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Serviços Públicos
Este é um serviço público. Eu estava trabalhando num processo que era uma ação de
cobrança do Correio-Sedex move contra o DETRAN por serviços prestados para ele (serviço de
malote de entrega de correspondência e uma série de outros serviços que os Correios prestam
para a coletividade). A ação movida pelos Correios-Sedex está cobrando faturas que o DETRAN
não teria pago. O dinheiro da ação não é importante. O importante é saber qual é a primeira linha
de argumentação dos Correios?
“Eu presto serviço público, eu tenho natureza de gente pública, por tanto eu não vou pagar custo,
estou isenta de custos”. Essa foi a primeira argumentação deles dirigida pro juiz federal : “Eu não
tenho que pagar custos porque o Supremo diz que eu sou uma empresa de serviço público e que
meu regime é um regime análogo ao regime das pessoas jurídicas de direito público”.
Entretanto, sabem o que o juiz disse? Nem todos os serviços que você (os Correios)
presta são considerados serviços públicos. Existem serviços que vocês prestam em regime de
competição contra serviços privados. Dentre vários contratos que ela está cobrando do DETRAN,
alguns são serviços diferenciados.
O juiz disse assim: “Aquela decisão do Supremo não vale para todos os serviços que
vocês prestam”. A leitura que o juiz fez foi extremamente correta.
Voltando a serviços públicos:
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Art. 21. Compete à União:
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a
criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de
água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras
nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do
Distrito Federal e dos Territórios;
Enfim, aqui pelo artigo 21, verificamos vários serviços públicos que são de titularidade da
União. No artigo 25, parágrafo segundo, diz que cabe aos estados explorar diretamente ou
mediante concessão os serviços locais de gás canalizado na forma da lei. O gás canalizado é um
serviço público estadual que a Constituição diz que é.
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de
gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua
regulamentação.
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Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas,
aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios
limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de
interesse comum.
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de
concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.
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Por exemplo, ECT não é titular do serviço. Quem é? É a União. A ECT é a delegatária.
Tem autorização pra prestar o serviço por delegação. É uma empresa que o poder público criou
para prestação deste serviço. Foi criada pelas formas de administração indireta. Mas ela segue o
regime de delegação legal. Não é normalmente como nos dias de hoje que é por regime de
delegação contratual ou de permissão. Ela é delegatária. É uma empresa pública que tem a
delegação. O serviço não é da ECT. Ela não é titular do serviço. Quando a Telerj e a Embratel
eram entes da administração indireta também eram delegatárias. O titular do serviço é a União. O
ente que é dono do serviço é a União.
Mesmo quando o serviço é prestado por um ente da administração indireta, a titularidade
pertence a União, estado ou município. Pode ser prestado diretamente, como se fosse um hospital
público (se seguir a linha que saúde é serviço público). Saúde e educação são serviços públicos
quando prestados pelo poder público. Tem gente que sustenta isso. Saúde e educação são
serviços públicos quando prestado pelo poder público, mas quando prestado por particular não são
serviços públicos. Essa e uma discussão complicada hoje em dia.
Quando o poder público presta saúde por um hospital ela presta diretamente.
Eu estava olhando a lei que fala da ECT. Esse decreto dos anos 60 transforma o
departamento de correios e telégrafos em empresa. E antes de se ter prestado o serviço por
administração indireta, a União prestava esse serviço diretamente através do DCT (Departamento
Correios e Telégrafos). Esse próprio decreto fala que os carteiros não eram empregados como
hoje. Eles eram empregados da administração direta e ai a União fez uma disposição dos
funcionários da nova empresa. Eles não perderam o vínculo. Hoje em dia a contratação é pela
CLT. Os primeiros carteiros eram funcionários públicos. Hoje não.
Quem tem a competência para prestar e delegar serviços é o ente público. Existe conflito
justamente sobre a superposição ou dúvidas sobre a prestação do serviço.
Há muita discussão. Um cara dono da van teve ela apreendida pela PM e impetrou um
mandado de segurança contra a PM. O comandante da PM foi lá procurar e descobriu que a multa
tinha sido emitida pela SMTU e o dono da van alega que está regular. O objeto da multa era
transporte irregular de passageiros (transporte coletivo sem autorização) e ele alega que ele é
devidamente autorizado pelo DETRO. E foi multado pela SMTU. O que o DETRO pode autorizar
ele? Só para transporte de passageiros intermunicipal. Ele não poderia ter obtido do DETRO
transporte municipal. Fatalmente, o mandado de segurança não teve nenhuma chance. O
comandante geral da PM é parte ilegítima. Porque não foi ele que emitiu a multa. Não foi ele que
praticou o ato. O sujeito reclamou que a van dele foi apreendida e está num depósito municipal.
Quem exerceu o poder de polícia nesse caso foi a autoridade municipal e esta autoridade
municipal que deveria estar no plano passivo no mandando de segurança. O máximo que a PM fez
pode ter sido dar o auxilio devido a um convênio com as autoridades de trânsito.
O que interessa é o problema da competência em prestar o serviço. Se fatalmente o
veículo dele foi multado e apreendido, devem ter pego ele prestando serviço de passageiros
municipal. Como e que eles sabem se foi realmente feito? Eu não sei.
Eu já tive a oportunidade de ler as regulamentações do transporte alternativo. O fato é que
o transporte coletivo de passageiros é um serviço público e ai temos o problema regulado em três
níveis. Há pouco tempo foi colocado uma MP ou uma lei determinando gratuidade para idosos
acima de 60 anos em transporte interestadual que é só o que a União pode fazer. É o limite. Tem
uma série de ações de inconstitucionalidade devido a custeio. Isso é o limite da competência da
União que tem competência para regular transporte interestadual.
