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GESTÃO DE RECURSOS MATERIAIS

UNIDADE II
GESTÃO DE ESTOQUES
Elaboração
Inara de Camargo Gomes

Atualização
Andrey Pimentel Aleluia Freitas

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................4

UNIDADE II
GESTÃO DE ESTOQUES.........................................................................................................................................................................5

CAPÍTULO 1
CONCEITO DE ESTOQUE.............................................................................................................................................................. 5

CAPÍTULO 2
CUSTOS DE ESTOQUE................................................................................................................................................................ 18

CAPÍTULO 3
MÉTODOS DE PREVISÃO DA DEMANDA............................................................................................................................ 22

REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................35
INTRODUÇÃO

Outrora, a administração de materiais era única e exclusivamente enfocada em


otimizar de forma eficiente os recursos utilizados dentro de uma empresa; à área
de administração cabia, por sua vez, principalmente administrar os materiais
usados no funcionamento dela.

Hoje, esse conceito deixou de ser algo simples, pois os materiais utilizados no
funcionamento das empresas passaram a ser um sistema integrado, responsável
por suprir a área administrativa com materiais, equipamentos, funcionários,
espaço físico, entre outros, na quantidade necessária, no tempo certo, com a
qualidade exigida e de acordo com as novas necessidades dos clientes.

A gestão de materiais abrange uma grande parcela de áreas de uma empresa,


como a de compra, estoque, almoxarifado e vendas; ela reduz, portanto, o uso
de recursos materiais na empresa, gerando mais lucratividade.

De acordo com Gonçalves (2007), a gestão de materiais pode ser dividida em


três grupos principais: a gestão de compras, a gestão de estoques e a gestão de
distribuição. O gerenciamento e aplicabilidade eficazes desses três grupos pode
acarretar economia e um maior poder de concorrência para a empresa.

Neste contexto, tentaremos conceituar, de forma clara e sucinta, todos os pontos


importantes para alcançar uma eficiente aplicabilidade de gestão de materiais
dentro de uma empresa. Esperamos, assim, proporcionar elucidação quanto a
cada etapa que deve ser abordada para alcançar tal objetivo.

Objetivos
» Apresentar os conceitos da gestão de materiais e as principais áreas que
ela abrange.

» Detalhar todos os processos de compras, estoque e distribuição.

» Promover a contextualização de gestão de materiais a fim de demonstrar o


quão importante este método se faz dentro de uma empresa.
GESTÃO DE ESTOQUES UNIDADE II

Nesta unidade estaremos conceituando o que é estoque, os principais tipos de


estoque, vantagens e desvantagens de criar estoque numa empresa, os custos
que o estoque gera, algumas das principais fórmulas para poder calculá-lo e,
por fim, conceituar e explicar o que é demanda e por meio de métodos como
podemos prevê-la dentro de uma empresa.

CAPÍTULO 1
CONCEITO DE ESTOQUE

Estoque é “como a acumulação de recursos materiais em um sistema de


transformação” (SLACKET et al.,1997, p.380, grifo nosso).

De acordo com Slack et al. (1997, p. 383):

Não importa o que está sendo armazenado como estoque, onde


ele está posicionado na operação. Ele existirá porque existe uma
diferença de ritmo ou de taxa entre fornecimento e demanda. Se
o fornecimento de qualquer item ocorresse exatamente quando
fosse demandado, o item nunca seria estocado.

Ballou (2007, p.67) amplia o conceito de estoque e define “estoque como matérias-
primas, insumos, componentes, produtos em processo e produtos acabados que
aparecem em numerosos pontos por todos os canais logísticos e de produção
da empresa”.

Atualmente não podemos afirmar mais que estoque é apenas de matéria-prima


ou de produto acabado; ele está relacionado com uma série de outras estruturas
da cadeia.

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De acordo com Martins et al. (2012, p. 165, grifo nosso), estoque é “como um
recurso produtivo que no final da cadeia de suprimentos criará valor para o
consumidor final”.

Ele tem como função principal de proteção ou minimização devido a falhas e


necessidades dos processos ou quando não temos certeza do controle de processos
dentro da empresa. Portanto, o estoque tem como função principal de estabelecer
o fluxo de materiais dentro de uma empresa atenuando variações que ocorrerem
durante os processos. (PROVIN; SELLITTO, 2011).

Viana (2011, p.108) afirma que “em qualquer empresa, os estoques representam
componentes extremamente significativos, seja sob aspectos econômicos,
financeiros ou operacionais críticos”.

Em um primeiro momento necessitamos estabelecer estratégias e pensar na


necessidade real da empresa como demanda, foco estratégico, sazonalidade,
serviço ao cliente e custo capital.

Na tabela abaixo estão listadas algumas razões que devem ser levadas em consideração
quando se planeja estoque dentro de uma empresa (DIAS, 2015):

Tabela 6. Razões para a necessidade de estoque ou não.

Preciso de estoque Não preciso de estoque


» Quebras de maquinário. » Alto investimento de capital.
» Problemas de planejamento. » Podem deteriorar ou ficar obsoletos.
» Dificuldade de previsão. » Grande área que ocupam – espaço é custo!
» Mudanças de mix.
» Melhorar serviço ao cliente.
» Variação de demanda.
» Fornecedores não confiáveis.
» Economia de escala/compras/transporte.
» Condições socioeconômicas.
» Incerteza de demanda futura.
» Necessidade de continuidade operacional.
» Desconto por pedidos maiores
» Incerteza com fornecedores (fornecedor exclusivo, poucos
fornecedores, greve fornecedores).
Fonte: Adaptado de Fenili, 2015.

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Dentro de uma empresa, a velocidade com que são recebidos os materiais não
é igual à velocidade com que são utilizados; então surge a necessidade de um
estoque funcionar como amortecedor. Abaixo, na figura 13, é exemplificado de
forma clara e simples uma caixa d’água de qualquer residência que mostra bem
como funciona um estoque dentro de uma empresa.

Figura 13. Caixa d’ água.

