Você está na página 1de 165

NATAÇÃO

DESENVOLVIMENTO E ALTO RENDIMENTO


O TREINAMENTO DA RESISTÊNCIA
AERÓBIA E ANAERÓBIA
R139n Ramirez, Emerson Farto
Natação: desenvolvimento e alto rendimento - o
treinamento da resistência aeróbia e anaeróbia.
--/ Emerson Farto Ramirez; tradutor Rafael Edu-
ardo Garcia Marivil.-- Londrina : Sport Training,
2015.--155p. : il.--( Teoria e metodologia do trei-
namento desportivo ).

ISBN 978-85-63794-13-0

1.Natação. 2. Natação – Treinamento. I. Marivil, Rafael Eduardo Garcia,


trad. II. Série. III. Título.

Elaborada pela Bibliotecária Clarice Tsuruda Takehana – CRB-9/653


NATAÇÃO
DESENVOLVIMENTO E ALTO RENDIMENTO
O TREINAMENTO DA RESISTÊNCIA
AERÓBIA E ANAERÓBIA

1ª EDIÇÃO

Emerson Farto Ramirez


Doutor em Ciências da Atividade Física e do Esporte
(Universidade de Vigo – Espanha).
Mestre em Alto Rendimento Desportivo
(Comitê Olímpico Espanhol e Universidade Autônoma de Madrid).
Formador da Federação Internacional de Natação (FINA).
Docente da Universidade de Vigo (Espanha) e do Comitê Olímpico Brasileiro.
Assessor e formador de vários países da América Latina.
Ex-treinador da seleção espanhola de natação.
Autor de vários livros e artigos na área do rendimento esportivo.

2015
© Editora Sport Training

Capa e imagens:
Alane Calmon dos Santos
Felipe Makihara Zucon

Preparação do original:
Luiz Antonio de Oliveira Ramos Filho

Leitura final:
Nanci Glade Gomes
Luiz Antonio de Oliveira Ramos Filho

Supervisão editorial:
Danhara Glade Gomes

Supervisão final:
Antonio Carlos Gomes

Projeto e editoração:
Fernando Henrique de Valentin Aguiar

Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à


EDITORA SPORT TRAINING
Rua Pernambuco, n° 1187, sala n° 17, Centro.
86020-121 – Londrina, Paraná. Tel: (43) 3024-5654

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no


todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer
meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição
na Web e outros), sem permissão expressa da Editora.
6 Emerson Farto Ramirez

CONSELHO EDITORIAL
Os originais da presente obra foram submetidos à comissão consultiva editorial, tendo
sido aprovados pelos consultores ad hoc responsáveis, e recomendada a sua publicação
na forma atual.

COMISSÃO EDITORIAL
Prof. Dr. Abdallah Achour Junior (UEL)
Prof. Dr. Antonio Carlos da Silva (UNIFESP)
Prof. Dr. Antonio Carlos Gomes (CBAt)
Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes (UEL)
Prof. Dr. Edson Marcos de Godoy Palomares (Estácio de Sá)
Prof. Dr. Emerson Farto Ramirez (Universidade de Vigo – Espanha)
Prof. Dr. Enrico Fuini Puggina (USP)
Prof. Dr. Hélcio Rossi Gonçalves (UEL)
Prof. Dr. Hugo Tourinho Filho (USP)
Prof. Dr. João Paulo Borin (UNICAMP)
Profa. Dra. Ligia Andréa Pereira Gonçalves (UNIPAR)
Prof. Dr. Paulo Cesar Montagner (UNICAMP)
Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira (UNICAMP)
Profa. Dra. Rosângela Marques Busto (UEL)
Prof. Dr. Sérgio Gregório da Silva (UFPR)
Prof. Dr. Tácito Pessoa de Souza Júnior (UFPR)
Prof. Dr. Valdomiro de Oliveira (UFPR)
Prof. Dr. Wagner de Campos (UFPR)
Prof. Me. Clovis Alberto Franciscon (CBAt)
Prof. Me. Pedro Lanaro Filho (UEL)
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais (Valentin e Emília), que trabalhado comigo em todos estes anos.
me deram apoio em todos os momentos A todos os treinadores e docentes que
desde o começo da minha carreira. São tem compartilhado comigo horas de traba-
meus maiores ídolos. lho tanto nas piscinas, em competições e
Meu irmão (Roberto), que sempre me treinamentos, assim como nas pesquisas
incentivou, principalmente nos momentos para o desenvolvimento da natação.
difíceis. Minha irmã (Marisol), que desde Enfim, a todos eles que foram os pilares
longa data me motiva e me dá os melhores da minha vida e onde tive a enorme sorte
conselhos. de poder fazer parte desta maravilhosa
A todos os nadadores que têm família.
APRESENTAÇÃO
Emerson Farto Ramirez

Neste livro, oferecemos aos treinadores fazendo; precisamos controlar a eficiência


que trabalham com as categorias de desen- de braçada em todas as zonas de inten-
volvimento da natação, conhecimentos sidade de trabalho, sendo que a realização
teóricos, científicos e práticos para o desen- das viradas e chegadas também são
volvimento das sessões de treinamen- fundamentais no desenvolvimento dos
to. São tratados aspectos da fisiologia, nadadores.
passando pela metodologia do treinamen- Na preparação da resistência aeróbia
to em todas as zonas aeróbias, sobretudo e anaeróbia os nadadores a longo prazo
no desenvolvimento do volume máximo buscam alguns dos seguintes objetivos:
de oxigênio. Também são propostas difer-
entes metodologias do treinamento anaer- • Manter uma determinada velocidade
óbio lático, assim como uma progressão durante o maior tempo possível (em
do trabalho nas diferentes categorias da todas as provas da natação);
natação. • Aumentar a capacidade de suportar as
Não podemos deixar de dizer que nessas cargas de treinamento ou competições;
idades, o conteúdo da preparação física e o • Recuperar-se rapidamente entre
trabalho técnico são fundamentais para que as fases de esforço (no treinamento e
esses atletas possam ter um trabalho de competições);
resistência mais efetivo e econômico. Com • Estabilização da técnica esportiva e
isso, não devemos esquecer o processo de da capacidade de concentração.
aprendizagem em todas as suas etapas. O
professor não pode pedir ao nadador que Espero que depois de realizar a leitura
realize uma determinada série de exercícios desse livro, vocês possam estruturar seus
em qualquer zona de intensidade fisiológica programas de treinamentos de maneira
se o mesmo não tem todas as habilidades mais efetiva e específica cumprindo com
básicas assimiladas, já que esse aspecto os objetivos propostos do treino. O pior
pode prejudicar a sua coordenação, respi- erro que um técnico pode cometer é trein-
ração, posição do corpo e etc. ar sistematicamente o seu atleta em uma
Devemos ensinar aos nossos área funcional que não corresponde a sua
nadadores a contar o número de braça- especialidade, muito cuidado e muitos
das, estar concentrados no que estão êxitos a todos.
PREFÁCIO
Alberto Klar*

Quando fui convidado a escrever este A cada vez que conversamos, tenho a
prefácio, remeti meus pensamentos há certeza de ter em minha frente um profis-
tempos atrás quando conheci Emerson. sional capaz de se adaptar as novidades
Oriundo das Faculdades Integradas de tecnológicas bem como auxiliar com
Guarulhos (FIG) e pós-graduado na FMU, seus métodos e ferramentas professores,
tinha um acervo de ideias e pensamentos treinadores, etc., a construir através de
que fugiam a nossa realidade. Assisti aos bases científicas, treinos de resistência
antigos vídeos que produziu e que naque- aeróbia e anaeróbia capazes de evoluir um
la época já mostrava a modernidade de nadador desde as idades menores até a
sua linha de pensamento. alta qualidade de performance.
O tempo foi passando e o mestrado e Convido a todos os leitores a uma
doutorado vieram na Espanha (país de reflexão profissional sobre o conteúdo a
origem de seus familiares). Seus conhe- ser mostrado e uma análise detalhada em
cimentos foram se aprofundando no trein- cada item abordado a fim de poder com as
amento e com ele conceitos que amadu- informações adquiridas, formar um plano
receram através de seus contatos com de trabalho único, com sua própria person-
grandes autoridades mundiais no assunto. alidade e que relate a fiel concepção de
Hoje, tem sua própria linha de pensa- seus problemas e soluções, de como
mento e desenvolvimento singular de adaptar a teoria no seu dia a dia e mais
um programa que possa levar ao leitor, do que isto, programar o seu modo de ver
as informações para um planejamen- das ideias construídas através de um rol
to seguro e uma periodização capaz de de literaturas que jamais oferecerão todas
incrementar o sucesso de uma equipe de as soluções, pois no livro da vida o grande
natação. autor é você.

Saudações aquáticas.

*Professor titular de Atividades Aquáticas nas Faculdades


Metropolitanas Unidas (FMU) e Coordenador do curso de
Pós-Graduação em Atividades Aquáticas na FMU (Brasil)
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 13

1. O CONCEITO DA RESISTÊNCIA....................................................................... 15
2. O TREINAMENTO DA RESISTÊNCIA AERÓBIA EM JOVENS......................... 18
3. MECANISMOS FISIOLÓGICOS QUE AFETAM A
CAPACIDADE AERÓBIA........................................................................................ 21
4. O TREINAMENTO ANAERÓBIO EM JOVENS.................................................. 26
5. CLASSIFICAÇÃO DA RESISTÊNCIA
SEGUNDO O CRITÉRIO DE OBSERVAÇÃO......................................................... 35
Tipos de resistência com relação ao volume de musculatura
envolvida.............................................................................................................. 35
Tipos de resistência e a forma de obtenção de energia.................................. 35
Tipos de resistência com relação à forma de intervenção
com outras capacidades físicas....................................................................... 37
Tipos de resistência em relação às capacidades biomotoras
e os objetivos fisiológicos do treinamento da resistência............................. 39
Tipos de resistência em relação ao tempo de duração do nado.................... 41
Resistência de curta duração............................................................................. 41
Resistência de média duração........................................................................... 43
Resistência de longa duração I.......................................................................... 45
Resistência de longa duração II......................................................................... 46
Resistência de longa duração III........................................................................ 47
Desenvolvimento e Alto Rendimento 11

Tipos de resistência em relação à especificidade da


modalidade esportiva......................................................................................... 48
6. METODOLOGIA DO TREINAMENTO DA RESISTÊNCIA................................. 51
Como estimamos as intensidades do treinamento......................................... 52
Determinação da frequência cardíaca máxima................................................ 53
Categorização do treinamento........................................................................... 55
Método TRIMP................................................................................................... 58
Limiar aeróbio e anaeróbio................................................................................ 59
Consumo máximo de oxigênio.......................................................................... 62
Treinamento da resistência aeróbia.................................................................. 67
Treinamento aeróbio de baixa intensidade........................................................ 68
Método contínuo uniforme............................................................................... 70
Método contínuo uniforme extensivo........................................................... 70
Método intervalado.......................................................................................... 71
Método intervalado extensivo...................................................................... 73
Treinamento aeróbio de moderada intensidade................................................. 78
Método contínuo intensivo............................................................................... 80
Método contínuo variável I........................................................................... 81
Método intervalado extensivo............................................................................ 82
Treinamento aeróbio de alta intensidade............................................................... 93
Velocidade crítica............................................................................................. 94
Método contínuo variável II.............................................................................. 108
Método intervalado intensivo de distância curta.............................................. 109
Treinamento intermitente de longa duração e intensidade elevada................. 109
Método de repetições com distâncias longas.................................................. 111
Método de séries longas.................................................................................. 114
Treinamento intermitente.................................................................................. 115
Combinações de treinamento entre as 3 zonas de intensidades aeróbias........ 122
Treinamento da resistência anaeróbia.............................................................. 123
Treinamento da capacidade lática..................................................................... 131
Repetições de distâncias médias.................................................................... 131
12 Emerson Farto Ramirez

Método de séries médias................................................................................ 132


Treinamento da potência lática.......................................................................... 132
Repetições de distâncias curtas...................................................................... 133
Tabelas de tempos parciais e suas aplicações............................................... 135
Treinamento de pernas....................................................................................... 144
Trabalho de recuperação de pernas.................................................................. 153

Considerações Finais......................................................................................... 154

REFERÊNCIAS................................................................................................... 155
Desenvolvimento e Alto Rendimento 13

INTRODUÇÃO

O estudo do desenvolvimento das A postura deve ser de precaução, mas sem


capacidades esportivas tem chamado impor-lhe limites em cada etapa do desen-
à atenção de muitos pesquisadores do volvimento, a qual deverá ser adaptada
esporte e especialistas em metodolo- às possibilidades de rendimento segundo
gia do treinamento, principalmente nos a idade biológica e maturação do jovem
últimos 20 anos. Todavia, os resultados atleta.
são contraditórios, principalmente devido A pedagogia do esporte visa o alto
às diferentes épocas em que foram feitos rendimento. Contudo, devido às partic-
os estudos. ularidades do desenvolvimento motor
Na opinião de Navarro (2000), se dos jovens atletas, leva em consideração
considerarmos que os jovens de hoje alguns objetivos específicos que deter-
treinam de forma semelhante aos adultos minam o direcionamento da preparação
de 20 anos atrás, superando inclusive esportiva nessas etapas.
resultados em algumas modalidades de Na natação, o fator principal para garan-
atletas campeões de 10 anos atrás, torna- tir um alto nível na capacidade de trabalho
se evidente que devemos interpretar com é a resistência. O desenvolvimento da
certa cautela determinadas pesquisas em resistência compreende: o aumento da
que a amostra raramente representa a produtividade dos sistemas cardiovascular
realidade atual do esporte em questão. e respiratório; potência, volume e eficiên-
O treinamento em jovens é sempre cia dos mecanismos de abastecimento
possível e aconselhável, desde que se energético (aeróbio, anaeróbio glicolítico,
ajuste às possibilidades e limitações de anaeróbio alático) e manutenção da eficiên-
cada sexo e idade. Como premissa básica, cia mecânica e potência dos movimentos
o treinamento do jovem nadador deve quando ocorre o aumento da fadiga.
permitir um desenvolvimento regular e No metabolismo aeróbio, 90% das
correto, prevenindo transtornos ortopédi- diferenças no volume máximo de oxigê-
cos devido à má postura ou ao enfraqueci- nio (VO2máx) são de origem genética e
mento de determinado grupo muscular. apenas 10% são atribuídos ao treinamen-
Por outro lado, o treino deve prepará-lo to (Pérez et al., 2001). Segundo os dados
para o máximo rendimento a longo prazo. de Kobayashi et al. (1978), as crianças
14 Emerson Farto Ramirez

atingem os maiores efeitos do treinamento • Manter uma determinada velocidade


um ano após o crescimento máximo de sua durante o maior tempo possível (em
estatura. todas as provas da natação);
É necessário conhecer o próprio • Aumentar a capacidade de suportar
conceito, suas diferentes manifestações, as cargas dos treinamentos e competi-
as bases fisiológicas que as sustentam e ções;
os efeitos de adaptação que são produzi- • Recuperação rápida entre os interva-
dos pelo organismo através de cargas de los do esforço físico (em treinamento e
resistência. O aumento da resistência na competição);
natação de alto rendimento busca atingir • Estabilização da técnica esportiva e
as seguintes finalidades: da capacidade de concentração.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 15

1
O CONCEITO DA RESISTÊNCIA

O conceito de resistênciasde os 20 de forma eficiente, a capacidade de


segundos até 6 horas oé equivalente a utilizar economicamente os potenciais
nadar provas desde 50 metros até 25 km. funcionais, o estado psicológico quando
O principal fator limitante e ao mesmo se executa o trabalho, etc.
tempo o que afeta o rendimento de um Na natação, a resistência é a qualida-
esportista é a fadiga. de física que permite ao nadador manter
A aquisição da resistência ideal depen- uma velocidade de nado. Na Tabela 1
de de muitos fatores, tais como: a veloci- podemos ver algumas definições de
dade, a força muscular, as capacidades diferentes autores acerca da resistência.
técnicas de execução de um movimento Quando se fala de resistência,
16 Emerson Farto Ramirez

geralmente entende-se que compreendem I. Como característica relacionada


distâncias como 400, 800, 1500 metros ao esporte ou à modalidade;
ou distâncias em águas abertas (5, 10 e II. Como adaptação às condições de
25km). Entretanto, não devemos esque- carga própria da competição.
cer que a resistência é uma qualidade que
os nadadores de 50, 100 e 200 metros Na estrutura de base, a natação enqua-
também devem desenvolver (Rodriguez, dra-se na resistência de base II, emprega-
2000). da fundamentalmente em esportes que
Uma vez que a energia para nadar uma demandam tal aptidão, visando à adapta-
distância de 4 minutos ou mais distante ção geral do organismo aos esforços
(400m em diante) previne a oxidação do específicos e objetivando estabelecer uma
“combustível” em nossos músculos, muitas base elevada inicial para o treinamento da
vezes identificamos a resistência como resistência específica. Além disso, foca
sendo a capacidade do nosso organismo em ativar novas reservas para possibilitar
para consumir oxigênio. maiores melhorias de rendimento.
Por outro lado, o nadador com um Por outro lado, a resistência especial
consumo de oxigênio maior, não é sempre é a capacidade para executar um traba-
o melhor nas provas longas. A resistência lho de forma efetiva. E com isso superar a
no nadador não só determina o consumo fadiga nas cargas condicionadas exigidas
de oxigênio (fator aeróbio), como também em competições de natação esportiva em
o funcionamento do sistema anaeróbio. distâncias curta, média ou longa (Platonov
Na literatura, faz-se uma distinção e Fessenko, 1994).
entre a resistência de base e a resistên- A estrutura do rendimento é um
cia específica, sendo que a primeira é parâmetro de referência para o treinamen-
compreendida como: to de alto nível, caracterizado pelo estado
de desenvolvimento das capacidades
• A capacidade de executar um tipo de físicas, técnicas e psicológicas determi-
atividade, independente do esporte, nantes para a utilização num período de
que exija a utilização de muitos grupos treinos que exigem o máximo rendimento
musculares e sistemas cardiovascular (Schnabel, 1981).
e respiratório durante um tempo prolon- O desenvolvimento das capacidades
gado. Afeta tanto o componente aeróbio motoras de resistência, velocidade e força
quanto o anaeróbio, com predomínio são necessários para atingir um rendimen-
do aeróbio; to específico numa atividade de curta ou
• A capacidade de realizar durante um média duração, ou até nos diferentes tipos
longo tempo qualquer atividade com de resistência de longa duração. Dessa
carga que exija o uso de muitos grupos maneira, uma menor duração do tempo
musculares e que mantenha uma ótima da competição, implica uma participação
relação com um rendimento específico. mais elevada da força para a potência de
Por outro lado, a resistência específi- impulsão e uma frequência de movimentos
ca pode igualmente ser vista sob duas mais vantajosa (Navarro, 1998).
diferentes perspectivas: O tema tem sido estudado por inúmeros
Desenvolvimento e Alto Rendimento 17

autores e as técnicas experimentadas de um movimento eficiente;


em múltiplas disciplinas com diferentes • Capacidade para utilizar economica-
métodos e aplicações. Para alcançar os mente os potenciais funcionais;
objetivos de treinamento de cada um dos • Estado psicológico ao executar o
tipos de resistência, é necessário conhecer trabalho.
as formas de treinamento e seus efeitos e,
com essas informações, aplicar, de forma Os fatores centrais, especialmente a
adequada a cada tipo de resistência. capacidade do coração de bombear, contri-
Procurando entender melhor as diferen- buem para manter os movimentos dos
tes possibilidades de treinamento da resis- braços e das pernas, repetidos e potentes,
tência, é necessário adotar uma classi- como exigem as provas curtas na natação.
ficação de métodos de treinamento que Existe igualmente uma necessidade de
permitam as possíveis variações existen- obter força psicológica para suportar a
tes. Dessa forma é possível suprir todas dor e o incômodo, obtendo-se assim uma
as necessidades de desenvolvimento dos maior vantagem sobre os oponentes em
possíveis fatores que podem influenciar competições.
nos tipos de manifestações de resistência. Da mesma forma, ocorre uma diminui-
O fator principal que favorece e ao ção do rendimento devido à fadiga nervo-
mesmo tempo, afeta o rendimento de um sa (mental, sensorial e emocional) ou à
nadador é a fadiga. A resistência depende fadiga física (motora ou coordenativa).
de muitos aspectos: Essas causas podem ser agrupadas em
esgotamento das reservas de energia,
• Velocidade; redução da oferta de energia (devido ao
• Força muscular; acúmulo de resíduos de produtos), fatores
• Capacidades técnicas de execução neuromusculares e psicológicos.
18 Emerson Farto Ramirez

2
O TREINAMENTO DA RESISTÊNCIA
AERÓBIA EM JOVENS

A idade também é um fator que influen- intensidade de exercício suficiente para


cia nos efeitos do treinamento de resistên- estimulá-las, a fim de ver melhorias no pico
cia, e nos adultos pode afetar ainda mais de VO2máx (Rowland, 2005). A frequência
negativamente no resultado. No entanto, é cardíaca mínima para garantir o efeito do
prematuro ainda afirmar que o nível ideal treinamento com relação à produtividade
pode ser atingido começando-se o treina- aeróbia nas crianças de 8 a 13 anos, é
mento mais cedo, já que os exemplos de de 155-150 pulsações por minuto (bpm).
alguns atletas de resistência como Keino, Com o passar dos anos a FC diminui, tanto
Viren, Elliot e Malinowski não treinaram trabalhando em nível de VO2máx, como
quando jovens e já alcançaram notáveis em nível de limiar anaeróbio (Bulgakova,
resultados em distância de resistência, 2000).
mostram o contrário. As pulsações de trabalho num nível de
As crianças não respondem fisiologica- limiar anaeróbio em crianças de 9 -10 anos,
mente da mesma maneira que os adultos é de 179 ± 3,2 bpm, já aos 12-14 anos =
(Tabela 2). 161 ± 5,7 bpm e aos 16-17 anos = 145 ±
As crianças, ao contrário dos adultos, 7 bpm. A maior diminuição etária de bpm
necessitam treinar um maior número de durante o trabalho submáximo ocorre entre
exercícios com aumento da intensidade, 11-13 anos de idade (Bulgakova, 2000).
a fim de aprimorar a capacidade aeróbia. A Tabela 3 apresenta o regime de
Normalmente a frequência cardíaca tem pulsações que caracterizam as diferentes
sido utilizada como um marcador da inten- cargas de orientação fisiológica (crianças e
sidade do treinamento e recomendando-se adolescentes de 9-15 anos de idade).
usar de 60-90% da frequência cardíaca Bar-Or (1983) acredita que o treina-
máxima (FCmáx), ou de 60% da FC de mento de resistência de orientação aeróbia
reserva (diferença entre FC em repouso e não aumenta o número, o tamanho,
máxima) para os adultos. nem a funcionalidade das mitocôndrias
Entretanto, o ritmo do coração não nas crianças pré-púberes. Entretanto,
parece ser um marcador eficaz nas puderam comprovar que realmente melho-
crianças, pois elas necessitam de uma rava a atividade enzimática oxidante,
Desenvolvimento e Alto Rendimento 19
20 Emerson Farto Ramirez

fundamentalmente a succinato desidroge- treinamento com crianças inferior a 10%.


nase, o citocromo oxidase e a palmitoil- A meta-análise de Payne et al. (1997),
CoA. Fato que permitia contrariar o efeito reuniu dados de 69 estudos para análise
anterior, visando melhorar o desempenho. (destes, 28 com a inclusão de vários crité-
Num estudo realizado por Eriksson rios) e produziu uma comparação trans-
(1973), foi descoberto que a atividade da versal entre os estudos das crianças, no
succinato desidrogenase (SHD), enzima entanto, sem informação com um desenho
oxidante, é maior no músculo esqueléti- pré-teste/pós-teste. A maior diferença entre
co das crianças de 11 anos, do que nos os participantes treinados e não treinados
adultos não treinados. Se passarmos a (tamanho do efeito (ES) de 0,94 ± 1,00)
uma análise do VO2máx em valores reati- pode-se observar uma pequena mudança
vos (ml/kg/min), podemos comprovar que: de 5% no pico de VO2máx (aproximada-
90% dos valores máximos são atingidos à mente 2 ml/kg/min).
idade de 5 anos, chegando a 100% entre Foram observados nos estudos de
os 8 a 10 anos (García Manso et al., 1996). pré/pós (ES 0,35 ± 0,82). Recentemente,
No caso das mulheres, depois da Baquet et al. (2003), verificaram que as
puberdade inicia-se uma lenta deteriora- melhorias no volume de oxigênio são por
ção de VO2máx reativo, o que parece não volta de 6,5% e podem ser observadas
se apresentar entre os homens desde as quando os dados são independentemente
primeiras idades. Contudo, não podemos analisados pelo sexo ou estado puberal.
esquecer que, após a puberdade, as Há autores que afirmam em seus
mulheres aumentam consideravelmente os estudos, a existência de mudanças signifi-
depósitos de gordura, por isso, se consi- cativas no pico de VO2máx e melhoras de
derarmos o VO2máx em relação à massa 10,8% (Baquet et al., 2003). De acordo com
muscular, comprovaremos que as diferen- os estudos anteriores, Rowland (2005),
ças em sua perda são significativas. recuperou uma série de pesquisas consi-
Os adultos jovens mostram normalmen- deradas como bem elaboradas, que resul-
te um aumento no consumo do VO2máx taram na melhoria da capacidade aeróbia
por volta de 15-20% (Bouchard et al., de crianças, de 10% no melhor dos casos,
1992), entretanto, pode-se ver reduzido no e de 5,8% na média global.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 21

3
MECANISMOS FISIOLÓGICOS QUE
AFETAM A CAPACIDADE AERÓBIA

As possíveis razões para a redução da (Rowland, 2005). Mero et al.(1990), medem


magnitude da resposta de treinamento das a testosterona sérica em repouso, antes,
crianças em comparação com os adultos durante e depois de um ano de treinamen-
seriam: to em crianças de 11 a 12 anos de idade.
As crianças participam em diferentes ativi-
dades como corridas de longa distância,
A) TESTOSTERONA CIRCULANTE corridas de velocidade, tênis e levantamen-
to de peso.
Os dados indicam que, em adultos, as Após o período de treinamento, a testos-
alterações das concentrações de hormô- terona presente foi quase três vezes maior,
nios como o GH, IGF-I, a testosterona e os em comparação ao grupo de crianças sem
estrogênios, são responsáveis pelos efeitos treinamento, e a média aproximada do nível
anabólicos com o exercício de treinamento. de testosterona foi duplicada após um ano.
Entretanto, não está clara qual a quantidade Com isso, concluiu-se que o aumento da
de hormônios e como é afetada a resistência condição física, do rendimento e da aptidão
das crianças através do treinamento. Essa é o resultado direto da formação induzida
informação, em grande parte, é extraída de pela testosterona, melhorada inclusive na
estudos com adultos e animais (Boisseau e puberdade precoce (Mero et al., 1990). Além
Delamarche, 2000). disso, já foi demonstrado que os níveis de
Parece que a concentração de testos- testosterona podem aumentar durante trein-
terona, contudo, evolui significativamente amento nos adultos, mas não em pessoas
com o crescimento das crianças, verifican- em idade pré-púbere (Fahey et al., 1979).
do-se aumento do VO2máx, do tamanho e
da força muscular. A diferença arterioveno-
sa de oxigênio máximo (A-VO2máx) está B) ALTERAÇÕES CARDÍACAS
relacionada ao aumento da testosterona na
puberdade. As características da resistência cardio-
Nessa etapa, melhora significativa- vascular nos esportistas jovens têm sido
mente a capacidade de treinamento aeróbio bem descritas. Esportistas mostram um
22 Emerson Farto Ramirez

VO2máx aproximadamente duas vezes essa explicação sendo a mais variável


maior em comparação à população para o aumento de pico VO2máx (Obert et
sedentária; essa lógica é descrita com base al., 2003).
no resultado do maior tamanho cardíaco A testosterona afeta a capacidade
do ventrículo esquerdo (Faria et al., 1989, aeróbia, ao influir nas mudanças do taman-
Wolfe et al., 1986). ho do coração (Janz et al., 2000). Foi
Os estudos de intervenção do sistema demonstrado que, durante a puberdade,
cardiovascular confirmam que o tamanho o tamanho do ventrículo esquerdo nos
do ventrículo esquerdo é eminentemente homens aumenta a um ritmo mais rápido do
passível de treinamento nos adultos, com que acontece com as mulheres (Hayward
aumento de 10-30% através do treino (De et al., 2001), o que poderia funcionar como
Maria et al., 1979, Stratton et al., 1994, uma vantagem para os homens duran-
Wilmore et al., 2001). Um acréscimo no te o exercício e o volume diastólico final,
pico de VO2máx nos adultos é em reação representando, portanto, um menor gasto
às adaptações periféricas e ao central cardíaco.
(Wilmore et al., 2001).
Nas crianças, entretanto, dispomos de
menos informação. Os estudos transver- C) ENZIMAS AERÓBIAS
sais em crianças treinadas e não treinadas
sugerem que o tamanho e a capacidade As enzimas aeróbias melhoram o rendi-
cardíaca podem ser preparados. mento em adultos, ocorrendo menores
Os estudos também indicam que o valores submáximos na produção de lacta-
aumento do tamanho e a funcionalidade to. Há grande dependência do metabolis-
do coração são modificáveis através de mo nas gorduras devido ao treinamento de
treinamentos nas crianças. Nos primeiros resistência e ainda, as enzimas aeróbias
trabalhos de Eriksson e Koch (1973), parecem estar associadas com um aumen-
através de diluição de corantes e técni- to no número de mitocôndrias dentro do
cas de medição das respostas do sistema músculo esquelético (Holloszy e Coyle,
cardiovascular em crianças pré-púberes 1984).
(11 a 13 anos), após 16 semanas de trein- Em um dos poucos estudos em crianças
amento, foi observada uma diminuição na para avaliar as mudanças nas enzimas
FC em repouso e um aumento do tamanho oxidantes com o treinamento aeróbio,
do coração e VO2máx ao final do programa. Eriksson et al. (1973), analisaram os
De acordo com um recente estudo que efeitos após 6 semanas de treinamento de
analisa as adaptações cardíacas após os resistência muscular no perfil metabólico
treinamentos de resistência de 13 semanas de cada cinco crianças pré-púberes (11-13
nas crianças pré-púberes (10,5 ± 0,3 anos). Através de uma biópsia muscular,
anos), concluiu que o VO2máx aumenta os autores observaram um incremento
em 15% nos meninos e 8% nas meninas. interanual da concentração das enzimas
Os autores descreveram um crescimen- oxidantes desidrogenase (SDH) em 30%
to no volume sistólico (VS) em ambos os após o treinamento.
sexos (meninos: 15%, meninas: 11%), Ao analisar crianças e adultos,
Desenvolvimento e Alto Rendimento 23

concluíram que os esportistas de resistên- consumo máximo relacionado com a idade


cia mostram maiores níveis de SDH cronológica e na Figura 2 o consumo
(50% mais) em comparação às pessoas máximo de oxigênio relativo ao peso
sedentárias (Eriksson et al., 1973). Além corporal.
disso, registrou-se que a concentração de Em crianças de 10 a 11 anos, 47% da
enzimas como a isocitrato desidrogenase energia gasta nos primeiro 30s de uma
(ICDH) tem um nível mais alto em crianças atividade física é aeróbia, enquanto que
no geral, do que em adultos e também que adultos alcançam esses valores duran-
há uma menor proporção de PFK a ICDH te o segundo minuto. Essa porcentagem
(Haralambie, 1982), o que sugere que as diminui com a proximidade da fase adulta,
crianças podem ser adaptadas ao metab- normalmente acima dos 17 anos (García
olismo aeróbio. Manso et al., 1996).
Na Figura 1 podemos observar o Nos meninos não treinados, o limiar
24 Emerson Farto Ramirez

anaeróbio diminui com a idade dos 9-12 Isso nos leva a pensar que a puber-
anos (Atomi et al., 1986). Em geral, os dade é um momento crítico para atingir
meninos parecem ter um limiar mais alto e melhorar o potencial aeróbio e de
que as meninas. Ao contrário, em meninos resistência dos indivíduos, isso se não se
altamente treinados, onde esse valor não recorrer aos estímulos de cargas corre-
só não diminui como pode melhorar com spondentes.
o treinamento. Na Tabela 4, podemos Na Figura 3, Navarro (2000), demons-
observar a evolução da potência aeróbia tra as possibilidades de princípio e inten-
conforme a idade (Blimkie, Roche e Bar-Or, sificação do treinamento aeróbio em
1986). diferentes grupos de idade.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 25
26 Emerson Farto Ramirez

