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para Segurança
Pública e Políticas
de Drogas
Novas Abordagens para
Segurança Pública e Políticas
de Drogas
Editado por:
Conselho Internacional de
Segurança e Desenvolvimento
(ICOS)
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
*
Por altura do Simpósio o ICOS era conhecido como The Senlis Council.
www.icosgroup.net
www.ceps.icosgroup.net
Novas abordagens para segurança pública e políticas de drogas / editado por: Conselho Internacional de Segurança e
Desenvolvimento (ICOS). - Petrópolis: Vozes, 2009. 196 p. : il. ; 26 cm.
.
Pronunciamentos proferidos no I Rio Simpósio Internacional de Segurança Pública e Políticas Públicas sobre Drogas, realizado no
Hotel Sofitel, Rio de Janeiro, RJ, de 25 a 27 de fevereiro de 2008.
ISBN: 978-85-62645-02-2
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
NOTA DE AGRADECIMENTO
O ICOS gostaria de agradecer a colaboração e o apoio dos co-realizadores do Rio Simpósio
Internacional de Segurança e Políticas Públicas sobre Drogas - Secretaria Nacional
Antidrogas SENAD/GSI/PR, a Secretaria Nacional de Segurança Pública SENASP/MJ, e o
Departamento de Polícia Federal – sem os quais este evento não teria sido realizado.
O alto nível do diálogo foi resultado da qualidade dos pronunciamentos proferidos pelos
oradores convidados. A estes o Conselho Internacional de Segurança e Desenvolvimento
(ICOS) agradece a sua inestimável contribuição para o sucesso do evento e para o
enriquecimento do debate.
5
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
Prefácio
Atualmente, as nossas sociedades se deparam com um cenário sem precedentes para a atuação
da criminalidade organizada. Com o tráfico de drogas ocupando um lugar de destaque neste
quadro atual, fazem-se necessárias respostas inovadoras a estes desafios da segurança pública
e do problema das drogas.
Foi com o intuito de fomentar um debate internacional de alto nível que o I Rio Simpósio
Internacional de Segurança e Políticas Públicas sobre Drogas foi realizado pelo ICOS1 em
parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas SENAD/GSI/PR, a Secretaria Nacional de
Segurança Pública SENASP/MJ, e o Departamento de Polícia Federal. O evento teve lugar
nos dias 25, 26 e 27 de fevereiro de 2008, no Hotel Sofitel no Rio de Janeiro, Brasil.
O diálogo de alto nível gerado com o evento, em um ambiente propício e agradável, resultou
na soma positiva dos conhecimentos dos presentes e no enriquecimento do debate à volta de
temas cruciais. Dada a relevância do Simpósio, o ICOS organizou e reuniu o conteúdo dos
pronunciamentos proferidos pelos oradores convidados no presente trabalho. O ICOS faz
votos de que este simpósio, e agora esta publicação, contribuam de forma positiva para
aprofundar, ao nível das políticas públicas, o debate sobre os temas abordados.
1
Anteriormente conhecido como The Senlis Council.
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Tabela de Conteúdos
13 Glossário
25 O Mercado da Droga
Tarso Fernando Herz Genro, Ministro da Justiça – Brasil
31 Conferência de Abertura
*
Anteriormente conhecido como The Senlis Council.
Primeira Parte
45 Mediador
Vitalino Canas, Presidente da Comissão Parlamentar de
Assuntos Europeus e Deputado à Assembléia da República
– Portugal
99 Mediador
Emmanuel Reinert, Diretor Executivo do ICOS
Perspectivas Internacionais
Perspectivas do Brasil
Glossário de siglas:
1
International Institute of Strategic Studies
2
Liberation Tigers of Tamil Eelam
3
Network of European Foundations
4
Office Européen de Lutte Anti-Fraude
13
PRONASCI Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania
5
United Nations Office on Drugs and Crime
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
SUMÁRIO
EXECUTIVO GERAL
Políticas de drogas
A problemática das drogas é um tema
complexo que coloca múltiplos desafios às
nossas sociedades atuais. O combate às
drogas, tal como é encarado pelas
autoridades brasileiras, é uma questão de
saúde pública, de combate à criminalidade,
de segurança nacional e uma questão
cultural [Tarso Genro]. Esta perspectiva,
partilhada por diversos países, defende que
as políticas de combate às drogas devem
atacar as raízes do problema [Francisco
Thoumi]. Trata-se de uma abordagem
multidisciplinar, que previne efeitos nocivos
como a sobreincriminação [José Luís Lopes
da Mota] e a discriminação de usuários
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
[Oscar Zuluaga], ao mesmo tempo em que refletem problemas sociais não resolvidos,
possibilita maiores níveis de sucesso. afetando especialmente as populações mais
vulneráveis, onde a institucionalidade é
A política brasileira de drogas fraca e inconsistente [Francisco
Thoumi/Alba Zaluar/ José Mariano
No Brasil, a nova Lei sobre Drogas Beltrame].