Fonte: Martins; Alt, 2012.

O nível do estoque aumenta conforme a velocidade com que os materiais entram


ou são recebidos é maior que a velocidade com que os materiais saem ou são
expedidos (MARTINS; ALT, 2012).

Já o nível do estoque diminui conforme mais materiais saem ou são expedidos


do que entram ou são recebidos (MARTINS; ALT, 2012).

O nível se mantém constante quando o número de material que entra ou é recebido


é igual ao número de material que sai ou é expedido (MARTINS; ALT, 2012).

Ao considerarmos V(t) a velocidade de entrada (unidade recebida/unidade de


tempo) e E o estoque, teremos a seguinte relação lógica (MARTINS; ALT, 2012).
V ( t ) × t > V ( t ) × t → E aumenta

V ( t ) × t < V ( t ) × t → E diminui

V ( t ) ×=
t V ( t ) × t → E não se altera

Atingir este nível de estoque constante é o que toda empresa almeja e busca.

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1. Sistemas de controle de materiais


De acordo com Figueiredo et al. (2001), sejam por sua participação no processo
de produção ou pela complexidade de adquirir materiais ou custos, alguns
materiais se diferem de outros utilizados dentro da empresa. Com isso, o controle
de ambos deve se diferir, já que controle gera custo à empresa. Abaixo veremos
os Sistemas Q e Sistemas P de acordo com os custos vinculados, risco de faltar
material ou sobrar material em função do seu consumo. Atualmente são muito
utilizados dois tipos de sistema:

» sistema de requisição de tamanho fixo (Sistema Q): ocorre o pedido


em período de tempo variável, neste sistema temos um rígido controle dos
níveis de estoque. Esse sistema exige um controle rigoroso dos níveis de
estoque e quando alcança um nível fixado anteriormente (ponto de pedido)
automaticamente realiza uma requisição. Este sistema também é bem
conhecido como sistema de duas gavetas, no qual se tem a separação do
lote de material em duas partes, ou seja, ficam guardados em duas gavetas.
Neste caso, a primeira parte do lote é consumida até a data de encomenda
e a segunda parte ou segunda gaveta é utilizada para suprir entre a data
de encomenda de mais material e o seu recebimento (FIGUEIREDO et al.
2001);

» sistema de requisição de intervalo fixo (Sistema P): ocorre o pedido de


material em período de tempo fixo. Neste sistema não ocorre a necessidade
descontrolar os níveis de estoque, portanto o custo de controle deste é menor
se comparado ao Sistema Q. Porém, se ocorrerem alterações significativas
de demanda ou atraso de entrega, é normal que se tenha o risco de faltar
material. A fim de conter esta possível complicação, é muito comum encontrar
estoques de seguranças altos para materiais que trabalham conforme sistema
P (FIGUEIREDO et al., 2001).

2. Ponto de pedido
É o exato momento em que o estoque de certo material atinge um nível de
reposição ou encomenda; solicita-se um novo lote que pode ser igual ao de
encomenda, conforme Sistema Q. Podemos melhor observar seu funcionamento
por meio da figura a seguir.

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Figura 14. Curva dente de serra indicando o ponto de pedido.

unidades

LE
EM
PP
ES

Tempo
TE

Fonte: Figueiredo et al., 2001.

Sendo:

EM: Estoque máximo;

LE: Lote de encomenda;

ES: Estoque de segurança;

PP: Ponto de pedido;

TE: Tempo de espera entre a colocação do pedido e o recebimento do material.

Quando temos um atraso de entrega consequentemente, temos uma variação no


tempo de entrega, pois a taxa de consumo continua a mesma. Conforme podemos
ver na figura seguinte.

Figura 15. Curva dente de serra indicando atraso de entrega e variação no tempo de entrega.

unidades

LE
α α
EM
PP
ES
E’s
Tempo
TE TPP TEN TPPN

TPP
Fonte: Figueiredo et al., 2001.

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Onde:

D: Demanda planejada = tgα;

TE: Tempo de espera;

TEN: Novo tempo de espera;

TPP: Tempo para preparação do pedido;

TPPN: Novo tempo de reparação do pedido.

Quando TEN > TE significa que o estoque de segurança terá um acréscimo de


uma certa quantia Q = ES - E’s, e sobre a seguinte situação: TPPN < TPP.

Quando temos um acréscimo no consumo o TE continua o mesmo. Conforme


podemos ver na figura 16.

Figura 16. Curva dente de serra indicando acréscimo de consumo.

unidades

LE
α β LE α
EM
PP
ES
E’s
Tempo
TPP TE TPPN TE t'’pp
Fonte: Figueiredo et al., 2001.

Do: Demanda ocorrida: tgß

Se Do > D, indica que estoque reserva terá um acréscimo de uma quantia Q =


ES - E’S. No instante em que a demanda começa a variar devemos prestar a
atenção para preparação de um novo pedido. (TPPN < TPP).

No momento em que a demanda retorna ao seu normal temos um novo tempo


para realizar o pedido (TPP), sendo este menor que o usual (TPPN2 < TPP).

No gráfico acima o triângulo retângulo com hachura, temos:


PP − ES
tgα= D=
TE
Pr = ES + D × TE ( unid )

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O estoque é diretamente afetado por:

» sazonalidade e variação de demanda (entre safras, custo alto);

» diversidade ou variedades de produtos;

» prazo de validade;

» ciclo de produção;

» estoque em trânsito.

Tipos de estoque

De acordo com Martins e Alt (2012, p. 136), para efeito contábil, os estoques
são subdivididos em cinco categorias, abaixo listadas.

Estoques de materiais

São os materiais que serão utilizados no processo produtivo para serem


transformados em produtos finais. Os materiais adquiridos pela empresa para
serem utilizados na produção são ditos como estoque de materiais, sendo ele
utilizado direta ou indiretamente para a produção do produto final.

Estoques de produtos em processo

São itens que estão no processo produtivo, porém não são produtos acabados
ainda; são os materiais que sofreram alguma modificação sem estarem finalizados.

