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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.

Centro de Ciências Jurídicas e Políticas – CCJP.

Curso de Ciência Política.

Orientação Monográfica I.

“A Ameaça Fantasma: A influência da Atlas Network no Brasil.”

Luiz Felipe de Oliveira Moreira.

Rio de Janeiro, 29 de maio de 2018.

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I. Introdução

Esse trabalho consiste em uma análise das relações da Atlas Network com seus
parceiros (Partners) no Brasil, dos quais é válido destacar os seguintes: Estudantes Pela
Liberdade (EPL), Instituto Liberal (IL), Instituto Millenium (Imil), Instituto de Estudos
Empresariais (IEE) e o Movimento Brasil Livre (MBL – uma dissidência do EPL).
Além de observar a natureza dessas relações e como estas vem se consolidando e
gerando impacto significativo, sobretudo no que tange aos resultados eleitorais das
eleições brasileiras ocorridas entre 2012 e 2018, definiu-se como parâmetro a possível
taxa de sucesso dos candidatos apoiados pela rede de parceiros da fundação, orientando-
se pelos questionamentos:

1) Algum candidato recebeu apoio desses partners? O número de candidatos na


rede de conexões da organização internacional vem aumentando?
2) Dentre tais candidatos, algum conseguiu sucesso no pleito eleitoral?
Observa-se um aumento do número de candidatos eleitos apoiados pelos
partners com o decorrer das três eleições (duas municipais e uma estadual e
federal) realizadas nos últimos seis anos?

Inicialmente, para dar conta destas questões é necessário esclarecer três pontos:
a) o que seria a Atlas Network e qual a sua relevância; b) o motivo dessa organização
manter parceiros no Brasil; c) quais os interesses, tanto da Atlas, quanto dos seus
parceiros e a maneira como a rede articula objetivos e ações coordenadas.

Segundo consta em seu website (www.atlasnetwork.org/about/our-story), a Atlas


Network foi criada para ajudar a institucionalizar o processo de criação de novas think
tanks, que são seus parceiros. Mas como definir uma think tank?

É comum na área das ciências sociais nos depararmos com determinadas


termologias que não possuem um consenso no que tange a sua aplicabilidade teórica ou
prática. A termologia das think tanks é uma dessas, embora exista um consenso que o
caráter o seu caráter definitivo estaria relacionada a ideia de pesquisa e análise. O
United Nations Development Program (2003), que classifica atores da sociedade civil,
ONGs, organizações de massa, comerciais, religiosas e movimentos sociais, define-os
como “organizações comprometidas de modo regular com pesquisa e ‘advocacy’ sobre

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qualquer questão ligada às políticas públicas. São pontes entre o conhecimento e o
poder nas democracias modernas” (TEIXEIRA, 2007: citar paginação). Há também a
definição dada pelo grupo de estudo da Universidade da Pennsylvania, 2017 Global Go
To Tank Index Report, liderados por James McGann, que caracteriza uma Think Tank
como uma “organização de análise e compromisso de pesquisa sobre políticas
públicas”.

Em resumo, as think tanks são órgãos de formação de opinião e


centros/instituições de pesquisa independentes, tendo potencial para atuar como um
movimento social, comprometidas com atividades de advocacy e ocasionalmente
também com lobbying. “Alguns movimentos sociais destoam da identificação com
reivindicações progressistas, por direitos civis, ou de busca por direitos voltados a
minorias étnicas ou grupos socioeconômicos desfavorecidos. Influenciados por valores
liberais e conservadores e de reação aos pressupostos democráticos, os movimentos
sociais regressivos são a expressão das forças políticas sustentadas em concepções
intransigentes e autocráticas”. O interessante dessa passagem do texto publicado no 41º
encontro anual da ANPOCS, pelo cientista social Jefferson Rodrigues Barbosa, é que os
valores que os tais movimentos sociais regressivos empregam é compatível com os
valores da Atlas Network e de seus Partners.

Esse desenho introdutório a respeito da Atlas Network e das think tanks das
quais ela é parceira, serve para demonstrar o caráter ideológico do qual essa
“organização de análise e compromisso de pesquisa sobre políticas públicas”, em
específico, é feita.