realinhada em 2006 permitiu ao país
suplantar uma legislação obsoleta e se
posicionar de forma avançada no cenário
Segurança pública e tráfico de
internacional [Jorge Armando Félix] em
drogas: o caso do Rio de Janeiro
harmonia com a Constituição e as normas No Rio de Janeiro, como em outros lugares,
da ONU [Paulo Roberto Yog de Miranda o problema das drogas reflete problemas
Uchôa]. Um dos aspectos progressivos da sociais não resolvidos, mas acaba por
nova Lei sobre Drogas é a distinção de exacerbar ainda mais os problemas sociais
penas para usuários e para traficantes de já existentes enquanto cria outros efeitos
drogas. Este modelo restaurativo de justiça nocivos [Francisco Thoumi]. A violência do
garante ao infrator a proporcionalidade da Rio de Janeiro é exemplo disso, onde cada
medida punitiva com finalidade didática e vez mais jovens das favelas se envolvem
terapêutica [Joaquim Domingos de Almeida com o tráfico de drogas. Realidade que
Neto], ao mesmo tempo em que atende às engrossa as estatísticas da criminalidade
recomendações dos especialistas para a violenta [Alba Zaluar] e cria um problema
distinção entre tipos de usuários [Antônio grave de segurança pública. Sob o poder de
Nery Filho]. facções criminais de tráfico de drogas ou
milícias, instalaram-se núcleos de
Segurança pública e drogas: uma criminalidade que impõem uma violência
visão multidisciplinar diária na vida da população. Contra estes
grupos fortemente armados, as forças
A segurança pública e o problema das policiais se vêem limitadas a conter a
drogas possuem múltiplos aspectos e violência com base na inteligência, uma vez
impõem uma ação multidisciplinar do que os recursos são escassos [José Mariano
governo que atinja simultaneamente as Beltrame].
várias dimensões relativas a essas questões
[Antônio Carlos Biscaia]. Neste ponto, o
Brasil avançou com abordagens inovadoras
O tráfico de drogas e o crime
como é o caso do PRONASCI [Norine
organizado
McDonald/Raymond Kendall]. O programa O tráfico de drogas é o mais importante
busca um novo paradigma de segurança segmento da indústria internacional do
pública que alia políticas de segurança com crime [José Luís Lopes da Mota] que se vê
políticas de inclusão social, enfrentamento em clara vantagem sobre as forças de
com prevenção e prevê operações policiais segurança – estas operando com recursos
para a implantação de um território de paz escassos, e aquela dispondo de uma
[Antônio Carlos Biscaia]. O PRONASCI economia super financiada [Norine
está em sintonia com a noção de que os McDonald]. O Afeganistão, líder mundial
problemas de segurança pública e de drogas na produção ilícita de ópio, ilustra este tipo
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Jorge Armando Félix
A Construção da Política
Brasileira Sobre Drogas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Jorge Armando Félix
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Jorge Armando Félix
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Tarso Fernando Herz Genro
O Mercado da Droga
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Tarso Fernando Herz Genro
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Norine MacDonald QC
Conselho Internacional de
Segurança e Desenvolvimento
(ICOS) - uma apresentação
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Norine MacDonald QC
Nós somos um grupo internacional de Uma atenção especial será dada aos desafios
reflexão sobre políticas, com escritórios em crescentes da política de segurança e da
Londres, Paris, Bruxelas, Ottawa, política de drogas sob todas as perspectivas,
Afeganistão e, mais recentemente, aqui no estabelecendo um ponto de contacto para a
Rio de Janeiro. O ICOS foi arquitetado pela troca entre perspectivas diferentes, mas
Rede de Fundações Européias (NEF) em igualmente importantes sobre o mesmo
2002 para promover uma perspectiva assunto.
