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AULA 4 – DIREITO DOS PACIENTES E PREVENÇÃO DE LITÍGIOS

OSVALDO SIMONELLI

Código de Ética Médica:

Resolução CFM 2217/18 – decorre da Lei nº 3268/57 que cria os Conselhos de Medicina
(autarquia federal), que fiscaliza, julgadores, disciplinadores da profissão médica em todo
território nacional – trabalha e zela pelo perfeito desempeno ético da medicina – o código de
ética médica não é lei, mas tem força de lei para a classe médica, norma cogente/obrigatória,
mas que não pode ultrapassar os limites impostos pela lei criadora;

Institui as normas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício de sua função,
assim como nas atividades relativas a ensino, pesquisa, e administração de serviços de saúde,
bem como em quaisquer outras que utilizem o conhecimento advindo do estudo da medicina
– em todos os ramos, aspectos e possibilidades, qualquer outra forma de relação entre
paciente-médico;

O código é separado em capítulos: (i) princípios fundamentais; (ii) normas diceológicas


(decorrente dos direitos dos médicos); (iii) normas deontológicas (obrigações médicas); (iv)
disposições gerais;

A primeira edição oficial foi em 1988, mas antes existiram ouras 6 (Código de Moral
Médica (1929); Código de Deontologia Médica (1931); Código de Deontologia Médica (1945);
Código de Ética da Associação Médica Brasileira (1953); Código de Ética Médica (1965); Código
Brasileiro de Deontologia Médica (1984)) – após, veio o de 1988, sendo editado em 2009 e, por
último, o vigente, é o de 2018;

Uma das grandes mudanças do de 88 pro de 2009 é que antes os princípios se


misturavam com as normas deontológicas, mas a punição por um principio é ruim, então foi
separado – melhorou, pois o medico passou a ser punido pelas normas e não pelos princípios
fundamentais;

Os princípios fundamentais são essa busca do perfeito desempenho ético do exercício


da medicina – o principio II diz que o objetivo de toda atitude médica é a busca pela saúde do
ser humano, agindo com máximo de zelo e dando o máximo da sua capacidade profissional – o
médico sempre tem que buscar a saúde do paciente;
Busca-se uma horizontalização da relação paciente-médico, trazendo os dois pro mesmo
patamar – o foco é a saída da verticalização que coloca o médico a cima do paciente, sem
imposição, autoritarismo e paternalismo – mas é muito difícil que seja totalmente horizontal,
pois o médico vai sempre saber mais sobre o assunto tratado, maior conhecimento técnico –
no final, o que se busca mesmo é uma maior participação do paciente nas decisões tomadas,
sem tanto autoritarismo médico, sendo transparente, dando acesso à informação, acesso ao
prognostico e terapêutica;

O médico está em volto de várias relações jurídicas, entrando o direito médico para
ajudar, pois uma ação profissional se relaciona com: Responsabilidade Civil; Responsabilidade
Penal; Responsabilidade Administrativa (ético profissional e disciplinar funcional); Documentos
Médicos (atestados, relatórios, laudos, prontuários, termos de consentimento, diretivas
antecipadas de vontade); Contratos com Planos de Saúde, Hospitais, PJ... – tudo isso traz uma
série de obrigações para o médico na relação paciente-médico, assim como uma serie de
direitos para o pacientes – a maioria das relações jurídicas que acontecem entre médicos e
pacientes são extracontratuais, sem contrato firmado entre as partes, normalmente se dando
por intermediários, como hospitais, planos de saúde...;

Relação paciente-médico:

Capitulo V CEM traz as normas proibitivas: são normas que impedem o médico na ação
de certas situações, como “é vedado ao médico deixar de usar todos os meios disponíveis de e
promoção de saúde e de prevenção [...] cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em
favor do paciente” – por mais que seja uma norma proibitiva, ainda se mantem como um
direito do paciente, sendo direito dele todo isso – o paciente não tem, necessariamente, o
direito de ter todos os exames que quiser, pois depende do médico, com seu conhecimento
técnico, prescrever os exames necessários;

O ato médico se resumia na relação entre uma confiança (a do cliente) e uma


consciência (a do médico) – Miguel Reale;