O trabalho consistirá, em um primeiro momento, na análise histórica dos


momentos propícios para o surgimento das think tanks além de entender melhor o que
são essas organizações e sua influência no mundo contemporâneo.

Posteriormente, analisará a missão da Atlas Network e seus valores, o que


consiste em uma revisão bibliográfica de alguns teóricos liberais, que inspiram tanto a
fundação quanto seus partners, dos quais enumero como mais recorrentes Hayek,
Mises, Rorthbard e Friedman, além de uma verificação a respeito dos financiadores da
Atlas, e um resumo a respeito do fundador da Atlas Network, Antony Fischer, e de seu
atual presidente, Alejandro Chafuen.

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Por fim, tratará da inserção da Atlas Network no Brasil e quais são seus
partners. A história das think tanks no Brasil, desde seu início na década de 80 até os
dias atuais, e como a política externa norte-americana foi influente, tanto para o
nascimento quanto para o seu desenvolvimento dessas organizações em território
nacional. Concomitantemente, realizará uma análise eleitoral para verificação empírica
a respeito de uma possível “taxa de tucesso” que essas think tanks brasileiras, na rede da
Atlas Network, venham a obter nas campanhas eleitorais de 2012, 2014, 2016 e 2018.
Em outras palavras, esse terceiro segmento busca entender quais foram os candidatos
apoiados pelas think tanks definidas no recorte já descrito, se obtiveram algum sucesso
no pleito eleitoral, e em que medida esse sucesso estabelecido consegue ser repetido e
se o apoio a novos candidatos vem crescendo nas eleições subsequentes e a relação
destes com o quantitativo de candidatos eleitos.

II. Objeto

Esse trabalho tem como foco central o estudo da Atlas Network, formalmente
chamada de Atlas Economic Research Foundation, uma think tank norte-americana
fundada em 1981 por Antony Fisher, um homem de negócios britânico cujo objetivo era
a defesa e propagação das suas concepções libertárias pelo mundo.

A Atlas Network, segundo seu website, não recebe recursos governamentais,


apenas de entes privados: corporações, fundações ou doações individuais. É registrada
como uma organização sem fins lucrativos, e, portanto, todas as doações feitas nos
Estados Unidos da América são dedutíveis de impostos (TEIXEIRA 2007). Os
principais patrocinadores da Atlas Network são os irmãos Koch, Charles Koch e David
Koch, que possuem, juntos, a quantia de 120 bilhões de dólares segundo o relatório
anual da FORBES, referente ao ano de 2018, e tem como sua principal fonte de renda a
indústria de petróleo e gás, além da indústria tabagista norte americana. A ExxonMobil
doou 440,000 dólares pelo artigo de Deroy Murdock, publicado em 31, de maio de
1996, intitulado “Você chama isso de aquecimento global” na Whashington Times.

De acordo com seu site institucional, e até a data da publicação deste trabalho,
29 de maio de 2018, a Atlas Network contabilizava cerca de 493 (numerais por extenso

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entre parênteses) partners em 93 países, sendo: 181 nos Estados Unidos da América, 12
no Canadá, 80 na América Latina e no Caribe, 136 na Europa e Ásia central, 9 no
Oriente Médio e Norte da África, 19 na África, 10 no sul da Ásia, 27 no leste Asiático e
Pacífico além de 9 na Austrália e Nova Zelândia.

Na América Latina, os seus 80 (oitenta) partners se distribuem da seguinte


forma: 9 think tanks na Argentina, 5 na Bolívia, 14 no Brasil, 11 no Chile, 1 na
Colômbia, 4 na Costa Rica, 2 na República Dominicana, 3 no Equador, 3 em El
Salvador, 4 na Guatemala, 1 em Honduras, 1 na Jamaica, 4 no México, 2 no Panamá, 7
no Peru, 1 nas Bahamas, 3 no Uruguai e 4 na Venezuela, contabilizando 79 think tanks
em 18 países. A 80ª think tank seria a “Estudiantes Por La Libertad” que atua por todo
território latino-americano, sendo considerada a maior think tank da América Latina.