Estoques de produtos acabados

São os produtos que já passaram por todo o processo de produção, logo são os
produtos finais, que estão prontos para serem destinados aos consumidores finais.

Estoque em trânsito

São materiais que já passaram de um processo para outro, porém não concluíram
todo o processo e não atingiram seu destino final.

Estoque em consignação

Materiais de propriedade de fornecedores até que sejam vendidos; caso não ocorra
venda, são devolvidos sem ônus. Podem ser materiais diretos que se acrescem
ao produto final como copo do liquidificador e materiais indiretos, os que não
se acrescem ao produto final, como, por exemplo, óleo de corte de máquinas.

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Estoque de segurança

Este estoque é utilizado a fim de evitar que o material venha a faltar, o que acarretaria
a interrupção da produção, utilizado também como segurança para casos como
paralisação de produção por atrasos de entrega de material ou se acontecer um
aumento do consumo durante a produção (FIGUEIREDO et al., 2001).

Cálculo do estoque de segurança

Este cálculo é realizado a fim de evitar a falta de um material ou aumento de


demanda, o que acarretaria atrasos de produção e entrega e consequentemente
custos a empresa. Na figura 17 abaixo, temos duas opções para tal: na primeira,
aumentamos o pedido conforme previsão de demanda que veremos posteriormente
e, na segunda opção, criamos um estoque de segurança a fim de evitar problemas
com falta de produção e entrega.

Porém, temos que ter cuidado com o aumento de estoque, pois pode gerar custos,
tanto de materiais parados quanto de produtos finais, os quais não serão em sua
totalidade comercializados.

Portanto, para um correto dimensionamento do estoque de segurança, devemos


adotar o seguinte método de porcentagem de consumo: (FIGUEIREDO et al., 2001).
PP − ES
= tg ∝ = Cmed
TR
PP
β
tg= = Cmax
TR
ES = ( Cmax − Cmed ) × TR

Figura 17. Duas opções de cálculo de estoque de segurança.

unidades

LE
EM α β α
PP
ES

Tempo
TR

Fonte: Figueiredo et al., 2001.

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Função do estoque

O estoque se faz importante para atender uma série de finalidades:

» aprimora o serviço prestado ao cliente, eles sempre valorizam disponibilidade


imediata;

» menores custos com compras e transporte: quanto maior a quantidade


produzida melhor a negociação com preços de matérias-primas. E o transporte
de um elevado número de produtos, reduz o frete e consequentemente
diminui o impacto sobre o custo. Ao alcançar esta redução nos custos quer
dizer que a empresa pode vender por um preço menor ou conseguir uma
margem de lucro maior (DIAS, 2015);

» absorver o impacto na oscilação de demanda. Quase todos os setores de


uma empresa sempre passam por alterações nas quantidades de produtos
vendidos. Formado o estoque ocorre a possibilidade de diminuição dos efeitos
do período quando não se consegue atender a demanda ou equipamentos
e funcionários venham a faltar (DIAS, 2015).

3. Gestão de estoques
“A função da administração de estoques é maximizar o efeito lubrificante no
feedback de vendas e o ajuste do planejamento da produção” (DIAS, 2015, p. 19).

O estoque dentro de uma empresa significa perda, se mal administrado, ou lucro,


se bem administrado. Pensando nisso, a gestão de estoques veio para atender
esta necessidade das empresas e trazer consigo ferramentas que aliadas aos
conceitos de estoque permitem ao gestor conseguir atender a demanda interna
sem a necessidade de manter estoques grandes; com isso, na atualidade de um
mercado competitivo, colocar a empresa frente às demais. A gestão de estoques
funciona baseada em dois princípios, o de máxima eficiência e o menor custo
possível, atingindo assim um equilíbrio entre estoques e consumo que resulta
em mínimos desperdícios (VIANA, 2011).

Portanto, a gestão de estoque trabalha para controlar o estoque de uma forma


geral e ao mesmo tempo fornecer dados atuais dos materiais a qualquer momento,
se solicitado, para que os setores que necessitam dos materiais possam planejar
melhor suas necessidades.

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4. Curva ABC
Conforme vimos anteriormente, para ter sucesso na gestão de estoques, a
separação do que é primordial do secundário, quando pensamos em valores
de consumo, é muito considerável e é por isso que esta ferramenta se faz tão
importante quando o assunto é gestão de estoques (FIGUEIREDO et al., 2001).

Qual a finalidade da classificação ABC

Ela diferencia estoques de materiais cruciais e de materiais menos importantes.


Quando conseguimos fazer um controle preciso dos estoques em que podemos
ver a qualquer instante e de forma rápida quais são os níveis dos materiais
armazenados, conseguimos administrar os custos e controlar excessos.

Para a empresa estocar uma quantidade reduzida de itens, corre-se o risco de


paralisar o processo produtivo por falta de material; por outro lado, para evitar
a falta do material, pode-se incorrer no erro de estocar além do necessário.
Portanto, precisamos tentar dimensionar a real demanda a fim de atender o
processo em questão sem gerar prejuízos a empresa (FIGUEIREDO et al., 2001).

Classificação dos materiais conforme curva ABC

O monitoramento tem por finalidade determinar o momento exato do ponto de


pedido por meio dos níveis de estoque. Este processo precisa ser eficaz e, por
isso, é necessária uma estrutura de controle que realize um acompanhamento
constante.

Programas de controle de identificação unitária em que haja um rigoroso


monitoramento dos itens com verificação computacional de entrada e saída
são muito caros e só aconselháveis quando as quantidades sob controle forem
de um custo tal que, apenas e tão somente, a quantidade requerida puder ser
economicamente estocada. Assim, devido ao alto custo dos materiais, não se
permitem quantidades superiores ao que foi solicitado, seja devido aos critérios
de perecibilidade ou a outra razão significativa qualquer. Contudo, os estoques
de segurança não são geralmente aceitos; quando são admitidos, utilizam-se
níveis muito baixos (FIGUEIREDO et al., 2001).