4
O TREINAMENTO
ANAERÓBIO EM JOVENS

A capacidade de treinamento do siste- a partir de alterações observadas do


ma anaeróbio em jovens tem recebido produto de sua atividade (ou seja, potên-
menos atenção do que a força e/ou a cia máxima). Além disso, o fato de que
capacidade aeróbia. “Entretanto, a capaci- produção de energia durante esses testes,
dade anaeróbia pode afetar a potência como o Wingate ou a força-velocidade,
anaeróbia e o rendimento esportivo”. Por são provas compostas não só da taxa
isso, a capacidade de formação desses de atividade glicolítica, se não o objetivo
atributos é de grande importância para os de outros fatores, como o tamanho do
treinadores dos atletas e os cientistas do músculo e a atividade neural.
esporte. Por outro lado, quando se avalia a
A capacidade do treinamento anaeróbio velocidade cíclica e um movimento explo-
de jovens é difícil de ser estudada, levan- sivo acíclico como o salto em altura ou
do em conta as múltiplas fases de rendi- salto com contra-movimento, a plastici-
mento e a capacidade, em curto prazo, dade das habilidades motoras e a coorde-
das atividades de intensidade máxima. A nação neuromuscular também devem ser
razão da falta de informações e dados é consideradas (Blimkie e Bar-Or, 1996;
devido à equipe e aos protocolos para os Rowland, 2005).
estudos de rendimento anaeróbio que são Finalmente enfoques diferentes foram
bastante complexos, em comparação aos dados durante as pesquisas de potência
utilizados para os programas de força. anaeróbia. Porém, o maior enfoque tem
Este último requer somente a medição sido no uso das repetições de curto prazo
do mesmo, enquanto o rendimento anaer- especialmente nas atividades que duram
óbio requer a medição simultânea da de 5 a 30 segundos, como no ciclismo e
produção de força a todo o momento na corrida em intensidade máxima, em
(Blimkie e Bar-Or, 1996). Além disso, os que se põe à prova a resistência dos
fatores éticos têm limitado a capacidade participantes em um ciclo ergonômet-
de quantificar a troca glicolítica muscular ro e em esteira rolante, respectivamente
na atividade em nível celular nas crianças. (Blimkie e Bar-Or, 1996; Rotstein et al.,
Assim, essas melhorias são inferidas 1986; Sargeant et al., 1985).
Desenvolvimento e Alto Rendimento 27

No metabolismo anaeróbio, um glicolítico (CK, ALD, PHI, PK e LDH) não


parâmetro indicador do potencial desse ocorre antes dos 11-14 anos.
metabolismo é a mudança de produção Não obstante, alguns autores (Gurtler
do ácido lático máximo que é capaz de et al., 1979; Weineck, 1991) afirmam
alcançar ou submeter-se a um esforço que, mediante o treinamento específico
supra máximo. Na Tabela 5 observamos a e prolongado, a criança pode registrar
valores de lactato plasmático similares
a dos adultos, ainda que reconheçam a
inadequação desse tipo de treinamento a
essa fase, ao ter uma taxa de eliminação
muito inferior a dos adultos.
O treino da resistência anaeróbia
melhora notavelmente na adolescên-
cia, sempre e enquanto o indivíduo tiver
uma boa resistência de base. Por isso,
a resistência anaeróbia deve regre-
dir seu treinamento até os 12-14 anos
produção máxima de lactato em crianças. para as mulheres e os 14-16 anos para
Os menores níveis de testosterona os homens. O progresso na produção
infantil comportam uma alta capacidade máxima de lactato aumenta com a idade,
oxidante em comparação com a glicolíti- linearmente, desde os 10 anos (aproxi-
ca. Segundo alguns trabalhos, a taxa madamente 5 mMol/l) até a adolescên-
plasmática de ácido lático em crianças cia, fase essa da vida em que começa a
está correlacionada ao volume testicular estabilizar, alcançando seu máximo por
(Eriksson et al., 1971) e com a concen- volta dos 20 anos.
tração de testosterona salival em crianças Devemos sempre levar em consider-
de 12 anos. Ao contrário, os trabalhos de ação que, para produzir a mesma quanti-
Welsman et al. (1997) chegam à conclusão dade de lactato que um adulto, uma criança
de que os níveis de lactato plasmático libera catecolaminas em quantidade dez
máximo e submáximo são independentes vezes superior, o que supõe submeter
da maturidade sexual. o indivíduo a altos níveis de stress. Por
Segundo Cerani (1993), os problemas outro lado, a eliminação do ácido lático
que as crianças apresentam no seu produzido torna-se mais lenta nos jovens.
metabolismo anaeróbio podem ser devido Por tudo isso, é aconselhável não subme-
à limitada atividade enzimática dessa via ter a criança a demasiadas cargas de tipo
energética (glicogênio fosforilase, PFK e anaeróbio, uma vez que as mesmas são
LDH). A ação da fosfofructoquinase (PFK) mal toleradas pelo seu organismo (García
em crianças de 11-13 anos é entre 30-50% Manso et al., 1996).
menos potente que nos adultos. Dados A idade ideal para iniciar esse tipo de
similares foram encontrados por Berg trabalho deve ser a partir da puberdade,
e Keul (1988); a alta atividade enzimáti- mas de qualquer modo, devemos enfatizar
ca para a ressíntese do ATP e o sistema o fato de que pode ser desenvolvido
28 Emerson Farto Ramirez

consideravelmente através do treinamen- melhorar sua potência através de trein-


to, visto que o organismo reage extrema- amentos anaeróbios como os sprints,
mente bem ao estímulo anaeróbio entre potência média (10%) e potência máxima
os 14 e os 18 anos de idade. Nessa fase (14,2%) (Rotstein et al., 1986; Sargeant et
os resultados do treinamento podem ser al., 1985).
mais eficazes do que em qualquer outra Com relação às mudanças na potên-
etapa da vida. cia anaeróbia, Ingle et al. (2006), realizou
Uma pergunta comumente feita aos um estudo de doze semanas de trein-
treinadores e pesquisadores do esporte amento com exercícios complexos (com
de base: as crianças podem melhorar o dinâmica constante, resistência externa
desempenho anaeróbio com o treinamen- e pliometria). Na pré-puberdade, é positi-
to? vo o resultado da potência anaeróbia nas
Os estudos em adultos têm demon- crianças em exercícios de saltos, lança-
strado que a capacidade de treinamento mentos e velocidade cíclica, sendo igual-
anaeróbio melhora por volta de 12% da mente constatadas melhoras notáveis na
potência máxima, e 6,7% da potência força dinâmica. Sargeant et al. (1985), fez
média (Barnett et al., 2004; Nevill et al., um estudo semelhante com crianças de
1998, Sharp et al., 1986). 13 anos, durante um programa de trein-
Os resultados obtidos pelo treinamento, amento de 8 semanas, em um compos-
na produção de energia, surgiram através to misto de curta duração, com saídas e
dos níveis aumentados de PC intramus- arrancadas, além de exercícios aeróbios.
cular, o ATP e o glicogênio, aumentando a Observaram-se melhoras nos exercícios
atividade das enzimas anaeróbias, a hiper- de potência média de 4,5% em compara-
trofia das fibras musculares e a contração ção ao exercício de potência máxima de
rápida, aumentando a produção de lactato 1,2% de aumento no grupo controle.
a intensidades submáxima e máxima, e É citado, entretanto, que as crianças
a melhoria no rendimento nas diferentes podem ter uma recuperação mais rápida
etapas do treinamento (McArdle et al., nos sprints do que os adultos (Falk e
1998). Dotan, 2006). Isso tem sido, em parte,
A produção de energia traz melhora atribuído à observação de que as crianças
nas crianças quando no treinamento são (10-14 anos) dependem em grande
requeridas as potências média e máxima, medida do metabolismo oxidante e em
comprovadas no teste de Wingate, em menor medida da glicólise que os adultos
que foram constatados aumentos de 3,4% jovens (21,6 ± 1,6 anos) durante um
e 3,9%, respectivamente, depois do trein- tempo máximo de corrida de velocidade
amento de sprint no ciclismo e em corri- prolongada (Hebestreit et al., 1993).
das de velocidade. Além disso, a ressíntese da fosfocreati-
A pequena proporção dos ganhos pode na é mais rápida nas crianças (6-12 anos)
ser atribuída à baixa duração do exercício que nos adultos jovens (20-29 anos), e
(15 minutos por sessão, durante mais de essa diferença é ao contrário no metab-
6 semanas), entretanto, os estudos têm olismo oxidante em crianças do que em
demonstrado que as crianças podem adultos (Taylor et al., 1997).
Desenvolvimento e Alto Rendimento 29

As provas de sprint têm demonstrado sprints otimizam com mais eficiência


que existe uma reação positiva na taxa a capacidade em crianças do que em
de ressíntese de fosfocreatina (Bogdanis adultos.
et al., 1995) e estão negativamente Sobre esse assunto, Mujika et al.
correlacionadas com a glicólise anaer- (2009), fez um estudo com um total de
óbia (Gaitanos et al., 1993), dando um 134 jovens jogadores de futebol altamente
novo impulso à hipótese de que repetidos capacitados, representando a todas
30 Emerson Farto Ramirez

as posições de jogo. Participaram da lactato no sangue. Há diferenças significa-


pesquisa (Sub-11, n = 22, Sub-12, n = 17, tivas entre os Sub-16, Sub-17 e Sub-18 e
Sub-13, n = 15, Sub-14, n = 16, Sub-15, não foram constatadas diferenças consid-
n = 19; Sub-16, n = 17, Sub-17, n = 17, eráveis entre os Sub-11, Sub-12 e Sub-13.
Sub-18, n = 11). No entanto, a concentração máxima de
O propósito desse estudo foi pesquis- lactato no sangue dos Sub-11 é significa-
ar como o treinamento de sprint melhora tivamente menor que a do grupo Sub-14.
a capacidade dos jogadores de futebol A concentração de lactato no sangue da
adolescentes (idade grupos de Sub-11 Sub-18 foi 12,6 mMol e 58% superior a
a Sub-18). A prova consistiu em seis da Sub-11. Não houve diferenças signifi-
repetições de nado em velocidade máxima cativas entre os grupos e a concentração
(sprint) de 30m com 30’’ de descanso entre de lactato ajustou-se à massa corporal
cada repetição (Spencer et al., 2006). (houve variação entre os valores de 0,17
Os resultados nos dizem que a média até 0,19 mMol).
para o tempo médio de sprint e concen- A concentração do lactato sanguíneo
tração máxima de lactato no sangue são varia após 1, 4, 7 e 10 minutos após o
apresentados na Figura 4. A média dos 30 término das provas (Tabela 6).
metros da Sub-11 foi 1 segundo inferior ao Constatou-se que, nas provas realiza-
Sub-15. A média de 30 metros da Sub-15 das em pré-adolescentes e crianças, a
foi 0’’15 mais lento que o grupo Sub-18; velocidade não melhora com o aumento
entretanto, não há diferenças significati- da capacidade glicolítica e a concentração
vas encontradas entre os grupos Sub-15 de lactato no sangue mantém-se constan-
a Sub-18. te ao aumentar a idade (Ratel et al., 2002).
Pelo contrário, houve diferenças signif- Essa teoria também é fundamentada
icativas entre os grupos Sub-15 e Sub-18 pelos resultados obtidos na concentração
para alcançar a concentração máxima de de lactato no sangue, que se incrementou
Desenvolvimento e Alto Rendimento 31

em função do aumento da idade (Figura Sub-11, Sub-15 e Sub-18.


4) e que parecem também estar ampla- A concentração de lactato no sangue
mente relacionados à idade e ao aumento é muito menor nas crianças (Dotan et al.,
da massa corporal (Beneke et al., 2005). 2003; Hebestreit et al., 1993; Zafeiridis et
Por outro lado, os dados relaciona- al., 2005). Os resultados coincidem com
dos à idade apontam um desempenho o que já temos dito anteriormente, que
melhor na velocidade, devido à presença as atividades das enzimas fosfofructoqui-
de fibras tipo II durante a adolescência nase (Eriksson, Gollnick e Saltin, 1973)
(Fournier et al., 1982). Nesse contexto, e lactato desidrogenada (Kaczor et al.,
é possível constatar que o tamanho das 2005) são baixas nas crianças.
fibras musculares alcança um patamar na Em relação às mudanças na potên-
idade de 16 anos para ambos os sexos cia anaeróbia através do treinamento
(Glenmark, Hedberg e Jansson, 1992), aeróbio, alguns estudos sobre seu efeito
e que a seção das fibras musculares concluíram, no geral, que as crianças têm
aumenta de maneira exponencial nos proporcionado consistentes resultados.
homens até a idade de 17 anos (Kanehisa McManus et al. (1997) realizaram um
et al., 1995). estudo com 12 meninas ciclistas, avalia-
Existe uma forte evidência que sugere das por 8 semanas. No teste, observou-se
a recuperação mais rápida de crianças aos um aumento de 10% no pico de VO2máx,
esforços de alta intensidade em compara- percebendo um acréscimo de 20% no
ção aos adultos, devido a alguns fatores: teste de Wingate de potência máxima.
Apesar das diferenças nas magni-
• Maior contribuição de porcentagem tudes, os intercâmbios são um reflexo da
do metabolismo oxidante (Hebestreit especificidade do tipo de formação, suger-
et al.,1993); indo que um efeito de treinamento cruzado
• Ressíntese mais rápida de fosfocrea- pode ser dado às crianças (McManus et
tina (Taylor et al., 1997); al., 1997). Da mesma maneira, Obert et al.
• Menor potência relativa anaeróbia (2001a), também informaram da mudança
durante o exercício de alongamento e anaeróbia nos parâmetros medidos na
flexão do joelho (Zafeiridis et al., 2005); prova de força-velocidade, depois de 13
• Redução da taxa de produção de semanas de treinamento aeróbio (interval-
lactato progressivo durante o exercício ado e contínuo) em meninos pré-puberais.
de alta intensidade (Zanconato et al., Nos testes, os participantes melhor-
1993). aram o pico de potência em 23%, o que
se atribui principalmente ao aumento
O lactato aumenta com cada grupo da força máxima (17%). Por último, 7
de idade, numa proporção de acréscimo semanas depois do programa aeróbio de
de 1,5 vezes do grupo Sub-11 ao Sub-15 corrida com 20 meninos e meninas de 13
e um aumento de quase duas vezes anos (com intensidades de treinamento
do grupo Sub-11 ao Sub-18. Existem entre 78% a 95% da frequência cardía-
diferenças significativas na concentração ca máxima (FCmáx), foi possível aumen-
máxima de lactato no sangue entre os tar significativamente a velocidade de
32 Emerson Farto Ramirez

corrida (Baquet et al., 2002). Dessa forma relatadas. Entretanto, a concentração


as crianças são capazes de melhorar de PFK maior (mais de 21%) não pode
sua potência anaeróbia seguindo um ser atribuída ao crescimento. Apesar
programa do tipo misto. das mudanças de formação enzimáti-
Na comparação entre os gêneros, as ca glicolítica, as crianças não mostram
pesquisas sobre as diferenças na capaci- incrementos nos níveis de lactato no
dade anaeróbia nas crianças ainda são sangue depois de exercícios anaeróbios
insuficientes. de treinamento. Prado (1997), estudou 12
Alguns estudos utilizaram meninos crianças (10 anos) e 12 homens adultos
e meninas como participantes, mas não (24 anos) em um treinamento de natação
há diferenciação nos gêneros (Baquet de 6 semanas (3 vezes por semana). A
et al., 2002; Bencke et al., 2002; Hawley capacitação consistiu exclusivamente em
e Williams, 1991; Obert et al., 2001a). séries anaeróbias de 25m, 100m e tempo
Naughton et al. (1998), descobriram máximo de 45 segundos de distância
que os adolescentes do sexo masculino percorrida no nado.
mostram uma maior magnitude de melho- Os adultos melhoraram seu rendimen-
ra na potência máxima e potência média to na prova de 25 metros e na prova acima
pós-treinamento. Os dados comparati- de 45 segundos em 6 semanas, nessa
vos das crianças pré-púberes não estão situação não houve efeito do treinamen-
disponíveis. to nas crianças. As concentrações de
A informação relacionada ao intercâm- lactato foram significativamente menores
bio metabólico anaeróbio e o treinamento nos adultos do que nas crianças, não se
com atletas jovens é deficiente, em parte, observando mudanças no lactato máximo
devido aos aspectos práticos da medição de treinamento dentro dos grupos. Esses
das respostas metabólicas, (por exemp- resultados, entretanto, não colocam em
lo, a atividade das enzimas e a histolo- dúvida a idoneidade da utilização do lacta-
gia das fibras musculares), que depen- to como uma medida substitutiva à ativi-
dem das biópsias do músculo invasivo. dade glicolítica.
Entretanto, os raros dados disponíveis Existem preocupações quanto à
abrem uma janela para o intento de expli- avaliação do desempenho das provas
car a mudança percebida no potencial anaeróbias e as dificuldades para manter
anaeróbio das crianças. a motivação e o interesse das crianças e
Fournier et al. (1982), estudaram as adolescentes.
alterações da PFK muscular (fosfofruc- Para garantir o nível mínimo de
toquinase) e a área da fibra em 6 adoles- motivação no treinamento anaeróbio
centes (16 e 17 anos de idade) depois de alta intensidade, incluiu-se exercício
de terem passado por um programa de aeróbio de curta duração e de alta inten-
treinamento de sprint de 3 meses. Após a sidade, que podem ser benéficos. Como
obtenção de pré e pós-biópsia do múscu- tal, uma bateria anaeróbia deve incluir
lo vasto lateral, os autores constataram um programa mínimo de 3 sessões por
que não há mudanças no tamanho das semana, com 30 minutos de duração.
fibras musculares ou das porcentagens Na Figura 5, Navarro (2000), nos
Desenvolvimento e Alto Rendimento 33

ensina as possibilidades de começo e glicolítico em jovens provoca adapta-


intensificação do treinamento anaeróbio ções, ainda que a magnitude das
em diferentes grupos de idade. mesmas varie segundo estudos
(Rotsein et al., 1986);
• O treinamento aeróbio também
CONCLUSÃO: produz melhorias na potência anaeró-
bia em jovens (McManus et al., 1997;
• O treinamento anaeróbio é muito Obert et al., 2001b);
recomendável para jovens nadadores • Não há evidências de que o treina-
pré-púberes e púberes. A competição mento glicolítico tenha efeito prejudi-
tem um componente anaeróbio, por cial à saúde ou ainda no rendimento
isso não há nenhuma razão para não posterior de jovens esportistas;
incorporar esse conteúdo ao treina- • O treinamento anaeróbio é muito
mento; indicado para jovens nadadores
• O treinamento de alta intensidade (pré-púberes e púberes). A competição
focado na melhoria do metabolismo tem um componente anaeróbio e não
34 Emerson Farto Ramirez

há nenhuma razão para não incorporar exercícios pliométricos, sprint de


este conteúdo ao treinamento; pernas, intercaladas com atividades
• O volume de trabalho anaeróbio aeróbias submáximas, são ótimas
deve estar condicionado ao trabalho formas de desenvolvimento anaeróbio;
dos conteúdos mais importantes em • A duração dos exercícios anaeróbios
cada fase de desenvolvimento; é de 20 a 30 segundos (Armstrong e
• A realização de atividades de curta Welsman, 1993);
e alta intensidade (não menos de 90% • A programação dos treinos é a chave
do esforço máximo), como velocida- para uma correta aplicação do treina-
de de corrida, saltos, lançamentos, mento anaeróbio.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 35

5
CLASSIFICAÇÃO DA RESISTÊNCIA
SEGUNDO O CRITÉRIO DE OBSERVAÇÃO

A resistência está classificada de diver- aproveitamento periférico de oxigênio.


sas formas segundo o tipo de critério de A resistência local (muscular) contém
observação (Navarro e Oca Gaia, 2011): uma participação de menos de 1/7-1/6 da
massa muscular total e, vê-se determina-
• Volume da musculatura envolvida da particularmente por:
(geral e local);
• Período de treinamento da modali- • Força especial;
dade esportiva (básica, específica e • Capacidade anaeróbia;
competitiva); • Outras formas limitantes de força
• Produção de energia muscular (resistência de velocidade, de força e
(aeróbia e anaeróbia); força explosiva);
• Duração do esforço (curta, média e • Qualidades de coordenação neuro-
longa); muscular específica da modalidade
• Envolvimento ou relação com outras (técnica).
capacidades físicas (resistência de
força, resistência de força explosiva, A resistência muscular geral pode
resistência de velocidade). influenciar de diversas maneiras, limitan-
do ou desenvolvendo a resistência local
(isso é válido especialmente para recupe-
TIPOS DE RESISTÊNCIA COM ração rápida depois de uma carga).
RELAÇÃO AO VOLUME DA
MUSCULATURA ENVOLVIDA
TIPOS DE RESISTÊNCIA E
A resistência geral (muscular) implica A FORMA DE OBTENÇÃO
mais de 1/7-1/6 de toda a musculatura DE ENERGIA
esquelética, podendo ser representa-
da pela musculatura de pernas e está Os movimentos musculares para produ-
limitada principalmente pelo sistema zir o nado apenas são possíveis quando a
cardiovascular-respiratório (VO2máx) e o energia química transforma-se em energia
36 Emerson Farto Ramirez

mecânica. Todos os demais processos minuto cardíaco, aceleração da respira-


que proporcionam energia servem para ção, aumento da irrigação e ativação do
ressintetizar o ATP. As reservas de ATP metabolismo), que precisam de um tempo
são suficientes para um trabalho que tenha de estímulo até dispor de suficiente quanti-
uma duração de 1 a 2 segundos ou um dade de oxigênio.
máximo de 3 a 4 contrações. A decompo- Quando o mesmo esforço é realiza-
sição do ATP e o fosfato de creatina são do dentro do limiar anaeróbio ou próxi-
gerados sem a participação de oxigênio e mo a esse nível de intensidade, uma
sem formação de lactato (ganho de energia parte deve ser obtida de forma anaeróbia
alática e anaeróbia). (Figura 6B), entretanto, ainda não será
O aproveitamento anaeróbio da glico- produzido nenhum acúmulo de lactato.
se é 18 vezes mais efetivo que o aeróbio Quando o atleta nada uma distância de
(produz maior quantidade de ATP). O meio fundo (400 metros), a proporção de
lactato que é produzido freia os proces- energia anaeróbia aumenta propiciando
sos metabólicos e leva mais rapidamente um acúmulo de lactato (Figura 6C).
à fadiga quando se alcança uma deter- A capacidade de rendimento aeróbio
minada concentração (duração máxima está determinada pelos seguintes aspec-
do trabalho da glicólise anaeróbia: 40-90 tos:
segundos).
Quando o lactato não supera um deter- • Um fornecimento de energia econô-
minado nível, o esforço pode prolongar- mico e duradouro;
se durante um tempo relativamente longo • Uma boa recuperação depois dos
sem perda de rendimento (aprox. 30-40 esforços;
minutos). Esse equilíbrio estável anaeróbio • Um consumo máximo de oxigênio
é denominado Limiar Anaeróbio (LAN) e, elevado;
para nadadores bem treinados, pode estar • A capacidade dos músculos para
entre os valores de 4 mMol/l. O organismo aproveitar o oxigênio (grau de capila-
também pode trabalhar durante um tempo rização, o tamanho e o número de
maior, desde de que o atleta mantenha mitocôndrias, a capacidade enzimáti-
os níveis de lactato em 2 mMol/l, também ca aeróbia, o tamanho dos depósitos
conhecido como Limiar Aeróbio (LAE). Aqui de glicogênio, o conteúdo da mioglo-
o fator de rendimento limitante passa a ser bina dos músculos e a proporção dos
a quantidade de glicogênio armazenada. diferentes tipos de fibra);
Com intensidades de nado acima do • Economia no desenvolvimento dos
limiar anaeróbio, podemos obter cada vez movimentos.
mais energia de forma anaeróbia.
O esforço será coberto quase que A resistência anaeróbia está relaciona-
totalmente pela via aeróbia (Figura 6A), da com a capacidade para levar adiante
com exceção de um pequeno aumen- esforços de alta intensidade durante todo
to na concentração de lactato produzido o tempo possível; os fatores que determi-
no início devido às alterações no sistema nam o rendimento são fundamentalmente
cardiopulmonar (aumento do volume por as enzimas específicas, a tolerância ao
Desenvolvimento e Alto Rendimento 37

lactato (capacidade de tamponamento) e a resistência. Dentro da atividade esportiva,


qualidade da técnica (coordenação). produz-se essa relação quando os esfor-
ços se repetem com duração e frequência
suficientes para produzir uma diminuição
TIPOS DE RESISTÊNCIA do rendimento do nadador devido à fadiga.
COM RELAÇÃO À FORMA DE Entretanto, a força máxima e a capaci-
INTERVENÇÃO COM OUTRAS dade de força rápida constituem os pressu-
CAPACIDADES FÍSICAS postos condicionais para execuções
máximas em cada movimento (cíclico e
A resistência da força está determi- acíclico). A resistência garante a neces-
nada pela relação entre a capacidade sária continuidade da ação com os esfor-
de força (força máxima, força rápida) e a ços ótimos para um número necessário de
38 Emerson Farto Ramirez

ciclos de movimentos; isso vale tanto para a predominância de um sistema energéti-


os movimentos de nado (cíclico), como co para levar uma atividade ao fim.
para os giros (acíclico). No entanto, a resistência de força nos
O critério que distingue a força-resis- esportes cíclicos deve ter relação não só
tência da capacidade de “força”, compa- com a duração do esforço em competi-
rada à resistência de força da capacidade ção, como também com o elevado nível
de “resistência” é o valor da forma reque- de força que se aplica em cada gesto
rida em relação à força máxima individual simples (ciclo), ou seja, enquanto os
(Figura 7). esforços forem curtos, as possibilidades
É conveniente ressaltar que a resis- de manter o nível de força serão maiores.
tência de força nos esportes cíclicos pode Em esforços de resistência, a atenção
chegar a ter uma consideração muito deve-se concentrar na força gerada pelas
diferente em função da duração do esforço fibras lentas (tipo I).
nas diferentes modalidades. Desse modo, Para Verkhoshansky (1996), além do
podemos considerar a resistência de força aumento da capacidade de contração
de caráter geral (RFG), alática (RFala-la), (força) e da capacidade oxidante (resis-
lática (RFla) ou aeróbia (RFae), segundo tência), uma condição importante para
Desenvolvimento e Alto Rendimento 39

o desenvolvimento do que é denomina- igualmente decisivo no desenvolvimento


da resistência muscular localizada está da resistência de velocidade (Numerkivi e
representada pela redistribuição do fluxo Lemberg, 1993).
sanguíneo e pela melhoria das reações
vasculares locais. Nas provas de natação,
a diminuição da velocidade no percurso de TIPOS DE RESISTÊNCIA EM
uma prova é causada principalmente pela RELAÇÃO ÀS CAPACIDADES
diminuição da longitude de ciclo (distância BIOMOTORAS E OS OBJETIVOS
percorrida por cada ação propulsora cícli- FISIOLÓGICOS DO TREINAMENTO
ca) e não tanto pela frequência de ciclo. DA RESISTÊNCIA
Ao aumentar a força máxima, signifi-
ca que o percentual de força a ser utili- A Tabela 7 mostra a contribuição das
zado durante o nado será menor para o diferentes fontes de energia durante o
alcance do mesmo resultado, o que possi- rendimento de exercícios de duração
bilita a manutenção por um tempo maior variável. Desde o ponto de vista prático e
da manifestação da força (Gonzales e científico, convém definir com uma maior
Gorostiaga, 1995). precisão a área de rendimento e as carac-
A resistência de velocidade é conside- terísticas mais importantes das diferentes
rada como a resistência frente à fadiga capacidades biomotoras e estabelecer o
em cargas submáxima a máxima e via potencial de energia que são considerados
energética na maioria anaeróbia, ou seja, como objetivos fisiológicos para os treina-
com menor perda de velocidade de deslo- mentos aeróbios e anaeróbios.
camento no nado. O desenvolvimento da A classificação do potencial de energia
resistência não pode ser efetivo se não relacionada às capacidades motoras ofere-
for observado juntamente com a prática cerá uma clara aplicabilidade prática ao
de exercícios de velocidade e de força. reunir as seguintes características (Tabela
Nesse item, exerce um papel preponde- 8):
rante o fosfato de creatina como trans-
missor de energia, desde a produção na • Os limites dos níveis de velocida-
mitocôndria até o consumo na miofibrila de (potência) correspondentes às
(Verkhoshansky e Siff, 2009). diferentes capacidades biomotoras são
Isso indica a necessidade direta de estabelecidos claramente sobre crité-
encontrar meios mais efetivos e métodos rios bem conhecidos como a velocidade
para desenvolver o mecanismo da creati- de limiar anaeróbio, a velocidade crítica
naquinase para provas em que o siste- (velocidade em VO2máx – VVO2máx),
ma de energia dominante é localizado na também velocidade aeróbia máxima
mitocôndria. Por outro lado, o treinamento (VAM) e a velocidade máxima (potên-
de resistência pode aumentar o potencial cia);
de energia na mitocôndria, mas o poten- • Cada capacidade biomotora é um
cial aumentado não pode ser explorado objetivo para um grupo de treinamen-
eficientemente. Também pode-se afirmar to determinado (objetivos fisiológicos/
que o mecanismo da creatinaquinase é zonas de treinamento).
40 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 41

TIPOS DE RESISTÊNCIA EM Nesse tipo de esforço, requer-se uma


RELAÇÃO AO TEMPO DE elevada ativação do sistema nervoso
DURAÇÃO DO NADO central. O programa motor também é facili-
tado por recrutamento de fibras de contra-
Essa classificação é de grande utili- ção rápida, acarretando em uma elevada
dade e serve como parâmetro de orienta- frequência de movimentos, um rápido
ção específico para o desenvolvimento do aumento do parâmetro força-tempo na
treinamento da resistência ao relacionar o ação propulsora e uma oposição relativa-
tempo de duração do esforço com a distân- mente rara ao movimento de deslocamen-
cia de competição (Tabela 9). Podemos to. A qualidade da fibra metabólica pode-
dividir em resistência de curta duração se adaptar em uma direção aeróbia ou
(RCD), resistência de média duração anaeróbia.
(RMD) e resistência de longa duração I, II Um aperfeiçoamento adequado da
e III (RLD I, II e III). técnica de movimento permite modificar o
programa motor em nível neuromuscular,
criando um padrão coordenativo. A hiper-
RESISTÊNCIA DE trofia da fibra muscular é uma condição
CURTA DURAÇÃO necessária à eficácia do movimento de
impulso em cada ciclo de movimentos.
Na Resistência de Curta Duração Nesses esforços, o músculo utiliza princi-
(RCD), na natação, a escala temporal palmente a reserva local de energia, a
estaria entre os 45 segundos até os 2 adenosina trifosfato (ATP), a creatina fosfa-
minutos. Nesse caso estaríamos falando to (CP) e o glicogênio muscular.
das provas de 100 metros, mas bem próxi- Nesse caso, novos dados experimen-
mo a esses tempos de duração estaria a tais indicam uma diminuição da impor-
prova de 50 metros como limites temporais tância do metabolismo anaeróbio e um
inferiores e, nos superiores, destacaríamos crescente aumento do aeróbio, de acordo
os rendimentos de bons nadadores de 200 com os valores de contribuição aeróbia
metros no estilo livre. que ocorrem durante períodos de esforços
42 Emerson Farto Ramirez

máximos entre 1-2 minutos de até 50%. volta de 50% depois de aproximada-
Troup (1991) confirma esses dados com mente 30 segundos. Para esses tipos
nadadores de 100 e 200 metros livres. de intensidades, é conveniente um longo
Entretanto, Maglischo (2003), assina- aquecimento prévio (Neuman, 1991). Em
la que se tanto o sistema ATP-CP e poucos minutos, o sistema cardiovascular
o metabolismo anaeróbio fornecem a não pode estabelecer um total de estado
maior parte da energia para a prova de estável metabólico.
50 metros, o metabolismo anaeróbio é o Uma prova disso pode ser vista no
principal contribuinte para as distâncias contínuo aumento da concentração de
de 100 e 200 metros, ainda que o papel do lactato no sangue, o qual alcança seu
metabolismo aeróbio seja cada vez mais máximo valor somente depois da compe-
importante até os 200 metros (Tabela 10). tição, entre 5 e 10 minutos de recupera-
Na prática, a porcentagem anaeró- ção. Esse atraso ocorre porque existe um
bia do metabolismo energético com uma desequilíbrio entre o acúmulo e a renova-
carga de duração curta pode ser estimada ção do lactato com exercício de resistên-
sobre a base de concentração do lacta- cia de curta e média duração.
to no sangue depois de uma carga de Os fatores decisivos para o rendimen-
competição. Em indivíduos muito treina- to de RCD deverão ser, segundo Navarro
dos, os valores de lactato estarão acima (1998) e Neuman (1990, 1991):
dos 18-22 mMol/l. Os objetivos fisiológicos
na perspectiva da produção de energia da • Capacidade alática: capacidade de
RCD serão: dispor muita energia por unidade de
tempo, muito importante nas provas de
• Potência glicolítica; 50 metros;
• Capacidade glicolítica; • Potência glicolítica: capacidade de
• Potência aeróbia (especialmente despender muita energia por unidade
em provas que se aproximam de uma de tempo, por meio de uma atividade
duração de 2 minutos). e quantidade de enzimas da glicólise
anaeróbia, com uma maior incidência
O sistema cardiovascular fornece nos esforços por volta dos 45 segundos;
oxigênio para a musculatura exercitada. • Capacidade de tamponamento:
As catecolaminas (adrenalina e noradre- capacidade de atrasar a hiperacidez,
nalina) e o sistema nervoso simpático apesar da contínua produção de lacta-
garantem a plena eficiência em presta- to. A acidez pode afetar de alguma
ções desse tipo, chegando a frequência forma na prova de 50 metros, não de
cardíaca a valores individuais de 190-210 vido a queda severa do PH muscular,
bpm. O consumo máximo de oxigênio mas sim pode afetar no final da prova,
(VO2máx) pode ser solicitado em 100% já que antecede o ritmo de contração
apenas depois de um tempo de duração muscular;
de 40-60 segundos. • Tolerância lática: o nadador necessi-
O consumo de O2 cresce linearmen- ta aumentar sua capacidade para conti-
te desde o início da carga e alcança por nuar com o trabalho muscular, apesar
Desenvolvimento e Alto Rendimento 43

da hiperacidez, sendo essa capacidade 25-40% de fibras de contração rápida.


