de cada jornada.

Viver é carregar alguém no colo e fingir que não


está cansado para salvá-lo.

Viver é saber que ontem terminou, e amanhã


será outro momento.

8
P lantar?
Tatiana Sayuri Jo

***
Plantar, plantar?
Por onde começar?

Regador, Pá, Terra


Que faço com isto?

E agora?
Põe na terra ou no vaso?

Será vai nascer?


Na dúvida, tente!
***

9

O tempo
Dantas - agricultor e poeta

O tempo.
O tempo passa
O tempo não espera
O tempo não da tempo
O tempo não se limita
O tempo é adiantado
Não para
Não corre
Não espera.
Não espere pelo tempo
Não corra pelo tempo
Não viaje no tempo
Agora é o tempo
Depois não tenho tempo
AMANHÃ posso não ter tempo
Quem sabe alguma coisa sobre o tempo?
Quem domina o tempo?
Acaso o tempo faz conta do que sabemos?
O tempo é dono de seu tempo
É dono do nosso tempo.
Afinal,
Quem tem tempo?

10
O morador de rua
Dantas - agricultor e poeta

Aquele morador de rua


Cercado por policiais
Ele com um refém
Uma arma em suas mãos
Apontava em direção a cabeça daquela vítima.
Eu me pus em frente aos policiais:
Vocês conhecem esse criminoso?
Sabem seu nome?
O nome de sua mãe?
Nome seu pai?
De que morreu?
Sabe quem o matou?
Não, vocês não sabem!
Esse homem nasceu nas ruas
Não conheceu seu pai
Nem sua mãe
Ele precisa de comida
De moradia
De roupa
Uma cama quente pra dormir
Precisa de saúde
De um bom dentista
Um barbeiro
Um chuveiro quente
Ele não precisa de bala
Não precisa de chicotes
Chutes ou pauladas.
Sabe?
Esse homem não conheceu escola
Não recebeu abraço presidencial
Não recebeu do estado
Não recebeu proteção policial
Este homem que ora segura em suas mãos uma arma
Não sabe manejá-la.
Veja como a maneja
Como tremem suas mãos?
Senhores:
Abaixe suas armas!
Dê a esse cidadão
Uma casa digna
Uma cama e um almoço
A ele dê três refeições diárias
Um chuveiro quente
Um trabalho que ele possa realizar
Senhores abaixe as armas !
Esse homem não quer
Não precisa
E não deve morrer!

11
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado
Letícia Quirino dos Santos

Ó meu amado agreste


Da terra seca, mas boa
Enquanto lá tem garoa
O sol ardente cria asa
Para alimentar a casa
Cultivei o meu roçado
E mesmo sem ter brotado
Sei que nunca fraquejei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

Um sertão doido por água


O cinza da corrupção
Da poeira pelo chão
Que o Mandacaru secou
E a asa branca voou
Só a solidão tem restado
Me sinto injustiçado
Mas sei que um dia lutei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

Vivendo na imensidão
De ser regado por vida
E transbordar a partida
De ser vestido de verde
Para matar essa sede
E da fonte ser jorrado
Todo amor ser espalhado
Nos caminhos que trilhei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

Do suporte à sabedoria
Que a terra mesmo ensina
E que mesmo sendo sina
Nada explica a natureza
A dimensão de sua beleza
Nenhum valor é aplicado
O que me deixa abestalhado
Diante tudo que sei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

12
Quantas vidas são formadas
Quantos livros são escritos
O solo que tem acolhido
Tantas vidas em sua terra
Mesmo diante da guerra
Pelo seu patriarcado

Se torna super julgado


A ser dividido por lei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

Colhi a minha batata doce


O milho do meu roçado
Fiz farinha de mandioca
Comi fava com galinha
Saudável eu senti o gosto
E por isso tenho gostado
Pela terra sou alimentado
Pela fartura me criei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

E grande minha bravura


Acordo cedo todo dia
Minhas mãos seguem a guia
De um cabo de uma enxada
E mesmo sendo rachada
A cada calo evidenciado
É aqui que sou formado
E meu diploma ganhei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.

13
HA-BELHAS

Tatiana Sayuri Jo

***
Há abelhas.
Abelha com ferrão
Abelha sem ferrão
Todas importantes na polinização.

Agente de fecundação
Forma frutos de montão.

O que seria de nós sem elas?


Maracujá, melão
Café, coco
Morango e limão
Tudo terá poco
Com glifosato na mão.

