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Tópicos de Matemática Elementar: números reais

Copyright © 2014, 2012 Antonio Caminha Muniz Neto


Direitos reservados pela Sociedade Brasileira de Matemática
Tópicos de
Sociedade Brasileira de Matemática
Presidente: Marcelo Viana
Maten1ática Elen1entar
Vice-Presidente: Vanderlei Horita
Primeiro Secretário: Ali Tahzibi Vàlume 1
Números Reais
Segundo Secretário: Luiz Manoel de Figueiredo
Terceiro Secretário: Marcela Souza
Tesoureiro:Carmen Mathias
Editor Executivo
Hilário Alencar Antonio Caminha Muniz Neto
Assessor Editorial
TiagoCosta Rocha
Coleção Professor de Matemática
Comitê Editorial
Bernardo Lima
J a+ Vb =
J
-a_+_�_a2_-_b + a- '1a 2
2
- b

Djairo de Figueiredo
Ronaldo Garcia (Editor-Chefe)
JoséEspinar
JoséCuminato
Sílvia Lopes

Capa
Pablo Diego Regino ª1 -+ a2 + ... + a- - n >
Distribuição e vendas n
Sociedade Brasileira de Matemática
Estrada DonaCastorina, 110 Sala 109 - Jardim Botânico
22460-320 Rio de Janeiro RJ
Telefones: (21) 2529-5073 / 2529-5095
http://www.sbm.org.br / email:lojavirtual@sbm.org.br
ISBN 978-85-85818-80-7
2ª edição
MONIZ NETO, Antonio Caminha. 2ª impressão
Tópicos de Matemática Elementar: números reais / Caminha Muniz Neto. 2014
-2.ed. -- Rio de Janeiro: SBM, 2013. Rio de Janeiro
v.l; 235 p.(Coleção Professor de Matemática; 24)
ISBN 978-85-85818-80-7

1. Conjunto dos Números e Equações.


Equações. 3. Sistemas de Equações.
2. Produtos Notáveis e
1. Título. .!SBM
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
.!SBM
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

Logaritmos - E. L. Lima
Análise Combinatória e Probabilidade com as soluções dos exercícios -
A. C. Morgado, J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança) -
E. L. Lima
Meu Professor de Matemática e outras Histórias - E. L. Lima
Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a
colaboração de P. C. P. Carvalho
Trigonometria, Números Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado e E. Wagner,
Notas Históricas de J. B. Pitombeira
.. Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
Progressões e Matemática Financeira - A. C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P. Q. Carneiro
Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
Isometrias - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 2 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Matemática e Ensino - E. L. Lima
Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Medio Vol. 4 - Exercícios e Soluções - E. L. Lima, P. C. P.
Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Construções Geométricas: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto
Um Convite à Matemática - D.C de Morais Filho
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 1 - Números Reais - A.. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 2 - Geometria Euclidiana Plana - A.
Caminha
A meus filhos Gabriel e Isabela,
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 3 - Introdução à Análise - A. Caminha
Tópicos .de Matemática Elementar - Volume 4 - Combinatória - A. Caminha na esperança de que um dia leiam este livro.
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 5 - Teoria dos Números - A. Caminha
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1

11

Sumário

Prefácio

Prefácio à 2ª edição

1 O Conjunto dos Números Reais 1


1.1 Aritmética em IR . . . . . . . . 3
1.2 A relação de ordem em IR 10
1.3 A completude do conjunto dos reais 17
1.4 A representação geométrica 22
1.5 Supremo e ínfimo . . . . . . 26

2 Produtos Notáveis e Equações 35


2.1 Identidades algébricas 36
2.2 Módulo e equações modulares 47
2.3 Equações de segundo grau 51
2.4 Equações polinomiais . . . 59
SUMÁRIO

3 Sistemas de Equações 69
3.1 Sistemas lineares e eliminação 70
3.2 Miscelânea . . . . . . . 80

4 Sequências Elementares 89
4.1 Fórmulas posicionais e recorrências 90
4.2 Progressões . . . . . . . . . . . . . 92
4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3 102
4.4 Somatórios e produtórios 113 Prefácio

5 Indução Finita 125

6 Binômio de Newton 141


6.1 Números binomiais 141
6.2 A fórmula do binômio °149
Esta coleção evoluiu a partir de sessões de treinamento para olim-
7 Desigualdades Elementares 159 píadas de Matemática, por mim ministradas para alunos e professores·
7.1 A desigualdade triangular 160 do Ensino Médio, várias vezes ao longo dos anos de 1992 a 2003 e,
7.2 A desigualdade entre as médias 163 mais recentemente, como orientador do Programa de Iniciação Cien-
7.3 A desigualdade de Cauchy 177 tífica para os premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das
7.4 Mais desigualdades 184 Escolas Públicas (OBMEP) e do Projeto Amílcar Cabral de coopera-
ção educacional entre Brasil e Cabo Verde.
8 Soluções e Sugestões 201 Idealmente, planejei o texto como uma mistura entre uma iniciação
suave e essencialmente autocontida ao fascinante mundo das competi-
A Glossário 273
ções de Matemátia, além de uma bibliografia auxiliar aos estudantes
Referências 275 e professores do secundário interessados em aprofundar seus conhe-
cimentos matemático.s. Resumidamente, seu propósito primordial é
Índice Remissivo 281 apresentar ao leitor uma abordagem de quase todos os conteúdos ge-
ralmente constantes dos currículos do secundário, e que seja ao mesmo
tempo concisa, não excessivamente tersa, logicamente estruturada e
mais aprofundada que a usual.
Na estruturação dos livros, me ative à máxima do eminente mate-
mático húngaro-americano George Pólya, que dizia não se poder fazer
Prefácio Prefácio

Matemática sem sujar as mãos. Assim sendo, em vários pontos dei- tes dos livros-texto do secundário, fazem sua aparição. Numa terceira
xei a cargo do leitor a tarefa de verificar aspectos não centrais aos etapa, o texto apresenta outros métodos elementares usuais no estudo
desenvolvimentos principais, quer na forma de detalhes omitidos em da geometria, quais sejam, o método analítico de R. Descartes, a tri-
demonstrações, quer na de extensões secundárias da teoria. Nestes ca- gonometria e o uso de vetores; por sua vez, tais métodos são utilizados
sos, frequentemente referi o leitor a problemas específicos, os quais se tanto para reobter resultados anteriores de outra(s) maneira(s) quanto
encontram marcados com* e cuja análise e solução considero parte in- para deduzir novos resultados.
tegrante e essencial do texto. Colecionei ainda, em cada seção, outros De posse do traquejo algébrico construído no volume inicial e do
tantos problemas, ,cuidadosamente escolhidos na direção de exercitar aparato geométrico do volume dois, discorremos no volume três sobre
os resultados principais elencados ao longo da discussão, bem como aspectos elementares de funções e certos excertos de cálculo diferencial
estendê-los. Uns poucos destes problemas são quase imediatos, ao e integral e análise matemática, os quais se fazem necessários em cer-
passo que a maioria, para os quais via de regra oferto sugestões ou tos pontos dos três volumes restantes. Prescindindo, inicialmente, das
soluções completas, é razoavelmente difícil; no entanto, insto veemen- noções básicas do Cálculo, elaboramos, dentre outros, as noções de
temente o leitor a debruçar-se sobre o maior número possível deles gráfico, monotonicidade e extremos de funções, bem como examina-
por tempo suficiente para, ainda que não os resolva, todos, passar a mos o problema da determinação de funções definidas implicitamente
apreciá-los como corpo de conhecimento adquirido. por relações algébricas. Na continuação, o conceito de função contínua
O primeiro volume discorre sobre vários aspectos relevantes do con- é apresentado, primeiramente de forma intuitiva e, em seguida, axio- ·
junto dos números reais e de álgebra elementar, no intuito de munir o mática, sendo demonstrados os principais resultados pertinentes. Em
leitor dos requisitos necessários ao estudo dos tópicos constantes dos especial, utilizamos este conceito para estudar a convexidade de gráfi-
volumes subsequentes. Após começar com uma discussão não axiomá- cos - culminando com a demonstração da desigualdade de J. J ensen -
tica das propriedades mais elementares dos números reais, são aborda- e o problema da definição rigorosa da área sob o gráfico de uma fun-
dos, em seguida, produtos notáveis, equações e sistemas de equações, ção contínua e positiva - que, por sua vez, possibilita a apresentação
sequências elementares, indução matemática e números binomiais; o de uma construção adequada das funções logaritmo natural e expo-
texto finda com a discussão de várias desigualdades algébricas impor- nencial. O volume três termina com uma discussão das propriedades
tantes, notadamente aquela entre as médias aritmética e geométrica, mais elementares de derivadas e do teorema fundamental do cálculo,
bem como as desigualdades de Cauchy, de Che~yshev e de Abel. os quais são mais uma vez aplicados ao estudo de desigualdades, em
Dedicamos o segundo volume a uma iniciação do leitor à geometria especial da desigualdade entre as médias de potências.
Euclidiana plana, inicialmente de forma não axiomática e enfatizando O volume quatro é devotado à análise combinatória. Começamos
construções geométricas elementares. Entretanto, à medida em que o revisando as técnicas mais elementares de contagem, enfatizando as
texto evolui, o método sintético de Euclides - e, consequentemente, construções de bijeções e argumentos recursivos como estratégias bá-
demonstrações - ganha importância, principalmente com a discussão sicas. Na continuação, apresentamos um apanhado de métodos de
dos conceitos de congruência e semelhança de triângulos; a partir desse contagem um tanto mais sofisticados, como o princípio da inclusão
;i ponto, vários belos teoremas clássicos da geometria, usualmente ausen- exclusão e os métodos de contagem dupla, do número de classes de
li
Ili
Prefácio Prefácio

equivalência e mediante o emprego de métricas em conjuntos finitos. exemplos discutidos e dos problemas propostos ao longo do texto, boa
A cena é então ocupada por funções geradoras, onde a teoria elementar parte dos quais oriundos de variadas competições ao redor do mundo.
de séries de potências nos permite discutir de outra maneira problemas Finalmente, números complexos e polinômios são os objetos de
antigos e introduzir problemas novos, antes inacessíveis. Terminada estudo do sexto e último volume da coleção. Para além da teoria cor-
nossa excursão pelo mundo da contagem, enveredamos pelo estudo do respondente usualmente estudada no secundário, vários são os tópicos
problema da existência de uma configuração especial no universo das não padrão abordados aqui. Dentre outros, destacamos inicialmente
configurações possíveis, utilizando para tanto o princípio das gavetas a utilização de números complexos e polinômios como ferramentas de
de G. L. Dirichlet - vulgo "princípio das casas dos pombos" -, um contagem e a apresentação quase completa de uma das mais simples
célebre teorema de R. Dilworth e a procura e análise de invariantes demonstrações do teorema fundamental da álgebra. A seguir, estuda-
associados a problemas algorítmicos. A última estrutura combinatória mos o famoso teorema de 1. Newton sobre polinômios simétricos e as
que discutimos é a de um grafo, quando apresentamos os conceitos bá- igualmente famosas desigualdades de Newton, as quais estendem a de-
sicos usuais da teoria com vistas à discussão de três teoremas clássicos sigualdade entre as médias aritmética e geométrica. O próximo tema
importantes: a caracterização da existência de caminhos Eulerianos, concerne os aspectos básicos da teoria de interpolação de polinômios,
o teorema de A. Cayley sobre o número de árvores rotuladas e o teo- quando dispensamos especial atenção aos polinômios interpoladores
rema extremal de P. Turán sobre a existência de subgrafos completos de J. L. Lagrange. Estes, por sua vez, são utilizados para resolver
em um grafo. sistemas lineares de Vandermonde sem o recurso à álgebra linear, os
Passamos em seguida, no quinto volume, à discussão dos conceitos quais, a seu turno, possibilitam o estudo de uma classe particular de
e resultados mais elementares de teoria dos números, ressaltando-se sequências recorrentes lineares. O livro termina com o estudo das pro-
inicialmente a teoria básica do máximo divisor comum e o teorema priedades de fatoração de polinômios com coeficientes inteiros, racio-
fundamental da aritmética. Discutimos também o método da descida nais ou pertencentes ao conjunto das classes de congruência relativas
de P. de Fermat como ferramenta para provar a inexistência de solu- a algum módulo primo, seguido do estudo do conceito de número al-
ções inteiras para certas equações diofantinas, e resolvemos também gébrico. Há, aqui, dois pontos culminantes: por um lado, uma prova
a famosa equação de J. Pell. Em seguida, preparamos o terreno para mais simples do fechamento do conjunto dos números algébricos em
a discussão do famoso teorema de Euler sobre congruências, constru- relação às operações aritméticas básicas; por outro, o emprego de po-
indo a igualmente famosa função de Euler com o auxílio da teoria mais linômios ciclotômicos para provar um caso particular do teorema de
geral de funções aritméticas multiplicativas. A partir daí, o livro apre- Dirichlet sobre primos em progressões aritméticas.
senta formalmente o conceito de congruência de números em relação a Várias pessoas contribuíram ao longo dos anos, direta ou indire-
um certo módulo, discutindo extensivamente os resultados usualmente tamente, para que um punhado de anotações em cadernos pudesse
constantes dos cursos introdutórios sobre o assunto, incluindo raízes transformar-se nesta coleção de livros. Os ex-professores do Departa-
primitivas, resíduos quadráticos e o teorema de Fermat de caracteriza- mento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, Marcondes
,, ção dos inteiros que podem ser escritos como soma de dois quadrados. Cavalcante França, João Marques Pereira, Guilherme Lincoln Aguiar
1

J O grande diferencial aqui, do nosso ponto de vista, é o calibre dos Ellery e Raimundo Thompson Gonçalves, ao criarem a Olimpíada Cea-
Prefácio
Prefácio

rense de Matemática na década de 1980, motivaram centenas de jovens


a versão inicial por mim submetida. O presidente da SBM, profes-
cearenses, dentre os quais eu me encontrava, a estudarem mais Ma-
sor Hilário Alencar da Silva, o antigo editor-chefe da SBM, professor
temática. Meu ex-professor do Colégio Militar de Fortaleza, Antônio
Roberto Imbuzeiro de Oliveira, bem como o novo editor-chefe, profes-
Valdenísio Bezerra, ao convidar-me, inicialmente para assistir a suas
sor Abramo Refez, foram sempre extremamente solícitos e atenciosos
aulas de treinamento para a Olimpíada Cearense de Matemática e pos-
comigo ao longo de todo o processo de edição. O sr. Tiago Rocha,
teriormente para dar aulas consigo, iniciou-me no maravilhoso mundo
assistente editorial da SBM, foi de fundamental importância em todo
das competições de Matemática e influenciou definitivamente minha
o processo, tendo contribuído em muito para a formato gráfico final
escolha profissional. Os comentários de muitos de vários de ex-alunos da obra.
contribuíram muito para o formato final de boa parte do material
Por fim e principalmente, gostaria de agradecer a meus pais, Anto-
aqui colecionado; nesse sentido, agradeço especialmente a João Luiz
nio Caminha Muniz Filho e Rosemary Carvalho Caminha Muniz, e à
de Alencar Araripe Falcão, Roney Rodger Sales de Castro, Marcelo minha esposa Mônica Valesca Mota Caminha Muniz. Meus pais me fi-
Mendes de Oliveira, Marcondes Cavalcante França Jr., Marcelo Cruz
zeram compreender a importância do conhecimento desde a mais tenra
de Souza, Eduardo Cabral Balreira, Breno de Alencar Araripe Falcão,
idade sem nunca terem medido esforços para que eu e meus irmãos
Fabrício Siqueira Benevides, Rui Facundo Vigelis, Daniel Pinheiro So- '
desfrutássemos o melhor ensino disponível; minha esposa brindou-me
breira Antônia Taline de Souza Mendonça, Carlos Augusto David Ri-
' com a harmonia e o incentivo necessários à manutenção de meu ânimo
beiro, Samuel Barbosa Feitosa, Davi Máximo Alexandrino Nogueira
e humor, em longos meses de trabalho solitário nas madrugadas. Esta
e Yuri Gomes Lima. Vários de meus colegas. professores teceram co-
coleção de livros também é dedicada a eles.
mentários pertinentes, os quais foram incorporados ao texto de uma
ou outra maneira; agradeço, em especial, a Fláudio José Gonçalves,
Francisco José da Silva Jr., Onofre Campos da Silva Farias, Emanuel
Augusto de Souza Carneiro, Marcelo Mendes de Oliveira, Samuel Bar- FORTALEZA, JANEIRO de 2012
bosa Feitosa e Francisco Bruno de Lima Holanda. Os professores João
Lucas Barbosa e Hélio Barros deram-me a conclusão de parte destas
notas como alvo a perseguir ao me convidarem a participar do Pro- Antonio Caminha M. Neto
jeto Amílcar Cabral de treinamento dos professores de Matemática da
República do Cabo Verde. Meus colegas do Departamento de Mate-
mática da Universidade Federal do Ceará, Abdênago Alves de Barros,
José Othon Dantas Lopes, José Robério Rogério e Fernanda Esther
Camillo Camargo, bem como meu orientando de iniciação científica
Itamar Sales de Oliveira Filho, leram partes do texto final e oferece-
ram várias sugestões. Os pareceristas indicados pela SBM opinaram
decisivamente para que os livros certamente resultassem melhores que
r

Prefácio

Prefácio à 2ª edição

Para a segunda edição fiz uma extensa revisão do texto e dos pro-
blemas propostos, corrigindo várias imprecisões de língua portuguesa
e de Matemática. Adicionei também alguns proble~as novos, no in-
tuito de melhor exercitar certos pontos da teoria, os quais não se en-
contravam adequadamente contemplados pelos problemas propostos
à primeira edição. Diferentemente da primeira edição, nesta segunda
edição as sugestões e soluções aos problemas propostos foram cole-
cionadas em um capítulo separado (o capítulo 8, para este volume);
adicionalmente, apresentei sugestões ou soluções a praticamente todos
os problemas do livro e, notadamente, a todos aqueles com algum grau
apreciável de dificuldade.
Especificamente para este volume, o capítulo 4 traz uma nova seção
(seção 4.3), a qual foi deslocada do volume 4, a fim de dar maior con-
sistência ao tratamento de sequências elementares que, agora, aborda
também sequências recorrentes lineares de segunda e terceira ordens.
Por fim, gostaria de aproveitar o ensejo para agradecer à comu-
nidade matemática brasileira, em geral, e a todos os leitores que me
Prefácio à 2ª edição

enviaram sugestões ou correções, em particular, o excelente acolhi-


mento desfrutado pela primeira edição desta obra.

FORTALEZA, JANEIRO de 2013


CAPÍTULO 1
Antonio Caminha M. Neto

O Conjunto dos Números Reais

Este primeiro capítulo revisa e estabelece fatos essenciais a prati-


camente todos os desenvolvimentos posteriores. Assumimos do leitor
uma relativa familiaridade com as definições e conceitos básicos sobre
conjuntos; assumimos também conhecidos os conjuntos dos números
naturais,
N = {1, 2,3,4, ... },
dos números inteiros,
:,1:
,,,

Z = {O, ±1, ±2, ±3, ... },

e racionais,
Q= { i; a, b E Z, b j O} ,
bem como as operações aritméticas elementares em tais conjuntos.

1
O Conjunto dos Números Reais 1.1 Aritmética em lR 3
2

Particularmente sobre números inteiros1 , para a, b E Z, com a -=J. O, t


irredutível para r. Por exemplo, o racional 1 2 tem a representação fra-
dizemos que a divide b se existe um inteiro e tal que b = ac; nesse caso, cionária irredutível -;,2 , obtida cancelando o fator 6 = mdc ( -12, 18)
denotamos a \ b. Equivalentemente, dizer que a divide b é o mesmo do numerador e do denominador.
que dizer que O racional ~ é um inteiro. Por exemplo, 13 divide 52, Um inteiro p > 1 é primo se seus únicos divisores positivos forem 1
uma vez que 52 13 =
4· , e p; de outro modo, um inteiro p > 1 é primo se, para a EN, tivermos
Se a divide b, dizemos ainda que a é um divisor de b, ou que b e que
divisível por a; nesse caso, denotamos a \ b. Se a não divide b (ou, '!!_ E N ==? a = 1 ou p.
a
equivalentemente, se ~ (/:. Z), denotamos a f b. Um inteiro n é par ~e
É um fato bem conhecido (cf. teorema 1.36 do volume 5) que o con-
2 \ n; caso contrário, o inteiro n é ímpar. Assim, O, ±2, ±4, ±6, ... sao
junto dos números primos é infinito, sendo seus elementos menores
os inteiros pares, ao passo que ±1, ±3, ±5, ... são os inteiros ímpares.
que 100 os números
Dados naturais a e b, com a -=J. O, é bem sabido que existem únicos
inteiros q e r satisfazendo as seguintes condições: 2, 3, 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23, 29, 31, 37, 41, 43, 47, 53,

59, 61, 67, 71, 73, 79, 83, 89, 97 .


- b = aq + r e O ::; r < a. . (1.1)
Um inteiro maior que 1 e que não é primo é dito composto.
A relação acima é conhecida como o algoritmo da divisão, e os intei- Também é bastante conhecido (cf. teorema 1.41 do volume 5) que
ros q e r são denominados, respectivamente, o quociente e o resto da todo natural n > 1 pode ser escrito como produto de um número finito
divisão de b por a. As condições (1.1) são frequentemente resumidas de potências2 de primos (seus fatores primos), e que tal maneira de
no diagrama escrevê-lo é única, a menos de uma reordenação de tais potências. Por
exemplo, 9000 = 23 · 32 • 53 é a decomposição do inteiro 9000 em fatores
b ~
r q primos. Essa propriedade é conhecida como o teorema Fundamental
da Aritmética.
Em particular, para a e b naturais e nas notações acima, a \ b equivale
b .
a termos r = O e q = ;:;: . 1.1 Aritmética em JR
Dois inteiros não nulos a e b sempre têm um maior divisor posi-
tivo comum, seu máximo divisor comum (denotado mdc (a, b)); a e Costumamos representar números racionais em notação decimal.
b são primos entre si quando mdc (a, b) = 1. Se um racional não Para o racional !,
por exemplo, escrevemos = 0,125 como uma!
nulo r admite a representação fracionária r = ~, com m e n inteiros, abreviação para a igualdade
então, simplificando os fatores comuns a m e n (i.e., cancelando o fa- 1 1 2 5
tor mdc (m, n) em me em n), obtemos uma representação fracionária 8= 10 + 102 + 103 '
1 Remetemos O leitor ao capítulo 1 do volume 5 para uma discussão sistemática 2 Para relembrar a definição e as principais propriedades de potências de um
do que segue. número, veja a discussão da seção 1.2.

ii I
li
'
,1,1

O Conjunto dos Números Reais 1.1 Aritmética em IR 5


4

e dizemos que 0,125 é a representação decimal de t algarismos, podemos pensar em


Racionais há, entretanto, com representações decimais mais com-
plicadas. Tomemos como exemplo o racional / 2 , para o qual usual-
mente escrevemos como a representação decimal de algum número racional, nos moldes
1
- = 0,08333 .... da discussão acima?
12
O que significa a igualdade acima? Imitando o caso do racional !, É possível provar (e o faremos no problema 2, página 10) que a
somos tentados a dizer que a igualdade acima é uma abreviação para resposta a tal pergunta será sim se, e só se, a lista (a1, a 2, a 3, ... ) for,
a partir de um certo ponto, periódica, i.e., da forma
1 8 3 3 3
12 = 102 + lQ3 + 104 +~+
lQ5
... .
(1.2)
(1.3)
Esse é, de fato, o caso, contanto que interpretemos corretamente a p p p

soma com um número infinito de parcelas do segundo membro. Rigo-


(Em particular, para o racional / 2 a lista em questão é (O, 8, 3, 3, 3, ... ),
rosamente falando, a igualdade (1.2) significa que, fixado a priori um
a qual é, claramente, periódica.) Portanto, se formos capazes de exibir
erro máximo 16n = o , ~ , temos
uma lista de algarismos que não seja periódica a partir de ponto algum,
n
concluiremos que a resposta geral à pergunta do parágrafo anterior é
1 ( 8 _2._ _2._ ... + _2._) < _1_ não! Vejamos um exemplo.
O < 12 - 102 + lQ3 + 104 + lQk - 10n
Exemplo 1.1. A lista de algarismos (O, 1, O, 1, 1, O, 1, 1, 1, O, ... ), na
para todo natural k ~ n; de outro modo, a igualdade (1.2) significa qual há infinitos algarismos O e a quantidade de algarismos 1 após
que todos os números 1~2 + 1~3 + 1~4 + · · ·+ 1~k , com k ~ n, são apro- cada algarismo O é sempre igual à quantidade anterior de algarismos
ximações por falta de 112 · com erro menor ou igual que O,po ..,:. · Ol, 1 mais um, não é periódica a partir de nenhum ponto.
n
De fato, seguirá da proposição 4.12 que Prova. Suponha, por contradição, que tal lista fosse periódica a par-
1 (8 3 3 3) 1 tir de um certo ponto e que, a partir de tal ponto, os algarismos se
12 - . 102 + lQ3 + 104 t ... + lQk - 3 . lQk ' repetissem a cada p algarismos, digamos. A regra de formação da lista
garante que haverá uma posição a partir da qual toda ocorrência de
e, portanto, 0 erro na aproximação por falta acima de / 2 será 3 .{0 k, ? um bloco de algarismos 1 sempre se dará com mais de p algarismos 1
qual é menor ou igual que o erro máximo 16n , sempre que k ~ n. E consecutivos. Portanto, o bloco de algarismos que se repetem deveria
nesse sentido que devemos pensar na igualdade / 2 = 0,08333 ....
De posse da discussão acima, uma pergunta que se coloca natural- uma função f : N---+ IR; entretanto, para nossos propósitos aqui, podemos pensá-la
como uma lista ordenada de números reais, i.e., uma lista de números reais na qual
mente é a seguinte: dada uma sequência3 qualquer (a1, a2, a3, · · .) de especificamos quem é o primeiro número da lista, quem é o segundo, o terceiro,
3Conforme veremos na seção 1.1 do volume 3, uma sequência de números reais é etc. Discutiremos sistematicamente algumas sequências elementares no capítulo 4.
6 O Conjunto dos Números Reais 1.1 Aritmética em lR 7

ser formado somente por algarismos 1, i.e., a lista deveria ser, a partir Os elementos de Ill são denominados números reais e o conjunto ]l
de certa posição, da forma (1, 1, 1, 1, 1, 1, 1, ... ). Mas, se tal ocorresse, corno urn todo é o conjunto dos números reais 5 .
então, a partir dessa posição, não mais poderíamos ter algarismos O, No que segue, detalhamos o que cada urn dos itens (1), (II) e (III)
o que é urna contradição! • acima realmente significa.
Postulamos que o conjunto Ill dos números reais é munido corn duas
Informalmente, podemos resumir a discussão acima evidenciando
operações, denotadas + e · e respectivamente denominadas (por ana-
a seguinte deficiência do conjunto dos racionais: todo racional admite
logia corn as operações correspondentes ern Q) adição e multiplicação,
urna representação decimal, rnas nern toda representação decimal re-
as quais satisfazem os axiomas (1) a (7) a seguir:
presenta algum racional. Nesse ponto, a firn de suprir tal deficiência,
postulamos4 a existência de urn conjunto, o qual denotaremos Ill, (1) Consistência: para a, b E Q, o resultado a+ b da adição de
contendo Q e possuindo as seguintes propriedades: a e b é o rnesrno, quer consideremos a adição usual de Q ou
(1) As operações de adição, subtração, multiplicação e divisão ern a operação correspondente ern R Analogamente, o resultado
Q se estendem aos elementos de Ill, gozando ern Ill das rnesrnas a · b dà multiplicação de a e b é o rnesrno, quer consideremos a
propriedades que gozam ern Q. multiplicação usual de Q ou a operação correspondente ern Jll.

(II) A ordenação dos elementos de Q se estende aos elementos de Ill, (2) Comutatividade: as operações + e · são comutativas, i.e., sao
tarnbérn gozando, ern Ill, das rnesrnas propriedades que goza ern tais que a + b = b + a e a · b = b · a, para todos a, b E Ill.
Q; ern particular, todo elemento de Ill é negativo,· igual a zero ou
(3) Associatividade: as operações+ e · são associativas, i.e., são tais
positivo.
que a+ (b + e) = (a+ b) + e e a· (b · e) = (a· b) · e, para todos
(III) A toda lista (a 1 , a 2 , a 3 , ... ) de algarismos corresponde urn único a,b,c E R
elemento x E Ill, no sentido da discussão do início deste capí-
(4) Distributividade: a operação de multiplicação é distributiva ern
tulo, o qual será denotado x = O, a 1 a 2 a 3 .... Reciprocamente, a
relação à de adição, i.e., é tal que a· (b + e) = (a. b) +(a. e),
todo x E IJl correspondem urn único inteiro m e urna única lista
para todos a, b, e E R
(a 1 , a 2 , a 3 , ... ) de algarismos, tais que x = m+O, a1a2a3 ... , onde
+ representa a operação de adição ern Ill. (5) Existência de elementos neutros únicos: os números racionais O
4Um axioma ou postulado em uma certa teoria é uma propriedade imposta e 1 são elementos neutros, respectivamente, para as operações
como verdadeira. Uma das características fundamentais da Matemática como de adição e multiplicação ern Ill, i.e., tern-se O+ a = a e 1 . a = a,
ramo do conhecimento humano é a utilização do método axiomático, i.e., a para todo a E Ill.
aceitação do fato de que nem toda propriedade matemática pode ser deduzida a
partir de propriedades matemáticas previamente estabelecidas, sendo necessária a 5 Há maneiras de certa forma mais construtivas de se introduzir o conjunto dos
adoção a priori de um conjunto de axiomas. De outro modo, há um ponto em que números reais (veja, por exemplo, [34], ou, para uma abordagem mais profunda,
precisamos admitir que certas propriedades (os axiomas) sejam válidas per si, i.e., [12]). Nestas notas, optamos por uma abordagem que fosse a mais próxima possível
sem justificativa embasada na validade de outras propriedades. da experiência prévia do leitor médio.
i I

O Conjunto dos Números Reais 1.1 Aritmética em lR 9


8

(6) Lei do cancelamento: se a, b E R são tais que a· b = O, então Por outro lado, usando o fato de que O é elemento neutro da
a= O ou b = O. adição e que tal operação é associativa, obtemos

(7) Existência de inversos aditivo e multiplicativo: se a E R, então e = e+ O = e+ (e + (-e))


existe b E R tal que a+ b = O. Se a E R, a =f O, então existe =(e+e)+(-e)
b E R tal que a · b = 1. =e+ (-e)= O,
Como decorrência das propriedades acima, temos as seguintes con-
i.e., a· O =e..= O.
sequências importantes:
(i) Unicidade do inverso aditivo: para a E R, se b, b' E R são tais que De posse das propriedades acima para as operações de adição e
a+b = O e a+b' = O, então a associatividade e a comutatividade multiplicação de números reais, convencionamos (como é praxe em
da adição, juntamente com o fato de O ser elemento neutro para Q) omitir o sinal · da multiplicação, escrevendo simplesmente ab para
tal operação, nos dão denotar a · b. Observe, agora, que a associatividade e a comutativi-
dade da adição e da multiplicação em R nos permitem adicionar ou
b=b+O=b+(a+b')
multiplicar uma quantidade finita qualquer de números reais, sem nos
= (b + a) + b' = (a + b) + b' preocuparmos com quais parcelas ou fatores devemos operar inicial-
=O+b'=b'. mente; o resultado final será sempre o mesmo6 .
Portanto, 0 real a possui um único inverso aditivo, o qual será, Também, definimos as operações de subtração ( - ) e divisão (7 )
doravante, denotado por -a, como feito usualmente para os ra- em R assim como em Q: para a, b E R, pomos
cionais. Segue de a + (-a) = O que a é o inverso aditivo de
a-b=a+(-b) e a-;-b=ab- 1 ,
-a; portanto, de acordo com a notação estabelecida acima para
inversos aditivos, temos -(-a) = a. com b =f O neste último caso; ainda nesse caso, sempre que não hou-
ver perigo de confusão com a representação fracionária do racional g_b
(ii) Unicidade do inverso multiplicativo: para a E R, a =f O, se b, b' E
R são tais que a. b = 1 e a. b' = 1, então b = b'. A prova deste i
escrevemos a/b ou como sirtônimos de a--;- b.

I '
fato é totalmente análoga à do item anterior (cf. problema 3,
página 10). Doravante, denotaremos o inverso multiplicativo de
a E R, a =f O, por a- 1 , como é usual para os racionais. Problemas - Seção 1.1
(iii) Para a E R, tem-se a . O = O: a fim de verificar essa igualdade, 6 Rigorosamente falando, a validade dessa afirmação deveria ser demonstrada
denote a . O = e. Pela distributividade da multiplicação em como um teorema, o que pode ser feito com o auxílio do princípio de indução finita
relação à adição, temos (cf. capítulo 5). Todavia, a fim de tornar a leitura menos densa, optamos por nos
apoiar na experiência prévia do leitor médio, assumindo tal propriedade sem uma
e = a . O = a· (O+ O) = a · O+ a · O = e+ e. demonstração formal.
O Conjunto dos Números Reais l. 2 A relação de ordem em IR. 11
10

1. * Estabeleça as seguintes propriedades de proporções: se a, b, c (1') Consistência: se a, b E Q e a~ b ern Q, então a~ b ern R


e d são inteiros não nulos, tais que i = ~, então
(2') Reflexividade: a ~ a, para todo a E IR.
a c a±c
b- d- b±d' (3') Antissimetria: se a, b E IR são tais que a > b e b ~ a, então
a= b.
2. * Dada urna sequência qualquer (a 1 , a 2 , a3 , .. •) de algarismos,
prove que o número real 0,a 1 a2 a 3 ... representa a expansão de- (4') Transitividade:. se a, b, c E IR são tais que a ~ b e b ~ c, então
cimal de urn racional se, e só se, a sequência (a1, a2, a3, .. .) for a~ c.
periódica, no sentido de (1.3).
(5') Dicotomia: para todos a, b E IR, tern-se a~ b ou b ~ a.
3. * Prove a unicidade do inverso multiplicativo ern R Mais pre-:
No que segue, se a, b E IR são tais que a ~ b e a -=/=- b, denotamos
cisarnente, prove que se a -=/=- O é urn número real e b, b' E IR são
a > b (lê-se a maior que b). Escrevemos ainda a :s; b (lê-se a menor
tais que a · b = a · b' = 1, então b = b'.
ou igual que b) corno sinônimo de b ~ a, e a < b (lê-se a menor que
4. Prove, a partir dos axiomas para adição e multiplicação de nú- b) corno sinônimo de b > a. Para a E IR, se a > O dizemos que a é
meros reais, que -a = ( -1 )a para todo a E R positivo; se a < O, dizemos que a é negativo.
lrnpornos, ainda, à relação de ordem~ ern IR, os axiomas (6') e (7')
5. Ern cada urn dos itens a seguir, decida se o número ern questão
a seguir, os quais garantem - assim corno ern Q - sua compatibilidade
é racional, assumindo que o padrão sugerido até o aparecimento corn as operações de adição e rnultipiicação ern IR:
das reticências seja seguido a partir de então. Adernais, caso o
número seja racional, escreva-o corno fração irredutível: (6') a> b {=} a - b > O.

(a) 2,324444 .. .. (7') a, b > O =} a + b, ab > O.


(b) 0,12121212 .. .. A proposição a seguir coleciona rnais algumas propriedades úteis
(c) 2,1345454545 .. .. da relação de ordem ern IR, as quais podem ser deduzidas a partir
(d) 0,1234567891011121314 .... dos axiomas (l') a (7') acima. Para o enunciado da rnesrna diremos
1
doravante, que dois números reais não nulos têm um mesmo sinal se'
forem ambos positivos ou ambos negativos.
1.2 A relação de ordem em lR
Proposição 1.2. Sejam a, b, c, d E IR.
Ern IR, postulamos tarnbérn a existência de urna relação de or-
(a) Se a> O, então -a< O, e vice-versa.
dem (i.e., urna maneira de comparar elementos de IR), denotada, por
analogia com a relação correspondente ern Q, ~ (lê-se maior ou igual (b) Se a> O, então { b > O =} ab > O
que) e satisfazendo os axiomas (1') a (5') a seguir: b< O =} ab < O

i i
12 O Conjunto dos Números Reais 1.2 A relação de ordem em JR 13

b>O::::} ab<O em IR estende a relação correspondente em Q).


(e) Se a < O, então { b < 0 ::::} ab > 0
(i) Como a e b têm um mesmo sinal, segue de (b) e (c) que ab > O.
(d) a > b ::::} a + e > b + e.
Assim, ;b
> O pelo item (h) e, de b - a< O, segue de (b) ou (c) que
(e) a > b' e -> d ::::} a + e > b + d.
1 1 b-a 1
- - - = - = (b - a) · - < O.
::::} ac > bc a b ab ab
(!) Se a > b, então {c>Ü
e<0 ::::} ac < bc
Por sua vez, (6') garante que a relação acima equivale a i < t· •
(g) a -1- O::::} a 2 > O.
Os itens (b) e (c) da proposição anterior são coletivamente conhe-
(h) a> O{:} i > O. cidos como as regras de sinal para a multiplicação de números reais.
Para o que segue, dado r E IR, definimos o quadrado de r, deno-
.
(i) Se a e b têm um mesmo smal e a> b, entao
- ª < ti·
1 1
tado r 2 (lê-se também r ao quadrado), como o número real r 2 = r · r,
Prova. Provemos somente alguns dos itens acima; os demáis ficam e o cubo de r, denotado r 3 (lê-se também r ao cubo), como o número
como exercícios (veja o problema 1, página 15). real r 3 = r · r · r. Mais geralmente, para um dado n EN, definimos a
nª (lê-se n-ésima) potência der, denotada rn, como sendo r, caso
(a) Segue do axioma (6') acima: n = 1, ou o número real obtido multiplicando-se r por ele mesmo n
vezes, caso n > 1:
O > -a{:} O- (-a) >O{:} a> O.
rn = r · r · · · · · r.
"--v---'
n
(d) Novamente pelo axioma (6'), temos que
Aqui, cumpre chamar a atenção do leitor para o fato de que a as-
a > b ::::} a - b > O::::} (a + e) - (b + e) > O::::} a + e > b + e. sociatividade 'da multiplicação de números reais, juntamente com o
princípio de indução finita (cf. capítulo 5) permite provar que o re-
(e) Usemos (d) e a transitividade de~:
sultado do segundo membro· da igualdade acima independe da ordem
em que efetuemos as multiplicações, de sorte que o número rn é bem
a > b ::::} a + e > b + e } ::::} a + e > b + d.
c~d::::} b+c~b+d definido. Os números reais r, r 2 , r 3 , ..• são conhecidos coletivamente
como as potências de expoentes naturais do número real r. O pro-
(f) Suponha e> O (o caso e< Oé análogo). Segue de (6') e (7') que blema 14, página 16, lista algumas propriedades operatórias úteis de
tais números reais.
a > b ::::} a - b > O::::} (a - b)e > O::::} ac - bc > O::::} ac > bc.
Uma consequência importante das propriedades da relação de or-
(h) Suponha a > O. Se fosse i
< O, teríamos, pelo it:m (b), que dem em IR elencadas na proposição anterior é aquela constante do
1 = a . .!a < O, o que é um absurdo (uma vez que a relaçao de ordem corolário a seguir.
14 O Conjunto dos Números Reais 1.2 A relação de ordem em lR 15

Corolário 1.3. Sejam r um real positivo e m e n naturais, com m > n. Prova. Pelo item (g) da proposição 1.2, temos a 2 , b2 ;:::: O. Portanto,
Então: segue do item (d) daquela proposição que a 2 + b2 ;:::: O. Suponha,
agora, que a -/=- O. Novamente pelo item (g) da proposição referida
(a) O< r < 1:::::} rm < rn. 2 '
temos a > O. Por outro lado, como b2 2:: O ainda é verdade, o item
'

(b) r > 1:::::} rm > rn. (e) da proposição garante que a 2 + b2 > O. •

Prova.
(a) Como r é positivo, multiplicando por r ambos os membros da
desigualdade r < 1, obtemos r 2 < r. Multiplicando ambos os membros
Problemas - Seção 1.2
dessa última desigualdade novamente por r, segue que r 3 < r 2 e, daí,
r 3 < r 2 < r. Prosseguindo dessa maneira, chegamos ao resultado l. * Prove os itens (b), (c) e (g) da proposição 1.2.
desejado, i.e.,
.. · < r 4 < r 3 < r 2 < r. 1 1 + 4-5
2. Prove que 2-3 1 1 + ···-99+100>5·
1 1 1
(b) A demonstração é essencialmente a mesma que aquela do ítem (a), 3. Para a e breais positivos tais que a < b, compare (i.e., decida
com a diferença de que, inicialmente, temos r > 1. • qual é o maior dentre) os números a+l
b+l e a+2
b+2.
Mostremos, no exemplo a seguir, como comparar certos números
4. (Torneio das Cidades.) São dados dez números reais tais que a
reais com o auxílio do corolário anterior.
soma de quaisquer quatro deles é positiva. Mostre que a soma
Exemplo 1.4. A fim de comparar os números 2100 + 310º e 410º, por dos dez números é positiva.
exemplo, basta ver que
5. Decida qual dentre os números 31 11 e 1714 é o maior.
2100 + 3100 < 3100 + 3100 = 2 . 3100
2 . 33 . 397 = 54 . 397 6. * Sejam dados n E N e a, b reais positivos quaisquer. Prove que:
< 64. 497 = 43. 497 = 4100_ (a) a < b se, e só se, a 2 < b2 .

Relações de desigualdade entre números reais serão estudadas em (b) a < b se, e só se, an < bn.
detalhe no capítulo 7; nessa ocasião, o corolário a seguir - em que pese (c) an + bn < (a + b r.
sua simplicidade :-- desempenhará um papel de grande importância.
7. (Hungria - adaptado.) Sejam a, b e e os comprimentos dos lados
Corolário 1.5. Para a, b E ~' tem-se de um triângulo retângulo, sendo e > a, b. Quem é maior: a3 +b3

ti
'I
ª2 + b2 >
-
o' (1.4) ou c3 ? Justifique sua resposta.

il1, ocorrendo a igualdade se, e só se, a= b = O. 8. Mostre que, para todo n EN, temos 12n + 22n + 32n ;:::: 2. 7n_
1'
11

l'[:iiii.l 1
O Conjunto dos Números Reais 1.3 A completude do conjunto dos reais 17
16

g. * Encontre todos os naturais a, b e e tais que a :s; b :s; e e i + t+ i 15. * Parar real não nulo e n natural, estendemos a noção de po-
tências de expoentes naturais ·definindo r-n = r~ . Por exemplo,
seja inteiro.
r- 1 = ~' r- 2 = r\, etc. Definindo também r 0 = 1, prove que,
10. (IMO.) Explique como escrever o número 100 como soma de para todos m, n EN, tem-se r = rm-n_ r:
parcelas naturais cujo produto seja o maior possível.
16. Se a e b são inteiros tais que os únicos fatores primos de b são 2
11. (Rússia.) Os números 2n e 5n têm representações decimais co- ou 5, prove que a expansão decimal de é finita. i
meçando, à esquerda, por um mesmo algarismo. Prove que tal 17. * Se x # O é um número real e n E N, prove que xn é positivo
algarismo deve ser igual a 3. se n for par, e xn tem o mesmo sinal de x se n for ímpar.

12. (Rússia.) Sejam a, b, e e d reais positivos dados. Prove que,.


dentre as desigualdades 1.3 A completude do conjunto dos reais
a+b < c+d, (a+b)(c+d) < ab+cd e (a+b)cd < ab.(c+d), Postulamos, por fim, que a toda lista (a 1, a2, a3 , .. . ) de algarismos
corresponda um único elemento x E ~' no seguinte sentido: fixado um
ao menos uma é falsa. ' •
erro max1mo 1
rnn , n E 1~T'l, t emos

13. * Generalize o corolário 1.5, mostrando que, se a, b, e E ~' então O<x- ª1 ª2


( -+-+···+-ªk ) < 1-
- 10 102 lQk - 10n '

ª2 + b2 + c2 ::=::: O' para todo natural k ::=::: n. Em particular, segue da condição acima que

ocorrendo a igualdade se, e só se, a = b = e = O. a1 a2 ak 1


X :s; 10 + 102 + ... + lQk + 10n '
14. * Dados r, s E~ em, n EN, prove que 7 : para todo k ::=::: n. Tomando k = n e lembrando que ai :s; 9 para todo
j, obtemos
(a) (rs)n = rnsn.
(b) rm+n = rmrn.
(c) (rmr = rmn.

(d) (~r = :: ' se s # o.


7Rigorosamente, para provar as propriedades dos itens (a) a (d) _temos_ de re~
correr ao princípio de indução finita (cf. capítulo 5). Todavia, nossa mtençao aqm
é simplesmente que o leitor, utilizando argumentos heurísticos como os apontados
... = 1,
na sugestão ao problema, se convença da validade de tais propriedades.
18 O Conjunto dos Números Reais 1.3 A completude do conjunto dos reais 19

de sorte que O :::;; x :::;; 1. Os casos n = 2 e n = 3 ocorrem com tanta frequência que merecem
Resumimos o postulado acima dizendo que o conjunto lR dos nú- nomes especiais. Quando n = 2 (ex > O), escrevemos simplesmente
meros reais é completo. A esse respeito, veja também a discussão da Jx, em vez de ~ ' e dizemos que Jx é a raiz quadrada de x; quando
seção 1.5 e o problema 6 da seção 3.2 do volume 3. n = 3, dizemos que ,.yx é a raiz cúbica de x.
Reciprocamente, postulamos também que a todo número real posi- Intuitivamente, podemos entender porque existem raízes de núme-
tivo x corresponda um inteiro (não negativo) me uma lista (a 1 , a 2 , a 3 , ros reais ~ositivos examinando um exemplo simples. Por definição,
... ) de algarismos, tal que x = m + O,a 1 a 2 a 3 ... no sentido acima. Se temos v'2 = 2. Assim, como 12 < 2 < 22 , segue do problema 6,
m > O em= bn ... b1 b0 , com os b/s sendo seus algarismos, escrevemos página 15, que 1 < v'2 < 2; como 1,42 < 2 < 1,5 2 , segue nova-
mente do referido problema que 1,4 < v'2 < 1,5; analogamente, como
1,41 2 < 2 < 1,42 2 , temos que 1,41 < v'2 < 1,42 e, prosseguindo dessa
e dizemos que bn ... b1 b0 ,a 1 a 2 a3 .•• é a representação decimal de x. maneira, obtemos uma única lista (4, 1, 4, ... ) de algarismos, tal que
Conforme vimos no problema 2 da página 10, um número real é v'2 = 1,414 ... (veja também o problema 20, página 138).
racional exatamente quando sua representação decimal for finita ou in- Denominamos radiciação à operação de obtenção de raízes de um
finita e periódica. Por outro lado, números reais que não são racionais real positivo. Sugerimos ao leitor, neste momento, pelo menos ler
são denominados irracionais. Desse modo, os números irracionais são os enunciados dos problemas 1 e 2 da página 21, para uma extensão
aqueles números reais que não podem ser escritos como quocientes de parcial da operação de radiciação a reais negativos, assim como para ·
dois números inteiros ou, ainda, aqueles cuja representação decimal é as principais propriedades de tal operação.
infinita e aperiódica. Voltemo-nos, agora, a potências de números naturais. Um qua-
Até o presente momento, o único exemplo de número irracional que drado perfeito é um número natural que pode ser escrito na forma
conhecemos é o número 0,0101101110 ... (cf. exemplo 1.1). De certa m 2 , para algum m EN; assim, os quadrados perfeitos são os números
forma, tal exemplo é um tanto frustrante, uma vez que tal número 12 = 1, 22 = 4, 32 = 9, 42 = 16, etc. Um cubo perfeito é um
irracional é difícil de ser manipulado (i.e., é difícil fazer contas com natural que pode ser escrito na forma m 3 , para algum m EN; os cu-
ele). Remediamos um pouco esta situação no que segue. bos perfeitos são os números 13 = 1, 23 = 4, 33 = 27, 43 = 64, etc.
Do ponto de vista aritmético, uma grande vantagem do conjunto Mais geralmente, um natural n é uma potência perfeita se existirem
dos números reais, em comparação com o conjunto dos racionais, é a k > 1 inteiro em E N tais que n = mk. Nesse caso, dizemos que n
possibilidade de extrairmos raízes de números reais positivos. Mais é uma k-ésima potência perfeita, i.e. um dos naturais 1k 2k 3k
precisamente, dados x > O real e n E N, é possível provar que existe 4k, etc. Equivalentemente, dizer que n E ' N é uma k-ésima potência
' ' '
um único real positivo y tal que yn = x. Tal real positivo y será, perfeita é o mesmo que dizer que sua raiz k-ésima, {ln, é um número
doravante, denotado y = y'x e denominado a raiz n-ésima (lê-se natural.
enésima) de x ou, ainda, a raiz de índice n de x. Assim, O resultado a seguir, que assumiremos por ora sem demonstração,
fornece inúmeros exemplos de números irracionais. Para uma prova
do mesmo, referimos o leitor ao exemplo 1.23 do volume 5.
20 O Conjunto dos Números Reais
r
iit
f 1.3 A completude do conjunto dos reais 21

racional. Por outro lado, fazendo r = ./2 temos r · r = r 2 = 2, também


Proposição 1.6. Dados números naturais n e k, com k > 1, ou n é
racional. Finalmente, se r -=/=- O, então o quociente de r por si mesmo é
uma k-ésima potência perfeita ou {ln é um número irracional.
igual a 1, novamente um número racional.
De acordo com a proposição acima, números como ./2, v'3, m,
etc são todos irracionais (posto que 2 não é um quadrado perfeito, 3
não é um cubo perfeito e 10 não é uma quinta potência perfeita). Problemas - Seção 1.3
Podemos agora, pelo menos formalmente (i.e., sem nos preocupar-
1. * Dados x < O real e n EN ímpar, seja y = -ef=x. Prove que
mos com valores aproximados), operar com vários números irracionais.
yn = x (o real y é também denominado a raiz n-ésima de x).
Vejamos um exemplo nesse sentido, onde nos valemos - de maneira
indireta - da proposição acima para explicar o porquê de um certo 2. * Dados m, n E N e x, y > O, prove que:
número real ser irracional.
(a) y1xy = yX v'Y·
Exemplo 1. 7. O número ./2 + v'3 é irracional. De fato, denotando (b) mvx= ~·
r = ./2 + v'3, há duas possibilidades: r E Q ou r (/. Q. S1J.ponha, (c) n fi. = '?'x.
por contradição, que r fosse racional. Então, uma vez que o conjunto Vy o/Y
dos números racionais é fechado para a operação de multiplicação, Estenda as propriedades acima a todos os x, y reais não nulos,.
teríamos r 2 E Q. Por outro lado, a distributividade da multiplicação caso m e n sejam naturais ímpares.
em relação à adição nos dá
3. * Sejam a e b números racionais e r um número irracional. Se
r2 (v'2 + v'3)( v'2 + v'3) a+ br = O, prove que a= b = O.

v'2( v'2 + v'3) + v'3( v'2 + v'3) 4. Sejam a, b, e e d números racionais e r um número irracional.
(2 + V6) + (V6 + 3) Se a + br = e + dr, prove que a = e e b = d.
5+2V6 5. Seja r um real positivo e k um inteiro maior que 1. Se r for
irracional, prove que os números ; e {Ir também são irracionais.
1
e, daí, y'6 = r 2;- 5 . Portanto, y'6 seria o quociente dos números ra-
'1
cionais r 2 - 5 e 2, de maneira que V6 seria ele mesmo um racional, o 6. (Canadá.) Sejam a, b e e números racionais, tais que a+ b./2 +
i
que é um absurdo pela proposição 1.6. Logo, a única possibilidade é cv'3 = O. Prove que a, b e e são todos nulos.
r ~ Q.
7. * Assumindo a validade do teorema fundamental da aritmética
Para terminar nossa discussão sobre números racionais e irracio- (cf. último parágrafo da página 3), prove que ./2 é irracional.
nais, note que o conjunto dos números irracionais não é fechado em 8. Seja, p E N um número primo e k > 1 um natural. Prove que o
relação às operações aritméticas. De fato, dado r irracional, temos número {IP é irracional.
que -r também é irracional, muito embora r + (-r) = O, um número

li'
22 O Conjunto dos Números Reais 1.4 A representação geométrica 23

1.4 A representação geométrica C B

Uma maneira bastante útil de pensar geometricamente no conjunto


dos números racionais é a seguinte: escolhemos uma reta r e marcamos
sobre ela um ponto O; em seguida, escolhemos uma das semirretas
O
V1\ A E r

que O determina sobre r, a qual chamamos positiva, sendo a outra a Figura 1.2: um ponto que não representa racional algum.
semirreta negativa, e um segmento f como padrão de comprimento.
Agora, associamos cada número racional a um ponto de r do seguinte
modo: primeiro, associamos O ao ponto O; em seguida (cf. figura 1.1), compasso, um ponto E sobre a semirreta positiva, tal que OE= OB.
dado um racional %, com a, b E N, marcamos, a partir de O e sobre Como OA = 1, segue do teorema de Pitágoras 8 que OE= OB = y'2.
a semirreta positiva, um segmento OA de comprimento af (i.e., OA Mas, como v'2 é irracional (cf. proposição 1.6 ou problema 7, página
é obtido justapondo-se, consecutivamente, a segmentos-padrão). Se 21), segue que E não está associado a nenhum número racional.
b = 1, associamos I = a ao ponto A. Se b > 1, particionamos OA Duas perguntas naturais colocam-se neste ponto: é possível marcar
em b segmentos iguais, marcando b - 1 pontos sobre OA; sendo B sobre r todos os números reais? Supondo que a resposta à pergunta
o ponto da partição mais próximo de O, associàmos % ao ponto B. anterior seja sim, após marcarmos todos os pontos de IR;. sobre r ainda
Não é difícíl mostrar que a construção descrita acima é consistente, no sobram em r pontos não marcados? Um dos axiomas da construção
sentido de que, trocando %por outra fração equivalente, obtemos um da Geometria Euclidiana plana9 , enunciado a seguir, garante que as
mesmo ponto B sobre r (a esse respeito, veja o problema 1, página 26). respostas a tais perguntas são respectivamente sim e não.
Uma construção análoga pode ser feita para os racionais negativos, Axioma 1.8. Existe uma correspondência biunívoca entre os pontos
de uma reta r e o conjunto dos números reais, a qual fica totalmente
9!.f
b
1--1
determinada pelas seguintes escolhas:
a
(a) Um ponto O sobre r para representar o número real O.
O B A r
(b) Uma semirreta, dentre as que O determina sobre r, onde são
Figura 1.1: racionais sobre a reta. marcados os reais positivos.
8 Recordamos que o teorema de Pitágoras, um dos mais celebrados teoremas da
Geometria Euclidiana plana, afirma que, em todo triângulo retângulo, o quadrado
marcados sobre a semirreta negativa. do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos
Ocorre que, ao assim fazermos, sobram muitos pontos sobre r, os catetos. Nestas notas, daremos duas provas do teorema de Pitágoras, a primeira
na proposição 4.9 e a segunda no exemplo 5.7 do volume 2. Uma terceira prova
quais não estão associados a nenhum número racional. Para exem-
elegante do mesmo pode ser encontrada em [8].
plificar, considere o ponto A associado ao número 1 e construa um 9 Para uma construção axiomática da Geometria Euclidiana plana, referimos o

quadrado OABC, como na figura 1.2. Em seguida, marque, com um leitor a [8].
24 O Conjunto dos Números Reais 1.4 A representação geométrica 25

(iv) (a,b) = {x E lR.; a< x < b}.