mais importante nos tempos de duração Em certas atividades de RMD, pode
de esforços próximo aos 2 minutos; existir maior ou menor incidência da “força
• Potência aeróbia (VO2máx): a oposta ao avanço” que pode influenciar
contribuição aeróbia executa um papel sobre a hipertrofia da fibra muscular. O
importante a partir do primeiro minuto aumento do volume das fibras muscu-
de esforço. É necessário dispor de uma lares está ligado à reação de adaptação
boa base que garanta a recuperação diante da ativação, tanto do metabolismo
e eliminação de lactato típica desses oxidante como do glicolítico. Uma drásti-
esforços; ca intensificação do treinamento em um
• Força e velocidade: pode afetar meio fundista conduz a um aumento do
o rendimento devido à intervenção rendimento anaeróbio e a uma diminuição
específica de fibras rápidas glicolíticas no rendimento aeróbio (Neuman, 1990,
e fibras rápidas oxidantes. As manifes- 1991).
tações de resistência de velocidade, O metabolismo aeróbio é a fonte
resistência de força máxima e resistên- principal dessas provas (400-800 metros),
cia de força lática têm especial impor- ainda que ele contribua entre 1/3 e 1/4 da
tância no rendimento. energia, entretanto, o sistema ATP-CP vai
se tornando cada vez menos importante a
partir dos 200 metros, até os 800 metros.
RESISTÊNCIA DE A concentração de lactato oferece a
MÉDIA DURAÇÃO informação, por um lado, da interven-
ção da via anaeróbia lática durante a
A Resistência de Média Duração (RMD) carga, e do outro, sobre o nível de traba-
envolve cargas superiores a 2 minutos e lho aeróbio. Se melhorarmos o nível de
inferiores a 10 minutos, como provas de trabalho aeróbio, haverá menos acúmulo
400 e 800 metros da natação. Também de lactato durante a carga. A concentra-
é possível a inclusão de provas de 200 ção de lactato em nível intramuscular não
metros, sempre que o nadador superar deve superar os 30 mMol/l aproximada-
os 2 minutos. A elevada ativação do siste- mente, uma vez que provoca uma queda
ma nervoso central (um variado programa do pH perto de 6,3, inibe a fosfofrutoqui-
motor) deve ser utilizada na competição, nase (PFK), interrompendo a regeneração
principalmente por motivos táticos (acele- de ATP e causa uma brusca diminuição do
ração na arrancada, uniformidade durante rendimento.
a prova, variação de ritmo, sprint final e Por esse motivo, o rendimento da RMD
etc.). é realizado sempre no limite da máxima
Dito isso, há que se ressaltar que, para produção de energia por unidade de
esses nadadores, o referido programa tempo e na máxima potência de impulso
motor vai depender da porcentagem de (força útil).
fibras musculares de contração rápida. Para as mudanças de ritmo durante a
Os esportistas mais destacados têm entre prova e/ou sprint final, é necessário um
60-75% de fibras de contração lenta e de nível elevado do metabolismo alático e
44 Emerson Farto Ramirez

lático, além da capacidade aeróbia para oxigênio o mais elevado possível duran-
manter um elevado ritmo médio de esforço te o maior tempo possível;
durante toda a atividade. Isso vai depen- • Tolerância lática: capacidade para
der do nível de treinamento que possui o fornecer energia através do sistema
nadador a cada momento. anaeróbio glicolítico que é a capacida-
Os objetivos fisiológicos a partir da de de produzir muito lactato, uma vez
perspectiva da produção de energia da que a glicólise em 100% não pode ser
RMD seriam (Tabela 10): mantida por mais de 4 minutos;
• Glicogênio muscular: é o substrato
• Potência aeróbia; utilizado principalmente para produzir
• Capacidade aeróbia. energia aeróbia e anaeróbia neces-
sária para esse tipo de esforço. Ainda
Os fatores decisivos para o rendimento que não se agite por completo devido a
de RCD serão segundo Navarro (1998) e pouca margem de tempo, suas reservas
Neuman (1990, 1991): começam a ser bastante importantes
quando se aproximam dos 10 minutos;
• Potência aeróbia: o VO2máx é • Força e velocidade: possui menor
empregado plenamente, por isso, é importância que na RCD. As manifes-
relevante que o atleta/nadador dispo- tações de resistência de velocidade,
nha de um valor elevado; resistência de força lática e resistên-
• Capacidade aeróbia: a necessida- cia de força aeróbia têm uma especial
de de manter o consumo máximo de importância no rendimento.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 45

RESISTÊNCIA DE oxidantes.
LONGA DURAÇÃO I O principal substrato energético nesse
caso é o glicogênio muscular e o extramus-
A Resistência de Longa Duração I (RLD cular (fígado), não se exigindo em nenhum
I) possui uma duração de carga dos 10 a caso a utilização total das reservas de
35 minutos e na natação está relaciona- glicogênio ou a sua compensação total. O
da a uma distância de 1500 metros. Ela metabolismo aeróbio cobre mais de 70%
possui um predomínio elevado de fibras da energia, enquanto que o metabolismo
de contração lenta de 60-70%. A distribui- anaeróbio, de 20-25% para a aceleração
ção de fibras está fixada geneticamente e (mudanças de ritmo e sprint final).
praticamente não pode ser modificada com Se for aumentada a frequência de
o treinamento, ao contrário da qualidade movimentos, também aumenta a porcenta-
metabólica. gem da glicólise, podendo chegar a uma
A possível transformação do perfil concentração média de lactato de 8-10
funcional da fibra intermediária (fibra do mMol/l (Figura 8). Quando a concentração
tipo II C ou fibra de contração rápida/lenta) de lactato supera os 7 mMol/l, é ativada a
supõe aproximadamente 5% do potencial ação antilipolítica do lactato (inibição do
das fibras do músculo. Segundo afirma metabolismo lipídico), tendo os carboidra-
Howald (1989), as fibras de contração tos como substrato principal de energia.
rápida/lenta transformam-se em fibras O sistema cardiocirculatório é solicita-
de contração rápida com um treinamento do a um alto nível, sendo que a frequên-
de resistência e com um treinamento de cia cardíaca alcança de 185 a 200 pulsa-
velocidade em fibras de contração rápidas ções por minuto e, por volta de 90-95%
46 Emerson Farto Ramirez

do VO2máx, uma solicitação do 100% só entre 35 a 90 minutos e estão relaciona-


poderia ser possível até um período de 5 dos aos 5 km em águas abertas. As fibras
a 7 minutos para um esportista muito bem de contração lenta nesses esportistas vão
treinado. de 70-80%, mas também conseguem êxito
Os objetivos fisiológicos a partir da esportistas com uma elevada porcenta-
perspectiva de produção de energia da gem de fibras de contração rápida (acima
RMD seriam: dos 40%), que atingem velocidade de
forma notável através da frequência de
• Capacidade aeróbia; movimentos (Navarro e Oca Gaia, 2011).
• Limiar anaeróbio. Um treinamento extensivo de resis-
tência desloca-se do ambiente glicolítico
Os fatores decisivos para o rendimento ao oxidante ocorrendo uma relação entre
de RLD I passam a ser, segundo Navarro fibras de contração rápidas glicolíticas
(1998) e Neuman (1990, 1991): e fibras de contração rápidas oxidantes.
As reservas de glicogênio continuam
• Capacidade aeróbia: suficientes para garantir a energia neces-
VO2máx (90-95%); sária em cargas do tipo RLD II; aumentan-
• Nível de limiar anaeróbio: principal- do o tempo de duração da carga, aumenta
mente próximo aos 35 minutos; a depleção de glicogênio, tanto no múscu-
• Tolerância lática: com valores lo como no fígado.
médios (10-12 mMol/l) em tempos de O consumo energético é de 2300
duração inferiores a 15 minutos até 7-8 kcal nas cargas intensivas superiores a
mMol/l, em tempos de duração até os 60 minutos; utiliza-se como valor médio
35 minutos; aproximadamente 25 kcal/min (Navarro e
• Glicogênio: principal substrato utili- Oca Gaia, 2011). Na contribuição energé-
zado para produzir energia aeróbia tica total, predomina a depleção aeróbia
e anaeróbia. Suas reservas chegam dos carboidratos e das gorduras, com uma
quase a se esgotar no final dos 35 porcentagem de 80 a 90%. O consumo de
minutos; energia do glicogênio é predominante,
• Força e velocidade: sua importân- uma vez que os ácidos graxos contribuem
cia relativa já é muito reduzida, mas apenas com 20% aproximadamente da
com certo protagonismo nos tempos energia aeróbia.
de duração mais curtos. A resistência A falta de glicogênio leva a uma
de força aeróbia tem especial impor- diminuição antecipada da velocidade e a
tância no rendimento. uma redução da glicólise no metabolismo.
Em esportistas treinados, após uma hora
aproximadamente (diminuição do glicogê-
RESISTÊNCIA DE LONGA nio), ainda se mantém intensidades acima
DURAÇÃO II do limiar anaeróbio. Nessa situação, o
organismo se abastecerá de uma maior
Na Resistência de Longa Duração II gliconeogênese (produção de glicose
(RLD II) os esforços têm uma duração em base a aminoácidos procedentes da
Desenvolvimento e Alto Rendimento 47

dissociação das proteínas), ao invés de considerando que o aumento dos


incrementar a oxidação das gorduras. depósitos é de suma importância para
Durante o tempo de duração mais longo que não afete esse tipo de esforço de
e lento da RLD II (90 minutos), produz-se resistência;
uma adaptação metabólica dos lipídios • Mobilização das gorduras: pode
diminuindo a degradação de carboidratos. chegar até 20% nadando a uma inten-
Por outro lado, em tempos de duração sidade acima de 80% do VO2máx em
mais intensos e curtos (35 minutos), a esforços de mais de uma hora;
porcentagem dos ácidos graxos na produ- • Termo regulação: em condições de
ção total de energia decresce a 20%. excessivo calor ou frio, pode chegar a
A produção de energia pela via anaeró- afetar notavelmente o rendimento.
bia pode ser utilizada a qualquer momen-
to. Isso é demonstrado através da elevada
concentração de lactato durante o esforço, RESISTÊNCIA DE LONGA
quando é possível um aumento de lactato DURAÇÃO III
no sangue até 10 mMol/l. O VO2máx para
obter altos resultados esportivos nesses Na Resistência de Longa Duração
limites temporais teriam que estar entre III (RLD III) a duração do esforço estará
os 75 a 80 ml/kg/min e as porcentagens entre os 90 minutos até às 6 horas e
estarão entre 85 a 90% desses valores correspondem às provas de 10 a 25 km
com uma frequência cardíaca que vai de em natação. A porcentagem de fibras
180 a 190 batimentos por minuto. Isso lentas nos esportistas varia entre os 75
significa que nadar a limiares elevados a 90%, que é decisivo para esse tipo de
das porcentagens de VO2máx abalam a resistência, em que a contínua e eleva-
importância desses fatores no rendimento da utilização de oxigênio na musculatura
da RLD II. ativada é o critério qualitativo.
Os fatores decisivos para o rendimen- O VO2máx nos melhores esportistas
to de RLD II devem ser, segundo Navarro de RLD III encontra-se entre os 75 a 85
(1998) e Neuman (1990, 1991): ml/kg/min. Por exemplo, um esportista
com um consumo de 5,6 litros e 70 Kg de
• Nível de limiar anaeróbio: manter massa corporal e uma solicitação do 70%
uma alta porcentagem de VO2máx de VO2máx, pode consumir 3,92 litros de
sem acumular lactato (80-85%) e VO2máx ou 56 ml/kg/min de VO2máx. O
manter um ritmo médio elevado de consumo máximo de oxigênio pode ser
velocidade; utilizado até quase 95% sem que haja
• Consumo máximo de oxigênio formação de lactato. A frequência cardía-
(VO2máx): com um VO2máx elevado, ca expressa-se em nível médio entre 140
as condições de utilização de oxigê- a 170 pulsações por minuto.
nio serão favorecidas em situações de O transporte calórico através do
limiar anaeróbio; sangue até a pele pode requerer até 75%
• O glicogênio muscular e hepáti- da totalidade do rendimento cardiovas-
co: mobilizam-se completamente, cular, o que produz um efeito negativo
48 Emerson Farto Ramirez

sobre a oxidação dos músculos implicados • Nível de limiar anaeróbio: pode ser
na atividade. Para conservar a temperatu- mais elevado que a RLD II (85 a 91% do
ra interna do corpo, termo regulação, são VO2máx) para manter um ritmo médio
produzidas enormes perdas de suor (3 a elevado de velocidade com concentra-
5 litros), que implicam uma maior visco- ções de lactato entre 2 e 3 mMol/l;
sidade do sangue e as perdas de eletró- • Consumo máximo de oxigênio: com
litos, especialmente sódio, cloro, potás- um VO2máx elevado, as condições de
sio e magnésio, prejudicando as funções utilização de oxigênio serão favoreci-
de condução nervosa e dos músculos das em condições de limiar anaeróbio;
(Navarro e Oca Gaia, 2011). • O glicogênio muscular e hepático:
Os depósitos de glicogênio nos múscu- esgotam-se totalmente, assim que for
los e fígado não são suficientes para conveniente, recomenda-se a ingestão
esforços intensos que duram mais de 90 de carboidratos durante o esforço;
minutos, daí a necessidade de ingestão de • Mobilização das gorduras e proteí-
líquidos e de alimentos. O consumo global nas: a porcentagem de oxidação das
de energia é de 2300 a 7000 kcal e estima- gorduras para produzir energia aeróbia
se que com um consumo de oxigênio de 3 pode alcançar de 30 a 70%. O forne-
l/min liberam-se aproximadamente 15 kcal/ cimento energético mediante a disso-
min e com 4 l/min 20 kcal/min, sendo que ciação proteica pode alcançar até 10%
25% dessa energia é utilizada para o traba- nos esforços mais longos;
lho muscular, enquanto que a porcentagem • Termo regulação: para regular
mais elevada 75% – destina-se à liberação a temperatura interna e manter as
de calor. funções de condução nervosa e dos
Os 95% da produção de energia são músculos, é necessário fornecer líqui-
via aeróbia, mas um nadador rápido com dos para evitar as perdas através da
um sprint final pode refletir de 3 a 5 mMol/l transpiração (3 a 5 litros) e eletrólitos
de lactato. Os ácidos graxos participam (Ni, Cl, H+, Mg).
com 30 a 50% na produção de energia,
podendo chegar até os 70% nos tempos
de duração mais prolongados. TIPOS DE RESISTÊNCIA EM
Tomar de 30 a 50 gramas de glicose por RELAÇÃO À ESPECIFICIDADE
hora de carga serve para manter a homeos- DA MODALIDADE ESPORTIVA
tase da glicose. Entretanto, esse aporte de
glicose não é suficiente devido à limitação Navarro e Oca Gaia (2011), distinguem
da absorção intestinal. Um mecanismo da a resistência básica, específica e compe-
compensação é a gliconeogênese que se titiva. No caso da resistência de base, a
evidencia no notável aumento do cortisol, mesma é entendida como:
na diminuição de um aminoácido, a alanina
e o forte aumento da ureia sérica. • A capacidade de executar um tipo
Os fatores decisivos para o rendimento de atividade independente do esporte
de RLD III são segundo Navarro (1998) e que implique muitos grupos musculares
Neuman (1990, 1991): e sistemas (sistema nervoso central,
Desenvolvimento e Alto Rendimento 49

sistema cardiovascular e respiratório) Todas as características da carga,


durante um tempo prolongado. Afeta principalmente a velocidade, a frequên-
tanto o componente aeróbio como o cia e a longitude de ciclo e a duração da
anaeróbio, com predomínio do aeróbio; carga, aproximam-se às condições especí-
• A capacidade de realizar durante um ficas de competição. Quando a resistência
longo tempo qualquer carga que impli- específica alcança os níveis de máxima
que a muitos grupos musculares e que semelhança com as condições de competi-
guarda uma relação ótima com um ção, distingue-se como resistência compe-
rendimento específico. titiva (Figura 9).
Essa classificação estabelece as condi-
Por outro lado, a resistência específi- ções básicas da programação do treina-
ca é a capacidade para executar esforços mento da resistência, uma vez que seja
típicos de uma especialidade desporti- possível distinguir os conteúdos e objetivos
va determinada, respeitando a estrutura fisiológicos do treinamento que mantêm os
do movimento e o caráter do esforço do conceitos de resistência básica, específica
nadador de forma idêntica ou similar à da e competitiva para cada especialidade de
especialidade desportiva. natação (Figuras 10 e 11).
50 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 51

6
METODOLOGIA DO
TREINAMENTO DA RESISTÊNCIA

Este capítulo terá como referência os • Contínuo;


métodos de treinamento aplicados por • Intervalado;
Navarro e Oca Gaia (2011), porque são • Repetições;
considerados completos e de fácil enten- • Séries quebradas e simuladoras.
dimento. Também serão expostas sessões
de treinamento realizadas por nadadores As diferenças entre esses seriam as
de 15 e 16 anos de nível internacional, seguintes (Tabela 11):
aplicadas em um centro de treinamento
desportivo, obtendo excelentes resultados • Com o método contínuo, a velocida-
competitivos. de pode ser uniforme (método contínuo
Para alcançar os objetivos de treina- uniforme) ou variável (método contínuo
mento, é necessário conhecer os métodos variável, ou fartlek);
de treinamento de resistência e seus • Com o método fracionado, quando os
efeitos. Na natação, o desenvolvimento da descansos entre repetições não permi-
resistência tem sido estudado por numero- tem uma recuperação total do esfor-
sos autores e podemos dividir os métodos ço realizado numa repetição antes de
de treinamento em: começar a seguinte, fala-se de método
52 Emerson Farto Ramirez

intervalado; adaptações de uma vez ou com um mesmo


• No caso em que a recuperação seja tipo de trabalho, e é precisamente por isso
completa, a nomenclatura é de método que se realiza treinamento aeróbio em
de repetições; diferentes zonas (A1, A2, A3).
• O método de séries (fracionadas ou
simuladoras) é uma fórmula mista entre
as duas anteriores. Tenta-se nadar um COMO ESTIMAMOS AS
número de distâncias com descansos INTENSIDADES DO TREINAMENTO
incompletos de recuperação. Por trás
desse bloco de distâncias, programa-se Os treinadores enfrentam a cada dia a
uma recuperação longa. necessidade de indicar a nossos nadado-
res a intensidade com a qual devem
O treinamento aeróbio é uma parte realizar cada exercício de treinamento.
essencial no programa de treinamen- Em algumas ocasiões, trata-se de algo
to dos nadadores, independentemente simples, a intensidade para o desenvolvi-
da sua idade e especialidade. A faixa de mento da velocidade tem que ser máxima,
intensidades para o treinamento aeróbio é ou o ritmo de trabalho precisa ser feito à
muito ampla e vai desde esforços leves e velocidade de competição.
moderados até exercícios de alta intensi- Porém, em outras ocasiões, a tarefa
dade. Provavelmente a única característica não é tão simples, e esse é o caso da maior
comum para os exercícios de treinamento parte do treinamento aeróbio.
aeróbio é a duração, que necessita ser Existem apenas duas formas para
prolongada. estimar a intensidade mais adequada para
O treinamento aeróbio está destinado o desenvolvimento da resistência aeróbia,
fundamentalmente a melhorar aspectos que são através da frequência cardíaca e
cardiovasculares centrais e a capacida- do lactato.
de oxidante dos músculos dos nossos Esse último, o lactato, apresenta
nadadores. Em nadadores adultos, essa alguns inconvenientes, pois não pode
melhora se produz com base em adapta- ser feito durante o nado, impossibilitando
ções tais como: também um acompanhamento permanen-
te. Todavia, o lactato é afetado pela dieta e
• O aumento da capilarização dos pelo treinamento prévio mais que através
músculos; da frequência cardíaca. Os dados são
• As melhoras na capacidade de capta- obtidos segundo esse critério e existem
ção, transporte e distribuição de oxigê- sérios riscos de erros, caso as medições
nio; não sejam rigorosamente controladas.
• O aumento do volume e a atividade A frequência cardíaca é, sem dúvida,
mitocondrial; um método simples e barato de estimar
• A melhora da capacidade para elimi- a intensidade em exercícios submáxi-
nar o lactato. mos, mas há um inconveniente, já que
existe a possibilidade de uma resposta
Não é possível influir em todas essas interindividual muito variada. Prescrever
Desenvolvimento e Alto Rendimento 53

intensidades individualizadas embasadas reserva e considerando como constante a


nas faixas de frequência cardíaca fixas frequência cardíaca de base, são estabe-
pode ser um método adequado para levar lecidas as faixas de intensidade com base
adiante treinamentos de baixa intensidade nas pulsações considerando os batimentos
ou para treinar atletas que não requerem sob a FCmáx, tal e como se pode ver na
um ajuste rigoroso das intensidades. Em Tabela 12.
todos os outros casos, e, obviamente, para
treinamento de nadadores de alto nível,
não é um sistema válido. DETERMINAÇÃO DA FREQUÊNCIA
Existe uma maneira de individualizar CARDÍACA MÁXIMA
as intensidades com base na frequência
cardíaca – através da frequência cardíaca Enquanto considerarmos a frequência
de reserva. A equação é a diferença entre cardíaca basal como constante, pode ser
a frequência cardíaca de base e a máxima aceitável para esta estimativa, a variabili-
(FCmáx). A porcentagem da frequência dade da frequência cardíaca máxima e o
cardíaca de reserva relaciona-se muito erro que sua consideração com base nas
estreitamente com o consumo de oxigênio fórmulas Standard provocaria, é neces-
e parece ser o método mais confiável para sário, portanto, determiná-la de maneira
individualizar as intensidades para o treina- precisa. Na Tabela 13 apresenta propos-
mento aeróbio. ta do seguinte teste para a determinação
Sobre a base da frequência cardíaca de individual da FCmáx de cada nadador.
54 Emerson Farto Ramirez

Observações do protocolo: Algumas observações sobre a


frequência cardíaca máxima:
• Tomar frequência cardíaca imediata
depois de cada série nos dois últimos • A frequência cardíaca máxima é
blocos; influenciada por fatores como a idade,
• A frequência cardíaca deve ser regis- o sexo e os perfis genéticos dos
trada com um monitor não manual e atletas (os meninos tendem a ter taxas
deve ser feita de maneira imediata; máximas de batimentos cardíacos entre
• A intensidade das últimas 8 séries 50 e 10, mais baixo do que em mulhe-
necessita ser máxima; res);
• Trata-se de um teste que precisa ser • Os níveis de frequência cardíaca em
feito muito esporadicamente e temos repouso podem estar influenciados
que assegurar que o estado de recupe- pelas adaptações ao treinamento da
ração dos nadadores ao começo seja resistência, a condição de saúde e o
ótimo, assim como sua motivação para estado de cansaço dos nadadores;
nadar rápido desde o princípio; • A diferença entre a gama de frequên-
• A frequência cardíaca máxima regis- cia cardíaca em repouso e o máximo do
trada nos servirá para determinar as exercício é a prescrita. Se dois nadado-
intensidades de trabalho aeróbio com res estão trabalhando a um ritmo de 160
base no quadro exposto anteriormente, pulsações por minuto, estarão atuando
e nos permitirá uma maior individualiza- em diferentes níveis de intensidade.
ção do treinamento;
• Para poder obter um correto registro Exemplo 1:
do batimento durante o treinamento, Nadador “A” com frequência cardíaca
é aconselhável utilizar monitores de máxima = 205.
frequência cardíaca. Caso isso não seja Se a intensidade do exercício é de
possível, deveremos treinar os nossos 160 batimentos por minuto, este nadador
nadadores com tomada manual do estará trabalhando a uma intensidade de
batimento em 10s para assegurarmos 45 batimentos abaixo de sua frequência
um nível mínimo de confiabilidade. cardíaca máxima.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 55

Nadador “B” com frequência cardíaca Ambos os nadadores estão trabalhan-


máxima = 175. do a 30 batimentos abaixo da frequência
Se a intensidade do exercício é de cardíaca máxima, seu objetivo deve manter
160 batimentos por minuto, esse nadador vários níveis diferentes. Os treinadores
estará trabalhando a uma intensidade de devem realizar um teste a cada 2-3 meses
15 batimentos abaixo de sua frequência durante a temporada e registrar os resul-
cardíaca máxima. tados determinando as zonas de trabalho
Dois nadadores com diferentes frequên- de maneira eficaz e individual (Tabela 14).
cias cardíacas de base, também trabalham Na Tabela 15 são demonstradas as
em valores muito diferentes, acima da diferentes classificações de diversos
sua frequência cardíaca em repouso. Os autores, visto que essa é uma problemá-
resultados da prova da frequência cardía- tica na compreensão das diferentes zonas
ca máxima estabelecem que os níveis do de intensidade do treinamento.
ritmo cardíaco de treinamento estão abaixo
do máximo.
CATEGORIZAÇÃO DO
Exemplo 2: TREINAMENTO
Nadador “A” com frequência cardíaca
máxima = 205. Consiste na atribuição de um valor ou
Treinando a uma intensidade de 30 fator numérico a diferentes categorias de
batimentos abaixo da frequência cardíaca treinamento. Essas categorias são chama-
máxima de 175 batimentos por minuto. das de Zonas de Intensidade (ZI) ou Zonas
Nadador “B” com frequência cardíaca de Treinamento (ZT) e baseiam-se em
máxima = 175. medidas fisiológicas, tais como a velocida-
Treinando a 30 batimentos abaixo de de nado associada a um nível de lacta-
da frequência cardíaca máxima de 145 to determinado ou ao ritmo de frequência
batimentos por minuto. cardíaca.
56 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 57
58 Emerson Farto Ramirez

A cada categoria é atribuído um coefi- TRIMP = tempo de treinamento


ciente arbitrário para ponderar os valores (minutos) x frequência cardíaca média
em que às sessões de treinamento com (bpm). Por exemplo: 40 minutos a 140
uma intensidade mais alta, é atribuído um bpm, TRIMP = 40 x 140 = 5600.
valor maior. A desvantagem desse sistema é que
Mujika et al. (1996) propuseram um não há distinção entre diferentes tipos de
sistema de níveis de intensidade para o treinamento, o que é um problema para o
treinamento a partir dos resultados em nadador de alta competição. Por exemplo,
competição e os níveis de lactato hemático 40 minutos a 135 bpm totaliza um valor
de um teste progressivo de nado (Tabela TRIMP de 5400, similar quando serão
16). Esses coeficientes são multiplicados percorridos no nado 30 minutos a 180
pela distância (quilômetros) de nado em bpm, sendo esses dois treinamentos muito
cada zona de intensidade do treinamento diferentes.
(sessão, semana), trata-se da soma das Assumindo a frequência cardíaca
distâncias nadadas em cada intensidade máxima (FCmáx) de 190 bpm, o primeiro
multiplicada pelo seu coeficiente de inten- treinamento realiza-se aproximadamente a
sidade, mais o volume do treinamento em 66% da FCmáx e o segundo, a 95%, este
seco. último mais intenso e implicando níveis de
lactato elevados e uma carga de treina-
mento maior que a anterior.
MÉTODO TRIMP Entretanto, quando diferenciamos o
método TRIMP por zonas de intensidade,
Chamado “Impulso de treinamento”, o Foster et al. (2001) dividiram a intensida-
método TRIMP define-se como “volume de de em cinco zonas, como podemos ver na
treinamento x intensidade de treinamento” Tabela 17.
e é específico ao treinamento de resistên- O número de zonas é utilizado para
cia, quando é utilizada a frequência cardía- quantificar a intensidade de treinamento.
ca ou as zonas de frequência cardíaca. No O TRIMP é calculado como o tempo total
começo, os pesquisadores propuseram o acumulado empregado em cada zona de
cálculo do TRIMP a seguir: intensidade (Tabela 18).
Desenvolvimento e Alto Rendimento 59

Se quisermos calcular o TRIMP para as métodos, a fim de atender ao objetivo do


diversas partes da sessão, simplesmente treinamento. Quando o nadador desen-
agregaremos os tempos empregados em volver velocidades baixas ou moderadas
cada zona (Tabela 19). (Figura 12), a entrada de energia principal
As Tabelas 20 e 21 são exemplos é conduzida através do sistema aeróbio.
A partir do momento em que a intensida-
de supera o limiar mínimo para produzir
adaptações aeróbias (limiar aeróbio e
anaeróbio) e, quando se utiliza um estímu-
lo de treinamento de longa duração (acima
de 90 minutos), as gorduras aportam a uma
parte importante da energia necessária e,
deste modo, seu suprimento de glicogênio
é poupado.
A frequência cardíaca está habitual-
mente entre os 120 e 150 bpm e os níveis
de lactato entre 1 a 3 mMol/l, podemos
denominar essa zona de aeróbia de baixa
intensidade (ABI). Nessas condições de
práticos de um treino realizado por um esforço, os nadadores velocistas têm
nadador de 15 anos e sua quantificação. usualmente valores mais elevados de
lactato do que os fundistas. Se a velocida-
de aumentar, chega-se a um ponto em que
LIMIAR AERÓBIO E ANAERÓBIO o lactato começa a se acumular no sangue
mais rapidamente do que pode ser elimi-
É possível lançar mão de diferentes nado.
60 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 61

Os produtos do metabolismo anaeró- será aquele nível mínimo da potência de


bio podem influenciar sobre o estado do trabalho com o qual se alcança o consumo
metabolismo aeróbio, atuando de forma máximo de oxigênio.
negativa sobre os mecanismos da resistên- Apesar da polêmica, o limiar anaeróbio é
cia aeróbia do ATP. Os produtos do metabo- amplamente empregado e muitos estudos
lismo anaeróbio acumulados retardam os indicam que pode ser utilizado para predi-
processos de oxidação nas mitocôndrias zer rendimentos de resistência de manei-
nas fibras musculares, afetando a permea- ra precisa, caracterizar os esportistas de
bilidade das membranas em nível da respi- resistência, determinar uma intensidade de
ração celular, o que conduz ao aumento do treinamento relativa e avaliar os efeitos de
cansaço e diminuição da capacidade de treinamento (McArdle et al., 1978; Davies
trabalho. e Thompson, 1979; Sjodin e Jacobs, 1981;
Por isso, para a manifestação dos Weltman, 1995).
processos aeróbios é muito importante o O limiar anaeróbio ou limiar de lacta-
nível de potência do trabalho a partir do to é a velocidade de nado em que há um
qual, juntamente com o mecanismo aeróbio maior acúmulo de lactato no sangue do
de abastecimento energético, incorpora- nadador. O dado que reflete com precisão
se o glicolítico. Esse nível de potência é o rendimento de resistência do nadador,
comumente chamado de limiar anaeróbio. se caracteriza como a velocidade de nado
À medida que vai aumentando a potência obtido quando do acúmulo de lactato. Com
de trabalho, o abastecimento energético o treinamento de resistência, o nadador
glicolítico intensifica-se até o momento em conseguirá ir mais rápido sem acumular
que se alcança a velocidade crítica. Esse tanto lactato, melhorando assim seu limiar.
62 Emerson Farto Ramirez

