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MODELOS TEÓRICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

4. NOVA GESTÃO PÚBLICA (NEW PUBLIC MANAGEMENT)


Recapitulando...
Até aqui vimos os três principais modelos teóricos, suas formas de surgimento e
principais características.
Percebe-se que tais modelos de administração pública refletem o processo de
evolução do Estado na medida em que este foi mudando o seu papel e sua relação com
a sociedade. Logo, foi necessário que se adaptassem.
Ao tratarmos do modelo gerencial, verificamos que ao longo do tempo houve
uma evolução da AP dentro desse modelo. A essa evolução convencionou-se chamar de
Nova Gestão Pública.
Tal modelo surgiu no fim dos anos 70 e evoluiu ao longo dos anos 80/90 nos
países anglo-saxônicos, com destaque para a Inglaterra, e incorporou novos valores,
programas, formas de gestão à AP.
Na década de 1970 houve duas crises do petróleo, sendo uma em 73 e outra em
79. Nesse contexto, boa parte dos países do mundo entram em uma acentuada crise
econômica, o que se torna mais evidente ainda nos anos 80 (tal qual ocorreu com o
Brasil).
Desse modo, vimos que o gerencialismo cresce nesse contexto de crise
econômica, que leva a uma crise fiscal dos Estados, os quais foram se enfraquecendo e
apresentando dificuldades para garantirem certos direitos sociais/serem vetores de
desenvolvimento. Por consequência, tais dificuldades também afetaram a questão do
papel do Estado com relação ao o atendimento do bem-estar social que havia se
estabelecido em boa parte do mundo desenvolvido.
Vimos então que foi nesse contexto que perdeu espaço o modelo burocrático, o
que abriu espaço para o surgimento do modelo gerencial.
Gerencialismo
Os conceitos do managerialism invadiram o setor público dos Estados Unidos e
da Grã-Bretanha, a partir da eleição dos governos conservadores, como Ronald Reagan
e Margaret Thatcher.
No início, consistia na utilização dos instrumentos do modelo gerencial segundo
um modelo conhecido como “gerencialismo puro”, direcionado à redução de custos e
ao aumento da eficiência e produtividade da organização. (ABRUCIO)
Obs.: Faz sentido em iniciar com redução de custo e aumento de eficiência, se pensarmos que o
objetivo do surgimento do gerencialismo é exatamente a escassez de recursos, a crise fiscal, o
Estado não dando conta de pagar suas contas; logo, cabe ao Estado reduzir custos, fechar as
torneiras dos desperdícios e buscar fazer mais com menos.
Recentemente, o modelo gerencial não tem sido utilizado apenas como um
mecanismo para reduzir o papel do Estado. O managerialism uniu-se a conceitos como
busca contínua da qualidade, descentralização e avaliação dos serviços públicos pelos
consumidores/cidadãos.
 Há mais de um modelo gerencial; surgiram diversas respostas à crise do
modelo burocrático weberiano.
1) MODELO GERENCIAL PURO