(v) [a,+oo) = {x E lR.; a::; x}.

(vi) (a, +oo) = { x E JR.; a < x}.

(vii) (-oo,a] = {x E JR.; x::; a}.


Figura 1.3: Pitágoras de Sarnas foi um dos maiores
(viii) (-oo, a)= {x E lR.; x < a}.
matemáticos da escola grega. O teorema que leva seu
nome, e que afirma que, em todo triângulo retângulo, Um intervalo em lR. é o próprio conjunto lR. ou um conjunto de um
o quadrado do comprimento do maior lado é igual dos sete tipos acima. Observe que, na reta numerada, um intervalo
à soma dos quadrados dos comprimentos dos outros corresponde a um segmento ou semirreta (contendo ou não pelo menos
dois lados, já era conhecido dos babilônios pelo menos uma das extremidades correspondentes), ou mesmo à reta inteira.
mil anos antes de seu nascimento; no entanto, Pitá-
goras foi o primeiro a conseguir prová-lo. É também Observações 1.10.
atribuída a Pitágoras a primeira prova da·irraciona-
1. É importante frisar que os símbolos +oo e -oo (lê-se, respectiva-
lidade de v'2.
mente, mais infinito e menos infinito) não representam números ·
reais. Tais símbolos servem meramente para significar que um
(e) Um ponto A sobre a semirreta do item (b), ao qual corresponderá intervalo de um dos tipos (v), (vi), (vii) ou (viii) acima engloba
o número real 1. todos os números reais maiores ou iguais (resp. maiores) ou
menores ou iguais (resp. menores) que a.
Se fixarmos sobre uma reta r escolhas como as especificadas pelo
axioma acima, diremos quer é a reta numerada (cf. figura 1.4). ii. Consoante a definição acima, denotaremos lR. = (-oo, +oo ).
Para uso posterior, estabelecemos a definição a seguir.
Dados números reais a < b, dizemos que a e b são as extremidades
Definição 1.9. Para reais dados a< b, definimos 10 : e que b - a é o comprimento de cada um dos intervalos dos itens
(i) a (iv) da definição acima. Nesse caso, dizemos também que tais
(i) [a,b] = {x E lR.; a::; x::; b}.
intervalos têm comprimento finito. Analogamente, o número real a é
(ii) [a,b) = {x E lR.; a::; x < b}. a (única) extremidade de cada um dos intervalos dos itens (v) a (viii),
os quais têm comprimento infinito (i.e., não finito). Um intervalo em
(iii) (a, b] = {x E lR.; a< x::; b}. lR. é finito ou limitado se tiver comprimento finito; caso contrário, o
10 Chamamos a atenção do leitor para as notações menos comuns [a, b[ em vez intervalo é dito infinito ou ilimitado. Em particular, os intervalos
de [a,b), ]a,b] no lugar de ]a,b], ]a,b[ em vez de (a,b), [a,+oo[ em vez de [a,+oo) limitados de lR. são precisamente aqueles dos itens (i) a (iv) da definição
e] - oo, a[ no lugar de (-oo, a).
acima.
O Conjunto dos Números Reais 1.5 Supremo e ínfimo 27
26
1

Também, classificamos um intervalo finito, de extremidades a < b, Um subconjunto não vazio X e lR. é limitado superiormente se
respectivamente como fechado, fechado à esquerda, fechado à existir um número real M tal que
direita ou aberto quando tal intervalo for respectivamente igual a X e (-oo,M].
[a, b], [a, b), (a, b] ou (a, b) (note a correspondência das nomenclaturas
utilizadas com o fato do intervalo conter ou não conter as extremidades Nesse caso, dizemos que M é uma cota superior para X. Analo-
a ou b). Alternativamente, dizemos que [a, b) é aberto à direita e gamente, X e lR. não vazio é limitado inferiormente se existir um
(a, b] é aberto à esquerda. Por fim, aplicamos extensões óbvias número real m tal que
dessas nomenclaturas aos intervalos infinitos. A figura 1.4 mostra X e [m,+oo),
um intervalo aberto à direita [a, b), marcado em negrito sobre a reta e, sendo esse o caso, dizemos que m é uma cota inferior para X. Por
numerada. fim, X e lR. não vazio é limitado se X for simultaneamente limitado
superior e inferiormente.
o a b Dito de outra forma, um conjunto não vazio X e lR. é limitado
superiormente (resp. limitado inferiormente, limitado) se existir um
Figura 1.4: o intervalo aberto à direita [a, b). real positivo a tal que

x::::; a (resp. x ~ a, -a::::; x::::; a), Vx E X.


A seção a seguir pode ser omitida numa primeira leitura. Seu
conteúdo só será necessário a partir da seção 4.1 do volume 2. A propriedade a seguir, em que pese sua aparente obviedade, é
um axioma na construção dos números reais, conhecido como a pro-
priedade Arquimediana dos números naturais, em homenagem ao
matemático grego Arquimedes de Siracusa. Para algumas consequên-
Problemas - Seção 1.4
cias importantes da mesma, veja os problemas 1, 2 e 3, à página 32.
1. * Em relação à interpretação geométrica dos números racionais,
discutida na seção 1.4, sejam dadas frações positivas %e ~' com
Axioma 1.11. O conjunto N dos naturais é ilimitado (i.e., não limi-
a, b, e, d E N. Se %= ~' explique porque a construção dada no
tado) superiormente.
1
! texto associa a tais frações um mesmo ponto da reta numerada.
Vejamos alguns exemplos de conjuntos limitados superior e inferi-
ormente.
1.5 Supremo e ínfimo
Exemplos 1.12.
Finalizamos este capítulo examinando a completude de lR. a partir
. t o X = {1 , 21 , 31 , 41 ,... } e, 1·1m1ºt a do superior
(a ) O conJun . e m1enor-
. e .
de outro ponto de vista, para o qual precisamos de alguns conceitos
mente.
preliminares.
28 O Conjunto dos Números Reais í
'll!!\
i
1.5 supremo em
, fi mo 29
~
f;
junto não vazio e limitado superiormente X e IR possuir cota superior,
não podemos tomar cotas superiores arbitrariamente pequenas para
X. Por outro lado, a completude de IR, conforme postulada na se-
ção 1.3, permite provar a seguinte resultado.

Proposição 1.14. Se X e ffi. é não vazio e limitado superiormente,


Figura 1.5: Arquimedes de Siracusa, que viveu no então existe uma menor cota superior para X.
século III a.C., foi o maior matemático de seu tempo.
Dentre suas muitas contribuições à Matemática, res- Reciprocamente, se assumíssemos a validade da proposição 1.14
saltamos que suas ideias sobre o cálculo da área sob como um axioma, o postulado no início da seção 1.3 (que afirma que
um segmento parabólico anteciparam, em 2000 anos,
toda sequência de algarismos define algum real) se tornaria uma pro-
o desenvolvimento, por Newton e Leibniz, do Cálculo
posição, a qual poderíamos provar.
Integral.
De outro modo, a escolha entre impor que ffi. é completo no sentido
da seção 1.3 ou da proposição acima é irrelevante, posto que, como fri-
(b) Intervalos limitados são conjuntos limitados no sentido da dis- samos acima, tais noções de completude são logicamente equivalentes . .
Assim, doravante podemos pensar na completude de ffi. de uma qual-
cussão acima.
quer das maneiras acima descritas, conforme seja mais conveniente em
Exemplo 1.13. Se X e ffi. é limitado superiormente, então o subcon- uma ou outra situação.
junto Y de ffi. dado por Y = {-x; x E X} é limitado inferiormente,
e reciprocamente. De fato, um número real a é cota superior para X Exemplos 1.15.
se, e só se, -a é cota inferior para Y.
(a) Ja, sabemos que o conJunto
· X {1 , 21 , 31 , 41 ,... } e, 1·1m1"t a do su-
=
Fixe X e ffi. não vazio e limitado superiormente. Se M E ffi. é periormente, tendo 1 como cota superior. Por outro lado, como
uma cota superior para X, então X e (-oo, M]. No entanto, pode 1 E X, nenhum número real menor que 1 pode ser cota superior
1
ocorrer que exista M' < M que ainda seja uma cota superior para de X e, daí, 1 é a menor cota superior de X.
1 X, i.e., tal que X e (-oo, M']. De fato, a condição X e (-oo, M]
não garante que, para M' < M, tenhamos X n (M', M] -=/=- 0; se (b) Se X= (1, 2), então 2 é cota superior de X, mas nenhum número
ocorrer que X n (M', M] = 0, então teremos X e (-oo, M'] e M' real menor que 2 o é. De fato, se 1 <a< 2, então o número 1!ª
será uma cota superior para X menor que M. Por outro lado, se ainda é maior que 1 e menor que 2, de maneira que 1 E X. !ª
x E X, então nenhum real M' < x é cota superior para X, uma vez M as como a< l+a E X o número a não pode ser cota superior
' 2 '
que x E X\ (-oo, M'], i.e., X <t. (-oo, M']. de X. Então, segue que 2 é a menor cota superior de X, e veja
A discussão do parágrafo anterior garante que, apesar de todo con- que 2 (j_ X.
30 O Conjunto dos Números Reais 1.5 Supremo e ínfimo 31

Se 0 -=/=- X e lR é limitado superiormente e M é a menor cota Prova. Fixe y E Y qualquer. Como x ::; y, para todo x E X, temos
superior de X, dizemos que M é o supremo de X, e denotamos X e (-oo, y], i.e., y é uma cota superior para X. Portanto, X é
limitado superiormente e, sendo M = sup X (a menor cota superior
M =supX. de X), temos M::; y.
Observe agora que, como escolhemos y E Y arbitrariamente, o
Por outro lado, se 0 -=/=- Y e lR é limitado inferiormente, pode-se provar, argumento do parágrafo anterior mostra que, para todo y E Y, temos
como consequência da proposição 1.14 (cf. problema 6, página 34), M::; y. Portanto, Y e [M, +oo), i.e., M é uma cota inferior para Y.
que Y admite uma maior cota inferior m, também denominada o
Logo, Y é limitado inferiormente e, sendo m = inf Y (a maior cota
ínfimo de X. Denotamos, nesse caso,
inferior de Y), temos M ::; m. •
m = inf X. Nosso próximo resultado fornece uma condição suficiente para a
ocorrência da igualdade na proposição anterior.
Para uso futuro, colecionamos nos resultados a seguir algumas pro-
priedades úteis das noções de supremo e ínfimo. Proposição 1.18. Sejam X, Y e lR conjuntos não vazios, sendo X
limitado superiormente, Y limitado inferiormente e sup X ::; inf Y.
Proposição 1.16. Seja X e lR um conjunto não vazio e limitado Se, para todo n E N, existirem Xn E X e Yn E Y tais que Yn - Xn < ~,
superiormente, com M = sup X. Se n E N, então existe x E X tal então sup X = inf Y.
que
1 Prova. Sejam M = sup X, m = inf Y e suponha que fosse M < m.
M-- <x::; M. Como x ::; M < m ::; y, para todos x E X e y E Y, teríamos
n
Prova. Como M é a menor cota superior de X e M - ~ < M, o y-x~m-M,
número M - .ln não é uma cota superior de .X. Portanto, existe x E X
para todos x E X, y E Y. Mas, se escolhêssemos um natural n > m~M
tal que x > M - ~. Mas, como X e (-oo, M], devemos ter x ::;
(o que é possível, pelo axioma 1.11), nossas hipóteses garantiriam a
M. • existência de números reais Xn E X e Yn E Y tais que
O problema 7, página 34, traz um resultado análogo ao acima para 1
Yn - Xn < - < m - M,
ínfimos de conjuntos limitados inferiormente. n
o que nos dá uma contradição! Por fim, como a suposição de que
Proposição 1.17. Sejam X, Y e lR conjuntos não vazios. Se x ::; y
sup X < inf Y nos leva a uma conclusão contraditória, a única possi-
para todos x E X e y E Y, então X é limitado superiormente, Y é
bilidade é que seja sup X= inf Y. •
limitado inferiormente e
Uma última observação: comentamos anteriormente que, fixados
supX::; inf Y. x > O real e n > 1 natural, é possível provar a existência de um
1.5 Supremo e ínfimo 33
32 O Conjunto dos Números Reais

único real positivo y tal que yn x, e denotamos y = efx. Pois


(a) Se a E lR. é tal que OS a< i para todo n EN, então a= O.
bem: a noção de supremo e ínfimo é o que nos faltava para provar tal (b) Se a, b, e E JR., com a > O, então existe n E N tal que
existência. De fato, se definirmos an +b > e.

X = {a E lR.; a 2: O e an < x }, 2. * Sejam a e b racionais dados, com a < b. Prove que:

então X é não vazio (pois O E X) e limitado superiormente (pois, como (a) a< ª!b < b e a< a+ b;; < b.
x+ 1 > 1, O item (b) do corolário 1.3 garante que (x+ lr
> x+ 1 > X
(b) O intervalo (a, b) contém infinitos números racionais e infi-
e, daí, x+ 1 ~ X; analogamente, todo real maior que x+ 1 não pertence
nitos números irracionais.
a X, de maneira que X e (-oo, x + 1)).
Sendo não vazio e limitado superiormente, X tem supremo, di- 3. * O objetivo deste problema é generalizar o resultado do pro-
gamos y, e é possível mostrar (embora os detalhes sejam um tanto blema anterior, mostrando que entre dois números reais quais-
quanto envolventes) que yn = x. A ideia geral é a seguinte: quer sempre há um número racional e um número irracional (por
• Se yn < x, então somos capazes de obter um real positivo z tal causa dessa propriedade, dizemos que Q e lR. \ Q são densos em
que yn < zn < x. Mas tais desigualdades nos dão (cf. pro- JR.). Para tanto, sejam dados números reais a e b, com a < b, e
faça os seguintes itens:
blema 6, página 15) y < z E X, contradizendo o fato de que y é
uma cota superior de X.
(a) Mostre que basta considerar o caso a 2: O.
• Se yn > x, então somos capazes de obter um real positivo z (b) Prove que existe n E N tal que O < i < b - a e O< v,! <
tal que x < zn < yn. Agora, sendo a E X qualquer, segue de b-a.
an < x < zn < yn que (novamente pelo problema 6, página 15)
(c) Sendo a 2: Oe n E N escolhido como em (b), mostre que um
a < z < y e, daí, z é uma cota superior de X menor que y. Mas
isso contradiz o fato de que y é a menor cota superior de X.
dos números i, ~, ! ,...
e um dos números 2 3 v,!, '/!, '/!, ...
pertencem ao intervalo (a, b).
• Não pod~ndo ser yn < x nem yn > x, a única possibilidade é
que seja yn = x. 4. * Um número racional r E [O, 1] é dito diádico se existirem
k, n E Z tais que Os n s 2k e r = ; . Prove que o conjunto dos
racionais diádicos é denso em [O, l].

5. Sejam X= {x E (Ql; O< x < 1} e Y = {y E lR. \ (Ql; O< y < l}.


Problemas - Seção 1.5
Prove que
1. * Use a propriedade Arquimediana do conjunto dos naturais para inf X = inf Y = O e sup X = sup Y = 1.
provar os seguintes itens:
1

'I'.!''
1

34 O Conjunto dos Números Reais

6. * Se Y e ~
é não vazio e limitado inferiormente, prove que existe
uma maior cota inferior para Y.

7. * Seja Y e ~um conjunto não vazio e limitado inferiormente,


com m = inf Y. Se n E N, prove que existe y E Y tal que
1
m~y <m+-. CAPÍTULO 2
n

Produtos Notáveis e Equações

O restante deste volume tem um duplo propósito. Por um lado,


desenvolve e exercita a aplicação de várias ferramentas necessárias a
uma apresentação adequada dos conteúdos dos volumes posteriores;
por outro, apresenta ao leitor várias ideias e resultados que, em que
pese seus caracteres elementares, configuram-se de suma importân-
cia em si mesmos, na medida em que admitem larga aplicabilidade e
familiarizam o leitor com aspectos mais profundos da aritmética do
conjunto dos números reais.
Começamos estudando, neste capítulo, algumas identidades algé-
bricas (também conhecidas como produtos notáveis) e equações rele-
vantes.

35
Ili
I'
36 Produtos Notáveis e Equações 2.1 Identidades algébricas 37
1
1

2.1 Identidades algébricas i (lembre que, em axkyl, podemos ter k = O ou l = O).

Para o restante destas notas, denominamos variáveis números re- ·~


t Uma expressão polinomial ou polinômio é (uma expressão que
é) uma soma finita de monômios, como por exemplo
ais fixados mas arbitrários. Variáveis serão em geral denotadas por f
letras latinas minúsculas, como por exemplo a, b, e, x, y, z, etc (uma 2 + 3xy - V5x 2yz.
exceção importante é mencionada no próximo parágrafo). Os coeficientes de um polinômio são os coeficientes de seus monô-
Uma expressão algébrica, ou simplesmente uma expressão, é um
número real formado a partir de uma quantidade finita de variáveis t
1 mios.
Sejam E e F expressões algébricas. Dizemos que a igualdade
reais, possivelmente com o auxílio de uma ou mais dentre as operações ,,
de adição, subtração, multiplicação, divisão, potenciação e radiciação
i E = F é uma identidade algébrica se for verdadeira para todos

(sempre que os resultados tiverem sentido em IR.), as quais denomina- í os valores reais possíveis das variáveis envolvidas. Para exemplificar,
consideremos a expressão algébrica E= (x + y) 2 . Pelas propriedades
mos operações algébricas. Assim, por exemplo, básicas das operações de adição e multiplicação de números reais (i.e.,

_x_+_..jy:.__y_-_x_2_z + 3 {! x2y z3 - .x4 1 comutatividade e associatividade da adição e multiplicação, distribu-


tividade da multiplicação em relação à adição) temos
yz

é uma expressão algébrica que tem sentido para todos os reais x, y, z 1


!
E (x+y)(x+y)=x(x+y)+y(x+y)
(x 2 + xy) + (yx + y 2)
tais que y > O e z # O (lembre que o problema 1, página 21, garante
que podemos extrair raízes de índice ímpar de todo número real). Em x2 + 2xy + Y2,
particular, toda variável pode ser vista como uma expressão algébrica.
Denotaremos expressões algébricas em geral por meio de letras latinas para todas as variáveis reais x e y. Portanto, pondo F = x 2+ 2xy + y2
obtemos a identidade algébrica E= F, i.e.,
maiúsculas, por exemplo E, F, etc.
Dizemos que uma expressão algébrica E é um monômio se E for (x + y)2 = x2 + 2xy + Y2, (2.1)
um produto um número real não-nulo dado por potências de expoentes
inteiros não-negativos de suas variáveis. Por exemplo, os monômios à qual nos referiremos doravante como a fórmula para o quadrado da
em x, y são as expressões da forma axkyl, onde a# O é um real dado soma de dois números reais.
e k, l 2:: O são números inteiros (convencionamos aqui que xk = 1 caso A proposição a seguir coleciona algumas identidades algébricas im-
k = O, adotando convenção análoga quanto a yl - veja o problema 15, portantes, as quais devem ser guardadas para uso futuro.
página 17). Para um monômio qualquer, o real não-nulo dado que
Proposição 2.1. Para todos os x, y, z E IR., temos:
faz o papel de a em axkyl é o coeficiente do monômio. Assim, os
monômios em x, y com coeficiente 2 são aqueles da forma (a) x 2 - y 2 = ( x - y) (x + y).
(b) (x ± y) 2 = x 2 ± 2xy + y 2.
38 Produtos Notáveis e Equações 2.1 Identidades algébricas 39

(e) x 3 ± y 3 = (x ± y)(x 2 =f xy + y 2 ). polinômio e F é um produto de (pelo menos dois) polinômios é usual-


mente denominada uma fatoração. As identidades dos itens (a) e (c)
(d) (x ± y) 3 = x3 ± y 3 ± 3xy(x ± y). da proposição acima são exemplos de fatorações. Doravante, utilizare-
mos as nomenclaturas alternativas acima para identidades envolvendo
(e) (x + y + z) 2 = x2 + y2 + z2 + 2xy + 2xz + 2yz.
polinômios sem maiores comentários.
Prova. Deixamos as provas dos itens (a), (b) e (c) como exercícios,
Os exemplos a seguir nos dão uma ideia de como utilizar as vários
observando que a identidade do item (b), com o sinal +, foi estabe-
identidades acima na solução de muitos problemas interessantes.
lecido em (2.1) (veja o problema 1, página 43). Provemos em (d)
a identidade para (x + y)3, sendo aquela para (x - y) 3 totalmente Exemplo 2.3. Sejam x, y, z reais não todos nulos, tais que x+y+z =
análoga: utilizando a distributividade da multiplicação em relação à O. Explique porque xy + xz + yz =/:- O e calcule em seguida os possíveis
adição e a identidade (2.1), obtemos valores da expressão
x2 + y2 + z2
(x + y)3 (x + y)(x + y) 2 = x(x + y) 2 + y(x + y) 2 xy + yz+ zx
x(x 2 + 2xy + y2) + y(x 2 + 2xy + y2)
Solução. Elevando ambos os membros da igualdade x + y + z = O
(x 3 + 2x 2y + xy 2 ) + (x 2 y + 2xy 2 + y 3 ) ao quadrado, segue do item (e) da proposição 2.1 que x2 + y2 + z2 +
x 3 + y 3 + 3x2 y + 3xy 2 2(xy+xz+yz) =O.Se xy+xz+yz = O, teríamos x2+y 2+z2 = O, e
x 3 + y 3 + 3xy(x + y). uma simples extensão do corolário 1.5 (cf. problema 13, página 16) nos
daria x = O, y = O e z = O, uma contradição. Portanto, xy+xz+yz =1-
Para (e), apliquemos (b) com x+y no lugar de x e z no lugar de y: 0, e segue de x2 + y2 + z2 = -2(xy + xz + yz) que

(x + y + z) 2 = [(x + y) + z] 2 x2 + y2 + z2
= (x + y) 2 + 2(x + y)z + z2
. 2
-----=-2.
xy+yz+ zx •
= (x 2 + 2xy + y2) + 2(xz + yz) it z O exemplo a seguir mostra como usar as identidades que conhece-
= x2 + y2 + z2 + 2xy + 2xz + 2yz.
• mos até agora para provar desigualdades 1 .

Observação 2.2. Alternativamente, é costume denominarmos pro- Exemplo 2.4 (Polônia). Se a e b são reais positivos dados, prove que
duto notável a uma identidade E = F tal que E é um produto de 4(a3 + b3 ) ~ (a+ b)3.
(pelo menos dois) polinômios e F a soma dos monômios resultantes
Prova. Desenvolvendo o segundo membro com o auxílio da identi-
da expansão desse produto. Assim, frequentemente nos referiremos às
dade do item (d) da proposição 2.1, é imediato que a desigualdade do
identidades dos itens (b), (d) e (e) da proposição acima como produ-
tos notáveis. Por outro lado, uma identidade E = F na qual E é um 1 Faremos uma discussão mais completa sobre desigualdades no Capítulo 7.
f
f

l
40 Produtos Notáveis e Equações
2.1 Identidades algébricas 41

enunciado é equivalente à desigualdade a3 + b3 2:: a2 b + ab2 . Basta, Sendo m = n2 + 3n + 1, temos m > 1, e daí
agora, ver que

a3 - a2 b + b3 - ab2 = a2 (a - b) - b2 (a - b) p = m 2 -1 > m 2 - 2m + 1 = (m-1) 2 .


(a2 - b2 )(a - b) = (a+ b)(a - b)(a - b)
Portanto, p está situado entre os quadrados perfeitos consecutivos
(a+ b)(a - b) 2 2:: O, (m - 1) 2 e m 2 . Em particular, p não pode ser um quadrado per-

uma vez que a+ b > O e (a - b) 2 2:: O.


• feito. •

Generalizamos o exemplo 1.7 no que segue. Um produto notável por vezes útil, mas não contemplado pela pro-
posição 2.1, é o dado pela igualdade
Exemplo 2.5 (Áustria). Sejam a e b racionais positivos tais que vah
é irracional. Prove que Ja + vb é irracional.
(x - y)(x - z) = x2 - (y + z)x + yz. (2.2)
Prova. Por contraposição, ·suponha que r = Ja + vb fosse racional.
Então r 2 = a + b + 2vah também seria racional. Mas aí, téríamos Observe que no segundo membro aparecem a soma S = y + z e o
produto P = yz de .y e z. Uma expressão do tipo x 2 - Sx + P, onde S
17 r2 - a- b
vao= , e P representam respectivamente a soma e o produto de dois números
2
ou expressões, é denominada um trinômio de segundo grau em
também racional, uma vez que no segundo membro da igualdade acima x. Assim, podemos ver (2.2) também como um produto notável que
o numerador e o denominador são números racionais. • fornece a fatoração de um trinômio de segundo grau:
Exemplo 2.6 (Canadá). Para cada n natural, mostre que o número
x2 - 8X +p = (X - y) (X - Z), (2.3)
n(n + l)(n + 2)(n + 3)
onde S = y + z e P = y z. A fatoração acima é por vezes denominada
nunca é um quadrado perfeito. fórmula de Viête.
Prova. Denote p = n(n + l)(n + 2)(n + 3). Temos Vejamos como aplicar a fórmula de Viête no exemplo a seguir.

p [n(n + 3)][(n + l)(n + 2)] Exemplo 2.7 (União Soviética). Sejam a, b e e números reais dois a
(n2 + 3n)[(n2 + 3n) + 2] dois distintos. Mostre que o número
(n2 + 3n) 2 + 2(n2 + 3n)
[(n2 + 3n) 2 + 2(n 2 + 3n) + 1] - 1
[(n2 + 3n) + 1] 2 - 1. é sempre diferente de zero.
42 Produtos Notáveis e Equações 2.1 Identidades algébricas 43

Exemplo 2.8. Para todos os x, y, z E JR, temos

(x + y + z) 3 = x 3 + y3 + z 3 + 3(x + y)(x + z)(y + z). (2.5)

Prova. Aplicando duas vezes o item (d) da proposição 2.1, primeiro


com x + y no lugar de x e z no lugar de y, obtemos

Figura 2.1: François Viête, matemático francês do (x+y+z) 3 [(x+ y) + z]3


século XVI. Por seu pioneirismo na utilização de le-
( X + y) 3 + z 3 + 3 (X + y) Z [ ( X + y) + Z]
tras para representar variáveis, Viête é por vezes co-
nhecido como o pai da Álgebra moderna. x 3 + y3 + 3xy(x + y) + z3 + 3(x + y)[(x + y)z + z2 )
x 3 + y3 + z 3 + 3(x + y)[xy + (x + y)z + z2 ]
x 3 + y3 + z 3 + 3(x + y)(y + z)(x + z),
Prova. Denotando por S o número dado acima, temos:

s a 2 (c - b) + b2 a - b2 c + c2 b -· c2 a
onde, na última igualdade, utilizamos (2.4).

a 2 (c - b) + (b 2 a - c2 a) + (c2 b - b2 c)
a2 (c - b) + a(b + c)(b - e)+ bc(c - b)
(e - b)[a2 - a(b +e)+ bc] Problemas - Seção 2.1
(e - b)(a - b)(a - e),

onde utilizamos (2.3) na última igualdade. Agora, segue de a -/=- b,


1. * Prove os demais itens da proposição 2.1.
b -/=- e e e -/=- a que a - b, e - b, a - e -/=- O, e daí S -/=- O. • 2. Se m+n+p = 6, mnp = 2 e mn+mp+np = 11, calcule o valor
m + ....!!.._ + L .
de np
Uma variante útil da fórmula de Viête, de verificação imediata, é a mp mn

fatoração para a expressão x 2 + Sx + P, onde, como antes, S = y + z


e P = yz: 3. Sejam a e b reais rião nulos, tais que a =/=- b, 1. Se ( ~) 2 = G=!) 2,
x2 + S X + p = (X + y) (X + Z), (2.4) calcule os possíveis valores de i + t.
Trocando, em (2.3), S, y e z respectivamente por -S, -y e -z, vemos 4. Para reais positivos x e y, simplifique a expressão
imediatamente que (2.4) é realmente equivalente àquela fatoração, de
maneira que é bastante fácil lembrarmo-nos de mais essa identidade.
Vejamos um exemplo de sua aplicação, o qual encerra mais uma iden-
(y'x - y'y)2 + 2y'xy'
tidade relevante em si.
44 Produtos Notáveis e Equações 2.1 Identidades algébricas 45

5. Para x, y, z =/=- O, simplifique a expressão 13. * Para n > 1 inteiro, mostre que
(x3 + y3 + z3)2 _ (x3 _ y3 _ z3)2
y3 + z3

6. Se a e b são números reais tais que ab = 1, simplifique a expressão 14. Racionalize o número 2+J+v'3·

(a-D(b+i) 15. Racionalize o número v2+v3. "' 1 3r,,, i.e., obtenha números inteiros a,
a2 - b2 b, e, d, e, f e g tais que
1 1
7. Se x e y são naturais tais que x 2 + 361 = y 2 , calcule os possíveis v'2 + ?133 = -[(av'2
g
+ b) + (cv'2 + d)\13 + (ev'2 + f)\7'9].
valores de x.
16. Sejam x, y e z números reais não nulos, tais que x + y + z = O.
8. Os reais a e b são tais que a+ b =me ab = n. Calcule o valor
Explique porque a soma de dois quaisquer dentre eles é diferente
de a 4 + b4 em termos de me n.
de zero e, em seguida, calcule os possíveis valores de cada uma
9. Se a 2 + b2 = 1, calcule os possíveis valores de 1 ::f:t das expressões abaixo:
( ) x2 y2 z2
10. (Hungria.) Sejam a, b, e e d números reais tais que a 2 + b2 = 1 e a (y+z)2 + (x+z)2 + (x+y)2 ·
c2 + d2 = 1. Se ac + bd = v.}, calcule o valor de ad - bc, sabendo (b) x3 y3 z3
(y+z) 3 + (x+z)3 + (x+y)3 ·
que se trata de um número positivo.
17. Dados números reais a e b, encontre o quociente da divisão de
11. (OBM.) Encontre todos os inteiros positivos x e y tais que x + a64 _ b64 por (a+ b)(a2 + b2)(a4 + b4)(as + bs)(a16 + b16).
y+xy = 120.
18. * Dados um inteiro n > 1 e a, b E JR, prove que são válidas as
12. * Para reais positivos e distintos x e y, prove que são válidas as seguintes fatorações:
seguintes racionalizaçõei2:
(a) an - bn = (a - b)(an-1 + an-2b + an-3b2 + ... + bn-1).
(a) 1 _
.jx±,jy -
..fii':f-y'Y
x-y (b) an + bn =(a+ b)(an-l - an- 2b + an- 3b2 - · · · + bn-l) se n
1 ~'Cf-~+W for ímpar.
(b) v'x±W - x±y
1 _ v'x±W 19. Fatore a expressão x 4 + 4y 4 como um produto de dois polinômios
(c) ~'Cf-~+W- x±y . de coeficientes inteiros.
2 De uma maneira informal, podemos pensar na operação de racionalização
20. (Canadá.) Prove que 6 divide a + b+ e se, e só se, 6 divide
como a retirada de raízes do denominador. a3+b3+c3.

1
46 Produtos Notáveis e Equações 2.2 Módulo e equações modulares 47

21. (Canadá.) Sejam a, b e e números reais tais que a + b+ e = O. 28. (Polônia.) Para inteiros positivos a :S b, faça os itens a seguir:
Mostre que a3 + b3 + c3 = 3abc.
(a) Mostre que b3 < b3 + 6ab + 1 < (b + 2) 3 .
22. Prove a fórmula do radical duplo, também conhecida como fór-
(b) Ache todos tais a e b para os quais a3 + 6ab + 1 e b3 + 6ab + 1
mula de Báskara3 : para todos os números reais a e b, com
sejam ambos cubos perfeitos.
a 2 ~ b ~ O, tem-se

2.2 Módulo e equações modulares


Dadas expressões algébricas E e F em uma mesma variável, x di-
23. Mostre que não existem números reais não nulos x, y e z, tais
gamos, a equação a uma variável E= Fé o problema de encontrar
que x +y +z -=J. O e
todos os valores reais de x para os quais as expressões E e F tenham
1 1 1 1 sentido e a igualdade E= F seja verdadeira. Se E= Fé uma equa-
----=-+-+-.
x+y+z x y z ção na variável x, dizemos que x é a incógnita da equação; os valores
24. (União Soviética.) Sejam a, b e e racionais dois a dois distintos. reais de x que reso.lvem a equação E = F, i.e., que tornam E = F uma
igualdade verdadeira, são as raízes da equação; por fim, o conjunto ·
Prove que o número
solução é aquele formado por todas as raízes da mesma.
1 1 1
---+
(b-c)2
+---
(c-a) 2 (a-b)2
No restante deste capítulo, discutiremos alguns tipos importantes
de equações a uma variável. Para começar, dados números reais a
é o quadrado de um racional. e b, com a -=J. O, podemos considerar a equação de primeiro grau
ax + b = O. Como a -=J. O, temos
25. Dados a, b > O, prove que {/4( a + b) :S ffe, + </b, ocorrendo a
igualdade se, e só se, a = b. b
ax + b =O{::} ax = -b {::} x = - -
a'
26. (Torneio das Cidades.) Sejam a, b e e racionais positivos. Se
ffe, + ~ E Q, prove que ffe,, <fb E Q. de maneira que - ~ é a única raiz da equação.
A fim de examinar nossa segunda classe de equações, necessitamos
27. (Torneio das Cidades.) Suponha que a+ b +e+ d+ e+ f = O,
inicialmente da seguinte
a3 + b3 + c3 + d3 + e3 + f3 = O e que a soma de dois quaisquer
dos reais a, b, e, d, e, f é não nula. Prove que Definição 2.9. Para x E JR, o módulo de x, denotado lxl, é definido
(a+ c)(a + d)(a + e)(a + !) = (b + c)(b + d)(b + e)(b + !). por
x, se x ~ O
3 Uma homenagem ao matemático indiano do século XII Bhaskara II, também lxl = { -x, se x < O
conhecido como Bhaskaracharya (Báskara, o professor).
48 Produtos Notáveis e Equações 2.2 Módulo e equações modulares 49

Para exemplificar a definição acima, uma vez que -5 < O temos O exemplo a seguir mostra como resolver uma equação mais elaborada
l-51 = -(-5) = 5; analogamente, l-v'31 = -(-v'3) = v'3, etc. Mais envolvendo módulos.
geralmente, uma consequência imediata da definição é que lxl ~ Opara
Exemplo 2.10. Resolva a equação lx +li+ lx - 21 + lx - 51 = 7.
todo real x, ocorrendo a igualdade se e só se x = O. Ademais, tem-se
sempre Solução. Note primeiro que
x ~ lxl = 1- xi, x+ 1, se x ~ -1
com igualdade se e só se x ~ O. Note ainda que lx +li= { -x-1, se x < -1 '

lxl = v-;fi. = max {x, -x }. (2.6) x-2, se x ~ 2


lx- 21 = { -x+2, se x < 2
Representando os números reais como pontos da reta numerada, é
e
fácil ver que o módulo de um número real x é simplesmente a distância x-5, se x ~ 5
de x a O (cf. figura 2.2), Mais geralmente, dados x, y E IR, podemos lx - 51 = { -x+5, se x < 5
Agora, desde que a interseção das condições x < -1 ou x ~ -1, x < 2
ou x ~ 2, x < 5 ou x ~ 5 particiona a reta nos intervalos (-oo, -1),
[-1, 2), [2, 5) e [5, +oo), faz-se mister considerar separadamente x em
X o cada um de tais intervalos, a fim de simplificar o primeiro membro da
equação. Procedendo desta maneira, obtemos
Figura 2.2: módulo de um número real.
-3x + 6, se x < -1
-x + 8, se - 1~ x <2
olhar lx - YI como a distância entre os pontos x e y na reta. De fato, lx +li+ lx - 21 + lx - 51 =
x + 4, se 2~x <5
como lx - YI = IY - xi, podemos supor que x ~ y. Então 3x - 6, se x ~5
lx - YI = y- x = distância de x a y na reta.
Por fim, note que
A equação modular mais simples é a equação
• -3x + 6 = 7 {::} x = -}; como a condição 1
3
< -1 não é
lx - ai= b, satisfeita, não há soluções neste caso.

com a e breais dados. Como lx - ai ~ O, tal equação não admite • -x + 8 = 7 {::} x = 1; como a condição -1 ~ 1 < 2 é satisfeita,
raízes quando b < O. Quando b ~ O, segue da definição de módulo que x = 1 é solução da equação.
deve ser x - a = b ou x - a = -b, donde temos as raízes
• x +4 = 7 {::} x = 3; como a condição 2 ~ 3 < 5 é satisfeita,
x =a+ b,a- b. x = 3 é solução da equação.
50 Produtos Notáveis e Equações 2.3 Equações de segundo grau 51

• 3x - 6 = 7 {::} x = 1; ; como a condição 1; ;::::: 5 não é satisfeita, 5. Resolva, para x E IR\ {O, 1}, a equação 1:1 = i::=~1.
não há soluções neste caso.
6. Sejam a, b, e números reais dados, com a< b. Discuta, em função
Logo, as raízes da equação são 1 e 3.
• de e, o número de soluções da equação

lx - ai + lx - bl = e.

Problemas - Seção 2.2 7. Para n > 1 inteiro, prove que a equação (em x E IR)

1. * Dados números reais a e b, com a #- O, mostre que lx - li+ lx - 21 + · · · + lx - 2nl =


(-~,+oo), se a> O
= ((n + 1) + (n + 2) + · · · + 2n) - (1 + 2 + · · · + n)
{xEIR;ax+b>O}= { ( b)
-oo , --a , se a< O tem uma infinidade de raízes.

Faça o mesmo para ax + b ;::::: O, ax + b < O e ax + b ~ 0-. 8. (México.) Seja rum racional não negativo. Prove que

2. * Dados números reais a e b, mostre que


0, se b < O
{xEIR;lx-al<b}= { {a}, seb=O 9. (Iugoslávia.) Dados n natural e M = {1, 2, 3, ... , 2n}, sejam
(a-b,a+b), seb>O M1 = {a1, a2, ... , an} e M2 = {b1, b2, ... , bn} subconjuntos de
Faça o mesmo para lx - ai ~ b, lx - ai > b e lx - ai ;: : : b. M tais que a1 < a2 < · · · < an e b1 > b2 · > · · · > bn. Se
M1 U M2 = M e M1 n M2 = 0, prove que
3. * Prove que, para todos x, y E IR, tein-se lxyl = lxl · IYI·

4. Resolva, para x E IR, as seguintes equações:

(a) x 2 + 5Ix - 11 + 11 = O. 2.3 Equações de segundo grau


(b) 1x 2 - 3x 1 = x - 1.
Consideremos, agora, a equação de segundo grau
(c) x+ lx!1 -31 =6.
(d) xixi+ 4x + 3 = O. ax 2 + bx + e = O, (2.7)
(e) lxl=x-6. onde a, b e e são reais dados, sendo a -/=- O. Por razões que ficarão
(f) lx +li+ lx - 21 + lx - 51 = 4. claras mais adiante (veja a discussão que culmina com a fatoração
Produtos Notáveis e Equações 2.3 Equações de segundo grau 53
52

segunda igualdade na prova do lema anterior, é bastante importante e


(2.10)), o primeiro membro de (2.7) também é denominado o trinô-
deve ser apreendida como um tipo .de truque algébrico que encontrará
mio de segundo grau associado à equação (2.7), e a, b e c são seus
utilidade em muitas de nossas discussões posteriores, bem como na
coeficientes.
resolução de vários problemas interessantes. Veremos mais aplicações
Dada uma equação de segundo grau como acima, denotamos por
do truque de completamento de quadrados ainda neste capítulo .
.ó. (leia-se delta) o número
Proposição 2.13. Sejam a, b, c reais dados, com a-::/:- O.
.ó. = b2 - 4ac.
(a) A equação ax 2 + bx + c = O tem raízes reais se e só se .ó. ~ O.
Tal número é o discriminante da equação (ou do trinômio associado) Nesse caso, suas raízes são dadas por -b-../E
2a
e -b+../E
2a ·
(2.7), e, conforme veremos, será usado para discriminar (daí o nome!)
(b) Se .ó. ~O, então a soma Se o produto P das raízes da equação
quando a mesma possui raízes. Para tanto, comecemos com o seguinte
do item (a) são dados por S = ---:-~ e P = ~·
resultado auxiliar.
Prova.
Lema 2.11. Dados a, b, c E IR, com a-::/:- O, tem-se (a) Segue de (2.8) que

ax 2 + bx + c = a [(x + ~) 2a
2
- ~i .
4a2
(2.8) (2.9)

A identidade algébrica acima é a forma canônica do trinômio de Como (x + 2: ) 2 ~ O para todo x E IR, se a equação tiver raízes reais,
segundo grau ax 2 + bx + c. então deve ser .ó. ~ O. Nesse caso, é evidente de (2.9) (veja também o

problema 1, página 56) que x + =±~,donde segue o item (a).
Prova. Basta ver que
(b) Basta observar que
ax 2 + bx + c = a( x2 + ~ x + ~} -b - vE -b + vE b
----+ =--
= a (x + 2 ~x
a
+ _!e_2 - _!e_+
4a 2
9-)
4a a e
2a 2a a

=a[ (x2 + ~x
a
+ _!e_)
4a2
_ _!e_2 + 4acl
4a 4a2
(-b;aJK) (-b;aJK) (-b)2 - .ó.
4a2
c
a •
= a[(x + ~)
2a
2 - ~i
4a 2
• Observações 2.14.
1. Quando .ó. ~ O, a fórmula -b~~ para as raízes da equação de
segundo grau ax 2 + bx + c = O é conhecida como a fórmula de
Observação 2.12. A ideia de somar e subtrair certo termo a uma
Bhaskara.
expressão dada a fim de completar um quadrado, como feito após a
54 Produtos Notáveis e Equações 2.3 Equações de segundo grau 55

11. As fórmulas do item (b) da proposição acima são também co- somando membro a membro as relações acima, obtemos finalmente
nhecidas como fórmulas de Viete.

m. Nas notações do item (a) da proposição acima, se~= O diremos


que a equação ax 2 + bx + e = O tem duas raízes iguais. Escrevendo a relação acima respectivamente para k = O, 1, 2 e 3,
obtemos sucessivamente
O exemplo a seguir ilustra como podemos reduzir uma equação
aparentemente complicada numa mais simples por meio de uma subs- u 2 + v 2 = 6(u + v) - 7 · 2 = 6 · 6 - 14 = 22
tituição de variável conveniente. u 3 + v 3 = 6(u 2 + v 2 ) - 7(u + v) = 6 · 22 - 7 · 6 = 90
Exemplo 2.15 (OBM). Encontre todos os reais x tais que x 2+x+l = u 4 + v 4 = 6( u 3 + v 3 ) - 7( u 2 + v 2 ) = 6 · 90 - 7 · 22 = 386
156
x 2 +x· u 5 + v 5 = 6( u 4 + v 4 ) - 7( u 3 + v 3 ) = 6 · 386 - 7 · 90 = 1686. •
Prova. Fazendo a substituição de variável y = x 2 + x, obtemos a
Para o próximo exemplo, veja que se a soma e o produto de dois
equação y + 1 = 1~6 , ou ainda y 2 + y - 156 = O. Como para tal equação
números reais forem positivos, então ambos os números são positivos.
temos~= 12 -4(-156) = 625 = 25 2 , segue que y = - 1 ~ 25 =·-13 ou
12. Mas desde que y = x 2 + x, reduzimos nossa· equação original às Exemplo 2.17 (OCM). Sejam p e q reais dados. Se as raízes da
equações de segundo grau x 2 + x = -13 ou x 2 + x = 12. Na primeira equação x 2 + px + q = O são reais, positivas e distintas, mostre que o
equação, temos ~ = -51 < O e, portanto, não há raízes reais. Na mesmo ocorre com as raízes da equação qx 2 + (p- 2q)x + (1- p) = O.
segunda, ~ = 49, de maneira que x = - 12± 7 = -4 ou 3. •
Prova. Note inicialmente que q =I- O, pois do contrário a equação
O exemplo a seguir mostra que é por vezes mais útil manipular x 2 + px + q = O se reduziria a x 2 + px = O, e daí teria uma raiz igual
algebricamente uma equação de segundo grau do que resolvê-la expli- a O, contradizendo nossas hipóteses.
citamente. Sejam agora ~ e ~' respectivamente os discriminantes dos trinô-
mios x 2 + px + q = O e qx 2 + (p- 2q)x + (1- p). Mostremos primeiro
Exemplo 2.16. Encontre o valor de (3+v2)5+(3-v2) 5 sem expandir
que ~' > O, o que garantirá que as raízes da segunda equação são
as potências envolvidas.
reais e distintas. Como a equação x 2 + px + q = O tem raízes reais e
Prova. Sendo 'u = 3 + v2 e v = 3 - v2, temos u + v = 6 e uv = 7, distintas, temos~= p 2 - 4q > O. Logo,
donde segue que u e v são as raízes da equação x 2 - 6x + 7 = O. Por-
tanto, a substituição de x por u ou v nessa equação gera as igualdades ~/ (p - 2q) 2 - 4q(l - p)
verdadeiras u 2 - 6u + 7 = O e v 2 - 6v + 7 = O, ou, equivalentemente, p2 - 4q + 4q2

1.·,. 1
u 2 = 6u - 7 e v 2 = 6v - 7. Multiplicando a primeira dessas igualdades ~ + 492 > O.
1
t'

'
,1 por uk e a segunda por vk, onde k ~ Oé inteiro, obtemos as igualdades
11
1:
Agora, de acordo com o parágrafo imediatamente anterior a este e-
1
! xemplo, para mostrar que as raízes de qx 2 + (p - 2q)x + (1 - p) = O

li'
:li .·
56 Produtos Notáveis e Equações 2.3 Equações de segundo grau 57

são positivas, basta mostrarmos que a soma S' e o produto P' das 2. Sejam a, b e e reais dados. Se ac < O, mostre que a equação
mesmas são ambos positivos. Ora, desde que as raízes da equação ax 2 + bx +e= O tem duas raízes reais distintas.
x 2 + px + q = O são positivas, temos -p > O e q > O. Portanto, pelas
fórmulas de Viete, temos 3. Se as soluções da equação x 2 - lxl - 6 = O são raízes da equação
x 2 - ax + b = O, calcule os valores de a e b.
S' = 2q - P = 2 + -p > O
q q 4. Sejam b, e números reais dados, tais que a equação x 2 +blxl +e=
e O tenha raízes reais. Prove que a soma de tais raízes é sempre
l -p 1 -p
P' = - - = -
q q
+-
q
> O.
• igual a O.

5. Resolva, para x E ~' as seguintes equações:


Terminemos nossa discussão sobre equações de segundo grau com
a seguinte observação: se a=/=- O e ax 2 + bx +e= O tiver raízes reais a (a) X+ y'x+2 = 10.
e f3 (não necessariamente a=/=- (3), então teremos a fatoração
(b) Jx+l0-J2x+3=Jl-3x.
ax 2 + bx +e= a(x - a)(x - (3). (2.10) (c) (OCM.) x 2 + l8x + 30 = 2Jx 2 + l8x + 45.

De fato, segue do item (b) da proposição 2.13 que, para todo x real, 6. (IMO.) Em cada um dos casos (a) A = J2,(b) A = 1 e (c)
A= 2, encontre os valores reais de x para os quais tenhamos
a(x - a)(x - /3) a[x 2 - (a+ f3)x + a/3]
a [x 2 - ( - ~) x + ~] V+x J2x - 1 + V x - J2x - 1 = A.