européia independente sobre as questões dos
narcóticos e da segurança. Estes desafios da segurança não ocorrem
apenas no Brasil. Desde as ruas do Rio até
O ICOS opera um extenso programa no aos campos do Afeganistão, dos subúrbios
Afeganistão, o qual eu coordeno, que utiliza de Paris até às cidades da África do Sul,
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Norine MacDonald QC
visualizamos as ligações entre segurança e Nós temos que eliminar o abismo entre os
política social. legisladores, as forças policiais, aqueles
trabalhando nas políticas sociais e estes
Não poderão existir ambientes seguros e estão sendo os mais afetados por estas
sustentáveis se os corações & as mentes da políticas.
população local não forem conquistados.
Uma das razões pela qual estamos muito
Não poderá haver desenvolvimento interessados em trabalhar no Brasil (para
econômico sem segurança. As forças de além da sua beleza natural e do charme
segurança são com freqüência os únicos brasileiro) é que agora existe uma
representantes do Estado nas áreas mais conjunção de fatores positivos que definem
negligenciadas e perigosas. Elas são o atual ambiente político a respeito da
freqüentemente deixadas sozinhas, sem o segurança pública e da política de drogas.
apoio de instituições relevantes, cujas ações
são necessárias para melhorar a situação da Os fatores positivos podem ser vistos nas
segurança. várias abordagens do problema do uso de
drogas:
Eles pagam um alto preço por isto em baixas
e perdas de vidas, acabando por serem A SENAD, com a sua abordagem
apanhados neste ciclo de violência onde os inovadora, está assumindo a liderança no
vencedores são as gangues de traficantes e capítulo do tratamento.
as redes do crime organizado.
E o programa PRONASCI – representa uma
O investimento na polícia é absolutamente nova oportunidade.
necessário, não apenas em materiais, tais
como armamento e equipamento Torna-se claro que aqui no Brasil vocês
especializado mas, muito importante, em entenderam o problema e não pretendem
treino e gestão dos recursos humanos, de esperar pela mudança do status quo
modo a que o serviço correto seja prestado internacional para pôr em prática políticas
à população e os programas de inovadoras.
desenvolvimento econômico e de educação
sejam facilitados. O ICOS está hoje no Brasil e não quer
apenas atrair a atenção internacional para a
Coordenação e integração são a chave. liderança do Brasil no capítulo da segurança
Quando segurança e desenvolvimento não pública, mas quer também fazer parte do
estão funcionando em conjunto, o mercado processo do Brasil se tornar um Centro
ilegal de drogas floresce e ameaça toma Global de Conhecimento sobre Segurança.
conta da sociedade.
Nós esperamos poder adicionar algum valor
Com uma economia do tráfico de drogas ao esforço do Brasil, trazendo para a
super financiada e as polícias e forças de implementação das políticas as nossas
segurança sub financiadas, a primeira é, e experiências em outras jurisdições e a
sempre será, a vencedora. comunidade de conselheiros que se juntou a
nós no nosso trabalho.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Norine MacDonald QC
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Conferência de Abertura
O pronunciamento inaugural é dado por Abraham Stein, Secretário Assistente para a
Segurança Multidimensional da Organização dos Estados Americanos, que apresenta uma
introdução sobre os recursos regionais de cooperação multilateral disponíveis para o combate
às questões de segurança pública das Américas.
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Abraham Stein
Na Declaração de Bridgetown, em
Barbados, 2002, os estados membros da
Organização dos Estados Americanos
(OEA) reconheceram que “as ameaças à
segurança, as apreensões e outros desafios
dentro do contexto hemisférico têm
naturezas diversas e escopos
multidimensionais, e que o conceito e
enfoque tradicional deveriam ser estendidos
para abranger ameaças novas e não-
tradicionais, as quais incluem aspectos
políticos, econômicos, sociais, ambientais e
de saúde”.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Abraham Stein
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Abraham Stein
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Abraham Stein
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Abraham Stein
Conclusões
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Primeira Parte
SEGURANÇA
PÚBLICA E A
PROBLEMÁTICA DAS
DROGAS
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
SEGURANÇA PÚBLICA E A
PROBLEMÁTICA DAS DROGAS
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Vitalino Canas
Mediador
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Vitalino Canas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Vitalino Canas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
Miranda Uchôa
herdado dos nossos prezados colonizadores
e hoje amigos portugueses, esse nosso
Secretário Nacional Antidrogas,
imenso território que, inclusive, com muita
Presidência da República - Brasil
bravura, foi levado além daquilo que previa
o Tratado de Tordesilhas. Daí, entretanto,
nos advém alguns ônus que temos que pagar
por essa beleza toda. (slide 03) E, no que diz
respeito a drogas, o primeiro ônus que a
gente pode apresentar é o de que fazemos
fronteira com os três maiores produtores de
cocaína do mundo e um dos maiores
produtores de maconha do mundo. E essa
fronteira – é bom fixar isso – sabe-se que é
muito grande. Mas, de repente, quando a
gente vê que essa linha de fronteira, desde o
sul, com o Paraguai, até o norte, com a
Colômbia, chega a 9.104km, é estarrecedor.