Lorenzo et al. (2002) usam duas fases: de 4 mMol/l, Mader et al. (1976), em cujos
estudos iniciais localizou o limiar anaeró-
a) Abaixo do limiar anaeróbio, a relação bio, define essa zona como a mais idônea
entre oxigênio abastecido e atividade para a melhora da resistência aeróbia.
metabólica do músculo encontra-se Na natação, podemos utilizar distin-
próxima à unidade, ou seja, o sistema tos protocolos para determinar o limiar
cardiorrespiratório abastece o oxigê- anaeróbio. Os testes mais conhecidos
nio com quantidade suficiente para as são:
mitocôndrias do tecido muscular oxida-
rem o ácido pirúvico; • Teste escalonado progressivo de
b) Acima do limiar anaeróbio, o sistema 8x200m;
de fornecimento de oxigênio não repas- • Teste escalonado progressivo de
sa oxigênio suficiente ao músculo, de 4x400m;
maneira que parte do ácido pirúvico não • Teste de 8x100m de Maglischo;
pode oxidar-se na mitocôndria e reduz- • Teste de 6x400m de Maglischo;
se, então, o ácido lático. A ação evita • Teste de duas distâncias de Mader
que o potencial de redução do Citosol (2x400m);
cresça o suficiente, nessas condições, • Teste adaptado de três distâncias
aumenta a produção de CO2 e H+. (2x400 + 1x100m);
• Método de Griess (Maxlass).
A partir de certa intensidade, o ácido
lático produzido pelo organismo, especifi- Se um nadador possui um limiar
camente o músculo, pode apresentar dois anaeróbio correspondente a uma concen-
comportamentos: amortecer dentro das tração de lactato de 4 mMol/l, deveria ser
próprias células e/ou expulsar o sangue capaz, na teoria, de manter esse número
através das células musculares, traba- – e a velocidade em que se alcança esse
lho realizado em conjunto com outras nível – durante 30 minutos ou mais. As
moléculas, dando lugar à amortização concentrações de ácido lático que podem
pelos tamponamentos do plasma. Esses ser toleradas variam bastante de nadador
dois mecanismos não são excludentes e o para nadador.
organismo os utiliza sempre. O treinamento de limiar anaeróbio ou
Depois de 6-10 semanas, ao realizar um de aeróbio médio é um treinamento de
teste com velocidade determinada, consta- alta qualidade aeróbia. Em um nadador
ta-se uma redução importante nos níveis bem treinado, a frequência cardíaca está
de lactato no sangue. Após essa rápida geralmente em 20 abaixo da frequência
alteração inicial, as melhoras se “retran- cardíaca máxima (Navarro et al., 2003).
cam” com pouca redução na quantidade de
ácido lático acumulado (Rodriguez, 2000).
Podemos determinar o limiar a partir de CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO
uma concentração determinada de lacta-
to. As concentrações mais utilizadas são Se o nadador supera a velocidade
de 2, 5, 3 e 4 mMol/l. Na taxa metabólica que corresponde ao limiar anaeróbio,
Desenvolvimento e Alto Rendimento 63

irá se aproximando ao ritmo máximo em imagem será o ritmo de treinamento que


que o organismo pode transportar e utili- deverá ser empregado para trabalhar no
zar oxigênio (VO2máx). De acordo com sistema aeróbio (Navarro, 1996).
Navarro (1996), a zona de intensidade de Para que um nadador chegue a alcan-
treinamento acima do limiar anaeróbio e çar seu consumo máximo de oxigênio,
o VO2máx, é denominada aeróbia de alta necessitamos que seu sistema de trans-
intensidade (AAI), demonstrada na Figura porte de oxigênio esteja funcionando ao
12. máximo. Para isso é necessário que o
A curva que se forma com a união de nadador alcance sua frequência cardía-
cada um dos pontos, que relacionam o ca máxima, pois isso é uma indicação de
tempo com a respectiva frequência cardía- que está bombeando sangue (e, portanto
ca, ultrapassa até sua interseção com o oxigênio) a sua máxima capacidade.
nível de frequência cardíaca máxima que Um nadador bem treinado pode manter
tenha o nadador. Desde o ponto de interse- durante 4 e 6 minutos a velocidade de
ção entre essa linha e o nível da frequência nado que produz o consumo de oxigênio
cardíaca máxima, desenha-se uma linha máximo (VO2máx), (Rodriguez, 2000).
vertical até o eixo da abscissa onde a veloci- Por conta disso, em relação à natação,
dade é representada. O ponto indicado na os testes de consumo máximo de oxigênio
64 Emerson Farto Ramirez

são feitos realizando de 3 a 4 repetições Por sua parte, o trabalho de resistência


de 400m nado livre, sendo a última perto do tipo anaeróbio está dedicado funda-
ao melhor tempo em 400 metros para mentalmente a adaptar o componente
esse nadador. Por exemplo: 3x400m livres periférico (sistema muscular) ao acúmulo
(com recuperação de 15 minutos) a ritmos de lactato (Figura 13).
de 1’40’’, 1’23’’ e 1’11’’ minutos para cada A resistência no nadador se desen-
100m. volve a partir de um trabalho misto que
Na chegada dos últimos 400m será envolva o sistema aeróbio e o anaeróbio.
medido no nadador o VO2, calculando-se Não podemos desenvolver o VO2máx de
o valor máximo por extrapolação. A partir um nadador, se não incluirmos o sistema
de 70% da velocidade máxima nos 400m anaeróbio para poder conseguir uma inten-
(ou seja, o ritmo de 1’40’’ em 100m para sidade de exercício alta e, assim, produ-
o nadador desse exemplo), o sistema zir um estímulo de adaptação do sistema
anaeróbio do glicogênio está colaborando aeróbio.
em grande parte com a energia necessária Segundo Maglischo (1999), os espor-
para nadar. tistas que podem nadar em uma elevada
Durante uma competição de 1500m os porcentagem de VO2máx sem acumu-
nadadores percorrem com uma velocidade lar grandes quantidades de ácido lático
abaixo de 70% da melhor performance na em seus músculos, possuem uma vanta-
prova dos 400m. Portanto, em quase todas gem sobre os outros, que simplesmente
as distâncias de competição, utiliza-se a apresentam um VO2máx alto.
energia do sistema anaeróbio e, conse- Pode ser difícil entender isso porque,
quentemente, o treinamento desse sistema na teoria, nadadores com uma eleva-
melhora a resistência do atleta (Rodriguez, da porcentagem máxima deveriam ser
2000). capazes de consumir mais oxigênio em
Não seria correto pensar que o trabalho qualquer porcentagem do máximo, em
de resistência aeróbia desenvolve somen- comparação a esportistas com menor
te o componente central: VO2máx. Todavia, na vida real, essa
relação entre um VO2máx alto e o desem-
• Volume de batimento do coração; penho, parece não existir. Aparentemente,
• Capacidade pulmonar; a capacidade de alguns esportistas, ao
• Capacidade do sangue para levar nadar em uma porcentagem mais alta do
oxigênio (hemoglobina). máximo, supera a vantagem de um grande
VO2máx nos outros.
Esse trabalho também desenvolve o Os cálculos a seguir ilustram como um
componente local na musculatura: nadador com um VO2máx menor pode
nadar em um ritmo mais rápido que um
• Mitocôndria nos músculos; companheiro de equipe com VO2máx
• Rede de capilares musculares; maior. Maglischo (1999), apresenta uma
• Enzimas aeróbias e anaeróbias; comparação das porcentagens de consu-
• Depósitos energéticos musculares mo de oxigênio para nadadores com
(glicogênio, ATP, FCr). diferentes valores de VO2máx.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 65

Nadador A Enquanto a tecnologia não desenvolve


VO2máx = 60 ml/kg/min “ergômetros” específicos para esse espor-
O nadador “A” pode nadar a 92% do te, a determinação vem sendo feita através
máximo sem ficar fadigado: portanto, ele de ergômetros tradicionais: “esteira rolan-
pode consumir oxigênio em 55,2 ml/kg/ te” e “bicicleta ergométrica”. Na Figura 14
min. 60 x 0,92 = 55,20. é mostrado o conhecido swimmingflume.
Existem alternativas para valorizar a respos-
Nadador B ta do nadador, que consiste em um siste-
VO2máx = 65 ml/kg/min ma de recolhimento de ar expirado, que se
O nadador “B” pode nadar a 75% do dispõe sobre uma plataforma fixa, com um
máximo sem ficar fadigado: portanto, ele aparelho que acompanha o nadador imóvel.
pode consumir oxigênio em 48,75 ml/kg/ Os nadadores de elite alcançam um
min. 65 x 0,75 = 48,75. valor de VO2máx no ergômetro específico
significativamente menor (6 a 7%) que na
A valorização do VO2 na natação tem esteira rolante, mas da mesma magnitude
considerado uma série de circunstâncias. que na bicicleta ergométrica (Holmer, 1974).
Por exemplo, o fato de ser o único espor- O autor sugere que quando não dispuser de
te realizado em posição de decúbito, de um swimmingflume, deve-se usar a bicicle-
maneira que, primeiro, é afetado o retorno ta ergométrica.
venoso até o coração, e, segundo, a respi- Em nadadores destreinados, o VO2máx
ração necessariamente relaciona-se com percebido durante a prática da natação era
o padrão motor, com exceção do estilo de ainda mais reduzido (20%) em compara-
costas (Lorenzo et al., 2002). ção ao valor alcançado na corrida e 10%
66 Emerson Farto Ramirez

ao pedalar (Holmer, 1974). A explicação de • Essas provas requerem bom equilí-


que esse parâmetro seja menor na natação brio e preparação no desenvolvimento
deve-se a todos os “degraus” que o deter- de todos os sistemas energéticos;
minam. • Através da preparação para essas
Nesse contexto, podemos afirmar que provas, educaremos o nadador a identi-
o trabalho de ritmo de 200, 400 e 800 ficar a gama de opções de frequência
serão os mais apropriados para o traba- cardíaca de trabalho aeróbio.
lho do VO2máx, em que, além da parte Os requisitos para o treinamento do
do controle da velocidade e do batimento, VO2máx em jovens nadadores são:
também será imprescindível o controle da
frequência de braçada (FB) e a longitude • Essa preparação beneficia o nadador
da braçada (LB). Existem vários motivos em todas as provas entre os 800 até os
para treinar jovens nas provas de 200 e 100 metros, podendo chegar inclusive,
400 metros: em alguns momentos, até os 1500;
Desenvolvimento e Alto Rendimento 67

• Treinar para essas provas permitirá TREINAMENTO DA


ao nadador buscar uma especialização RESISTÊNCIA AERÓBIA
posterior determinado por suas carac-
terísticas físicas, fisiológicas e técni- A capacidade que permite a um
cas; nadador manter, por tanto tempo, uma
• É difícil supor se os nadadores de determinada velocidade de base aeróbia,
maturidade tardia evoluirão até carac- permite-nos concluir que quanto maior é o
terísticas de velocidade e meio fundo. nível de resistência aeróbia, mais econô-
Trabalhando desse modo, preparamos mico será o gasto de energia durante cada
o nadador para que escolha a opção rendimento aeróbio.
mais rentável esportivamente com O volume de trabalho aeróbio produz
garantias de êxito quando chegar seu benefícios relacionados ao desenvol-
desenvolvimento físico. vimento das estruturas e das funções
Os 85-90% do total do trabalho deve cardiovasculares, trazendo igualmen-
estar planejado para a melhora da condi- te consequências positivas, na medida
ção aeróbia em sua totalidade. Será em que aumenta a economia de nado e
necessário planejar desde treinos mais exige menor demanda de energia para um
extensivos (40-50 bpm abaixo da FCmáx) esforço anaeróbio mais efetivo. A Figura
baseadas na melhora da eficiência técni- 15 mostra como uma melhora econômi-
ca, estilos, braços e etc., até o trabalho ca de nado sobre as intensidades baixas
aeróbio mais exigente (30-20 bpm abaixo afeta o treino em intensidades mais eleva-
da FCmáx). das (Hellard, 1998).
68 Emerson Farto Ramirez

TREINAMENTO AERÓBIO e os descansos entre as repetições muito


DE BAIXA INTENSIDADE reduzidos. Esses exercícios podem ser
variados, podendo ser de técnica de nados
O Treinamento aeróbio de baixa intensi- pouco exigentes, como trabalho somente
dade (ABI) ou treinamento no limiar aeróbio de braços ou de pernas, assim como de
quantifica a velocidade mínima, que produ- habilidades.
zirá uma melhora na resistência aeróbia A intensidade desses exercícios não
das fibras de contração lenta e com menor demanda elevado consumo de oxigênio,
influência nas fibras de contração rápida. uma vez que devem estar aproximadamen-
O objetivo desse treinamento é utilizar te 50-60% do VO2máx e uma frequência
de forma econômica e estável a capacida- cardíaca entre 70-50 batimentos abaixo da
de aeróbia em períodos longos de tempo frequência cardíaca máxima do nadador
(Figura 16). O treinamento ABI também (ver Tabela 13, para determinar a FCmáx).
aumenta a capacidade de utilizar as gordu- Outra forma de determinar a velocidade
ras como fonte de energia e economizar o de nado nessa intensidade seria a veloci-
consumo de glicogênio. dade média dos 200 metros. Esse dado
Isso implica nadar uma distância longa pode ajudar o treinador a programar os
à velocidade moderada ou mesmo curta, treinamentos. Assim, pode-se comprovar
sempre que realizados volumes elevados que é possível manter uma velocidade que
Desenvolvimento e Alto Rendimento 69

se aproxime a 70-75%. de exercícios e a alternância de estilos são


Dessa forma, os parâmetros fisiológicos recomendáveis, com exceção das especia-
mais característicos relacionados ao treina- lidades de fundo, em que, por razões de
mento nessa zona de intensidade são: especificidade de treinamento, aconselha-
se nadar um maior volume no estilo crawl,
• Frequência cardíaca de 120 a 150 como podem realizar os especialistas de
bpm ou entre 50-70% da FCmáx do águas abertas.
nadador; nos velocistas, esta frequên- Para os demais nadadores, temos que
cia cardíaca pode ser um tanto superior ter muito cuidado, já que sua utilização
que a dos fundistas; exagerada nos especialistas em distâncias
• Ligeira alteração da frequência respi- curtas pode afetar negativamente a melho-
ratória; ra da força explosiva e impedir hipertrofia
• Lactato muito baixo, mais acentuado (Hakkinen et al., 1989, 1991), conforme
nos fundistas; demonstração na Figura 17.
• Combustão de gorduras ou combina- Esse tipo de intensidade nos treinamen-
ção de lipídios. tos facilita a recuperação dos nadadores,
melhorando, além disso, a capacidade
Nesse tipo de intensidade, o nadador de resistência aeróbia. O treinamento de
deve manter uma técnica eficaz. A utilização regeneração em uma ou duas sessões
70 Emerson Farto Ramirez

consecutivas pode seguir a uma sessão minutos a 2 horas e também pode chegar a
de treinamento de capacidade e potên- ser de várias horas em casos determinados
cia anaeróbia, potência aeróbia ou uma como, por exemplo, nas travessias.
competição. É aconselhável conceder ao A intensidade da carga corresponde ao
nadador um dia completo de descanso na âmbito entre o limiar aeróbio e o anaeróbio
semana, mas nunca depois da competição (1,5 a 3 mMol/l de lactato) o que aproxima-
(Olbrecht, 2000). Para melhora da resis- damente supõe uns 60 a 80% da velocidade
tência aeróbia ligeira utiliza-se o método de competição. Como consequência, com
contínuo extensivo e o método de intervalo a prática desse método de treinamento,
extensivo. consegue-se uma maior economia do rendi-
mento cardiovascular, um melhor aprovei-
tamento do metabolismo lipídico, manter/
MÉTODO CONTÍNUO UNIFORME estabilizar o nível aeróbio alcançado e um
aprimoramento do ritmo de recuperação.
Caracteriza-se por um alto volume Os exercícios de treinamento do método
de trabalho sem interrupções e é utiliza- contínuo uniforme extensivo podem ser
do principalmente no período preparató- elaborados conforme demonstração na
rio (em um desenho convencional) ou no Tabela 22.
mesociclo de acúmulo (desenho contem- Como consequência, com esse tipo
porâneo – ver exemplo de planificação do de treinamento, seus efeitos fisiológicos
treinamento). O principal efeito é a melhora seriam:
e aperfeiçoamento da capacidade aeróbia,
em função da duração e a intensidade da • Maior economia do rendimento
carga que se emprega. cardiovascular;
• Melhor aproveitamento do metabolis-
mo lipídico;
MÉTODO CONTÍNUO • Maior estabilização do nível aeróbio
UNIFORME EXTENSIVO alcançado;
• Melhora do ritmo de recuperação do
A duração da carga é longa, de 30 nadador.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 71

MÉTODO INTERVALADO • Em função da duração do treinamen-


to, o tempo dos intervalos de descanso,
Abrange todas as variantes de treina- por regra geral, é de 45 a 90 segundos;
mento fracionado em que não é alcançada • Ao determinar a intensidade de traba-
uma recuperação completa entre as fases lho e as pausas, deve-se tomar como
de carga e descanso. Durante a carga, orientação a frequência de contrações
produz-se um estímulo de hipertrofia sobre cardíacas de 170 a 180 bpm ao final do
o músculo cardíaco devido à maior resis- trabalho e de 120 a 130 bpm ao final
tência periférica e, no período de descan- da pausa. O aumento da frequência
so, produz-se um estímulo de aumento da cardíaca em mais de 180 bpm durante
cavidade provocado pelo maior volume o trabalho e sua redução acima de 120
cardíaco ocasionado pela queda da resis- bpm ao final da pausa não é oportu-
tência periférica (Navarro, 2002). no, uma vez que em ambos os casos
A duração do intervalo de descanso é observa-se uma redução do volume de
calculada através da frequência cardíaca. batimentos do coração, assim como a
O critério básico é que a frequência cardía- diminuição da eficiência do treinamen-
ca se recupere até 120 a 130 bpm. Para to.
Platonov e Fessenko (1994), ao aplicar o Na Tabela 23, Rodriguez (2000), ofere-
método intervalado com a finalidade de ce um estudo em que se pode ver o efeito
aumentar o nível de produtividade aeróbia, do tipo de repetições (50 a 200m) e a
é necessário guiar-se pelos seguintes duração do descanso (10 a 180 segundos)
princípios embasados em um enfoque na velocidade de nado e a acúmulo de
fisiológico: lactato no sangue. Como se pode observar,
os treinamentos nessa tabela são todos de
• A duração dos exercícios individuais 1000 metros e foram utilizadas diferentes
não deve superar 1 a 2 minutos; combinações de trabalho e descanso para
72 Emerson Farto Ramirez

serem realizados. seguinte estudo de Beltz et al. (1988) ratifi-


Em cada distância, observa-se como o ca a afirmação (Figura 18).
tempo de descanso afeta a velocidade de Séries de 200m com 60’’ de descan-
nado escolhida. Por sua vez, quanto maior so e de 100m com 10’’ de descanso são
a velocidade de nado, mais acúmulo de as ideais para trabalhar 100% o consumo
lactato em distâncias de 100 e 200m. As máximo de oxigênio quando queremos
séries de 100m são as que acontecem com desenvolver o fator aeróbio. Descansos
um acréscimo maior de lactato quando se mais longos ou repetições mais curtas (50
descansa 3 minutos. ou 25m) fazem com que a intensidade de
Em geral, todas as distâncias superio- nado vá aumentando e possa ser trabalha-
res a 50m com descansos longos (1 a da acima do consumo máximo de oxigênio.
3 minutos) passam a estimular o siste- O treinamento intervalado aumenta
ma glicolítico (anaeróbio lático) e são as as possibilidades funcionais do coração,
recomendadas para trabalhar a resistência as quais contribuem com o principal fator
anaeróbia lática (tolerância ao lactato). limitador do nível de produtividade aeróbia.
As séries de 100 e 200m, com descan- Não obstante, o efeito desse método não
so inferior a 3 minutos, não estimulam se vê limitado pelo aumento de volume do
tanto o sistema anaeróbio, a julgar pelos músculo cardíaco. Sua aplicação desen-
menores lactatos, que são mais úteis ao volve a capacidade do esportista para que
desenvolvimento do sistema aeróbio. O os tecidos utilizem intensamente o oxigênio
Desenvolvimento e Alto Rendimento 73

e tem um efeito positivo sobre o nível de iguais ou menores à distância de compe-


produtividade anaeróbia. tição, o descanso será muito curto, entre
10:1 a 15:1 (Richards, 2010).
Numa distância maior, maior será o
MÉTODO INTERVALADO repouso, por exemplo: a recuperação para
EXTENSIVO os 100m seria de 5 a 10’’. Os exercícios de
treinamento do método IE podem ser elabo-
O volume de treinamento do método rados da seguinte maneira (Tabela 24).
intervalado extensivo (IE) estaria sobre Como consequência, com esse tipo
os 3500 a 4000m, por meio de repetições de treinamento, seus efeitos fisiológicos
de distâncias intercaladas com breves serão:
descansos. A frequência cardíaca estaria
abaixo de 40 batimentos da FCmáx para • Maior economia do rendimento
que isso ocorra: a velocidade de nado é cardiovascular;
baixa, a recuperação é curta, de forma • Melhor aproveitamento do metabolis-
que a nova repetição inicia-se quando a mo lipídico;
frequência baixar 20 batimentos. • Maior estabilidade do nível aeróbio
As distâncias preferidas são de 400 alcançado;
a 800m com descansos de 5 a 30’’. O • Melhora do ritmo de recuperação do
descanso entre repetições é usualmente 6 nadador.
a 10 vezes menos que o tempo de esfor- Na Tabela 25 são expostas algumas
ço, se as distâncias forem maiores que a pautas para essa zona de treinamento
distância de competição, o tempo seria de aeróbio.
5:1 a 6:1, entretanto, se as distâncias são As distâncias utilizadas para esse tipo
74 Emerson Farto Ramirez

de treinamento através do método contí- intensidade da sessão (quantos metros


nuo devem adequar-se às necessida- em quanto tempo, mesclando todos os
des de cada nadador em função de sua tipos de treinamentos);
especialidade. • É melhor ter sessões mais curtas com
Considerando o fato de que o nadador maior intensidade, que sessões longas
é especialista em distâncias maiores, as com menor intensidade;
distâncias de nado que são empregadas • A capacidade de atenção das crian-
no nado contínuo devem ser igualmente ças é curta;
maiores (Tabela 26). • As crianças aprendem através de
Na tabela anterior, as recomendações estímulos visuais;
passam a ser para os nadadores adultos, • As crianças perdem o interesse facil-
mas para chegar a treinar a esses volumes mente;
e intensidades, teríamos que preparar • As crianças não aprendem bem
os nadadores em categorias inferiores. ouvindo;
A Tabela 27 apresenta uma progressão • Treinar é a arte do rendimento. Temos
desse tipo de trabalho para as diferentes que educar e entreter, então faça as
categorias da natação. sessões com essa intenção;
Observações com relação ao treina- • Desafiar as crianças para que sejam
mento em grupos de idades: melhores e mais eficientes.

• O desenvolvimento produz-se ao Uma vez que estabelecemos nossos


longo dos meses, não em dias ou objetivos de intensidade, usamos o princí-
semanas; pio de progressão para acrescentar a
• Medir o aspecto mais importante, a intensidade reduzindo os intervalos de
Desenvolvimento e Alto Rendimento 75

descanso (mais nado em menos tempo, Continue dificultando os intervalos


mas tudo aeróbio). O segredo, é claro, é de descanso e o volume total da série e
conseguir isso mantendo uma boa mecâni- quando acontecer de alguns nadadores
ca de braçada. não serem capazes de seguir o ritmo,
podemos sugerir:
Exemplo de uma progressão:
• Colocar nadadeiras (reduzir uso de
• Semana 1, 12x100m crawl com 1’40’’; nadadeiras com o tempo);
• Semana 2, 12x100m crawl com 1’35’’; • Fracionar as repetições. Pode ser
• Semana 3, 12x100m crawl com 1’30’’; 1x100m, depois 2x75m e depois voltar
• Semana 4, 12x100m crawl com 1’25’’. a 1x100m;
Tudo isso é para reduzir o descanso, • Nado contínuo até acabar e, quando
mas qual é a progressão seguinte? Depois terminar, ver a distância que ficou de
do ciclo de 4 semanas, iremos voltar atrás manter o intervalo da série;
e começamos com esta progressão: • Todas as opções têm pontos fortes e
fracos na preparação do jovem atleta,
• Semana 5, 16x100m crawl com 1’40’’ sob o aspecto filosófico.
(mais volume na série);
• Semana 6, 16x100m crawl com 1’35’’; Em relação aos outros estilos, de costas,
• Semana 7, 16x100m crawl com 1’30’’; por exemplo, pode ser feito igual ao crawl,
• Semana 8, 16x100m crawl com 1’25’’; ajustando corretamente os intervalos. É bom
• Depois, para as semanas 9-12, volta utilizar o estilo costas para facilitar a abertu-
a 12x100m e começa a progressão com ra dos ombros. É um bom método para o
1’30’’-1’25’’-1’22’’-1’20’’; trabalho aeróbio, ainda que seus requisitos
• Para as semanas 13-16, 20x100m de força do tronco sejam maiores que no
crawl com 1’30’’-1’25’’-1’22’’-1’20’’. crawl. Por isso, é usual melhorar o crawl
76 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 77
78 Emerson Farto Ramirez

também quando se trabalha de costas. mínimo, vai demorar 48 horas para formu-
Nos nados borboleta e peito, é difícil lar-se por completo (Platonov, 1998). É
realizar muito trabalho aeróbio com nadado- recomendável a ingestão de bebidas isotô-
res dessa faixa etária. O alto nível de força nicas e de uma dieta rica em carboidratos
necessária para nadar corretamente esses a fim de uma reposição adequada durante
estilos não permite que o nado seja aeróbio. o esforço.
O timing correto nesses estilos é muito Com a finalidade de conhecer este
importante, assim, costuma ser prejudicial ritmo, os nadadores podem ser testados
subordinar o aspecto técnico para reali- a cada quatro semanas, fazendo um teste
zar trabalho aeróbio. Todavia, o trabalho progressivo. Ao finalizar cada repetição,
de técnica aeróbia e o trabalho de pernas retira-se uma pequena amostra de sangue
podem ser realizados corretamente nesses do dedo ou do lóbulo da orelha para conhe-
estilos. cer a concentração de lactato no sangue
após o exercício.
O ritmo de acúmulo de lactato aumenta
TREINAMENTO AERÓBIO DE suavemente desde o princípio, até alcan-
MODERADA INTENSIDADE çar um ponto crítico em que um peque-
no aumento de velocidade origina um
O treinamento aeróbio de moderada crescimento desproporcional do acúmulo
intensidade (AMI) abrange intensidades de lactato. O limiar anaeróbio é onde o
de nado com concentrações de lactato no organismo já não é capaz de eliminar todo
sangue entre 3 a 4 mMol/l em nadadores o lactato produzido.
adultos, porém nadadores com alto nível Nessa velocidade, o nadador obser-
de treinamento de resistência podem vará que é capaz de manter-se maior
alcançar um valor de 2,5 mMol/l de lactato. tempo, mas que também se fadigará mais
É por isso que também pode-se denomi- quando aumentar o limite de velocidade.
nar treinamento de limiar anaeróbio. Em Se o limiar anaeróbio é alcançado em uma
geral, o tipo de treinamento que melhora elevada porcentagem de consumo máximo
o limiar anaeróbio é o de nadar distâncias de oxigênio, o nadador terá maior capaci-
longas com descansos curtos, o proble- dade para o rendimento de resistência de
ma fundamental é saber manter o ritmo longa duração.
adequado. Nos métodos que veremos a seguir,
Se quisermos realizar o controle do o treinador pode desenhar objetivamen-
treinamento através da frequência cardía- te o ritmo de treinamento para melhorar
ca, essa deverá estar abaixo de 25 e 30 a capacidade de resistência do nadador.
batimentos em relação à FCmáx. Nesses Esse teste deve ser repetido após várias
esforços, utiliza-se o glicogênio muscular semanas, com a finalidade de reajustar o
e a quantidade do mesmo nos músculos ritmo de treinamento baseado nas melho-
esgota-se em mais de 60% em 45 minutos rias que o nadador tenha conseguido com
(Saltin e Karlsson, 1971) indo à velocidade o treinamento.
de limiar anaeróbio. Um exemplo do tipo de treinamento seria
A recuperação desse glicogênio, no 6x400 saindo cada 4’30’’ a um ritmo médio
Desenvolvimento e Alto Rendimento 79

de 3’47’’ a cada 300 metros. Um ritmo mais eliminação do lactato.


rápido causaria um excessivo acúmulo de A diminuição do lactato na mesma
lactato e, como consequência, uma fadiga velocidade determinada depois de um
excessiva. Infelizmente, a determinação da treinamento AMI pode ser atribuída ao
concentração de lactato não está ao alcan- aumento do tamanho da mitocôndria, ao
ce de todos, daí a necessidade de recorrer número de mitocôndrias e às enzimas
a outros procedimentos para determinar o mitocondriais (Holloszy e Coyle, 1984;
ritmo de trabalho adequado para o treina- Honig et al., 1992). O resultado combina-
mento do limiar anaeróbio. do dessas adaptações de treinamento é
Ainda que as distâncias longas sejam uma capacidade incrementada para gerar
mais recomendáveis para esse tipo de energia através da respiração mitocondrial
treinamento, pode-se utilizar qualquer (produção celular de ATP na mitocôndria).
distância, desde que seja realizado com Além disso, o treinamento nessa zona
a velocidade adequada e com períodos de intensidade causa um aumento na utili-
de descanso corretos. As velocidades do zação de lactato nos músculos, originan-
nado são mais lentas que as do treina- do maior capacidade para a eliminação
mento aeróbio intenso, por conseguinte, de lactato desde a circulação (Gladden,
os descansos devem ser mais curtos. Em 2000) e, por outro lado, também irá melho-
distâncias longas, o descanso raramen- rar a intensidade capilar ao redor dos
te excede os 2 minutos e, nas distâncias músculos, especialmente das fibras de
curtas, de 25, 50 e 100 metros, podem ser contração lenta. Essa adaptação melho-
utilizados períodos de descanso tão curtos ra o fluxo sanguíneo durante o exercício,
como 5 segundos. o que irá aumentar a aceleração do lacta-
O volume total de trabalho é superior to e a acidose (Robergs e Roberts, 1997;
ao de um treinamento para o desenvolvi- Weltman, 1995).
mento da potência aeróbia, devido ao fato De maneira resumida, Navarro e Oca
de que as intensidades não são tão altas Gaia (2011), citam os parâmetros fisiológi-
e os mecanismos de eliminação de lactato cos mais significativos para essa zona de
operam imediatamente. Por essa razão, o intensidade aeróbia:
trabalho deve ocorrer na forma de repeti-
ções ininterruptas e nunca em forma de • Frequência cardíaca abaixo de 20-40
séries. da FCmáx, com 160 e 180 bpm. Com
O objetivo fisiológico principal é melho- o treinamento, irá aumentando no
rar a velocidade do nadador nessa zona, nadador a frequência cardíaca corres-
de modo que os valores de consumo de pondente à intensidade de limiar;
oxigênio nas velocidades de limiar anaeró- • Incremento da frequência respiratória;
bio aproximam-se ao VO2máx (Figura 19), • Concentração de lactato de 3 a 5
oscilando geralmente entre os 70 a 90% mMol/l (mais baixa nos fundistas);
do VO2máx. Essa adaptação fisiológica • Utiliza-se principalmente o glicogênio
permite ao nadador manter velocidades muscular.
contínuas de nado mais elevadas, enquan-
to existe um equilíbrio entre a produção e a Os métodos utilizados para o
80 Emerson Farto Ramirez

treinamento nessa zona de intensidade batimentos abaixo da FCmáx. É altamen-


seriam o método contínuo intensivo (CI), te recomendável que o exercício de nado
o método contínuo variável 1 (CV1) e o seja sobre o estilo principal do nadador
método intervalado extensivo (IE). ou com técnicas e habilidades similares.
Nos estilos peito e borboleta, é também
recomendável mesclar com o nado crawl
MÉTODO CONTÍNUO INTENSIVO na série.
Com a prática desse método de treina-
O trabalho contínuo realizado nessas mento, consegue-se uma melhora no
condições deve ser com mais intensida- metabolismo do glicogênio, maior veloci-
de que o método contínuo extensivo e, dade em condições de limiar anaeróbio,
em consequência, com uma duração de aumento do consumo máximo de oxigênio
carga proporcionalmente menor. A duração devido ao incremento do número de capila-
da carga é longa, de 30 minutos a 1 hora, res e a melhora do rendimento cardíaco,
podendo chegar a 90 minutos. melhor compensação lática durante inten-
A intensidade da carga corresponde sidades elevadas e melhor sustentabilida-
ao âmbito do limiar anaeróbio (3-4 mMol/l de de uma intensidade elevada durante
de lactato ou ligeiramente acima até os 5 os esforços prolongados. É considerado
mMol/l) com uma frequência cardíaca de 30 recomendável seu uso no desenvolvimento
Desenvolvimento e Alto Rendimento 81

da resistência de média e longa duração I, repetições = 1’10’’ x distância em 100