No Brasil, dentre as 14 organizações apresentadas no seu website, apontadas


como partners, temos cinco sediadas em São Paulo, capital, que são, o Instituto de
Formação de Líderes – SP (IFL-SP), Instituto Liberal de São Paulo (ILISP), Instituto
Ludwig Von Mises Brasil (Mises Brasil), Mackenzie Center For Economic Freedom e
Students For Liberty Brasil. O Rio Grande do Sul aparece com três think tanks sediadas
em Porto Alegre, que são, o Instituto Atlantos, o Instituto de Estudos Empresariais
(IEE) e o Instituto Liberdade. As três sediadas no Rio de Janeiro, capital, que são o
Instituto Liberal (IL), o Instituto Millenium (Imil) e o Livres. Duas sediadas em Belo
Horizonte como os Estudantes Pela Liberdade (EPL) e o Instituto de Formação de
Líderes (IFL-MG?). E finalmente temos os Líderes do Amanhã Institute, na cidade de
Vitória na Bahia.

III. Objetivo

O objetivo desse estudo é compreender o avanço que as ideias desses


laboratórios de ideias (think tanks) tiveram ao longo dos anos, utilizando as eleições
municipais, estaduais e federais dos anos de 2012 a 2018.

É importante entender o funcionamento dessas organizações, de modo, tanto


institucional/formal, como apresenta James McGann (2005), quanto de modo crítico,
como apontado por Sidney Blumenthal (1988), onde ele entende que as Think Tanks

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nada mais são que factories of ideology (fábricas de ideologia). E nesse sentido mais
crítico, Tatiana Teixeira (2007) nos apresenta que “na situação específica desses
catalisadores de ideias, inovação e ação, parece existir uma verdade racionalmente
fabricada a partir destas crenças prévias e enraizadas (e, às vezes, de pressupostos nem
sempre verdadeiros), mas que é legitimada pela ciência, edificada pelos jogos de poder
e apropriada pelos governos, que utilizam canais formais e informações para tal”.

A partir de uma análise crítica acerca da Atlas Network e a sua relação com as
think tanks brasileiras (EPL, IL, Imil, IEE e MBL) esse estudo demonstrará como que a
propagação de ideais conservadores e liberais, que seriam em um primeiro momento,
aparentemente antagônicos, se encontram de forma estrutural e se posicionam a direita
do espectro político, como lembra o cientista social Jefferson R Barbosa (2017).

Os ativistas destas think tanks se colocam como “libertários”, apoiados pelas


ideias de Hayek, Mises, Rothbard, Friedman, entre outros, eles pregam sua própria
(re)visão do liberalismo clássico, onde pregam a defesa da “liberdade econômica” para
o melhor desenvolvimento da ação humana.

Tendo em vista o conceito ideológico que esses grupos pregam e a teoria crítica
que coloca as think tanks como fábricas de ideologia, um estudo faz-se necessário para
compreendermos até que ponto essas think tanks, parceiras da Atlas Network, vem
conseguindo obter sucesso em relação a própria missão da Atlas Network, como consta
em seu website:

“Nossa missão é fortalecer o movimento de liberdade mundial, cultivando uma


rede altamente eficaz e expansiva que inspire e incentive todos os indivíduos e

organizações comprometidos a alcançar um impacto duradouro.” (FONTE, ANO)

Utilizando os resultados eleitorais das eleições passadas (2012-2018), esse


estudo pretende mostrar o quanto que essas ideias propagadas por partners da Atlas
Network, influenciaram nos resultados das eleições.

IV. Contexto Histórico

IV.1. Antony Fisher, o fundador da Atlas Network.

