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F icha tecnica
A Rede Sementes da Agroecologia estimula a livre circulação do conteú-
do publicado neste caderno, desde que não tenha fins comerciais. Soli-
citamos que sempre ao reproduzir total ou parcialmente o conhecimento
aqui partilhado, cite “Balaio da Semente Crioula/ Rede Sementes da
Agroecologia” como fonte.
Paraná
Fevereiro de 2022
Conteudo
Apresentação 5
Estou pronto 6
Flores Guardiãs 7
Viver 8
Plantar? 9
O tempo 10
O morador de rua 11
Há-belhas 14
Agroecologia 16
A Floresta 17
Pinturas e desenhos 19
O Grito de Davi 29
Coco - Liberdade 31
Apresentacao
No balaio de palha trançado por mãos pintadas pela terra, se carrega alimento do bom. A
produção da roça, as sementes crioulas. As tramas carregam também a representação da
cultura popular e camponesa. E, assim, trazendo esse majestoso instrumento de trabalho
e partilha, apresentamos o nosso Balaio da Semente Crioula: Arte, Cultura Popular e
Agrobiodiversidade.
Esse balaio foi trançado e ganhou forma a partir do chamado artístico cultural, realizado
através das redes sociais da ReSA em 2021, aos artistas populares de todos os cantos
desse país. O convite foi para que compartilhassem suas manifestações culturais que
expressam a luta pela preservação das sementes crioulas, o acesso à terra, a produção de
comida de verdade no campo e nas cidades, a alimentação saudável e a vida camponesa.
Assim, em cada página desse material você verá quão bela, vasta e diversa foi a colheita!
Poesias, composições, músicas, pinturas e ensaios fotográficos colorem e dão vida ao ba-
laio da arte, cultura popular e agrobiodiversidade, graças às mãos talentosas de mulheres,
homens, juventudes e artistas populares que, através da sua essência e da sua capacida-
de de criar, materializam a luta do povo brasileiro em cada palavra, traço e olhar.
Portanto, deixamos aqui nosso profundo agradecimento a todas as pessoas que seguem
resistindo, lutando diariamente pela arte e a cultura brasileira em todas as suas
dimensões.
Para você, querida leitora e leitor, se sinta mais que à vontade para desfrutar dessa sabo-
rosa colheita. Convide quem está perto também! A cultura popular só se faz e se mantém
em comunidade.
Ótima leitura!
Estou pronto
Dantas - agricultor e poeta
6
F lores Guardias Lunamar - camponesa e poetisa
Sementes pequenas
Sementes que somos
Semente não é só feijão e milho
Semente é da flor, da alface é de gente
Semente é renda e é comida…
Semente é uma missão que as mulheres
Fazem de forma aguerrida
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V iver
Dantas - agricultor e poeta
Viver é construir sua morada mesmo que possas não habitar nela.
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P lantar?
Tatiana Sayuri Jo
***
Plantar, plantar?
Por onde começar?
E agora?
Põe na terra ou no vaso?
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O tempo
Dantas - agricultor e poeta
O tempo.
O tempo passa
O tempo não espera
O tempo não da tempo
O tempo não se limita
O tempo é adiantado
Não para
Não corre
Não espera.
Não espere pelo tempo
Não corra pelo tempo
Não viaje no tempo
Agora é o tempo
Depois não tenho tempo
AMANHÃ posso não ter tempo
Quem sabe alguma coisa sobre o tempo?
Quem domina o tempo?
Acaso o tempo faz conta do que sabemos?
O tempo é dono de seu tempo
É dono do nosso tempo.
Afinal,
Quem tem tempo?
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O morador de rua
Dantas - agricultor e poeta
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Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado
Letícia Quirino dos Santos
Vivendo na imensidão
De ser regado por vida
E transbordar a partida
De ser vestido de verde
Para matar essa sede
E da fonte ser jorrado
Todo amor ser espalhado
Nos caminhos que trilhei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.
Do suporte à sabedoria
Que a terra mesmo ensina
E que mesmo sendo sina
Nada explica a natureza
A dimensão de sua beleza
Nenhum valor é aplicado
O que me deixa abestalhado
Diante tudo que sei
Nas terras que semeei,
Colhi o que foi plantado.
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Quantas vidas são formadas
Quantos livros são escritos
O solo que tem acolhido
Tantas vidas em sua terra
Mesmo diante da guerra
Pelo seu patriarcado
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HA-BELHAS
Tatiana Sayuri Jo
***
Há abelhas.
Abelha com ferrão
Abelha sem ferrão
Todas importantes na polinização.
Agente de fecundação
Forma frutos de montão.
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Versos que fiz para o lançamento do cuscuz da paixão da minha região...
No dia 21 de maio
É dia de festa e celebração
No território da borborema
Chega o flocão da paixão
Cuscuz é alimento sagrado
Muito comum na nossa região
Mas tem que ter qualidade
Vindo das sementes do coração
Livres de agroquímicos e trangênicos
E produzidos com dedicação
Fortatalecendo as famílias
Garantindo a sua alimentação
O flocão da paixão
É rico em nutriente
É feito pra você
Consumidor consciente
Nas quitandas da borborema
É onde você pode encontrar
Ou nas feiras agroecológicas
Você pode procurar
Se animou, ficou interessado
Querendo experimentar?
Corra logo e adquira o seu
E leve saúde pro seu lar.
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AGROECOLOGIA
Tatiana Sayuri Jo
Agroecologia
Ciência da ideologia
Cuidar da natureza
Estudando biologia
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A F LOREST A
Tatiana Sayuri Jo
***
Observa a floresta.
De longe um verde borrão.
Copas altas e baixas.
Porquê esta diferenciação?