'!!!111'1 ax 2 + bx + e. 7. Um professor elaborou três modelos de prova. No primeiro mo-


Ili!::.:
' 'f,11, É instrutivo comparar o resultado de (2.10) com (2.2). O segundo delo, colocou uma equação do segundo grau; no segundo mo-
membro de (2.10) é denominado a forma fatorada do trinômio ax 2 + delo, colocou a mesma equação, trocando apenas o coeficiente
1 bx+c. do monômio de grau dois; no terceiro modelo, colocou a mesma
ill,
!,1,
,'I,, equação do primeiro modelo, trocando apenas o coeficiente in-
i,··;
''
dependente de x. Sabendo que as raízes da equação do segundo
'·'1
1 1, !
modelo são 2 e 3 e que as raízes do terceiro modelo são 2 e - 7,
Problemas - Seção 2.3 decida se a equação do primeiro modelo tem raízes reais e, se
esse for o caso, calcule tais raízes.
1. * Dado um real a =/=- O, encontre todos os x E ~ tais que x 2 = a 2 ,
sem recorrer à fórmula para as raízes de uma equação de segundo 8. Sejam a e breais não nulos e distintos. Se a equação x 2 +ax+b =
grau. O tem raízes a e b, encontre os possíveis valores de a - b.
:1·,
,i!!
1'1,11

'I,.''
11,,,
58 Produtos Notáveis e Equações 2.4 Equações polinomiais 59

9. Se as raízes da equação x 2 - l3x + 9 = O são. a e (3, e a e b 2.4 Equações polinomiais


são reais tais que a equação x 2 + ax + b = O tem raízes a 2 e (3 2,
Neste ponto é natural nos perguntarmos sobre como resolver a
calcule o valor de a + b.
equação resultante da generalização natural das equações ax + b = O
e ax 2 + bx + e = O, qual seja, a equação polinomial de grau n
10. A equação x 2 + x- l = Otem raízes u e v. Encontre uma equação
de segundo grau que tenha raízes u 3 e v 3 . (2.11)

onde n ~ 1 é inteiro e ao, a 1 , ... , an são reais dados4, com an # O.


11. (OCM.) As raízes da equação x 2 - Sx + P = O são a e (3. En-
Observe que, quando n = 1 ou n = 2, voltamos respectivamente às
contre um trinômio de segundo grau cujos coeficientes envolvam
equações de primeiro e segundo graus discutidas acima.
somente Sou P e cujas raízes sejam os números aS+P e (3S+P.
Nos contentaremos aqui em discutir alguns casos particulares e
tecer alguns comentários que, acreditamos, serão úteis ao leitor, dei-
12. Use a teoria de equações de segundo grau desenvolvida nesta .
xando um estudo mais sistemático das mesmas para o volume 6. Pri-
seção para calcular o valor da soma (7 + 4v'3) 5 + (7 - 4v'3) 5 .
meiramente, para equações polinomiais de graus n = 3 ou 4, fórmulas
há, construídas em termos dos coeficientes a0 , a 1 , ••. , an da equação
13. Sejam a e (3 as raízes da equação x 2 - 5x +1 = O. Calcule
e que fornecem as raízes da mesma. Conforme ensina 1. Stewart no .
ak + (3k, para 1 :'.S; k :'.S; 5 inteiro.
capítulo 4 de seu interessantíssimo livro [45], tais fórmulas derivaram
dos trabalhos dos matemáticos italianos Scipione del Ferro, Girolamo
14. Se a é uma raiz da equação x 2 - x - 1 = O, calcule os possíveis
Cardano, Niccolõ Tartaglia e Lodovico Ferrari. Porém, tais fórmulas
valores de a 5 - 5a. são demasiadamente complexas para serem úteis e, portanto, não as
discutiremos aqui. A fim de convencer o leitor da pertinência dessa
15. Para quais valores inteiros de m a equação x 2 + mx + 5 = O tem afirmação, mencionamos que a fórmula de Cardano para a resolução
.'li':, raízes inteiras? da equação de terceiro grau ax 3 + bx 2 + ex + d = O é a seguinte 5 :
l''ill

16. Mostre que, para todos a, b, e E JR, sendo a # O, a equação ~q + J q2 + (r _ p2)3 + ~q _ J q2 + (r _ p2)3 + p,
1 1 1 onde p = -;ª, q = p3+bc;ªtad e r = 3cª (veja, contudo, os problemas 3, 9
- - + x---e= a-2
X - b e 10, página 64).
Para equações polinomiais (2.11) de grau n ~ 5, o matemático no-
possui exatamente duas raízes reais e distintas. rueguês Niels H. Abel e o matemático francês Évariste Galois, ambos

(
'·1·.

17. Resolva a equação x = A+ A no conjunto dos nú-


4 Estamos empregando aqui a notação de sequências de números reais. Para
maiores detalhes, referimos o leitor ao capítulo 4.
5 Cf. http://www.math.vanderbilt.edu/cvschectex/courses/cubic,
meros reais.
60 Produtos Notáveis e Equações 2.4 Equações polinomiais 61

que substituições de variável apropriadas as reduzem imediatamente


a equações de segundo grau. Examinemos primeiramente as equações
biquadradas, i.e., equações do tipo

ax 4 + bx 2 + e = O, (2.12)

com a #- O. A substituição de variável y = x 2 para a equação biqua-


Figura 2.3: Cardano Figura 2.4: Tartaglia drada acima a transforma na equação de segundo grau ay 2 +by+c = O,
para a qual já sabemos procurar as soluções reais. Portanto, para cada
raiz real não-negativa y = a dessa última equação, resolvendo a equa-
do século XIX, provaram independentemente que não existe fórmula, ção x 2 = a, obtemos o par de raízes reais x = ±.Ja para a equação
construída em termos dos coeficientes da equação, que forneça as so- biquadrada original. Reciprocamente, se x = /3 é uma raiz da equa-
luções reais da mesma. Bem entendido, não importa quão inteligente ção biquadrada original, então é imediato que y = /3 2 é uma raiz real
alguém seja; eles provaram que é impossível descobrir uma tal fórmula, não-negativa da equação de segundo grau ay 2 + by + e = O. Provamos,
simplesmente porque a mesma não existe! portanto, o seguinte resultado.

Proposição 2.18. Dados números reais a, b e e, com a#- O, as raízes ·


reais da equação biquadrada ax 4 + bx 2 + e = Osão os números da forma
±.Ja, onde a é uma raiz real não-negativa da equação de segundo grau
ay 2 + by + e = O.

Note, contudo, que a fim de encontrar efetivamente as raízes reais


de uma equação biquadrada, melhor que gravar o enunciado da propo-
Figura 2.5: A despeito de sua morte prematura, aos sição acima é lembrar a discussão do parágrafo anterior e, em especial,
21 anos, em um duelo, Galois é considerado um dos a fácil substituição y = x 2 .
maiores matemáticos que já existiu. Seus trabalhos
sobre equações polinomiais de grau n 2'.: 5 e teoria dos Exemplo 2.19. Encontre as raízes reais da equação biquadrada x 4 +
grupos constituíram a base do que hoje é conhecido 5x2 - 7 = O.
como a Teoria de Galois, sub-ramo da Álgebra com
aplicações em várias partes da matemática. Solução. A substituição y = x 2 nos leva à equação de segundo grau
y 2 + 5y - 7 = O, para a qual ~ = 53. Portanto, as soluções dessa
última equação são y = - 5~v'53. Como - 5 -;v'53 < O, as raízes reais
Alguns tipos particulares de equações de grau 4 ou 6 são sufici- da equação biquadrada original são dadas pelas soluções da equação
entemente simples para merecerem certa atenção, especialmente por- x 2 = - 5iv'53, i.e., são os números J- iv'53.
5 •
62 Produtos Notáveis e Equações 2.4 Equações polinomiais 63

Para equações bicúbicas, i.e., equações do tipo Há, entretanto, uma sutileza envolvida na discussão acima: decerto
que toda raiz real x = a de (2.14) gera a raiz real j3 = a+ ;;- da
ax 6 + bx3 + e = O, (2.13)
equação a(y 2 - 2) + by + e = O. Contudo, a recíproca não é verdadeira:
podemos fazer uma discussão análoga à acima, reduzindo novamente nem toda raiz real y = j3 dessa última equação gera raízes reais x = a
o problema da determinação das raízes reais da mesma à resolução da equação recíproca inicial. De fato, uma vez obtida uma raiz real
de uma equação de segundo grau. Referimos o leitor ao problema 3, y = j3 de a(y 2 - 2) + by + e = O, a fim de obter as possíveis raízes
página 64, para a elaboração dos detalhes correspondentes. correspondentes da equação recíproca, temos de resolver a equação
Examinemos, por fim, equações recíprocas de grau 4, i.e., equa-
1
ções polinomiais de grau 4 da forma X+ - = /3,
X
ax 4 + bx 3 + cx2 + bx +a= O, ou, equivalentemente, x 2 - j3x +1 = O. Como o discriminante da
onde a, b e e são reais dados, sendo a #- O. O nome recíproca provém da mesma é
simetria dos coeficientes da equação (veja o problema 16, página 67). ~= /3 2 - 4,
Inicialmente, note que O não é raiz da equação, acima, uma vez que tal equação só terá raízes reais quando /3 2 -4 2'.: O, i.e., quando l/31 2'.: 2.
a #- O. Portanto, um número real x é raiz da mesma se, e somente se, Assim como com equações biquadradas, para encontrar efetiva-
for também raiz de mente as raízes reais de uma equação recíproca de grau 4 é mais prá-
b a tico seguir os passos que nos fizeram obter (2.15) a partir de (2.14).
ax 2 + bx + e + - + 2 = O, (2.14)
X X
equação obtida da equação original dividindo-se ambos os membros Exemplo 2.20. Encontre as raízes reais da equação de grau 4
daquela por x 2 • Escreva o primeiro membro da última equação acima 2x4 + 5x 3 + 6x 2 + 5x + 2 = O.
como
a ( x2 + : 2) + b( x + t) + e = O.
Solução. Dividindo ambos os membros por x 2 e reagrupando termos,
obtemos a equação
A ideia agora é efetuar a substituição de variável y = x + note, i;
contudo, que a implementação da mesma não é imediata, tendo-se
primeiro de notar, conforme (2.1), que
i,
Fazendo a substituição y = x + segue que y 2 = x 2 + ; 2 + 2, de modo
y 2
= ( X 1)
+ -;;;
2
= X
2
+ 2+ 1
X2 • que a equação acima equivale à equação

Portanto, x 2 + ; 2 = y 2 - 2, de maneira que resolver (2.14) equivale a 2(y 2 - 2) + 5y + 6 = o,


resolver a equação de segundo grau
cujas raízes são y = -2 ou y = -!-
Portanto, as raízes reais da
a(y 2 - 2) + by + e = O. (2.15) equação original são as soluções das equações x + = -2 ou x + i
64 Produtos Notáveis e Equações 2.4 Equações polinomiais 65

~ ~. A primeira dessas equaçoes equivale a x 2 + 2x + 1 = O x = ex é uma raiz real (não nula) da mesma, prove que existem
e, portanto, tem duas raízes reais, ambas iguais a -1. A segunda números reais /3 e I tais que vale a fatoração
equivale a 2x 2 + x + 2 = O, que tem discriminante .6. = -15 < O e,
x 3 + ax 2 + bx +e= (x - ex)(x 2 + /3x + 1 ).
portanto, não possui raízes reais. •
Conclua, a partir daí, que a equação polinomial em questão tem
no máximo três raízes reais. Nesse caso, sendo ex, /3 e I tais
raízes, mostre também que:
Problemas - Seção 2.4 (a) Se ex, /3 e I forem dois a dois distintos, então

1. Mostre que, para todo real a #- O dado, as equações x 3 + ax 2 + bx + e = (x - ex) (x - /3) (x - 1 ).

ax 3 - x 2 - x - (a + 1) = O e ax 2 - x - (a + 1) = O (b) Se ex = /3 #- 1 , então

x 3 + ax 2 + bx + e = (x - ex )2 (x - 1 ).
têm uma raiz comum.
(c) Se ex = /3 = 1 , então
2. (União Soviética.) Faça os itens a seguir:
x 3 + ax 2 + bx +e= (x - ex) 3.
(a) Para x real, escreva o número x 3 - 3x 2 + 5x na forma
Este resultado generaliza a forma fatorada (2.10) de uma equa-
a(x - 1)3 + b(x - 1)2 + c(x - 1) + d, ção de segundo grau e é um caso particular do algoritmo da
divisão para polinômios6 .
com a,b,c,d E Z.
(b) Se x e y são reais tais que x 3- 3x 2 + 5x = 1 e y 3- 3y 2 + 5y =
6. (a) Mostre que o número real ex= {h + J5 + {h - J5 é raiz
da equação x 3 + 3x - 4 = O.
5, calcule os possíveis valores de x + y.
(b) Conclua que ex é um número racional.
3. * Elabore, para a equação bicúbica ax 6 + bx 3 + e = O, uma dis-
cussão análoga àquela feita no texto para equações biquadradas 7. * Estabeleça as relações entre coeficientes e raízes para uma
e que nos levou à proposição 2.18. equação polinomial do terceiro grau: se os reais a 0 , a 1 , a 2 e a 3
(a3 #- O) são tais que a equação polinomial de terceiro grau
4. Prove que uma equação bicúbica tem no máximo quatro raízes 3
reais. ~~~~~~~~~~~
a3x + a2x 2 + a1 x + a0 = O
5 Para maiores detalhes acerca desse ponto, assim como para a generalização do

5. * Considere a equação polinomial de terceiro grau x 3 + ax 2 + resultado do problema 7, página 65, remetemos o leitor ao capítulo 4 do volume
6.
bx +e= O, onde a, b e e são números reais dados, com e#- O. Se
66 Produtos Notáveis e Equações 2.4 Equações polinomiais 67

tem raízes reais x 1 , x 2 e X3, então 12. Se x é um real não nulo tal que x + ~ = 4, calcule o valor de
x4+ x~-
(2.16) 13. Se x 2 - x - 1 = O, calcule o valor de

8. Sabendo que a equação 8x 3 - 6x + 1 = O possui três raízes reais,


a, f3 e "! digamos, calcule a 2 + (3 2 +1 2 , a 3 + (3 3 + 1 3 e a 4 + (3 4 + 1 4 .
14. (Cingapura.) Se x 2 - 4x + 1 = O, calcule os possíveis valores da
9. Ainda em relação à equação polinomial° de terceiro grau + x3 expressão
ax 2 + bx +e= O, com a, b, e E~' prove que existe um número x6 + .1....
xB
- (x + 1)6
X
+2
real d tal que a substituição de variável x = y + d transforma x3 + .1.... - (x + l) 3
3 x X
tal equação numa equação da forma y 3 + py + q = O, para certos
números reais p e q. 15. Resolva a equação recíproca x 4 - 7x3 + 14x2 - 7x + 1 = O.

10. Em relação à equação x 3 - llx + 16 = O, faça os seguintes itens: 16. Dados números reais a0 , a 1 , ... , an, com an -=/- O, a equação poli-
nomial
(a) Faça a substituição de variável x = u+v e obtenha a equa-
ção equivalente, nas duas variáveis u e v, à equação dada.
é dita recíproca se ak = ªn-k para O :::;; k :::;; n. Se a é uma raiz
(b) Imponha que uv = -}(-11) (i.e., -} do coeficiente de x na
equação dada) e conclua que a equação em duas variáveis
i
real dessa equação, prove que a -=f. O e que também é raiz da
mesma7.
do item (a) se transforma na equação bicúbica u 6 + 16u3 +
(1J )3 = o. 17. Faça os itens a seguir:
(c) Ache u e v, e conclua que uma raiz da equação do enunciado
(a) * Para um número real x-=/- O, obtenha uma expressão para

«
é
x 3 + ; 3 em função de y = x + ~.
' -8+ villIT + -8- villIT . (b) Use o item anterior para reduzir a equação recíproca ax 6 +
9 9
bx 5 + cx4 + dx 3 + cx 2 + bx + a = O, de grau 6, a uma equação
Os itens acima descrevem, num exemplo prático, as ideias por de polinomial de grau 3.
trás da fórmula de Cardano.

11. * Se x é um real não nulo e tal que ( x + ~) 2 = 3, calcule os


7O nome recíproca se justifica então pelo fato de que equações recíprocas têm
possíveis valores de x 3 +; 3 • raízes reais recíprocas em pares.
68 Produtos Notáveis e Equações
,,

111
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1:
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CAPÍTULO 3

Sistemas de Equações

Um sistema de equações é um conjunto

de equações a uma ou mais variáveis reais, as quais devem ser sa-


tisfeitas simultaneamente. Aqui, E 1 , ... , En representam expressões
envolvendo uma ou mais variáveis reais.
Resolver um tal sistema significa encontrar todos os valores das va-
riáveis que satisfaçam todas as equações do sistema ao mesmo tempo,
e neste capítulo tencionamos desenvolver técnicas para resolver de ma-
neira sistemática algumas classes importantes de sistemas de equações.

69
70 Sistemas de Equações 3.1 Sistemas lineares e eliminação 71

3.1 Sistemas lineares e eliminação


Os mais simples - e, para nossos propósitos, também os mais úteis
_ sistemas de equações são os sistemas lineares com duas equações
e duas variáveis ou três equações e três variáveis, i.e., sistemas respec-
tivamente de uma das formas

a1X + b1y + C1Z = d1


Figura 3.1: O matemático alemão dos séculos XVIII
ou { a2X + b2y + C2Z = d2 (3.1) '.
e XIX Johann Carl F:riedrich Gauss é frequentemente
a3X + b3y + C3Z = d3 considerado o maior matemático que já existiu. Nas
várias áreas da Matemática em que trabalhou, como
onde os coeficientes ai, bi, ci, di são números reais dados, não todos
Teoria dos Números, Análise e Geometria Diferen-
nulos, ex, y ou x, y, z são as incógnitas do sistema. . .
cial, há resultados ou métodos dos mais importantes
O método mais eficiente para a solução dos sistemas lineares acima e que hoje levam seu nome. Sugerimos ao leitor o
é O algoritmo 1 de escalonamento, também conhecido como elimi- livro [46] para uma interessante biografia de Gauss.
nação Gaussiana2 , o qual se baseia no resultado a seguir

Lema 3.1. Dadas expressões algébricas E e F nas variáveis x, Y (ou


x, y, z) e números reais a, b e e, os sistemas F(xo, Yo) = b. Então a substituição de x por x 0 e y por y0 em E+ cF
nos dá
E=a E+cF = a+cb
{ {
F=b e F= b
(E+ cF)(xo, Yo) = E(xo, Yo) + cF(xo, Yo) =a+ cb,
têm as mesmas soluções.
de maneira que x = x 0 e y = y0 também resolvem o sistema da
Prova. Provemos o lema no caso em que E e F são expressões algé- 1 direita. Reciprocamente, se x = x 0 e y = y0 resolvem o sistema da
bricas nas variáveis x e y; o outro caso é totalmente análogo. Suponha '. direita, então, desde que E= (E+ cF) - cF, um argumento análogo
que x = xo e y = y0 resolvem o sistema da esquerda, i.e., que substi- ao acima mostra que x = x 0 e y = y0 resolvem o sistema da esquerda.
tuindo x por x 0 e y por y0 em E e em F, as igualdades E= a e F = b: Portanto, ambos os sistemas têm as mesmas soluções. •
se tornem verdadeiras, o que denotaremos escrevendo E(xo, Yo) = a e ·
1 Um algoritmo é uma sequência finita de operaç~es bem de!nidas que,. uma
Voltando aos sistemas lineares (3.1), mostremos como uma aplica-
vez realizadas fornecem um resultado, também denommado a sa1da do algoritmo.
Veremos mai~ exemplos interessantes de algoritmos nos volumes 4, 5 e 6 desta ·
ção apropriada do lema acima - e é precisamente nisto que consiste
coleção. o método do escalonamento - leva a uma rápida solução dos mesmos.
2 Após J. C. F. Gauss. Comecemos pelo sistema da esquerda que, por simplicidade de nota-
72 Sistemas de Equações 3.1 Sistemas lineares e eliminação 73

ção, escreveremos na forma • Se d'# O (ou, equivalentemente, ad - bc # O), então a segunda


equação acima nos dá y = ~; , e a substituição desse resultado na
ax+by e
{
cx+dy f
i(
primeira equação fornece x = e - by) = e- i( b1,') .
O sistema
é então dito possível determinado, uma vez que possui uma
Uma vez que ao menos um dos coeficientes a, b, e, d é não nulo, po- única solução.
demos supor, sem perda de generalidade, que a # O (senão, basta
reescrever o sistema como • Se d' = O (ou, equivalentemente, ad- bc = O) e f' # O, o sistema
é incompatível ou impossível, uma vez que a segunda equação
ex + dy f { by + ax e dy + ex = f
{
=
ou { by+ax = se resume a Oy = f', uma igualdade impossível para qualquer
ax + by = e ' dy + ex f e '
real y.
conforme e, b ou d seja não nulo, e trocar a por um desses números na
• Se d'= f' = O, a segunda equação se resume à igualdade Oy = O,
discussão a seguir).
Seja então a# O e E= ax + by, F =ex+ dy. Trocando a. equação a qual é verdadeira para todo y real. Portanto, o sistema como
um todo se resume à equação ax + by = O, a qual possui uma
F = f pela equação
e e infinidade de soluções (fazendo y = t, onde t E IR, obtemos
F--E=f--e,
a a bt) , e o s1s
x = --;;: . t ema e, d't • 1 1n
1 o poss1ve . determ1na
. d o.
obtemos o sistema
Gostaríamos de frisar que, assim como no capítulo anterior, em
exemplos práticos é muitas vezes mais fácil executar os passos do es-
calonamento do que relembrar quaisquer fórmulas. Como evidenciado
e o lema 3.1 garante imediatamente que as soluções desse sistema' pela discussão acima, os passos a que nos referimos se resumem a eli-
coincidem com aquelas do sistema original, de modo que, para resolver minar (daí o nome eliminação Gaussiana) a variável x da segunda
aquele sistema, é suficiente resolver este último. Por outro lado, como equação, trocando essa última por ela mesma somada a um múltiplo
apropriado da primeira equação.
,,,'1 F - · -e E = ( ex + dy) - e ax + by)
-( =
( d - -bc) y,
,;.
,, a a a Exemplo 3.2. Utilize o método do escalonamento para achar os va-
lores reais de m para os quais o sistema de equações
o sistema acima se reduz a

ax+by e 2x+my = 3
{ {
d'y f' ' mx+2y = ~

onde d'= d - !!fa e f' = f - E.e. Há agora três casos a considerar: seja impossível, possível indeterminado ou possível determinado.
aI
74 Sistemas de Equações 3.1 Sistemas lineares e eliminação 75

Solução. Trocando a segunda equação por ela mesma somada a - ~ (a fim de eliminar a variável x da segunda e da terceira equações),
vezes a primeira, obtemos o sistema equivalente obtemos o sistema equivalente

2x+my = 3
{
(2-~ )y
2
= H1-m)

Se 2 - ~ 2 i= O, o que é o mesmo que m i= ±2, então a segunda


equação acima nos dá y = 3t;:n~) , e daí a primeira equação fornece. Como
um único valor para x, qual seja

1 3(4 - m)
x = 2(3 - my) = 2(4 - m2).

Logo, o sistema é possível determinado para todo mi= ±2.


Sem= ±2, então a segunda equação se reduz a Oy = Hl
=f 2), a
qual representa uma igualdade impossível em qualquer caso. Logo, o e, analogamente, E3- :~ E 1 = b;y+c;z, basta então resolver o sistema
sistema é impossível em ambos os casos m = 2, m = -2. •
d1
Para uma interpretação geométrica do método do escalonamento d'2
para sistemas lineares de duas equações e duas incógnitas, veja o pro- d'3
blema 6.2.5 do volume 2.
Voltemos agora nossa atenção ao sistema da direita em (3.1). A onde d; = d2 - a1
ª 2 d1 e d'3 = d3 - fild
a1
1.
fim de analisá-lo, denote Ei = aix + biy + ciz para 1 S i S 3, de modo Caso todos os números b;, e;, b;, ~ sejam iguais a O, o sistema acima
que o mesmo se reduza a se reduz a
a1x + b1y + c1 z = d1
.{ o = d;
o = d;
Se d; i= O ou d; i= O, o sistema é impossível; se d;= d;= O, o sistema
Assim como para sistemas em duas variáveis, podemos supor que a 1 i= é possível indeterminado, uma vez que se resume à única equação
O (os outros casos são análogos). Trocando as equações E 2 = d2 e a1x + b1y + c1z = O, a qual possui obviamente uma infinidade de
E 3 = d 3 respectivamente por soluções.
Suponha, pois, que ao menos um dos números e;, b;, b;
ou e; é
não nulo, digamos b;
i= O (como antes, os outros casos podem ser
76 Sistemas de Equações 3.1 Sistemas lineares e eliminação 77

tratados analogamente). Então, aplicando o método do escalonamento b;


Como a1 e são não nulos, para cada valor real z = 'Y o sistema
ao sistema correspondente
b;y + c;z d'2
{
b;y + c;z d'3 '
obtemos um sistema da forma
é possível e determinado; portanto, o sistema original em x, y, z
é possível indeterminado.

Podemos resumir a discussão acima afirmando que o método de


eliminação para sistemas lineares
ainda equivalente ao sistema original. A discussão prossegue então
como antes, concentrando nossa atenção na terceira equação c~z = d~. a1x + b1y + c1z
Também como antes, há três casos: { a2x + b2y + c2 z
a3x + b3y + c3z
• Se c';-=/=- O, então a terceira equação acima-nos dá um valor único ,
consiste em executar a seu turno os três passos a seguir:
para z, digamos z = ,1; como b; -=/=- O, a substituição desse valor ·

na segunda equação fornece y = b~ (d; - c;z) = b~ (d; - c;,1) . . 1º Eliminar a variável x da segunda e da terceira equações, tro-
2 2
Finalmente, como a 1 -=/=- O, a substituição na primeira equação cando-as por elas mesmas somadas a múltiplos apropriados da
dos valores assim obtidos para y e z nos dá uma único valor primeira equação, obtendo um sistema da forma
para x, e concluímos daí que o sistema é possível determinado.

c';
• Se = Oe d~ -/=- O, o sistema é impossível, uma vez que a terceira
- se resume a a· z = d"3 .
equaçao

• Se e~ = d~ = O, então a terceira equação se resume à igualdade 2º Eliminar a variável y (caso b; -=/=- O) da terceira equação, trocando-
Oz = o,·e o sistema como um todo se resume a ª por ela mesma somada a um múltiplo apropriado da segunda
equação, obtendo um sistema da forma

ou, o que é o mesmo,

3º Analisar a equação e~ z = d~ a fim de decidir se o sistema original


é possível determinado, possível indeterminado ou impossível.
78 Sistemas de Equações 3.1 · Sistemas lineares e eliminação 79

Como antes, mais vale guardar os passos genéricos acima que quaisquer Finalizamos essa discussão inicial sobre sistemas lineares obser-
detalhes da discussão anterior. Vejamos mais um exemplo. vando que o método de eliminação pode ser facilmente generalizado,
de maneira a estudar o sistema linear com m equações e n incógnitas
Exemplo 3.3. Encontre todos os valores reais de m para os quais o
sistema de equações a11X1 + a12X2 +' '' + a1nXn

x+y-mz -1 a21X1 + a22X2 + · '' + a2nXn


(3.2)
{ 2x+my+z 1
mx+y-z 2

seja impossível. onde os aij e bi são reais dados, com nem todos os aij iguais a zer9.
Solução. Multiplicando a primeira equação respectivamente por 2 Contudo, como não faremos uso sistemático de tais sistemas nestas
e por m, e subtraindo, também respectivamente, os resultados assim. notas, não desenvolveremos aqui a generalização correspondente. O
obtidos da segunda e terceira equações, obtemos o sistema equivalente leitor interessado pode consultar o Capítulo 1 de [26] para uma discus-
são geral acessível e completa de sistemas lineares. Um caso particular
x+y-mz = -1 de interesse será examinado na seção 6.2 do volume 6 (cf. proposição
{ (m - 2)y + (1 + 2m)z = 3
6.10).
(1 - m)y - (1 - m 2 )z = 2 + m
Sem= 1, a última equação se resume à igualdade impossível O= 3, e
o sistema original é impossível. Se m #- 1, troque a segunda equação
Problemas - Seção 3.1
por ela mesma, somada a -7'_-~ vezes a terceira, obtendo o sistema
equivalente ax+by=e
1. Suponha que, no sistema linear { , tenhamos a, b,
x+y-mz -1 ex+ dy= f
{ (m2 +m-l)z -m 2 -3m+7
1-m
e, d, e, f #- O. Prove que:
(1 - m)y - (1 - m 2 )z 2+m
(a) ~ #- ~ {::} o sistema é possível determinado.
Se m 2 + m - 1 = O, i.e., m = -l~v5, o sistema é impossível, uma vez ª =
(b) e ab = ' t ema e
7e {::} o s1s , passive
, 1m' det ermma
· do.
que -m2 - 3m + 7 #- O para tais valores de m; se m #- -l~v5, então a
segunda equação nos dá um único valor possível para z, o qual, subs-
(c) ~ = ~ #- y{::} o sistema é impossível.
tituído na terceira equação, fornece por sua vez um único valor para 2. Em relação ao sistema linear (3.2), faça os seguintes itens:
y; por fim, tais valores para y e z, substituídos na primeira equação,
nos dão um único valor para x, e o sistema é possível determinado. (a) Se b1 = b2 = · · · = bm = O, prove que o sistema sempre tem
Logo, os valores procurados param são m _:_ 1 ou m = -l~v5. • pelo menos uma solução.
80 Sistemas de Equações 3.2 Miscelânea 81

(b) Se o sistema tiver pelo menos duas soluções, então ele terá Proposição 3.4. Dados números reais Se P, o sistema
uma infinidade de soluções.
{
X +y = S
xy p (3.3)
3. Encontre todos os valores reais de a para os quais o sistema de =
equações
X+ 2y-3z = 4 possui soluções reais se e só se 8 2 2: 4P. Nesse caso, as soluções são
{ 3x-y + 5z = 2 dadas por x = a, y = /3 ou vice-versa, onde a e /3 são as raízes da
4x + y + (a 2 - 14)z =a+ 2 equação de segundo grau u 2 - Su + P = O.

seja impossível. Prova. Note primeiro que, sendo a e /3 as soluções da equação u 2 -


Su + P = O, sabemos pelas fórmulas de Viête (cf. item (b) da propo-
4. Resolva o sistema de equações
sição 2.13) que a+ /3 =Se a/3 = P. Portanto, os pares x = a, y = f3
e x = /3, y = a satisfazem o sistema do enunciado.
Reciprocamente, seja x = x 0 , y = y0 uma solução qualquer do
sistema (3.3). Então a segunda equação nos dá P = x 0 y0 = x 0 (S-x 0 ),
ou ainda x5-Sx0 +P = O. Portanto, x 0 é raiz da equação u 2 -Su+P =.
O, donde segue que x 0 = a ou x 0 = (3. Como a+ f3 = S, temos duas
5. (OCM.) Encontre todas as soluções reais x 1 , x 2 , .•• , x 100 do sis- possibilidades:
tema linear
X1 + X2 + X3 o • Se x 0 = a, então a primeira equação do sistema nos dá y0
X2 + X3 + X4 o S - x 0 = S - a = /3.

• Se x 0 = /3, então, novamente pela primeira equação do sistema,


Xgs + Xgg + X100 o temos Yo = S - xo = S - /3 = a. •
Xgg + X100 + X1 o
X100 + X1 + X2 o Os exemplos a seguir mostram como reduzir a solução de sistemas
de equações mais complexos àquela de sistemas de um dos tipos mais
3.2 Miscelânea simples discutidos até o momento.

Voltando-nos ao estudo de outros tipos relevantes de sistemas de Exemplo 3.5. Encontre todas as soluções reais do sistema de equa-
ções
equações, a proposição a seguir mostra como resolver sistemas de
segundo grau. { (x
2 + 1) (y 2 + 1) = 10
( X + y) (xy - 1) = 3 .
82 Sistemas de Equações 3.2 Miscelânea 83

Solução. Escrevendo o primeiro membro da primeira equação como Algumas equações aparentemente complicadas podem ser resolvi-
das facilmente se encontrarmos uma maneira de transformá-las em
(x 2 + l)(y 2 + 1) x2y2 + x2 + y2 + 1
sistemas de equações. Não há procedimento geral que diga quando ou
(xy) 2 + [(x + y) 2 - 2xy] + 1, como isso pode ser feito, de modo que cada equação deve ser analisada
chamando x + y de a e xy de b, obtemos o sistema separadamente. O exemplo a seguir mostra que um truque algébrico
frequentemente útil nesse sentido é a introdução de novas variáveis.
b2 + a 2 - 2b = 9
{
a(b-1)=3 · Exemplo 3.6 (Israel). Encontre as soluções reais da equação

Escrevendo agora ~13 + X + ~4 - X = 3.


b2 + a 2 - 2b a 2 + (b2 - 2b + 1) - 1 Solução. Fazendo a= ~13 + x e b = ~4 - x = 3, obtemos a+b = 3
a2 + (b - 1) 2 - 1 e a 4 + b4 = (13 + x) + (4 - x) = 17, i.e., reduzimos o problema de
resolver a equação dada àquele de resolver o sistema
e fazendo a substituição b - 1 = e, obtemos finalmente o sistema
a+b = 3
a2 + c2 = 10 . {
{ a 4 + b4 = 17 .
ac= 3

Elevando a segunda equação ao quadrado e substituindo c2 = 10 - Utilizando duas vezes a fórmula (2.1) para o quadrado de uma soma,
a 2 no resultado, obtemos a equação biquadrada a 2(10 - a 2) = 9, de obtemos
maneira que a 2 = 1 ou 9 e, portanto, a= ±1 ou ±3. Temos então as
17 a 4 + b4 = (a2 + b2) 2 - 2a 2b2
possibilidades
[(a+ b) 2 - 2ab] 2 - 2(ab) 2
(a, e)= (1, 3), (-1, -3), (3, 1) ou (-3, -1) (9 - 2ab) 2 - 2(ab) 2
e, a partir daí, 81 - 36ab + 2(ab)2,

(a, b) = (1, 4), (-1, -2), (3, 2) ou (-3, O). ou ainda


(ab) 2 - 18(ab) + 32 = O.
Por fim, para cada um de tais pares a, b, obtemos um sistema do
tipo (3.3) em x, y . .Resolvendo os 4 sistemas assim obtidos, chegamos Resolvendo para ab a equação de segundo grau acima, obtemos ab = 2

às soluções reais ou ab = 16, e daí as duas seguintes possibilidades:

(x, y) = (1, -2), (-2, 1), (1, 2), (2, 1), (O, -3) ou (-3, O) • ab = 2, a+ b = 3: é imediato que, neste caso, a= 1 e b = 2 ou
vice-versa. Se a= 1, então 13 + x = 1 e daí x = -12. Se a= 2,
do sistema original.
• então 13 + x = 16 e daí x = 3.
Sistemas de Equações 3.2 Miscelânea 85
84

• ab = 16, a+ b = 3: neste caso, a e b seriam as raízes da equação Problemas - Seção 3.2


de segundo grau u 2 - 3u + 16 = O. Porém, tal equação não
1. (IMO.) Ache todos os ternos números reais x, y e z, tais que
admite raízes reais, uma vez que~= -55 < O. •
a soma de qualquer um deles com o produto dos outros dois é
Um procedimento relativamente comum para transformar uma e- sempre igual a 2.
quação em mais de uma incógnita em um sistema a ela equivalente faz
2. Seja a uma constante real não nula. Encontre todos os reais x, y
uso do seguinte
que resolvem o sistema
Lema 3.7. Se E 1 , E 2 , ... , En são expressões envolvendo uma ou mais
{ x:y + X
a+l
variáveis, então
x+y a

3. Resolva, para x, y E IR, o sistema de equações


(3.4)

Prova. É uma fácil generalização da prova do corolário 1.5 e do pro-


blema 13, página 16. • 4. (IMO - adaptado.) Considere o sistema de equações

Exemplo 3.8. Ache todas as soluções reais da equação ax~ + bx 1 + e = x2


{ ax~ + bx 2 + e = x3
ax~ + bx3 + e = x1

Solução. Podemos reescrever a equação dada na forma com incógnitas x 1 , x 2 , x 3 , onde a, b e e são reais dados, com a =I O.
Se~= (b - 1) 2 - 4ac, faça os seguintes itens:
(x 4 y 2 - 2x 2 y + 1) + (y 2 - 2y + 1) = O,
(a) Se ~<O, então não há solução real.
ou ainda
(x 2 y - 1) 2 + (y - 1) 2 = O. (b) Se ~ = O, então há exatamente uma solução real.

Assim, pelo lema anterior nossa equação equivale ao sistema 5. (Torneio das Cidades.) Encontre todas as soluções reais do sis-
tema
x 2 y- 1 = O , x 3 = 2y-1
{
y- l = o { y 3 = 2z -1 .
z 3 = 2x -1
cujas soluções y = 1, x = ±1 obtemos sem nenhuma dificuldade. •
86 Sistemas de Equações 3.2 Miscelânea 87

6. Resolva, para x, y E IR, a equação x 2 +2xy+3y 2 +2x+6y+3 = O. 14. (Romênia.) Ache todas as raízes reais da equação
7. (IMO.) Encontre todos os valores reais de a tais que o sistema
(em x, y e z)
J 4x 2 - x4 - 3+ J 4y2 - y4 + J 4z 2 - z4 +5 = 6.

x 2 + y 2 = 4z
{ 15. (Canadá.) Ache todas as soluções reais do sistema de equações
3x+4y+z = a
tenha uma solução única. 4x2
1+4x 2 = Y
{ 4y2 -
8. (NMC.) Ache todos os x, y, z reais maiores que 1 tais que 1+4:f2 - z
4z
1+4z 2 = X
3- + -
x+y+z+- 3- + -
x-l y-l z-l
3- = 2(vx + 2+ yíy+2 + Jz + 2)";
16. Para x > O real, prove que x + ~ 2:: 4. Em seguida, utilize esse
9. Ache todas as raízes reais da equação ,rx+s + ?'11 - x = 6. fato para resolver no conjunto dos reais positivos o sistema de
equações
10. Ache todas as raízes reais da equação J5 - J5="x = x.
x+1 = 5y
11. (Canadá.) Ache todas as raízes reais da equação x 2 + (x: 2
1) 2 = 3.
X
{ Y + 1 = 5z
4
z 4
z + 1X 5x
12. * Sejam E 1, E2, ... , En e Fi, F2, ... , Fn expressões tais que E 1 :::; 4

F1, E2:::; F2, ... , En:::; Fn. Prove que a equação 17. (União Soviética - adaptado.) Encontre todas as soluções reais
do sistema de equações
E1 + · · · + En = Fi + · · · + Fn
equivale ao sistema de equações x1+ 2Xl
E1 = F1 x2+2
x2

E2 = F2 X3+2
X3

13. (Romênia.) Sejam a, b, e e d números reais dados, tais que


a+ b+ e < 3d
b+ e+ d < 3a
e+ d+ a < 3b
d+ a+ b < 3c
Prove que a = b = e = d.
88 Sistemas de Equações

CAPÍTULO 4

Sequências Elementares

Uma sequência (infinita) de números reais é uma lista ordenada


infinita (a 1 , a 2 , a3 , .. . ) de números reais, i.e., uma lista infinita de nú-
meros reais na qual especificamos quem é o primeiro número da lista,
quem é o segundo, o terceiro, e assim por diante. É costume de-
notar uma sequência infinita como acima simplesmente por (ak)k;::,:I·
Uma sequência (finita) de números reais é uma lista ordenada finita
(a1, a2, ... , an) de números reais, i.e., uma lista finita de números reais
na qual, assim como com sequências infinitas, especificamos quem é o
primeiro número da lista, quem é o segundo, o terceiro, etc. Também
é costume denotar uma sequência finita como acima simplesmente por
(akh:Sk'.Sn· Em qualquer um dos casos acima, dizemos que ak é o kº
terrno 1 da sequência.

1 Lê-se k-ésimo termo.

89
90 Sequências Elementares 4.1 Fórmulas posicionais e recorrências 91

Nosso propósito neste capítulo é estudar alguns tipos elementares por a1 = 2, a2 = 5 e


de sequências que, pela frequência com que ocorrem na matemática
(4.1)
elementar, merecem lugar de destaque. Ao longo desse processo, es-
tabeleceremos também várias definições e propriedades válidas para Fazendo k = 3 na relação acima, obtemos a3 = 2a2- a 1 = 2 · 5- 2 = 8;
sequências em geral. Sempre que não houver perigo de confusão, nos fazendo agora k = 4, obtemos a4 = 2a3 - a 2 = 2 · 8 - 5 = 11, e assim
referiremos a sequências infinitas, deixando ao leitor a tarefa de adap- por diante. A relação (4-1) acima é a relação de recorrência, ou
tar os resultados e discussões porvir a sequências finitas. simplesmente a recorrência satisfeita pela sequência (ak)k>l·

É importante notar que só fomos capazes de calcular o valor do


4.1 Fórmulas posicionais e recorrências termo a3 porque conhecíamos de antemão, além da recorrência (4.1),
os valores dos dois primeiros termos, a 1 e a 2; conhecer somente o
Dizemos que a sequência (ak)k2'.l está definida por uma fórmula valor de a1 não bastaria, uma vez que (4.1) calcula cada termo em
posicional se os valores ak E IR forem dados por uma fórmula em k. função dos dois termos imediatamente anteriores. Por outro lado, se
mudássemos os valores de a 1 e a 2 (mas mantivéssemos a recorrência
Exemplo 4.1. A sequência (ak)k2'.l dos quadrados'perfeitos é a sequên-
acima), em geral i:nudaríamos os valores dos termos subsequentes da
cia (1 2, 22, 32, ... ). Portanto, temos a 1 = 12, a 2 = 22, a3 = 32 e, mais
sequência (faça a 1 = 1 e a 2 = 2 para a recorrência acima, por exemplo,
geralmente, ak = k2 para k ~ 1 inteiro.
e calcule o novo valor do terceiro termo).
Para sequências definidas por fórmulas pos1c10nais, é frequente- Observe também que há outras formas equivalentes de escrevermos
mente útil listar os termos da mesma a partir de zero, i.e., denotar a a recorrência anterior. De fato, chamando k-2 dej em (4.1), obtemos
sequência por (ak)k2'.0· Tal notação pode parecer estranha a princípio, k = j + 2, e daí
uma vez que o primeiro termo da sequência seria a0 , o segundo seria ªH2 = 2aJ+l - aj, \;/ j ~ 1
a 1, etc. No entanto, vezes há em que, a fim de simplificar a fórmula (uma vez que k ~ 3). Esse procedimento evidencia que o nome que
posicional que define os valores dos termos da sequência, é desejável se damos ao índice de uma sequência (i.e., j, k, etc.) não é relevante
fazer assim. Com tal notação alternativa, a sequência dos quadrados para sua definição; poderíamos mesmo escrevê-la como
perfeitos, por exemplo, seria dada por ak = (k + 1)2, para todo k ~ O. ·
Uma alternativa a fórmulas posicionais para os termos de uma
sequência é uma definição recursiva, ou por recorrência, dos mes-
Uma pergunta natural a esta altura é a seguinte: se uma certa
rrios. Tal procedimento consiste em especificar um ou mais termos
sequência está definida recursivamente, como podemos obter uma fór-
iniciais da sequência, bem como uma receita para calcular certo termo
mula posicional para seus termos? Infelizmente tal pergunta não ad-
em função dos (i.e., recorrendo aos) termos anteriores a ele.
mite uma resposta simples. Discutiremos alguns exemplos simples
Exemplo 4.2. Considere a sequência (ak)k> 1 definida recursivamente neste capítulo, postergando uma análise mais profunda desse problema
92 Sequências Elementares
4.2 Progressões 93
para o capítulo 3 do volume 4, ou ainda para as seções 3.5 e 6.2 do
Definição 4.3. Uma sequência (ak)k 21 de números reais é uma pro-
volume 6.
gressão aritmética (abreviamos P A) se existir um número real r tal
que a recorrência .
(4.2)
Problemas - Seção 4.1 seja satisfeita para todo inteiro k ;: : : 1.

1. Calcule os quatro primeiros termos da sequência (an)n 2 1 definida Na definição acima, o número real r, diferença comum entre dois
por a 1 = 1 e ak+l = a~ + ak + 1 para todo k 2:: 1. termos consecutivos quaisquer da PA, é denominado a razão da mesma.
Note ademais que, para uma PA estar completamente determinada é
2. Escreva uma fórmula posicional para cada uma das sequências necessário, além de sua razão r, conhecermos seu termo inicial a 1 . Por
a seguir: exemplo, a sequência (ak)k 21 dada por a 1 = 2 e ak+l = ak + 3 para
k;:::: 1 é uma PA de termo inicial 2 e razão 3, totalmente determinada
(a) (1, -2, 3, -4, 5, -6, 7, -8, ... ). pela recorrência que deve ser satisfeita e pelo valor 2 do termo inicial.
(b) ( ! ,i, i, t, i, ~, i, ! ,...)· No entanto, se soubéssemos apenas que ak+l = ak+3 para todo k;:::: 1,
não teríamos uma só PA, pois não saberíamos como começá-la.
(c) (1, !, 3, i, 5, i, 7, !, ...)·
Exemplo 4.4. Se (ak)k 21 é uma PA de razão r, prove que as sequên-
3. Seja (an)n 21 uma sequência de reais positivos satisfazendo a re- cias (bk)k 2 1 e (ck)k 2 1, definida por bk = a2k e ck = a2k-l para todo
ª:~
corrência ak+l = 3 1 , para k 2:: 1. Se (bn)n 21 , é a sequência k 2:: 1 inteiro, também são PA's, ademais de razões iguais a 2r.
definida para n 2:: 1 por bn = ª~, obtenha uma recorrência satis-
feita pela mesma. Prova. Analisemos a sequência (bk)k 21 (o caso da sequência (ck)k 21 é
totalmente análogo), para o que basta mostrarmos que bk+l - bk = 2r
4. Escreva uma recorrência para cada uma das sequências a seguir: para todo k 2: 1. Pela definição de bk e pelo fato de (ak)k> 1 ser uma
PA de razão r, temos
(a) (1,ltl,3,5,9,17,31,57,105,183, .. J.
(b) ( 1, 2, 22 , 222 , 2222 , ....
) ª2(k+1) - a2k = a2k+2 - a2k
(a2k+2 - a2k+1) + (a2k+1 - a2k)
r +r = 2r,
4.2 Progressões
Comecemos nosso estudo de sequências elementares discutindo as
conforme desejado.

Uma outra caracterização recursiva útil para PA's é a dada na
progressões aritméticas.
proposição a seguir.
94 Sequências Elementares 4.2 Progressões 95

Proposição 4.5. Uma sequência (ak)k 21 de números reais é uma PA concluímos que
seesóse
(4.3) + an =
a1 ( a2 - r) + (ªn-l + r) = a2+ ªn-l,
a2 + ªn-l = (a3 - r) + (an-2 + r) = a3 + ªn-2,
Prova. Por definição, a sequência é uma PA se e só se a 2 - a 1 =
a3 - a 2 = · · ·, i.e., se e só se, para todo k ~ 1 inteiro, tivermos etc. Logo, sendo S = a 1 + a 2 + · · · + an, temos
ak+ 2-ak+l = ªk+l -ak, que é uma maneira equivalente de escrevermos
(4.3). •
28 2(a1 + a2 + a3 + · · · + ªn-2 + ªn-l + an)
(a1 + an) + (a2 + ªn-1) + (a3 + ªn-2) + · · · + (an + ai)
O próximo resultado ensina mais algumas propriedades interes- (a1 + an) + (a1 + an) + (a1 + an) + · · · + (a1 + an)
santes e úteis de uma PA; em particular, ele ensina como obter uma n parcelas
fórmula posicional para os termos de uma PA. O leitor deve se esforçar
para guardar as fórmulas nele constantes.

Proposição 4.6. Se (ak)k 21 é uma PA de razão r, então


e a fórmula segue.

As fórmulas dos itens (a) e (b) da proposição acima são conhecidas



(a) ak = a 1 + (k - l)r, para todo k ~ 1. respectivamente como a fórmula para o termo geral e a fórmula para
a soma dos k primeiros termos de uma PA. Vejamos dois exemplos de
aplicação das mesmas.

Prova. Exemplo 4. 7. Calcule a soma dos k primeiros inteiros positivos ím-


(a) .O diagrama pares.