Materiais tipo C

Os materiais que são de fácil aquisição ou, conforme visto anteriormente na


Unidade I, os materiais de baixo valor de consumo, são classificados como
C. Portanto, podemos justificar altos estoques de segurança para materiais
classificados como C devido ao fato de não representarem significativo montante

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de capital imobilizado em estoque. Para este tipo de material, a empresa precisa


somente de um controle periódico de estoque não necessitando de custosos
sistemas de monitoramento. Mesmo que o item venha a faltar eventualmente, sua
reposição não é cara e sua obtenção é fácil e rápida (FIGUEIREDO et al., 2001).

Conforme a demanda do material e o tempo de entrega do material requerido, é


que se estabelece o período compatível para realizar o controle periódico. Tem-
se, nesse caso, período fixo e quantidade variável. A quantidade a ser reposta é
aquela suficiente para atingir o estoque máximo no momento de sua recepção:
geralmente empresas que têm seus fornecedores credenciados permitem a entrada
deles em suas dependências em períodos específicos a fim de contabilizarem a
reposição (FIGUEIREDO et al., 2001).

Materiais tipo B

Já os materiais do tipo B são utilizados tanto no sistema Q quanto no P. O


que definirá a utilização de um ou de outro sistema de controle será o grau de
importância do material em questão.

Sempre se recomenda uma pesquisa dos custos e benefícios dos sistemas a fim
de definir qual a melhor opção para se adotar. Devem-se considerar os seguintes
custos quando realizada esta pesquisa: custo de estoque de segurança, controle
e relativo ao risco do material venha a faltar (FIGUEIREDO et al., 2001).

Materiais tipo A

Estritamente necessários para atender as necessidades, porém em pequenos


lotes sendo seu estoque de segurança quase zero (FIGUEIREDO et al., 2001).

Manutenção de baixo nível de estoque

Os estoques são tidos também como gasto, portanto a sua diminuição ou eliminação
sempre foi e é bem vista aos olhos das empresas.

Este estoque mínimo é um dos quesitos que o Just in time coloca, em que se
deve trabalhar para a eliminação de estoques até atingir um fluxo de uma única
peça ou one piece flow; exemplificando: em um lote de produção de 30.000
unidades, precisam ser realizadas 30.000 preparações.

Esta é uma visão um pouco surreal; quando voltamos à realidade, o que temos
é a produção de lotes pequenos, criando assim uma grande necessidade de
minimizar os custos de preparação para abater nos custos totais.

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UNIDADE ii | Gestão De Estoques

Uma das medidas para a redução de inventários é o melhoramento da precisão


quanto à qualidade e prazos, redução dos ciclos de produção, formar parcerias
com fornecedores a fim de melhorar o preço e condições de pagamento.

Hoje existem inúmeras metodologias para auxiliar a empresa manter os inventários


em um patamar ideal, dentre as quais podemos destacar:

» reduzir os prazos abastecimento pelos fornecedores;

» aplicação do programa 5 s;

» aumentar a produtividade de todos os setores;

» eliminar de forma geral dentro da empresa todas as atividades que não


incorporem ao produto final valores;

» estabelecer estoques mínimos de segurança, sempre os monitorando;

» introduzir o gerenciamento por atividades, por meio de custos ABC;

» saber balancear entre eficiência de fornecimento ao cliente e gerar lucros


para a empresa.

Manutenção de elevado nível de estoque

Uma das vantagens de manter estoques altos é atender o cliente de imediato,


proporcionando ao setor de vendas que ofereçam prazos de entrega curtos ou
imediatos. (MARTINS; l 2012).

Os responsáveis pelo elevado estoque dentro de uma empresa são: matéria-


prima e material em processo que não são necessários ao equilíbrio da produção
e produto final, o qual não se pode vender ou está muito alto se comparado à
demanda prevista ou à capacidade de produção (MARTINS; ALT, 2012).

A maioria das empresas não sabem que estão com estoque em excesso e quando
o descobrem não acham o que ocasionou tal fato.

Os maiores responsáveis pelo aumento dos inventários, segundo Martins e Alt


(2012), são:

» área de marketing: busca sempre maiores números de venda;

» área de suprimentos: obtém materiais com qualidade e preço conforme o


que buscavam, permitem entrega antes dos prazos estabelecidos ou confirma
pedidos não programados;

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» área gerência: pode causar aumento do inventário quando apenas consideram


o custo do capital ou somente se atentam ao inventário no balanço anual,
quando não propõem planos rápidos de ações efetivas para eliminar refugos
e materiais obsoletos.

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CAPÍTULO 2
CUSTOS DE ESTOQUE

A princípio temos de nos atentar a que, num ambiente comercial, nunca teremos
somente uma regra. Devemos ter flexibilidade para lidar com custos, ainda mais
custos com estoques, nos quais o grande problema é quantificar os materiais de
modo a ter o mínimo de gastos desnecessários possíveis.

Cabe ao gestor identificar a melhor opção que alcance um equilíbrio entre


estoque e demanda, levando-se em consideração que erros são muito comuns
neste tipo de previsão, afinal custos com estoque envolvem materiais, local de
armazenamento, programas, pessoal e alguns outros encargos.

Um grande número de custos é gerado à empresa quando se tem a necessidade


de manter estoques. Estes custos de manter estoques podem ser divididos em
três categorias distintas: custos diretamente proporcionais às quantidades
estocadas; inversamente proporcionais à quantidade estocada e independentes
da quantidade estocada (MARTINS; ALT, 2012).

Os custos diretamente proporcionais à quantidade estocada ocorrem conforme


a quantidade média que se encontra em estoque; por isso, quanto mais alto o
estoque, maior será o capital investido. Exemplo de aplicação encontra-se na
figura abaixo (RAZZOLINI, 2012, grifo nosso).

Figura 18. Quadro de exemplificação de custos diretamente proporcionais à quantidade estocada.

Armazenamento: quanto maior estoque → maior a área necessária → maior custo com
aluguel.

Manuseio: quanto maior estoque → maior número de pessoas e equipamentos → maior custo
com mão de obra e equipamentos.