A arte da medicina está em observar. Curar algumas vezes, aliviar muitas vezes, consolar
sempre – Hipócrates;

Medicina não é atividade de resultado, mas de meio – A obrigação do médico não é


curar, mas observar o paciente e tentar trazer a ele o melhor tratamento e, talvez, a cura –
confortar, escutar, olhar e tocar, essas são as obrigações do médico que traz o CFM:
4 princípios da relação paciente-médico estabelecidos pelo Osvaldo Simonelli:

Para ele, o estudo do direito médico pode ser separado em três eixos: responsabilidade
profissional, ética e bioética, sistema de saúde brasileiro – todos com vários subeixos;

Principio da reciprocidade: reciproco é o que se realiza ao mesmo tempo, em


retribuição, algo mutuo entre duas pessoas ou duas coisas – na relação paciente-médico é
baseada numa troca constante que se inicia no primeiro contato, com o olhar do médico e seu
tom de voz pode decidir essa relação, o paciente é a mesma coisa, já que precisa se sentir
confortável, relevante e ouvido ao entrar, dependendo das atitudes do médico – o médico tem
que entender que não é confortável para o paciente abrir sobre sua intimidade,
principalmente pra alguém que acabou de conhecer – o médico tem que fazer o paciente
entender que ali é uma troca, não pode ninguém ficar acuado;

Principio da confiança: a confiança é a base da relação humana desde os primórdios pra


todas as áreas de socialização, não só na relação médica – o paciente deve confiar em seu
médico como um fiel confia no ente religioso dentro do confessionário – sem a confiança não
da pra prosseguir com a relação – o diálogo ainda é a melhor forma, indiretamente, de
proteger o profissional da saúde, deixando-o tranquilo pra exercer sua profissão – o
prontuário, por exemplo, é a melhor forma de defesa do médico, além de ser o melhor
instrumento de zelo pela saúde do paciente, fazendo com que o paciente possa ter seu
histórico de saúde muito bem detalhado pra quando precisar e indiretamente vai ser a melhor
defesa do médico, ou seja, ele á a melhor forma de proteger o paciente – a verdadeira melhor
defesa do médico é a boa relação paciente-médico, pois assim o litigio futuro nem existirá –
quando o paciente não confia no profissional, a chance de existir litigio é muito maior – a
confiança é fundamental, mas ela surge da reciprocidade;

Principio da autoridade: não tem relação nenhuma com o autoritarismo médico, que
neste caso, vai se mostrar quando agindo com reciprocidade, mostrar confiança para o
paciente e que assim poderá demonstrar que tem conhecimento ao respeito do tema – a
busca de soluções pela internet é normal em todas as áreas profissionais, não se deixando
abalar pela pesquisa, mas mostrando seu conhecimento em cima desta situação;

Principio da ética: não é apenas aquela no CEM, mas a de seres humanos entre si, boas
relações humanas, de consciência quanto ao o que é moralmente certo e errado, mantendo a
confiança – pode não ser ilegal, mas imoral e antiético – assim como o paciente não pode ir até
o médico procurando um proveito, como um atestado para não ir trabalhar, o médico também
não pode fazer uma solicitação indevida, como alguma vantagem que possa tentar oferecer,
além de ser crime é antiético – o médico pode recusar ao tratamento, mas sem que a atitude
parta de uma negativa de algo imoral;

5 diretrizes jurídicas que norteiam a relação paciente-médico:

Direito à Informação: oposto à negligencia informacional, que é a falta de repassar as


informações – o direito à informação é muito amplo e subjetivo, mas trata das informações
principais que o paciente precisa saber sobre sua saúde – informação sobre o que envolve o
seu tratamento;

Direito ao sigilo profissional;

Direito ao livre exercício de sua Autonomia: o paciente tem direitos de escolhas dentro
da relação, tendo o direito de exercer e praticar aquilo que ele entende como sendo melhor
para sua vida e a condução do seu estado de saúde – também se aplica ao médico, por
exemplo quando ele se sente pressionado e perde autonomia;

Direito a um tratamento digno e respeitoso: médico e paciente têm esse direito;