14
Versos que fiz para o lançamento do cuscuz da paixão da minha região...

Cristina Aparecida Barbosa de Lima

No dia 21 de maio
É dia de festa e celebração
No território da borborema
Chega o flocão da paixão
Cuscuz é alimento sagrado
Muito comum na nossa região
Mas tem que ter qualidade
Vindo das sementes do coração
Livres de agroquímicos e trangênicos
E produzidos com dedicação
Fortatalecendo as famílias
Garantindo a sua alimentação
O flocão da paixão
É rico em nutriente
É feito pra você
Consumidor consciente
Nas quitandas da borborema
É onde você pode encontrar
Ou nas feiras agroecológicas
Você pode procurar
Se animou, ficou interessado
Querendo experimentar?
Corra logo e adquira o seu
E leve saúde pro seu lar.

15
AGROECOLOGIA

Tatiana Sayuri Jo

Agroecologia
Ciência da ideologia

Cuidar da natureza
Estudando biologia

O solo tem vida


Observa bem
Lá no fundo
Tem um mundo
Que tal cuidar?

16
A F LOREST A
Tatiana Sayuri Jo

***
Observa a floresta.
De longe um verde borrão.
Copas altas e baixas.
Porquê esta diferenciação?

Observa a floresta
De perto a descoberta
Entre altos e baixos, outra percepção:
Tem árvore que gosta de sol
Tem árvore que gosta de sombra.

Isto se chama estratificação.


***

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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia

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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia

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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia

21
Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia

22
ENSAIO V ISUAL:
Agricultura familiar - cenarios, imaginarios e outras
historias
Tatiana Carvalho

Após quatro anos longe da fotografia, no fim de 2019 voltei a fotografar. E esse retorno
veio acompanhado de algumas inquietações e angústias, principalmente no que se refere a
temas caros para a sociedade, como a falta de uma política pública justa para o desenvolvi-
mento rural, em específico a Agricultura Familiar e a produção de orgânicos.
Enquanto o agronegócio traz a lógica do acúmulo e da exploração, a Agricultura Fa-
miliar se nutre da lógica da convivência, do abastecimento, sendo um espaço ideal para o
desenvolvimento da Agroecologia, que tem como base uma sustentabilidade econômica,
ambiental e social.
Levando em consideração esse tripé (econômico, ambiental e social) da agroecologia
e concordando com o pensamento do ativista político quilombola Antônio Bispo dos Santos
(2018) que reconhece a imagem enquanto linguagem poderosa que pode atuar como defesa
para levantar a autoestima, elevar, engrandecer, enaltecer ou, no mínimo, que também é o
máximo, para resolver, enxergo que há muito que se debruçar no tema da Agricultura Fami-
liar - cenários, imaginários, modos de vida, práticas em agroecologia, valorização e autoesti-
ma do trabalhador rural - e construir, assim, uma narrativa com peso estético, ético, político e
crítico através da fotografia documental.
A fotografia documental me dá a oportunidade de dar visibilidade à temática em ques-
tão que é tão pouco falada, difundida e valorizada. Em entrevista cedida ao Dante Gastaldoni
(2010), o fotógrafo João Roberto Ripper defende que:

“Se você aposta na fotografia documental como uma forma de arte, acaba
percebendo que mostrar a história é usar o seu trabalho de documentação
como processo de sensibilização. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas,
participando do processo de convencimento, mais a gente caminha para
comungar as fotografias às pessoas e para compreender como a fotografia
pode atuar nesse processo de transformação.” (RIPPER, 2010)

Compreendo que a agricultura familiar se enquadra no perfil de populações mais po-


bres que têm o aspecto da beleza dos seus fazeres pouco enaltecido pela mídia hegemônica,
como enfatiza Gastaldoni (2020). Por isso, o ensaio se propõe a mostrar que há beleza em
ser homem/ mulher do campo, a trazer a dignidade humana imprescindível para sua existên-
cia, a despertar a valorização por parte da sociedade e, consequentemente, a desconstruir a
percepção visual e estereótipos que permeiam a Agricultura Familiar.
O ensaio visual “Agricultura Familiar - cenários, imaginários e outras histórias” está
composto por um poema em versos livres e 10 fotografias realizadas no Sítio Dona Maria, em
Uruçu Mirim, Distrito de Gravatá, a 100 km de Recife, no agreste pernambucano.

23

O nome do Sítio (Sítio Dona Maria) foi escolhido por Dona Maria (mais conhecida por
Dona Didi) em homenagem às Marias de sua família e às mulheres do campo, pois Maria é
um nome genérico dado àquelas mulheres que não conhecemos, não sabemos o nome. Mas
sabemos que são mulheres que lidam com muitas dores, como a dor da fome, da solidão, do
machismo, da ausência de estudos. No caso de Dona Didi essas dores foram transformadas
em cuidado, beleza, partilha, empatia para com os seus e para com os que ali chegam e em fé,
que já nos recepciona na chegada à propriedade com a imagem de Nossa Senhora das Dores,
“a Santa inseparável e companheira das mulheres do campo”, como faz questão de destacar
Dona Didi.
O trabalho está em fase inicial, ainda há muito que se pesquisar e narrar através das
fotos, mas espero inicialmente, assim como Dona Maria, convidá-los a entrar neste túnel de
imagens um tanto diferente dos que estamos acostumados a passar, pois esse tem arcos de
humanidade, orgulho e partilha.