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Ao final da Segunda Guerra Mundial, Antony Fisher encontra sua motivação
política após a formação de um governo trabalhista, referente ao Governo Attlee*, cuja
as pautas o assustavam, das quais vale destacar a nacionalização da indústria e a
introdução de um planejamento econômico central. Naquele mesmo ano de 1945, Fisher
acabava de ler “O caminho para a Servidão” (HAYEK, ANO PUBLICAÇÃO
ORIGINAL), que ajudaria a moldar o seu pensamento social, político e econômico.
Encorajado a entrar na política, Fisher vai até Friederich Hayek na London School of
Economics, onde o autor era professor e pesquisador, para pedir conselhos políticos e
demonstrar seu planejamento. Hayek, no entanto, o aconselharia de que o único e
efetivo meio para uma real mudança política, é a formação de uma think tank. (Citar
fonte de onde está retirando essa narrativa)

Em 1952, em uma viagem de estudos aos Estados Unidos da América, visita a


Foundation for Economic Education (FEE), onde conheceria pessoas ligadas ao
Departamento de Agricultura da Universidade de Cornell, e aprenderia técnicas
avançadas de criação de galinhas. Com esse novo conhecimento ele volta ao Reino
Unido e cria a sua fábrica, a Buxted Chickens. Desta empresa, designaria parte de seu
lucro para ajudar a criar o Institute of Economic Affairs (IEA), com fundação em 1955.
Segundo aponta a historiadora Katia Gerab Baggio (ANO DA PUBLICAÇÃO):

“(...) é conhecido o fato de que, desde o início dos anos 1960, Margaret
Thatcher (Partido Conservador), que viria a ser a primeira-ministra britânica entre 1979
e 1990 - período em que houve um progressivo desmonte do Estado de bem-estar na
Grã-Bretranha -, frequentava as reuniões no IEA”. (REFERÊNCIA, ANO)

O jornalista Lee Fang (ANO DA PUBLICAÇÃO) destaca a importância da IEA


para a história da Atlas Network, justamente por ajudar a popularizar os autores e
economistas ligados às ideias de liberais de Hayek, que até aquele momento, não tinham
reconhecimento da academia ou mesmo da sociedade civil. O IEA propagava o ideário
desses autores com o objetivo era fazer oposição ao welfare state britânico, colocando
jornalistas em contato com acadêmicos defensores do livre mercado e assim
disseminando críticas constantes, sob a forma de artigos e opinião. Ainda segundo Fang
(ANO):

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“A maior parte do financiamento do IEA vinha de empresas privadas, como os
gigantes do setor bancário e industrial Barclays e British Petroleum, que contribuíam
anualmente. No livro Making Thatcher’s Britain (A Construção da Grã-Bretanha de
Thatcher, em tradução livre), dos historiadores Ben Jackson e Robert Saunders, um
magnata dos transportes afirma que, assim como as universidades forneciam munição
para os sindicatos, o IEA era uma importante fonte de poder de fogo para os
empresários”. (REFERÊNCIA, ANO)

Após sua nomeação para primeira-ministra britânica em 1979, Margaret


Thatcher enviou uma carta de agradecimento para Antony Fisher atribuindo a IEA o
mérito de “ter criado o clima de opinião que tornou a nossa vitória possível”(FONTE?),
segundo a própria Thatcher, além de ter recompensado simbolicamente a IEA dando a
Harris, o outro fundador, um lugar na Câmara dos Lordes(FONTE?).

O trabalho de Fisher no IEA forneceu base e incentivo para a formação de novas


think tanks; Hayek já tinha fundado a Sociedade Mont Pèlerin, composta por notáveis
intelectuais, filósofos, economistas e políticos cujo os valores defendidos são orientados
por uma ideologia neoliberal ainda em 1947, tendo sua organização internacional
formado uma rede de contatos que seria aproveitada pela IEA, e futuramente pela Atlas
Network. Dentre aqueles que compuseram a Sociedade Mont Pèlerin, cabe destacar
além do seu fundador, Friedrich Hayek, nomes como Karl Popper, Ludwing Von Mises,
George Stigler e Milton Friedman, além de Ed Feulner e Ed Crane. Os dois últimos,
inspirados pela iniciativa de Fisher, ajudariam a fundar a Heritage Foundation (Ed
Feulner), organização partner da Atlas Network; e a Cato Institute (Ed Crane, com a
colaboração de Murray Rothbard e Charles Koch) que seria considerada a think tank
libertária* mais influente dos Estados Unidos da América.