Direito de encerrar a relação quando não mais houver confiança: fala-se também sobre
a decisão tanto do médico quanto do paciente;

Lei Mário Covas – LEI Nº10.241, DE 17 DE MARÇO DE 1999;

Em situações de emergência todas essas situações são relativizadas, então, isto se aplica
apenas quando o paciente tem consciência plena;
Código de Defesa do Consumidor:

A existência dessa relação no CDC não deve prejudicara a relação paciente-médico;

O art. 3º coloca o médico como fornecedor- o §2º afasta a incidência do CDC aos
hospitais públicos, pois coloca o serviço sempre mediante remuneração, o que não é o caso
dos serviços públicos, tem lei querendo mudar o paragrafo para que passe a se encaixar;

O paciente é consumidor, trazendo umas confusões em relação a algumas áreas


médicas, como a de embelezamento, podendo gerar propaganda enganosa, promessa de
resultado... – o resultado não satisfatório não corresponde, necessariamente a um erro
médico;

O art. 6º elenca os direitos básicos dos consumidores e no inciso VIII diz sobre a
facilidade do consumidor na defesa dos direitos, gerando a inversão do ônus da prova;

O art. 14 fala sobre os deveres do fornecedor e no §4º coloca a responsabilidade


subjetiva aos profissionais liberais, como os médicos – o paciente tem a hipossuficiência ao seu
favor, mas é a hipossuficiência técnica, claro;

O art. 39 veda praticas abusivas ou enganosas prevalecendo-se da ignorância, em


decorrência do que for, para vender seus serviços, como os médicos em consultórios que
tentam induzir o paciente a usar produtos ou procedimentos – no VI ele fala que não pode
executar serviços sem antes falar seu preço e autorização expressa do consumidor – não e
aplica em momentos de urgências e emergências, por exemplo, quando o paciente está
desacordado e sem representantes;

Contudo, o CEM traz, no capitulo I, dos princípios fundamentais, tópico XX, que “A
natureza personalíssima da atuação profissional do médico não caracteriza relação de
consumo” – causou um reboliço – mas considera-se que o princípio é uma máxima a ser
alcançada, não necessariamente se aplicando na prática, pois entende-se que o CEM discorre
apenas sobre a não mercantilização da relação, apenas, se aplicando no ponto de vista ético-
profissional;

Direitos básicos do paciente:

Sem afastar o todo já exposto: Atendimento em casos de urgência e emergência –


Direito à identificação pessoal – Direito à informação: diagnóstico, prognóstico e possibilidades
terapêuticas – Direito à Recusa Terapêutica (Res. CFM 2232/19) – Direito a uma segunda
opinião – Direito a acompanhante: Adolescentes até 18 anos e idosos acima de 60 anos tem
direito a um acompanhante, nos casos de internação e consultas – Direito de optar pelo local
de morte – Direito à informação e direito à não informação – Direito ao seu prontuário;

Quem busca o tempo todo doenças no google são chamados de “cibercondríacos” ao se


consultarem com o “Dr. Google”, por exemplo;

O whatsapp pode ser uma ferramenta na relação paciente-médico, mas não pode haver
exposição da imagem, exposição de aspectos sigilosos da relação – pode ser usado entre os
próprios médicos, desde que seja respaldado sigilo, podendo, claro, ter a discussão de casos –
ainda os grupos dentro dos ambientes hospitalares e departamento de especialidade – não é
direito do paciente ter acesso ao whatsapp do médico, é direito do médico decidir sobre;
Direito ao sigilo profissional: “Sobre aquilo que vir ou ouvir respeitante à vida dos
doentes, no exercício da minha profissão ou fora dela, e que não convenha que seja divulgado,
guardarei silêncio como um segredo religioso” – assim como o advogado, o médico possui a
mesma prerrogativa;

Enquanto não tiver lei formal específica, é direito do paciente ter o sigilo resguardado e
protegido pelo profissional que ele confiou para entregar sua intimidade;

É direito assegurado pelo Conselho de Medicina de SP a possibilidade de gravação da


consulta – quanto a possibilidade de gravar a consulta:

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