II, III. metros.
O teste de 30 minutos de nado (T30min) • Exemplos de tempo para os 400
é um tipo de esforço que se ajusta ao metros: 1’10’’ x 4 = 4’40’’.
método CI. Teoricamente, a velocidade
média corresponde à velocidade de limiar Olbrecht et al. (1985) citados por
anaeróbio, esse protocolo consiste em Maglischo (1999) verificaram que a veloci-
que o nadador deve realizar um teste de dade média para um nado T-30 correspon-
30 minutos num esforço máximo em ritmo dia ao ritmo de concentração de lactato de
uniforme, desde o início até o final. Em 4 mMol/l, conforme determinado por um
seguida, os resultados são transformados teste de sangue típico.
para uma velocidade média por 100 metros A velocidade média para um teste de
pelo tempo em segundos. T-30 provavelmente não diferencia de
O exemplo a seguir reflete esse proce- maneira significativa a velocidade do nível
dimento. Nesse caso, o nadador comple- de 4 mMol/l porque, para a maioria dos
tou uma distância de 3000 metros em 35 nadadores, o limiar anaeróbio individual
minutos (2100 segundos), o que significa situa-se entre os valores de 3 a 5 mMol/l.
uma velocidade média, por 100 metros, de Consequentemente, o teste T-30 é um
1’10’’ (2100 / 30 = 70’’). Para os nadadores método muito eficiente para determinar o
das categorias de base, seria interessan- treinamento de resistência, não fazendo
te realizar o mesmo teste, mas com uma falta o teste de sangue.
distância entre os 1000 para os petis (11 A Tabela 28 apresenta alguns exemplos
e 12 anos) e infantis (13 e 14 anos), 2000 de treinamento com o método contínuo
para os juvenis (15 e 16 anos) e, na catego- intensivo.
ria juniores (17 a 19 anos), a distância
passaria a ser de 3000 metros.
MÉTODO CONTÍNUO VARIÁVEL 1
• Tempo para nadar 3000 metros = 35
minutos (2100 segundos). O método contínuo variável 1 (CV1)
• Ritmo por 100 metros = 2100 / 30 = caracteriza-se pelas mudanças de inten-
1’10’’. sidade durante a duração total da carga.
• Ritmo para outras distâncias de A mudança de velocidade oscila entre
82 Emerson Farto Ramirez

velocidades moderadas correspondentes sem descanso. O lactato acumulado não


ao limiar aeróbio (aprox. 2 mMol/l) e veloci- pode ser eliminado, sendo, portanto, um
dades submáximas acima do limiar anaeró- trabalho adequado de resistência aeróbia/
bio (3-5 mMol/l). Os intervalos de esforço anaeróbia.
em uma maior velocidade oscilam entre
os 300 a 800 metros, alternando com os
esforços moderados com duração suficien- MÉTODO INTERVALADO
te para permitir uma ligeira recuperação do EXTENSIVO
organismo antes do incremento seguinte.
A velocidade elevada estimula a FCmáx O método intervalado extensivo (IE) é
até os 25-30 batimentos abaixo da FCmáx, diferente do treinamento aeróbio de baixa
enquanto que a fase de velocidade lenta intensidade (ABI), pois o volume total é
é de aproximadamente 50-60 batimentos ligeiramente inferior, as distâncias utili-
abaixo da FCmáx. O sistema ondulatório zadas variam entre 50 a 800 metros e os
e rítmico de alternância de intensidades descansos são maiores para permitir uma
facilita um elevado volume de trabalho, intensidade de nado também maior. Para
em que a capacidade cardiocirculatória e os nadadores de meio fundo e fundo, as
o SNC (sistema nervoso central) melho- distâncias mais recomendáveis são de 200
ram de forma significativa. Na natação, a 400 metros.
consiste em nadar mais de 20 minutos Devido a uma manutenção relativamen-
com velocidade variada, alternando tanto te prolongada de uma pressão sanguínea
distâncias como ritmo. É recomendável média durante esse tipo de treinamento,
que o exercício de nado seja sobre o estilo consegue-se uma maior irrigação periféri-
principal, os exercícios de treinamento ca e capilarização. A glicólise aeróbia inter-
podem ser elaborados com distâncias ou vém em grande medida pelo que aumen-
tempo de nado, com variantes quase ilimi- tam os depósitos de glicogênio nas fibras
tadas de mudanças de distâncias por inter- lentas (ST), ou seja, consegue-se uma
valos rápidos (R) e lentos (L), conforme a melhoria:
Tabela 29.
Podemos ver na Figura 20, no nado • Na capacidade aeróbia, através do
fartlek e no contínuo, o comportamento incremento do consumo máximo de
da ventilação e lactato no sangue duran- oxigênio, especialmente devido ao
te uma série de trabalho com cargas em aumento da circulação periférica;
“pirâmide” e em outro treino onde é usada • No limiar anaeróbio;
somente uma intensidade. O trabalho • Na economia do metabolismo do
é o mesmo em ambos os treinamentos glicogênio.
(Rodriguez, 2000).
Como se pode observar, o nado fartlek As combinações de distâncias e exercí-
com alternância de cargas (pirâmide) exige cios podem e devem ser muito variadas.
mais do sistema anaeróbio (maior acúmulo Os descansos devem ser mais longos para
de lactato) como consequência após uma que o nadador possa alcançar velocidades
carga alta, volta-se a uma carga baixa de nado com níveis de lactato entre 3-4
Desenvolvimento e Alto Rendimento 83
84 Emerson Farto Ramirez

mMol/l e com 20-30 batimentos por minuto aplicação de um teste de duas distâncias
abaixo da frequência cardíaca máxima. Em (2x400 metros) em um nadador. A concen-
função desses objetivos de treinamento é tração de lactato na primeira repetição é de
recomendável o seu uso no desenvolvi- 4,1 com um tempo de nado de 4’47’’. Na
mento da resistência básica ou da resis- segunda repetição, o nadador realiza um
tência específica de longa duração I, II e III. tempo de 4’30’’ e produz-se uma concen-
Na Tabela 30 são demonstrados tração de 8,7 mMol/l. O tempo equivalen-
exemplos para o treinamento aeróbio de te à intensidade em condições de limiar
moderada intensidade. anaeróbio sobre um valor fixo de 4 mMol/l
As velocidades tiveram variações é de aproximadamente 4’48’’ para esse
conforme o tipo de distância utilizada. Na nadador.
Tabela 31, é sugerido um exemplo para Para uma correta execução do teste, é
um nadador com determinadas marcas necessário que a concentração de lacta-
pessoais e os tempos a que deveria ir o to resultante da primeira repetição esteja
treinamento. próxima ou acima de 4 mMol/l. Caso for
A partir da velocidade média do teste abaixo, cometeríamos os erros aponta-
de T30min, podemos extrair as velocida- dos na Figura 22. O mesmo nadador
des para diferentes distâncias e descan- anterior repete o mesmo teste, mas, nessa
sos como mostra a Tabela 32, ou, ainda, ocasião, a primeira repetição é feita em
em função da distância percorrida durante um tempo mais lento (4’56’’), o que origina
o nado em 30 minutos, são determinados uma concentração de lactato inferior (2,9
os tempos de nado conforme a distância mMol/l). Seguindo o mesmo procedimento
e tempos de descanso que os nadadores para determinar a intensidade (ou o tempo)
devem utilizar. correspondente a uma concentração de
Um exemplo de tempos para a aplica- lactato de 4 mMol/l, o nadador reflete um
ção do método intervalado extensivo nas tempo superior com a mesma concentra-
zonas aeróbias de baixa e de moderada ção.
intensidades em distâncias de 100, 200 O problema acontece pelo fato de
e 400 metros com 10 segundos (baixa) e desenhar o gráfico com apenas dois
30 segundos (moderada) para nadadores pontos que refletem uma reta, quando o
(Tabela 33). acréscimo do lactato com a intensidade
Foram utilizadas outras fórmulas ajusta-se melhor a uma curva exponencial.
através da determinação da relação da Visto que a partir de 4 mMol/l a tendência
frequência cardíaca e velocidade de nado é mais linear, as determinações no caso A
que, na natação, têm sido utilizadas exten- são mais confiáveis que no caso B (Figura
sivamente, com distâncias de 100, 200 22).
e 400 metros, através de 2 nados sobre Um limiar anaeróbio individual pode
algumas das distâncias assinaladas a situar-se acima ou abaixo das velocida-
intensidades submáximas (na primeira des correspondentes a uma concentra-
repetição e máxima ou quase máxima na ção de lactato no sangue de 4 mMol/l, em
segunda repetição). alguns estudos, já foram relatados limia-
Na Figura 21, pode-se observar a res anaeróbios individuais variando de 1,3
Desenvolvimento e Alto Rendimento 85

a 6,8 mMol/l (McLellan e Jacobs, 1989; perto do limiar anaeróbio individual de


Stegmann e Kindermann, 1982). apenas 50% a 60% dos nadadores.
Maglischo (1999) diz que sua experiên- O limiar anaeróbio ocorre em valores
cia de dez anos de testes de sangue significativamente mais baixos para os
demonstrou que o limiar de 4 mMol/l fica outros 20% a 30% e em concentrações de
86 Emerson Farto Ramirez

ácido lático superiores a 4 mMol/l para os aumento do ácido lático acima do nível
10 a 20% restantes. de repouso; é o ponto em que o acrés-
Outras tentativas de elaborar métodos cimo de 1 mMol/l de lactato é igual a 1
para a determinação do limiar anaeróbio cm, e 0,10 m/s de aumento e a veloci-
individual são: dade em natação é igual a 2 cm.

• Limiar de Simon (Simon et al., 1987). O limiar do turnover de lactato corres-


Nesse teste, o limiar anaeróbio indivi- pondeu melhor à velocidade máxima que
dual corresponde a uma velocidade que pode ser mantida durante a prática de
aumenta o ácido lático do sangue 1,5 30 minutos em natação, num estudo que
mMol/l acima do nível de repouso e que comparou essa modalidade com o limiar
gera um ângulo de inclinação de 45%; de Simon e nos 4 mMol/l que foram mais
• Limiar do Turnover do lactato: esse rápidas que o turnover de lactato (Weiss et
teste está baseado na velocidade do al., 1988).
Desenvolvimento e Alto Rendimento 87

O teste de Conconi trata de determi- aumentando a cada 50 metros. Os primeiros


nar a velocidade na qual a relação entre aumentos devem ser feitos em velocidade
batimentos cardíacos e a velocidade de constante. Entre cada aumento não deve
nado deixa de ser linear e começa a se haver diferença maior do que 8 batimentos;
estabilizar. Nesse ponto, é denominada c) Os últimos aumentos devem ser feitos
“velocidade de deflexão” (VD), demons- em velocidades mais altas, sem controlar a
trada na Figura 23. Ao fazer trabalhos de mesma.
longa duração nessa velocidade, obser- Esse teste não é tão confiável como
vou-se que a mesma correspondia de assegura Conconi, e existem problemas
forma bastante confiável com o ponto de para sua determinação, como por exemplo,
aumento do lactato no sangue. O protocolo o fato de não achar realmente o desvio
é o seguinte: de velocidade, ou que geralmente a VD
a) Aquecimento durante 15 minutos antes pressupõe uma velocidade real acima do
de começar o teste. O aquecimento deve limiar anaeróbio.
ser feito corretamente para alcançar a O teste de Treffene baseia-se no
frequência máxima; mesmo princípio que o teste de Conconi.
b) Começando a uma velocidade lenta, vai No teste de Treffene são percorridos de 4 a
88 Emerson Farto Ramirez

5 esforços progressivos com uma duração tempo de nado e a respectiva frequência


aproximada de 2 a 3 minutos (200 metros), cardíaca, é extrapolada até sua interseção
mas sempre em intensidades submáxi- com o nível de frequência cardíaca máxima
mas (Figura 24) e registra-se a frequência que tenha o nadador. Desde o ponto de
cardíaca ao final de cada esforço (recomen- interseção entre essa linha e o nível da
dável através de um frequencímetro). frequência cardíaca máxima, é traçada
Posteriormente, e após um aqueci- uma linha vertical até o eixo de abscissa
mento, encontra-se a frequência cardía- onde se representa a velocidade.
ca máxima depois de realizar uma série O ponto assinalado deve ser o ritmo
de 200 metros à máxima velocidade. de treinamento que precisa ser empre-
Extrapolando-a na reta das frequências gado para trabalhar aerobiamente. O
cardíacas, a velocidade submáxima é deslocamento da curva para a direita do
obtida com o que ele denomina de “veloci- ponto correspondente à VC nos suces-
dade crítica” (VC), que indica aquela que sivos controles significaria uma melhora
pode ser mantida durante longa duração. da capacidade de resistência do nadador,
A curva que se forma pela união de enquanto que o deslocamento para a
cada um dos pontos que se relacionam ao esquerda indicaria uma perda dessa
Desenvolvimento e Alto Rendimento 89

capacidade. adequadas para fazer um treinamento em


O teste empregado pelo Instituto condições de limiar anaeróbio.
Australiano de Ciências do Esporte (Teste Também seria interessante tomar os
AISS) relaciona a velocidade do nadador dados da longitude de braçada (m/ciclo),
em esforços progressivos de 200 metros e frequência de ciclo (ciclos/minuto), número
a concentração de lactato encontrada ao de ciclos (ciclos/50 metros) para ter alguns
final de cada esforço (Pyne e Goldsmith, indicadores quantitativos nesse teste de
2005). Utilizando a curva exponencial que acréscimos.
se origina da relação da concentração de Na Tabela 34 e na Figura 26 expomos
lactato com a velocidade de nado determi- um exemplo do resultado do teste 7x200
nam-se as velocidades entre uma concen- incremental realizado por uma nadadora
tração de lactato fixa de 3 mMol/l e 5 mMol/l de 15 anos de nível internacional.
(Figura 25), estimando-se que entre essas Villanueva (1997) assinala que “a
zonas manifestam-se as intensidades mais eleição da distância do teste é importante
90 Emerson Farto Ramirez

enquanto que a reta encontrada é especí- O problema de escolher uma distância


fica para cada distância e, portanto, a V4 longa demais (maior de 300m), é que para
encontrada também é”. Qualquer compa- o primeiro nado estar acima de 4 mMol/l,
ração posterior ou utilização para determi- o esforço deverá ser bastante intenso e a
nar ritmos de treinamento deverá levar em recuperação antes de fazer o segundo nado
consideração esse aspecto. será muito grande, com a finalidade de que
É evidente que se o que buscamos é o nadador possa realizar esse segundo a
uma orientação do treino em aspectos uma velocidade máxima e possamos obter
aeróbios, a distância deverá ser predomi- uma alta taxa de lactato.
nantemente aeróbia (duração superior aos Se trabalharmos com nadadores muito
120 segundos), enquanto que se o que jovens, esse problema aumenta, já que as
tratamos de observar é a zona correspon- concentrações de lactato são em geral mais
dente ao metabolismo anaeróbio, a distân- baixas do que para o resto da população.
cia terá que ser mais anaeróbia lática. Infelizmente, esses testes não estão ao
Desenvolvimento e Alto Rendimento 91

alcance de todos, por isso alguns autores a) Nadar 3000 ou 8x500 com descansos
apresentam alguns testes para a determi- curtos tentando realizar o melhor ritmo
nação do limiar anaeróbio sem precisar possível. Esse ritmo que o nadador é
coletar nenhuma amostra de sangue e capaz de manter ajusta-se bastante ao
que, mesmo assim, são muito eficientes. ritmo do limiar anaeróbio. O tempo médio
Nos testes de campo não se pode garantir por 100 metros será utilizado como ritmo
a mesma padronização que em laboratório de treinamento. O nadador deverá reali-
(condições climáticas, temperatura, etc.). zar o teste periodicamente para reajustar
Somente com certas restrições, portan- as intensidades de treinamento;
to, servem seus resultados para efetuar b) Nadar 4x200 descansando de 2 a 3
comparações temporais. Os testes de minutos entre cada repetição. Controla-
campo mostram, entretanto, duas vanta- se o batimento nos primeiros 6 segun-
gens comparativas: em primeiro lugar, com dos, imediatamente depois de finalizar
eles pode-se conseguir uma maior afini- cada repetição. Para a determinação
dade com a modalidade esportiva e, em da velocidade correspondente ao limiar
segundo lugar, os mesmos pressupõem anaeróbio, o nado deve ser realizado
um treinamento. aumentando a velocidade cada 200
Na sequência são expostos outros metros, mas sempre em intensidades
testes: submáximas.
92 Emerson Farto Ramirez

Na Figura 27, apresentamos as possi- progressão desse tipo de trabalho para as


bilidades de melhora de rendimento com diferentes categorias da natação.
base na comparação das curvas de lactato Na Tabela 36, são mostrados diver-
que é um indicador muito importante para sos exercícios dos diferentes métodos
os treinadores. de treinamento na zona de intensidade
Na Tabela 35, apresentamos uma aeróbia média para nadadores adultos.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 93

TREINAMENTO AERÓBIO atendendo às sugestões dos fisiologis-


DE ALTA INTENSIDADE tas suecos Astrand e Rodhal (1977), que
aconselham como forma adequada para
o desenvolvimento do VO2máx a realiza-
Para o treinamento aeróbio de alta ção de trabalhos de duração entre 3 a 5
intensidade (AAI), o componente anaeró- minutos e com uma intensidade entre 80%
bio é muito importante. Há autores que a e 90%.
denominam potência aeróbia, enquanto Assim, seguindo esse critério, as distân-
que outros a consideram como treina- cias de 300 a 500 metros seriam as mais
mento de consumo máximo de oxigênio, aconselháveis para o desenvolvimento
94 Emerson Farto Ramirez

do VO2máx. As velocidades deverão ser (2011), analisaram a velocidade crítica de


superiores às correspondentes ao limiar jovens nadadores em distâncias curtas nos
anaeróbio, o que fará com que a concen- quatro estilos da natação. Foram coleta-
tração de lactato aumente devido ao ritmo dos tempos em distâncias de 10, 15, 20 e
de produção de lactato no músculo aumen- 25m em provas de 50, 100 e 200m de cada
tar diante de maior intervenção energética estilo.
do sistema anaeróbio lático que supera a Foram analisadas, amostras de 20
capacidade do nadador para eliminar lacta- nadadores (12 homens e 8 mulheres) do
to. mesmo clube, treinados durante 2 anos
Os objetivos podem ser dobrados, o pelo mesmo técnico. Depois de analisar
que, por um lado, pode ser útil para estimu- os dados, observou-se que a velocidade
lar o consumo máximo de oxigênio (potên- crítica tem um alto grau de correlação em
cia aeróbia) e, por outro, pode-se treinar distâncias de 50 e 100m nos estilos costas,
para aumentar o tempo de manutenção em peito e crawl. Em distâncias de 200m a
VO2máx (capacidade aeróbia). Os níveis correlação encontra-se somente entre o
de lactato estariam entre os 6 a 10 mMol/l estilo crawl e peito.
e o conceito habitualmente relacionado ao Os dados mostram que a velocida-
treinamento da potência aeróbia é a veloci- de crítica em provas curtas é similar à
dade aeróbia máxima (VAM), também velocidade em provas de 200m, pelo que
chamada de velocidade associada ao a velocidade crítica pode ser um indicador
consumo máximo de oxigênio (vVO2máx). importante nas provas de 200m e pode
A capacidade aeróbia está relacionada ser utilizado como treinamento em ritmo
ao tempo limite em VO2máx (Billat, 2002). de prova. Por outro lado, em distâncias de
É necessário considerar que existe uma 50 e 100m, a velocidade crítica pode nos
relação inversa entre o tempo limite em ser útil como parâmetro de controle para
VO2máx e o VO2máx (Badkte, 1987). a prescrição do treinamento dos jovens
nadadores.
Thanopoulos et al. (2010), fizeram
VELOCIDADE CRÍTICA um estudo com 12 nadadores. A amostra
estava formada por 6 nadadores e 6
A “velocidade crítica de nado” é defini- nadadoras entre 10,6 e 11,6 ± 0,5 anos
da como a máxima velocidade de nado respectivamente, com uma altura entre
que se pode manter sem esgotamento 1,44cm e 150,8cm e com um peso corporal
por um longo tempo. É expressa como a de 39kg a 42kg.
pendente da reta de regressão entre as Os nadadores da amostra treinavam
diferentes distâncias realizadas e seus sistematicamente 5 dias na semana, uma
tempos correspondentes a uma velocidade hora e meia no mínimo a cada dia. Os
máxima (Wakayoshi et al., 1992). nadadores foram instruídos para nadar
Para este assunto, realizamos uma quatro distâncias na intensidade máxima
busca de diferentes estudos relaciona- (25m, 50m, 100m e 200m). A ordem das
dos ao treinamento da velocidade críti- medidas foi ao acaso, com 1-3 dias de
ca para jovens nadadores. Marinho et al. descanso entre medições. Todas as
Desenvolvimento e Alto Rendimento 95

medições foram realizadas em piscinas de entre a distância de nado e o tempo neces-


50m ao ar livre com temperatura da água sário para cobrir cada distância (Wakayoshi
a 26 ± 1ºC. et al., 1993a).
Antes das medições, os primeiros parti- Os resultados desse estudo mostraram
cipantes aquecem durante 600m sob a que o cálculo da velocidade crítica afeta
orientação de seu treinador. O tempo foi significativamente, dependendo da técnica
registrado eletronicamente (Seiko, S140). de natação. O tipo de técnica deve levar
A velocidade crítica foi calculada de acordo em consideração o processo de plane-
com os resultados que foram medidos com jamento do treinamento, principalmente
a inclinação da linha de regressão linear no caso das crianças pré-púberes. Além
96 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 97
98 Emerson Farto Ramirez

disso, os nadadores homens demonstra- em duas etapas diferentes.


ram ter uma alta velocidade crítica no caso O primeiro, ao começo da temporada
de nadar com nadadeiras a uma distân- e, o segundo, após 12 semanas de treina-
cia de 50 e 200 metros. Isso pode indicar mento. O resultado principal foi um aumen-
que os homens jovens usam a velocidade to da velocidade crítica, enquanto que a
de uma maneira mais eficiente do que as frequência de braçada diminuiu entre a
mulheres com idades entre 10 e 12 anos. primeira e a segunda vez.
Marinho et al. (2009), tiveram como Parece que a capacidade técnica melho-
objetivo em seu estudo, analisar a evolução rou durante as 12 semanas de treinamen-
da velocidade crítica durante 12 semanas to. Os nadadores foram capazes de atuar
de treinamento em nadadores de um grupo com a mesma intensidade a velocidades
de idade de 14 anos. A avaliação foi feita mais altas e com menos frequência de
Desenvolvimento e Alto Rendimento 99

braçada. Essa informação poderia ajudar conjunto de treinamento, e aumenta na


os treinadores de natação na formação de última repetição.
seus nadadores, sem utilizar instrumentos O índice de nado foi estável durante as
caros. primeiras sete repetições e aumentou da
Os mesmos resultados foram reporta- sétima para a oitava. A distância da braça-
dos por outros pesquisadores (Wakayoshi da foi estável no grupo feminino e, no grupo
et al., 1993b; Maclaren e Coulson, 1999). masculino, percebeu-se um aumento da
Entretanto, a causa dessa melhora na segunda para a terceira repetição, seguida
capacidade aeróbia nem sempre está de uma diminuição ao final do conjunto de
clara. É difícil para os treinadores enten- treinamento.
der se um aumento da capacidade aeróbia Barden e Kell (2009), tiveram como
deve-se às respostas fisiológicas e/ou às objetivo de estudo determinar se existe
melhoras técnicas. uma relação entre os parâmetros de nado e
De fato, a mesma prova para avaliar a a velocidade crítica (que é definida como a
velocidade crítica poderia ser utilizada para velocidade que teoricamente pode manter-
determinar a frequência crítica de braçada. O se sem esgotamento). Os parâmetros de
treinador necessita apenas contar o número nado (frequência de ciclos e comprimento)
de ciclos de movimento de cada nadador e a velocidade foram registrados para cada
durante os ensaios para descobrir sua distância de 25 m durante um treinamen-
frequência crítica de braçada. to intervalado de curta distância, em que
Campos et al. (2010), no seu estudo, os participantes nadaram um dos quatro
observou os padrões dos parâmetros de um estilos competitivos em uma gama de
treinamento de capacidade aeróbia típico intensidade abaixo e acima da velocidade
através da velocidade crítica. A amostra crítica.
estava composta de 36 nadadores juvenis A amostra estava composta de 11
em provas de 200 e 800 metros crawl na participantes: 8 mulheres de idade entre
máxima intensidade. 17,3 ± 1,5 anos, com estatura 1,71 ± 0,04
A velocidade foi avaliada como a penden- m e massa corporal de 65,1 ± 6,1 kg e 3
te da reta de regressão obtida entre as distân- homens, na faixa etária entre 18,4 ± 0,2
cias de cada prova e o total de ciclos em cada anos, estatura 1,80 ± 0,04 m e massa
uma delas. 24 horas depois, os nadadores corporal 84,2 ± 3,1 kg, todos eles atletas
realizaram um treinamento típico de capaci- de elite em nível nacional. Completaram
dade aeróbia de ajuste (8x200m crawl, com um treinamento progressivo de repetições
20’’ de descanso), (Figuras 28 e 29). decrescentes, 8x100m em uma piscina de
Não se observou correlação de moderada 25 m. De acordo com as melhores marcas
a alta entre os valores da velocidade crítica de cada nadador, a intensidade variava de
e a velocidade média do treinamento aeróbio 65% a 100% (a intensidade de cada repeti-
(r = 0,84 e r = 0,66, respectivamente, para ção aumentou 5% durante toda a série).
os grupos femininos e masculinos). Existe Os dados mostraram que os parti-
uma diminuição na velocidade da primeira cipantes alcançaram a velocidade críti-
e da segunda repetição, que se torna cada ca na quarta repetição e que existem
vez mais estável quanto mais ao centro do mudanças substanciais e imprevisíveis
100 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 101

nos parâmetros de movimento em que frequência do ciclo e as combinações entre


se atingiu a velocidade crítica. Ao certo, a eles são determinados por vários fatores,
taxa de velocidade do movimento posterior tais como as variáveis antropométricas,
à velocidade crítica e a longitude de nado a força muscular, a condição física e a
foram significativamente (p<0,05) maiores economia no nado.
e menores, respectivamente, do que os Foi reconhecida que a habilidade na
índices de velocidade antes da velocidade natação é a medida biomecânica de maior
crítica, essas mudanças foram produzidas importância para a economia metabólica.
de maneira abrupta e não de forma linear. A relação entre a velocidade e a frequên-
Em geral, os resultados sugerem que a cia do ciclo foi descrita como uma curva
velocidade crítica representa um ponto de de movimento de mudança de velocidade,
transição entre dois conjuntos diferentes encontrada uma forte e positiva correlação
na relação parâmetro-tempo: um para os (r = 0,86) entre a velocidade e a frequência
de baixa intensidade aeróbia e outro para do ciclo.
os de alta intensidade anaeróbia. Uma vez que a velocidade depende
Em relação à velocidade aeróbia da frequência e do comprimento do ciclo,
máxima, à velocidade crítica e ao domínio os nadadores podem escolher diferentes
da alta intensidade, Pelayo et al. (2007), estratégias para desenvolver sua veloci-
nos dizem que, mesmo tendo a velocidade dade máxima em função da distância da
de 400m apenas uma modesta correlação prova. Os nadadores podem tentar manter
com a velocidade aeróbia máxima (VAM), a velocidade escolhida, apesar da fadiga,
o VO2máx deve ser atingido nadando ao durante toda a prova. Isso sempre, eviden-
redor dessa velocidade. Os estudos têm temente, se os nadadores treinam nessa
demonstrado que a VAM é obtida em altas intensidade.
intensidades. As estratégias nas provas têm sido
Em consequência, o exercício a uma o foco de vários estudos e observa-se o
velocidade quase máxima de esforço grande número de possíveis estratégias
deriva o VO2 até o VO2máx, e a frequência de comprimento e frequência do ciclo.
cardíaca e as concentrações de lactato no A maioria dos nadadores bem treinados
sangue perto de seus níveis máximos ao descuida seu comprimento do ciclo e varia
final do exercício. sua frequência de ciclo para aumentar ou
Segundo os autores, numerosos manter a velocidade. De fato, os nadadores
estudos têm demonstrado que a eficiên- conseguem uma frequência de ciclo cada
cia durante o exercício de carga constan- vez mais alta para aumentar ou manter
te depende da frequência nos esportes a velocidade em distâncias de prova de
cíclicos, tais como a natação. Portanto, os 200m e também em distâncias maiores.
treinadores têm que considerar as diferen- Os treinadores de natação e os cientis-
tes combinações de comprimento do ciclo tas necessitam avaliar o potencial aeróbio
(CC: m/ciclo) e frequência de ciclo (FCi: e, para isso, precisam coletar tempos
ciclos/min) associadas a uma velocidade nos treinos com intensidade para otimi-
determinada. zar e avaliar os programas de forma-
Os valores do comprimento do ciclo, da ção. Os treinadores deveriam levar em
102 Emerson Farto Ramirez

consideração o caráter da coordenação curtas e de 60 segundos em distâncias


de braços e modificações na frequência de longas (Ogita, 2011).
ciclo em relação à intensidade.
A duração relativa de cada parte do • 20x50 ou mais com 10’’ – 15’’ de
ciclo poderia completar a relação compri- descanso;
mento e frequência do ciclo para descrever • 10x100 ou mais com 10’’ – 15’’ de
melhor as modificações na técnica de um descanso;
nadador em fadiga, tanto nos treinamen- • 5x200 ou mais com 10’’ – 30’’ de
tos como na competição. Assim, o treina- descanso;
mento aeróbio intenso (AAI) pode focar-se • 3x400 ou mais com 15’’ – 60’’ de
em maior ou menor medida até a potência descanso.
aeróbia ou capacidade aeróbia (Figura 30).
As adaptações fisiológicas associadas Os treinamentos que correspondem
à melhora do VO2máx e seu tempo de a essa zona de intensidade elaboram-se
adaptação são mostrados na Figura 31. em intensidades de esforço superiores a
O significado fisiológico dessas adapta- 85% do VO2máx, ainda que a melhora do
ções e a influência da intensidade de VO2máx seja produzida com intensidades
treinamento são mostrados na Tabela 37. de treinamento acima do 60% de VO2máx.
Como parâmetros fisiológicos mais Os exercícios de treinamento intervalado
característicos do treinamento aeróbio supra-VO2máx estimulam ao máximo o
intenso, temos: metabolismo aeróbio e anaeróbio (Tabata
et al., 1997) e têm sido demonstrado que
• Frequência cardíaca quase máxima melhoram significativamente o VO2máx e
ou máxima; a capacidade anaeróbia simultaneamente
• Sensível aumento da frequência (Weber e Schneider, 2002).
respiratória; Os exercícios de treinamento interva-
• Lactato entre 4 a 7 mMol/l (mais baixo lado supra-VVO2máx com estímulos de
para os fundistas); treinamento entre 105-140% de VVO2máx
• Utilização, principalmente, do glicogê- têm sido recomendados aos meio fundis-
nio muscular. tas. Para os nadadores de distâncias mais
longas, os valores estariam entre 50-105%
Os métodos fracionados são mais de VVO2máx, particularmente quando
eficientes para o desenvolvimento do essa gama de intensidade é considerada
VO2máx e deveriam ser realizados ao necessária para melhorar a velocidade de
estilo principal do nadador, à distâncias de limiar anaeróbio em nadadores bem treina-
50 a 400 metros, com intensidades entre a dos (Londerre, 1997).
velocidade correspondente da máxima de A frequência cardíaca, nessas veloci-
lactato em estado estável e à velocidade dades elevadas, irá alcançar à máxima
média calculada do tempo pessoal em 200 ou algo muito próximo da máxima (5-15
metros, a um volume entre 1000 e 2000 batimentos abaixo da FCmáx). Os 100% da
metros e a alguns intervalos de descan- exploração do VO2máx individual somen-
so curtos de 10 segundos entre distâncias te é possível por poucos minutos (4-7
Desenvolvimento e Alto Rendimento 103

minutos para nadadores bem treinados). através desse procedimento, tais como a
Com a finalidade de desenvolver a capaci- melhora na utilização de oxigênio (aumen-
dade de rendimento aeróbio específico to de número de mitocôndrias e ativida-
máximo, pelo menos 10% da carga total de das enzimas mitocondriais), se não
do treinamento devem ser trabalhados de também pelo aumento dos conteúdos dos
forma mista aeróbia-anaeróbia (Navarro e transportadores monocarboxilatos (MCT).
Oca Gaia, 2011). Esses MCT ajustavam para eliminar
A melhora do ritmo de eliminação de uma grande porção de ácido lático, (lacta-
lactato em nadadores está relacionada ao to/H+) transportando o lactato desde os
ritmo de limiar anaeróbio, mas hoje em dia músculos ativados ao sangue durante o
não se pode atribuir o benefício às altera- exercício. Portanto, os MCT são de grande
ções metabólicas provocadas no músculo importância à regulação no retardo da
104 Emerson Farto Ramirez

acidose, principalmente durante o exercí- manter um exercício em 100% VO2máx


cio de intensidade acima do limiar lático associa-se à elevada capacidade anaeró-
(Navarro e Oca Gaia, 2011). bia (Billat et al., 1996; Gordon et al., 2011).
Segundo os trabalhos de Billat (2002) Um nadador deseja dispor de um “motor
e Billat e Koralsztein (1994): tempo limite maior e potente” e se melhorar a potência
(Tlim) em VO2máx = a/(p–b), em que “a” é de seu motor (o sistema cardiovascular),
igual à capacidade de ritmo aeróbio; “p” é poderá aumentar sua velocidade e rendi-
igual à potência exercida em VO2máx e “b” mento no nado. Essa melhoria do motor
é igual à fração de VO2máx no ponto de é obtida pela melhoria da capacidade dos
limiar do lactato. Esse modelo mostra como pulmões, coração e capilares sanguíneos
o Tlim mais elevado pode ser obtido com para fornecer oxigênio aos músculos e a
um alto valor para “a” e um baixo valor para capacidade dos músculos para extrair e
“p-b”, indicando que a capacidade para utilizar tal oxigênio para produzir energia.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 105

A referida potência do motor de nado é consegue cobrir 620 metros em 6 minutos,


medido em termos de VO2máx. VVO2máx = 620/360 = 1,722 metros/
A forma mais eficiente para melhorar segundo.
seu VO2máx é através de alta intensidade Para converter essa velocidade ao
em aproximadamente 95 a 100% de seu ritmo em 100 metros teremos: T100m
nível de VO2máx. Entretanto, poderíamos = 100m/1,722 = 58’’07, pelo que o ritmo
citar muitos exemplos de nadadores com desse nadador deveria ser de 58’’ para
menores níveis de VO2máx que sistema- distâncias de 100 metros.
ticamente conseguem melhores resulta- Em certas ocasiões é complicado nadar
dos que aqueles com um VO2máx mais no melhor ritmo no teste; seria, então,
elevado, portanto, não basta ter um motor conveniente repetir o teste 2 ou 3 vezes em
potente para ir mais rápido, mas sim que o uma semana e selecionar o melhor ritmo.
nadador tenha um estilo de nado eficien- O VVO2máx ajusta-se à velocidade de
te e econômico, ou seja, não gastar tanta competição de 400 metros na maioria dos
energia. Dessa forma, esse nadador com nadadores (Rodriguez e Mader, 2003), por
um nível mais baixo de VO2máx pode, exemplo, para um nadador de 4 minutos
na prática, funcionar melhor do que um em 400 metros, o T100m corresponde a
nadador menos econômico com um alto seu VVO2máx que seria de 1’00’’ por cada
VO2máx. 100 metros.
Se dois nadadores de 800 metros Navarro e Oca Gaia (2011) sugerem
competem tendo idêntico VO2máx, o que que o tempo de 400 metros deveria ser
for mais eficiente deveria ter um maior utilizado para os ritmos de treino de
VVO2máx e, portanto, ganhar a compe- nadadores de 200 e 400 metros, já o teste
tição, assim como manter seu nado em de 6 minutos, para os nadadores de 800
VVO2máx uma maior quantidade de e 1500 metros e de distâncias de águas
tempo, nesse caso, o tempo de duração abertas.
da prova (Tlim VVO2máx). A melhor maneira de melhorar o
A forma mais precisa para determinar VVO2máx é nadar no ritmo de VVO2máx.
o VVO2máx e o Tlim VVO2máx é através Existem várias maneiras de conseguir
de provas de laboratório em piscinas esse objetivo e alcançar o efeito desejado,
ergométricas, entretanto, existem opções isso depende também do conhecimento e
que podemos utilizar para estimar esses da experiência do treinador:
níveis, elaborando protocolos de teste de
campo.
Teste de 6 minutos: realizar um aqueci- A) SEQUÊNCIA DE EXERCÍCIOS DE
mento e nadar 6 minutos no ritmo mais 5X300M/1’00’’ DE RECUPERAÇÃO
rápido possível, tentando percorrer a maior
distância possível. Poderemos determinar Navarro e Oca Gaia (2011), propõem
o VO2máx do nadador através da seguinte esse treino como a final de uma sequên-
fórmula: cia de estímulos. Uma vez que se consiga
VVO2máx = distância coberta em realizá-lo de maneira satisfatória, passa-se
metros/360, desse modo, se um nadador então ao próximo passo:
106 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 107
108 Emerson Farto Ramirez

• Exercício de 50m/0’30’’ mantendo Repetir mais duas vezes.


o ritmo de VVO2máx em 50 metros e Os treinamentos intermitentes são mais
descansando 30 segundos, até que efetivos que os contínuos para aumentar o
surjam problemas para manter o ritmo; Tlim VVO2máx; por isso, é recomendado
• Exercício de 12x100m/1’00’’ manten- que a intensidade do esforço deve oscilar
do o ritmo em VVO2máx em cada 100 entre 90-105% do VVO2máx e a intensida-
metros e descanso de 1 minuto de de do intervalo de descanso entre 50% de
forma ativa; VVO2máx e a velocidade de limiar anaeró-
• Exercício de 8x200m/2’00’’ mantendo bio (Midgley e McNaughton, 2006).
em VVO2máx em cada 200 metros e A duração do tempo de trabalho e o
descansando 2 minutos de forma ativa; tempo de recuperação devem estar entre
• Exercício de 5x300m/3’00’’ manten- os 15 a 30 segundos. Quando é elaborado
do o ritmo em VVO2máx em cada 300 o treinamento com o método intermitente,
metros com 3 minutos de descanso de devemos também considerar a melhora
forma ativa; do limiar anaeróbio uma vez que esse é o
• Exercício de 5x300m/2’00’’ manten- melhor indicador do Tlim VVO2máx (Ogita,
do o ritmo em VVO2máx em cada 300 2011). Como já vimos anteriormente, a
metros com 2 minutos de descanso de melhor forma de melhorar o limiar anaeró-
forma ativa; bio é fazendo repetições entre 200 e 400
• Exercício de 5x300m/1’00’’ manten- metros a ritmo de 2000 metros ou mais
do o ritmo em VVO2máx em cada 300 rápido do que a velocidade máxima alcan-
metros com 1 minuto de descanso de çada em 30 minutos.
forma ativa.