Sítio Dona Maria

24
do acolher
do transformar
de escolher homenagear
a lida
a partilha
Das Dores
do campo
das Marias
Tati Carvalho/2021

25
26
Dona Didi e Manuela

1
REFERÊNCIAS

GASTALDONI, Dante. Ensaio Fotográfico - A pedagogia do bem-querer na obra de João Roberto Ripper. Revista Trabalho Necessá-
rio, v. 18, n. 36, 2020. Disponível em: https://periodicos.uff.br/trabalhonecessario/article/view/42808/24101 Acesso: 28 abr. 2021.
RIPPER, João. Entrevista concedida a Dante Gastaldoni. Imã Foto Galeria, 23 jul. 2010. Disponível em: https://imafotogaleria.wor-
dpress.com/2010/07/23/leia-a entrevista-com-o-fotografo-joao-roberto-ripper/ Acesso: 28 abr. 2021.
SANTOS, Antônio. A influência das imagens na trajetória das comunidades tradicionais. In: VILELA, Bruno. Mundo, Imagem, Mundo:
Caderno de reflexões críticas sobre a fotografia. Belo Horizonte, 2018. p. 111-118.

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O Grito de Davi
André Lacerda, Carlos Chaves e Zé Motta

Vem nos raios de Tupã


Nas mechas de Ianaã
Aurora de Araci
Sai das Margens Tapajós
As moças nos lençóis
de um Boto Tucuxi
Das andanças Caiapó
Cacique Raoni
Das palmeiras de Debret
às gentes de Darci
Do alto do Xingu
a lua a embolorar no céu de Papiú
Murucututu assusta,
Urutau assombra
agoura a escuridão
Soja empala em terra morta o espírito do boi
Todo ouro é pedra
Tolo o homem cega
no ardil da cupidez
Cada corpo d’água
O mercúrio vai matar
Villas boas atestou
o branco é o predador
tristeza de Lévi
Sopra o vento da manhã
nas ventas do Xamã
o grito de Davi

Link de acesso: https://www.instagram.com/tv/CO3AY3Ap5a6/?igshid=bqvy9ozgiucr

29
A letra de ‘O Grito de Davi’ (Carlos Chaves/Zé Motta/André Lacerda) foi feita
num momento em que eu estava lendo ‘A queda do céu’, relato de Davi Kopenawa
ao antropólogo francês Bruce Albert. Pensei, então, fazer coro, mesmo que qua-
se inaudível, aos reclames de Davi e dos povos originários. E nessa levada, eu vi
o Xingu dos irmãos Villas-Boas, a ‘utopia selvagem’ de Darcy Ribeiro, as telas de
Debret, os ‘tristes trópicos’ de Lévi-Strauss, e ainda imaginei o susto dos europeus
diante do bodoque-cacique-Raoni.
E hoje, 14/5/21, um dia após a Câmara dos Deputados ter aprovado a “fle-
xibilização” do licenciamento ambiental no Brasil, fica aqui o nosso protesto contra
mais esse retrocesso.

Zé Motta, músico residente de Vassouras - RJ, @chavescarlos, @dedefate2, @motta_ze (composito-


res), @luisalacerda_ (cantora), @oclaudionucci (edição de voz), @laura.de.castro (olhar artístico),
@viczureta (edição de vídeo)

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Coco - Liberdade
Produzindo e cantando Jessika Cristina
Colhendo no batente de jornada em
jornada

Vamo deixando a semente

Semear é a ReSA, vem com toda a visão


É só com todos juntos pra fazer mutirão

Mas o duro é vê, tanta apropriação,


Cerceando o saber
Atrapalhando a missão

Amorosidade, amorosidade. Educacao Popular pra construir igualdade

Precisamo lutar combatendo o racismo


Se ficar só no papo
É tudo mesmo saco

É de rede em rede
Lutando na opressão
Situando a cor desvendando o sabor

Essa é nossa batalha vou contar pra vocês


É movendo a estrutura, camponês a
camponês

Mas, deixa de romantismo que essa luta ta


braba e tem inimigo invisível

Coco inspirado na campanha banco de sementes artísticas,


enaltecendo a cultura popular nordestina. Me chamo Jessi-
ka Cristina, camponesa atriz guardiã de sementes na região
centro-sul do Paraná. Divulgando meu trabalho nas páginas
@vive_da_terra e @atelie_com_muito_dende. Satisfação e
gratidão.

Link de acesso: https://youtu.be/DABwEKWrQv4

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