Solução. Os inteiros positivos ímpares formam a PA 1, 3, 5, 7, ... , de


razão 2. O k-ésimo termo da mesma (o k-ésimo inteiro positivo
ímpar!) é, pela fórmula para o termo geral de PA's, igual a 1 + (k -
deixa claro que, para chegar a ak a partir de a 1 , são necessários k - 1
1) · 2 = 2k - 1. Logo, a soma dos k primeiros inteiros positivos ímpares
passos, onde cada passo se resume a somar r a um termo. Logo, para
é, pelo item (b) da proposição anterior, igual a k[l+(~k-l)] = k2. •
obter ak temos de somar, ao todo, (k - l)r a a 1 , de maneira que
ak = a1 + (k - 1)r. Exemplo 4.8. Considere a sequência (ak)k> 1 dada por a 1 = 1e

(b) A partir do diagrama ªk - - ªk


--
+l - 1 + 2ak
+r +r +r -r -r -r para todo k ~ 1 inteiro. Calcule ak em função de k.
ª1 - ª2 - a3 - . "" - ªk-2 - ªn-l - an
96 Sequências Elementares 4.2 Progressões 97

Solução. É claro que os termos da sequência em questão são todos Uma outra caracterização recursiva útil para (quase todas as) PG's
positivos, de maneira que podemos definir a sequência (bk)k?. 1 pondo é a dada na proposição a seguir.
bk = _.!._. A recorrência do enunciado nos dá então
ªk Proposição 4.11. Uma sequência (ak)k?.l de números reais não nulos
1 1 + 2ak 1 é uma PG se e só se
bk+l = - - = = - + 2 = bk + 2,
ªk+l ªk ªk
(4.5)
e daí (bk)k?.l é uma PA de termo inicial b1 = ; 1 = 1 e razão 2.
Portanto, tal PA coincide com aquela dos inteiros positivos ímpares, Prova. Por definição, a sequência é uma PG (de razão q) se e só se
e o exemplo anterior nos dá bk = 2k - 1 para todo k ;?: 1. Logo, ª2 a3 a4
------···-q
1 1 a3 '
ªk = - =
bk 2k - 1
. • a1 a2

i.e., se e só se, para todo k ;?: 1 inteiro, tivermos ªk+ 2


ªk+l
= ªk+i
ªk '
que é
Outra classe bastante útil de sequências é a formada pelas progres- · uma maneira equivalente de escrevermos (4.5). •
sões geométricas, de acordo com a definição a seguir.
Mantendo nosso paralelo com o desenvolvimento da teoria das
Definição 4.9. Uma sequência (ak)k?.l de números reais é uma pro- PA's, o próximo resultado traz as fórmulas para o termo geral e
gressão geométrica (abreviamos PG) se existir um número real q para a soma dos k primeiros termos de uma PG. Também como com .
tal que a recorrência PA's, tais fórmulas devem ser guardadas para uso futuro.
ªk+l = q. ªk (4.4)
Proposição 4.12. Se (ak)k?. 1 é uma PG de razão q, então:
seja satisfeita para todo inteiro k ;?: 1.
(a) ak = a1 · qk-1, para todo k;?: 1.
Assim como com PA's, o real q que aparece na definição de uma
PG é a razão da mesma. Observe que, se q = O, então ak = O para (b) Se q #- 1, então a1 + a2 + · · · + an = ªn+i-ai para todo n > 1.
q-1 ' -
todo k > 1. Por outro lado, se q = 1, então ak = a 1 para todo k ;?: 1.
Prova.
Também como com PA's, uma PG (ak)k>l só estará completamente
determinada se dela conhecermos o primeiro termo a 1 e a razão q. (a) A prova que apresentamos guarda estreito paralelo com aquela
relativa ao termo geral de PA's (veja a prova do item (a) da proposi-
Exemplo 4.10. Fixado um real não nulo q, a sequência (ak)k?.l, dada ção 4.6): o diagrama
para k ;?: 1 por ak = qk (i.e., a sequência formada pelas potências
·q ·q ·q ·q ·q
de q com expoentes naturais) é uma PG de razão q. Se q < O, o ª1 - a2 - a3 - ···- ªk-1 - ak
problema 17, página 17, garante que ak = qk é positivo se e só se k for
par; se O < q < 1, o corolário 1.3 garante que a 1 > a 2 > a3 > · · · > O; deixa claro que, para chegar a ak a partir de a 1 , são necessários k - 1
se q > 1, novamente aquele resultado garante que O < a 1 < a 2 < a3 < passos, onde cada passo se resume a multiplicar um termo por q.
Logo, temos de multiplicar a 1 por q um total de k - 1 vezes, e daí
98 Sequências Elementares 4.2 Progressões 99

O propósito do exemplo a seguir é chamar atenção para o fato


Í" de que a ideia utilizada na prova do item (b) da proposição 4.12 é
11:.
1 (b) Denote por Sn a soma desejada, i.e., Sn = a1 + a2 + · · ·+ an; segue importante em si, devendo, portanto, ser guardada pelo leitor.
l.,i então de (4.4) que
Exemplo 4.14. Calcule o valor da soma
qSn q(a1+ a2 + · · · + ªn-1 + an)
qa1 + qa2 + · · · + qan-1 + qan 2 . 1 + 7 . 3 + 12 . 3 2 + 17 . 33 + ... + 497 . 399 + 502 . 310º'
a2 + a3 + · · · + an + an+ 1· onde, da esquerda para a direita, a kª parcela é igual ao produto do
k2 termo da PA 2, 7, 12, ... , 502 pelo k2 termo da PG 1, 3, 3 2 , ... , 3100.
Portanto,
Solução. Imitando o argumento usado na prova do item (b) da propo-
(q - l)Sn qSn - Sn sição 4.12, denotemos por S a soma pedida e calculemos 3S (utilizamos
(a2 + a3 + · · · + an + an+1) - (a1 + a2 + · · · + an) o fator 3 por se tratar da razão da PG envolvida!):
( a2 + a3 + · · · + an) + an+l - a1 - ( a2 + · · · + an)
3S = 2 · 3 + 7 · 3 2 + 12 · 3 3 + 17 · 34 + · .. + 497 . 310º + 502 . 3101 .
Portanto,
onde, na última passagem, cancelamos as duas ocorrências da parcela
a 2 + a 3 + · · ·+ an. Basta agora dividir ambos os membros da igualdade 2S 3S-S
(q - 1) S = an+l - a1 por q - l. •
(502 . 3 101 - 2) - 5(3 + 3 2 + 33 + 34 + ... + 310º)
Exemplo 4.13. Seja (ak)k~ 1 uma PA de números naturais, de razão (502. 3 101 - 2) - ~(3 101 - 3),
r > O, e (bk)k~ 1 uma PG de números reais não nulos, de razão q.
Considere a sequência (ck)k~ 1 tal que ck = bªk para todo k ~ 1 inteiro. onde, na última passagem, utilizamos a fórmula do item (b) da pro-
Prove que a mesma é uma PG de razão qr. posição 4.12. Efetuando os cálculos restantes, obtemos S = i(999 .
3101 + 11). •
Prova. Basta mostrarmos que a razão entre dois termos consecutivos
da sequência (ck)k~ 1 é sempre igual a qr, para o que utilizamos as
fórmulas para o termo geral de PA's e PG's, assim como o resultado
do problema 15, página 17: Problemas - Seção 4.2

• l. Mostramos, abaixo, as quatro primeiras linhas de uma tabela


infinita, formada por números naturais, onde, para i > 1, a
100 Sequências Elementares 4.2 Progressões 101

linha i começa à esquerda por i e tem dois números a mais que 10. (Canadá.) Seja an a soma dos n primeiros termos da sequência
a linha i - 1. Calcule a soma dos termos da linha n.
O, 1, 1, 2, 2, 3, 3, 4, 4, ... , r, r, r + 1, r + 1, ....
1
2 3 4 (a) Obtenha uma fórmula para an em função de n.
3 4 5 6 7 (b) Prove que ªm+n - ªm-n = mn para todos os m e n naturais
4 5 6 7 8 9 10 tais que m > n.

2. Mostre que o número 11 ... 1 (n algarismos 1) é igual a 10~- 1 . 11. (Canadá.) Mostre que os números v'2, v'3 e v'5 não são todos
termos de uma mesma PA.
..___.
3. Calcule a soma 1 + 11 + 111 + · · · + 11 ... 1 em função de n .
12. Seja (ak)k 2 1 uma PG de razão q. Prove que, para n 2:: 1 inteiro,
n
temos
4. Se (ak)k 2 1 é uma PA de razão r, prove que a sequência (bk)k 21 ,
definida por bk = a~+l - a~, para todo k 2:: 1, também é uma
PA, e calcule sua razão em função de r. 13. Calcule o valor da soma
5. Seja (ak)k 21 uma PA de razão não nula e p, q, u, v naturais dados. 1 3 5 99
Prove que 2 + 22 + 23 + ... + 2so '
na qual a kª parcela da esquerda para a direita é igual ao quo-
ciente entre o kQtermo da PA 1, 3, 5, ... , 99 e o kQ termo da PG
6. Seja (ak)k 21 uma progressão aritmética de razão r #- O. Se : 1
2' 22' 23' ... ' 2so.
for um inteiro não negativo, prove que a soma de dois termos
quaisquer da PA também é um termo da PA. 14. (Macedônia.) Em uma PA não constante de números reais O
'
7. Seja (ak)k 21 uma PA tal que ap = a e aq = /3, com p #- q. quociente entre o primeiro termo e a razão é um número irra-
Calcule, em função de p, q, a, /3, o termo ap+q· cional. Prove que não há três termos distintos dessa P A que
estejam em PG.
8. (Romênia.) Uma soma finita de inteiros ímpares e consecutivos
(mais de um inteiro) é igual a 73 . Encontre tais números. 15. A sequência (ak)k 2 1 é uma progressão aritmético-geométrica se,
para cada inteiro k 2:: 1, tivermos ak = bkck, onde as sequências
9. A PA (akh>i é formada por naturais dois a dois distintos. Prove (bk)k21 e (ck)k 2 1 são respectivamente uma PA e uma PG. Cal-
que ela contém infinitos naturais compostos2 dentre seus termos. cule, em função de n, b1, c1 e das razões q, r respectivamente da
2 Recordamos (cf. introdução ao capítulo 1) que um natural n > 1 é composto PA e da PG, o valor da soma dos n primeiros termos de uma tal
se pudermos escrever n = ab, para certos naturais a, b > 1. sequência (ak)k 21 .
102 Sequências Elementares 4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3 103

16. Calcule, em função de n, o nº termo da sequência (ak)k2:1 dada onde r e s são constantes reais dadas, não ambas nulas. Consoante
por a 1 = 2 e ak+l = 2ak - 1 para todo inteiro k ;?: 1. o caso das PG's, uma tal recorrência é dita linear, de segunda or-
dem e com coeficientes constantes, em alusão ao fato de que cada
17. A sequência (an)n2:l satisfaz a1 = 1 e ak+l = 3ak -1 para k ;?: 1. termo, a partir do terceiro, é uma combinação linear com coeficientes
Faça os seguintes itens: constantes (i.e., uma soma de múltiplos constantes) dos dois termos
imediatamente anteriores.
(a) Se bn = an - !, prove que bk+l = 3bk para k;?: 1. Para sequências (an)n2: 1 satisfazendo recorrências como (4. 7), o te-
(b) Escreva os cinco primeiros termos de (bn)n2:1 e obtenha, em orema 4.16 a seguir ensina como calcular an em função de n. Antes de
seguida, a fórmula posicional correspondente. apresentá-lo, ilustremos a ideia por trás de sua prova com um exemplo
algébrico em que r e s têm valores dados.
(c) Obtenha uma fórmula posicional para ªn·
Exemplo 4.15. Seja (an)n2:1 a sequência dada por a 1 = 1, a 2 = 7 e,
18. Prove que não existe uma PG que tenha os números 2, 3 e 5
para k;?: 1 inteiro, ak+2 = 8ak+l - 15ak. Calcule an em função de n.
como três de seus termos.
Solução. Para k ;?: 1 inteiro, temos

4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3


Vimos, na seção anterior, que uma sequência (an)n2:1 é uma PG Assim, a sequência (bk)k2: 1 tal que bk = ak+l - 3ak é uma PG de
se, e somente se, satisfaz uma recorrência da forma (4.4), i.e., se, e razão 5 e termo inicial b1 = a 2 - 3a 1 = 7 - 3 = 4, de modo que
somente se, bk = b1 · 5k-l = 4 · 5k- 1. Analogamente, para k ;?: 1 inteiro temos
(4.6)

para todo inteiro k ;?: 1, onde q é uma constante real não nula. Di-
zemos que a recorrência (4.6) é linear, de primeira ordem e com de modo que a sequência (ck)k2:l dada por ck = ak+l - 5ak é uma PG
coeficientes constantes, em alusão ao fato de que cada termo, a de razão 3. Uma vez que seu termo inicial é c1 = a 2 -5a 1 = 7 -5 = 2,
partir do segundo, é um múltiplo constante do termo imediatamente segue que ck = c1 · 3k-I = 2 · 3k-I _ Portanto, para todo inteiro k ;?: 1
temos o sistema de equações
anterior.
Vimos, também, que uma sequência (an)n2:1 é uma PA se, e so-
mfü1te se, satisfaz a recorrência (4.3). Nesta seção, nosso primeiro
propósito é estudar a classe mais geral das sequências (an)n2:1 que
satisfazem recorrências do tipo e, subtraindo membro a membro as relações acima, obtemos

(4.7) •
104 Sequências Elementares 4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3 105

O procedimento exposto no exemplo acima pode ser facilmente Consideremos primeiro o caso a -=!=- f3. Subtraindo membro a mem-
generalizado, conforme ensina o resultado a seguir. bro as relações acima, segue que
Teorema 4.16. Seja (an)n2'.l uma sequência de números reais tal que,
para todo k ~ 1 inteiro, tenhamos

denotando
A= ª2 - f3a1 e B = _ a2 -aa1
onde r e s são constantes reais dadas, não ambas nulas. Se a equação a-(3 a-(3
x2 + rx + 8 = O tiver raízes reais a e /3, então existem constantes reais obtemos a fórmula do item (a).
A e B, determinadas pelos valores de a1 e a2, tais que:
Caso seja a = /3, as duas relações (4.8) são iguais, de modo que
(a) Se a-=!=- (3, então an = Aan-l + B/3n-l para todo n ~ 1. não temos informação suficiente para calcular ak. Usamos, então, o
seguinte artifício: é imediato verificar que as sequências uk = ak-l e
(b) Se a= (3, então an =(A+ B(n - l))an-l para todo n? 1. vk = (k-l)ak-l (o mesmo a que antes, raiz da equação x 2+rx+s = O)
satisfazem as recorrências
Prova. Lembre que a+ /3 = -r e a/3 = s. Assim, (4.7) pode ser
{ Uk+2 + ruk+l + SUk = Ü
reescrita como
vk+2 + rvk+l + svk = O

(cf. problema 4); portanto, fixados A, BE C, a sequência zk = Auk +


ou ainda, para todo inteiro k ~ 1,
Bvk satisfaz a recorrência
ak+2 - aak+l = f3(ak+l - aak)
{
ak+ 2 - f3ak+l = a(ak+l - f3ak)

Definindo bk = ak+l - aak e ck = ak+l - f3ak, segue das relações acima ' (cf. problema 5). Assim, a ideia é procurarmos números reais A e
que (bk)k2'. 1 e (ck)k2:l são PG's de razões respectivamente iguais a /3 e a, B tais que, para todo inteiro k ~ 1, tenhamos ak = zk. Como tais
e termos iniciais respectivamente iguais a b1 = a2-aa1, C1 = a2 -f3a1. sequências satisfazem relações de recorrência idênticas, o problema 9,
Portanto, a fórmula para o termo geral de uma PG nos dá página 136, garante ser suficiente acharmos números reais A e B tais
que a1 = z1 e a 2 = z 2, ou seja, tais que

{
a1 = A
ou seja, a2 = (A+B)a
(4.8)
mas isso pode claramente ser feito, uma vez que a=-; -=!=- O.

106 Sequências Elementares , 4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3 107

Na prática, utilizamos as fórmulas do teorema anterior do seguinte •. para todo inteiro k ~ 1. Mais precisamente, mostremos que
modo: dada uma sequência (an)n:::,: 1 tal que
F __ 1 { ( 1+
n - J5 . 2 J5) n
-
( 1_ J5) n}
2 , Vn ~ 1. (4.10)

para todo inteiro k ~ 1, onde r, s são constantes reais dadas e r-=/=- O, · Solução. A recorrência da sequência de Fibonacci pode ser escrita
calculamos as raízes reais da equação como Fk+2 - Fk+l - Fk = O e, portanto, tem equação característica
x 2 - x - 1 = O. Send~ a = 1+2v'5 e /3 = 1 - 2v'5 as raízes da mesma, segue
x2 + rx + s = O, do item (a) do teorema 4.16 que

denominada a equação característica da recorrência (4. 7). Obser-


vamos em seguida se a -=/=- /3 ou a = /3 e usamos, conforme o caso, as
onde A e B são tais que F 1 = F 2 = 1 (lembre que esses são os va-
fórmulas dos itens (a) ou (b) da proposição anterior. Para encontrar
lores dos dois termos iniciais da sequência de Fibonacci). Fazendo
as constantes A e B no caso a -=/=- /3, resolvemos o sistema
sucessivamente n = 1 e n = 2 na fórmula acima para Fn, obtemos o
a1 = A+ B sistema
{ A+B 1
a2 = Aa + B/3 {
aA+ /3B 1
no caso a = /3, resolvemos o sistema Multiplicando a primeira equação por a e subtraindo a segunda equa-
ção do resultado, obtemos (a - /3)B = a - 1. Mas, como a+ f3 = 1 e
a1 = A
{ a- /3 = J5, podemos escrever essa última equação como J5B = -/3,
a2 = (A+ B)a
donde B = - jg. Analogamente, multiplicando a primeira equação
Em ambos os casos acima, as equações dos sistemas são obtidas fa- .· por /3 e subtraindo o resultado da segunda equação obtemos A = ..Q...
. ) v'5'
zendo k respectivamente igual a 1 e 2 nas fórmulas dos itens (a) ou · de maneira que
(b).

Exemplo 4.17. Executemos o programa acima para obter uma fór-


mula posicional para obter uma fórmula posicional para o nº termo
da célebre sequência de Fibonacci3 , i.e., a sequência (Fn)n:::,: 1 , dada
justificando a fórmula (4.10).

por F1 = 1, F 2 = 1 e O exemplo a seguir mostra outra situação em que o teorema 4.16
(4.9) pode ser aplicado, ainda que tal aplicação não seja imediata.

3A sequência de Fibonacci desempenha um papel relevante em Combinatória, Exemplo 4.18. Seja (an)n:::,: 1 uma sequência de números reais satis-
conforme veremos no volume 4. fazendo a recorrência ak+l = rak + s para todo k ~ 1, onde r e s são
108 Sequências Elementares 4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3 109

constantes reais dadas, com r -=f. O, 1 (não precisamos considerar r = 1,


De acordo com o problema 9, página 66, uma tal equação admite, no
uma vez que nesse caso (an)n:::::1 é uma PA). Para todo k ~ 1, temos•
máximo, três raízes reais. No que segue, assumiremos que ela possui,
ak+2 - rak+l = s = ak+l - rak ou, ainda, de fato, três raízes reais, digamos a, /3 e 'Y· Temos, então, o seguinte
resultado.

Teorema 4.19. Seja (an)n>l uma sequência de números reais tal que,
uma recorrência linear de segunda ordem com coeficientes constantes.
para todo k ~ 1 inteiro, tenhamos
A equação característica correspondente,

x2 - (r + l)x + r = O,
onde r, s e t são constantes reais dadas, não todas nulas. Se a equação
tem raízes r e 1, de maneira que an = Arn-l + B. Lembrando que:
característica x 3 + rx 2 + sx + t = O tiver raízes reais a, /3 e 'Y, então
a 2 = ra 1 + s, as constantes A e B podem ser obtidas resolvendo-se .o ·
existem constantes reais A, B e C, determinadas pelos valores de a 1 ,
sistema °'2 e a3 , tais que:
{ A+B = a1 , .
Ar+ B = ra1 + s (a) Se a #- /3 #- "( #- a, então an = Aan-l + B13n-l + C"(n- 1, para
portanto, A= a 1 e B = s, de sorte que todo n ~ 1.

(b) Se a= /3 #-"(,então an =(A+ B(n - l))an-l + C"(n- 1, para


todo n ~ 1.
Voltemo-nos, agora, às recorrências lineares de terceira ordem e
com coeficientes constantes. Como o leitor deve estar imaginando, 1 (e) Se a= /3 ="(,então an = (A+ B(n -1) + C(n- l)2)an- 1 , para
todo n ~ 1.
nesse caso temos uma sequência (an)n::::: 1, que satisfaz uma relação de
recorrência da forma Prova. Façamos um esboço da prova, deixando os detalhes a cargo
do leitor (cf. problema 6).
(4.11) ·
Seja (bn)n:::::1 a sequência dada por bn = an- 1, para todo n ~ 1.
para todo inteiro k ~ 1, onde r, s e t são constantes reais dadas, não Como a 3+ra 2+sa+t = O, temos também ak+ 2+rak+ 1+sak+tak-l =
todas nulas. Oou, ainda,
Analogamente ao caso de recorrências lineares de segunda ordem, bk+3 + rbk+2 + sbk+l + tbk = O,
definimos a equação característica de (4.11) como a equação poli- para todo k ~ 1. Portanto, a sequência (bn)n::::: 1 satisfaz a mesma
nomial de terceiro grau recorrência que a sequência (an)n2".l · Analogamente, as sequências
(cn)n:::::1 e (dn)n:::::1, dadas para n ~ 1 por Cn = 13n-l e dn = "(n-l,
x 3 + rx 2 + sx + t = O. satisfazem a mesma recorrência que a sequência (an)n:::::1-
110 Sequências Elementares · 4.3 Recorrências lineares de ordens 2 e 3 111

Consideremos, agora, os casos (a), (b) e (c) separadamente: para todo inteiro k ~ 1. Explicite an em função de n.

Solução. A recorrência em questão tem equação característica x 3 -


(a) Para todos A, B, CE JR, a sequência (un)n::::1 tal que Un = Aan-l + , 6x 2 + 12x - 8 = O. Mas, como x 3 - 6x 2 + 12x - 8 = (x - 2) 3 , temos,
B (3n-l + C 1 n- l para n ~ 1 satisfaz a mesma recorrência que a sequên- pelo item (c) do teorema anterior, que
cia (an)n>l· Por outro lado, como a #- (3 #-"(#-a, podemos escolher :
A, B e C de tal forma que u 1 = a 1 , u 2 = a 2 e u3 = a3. Portanto,
apelando novamente para o resultado do problema 9, página 136, con-
onde A, B e C são constantes apropriadas. Agora, as condições iniciais
cluímos que Un = an, para todo n ~ 1.
fornecem o sistema de equações
(b) O resultado do problema 9, página 66, fornece A= 1
{ A+B+C=2
x 3 + rx 2 + sx + t = (x - a )2 (x - "().
A + 2B + 4C = 7/2
A partir daí, é fácil mostrar que a sequência bn = (n - l)an_- 1 tam-
cuja solução é A= 1, B = 3/4, C = 1/4. Daí, obtemos
bém satisfaz a mesma recorrência que a sequência (an)n::::1· Como '
no item (a), para todos A, B, C E JR, a sequência (un)n:::: 1 tal que
an = ( 1 + ~(n - 1) + ~(n - 1) 2 ) . 2n-l
un = (A+ B(n - l))an-l + C,yn-l para n ~ 1 satisfaz a mesma recor- 1
rência que a sequência (an)n2'.l· Também podemos escolher A, B e C , = (n 2 + n + 2) · 2n- 3 • 1
de tal forma que u 1 = a 1 , u 2 = a 2 e u 3 = a3 , de modo que, invocando .
uma vez mais para o resultado do problema 9, página 136, concluímos Terminamos esta seção observando que a análise de sequências de-
que Un = an, para todo n ~ 1. finidas por recorrências lineares, de coeficientes constantes e ordens
quaisquer, será levada a termo no capítulo 7 do volume 6.
(c) O resultado do problema 9, página 66, fornece

x 3 + rx 2 + sx + t = (x - a)3.
Problemas - Seção 4.3
É, agora, fácil mostrar que as sequências bn = ( n - 1)an-l e Cn =
(n -1)2an-l satisfazem a mesma recorrência que a sequência (an)n::::1, l. Seja (an)n::::1 a sequência dada por a 1 = 1, a 2 = 4 e, para todo
de sorte que o mesmo sucede com Un = (A+B(n-l)+C(n-1) 2 )an- 1 . inteiro positivo k, ak+ 2 = 5ak+l - 6ak. Calcule ari em função de
O resto é como nos itens (a) e (b). • n.

Exemplo 4.20. Seja (an)n::::1, a sequência tal que a1 1, ª2 = 4, 2. Seja (an)n::::1 a seqüência dada por a 1 = 3, a 2 = 5 e, para k ~ 1
a3 = 14 e inteiro, ak+2 = 3ak+l - 2ak. Prove que an = 2n + 1 para todo
n EN.
112 Sequências Elementares 4.4 Somatórios e produtórios 113

3. Seja (an)n21 a sequência dada por a 1 = 3 e ak+l = 2ak - 1 para 4.4 Somatórios e produtórios
k 2: 1. Calcule an em função de n.
Introduzimos agora as notações L (lê-se sigma) para somas e TI
4. * Se a equação x 2 + rx + s = O tem duas raízes iguais a a, prove (lê-se pi) para produtos, as quais se revelam muito úteis no contexto
que as sequências uk = ak-l e vk = (k - l)ak-l satisfazem as de sequências.
relações de recorrência
Definição 4.21. Dada uma sequência (ak)k21, escrevemos 1 aj I:7=
para denotar a soma a 1 + a 2 + · · · + an, e lemos o somatório dos aj,
{ uk+2 + ruk+l + suk
o para 1 ::::;; j ::::;; n. Assim,
vk+2 + rvk+l + svk o
L aj =
n { a1
+ a2 + · · · + an
, se n = 1
se n > 1
5. * Se as sequências (un)n21 e (vn)n21 satisfazem as recorrências j=l a1

de segunda ordem uk+2+ruk+1 +suk = Oe vk+ 2+rvk+l +svk = O Como caso particular da definição acima, se (ak)k 21 for uma sequên-
para todo k 2: 1, prove que a sequência (zn)n 21 dada para k 2: 1 cia constante, digamos com ak = e para todo k 2: 1, teremos clara-
por zk = Auk + Bvk (onde A e B são const~ntes reais) satisfaz mente
n n
uma recorrência análoga, Zk+ 2 + rzk+l + szk = O.
Lªj = Lc = nc.
j=l j=l
6. * Complete a prova do teorema 4.19.
Uma das utilidades da notação L se deve ao fato dela tornar fácil
7. Em relação à sequência (an)n21, tal que a1 = 1e a manipulação de somas com grande número de parcelas, ainda mais
quando cada parcela for, ela mesma, uma soma. Por exemplo, dadas
sequências (akh21 e (bk)k 21 , a associatividade e a comutatividade da
adição de reais garantem que

para n 2: 1,faça os seguintes itens:

(a) Se bn = Jl + 24an, prove que 2bn+l = bn +3 para todo


com o uso da notação L, essa igualdade se escreve de forma bem mais
compacta, como
n 2: 1.
n n n
(b) Mostre que bn = 3+ 2~ para todo n 2: 1. (4.12)
j=l j=l j=l
(c) Conclua que, para todo n 2: 1, temos
Por outro lado, dado e E JR., a distributividade da multiplicação em
relação à adição nos dá

e( a1 + a2 + · · · + an) = ca1 + ca2 + · · · + can,


114
Sequências Elementares·. 4.4 Somatórios e produtórios 115

igualdade que se escreve, com a notação L, como Uma fórmula equivalente (obtida da fórmula acima esc.revendo n +1
n n no lugar de n), que será por vezes utilizada no lugar de (4.14), é
cLªi = Lcªi· n
(4.13).
j=l j=l L(aj+l - aj) = an+l - a1, (4.15)
j=l
Em outras palavras, é possível partir um somatório de somas em dai
t s. Uma qualquer das fórmulas (4.14) ou (4.15) é conhecida como a
ou ros somatórios, bem como pôr uma constante em evidência em um ;
somatório. '. fórmula para uma soma telescópica. A ideia por trás do nome é
a seguinte: assim como olhando num telescópio encurtamos a imensa
Exemplo 4.22. Calcule, em função de n E N, 0 valor da soma / distância de um corpo celeste a nossos olhos, a fórmula acima encurta
I:;=1 (2k + 1). O caminho entre uma soma inicial de muitas parcelas e o cálculo do

resultado da mesma.
Solução. Aplicando as propriedades acima, obtemos A fórmula da soma telescópica é uma das principais vantagens da
notação L· Justifiquemos essa afirmação examinando dois exemplos
n n n n
interessantes.
I:(2k + 1)
k=l
I:2k+ I:1 = 2I:k+n
k=l k=l k=l Exemplo 4.23. Deduza a fórmula para o termo geral de uma PA
n(n + 1) utilizando a fórmula da soma telescópica.
2· +n = n 2 + 2n
2 '
Solução. Se a sequência (ak)k:2".l é uma PA de razão r, então (4.15)
o~de a penúltima igualdade segue da fórmula do item (b) da proposi- fornece
çao 4.6. • n-l n-l
an - a1 = L(ªHl - aj) = L
r = (n - l)r,
j=l j=l
A notação L é particularmente útil para fazermos cancelamentos
em somas. Mais precisamente, dada uma sequência (ak)k:2".l, efetuando
os cancelamentos intermediários na soma
donde an = a1 + (n - l)r. •
Para o próximo exemplo, dizemos que uma sequência (ak)k>l é
uma PA de segunda ordem se a sequência (bk)k:2".l, dada para k 2: 1
por bk = ak+ 1 - ak, for uma PA não constante. Para construir uma
PA de segunda ordem (ak)k>l, podemos começar com uma PA não
obtemos an - a1 como resultado. Com o uso da notação L, podemos constante, por exemplo
escrever a igualdade acima como
(3, 7, 11, 15, 19, 23, 27, ... ).
n-l
L(aj+l - aj) = an - a1. (4.14) Em seguida, estipulamos o termo inicial da PA de segunda ordem,
j=l digamos a 1 = 2 e, a partir daí, calculamos a 2 , a3 , . . . a partir das
:, i
1
116 Sequências Elementares 4.4 Somatórios e produtórios 117

relações a2 - a1 = 3, a3 - a2 = 7, a4 - a3 = 11, etc. Obtemos assim, Em que pesem os exemplos acima, se quisermos utilizar a fórmula
para a PA dada acima, a PA de segunda ordem para a soma telescópica para calcular somas L-]= 1 bi de termos de
uma sequência dada (bk)k::::: 1, teremos primeiro de conseguir enxergar
(2, 5, 12, 23, 38, 57, 70, ... ).
as parcelas bi como diferenças ªi+i - ai entre termos consecutivos de
V~mos a partir desse exemplo que uma PA de segunda ordem só fica uma mesma sequência (ak)k::::: 1. A dificuldade nesse raciocínio é que
totalmente determinada se conhecermos seus três primeiros termos. não sabemos de antemão quem é a sequência (ak)k2'.l· Vejamos alguns
De fato, só sabendo seus três primeiros termos é que teremos os dois exemplos:
primeiros termos da PA não constante formada pelas diferenças.
Exemplo 4.25. Considere a sequência (ak)k> 1 dada por a 1 = 1 e
Exemplo 4.24. Dada uma PA de segunda ordem (ak)k::::: 1, prove que
a --- ªk -
(n - l)(n - 2)r k+l - 1 + kak
an = a1 + (a2 - ai)(n - 1) + 2 , (4.16)
para todo inteiro positivo k. Calcule an em função de n.
onde r = a3 - 2a2 + a 1 é a razão da PA não constante formada pelas
diferenças entre termos consecutivos de (ak)k>l· Solução. Como os termos da sequência (ak)k2'.l são todos positivos
(por quê?), podemos definir a sequência (bk)k::::: 1 pondo bk }k A
Solução. Denote bk = ªk+i - ak para todo k ~, 1. As fórmulas da relação do enunciado nos dá então
soma telescópica e para a soma dos termos de uma PA finita nos dão
1 1 + kak 1
~ ~
(n - l)(b1 + bn-1) . bk+l = - - = =- + k = bk + k,
an - a1 = L..,,(aj+l - aj) = L..,, bj = 2 ªk+1 ak ak
j=l j=l de maneira que, pela fórmula para somas telescópicas,
Por outro lado, aplicando a fórmula para o termo geral de uma PA, n-1 n-1 ( )
~ ~ nn-l
obtemos bn - b1 = L..,,(bk+l - bk) = L..,, k = 2 ,
k=l k=l
bn-1 = b1 + (n - 2)r = (a2 - a1) + (n - 2)r,
onde na última igualdade usamos a fórmula para a soma dos termos
e daí de uma PA finita. Portanto,
(n - l)(b1 + bn-1) b _ b n(n - 1) _ 1 n(n - 1) _ n 2 - n +2
ª1 + 2
n- 1 + 2 - + 2 - 2 '
a + (n - 1)(2(a2 - a1) + (n - 2)r)

·
1 2
(n- l)(n- 2)r
d •
e a1 an =
1
bn =
2
n2-n+2· •
a1 + (n - 1) (a2 - a1) + 2 . Para o próximo exemplo defina, para cada inteiro positivo n, o
fatorial de n, denotado n!, como o produto de todos os naturais desde
Por fim, observe que
1 até n (por convenção, 1! = 1), i.e., 2! = 2, 3! = 6, 4! = 24, 5! = 120,
• etc. Veja que, em geral, temos (k + 1)! = (k + 1) · k!.
118 Sequências Elementares 4.4 Somatórios e produtórios 119

Exemplo 4.26 (Canadá). Calcule, em função de n, o valor da soma e divisão. De fato, dados um número real e e sequências (ak)k:::: 1 e
0j=1J'(J.'!) ·
'\"'n (bk)k::::1, temos
Solução. A fim de utilizar a fórmula da soma telescópica, temos pri-
meiro de conseguir escrever j(j!) como uma diferença ªiH - aj, de
termos consecutivos de uma mesma sequência. Fazemos isso obser- a1a2 · · · an ª1 a2 an
--···-
vando que b1b2 · · · bn b1 b2 bn
e
j(j!) = [(j + 1) - l]j! = (j + 1) · j! - j! = (j + 1)! - j!. cn(a1a2 · · · an) = (ca1)(ca2) · · · (can)

Portanto, pondo ak = k! para k?: 1, temos (a segunda igualdade acima desde que os bj sejam todos não nulos).
Escrevendo ambos os membros dessas identidades usando produtórios,
n n n
obtemos as igualdades
j=l j=l j=l
= an+l - a1 = (n + 1) ! - 1!
= (n + 1)! - 1.
• Tij=l n
Também podemos introduzir uma notação bastante útil para re-
n
ªj = II ªib· e cn
n n
II ai= II (cai)·
presentar produtos, conforme ensina a seguinte Tij=l b·J
n
j=l J j=l j=l

Definição 4.27. Dada uma sequência (akh::::1, escrevemos TI7= 1 aj Vejamos um exemplo de aplicação de tais fórmulas.
para denotar o produto aia 2 ... an, e lemos o produtório dos aj,
Exemplo 4.28. Calcule, em função de n, o valor de TI~=l ( 2 + Ü.
para 1 ~ j ~ n. Assim,
Solução.
se n 1
I .=nl aj
J
= { ª1
ª1 ª2 ... ªn '
=
se n > 1

Com o uso da notação TI, podemos denotar o fatorial de n E N


(veja o parágrafo imediatamente anterior ao exemplo 4.26) escrevendo

n! =
n
IIj.
j=l
(4.17) •
Analogamente ao caso de somatórios, a notação TI é particular-
Assim como com somatórios, a utilidade da notação TI se deve mente útil para a realização de cancelamentos em produtos, de acordo
ao fato dela comutar formalmente com os símbolos de multiplicação com a fórmula para produtos telescópicos, colecionada na seguinte
120 Sequências Elementares 4.4 Somatórios e produtórios 121

Proposição 4.29. Se (ak)k2'.l é uma sequência de reais não nulos, 3. A sequência (an)n>l é dada por a1 = 1 e an+l = an + 8n para
então n n 2:: 1. Calcule an em função de n.
II aj+l

_
-----
a1
an+. 1
(4.18)
4. * Calcule, em função de n EN, o valor da soma E;= 2 (k~l)k'
j=l J

Prova. Como com somas telecópicas, basta observarmos que os fato- 5. A sequência (ak)k2'.l é uma PA. Prove que, para todo inteiro
res intermediários do produto do primeiro membro acima se cancelam. positivo n, temos
Em símbolos,
n-l
n
II
.
ªj+l _
-- -
aJ·
-
a2
ª1 ª2 a3
a4
. -a3 . - · · · -an- . -
ªn-1
ªn+l
-
an
_ ªn+l
- --
ª1 •
J=l
6. Prove que, para todo inteiro positivo n, tem-se
Exemplo 4.30. Examinemos novamente o exemplo 4.28 à luz de pro- .
1 1 1 1 1
dutos telescópicos. Para tanto, veja primeiro que, como antes, - 2 + - 2 + - 2 +". + - 2 < 2 - -.
1 2 3 n n

7. Calcule, em função de n EN, o valor da soma E;:i (4k-l)\4k+3)'


8. (Romênia.) Sejam k e n inteiros positivos. Prove que:
Definindo agora a sequência (ak)k2'.l por ak = k, segue que
(a) (2k + 1) 3 - (2k - 1) 3 sempre pode ser escrito como a soma
de três quadrados perfeitos.
(b) (2n + 1)3 - 2 sempre pode ser escrito como a soma de 3n - 1
quadrado perfeitos.

9. Calcule, em função de n > 1 inteiro, o valor da soma E;=l (k!l)!.


Problemas - Seção 4.4 10. (OBM - adaptado.) Faça os seguintes itens:

1. Prove que uma sequência (ak)k2'. 1 é uma PA de segunda ordem (a) Para k natural, escreva (k + 1) 2 + k 2 + k 2 (k + 1) 2 como um
se, e só se, ak+2 - 2ak+l + ak i=- O e ak+3 - 3ak+2 + 3ak+l - ak = O quadrado perfeito.
para todo inteiro k 2:: 1.
(b) Use o item (a) e somas telescópicas para calcular o valor da
2. Seja (ak)k2'.1 a sequência definida por a 1 = 1 e an+l = an +3n-l soma
99
para todo inteiro positivo n. Calcule, em função de n, o n-ésimo 1 1
termo dessa sequência. k=l
L k 2 + (k + 1) 2 + 1.
122 Sequências Elementares 4.4 Somatórios e produtórios 123

11. * (OBM.) Seja (Fk)k?.1 a sequência de Fibonacci, i.e., a sequência 19. (Macedônia.) Ache todos os valores de n para os quais possamos
dada por Fi = 1, F2 = 1 e Fk+ 2 = Fk+l + Fk, para todo k ~ 1 escrever o conjunto A = {1, 2, 3, ... , 4n} como a união de n
inteiro. Calcule, em função de n, o valor da soma -
1 FFFk+i .
k k+2
L;_ conjuntos, dois a dois disjuntos e com 4 elementos cada, tais que
em cada um deles um dos elementos seja igual à média aritmética
12. A sequência (ak)k2:l é uma PA. Prove que, para todo inteiro dos três demais.
positivo n, temos
n-1 l 20. (China.) Calcule o maior inteiro menor ou igual que o número
n-1
~ yÍak + ytak+1 1 1 1 1
S = - + - + - + .. · + - - -
JI v12 v'3 vrnooo.
13. (a) Fatore a expressão x4 + x2 + 1.
(b) Use o item (a) para calcular o valor da soma L;=l k 4 +~ 2 +1.
21. * Dados inteiros positivos n e p, prove que:
14. (Austrália.) Calcule o valor da soma
(a ) k p < (k+l)P+l-kp+l
p+l < (k + 1)P, para todo k E N.
(b) "'n-1 kP nP+l "'n kP
999999 l L..,k=l < p+l < L..,k=l .

~ {i(k + 1) 2 + {/k2 - 1 + {i(k - 1) 2

15. Calcule, em função de n, o valor da soma


n 1
~ (k + l)vk + kvf+T_'
16. (Alemanha.) Dado n > 1 natural, calcule em função de no valor
de TI7= 2 ( 1- ]2) ·
17. Para O :::; k :::; 101, seja Xk = 1~1 . Calcule o valor da soma
101 3
L 1- 3xkxk + 3x 2.
k=O k

18. (Leningrado.) Calcule em função de no valor do produto


n-1 k3 +1
II k3 -1 ·
k=2
124 Sequências Elementares

CAPÍTULO 5

Indução Finita

De posse do ferramental algébrico básico visto até aqui, concen-


tramo-nos a partir de agora na obtenção de vários desenvolvimentos
importantes. A ideia central é o princípio de indução finita, ferramenta
que aumenta em muito nossa capacidade de elaborar demonstrações.
Após apresentá-lo, o aplicamos, dentre outros, para deduzir a fórmula
de expansão binomial e a desigualdade entre as médias aritmética e
geométrica.
Várias são as maneiras de demonstrarmos algo. Podemos fazer
uma prova direta ou uma prova por contradição, por exemplo (para
mais sobre Lógica e técnicas de demonstração, veja o excelente livro
de D. Cordeiro [14]). O princípio de indução será, para nós, mais uma
ferramenta para demonstrações, ademais muito útil.
Para entender como ele funciona, considere um conjunto A e N tal
que 1 E A. Suponha ainda que saibamos que toda vez que um certo

125
126 Indução Finita
127

natural k estiver em A, então k + 1 também está em A. Então, 1 E A • P(l) é verdadeira;


assegura que 2 E A. Por sua vez, 2 E A nos permite concluir que
3 E A. Assim por diante, concluímos que A contém todos os naturais, • P(k) verdadeira::::} P(k + 1) verdadeira.
ou seja, A= N. A discussão intuitiva acima pode ser formalizada no
A discussão acima pode ser resumida na seguinte receita para de-
seguinte axioma, conhecido como o primeiro princípio de indução.
monstração por indução.
Axioma 5.1. Seja A e Num conjunto satisfazendo as seguintes con-
Proposição 5.2. Dada uma propriedade P(n) do natural n, temos
dições:
P(n) verdadeira para todo n EN se e só se as duas condições a seguir
(a) 1 E A. forem satisfeitas:

(b) Se k E A, então k + 1 E A. (a) P(l) é verdadeira;

Então A= N. (b) P(k) verdadeira::::} P(k + 1) verdadeira.


Uma pergunta natural nesse momento seria: como aplicar o ·princí- Para entender na prática como funciona uma demonstração por
pio de indução para demonstrar algo em Matemática? Para responder indução, vejamos os dois exemplos a seguir.
esta pergunta, suponhamos dada uma propriedade P(n) do natural n,
a qual queremos provar ser verdadeira para todo n E N. Definimos Exemplo 5.3. Para cada n E N, a soma dos n primeiros naturais
ímpares é igual a n 2 .
um conjunto A pondo
Prova. Como o k-ésimo natural ímpar é o número 2k - 1, a propri-
A= {k EN; P(k) é verdadeira}
edade P(n) é, neste caso
e observamos que n
P(n) : L(2j - 1) = n2 •
A = N {::} (P( n) é verdadeira para todo n E N). j=l

Assim, a fim de mostrarmos que P(n) é verdadeira para todo n EN, Para fazer uma demonstração por indução, temos de verificar que:
basta mostrarmos que A = N, ou ainda, pelo primeiro princípio de
indução, que 1. P(l) é verdadeira.

• 1 E A; 11. P(k) verdadeira::::} P(k + 1) verdadeira.

• kEA::::}k+lEA. A verificação de i. é imediata: o primeiro natural ímpar é 1, o


mesmo que 12 . Para provarmos ii., supomos que P(k) é verdadeira,
Por sua vez, a definição de A garante que mostrar os dois itens acima 1.e., que
é o mesmo que mostrar que 1 + 3 + · · · + (2k - 1) = k 2
128 Indução Finita 129

e queremos deduzir que P(k + 1) também é verdadeira, i.e., que Mas desde que estamos supondo a validez de P(k), segue que
k
1 + 3 + · · · + (2k - 1) + (2(k + 1) - 1) = (k + 1)2. I:l + (k+ 1) 2

j=l
Mas desde que estamos supondo a validez de P(k), segue que
1
6k(k + 1)(2k + 1) + (k + 1) 2
1 + 3 + · · · + (2k - 1) + (2k + 1) = k2 + (2k + 1) = (k + 1)2.
1
Portanto, por indução, P(n) é verdadeira para todo n EN. •
6(k + l)[k(2k + 1) + 6(k + 1)]
1
Exemplo 5.4. Para cada n E N, a soma dos n primeiros quadrados 6(k + l)(k + 2)(2k + 3).
perfeitos é igual a
1 Portanto, por indução P(n) é verdadeira para todo n EN. •
6n(n + 1)(2n + 1).
Uma forma ligeiramente mais geral do primeiro princípio de indu-
Prova. Como o k-ésimo quadrado perfeito é o número k2 , a propri- ção pode ser enunciada como abaixo.
edade P(n) é, neste caso
Axioma 5.5. Sejam a E N e A e {a, a+ 1, a+ 2, ... } um conjunto
n 1
P(n): Lj2 = 6 n(n + 1)(2n + 1).
satisfazendo as seguintes condições:
j=l (a) a E A.
Como antes, para fazer uma demonstração por indução temos de ve- (b) Se k E A, então k + 1 E A.
rificar que:
Então A = { a, a + 1, a + 2, ... } .
i. P(l) é verdadeira.
Essa variante do princípio de indução dá mais versatilidade a sua
ii. P(k) verdadeira=} P(k + 1) verdadeira. aplicação como método de demonstração. Mais uma vez, suponhamos
Venºficar 1.. e, novamente 1me
. dºiat o: 12 = 1(1+1)(2·1+1) . p ara venºficar dada uma propriedade P( n) do natural n, a qual queremos demonstrar
6
ii. supomos que P(k) é verdadeira, i.e., supomos que ser verdadeira para todo natural a partir de um certo a (ou seja, para
todo natural n 2:: a). Para isso definimos o conjunto
k

I:l = ~k(k + 1)(2k + 1), A= {k EN; P(k) é verdadeira}


j=l
e observamos que
e queremos deduzir que P(k + 1) também é verdadeira, i.e., que
A={a,a+l,a+2, ... }
k+l

I:l = ~(k + l)[(k + 1) + ll[2(k + 1) + 1]. i


j=l
P(n) é verdadeira para todo n 2:: a natural.
131
130

Obtemos, assim, a seguinte variante mais geral da receita de de-.; (na verdade, essa última desigualdade vale para todo inteiro k ~ 1).
monstração por indução. portanto, combinando as duas últimas desigualdades acima obtemos
que (k+ 1)! > 2k+1, i.e., que P(k+ 1) é verdadeira. Logo, por indução
Proposição 5.6. Dados a E N e uma propriedade P(n) do natural
p(n) é verdadeira para todo inteiro n ~ 4. •
n, temos P(n) verdadeira para todo natural n ~ a, se e só se as duas
condições a seguir forem satisfeitas: Antes de apresentar outro exemplo, façamos uma pequena observa-
ção quanto à terminologia: numa demonstração por indução, o passo
(a) P( a) é verdadeira; P(k) =} P(k + 1) é em geral denominado passo de indução. Para
(b) P(k) verdadeira=} P(k + 1) verdadeira. executá-lo, supomos que P(k) é verdadeiro (o que constitui nossa hi-
pótese de indução), e então deduzimos que P( k + 1) também é ver-
Essa forma mais geral de demonstração por indução é às vezes dadeiro. Assim, uma prova por indução nos moldes da proposição 5.6
realmente necessária. O próximo exemplo ilustra esse ponto. pode ser resumida do seguinte modo:
Exemplo 5.7. Para todo natural n ~ 4, temos n! > 2n. • identificação da propriedade P(n) a ser provada;
Prova. Observe primeiro que temos realmente de começar com pelo • caso inicial: verificação da validade de P(a);
menos n = 4, pois a desigualdade não é válida para n = 1, 2, 3. A
propriedade P(n) que desejamos provar é: • hipótese de indução: suposição da validade de P(k).

P(n) : n! > 2n. • passo de indução: dedução da validade de P(k + 1) usando a


hipótese de indução.
Para uma demonstração da mesma por indução, temos de provar
que P(4) é verdadeira e que P(k) verdadeira=} P(k + 1) verdadeira. Uma vez que a propriedade P(n) está, em geral, bastante clara no
A validade de P(4) segue de 4! = 24 > 16 = 24 . Suponhamos agora enunciado de cada problema, uma prova por indução utiliza, via de
que P(k) é verdadeira para um certo k EN, ou seja, que regra, os últimos três itens do esquema acima, não se fazendo menção
explícita a P(k) ou ao passo P(k) =} P(k + 1). A demonstração do
resultado do exemplo a seguir é executada dessa maneira.

Queremos deduzir a veracidade de P(k + 1), i.e., que (k + 1)! > 2k+ 1 . Exemplo 5.8 (OBM). Para cada inteiro n > 2, mostre que existem n
Para isso veja que, pela veracidade de P(k), temos naturais dois a dois distintos, tais que a soma de seus inversos é igual
a 1.
(k + 1)! = (k + 1) · k! > (k + 1) · 2\
Prova. Façamos indução sobre n ~ 3. Para verificar o caso inicial,
por outro lado, segue de k ~ 4 que basta notar que
1 1 1
-+-+-=l.
2 3 6
132 Indução Finita , 133

Suponhamos, por hipótese de indução, que para um certo k ~ 3 bezerro inicialmente retirado e faça sair um dos que ficou da primeira
natural existam naturais x 1 < x 2 < · · · < Xk tais ·que vez. Temos novamente k bezerros, ao menos um dos quais branco.
Novamente por hipótese de indução todos os k bezerros serão bran-
1 1 1
-+-+···+-=l. cos. Mas o que saiu da segunda vez já era branco, de modo que os
X1 X2 Xk
k + 1 bezerros são brancos. •
!
Multiplicando ambos os membros da igualdade acima por e somando Evidentemente, há algum absurdo na prova acima, uma vez que a
!a ambos os membros da igualdade resultante, obtemos então afirmação do enunciado não reflete a realidade. O problema é que não
1 1 1 1 fomos bem sucedidos no passo de indução, uma vez que o argumento
-+-+-+···+-=l.
2 2x 2x 2xk acima não funciona para uma sala com 2 alunos, como é imediato
1 2
verificar.
Agora, desde que 2 < 2x 1 < 2x 2 < · · · < 2xk, obtivemos k+ 1 naturais Há ainda uma outra forma importante de indução, o segundo
dois a dois distintos com soma dos inversos igual a 1, completando princípio de indução (também chamado princípio de indução
assim nosso passo de indução. • forte), que passamos a descrever agora.
Ao usar o princípio de indução para demonstrar algo, devemos Axioma 5.10. Seja A e N um conjunto satisfazendo as seguintes
ter muito cuidado com a execução do passo de indução, sob a pena de condições:
chegarmos a conclusões absurdas. Para melhor ilustrar o que queremos
(a) 1 E A.
dize.r com isso, considere o seguinte exemplo clássico.
(b) Se {1, ... ,k} e A então k+ 1 E A.
Exemplo 5.9. Se, em uma certa fazenda, ao menos um bezerro é
branco, prove que todos os bezerros dessa fazenda são brancos. Então A= N.

Neste ponto, o uso do segundo princípio de indução em demons-


Prova. "Provemos" a afirmação acima por indução em relação ao nú-
trações deve estar claro para o leitor. Vejamos mais dois exemplos, à
mero n de bezerros. Para o caso inicial, se em uma fazenda com um
guisa de ilustração.
bezerro ao menos um bezerro for branco, então certamente todos os
bezerros da fazenda serão brancos. Exemplo 5.11 (OCS - adaptado). Mostre que, para todo n E N, o
Suponha agora, como hipótese de indução, que em qualquer fa- número (7 + 4v'3)n + (7 - 4./3r é um inteiro positivo e par.
zenda com k bezerros, ao menos um dos quais sendo branco, todos
Prova. Sejam u = 7 + 4./3 e v = 7 - 4./3. Então u + v = 14 e
serão brancos. Considere então uma fazenda com k + 1 bezerros, ao
uv = 1, donde segue que u e v são as raízes da equação de segundo
menos um dos quais sendo branco. Tire um bezerro da fazenda, que
grau x 2 -14x + 1 = O. Segue daí que u 2 = 14u - 1 e v2 = 14v - 1, de
não o que sabemos a priori ser branco. Como ficamos com k bezerros
modo que, para todo k ~ 2 inteiro,
na fazenda, ao menos um dos quais ainda branco, segue da hipótese
de inq.ução que todos os k bezerros são brancos. Faça, agora, voltar o uk = 14uk-I - uk- 2 e vk = 14vk-I - vk- 2 .
l
Indução Finita 135
134 ,f

Assim, sendo Sj = uí + ví e somando as duas relações acima obtemos, Mas como também temos n - 2k < 2k (veja acima), segue que 2ª0 +
obtemos para todo k ~ 2 que 2ª1 +. · · + 2ª1 < 2k, e daí a1 < k. Portanto,

Sk = 14sk-1 - Sk-2· .n = 2ª0 + 2ª1 + · · · + 2ª1+ 2\


Agora, s 0 = 2 e s 1 = u + v = 14 são inteiros. Suponha então, por·: com O :S ao < a1 < · · · < az < k.
hipótese de indução, que sk E Z para todo 1 :S k < n. Então a; Mostremos agora que a representação binária é única. Para tanto,
recorrência acima nos dá suponha que
Sn = 14Sn-1 - Sn-2~ n = 2ªº + 2ª1 + ... + 2ªi = 2bo + 2b1 + ... + 2b1'
donde concluímos que sn E Z, por ser a soma de dois números inteiros. : com O :S ao < a1 < · · · < aí e O :S bo < b1 < · · · < bz. Então
Para o que falta, note que u, v > O garante que Sn = un + vn é
positivo para todo n. Por fim, a recorrência para a sequência (sk)k~1
2ªi < + 2ª1 + ... + 2ªi
2ªº

também garante que sk e sk_ 2 têm mesma paridade (i.e., ou são ambos: n = 2bo + 2b1 + ... + 2b1
pares ou ambos ímpares). Mas desde que s 0 e s 1 são ambos pares, < 2º + 21 + ... + 2bl
segue novamente por indução que sn é par para todo n natural. • 2b1+l - 1
'
Exemplo 5.12. Todo número natural pode ser escrito de uma única' de maneira que 2ªi < 2b1+1 e, portanto, ªí < bz + 1, i.e., ªí :S bz.
maneira como soma de potências de 2 com expoentes inteiros não Trocando os papéis de ªí e bz na discussão acima, concluímos analo-
negativos e dois a dois distintos, dita sua representação binária. gamente que b1 ::::; aj, e daí aí = b1• Denotando ªí = b1 = k, digamos,
Prova. Provemos por indução forte que, para cada n natural, existe segue que
uma maneira única representação binária de n. Para n = 1, temos 1 ='
n _ 2k = 2ªº + 2ª1 + ... + 2ªi-1 = 2bo + 2b1 + ... + 2b1-1.
2°, e obviamente essa é a única representação possível. Suponha agora , ,
que o resultado desejado seja verdadeiro para todo natural menor que Utilizando agora a parte de unicidade da hipótese de indução, segue
n. de n - 2k < n que j - 1 = l - 1 e a0 = b0 , a1 = b1, ... , ªí-1 = bz-1,
Mostremo~ inicialmente que existe uma representação binária de n. como desejado. •
Para tanto, tome a maior potência de 2 menor ou igual ·a n, digamos
Antes de seguirmos para os exercícios, mais uma observação. Nem
2k. Então
sempre usar indução é a melhor maneira de demonstrar algo. Um
exemplo é a fórmula da soma dos n primeiros inteiros positivos. Tente
de maneira que O ::::; n - 2k < 2k. Se n - 2k . :____ O, nada mais há a fazer. demonstrá-la por indução e compare com a prova obtida por meio da
Senão, 1 ::::; n - 2k < n, e por hipótese de indução existem inteiros teoria de progressões aritméticas ...
não-negativos O::::; a0 < a 1 < · · · < az tais que
n - 2k = 2ªº + 2ª1 + · · · + 2ª1.
136 Indução Finita •
137

Problemas - Capítulo 5 prove que an = bn, para todo n 2 1. Em seguida, estenda esse
resultado ao caso em que as sequências (an)n;:::1 e (bn)n;:,: 1 satis-'
1. Prove por indução que a soma dos n primeiros inteiros positivos
façam uma mesma recorrência linear de terceira ordem e com
e, 1gua
. l a -n(n+l)
2- .
coeficientes constantes.
2. Prove que, para todo inteiro n 2 1, temos
10. Seja (ak) uma sequência de reais não nulos tais que, para todo
3 3 n(n + 1) )
2 n 2 2, tenhamos
13 +2 +···+n = ( 2 n-1 l
n-1
L
k=l ªkªk+l
3. Prove que, para todo inteiro positivo n, tem-se
Prove que a sequência é uma P A.
1 1 1 1 1 1
1--+--···+
2 3 2n - 1
=-+--+···+2
n n+1
1
n-
11. (Bulgária - adaptado.) * A sequência (an)n;:,: 1 de reais é definida
por a1 = 1 e, para n 2 1 inteiro, an+I = a~ - an + 1. Prove que,
4. (Canadá.) Para n inteiro positivo, seja h( n) = 1+ +} + · · · + ! t. para todo inteiro n 2 1, temos:
Prove que
(a) an+1=l+a1···ªn·
n + h(l) + h(2) + h(3) + · · · + h(n - 1) = nh(n). (b) E~i=l 1._
a;
= 2- 1
a1a2, .. an
.