Outro problema são as Barcas e o Catamaran. São concessão Estadual porque ligam dois
municípios. É intermunicipal. A prefeitura argumenta com o estado que Barra da Tijuca x Praça 15
é da prefeitura. No início não tinha problema porque era uma empresa chamada CONERJ, pública.
Vamos falar de privatização: o nome que designa vários processos diferentes entre si. Com
a privatização da CONERJ que era empresa pública estadual que tinha a delegação da prestação
de serviço nas linhas pra Paquetá, Ilha do governador, Rio x Niterói e Ilha Grande. O governo
estadual vendeu o controle acionário da CONERJ. Vendeu uma empresa que era dele e que tinha
como patrimônio a concessão que ela tinha (fazia parte do ativo da empresa). Privatizou a empresa
e não o serviço. Assim foi feito com diversos casos de empresas estatais. Tínhamos, por exemplo,
a Telerj e Telerj Celular, e o governo federal (a Constituição diz que compete a União prestar o
serviço de telecomunicações). Então eram sociedades de economia mista com serviço federal.
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Quando entrou a ATL, com o sistema que o governo concebeu de organização do serviço
de telecomunicações, imaginou-se que ia licitar empresas espelho. Ou seja, a ATL é privatização?
Não, foi uma licitação feita para delegar o serviço, pra conceber uma nova concessionária de
empresa privada. Mas na verdade, são duas coisas radicalmente distintas. A primeira é que o
governo vendeu uma empresa que ele tinha e que integrava o patrimônio desta empresa o serviço
(a delegação que esta empresa já tinha). Outra, ele licitou para delegar a uma empresa nova.
Teoricamente, o metrô do RJ deveria ser serviço público municipal, no entanto o metro é
estadual. A linha 1 e 2 são estaduais. Por quê? Porque foi o estado que concedeu e delegou a
obra. Porque é estadual se pela lógica seria municipal? O serviço é municipal porque a prefeitura é
que está cuidando da linha 3 e da linha 4. Ela que esta licitando. Entretanto, na época que foi
construído, em 70, não existia autonomia municipal nas capitais. O estado que contratou
empréstimos e promoveu as desapropriações e a obra. Ficou como dono dos equipamentos. Foi
uma questão patrimonial.
A questão da titularidade do serviço é extremamente relevante. A prefeitura diz que se tiver
que conceder linha para a Barra da Tijuca ela quem tem que conceder e delegar. Por que os entes
públicos brigam? Porque se estabelecem taxas que os particulares têm que pagar ao ente público.
A briga é por dinheiro.
Segurança pública é um serviço público, mas é indelegável. Por quê? Isso não se
confunde com poder de polícia. Isso é um conceito diferente e é bastante importante manter isso
na cabeça. Por que não é possível delegar poder de polícia? Pro exercício de poder de polícia é
preciso usar a força. É preciso estar revestido das características de poder público, poder aplicar
multas, sanções, etc. Implica no exercício de função estatal, no papel do Estado que tem essas
características. Segurança pública também não é delegável pela mesma razão. Como, por
exemplo, a prestação jurisdicional é um serviço público, e são indelegáveis a um particular. Porque
depende que os agentes públicos estejam revestidos das características de poder público. São
atividades típicas estatais. O serviço diplomático também é. Quem tem o monopólio da força é o
Estado.
Entretanto, a segurança privada é possível e perfeitamente constitucional. A segurança
privada tem limites que são a proteção de pessoas e a propriedade privada. A segurança pública é
segurança ostensiva. A atividade de segurança em ruas (guaritas) é totalmente ilícita. A atividade
de segurança em bancos é licita.
O prédio público onde eu trabalhava queria colocar segurança, e esse prédio tinha serviço
de protocolo que dava pra rua e lojas que foram roubadas. Queriam colocar um segurança privado
para fazer a ronda em volta do prédio. Mas não podia? Só podia do prédio pra dentro. Foi então
colocada uma grade de proteção.
Fechar a rua é um problema já que a rua é um bem público e patrimônio público municipal.
Até pouco tempo atrás era ilícita a implementação dessas cancelas, entretanto o município editou
alguma medida que eu ainda não conheço totalmente as regulamentações. Mas sei que as ruas
que estão nas condições mínimas estão regulares, as outras não.
Voltando a segurança pública, o estado queria cobrar/taxar por segurança em eventos
(futebol, shows), porque a PM tinha que deslocar um grande contingente alegando que a PM
estava sendo deslocada para beneficiar os empresários (organizadores dos eventos). (a taxa,
como vocês sabem pode ser cobrada por prestação de serviço público ou exercício de poder de
policia). Foi julgada inconstitucional essa cobrança. Por quê? Porque é uma atividade típica do
Estado e não pode ser delegada e só pode ser recuperada pelo valor dos impostos. Não pode ser
remunerada por taxa. O imposto não é vinculado a determinada prestação como é na taxa e pode
ser distribuído para saúde e outros.
Concluindo. É um serviço genérico e quem está se beneficiando é a pessoa que esta
assistindo o show, etc.. e não os empresários. O problema surgiu devido ao “cobertor curto”.
Constatamos que o serviço de segurança pública não é remunerável diretamente. Ele é um serviço
geral. Ele não é divisível e específico de modo que você possa computar o que você poderia
cobrar, a taxa, por exemplo. O serviço de segurança pública não é auferível e não tem como saber
quanto cada um vai obter, por isso não é cobrável por taxa.
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