Comenta Fang como se desenvolveu o início da Atlas Network:

“Em 1981, Fisher, que havia se mudado para San Francisco, começou a
desenvolver a Atlas Economic Research Foundation por sugestão de Hayek. Fisher
havia aproveitado o sucesso do IEA para conseguir doações de empresas para seu
projeto de criação de uma rede regional de think tanks em Nova York, Canadá,
Califórnia e Texas, entre outros. Mas o novo empreendimento de Fisher viria a ter uma
dimensão global: uma organização sem fins lucrativos dedicada a levar sua missão
adiante por meio da criação de postos avançados do libertarianismo* em todos os países

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do mundo. “Quanto mais institutos existirem no mundo, mais oportunidade teremos
para resolver problemas que precisam de uma solução urgente”, declarou. Fisher
começou a levantar fundos junto a empresas com a ajuda de cartas de recomendação de
Hayek, Thatcher e Friedman, instando os potenciais doadores a ajudarem a reproduzir o
sucesso do IEA através da Atlas. Hayek escreveu que o modelo do IEA “deveria ser
usado para criar institutos similares em todo o mundo”. E acrescentou: “Se
conseguíssemos financiar essa iniciativa conjunta, seria um dinheiro muito bem gasto. ”
A proposta foi enviada para uma lista de executivos importantes, e o dinheiro logo
começou a fluir dos cofres das empresas e dos grandes financiadores do Partido
Republicano, como Richard Mellon Scaife”, e isso se confirma ao olharmos o balancete
do Instituto Sarah Scaife Foundation (dos quais pude ter acesso 2012-2015) e da
Carthage Foundation (2012-2014), ambos institutos pertencentes ao bilionário Richard
Mellon Scaife.

A reportagem acrescenta ainda:

“(...) empresas como a Pfizer, Procter & Gamble e Shell*** ajudaram a


financiar a Atlas que cresceu rapidamente e em 1985, a rede contava com 27
instituições em 17 países, inclusive organizações sem fins lucrativos na Itália, México,
Austrália e Peru. E o timing não podia ser melhor: a expansão internacional da Atlas
coincidiu com a política externa agressiva de Ronald Reagan contra governos de
esquerda mundo afora”. (AUTOR, ANO)

O timing ao qual o jornalista se refere estaria relacionado ao início do governo


de Ronald Reagan (Partido Republicano), como aponta a historiadora Kátia Gerab
Baggio, que foi caracterizado pela defesa do livre mercado, desregulamentação da
economia, cortes de impostos e redução do orçamento de programas sociais; sendo o
setor militar o único fugiu desse enxugamento do Estado. A palavra “Reaganomics”, foi
cunhada para categorizar uma plataforma que tinha como principais linhas políticas, os
valores tradicionais da família, economia focada pelo lado da oferta e principalmente a
bandeira anticomunista militante, na qual vale destacar a fala do ex-presidente Reagan,
onde o mesmo chama a União Soviética de “o império do mal”. O sociólogo Manuel
Castells, baseado na nova termologia, “Reaganomics”, propõe um conceito de
capitalismo informacional, e constrói seu raciocínio partindo da história do forte
desenvolvimento das tecnologias a partir da década de 1970 e seus impactos nos
diversos campos das relações humanas. Demonstra como tecnologias, inicialmente

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impulsionadas pelas pesquisas militares, foram amplamente utilizadas pelo setor
financeiro, justamente em um momento de necessidade de reestruturação do
capitalismo. Aproveitando-se do processo de desregulamentação promovido pelos
Estados Unidos e organismos internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional, o capital financeiro multiplicou sua circulação entre os
diversos mercados mundiais, em movimentos cada vez menos vinculados ao processo
produtivo.

IV.2. Alejandro Chafuen, Presidente da Atlas Network (em exercício).

Para entendermos a relevância da América Latina, especialmente a América do


Sul, no planejamento institucional e político da Atlas Network, é necessário discorrer
um pouco sobre a vida e a obra de Alejandro “Alex” Chafuen, atual presidente da
organização.