12. Prove que, para todo n natural, temos 22n > nn.
5. Mostre que, para cada inteiro n > 1, temos
13. Seja (Fn)n;:,:1 a sequência de Fibonacci (cf. exemplo 4.17). Prove
1. 2 + 2 · 3 + · · · + (n - l)n = !(n - l)n(n + 1). que, para todo n EN, as identidades a seguir são verdadeiras:
3

6. Mostre que, para cada inteiro n > 1, temos (a) F1 + F2 + · · · + Fn = Fn+2 - 1.


(b) Ff + F:j + ... + F;, = FnFn+l·
(c) F1 + F3 + · · · + F2n-1 = F2n·
(d) F2 + F4 + · · · + F2n = gn+l - 1.
7. Prove que, para cada n natural, 9 divide 4n + 15n - 1.
(e) F1F2 + F3F4 + F5F5 + · · · + F2n-1F2n = Ffn·
8. Prove que, para cada n natural, 3 divide n3 - n. (f) F;,+1 - FnFn+2 = (-lr.
9. * Sejam (an)n;:=:ie (bn)n;:=:l duas sequências satisfazendo a recor- 14. Seja (Fn)n;:,: 1 a sequência de Fibonacci. Prove que, para todo
rência linear de segunda ordem e com coeficientes constantes inteiro n 2 13, temos Fn > n 2 . Conclua, daí, que Fn é um
'uk+ 2 + ruk+l + suk = O, para todo k 2 1. Se a1 = b1 e a2 = b2, quadrado perfeito se, e só se, n = 1, 2 ou 12.
138 Indução Finita : 139

15. Dado a = 1+/5 , faça os seguintes itens: 21. * Mostre que, se temos n 1 maneiras de escolher um objeto do
tipo 1, n 2 maneiras de escolher um objeto do tipo 2, ... , nk
(a) Prove que an = Fn ·a+ Fn-I, para todo inteiro n ~ 1, onde
maneiras de escolher um objeto do tipo k, então o número de
(Fn)n>I é a sequência de Fibonacci.
maneiras de escolher, simultaneamente, um objeto de cada um
(b) Ache todos os n E N tais que an - n 2a seja inteiro. dos tipos de 1 a k é n 1 ... nk.

16. (Macedônia.) Seja x um real não nulo tal que x + x- 1 E z. 22. * Prove que um conjunto com n elementos tem exatamente 2n
Prove que xn + x-n E Z para todo inteiro n. subconjuntos.

17. (OBM.) Sejam (xkh2'.1 e (yk)k2'. 1 sequências de números reais 23. (Índia.) Prove que, para n ~ 6, todo quadrado pode ser partici-
tais que, para todo n natural, temos Xn+I = x~ - 3xn e Yn+i = onado em n outros quadrados.
y~ - 3Yn· Se x~ = Y1 + 2, mostre que x~ = Yn + 2 para todo n
natural. 24. (Alemanha.) Dado n E N, prove que podemos montar um tabu-
leiro 2n x 2n usando uma peça 1 x 1 e vários L-tridominós (peças
18. (Putnam.) Seja (xn)n2'.0 uma sequência de reais não nulos sa- do formato abaixo, onde cada quadradinho tem lado 1)
, tisfazendo, para todo n E N, a recorrência x~ - Xn-IXn+I = 1.
Prove que existe um número real a tal que Xn+i = axn - Xn-I
para cada n EN.

19. (França.) Seja (ak)k2'.l uma sequência de reais positivos tal que
25. Prove que 3n divide 43n - i - 1, para todo inteiro n ~ 1.
a1 = 1 e
26. (França.) Prove que para n > 5 inteiro, existem n inteiros posi-
tivos tais que a soma dos inversos de seus quadrados seja igual
para todo n ~ 1. Prove que an = n para todo n ~ 1.
a 1.

20. * Fixado um número real a> 1, seja (xn)n>I uma sequência tal 27. (Rússia.) Seja n um inteiro positivo ímpar. Em um campo
que y'a, < X1 < y'a, + 1 e Xk+l = ! (Xk + x:), para todo k ~ 1.
aberto, n crianças estão de tal modo posicionadas que, para
cada uma delas, as distâncias às outras n - 1 crianças são todas
Prove que, para todo n ~ 1, temos
distintas. Cada criança tem uma pistola d'água e, ao som de um
apito, atira na criança mais próxima de si. Mostre que uma das
crianças permanecerá enxuta ..

O resultado do problema a seguir é conhecido como o princípio 28. (Suécia.) Prove que, para todo n natural, existe uma única
fundamental da contagem. sequência (aj)j2'.l de inteiros tais que O :::; aj :::; j, para todo
140 Indução Finita

j 2: 1, e
n = a1 · 1! + a2 · 2! + a3 · 3! + · · · .
29. * Prove O teorema de Zeckendorff: todo número natural pode
ser unicamente escrito como soma de números de Fibonacci de
índices maiores que 1 e não consecutivos.
CAPÍTULO 6

Binômio de Newton

O objetivo principal deste capítulo é obter uma fórmula para o


desenvolvimento do binômio (x+yr e, com isso, essencialmente com-
pletar nosso estudo de identidades algébricas, iniciado na seção 2.1.
Para tanto, temos inicialmente de estudar os números binomiais, que,
como veremos, possuem várias outras aplicações interessantes.

6.1 Números binomiais


Comecemos relembrando a definição de fatorial, estendida aos in-
teiros não negativos.

Definição 6; 1. Dado um inteiro não negativo n, o fatorial de n é o


número

n!={ n;=l
1, se n = O
j, se n 2: 1

141
142 Binômio de Newton 6.1 Números binomiais 143

Em princípio poderia parecer mais razoável definirmos O! = O, mas rnembro da igualdade acima:
as razões para a convenção O! = 1 logo ficarão evidentes.
( n - 1) (n - 1) (n - 1)! (n - 1)!
Definição 6.2. Dados inteiros n e k, com O S k S n, definimos o
k + k- 1 = k!(n - 1 - k)! + (k - l)!(n - k)!
número binomial (~) por (n - 1)! (1 1 )
= (k - l)!(n - 1 - k)! k + n - k
n! (n - 1)! n
(;) k!(n - k)! · (k - l)!(n - 1 - k)! k(n - k)

É de fácil verificação que, para todo n E N, tem-se - k!(nn~ k)! - (;) · •


(n) = (n) =
O l, 1 n,
(n) = n(n - 1).
2 2
Com os ·números binomiais acima definidos construímos uma ta-
bela numérica triangular, o triângulo de Pascal, do seguinte modo:
Contamos as linhas e colunas a partir de O, sendo as linhas numeradas
Por outro lado, para todos os inteiros n e k tais que O S k S ri, tem-se de cima para baixo e as colunas da esquerda para a direita; a entrada
(i.e., o número) da nª- linha e kª- coluna é o número binomial (~). Mais
especificamente:

• As entradas da coluna O, lidas de cima para baixo, são respecti-


Observe que (~), (7) e (;) (esse último em virtude do fato de vamente iguais aos números binomiais
que o produto de dois inteiros consecutivos é par) são todos números ,
naturais. Por outro lado, a igualdade de números binomiais acima
garante que (:) = (~), (n~ 1 ) = (7) e (n~ 2 ) = (;) também são todos
(~), (~)' (~)' (~)' ....
naturais. Cumpre então perguntar se (~) é natural para todas as Como já vimos, todos esses números são iguais a 1.
escolhas de inteiros n e k, tais que O S k S n. Tal é de fato o caso,
e será deduzido mais adiante como consequência da relação (6.2) a. • A linha zero é formada somente pelo número binomial (~) = 1.
seguir, conhecida como a relação de Stiefel. A linha 1 é formada pelos números binomiais (~) e (i) , ambos
também iguais a 1.
Proposição 6.3. Se n e k são inteiros tais que OS k < n, então
• Em geral, as entradas da linha n, lidas da esquerda para a direita,
são respectivamente iguais aos números binomiais
(6.2)

Prova. Basta aplicar a definição de número binomial ao segundo


(~), (7), (;),···, (:).
144 Binômio de Newton 6.1 Números binomiais 145

Mostramos, abaixo, as linhas iniciais do triângulo de Pascal, con- obtemos a entrada da linha n e coluna k. Isto é mais difícil de dizer do
soante a construção acima descrita: que entender e verificar, e permite obtermos recursivamente os valores
Triângulo de Pascal numéricos dos números binomiais (~). A tabela a seguir mostra os
(~) valores numéricos· do números binomiais (~) para O S n S 6, obtidos
com o auxílio da relação de Stiefel.
(~) G) Valores numéricos das entradas do triângulo de Pascal

(~) (~) (;)


1
(~) (~) G) (~) 1
1
1
2 1
(~) (1) (~) (!) (!) 1 3 3 1
1 4 6 4 1
(~) (D (~) G) (!) G) 1
1
5 10 10 5 1
6 15 20 15 6 1
(~) (~) G) (~) (!) (~) (~) Mais geralmente, desde que para todo inteiro n 2:: O temos (~) = 1 .
e (~) = 1, não é difícil o leitor se convencer de que, para todos os
inteiros n e k tais que OS k S n, temos (~) EN. Damos a seguir uma
prova formal desse fato no corolário a seguir.

Corolário 6.4. Para todos os inteiros n e k tais que O S k S n, temos


(~) EN.

Prova. Façamos indução sobre n 2:: O, sendo o caso n = O óbvio: o


Figura 6.1: Blaise Pascal, matemático francês do único número binomial nessas condições é (~) = 1.
século XVII. Além do triângulo que leva seu nome, Suponha, por hipótese de indução, que (n:;-1) é natural para todo
Pascal marcou o estudo das cônicas com um impor- OS j S n - 1, e consideremos um número binomial da forma (~). Há
tante teorema que muito motivou o desenvolvimento dois casos a considerar: se k = n, então já observamos que (~) = 1,
de uma área da Matemática moderna, a Geometria
um natural; se k S n - 1, então segue por hipótese de indução que
Algébrica.
(nt) e G::::~)são ambos naturais, e a relação de Stiefel garante que

Em relação ao triângulo de Pascal, a relação de Stiefel diz que, ao


somarmos, na linha n - 1, as entradas da coluna k - 1 e da coluna k, •
146 Binômio de Newton 6.1 Números binomiais 147

Veremos adiante que uma das principais utilidades do triângulo Exemplo 6.6. Calcule, para cada n EN, o valor da soma
de Pascal é fornecer um processo fácil e rápido para a obtenção da
expansão do binômio (x + Yt, conforme a proposição 6.8 a seguir.
Por enquanto, vamos estabelecer algumas identidades relacionadas às
suas linhas, colunas e diagonais.
A fórmula da proposição a seguir é conhecida como o teorema
das colunas do triângulo de Pascal.

Proposição 6.5. Na coluna n do triângulo de Pascal, a soma das


entradas das linhas n, n + 1, ... , n + k - 1 é igual à entrada situada Segue então do teorema das colunas que
na coluna n + 1 e linha n + k. Em símbolos,
S =2 (n+3 1) + (n +2 1) = 61n(n + 1)(2n + 1). •
(6.3)
Para n ::=:: O inteiro, a diagonal n do triângulo de Pascal é formada
pelos números binomiais
Prova. Façamos uma prova por indução sobre k ::=:: 1. O caso inicial
k = 1 se resume a verificar que (~) = (~!~), sendo, portanto, imediato.
Por hipótese de indução, suponha que, quando k = l ::=:: 1, (6.3)
é verdadeira para todo inteiro n ::=::·O. Então, para k = l + 1 e todo
O corolário a seguir é o teorema das diagonais do triângulo de
n ::=:: O inteiro, temos
Pascal.

Corolário 6.7. Na diagonal n do triângulo de Pascal, a soma das


entradas das linhas O, 1, ... , k - 1 é igual ao número situado na linha
n + k e na coluna k - 1. Em símbolos,

(6.4)

onde na última igualdade usamos a relação de Stiefel. Portanto, segue Prova. Desde que (n;j) = (n!j), temos pelo teorema das colunas que
por indução que (6.3) é verdadeira para todo k EN e todo n ::=:: O. •

Ilustremos o uso do teorema das colunas utilizando-o para calcular


a soma dos n primeiros quadrados perfeitos.

148 Binômio de Newton 6.2 A fórmula do binômio 149

Problemas - Seção 6.1 8. * Para inteiros n e k tais que O ::; k ::; n, prove que o conjunto
{1, 2, ... , n} tem exatamente (~) subconjuntos de k elementos.
1. Prove que (2;) é par, para todo n EN.

2. Para cada n E N, use os resultados desta seção para calcular o


valor da soma 13 + 23 + ... + n 3 . 6.2 A fórmula do binômio
3. * Para n natural, prove que Obteremos a seguir a fórmula do binômio de Newton, ou seja,
da expansão da expressão (x + yr
em monômios.

se n é par, e

(Z) < ( 7) < " ' < ( n~l) (n!1) > " ' > ( ~)
se n é ímpar.

4. Prove que, para todo inteiro n 2 2, tem-se 2 5


,;' < (2;).
. 5. Dados naturais k em, com m > k, prove que Figura 6.2: O matemático e físico inglês Isaac New-
ton é considerado um dos maiores cientistas que a
humanidade já conheceu, sendo difícil mensurar sua
contribuição para o desenvolvimento da ciência. Con-
siderado o pai da Física moderna, Newton criou,
6. Sejam n, k inteiros, com O ::; k ::; n. Prove que. juntamente com G. W. Leibniz, os fundamentos do
Cálculo Diferencial e Integral, pedra fundamental do
desenvolvimento científico e tecnológico vivenciado
desde sua época, no final do século XVII, até os dias
7. Seja (Fk)k2': 1 a sequência de Fibonacci. Mostre que, para todo de hoje.
n EN, temos
L J
Fn = t
n-1

j=O
(n - ~ - 1)'
J
Teorema 6.8. Para n EN, temos
onde, Ln 21 J denota o maior inteiro menor ou igual a n 21 , i.e.,

ln;lJ={ n

n- 3
-2-,
21 , se n for ímpar
se n for p.ar
(6.5)
150 6.2 A fórmula do binômio 151

Prova. Façamos uma demonstração por indução sobre o expoente n 0 u, o que é o mesmo,
do binômio. Para n = 1, temos
~
~
(k +l 1)· X
k+l-l z
Y,
l=l

exatamente a expressão que desejávamos obter. Logo, temos por in-


Suponha, por hipótese de indução, que (6.5) é verdadeira quando dução que (6.5) é verdadeira para todo n EN. •
n = k, i.e., que Para n = k + 1, temos então que Corolário 6.9. Para n EN, temos

(x + y)'+l = (x + y)(x + y)' = (x + y) ~ G)x•-;yi


k
(x -yr = i)-l)j (~)xn-jyj.
j=O J
Prova. Basta aplicar (6.5), trocando y por -y.

É costume denotarmos
Tj (;)xn-jyj.
=

Tal monômio Tj é o termo geral do binômio ( X + y r' e temos


Façamos, na última expressão acima, as seguintes trocas nos índi- ·
ces dos somatórios: no primeiro somatório troque j por l e no segundo
somatório troque j + 1 por l; desse modo, no segundo somatório temos . Colecionamos no que segue alguns exemplos de aplicação da fór-
j = l - 1 e O :'.S j :'.S k - 1 {:::} 1 :'.S l :'.S k. Assim procedendo, obtemos mula do binômio, assim como algumas consequências importantes da
mesma.

t{ [G) + (z ~
k

(x + y)'+l x•+l + x•+l-'y' + y•+1 Exemplo 6.10. Encontre o menor n EN para o qual haja, no desen-
= 1)]
volvimento binomial de (x Jx + ; 4 ) n, algum termo independente de

x•+l + tt e11)x•+l-lyl + y•+1,


k x. _Para tal n, calcule tal termo independente.
Solução. O termo geral do desenvolvimento dá expressão adma é

onde na última igualdade utilizamos a relação de Stiefel. Por fim,


desde que (k6 1) = (Z!~)
= 1, podemos escrever a última linha acima
(:)<xvxr-• (:.)' = (:)x!(n-klx-4k = (:)x~,"'
como Portanto, há termo independente de x se e só se existir O :'.S k :'.S n tal
que 3n - llk = O, donde em particular 11 \ n. Logo, o menor valor
~ (k + l)xk+l-l z + (k + 1) k+l
(k+o l)xk+l + ~ possível de n EN é n = 11; nesse caso, deve ser k = 3, e daí o termo
l y k+l y ' independente de x é igual a (131) = 165. •
l=l
152 153
, 6.2 A fórmula do binômio

Exemplo 6.11. Sejam k EN e a, b, r E Q, com r > O tal que y'r é Escrevendo (1 +x)
2 n = (1 )n(l +x +xt e aplicando a ambos os membros
irracional. Então: a fórmula do binômio, obtemos
(a) Existem e, d E Q tais que (a+ bJr)k =e+ dJr.
(b) Se (a + bJr)k = e + dJr, com e, d E Q, então (a - bJr)k :::
e- dyr.
Comparando os coeficientes de xn na primeira e última expressões
Prova.
acima e usando (6.1), obtemos
(a) Desenvolvendo o binômio (a+ bJr)k, obtemos
(a+ bvrt = I:: (~)ªk-jrl..;:;:; + vr I:: (~)ªk-jbi~.
O< '<k
_J_
2lj
) O< '<k
_J_
2ló
)
(2:) = ,&n (:) (;) = t (;) (n ~i) t (7)
=
2

Fazendo

e= L (~)ak-irJ..;:;:i e d= L (~)·ak-ibi~:
0:5cj9 J 0:5cj9 J
2b 2ló

é imediato que e, d E Q (uma vez que Jri para j par, e ~ para j


ímpar, são ambos racionais).
Figura 6.3: Joseph Louis Lagrange, matemático e
(b) Basta observar que o desenvolvimento de (a - b.Jr)k é essencial- físico francês do século XVIII. Lagrange foi um dos
mente igual ao desenvolvimento de (a+
bJr)k, desse diferindo apenas maiores cientistas de sua época, dando contribuições
pelo sinal de alguns termos: notáveis também à Física, em especial à Mecânica
Celeste.
(a- bJrt = L (~)ak-irJ..;:;:i - Jr L (~)ak-irJ~
O<'<k
~- ] O<'<k
~- )
2b 2k1 O item (a) do corolário a seguir é conhecido como o teorema das
=c-dyr. • linhas do triângulo de Pascal.

Exemplo 6.12. Usemos a fórmula do desenvolvimento binomial para Corolário 6.13. Para n EN, temos
demonstrar a identidade de Lagrange:
(a) L7=o (;) = 2n·

(6.6) (b) LD:5ci:5cn


2lj
(7~)
J
= LD:5cj:5cn
2ló
G) = 2n-l.
154 Binômio de Newton 6.2 A fórmula do binômio 155

Prova. Para o item (a) basta fazer x = y = 1 na fórmula do desen- Solução. Primeiramente, para todo j EN, temos
volvimento de (X + y r.
Quanto a (b), fazendo inicialmente X = 1 e
. n! n!
y = -1 na fórmula do binômio, obtemos (verifique!)
J j!(n - j)! = (j - l)!(n - j)!
1

[,":
1
1

O- O~n ( ; ) - O~n ( ; )
(n - ! 1)
n (j - l)!(n - j)! = n j - 1 ·
(n - 1)
_J_ _]_
2lj 216
Portanto, segue do teorema das linhas que
Denotando A= Lo:<:;j:<:;n (n) eB = Lo:<:;j:<:;n ('''.'), segue do item (a) e da
2lj J 2IJ J
relação acima que
{
A+ B = 2n

A-B = O
Portanto, temos que A= B = 2n- 1 .

Observação 6.14. Podemos generalizar completamente as fórmulas Problemas - Seção 6.2


do item (b) do corolário acima, no seguinte sentido: dados inteiros
O :S: r < k < n, é possível calcular em função de n, k e r o valor da
1. Para cada n EN, determine o valor da soma I:7=o (;)3i.
soma
2. Sejam A= I:;=O (;)3k e B = I:;:~ (n; 1)11k. Sei= 3: , calcule
(;) + (k:r) + (2k:r) +.··· · o valor de n.

Por exemplo, para k = 3 podemos calcular em função de n os valores 3. Mostre que (1, l t 2: 2 ~0 (n 2 + 19n + 200).
das somas (~) + (;) + (~) +· · ·, (~) + (~) + (;) +· · · e (;) + (~) + (;) +· · ·.
A dedução correspondente utiliza a fórmula de multiseção, obtida com 4. (OCM.) Calcule, sem efetuar diretamente os cálculos, o valor da
o auxílio de números complexos. A esse respeito, veja o teorema 3.21 soma
1 1 1 1 1 1
e o problema 3:2.5 do volume 6 ou, ainda, a referência [36]. 10! + 3!8! + 5!6! + 7!4! + 9!2! + 11!.

Terminemos este capítulo com uma aplicação do teorema das linhas 5. Encontre o termo máximo no desenvolvimento de (1 + !)65 .
a mais um cálculo de somas.
6. (Baltic Way). Sejam a, b, e e d números reais tais que a 2 + b2 +
Exemplo 6.15. Para cada n EN, calcule ovalor da soma (a+ b) 2 = c2 + d2 + (e+ d) 2 . Prove que a4 + b4 + (a+ b) 4 =
c4 + d4 + (e+ d) 4 • .

7. Para n natural, prove que (~) > 2 2: - 1 •


156

8. No desenvolvimento de x(l+x)n, dividimos o coeficiente de cada


-
Binômio de Newton· . •
6.2 A fórmula do binômio 157

termo pelo expoente de x no termo. Prove que a soma de todos · Prove a fórmula de expansão trinomial
, e, 1gua
' 1a ~
2n+1 1
esses numeras .
(x+y+zr = ~
L.....t(n) ºkl
. k l xJy z' (6.7)
9. Para a E Z \ {O}, calcule o valor das somas L]=o (;)jaJ e j+k+l=n J, '
L]=o (;)j2.
onde a notação L acima é uma abreviação para a soma de todos
10. A sequência (akh2>:1 é uma PA. Prove que, para todo inteiro
J
os monômios do tipo ( .: xi yk z 1, quando j, k, l assumem todos
n > 1, valem as identidades
J,'
os possíveis valores inteiros não negativos tais que J. + k+l = n.

15. Use O resultado do problema anterior para obter os termos do


(a) L]=o (;) (-l)i+Iaj = O.
desenvolvimento dos trinômios (x + y + z ) 3 e (x + Y + z ) 4 ·
(b) L]=o (;)(-l)H 1 a;+1 = O.
16. Calcule, no desenvolvimento de (1 + x + ;;6)10 , o termo m
. depen-
11. * Se O< q < 1 e n EN, prove que qn < q+n(l-q)' dente de x.

17. Prove as identidades a seguir envolvendo números trinomiais:


12. Dados a, b, n E N, com n > 1, prove que o número yía + vb é
raiz de uma equação polinomial com coeficientes inteiros e grau
2n.
(a) "°"'
~j+k+l=n (j,k,l
n ) = 3n.
(b) "°"'
~j+k+l=n (- l)l (.J,k,l
n ) = 1.
13. (Croácia.) Sejam x, y e z reais não nulos, tais que x+y+z = O.
Prove que o valor da expressão
18. * Prove que, para todo n EN, vale a identidade

x5+ y5 + z5
xyz(xy + yz + zx)
t
j=l
(~)F2n+l-j
J
= F2n+l - 1,

não depende de x, y e z. onde Fk denota o k-ésimo número de Fibonacci.

19. Prove que


14. * O propósito deste problema é estabelecer uma fórmula para a
expansão de (x + y + z)n, onde x, y, z E IR e n EN. Para tanto,
995

I:
(-l)k (1991 -
1991 - k k
k) = _1_.
1991
comecemos definindo, para inteiros não negativos j, k, l tais que k=O
j + k + l = n, o número trinomial C.~,
1) por

( n ) n!
j, k, l = j!k!l!.
158 Binômio de Newton

CAPÍTULO 7

1.

Desigualdades Elementares

Uma inequação é uma sentença de uma das formas E ~ F, E >


F, E < F ou E ::; F, onde E e F são expressões em uma ou mais
variáveis. Resolver uma inequação significa encontrar todos os valores
da(s) variável(is) que a tornem uma desigualdade verdadeira.
Uma inequação não necessariamente se torna uma desigualdade
verdadeira para todos os valores reais possíveis das variáveis. Para
exemplificar, considere a inequação

x+x 3 +l~5x4 .

Ao atribuirmos à variável x o valor real 2, a desigualdade resultante


11 ~ 80 é falsa. Por outro lado, conforme o corolário 1.5, a inequação
x 2 +y 2 ~ O se torna uma desigualdade verdadeira quaisquer que sejam
os valores reais atribuídos a x e y.

159
160 Desigualdades Elementares 7.1 A desigualdade triangular 161

Doravante, sempre que não houver perigo de confusão, denomi- se, e só se, ab 2 O. Mas como a, b =/=- O, teremos igualdade se, e só se,
naremos desigualdades (algébricas) às inequações que se tornam ab > O. •
desigualdades verdadeiras para todos (ou quase todos 1 ) os valores pos- Corolário 7.2. Para todos a e breais, temos
síveis das variáveis.
Este capítulo é um convite inicial ao estudo sistemático de desi- JJal - lbJI::; ia - bJ,
gualdades algébricas. Nosso objetivo primordial aqui é discutir alguns
ocorrendo a igualdade se, e só se, a e b têm um mesmo sinal.
exemplos interessantes de desigualdades, para a derivação das quais
usamos as ferramentas desenvolvidas até agora. Um tratamento mais Prova. Aplicando a desigualdade triangular com a - b no lugar de a,
completo pode ser encontrado em [37]; veja também as seções 5.4 e obtemos
6.5 do volume 3, bem como a seção 5.2 do volume 6. JaJ = J(a - b) + bJ ::; Ja - bl + Jbl,
e daí Jal - Jbl ::; ia - bl. Repetindo agora o argumento acima trocando
7 .1 A desigualdade triangular os papéis de a e b, segue que lbl - Jal ::; Ja - bJ. Segue então daí que

Ja - bJ 2 max{JaJ - lbJ, lbl - lal} = JJaJ - JbJJ,


Comecemos estudando duas desigualdades envolvendo módulos de
números reais. A desigualdade da proposição a seguir é conhecida onde, para a última igualdade, utilizamos (2.6).
como a desigualdade triangular. Por fim, teremos a igualdade se, e só se, a tivermos em pelo menos
uma das desigualdades triangulares Jal ::; Ja-bJ+JbJ ou Jbl ::; Jb-aJ+JaJ,
Proposição 7 .1. Para todos os reais não nulos a e b, temos
digamos na primeira delas. Mas para que Jal = Ja-bJ + lbJ, a condição
la+ bl ::; ial + lbl, (7.1) de igualdade da proposição 7.1 garante que deve ser (a - b)b 2 O, ou,
o que é o mesmo, ab 2 b2 . Em particular, deve ser ab > O. Recipro-
ocorrendo a igualdade se, e só se, a e b tiverem um mesmo sinal. camente, suponha que ab > O e mostremos que a igualdade ocorre.
Há duas possibilidades: a, b > O ou a, b < O. Suponha que ocorre
Prova. Como la+ bl e lal + lbl são ambos não-negativos, temos
a primeira possibilidade (a primeira pode ser tratada analogamente).
la+ bl ~ Jal + lbl {::} Ja + bl 2 ::; (lal + lbl) 2 Então JaJ = a, lbl = b, e temos daí que Jlal - lbll = la - bJ. •
{::} (a+ b) 2 ::; lal 2 + lbl 2 + 2labl Dados números reais não nulos a, b e e, podemos aplicar a desi-
{::} 2ab ::; 2JabJ, gualdade triangular duas vezes para obter

o que é claramente verdadeiro. Segue também dos cálculos anteriores Ja + b + el ::; ia+ bJ + Jel ::; Jal + Jbl + lei, (7.2)
que Ja + bJ = JaJ + Jbl se, e só se, ab = labJ, o que por sua vez ocorre i.e., para obter a desigualdade para três números reais
10 significado da expressão quase todos nesse contexto ficará claro à medida
em que prosseguirmos nosso estudo. la+ b + el ::; Jal + Jbl + JeJ, (7.3)
162 Desigualdades Elementares
7.2 A desigualdade entre as médias
163
análoga àquela obtida em (7.14), e que, portanto, chamaremos tam-
bém de desigualdade triangular.
1. * Prove a versão geral da desigualdade triangular, enunciada no
texto como o teorema 7.3.
Se a igualdade ocorre na desigualdade acima, devemos ter também
a igualdade em todas as desigualdades em (7.2), donde em particular 2. Prove que, para todo x E IR, tem-se
em la+bl:::; lal + lbl. Portanto, segue da proposição 7.1 que a e b têm
sinais iguais. Ocorre que podemos também escrever lx - li+ lx - 2J + Jx - 3J + · · · + Jx - lOOJ 2': 50 2.

la+ b + cl :::; lal + lb + cl :::; lal + lbl + lei, 3. Faça os seguintes itens:

de maneira que se a igualdade ocorre em (7.3), então os números b (a) Se O:::; x -< y, prove que 2-
l+x -
< _]/_
l+y·
e e também devem ter sinais iguais. Reciprocamente, se a, b e e. (b) Sejam a, breais quaisquer, prove que
têm todos um mesmo sinal, digamos a, b, e < O (o caso a, b, e > O é
análogo), então a+ b +e< O, de maneira que
1+
'ª''ª' + JbJ > + bJ'ª 'ª
1 + JbJ - 1 + + bJ.
la+ b + cl =-(a+ b +e)= (-a)+ (-b) +(-e)= lal + lbl + lei-
7.2 A desigualdade entre as médias
Mostramos então que há igualdade em (7.3) se, e só se, a, b e e têm
todos um mesmo sinal. Conforme veremos aqui, a observação básica para o estudo siste-
Analogamente, uma fácil indução permite estabelecer a seguinte mático de desigualdades é o próprio fato de que o quadrado de todo
generalização da discussão acima, também conhecida na literatura número real é não-negativo, sendo igual a zero se, e só se, 0 número
como a desigualdade triangular. em questão for também igual a zero.
. Para começar, para x, y E IR sabemos que (JxJ - Jyl) 2 2': o, com
Teorema 7.3. Para números reais não nulos a 1 , a 2, ... , an, temos a igualdade ocorrendo se, e só se, Jxl = IYI· Se desenvolvermos a
expressão entre parênteses, chegamos à desigualdade Jxl 2+1Yl2 2': 2lxyl
ou, o que é o mesmo,
x2 + y2
Ademais, a igualdade ocorre se, e só se, a 1 , a 2, ... , an tiverem todos 2 2': JxyJ, (7.5)
um mesmo sinal.
com a igualdade se, e só se, lxl = lyJ.·
Prova. Veja o problema 1.
• Por outro lado, partindo de dois reais positivos quaisquer a e b e
fazendo x = y'a 2': O e y = Vb 2': O, segue de (7.5) que
a+b
-2- 2': VciJ, (7.6)
Problemas - Seção 7~1
com a igualdade ocorrendo se, e só se, yía = Vb, i.e., se, e só se, a = b.
164 Desigualdades Elementares 7.2 A desigualdade entre as médias 165

A simplicidade da desigualdade acima esconde sua importância. Exemplo 7.5. Para x, y, z reais positivos, temos sempre
Ela é um caso particular de uma desigualdade bem mais geral que ·
discutiremos adiante, denominada a desigualdade entre as médias a- x2 + y 2 + z2 ~ xy + xz + yz, (7.7)
ritmética e geométrica (veja o teorema 7.10 a seguir). Por ora, vejamos
ocorrendo a igualdade se, e somente se, x = y = z.
como deduzir outras desigualdades interessantes a partir dela.

Exemplo 7.4. Para números reais positivos x e y, temos: Prova. Para obter a desigualdade, basta somar membro a membro as
desigualdades parciáis
(a) x + ~ ~ 2, ocorrendo a igualdade se, e só se, x = 1. x2+y2
2 ~ xy,
>
+t ~
x2+z2
(b) ~ x!y, ocorrendo a igualdade se, e só se, x = y. - 2- _ xz,
y2+z2
-2- ~ yz.
Prova.
(a) Aplicando a desigualdade (7.6) com a= x e b = ~' obtemos Note agora que, se x = y = z, então a desigualdade do enunciado clara-
mente se torna uma igualdade. Reciprocamente, se ao menos uma das
lR
x+->2
X -
x·-=2 '
X
d~si~ualdades acima for estrita (i.e., não for uma igualdade), digamos
x !Y > xy, então uma generalização óbvia do item (e) da proposi-
com igualdade se, e só se, x = ~' i.e., se, e só se, x = 1 (uma vez que ção 1.2 garante que, após somarmos as mesmas membro a membro
x > O por hipótese). !Y
(com a primeira delas trocada por x 2 2 > xy), obteremos

2
(b) Basta desenvolver o produto do enunciado e aplicar em seguida a
x + y 2 + z 2 > xy + xz + yz.
desigualdade do item (a), com ~y no lugar de x:
Portanto, a fim de que ocorra a igualdade na desigualdade do enunci-

(x+ y) ; + (1 y1) = 2 + (Xy +;y) ~ 2 + 2 = 4.


ado, devemos ter igualdade nas três desigualdades acima, de maneira
que x = y = z. •

H avera., 1gua
. ld·a d e se, e so, se, Y
x -
- ;,
y 1.e.,
. se, e so' se, x 2 -- y 2 . M as Os próximos dois exemplos estendem a desigualdade 7.6 para três
como x, y > O, tal condição é equivalente a termos x = y. e quatro reais positivos. Comecemos com o caso de quatro números.
Outra possibilidade é aplicar a desigualdade (7.6) duas vezes, mul-
tiplicando os resultados: Exemplo 7.6. Dados reais positivos a, b, c, d, temos

(x + y) (! + !) ~ 2y'xy · 2y;·y
X y ~ = 4.
a + b+ e + d
4 ~
4r-;-;
vabcd, (7.8)

Segue diretamente de (7.6) que haverá igualdade se, e só se, x = y. • com igualdade se, e só se, a = b = e = d.
166 Desigualdades Elementares 7.2 A desigualdade entre as médias 167

Prova. Já sabemos que ª!b ~ ,Jab e c;d ~ vcd,. Daí, Mas o exemplo 7.6 garante que tal ocorre se, e só se, a= b =e= -ifábc
. . ,,.
1.e., se, e so se, a = b = e. •
'
a+b+c+d
4 Neste ponto, o leitor provavelmente está formulando a generaliza-
A igualdade ocorre se, e só se, tivermos igualdade em todas as ção natural das desigualdades (7.6), (7.8) e (7.9), que também ante-
desigualdades acima. Para haver igualdade na primeira delas, devemos cipamos ser verdadeira. Todavia, antes de enunciá-la vamos dar uma
ter ª!b
= ,Jab e c;d
= vcd, e daí a= b e e= d. Para haver igualdade aplicação interessante de (7.9) ao cálculo de volumes de sólidos.
na última desigualdade, devemos ter -Jab = vcd ou, ainda, (à luz de Exemplo 7.8. Dentre todos os paralelepípedos retângulos com soma
a= b e e= d) H = vc2, i.e., a= e. Daí, a igualdade se dá se, e só total dos comprimentos das 12 arestas igual a 48cm, explique por que
se, a = b = e = d. • o cubo de lado 4cm é aquele de maior volume2 .
O exemplo acima suscita naturalmente a pergunta sobre a validez
Solução. Na figura 7.1, temos um paralelepípedo retângulo com com-
de uma desigualdade similar para três números reais positivos. Con-
primento, largura e altura respectivamente iguais a x, y e z cen-
forme já antecipamos, esse é de fato o caso; entretanto, a dedução da
tímetros, e tend~ soma das 12 arestas igual a 48cm, i.e., tal que
desigualdade análoga à acima não é tão imediata quanto a do exemplo
x + Y + z = 12. E um fato bem conhecido que o volume V de um tal
anterior (veja, contudo, o problema 12, página 174).

Exemplo 7. 7. Dados reais positivos a, b, e, temos


a+ b + e
~
3r-y;
vaoc, (7.9)
3
y
ocorrendo a igualdade se, e só se, a = b = e.
Prova. Escrevendo a desigualdade do exemplo 7.8 para os quatro X

reais positivos a, b, e e d= -ifábc, obtemos a desigualdade


Figura 7.1: paralelepípedo retângulo de dimensões x, y e z.
a+b+~+ -ifábc ~ 1abc~ = ~ = d = ~ -
paralelepípedo é dado pela fórmula 3 V = xyz. Portanto, algebrica-
Segue daí a desigualdade a+ b +e+ -ifábc ~ 4-ifábc, ou, o que é o
mente, nosso problema se resume a maximizar xyz, sob as restrições
mesmo, a+~+c ~ ifàbc.
2 Para a nomenclatura pertinente à geometria espacial, sugerimos ao leitor a
Quanto à igualdade, os cálculos acima deixam claro que ela ocor-
referência [10].
rerá se, e só se, tivermos igualdade na desigualdade

a + b + e + -ifábc
4 ~
«
abcvaoc.
3r.--_b
3 U~a dis,cussão interessante sobre cálculo de volumes, onde é em particular

deduzida a formula para o cálculo de volumes de paralelepípedos retângulos pode


ser vista em [33]. '
168 Desigualdades Elementares 7.2 A desigualdade entre as médias 169

x, y, z > O ex+ y + z = 12. Ora, segue imediatamente de (7.9) que Teorema 7.10. Dados n > 1 reais positivos a 1 , a 2 , ... , an, sua mé-
dia aritmética é sempre maior ou igual que a média geométrica. Em
V= xyz ~ ( X+ y+Z
3 ) 3 (312 )3 = 64,
= símbolos:
(7.10)
i.e., o volume V é igual a no máximo 64cm3 . Sabemos ainda do exem- ,
ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a2 = ··· = ªn·
plo 7.7 que o volume será igual a 64cm3 (i.e., que teremos a igualdade
na desigualdade acima) se, e só se, x = y = z, e, portanto, se, e só se, Prova. Façamos a prova em dois passos.
x = y = z = 4cm. Assim, o paralelepípedo de volume máximo sujeito , Primeiramente, provemos por indução que a desigualdade dese-
às condições do enunciado é o cubo de aresta 4cm. 1 jada é verdadeira sempre que n for uma potência de 2, ocorrendo a
igualdade se, e só se, a 1 = a 2 = · · · = ªn· Para tanto, temos de ve-
Antes de enunciar a generalização das desigualdades (7.6), (7.8) e rificar o caso inicial n = 2 (o que já foi feito ao longo da discussão
(7.9), precisamos da definição a seguir.
que estabeleceu (7.6)), formular a hipótese de indução (para n = 2i,
Definição 7.9. Para n > 1 números reais positivos digamos) e executar o passo de indução (deduzir o caso n = 2i+1 a
definimos sua: partir do caso n = 2i). Mas desde que 2i+1 = 2 · 2i, basta supormos
que a desigualdade seja verdadeira para quaisquer k reais positivos,
(a) Média aritmética como o número i(a 1 + a2 + · · · + an)· com igualdade se, e só se, os k números forem todos iguais, e deduzir
a partir daí que ela também será verdadeira para quaisquer 2k reais
(b) Média geométrica4 como o número y'a 1 a 2 · · · ªn·
positivos, com igualdade novamente se, e só se, todos os números fo-
No contexto da definição acima, o que fizemos em (7.6) e nos exem- rem iguais. Para estabelecer esse fato, considere os 2k reais positivos
plos 7.6 e 7.7 foi mostrar que as médias aritméticas de dois, três ou a1, a2, ... , a2k· Então:
quatro reais positivos são sempre maiores ou iguais que as respectivas
médias geométricas, só havendo igualdade em cada caso quando os
1 2k

2kLªi
12 (1k ~ + k1~
k
ªi
k
ªk+i
)

números forem todos iguais. Estabelecemos o caso geral no seguinte j=l

teorema, cuja demonstração pode ser omitida numa primeira leitura. 1


> 2 ({/a1 · · · ak + {iak+I ... a2k)
Conforme mencionamos anteriormente, a desigualdade (7.10) a seguir
é conhecida como a desigualdade entre as médias aritmética e geomé-
trica, ou simplesmente como a desigualdade entre as médias.
> J{/a1 ... ak{iak+l ... a2k
2{1a1 ... akak+I ... a2k·
4 Talvez o leitor ache útil observarmos que a razão do nome geométrica dado

ao número em questão se deva ao caso n = 2, quando, para a, b > O, o número Para haver igualdade, devemos ter igualdade em· todas as passagens.
../a6 e a desigualdade (7.6) realmente encerram significados geométricos - veja o Então, deve ser
problema 4.2.21 do volume 2. No entanto, para n 2: 3, o adjetivo geométrica carece
de significado geométrico.
;f
170 Desigualdades Elementares.'. 7.2 A desigualdade entre as médias 171

e Corolário 7.11. Para n > 1 reais positivos a 1 , a 2 , ... , an, temos


{!a1 ... ak + {/ak+1 ... a2k ./
2 = y {/a1 ... ak{!ak+l ... a2k· . (7.11)
Para as duas primeiras igualdades, devemos ter por hipótese que a 1 ::::
· · · = ak e ak+l = · · · = a2k· Por fim, a última igualdade ocorre· ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a2 = ··· = ªn·
se, e só se, {!a1 ... ak = {/ak+l ... a 2k, e esta condição, juntamente Prova. Aplicando duas vezes a desigualdade entre as médias, temos
com as duas anteriores, implica que devemos ter a 1 = · · · = ak ::::
ak+1 = · · · = a2k· É também evidente que, se os números forem todos
iguais, então a igualdade ocorre (verifique!). Logo, por indução temos :
(7.10) verdadeira, com a condição para a igualdade dada no enunciado,
:2:: (n{'./a1a2 · · · an) (n nf _!_ · _!_ · · · _!___) = n2.
sempre que n for uma potência de 2. Vª1 ª2 ªn
Provemos agora, por indução forte, que a desigualdade é verdadeira , Para haver a igualdade, devemos ter a1+a2+· · ·+an = n{'.!a1a2 · · · an,
em geral, ocorrendo a igualdade se, e só se, os números forem todos donde a 1 = a 2 = · · · = ªn·
Reciprocamente, é imediato verificar que se
iguais. Para tanto, seja n > 1 natural e a 1 , a 2 , ... , an reais positivos todos os números forem iguais, então teremos igualdade em (7.11). •
dados. Tome k E N tal que 2k > n. Aplicando adesigualdade entre.
A seguir, ilustramos a utilização da desigualdade entre as médias
as médias aos n números a 1 , a 2 , ... , an, juntamente com 2k - n cópias
em dois exemplos.
do número a= {'.!a 1 a 2 ... an (totalizando n + (2k - n) = 2k números),
obtemos Exemplo 7.12 (Israel-Hungria). Sejam k e n inteiros positivos, com
ª1 + · · · + ªn + a + · · · + a > n > 1. Prove que
2k
1 1+
kn
+
kn 1
+ ... +
kn
1
+n - 1
>n (ffk+l )
-k- - 1 .

A partir daí, segue que a1+ a2+ · · · + an + (2k - n)a ;2:: 2ka ou, ainda, Prova. Basta ver que
n-1 l n-1 ( 1 ) n-1 kn + .+ 1
I:: kn + j +n
j=O
~
~ kn+j
+1 = ~
~
J
kn+j
J=Ü J=Ü
Para haver igualdade, segue da primeira parte que a 1 = a 2 = · · · =
an = a = · · · = a. Em particular, todos os números a 1 , a 2 , ... , an n nII-1 kn + j + 1 - f f+
k1
> n k . -n k '
devem ser iguais. Finalmente, é fácil ver que se esses números forem j=O n +J
todos iguais, então haverá igualdade. •
onde aplicamos a desigualdade entre as médias aritmética e geométrica
O corolário a seguir generaliza o item (b) do exemplo 7.4. Para uma vez. Note que, como os números (kn + j + l)/(kn + j) são dois
uma prova alternativa do mesmo, veja o problema 22, página 176. a dois distintos, não há igualdade, razão do sinal > acima. •
172 Desigualdades Elementares 7.2 A desigualdade entre as médias 173

Exemplo 7.13 (APMO). Se a, b e e são reais positivos, prove que 3. Dados números reais a< b < e, prove que a equação

n
(1+ íD (1+ (1+ ~) 2 2 (1+ ª~t)
Prova. Desenvolvendo o primeiro membro, obtemos
1 1 1
--+--+--=0
x-a x-b x-c
tem exatamente duas raízes reais e distintas.
b) (
( 1 + ~) ( 1 + ~ 1+
e) a+c b+c
~ = 2 + -b- +-a-+ -e-,
a+b
4. (OBM.) Sejam a, b, e reais positivos dados. Prove que

donde basta mostrarmos que (a + b) (a + e) ~ 2 J abc( a + b + e).


a+c b+c a+b 2(a+b+c)
-b- + -a- + -e- ~ {/abc ·
5. Dispomos de uma folha de cartolina de 2m por 3m e queremos
Denotando por S O primeiro. membro da expressão acima, segue construir com a mesma uma caixa aberta com o maior volume
da desigualdade entre as médias e do corolário tal que . possível. Quais devem ser as dimensões da caixa? Justifique sua
resposta.

S= (a+b+c) (~+t+~)-3 6. (Estados Unidos.) Prove que, para todos a, b, e reais positivos,
tem-se
=~(a+ b +e)(!+!+!)+ !(a+ b +e)(!+ t + ~) - 3
3 a b e 3 a 1 1
3 -) +!·9-3
-----+ + . 31 1
<-.
> ~(a+b+c) ( - a + b + abc
3 3 b3 + c3 + abc c3 + a + abc - abc
- 3 {/abc 3
2(a+b+c) • Para os dois problemas a seguir o leitor precisará de um pouco de
{/abc Geometria Euclidiana Plana. Mais precisamente (cf. figura 7. 2),
sendo a= BC, b = AC e e= AB os comprimentos dos lados
de um triângulo ABC, existem x, y, z > O tais que a= y + z,
b = x + z e e= x + y: basta tomar x, y e z como sendo iguais
Problemas - Seção 7.2
aos comprimentos dos segmentos determinados sobre os lados
* Generalize O item (a) do exemplo 7.4. Mais precisamente, de ABC pelos pontos de tangência com os mesmos do círculo
1. prove que, se x é um numero
, real nao - 1x + 11
- nu1o, entao x >_ 2, inscrito em ABC (provaremos tais afirmações em detalhe no
ocorrendo a igualdade se, e só se, lxl = l. volume 2). No contexto de desigualdades envolvendo os lados a,
b e e de um triângulo, a substituição dos mesmos respectivamente
.
2. Para a, b reais . .
positivos,
3
prove que ba + ª >- a
b3 2 + b2 · Quando
por y + z, x + z e x + y é conhecida como a transformação de
ocorre a igualdade? Ravi.
7.2 A desigualdade entre as médias 175
174 Desigualdades Elementares

13. (União Soviética.) Sejam a, b e e reais positivos. Prove que

A
(ab + ac + bc) 2 ?. 3abc(a + b + e).

14. (União Soviética.) Se x, y, z > O, prove que


A x z e x2 y2 z2 y z x
- + - + - > - + - + -.
Figura 7.2: a transformação de Ravi. y2 z2 x2 - x y z

15. Sejam a e breais positivos dados. Prove que


7. (IMO.) Se a, b, e são os comprimentos dos lados de um triângulo, .
prove que

abc ?_ (a + b - e) (b + e - a) (e + a - b). 16. Dados reais positivos a, b e e, prove que

8. Sejam a, b, e os comprimentos dos lados de um triângulo.


que com igualdade se, e só se, lal = lbl = lei = l.
a b e
- - - +
b+c-a c+a-b a+b-c-
+ >3.
17. Sejam a 1 , a 2 , ... , an reais positivos dados. Prove que

9. (Baltic Way.) Sejam a, b, e, d reais positivos dados. Prove que

a+c b+d c+a d+b


- - + - - + - - + - - > 4.
a+b b+c c+d d+a - 18. Sejam n > 1 um inteiro ímpar e a 1 , a 2 , ... , an reais negativos.
Mostre que
10. Se O < x # 1 e n é um inteiro positivo, prove que
1- x2n+-1
- 1-_-x-?. (2n + l)xn.
ocorrendo a igualdade se, e só se, todos os ai forem iguais.