MÉTODO CONTÍNUO VARIÁVEL 2


B) TREINO DE REPETIÇÕES 6-5-4
O método contínuo variável 2 (CV2),
Nadar durante 6 minutos em ritmo que entra na zona de intensidade aeróbia
de VVO2máx e recuperar 3 minutos; na intensa, é recomendado aos nadado-
sequência, nadar durante 5 minutos em res de longa distância em águas abertas,
ritmo de VVO2máx e recuperar 3 minutos. modificando as condições de duração e
Por último, nadar 4 minutos em ritmo de intensidades de trechos rápidos e lentos.
VVO2máx, voltando à calma com 2 minutos O trecho mais rápido deve ser a um ritmo
nadando sem grande esforço. de consumo máximo de oxigênio, mas,
para isso, devemos respeitar a duração
e a intensidade que permitam trabalhar
C) TREINO DE RITMOS nessas condições, que seriam de uma
COMBINADOS duração entre 2 e 5 minutos aproximada-
mente. A intensidade do trecho lento deve
Nadar 200 metros em ritmo de ser realizada na zona de intensidade ABI
VVO2máx e logo baixar a ritmo aeróbio de e a duração deveria ser igual ou superior
moderada intensidade durante 300 metros. à duração do trecho rápido, de modo a
Desenvolvimento e Alto Rendimento 109

possibilitar a recuperação suficiente e deve manter uma velocidade bastante


adequada que permita ao nadador aproxi- elevada, levando em consideração que
mar-se a seu VO2máx. Exemplos de treino nos descansos existe uma recuperação
com o método contínuo variável 2 são importante da FC (0’30’’ a 1’30’’).
expostos na Tabela 38. Se forem mantidos os batimentos em
nível adequado, o lactato, ainda que eleva-
do, sempre estará controlado, de modo
MÉTODO INTERVALADO que o nadador poderá permanecer de 10 a
INTENSIVO DE DISTÂNCIA CURTA 30 minutos realizando esse tipo de esforço.
Os efeitos fisiológicos com este método de
O método intervalado intensivo de treinamento seriam: produção e restaura-
distância curta (II 50-150) é muito utiliza- ção do lactato no sangue, implicação das
do pelos nadadores australianos, com a fibras II (sempre que o VO2máx for maior
autorização do Dr. Bob Treffene. Também que 90% ou a força ocupar mais de 30%)
conhecido como treinamento na velocidade e esgotamento do depósito de glicogênio.
crítica, esses tipos de treinamento buscam Alguns exemplos desta forma de trabalho
fundamentalmente o objetivo fisiológico da são demonstrados na Tabela 39.
potência aeróbia.
Consiste na realização de esforços
repetidos em distâncias de 50 a 150 metros, TREINAMENTO INTERMITENTE
sobre um volume total de 2000 metros, DE LONGA DURAÇÃO E
mantendo a FC entre 10-20 bpm abaixo da INTENSIDADE ELEVADA
máxima durante a maior parte do trabalho,
com exceção dos últimos 200-400 metros O treinamento intermitente de longa
aproximadamente, nos quais deve-se duração e intensidade elevada (ILIE) é
alcançar a FCmáx (Figura 32). O nadador específico para nadadores de 200, 400,
110 Emerson Farto Ramirez

800 e 1500. Algumas características desse ILIE e ritmo de prova (RP). O início com o
método são (Sweetenhan e Atkinson, trabalho ILIE requer entre 2 e 4 semanas
2003): de trabalho prévio, com volumes mais
elevados e intensidades mais moderadas.
• Duração: 30-35’ de trabalho em um Na Tabela 40 é demonstrado o trabalho de
total de 45-50’; introdução ao treinamento intermitente de
• Intensidade: FC: 30-10 bpm; longa duração e intensidade elevada.
• Pausa: feminino – 33% do tempo de A progressão ao trabalho de ILIE é
trabalho; masculino – 66% do tempo de realizada em 4 passos. O primeiro deve-
trabalho; se realizar um treino de 30x100m com
• Ritmo: uniforme; descansos de 1’20’’ para as meninas e
• Controle: FC, tempo, número de 1’45’’ para os meninos, a uma intensida-
braçadas na 2ª metade da série. de de 20 batimentos abaixo da FCmáx.
Devem ser registrados todos os tempos
O sucesso dos nadadores australianos da série e o cálculo da média, neste caso
em provas de meio fundo reside em uma o T1. O segundo passo consiste em fazer
correta combinação de treinamentos de uma série de 30x100m com os mesmos
Desenvolvimento e Alto Rendimento 111

descansos no ritmo de T1 medindo a para dois nadadores de 15 anos. Nesse


frequência cardíaca em todas as repeti- caso, o trabalho foi realizado de maneira
ções. No terceiro passo, os nadadores progressiva, sendo o treino de 45x100m,
deverão fazer uma série de 24x100m com as primeiras 15 repetições começando no
os mesmos descansos, nadando num ritmo de 40 batimentos abaixo da FCmáx a
ritmo abaixo de 0’’5 de T1, chamado T2 e cada 1’20’’, as seguintes 15 repetições no
medindo a frequência cardíaca em todas ritmo de 1500m a cada 1’30’’ e as últimas
as repetições. O último passo será fazer 15 repetições no ritmo de 400m (velocida-
uma repetição de 2000 metros, apresen- de crítica) a cada 1’40’’. Também foram
tando o melhor ritmo (Tabela 41). tomadas a frequência cardíaca a cada 5
Essa sequência é executada durante 3 repetições, a frequência de braçada, assim
a 4 semanas, repetida 2 a 3 vezes. Cada como o lactato sanguíneo ao finalizar cada
semana com dois treinos de ILIE e 1 a 2 zona de intensidade e no minuto 1, 3, 5 e 7,
em ritmo de prova. A sequência poderia ser ao finalizar o treino.
de acordo com a Tabela 42. Na Tabela 45 é demonstrada a mesma
Depois de repetir esta sequência duran- série realizada por uma nadadora campeã
te 2 a 3 ciclos de 3 a 4 semanas, é prová- europeia na categoria juniores e quinta do
vel que ocorra uma estagnação, apesar da mundo na prova de 1500 metros livres com
execução e acompanhamento correto do idade de 15 anos.
trabalho. Desta forma, deverá ocorrer uma
nova orientação sobre os treinamentos
enfocando novamente o treino em ritmo de MÉTODO DE REPETIÇÕES
prova com alta intensidade. COM DISTÂNCIAS LONGAS
Nas Tabela 43 e 44 são expostos
exemplos do treinamento intermitente O método de repetições com distâncias
de longa duração e de alta intensidade longas (RDL) simula o ritmo de competições
112 Emerson Farto Ramirez

através da utilização de distâncias mais aproximadamente 100 a 120 batimentos,


curtas do que a distância de prova com um pode-se classificar como treinamento de
ritmo mais rápido que o total da distância repetição (Colwin, 2002).
de competição. Qualquer tipo de treina- Com esse método, pretende-se estimu-
mento em que a frequência cardíaca é lar os processos de absorção de VO2máx.
recuperada nos intervalos de descanso até Para isso, são utilizadas distâncias de 200
Desenvolvimento e Alto Rendimento 113

a 500 metros com a finalidade de dispor • 4x400m com 9’00’’, com 5-15 bpm
da duração de nado suficiente que permita abaixo da FCmáx;
alcançar a situação de máximo consumo • 6x200m com 6’00’’, com 5-15 bpm
de oxigênio. abaixo da FCmáx;
Os tempos de descanso aproximam- • 1x400m com 9’00’’; 2x300m com
se do tempo que dura o trabalho, repre- 7’00’’; 3x200m com 6’00’’, com 10-20
sentado na proporção (T:D = 1:1). Efeitos bpm abaixo da FCmáx.
fisiológicos: produção e restauração do
lactato no sangue, implicação das fibras II Recomenda-se muita cautela ao aplicar
(sempre que o VO2máx for maior que 90% esse método, uma vez que o efeito sobre
ou a força ocupar mais de 30%) e esgota- uma maior tolerância ao lactato será acres-
mento do depósito de glicogênio. centada quanto mais curta for a distância.
A capacidade aeróbia utilizando distân- Nesse método, a distância de 200 metros
cias de 400 a 500 metros e a potência pode gerar uma concentração de lactato
aeróbia utilizando distâncias de 200 e 300 muito elevada se o nadador imprimir uma
metros. Alguns exemplos na sequência: velocidade superior à necessária para
conseguir o VO2máx.
114 Emerson Farto Ramirez

Também podemos diferenciar esse em distâncias curtas de 50 e 100 metros


método fazendo um acréscimo progres- preferencialmente, com descansos curtos
sivo da intensidade desde 5-15 batimen- de 5 a 20 segundos e com um volume de
tos abaixo da FCmáx. A distância será 600 a 1000 metros. Ao serem descansos
constante, com uma intensidade progres- curtos entre repetições, durante a recupe-
sivamente crescente e logo decrescente ração a FC não diminui muito, facilitando a
e variações sucessivas crescente/decres- obtenção do VO2máx.
cente, ou empregando grupos de diferen- Passados uns dois minutos, o descan-
tes distâncias (Figuras 33 e 34). so entre cada série é ampliado (5 a 10
minutos) para permitir uma recuperação
quase completa. A intensidade de nado
MÉTODO DE SÉRIES LONGAS deve ser suficientemente elevada para
exigir do organismo sua máxima capacida-
No método de séries longas (SL), é de de utilização de oxigênio (Figura 35).
possível alcançar o VO2máx em cada Exemplo para uma nadadora de 1500m
série. Para isso, cada série é organizada com uma marca de 16’30’’, ou seja, 1’06’’ a
Desenvolvimento e Alto Rendimento 115

cada 100 metros (Tabela 46). de descanso. É uma estratégia de baixo


Esse tipo de trabalho ensina ao nadador volume para produzir ganhos de potência
de 800 e 1500m o ritmo que deve nadar a e resistência aeróbia. Para definir correta-
prova na situação de esforço adequado. É mente o treinamento intermitente, é conve-
importante que o nadador tenha em mente niente prestar mais atenção às suas carac-
a frequência de ciclo que deve realizar, terísticas funcionais do que na estrutura de
para que seja de forma similar a da prova, organização externa.
assim como o número de ciclos de braçada É uma alternância de sequências de
por distância. trabalho e repouso, em que a contribuição
de energia caracteriza-se, sobretudo por
uma operação muito especial, o mecanis-
TREINAMENTO INTERMITENTE mo de via intramuscular de oxigênio,
proporcionado pela mioglobina. Quando
O treinamento intermitente (TI) consis- o oxigênio entra nas fibras musculares,
te em esforços curtos de alta intensidade, combina-se com a mioglobina, sendo
separados igualmente por períodos curtos que esse composto, que contém ferro,
116 Emerson Farto Ramirez

transporta as membranas celulares até a faz o papel de uma bomba, capaz de ceder
mitocôndria. rapidamente seu conteúdo de oxigênio e
A mioglobina armazena oxigênio e o de se recarregar em pouco tempo (Hellard,
libera nas mitocôndrias quando há falta do 1998).
mesmo durante a contração muscular. Podemos dizer que permite aos múscu-
Essa reserva de oxigênio é utilizada los funcionarem permanentemente em um
durante a transição do estado de repouso elevado regime aeróbio enquanto se limita
ao exercício, ao proporcionar oxigênio para a produção de lactato. Portanto, efetua um
as mitocôndrias durante o retardo, entre o período de nado em alta intensidade, próxi-
início do exercício e a crescente liberação mo, igual ou superior à velocidade aeróbia
cardiovascular de oxigênio. Essa proteína máxima (VAM), seguido por um posterior
Desenvolvimento e Alto Rendimento 117

período em que a velocidade de nado mais típicos em relação à proporção T:D


geralmente é reduzida a um ritmo igual a dentro de cada série são:
65-60% da velocidade aeróbia máxima, • 10’’-10’’;
denominada velocidade de recuperação • 15’’-15’’;
ativa (Navarro e Oca Gaia, 2011). São • 20’’-20’’;
possíveis três opções (Figura 36): • 30’’-30’’, para distâncias de 25 a 50
metros.
a) Opção de intensidade acima da
velocidade aeróbia máxima (105%); Na Figura 37 são representadas as
b) Opção de intensidade igual à veloci- quantias de oxigênio necessárias para
dade aeróbia máxima (100%); assegurar a cobertura energética no trans-
c) Opção de volume com intensida- curso de dois tipos de exercícios intermi-
de ligeiramente abaixo da velocidade tentes, 10-20’’ e 1-2’. No primeiro caso,
aeróbia máxima (95-98%). o oxigênio transportado pela mioglobina
cobre completamente as necessidades,
Os tipos de treinamento intermitentes ao contrário do treinamento 1-2’, em que
118 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 119

a duração é maior, sendo inevitável um ser maior, sempre que seja respeitada a
déficit. Só os exercícios de não mais de 30’’ intensidade requerida.
de esforço funcionam sobre esse princípio É muito importante que a intensidade
(Hellard, 1998). do trabalho não supere os 105% da veloci-
Os descansos devem ser curtos, entre dade aeróbia máxima. Alguns estudos
10’’-30’’ de recuperação como máximo, sugerem que, com intensidades superio-
sendo recomendável manter a frequên- res, o trabalho passa a ser fortemente
cia cardíaca em uma zona entre 10 a 20 anaeróbio (Biscioti, 2002) demonstrado na
batimentos, com a finalidade de que a Tabela 47.
solicitação seja ótima e se aproxime o Os nadadores de meio fundo e fundo
máximo possível a um esforço contínuo devem introduzir gradualmente o treina-
(Figura 38). mento intermitente na preparação para as
A recuperação entre as séries deve competições. Também é muito útil para
ser mais ampla, o suficiente para que a nadadores do estilo peito e borboleta que
frequência cardíaca abaixe de 120 bpm. O encontram muita dificuldade em realizar
volume da série será de 400 a 800 metros, trabalhos mistos aeróbios-anaeróbios em
porém a quantidade de treinamento pode seu próprio estilo de nado.
120 Emerson Farto Ramirez

Para os nadadores de 50 metros, a aspectos:


duração do esforço deve ser inferior a 30’’ • Incremento do VO2máx: esse método
para evitar o acúmulo de lactato. Entre permite transcorrer um tempo maior a
os intervalos de trabalho, o nadador deve VO2máx do que com o método contí-
realizar descansos ativos, aproximada- nuo;
mente da metade dos intervalos de esforço • Evita-se uma elevada concentração
mais intenso, para continuar a oxidação de lactato, com a finalidade de reduzir o
dos metabólitos anaeróbios e manter um acúmulo de lactato e aumentar a VAM,
nível relativamente baixo de lactato no o método intermitente com velocidades
músculo. entre 90-100% da VAM pode ser mais
Foi proposta uma proporção de 1:1 para efetivo que o método contínuo (Gharbi
manter um estímulo aeróbio mais elevado, et al., 2008);
enquanto se minimiza o acúmulo de lacta- • Não se modifica substancialmente o
to (Elliot et al., 2007). Nesse método de pH;
treinamento intermitente, segundo Navarro • Incrementa-se a velocidade e/ou
e Oca Gaia (2011), evita-se o acúmulo de potência das fibras musculares do tipo
lactato e potencializam-se os seguintes II (Hegedus, 2007);
Desenvolvimento e Alto Rendimento 121

• Incrementa-se o metabolismo da adaptações periféricas com o treina-


glicose a partir dessas mesmas fibras mento intermitente de alta intensida-
musculares, situação que não se de, tais como o aumento das enzimas
apresenta com o intervalo ou inter- glicolíticas anaeróbias como a hexoqui-
valado aeróbio, o qual permite fazer nase (HK) e a fosfofructoquinase (PFK),
de maneira prevalente com as fibras I assim como enzimas mitocondriais
(Hegedus, 2007); aeróbias como a citrato sintetase (CS) e
• A recuperação muscular, ainda que sucinato desidrogenada (SDH), (Ogita,
incompleta, verificada durante a fase 2011).
de nado desenvolvida a velocidade de Os estímulos fortes também deveriam
recuperação ativa, ou seja, em baixa ser trabalhados nas saídas e entradas
intensidade, permite as fibras de contra- das viradas, assim como nas chegadas,
ção rápida, uma parcial recuperação, para que esses nadadores possam traba-
capaz de desenvolver, durante a fase lhar de maneira eficiente. Tais fundamen-
seguinte de alta intensidade, um traba- tos são importantíssimos na formação
lho qualitativamente melhor (Biscioti, de nossos nadadores e também para os
2002); nadadores adultos, obviamente, é claro,
• Também podem-se produzir respeitando o tempo de duração desses
122 Emerson Farto Ramirez

estímulos citados anteriormente. COMBINAÇÕES DE TREINAMENTO


O treinamento intervalado é preferível ENTRE AS 3 ZONAS DE
ao treinamento contínuo, porque permite INTENSIDADES AERÓBIAS
realizar uma maior quantidade de trabalho
em intensidades altas. Tal fato impulsiona
fatores de rendimentos fisiológicos impor- Olbrecht (2000) diz que se combinar-
tantes, tais como a capacidade anaeró- mos uns poucos estímulos curtos e inten-
bia, a potência aeróbia máxima (PAM) e sivos com nados longos de baixa intensi-
a capacidade de resistência. Por isso, é dade, é possível acrescer um benefício
muito importante quantificar o volume de máximo para desenvolver a capacidade
trabalho correto na intensidade adequa- aeróbia. Para os nadadores que possuem
da. um maior número de fibras rápidas, a quali-
Thibault (2006) fez um trabalho para dade ou frequência semanal das séries
tentar elucidar o problema no esporte de intensivas curtas podem ser mais eleva-
ciclismo, enquanto Navarro e Oca Gaia das. O número de séries intensivas curtas
(2011) fizeram uma adaptação para a depende também da capacidade anaeró-
natação. Este estudo teve como finalida- bia e da força muscular do nadador.
de ampliar a visão do treinador quanto às Uma maneira muito eficiente de estimu-
possibilidades de construção do treina- lar o sistema aeróbio é utilizar treinos que
mento de intervalo para o desenvolvimen- combinem diferentes zonas, utilizando o
to da resistência aeróbia, mista e anaeró- mesmo método de treinamento, mas com
bia. (Figura 39). as mudanças necessárias para atuarem
Na Tabela 48, são propostos alguns nas zonas de treinamento desejadas.
exemplos de treino na zona de intensida- Prosseguimos com alguns exemplos de
des aeróbias intensas para as diferentes treinos (Tabela 50).
categorias da natação e, na Tabela 49, Nas Figuras 41 e 42, são apresentados
para a categoria adulta. exemplos de treinamentos combinando as
Na Figura 40 podemos ver de forma diferentes zonas de intensidades.
resumida os objetivos de cada zona de Podemos observar na Figura 43 a
intensidade do treinamento aeróbio. dinâmica da curva de frequência cardíaca
Desenvolvimento e Alto Rendimento 123

em uma série com o método intervalado do nadador em produzir energia anaeróbia,


intensivo de distâncias curtas e um suces- de modo a conseguir aumentar a atividade
sivo trabalho com o método intervalado das enzimas glicolíticas anaeróbias, assim
extensivo. como a capacidade de tamponamento dos
músculos (tolerância lática). As enzimas
glicolíticas, tais como a Hexoquinase (HK)
TREINAMENTO DA e a Fosfofructoquinase (PFK) melhoraram
RESISTÊNCIA ANAERÓBIA sua atividade significativamente depois de
treinamentos intermitentes em intensida-
O treinamento nessa intensidade permi- des supra máximas.
te ao nadador manter elevadas velocida- É necessário ressaltar que muitos
des utilizando a glicólise anaeróbia como treinadores acreditam que a formação do
via de fornecimento energético, apesar da ácido lático é a principal causa da fadiga
diminuição do PH e do acúmulo de ácido nos treinamentos ou em competições nos
lático. Nesse caso, as intensidades serão rendimentos anaeróbios, impossibilitando
maiores que a velocidade de VO2máx. o nadador a continuar a uma determina-
O objetivo principal é elevar a capacidade da velocidade. A produção de lactato, por
124 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 125
126 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 127

si mesma, não contribui diretamente na sendo o número normal entre 7,35 e 7,45.
fadiga que ocorre em altas intensidades do Quando esses valores baixam de 7,35
exercício. entra em estado de acidose. Quanto maior
O acúmulo do próton (H+) coincide, mas for a acidose devido à diminuição do pH,
não é decorrente da produção de lactato, maior interferência na produção de força
que resulta na diminuição do PH celular nos músculos e redução do ritmo da glicó-
(acidose metabólica). Algumas enzimas lise, provocando a redução da velocidade
são bloqueadas quando o ritmo da glicóli- do nadador (Robergs, 2001).
se torna-se mais lento devido ao equilíbrio O íon lactato simplesmente difunde-se
químico dentro do músculo, que se torna através dos músculos e da corrente sanguí-
mais ácido. nea, sem nenhuma evidência que sugira
Existe também uma deterioração do um efeito negativo sobre a função muscular
ritmo de transmissão dos sinais elétricos ou a sobre a produção de energia. O lacta-
do neurônio motor até a fibra muscular que to pode ser reciclado no ciclo de produção
tarda mais a relaxar-se após a contração, de energia e utilizado positivamente para
preparando-se para a seguinte. Desse ajudar a produzir energia (Navarro e Oca
modo, o pH é a expressão matemática da Gaia, 2011).
concentração de H+. O organismo tenta Um elevado nível de lactato indica
manter o pH dentro de valores estreitos, que está sendo produzida uma grande
128 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 129

quantidade de energia anaeróbia. A 200 metros, com volumes totais dos 100
adaptação ao treinamento não é a busca até os 400 metros. Os descansos devem
da redução na produção de lactato, mas a ser de 60 segundos para as distâncias
busca pela melhor adaptação do organis- menores e os descansos mais longos nas
mo e da musculatura na capacidade de distâncias maiores.
amortecimento do íon H+ com grandes Neste caso, Navarro e Oca Gaia (2011)
concentrações de lactato (ácido), conhe- dividem o treinamento anaeróbio lático
cida como capacidade de tamponamento. em duas orientações: capacidade lática e
Como consequência, esta melhora benefi- potência lática, sendo a primeira a qualida-
cia indiretamente a produção do ATP glico- de que permite ao nadador manter durante
lítico e facilita a manutenção de uma inten- o maior tempo possível uma determina-
sidade de nado mais elevada durante um da velocidade em condições de acidose
tempo prolongado. muscular sem redução do rendimento
Para o programa de treinamento, mecânico. Essa orientação de treinamento
devemos elaborar treinos com distâncias seria importante para nadadores de 200 e
entre 25 a 200 metros, numa intensidade 400 metros. A segunda orientação busca a
desde os ritmos de competição de 50 até máxima produção de lactato por unidade
130 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 131

de tempo e é relevante para os nadadores glicogênio nos músculos. Entretanto, nos


de 50 e 100 metros (Figura 44). fundistas, isso não ocorre, uma vez que
O consumo máximo de oxigênio e a esses nadadores podem treinar aerobia-
frequência cardíaca não são válidos para mente muito duramente sem ter baixas
medir ou controlar essas orientações concentrações de lactato, de modo que a
(capacidade e potência lática). O contro- combinação de treinamento aeróbio perto
le, nesses casos, é realizado através da do máximo e a tolerância ao treinamento
medição do lactato e das porcentagens nem sempre acontecem.
da melhor marca em competição, de 95 a
105% para os ritmos de 200 metros com
distâncias de 50 a 150 metros (capacidade REPETIÇÕES DE
lática) e de 92 a 95% para os ritmos de 100 DISTÂNCIAS MÉDIAS
metros com distâncias de 50 a 100 metros
(potência lática). Nesse método trabalha-se a capacida-
de lática. O objetivo desse tipo de carga é
que o nadador seja treinado com elevados
TREINAMENTO DA acúmulos de ácido lático, de modo que,
CAPACIDADE LÁTICA fisiologicamente, desenvolva as adapta-
ções oportunas para minimizar o efeito da
Nesse tipo de treinamento, o nadador acidose. São empregadas distâncias de 50
deve realizar estímulos entre 45’’ a 1’30’’ a 150 metros com uma relação T:D = 1:2. A
para estimular a capacidade anaeróbia velocidade é o 90-105% da V200.
lática, adaptando-se, dessa forma, ao Os estudos de Troup (1990) revelaram
amortecimento do efeito da acidose. Os que as séries mais específicas para um
nadadores que treinam dessa forma, prova- nadador de 200 metros (60% aeróbio e
velmente serão mais tolerantes a uma alta 40% anaeróbio), com referência à contri-
acidez lática, utilizando dois processos buição energética, seriam as de 100 metros
distintos: um, fisiológico, capaz de aumen- nadados numa velocidade próxima a da
tar sua capacidade para amortecer lactato, competição, com um tempo de descanso
isso ocorre quando as concentrações de dobrado ao empregar a série. As distâncias
bicarbonato aumentarem e o bicarbonato de 50 metros devem ser realizadas a 104%
combinar-se aos íons de hidrogênio para da V200. Os efeitos fisiológicos são:
formar água e o outro, psicológico, já que
o nadador deve continuar treinando em • Melhora da via energética anaeróbia
níveis muito altos de mal estar durante o lática;
treino e as competições. • Esvaziamento dos depósitos de glico-
Uma observação a ser feita em relação gênio das fibras de contração rápida;
aos treinamentos com essas caracterís- • Tolerância ao lactato;
ticas é que devem vir acompanhados de • Execução para todos os mecanismos
um treinamento aeróbio máximo, por ser reguladores essenciais.
comum associar-se a uma considerável
formação de lactato, enquanto se utiliza Os seguintes exemplos, vistos na Tabela
132 Emerson Farto Ramirez

51, podem servir como orientação de de 200 metros), a Tabela 53 propõe uma
treinamento para um nadador que tem progressão de intensidades, ou seja, os
como melhor marca na prova de 200 dados a serem colhidos serão comparados
metros livre de 2 minutos. com a primeira coluna, com o tempo objeti-
vo de 30 segundos.
Caso o nadador realize o treino sem
MÉTODO DE SÉRIES MÉDIAS excessiva dificuldade, para o próximo
treinamento devem ser propostos ritmos
As séries devem ser realizadas a partir mais fortes, ensaiando com os tempos
de um volume entre 150 e 300 metros, com que se apresentam na segunda coluna e,
distâncias curtas de 25 a 100 metros e os assim, sucessivamente.
descansos entre as repetições são curtos, Na Tabela 54 propõem-se diferentes
de 10 a 30 segundos. Já a pausa entre treinos para desenvolver a capacidade
as séries deve ser no mínimo o dobro do lática para nadadores de diferentes catego-
tempo da série, entre 3 a 8 minutos. Nesse rias da natação.
caso, também estaríamos treinando o ritmo
de prova do nadador de 200 e 400 metros.
Seguindo o mesmo caso do nadador TREINAMENTO DA
anterior, propomos alguns exercícios de POTÊNCIA LÁTICA
treinamento com esse método (Tabela 52).
Com a mesma referência de tempo no O tempo de esforço para desenvol-
caso anterior (2 minutos para uma prova ver a potência lática estará entre os 20 a
Desenvolvimento e Alto Rendimento 133

45 segundos e os descansos devem ser • Implicação das fibras II e produção


suficientemente longos para permitir que rápida de lactato;
o organismo disponha de uma grande • Incremento dos depósitos de fosfato;
proporção de lactato gerada durante o • Execução de todos os mecanismos
esforço. reguladores essenciais.
Os velocistas desenvolverão maiores
concentrações de lactato nos seus múscu- Os métodos utilizados para esse tipo
los do que os nadadores de meio fundo de treinamento são os seguintes: repeti-
e fundo e, por isso, necessitam de uma ções de distâncias curtas (RDC), tabelas
recuperação mais prolongada. O traba- de tempos parciais (TTP) e o método de
lho aeróbio de baixa intensidade facilitará séries curtas (SC).
a recuperação desses nadadores, tendo
como objetivo diminuir a concentração de
lactato produzido pelo estímulo anterior. REPETIÇÕES DE
As distâncias preferidas são entre os 50 e DISTÂNCIAS CURTAS
100 metros e os intervalos de descanso, de
mais de 3 minutos. Os efeitos fisiológicos O método de Repetições de Distâncias
são: Curtas (RDC) trabalha a potência lática,
• Melhora da via energética anaeróbia sendo que a produção máxima de energia
alática; por unidade de tempo utilizando a via
134 Emerson Farto Ramirez

anaeróbia lática é de aproximadamente O volume total é de aproximadamente


30 segundos a 1 minuto de um esforço 400 a 800 metros. As pesquisas de Troup
de máxima intensidade. Na natação, isso et al. (1992), atestam que a forma mais
ocorre com distâncias de 50 e 100 metros. específica de treinar para as demandas
As RDC são empregadas preferencial- energéticas dos 100 metros livres (30%
mente em distâncias de 50 a 100 metros a aeróbio e 70% anaeróbio), consiste em
uma intensidade quase máxima, 95 a 105% realizar treinamentos com uma relação T:D
de V100 com uma recuperação completa, de 1:4 para os 50 metros e 1:8 para os 100
ao menos 4 minutos para as distâncias metros, levando em consideração que a
curtas e 6 minutos para as séries de 100 velocidade deve ser a mais alta possível
metros. (Tabela 55).
Desenvolvimento e Alto Rendimento 135