Nascido em Buenos Aires, Alejandro Chafuen cresceu no seio de uma família


“anti-peronista”. Ele atribui suas escolhas ideológicas e pensamentos “libertários”* a
sua leitura dos textos de Ayn Rand e dos textos que eram publicados pela Foundation
for Economic Education (FEE, outra think tank norte-americana, fundada por Leonard
E. Read em 1946, que forneceu inspiração e subsídios para a criação da Société du
Mont Pèlerin em 1947, e consequentemente a Atlas Network). Estudou em uma Escola
de Artes conservadora, a Grove City College nos Estados Unidos, onde foi presidente
do “ clube dos estudantes libertários”:

“Estamos muito orgulhosos do nosso amigo Dr. Alejandro 'Alex' Chafuen. Ele
vem promovendo a causa da liberdade desde que ele era jovem. Na verdade, essa tem
sido a paixão de sua vida desde que ele veio ao Grove City College no final dos anos 70
e início dos anos 80 para estudar com o renomado professor de economia Dr. Hans
Sennholz. O controle governamental do sistema monetário e suas políticas
inflacionárias estavam devastando sua amada Argentina. Alex tem promovido a causa
da liberdade e dos mercados morais desde então ”, disse Lee Wishing, diretor
administrativo do The Center for Vision & Values. “De fato, o mundo é um lugar
melhor e mais livre graças ao trabalho de Alejandro Chafuen. (FONTE, ANO)

Por volta dessa mesma época, na década de 70, ocorria na Argentina e por todo o
território sul-americano a instituição de governos militares, que chegariam ao poder
derrubando governos constitucionais sob pretexto de estarem reagindo a “ameaça

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vermelha”. Esses golpes militares resultaram em ditaduras sanguinárias, onde milhares
de estudantes, ativistas ou mesmo pessoas que não tinham relações com qualquer
movimento dito “subversivo”, foram torturadas e mortas durante a repressão à oposição
dos movimentos civis. Lee Fang salienta que Chafuen não olhava para essa época de
maneira “negativa”, ele acreditava piamente que os militares foram obrigados a tomar o
poder para evitar um golpe comunista (FONTE, ANO).

Em 1979 Chafuen chama atenção do mundo ao publicar um ensaio para a FEE


chamado “War Without End”, no qual Chafuen descreve as ações do que ele chamava
de “terrorismo de esquerda” e que devido a tal fato, seria necessária uma intervenção do
que ele chamava de “forças da liberdade individual e da propriedade privada”. No ano
de 1980 seria convidado para se tornar o membro mais jovem da Société du Mont
Pèlerin, aos 26 anos. Lá conheceu Antony Fisher e pode ingressar anos mais tarde, em
1985, na Atlas Network, onde viria a se tornar presidente em 1991.

"Eu também comecei a trabalhar na criação de uma grande conferência,


possivelmente na Jamaica, onde esperamos convidar os interessados em criar ou
administrar institutos nos países da América Central ou do Sul. Há muitos problemas
em fazer tais arranjos, mas a única maneira de ter sucesso é começar a tentar, acabo de
me juntar voluntariamente a um jovem, Alejandro Chafuen, nascido em Buenos Aires,
que se tornou membro da Sociedade Mont Pelerin na reunião de Stanford. - o membro
mais jovem da época - tem Ph.D. e conhece a maioria dos meus contatos na América
Central e na América do Sul. Ele tem muito mais. Ele espera conseguir um emprego na
área de San Francisco e está disposto voluntariamente, a tempo parcial, para trabalhar
na criação desta conferência ". (Antony Fisher em carta para Friedrich Hayek, FONTE,
ano).

Radicado nos Estados Unidos da América, Chafuen também é fundador e


presidente do conselho da Hispanic American Center For Economic Research
(HACER), fundação criada em 1996 em Washington D.C. cujo os objetivos são
voltados para “fortalecer os ideais liberais dentre os países da américa hispânica e entre
hispano-americanos que vivem nos Estados Unidos”, como lembra Katia G. Baggio
(2016). É importante salientar que o foco deste personagem sempre foi na América
Latina.