11. (Inglaterra.) Prove que 3a4 + b4 ?. 4a3 b, para todos os reais não 19. (BMO.) Prove que, para todo n natural, tem-se:
nulos a e b, ocorrendo a igualdade se, e só se, lal = lbl e ab > O.
(a) (n + ir ?. 2nn!.
12. * Prove diretamente, i.e., sem apelar para a desigualdade (7.9),
(b) (n + 1r(2n +ir?_ 6n(n!) 2 .
que a3 + b3 + c3 ?. 3abc.
176 Desigualdades Elementares
7.3 A desigualdade de Cauchy 177

20. (Eslovênia.) Sejam dados x E IR em E N, com x > O. Prove 24. (Romênia.) Sejam n > 1 inteiro e O < a1 < a2 < · · · < an reais
que dados. Prove que
1 1 1 1
x(x + l)(x + 2) · · · (x +m - 1) 2: m! x +2+3+··+;:;;;. n-2 1

21. (Polônia.) Se x 1 , x 2 , ... , Xn são reais positivos com soma igual a


Sob que condições a igualdade ocorre?
S, prove que

s s s ~ 25. (China.) Para a, b e e reais positivos, prove que


-
s --X1+ s - X2
+···+ s - Xn
> --
- n - 1'

com igualdade se, e só se, todos os Xi forem iguais.

22. O propósito deste problema é apresentar uma segunda demons-


tração da desigualdade (7.11), a qual não faz uso da desig1,1.aldade 7.3 A desigualdade de Cauchy
(7.10). Para tanto, faça os dois itens a seguir:
Ainda como aplicação das ideias da seção anterior, suponha dados
(a) Mostre que um inteiro n > 1 e números reais a1, a2, a3 e b1, b2, b3, tais que ªi + a~ +
a~= 1 e bi + b~ + b~ = 1. Como x 2 + y 2 2: 2lxyl para todos x, y E IR,
(tai) (t ~-) n+ L (:i. + :~)·
i=l i=l i
=
i<j J i
ocorrendo a igualdade se, e só se, lxl = IYI, temos

ªi + bi 2: la1b1I,
(b) Aplique a desigualdade entre as médias para cada uma das a~+ b~ 2: la2b2I, (7.12)
parcelas :; + :: do somatório acima e obtenha (7.11).
a~+ b~ 2: la3b3I,
23. Prove a desigualdade ponderada entre as médias: sejam
ocorrendo a igualdade se, e só se, la1I = lb1I, la2I = lb2I, la3I = lb3I.
a 1 , a 2 , ... , an reais positivos e k1 , k2 , ... , kn inteiros positivos
Somando membro a membro as desigualdades acima, obtemos
com soma dos inversos igual a 1. Prove que
(ai + a~ + a~) + (bi + b~ + b~) (ªi + bi) + (a~ + b~) + (a~ + b~)
> 2(la1b1I + la2b2I + la3b3I)
> 2la1b1 + a2b2 + a3b3I,
ocorrendo a igualdade se, e só se, a1 = a2 = · · · = ªn· (Observe
que o caso k1 = k2 = · · · = kn = ~ corresponde à desigualdade onde na última desigualdade aplicamos a desigualdade triangular para
usual entre as médias aritmética e geométrica.) três números, (7.3).
178 Desigualdades Elementares 7.3 A desigualdade de Cauchy 179

Portanto, segue de ªi + a§ + a§ = 1 e bi + b§ + b§ = 1 que A discussão acima essencialmente estabeleceu, para n = 3, a de-


sigualdade do teorema a seguir, conhecida como a desigualdade de
Cauchy.
A igualdade ocorre se, e só se, tivermos igualdade tanto nas três
desigualdades (7.12) quanto na desigualdade triangular utilizada, i.e.,
se, e só se, la1I = lb1I, la2I = lb2I e la3I = lb3I e, além disso, a1b1, a2b2,
a3b3 ~ O ou a 1b1, a2b2, a3b3 ~ O. Mas é imediato verificar que tais
condições são equivalentes a a1 = b1, a 2 = b2 e a3 = b3.
Considere agora números reais a1, a2, a3 e b1, b2, b3 quaisquer, ex-
ceto pelo fato de que pelo menos um dos números a1, a2, a3 e pelo
menos um dos números b1, b2, b3 são não nulos. Para e real positivo, Figura 7.3: Augustin Louis Cauchy, um dos maio-
res matemáticos do século XIX, e talvez da história.
defina Xi=~' 1 ~ i ~ 3. Como
Cauchy foi um dos precursores no estudo da Aná-
lise Matemática, área de pesquisa extremamente im-
portante em matemática superior. Ele também tem
temos seu nome associado a muitos resultados de Física-
X12+ X22+2
X3 = 1 {::} J2
e =a1 + ª22+ ª3·2 Matemática.

Analogamente, sendo Yi =~para 1 ~ i ~ 3, onde d= Jbi + b§ + b~,


temos yf + y~ + yi = 1. Portanto, segue da conclusão do penúltimo .
Teorema 7.14 (Cauchy). Sejam n > 1 um inteiro e a1, a2, ... , an,
parágrafo que
b1, b2, ... , bn números reais dados. Então
lx1Y1 + X2Y2 + x3y3I ~ 1,
com igualdade se, e só se, Xi = Yi para 1 ~ i ~ 3.
(7.13)
Substituindo as definições de xi e Yi na desigualdade acima e no-
tando que e, d > O, concluímos que a desigualdade acima equivale
a ocorrendo a igualdade se, e só se, os ai e os bi forem respectivamente
la1b1 + a2b2 + a3b3I < 1 proporcionais, i.e., se, e só se, existir um real não nulo À tal que
cd - '
onde e = J ªi +a§+ a§, d = Jbi + b§ + b§. Ademais, há igualdade
se, e só se, ai = ~bi para 1 ~ i ~ 3. Por fim, note que a última
Prova. Se todos os ai ou todos os bi forem iguais a zero, nada há
desigualdade acima é equivalente a
a fazer. Senão, a fim de estabelecer (7.13), basta seguir os passos do
la1b1 + a2b2 + a3b3I ~ cd = J ªi +a§+ a~Jbi + b§ + b~. caso particular n = 3 discutido acima, tomando somente o cuidado de,
180 Desigualdades Elementares 7.3 A desigualdade de Cauchy 181

quando conveniente, utilizar (7.4) em vez de (7.3) (veja o problema 2, Prova. Para 1 S j S n seja Yj = Xn+l - Xj. Pela desigualdade de
página 182). • Cauchy, temos

Daremos outra prova para a desigualdade de Cauchy posterior- yfx"ijj1 + · · · + JxYn S vx1 ++ XnVYl + + Yn
º. º º º º

mente nestas notas, como aplicação da teoria de máximos e mínimos


= ~ J(xn+l - X1) + · · · + (xn+l - Xn)-•
de funções quadráticas. Daremos uma interpretação geométrica para
a desigualdade de Cauchy para n = 2 na seção 6.3 do volume 2 (cf. Para uso futuro, registremos o seguinte corolário da desigualdade
problema 6.3.2). de Cauchy.
Os dois exemplos a seguir ilustram a utilização da desigualdade de
Cauchy. Corolário 7.17. Dados números reais a1, ... , an e b1, ... , bn, temos

Exemplo·7.15. Sejam a,b,c números reais dados. Mostre que o sis-


tema de equações (7.14)

{
3(x2 + y2 + z2) + ª2 + b2 + c2 = 6
ax + by + cz = 2 · ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 , ... , an e b1 , ... , bn forem positi-
vamente proporcionais, i.e., se, e só se, existir um real positivo À, tal
não possui soluções reais x, y, z.
que ai = Àbi para 1 S i S n.
Prova. Supondo o contrário, teríamos pela desigualdade de Cauchy
Prova. Façamos a prova para n = 3, sendo o caso geral inteiramente
que
análogo. Uma vez que ambos os membros de (7.14) são números reais
4 = (ax + by + cz) 2 S (a2 + b2 + c2)(x 2 + y2 + z 2).
não-negativos, basta mostrar que o quadrado do primeiro membro é
Assim, sendo u = a 2 + b2 + c2 e v = x 2 + y2 + z 2, teríamos u + 3v = 6 menor ou igual que o quadrado do segundo membro, i.e., que
e uv ~ 4. Neste ponto, a desigualdade entre as médias aritmética e
geométrica nos daria
J
(ai +bi) 2 +(a,+b,) 2 +(a,+b:,) 2 :S: ( ai+ a;+ a!+ J1,; + !?, + bl) 2

6 = u + 3v ~ 2\/uTv = 2 ~ = 2ff.4 = 4v'3,


Desenvolvendo todos os quadrados (ai+ bi) 2 , segue que o quadrado do
claramente um absurdo.

Exemplo 7.16 (Romênia). Sejam x 1 , x 2 , ... , Xn+l reais positivos tais


• primeiro membro é igual a

que X1 + X2 + · · · + Xn = Xn+l · Prove que


Analogamente, o quadrado do segundo membro é igual a
Jx1(Xn+1 - X1) + · · · + Jxn(Xn+1 - Xn) S

S VXn+1(Xn+1 - X1) + · · · + Xn+1(Xn+1 - Xn)·


182 Desigualdades Elementares 7.3 A desigualdade de Cauchy 183

Mas como em ambas as expressões temos a parcela (ªi + a§ + aD + 4. Sejam a1, a2, a3 , a4 reais positivos. Prove que
(bi + b§ + b~), a desigualdade do enunciado é equivalente a

a qual é precisamente a desigualdade de Cauchy. ocorrendo a igualdade se, e só se, a1 = a2 = a3 = a4.


A dedução das condições para a igualdade fica a cargo do leitor. •
5. Use a desiguaidade de Cauchy para dar uma terceira demons-
Para n = 1 e fazendo a 1 = a, b1 = b, a desigualdade do corolário tração da desigualdade (7.11).
anterior se reduz a J(a + b) 2 ~ -vai+ vb2, ou, o que é ; mesmo,
6. (Leningrado.) Dados reais positivos a, b, e e d, prove que
la+ bl ~ lal + lbl. Por essa razão, a desigualdade (7.14) também é·
conhecida como a desigualdade triangular.

7. (OIM.) Sejam x, y e z números reais positivos com soma igual


Problemas - Seção 7.3 a 3. Prove que

1. Dados números reais x e y tais que 3x+4y = 12, calcule o menor 3\79 < v2x + 3 + J2y + 3 + v2z + 3 ~ 3V5.
valor possível de x 2 + y 2 .
Quando a segunda desigualdade vira uma igualdade?
2. Prove o caso geral (7.13) da desigualdade de Cauchy.
8. Seja n > 2 inteiro. Prove que
3. Dados reais positivos a 1 , a 2 , ... , an, definimos sua média quadrá-
tica como o número
/(';j + /(;) + · ··+ /(;j S v'n(2" -1).
Jªi + a§ : · · · + a~.
9. (União Soviética - adaptado.) Se x, y, z > O, use a desigualdade
Prove a desigualdade entre as médias quadrática e aritmética: de Cauchy para provar que

Jªi + a§ + · · · + a~ 2: ª1 + a2 + · · · + an ,
n n
(7.15)
x2 y2 z2 y z x
-+-+-
y2 z2 x2 ->-+-+-
x y z'

com igualdade se, e só se, a1 = a2 = ··· = ªn· ocorrendo a igualdade se, e só se, x = y = z.
184 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 185

10. (APMO.) Sejam a1, a2, ... , an, b1, b2, ... , bn reais positivos irmãos Bernoulli5 , sendo conhecida como a desigualdade de Ber-
dados, tais que a1 + a2 + · · · + an = b1 + b2 + · · · + bn. Mostre noulli. Apesar de sua aparente simplicidade, veremos que ela se revela
que bastante útil em aplicações.
n 2 1 n
~ _a_k- > - ~ ªk· Proposição 7.18 (Bernoulli). Dados n natural ex> -1 real, temos
~ak+bk - 2~
k=l k=l
(1 + xt ~ 1 + nx,
11. (Torneio das Cidades.) Sejam a 1, a 2, · · · , an reais positivos da-
ocorrendo a igualdade para n > 1 se, e só se, x = O.
1
dos. Prove que
Prova. Façamos indução sobre n, sendo o caso n = 1 imediato. Su-
ponha, por hipótese de indução, que (l+x)k ~ l+kx; como l+x > O,
ternos

12. (APMO.) Sejam a, b, e as medidas dos lados de um triângulo. ( 1 + Xl+l = ( 1 + X) (1 + Xl ~ (1 + X) (1 + kx)


Mostre que = 1 + (k + l)x + kx 2 ~ 1 + (k + l)x,

va + b - e+ vb + e - a+ ve+ a - b ::; va + v'b + vc ocorrendo a igualdade se, e só se, (1 + x)k = 1 + kx e kx 2 = O, i.e., se,
e só se, x = O. •
e explique quando ocorre a igualdade. Exemplo 7.19. Dados n natural e a e breais positivos, mostre que

13. Sejam a1, a2, ... , an, b1, b2, ... , bn, c1, c2, ... , Cn reais positivos ( 1 + ~) n + ( 1 + ~) 1i ~ 2n+1,
dados. Mostre que
ocorrendo a igualdade se, e só se, a = b.
Prova. Dividindo ambos os membros da desigualdade do enunciado
por 2n, vemos que basta provar que

14. (IMO.) Sejam a, b e e reais positivos tais que abc = 1. Prove ( 1 - -1 + ~


2 2b
)n + (1 - -1 + -b
2 2a
)n >- 2.
que
1 1 1 3
. + + >-. Como -! + ;b > -1 e -!
+ 2: > -1, aplicando a desigualdade de
a (b + e)
3 b (a + e)
3 c (a + b) - 2
3
Bernoulli a cada parcela do primeiro membro acima e somando os
resultados, obtemos
7 .4 Mais desigualdades
( 1 -1- +a-
2 2b
)n + (1 -21- +2ab- )n ->2+n (-2ba + -2ab- 1) .
Esta seção é devotada ao estudo de outras desigualdades elemen-
tares importantes. A primeira das que apresentaremos remonta os 5 Jacob e Johann Bernoulli, matemáticos suíços do século XVIII.
186 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 187

Basta, agora, aplicar a desigualdade entre as médias para obter suponha que temos igualdade emtal desigualdade. Como (ai-aj)(bi-

2b 2a
b
-a + - - 1 > 2
-
ff1b
-·--1=0
2b 2a '
bj) ~ O para todos os índices i, j, para haver igualdade devemos ter
(ai-aj)(bi -bj) = O para todos i,j = 1, ... , n. Se existisse 1 ~ k ~ n
tal que bk < bk+l, então b1 ~ · · · ~ bk < bk+l ~ · · · ~ bn, e a condição
·
com 1gua a e se, e so' se, 2ªb = 2bª, 1.e.,
ldd • se, e so' se, a= b.

A continuação, apresentamos uma desigualdade conhecida na lite-


• (ai-ak+ 1 )(bi-bk+1) = O para todo i garante que ai= ak+l parai~ k.
Portanto, temos a 1 = a 2 = · · · = ak = ak+l · Por outro lado, a partir
de (ai - ak)(bi - bk) = O parai > k, concluímos que ak+l = · · · = ªn·
ratura como a desigualdade de Chebyshev6 .
Logo, todos os a/s devem ser iguais. •
Teorema 7.20 (Chebyshev). Se a1, a2, ... , an e b1, b2, ... , bn são O corolário a seguir encerra uma importante consequência da de-
' 1
números reais tais que sigualdade de Chebyshev.

Corolário 7.21. Se k é um natural e a 1, a 2, ... , an são reais positivos,


então
então
(7.16)

com igualdade se, e só se, todos os a/s forem iguais.


ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a2 = · · · = an ou b1 = b2 =
... = bn. Prova. Façamos indução sobre k ~ 1, sendo (7.16) trivialmente ver-
dadeira para k = 1 e todos os a 1, a 2, ... , an reais positivos. Agora,
Prova. Temos de mostrar que seja l > 1 um natural tal que (7.16) valha para k = l - 1 e todos
a 1, a 2, ... , an reais positivos. Dados reais positivos a1, a2, ... , an,
como ambos os membros da desigualdade que queremos provar são
invariantes por permutações dos índices 1, 2, ... , n podemos supor,
sem perda de generalidade, que a 1 ~ a2 ~ · · · ~ ªn· Daí, temos
para o quê basta observar que a expressão do primeiro membro é igual
a
ªi- 1 ~ a~- 1 ~ ... ~ a~- 1 , e segue da desigualdade de Chebyshev que
n

L (ai - aj)(bi - bj) .~ O


i,j=l

(uma vez que os a/se b/s são igualmente ordenados).


Por outro lado, a hipótese de indução fornece
Note agora que, se a1 = a2 = · · · = an ou b1 = b2 = · · · = bn, então
haverá igualdade na desigualdade de Chebyshev. Reciprocamente,
.!_ ~
L....,;
al.-1 >
6 Após Pafnuty Chebyshev, matemático russo do século XIX. i -
n i=l
188 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 189

e combinando essas duas desigualdades obtemos Exemplo 7.23 (Turquia). Sejam n > 1 inteiro e x 1, x2, ... , Xn reais
positivos tais que E~=l x;
= 1. Encontre o valor mínimo da expressão

n 5
xi

conforme desejado. Por fim, a condição de igualdade é óbvia a partir i=l X1 + · · · + .......X· + · · · + X n '
i

condição de igualdade na desigualdade de Chebyshev. •


onde o circunflexo sobre Xi indica que o denominador da i-ésima
No que segue, colecionamos algumas aplicações interessantes da parcela contém todos os reais x 1, x 2, ... , Xn, à exceção de Xi·
desigualdade de Chebyshev.
Prova. Sejas a soma dos x/s e suponha, sem perda de generalidade,
Exemplo 7.22 (Polônia). Sejam a 1, a 2, ... , an reais positivos com
que x 1 ::; x 2 ::; · · · ::; Xn, Então x~ ::; X~ ::; · · · ::; x;_ e s_::z: 1 ::; s!:z: 2 ::;
somas. Prove que ... < _1__

.ª1 + ª2 + .. ·+ ªn n
>--.
- S-Xn

A expressão a ser minimizada pode ser escrita como


s - ª1 s - ª2 s- an - n- 1
Prova. Suponhamos, sem perda de generalidade, que a 1 ::; a 2 ::; · · · ::; n 1
an. Então s - a1 ~ s - a2 ~ · · · 2: s - an. Como s - ai > O para todo
S=L--·xf,
. 1 S - Xi
i=
i, segue que s_!a 1 ::; s_!a 2 ::; • • • ::; 8 _ 1ªn. Portanto, pela desigualdade
de Chebyshev temos de modo que, aplicando a desigualdade de Chebyshev duas vezes, jun-
n tamente com a desigualdade entre as médias quadrática e aritmética
~ ai
~s-a· e o corolário 7.11, obtemos
i=l i
(7.17)
s >

Mas, pelo corolário 7.11, temos

ou, ainda,
n 1 n2
~->-- (7.18)
~ s - a· - (n - l)s ·
i=l i

Por fim, combinando as desigualdades (7.17) e (7.18) chegamos à de- s


sigualdade desejada. • -:;;, · n(n - l)s n 2 (n - 1)'
190 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 191

Para garantirmos que n2(~-l) é o menor valor possível, devemos Isso é o mesmo que
mostrar que ele sempre é atingido. Para tanto basta vermos que, como
L~=l x;= 1, a condição de igualdade na desigualdade de Chebyshev
impõe que seja x 1 = x 2 = · · · = Xn = }n, e com tais valores todas as
desigualdades utilizadas se tornam igualdades. • o que por sua vez contraria o fato de que a permutação (b1, b2, ... , bn)
dos a/s maximiza a soma a 1x1 + a 2x 2 + · · · + anXn máximo. Logo,
A próxima desigualdade que apresentamos é conhecida como a de- b1 < b2 < · · · < bn. . •
sigualdade do rearranjo.
Proposição 7.24. Sejam a 1 < a 2 < · · · < an reais positivos dados. Se Exemplo 7.25. Dados a, b e e reais positivos, mostre que:
(x 1, x 2, ... , Xn) é uma permutação qualquer de (a1, a2, ... , an), então
n-1 n-1 n-1
Lªiªn-i S LªiXi S
i=l i=l
Lª~,
i=l
(b) a+b+c
abc -
< _!_
a2
+ l_b2 + l_c2 ·
ocorrendo a igualdade na primeira (resp. segunda) desigualdade acima Prova.
se, e só se, Xi = ªn-i (resp. Xi = ai) para 1 S i S ·n. (a) Suponha, sem perda de generalidade, que as b se. Uma aplica-
Prova. Mostremos como maximizar a soma a1X1 + a2x2 + · · · + anXn, ção direta da desigualdade do rearranjo nos dá
sendo o raciocínio para minimizá-la totalmente análogo.
Como o número de permutações (x 1, x 2, ... , xn) dosa/sé finito, há a3 + b3 + c3 = a 2 · a + b2 · b + c2 · e 2: a 2 · b + b2 · e + c2 · a.
pelo menos uma delas que maximiza a soma a 1x 1 + a 2x 2 + · · · + anXn,
Se (b1, b2, ... , bn) é uma tal permutação, queremos mostrar que bi = ai (b) Podemos novamente supor, sem perda de generalidade, que a :=:;
s s
para 1 i n, e para tanto basta mostrarmos que deve ser b1 < b2 < b S e. A desigualdade a ser provada é equivalente a
· · · < bn. Suponha o contrário, i.e., que existam índices i < j tais que
bi > bj. Defina a permutação (b~, b;, ... , b~) dos a/s pondo
a2 bc + ab2 c + abc2 s (ab) 2 + (bc) 2 + (ca)2.
bk, se k-/=i,j Mas a sb S e implica em ab ac s s bc. Portanto, aplicando a
b~ = { bi, se k = j desigualdade do rearranjo, obtemos
bj, se k = i
Então
n n
L aib~ - L aibi Uma ideia muito útil em certos tipos de problemas de desigualda-
i=l i=l des é tentar utilizar um argumento similar ao apresentado na prova da
(aibj + ajbi) - (aibi + ajbj) desigualdade do rearranjo como técnica de argumentação. Colocamos
(ai - aj)(bj - bi) > O. tal ideia em prática no exemplo a seguir.
192 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 193

Exemplo 7.26 (Taiwan). Seja n > 2 inteiro. Calcule o maior valor Levando em conta a definição dos y/s, temos então que
possível da expressão n-2

L XiXj(Xi + Xj),
~E L Xi(Xn-l + Xn)(xi + Xn-l + Xn)
i=l
I:::;i<j:::;n n-2 n-l

sobre todas as sequências (x 1 , x 2 , ... , Xn) de reais positivos tais que


-L i=l
XiXn-1(Xi + Xn-1) - L XiXn(Xi + Xn)
i=l
X1 + X2 + · · · + Xn = 1.
n-2

Solução. Denote L[xi(Xn-l + Xn)(xi + Xn-l + Xn) - XiXn-1(xi + Xn-1)


1 1
i=l

E(x1, ... , Xn) = L XiXj(Xi + Xj) -XiXn(Xi


n-2
+ Xn)] - Xn-IXn(Xn-l + Xn)
I:::;i<j:::;n
L 2XiXn-lXn - Xn-IXn(Xn-l + Xn)
e observe que, sem perda de generalidade, podemos supor x1 2: · · · 2 i=l

Xn 2 O. Mostremos que Xn-IXn(2x1 + · · · + 2Xn-2 - Xn-2 - Xn)·

Mas, como x1 2 x2 2 ··· 2 Xn 2 O e n 2 3, segue que


E(x1, ... , Xn-2, Xn-l + Xn, O) 2 E(x1, ... , Xn)· (7.19)
2x1 + · · · + 2Xn-2 - Xn-l - Xn > 2X1 - Xn-l - Xn

Para tanto, ponha Yi = Xj para 1 ~ j < n - 1, Yn-l = Xn-l + Xn, X1 - Xn-l + X1 - Xn 2 Ü,


Yn = O e note que y1 + Y2 + · · · + Yn = 1. Por simplicidade de notação,
o que por sua vez estabelece (7.19).
denotando por ~E a diferença
Assim, para maximizar E(x 1 , ... , xn) podemos nos restringir às
sequências (xi, X2, ... , Xn) nas quais Xn = O. Repetindo o raciocínio
~E= E(y1, ... , Yn) - E(x1, ... , Xn),
acima várias vezes, concluímos que para maximizar E(x 1 , x 2 , ... , Xn)
obtemos podemos supor que xi = O parai > 2. Mas, como a operação acima
descrita não muda a soma dos Xi 's, concluímos que basta maximizar
n-2
a expressão x1x 2 (x1 + x 2 ), onde x 1 , x2 2 O e x 1 + x 2 = 1, o que é
~E L
I:::;i<j:::;n-2
YiYj(Yi + Yi) + LYiYn-I(Yi + Yn-1)
i=l
imediato:
n-l 1
4
i=l
,, Logo,
{ + L + Xn-l) - L + Xn) 1
i.1
I:::;i<j:::;n-2
XiXn-1(Xi
I:::;i<j:::;n-l
XiXn(Xi
E(x1, ... , Xn) ~ E(l/2, 1/2, O, ... , O) = 4. •
194 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 195

Nossa última desigualdade é devida ao matemático norueguês do Exemplo 7.28 (Romênia). Faça os seguintes itens:
século XIX N. H. Abel, sendo conhecida como a desigualdade de
(a) Sejam n > 1 inteiro e x1, ... , Xn, y1 , ... , Yn reais positivos tais
Abel.
que X1Y1 < X2Y2 < · · · < XnYn e, para 1 :S: k :S: n, x 1 + · · · + xk 2
Teorema 7.27 (Abel). Sejam n > 1 natural e a1, a2, ... , an, b1, . Y1 + · · · + Yk· Prove que
b2 , ... , bn números reais dados, com a1 2 a2 2 · · · 2 an 2 O. Se
1 1 1 1 1 1
M e m denotam, respectivamente, os elementos máximo e mínimo do - + -+ ... +-:::;; -+-+ ... +-.
X1 X2 Xn Yl Y2 Yn
conjunto de somas {b1, b1 + b2, ... , b1 + b2 + · · · + bn}, então
ma1 :S: a1b1 + a2b2 + · · · + anbn :S: Ma1. (b) Se A= {a1,a2, ... ,an} é um conjunto de inteiros positivos, tal
que dois quaisquer de seus subconjuntos têm somas de elementos
Prova. Provemos a desigualdade da direita, sendo a prova da desi- . distintas, prove que
gualdade da esquerda totalmente análoga.
Faça s 0 = O e si = b1 + · · · + bi para 1 :S: i :S: n. Então
n n n n-1

L aibi = L
ai(si - si-1) = L
aisi - L
ai+1si Prova.
i=l i=l i=l i=O
(a) Inicialmente, observe que
n-1

= L(ai - ai+I)si + anSn


i=l (7.21)
n-1

:S: LM(ai -
i=l
ai+1) + Man = Ma1. • Por outro lado, a condição x 1
1 :::;; k :::;; n pode ser escrita como
+ · · · + Xk > y1 + · · · + Yk para

Para referência futura, observamos que, nas notações da prova do


teorema acima, a igualdade
n n-1

L aibi = L(ai - ªH1)si + ansn (7.20) para 1 :S: k :S: n. Assim, fazendo ai = ~
x,y, e bi = xi -yi para 1 -< i <
temos a1 > a2 > · · · > an > O, b1 + · · · + b·i -> O e xi-Yi = a·b·
- n,
para
i=l i=l x·y· i i,
1 :::;; i :::;; n. ' '
é conhecida como a identidade de Abel, sendo quase tão útil quanto
a desigualdade de Abel em si. Aplicando a desigualdade de Abel a (7.21), obtemos então
Terminemos esta seção apresentando uma belíssima aplicação da n 1 n 1
desigualdade de Abel, na qual utilizaremos também o fato de que L ~ - L - 2 an · min { b1 + · · · + bi; 1 :S: i :::;; n} 2 O.
i=l Yi i=l Xi
todo conjunto com k elementos possui exatamente 2k subconjuntos
distintos. Para uma prova deste último fato, referimos o leitor ao (b) Suponhamos, sem perda de generalidade, que a 1 < a 2 < · · · < an
problema 22, página 139, ou, ainda, ao teorema 1.12 do volume 4. e seja Bk = { a1, ... , ak} para 1 :::;; k :::;; n. A hipótese feita sobre o
196 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 197

conjunto A garante que todos os 2k -1 subconjuntos não-vazios de Bk 3. Sejam a, b, e reais positivos. Prove que
têm somas distintas de elementos. Mas, como cada uma dessas somas 1 1 1 as + bs + cs
é um número natural e a 1 + · · · + ak é a maior delas, concluímos que -+-+-<----
ª b e - a3b3c3
4. (OIM.) Encontre todas as soluções reais positivas do sistema de
equações
Observando, agora, que 2k - 1 = 2° + 21 + · · · + 2k- 1, temos que
{
X1 + X2 + · · · + X1994 = 1994
a1 + ~2 + · · · + ak 2::: 20 21
+ + ··· + 2k-l
, xf + x~ + · · · + xf994 = xl + x~ + · · · + xl994

para 1 :S k :S n. Por outro lado, é óbvio que 5. Sejam a1, a 2 , a3 , a4 reais positivos. Prove que

20 ª1 < 21 a2 < ... < 2n-l an,


l<i<
Lº<k<4 a~+ a~+ af
i
ai+ aj + ak
2::: ªi + a~ + a~ + at
1

- J -

de modo que a desigualdade do item (a) fornece , ocorrendo a igualdade se, e só se, a 1 = a 2 = a3 = a4 .

-ª11 + -ª21 + ... + -an1 < -1


- 2°
+ -
2
1
1
+ ... + - 1
2n-l
< 2. • 6. Sejam n > 1 inteiro e a1, a2, ... , an, b 1 , b 2 , ... , bn reais dados,
com a1 S a2 S · · · S an e b1 S b2 S · · · S bn. Se À1 S À2 <
Para uma outra prova do item (b) do exemplo acima, veja o exem- · · · S Àn são reais positivos com soma igual a l, prove que
plo 3.18 do volume 4.

e dê condições necessárias e suficientes para a igualdade. A que


Problemas - Seção 7.4 caso particular corresponde a desigualdade de Chebyshev?

1. Para ri E N, prove que 7. Sejam a, b, e, d reais não negativos tais que ab + bc + cd + da = 1.


Prove que
a3 b3 c3 d3 1
- --+ + + >-.
b+c+d a+c+d a+b+d a+b+c - 3

2. (Estados Unidos.) Para m, n naturais, seja a 8. Para a, b, e reais positivos e n EN, prove que
Prove que an bn cn an-1 + bn-1 + cn-1
- - + - - + -
b+c a+c a+b -
- > - - -2- - - -
198 Desigualdades Elementares 7.4 Mais desigualdades 199

9. Sejam x, y e z reais positivos tais que xyz = 1. Prove que 15. (Taiwan.) Sejam n ~ 3 inteiro e x 1 , x 2 , ... , Xn reais não nega-
tivos cuja soma é igual a 1. Prove que:
3 3 z3 3
X + y + > -.
(1 + y)(l + z) (1 + x)(l + y) (1 + x)(l + y) - 4

10. (Índia.) Sejam n > 1 inteiro e x 1 , x 2 , ... , Xn reais positivos da-


16. Se a, b, e e d são reais não-negativos tais que a :::; 1, a+ b :::; 5,
dos, com soma igual a 1. Prove que
a+ b +e:::; 14 e a+ b +e+ d:::; 30, use a desigualdade de Abel
para provar que
n X· ~n 1 ~
n ;-;;:-:
~ ~
L
i=l
i
v'l - x·i
--
n - 1 v'n-=-1 L....JVXi·
._1
t-

11. (Eslovênia.) Dados 2n reais positivos a1, a2, ... , a2n, como deve-
17. Sejam ai, bi números reais tais que a 1 ~ a 2 ~ · · · ~ a 1 > O e
mos arranjá-los em pares de modo que a soma dos n produtos
b1 ~ a1, b1b2 ~ a1a2, ... , b1b2 ... bn ~ a1a2 ... ªn· Mostre que
dos números de cada par seja máxima?

12. (IMO.) Seja (akk:::1 uma sequência de inteiros positivos dois a


dois distintos. Prove que, para. todo n E N, temos
n n l
~ªk>~-
L....t k2 - L....J k.
k=l k=l

13. Faça os seguintes itens:

(a) Se x < y são reais positivos dados e a = x~u, prove que


a(x + y - a)~ xy.
o
(b) Use item (a) para fornecer uma outra prova da desigual-
dade entre as médias aritmética e geométrica.

14. (Torneio das Cidades.) Sejam a 1 , a 2 , ... , an reais positivos da-


dos. Prove que
Desigualdades Elementares
200

CAPÍTULO 8

•. 1

Soluções e Sugestões

Seção 1.1
1. Escreva %= á = r, obtendo a = br, e = dr e, em seguida, a ±e=
r(b ± d).

2. Seja x = O,a1a2a3 ... e suponha que a sequência (a1, a2, a3, .. . ) seja
periódica, como em (1.3), digamos. Se y EN é o inteiro com represen-
tação decimal b1b2 ... bp, conclua, a partir daí, que IOl+Px = y+ l01x,
de sorte que x = wi+P-lOP, um número racional. Reciprocamente,
seja x = %, com a, b E N e O < a :S b. Se Yk E N é o inteiro com
representação decimal a1 a2 ... ak, use o algoritmo da divisão para
concluir que lOka = byk + rk, com O :S rk < b. Em seguida, use o
fato de que só há um número finito de possibilidades para rk para
concluir pela existência de naturais l e p, tais que rl+p = rz. A partir
daí, conclua que a sequência (a1, a2, a3, .. . ) é da forma (1.3), com
b1 = ªl+l, b2 = ªl+2, · · ·, bp = ªl+p·

201
202 203

3. Imite a prova da unicidade do inverso aditivo, trocando + por ·eO 8. A desigualdade do enunciado equivale a ( ~ r +(*r +(~ r
2: 2. Esta
por 1. última desigualdade é trivial para n = 1 ou n = 2; para n 2: 3, aplique

4. Comece observando que O = O· a = (1 + (-l))a = 1 ·a+ (-l)a ==


o item (b) do corolário 1.3 para concluir que (~r
2: (~) 3 > 2.

a + (-1 )a; em seguida, use a unicidade do inverso aditivo. 9. Comece observando que, se a 2: 4, então O< i+i+i:::::; :t+:t+:t < 1,
5. Dentre as representações decimais acima, a única que não corres-
i t i
de sorte que + + não pode ser inteiro ..

ponde a um número racional é a do item (d); para provar essa última 10. Se a > 5 é inteiro, mostre que 4(a -4) > a; conclua, a partir daí, que
afirmação fato, observe que, na representação decimal em questão, . não é vantajoso termos parcelas maiores que 5. Em seguida, operando
aparecerão sequências arbitrariamente longas de zeros. Para escrever trocas semelhantes, descarte parcelas iguais a 4 ou 5. Por fim, mostre,
as representações dos itens (a), (b) e (c) como frações irredutíveis, de maneira análoga, que é mais vantajoso termos mais parcelas iguais
siga os passos delineados na sugestão ao Problema 2. a 3 que parcelas iguais a 2.

11. Sendo a o algarismo inicial, conclua inicialmente que existem inteiros


Seção 1.2 não negativos k e l tais que a· lOk < 2n < (a+ 1) . lOk e a. 101 <
1. Para os itens (b) e (c), utilize (7') e (a); o item (g) decorre dos itens 5n < (a + 1) · 101; em seguida, multiplique essas duas desigualdades
membro a membro.
(b) e (c).
1 1 1 1 1 12. Suponha que as três desigualdades do enunciado são verdadeiras; a
2. Comece mostrando que 2 - 3 + 4 - 5 > 5·
segunda delas implica (a - d) (e- b) < O, de sorte que a primeira delas
. a dº.C
3. Ava1ie 11erença a+l a+2
b+l - b+ 2 · fornece a - d < O < e - b. Use, agora, a terceira desigualdade para
obter ad( e - b) < bc( a - d) e, do que fizemos anteriormente, deduzir
4. Sendo S a soma dos dez números em questão, mostre que 48 pode
uma contradição.
ser escrito como uma soma de dez números reais, cada um dos quais
igual à soma de quatro dos dez números dados. 13. Adapte a demonstração do corolário em questão.

5. Argumente como no exemplo 1.4, utilizando o fato de que 31 < 32 = 14. Para o item (a), observe que
25 e 17 > 16 = 24 .
(rsr = (rs) ... (rs) = (r ... r). (s ... s) = rnsn.
6. Para os itens (a) e (b), comece observando que a n < bn se, e so' se, ~ -..,......, -..,......,
n n n
(!!)n < 1· em seguida aplique o resultado do corolário 1.3. Quanto a
b ' ' n
(c)' comece observando que an + bn < (a+ br se, e só se, ( a:b) + Para os demais itens, argumente de modo análogo.

(a!b) n< 1; em seguida, aplique o resultado do corolário 1.3. 15. Considere separadamente os casos m < n, m =nem> n, aplicando
convenientemente o item (b) do problema anterior em cada um deles.
7. Use o fato de que a 3 < e· a 2 e b3 < e· b2 e, em seguida, aplique o
teorema de Pitágoras - cf. item (c) da proposição 4.9 do volume 3. 16. Se b = 2k · 51 e n = max{k, l}, então %= a· 2 n~;~5n-t.
Soluções e Sugestões 205
204

Seção 1.5
t
17. Se n = 2k, com k EN, escreva xn = (x 2 e, em seguida, aplique o
item (g) da proposição 1.2. O caso em que n é ímpar pode ser tratado
1. Para o item (a), suponha, por contradição, que a > O. Então, pela
analogamente.
propriedade Arquimediana, podemos escolher n E N tal que n > l
um absurdo. Para o item (b), escolha n E N tal que n > e-;/. ª'

Seção 1.3
2. Para o item (b), suponha que r1, ... , rn E (a, b) n Q, com r 1, ... , rn
2. Para o item (a), por exemplo, mostre que ( yÍXYr = xy e ( :r:/x f/Yr == dois a dois distintos. Ser= min{r1, ... , rn}, então r E (a, b) n Q e,
xy; em seguida, use a unicidade da raiz n-ésima.
pelo item (a), podemos temos a < ªtr< r. Fazendo rn+l = ªtr,
temos então que r1, ... , rn, rn+l E (a, b) n (Q, com r 1, ... , rn, rn+l
3. Por contraposição1 , mostre que, se b # O, então r é racional.
dois a dois distintos. Por fim, argumente com números irracionais de
maneira análoga, utilizando a segunda parte do item (a).
4. Reduza este problema ao anterior.

5. Argumente por contraposição. 3. Para o item (a), suponha que temos a validade do resultado quando
a 2: O. Se b ::::; O, então -b 2: O e, por (a), existem r E (Q e a E
6. Se ab # O, desenvolva (a + b)2)2 = (-c\/'3) 2 para concluir que v'2 lR \ (Q tais quer, a E (-b, -a). Portanto, -r, -a E (a, b), com -r E
seria racional, o que é um absurdo. Portanto, ab = O e, daí, a = O ou (Q e -a E lR \ (Q. Se a ::::; O < b, mostre que basta aplicarmos o
b = O. Aplique, então, o resultado do Problema 3. resultado que supomos conhecido ao intervalo (O, b). Para o item (b),
use a propriedade Arquimediana dos naturais para obter n E N tal
7. Por contradição, suponha que J2 = %, com a e b naturais primos que n > b~· Por fim, quanto a (c), comece usando a propriedade
entre si, de maneira que 2b2 = a 2 . A partir dessa igualdade, mostre Arquimediana para garantir a existência de m E N tal que !!:! > b
n
que a é par e, daí, que b é par, chegando a uma contradição. (resp. m:;(2
> b); em seguida, mostre que se m for o menor natural
satisfazendo tal condição, então m > 1 e (m-~)v'2 E (a, b).
8. Imite a sugestão do problema anterior, trocando 2 por p.

1 Uma proposição da forma A * B (i.e., Se A, então B) pode ser provada de 4. Adapte os itens (b) e (c) do problema anterior ao caso presente.
forma direta, por contraposição ou por contradição. No primeiro caso, assumimos
a veracidade da asserção A e deduzimos a veracidade da asserção B diretamente;
no segundo caso, assumimos que a asserção B é falsa e deduzimos, diretamente, 5. Use o item (b) do Problema 3.
que a asserção A também é falsa; por fim, no terceiro caso, assumimos que a
asserção A é verdadeira e a asserção B é falsa e deduzimos diretamente, a partir
6. Use o exemplo 1.13, juntamente com a proposição 1.14.
daí, uma contradição (i.e., deduzimos que uma asserção obviamente falsa deveria
ser verdadeira, o que é impossível de ocorrer). Para uma revisão mais ampla
sobre Lógica e métodos de demonstração, sugerimos ao leitor uma das excelentes 7. Adapte a prova da proposição 1.16 ao caso presente.
referências [14] ou [42].
206 Soluções e Sugestões 207

Seção 2.1 4. Aplicando sucessivamente os itens (b) e (a) da proposição 2.1, obte-
mos
1. Para (a), basta desenvolver o segundo membro, obtendo
1 - (~ )-2 1- (;)2
(x-y)(x+y) =x(x+y)-y(x+y) (ytx - y'Y)2 + 2..fiy (x - 2..fiy + y) + 2..fiy
= (x 2 + xy) - (xy + y2) x 2 - y2 (X - y) (X + y) X - Y
= x2 -y2. x (x + y)
2 x (x + y)
2 ~·

5. Aplicando o item (a) da proposição 2.1, obtemos


Quanto a (b), temos
(x3 + y3 + z3)2 _ (x3 _ y3 _ z3)2
' 1
(x ± y) 2 = (x ± y)(x ± y) = x(x ± y) ± y(x ± y) y3 + z3
= ( x 2 ± xy) ± (xy ± y 2) = x 2 ± 2xy + y 2. [(x3 + y3 + z3) _ (x3 _ y3 _ z3)][(x3 + y3 + z3) + (x3 _ y3 _ z3)]
y3 + z3
Por fim (c) é também obtido desenvolvendo o segundo membro, o que 2(y3 + z3) . 2x3 3
deixamos a cargo do leitor.
= 3
y +z
3 =4x.

2. Basta observar que 6. Como ab = 1 ~ ! = b ~ t = a, temos que


m n p + n2 + p2 (a - !) (b + fi) (a-b)(b+a) ª2 _ b2
-+-+-=
m2
a2 - b2 a2 - b2 a2 - b2 = 1,
np mp mn mnp
onde utilizamos o item (a) da proposição 2.1 na penúltima igualdade
(m+n+p) 2 - 2(mn+mp+np)
mnp acima.

7. Temos (y - x)(y + x) = 192 , com y - x e y + x inteiros tais que


3. A condição do enunciado, juntamente com o item (a) da proposição O < y - x < y + x. Portanto, a única possibilidade é que tenhamos
2 .1, fornece y - x = 1 e y + x = 361, de forma que y = 181 e x = 180.

8. Uma aplicação judiciosa do item (b) da proposição 2.1 nos dá


(!} = (~ =:)
2 2
~ [b(l - a)] 2 - [a(l - b)] 2 = O
a4 + b4 = (a 2 + b2)2 - 2a 2b2 =[(a+ b) 2 - 2ab] 2 - 2(ab) 2
~ [b(l - a) - a(l - b)][b(l - a)+ a(l - b) =O = (m 2 - 2n) 2 - 2n2 = m 4 - 4m 2 n + 2n2.
~ (b - a)(a + b - 2ab) = O.
9. Segue do item (c) da proposição 2.1 que
Mas, como ai- b, segue que a+ b = 2ab. Daí, obtemos ª6 + b6 = (a2)3 + (b2)3 = (a2 + b2)(a4 _ a2b2 + b4)
1 1 a+ b 2ab _ = (a4 + b4) - a2b2 = (a2 + b2)2 - 3a2b2
- + - = - - = - - 2.
a b ab ab = 1-3(ab)2,
208 Soluções e Sugestões . 209

1-3(ab) 2 a6+b6
de sorte que aB+bB = aB+bB = 1. 14. Aplicando o item (a) do problema 12 duas vezes, obtemos
10. Observe que 1 2+v2-v'3 2+v2-v'3
2 + v2 + v'3 - (2 + \1'2)2 - (v'3) 2 3 + 4\1'2
(ac + bd) 2 + (ad - bc) 2 =
(2 + v2 - v'3)(3 - 4\1'2)
= (a2c2 + 2acbd + b2d2) + (a 2d2 - 2adbc + b2c2)
32 - (4\1'2)2
= a2(c2 + d2) + b2(d2 + c2) = (a2 + b2)(c2 + d2).
= -~(2 + V2 - v'3)(3 - 4\1'2).
23
11. Somando 1 a ambos os membros da igualdade, obtemos
15. Note primeiro que, para todo x real, tem-se x 3 + 3 = x 3 + (~) 3 =
11 2 = 121 = x + y + xy + 1 = (x + l)(y + 1).
(x + ~)(x 2 - x~ + W). Fazendo x = \1'2, obtemos
Mas, como x+l, y+l > 1, a única possibilidade viável é que tenhamos
2\1'2 + 3 = (v'2 + W)(2 - v'2 · W + W).
X+ 1 = y + 1 = 11.
Portanto,
12. Para o item (a), segue do item (a) da proposição 2.1, com y'x e Jy
no lugar de x e y, respectivamente, obtemos 1 2-v2-~+W
3 + 2\1'2
1
2 - v2 · ~ + ijg 3 - 2\1'2
(y'x ± y'y) (y'x =f y'y)
3 + 2\1'2 3 - 2\1'2
y'x =f vY y'x =f vY (3 - 2\1'2)(2 - v'2. W + W).
( y'x)2 - (yY)2 X - y
Quanto a (b), aplicando o item (c) da proposição 2.1, com ijx e ,ify 16. Basta substituir y + z = -x, x + z = -y e x + y = -z. Em (a),
no lugar de x e y, respectivamente, e observando que ( tfx) 2 = .if:x2 e obtemos
( tfx) 3 = x (e analogamente para y), obtemos x2 y2 z2 x2 y2 z2
---+ + =--+--+--=3.
(y+z)2 (x+z)2 (x+y)2 (-x)2 (-y)2 (-z)2
1 ·~=f~+W
A nalogamente, x3 y3 z3 - 3
tfx±W (tfx±W)(~=F~+W) (y+z) 3 + (x+z)3 + (x+y)3 - - ·

~=f~+W 17. Aplicando o item (a) da proposição 2.1 sucessivas vezes, obtemos
x-y
ª64 _ b64 = (a32 + b32)(a32 _ b32)
Por fim, (c) segue, imediatamente, de (b).
= (a32 + b32)(a16 + b16)(a16 _ b16)
13. Pelo item (a) do problema anterior, temos = (a32 + b32)(a16 + b16)(a8 + bs)(as _ bs)
= (a32 + b32)(a16 + b16)(a8 + b8)(a4 + b4)(a4 _ b4)
2 ( v'n + 1 _ v'n) = 2 (n + 1) - n = 2 < _2_ = __!___,
Jn + 1 + y'n Jn + 1 + y'n 2yln yln = (a32 + b32)(a16 + b16) ... (a2 + b2)(a2 _ b2)
A outra desigualdade pode ser provada de modo análogo. = (a32 + b32)(a16 + b16) ... (a2 + b2)(a + b)(a - b),
210 Soluções e Sugestões 211

de sorte que Agora, corno (a+ b) +(a+ e)+ (b + e) = 2(a + b + e), o qual é urn
ª64 _ b64 número par, ternos que ao menos urn dentre a+ b, a+ e ou b + e é par,
(a+ b)(a2 + b2)(a4 + b4)(a8 + b8)(a16 + b16) = (a32 + b32)(a + b). de maneira que 3(a + b)(a + c)(b + e) é urn múltiplo de 6. Portanto,
6 I (a+b+c) ~6 I (a+b+c) 3
18. Para o item (a), basta ver que
~ 6 [a 3 + b3 + c3 + 3(a + b)(a + c)(b + e)]
1

(a_ b)(an-1 + an-2b + an-3b2 + ... + abn-2 + bn-1) =


~6 1 (a3 + b3 + c3).
a(an-1 + an-2b + an-3b2 + ... + abn-2 + bn-1)
-b(an-1 + an-2b + an-3b2 + ... + abn-2 + bn-1) 21. Apresentemos duas soluções diferentes, cada urna usando urn produto
notável. Primeiro,
(an + an-lb + an-2b2 + ... + a2bn-2 + abn-1)
-(an-lb + an-2b2 + an-3b3 + ... + abn-1 + bn) a+b+c=O ==> (a+b) 3 =(-c) 3
an - bn. ==> a3 + b3 + 3ab( a + b) = -c3
==> a3 + b3 + 3ab(-c) = -c3
Quanto a (b), observe que a alternância de sinais faz sentido exata-
==> a3 + b3 + c3 - 3abc =O
mente porque n é ímpar: '
exatamente a identidade desejada. Outra possibilidade é utilizar o
(a+ b)(an-1 _ an-2b + an-3b2 _ ... _ abn-2 + bn-1) =
produto notável do exemplo 2.8:
a(an-1 _ an-2b + an-3b2 _ ... _ abn-2 + bn-1)
+b(an-1 _ an-2b + an-3b2 _ ... _ abn-2 + bn-1)
a+b+c=O ==> (a+b+c)3=0
:=:> a3 + b3 + c3 + 3(a + b)(a + c)(b + e) = O.
(an _ an-lb + an-2b2 _ ... _ a2bn-2 + abn-1)
+(an-Ib _ an-2b2 + an-3b3 _ ... _ abn-1 + bn) Mas de a+b+c = O, ternos a+b = -e, a+c = -b, b+c = -a, e daí
an + bn. 3(a + b)(a + c)(b +e)= 3(-c)(-b)(-a) = -3abc.

19. Mais geralmente, fatoremos x 4n+4y4n, onde n EN, usando a fórmula 22. Corno a + Va 2 - b ~ a - Va 2 - b, ambos os membros da igualdade
para o quadrado de urna sorna corno inspiração: desejada são reais não negativos, de sorte que basta mostrarmos que
seus quadrados são iguais, i.e., que
X4n + 4y4n (x2n)2 + (2y2n)2
[(x2n)2 + (2y2n)2 + 2X2n. 2Y2n] _
(x2n + 2Y2n)2 _ (2xnyn)2
2X2n. 2Y2n a±Vb-(ª+~) + (ª-~)
(x2n + 2y2n + 2xnyn)(x2n + 2y2n _ 2xnyn).
(ª+~) (ª-~)
±2
20. Segue do exemplo 2.8 quer

(a+ b + c) 3 = a 3 + b3 + c3 + 3(a + b)(a + c)(b + e). =a±2 Va2 - ()a2 - b)2


4 '
213
212 Soluções e Sugestões

o que é verdade. Há igualdade se, e só se, x = y ou, ainda, a = b.


o que é imediato verificar.

23. Escrevendo x+;+z - 1 i


= + ~ e operando as adições de frações de 26. Note, inicialmente, que
ambos os membros, concluímos que x(x + y + z) = -yz ou, ainda,
x 2 = - x~~~z. Argumentando analogamente, obtemos
2 2 2 xyz de maneira que
x=y=z=-
x+y+z
. V<J= (ffe+,q'b)3-(a+b) E(Q.
De x 2 = y 2 , obtemos x = y ou x = -y; mas, como x+y =/= O, devemos
3( ffe + ,q'b)
ter x = y. Analogamente, x = z e, daí, a igualdade do enunciado se
reduz a 3~ = ~, o que é, obviamente, impossível. A partir daí, concluímos que
24 . Drazend o x -_ b-c'
1 _ 1 _ 1 t a-b
y - e-a e z - a-b' emos Ta-Vh= a-b
( ffe)2 + lf<Jj + (,q'b) 2 ( ffe + ,q'b)2 - lf<Jj E (Q
1 1 1
xy+xz+yz = (b-c)(c-a) + (b-c)(a-b) +-----
(c-a)(a-b) e, portanto,
(b - c)(c ~ a)(a - b) [(a - b) + (e - a)+ (b - e)] = o. 1
Ta= 2[( Ta+ \1'b) + (Ta - \1'h)] E (Q;
Mas, se x, y, z são números reais tais que xy + xz + yz = O, então
sabemos que x 2 + y 2 + z 2 = (x + y + z)2. Portanto, temos em nosso analogamente, ,q'b E (Q.
caso que
27. Elevando ao cubo ambos os membros da igualdade a+c+d = -(b+
__1_+ 1 + 1 = (-1-+_1_+_1_) 2 e + f), com o auxílio do produto notável do exemplo 2.8, obtemos
(b-c)2 (c-a) 2 (a-b) 2 b-c e-a a-b
Por fim, uma vez que b~c + c~a + a~b é um número racional, a relação
acima diz precisamente que o primeiro membro é o quadrado de um
Mas, como a3 + b3 + c3 + d3 + e3 + f 3 = O, segue da igualdade acima
racional.
que
25. Faça x = ffe e y = ,q'b, de modo que x,y>O. Então, (a+ c)(a + d)(c +d)= -(b + e)(b + f)(e + f).