TABELAS DE TEMPOS PARCIAIS primeiras tabelas desse tipo procediam dos


E SUAS APLICAÇÕES resultados das análises realizadas duran-
te os Jogos Olímpicos de Moscou 1980 e
Recentemente foram desenvolvidas, mantidas em segredo durante anos.
por parte das Federações Australiana e Arellano et al. (1996 e 2001) realizaram
do Reino Unido, as “Tabelas de tempos esse tipo de análise sobre os resultados
parciais” (TTP) que tentam orientar o dos Jogos Olímpicos de Barcelona 92 e
nadador sobre os passos a serem reali- os de Sydney 2000. Isso permitiu definir
zados durante o percurso de uma prova, para uma determinada marca, os tempos
baseadas em dados de análises de compe- de saída, virada, chegada e velocidade de
tição, são denominadas como “Speed nados correspondentes, pois essas variá-
Charts” (gráficos de velocidade) e sua veis correlacionavam significativamente
distribuição é restrita somente para treina- com o resultado final. A equação de regres-
dores associados desses países (Tabelas são básica é do tipo: y = ax + b, onde y é a
56 e 57). variável dependente, x a variável indepen-
Esse tipo de tabela é uma atualiza- dente, b o ponto onde corta o eixo de
ção dos procedimentos desenvolvidos em coordenadas e a é a pendente.
países do leste europeu para generalizar Suponhamos que tenha sido realizada
os resultados das análises da competição a análise cinemática da competição aos
para qualquer tipo de nadador, indepen- participantes da prova de 100m livre em
dentemente de seu nível, aplicando análi- natação, nos Jogos Olímpicos. A partir dos
se de regressão linear e, assim, predizer resultados obtidos, é estabelecida uma
os valores dos componentes técnicos de relação entre o tempo de saída e o tempo
uma prova para uma marca concreta. As final de prova, sendo o valor da equação: y
136 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 137
138 Emerson Farto Ramirez

= 0,079 x – 0,14. pois estão sinalizadas nos flutuadores de


Se utilizarmos essa equação, podería- competição e é fácil registrar o tempo de
mos calcular com facilidade qual tempo passe com a cabeça. O mesmo ocorre com
deveria fazer um nadador na saída para os tempos de 5m antes e depois da parede
conseguir fazer um tempo final de 52’’ no resto das provas. Poderíamos incluir
sendo o tempo obtido igual a: y = 0,079 mais registros parciais se os flutuadores
(52) – 0,14, portanto y = 3’’96, tempo em mudassem de cor a cada 5m, como ocorre
10m. Esse valor obtido com coeficientes de em alguns casos e asseguraria com preci-
1992 seria considerado atualmente baixo, são o registro de passes em 10m antes
pois os tempos de saída foram melhorando e depois da parede ou qualquer outra
com o passar dos anos. referência.
Outras variáveis, como distância e As TTP servem para orientar o nadador
frequência de ciclo, normalmente eram e o treinador sobre os tempos de passe
correlacionadas a valores não significativos necessários para conseguir uma marca
e, portanto, não poderiam ser utilizadas as objetivo de uma forma minimizada, poden-
equações descritas, analisadas somente do programar objetivos de rendimento
de forma individualizada, pois dependiam específico sobre distâncias menores que
da coordenação braços e pernas de cada as da competição e aplicar para realizar
atleta e isso não era levado em conta ao treinamento específico.
realizar as análises. Por exemplo, se um nadador pretende
As “tabelas de tempos parciais” (TTP) fazer uma determinada marca em 100m,
vão um pouco além, ao incluir valores seria muito interessante que fosse conse-
intermediários em relação aos resulta- guindo, à medida que melhora sua forma,
dos típicos da análise da competição. os tempos de distâncias inferiores ao objeti-
Um nadador consegue um tempo final da vo final no treinamento. Isto é denomina-
prova e com isso, o mesmo corresponde- do como “enfoque sistêmico estrutural do
rá a uns valores determinados de passe treinamento” (tradução do idioma russo),
com a cabeça em cada distância interme- que quer dizer, que é planejado sobre um
diária (tantas como queremos ou podemos objetivo final e sobre os objetivos interme-
definir), sendo normalmente a unidade diários. Nestes, podem incluir aspectos
mínima de passe a distâncias de 5 a 10 gerais da condição física do esportista, mas
metros. também aspectos específicos do rendi-
Por exemplo, enquanto os 50m dividem- mento em competição (Arellano, 2010).
se em tempo de saída em 15m, passe de Está claro que se o objetivo for fazer
25m, início de chegada em 45m e tempo um tempo em 100m, teremos que realizar
final, as tabelas de tempos de passe costu- o tempo necessário em 25m ou em 50m
mam incluir a mais o tempo em 10m, o antes, para estarmos seguros que será
tempo em 20m e tempo em 35m, além dos alcançado na competição. Isso poderia ser
anteriores, podendo, em alguns casos, até feito de maneira minimizada com tempos
desenvolver todos os passes a cada 5m. em 10m, 15m, 20m, 35m, 45m, 60m, 65m e
Para Arellano (2010), a utilização das 75m sendo alguns desses resultados forne-
distâncias de 15 e 35m são oportunas, cidos através da análise da competição.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 139

De forma geral, pode-se afirmar que “um cronômetro. Isso significa que se
nadador está preparado para realizar uma compararmos com a cronometragem
determinada marca, quando pode nadar manual, é necessário fazer ajustes
uma distância menor que a da competição similares aos que se fazem com os
no tempo objetivo que cubra pelo menos tempos oficiais que se conseguem de
60% do total da prova”, durante uma série uma maneira ou outra (Tabela 58);
de repetições suficiente. 2. Os tempos são medidos com a
Por exemplo, um nadador de 100m, passagem da cabeça na maior parte
cujo objetivo é fazer 50’’ deveria realizar de referências ao longo da piscina,
a passagem de 60m a 28’’62, inicialmente enquanto que os toques na parede
numa repetição para, posteriormente num são medidos com o contato dos pés ou
ciclo longo de treinamento chegar a fazer 4 das mãos. Tal aspecto deve ser levado
ou 6 vezes em uma sessão. em consideração quando são medidos
Esse é um indicador de que está prepa- tempos, por exemplo, da segunda larga-
rado para fazê-lo na competição. Caso da, pois a tabela usa como referência
reproduza nos treinamentos a passa- o contato concreto de competição, ou
gem da competição prévia, provavelmen- seja, é ensaiado o ritmo próprio dos
te consiga apenas repetir sua marca. No 35m da segunda largada em 100m, o
entanto, essa não é uma regra fixa e é cronômetro será ativado quando os pés
possível que o nadador consiga obter contatarem por trás da virada e logo
resultados diferentes aos previstos em quando passar a cabeça nas bandeiras
ambas as circunstâncias. de saída em 15m;
Adaptando algumas pautas assinala- 3. É possível que sejam utilizadas
das pelas denominadas “Speed Charts”, é outras referências temporais e, portan-
necessário levar em consideração: to, serão realizados os ajustes perti-
nentes (Tabela 58). Por exemplo, o
1. Os tempos de passagem são momento em que se separam os pés na
eletrônicos ou registrados com vídeo saída (para excluir o tempo de reação),
140 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 141
142 Emerson Farto Ramirez

o mesmo nas viradas, será medido o causa de um detalhe que está na saída;
tempo no momento em que se separam 4. O mesmo ocorre no momento de
os pés para excluir o giro/impulso de modelar os trechos intermediários com
uma virada de peito ou borboleta, etc. o número de braçadas (ou ciclos), a
frequência de ciclo ou longitude de ciclo,
Quando aplicamos as TTP ao treina- o número de respirações por largada, a
mento, estamos orientando a carga aos observação das referências de chega-
aspectos específicos da competição e à da à parede, a posição da cabeça na
execução de um modelo concreto de rendi- chegada, etc. Tudo isso deve ser prati-
mento. Portanto, esse modelo deve estar cado tal qual será realizado na compe-
acompanhado de todos os aspectos técni- tição, chegando a modelos excelentes
cos associados que, entre outros, convém para cada nadador;
destacar (Arellano, 2010): 5. A informação anterior faz parte
do conhecimento do rendimento do
1. O traje de nado utilizado em compe- nadador e, se for perguntado, qual a
tição deve ser incluído no protocolo de passagem que deve fazer em 25m,
treinamento do modelo de rendimento quantas batidas deve dar por trás da
competitivo; virada ou quantas braçadas deve dar
2. A técnica concreta de saída e a plata- na segunda largada? Deverá responder
forma específica da competição (deve de forma imediata, pois já deve ter claro
ser usada a plataforma com apoio para quais são seus objetivos ao ter pratica-
o pé posterior na saída. O mesmo para do de forma rotineira durante o treina-
o nado de costas, tirando os pés fora da mento.
água ou não); Outro exemplo de sua aplicação no
3. Número preciso de batidas subaquá- treinamento específico seria o de um
ticas a realizar, momento de início, nadador que se prepara para um treina-
momento de finalização, sincronização mento com intensidades a ritmo de 50m
subaquática de nado peito, momento e 100m. Pode-se combinar em um treino
de início subaquático, tempo de desli- (unidade de carga), repetições que estimu-
zamento posterior, respiração ou não lam a velocidade (por exemplo, 20m
por trás da imersão, etc. São alguns com saída) e repetições mais longas que
exemplos de aspectos a concretizar e estimulam a produção de lactato, mais
praticar nesse tipo de trabalho, sendo orientadas ao esforço de 100m.
de importância muito maior do que se Podendo ordenar-se de diferentes
crê. Por exemplo, se for feita uma batida maneiras em função da orientação principal
a menos ou a mais na saída em uma da carga (Tabela 59). Por exemplo, posso
prova de 50m ou 100m estilo borbole- orientar todas as distâncias ao treinamento
ta (fora dos riscos de desqualificação próprio de 100m e as passagens são todas
pelo fato de superar a distância permi- desse modelo de competição específi-
tida), afeta diretamente na chegada (ou cas ou bem combinadas em que umas se
virada), considerando que o nadador orientam aos tempos de passagem de 50
pode ficar perto ou longe do objetivo por e outras de 100. Isso fará com que a carga
Desenvolvimento e Alto Rendimento 143

seja mais intensa tal como se vê na Figura relativamente curtos.


45, comparando-se o exemplo 1 com o A progressão na sua preparação permi-
exemplo 3. tirá nadar no ritmo de 100m em todas as
Devemos levar em consideração nos repetições necessárias, como explicado no
exemplos como os anteriores, que quando exemplo 3. Tal tipo de preparação é a base
se nada uma distância superior, as passa- do denominado “planejamento inverso”,
gens anteriores devem ser iguais a quando indicado aos especialistas de distâncias
se nada a distância prévia isolada, orienta- curtas e que exige trabalhos de alta intensi-
da a um mesmo objetivo. Por exemplo, se dade, ainda quando o nadador tiver níveis
o objetivo é nadar 100m a 50’’, a passagem baixos de treinamento (Arellano, 2010).
de 20m seria 8’’59, a de 35m seria 16’’19 Também não devemos nos esquecer de
e a de 40m seria 18’’75, pois pretende-se que existirá um padrão de batidas subaquá-
passar os 50m a 24’’13. ticas na saída, que pode ser diferente entre
Logo, quando fazemos a repetição de 50m e 100m, o número de respirações e o
35m, devemos passar a 8’’59 nos 20m e momento em ambas as provas. Tudo isso
proceder de forma idêntica se fizermos deve ajustar-se ao máximo e é o que define
os 50m a 24’’13, que é o ritmo de passa- o treinamento específico de competição.
gem de 100. Pois bem, assim como ocorre
no exemplo 2 e no exemplo 3, incluímos
passagens específicas dos 50m cujo MÉTODO DE SÉRIES CURTAS
objetivo pode ser 22’’19, a passagem em
20m deverá ser 7’’83, mas as passagens No Método de Séries Curtas (SC) as
para as distâncias anteriores a R100 serão distâncias das séries serão de 25 a 50m,
as mesmas de antes, quer dizer, 8’’59. os descansos entre repetições serão de
Não será surpresa ver na Tabela 46, 10 a 20 segundos e entre as séries serão
nos exemplos 1 e 2, que o ritmo de passa- entre 5 a 10 minutos. O volume total estará
gem de 50 seja de 200m, já que isso se no máximo nos 500m. Esse treinamento
deve a que é possível o nadador ainda não deverá levar em consideração o sentido do
estar preparado para treinar 3 séries com ritmo do nadador, assim como os aspec-
conteúdos dessa intensidade e descansos tos biomecânicos como o da frequência e
144 Emerson Farto Ramirez

longitude do ciclo (Tabela 60). e sei que quanto mais trabalho com as
Na Tabela 61 são propostos diferentes pernas, mais rápido sou capaz de nadar.
treinos para desenvolver a potência lática Sair rápido da virada quando os outros já
para nadadores das diferentes categorias estão cansados é um grande recurso”.
de natação. Apesar de que muitos clubes sofrem
limitações nas horas do treinamento, os
treinadores deveriam incluir séries de
TREINAMENTO DE PERNAS pernas em cada sessão. Infelizmente, na
maioria dos clubes não se realiza nem a
Pernas fortes são o componente funda- quantidade nem a intensidade necessária
mental para alcançar o máximo potencial de trabalho de pernas.
do nadador. Não só são à base de uma Se observarmos os nadadores ameri-
pernada forte e eficiente, mas também canos ou australianos, veremos que reali-
a chave para dirigir o corpo, realizar com zam 2000 ou 3000 metros de pernas em
potência a saída da plataforma e o impulso cada sessão, incluindo alguns sprints ou
nas viradas contra a parede. séries de ritmo exigente. Existem muitos
As pernas também desempenham um exemplos impressionantes de trabalhos de
papel, com frequência de muitíssimo valor, pernas por todo o mundo, incluindo uma
como componente da cadeia cinética que equipe universitária americana que faz
equilibra os mecanismos de braçada e regularmente 20x100m de pernas a cada
contribuem a uma posição de flutuação 1’50’’ com uma média menor que 1’30’’.
correta. A necessidade de empregar uma Uma simples análise das provas do
quantidade significativa de tempo e esfor- tipo 100 e 200m sugere que até 30% da
ço no treinamento para acondicionar as prova pode ser nadada por baixo da água
pernas e melhorar a técnica de batida não (2x15m em provas de 100, 4x15m em
deveria ser menosprezada. provas de 200). Ainda que muitas vezes
Há tempos sabemos que a ação das não se aproveite esse recurso completa-
pernas é importante na natação de compe- mente, os melhores nadadores realizam
tição, dotando de equilíbrio e de uma boa uma batida golfinho forte e rápida duran-
posição do corpo que minimiza a resistên- te grande parte da prova. Assim, conse-
cia. O que não está tão claro é o poten- guem uma boa posição do corpo “sobre” a
cial propulsivo das pernas (se existir) e o água, reduzindo a resistência ao avanço e
treinamento que deveria ser seguido para melhorando a velocidade de nado.
conseguir as velocidades de nado da elite As pernas também permitem melho-
mundial. Não é coincidência que os melho- rar o equilíbrio na braçada, ajudando a
res nadadores possuem também excelen- posicionar melhor o corpo na água, assim
tes desenvolvimento de pernas. como facilitando seu deslocamento. Se
Michael Phelps declarou recentemen- não for realizado um bom trabalho de
te, depois de bater o recorde mundial nos pernas em cada sessão, isso não aconte-
200 metros borboleta com 1’52’’09: “uma cerá.
grande parte do meu treinamento está As pernas têm sido consideradas tradi-
centrado na batida ondulatória subaquática cionalmente como pouco propulsivas.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 145
146 Emerson Farto Ramirez

Ainda que seja difícil de quantificar, e varia de pernas deveriam ser incrementados
entre cada nadador, podemos dizer com progressivamente desde uma idade
certa segurança que as pernas contri- primária (10-13 anos), trabalhando
buem (direta ou indiretamente) em uma tanto a técnica como o condicionamen-
quantidade significativa a propulsão em to da batida simultânea e alternativa.
crawl, costas e borboleta. Não se deve ter medo de aumentar o
Para executar uma batida de pernas volume de trabalho de pernas realiza-
forte e explosiva, existem alguns fatores a do em idades primárias;
desenvolver (Peyrebrune e Turner, 2007): • Exige um mínimo de 3 batidas de
borboleta ao sair de cada virada, no
• Os tornozelos e os quadris devem caso de costas e borboleta, o número
ser extremadamente flexíveis. A de batidas aconselhado é de 5.
melhora nesse aspecto pode ser reali- Ainda que existam muitas coisas que
zada através de alongamentos especí- devemos levar em consideração para
ficos antes e depois de cada sessão de desenvolver uma boa batida de pernas,
treinamento; também há uma série de fatores a evitar.
• Os flexores do quadril, os glúteos, Erros comuns na técnica de pernas
os quadríceps e os gêmeos devem ser são:
muito fortes e condicionados especifi- • Batida de pernas demasiada alta
camente com a técnica adequada para (esforço desperdiçado em espirrar
nadar; água em demasia, somente os calca-
• O condicionamento físico fora da nhares deveriam romper a superfície);
piscina (incluindo a corrida) pode ser • Batida de pernas demasiada profun-
um bom recurso; da (causando uma desnecessária
• A ação de pernas deve ser rápida e resistência ao avanço e uma lentidão
rítmica, o que apenas pode ser obtido da ação das pernas, a batida não deve
através da prática contínua na água; ser muito mais profunda que a profun-
• Os melhores nadadores em batida didade do corpo);
de golfinho conseguem começar a • Uma excessiva flexão de joelhos,
batida ascendente quase antes que a costumeiramente observada como
batida descendente tenha acabado. uma ação similar ao “pedalar”;
As nadadeiras podem ajudar nesse • Quadris caídos: supõe-se pouca
aspecto, mas os nadadores não devem força no tronco;
depender delas demasiadamente; • Falta de coordenação na batida golfi-
• O volume e a intensidade do trabalho nho, causada pela perda de sequência
Desenvolvimento e Alto Rendimento 147
148 Emerson Farto Ramirez

entre braços, ombros, tronco, coxas, progressos. O seguinte exemplo mostra


pernas e tornozelos. O treinamento algumas indicações do nível de pernas:
dessa técnica pode incluir a prática em
seco, exagerando os movimentos do • 12x100m c/ 2’15’’ (piscina 50 m): os
quadril, enfatizando o movimento das nadadores devem tentar conseguir a
mãos (em posição de seta) ou, assim melhor média possível nas 12 repeti-
mesmo, com ajuda de nadadeiras. ções. Excelente abaixo de 1’25’’, muito
bom entre 1’25’’ e 1’32’’, bom entre
Tudo o que foi comentado anterior- 1’32’’ e 1’38’’.
mente soma-se à importância de decom-
por a técnica global ou total nas suas Esses objetivos são reais para nadado-
partes simples ou unidades neuromotoras res adultos de elite. Seguramente, os
simples e condicioná-las. Assim, é muito nadadores mais jovens não vão conseguir
importante tomar esse conceito e traba- igualá-los, mas deveriam ser utilizados
lhar os diferentes metabolismos em áreas como um objetivo a ser alcançado.
separadas. Por exemplo, um nadador de 17 anos
A forma de condicionar as pernas deve que começa a fazer esse tipo de trabalho
ser similar à utilizada em outros aspec- pode ter uma média de 1’57’’ na primeira
tos do treinamento, uma vez que é regida vez que acabou o teste de 12x100m. Seis
pelos mesmos princípios de treinamento meses depois, já teria baixado a média
de outras subdivisões do planejamen- para 1’33’’. Esse registro foi atingido
to. Para poder avaliar o efeito fisiológico graças a um grande volume de pernas e a
de um modo similar ao do nado, deve- blocos de trabalho intensos e mais repeti-
se estabelecer uma frequência cardíaca dos do que estava acostumado.
máxima para o trabalho de pernas. Sweetenham e Atkinson (2003)
Ainda que possa sofrer variação entre colocam ênfase no treinamento de pernas
cada nadador, em geral pode ser estabe- e braços. Afirmam que as séries de pernas
lecido em 25 batimentos abaixo do nado e de braços devem estar inclusas em todo
completo. Uma vez que se estabeleça tipo de treinamento, a saber: trabalhos
essa frequência cardíaca máxima para o de resistência, séries curtas de qualida-
treino das pernas, as séries podem ser de e séries de velocidade. Colocaremos
monitoradas e comparadas utilizando o especial atenção na recomendação para
típico método de prescrição do treinamen- o treinamento das pernas devido a sua
to em função dos batimentos abaixo do importância para a execução do “quinto
máximo. estilo”.
Peyrebrune e Turner (2007) dizem Os autores comentam que observam
que o melhor teste para valorizar o nível nadadores utilizarem muito mais que
de pernas seja talvez escolher um bloco antes uma potente batida de golfinho
típico de trabalho e anotar os tempos depois da saída e das viradas nos estilos
médios para compará-los. Completar essa borboleta, costas e livre. Esse esforço
série (ou similar) a cada mês permitirá ter gera uma maior demanda nas pernas
uma ferramenta útil para monitorar os que têm grandes e poderosos músculos
Desenvolvimento e Alto Rendimento 149

(quadríceps) que requerem grande quanti- desse índice e os nadadores de borbo-


dade de oxigênio, principalmente se os leta e de crawl, algo abaixo. Não menos
nadadores não estão bem treinados. de 15% do volume total do treinamento
Por exemplo, nos 100 metros costas devem ser em treinos específicos para a
em piscina curta, o nadador pode nadar melhoria da batida em qualquer dos siste-
submerso até 15 metros depois da larga- mas de energia. O resto pode formar parte
da e a cada uma das três voltas, o que de trabalho de aquecimento, exercícios de
soma 60% da distância da prova. técnica ou como recuperação de treina-
Sugerem os autores que os treinado- mentos intensos.
res devem levar em consideração quando A porcentagem do trabalho intenso
fazem seus planejamentos de treino, o deve estar em 15% de volume em relação
correto condicionamento das pernas de ao que faz referência no exemplo anterior.
seus nadadores. Quando os nadadores Entre 3 e 5% deve ser feito a intensida-
estão em uma competição, devem agir da des elevadas (acima de 90% da velocida-
mesma forma que treinaram. Caso preci- de máxima em 100m). Uma porcentagem
sem fazer um uso potente das pernas significativa do trabalho de pernas de alta
e elas não foram corretamente treina- intensidade deve ser feito por baixo da
das, existe uma grande possibilidade de água. A porcentagem deverá ser superior
fracasso. a 50%, para nadadores de costas e não é
Os treinadores devem desenhar seus estritamente necessário para os nadado-
treinamentos para que seus nadadores res do estilo peito.
obtenham o máximo benefício de suas Para saber o nível da batida de seus
pernas. Se um especialista em nado de nadadores, os mesmos precisam saber
costas quiser nadar submerso até os 15 qual é sua melhor marca em 100 metros de
metros depois de cada volta, deve treinar pernas do seu estilo principal. Um nadador
para conseguir isso. Em algumas séries, com uma excelente batida deve ser capaz
o nadador deveria inclusive tentar nadar de fazer 100 metros de pernas a 75% da
mais de 15 metros submerso. velocidade da melhor marca (100m) em
O nadador também deve conhecer crawl, 85% em peito e 80% em costas e
quantas batidas de pernas são necessá- borboleta. O teste deve ser feito em piscina
rias para alcançar os 15 metros e treinar longa, saindo embaixo, com prancha em
isso. O treinador deve controlar o tempo peito, crawl e borboleta. Em costas, deve
de todas as séries de treinamento de ser respeitada a norma dos 15m de nado
pernas, independentemente da inten- subaquático.
sidade fixada para a mesma. O fato de
controlar o tempo das séries faz com que Estilo: COSTAS
o nadador sinta a importância do que está Marca: 56’’00 (1,78m/s)
fazendo. 1,78 x 0,8 = 1,42m/s = 1’’10 para 100m.
A porcentagem de batida sobre o
volume total de treinamento deve estar Todos os nadadores devem saber qual é
perto de 20% do volume total. Os nadado- sua melhor marca em 25m de batida de
res do estilo peito e costas, algo acima pernas subaquática. Para um nadador de
150 Emerson Farto Ramirez

estilo costas, a velocidade deve ser superior propostos alguns exemplos de séries de
a da melhor marca em 100m (105%). Para pernas, métodos alternativos para o treina-
um nadador estilo crawl acima de 90% e mento de pernas, tempos recomendá-
95% para um nadador estilo borboleta. veis para nadadores maiores e algumas
No nado peito, o teste de pernas deve ser recomendações gerais para melhorar essa
realizado com prancha. parte do treinamento.
A resistência aeróbia é outro dos
Estilo: BORBOLETA conteúdos básicos no trabalho de pernas.
Marca: 53’’5 (1,87m/s) Como temos dito anteriormente, o teste
1,87 x 0,95 = 1,77m/s = 14’’1 para 25m. que podemos calcular na resistência
aeróbia da batida seria realizar um treino
O treinador deve motivar seus nadadores de 12x100m com 1’25’’ de pernas, na
a trabalhar as pernas de acordo com a melhor média possível.
intensidade requerida pela série para evitar Um nadador com bom nível de resistên-
que “flutuem” com as pranchas. Inclusive, cia aeróbia deveria nadar a uma velocida-
quando a série não é de alta intensidade, os de aproximada de 85% da velocidade da
esportistas devem concentrar-se na técnica melhor marca em 100m pernas (MM100P).
da pernada e não conversar com os outros.
Alguns dos problemas que podem surgir no Estilo: CRAWL
treino de pernas: Marca: 50’’ (2,00m/s) MM100P: 1’14’’
(1,35m/s)
• Nadador conversar com colegas 1,35 x 0,85 = 1,15m/s – 1’27’’ para 100m.
durante o treino, sem a concentração
necessária; Sweetenham e Atkinson (2003)
• Utilizar a prancha de forma displicen- propõem diferentes séries nas diferentes
te, sem o devido esforço; intensidades de trabalho como pode ser
• Ao aproximar-se da parede, dar visto nas Tabelas 62, 63, 64 e 65.
braçadas nos 5m para fazer a virada. Com relação à resistência anaeróbia,
Isto é, num treino de 100m, 20m ele a capacidade para manter uma batida
estará deixando de treinar de forma eficiente na segunda parte da prova é
adequada; determinante para um bom rendimento.
• Despreocupação com o tempo de O rendimento da batida em trabalhos de
cada repetição; resistência anaeróbia é um aspecto básico
• Não conhecer sua média de série, do controle do treinamento. O teste que
sem ter parâmetros de melhorias no devemos realizar para calcular a resistên-
rendimento. A conscientização da cia anaeróbia da batida seria: 8x50m com
importância deste tipo de treino deve 1’15’’ de pernas, na melhor média possí-
começar já nas categorias menores (9 vel.
anos) já que é determinante no sucesso Um nadador com um bom nível de
ou no fracasso. resistência deveria nadar a uma velocida-
de superior a 95% da sua melhor marca
Nas Tabelas 62, 63, 64 e 65, são em 100m pernas.
Desenvolvimento e Alto Rendimento 151

Estilo: PEITO • 1x150 pés = mmp 200 nado;


Marca: 01’04’’ (1,56m/s) MM100P: 1’16’’5 • 1x300 pés = mmp 400 nado.
(1,31m/s) O trabalho de pernas precisa ser um
1,31 x 0,95 = 1,24m/s = 40’’3 para 50m. constante desafio para nossos nadadores.
A seguir, apresentamos vários exemplos:
Sweetenham e Atkinson (2003)
sugerem que os treinadores e nadadores • 8x50/1’15” – melhor média;
controlem permanentemente o trabalho de • 12x100/2’15” – melhor média;
perna, monitorando os tempos das séries, • 6x150/2’45” – melhor média;
contando as batidas de peito e borboleta • 16x50/55”<45’’;
realizados, controlando o ritmo cardíaco • 12x50/50”<40’’;
depois de cada repetição e comparando • 8x50/45”<35’’;
em seguida com outras séries de treina- • 4x100/1’40”<1’30’’;
mento. • 8x100/1’50”<1’40’’;
Série para resistência 1x1000m de • 12x100/2’<1’50’’.
pernadas crawl.
Objetivo: igualar ou melhorar o tempo Em relação ao trabalho do treinamento
de nado dos 1500m livres. 200m de nado de pernas no estilo peito, temos que levar
solto (relaxado). 1x600m de pernadas em consideração alguns aspectos.
crawl. É necessário quantificar quantas perna-
Objetivo: igualar ou melhorar o tempo das realiza nosso nadador em seu melhor
de nado de 800m livre e 200m nado solto. rendimento durante a prova de 100m peito.
1x300m de pernadas do estilo principal. Por exemplo: 1’10’’ em 40 pernadas. Com
Objetivo: igualar ou melhorar o tempo esse dado, podemos planejar o trabalho de
de nado dos 400m do estilo. 200m de nado ritmo e/ou velocidade em relação a várias
solto, 150m de pernadas do estilo principal. perspectivas:
Objetivo: igualar ou melhorar o tempo
de nado de 200m do estilo, 200m de nado • Quantificar em uma série apenas
solto. pernas e/ou apenas braços no tempo
Total: 2050m de pernadas, 2850m de competição: 1x1’10’’ para pernas
totais, incluindo o nado solto. Portanto, será = 80m e controlar quantas pernadas/
necessário conhecer o melhor rendimento braçadas o nadador realiza (ciclos);
do nosso nadador em piscina de 50m nas • Quantificar os metros que o nadador
seguintes distâncias: 25-50 subaquático, realiza em uma série de 40 pernadas/
75, 100, 150, 300 pernadas, assim como braçadas.
algumas referências a considerar: Com esses dados, o primeiro objeti-
vo é alcançar o número de pernadas no
• 25-50 subaquático = 105% da melhor tempo de prova com precisão. A partir
marca pessal (mmp) em borboleta/ desses dados, trabalhar para a melhoria
costas; e o controle da eficiência da pernada e/ou
• 1x75 pés = mmp 100 nado; braçada e aprimorar esses parâmetros em
• 1x100 pés = 85% mmp 100 nado; todos os sentidos: velocidade e eficiência.
152 Emerson Farto Ramirez
Desenvolvimento e Alto Rendimento 153

TRABALHO DE RECUPERAÇÃO 4. A força do tronco vai melhorar se


DE PERNAS trabalharem as pernas com remadas,
pernas com polibóia, pernas verticais e
As pernas podem ser um método útil pernas com a prancha mantendo uma
para favorecer a recuperação. Usando uma boa posição do corpo;
prancha, os nadadores podem respirar 5. Calcule a frequência cardíaca
livremente permitindo um bom intercâmbio máxima de pernas e aumente as séries
de gases e uma oxigenação necessária visando esse objetivo;
aos processos metabólicos. 6. Proponha sessões para trabalhar
Além disso, a utilização de grandes diferentes sistemas energéticos de uma
grupos musculares favorecerá a circulação maneira similar ao nado: recuperação,
e a oxidação do lactato desde a corrente manutenção, aeróbia, limiar, consumo
sanguínea. De muitas maneiras, o contras- máximo, trabalho lático e velocidade;
te entre o nado intenso e a batida de 7. A velocidade de pernas pode melho-
pernas relaxada pode ser recomendável rar consideravelmente se aumentar seu
na recuperação. volume e intensidade no treinamento;
Peyrebrune e Turner (2007) fazem 8. Não permita acomodar o treinamento
algumas recomendações: dentro do fácil: a maior parte do volume
de pernas deveria ser feito ao estilo
1. Devemos propor séries dirigidas a um principal ou a batida de golfinho dorsal;
aspecto da pernada em cada sessão de 9. Estabeleça uma melhor marca de
treinamento; pernas em diferentes distâncias: 50,
2. 20% de todo o volume de treinamen- 100, 200 e 400m;
to deve ser realizado com as pernas 10. Estabeleça uma melhor média para
(1400m em cada sessão de 7000m); séries de diferentes distâncias;
3. 50% de todo o trabalho de pernas 11. Não estranhe em misturar e combi-
deve ser em batida golfinho em posição nar séries de braços e pernas com
dorsal; trabalhos de qualidade.
154 Emerson Farto Ramirez

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É muito importante fazer um trabalho AAI ou A3 se os nadadores não soube-


progressivo de acordo com o nível técni- rem qual o ritmo, quantas vezes e quantas
co e respeitar as fases de desenvolvi- braçadas irão realizar este treino. Todos
mento dos nadadores. As crianças devem nós, como formadores devemos contro-
começar com distâncias de 25 metros, com lar todas essas variáveis e, claro, sempre
um controle da técnica de execução, tais ensinando os atletas a serem mais efica-
como a duração e frequência. É obrigatório zes no treinamento.Não esquecer também
que o treinador ensine a contar as braça- a importância do nadador manter a técni-
das e saibam manter o ritmo de nado de ca e os fundamentos básicos da natação
acordo com a intensidade proposta para (saídas, viradas e chegadas) em qualquer
atingir os objetivos do treinamento.Não que seja a intensidade do trabalho.
será produtivo colocar na lousa 8x50 / 1’
Referências 155

REFERÊNCIAS

ARELLANO, R.; BROWN, P.; CAPPAERT, ATOMI, Y.; HATTA, H.; MIYASHITA, M.;
J.; NELSON, R.C. Application of regres- YAMAMOTO, Y.; IWAOKA, K. Daily physi-
sion equations in the analysis of 50 and cal activity levels in preadolescent boys
100 m swimming races of 1992 Olympic related VO2max and lactate threshold.
games. XIV International Symposium on European Journal Applied Physiology, 55
Biomechanics in Sports. Lisboa: FMH, (2), 1986. p. 156-161.
Universidade Técnica de Lisboa, 1996. p.
274-277. BADKTE, G. Sportmedizinische grundla-
gen der körperziehung und des sportlichen
ARELLANO, R.; COSSOR, J.; WILSON, B.; training. Leipzig: Sportverlag, 1987.
CHATARD, J.C.; RIEWALD, S.; MASON,
B. Modelling competitive swimming in diffe- BAQUET, G.; BERTHOIN, S.; DUPONT,
rent strokes and distances upon regression G.; BLONDEL, N.; FABRE, C.; VAN
analysis: a study of the female participants PRAAGH, E. Effects of high intensity inter-
of Sydney 2000 Olympics Games. XIX mittent training on peak VO2 in prepuber-
International Symposium on Biomechanics tal children. International Journal of Sports
in Sports: Proceedings of Swim Sessions, Medicine, 23, 2002. p. 439-444.
San Francisco, USA, 2001.
BAQUET, G.; VAN-PRAAGH, E.;
ARELLANO, R. Entrenamiento Técnico BERTHOIN, S. Endurance training and
de Natación. Federación Española de aerobic fitness in young people. Sports
Natación. Madrid: Culturalibros, 2010. Medicine, 33, 2003. p. 1127-1143.