• Economia / Eficiência
• Taxpayers (contribuintes)
2) CONSUMERISM
• Efetividade / Qualidade
• Clientes / Consumidores do serviço público
3) PUBLIC SERVICE ORIENTATION
• Accountability / Equidade
• Cidadãos
Evolução do modelo gerencial
1. Gerencialismo Puro
• O modelo gerencial puro foi o primeiro a ser implantado no caso inglês e, com
algumas modificações, na experiência americana durante o governo de Reagan;
• O managerialism foi utilizado no setor público para diminuir os gastos em uma
era de escassez e para aumentar a eficiência governamental;
• Eixo central: o conceito de produtividade; o ponto central do modelo gerencial
puro é a busca da eficiência;
• Definição clara das responsabilidades de cada funcionário dentro das agências
governamentais; Definição precisa dos objetivos organizacionais, analisados em sua
substância, no que são de fato e não como mero processos administrativos;
• Aumento da consciência a respeito do “valor dos recursos” (value money)
públicos, incorporando o valor da eficiência na lógica de funcionamento da burocracia;
Obs.: Aqui vê-se a obrigação de ser eficiente dada a necessidade de preservar o dinheiro público;
quando se olha para a lógica da burocracia, evidencia-se seu foco em evitar cuidar do dinheiro
público (buscou-se evitar a corrupção/desvios/nepotismo, mas claramente não era suficiente;
sobretudo ao analisarmos que isso gerou ineficiência em razão da forma como era feita, com
excesso de formalismos e de rigidez). O gerencialismo puro além de olhar para isso, pregava que
a ineficiência também precisava ser evitada, na medida em que também representa uma forma
de desperdício do dinheiro público.
2) Consumerismo
• Perspectiva voltada à satisfação dos usuários dos serviços oferecidos pelas
organizações públicas.
Obs.: Paradigma do Consumidor: o consumidor é aquele que precisa ter suas
necessidades satisfeitas, se sentir satisfeito com o serviço público prestado.
• Estratégias adotadas para tornar o poder público mais ágil:
– Descentralização, criando opções caso determinado equipamento
social não esteja funcionando a contento
– Incentivo à competição entre as organizações do setor público
(simulação de mercado)
– Adoção de um novo modelo contratual para os serviços públicos
Obs.: aqui volta-se à logica da contratualização de resultados, em que será pactuado
quais são os objetivos e metas da organização.
Obs.: observe que esses pontos acima demonstram que deve-se ir além da eficiência;
deve-se buscar também a qualidade, de forma a deixar o cidadão satisfeito com a
prestação do serviço público.
• O programa do governo inglês mais importante no sentido de priorizar o
consumidor foi o Citizen’s Charter, que baseou-se no princípio de que os serviços
públicos devem estar mais direcionados às necessidades definidas pelo público
diretamente afetado. Em suma, consistiu na implantação de programas de avaliação de
desempenho organizacional de acordo com dados recolhidos juntos aos consumidores;
Obs.: o programa carta ao cidadão focava em ter a medição da qualidade feita pelo
cidadão que consumiu o serviço.
3. Public Service Orientation (PSO)
• Tanto o gerencialismo puro como o consumerismo importam valores da
iniciativa privada (eficiência e qualidade); tais valores, embora necessários, não se
mostram suficientes dentro do processo de evolução;
• Existem ainda valores que não integram o universo da iniciativa privada mas
que o setor público precisa incorporar, como por exemplo accountability, transparência,
participação social, controle social, equidade e justiça;
• Ou seja, o indivíduo necessita ter uma faceta de contribuinte, de cliente mas
ele é mais do que isso – ele também é cidadão. E por ser cidadão, possui direitos e
deveres (inclusive o de fiscalizar, de decidir o que deve ser feito com relação aos
impactos na sociedade e de controlar o que está acontecendo);
• Assim, tem início a fase consistente na orientação para o serviço público (PSO),
focada em uma visão mais ampla, que passa a abranger a visão do indivíduo enquanto
contribuinte, cliente mas sobretudo enquanto cidadão;
Obs.: A ideia aqui é mostrar que ao longo dessa evolução dentro do modelo gerencial,
novos elementos foram sendo incorporados. Em conjunto elas representam o que seria
a evolução da Nova Gestão Pública.
• Foi criado a partir de uma questão específica do modelo gerencial: a
descentralização, a partir da qual foram formulados os conceitos do PSO;
• Ideias do PSO são estruturadas a partir do conceito de esfera pública (public
domain); A esfera pública como ambiente de transparência e de aprendizado social deve
estar presente na organização interna da AP, sobretudo no momento de elaboração das
políticas públicas.
Obs.: No consumerismo ouvia-se o cidadão que consumiu o serviço, já a orientação para ouvir
o serviço público diz que o momento de ouvir o cidadão é também nas escolhas que são feitas,
na formulação das políticas públicas, de forma que ele possa opinar de qual serviço deva ser
prestado. Nesse contexto entra o espaço do orçamento participativo, em que se ouve a
população quais são as prioridades, onde o recurso precisa ser alocado dado que ele é escasso.
Sendo assim, é importante criar momentos em que os cidadãos possam ter participação nas
escolhas que são feitas, fazendo com que ele participe das escolhas, e não apenas como alguém
que consome ou paga impostos.