{i4(a+b) ~ Ta+Vb {:} {i4(x3+y3) ~x+y Analogamente, partindo de a+ e+ f = -(b +e+ d), obtemos
{:} 4(x3 + y3) ~ (x + y)3
(a+ e)(a + f)(e + f) = -(b + c)(b + d)(c + d).
{:} 3(x 3 + y 3) ~ 3xy(x + y)
{:} (x + y)(x 2 - xy + y 2 ) ~ xy(x + y) Por fim, multiplicando as duas últimas identidades acima e cance-
{:} x 2 - xy + y 2 ~ xy lando o fator comum (e+ d) (e + f), obtemos a identidade do enunci-
ado.
{:} (x-y) 2 ~ O,
214 Soluções e Sugestões 215

28. Veja que dessa equação é ~ = -39 < O, não há raízes reais. Portanto, a
equação dada não possui soluções. Quanto a (b), há dois casos a
b3 < b3 + 6ab + 1 :::; b3 + 6b2 + 1 < b3 + 6b2 + 12b + 8 = (b + 2) 3 .
considerar: x 2 - 3x 2'. O ou x 2 - 3x < O. No primeiro caso, que
Portanto, se b3 + 6ab + 1 deve ser um cubo perfeito, devemos ter equivale a x(x - 3) 2'. O, temos lx 2 - 3xl = x 2 - 3x. A equação dada
se reduz então a x 2 - 3x = x - 1, cujas raízes são x = 2 ± J3. Destas,
b3 + 6ab + 1 = (b + 1) 3 = b3 + 3b2 + 3b + 1, somente x = 2+v3 satisfaz a condição x(x-3) 2'. O, sendo portanto a
única raiz válida. O segundo caso equivale a x(x-3) < O, e nele temos
e segue daí que 2a = b + l. Substituindo b = 2a - 1 em a3 + 6ab + 1, lx 2 -3xl = -(x 2 :__3x). Assim, a equação dada se reduz a -(x 2 -3x) =
obtemos que o número a 3 + 6a(2a - 1) + 1 = a 3 + 12a2 - 6a + 1 deve x-1, ou ainda x 2 -2x-1 = O, cujas raízes são x = 1 ± J2. Somente
ser um cubo perfeito. Mas é imediato verificar que x = 1 + vÍ2 cumpre a condição x(x -3) < O, sendo então a única raiz

a 3 < a3 + 12a2 -

de modo que as únicas possibilidades são


6a + 1 <(a+ 4) 3 ,
forma 1-;~t
válida nesse caso. Para (c), podemos reescrever a equação dada na
2 I = 6 - x, ou ainda l3x - 21 = (6 - x)lx + li- Para nos

livrar os módulos, teremos de considerar quatro casos, resultantes


dos cruzamentos das possibilidades de sinal para 3x - 2 ex+ 1:
a 3 +12a2 -6a+l = (a+1)3, (a+2) 3 pu (a+3) 3 .
• 3x - 2 2'. O e x + 1 2'. O: nesse caso, l3x - 21 = 3x - 2 e
Cada uma dessas possibilidades nos dá uma equação do segundo grau lx+ li= x+ 1, e ficamos com a equação 3x-2 = (6-x)(x+ 1),
em a. Resolvendo-as, obtemos a = 1 como única solução inteira. de raízes x = -2 ou 4. Somente x = 4 satisfaz as condições
Logo, b = 2a - 1 = l. dadas.
• 3x - 2 2'. O e x + 1 < O: tais condições são o mesmo que x 2'. j
Seção 2.2 e x < -1, não havendo número real que as satisfaça.

2. Para a primeira desigualdade, interprete lx - ai como a distância de • 3x - 2 < O e x + 1 2'. O: aqui temos l3x - 21 = -(3x - 2) e
x a a na reta numerada. Para as outras três desigualdades, adapte a lx+ll = x+l, de modo que a equação dada se torna -(3x-2) =
sugestão dada à primeira. (6 - x) ( x + 1). Essa equação é idêntica à do item anterior, tendo
portanto raízes x = 4 ± Js. Novamente nenhuma delas satisfaz
3. Analise separadamente os casos (i) x, y 2'. O, (ii) x 2'. O > y, (iii) as condições dadas.
y 2'. O > x e (iv) x, y < O, mostrando que a igualdade se verifica em
• 3x - 2 < O e x + 1 < O: deixamos ao leitor a tarefa de terminar
todos eles.
a análise desse caso.
4. Para (a) consideremos dois casos: se x-1 2'. O, então lx-11 = x-1 e
Por fim, (d), (e) e (f) podem ser resolvidos com a utilização de argu-
a equação dada se resume a x 2 +5(x-1)+11 = O, i.e., x 2 +5x+6 = O.
mentos análogos aos acima.
Suas raízes são x = - 2 ou -3, mas nenhuma delas cumpre a condição
de ser x 2'. l; logo, não há soluções neste caso. Se x - 1 < O, então 5. Analise separadamente os casos x < O, O< x < 1, x > l. O conjunto
lx-11 = 1-x e a equação fica x 2 -5x+16 = O. Como o discriminante solução é (-oo,O) U (1,+oo).
216 Soluções e Sugestões 217

6. Como IYI ~ y e 1 - YI = IYI para todo real y, temos lx - ai ~ x - a e uma vez que r ~ O e v'2 > 1.
lx - bl = lb - xi ~ b - x. Portanto, para que a equação dada tenha
alguma raiz real x, devemos ter 9. Note primeiro que, dados dois reais distintos x e y, tem-se

e= lx - ai+ lx - bl ~ (x - a)+ (b- x) = b- a, {x, y} = {max{x, y}, min{x, y}},


quer dizer, e~ b- a. Concluímos, pois, que uma condição necessária de modo que
à existência de soluções reais para a equação dada é que e ~ b - a. n n
Logo, se e < b - a, a equação não terá solução. Vejamos o que ocorre LJ{max{ai, bi}, min{ai, bi}} = LJ{ai, bi} = {1, 2, 3, ... , 2n}.
caso e ~ b - a (i.e., vejamos se essa condição também é suficiente i=l i=l
para a existência de soluções): desde que todo real x satisfaz uma Também,
das possibilidades x ~ a, a < x ~ b ou x > b, vamos analisá-las lx -yl = max{x,y} - min{x,y},
separadamente:
de sorte que
• x ~ a: então x - a ~ O e x - b ~ O (porque?), de modo que
a equação dada se reduz a -(x - a) - (x - b) = e, cuja raiz é la1 - b1I + la2 - b2I + · · · + lan - bnl =
x =!(a+ b- e). Verifique que tal raiz de fato satisfaz x ~ a. (max{ a1, bi} + max{ a2, b2} + · · · + max{ an, bn})
• a < x ~ b: a equação dada se reduz a (x - a) - (b - x) = e, -(min{ a1, b1} + min{ a2, b2} + · · · + min{ an, bn} ).
ou ainda b - a = e. Como devemos interpretar essa igualdade?
Bem, se ela for verdadeira então todo real x tal que a < x ~ b Por outro lado, dados 1 ~ k, l ~ n, com k #- l, temos:
será solução da equação; se ela for falsa, então a equação não
terá soluções x satisfazendo as condições dadas.
• x > b: chegamos à solução x = !(a+ b + e), que realmente e
satisfaz a condição x > b.
de maneira que ·
Logo, nossa equação terá O soluções caso e < b - a, duas soluções
!(
(x = a + b - e) ou x = !(
a + b + e)) caso e > b - a e uma infinidade {max{a1, bi}, max{a2, b2}, ... , max{an, bn}} = {n + 1, n + 2, ... , 2n}
de soluções (todo a< x ~ b) caso e= b - a.
e
7. Mostre que todo x E (n, n + 1) é raiz da equação.
{min{ a1, b1}, min{ a2, b2}, ... , min{ an, bn}} = {1, 2, ... , n }.
8. Basta ver que
Logo,
_r+2_V21-l-1 +l-V21-l-1 _ _1_1
l r+l - r+l - r+l v'2+1
la1 - b1I + ia2 - b2I + · · · + lan - bnl =
lv'2-rl li V2I
(r+l)(v'2+1) <2r- ' = ( ( n + 1) + (n + 2) + · · · + 2n) - (1 + 2 + · · · + n) = n 2.
218 Soluções e Sugestões 219

Seção 2.3 Por fim, quanto ao item (c), fazendo a susbtituição y = x 2 + 18x
transformamos a equação dada em y + 30 = 2y'y + 45. Elevando
1. Resolva a equação equivalente x 2 - a 2 = O.
ambos os membros ao quadrado, segue que (y + 30) 2 = 4(y + 45) ou,
2. Basta observar que ~ = b2 - 4ac > O. ainda, y2 + 56y + 720 = O, cujas raízes são y = -36 ou -20. Destas,
somente y = -20 nos serve, uma vez que y + 30 = 2y'y + 45 nos dá
3. Como x 2 = lxl 2 , as soluções da primeira equação são os números reais y + 30 2: O e y + 45 2: O, i.e., y 2: -30. Portanto, x 2 + 18x + 20 = O
x tais que lxl = 3 ou lxl = -2, i.e., x = ±3. Portanto, a= 3+ (-3) == e, daí, x = -9 ± y'61.
O e b = 3( -3) = -9.
6. Observe, inicialmente, que x 2: ~'afim de que v'2x - 1 tenha sentido
4. Se x = a for raiz da equação dada, então a 2 +biai+ e= O. Mas aí, no conjunto dos reais. Também, x 2: v'2x - 1, a fim de que os ra-
dicandos das raízes quadradas do primeiro membro tenham sentido.
(-a) 2 + bl - ai +e= a 2 + biai +e= O, Mas, como

i.e., x = -a também é raiz da equação. Portanto, como a+(-a) = O, x 2: v'2x - 1 ~ x 2 2: 2x - 1 ~ x 2 - 2x + 1 2: O,


a soma das raízes da equação é sempre igual a O.
o que é sempre verdade, a condição para a existência das raízes qua-
5. Para o item (a), segue de y'x + 2 = 10 - x que x + 2 = (10 - x) 2 ou, dradas da equação se resume a x 2: ~. Agora,
ainda, x 2 - 21x + 98 = O. Como 7 + 14 = 21 e 7 · 14 = 98, segue
que as raízes dessa última equação são x = 7 ou x = 14. No entanto,
somente x = 7 satisfaz a equação original, uma vez que substituindo
A2 = ( Jx + v'2x - 1 + Jx - v'2x - 1) 2

x = 14 na mesma obtemos vf:i6 = -4, um absurdo.


= 2x + 2J(x + v'2x - l)(x - v'2x - 1)
Quanto a (b), observe inicialmente que devemos ter - ~ :S x :S !, a = 2x + 2 J x 2 - ( 2x - 1) = 2x + 2 lx - li-
fim de que as raízes quadradas tenham sentido. Por outro lado,
Consideremos somente o item (b), deixando os outros dois itens como
v'x + 10 = v'2x + 3 + v'l - 3x ~ exercícios para o leitor. Sendo A = 1, temos de resolver a equação
~ x + 10 = (v'2x + 3 + v'l - 3x )2 2x + 2lx - li = 1, sob a condição de que x 2: !-
Se x 2: 1, a equação
~ x + 10 = 4 - x + 2y'(2x + 3)(1 - 3x) se resume a 2x + 2(x - 1) = 1, e segue que x = j, valor que não
satisfaz a condição x 2: 1. Se ~ :S x < 1, a equação se resume a
~ x + 3 = y'(2x + 3)(1 - 3x)
2x + 2(1 - x) = 1, a qual é uma igualdade falsa para todo x em tal
~ (x + 3) 2 = (2x + 3) (1 - 3x) intervalo. Logo, no item (b) não há soluções.
~ 7x 2 + 13x + 6 = O,
7. Sejam ax 2 +bx+c = O a equação do primeiro modelo, a'x 2 +bx+c = O
de sorte que x = -1 ou -; . Como ambos tais valores pertencem a do segundo modelo e ax 2 + bx + e' = O a do terceiro modelo. Como
! ],
ao intervalo [- ~, concluímos que são as soluções da equação do as raízes da equação do segundo modelo são 2 e 3, temos que = 5 -*1
enunciado. e -!f! = 6, de sorte que -~ = i;
por outro lado, como as raízes da
220 Soluções e Sugestões
221

equação do terceiro modelo são 2 e -7, temos que-~= -5. Assim, 13. Parafraseie a solução do problema anterior.
a equação do primeiro modelo é ax 2 + 5ax - 6a = O, cujas raízes são
as mesmas da equação x 2 + 5x - 6 = O, i.e., -6 e 1. 14. Substituindo x por a, obtemos a igualdade a 2 = a + 1 e, a partir
dela, sucessivamente
8. Segue da proposição 2.13 que a+ b = -a e ab = b. A segunda
igualdade fornece a = 1, valor que substituído na primeira equação
a 4 = (a 2 )2 = (a + 1) 2 = a 2 + 2a + 1 = 3a + 2
nos dá b = -2. e

9. Novamente pela proposição 2.13 (aplicada às duas equações), temos a 5 =a· a 4 ~ a(3a + 2) = 3a2 + 2a = 3(a + 1) + 2a = 5a + 3.
-a = a 2 + /3 2 = (a+ /3) 2 - 2a/3 = 13 - 2 · 9 = -5 e b = a 2 /3 2 = Portanto, a 5 - 5a = 3.
(a/3) 2 = 92 = 81. Portanto, a+ b = 86.
15. Como as raízes são inteiros com produto igual a 5, concluímos que elas
10. Uma possibilidade é a equação x 2 - Sx + P = O, onde são (i) 1 e 5 ou (ii) -1 e -5. No primeiro caso, m = -(1 + 5) = -6,
S =u3 +v3=(u+v)(u2 -uv+v 2 ) ao passo que, no segundo, m = -((-1) + (-5)) = 6.
= -[(u + v) 2 - 3uv] 16. A equação dada é equivalente a
= -[(-1) 2 - 3(-1)] = -4
x2 - (b +e+ 2a2 )x + [bc + a2 (b + e)] = O.
e
P = u 3 v 3 = (uv) 3 = (-1) 3 = -1. Para que as raízes de tal equação sejam sempre reais e distintas, basta
mostrarmos que sempre se tem ~ > O. De fato,
11. Uma possibilidade é a equação x 2 - S'x + P' = O, onde
(b +e+ 2a2 ) 2 - 4[bc + a 2 (b + e)]
S' = (aS + P) + (/38 + P) =(a+ /3)8 + 2P = 82 + 2P (b + c) 2 + 4a4 - 4bc = (b - c) 2 + 4a4 > O,
e uma vez que a =/:- O.

P' = (aS + P)(/38 + P) = a/38 2 +(a+ /3)SP + P 2 = 282 P + P 2 , 17. Fazendo x - .! = a, obtemos x 2 - ax - 1 = O (1) e daí .! = x - a
X ' ' X
Logo, a equação original se torna x =via+ Jl - (x - a) ou, ainda,
º

onde utilizamos as relações a+/3 =Se a/3 = P nas igualdades acima.


x - via= Jl + a - x (2). Elevando ambos os membros de (2) ao
12. Se a= 7 + 4y'3 e /3 = 7 - 4v'3, então a+ /3 = 14 e a/3 = 1, de sorte quadrado, obtemos
que a e /3 são as raízes da equação de segundo grau x 2 - 14x + 1 = O.
x 2 + a - 2vlax = 1 + a - x
Portanto, a 2 = 14a - 1 e /3 2 = 14/3 - 1 e, a partir dessas igualdades,
obtemos ou, o que é o mesmo, x 2 - (2vla - l)x - 1 = O (3). Subtraindo
(3) de (1), segue que (2vla - 1 - a)x = O. Como x =/:- O, deve ser
2vla - 1 - a = O, donde a = 1. Então x - -l; = 1, de sorte que
Agora, faça k igual a O, 1, 2 e 3 para calcular, sucessivamente, a 2 +/3 2 , x = 1±2v5. Mas segue de (2) que x - 1 = x - via = Jl + a - x 2:: O,
ª3 + /33, a4 + /34 e ª5 + /35. de modo que x = 1\v5.
222 Soluções e Sugestões 223

Seção 2.4 4. Use o resultado do problema anterior.


l. Se u for uma raiz comum das equações dadas, então au 3 - u 2 u- - 5. Compare os coeficientes de ambos os membros da igualdade
(a+ 1) = O (*) e u - (a+ 1) = O. Multiplicando a segunda
au 2 -
igualdade por u, obtemos au 3 - u 2 - (a+ l)u = O; subtraindo esse x 3 + ax 2 + bx +e= (x - a)(x 2 + f3x + 'Y)
resultado de (*), chegamos a (a+ l)u - u - (a+ 1) = O, de modo para obter as igualdades /3 - a = a, 'Y - a/3 = b e -a"( = e. Agora,
que u = 1 + i.
Portanto, se as equações dadas tiverem uma raiz em use a primeira e a terceira relações para obter /3 = a + a e 'Y = - ~,
comum, tal raiz será u = 1 + .!.a . Resta somente verificar que u = 1 + la mostrando, em seguida, que tais valores para /3 e 'Y também satisfazem
é, realmente, raiz de ambas as equações, tarefa que deixamos a cargo a relação 'Y - a/3 = b (nesse passo você precisará utilizar a igualdade
do leitor. a 3 + aa 2 + ba + e = O).
2. Para o item (a), basta ver que 6. Para o item (a), faça a = {/2 + J5 e b = {/2 - Js, de sorte que
a = a + b. Em seguida, use o fato de que
x3 - 3x2 + 5x (x 3 - 3x 2 + 3x - 1) + (2x - 2) + 3
(x - 1) 3 + 2(x - 1) + 3. a 3 = a3 + b3 + 3ab(a + b) = a3 + b3 + 3aba,

Agora, segue de (a) que as igualdades do enunciado podem ser rees- juntamente com a relação ab = -1. Quanto ao item- (b), use o
critas como resultado do problema anterior para mostrar que x 3 + 3x - 4 =
(x- l)(x 2 + x + 4), de modo que x = 1 é a única raiz real da equação
(x - 1)3 + 2(x - 1) + 3 = 1 e (y - 1)3 + 2(y - 1) + 3 = 5. x 3 + 3x -4 = O.
Somando membro a membro as identidades acima, chegamos a 7. Use o resultado do problema 9.
(x - 1)3 + (y - 1)3 + 2(x + y - 2) = O. 8. Para calcular o valor da primeira expressão, use as relações (2.16),
Substituindo juntamente com a identidade a 2 + {3 2 + "t2 = (a+ f3 + 1') 2 - 2(a/3 +
ª'Y + /3"(); para as duas últimas, comece observando que, uma vez que
(x - 1) 3 + (y - 1) 3 = (x + y - 2)[(x - 1) 2 - (x - l)(y - 1) + (y - 1) 2] a é raiz da equação, temos a 3 = 3a - 1, e analogamente para f3 e 'Y·
na relação acima e colocando a + b - 2 em evidência, obtemos final- Em seguida, some membro a membro as relações assim obtidas.
mente 9. Expanda a expressão (y + d) 3 + a(y + d) 2 + b(y + d) + e e imponha
(x + y - 2)[(x - 1) 2 - (x - l)(y - 1) + (y - 1) 2 + 2] = O. que o coeficiente de y 2 seja igual a O.

Há, agora, duas possibilidades: x + y - 2 = O ou (x - 1)2 - ( x - 1) (y - 11. Basta ver que


1) + (y - 1)2 + 2 = O. Para mostrar que a segunda possibilidade não
ocorre, faça x - 1 = a, y - 1 = b e observe que x 3 + : 3 = ( x + ~) ( x 2 - 1 + : 2)

2b) -(x+D ((x+~)'-3).


2 2 2 2
ª2 - ab + b2 + 2 = ª2 - ab + 4b + 43b + 2=
(
a- + 43b + 2 > O.
l 1

224 Soluções e Sugestões 225

12. Basta ver que 4. A substituição de variáveis a= b= i, i, i


e= transforma o sistema
dado em um sistema linear de três equações e três incógnitas.

5. Observe que. cada Xj comparece em exatamente três dentre as equa-


ções dadas. Portanto, somando membro a membro todas elas e divi-
dindo ambos os membros da relação obtida por 3, obtemos
13. x 2 - x - 1 = O equivale a x - i = 1. Agora, use a identidade
X1 + X2 + X3 + ' · · + XlQQ = Ü.
x3 - : 3 = ( x - ~) ( x + 1 + : 2 )
2
Para provarmos que x 1 = O, note que

- (x-D ((x-ff +3). Ü X1 + (x2 + X3 + x4) + ··· + (xg8 + Xgg + X100)

X1+0+0+ .. ·+0 = X1.


14. x 2 - 4x + 1 = O equivale a x + i
= 4. Use, agora, a expressão para Para obter x2 = O, veja que
x3 + ~
X
deduzida na sugestão ao problema 11, observando em seguida
que Ü X2 + (x3 + X4 + X5) + ···+ (xgg + X100 + x1)
2
x 6 + -1 = ( x3 + -x31 ) - 2. X2+0+0+ .. ·+0 = X2,
x6

Agora, x1 + x2 + X3 = O implica em x3 = O. Então, x2 + X3 + x4 = O


16. Considere inicialmente os casos n = 2, 4 e 6; em seguida, adapte os
implica em x4 = O e, assim por diante, todos os xi's são iguais a zero.
argumentos desses casos particulares ao caso geral.)

17. Para o item (a), veja a sugestão ao problema 11. Para o item (b), Seção 3.2
argumente como feito no texto para equações biquadradas.
1. Basta manipular as equações do sistema e usar produtos notáveis.

Seção 3.1 2. Sendo z = 1/(x + y), obtemos o sistema

1.. Execute o algoritmo de escalonamento em cada um dos itens acima. z+x=a+l


{
zx =a· 1
2. Para o item (a), é suficiente ver que x1 = x2 = · · · = Xn = O sempre
é uma solução. Quanto a (b), suponha que x1 = a1, x2 = a2, ... , Há, portanto, duas possibilidades: (z,x) = (a, 1) ou (z,x) = (1,a).
Xn = an e x1 = f31, x2 = f32, ... , Xn = f3n sejam soluções distintas Essas possibilidades levam aos sistemas
de (3.2). Se t E IR for escolhido arbitrariamente, mostre que x1 =
+y =
e { x+y=l
ta1 + (1 - t)f31, X2 = ta2 + (1 - t)f32, ... , Xn = tan + (1 - t)f3n X a-l
{ .
também é solução. x=l X= a-l '

3. Aplique o algoritmo de escalonamento, nos moldes do exemplo 3.3. ambos de solução imediata.
226 Soluções e Sugestões 227

3. Adapte, ao presente caso, as ideias da solução ao problema anterior. 8. Veja que

4. Some ordenadamente as três equações e escreva o resultado como 3 3


x+---2v'x+2 (x -1) + 1 + - - - 2v'x + 2
X-:- 1 x-l
(axi+(b-l)x1 +c)+(ax~+(b-l)x2+c)+(ax~+(b-l)x3+c) = O.) x+2
(x -1) + - - - 2\l'x + 2
x-l
Em seguida, analise separadamente os itens (a) e (b).

5. Suponha, sem perda de generalidade, que x ?: y. Em seguida, utilize


(~-~)'
as equações do sistema para concluir que x = y = z. Por fim, note (as raízes acima existem, uma vez que x > 1). Portanto, pelo lema 3.7,
que x = 1 é raiz de x 3 - 2x + 1 = O. Você precisará do resultado do resolver a equação do enunciado equivale a resolver o sistema
problema 9, página 66.
vx=-1- {x+2 = ~ - {ii+2 = ~ - {i+2 = o
6. Transforme o primeiro membro numa soma de quadrados e aplique o V~ V-;=-i V~ ,
resultado do problema 13, página 16 ou, o que é o mesmo, o lema 3. 7
no caso n = 3. de modo que x =y=z= 3 +f13.
7. Substituindo y = i(a - z - 3x) na primeira equação, obtemos 9. Sendo a = f/x +5 e b = f/4 - x, temos a+ b = 3 e a3 + b3 = 9:
Segue, daí, que
x
2
+ -1 (a - z - 3x)
2
= 4z
16 9 = a3 + b3 = a3 + (3 - a) 3 = 27 - 27a + 9a 2
ou, ainda,
ou, ainda, a 2 - 3a + 2 = O. Portanto, a = 1 ou 2, donde x = -4 ou 3..
25x 2 - 6x(a - z) + (a - z) 2 - 64z = O

A fim de que a solução do sistema seja única, o discriminante dessa 10. Introduza a variável y = y'5 - x para transformar a equação dada
equação de segundo grau (em x) deve ser igual a zero, i.e., devemos em um sistema de duas equações em x e y.
ter 11. Observe, inicialmente, que
36(a - z) 2 = lOO[(a - z) 2 - 64z]
x2
ou, ainda, (a - z) 2 = lOOz. Sendo esse o caso, temos (da equação de x2+--- x2+ (1- _ 1 )2
is
segundo grau em x acima) x = (a - z) e (da segunda equação do
(x + 1) 2 x+l
2 1 2
sistema) y = 2f(a - z). Portanto, a solução do sistema será única se, X +l+ ---
(x+1)2 x+l
e só se, a equação (em z) (a - z) 2 = lOOz tiver uma única solução.
2
( x + 2x + 1) + ( 1 2
Uma vez que ela equivale a z 2 -2z(a+50) +a 2 = O, seu discriminante 2 - 2x - - -
x + l) x+l
também deve ser igual a zero, i.e., devemos ter (a+ 50) 2 = a 2 . Logo,
( )2 1 2
a= -25. X+ 1 + ( l) - 2(x + 1) - - - + 2.
x+ 2 x+l
228 Soluções e Sugestões 229

Fazendo a substituição y =x+ 1 + 1/(x + 1), obtemos Podemos transformar as demais equações de modo análogo, obtendo
o sistema abaixo, equivalente ao original:
2 1 2
(x + 1) + (x + 1)2 = y - 2, u 2 + 4 = 4v, v 2 + 4 = 4w, w 2 + 4 = 4u.
Somando membro a membro as três equações acima, chegamos a
e nossa equação simplifica em (y 2 - 2) - 2y + 2 = 3, ou ainda y2 -
2y - 3 = O, cujas raízes são 3 e -1. Então, temos (u - 2)2 + (v - 2)2 + (w - 2) 2 = O

1 e, daí, a u = v = w = 2 ou, ainda, x = y = z = 1/2. Assim, as


X + 1 + - -1 = 3 OU - 1. soluções do sistema original são x = y = z = O ou 1/2.
x+
16. Para a primeira parte, reduza x + -1X - 4 a um mesmo denominador
A possibilidade x+l+l/(x+l) = -1 equivale a (x+1)2+(x+l)+l =
e use produtos notáveis. Para resolver o sistema, some membro a
O, que não tem raízes em R Já x + 1 + 1/(x + 1) = 3 equivale a
membro as três equações e use em seguida o resultado do problema 12,
(x + 1) 2 - 3(x + 1) + 1 = O, de modo que x = (1 ± ../5)/2.
página 86.
13. Use o resultado do problema anterior. 17. De x + 2/x = 2y, segue que x e y têm um mesmo sinal. De modo
análogo concluímos que y e z têm sinais iguais. Portanto, ou x, y e
14. Para u E JR, temos
z são todos positivos ou todos negativos. Agora, note que (x, y, z).
4u2 - u4 = 4 - (4- 4u2 + u 4 ) = 4 - (2 - u 2)2. é solução se, e só se, (-x, -y, -z) é solução, de modo que podemos
nos restringir ao caso x, y, z > O. Pela desigualdade entre as médias,
Portanto, sabemos que u + 2/u 2: 2v2, para u > O. Então,
2
6 J 4x2 - x4 - 3 + J 4y 2 - y4 + J 4z 2 - z4 + 5 2y =X + - 2: 2V2,
X

J1 - (2 - x 2)2 + J 4 - (2 - y2)2 + Jg - (2 - x2)2 de modo que y 2: )2. Do mesmo modo, concluímos que x, z 2: )2.
< JI + v4 + V9 = 1 + 2 + 3, Agora, somando membro a membro as equações do sistema, obtemos
2 2 2
X+ y + Z = - + - + -.
X y Z
de sorte que que deve ser 2 - x 2 = 2 -y 2 = 2 - z 2 = O, i.e., x = ±J2, Uma vez que u >~para u > J2, segue que, se ao menos um dentre
y = ±J2, z = ±J2. x, y, z for maior que )2, então
2 2 2
15. Observe primeiro que se x = O então y = z = O, valendo uma observa- x+y+z>-+-+-.
X y Z
ção análoga caso seja y = O ou z = O. Portanto podemos supor, sem
perda de generalidade, que xyz =/:- O. Faça 1/x = u, 1/y = v, 1/z = w. Isso nos diz que deve ser x = y = z = )2. Assim, as soluções do
Então sistema são
1 1 + 4x 2 1 u2
v= = y4x 2 = 4x2 + 1 = 4 + 1. X = y = Z = v2 OU X = y = Z = -V2.
230 Soluções e Sugestões 231

Seção 4.1 6. Seja a1 = rm, com m inteiro não negativo. Pela fórmula para o termo
geral, temos
2. (a) ªn = n, para n 2 1 ímpar, e ªn = (-1r- 1 n, para n 2 1 par; (b)
n+l' para n -> 1·' (c) an = n, para n 2 1 ímpar, e an =
an = _!2__ para !i, ak + az = 2a1 + (k + l - l)r = a1 + (m + k + l - l)r = am+k+l·
n 2 1 par.
7. A fórmula para o termo geral de uma PA fornece as relações a= ap =
3. Basta observar que
a1 + (p- l)r, (3 = aq = a1 + (q-l)r e ap+q = a1 + (p+q-l)r, onde
ré a razão da PA. Considerando as duas primeiras relações como um
sistema linear em a1 e r, expresse tais quantidades em função de a,
(3, p e q; em seguida, substitua os valores assim obtidos na expressão
4. Para o item (a), temos a1 = a2 = a3 = 1 e ak = ªk-1 + ªk-2 + ªk-3, para ap+q·
para k 2 4. Para o item (b), temos a1 = 1 e ªk+l = 2ªk, para k 2 1.
8. Sendo 2n - 1 o menor desses inteiros e k sua quantidade, a fórmula
para o termo geral de uma PA garante que o maior dos números é
Seção 4.2 igual a (2n-1) + 2(k -1) = 2n + 2k- 3. Portanto, sua soma é igual
a
1. Observe que a nª- linha começa, à esquerda, com n e tem 2n - 1 1
números. 2[(2n -1) + (2n + 2k - 3)]k = 73 ,
de sorte que (2n + k - 2)k = 73 . Agora, como 2n + k - 2 2 k > 1, a
..__.....,
2. Escreva 11 ... 1 como uma soma de potências de 10. única possibilidade é 2n + k - 2 = 72 e k = 7, de modo que n = 22.
n

3. Use o resultado do problema anterior. 9. Sejam r a razão da PA e a2 = m, de sorte quer EN em> 1. Então

4. Basta mostrarmos que a diferença bk+l - bk não depende de k; au- amk+2 = a2 + ((mk + 2) - 2)r = m+ mkr = m(l + kr),
tomaticamente, o resultado dessa diferença nos dará a razão da PA
claramente um número composto.
(bk)k?-.1· Por definição, temos
10. O item (b) segue imediatamente de (a); quanto a este, considere se-
(a~+ 2 - a~+l) - (a~+l - a~) paradamente os casos n par e n ímpar.
(ak+2 - ªk+1)(ak+2 + ªk+i) - (ak+l - ak)(ak+l + ak)
11. Por contradição, suponha que am = v'2, an = J3" e ap = v'5, onde
r(ak+2 + ªk+i) - r(ak+l + ak)
(ak)k?-.1 é uma PA em, n e p são naturais dois a dois distintos. Usando
r(ak+ 2 - ak) = r · 2r = 2r 2 a fórmula do termo geral, calcule ;=;;:.
e, daí, a razão da PA (bk)k?-.1 é 2r 2 . 12. Use a fórmula para o termo geral no primeiro membro.

5. Aplique a fórmula do termo geral para ap + aq e au + ªv· 13. Adapte a solução do exemplo 4.14.
232 Soluções e Sugestões
233

14. Suponha, por contradição, que exista uma tal PA (ak)k2'.1 de razão r, Para o item (b), segue de (a) que 2bn+2 - bn+l = 3 = 2bn+l - bn e,
i.e., tal que ~1 ~ Q mas a;,= amap para certos índices distintos m, n daí,
e p. Use a fórmula do termo geral para chegar a uma contradição.
2bn+2 - 3bn+l + bn = O.
15. Adapte a solução do exemplo 4.14. Como b1 = 5 e b2 = Jl + 24a2 = 4, o teorema 4.16 garante que
bn = 3 + !.
2 Por fim, quanto a (c), segue de (a) e de (b) que
16. Considere a sequência (bk)k2'.1, dada por bk = ªk - 1.

18. Suponha que (ak)k>l seja uma PG de razão q, tal que am = 2, an = 3


- -1
e ap = 5. Então a 1 qm-l = 2, a 1qn-l = 3 e a1qP = 5, de sorte que
i
qm-n = e qm-p = ~. Portanto,

m-p
( ~) = im-n)(m-p) = (2)m-n
5
Seção 4.4
Ou ainda 2n-p . 5m-n = 3m-p. Obtenha, a partir daí, uma contradi-
' ' 1. Se (ak)k2'.1 é uma PA de segunda ordem, então (ak+l - ak)k2'.1 é uma
ção.
PA não constante, de forma que existe r-=/= O tal que (ak+2 - ªk+1) -
(ak+l - ak) = r, para todo k 2: 1. Em particular, para todo k 2: 1,
Seção 4.3 temos ªk+2 - 2ak+l + ak -=/= O e
1. Aplique o resultado do teorema 4.16.

2. Aplique o resultado do teorema 4.16. A recíproca pode ser provada de maneira análoga.

3. Inicialmente, observe que ak+2 - ªk+l = (2ak+l - 1) - (2ak - 1) = 2. Escreva ak+l - ªk = 3k - 1 e use somas telescópicas.
2ak+l - 2ak ou, ainda, ak+2 - 3ak+l + 2ak = O, para k 2: 1. Aplique, 3. Escreva ªk+i - ak = 8k e use somas telescópicas.
agora, o resultado do teorema 4.16.
4 . Observe que (k-l)k
1
= 1
k-l - k1 e use somas t e1escop1cas.
, ·
4. Use o fato de que x 2 + rx + s = (x - a) 2 .
5. O problema anterior é um caso particular deste.
7. Para o item (a), a recorrência do enunciado fornece
6. Veja que, para k > 1, temos l 2 < (k_!l)k; use, em seguida, o resultado
do problema 4.
4b~+l = 4(1 + 24ak+l) = 4 + 6(1 + 4ak + Jl + 24an)
7. Imite o argumento do problema 4, escrevendo
= 4 + 6 ( 1 + i(b~ - 1) + bk)
1 1( 1 1 )
= b~ + 6bk + 9 = (bk + 3) 2 · (4k - 1) (4k + 3) = 4 4k - 1 - 4k + 3 .
234 Soluções e Sugestões 235

8. Para o item (a), basta observar que 12. Racionalize a fração vtak+~
ªk ªk+l
- veja o problema 12, página 44 - e,
em seguida, use somas telescópicas.
(2k + 1) 3 - (2k - 1) 3 24k 2 + 2 = 16k2 + 8k 2 + 2
13. Para o item (a), veja que x 4 + x 2 + 1 = (x 4 + 2x 2 + 1) - x2 =
16k2 + (2k - 1) 2 + (2k + 1)2.
(x 2 + 1) 2 . .,. . x 2 = (x 2 + 1- x)(x 2 + 1 + x). Quanto ao item (b), use o
Quanto a (b), basta escrevermos item (a) para escrever

n k k
(2n + 1) 3 - 2 = Z:)(2k + 1) 3 - (2k - 1) 3 ] + (33 - 2) k4 + k2 + 1 (k2 + k + 1) (k2 - k + 1)
k=2
n 1 ( 1 1 )
2 k2 - k + 1 k2 + k + 1
I)(4k) 2 + (2k + 1) 2 + (2k - 1) 21+ 25
k=2 e, em seguida, use somas telescópicas.
n
1)(4k) 2 + (2k + 1) 2 + (2k - 1)2] + 42 + 32, 14. Racionalize a fração do somatório - veja o problema 12, página 44 -
k=2 e use somas telescópicas em seguida.
observando que a última expressão acima é uma.soma de (n-1) · 3 +, 15. Racionalize a fração do somatório - veja o problema 12, página 44 -
2 = 3n - 1 quadrados perfeitos. e use somas telescópicas em seguida.
9 . Note que _k_
(k+l)!
= (k+l)-l =
(k+l)!
1rk. - (k 11) 1
+ . e somas telescópicas. 16. Inicialmente, observe que
10. Para o item (a), observe que (k + 1) 2 + k2 + k 2 (k + 1) 2 = k 4 + 2k3 +
3k2 + 2k + 1 = (k2 + k + 1)2. Quanto ao item (b), segue de (a) que ÍI (1- \)
j=2 J
ÍI (1 -;)
j=2
II (1 + ;)J
J j=2

1
+ 1 + l --
k2 (k+1) 2
(k2 + k + l) 2 _ k2 + k + 1
k2 (k + 1) 2 - k ( k + 1) .
= ÍI (j ~ 1) ÍI (j ~ 1) .
j=2 J j=2 J

Basta, agora, observar que Agora, faça ak = k, para k 2:: l. Segue da proposição 4.29 que

k2 + k + 1 1 1
k(k + 1) = l + k(k + 1) = l + k -
1
k+ 1 ÍI (1- ~2)
j=2 J
ÍI (ª:~1) ÍI (ª~~1)
j=2 J j=2 J

e utilizar somas telescópicas. a1 an+l 1 n+ 1 n+ 1


-·--==-·--=--

11. Substitua Fk+l = Fk+ 2 - Fk no numerador da fração do somatório


ªn a2 n 2 2n

para obter 17. Se S é a soma pedida, então


Fk+l Fk+2 - Fk _ 1 _1_
FkFk+2 -

e, em seguida, e use somas telescópicas.


FkFk+2 - Fk - Fk+2
S = 'L.t°" (1 -
101

k=O
3
xk
Xk)3 + X3.
k
Como 1 - Xk = 1- t
1 1 = x101-k, temos A2j-1 = 8(j - 1) + {1, 3, 4, 8} e A2j = 8(j - 1) + {2, 5, 6, 7}.
101 3
s=L 3 xk 3 (Aqui, para X C JR, definimos o conjunto X +t por X +t = {x+t; x E
k=O XlOl-k + Xk X}). Uma vez que 3·4 = 1+3+8 e 3·5 = 2+6+7 é imediato verificar
e podemos escrever que os conjuntos Ai definidos como acima satisfazem as condições do
enunciado.)
~xf ~xf
28 = ~ 3 3+ ~ 3 + 3
k=O X101-k + xk k=O X101-k xk 20. Pelo resultado do problema 13, página 45, temos

~ xf ~ xio1-k
~ 3 3+~ 3 + 3 (vn+l-vn)vn = Jn 2 +n-v'n,2,
k=O X101-k + xk k=O X101-k xk
101
L X; +
3 3
X101-; =
101
L 1 = 102. < v(n+ff-Vn'~~
k=O X101-k + Xk k=O
e, daí,
Logo, S = 51.
1
18. Fatore o numerador e o denominador da fração do produtório. Em
2(vn+ 1-vn) < vn"
seguida, se ªk = k 2 - k + 1, mostre que ªk+l = k 2 + k + 1 e use Analogamente, obtemos
produtos telescópicos.
1
19. Mostremos que o que se pede é possível se, e só se, n for par. Para vn < 2(vn-v'n=l).
provar que n deve ser par, seja
Essas duas desigualdades nos dão
{1, 2, 3, ... , 4n} = A1 U · · · U An,
10000 10000 l 10000
uma partição satisfazendo as condições do enunciado e, para 1 :S k :S
n, seja Xk E Ak o elemento que é igual à média aritmética dos três ~ (v'k+l - vlk) < ~ vk < ~ ( Vk - ~ ) .
demais. Então 4xk = :ExEAk x e segue que
Mas
n n
4 L Xk = L L x= L x = 1 + 2 + · · · + 4n = 2n(4n + 1), 10000
L (v'kTI - vlk) = 2v10001 - 2v12
k=l k=lxEAk xEA
k=2
donde n( 4n + 1) deve ser par. Como 4n + 1 é ímpar, segue que n deve e
ser par. Para a recíproca, seja n = 2k, k inteiro, e escrevamos 10000

{1, 2, 3, ... , 8k} = u · · · u A2k,


L (Vk - ~ ) = 2 ( VlOOOO - 1) = 198.
A1 k=2

onde Portanto, se mostrarmos que 2V10001 - 2V2 > 197, seguirá que o
238 Soluções e Sugestões 239

maior inteiro menor ou igual a S é igual a 198. Para esse fim, veja Capítulo 5

~ 2 Nas sugestões/soluções apresentadas a seguir, o mais das vezes assumi-


2J10001 > 2V2 + 197 ( 2J10001) 2 > ( 2V2 + 197)
mos, implicitamente, a verificação dos respectivos casos iniciàis e a forma-
~ 40004 > 788V2 + 38817 lização da hipótese de indução. De outra maneira, nos concentramos na
~ 788V2 < 1187 ~ 7882 · 2 < 11872 execução do passo de indução, deixando ao leitor a tarefa de formalizar a
~ 1241888 < 1408969, demonstração completa por indução.

o que é verdade. 1. Segue da hipótese de indução que

21. Para o item (a), fatorando (k+l)P+l-kP+l com o auxílio do resultado 1 + 2 + ... + k + (k + 1) = k(k + 1) + (k +
2
1) = (k + l)(k + 2)
2 .
do problema 18, página 45, obtemos
p+l
2. Segue da hipótese de indução que
(k + l)P+l - kP+l = I)k + 1y+1-jkj-l
j=l
p+l
< ~)k + l)p+l-j(k + l)j-l
j=l
= (p + l)(k + l)P. 3. Segue da hipótese de indução que

Analogamente, 1 1 1 1 1 .
1--+--···+----+--=
p+l 2 3 2k - 1 2k 2k + 1
1 1 1 1 1
(k + l)P+l - kP+l = L(k + l)p+l-jkj-l
= k + k + 1 + ... + 2k - 1 - 2k + 2k + 1
j=l
1 1 1 1
p+l
= k + 1 + ... + 2k - 1 + 2k + 2k + 1.
> L kp+l-jkj-l = (p + l)kP.
j=l
4. Pela hipótese de indução, temos
Quanto ao item (b), segue de (a) e da fórmula para somas telescópicas
que (k+l)+h(l)+h(2)+h(3)+···+h(k-l)+h(k) = l+kh(k)+h(k),
nP+l - 1 nP+l
<-- de forma que basta mostrar que 1 + (k + l)h(k) = (k + l)h(k + 1) ou,
p+l p+l
ainda, que (k + l)(h(k + 1) - h(k)) = 1. Mas
e
n n kP+l - (k - l)P+l nP+l
1
~kP>~ p+l p+l (k + l)(h(k + 1) - h(k)) = (k + 1) · -k- = 1.
+1
240 Soluções e Sugestões 241

5. Segue da hipótese de indução que 11. Para o item (a), temos


2 .
k 1 ªk+l = ªk - ªk + 1 = 1 + ak(ak - 1)
LiU + 1) = 3(k - 1)k(k + 1) + k(k + 1)
j=l = 1 + ak · (a1 ... ªk-1) = 1 + a1 ... ªkªk+l·
1 Quanto a (b), temos
= 3k(k + l)(k + 2).
k+l 1 k 1 1 1 1
6. Segue da hipótese de indução que L-
i=l ai
=L-+-= 2 -
· i=l ai ªk+l a1a2 ... ªk
+-
ªk+l
k+l 1
~(2j - 1) 2 = 6(2k - 1)2k(2k + 1) + (2k + 1) 2 = 2 - (ak+1-a1a2 ... ak) = 2- 1
J=l a1a2 · · · ªkªk+l a1a2 ... ªkªk+l
1 12. Pela hipótese de indução, temos
= 6(2k + 1)2(k + 1)(2k + 3).
22k+l = (22k)2 > k2\
7. 4k+l + 15(k + 1) -1 = (4k + 15k-1) + 3(4k + 5); como 4k + 15k-1 é
+ 1)k+l
um múltiplo de 9 (por hipótese de indução), basta mostrar que 4 k + 5
é um múltiplo de 3. Para tanto, façamos outra indução: 4!+1 + 5 =
(4 1+5)+3-41; como 41+5 é um múltiplo de 3 (novamente por hipótese
mesmo, que ( k~l r
de sorte que basta mostrarmos que k 2 k ~ ( k ou, o que é o
~ k + 1. Tal desigualdade é válida para todo
k ~ 3, uma vez que, para um tal k, temos
de indução) e 3 · 41 também o é, segue que 4l+l + 5 é um múltiplo de
3.
k2
( k+l )k = (k-l+k+l
1 )k
>(k-ll~(k-l)3~k+l.

8. (k + 1) 3 - (k + 1) = (k 3 - k) + 3(k 2 + k); como k 3 - k é um múltiplo 13. Para o item (a), temos


de 3 (por hipótese de indução) e 3(k 2 + k) também o é, segue que
(k + 1) 3 - (k + 1) é um múltiplo de 3. F1 + F2 + · · · + Fk + Fk+l = (Fk+2 -1) + Fk+l = Fk+3 -1.
Para (b),
9. Para o primeiro caso, temos uk+2 = -ruk+l - suk = -rak+l - sak =
ªk+2· O segundo caso é totalmente análogo. F[ + Ff + · · · + Ff + Ff+i = FkFk+l + Ff+1 = Fk+1Fk+2·

10. Suponha que (a1, a2, ... , am) é uma PA de razão r. A partir de Os demais itens são totalmente análogos.

m m 1 m-l 1 m- 1 1 14. Observe que F1 = 1, F2 = 1, F3 = 2, F4 = 3, F 5 = 5, F6 = 8,


a1am+l = ~ ªkªk+l = ~ ªkªk+l = a1am + ªmªm+l' F1 = 13, Fs = 21, Fg = 34, Fio = 55, F 11 = 89, F 12 = 144,
Fi3 = 233, Fi4 = 377. Assim, Fi2 = 122 e F13 > 132, F 14 > 142. Por
obtemos mam = (m- l)am+l +a1. Mas am = a1 + (m- l)r, de sorte outro lado, se Fk > k 2 e Fk+l > (k + 1)2, então
que
Fk+2 = Fk + Fk+l > k2 + (k + 1) 2 > (k + 2)2,
(m - l)am+l = m(a1 + (m - l)r) - a1 = (m - l)(a1 + mr).
de sorte que, por indução, temos Fk > k 2 para k > 13. Assim, as
Logo, am+l = a1 +mr, e (a1,a2,··. ,am,ªm+1) também é uma PA. · únicas soluções são k = 1 e k = 12.
242 Soluções e Sugestões 243

15. Inicialmente, note que a é raiz de p(x) = x 2 - x - 1, de sorte que 18. Basta provarmos que o quociente Xn+i!Xn-I independe de n. Isto é
a 2 = a + 1. Assim, temos por indução que imediato por indução, uma vez que mostremos que

ak+ 1 = ak ·a= (Fka + Fk-1)a = Fka 2 + Fk-10'. = Xn+2 + Xn _ Xn+l + Xn-1 = O.