Ao comentar sobre o presidente da Atlas Network, Lee Fang cita uma palestra
da qual Chafuen teria dito que os doadores, empresas que financiam a Atlas Network,

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não poderiam financiar publicamente pesquisas sob o risco de perda de credibilidade.
“A Pfizer não financiaria uma enquete sobre questões ambientais”,

“Mas os think tanks libertários – como os partners da Atlas Network – não só


podem apresentar as mesmas pesquisas, como ainda as apresentam sob um manto de
credibilidade, como também poderiam atrair uma cobertura maior da mídia para a causa
da empresa”. (FONTE, ANO)

E com Alex Chafuen na presidência da Atlas Network, Lee Fang destaca que
novas parcerias foram sendo firmadas, junto com novos financiadores do projeto, como
Philip Morris, da indústria tabagista (No qual vale destacar o artigo “The Atlas
Network: a “strategic ally” of the tobacco industry”, onde através das análises
documentais das empresas de tabaco e da Atlas Network demonstram a extensão das
parcerias da indústria e faz uma análise sobre como essa rede de Think Tanks facilitou a
influência da indústria tabagista nas políticas de saúde pública dos anos 90). Além dos
financiamentos obtidos por Chafuen à Atlas Network pela ExxonMobil (como já
retratado neste artigo) e pela MasterCard, além de financiadores como o investidor John
Templeton e dos também já citados, Charles e David Koch.

Ainda é comentado pelo jornalista a possível participação de Chafuen como


membro-fundador do fundo americano Donors Trust, um fundo sem fins lucrativos
criado em 1999 com o objetivo de “salvaguardar a intenção de doadores libertários e
conservadores” (Citar de onde retirou a informação, preferencialmente, site
institucional); E assim como todo fundo assessorado por doadores, ele pode oferecer
privacidade aos seus clientes que não queiram tornar públicas as suas doações. O fundo
já teria contribuído com doações para a Heritage Foundation, uma das think tank
partners da Atlas Network; além da Americans for Tax Reform (ATR), um grupo cujo o
objetivo é “um sistema em que os impostos são mais simples, mais planos, mais visíveis
e mais baixos do que são hoje” (Citar de onde retirou a informação, preferencialmente,
site institucional); também temos a contribuição para a The Federalist Society for Law
and Public Policy Studies ou simplesmente Federalist Society além da National Rifle
Association (NRA) e a Cato Institute, mais uma think tank libertária.

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CONVEM DESENVOLVER UMA TABELA COM AS DATAS DE
FUNDAÇÃO, O ANO E PAÍS DE CADA UMA DAS THINK TANKS E
INSTITUTOS CITADOS NO CAPÍTULO, VISTO QUE ISSO MELHORARIA A
DÍNAMICA DO TEXTO.

***

Direito de defesa

As publicações do jornalista norte-americano Lee Fang repercutiram entre


alguns veículos de informação midiáticos que negaram os fatos apresentados. Afim
representar a realidade de forma mais fidedigna possível, pretendo colocar como
contraponto as críticas realizadas pelo website boletimdaliberdade.com.br, cujo tem
como editores Gabriel Menegale (Jornalista registrado sob o nº 0039281/RJ – Graduado
em Comunicação Social e Publicidade e Propaganda pelo Ibmec/RJ, conselheiro-
executivo do Estudantes pela Liberdade e analista de marketing do Instituto Liberal ) e
Lucas Berlanza (Graduado em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense –
UFRJ, colunista do Instituto Liberal, onde também é assessor de imprensa). Eles
compilaram as respostas dadas pelas think tanks brasileiras, as acusações do jornalista
Lee Fang, da qual vale destacar a resposta dos Estudantes Pela Liberdade (EPL):

“Funcionários de organizações como [a] Atlas e o EPL vivem de exagerar o


próprio impacto com histórias mirabolantes. Arrotar influência é conquistar doadores.
Um bom jornalista deveria ter esse ceticismo”, criticou Pedro Menezes, ex-conselheiro
executivo do Estudantes Pela Liberdade. (FONTE, ANO)

E também argumenta que think tanks alinhados ao pensamento das esquerdas,


como a “Agência Pública” e o próprio canal de jornalismo investigativo “The Intercept”
também recebem recursos estrangeiros:

“A Agência Pública é financiada pela Família Ford e George Soros – zero


conspiração, está no site deles. O The Intercept é financiado pelo dono do eBay.”