Perdas: quanto maior estoque → maiores chances de perdas → maior custo decorrente com
perdas.

Obsolência: quanto maior estoque → maiores chances de materiais tornarem-se obsoletos →


maiores custos com materiais que não foram utilizados.

Furtos e roubos: quanto maior estoque → maiores chances de materiais furtados e/ou
roubados → maiores custos decorrentes.

Fonte: Razzolini, 2012.

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Gestão De Estoques | UNIDADE ii

Também conhecidos como custos de carregamento, englobam os custos de


estocagem, manuseio do material, taxa de seguros, perdas e furtos, obsolescência
e investimento e oportunidades (RAZZOLINI, 2012).

Os custos de carregamento são subdivididos em duas categorias: os custos de


capital, que correspondem ao capital investido, e os custos de armazenagem,
que são o somatório de todos os demais fatores de custos (RAZZOLINI, 2012).

Abaixo na figura 19, um resumo dos tipos de custo de estoque conforme


Razzolini (2012).

Figura 19. Tipos de custos de estoque.

Custos diretamente
proporcionais à Custos de capitais
quantidade estocada investidos
ou custo de
carregamento
Custos de
armazenamento
Custos inversamente
Tipos de proporcionais às
custos quantidades
estocadas

Custos independentes
da quantidade
estocada

Fonte: Razzolini, 2012.

5. Custo de capital
Trata-se do custo da aplicação do dinheiro. Caso não houvesse o investimento
em estoque, qual seria o lucro se investisse em outra coisa?

Custo de capital = Ida

Onde: I = taxa de juros correntes;

P = preço de compra do item em estoque quando fornecido por terceiros ou


custo de fabricação quando produzido internamente.

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UNIDADE ii | Gestão De Estoques

6. Custo de carregamento de estoque


Cc= Ca + i × P

Onde: Ca = somatório de custo de armazenagem como manuseio e obsolência,


seguros etc.

Atenção: aqui o tratamento de unidades do Cc pode ser tanto preço/unid x mês


ou preço/unid x ano.

Custos inversamente proporcionais

São custos diretamente proporcionais à quantidade de estoque: quando o estoque


sobre ele aumenta, ele se reduz; quando o estoque baixa, ele aumenta (RAZZOLINI,
2012).

Ele envolve todos os custos referentes ao setor de compras para que se faça um
pedido.

Se a compra for realizada apenas uma vez por ano dado um consumo D anual,
o lote Q deverá ser de unidades e o estoque médio será Q/2, conforme tabela 7
exemplificada por Razzolini (2012), teremos:

Tabela 7. Estoque médio e tamanho do lote conforme número de vezes que compra é efetuada.

Número de vezes que compra é efetuada Tamanho do lote Estoque médio


Q D
1 Q=D Em= =
2 2
Q D
2 Q = D/2 Em= =
2 4
Q D
3 Q = D/3 Em= =
2 6
Fonte: Razzolini, 2012.

Para se calcular o número de ordens ou pedidos emitidos por unidade de tempo


temos:
D
N=
Q

Onde: D = consumo por unidade de tempo;

Q = tamanho do lote de compra ou fabricação;

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Gestão De Estoques | UNIDADE ii

Cp = custo de preparação.
D
C( inversamente proporcional ) = n × Cp C( inversamente proporcional=
) × Cp
ou Q ’

Custos independentes

Não se prendem ao estoque médio da empresa; na maioria das vezes, é


um valor fixo, medido por unidade monetária por tempo. Ex.: dólar/ano
(RAZZOLINI, 2012).

O custo total (Ct) para manter um estoque necessário nada mais é do que a soma
dos três fatores de custos acima (RAZZOLINI, 2012).
Q d 
Ct = Ca + ( i × P ) ×   + ( Cp ) ×   + Ci + D × Pr 2
2 q

Sendo Q/2 o estoque médio, onde Q é o tamanho do lote de compras.

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CAPÍTULO 3
MÉTODOS DE PREVISÃO DA DEMANDA

Por meio de métodos qualitativos ou quantitativos, é possível prever as futuras


vendas, os chamados métodos de previsão de demanda, permitem aos gestores da
empresa determinar com maior precisão a aquisição de material de fornecedores
ou a produção interna, estabelecendo assim metas de faturamento para serem
alcançadas.

Conseguir prever uma demanda afeta diretamente no planejamento e no controle


de todos os setores da empresa em principal da financeira, marketing e logística
(BALLOU, 2007).

Conforme Fenili (2015), para que se possa repor o estoque de forma assertiva,
é necessária uma previsão exata do consumo dos materiais utilizados durante
todo processo da empresa.

Atualmente, quanto maior for a base de dados ajustada ao mercado, maior a


viabilidade de inserir o produto nele. Os métodos para prever uma demanda,
conforme Lemos (2006), podem ser qualitativos ou quantitativos.

O método qualitativo é diretamente ligado à experiência do profissional para


antever a probabilidade do resultado; ela está ligada diretamente ao feeling do
profissional. Conforme Felini (2015), são duas as situações que podem ocorrer
caso haja ocorrência de dados incorretos na previsão de consumo:

» aumento nos custos de estoque: ao estocarmos materiais que não possuem


demanda dentro da empresa, custos como aluguel de espaços físicos,
obsolescência, seguro entre outros são custos relacionados a eles;

» custos por ausência de estoque: o estoque atual é inferior à demanda,


ocasionando a falta do material quando ele se faz necessário dentro do
processo. Podendo implicar na paralisação de produção por exemplo. O
que pode gerar interrupção nas atividades de uma linha de produção, por
exemplo.

Existem três formas pelas quais a demanda de determinado material se comporta


em um período de tempo pré-estabelecido, também conhecido como evoluções
da demanda. Abaixo na figura 20 estão mais ilustradas estas três formas
(FENILI, 2015).

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Figura 20. Tipos de evolução de demanda.

Tipo Características Representação

Ao decorrer do tempo não


Evolução de Consumo Constante acontece variação da demanda
significativamente. Ex.: sabonete.