Xn+l Xn
= Fk(a + 1) + Fk-1ª = a(Fk + Fk-1) + Fk
Mas
= Fk+l ·a+ Fk,
Xn+2 + Xn Xn+l + Xn-1 Xn+2Xn + Xn2 - 2
Xn+l - Xn-lXn+l
Agora,
Xn+l Xn Xn+lXn
an - n 2a = Fna + Fn-1 - n 2a = (Fn - n 2)a + Fn-1· (x;+l - 1) + x; - x;+l - (x; - 1)
Uma vez que a é irracional, segue da igualdade acima que an - n 2 a Xn+lXn
só será inteiro quando Fn - n 2 = O, e nosso problema equivale a o.
encontrar todos os n E N tais que Fn = n 2 . Mas isso foi o objeto do
problema anterior.
19. Se ªi = j para 1 ::; j ::; k, então, a partir da relação

16. Para n E Z, seja an = xn + x-n. Mostremos primeiro, por indução,


que an E Z para todo n EN. A hipótese do problema nos dá a1 E Z. obtemos
Então
1 ( 1)
a2 = X 2 + - = X + -
x2
2
- 2 = a12 - 2 E Z.
X
13 + 23 + · · · + k3 + af+l = (1 + 2 + · · · + k + ªk+1) 2

ou, de acordo com o resultado do problema 2,


Suponha agora, por hipótese de indução, que a1, a2, ... , ak E Z para
um certo k ~ 2. Então
1
1[
4 k(k + 1)] 2 + ªk+l
3
= (1
2k(k + 1) + ªk+l ) 2

xk+l+--
xk+l
Desenvolvendo o segundo membro, obtemos
( xk + _.!._)
xk
(x + !).- (xk-1 + _1 )
x xk-1 al+l = a~+l + k(k + l)ak+l
akal - ªk-1 E Z,
ou, ainda, ª~+1-ªk+1-k(k+l) = O. Daí, é imediato que ak+l = k+l.
e o passo de indução está completo. Pelo segundo princípio de indução
segue que an E Z para todo n E N. Para concluir, basta ver que 20. Se Xk > -/a, então
ao = 2 e, se n < O for inteiro, então an = ª-n, que já provamos ser
inteiro. Assim, an E Z para todo n E Z. Xk+l - Vo, = -12 (xk - 2va, + .!!____) = - 1-(xk - va,) 2 > Ü.
Xk 2Xk
17. Segue da hipótese de indução que Para a outra desigualdade, comecemos observando que, se x ~ y >
x~+l = (xf - 3xk) 2 = x~ - 6xÍ + 9x~ -ja, então x + ~ ~ y +~;de fato,
= (Yk + 2) 3 - 6(yk + 2) 2 + 9(yk + 2)
= Yl - 3yk + 2 = Yk+l + 2.
244 Soluções e Sugestões 245

Agora, se Xk < va, + 2k1:_l , então, a partir da desigualdade acima, quadrados em k outros quadrados, obtendo uma partição de Q em
obtemos 4 - 1 + k = k + 3 quadrados. Para terminar, é suficiente mostrar

xk+l -Hx· +:.) '., Hvã+ va: ,.k) como particionar um quadrado qualquer em 6, 7 e 8 outros quadra-
2•~1 + dos. O argumento acima trivializa o caso de 7 quadrados, uma vez
que sabemos particionar todo quadrado em 4 quadrados e, portanto,

< ~ ( vra + 2L1 + Ja) = vra + 2\ · também em 4 + 3 = 7 quadrados. Para os casos de 6 ou 8 quadrados,
comece particionando um quadrado dado em m 2 outros quadradi-
nhos iguais, de maneira análoga à decomposição de um tabuleiro de
21. Suponha que temos n 1 maneiras de escolher um objeto do tipo 1, n2
xadrez em suas 64 = 82 casas. Em seguida, escolha (m - 1)2 desses
maneiras de escolher um objeto do tipo 2, ... , nk maneiras de escolher
quadradinhos, de modo a formar um quadrado maior, contido no qua-
um objeto do tipo k e nk+I maneiras de escolher um objeto do tipo
drado original e tendo um canto em comum com o mesmo. Restaram
k + 1. Para escolher um objeto de cada um desses tipos, comece
m 2 - (m - 1) 2 = 2m - 1 quadradinhos, de forma que o quadrado
escolhendo um objeto de cada um dos tipos de 1 a k. Por hipótese
original ficou particionado e 1 + (2m - 1) = 2m outros quadrados.
de indução, há n 1 ... nk escolhas possíveis. Por outro lado, para cada
Por fim, fazendo m = 3 ou m = 4, obtemos partições do quadrado
uma delas, continuamos tendo nk+l maneiras de escolher um "Objeto
original em 6 ou 8 quadrados.
do tipo k + 1, de sorte que o número de maneiras· de, adicionalmente,
escolher um objeto de tipo k + 1 é igual a 24. Tome um tabuleiro 2k x 2k e o divida em quatro tabuleiros 2k-l x 2k-l;
em seguida, posicione a peça 1 x 1 e um L-tridominó de forma que,
juntas, elas cubram o quadrado 2 x 2 no centro do tabuleiro maior ·
e com lados paralelos aos lados do mesmo. Por fim, encaixe uma
hipótese de indução para concluir o que se pede.
22. Basta mostrar que ln = {1, 2, ... , n} tem exatamente 2n subconjun-
tos. Para o passo de indução, i.e., ao considerar os subconjuntos de 25. Se 43 k-i - 1 = 3kq, para algum q E N, então
Ik+l, lembre que esses podem ser de um dentre dois tipos: ou subcon-
juntos de Ik, ou subconjuntos de Ik+l que contém o elemento k + 1. 43k - 1 = (43k-l)3 - 1 = (43k-l - 1)[(43k-l)2 + 43k-l + 1]
Do primeiro tipo há, por hipótese de indução, 2k subconjuntos. Os = 3kq[((43k-l)2 - 1) + (43k-l - 1) + 3]
subconjuntos do segundo tipo são da forma A U {k + 1}, com A eh;
portanto, há 2k subconjuntos desse tipo. Contabilizando ambas as
= 3kq[(43k-l - 1)(43k-l + 1) + 3kq + 3]
,
possibilidades, conclmmos que h+1 tem, ao to do, 2k + 2k - 2k+l = 3kq[3kq(43k-l + 1) + 3kq + 3]
subconjuntos. = 3k+lq[3k-lq(43k-l + 1) + 3k-lq + 1].
23. Inicialmente, afirmamos que, se todo quadrado pode ser particionado
em k outros quadrados, então todo quadrado pode ser particionado 26. Se k 2: 6 e a1, a2, ... , ak são inteiros tais que
em k + 3 quadrados. De fato, partindo de um quadrado Q, divida-o 1 1 1
em quatro outros quadrados; em seguida, particione um desses quatro -+-+···+-
a2 a2 a2
= 1,
1 2 k
246 Soluções e Sugestões 247

então • Nenhuma das 2k - 1 crianças restantes atira em A ou B: pela


111 1 1 131 hipótese de indução, ao menos uma delas fica enxuta.
4 + 4 + 4 + (2a1)2 + (2a2)2 + ... + (2ak)2 = 4 + 4 = l. 28. Se (k + 1)! S n < (k + 2)!, seja ªk+l o maior natural tal que
Há, portanto, três casos iniciais a considerar: k = 6, k = 7e k = 8. ªk+1(k + 1)! S n < (ak+l + l)(k + 1)!.
Antes de considerá-los, observe que
Então
ªk+1(k + 1)! S n < (k + 2)! = (k + 2) · (k + 1)!

Portanto, para k = 6, temos


garante que ªk+l S k + l; por outro lado, como

1 1 1 1 1 1 n- ªk+1(k + 1)! < (ak+l + l)(k + 1)! - ªk+1(k + 1)! = (k + 1)!,


4+ 4+ 4 + 9+ 9+ 36 = l; segue por hipótese de indução que
para k = 7, temos n - ªk+1(k + 1)! = a1 · 1! + a2 · 2! + · · · + ak · k!,
1 1 1 1 11 1
16 + 16 + 16 + 16 + 9 + 9 + 36 = l; para certos inteiros a1, a2, ... , ak, tais que O s aj :::;; j, para 1 :::;; j :::;;
k.
para k = 8, temos
Suponha que já mostramos a unicidade para todo n E N tal que
1111 1 11 1 < (k + 2)! e
n S (k + 1)!. Tome n EN tal que (k + 1)! :::;; n
4 + 4 + 9 + 9 + 36 + 9 + 9 + 36 = l.
n = a1 ·l!+a2·2!+ · ·+ak+1 ·(k+l)! = b1 ·l!+b2·2!+· · ·+bk+1 ·(k+l)!,
27. Consideremos, primeiramente, o caso n = 3. Sejam A, B e C as cri-
anças e suponha, sem perda de generalidade, que AB <BC< CA. com O S aj, bj S j, para todo j 2: 1. Então, pelo resultado do
Nesse caso, A atira em B e B em A, de modo que C fica enxuta. exemplo 4.26, temos
Suponha agora, por hipótese de indução, que com n = 2k - 1 crian- ªk+i · (k + 1)! S n = b1 · 1! + b2 · 2! + .. · + bk+l · (k + 1)!
ças, onde k > 1 é inteiro, ao menos uma delas sempre fica enxuta. S 1 · 1! + 2 · 2! + .. · + k · k! + bk+l · (k + 1)!
Consideremos 2k + 1 crianças, posicionadas de modo a satisfazer as
= (bk+l + 1) · (k + 1)! - 1 < (bk+l + 1) · (k + 1)!,
condições do enunciado. Como as distâncias entre os pares de crian-
(8.1)
ças são duas a duas distintas, existem duas crianças A e B tais que
a distância de A a B é a menor de todas. Assim, A atira em B e de sorte que ªk+l S bk+l· Analogamente, bk+l :::;; ªk+l e, assim,
vice-versa. Descartando as crianças A e B, restam 2k - 1 crianças ªk+l = bk+l· Portanto, temos
satisfazendo as condições do enunciado. Há agora duas possibilidades: n-ak+1 ·(k+l)! = a1 ·l!+a2·2!+ · ·+ak·k! = b1 ·l!+b2·2!+ · ·+bk·k!,

com (novamente pelo resultado do exemplo 4.26)


• Uma delas atira em A ou B: nesse caso, no máximo 2k - 2
n - ak+l · (k + 1)! S 1 · 1! + 2 · 2! + · · · + k · k! = (k + 1)! - l.
tiros foram disparados em direção a alguma das 2k - 1 crianças
restantes e, assim, ao menos uma delas fica enxuta. Segue, pois, da hipótese de indução que aj = bj, para 1 :::;; j :::;; k.
248 Soluções e Sugestões 249

29. Façamos a prova por indução sobre m. Para m = 1, 2, 3 o resultado o que é um absurdo. Agora, se Fn+l = Ft 1 + · · · + Ftr + Fn então
é imediato. Suponha então que, para um certo n ~ 3, todo m ~ Fn
possa ser escrito unicamente da maneira pedida e tome Fn < m ~
Fn+l· Sem= Fn+l nada há a fazer. Senão,
e, pela unicidade da representação de Fn-l, teríamos que outra re-
O < m - Fn < Fn+l - Fn = Fn-1 < Fn. presentação de Fn+l seria Fn+l = Fn + Fn-1, a qual não satisfaz as
condições do enunciado.
Por hipótese de indução existem r ~ 1 e inteiros 1 < t1 < · · · < tr < n
tais que
m- Fn = Ft 1 + · · · + Ftr, (b) Fn < m < Fn+l: mostremos que Fn é necessariamente um termo
da representação. De fato, se
com tj+l - tj > 1 para 1 ~ j < r. Daí, m = Ft 1 + · · · + Ftr + Fn e
afirmamos que n - tr > 1. De fato, se n - tr = 1 teríamos

m ~ Fn + Ftr = Fn + Fn-1 = Fn+l,


com tr < n, então um argumento análogo ao do primeiro subcaso do
contradizendo o fato de ser m < Fn+l · Está assim garantida, por caso (a) nos daria o absurdo de que m ~ Fn. Portanto, para uma
indução, a existência de uma representação de todo natural conforme representação de m como no enunciado, devemos ter forçosamente
pedido.
Passemos, agora, à prova da unicidade da representação, a qual tam-
bém será feita por indução sobre m. Por hipótese de indução pode-
com tr < n-1. Daí, como m -Fn < Fn+l -Fn = Fn-1, a unicidade
mos supor que sem~ Fn então a representação acima é única. Para
da representação de m segue da unicidade da representação de m- Fn.
garantirmos a unicidade da representação para os m E N tais que
Fn < m ~ Fn+l, consideremos dois casos:
Seção 6.1
(a) m = Fn+l: há dois subcasos. Primeiro, suponha 1. Basta observar que (2; ) = 2; (2;_=-i1) = 2(~_=-i1).
Fn+l = Ft1 + Ft2 + """ + Ftr, 2. Adapte a ideia da solução do exemplo 6.6.
onde r ~ 1, 1 < t1 < t2 < · · · < tr < n e t;+ 1 - tj > 1 para 1 ~ j < r. 3. Compare (~) com (k~l) utilizando a definição.
Então
4. Faça uma prova por indução.
Ft1 + Ft2 + """ + Ftr < Ft1-l + Ft1 + Ft2 + """ + Ftr
Fti +l + Ft2 + """ + Ftr < Ft2-l + Ft2 +Ft3 + """ + Ftr 5. Aplique a relação de Stiefel ao numerador da fração do somatório e,
Ft2+1 + Ft3 + """ + Ftr < Ft3-l + Ft3 + """ + Ftr
em seguida, use somas telescópicas.

6. Faça uma prova por indução, aplicando a relação de Stiefel para o


passo de indução.
250 Soluções e Sugestões 251

7. Defina an como a soma do segundo membro da igualdade que deseja- 5. O termo geral de tal desenvolvimento é (6;) 3\ . Agora, expandindo
mos estabelecer. Em seguida, mostre que a1 = 1, a2 = 1 e, utilizando os números binomiais envolvidos, obtemos
a relação de Stiefel, que an+2 = an+I + an, para todo n 2:: 1.

8. Faça indução sobre n; mais precisamente, mostre que, para cada


n E N, o conjunto {1, 2, ... , n} possui (~) subconjuntos de k ele-
ou, ainda, se, e só se, 65 - k > 3(k + 1), i.e., k :S 15. Analogamente,
mentos, para todo O :S k :S n. Para o passo de indução, note que os
subconjuntos de k elementos do conjunto {1, 2, ... , n + 1} são de um,
( 65) 1 ( 65 ) 1 k > 16
dentre dois tipos possíveis: aqueles que não contêm n + 1 - sendo, k 3k > k + 1 3k+ 1 {::} - '
portanto, subconjuntos de k elementos do conjunto {1, 2, ... , n} - e
aqueles que contêm n + 1 - sendo, portanto, iguais a um conjunto do de sorte que o maior termo do desenvolvimento é (~~) ~.
tipo A U {n + 1}, onde A é um subconjunto de k - 1 elementos do
6. A condição do enunciado é equivalente a
conjunto {1, 2, ... , n }.
a 2 + b2 + ab = c2 + d2 + cd.
Seção 6.2 Por outro lado, pela fórmula do desenvolvimento binomial, temos
1. Use a fórmula do binômio para expandir 4n = (1 + 3r. a4 + b4 + (a + b)4 = c4 + d4 + (e + d) 4 se, e só se,

2. Segue do problema anterior que A = 4n e (argumentando analoga- a 4 + b4 + 2a3 b + 3a 2b2 + 2ab3 = c4 + d4 + 2c3 d + 3c2d2 + 2cd3 .
mente àquele problema) B = 12n- 1 . Portanto,
Por fim, basta observar que
3n-l
-4-,

de modo que n = 9. e, analogamente,

3. Calcule os três primeiros termos do desenvolvimento binomial de


(1, 1r = (1 + l~r-
7. Use o resultado do problema 3, página 148 - com 2n no lugar de n -
4. A soma em questão é igual a
juntamente com o teorema das linhas do triângulo de Pascal.

8. Adapte, ao presente caso, a ideia da solução do exemplo 6.15.

9. Basta ver que

L n. ja · = L an
n ( ) 3 n (
n-1 ·
. _ 1 ) a3 - 1 = an(l + a)
n-1

j=O J j=l J
252 Soluções e Sugestões 253

e Para tanto, veja que

t (~)j2
J=Ü J
=tn(~ =:)j
J=l J
=:)(j-1) +
= tn(nJ_
J=l
tn(nJ_
J=l
=:) x5 + y5 + z5 = x5 + y5 + (-x _ y)5 = x5 + y5 _ (x + y)5
= x 5 + y 5 - (x 5 + 5x 4 y + 10x 3 y 2 + 10x 2 y 3 + 5xy 4 + y5)

=L n (n - 2) + ~ (n - 1)
n(n-1) ._ 2 n L..., ._ 1
= -(5x4 y + 5xy4 + 10x3 y 2 + 10x2 y 3 )
j=2 J j=l J = -5xy[(x 3 + y 3) + 2xy(x + y)]
= n(n - 1) · 2n- 2 + n · 2n-l. = -5xy(x + y)[(x 2 - xy + y 2 ) + 2xy]
= -5xy(-z)[(x 2 + 2xy + y 2 ) - xy]
10. Use a fórmula para o termo geral de uma PA e o resultado do problema = 5xyz[(x + y)(x + y) - xy] = 5xyz[(x + y)(-z) - xy]
anterior.
= -5xyz(xy + yz + zx).
11. Escreva i = 1 + a, com a> O, e use o fato de (1 + ar 2": 1 + na. 14. Aplicando a fórmula do desenvolvimento binomial duas vezes, obte-
mos
12. Fazendo a= Ja+ v'b, obtemos (a-Jar = b. Agora, argumentando
· como na prova do exemplo 6.11, concluímos que ·

para certos inteiros ao, a1, a2, ... , an:._2, ªn-1· Portanto,

+ ªn-2an- 2 + ªn-4ün- 4 + · · ·) - b] 2 =
[(an
= a (ªn-la n-1 + ªn-30 n-3 + · · · )2 · Agora, observe que

de sorte que a é raiz da equação polinomial (de grau 2n) (n) (n- l)
l k - (n-k-l)!k!l!'
n!
. [(xn + ªn-2Xn- 2 + an-4Xn- 4 + · · ·) - b] 2 - de forma que basta fazer j = n - k - l para obter a fórmula do
- a ( ªn-IX n-1 + an-3X n-3 + · · · )2 = O. enunciado.

16. O termo geral do desenvolvimento do trinômio do enunciado é


13. Vamos descobrir primeiro qual o valor constante que a expressão deve
ter. Para tanto, substituindo x = 2 e y = z = -1 (observe que x + 10 1ixk ..!:_ = 10 xk-l
( ) ( ) l ( )
y+z = O), obtemos x 5+y 5+z 5 = 30 e xyz(xy+yz+zx) = -6 e, daí, j, k, l X j, k, l '
x5+y5+z5 _ p d x5+y5+z5 _
xyz(xy+yz+zx) - -5. ortanto, evemos provar que xyz(xy+yz+zx) - com j + k + l = 10. Portanto, devemos ter k + l = 10 - j e k - l = O,
-5, para todo terno de reais não nulos x, y e z, tais que x+y+z = O. de sorte que k = l = 5 - ~ e, portanto, j deve ser par. Faça, agora,
254 Soluções e Sugestões 255

j = O, 2, 4, 6, 8 e 10 e some todas as parcelas pondo (n;k) = O para k > n - k. EntÃ.fo 80 = 81 1 e, pelo


teorema das colunas, obtemos

correspondentes.

17. Use a fórmula (6.7) do problema 14 acima para observar que

L (.J nk l )
j+k+l=n ' '
= (1+1+1r e
.
L
J+k+l=n
(-1) 1 ( . :
J, '
l) = (1+1-1r. ou, ainda, 8n = 1 - ~~~20 8m. A partir daí, é imediato provar que,
para todo inteiro não negativo n, tem-se
18. Faça indução sobre n 2".: 1; para a execução do passo de indução
você precisará utilizar a relação de Stiefel e a recorrência que define
a sequência de Fibonacci.
Pela recorrência acima, temos 82 = O, 8 3 = 8 4 = -1, 85 = O,
19. Vamos mostrar que 86 = 81 = 1 e, após uma fácil indução, que, se 6 divide m - n, então
8m = 8n, Portanto,
995
""""( l)k
Li -
1991 (1991 -
1991 - k k
k) = 1.
k=O
995
'"""(-l)k
Li
k=O
1991 (1991 -
1991 - k k
k) = 81991 - 819s9
Para tanto, veja que
= 85 - 83 = O- (-1) = 1.
995
L(- 1) k 1991 (1991 -
1991 - k k
k) -_
k=O Seção 7.1
- 995
- L (- 1)
k=O
k
k k) + L ( 1)
(1991 - 995 -

k=O
k k k(1991k- k)
1991 - 1. Faça indução sobre n 2".: 2.

_
995
- L(- 1) k (1991 -
k
k) + L(
995
_
1)
k (1990 -
k-1
k) · 2. Agrupe adequadamente as parcelas em pares e, em seguida, aplique
k=O k=O a desigualdade triangular para se livrar da variável x.

Para n inteiro positivo, defina 3. Para o item (a), observe que

Li (-1) k
8n = """" (n -k k) , _Y__ xl+x= y(l+x)-x(l+y) = y-x >O
k~O l+y (l+x)(l+y) (l+x)(l+y) - ·
256 Soluções e Sugestões 257

Assim, como la+ bl ::::; lal + lbl, segue de (a) que 5. Sendo x o comprimento do lado do quadrado que deve ser recortado
de cada canto da folha, ficaremos com uma caixa de dimensões 2 - 2x
la+bl
<
lal + lbl 3 - 2x e x. Escolha números reais positivos a, b e e tais que a(2 -
'
1 + la+bl 1 + lal + lbl 2x)+b(3-2x)+cx independa de x e a(2-2x) = b(3-2x) =ex.Em

1+ 1:i1+ lbl + 1+ 1:1+ lbl seguida, aplique a desigualdade entre as médias a fim de maximizar
o volume da caixa.
lal lbl
< 1 + lal + 1 + lb\" 6. Mostre, inicialmente, que a3 + b3 2: (a + b)ab. Em seguida, deduza a
part'ir d ai, que a3+b3+abc
1 < e
_ abc(a+b+c), obtendo desigualdades análogas
Seção 7.2 para as outras duas parcelas do primeiro membro. Em seguida, some
2. Veja primeiro que ordenadamente as três desigualdades assim obtidas.

a2 (a - b) b2 (b- a) 7. Aplicando a transformação de Ravi, concluímos ser suficiente provar


= b
+ -a- - que

= (a - b) ( a: - ª2) = (a - b) ( a3·~ b3) (y + z)(x + z)(x + y) 2: 8xyz,


para todos x, y, z > O. Para tanto, utilize três vezes a desigualdade
= 2-(a - b)2(a2 + ab + b2 ). (7.6).
ab
Basta, então, mostrarmos que a 2 + ab + b2 2: O. Para isso, note que: 8. Aplique a transformação de Ravi para escrever o primeiro membro
como
~Z +
2
3b2 > O.
a 2 + ab + b2 = ( a + 2b) + 4 !2(1!.
x
+ .: + ::: + .: +
X y y
:::) .
Z

É claro que haverá igualdade se e só se a = b. Em seguida, utilize a desigualdade entre as médias para seis números.

3. Para x =I a, b, e, resolver a equação do enunciado equivale a resolver 9. Agrupando adequadamente as parcelas do primeiro membro em pares
a equação de segundo grau e utilizando a desigualdade (7.11), obtemos

(x - b)(x - e)+ (x - a)(x - e)+ (x - a)(x - b) = O. a+c c+a ( 1 1 ) 4


a+b + c+d = (a+c) a+b + c+d 2: (a+c)· (a+b)+(c+d)
Por sua vez, o discriminante de tal equação é igual a
e

b+d d+b _ b d ( 1 1 ) 4
b +e+ d+ a - ( + ) b +e+ a+ d 2: (b+d) · (b +e)+ (a+ d)'
4. Escreva o primeiro membro como a(a + b +e)+ bc e, em seguida,
aplique a desigualdade (7.6). Agora, basta somar membro a membro as duas desigualdades acima.
258 Soluções e Sugestões 259

10. Fatorando o numerador do primeiro membro e simplificando a fração 14. Aplique novamente a desigualdade (7.7).
assim obtida, concluímos que basta mostrar a desigualdade
15. Expanda o segundo membro utilizando a identidade (2.5). Após efe-
1 +X+ x2 + ... + x2n-l + x2n 2: (2n + l)xn tuar as simplificações óbvias, aplique três vezes ao primeiro membro
ou, ainda, a desigualdade do Exemplo 2.4. Em seguida, utilize a desigualdade
(7.9).

16. Seja S = a 4(1+b4)+b4(1+c4)+c4(1+a4). Aplicando sucessivamente


Para tanto, é suficiente aplicar a desigualdade (7.5) n vezes, somando a desigualdade entre as médias para dois e três números, obtemos
as desigualdades assim obtidas.
S > a4 · 2b2 + b4 · 2c2 + c4 · 2a2
11. Segue de (7.8) que > 3{!(2a4b2)(2b4c2)(2c4a2)
3a4 + b4 = ª4 + a4 + ª4 + b4 2: 4\7'a4. a4. a4. b4 = 4la3bl 2: 4a3b. 6~a 6 b6 c6
6a2b2c2.
12. Já mostramos que, para todos x, y e z reais positivos, tem-se
17. Aplique a desigualdade entre as médias.
a 2 + b2 + c2 2: ab + bc + ca.'
18. Troque ai por -ai e, em seguida, aplique a desigualdade entre as
Multiplicando ambos os membros por a+ b + e > O, obtemos médias.
(a+ b + c)(a2 + b2 + c2) 2: (a+ b + c)(ab + bc + ca) 19. Para o item (a), segue da desigualdade entre as médias aritmética e
ou, ainda (após desenvolver ambos os membros e cancelar os termos geométrica que
semelhantes), n! = 1. 2 .... n::; (1 + 2 +n· .. + n) n = ( n; 1) n
a 3 + b3 + c3 2: 3abc.
Para o item (b), argumente como em (a), aplicando a desigualdade
13. Uma vez que
entre as médias aos números 12, 22, ... , n 2 e utilizando o resultado
(ab + bc + ca) 2 = (ab) 2 + (bc) 2 + (ca) 2 + 2abc(a + b + e), do exemplo 6.6.

basta provar que 20. Para 1 ::; k ::; m-1, aplique a desigualdade entre as médias à soma x+
k = x + 1 + · · · + 1. Em seguida, multiplique as m - 1 desigualdades
(ab) 2 + (bc) 2 + (ca) 2 2: abc(a + b + e). ~
k
assim obtidas.
Fazendo x = ab,y = bc,z =caem (7.7), obtemos
21. Como Lj=l(S-xj) = (n-l)S, a desigualdade do enunciado equivale
(ab) 2 + (bc) 2 + (ca) 2 x2 + y2 + z2
a
> xy+yz+zx
abc(a + b + e).
260 Soluções e Sugestões 261

Basta, então, aplicar a desigualdade (7.11). 25. Substituindo a, b e e na desigualdade desejada respectivamente por
22. Para o item (a), desenvolva o produto do primeiro membro. Para O 6x 6, 6y6 e 6z6, mostre que basta provarmos a desigualdade

item (b), aplique o resultado do problema 8, página 149 (com k = 2) 7x12 + 12x6y6 + 7y6 z6 + 9y12 + 9x6 z6 2:
para concluir que o somatório do segundo membro do item (a) possui
!n(n - 1) parcelas; em seguida, use a desigualdade entre as médias 2: 2x3 y9 + 6x 9 y 3 +6x 2y 8 z 2 + 12x5 y 5 z 2 +6x4 y 4 z 4 + 6xy 7 z 4 + 6x 8 y 2z 2.
para dois números para concluir que :; + 2: 2, para todos 1 :=::; i < :! Para tanto, escreva a expressão do primeiro membro como a soma
j :=::; n.
de sete outras expressões tais que, aplicando a desigualdade entre as
23. Veja que médias a cada uma delas, obtenhamos as sete parcelas do segundo
membro; por exemplo,
k1k2 · · · kn (_!_
k1
+ _!_ +
k2
··· + __!_)
kn
=PI+ P2 + · · · +p
n,

onde Pi= k1 ... ki-lkiki+l ... kn e o circunflexo sobre ki indica que O


produto contém k1, k2, ... , kn, à exceção de ki. Podemos escrever Seção 7.3
ak1 k2 kn k1 k k
_1_ + ~ + ... + ªn = Plª1 +p2a2 2 + · · · +pnann 1. Pela desigualdade de Cauchy, temos
k1 k2 kn k1k2 ... kn
Agora, expandindo a soma no numerador de modo que cada a7i apa- 12 = 3x + 4y :=::; \/'3 2 + 42 y'x2 + y2 = 5Jx2 + y2.
reça Pi vezes e usando a desigualdade entre as médias aritmética e
geométrica, obtemos t
Portanto, x 2 + y 2 2: 12 4 , ocorrendo a igualdade se, e só se, J = ;:f.
Mas, como 3x + 4y = 12, a igualdade ocorre se, e só se, x = ~~ e
1 k k
k 1 k 2 · · · k n [(a 1 1 + ... +a/)+ ... + (a~n + ... + akn) 2: y = 48
25·
n
PI vezes Pn vezes
2. Adapte a discussão, apresentada no texto, para o caso n = 3.
2: ((aill)Pl ... (anln)Pn) k1kLkn
3. Fazendo b1 = b2 = · · · = bn = l _na desigualdade de Cauchy, obtemos
_II aik1k2---kn = a1a2 .. ·ªn·
-
n Piki

i=l

24. Faça ao = O e aplique a desigualdade (7.11) para obter com igualdade se, e só se, existir um real não nulo À tal que ~1
1 1 ~
ªl = · · · = ª1 = À, i.e., se, e só se, os números a1, ... , an forem todos
---+···+
aj - ªj-l a1 - ao
>L
aj
iguais. Dividindo ambos os membros da desigualdade acima por n,
obtemos a desigualdade do enunciado.
Em seguida, some membro a membro as desigualdades acima para 1 :=::;
j :=::; n e agrupe os termos iguais para obter a desigualdade procurada. 4. Aplique a desigualdade do problema anterior ao numerador de cada
Por fim, conclua que há igualdade se e só se a sequência (ak)k>l for parcela do somatório acima. Em seguida, some os resultados assim
uma PA. - obtidos.
262 Soluções e Sugestões
263

5. Queremos provar que 10. Uma vez que

> n2
- '
obtemos
para todos xi, x2, ... , Xn reais positivos. Para tanto, faça aj = Jxí, n a2 n n b2 n b2
bj = ~ e aplique a desigualdade de Cauchy. I: k = L(ªk - bk) + I: k = I: k .
k=l ªk + bk k=l k=l ªk + bk k=l ªk + bk
6. Multiplique ambos os membros por a+ b +e+ d e use a desigualdade
de Cauchy para quatro números, com a1 = ..ja, a2 = v'b, a3 = Jc,, Portanto,
a4 = Vd, e b1 = }a, b2 = ,/b,
b3 = }c, b4 = )a,. Alternativamente, n 2 1 n n a2 + b2 1 n
aplique a desigualdade (7.11), escrevendo e=~+~ e~~ c/ + c;
2 2, I: ªk ~ 2 Lªk {::} I: / / ~ 2 I:(ak +bk)-
d = 4d + 4d + 4d + 4d e d=
16 1 1 1 1 k=l ªk + bk k=l k=l k + k k=l
d/4 + d/4 + d/4 + a]4·
Então, basta mostrarmos que
7. Para a primeira desigualdade, seja S = ,J2x + 3+.J2y + 3+,J2z + 3.
Aplicando a desigualdade entre as médias para três números, obtemos X2 + y2 X+ y
--->--
x+y - 2 '
S ~ 3{!(2x + 3)(2y + 3)(2z + 3)
para todos os reais positivos x e y, o que decorre imediatamente da
= 3{!8xyz + 12(xy + xz + yz) + 18(x + y + z) + 27 desigualdade entre as médias quadrática e aritmética.
> 3~18 · 3 + 27 = 3'19.
11. Faça ªn+l = a1. Para 1 ~ j ~ n, podemos escrever, usando a
Para a segunda desigualdade, aplique a desigualdade entre as médias desigualdade de Cauchy,
quadrática e aritmética para três números - cf. problema 3 - com
a1 = ,J2x + 3, a2 = ,J2y + 3 e a3 = ,J2z + 3, juntamente com o fato (1 + aj)
2
=

(1 · 1 + .Ja:i+i · __ ) 2~ (1 + ªH1) (1 + a.2)
J - _J_ ,

de que x + y + z = 3. ~ ªi+l
de modo que
8. Aplique a desigualdade entre as médias quadrática e aritmética - cf.
1 + ªJ > (1 + ªi )2
problema 3- com ak = [ff;, juntamente com o item (a) do corolário ªH1 - 1 + ªi+l
6.13.
Multiplicando membro a membro as desigualdades assim obtidas para
9. Pela desigualdade de Cauchy, temos j= 1, 2, ... , n, chegamos à desigualdade desejada.
x2 y2
( -+-+-
y2 z2
z2 ) ( y2
x2
z2
-+-+-
z2 x2
x2 )
y2
~ (::: . ~ + ~ . ~ + ~ . :::) 2 12. Opere a transformação de Ravi - cf. parágrafo que antecede o pro-
y Z Z X X y blema 7, página 174 - para mostrar que a desigualdade em questão

+ ~ + :::) 2
equivale à desigualdade
= (~
X y Z
264 Soluções e Sugestões 265

para x, y e z reais positivos. Em seguida, observe que, pela desigual- Seção 7.4
dade entre as médias quadrática e aritmética, temos
1. Comece obsevando que

;y+z > vY + yÍz


V~- 2 ,

ocorrendo a igualdade se, e só se, y = z; analogamente,


Em seguida, aplique a desigualdade de Bernoulli.
;x+z>Jx+vz e Jx+y>Jx+vTJ_
V~- 2 2 - 2 2. Escreva am = mm (1 + ª-;;,m)m e, em seguida, aplique a desigualdade
de Bernoulli. Faça o mesmo com an e, por fim, some os resultados.
Somando membro a membro essas três desigualdades, obtemos a de-
sigualdade desejada. 3. A desigualdade do enunciado equivale a
a6 b6 c6
13. Pela desigualdade de Cauchy, temos b 2 e2 + 22
a e + a 2 b2 2: ab + ac + bc.

Suponha, sem perda de generalidade, que a ::=; b ::=; e. Então, a 6 ::=;


b6 ::=; c6 e ic2 ::=; )c2 ::=; )b2 . Aplicando sucessivamente as desigual-
dades de Chebyshev e das médias, obtemos
e

Por outro lado, a desigualdade entre as médias quadrática e aritmética


nos dá

Por fim, como já sabemos que a 2 + b 2 + c2 2: ab + ac + bd, nada mais


há a fazer.

Basta, agora, juntar as desigualdades acima. 4. Escreva Xi + x~ + · · · + Xi 994 = xy · x1 + x~ · x2 + · · · + xy 994 · X1994 e,


em seguida, aplique a desigualdade de Chebyshev para obter
14. Faça x = -±, y = t
e z = i e, em seguida, aplique a desigualdade de
Cauchy para obter

x2 y2 z2 ) Por fim, use as equações do sistema.


((y+z)+(x+z)+(x+y)) ( --+--+-- 2: (x+y+z)2.
y+z x+z x+y
5. Aplique a desigualdade de Chebyshev a cada parcela do somatório
Por fim, aplique a desigualdade entre as médias, acima.
266 Soluções e Sugestões 267

6. Vamos mostrar que, para todo n > 1, tem-se 8. Por simetria podemos supor, sem perda de generalidade, que a~ b ~
e. Desse modo, obtemos b.!.c ~ a.!-c ~ a.!-b. Aplicando a desigualdade
de Chebyshev e (7.11), obtemos

Para tanto, observe que o primeiro membro é igual à expressão


n n
L Ài()q + · ·· + >:i + · · · + Àn)aibi - L ÀiÀjaibj, (8.2)
i=l i,j=l
#J
Também pela desigualdade de Chebyshev, segue que
~

onde Ài indica que Ài não aparece na soma. Veja agora que, para
cada par (i,j) comi< j, a soma

o que completa a demonstração.

aparecerá em (8.2) exatamente uma vez, o que significa que 9. Supondo, sem perda de generalidade, x ~ y ~ z, use a desigualdade
de Chebyshev para concluir que a expressão do enunciado é maior ou
igual que

(x
3 + y3 + z 3 ) . (x + 1) + (y + 1) + (z + 1)
A igualdade ocorre quando todos os ai 's forem iguais ou todos os 3 (x + l)(y + l)(z + 1) ·
bi 's forem iguais. Finalmente, a desigualdade de Chebyshev usual
corresponde ao caso particular em que Ài = i,
para 1 :S i :S n.
Em seguida, aplique a desigualdade de Chebyshev ao primeiro fator
e a desigualdade entre as médias ao segundo fator para concluir que
7. Aplique a desigualdade de Chebyshev para concluir que a expressão a última expressão acima é maior ou igual que (t!;)
2 , onde t = }(x +

do primeiro membro é maior ou igual que y + z). Por fim, use a desigualdade entre as médias para concluir que
t>_ 1 e, em segmºd a, prove que t ~ s =} (t+1)2
3t3 3s 3
~ (s+1)2.

10. Para obter a primeira desigualdade, aplique a desigualdade de Chebyshev


Em seguida, aplique o resultado do corolário 7.21, juntamente com ao primeiro somatório, seguida do resultado do corolário 7.11. Para
a desigualdade (7.11), para concluir que a última expressão acima é a segunda desigualdade, utilize a desigualdade entre as médias arit-
maior ou igual que mética e quadrática.

(a+ b +e+ d) 2 11. Suponha, sem perda de generalidade, que a1 :S a2 :S · · · :S a 2n e


12 arranje tais números em n pares (b1, c1), (b2, c2), ... , (bn, Cn), com
b1 :S b2 :S · · · :S bn e bj :S Cj, para todo j. Queremos maximizar
Por fim, observe que a condição do enunciado equivale a (a+ c)(b +
d) = 1 e aplique a desigualdade entre as médias.
268 Soluções e Sugestões
269

Para isso, vamos mostrar que c1 :=:; c2 :=:; · · · :S Cn, De fato, se a


e
sequência (e;) não for não decrescente, existirão índices i > j tais que
ci :=:; Cj. Neste caso, trocamos as posições de Ci e Cj em S, após o que MG (xi+ Xn - a, x2, ... , Xn-i, a) > MG (xi, x2, ... , Xn-1, Xn),
a nova soma será
Se os números xi + Xn - a, x2, ... , Xn-i, a forem todos iguais, teremos

MA (xi+ Xn - a, x2, ... , Xn-i, a)= MG (xi+ Xn - a, x2, ... , Xn-i, a)


Logo, a soma será máxima quando ci :=:; c2 ~ · · · :=:; Cn· Finalmente,
observe que, para todos i < j, temos bi :=:; Ci :=:; Cj. Suponha que, para e, daí,
algum pari< j, tivéssemos bj :=:; Ci· Neste caso, trocamos Ci por bj,
MA (xi, x2, ... , Xn-1, a) > MG (x1, x2, ... , Xn-1, a).
de modo que a nova soma seja
Senão, ordenamos tais números como Yi :S · · · :S Yn, com Yi < Yn·
Como MA (Yi, ... , Yn) = a, segue que Yi <a< Yn· Trocando agora
Portanto, devemos ter, para todos i < j, bi :=:; Ci :=:; bj :=:; Cj. Em geral, Y1 por Y1 + Yn - a e Yn por a obtemos, como acima,
teremos
MA (Y1 + Yn - a, Y2, · · ·, Yn-1, a)= MA (Yi, Y2, · · ·, Yn-1, Yn)

12. Adapte, ao presente caso, a ideia da prova da desigualdade do rear- MG (Y1 + Yn - a, Y2, ... , Yn-1, a) > MG (Yi, Y2, · · ·, Yn-1, Yn)·
ranjo.
Veja que, dentre os números Yi + Yn - a, Y2, ... , Yn-i, a há ao menos
13. Para o item (a), basta ver que dois iguais a a. Se os números Yi + Yn - a, Y2, ... , Yn-1, a forem todos
iguais, teremos
a(x + y - a) - xy = (ax - xy) + a(y - a)= -x(y - a)+ a(y - a)
=(y-a)(a-x)~O, MA (yi + Yn - a, Y2, ... , Yn-i, a)= MG (Yi + Yn - a, Y2, ... , Yn-1, a)

uma vez que y ~ a ~ x. Quanto ao item (b), queremos provar que, e, daí,
dados n > 1 e reais positivos x1, ... , Xn, tem-se sempre
MA (Yi, Y2, · · ·, Yn-1,Yn) = MG (Yi, Y2, · · ·, Yn-i, Yn)·
MA (x1, ... , Xn) ~ MG (x1, ... , Xn),
Senão, operamos uma terceira troca, como acima. Observe que esse
onde MA e MG denotam respectivamente média aritmética e média algoritmo termina após um número finito de passos, quando todos
geométrica. Para isso podemos supor, sem perda de generalidade, os números de nossa lista serão iguais a a. Quando isso ocorrer, as
que x1 :=:; .. · :=:; Xn, com X1 < Xn, Seja ainda a = MA (x1, ... , Xn), médias aritmética e geométrica dos números serão iguais. Mas, como
Segue que x1 < a < Xn, Imitando a prova do item (a), obtemos cada operação que fizemos preserva a média aritmética e aumenta a
a(x1 + Xn - a)> x1xn, de modo que média geométrica segue que, inicialmente, tínhamos
MA (x1 + Xn - a, x2, ... , Xn-1, a) = MA (x1, x2, ... , Xn-i, Xn) MA (xi, x2, ... , Xn-i, a) > MG (xi, x2, ... , Xn-i, a).
Soluções e Sugestões 271
270

Executando, de maneira análoga à acima, as operações de troca


14. Faça a prova por indução sobre n > 1 inteiro. Para o passo de
indução, basta provar que

para 1 ~ i ~ n (com xo = Xn e Xn+i = x1), obtemos as desigualdades

ou, equivalentemente, que


para 1 ~ i ~ n. Somando todas estas expressões, chegamos à desi-
gualdade
n

Por fim, observe que tal desigualdade é uma aplicação imediata da LXi(Xi+l + Xi+3) ~ Ü,
i=l
desigualdade do rearranjo.
o que é um absurdo. Logo, a fim de que a sequência (xi, x2, ... , xn)
15. (Por Emanuel Augusto de Souza Carneiro.) Façamos uma prova por maximize a expressão E(x1, x2, ... , Xn), ao menos um dos xi's deve
indução sobre n, deixando o caso inicial n = 3 como exercício_. Mais ser igual a O. Suponha, sem perda de generalidade, que Xn = O. Então
precisamente, mostremos que, a fim de maximizar a expressão do
primeiro membro, um dos Xi 's deve ser igual a O, com o quê recairemos Ema:x = E(x1, X2, ... , Xn-1, O)
2 2 2 2
na hipótese de indução. Para tanto, seja = X1 X2 + X2X3 + X3X4 + · · · + Xn-2Xn-1
< 2 2 2 2 2
_ X1X2 + X2X3 + X3X4 + · · · + Xn-2Xn-1 + Xn-lXl
4
<-
- 27'
e suponha que a expressão assume seu valor máximo 2 para alguma
sequência (xi, x2, ... , Xn) tal que nenhum dos xi's é igual a O. Subs- onde, na última desigualdade, utilizamos a hipótese de indução.)
tituindo Xn-1 por O e x1 por x1 +xn-1, obtemos uma nova expressão,
17. Faça,\= bi/ai, para 1 ~ j ~ n, e conclua que
a qual é menor ou igual que a original, i.e., é tal que

Em seguida, aplique a desigualdade de Abel para concluir que


n
Dividindo esta última expressão por obtemos
Xn-1,
L aj(Àj - 1) 2: a1 · min {.\1 - 1, À1 + À2 - 2, ... , À1 + · ·· + Àn - n}.
j=l

2 Aqui,
Por fim, use a condição do enunciado e a desigualdade entre as médias
estamos supondo, implicitamente, que existe uma sequência
(xi, x2, ... , Xn), tal que X1 + X2 + · · · + Xn = 1 e E(x1, X2, ... , Xn) é máximo.
para mostrar que À1 + · · · + Àk 2: k.
Apesar desse fato poder ser provado rigorosamente, uma tal demonstração foge ao
escopo dessas notas, de forma que não a apresentaremos ~qui.
272 Soluções e Sugestões

APÊNDICE A

Glossário

APMO: Asian-Pacific Mathematical Olympiad.

Áustria-Polônia: Olimpíada de Matemática Austro-Polonesa.

BMO: Balkan Mathematical Olympiad.

Baltic Way: Baltic Way Mathematical Contest.

Crux: Crux Mathematicorum, periódico de problemas da Sociedade


Canadense de Matemática.

IMO: International Mathematical Olympiad.

Israel-Hungria: Competição Binacional Israel-Hungria.


274 Glossário

Miklós-Schweitzer: Miklós-Schweitzer Mathematics Competition (a


principal competição universitária de Matemática da Hungria).

NMC: Nordic Mathematical Contest.

OBM: Olimpíada Brasileira de Matemática.

OBMU: Olimpíada Brasileira de Matemática para Universitários.


Referências Bibliográficas
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OCS: Olimpíada de Matemática do Cone Sul.

OIM: Olimpíada Ibero-americana de Matemática. ·


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ciedade Brasileira de Matemática.

?7A
Referências 277
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Índice Remissivo

Abel Axioma, 126


desigualdade de, 194 axioma, 6
identidade de, 194 axiomas
Niels H., 59 da adição e multiplicação, 7
Niels Henrik, 194 da relação de ordem em :IR, 10,
Algébrica 11
expressão, 36
Bhaskara
identidade, 37
fórmula de, 53
operação, 36
II, 46
Algoritmo, 70
Binômio
da divisão, 2
de Newton, 149
da divisão para polinômios, 65
fórmula do, 149
saída de um, 70
termo geral, 151
Aproximação
de uma raiz quadrada, 138 Cardano, Girolamo, 59, 60
por falta de um número, 4 Cauchy, Augustin Louis, 179
Arquimedes, 28 Chebyshev
Associatividade desigualdade de, 186
da adição, 7 Pafnuty, 186
da multiplicação, 7 Coeficiente

281
282 ÍNDICE REMISSIVO ÍNDICE REMISSIVO 283

de um monômio, 36 de Chebyshev, 186 Expressão extremidades de um, 25


de um polinômio, 37 do rearranjo, 190 algébrica, 36 fechado, 26
Completamento de quadrados, 52 entre as médias, 168, 182 polinomial, 37 fechado à direita, 26
Completude de ~' 18 ponderada entre as médias, 176 fechado à esquerda, 26
Fórmula
Comutatividade triangular, 160, 162, 182 finito, 25
de Báskara, 46, 53
da adição, 7 Desigualdades algébricas, 160 ilimitado, 25
de expansão trinomial, 157
da multiplicação, 7 Discriminante, 52 infinito, 25
de Viete, 41, 54
Conjunto Distributividade da multiplicação, limitado, 25
do binômio, 149
ínfimo de, 30 7 Inverso
do radical duplo, 46
denso, 33 Divisão aditivo, 8
Fatoração, 39
dos inteiros, 1 algoritmo da, 2 multiplicativo, 8
Fatorial, 117, 141
dos naturais, 1 quociente de uma, 2
Fibonacci
dos racionais, 1 resto de uma, 2 Lagrange
fórmula posicional para a se-
dos reais, 7 identidade de, 152
Elemento neutro quência de, 106
limitado, 27 Joseph Louis, 153
da adição, 7 sequência de, 106
limitado inferiormente, 27 Limitado
limitado superiormente, 27 da multiplicação, 7 conjunto, 27
Galois, Évariste, 59, 60
Eliminação Gaussiana, 70 inferiormente, conjunto, 27
supremo de um, 30 Gauss, Johann Carl Friedrich, 71
Equação intervalo, 25
Cota
a uma variável, 47 Indução superiormente, conjunto, 27
inferior, 27
bicúbica, 62 demonstração por, 127, 130
inferior, maior, 30
biquadrada, 61 forte, 133 Média
superior, 27
característica, 106 hipótese, 131 aritmética, 168
superior, menor, 29
conjunto solução de uma, 47 passo de, 131 geométrica, 168
Cubo de um número, 13
de primeiro grau, 47 primeiro princípio de, 126, 129 quadrática, 182
Definição de segundo grau, 51 segundo princípio de, 133 Médias
por recorrência, 90 incógnita da, 47 Inequação, 159 desigualdade ponderada entre
recursiva, 90 modular, 48 Intervalo, 25 as, 176
del Ferro, Scipione, 59 polinomial de grau n, 59 aberto, 26 Método
Desigualdade raiz de uma, 47 aberto à direita, 26 axiomático, 6
de Abel, 194 recíproca, 62, 67 aberto à esquerda, 26 Módulo, 47
de Cauchy, 179 Escalonamento, 70 comprimento de um, 25 Monômio, 36
-~-------

284 ÍNDICE REMISSIVO ÍNDICE REMISSIVO 285

Número caracterização recursiva de, 96 Raiz de Fibonacci, 106


binomial, 142 caracterização recursiva de uma, n-ésima de um real positivo, de Fibonacci, fórmula posicio-
complexo, 154 97 18 nal para a, 106
inteiro, 1 razão de uma, 96 índice de uma, 18 fórmula posicional para uma,
irracional, 18 soma dos k primeiros termos cúbica de um real positivo, 19 90
natural, 1 de uma, 97 quadrada de um real positivo, finita, 89
negativo, 11 termo geral de uma, 97 19 infinita, 89
racional, 1 Pitágoras Recorrência, 91 periódica, 5
real, 7 de Samos, 24 linear de primeira ordem e com Sistema
trinomial, 156 teorema de, 23, 202 coeficientes constantes, 102 de equações, 69
Newton Polinômio, 37 linear de segunda ordem com de segundo grau, 80
binômio de, 149 postulado, 6 coeficientes constantes, 103 impossível, 73, 75, 76
Isaac, 149 Potência Regras de sinal, 13 incompatível, 73
Notação nª', 13 Relação linear de equações, 70
IL 113 perfeita, 19 de ordem, 10 linear, coeficientes de um, 70
Í:::, 113 Princípio fundamental da conta-
de recorrência, 91 possível determinado, 73, 76
gem, 138 de Stiefel, 142 possível indeterminado, 73, 75,
PA, 93 Produtório, notação de, 118
Relações entre coeficientes e raí- 77
caracterização recursiva de, 93, Produto zes, 65 Soma telescópica, 115
94 notável, 38
Representação Somatório, notação de, 113
de segunda ordem, 115 telescópico, 119
binária, 134 Stiefel, relação de, 142
razão de uma, 93 Progressão
decimal, 4 Substituição de variável, 54
soma dos k primeiros termos aritmética, 93
Representação decimal, 18 Supremo, 30
de uma, 95 geométrica, 96
Reta numerada, 24
termo geral de uma, 95 Propriedade Tartaglia, Niccolô, 59, 60
Pascal Arquimediana, 27 Semi-reta Teorema
Blaise, 144 negativa, 22 das colunas, 146
Quadrado
triângulo de, 143 positiva, 22 das diagonais, 147
de um número real, 13
Perfeito Sequência, 4 das linhas, 153
cubo, 19 Racional k2 termo de uma, 89 · de Zeckendorff, 140
quadrado, 19 diádico, 33 índice de uma, 91 Transformação de Ravi, 173
PG, 96 Radiciação, 19 constante, 113 Triângulo
286 ÍNDICE REMISSIVO

de Pascal, 143 •1seM


Trinômio de segundo grau, 41, 52
coeficientes de um, 52 (continuação dos títulos publicados)
fatoração de um, 41, 42 Tópicos de Matemática Elementar - Volume 6 - Polinômios - A. Caminha
forma canônica de um, 52 Treze Viagens pelo Mundo da Matemática - C. Correia de Sa e J. Rocha (editores)
forma fatorada de um, 56 Como Resolver Problemas Matemáticos - T. Tao
Geometria em Sala de Aula - A. C. P. Hellmeister (Comitê Editorial da RPM)
Variáveis, 36
COLEÇÃO PROFMAT
Viête
fórmula de, 41 Introdução à Álgebra Linear - A. Hefez e C.S. Fernandez
François, 42 Tópicos de Teoria dos Números - C. G. Moreira, F. E Brochero e N. C. Saldanha
Polinômios e Equações Algébricas - A. Hefez e M.L. Villela
Zeckendorff, teorema de, 140 Tópicos de Historia de Matemática -T. Roque e J. Basco Pitombeira
Recursos Computacionais no Ensino de Matemática - V. Giraldo, P. Caetano e F.
Mattos
Temas e Problemas Elementares - E. L. Lima, P. C. Pinto Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Números e Funções Reais - E. L. Lima
Aritmética - Abramo Hefez
Geometria - A. Caminha
Avaliação Educacional - M. Rabelo
Matemática Discreta - A. Morgado e P.C.P. Carvalho

COLEÇÃO INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Números Irracionais e Transcendentes - D. G. de Figueiredo


Números Racionais e Irracionais - 1. Niven
Tópicos Especiais em Álgebra - J. F. S. Andrade

COLEÇÃO TEXTOS UNIVERSITÁRIOS

Introdução à Computação Algébrica com o Maple - L. N. de Andrade


Elementos de Aritmética - A. Hefez
Métodos Matemáticos para a Engenharia - E. C. de Oliveira e M. Tygel
Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies - M. P. do Carmo
Matemática Discreta - L. Lovász, J. Pelikán e K. Vesztergombi
Álgebra Linear: Um segundo Curso - H. P. Bueno
Introdução às Funções de uma Variável Complexa - C. S. Fernandez e N. C.
Bernardes J r.
•1seM
(continuação dos títulos publicados)
Elementos de Topologia Geral - E. L. Lima
A Construção dos Números - J. Ferreira
Introdução à Geometrig, Projetiva - A. Barros e P. Andrade
Análise Vetorial Clássica - F. Acker
Funções, Limites e Continuidade - P. Ribenboim
Fundamentos de Análise Funcional - D. Pellegrino, E. Teixeira e G. Botelho
Teoria dos Números Transcendentes - D. Marquez
Introdução à Geometria Hiperbólica - O modelo de Poincaré - P. Andrade

COLEÇÃO MATEMÁTICA APLICADA

Introdução à Inferência Estatística - H. Bolfarine e M. Sandoval


Discretização de Equações Diferenciais Parciais - J. Cuminatq e M. Meneguette

COLEÇÃO OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA

Olimpíadas Brasileiras de Matemática, la a Ba - E. Mega, R. Watanabe


Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 9a a 16a - C. Moreira, E. Motta,
E. Tengan, L. Amâncio, N. C. Saldanha e P. Rodrigues
21 Aulas de Matemática Olímpica - C. Y. Shine
Iniciação à Matemática: Um curso com problemas e soluções - K. 1. M. Oliveira e A.
J. C. Fernández

COLEÇÃO FRONTEIRAS DA MATEMÁTICA

Fundamentos da Teoria Ergódica - M.Viana e K. Oliveira

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