ARMSTRONG, N.; WELSMAN, J.R. BARDEN, J.M.; KELL, R.T. Relationships


Training young athletes. In: Coaching between stroke parameters and critical
children in sport. London: Ed. Lee, M. swimming speed in a sprint interval training
Spon, 1993. p. 64-77. set. Journal of Sports Sciences, 27 (3),
2009. p. 227-235.
ASTRAND, P.O; RODHAL, K. Textbook of
work physiology. New York: McGraw Hill, BARNETT, C.; CAREY, M.; PROIETTO, J.;
1977. CERIN, E.; FEBBRAIO, M.; JENKINS, D.
156 Referências

Muscle metabolism during sprint exercise time to exhaustion at this velocity. Sport
in man: Influence of sprint running. Journal Medicine, v. 22, 1994. p. 90-108.
of Science and Medicine in Sport, 7, 2004.
p. 314-322. BILLAT, V.; BEILLOT, J.; JAN, J.;
ROCHCONGAR, P.; CARRE, F. Gender
BAR-OR, O. Pediatric sports medicine effect on the relationship of time limit at
for the practiciones. New York: Springer 100% VO2máx with other bioenergetic
Verlag, 1983. characteristics. Medicine and Science in
Sports Exercise, v. 28, 1996. p. 1040-1055.
BELTZ, J.D.; COSTILL, D.L.; THOMAS,
R.; FINK, W.J.; KIRNAN, J.P. Energy BISCIOTI, G. Utilizziamo bene
demands of interval training for competitive L´intermittente. Nuovo Calcio, 114, 2002.
swimming. The journal of swimming resear- p. 110-114.
ch, 4, 1988. p. 5-9.
BLIMKIE, C.J.R.; ROCHE, P.; BAR-OR, O.
BENCKE, J.; DAMSGAARD, R.; Concept of anaerobic to aerobic power ratio
SAEKMOSE, A.; JORGENSEN, P.; in pediatric health and disease. Children
JORGENSEN, K.; KLAUSEN, K. Anaerobic and Exercise, XII. Champaign, Illinois:
power and muscle strength characteristics Human Kinetics, 1986. p. 31-37.
of 11 year old elite and non-elite boys and
girls from gymnastics, team handball, tennis BLIMKIE, C.J.R.; BAR-OR, O. Trainability
and swimming. Scandinavian Journal of of muscle strength, power and endurance
Medicine and Science in Sports, 12, 2002. during childhood. In: O. Bar-Or (Ed.), The
p. 171-178. Child and Adolescent athlete. London:
Blackwell Scientific Publications, 1996. p.
BENEKE, R.; HUTLER, M.; JUNG, M.; 113-129.
LEITHAUSER, R. M. Modeling the blood
lactate kinetics at maximal short-term BOGDANIS, G. C.; NEVILL, M. E.;
exercise conditions in children, adoles- BOOBIS, L. H.; LAKOMY, K. A.; NEVILL, A.
cents, and adults. Journal of Applied M. Recovery of power output and muscle
Physiology, 99, 2005. p. 499–504. metabolites following 30s of maximal sprint
cycling in man. Journal of Physiology, 482,
BERG, A.; KEUL, J. Biochimica dello sforzo 1995. p. 467-480.
infantile. SDS. XII, 28-29, 1988. p. 39-44.
BOISSEAU, N.; DELAMARCHE, P.
BILLAT, V. Fisiología y Metodología del Metabolic and hormonal responses to
Entrenamiento. Barcelona: Paidotribo, exercise in children and adolescents.
2002. Sports Medicine, 30, 2000. p. 405-422.

BILLAT, V.L.; KORALSTEIN, J.P. BOMPA. T. Teoria e metodologia do treina-


Significance of the velocity at VO2máx and mento. Sao Paulo: Phorte, 2002.
Referências 157

BOUCHARD, C.; DIONNE, F.; SIMONEAU, Journal of Pediatric Endocrinology and


J.; BOULAY, M. Genetics of aerobic and Metabolism, 16, 2003. p. 419-429.
anaerobic performances. Exercise and
Sport Science Reviews, 20, 1992. p. 27-58. ELLIOT, M. N.; WAGNER, P. P.; CHIU,
L. Power athletes and distance training:
BULGAKOVA, N, J. Natação: seleçao de physiological and biomechanical rationale
talentos e treinamento a longo prazo. Rio for chance. Sports Medicine, v. 37, 2007.
de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 2000. p. 47-57.

CAMPOS, A.; FIGUEIREDO, P.; VILAS- ERIKSSON, B.; KOCH, G. Effect of physi-
BOAS, J.P.; FERNANDES, R.J. Stroking cal training on hemodynamic response
Parameters Patterns in A Training Set during submaximal and maximal exercise
Performed at the Critical Velocity. The in 11-13 year old boys. Acta Physiologica
Open Sports Sciences Journal, 3, 2010. p. Scandinavica, 87, 1973. p. 27-39.
84-86.
ERIKSSON, B.; GOLLNICK, P.; SALTIN, B.
CERANI, J. Las cualidades físicas y Muscle metabolism and enzyme activities
sus etapas sensibles: la fuerza. Sport & after training in boys 11-13 years old. Acta
Medicine: Enero-Febrero, 1993. p. 15-18. Physiologica Scandinavica, 87, 1973. p.
485-497.
COLWIN, C. M. Breakthrough swimming.
Champaign, ILL: Human Kinetics, 2002. ERIKSSON, B.O. Physical Training,
oxygen supply and muscle metabolism
DAVIES, C.T.M.; THOMPSON, M.W. in 11-13 year old boys. Acta Physiologica
Aerobic performance of female marathon Scandinavica. Suppl. 384. En Wilmore y
and male ultramarathon athletes. European Costill. Fisiología del esfuerzo y del depor-
Journal of Applied Physiology, 41, 1979. p. te. Editorial Paidotribo: Barcelona, 1973.
18-23.
ERIKSSON, B.O.; GRIMBY, G.; SALTIN,
DE MARIA, A.N.; NEUMANN, A.; B. Cardiac output and arterial blood gases
SCHUBART, P.; LEE, G.; MASON, D.T. during exercise in pubertal boys. Journal of
Systematic correlation of cardiac chamber Applied Physiology, 31, 1971. p. 363-406.
size and ventricular performance determi-
ned with echocardiography and alterations ESTEVE-LANAO, J.; CEJUELA,
in heart rate in normal persons. American R.; MENÉNDEZ DE LUARCA, J.
Journal of Cardiology, 43, 1979. p. 1-9. Entrenamiento de la Resistencia en
Deportes Cíclicos. In: NACLERIO AYLLÓN,
DOTAN, R.; OHANA, S.; BEDIZ, C.; FALK, F. Entrenamiento Deportivo: Fundamentos
B. Blood lactate disappearance dynamics in y aplicaciones en diferentes Deportes.
boys and men following exercise of similar Madrid: Panamericana, 2010. Capítulo 12:
and dissimilar peak-lactate concentrations. 171-193.
158 Emerson Farto Ramirez

FAHEY, T.D.; DEL VALLE-ZURIS, A.; Gymnos, 1996.


OEHLSEN, G.; TRIEB, M.; SEYMOUR,
J. Pubertal stage differences in hormonal GHARBI, A.; CHAMARI, K.; KALLEL, A.;
and hematological responses to maximal AHMAIDI, S.; TABKA, Z.; ABDELKARIM,
exercise in males. Journal of Applied Z. Lactate kinetics after intermittent and
Physiology, 46, 1979. p. 823-827. continuous exercise training. Journal of
Sports Science and Medicine, v. 7, 2008.
FALK, B.; DOTAN, R. Child-adult diffe- p. 279-285.
rences in the recovery from high-intensity
exercise. Exercise and Sport Sciences GLADDEN, L.B. Muscle as a consumer of
Reviews, 34 (3), 2006. p. 107-112. lactate. Medicine and Science in Sport and
Exercise, 32 (4), 2000. p. 764-771.
FARIA, I.E.; FARIA, E.W.; ROBERTS, S.;
YOSHIMURA, D. Comparison of physi- GLENMARK, B., HEDBERG, G.,
cal and physiological characteristics in JANSSON, E. Changes in muscle fibre type
elite young and mature cyclists. Research from adolescence to adulthood in women
Quaterly for Exercise and Sport, 60, 1989. and men. Acta Physiologica Scandinavica,
p. 388-95. 146, 1992. p. 251–259.

FOSTER, C.; HEIMANN, K.; ESTEN, GONZÁLEZ, J.B.; GOROSTIAGA, E.


P.E. Differences in perceptions of training Fundamentos del entrenamiento de la
by coaches and athletes. Journal Sports fuerza. Barcelona: Inde, 1995.
Medicine, 8 (2), 2001. p. 3-7.
GORDON, D.; HOPKINS, S.; KING, C.;
FOURNIER, M.; RICCI, J.; TAYLOR, A.W.; KEILLER, D.; BARNES, R.J. Incidence of
FERGUSON, R.J.; MONTPETTIT, R.R.; the Plateau at VO2máx in dependent on the
CHAITMAN, B.R. Skeletal muscle adapta- anaerobic capacity. International Journal of
tion in adolescent boys: sprint and enduran- Sports Medicine, v. 32, 2011. p. 1-6.
ce training and detraining. Medicine and
Science in Sports and Exercise, 14, 1982. GROSSER, M.; BRÜGGEMANN, P.; ZINTL,
p. 453-456. F. Alto rendimiento deportivo (Wolfgang
Simon, Trans.). Barcelona: Martinez Roca,
GAITANOS, G.C.; WILLIAMS, C.; BOOBIS, 1989.
L.H.; BROOKS, S. Human muscle metabo-
lism during intermittent maximal exercise. HAKKINEN, K.; MYLLYLA, E. Acute effects
Journal of Applied Physiology, 75, 1993. p. of muscle fatigue and recovery on force
712-719. production and relaxation in endurance,
power and strength athletes. Journal of
GARCÍA MANSO J.M.; NAVARRO Sport Medicine and Physical Fitness, v. 30,
VALDIVIESO F.; RUIZ CABALLERO J.A. 1991. p. 5-12.
Bases teóricas del entrenamiento depor-
tivo, principios y aplicaciones. Madrid: Ed HAKKINEN, K.; KESKINEN, K. L.; ALEN,
Desenvolvimento e Alto Rendimento 159

M.; KOMI, P.V.; KAUHANEN, H. Serum of Applied Physiology: respiratory environ-


hormone concentrations during prolon- mental and exercise physiology, 56, 1984.
ged training in elite endurance trained and p. 831-838.
strength trained athletes. European Journal
of Applied Physiological and Occupational HOLMER, I. Physiology of swimming man.
Physiology, v. 59, 1989. p. 233-238. Acta Physiologica Scandinavica. Suppl.
407, 1974.
HARALAMBIE, G. Enzyme activities in
skeletal muscle of 13-15 years old adoles- HONIG, C.R.; CONNET, R.J.; GAYESKI,
cents. Bulletin Européen Pyhsiopathologie T.E.J. O2 transport and its interaction with
Respiratoire, 18, 1982. p. 65-74. metabolism: a systems view of aerobic
capacity. Medicine and Sciense in Sport
HARRE, D. Teoría del entrenamiento and Exercise, v. 24, 1992. p. 47-53.
deportivo. Buenos Aires: Stadium, 1987.
HOWALD, H. Veränderungen der muskel-
HAWLEY, J.; WILLIAMS, M. Relationship fasern durch training. Leistungssport, v. 19,
between upper body anaerobic power 1989. p. 18-24.
and freestyle swimming performance.
International Journal of Sports Medicine, HÜTER-BECKER, A.; SCHEWE, H.;
12, 1991. p. 1-5. HEIPERTZ, W. Fisiología y Teoría del
Entrenamiento. Barcelona: Paidotribo,
HAYWARD, C.; WEBB, C.; COLLINS, P. 2006.
Effects of sex hormones on cardiac Mass.
Lancet, 357, 2001. p. 1354-1356. INGLE, L.; SLEAP, M.; TOLFREY, K. The
effect of complex training and detraining
HEBESTREIT, H.; MIMURA, K.; BAR-OR, programme on selected strength and power
O. Recovery of muscle power after high-in- variables in early pubertal boys. Journal of
tensity short-term exercise: Comparing Sports Science, 24, 2006. p. 987-997.
boys and men. Journal of Applied
Physiology, 74, 1993. p. 2875-2880. JANZ, K.; DAWSON, J.; MAHONEY, L.
Predicting heart growth during puberty:
HEGEDUS, J. Aclaración sobre el entrena- the muscatine study. Pediatrics, 105, E63,
miento intermitente. Lecturas, Educación 2000.
Física y Deportes, Revista digital. Buenos
Aires, 11, n. 106, 2007. KACZOR, J. J.; ZIOLKOWSKI, W.;
POPINIGIS, J.; TARNOPOISKY, M. A.
HELLARD, P. L´entrainement Méthodologie. Anaerobic and aerobic enzyme activities in
Biarritz: Atlantica, 1998. human skeletal muscle from children and
adults. Pediatric Research, 57, 2005. p.
HOLLOSZY, J.O.; COYLE, E.F. Adaptations 331–335.
of skeletal muscle to endurance exercise
and their metabolic consequences. Journal KANEHISA, H.; IKEGAWA, S.; TSUNODA,
160 Emerson Farto Ramirez

N.; FUKUNAGA, T. Strength and cross- Sportarz und Sportmedizin, 4, 1976. p.


sectional areas of reciprocal muscle groups 80-88.
in the upper arm and thigh during adoles-
cence. International Journal of Sports MAGLISCHO, E. Nadando ainda mais
Medicine, 16, 1995. p. 54–60. rápido. Sao Paulo: Manole, 1999.

KOBAYASHI, K.; KITAMURA, K.; MIURA, MAGLISCHO, E. Swimming Fastest.


M.; SODEYAMA, H.; MURASE, Y.; Champaign ILL: Human Kinetics, 2003.
MIYASHITA, M.; MATSUI, H. Aerobic
Power as related to body growth and MANNO. R. Fundamentos del entrenamien-
training in Japanese boys: a longitudinal to deportivo. Barcelona: Paidotribo, 1991.
study. Journal of Applied Physiology: respi-
ratory environmental and exercise physio- MARINHO, D. A.; SILVA, A. J.; REIS, V.
logy, 44 (5), 1978. p. 666-672. M.; COSTA, A. M.; BRITO, J. P.; FERRAZ,
R.; MARQUES, M. C. Chances in Critical
KRAHENBUHL, G.S.; SKINNER, J.S.; Velocity and Critical Stroke Rate During
KOHRT, W.M. Development aspects A 12 Week Swimming Training Period:
of maximal aerobic power in children. A Case Study. Journal of Human Sport &
Excercise and Sport Science Reviews, 13, Exercise, v. 4, 2009. p. 48-56.
1985. p. 503-538.
MARINHO, D.A.; AMORIM, R.A.; COSTA,
LONDERRE, B. R. Effects of training on A.M.; MARQUES, M. C.; PÉREZ-TURPIN,
lactate/ventilatory thresholds: a meta-a- J. A.; NEIVA, H.P. “Anaerobic” critical
nalysis. Medicine and Science in Sports velocity and swimming performance in
and Exercise, v. 29, 1997. p. 837-843. young swimmers. Journal of Human Sport
& Exercise. Vol. 6, 2011. p. 80-86.
LORENZO, I.; CALDERÓN, F.J.; GARCÍA,
A.; BENITO, P.J. Características fisioló- MCARDLE, W.D.; KATCH, F.I.; KATCH,
gicas de la natación. NWS (4), 2002. p. V.L. Fisiologia do exercício, energia,
23-30. nutrição e desempenho humano. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
MACLAREN, D.P.; COULSON, M. Critical
swim speed can be used to determine MCARDLE, W.D.; MAGEL, J.R.; DELIO,
changes in training status. Biomechanics D.J.; TONER, M.; CHASE, J.M. Specificity
and Medicine in Swimming VIII. Eds: or run training on VO2max and heart rate
Keskinen, K.L., Komi, P.V. and Hollander, changes during running and swimming.
A.P. Jyvaskyla: Grummerus Printing, 1999. Medicine and Science in Sport, 10, 1978.
p. 227-232. p. 16-20.

MADER, A.; LIESEN, H.; HECK, H. MCLELLAN, T.M.; JACOBS, I. The influen-
Zur beurteilung der sportartspezifis- ce of active recovery on the individual
chen ausdauerleistungsfahigkeit in labor. anaerobic threshold. Medicine and Science
Desenvolvimento e Alto Rendimento 161

in Sports and Exercise, 21 (2), 1989. Medicine, 19, 1998. p. 303-309.

MCMANUS, A., ARMSTRONG, N.; NAVARRO, F. Metodología del entrena-


WILLIAMS, C. Effect of training on the miento en el agua del nadador. Curso
aerobic power and anaerobic performance Treinamento em alto nível módulo I. Belo
of prepubertal girls. Acta Paediatrica, 86, Horizonte, 1996.
1997. p. 456-459.
NAVARRO, F. La resistencia. Madrid:
MERO, A.; JAAKKOLA, L.; KOMI, P. Gymnos, 1998.
Serum hormones and physical performan-
ce capacity in young boy athletes during a NAVARRO, F. Principios del entrenamiento
1 year training period. European Journal of y estructuras de la planificación deportiva.
Applied Physiology, 60, 1990. p. 32-37. Madrid: C.O.E., 2000.

MIDGLEY, A.W.; MCNAUGHTON, L.R. NAVARRO, F. Metodología del entrena-


Time at or near VO2max during continuous miento para el desarrollo de la resistencia.
and intermittent running. A review with Madrid: COES – UAM, 2002.
special reference to considerations for the
optimization of training protocols to elicit NAVARRO, F.; OCA GAIA, A.; CASTAÑÓN,
the longest time at or near VO2max. The F.J. El entrenamiento del nadador joven.
Journal of Sports Medicine and Physical Madrid: Ed Gymnos, 2003.
Fitness, v. 46, 2006. p. 1-16.
NAVARRO, F., OCA GAIA, A. El entrena-
MUJIKA, I.; BUSSO, T.; LACOSTE, L. miento físico de natación. Ed Cultivalibros.
Modeled responses to training and taper Madrid, 2011.
in competitive swimmers. Medicine and
Science in Sport and Exercise, 28(2), 1996. NEUMAN, G. La struttura della prestazione
p. 251-258. negli sport di resistenza, 21, v. 9, 1990. p.
66-72.
MUJIKA, I.; SPENCER, M.; SANTISTEBAN,
J.; GOIRIENA, J.J.; BISHOP, D. Age-related NEUMAN, G. La struttura della prestazione
differences in repeated-sprint ability in negli sport di resistenza, 21, v. 10, 1991. p.
highly trained youth football players. 59-64.
Journal of Sports Science, 27 (14), 2009.
p. 1581-1590. NEVILL, A.; HOLDER, R.; BAXTER-
JONES, A.; ROUND, J.; JONES, D.
NAUGHTON, G.; CARLSON, J.; Modeling developmental changes in stren-
IULIANO, S.; GIBBS, M.; SNOW, R.J. gth and aerobic power in children. Journal
Cardiorespiratory responses and circula- of Applied Physiology, 84, 1998. p. 963-970.
ting metabolite concentrations in male and
female adolescents during a simulated NUMERKIVI, A.; LEMBERG, H. A study to
duathlon. International Journal of Sports determine the importance of local muscular
162 Emerson Farto Ramirez

endurance in middle distance running. POTDEVIN, F.; DEKERLE, J. Aerobic


Modern Athlete and Coach, v. 1, 1993. p. 3-7. Potential, Stroke Parameters, and
Coordination in Swimming Front-Crawl
OBERT, P.; MANDIGOUT, S.; NOTTIN, Performance. International Journal of
S.; VINET, A.; N’GUYEN, D.; LECOQ, A. Sports Physiology and Performance, 2,
Cardiovascular responses to enduran- 2007. p. 347-359.
ce training in children: effect of gender.
European Journal of Clinical Investigation, PÉREZ, L.M.R.; SANMARTÍN, M.G.; SANZ,
33, 2003. p. 199-208. J.L.G.; IGLESIAS, J.L.L.; VALDIVIESO,
F.N. Desarrollo, comportamiento motor y
OBERT, P.; MANDIGOUT, S.; VINET, A.; deporte. Madrid: Sintesis, 2001.
COURTEIX, D. Effect of a 13-week aerobic
training program in the maximal power PEYREBRUNE, M.; TURNER, I.
developed during a force-velocity test in Entrenamiento de Piernas. Swim Coaches
prepubertal boys and girls. International and Teachers of New Zealand, 2007. Inc.
Journal of Sports Medicine, 22, 2001(a). p. htpp://www.nzscat.org.nz
442-446.
PLATONOV, V.; FESSENKO, S. Los siste-
OBERT, P.; MANDIGOUT, S.; VINET, A.; mas de entrenamiento de los mejores
N’GUYEN, L.; STECKEN, F.; COURTEIX, nadadores del mundo. v. 2. Barcelona:
D. Effect of aerobic training and detraining Paidotribo, 1994.
on left ventricular dimensions and diasto-
lic function in prepubertal boys and girls. PLATONOV, V. La preparación física.
International Journal of Sports Medicine, Barcelona: Paidotribo, 1998.
22, 2001(b). p. 90-96.
PLATONOV, V.N. Teoría General del entre-
OGITA, F. Training energy systems. In: namiento deportivo olímpico. Barcelona:
SEIFERT, L; CHOLLET, D; MUJIKA, I. Paidotribo, 2001.
Word Book of Swimming: From Science
to Performance. New York: Nova Science PRADO, L. Lactate, ammonia and catecho-
Publisher, Inc, 12, 2011. p. 241-254. lamine metabolism after anaerobic training.
In: Children and Exercise XIX. London: E &
OLBRECHT, J. The Science of Winning. FN Spon, 1997. p. 306- 312.
Lutton: Swimshop, 2000.
RATEL, S.; BEDU, M.; HENNEGRAVE,
PAYNE, V.; MORROW, J.; JOHNSON, L.; A.; DORE, E.; DUCHE, P. Effects of age
DALTON, S. Resistance training in children and recovery duration on peak power
and youth: Meta-analysis. Research outputs during repeated cycling sprints.
Quaterly for Exercise and Sport, 68, 1997. International Journal of Sports Medicine,
p. 80-88. 23, 2002. p. 397–402.

PELAYO, P.; ALBERTY, M.; SIDNEY, M.; RICHARDS, R. Applied Physiology of


Desenvolvimento e Alto Rendimento 163

Swimming. Beerwah QLD: ASCTA, 2010. SARGEANT, A.; DOLAN, P.; THORNE, A.
Effects of supplementary physical activity
ROBERGS, R.A. Exercise induced metabo- on body composition, aerobic, and anaero-
lic acidosis: Where do the protons come bic power in 13-year-old boys. In: Children
from? Sportscience, 5 (2), 2001. and Exercise XI. Champaign: Human
Kinetics, 1985. p. 140-150.
ROBERGS, R.A.; ROBERTS, S. Exercise
Physiology: Exercise, performance, and SCHNABEL, G. Leistungsstruktur,
clinical applications. St. Louis, MO: Mosby, trainingsstruktur und ihr zusammenkang.
1997. Medizin und sport, 21, 1981. p. 257-260.

RODRIGUEZ, F. A; MADER, A. Energy SHARP, R.L.; COSTIL, D.L.; FRINK,W.J.;


metabolism during 400 and 100 m crawl KING, D.S. Effect of eight weeks of bicycle
swimming: computer simulation based ergometer sprint training on human muscle
on free swimming measurement. In: J.C buffer capacity. International Journal of
CHATARD. Biomechanics and Medicine in Sports Medicine, 7, 1986. p. 13-17.
Swimming IX. Saint Etienne: Publications
de l´ Université de Saint Étienne, v. 9, 2003. SIMON, J.; SEGAL, K.R.; JAFFE, L.A.
p. 373-378. Exercise prescription based on perceived
exertion versus heart rate in middle-aged
RODRIGUEZ, R.M. Fisiología de la women. Medicine and Science in Sports
resistencia del nadador. XX Congreso and Exercise, 19 (2), S 14, 1987.
Internacional de Actividades Acuáticas y
Natación de Competición. Toledo: AETN, SJODIN, B.; JACOBS, I. Onset of blood
2000. lactate accumulation and marathon running
performance. International Journal of
ROTSTEIN, A.; DOTAN, R.; BAR-OR, Sports Medicine, 2, 1981. p. 23-26.
O.; TENEMBAUM, G. Effects of training
on anaerobic threshold, maximal aerobic SPENCER, M.; FITZSIMONS, M.;
power and anaerobic performance of DAWSON, B.; BISHOP, D.; GOODMAN, C.
preadolescent boys. International Journal Reliability of a repeated-sprint test for field
of Sports Medicine, 7, 1986. p. 281-286. hockey. Journal of Science and Medicine in
Sport, 9, 2006. p. 181-184.
ROWLAND, T. Children’s Exercise
Physiology. Champaign: Human Kinetics, STEGMANN, H.; KINDERMAN, W.
2005. Comparison of prolonged exercise tests at
the individual anaerobic threshold and the
SALTIN, B.; KARLSSON, J. Muscle glyco- fixed anaerobic threshold of 4 mMol/l lacta-
gen utilization during work of different inten- te. International Journal of Sports Medicine,
sities. In: PERNOW, B.; SALTIN, B. Muscle 3, 1982. p. 105-110.
metabolism in exercise. New York: Plenum
Press, 1971. p. 289-299. STRATTON, J.R.; LEVY, W.C.;
164 Emerson Farto Ramirez

CERQUEIRA, M.D.; SCHWARTZ, R.S.; anaerobic contribution of competitive


ABRASS, I.B. Cardiovascular responses freestyle swimmers. In: MACLAREN, D.;
to exercise. Effects of aging and exercise REILLY, T.; LEES, A. Biomechanics and
training in healthy men. Circulation, 89, Medicine in Swimming Science. London: E
1994. p. 1648-1655. & F Spon, v. 6, 1992. p. 271-277.

SWEETENHAM, B.; ATKINSON, J. THANOPOULOS, V.; DOPSAJ, M.;


Championship Swim Training. Champaign: GEORGIJA, R.; OKICIC, T. Critical
Human Kinetics, 2003. velocity with and without the application of
swimming fins among youth fin competi-
TABATA, I.; IRISAWA, K.; KOUZAKI, M.; tors. Physical Education and Sport, v. 8, n.
NISHIMURA, K.; OGITA, F.; MIYACHI, M. 2, 2010. p. 183 – 189.
Metabolic profile of high intensity intermit-
tent exercise. Medicine and Science in VERKHOSHANSKY, Y. Fundamentals of
Sports and Exercise, v. 29, n. 03, 1997. p. special strength-training in sport. Livonia,
390-395. Michigan: Sporttvny Press, 1996.

TAYLOR, D. J.; KEMP, G. J.; THOMPSON, VERKHOSHANSKY, Y.; SIFF, M.


C. H.; RADDA, G. K. Ageing: Effects on Supertraining. 6th. Rome: Ultimate Athlete
oxidative function of skeletal muscle in Concepts, USA, 2009.
vivo. Molecular and Cellular Biochemistry,
174, 1997. p. 321–324. VILLANUEVA, L. El control del entre-
namiento. Teoría y práctica. Congreso
THIBAULT, G. Ahead of the pack. Training Internacional de Natación. 4º Congreso
and conditioning, v. 16, 2006. Ibérico, 17º Congreso AETN, Cantabria,
1997.
TROUP, J. Energy contributions of compe-
titive freestyle events. International Center WAKAYOSHI, K.; IKUTA, K.; YOSHIDA,
for Aquatic Research Annual: studies by the T.; UDO, M.; MORITANI, T.; MUTOH, Y.;
International Center for Aquatic Research MIYASHITA, M. Determination and validity
1989-90. Colorado Spring, CO: Swimming of critical velocity as an index of swimming
Press, 1990. performance in the competitive swimmer.
Eur J Appl Physiol, 64, 1992. p. 153-157.
TROUP, J. Aerobic: Anaerobic characteris-
tics on the four competitive strokes. Studies WAKAYOSHI, K.; YOSHIDA, T.; UDO, M.;
by the International Centre for Aquatic HARADA, T.; MORITANI, T.; MUTOH, Y.;
Research. Colorado Springs: United States MIYASHITA, M. Does critical swimming
Swimming Press, 1991. p. 190-191. velocity represent exercise intensity at
maximal lactate steady state. Eur J Appl
TROUP, J.; HOLLANDER, A.P.; BONE, Physiol, 66, 1993(a). p. 90-95.
M.; TRAPPE, S.; BARZDUKAS, A.P.
Performance related difference in the WAKAYOSHI, K.; YOSHIDA, T.; YKUTA, Y.;
Desenvolvimento e Alto Rendimento 165

MUTOH, Y.; MIYASHITA, M. Adaptations Kinetics, 1995.


to six months of aerobic swim training.
Changes in velocity, stroke rate, stroke WILMORE, J.H.; STANFORTH, P.R.;
length and blood lactate. International GAGNON, J.; RICE, T.; MANDEL, S.;
Journal of Sports Medicine, 14 (7), 1993(b). LEON, A.S.; RAO, D.C.; SKINNER, J.S.;
p. 368-372. BOUCHARD, C. Cardiac output and stroke
volume changes with endurance training:
WEBER, C.L.; SCHNEIDER, D.A. Increases The Heritage family study. Medicine and
in maximal accumulated oxygen deficit Science in Sports and Exercise, 33, 2001.
after high-intensity interval training are p. 99-106.
not gender dependent. Journal of Applied
Physiology, v. 92, 2002. p. 1795-1801. WOLFE, L.A.; CUNNINGHAM, D.A.;
BOUGHNER, D.R. Physical conditioning
WEINECK, J. Biologia no esporte. São effects on cardiac dimensions: a review
Paulo: Manole, 1991. of echocardiographic studies. Canadian
Journal of Applied Sports Science, 11,
WEINECK, J. Treinamento ideal. São 1986. p. 66-79.
Paulo: Manole, 1999.
ZAFEIRIDIS, A.; DALAMITROS, A.; DIPLA,
WEISS, M.; BOUWS, N.E.; WEICKER, H. K.; MANOU, V.; GALANIS, N.; KELLIS, S.
Comparison between the 30 minutes test Recovery during high-intensity intermit-
and the 300m step test according to Simon tent anaerobic exercise in boys, teens and
in the women’s national swimming team. men. Medicine and Science in Sports and
International Journal of Sports Medicine, 9 Exercise, 37, 2005. p. 505-512.
(5), 1988. p. 379.
ZANCONATO, S.; BUCHTHAL, S.;
WELSMAN, J.R.; ARMSTRONG, N.; BARSTOW, T.J.; COOPER, D.M.
WITHERS, S. Responses of young girls 31P-magnetic resonance spectroscopy
to two modes of aerobic training. British of leg muscle metabolism during exercise
Journal of Sports Medicine, 31, 1997. p. in children and adults. Journal of Applied
139-142. Physiology, 74, 1993. p. 2214-2218.

WELTMAN, A. The blood lactate respon- ZINTL, F. Entrenamiento de la resistencia.


se to exercise. Champaign, IL: Human Barcelona: Martinez Roca, 1991.

Você também pode gostar