Periódicas e significativamente
Evolução de Consumo Sazonal não ocorre variações da demanda
Ex.: sorvete no verão.

Não ocorrem variações abruptas e


Evolução de Consumo de não periódica da demanda. Ex.:
Tendência disquetes, material que se tornou
obsoleto.

Fonte: Fenili, 2015.

7. Principais cuidados com a previsão


Conforme Peinado e Graeml (2007), devem ser levados em consideração alguns
fatores importantes para conseguir realizar uma eficiente previsão de demanda:

» as razões responsáveis pela demanda passada podem mudar;

» é indispensável se conhecer o erro de previsão;

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» há a necessidade de se adequar o grau de agregação dos produtos;

» há a necessidade de se adequar o horizonte de tempo da previsão;

» ter cuidado para não alterar a previsão de demanda em metas de vendas


ou de produção.

Classificação dos métodos de previsão de demanda

As informações qualitativas e as quantitativas são utilizadas para a previsão


de demanda. São agrupadas, de acordo com Fenili (2015), em três categorias:

» explicação: relaciona a demanda em períodos recentes com uma variável


quantitativa de evolução conhecida;

» predileção: em que a previsão é feita embasada com informações qualitativas


como pesquisas de opinião;

» projeção: técnica quantitativa que utiliza processamento de dados de


uma série histórica de consumo a fim de obter previsão para períodos
subsequentes.

Método qualitativo

Este modelo baseia-se em questões que demonstram um maior impedimento em


estimar opiniões e experiências; assim, sua utilização é indicada para adquirir
dados específicos que demonstram uma maior dificuldade em serem coletados
(DIAS, 2015).

Conforme Dias (2015), erros podem acontecer na previsão de demanda quando são
utilizados dados qualitativos, que devem sempre ser tratados como aproximações.

De acordo com Peinado e Graeml (2007), os modelos qualitativos mais usuais são:

» predição: por meio de cada profissional pode-se tentar prever a demanda,


é um modelo bem individual e depende exclusivamente do feeling do
profissional que está a frente deste processo;

» opiniões de executivos: método muito utilizado quando ocorre ausência de


dados históricos anteriores da demanda, geralmente são realizados a partir
de opiniões dos próprios funcionários de alto nível na empresa, geralmente
da área financeira, de produção ou comercial. É necessário atenção para
não confundir meta de faturamento ou meta de vendas a ser alcançado com
previsão de demanda;

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» método Delphi: procura minimizar a interferência de opiniões fortes, com


mais poder hierárquico nas decisões que envolvem um grupo, a metodologia
adotada pelo método consiste em: escolha de membros que estão diretamente
ligados à qualidade do resultado a ser obtido e expõe o assunto no caso a
previsão de demanda; todas as opiniões são coletadas por intermédio de
questionários sigilosos; todas as informações necessárias são passadas a um
coordenador que executa uma tabulação dos dados e obtenha um primeiro
resultado tratado estatisticamente; por fim, o resultado final é enviado aos
membros que reavaliam sua opinião frente aos argumentos dos demais. O
processo é refeito até que haja uma convergência desejada das opiniões.

Método quantitativo

Baseado em dados quantitativos, proporciona uma exatidão maior em relação


à previsão de demandas.

De acordo com Fenili (2015), o método quantitativo pode ser subdividido em


dois outros métodos:

» causais: são realizados embasados em dados analisados estatisticamente


de realizações passadas, relacionado às variáveis utilizadas;

» temporais: analisa estatisticamente dados passados.

Felini (2015) pressupõe que existem cinco tipos de métodos quantitativos, que
serão abaixo descritos.

Último período

Em que se faz a previsão de o que será consumido será igual ao que foi consumido
no período anterior. Exemplo: Consumo de janeiro foram 1.000 unidades de
parafusos. Adota-se como previsão para fevereiro 1.000 unidades de parafusos
(FENILI, 2015).

Média aritmética ou média móvel

O resultado da média aritmética relativos ao consumo em períodos anteriores


será a previsão de consumo do próximo período (FENILI, 2015).

Média ponderada

O resultado da média ponderada do consumo de períodos anteriores será a nova


previsão para próximo período. Os pesos maiores serão sempre atribuídos a
períodos mais recentes (FENILI, 2015).

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Média móvel exponencialmente ponderada

Aplicado quando no período anterior houve diferença significativa entre o


consumo efetivo e a previsão de consumo. Para empregar este método, três dados
são necessários: consumo real, previsão da demanda do último período e valor
do coeficiente de ajuste (β). Este coeficiente varia entre 0 e 1 e é definido pelo
gestor embasado em sua análise qualitativa do período anterior e no histórico
de compras (FENILI, 2015).

Mínimos quadrados

Com uma regressão linear, obtém-se uma equação de reta que relaciona o período
e a demanda. Este método é um dos mais utilizados quando se pensa em previsão
de demanda (FENILI, 2015).

Reposição de estoques

Para entendermos o tempo que se leva para repor estoques antes vamos definir
alguns conceitos básicos.

Tempo de reposição: período de tempo que se faz necessário para verificar


se o estoque precisa de reposição até a entrada do material no almoxarifado da
empresa. Abaixo podemos ver na figura 21 o esquema de reposição de um estoque.

Figura 21. Reposição de um estoque.

Compras

Emissão do
Almoxarifado pedido

Entrada do Preparação do
pedido na pedido pelo
empresa fornecedor

Transporte
do pedido

Fonte: Fenili, 2015.

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Cálculo tempo reposição

TR= 1+2+3

Onde 1: tempo de emissão pedido; 2: tempo de preparação do pedido; 3: tempo


de transporte e recebimento.

Ponto de pedido: momento exato para mandar um pedido ao fornecedor, o


estoque tange o ponto de pedido (PP).

PP = (C x TR) + ES

Onde PP: ponto de pedido; C: consumo normal de mercadoria; TR: tempo de reposição.