• O planejamento estratégico não pode estar confinado à burocracia. Os


objetivos políticos devem ser discutidos e revelados em debate público;
• O PSO ressalta a possibilidade de cooperação entre agências, por um melhor
resultado global na oferta de serviços públicos;

•As discussões anteriores sobre eficiência, qualidade, avaliação de desempenho,


flexibilidade, planejamento estratégico não são negadas: há a tentativa de aperfeiçoá-
las;
Obs.: Quando se fala da descentralização parte disso significa levar a realização de política
públicas para os governos locais, facilitando a possibilidade de o cidadão participar das escolhas
e fazer o controle social. Então é mais fácil pensar no orçamento participativo funcionando bem
no município do que no estado e muito menos na União, porque começa a ter escolhas muito
complexas e distantes das realidades do cidadão; isso não significa que não possa ter
participação social no nível do estado e no nível da União, mas entende-se que no nível local é
mais fácil o cidadão fazer escolhas, entender melhor o que está acontecendo e fazer o controle
disso.

Atenção! O modelo do PSO foi pensado dentro dos parâmetros do poder local, onde os cidadãos
tenderiam a controlar mais a qualidade dos serviços públicos, mas nem sempre os cidadãos
podem resolver na esfera local os problemas do setor público.
EXERCÍCIOS

1. De acordo com a nova gestão pública, o governo deve adotar, além de técnicas de gestão de
negócios, valores relativos aos negócios, dos quais derivam práticas que foram propostas desde
a gestão científica até a gestão da qualidade total.

2. Uma das principais vantagens apontadas na nova gestão pública, ou gerencialismo, é o fato
de ela facilitar a mensuração da eficiência e a avaliação dos resultados dos serviços públicos em
geral, razão pela qual reduz as exigências de acompanhamento e controle da execução dos
orçamentos e da consecução dos objetivos do planejamento governamental.

Comentários às questões

1. A questão diz que a nova gestão pública traz, dentro de um modelo gerencial, a importação
de técnicas gerenciais que foram desenvolvidas na iniciativa privada, além disso também são
incorporados os valores, como, controle de custo, eficiência, produtividade, qualidade, ou seja,
valores que eram próprios dos negócios provados que passam a ser importados para a nova
gestão pública, e para que isso seja possível é necessário uma série de práticas que vão desde
aqueles que foram introduzidos pela administração científica, como definição de estrutura,
definição de modos de supervisão, de modelos de gestão mais eficientes, desenho de tarefas
mais eficientes ou a busca pela qualidade total etc.

2. É preciso a continuidade da monitoração e controlar a execução orçamentária. A principal


contradição dentro da questão é quando diz que precisa avaliar resultados, mas que não será
verificado a consecução dos objetivos do planejamento governamental, já que é justamente o a
verificação do resultado que permite que se saiba se teve um bom ou resultado ou não, inclusive
quando se souber que foram alcançados os objetivos que existiam no planejamento
governamental.

RECAPITULANDO..

Vimos até agora a evolução dos modelos teóricos de AP, passando por
patrimonialismo, burocracia e gerencialismo. Na aula de hoje vimos ainda que o próprio
gerencialismo passou por uma evolução, constatando que ele não apresentou uma resposta
única.

Com efeito, tal modelo evoluiu passando por 3 grandes fases, tendo começado com o
gerencialismo puro (muito focado na eficiência), passando pelo consumerismo (muito focado
na qualidade), e, por último, vimos que os valores de eficiência e qualidade embora
importantes, não eram suficientes.

Assim, tem início a 3ª fase, chamada orientação para o serviço público, onde são
afirmados valores não existentes no setor privado, a saber, accountability, equidade, controle
social, visando atender não apenas quem paga imposto ou recebe o serviço, mas voltando-se
sobretudo a efetivação do bem comum, o que passa necessariamente pela visão do indivíduo
enquanto cidadão detentor de direitos (e deveres), que deve participar do processo de
tomada de decisões bem como efetuar o controle das ações governamentais.

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