Observa a floresta
De perto a descoberta
Entre altos e baixos, outra percepção:
Tem árvore que gosta de sol
Tem árvore que gosta de sombra.
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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia
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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia
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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia
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Clara de Carvalho Vazelesk Ribeiro
Rio de Janeiro/RJ.
@claraclaraboia
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ENSAIO V ISUAL:
Agricultura familiar - cenarios, imaginarios e outras
historias
Tatiana Carvalho
Após quatro anos longe da fotografia, no fim de 2019 voltei a fotografar. E esse retorno
veio acompanhado de algumas inquietações e angústias, principalmente no que se refere a
temas caros para a sociedade, como a falta de uma política pública justa para o desenvolvi-
mento rural, em específico a Agricultura Familiar e a produção de orgânicos.
Enquanto o agronegócio traz a lógica do acúmulo e da exploração, a Agricultura Fa-
miliar se nutre da lógica da convivência, do abastecimento, sendo um espaço ideal para o
desenvolvimento da Agroecologia, que tem como base uma sustentabilidade econômica,
ambiental e social.
Levando em consideração esse tripé (econômico, ambiental e social) da agroecologia
e concordando com o pensamento do ativista político quilombola Antônio Bispo dos Santos
(2018) que reconhece a imagem enquanto linguagem poderosa que pode atuar como defesa
para levantar a autoestima, elevar, engrandecer, enaltecer ou, no mínimo, que também é o
máximo, para resolver, enxergo que há muito que se debruçar no tema da Agricultura Fami-
liar - cenários, imaginários, modos de vida, práticas em agroecologia, valorização e autoesti-
ma do trabalhador rural - e construir, assim, uma narrativa com peso estético, ético, político e
crítico através da fotografia documental.
A fotografia documental me dá a oportunidade de dar visibilidade à temática em ques-
tão que é tão pouco falada, difundida e valorizada. Em entrevista cedida ao Dante Gastaldoni
(2010), o fotógrafo João Roberto Ripper defende que:
“Se você aposta na fotografia documental como uma forma de arte, acaba
percebendo que mostrar a história é usar o seu trabalho de documentação
como processo de sensibilização. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas,
participando do processo de convencimento, mais a gente caminha para
comungar as fotografias às pessoas e para compreender como a fotografia
pode atuar nesse processo de transformação.” (RIPPER, 2010)
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O nome do Sítio (Sítio Dona Maria) foi escolhido por Dona Maria (mais conhecida por
Dona Didi) em homenagem às Marias de sua família e às mulheres do campo, pois Maria é
um nome genérico dado àquelas mulheres que não conhecemos, não sabemos o nome. Mas
sabemos que são mulheres que lidam com muitas dores, como a dor da fome, da solidão, do
machismo, da ausência de estudos. No caso de Dona Didi essas dores foram transformadas
em cuidado, beleza, partilha, empatia para com os seus e para com os que ali chegam e em fé,
que já nos recepciona na chegada à propriedade com a imagem de Nossa Senhora das Dores,
“a Santa inseparável e companheira das mulheres do campo”, como faz questão de destacar
Dona Didi.
O trabalho está em fase inicial, ainda há muito que se pesquisar e narrar através das
fotos, mas espero inicialmente, assim como Dona Maria, convidá-los a entrar neste túnel de
imagens um tanto diferente dos que estamos acostumados a passar, pois esse tem arcos de
humanidade, orgulho e partilha.
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do acolher
do transformar
de escolher homenagear
a lida
a partilha
Das Dores
do campo
das Marias
Tati Carvalho/2021
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Dona Didi e Manuela
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REFERÊNCIAS
GASTALDONI, Dante. Ensaio Fotográfico - A pedagogia do bem-querer na obra de João Roberto Ripper. Revista Trabalho Necessá-
rio, v. 18, n. 36, 2020. Disponível em: https://periodicos.uff.br/trabalhonecessario/article/view/42808/24101 Acesso: 28 abr. 2021.
RIPPER, João. Entrevista concedida a Dante Gastaldoni. Imã Foto Galeria, 23 jul. 2010. Disponível em: https://imafotogaleria.wor-
dpress.com/2010/07/23/leia-a entrevista-com-o-fotografo-joao-roberto-ripper/ Acesso: 28 abr. 2021.
SANTOS, Antônio. A influência das imagens na trajetória das comunidades tradicionais. In: VILELA, Bruno. Mundo, Imagem, Mundo:
Caderno de reflexões críticas sobre a fotografia. Belo Horizonte, 2018. p. 111-118.
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O Grito de Davi
André Lacerda, Carlos Chaves e Zé Motta
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A letra de ‘O Grito de Davi’ (Carlos Chaves/Zé Motta/André Lacerda) foi feita
num momento em que eu estava lendo ‘A queda do céu’, relato de Davi Kopenawa
ao antropólogo francês Bruce Albert. Pensei, então, fazer coro, mesmo que qua-
se inaudível, aos reclames de Davi e dos povos originários. E nessa levada, eu vi
o Xingu dos irmãos Villas-Boas, a ‘utopia selvagem’ de Darcy Ribeiro, as telas de
Debret, os ‘tristes trópicos’ de Lévi-Strauss, e ainda imaginei o susto dos europeus
diante do bodoque-cacique-Raoni.
E hoje, 14/5/21, um dia após a Câmara dos Deputados ter aprovado a “fle-
xibilização” do licenciamento ambiental no Brasil, fica aqui o nosso protesto contra
mais esse retrocesso.
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Coco - Liberdade
Produzindo e cantando Jessika Cristina
Colhendo no batente de jornada em
jornada
É de rede em rede
Lutando na opressão
Situando a cor desvendando o sabor
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