Lote Econômico de Compras (LEC): lote ideal considerando o que é utilizado


por mês e o custo. O que tenho que comprar exatamente para atender a empresa
sem que falte ou sobre.
2C × C 2
LEC = πr
CA

Onde: C = quantidade consumida de produto; Cp: custo do pedido; CA: custo


de armazenagem unitário anual.

Estoque máximo: trata-se da quantidade máxima que se tem em estoque de


um material.
Emax
= ES + LC

Onde: ES: estoque de segurança; LC= lote de compra.

Giro de estoque

Número de vezes, num determinado intervalo de tempo, que pode ser de um


dia, uma semana ou um mês durante um período, no qual o estoque é renovado.
valor consumido no intervalo de tempo
Giro de estoque =
valor de estoque médio do intervalo de tempo

Tempo de cobertura

Período em que o estoque médio consegue quitar a demanda média, ou seja, é


o tempo em que o produto final leva para sair do estoque.
número de dias dointervalo detempo
Tempo de cobertura =
giro de estoque

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Sistema MRP

Originário da década de 1960; suas siglas significam Material Requirements


Planning (MRPI). Este sistema possibilitava à empresa calcular sua produção e
estoques; atualmente, seus conceitos foram estendidos a outros setores da empresa
denominados Manufacturing Resource Planning (MRPII), possibilitando realizar
um plano global de planejamento e monitoramento de todos os recursos de uma
empresa que realiza manufatura, como setor financeiro, setor de marketing e
engenharia (GRAZIANI, 2013).

Para a utilização do MRP, é fundamental a empresa já ter o Master Production


Schedule (MPS), em que estão especificadas as quantidades e o instante em
que deve ocorrer a produção dos produtos finais; portanto, ele analisa as reais
necessidades frente à possibilidade de a empresa atendê-las. É em cima do MPS
que o MRP determina o que será indispensável para produção.

Para uma precisa elaboração do MRP, o conceito de Capacity Requeriment Plans


(CRP) deve ser conhecido. Funciona da seguinte forma: o MRP usa as previsões
do MPS para produzir os pedidos de compra ou fabricação que são usados pelo
CRP para determinar a mão de obra e cargas-máquinas (GRAZIANI, 2013).

Sistema MPS

O MPS é fundamental para que possamos aplicar de forma eficaz o MRP; ele
ressalta fatores importantes, como a previsão de demanda, os pedidos realizados,
os materiais à disposição, mão de obra e as metas a serem atingidas, de modo a
definir antecipadamente a mais adequada estratégia para produção ou compra.
Utilizar este sistema permite uma diminuição gradativa de problemas que estão
sem solução em relação à gestão de produção (GRAZIANI, 2013).

A utilização correta deste sistema pode apontar com certeza onde conseguir
recursos, o que, frente a um cenário de competição por mercado, tipo de produto
etc., pode vir a fazer muita diferença.

O MPS será utilizado pelo CRP fornecendo dados da empresa como uma totalidade
e o CRP por sua vez expõem as particularidades de uma máquina específica, por
exemplo, ou de um funcionário (GRAZIANI, 2013).

Implantação

Para uma efetiva implantação do MPS, seus procedimentos devem estar cadastrados
a nível administrativo. Seus procedimentos devem abordar:

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» estabelecer planos e revisões;

» indicar itens de cada linha ou grupo de produtos;

» delinear limites de tempo;

» estabelecer os formulários que serão usados;

» opções para problemas com clientes, fornecedores etc.

Políticas de estoques

Conforme Graziani (2013), estabelecer um planejamento dentro dos limites


esperados está ligado diretamente à previsão de demanda e ao tempo de
ressuprimento: quanto melhor realizado este planejamento, mais eficazes e
precisos serão os procedimentos de suprimentos. As informações fornecidas
por intermédio do MPS determinam num curto espaço de tempo os embarques
de produtos ou materiais, por meio de contratos de suprimento. Seja com
fornecedores ou com clientes finais.

O sistema de MRP permite ao fornecedor uma visão ampla quando falamos


do setor de compras, porém as comprovações dos embarques somente serão
geradas pelo MPS; esta medida faz com que ocorra uma redução no tempo de
ressuprimento dos materiais e produtos, possibilitando assim uma maior agilidade
na produção. Mas, como todas as ferramentas, ela precisa de dados confiáveis
e de atualizações constantes (GRAZIANI, 2013).

Objetivos do MRP
O objetivo deste sistema é sempre demonstrar melhorias contínuas fundamentado
na filosofia Kaizen, que se baseia na busca da satisfação dos clientes, sejam
eles externos ou internos com menos investimento possível. Abaixo tópicos
relacionados que devem sempre estar em constante melhoria (GRAZIANI, 2013).

Estoque rotativo

Um inventário para empresa gera custo alto identificado por parcelas como:

» custo do capital;

» custo de manutenção/ armazenagem;

» obsolescência;

» tempo de vida (garantia).

A fim de não gerar estes custos os níveis de estoque, devem sempre ser monitorados
para que fiquem os mais baixos possíveis.

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Suporte ao cliente

Quanto aos clientes internos, podem gerar problemas como: falta de material
para produção obrigando a reprogramar a produção o que pode resultar em horas
ociosas de trabalho que terão que ser respostas por horas extras futuramente,
gerando a empresa custos altos adicionais ou quanto a clientes externos os atrasos
na entrega do produto resultam em atraso nas vendas (GRAZIANI, 2013).

Produtividade

Atinge-se o objetivo central da empresa quando não ocorre falta de material,


mão de obra, equipamentos quebrados ou desperdícios em geral.

Aproveitamento da capacidade

Quando usadas adequadamente as instalações de forma a utilizar apenas o


necessário e suficiente para suprir as necessidades, tem-se um maior retorno
de investimento.

Despesas com material

Analisar de forma correta onde, como, quando e quanto com a finalidade de não
se gerar custos adicionais.

Despesas com transporte

Não analisar corretamente um processo de compra pode implicar gastos extras


com transporte de material.

Despesas com sistema

Irregularidades no sistema implicam altos custos à empresa.