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Tópico a ser desenvolvido.

Desenvolvimento teórico, Liberais, Libertários e Neoconservadores

“Vivemos em uma época em que temos resultados fictícios de eleições que


elegeram um presidente fictício. Vivemos em um tempo em que um homem nos está
mandando para a guerra por motivos fictícios. (…) Nós somos contra esta guerra,
senhor Bush. Que vergonha, senhor Bush.” – Michael Moore em 23 de Março de 2003.

E com esse discurso que o diretor Michael Moore recebeu o prêmio de melhor
Documentário em Longa-metragem da 75ª cerimônia de premiação do Óscar, pelo seu
trabalho em Bowling for Columbine (Tiros em Columbine). O aclamado diretor foi
recebido por aplausos e vaias devido ao seu enfrentamento com o então presidente dos
Estados Unidos da América, George W. Bush, que tinha acabado de iniciar uma
investida militar contra o Iraque no dia 20 de março de 2003.

14
Bibliografia:

TEIXEIRA, Tatiane. Os Think tanks e sua influência na política externa dos


EUA. Rio de Janeiro: UFF, Revan, 2007

SILVEIRA, Luciana. Fabricação de ideias, produção de consenso: estudo de


caso do Instituto Millenium. Campinas: Unicamp, 2013

SMITH J, THOMPSON S, LEE K. The Atlas Network: a “strategic ally” of the


tobacco industry. The International Journal of Health Planning ands
Management/ Volume 32, Issue 4.

BARBOSA, Jefferson Rodrigues. “Movimento Brasil Livre (MBL)” e


“Estudantes Pela Liberdade (EPL)”: Ativismo Político, Think Tanks e protestos
da direita no Brasil contemporâneo. 41º Encontro Anual da ANPOCS, GT 11 –
Entre as Ruas e os Gabinetes: Institucionalização e contestação nos movimentos
sociais. Caxambu, Minas Gerais, 23 a 27 de outubro de 2017.

BARBOSA, Jefferson R.; PATSCHIKI, L; SMANIOTTO, M. A. (2016)


Tempos
Conservadores: estudos críticos sobre a direita. Goiás: Gárgula Editorial (UFG).

CASTELLS, Manuel. Redes de Indignação e esperança – Movimentos Sociais


na Internet. Editora Zahar.

BAGGIO, Kátia Gerab. Conexões ultraliberais nas Américas: o think tank norte-
americano Atlas Network e suas vinculações com organizações latino-
amercianas. Anais do XII Encontro Internacional da ANPHLAC, 2016 – Campo
Grande – MS, ISBN: 978-66056-02-0.

15
ARROJA, Pedro. Cataláxia – Crônicas de Economia Política: 25 anos depois.
Vida Economica Editorial, 2018.

Websites visitados:

https://www.atlasnetwork.org/
https://www.atlasnetwork.org/partners/global-directory/latin-america-and-
caribbean/brazil

https://www.atlasnetwork.org/about/our-story

https://www.atlasnetwork.org/news/article/atlas-network-salutes-departing-
pres.-alex-chafuen-as-he-transitions-to-new

https://theintercept.com/2017/08/11/esfera-de-influencia-como-os-libertarios-
americanos-estao-reinventando-a-politica-latino-americana/

http://www.scaife.com/sarah.html

http://www.scaife.com/alleghen.html

http://www.scaife.com/carthage.html

https://www.boletimdaliberdade.com.br/quemsomos/

https://www.boletimdaliberdade.com.br/2017/08/12/reportagem-da-the-
intercept-tenta-desqualificar-movimento-liberal/

https://www.motherjones.com/politics/2005/05/put-tiger-your-think-tank/

https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/hpm.2351

16
https://theintercept.com/2017/08/09/atlas-network-alejandro-chafuen-libertarian-
think-tank-latin-america-brazil/?comments=1#comments

http://alumni.gcc.edu/s/1472/17/interior.aspx?
sid=1472&gid=1&pgid=252&cid=2293&ecid=2293&crid=0&calpgid=61&calci
d=1253

https://fee.org/articles/war-without-end/

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