Terminologia básica do MRP

Para um melhor entendimento de termos técnicos utilizados no sistema MRP,


listamos abaixo o significado dos principais (GRAZIANI, 2013):

» demanda independente: materiais acabados;

» demanda de pendente: materiais e componentes necessários para confeccionar


o produto final;

» item de material: material que se diferencia dos demais por especificações


distintas;

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» fração de tempo: intervalo de tempo utilizado para planejar MRP que


usualmente se faz em algumas semanas;

» previsão de vendas: prever o que os clientes precisam usando a mais adequada


informação para que assim alcançar metas colocadas pela empresa. As
previsões podem vir de duas formas distintas conforme vimos no início
deste capítulo, as previsões quantitativas e as qualitativas;

» lista de material: listagem dos componentes de um material, partindo da


estrutura do produto e serve como base para programa mestre de produção;

» programa mestre de produção: viabiliza a posição do que, quanto e quando


e o deva ser produzido para atender demanda;

» manutenção dos registros: a manutenção dos registros está diretamente


ligada à eficácia do sistema MRP, quanto mais acurados são os registros
mais satisfatório será a utilização deles;

» follow-up: acompanhar as ordens de compra ou fabricação evitando


problemas com clientes;

» nível: é a transformação que a matéria-prima e componentes passam durante


processo de produção;

» necessidades brutas de material: identificação da necessidade de materiais


para atender o processo produtivo;

» necessidades líquidas de material: mostra as necessidades de materiais


que são indispensáveis ao produto, levando em consideração quantidades
disponíveis;

» quantidades disponíveis: quantia de materiais seja a disposição ou em forma


de pedidos que estejam em condições para serem utilizadas no processo.
Conforme necessidade de produção;

» recebimento programado: ordem de fabricação ou compra aprovada, portanto


podem ser considerados para futuros planejamentos;

» liberação planejada de pedidos: identificação de liberações de pedidos para


suprir demandas futuras.

Tempo de atendimento ou lead-time

Tempo para abastecimento ou intervalo de tempo entre liberar pedido até o


recebimento de um material ou um item.

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UNIDADE ii | Gestão De Estoques

Inventário oculto

São materiais que são membros do nível superior. Relatórios.

Metodologia MRP

Método ao qual aplicamos de maneira geral os princípios do MRP. O sistema


MRP gera a liberação de ordens de fabricação e compra, verifica as capacidades,
gera relatórios e registros de estoque ou acompanhamento de inventários de
itens fabricados ou comprados (GRAZIANI, 2013).

Demandas dependentes

Materiais que suprem a demanda de produtos; eles entram na composição do


produto final. Podemos melhor visualizar tal situação em uma árvore da estrutura
do produto ilustrada na figura 22 a seguir e na lista de material dentada, em
que são detalhados os componentes que compõem o material final levando
em consideração uma base hierárquica que mostra os itens necessários com a
finalidade de montar nível superior, que demonstra os materiais básicos para
cada montagem de cada nível superior. Esta inclui as descrições da peça ou
subconjuntos de nível zero; descrição ou os códigos relativos aos materiais dos
níveis menores, o quanto é utilizado para produzir o produto final e a dependência
(GRAZIANI, 2013).

Figura 22. Árvore de estrutura de um produto: cadeira.

Cadeira

Assento (1x) Encosto Pé (4x)


(1x)(1x)

Espuma Prego
Tecido Cola Madeira Madeira Prego
(0,35 kg) (10x)
(0,05m2) (10 ml) (6x) (1x) (4x)

Fonte: http://www.ativoaccess.com.br/img/artigos//pcp2/1.jpg.

Dimensionamento do lote

Segundo Graziani (2013), dimensionar a quantidade de um material que será


utilizada para realizar algum processo pode ser definido por:

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Gestão De Estoques | UNIDADE ii

» quantia similar ao lote econômico de fabricação ou compras: no momento


em que utilizamos os custos relativos de aquisições, de armazenamento
e produção, definem-se os lotes econômicos de fabricação e compras que
são as melhores alternativas para aquisição ou fabricação de uma dada
quantidade;

» quantia lote a lote: pede-se somente o que for necessário para atender o que
de imediato precisa ser suprido, muito utilizado em demandas irregulares
e períodos muito longos.

Registro de inventário

Consta a disponibilidade de material/componentes em estoque, quantidades


com recebimento programado e o tamanho do lote de fabricação ou de pedido
(GRAZIANI, 2013).

Programa mestre de produção

Determina data e quantidade necessária do material (GRAZIANI, 2013).

Sistemas de reposição de estoque

De acordo com Fenili (2015), existem dois tipos de sistema de reposição de


estoques, listados abaixo.

Periódico

Em um ritmo constante os pedidos de reposição são efetuados. Tendo em vista


que a soma da quantidade de material em estoque e da quantidade de material
adquirido deva sanar o consumo até a posterior entrega de materiais substituintes.

Contínuo

Um pedido novo de compra é realizado sempre que o estoque atinge uma pré-
determinada quantidade de estoque. Este sistema é feito de modo a não utilizar
o estoque de segurança; a sua operalização é visualizada por meio de um gráfico
conhecido como curva de dente de serra como pode ser visualizada na figura
23 a seguir.

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UNIDADE ii | Gestão De Estoques

Figura 23. Curva de dente de serra.

Estoque
Máximo
Nível do Estoque

= Lote de
Compra

Ponto de
Pedido
= CxTR
Estoque
Mínimo
Tempo
Tempo de ressuprimento

Fonte: Fenili, 2015.

O desenho normalmente inicia-se com o estoque máximo e, no decorrer do


tempo, há o decréscimo do estoque a uma razão constante, alcançando uma
pré-determinada quantia de estoque é emitido à área de compra um pedido.
Durante o tempo gasto para suprir novamente o estoque, o consumo do material
em questão não para, de forma que, no momento de entrada deste lote novo
o estoque estaria entrando no nível de segurança (nível de estoque mínimo)
(FENILI, 2015).

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