Então, nós não podemos nos surpreender
pelo fato de que o Brasil seja um país de
Slide 02 trânsito. Fazendo fronteira com os maiores
produtores de droga do mundo, é muito
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
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difícil não ser um país de trânsito. (slide 04)
E, para a entrada da droga, para termos uma
idéia do que significa nove mil e tantos
quilômetros, nós vamos só imaginar que, de
Los Angeles a Nova York, somada à
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
está de acordo com a Constituição Federal, cumprir. Se não cumprir, tem a respectiva
no que diz respeito aos direitos humanos e punição. A lei é criada, é estabelecida, pelo
às liberdades fundamentais, bem como com povo, pela sociedade, através dos seus
os compromissos internacionais firmados representantes nas casas legislativas. O
pelo país, como as convenções da ONU de Brasil tinha uma lei antiga, de mais de 30
1961, 71, e 88, das quais o Brasil é anos, e que precisava ser revista também. O
signatário. Ela, também, está em harmonia Senado apresentou um projeto, que gerou
com as declarações advindas daquela um substitutivo, o qual contou com a
sessão especial da ONU, de 1998, às quais, participação integrada de vários órgãos do
também, já me referi. Em suma, a política governo, coordenados pela SENAD. Foi
está perfeitamente alinhada com tudo isso. estabelecida uma excelente parceria com o
Congresso Nacional – inicialmente com a
Câmara dos Deputados e, depois, no Senado
Federal. No final do processo legislativo,
após o Senador Romeu Tuma relatar o
projeto na Comissão de Constituição e
Justiça do Senado, a nova lei foi aprovada.
Hoje, aqui, estamos no estado do Rio de
Janeiro, cujo governador, Dr. Sergio Cabral,
teve importante participação, quando
senador, como relator daquele projeto na
Comissão de Seguridade do Senado. Essa
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lei ficou no Senado quase dois anos sendo
Passamos, então, a contar com uma Política discutida, à disposição da sociedade, até
Nacional sobre Drogas realinhada, que, em 23 de agosto de 2006, foi
atualizada e que, à época, foi muito sancionada pelo presidente da república,
divulgada. Acreditamos que, como houve tornando-se na Lei 11.343. É uma lei que
uma intensa participação da sociedade, de não discrimina nada. Não discrimina droga,
todo o Brasil, como mostramos pelos fóruns não discrimina usuários ou dependentes.
regionais, a “nova” Política foi muito pouco Continuamos fiéis aos nossos compromissos
criticada e a expectativa passou a ser muito internacionais. Continua sendo crime o
grande. Foi um passo à frente. Quero porte de droga para uso próprio. A diferença
lembrar que, no texto em que o Presidente é que esta lei definitivamente separa o
Lula, apresenta a política realinhada, ele usuário ou o dependente, da figura do
reitera aquela necessidade da integração das traficante. Anteriormente, essas figuras se
políticas setoriais e da descentralização. confundiam. Antes, o usuário estava sujeito
à pena de seis meses a dois anos de prisão.
Bem, este é um dos principais instrumentos A nova lei eliminou, em definitivo, a pena
legais de que dispomos para trabalhar: a de perda da liberdade para o usuário ou
política nacional. Mas a política é um dependente. Outro aspecto importante da
documento, uma ferramenta de governo. nova lei é que ela passou a definir também
foros diferentes para o julgamento.
(slide 12) A lei, outro marco legal, é uma Enquanto os traficantes permaneceram com
ferramenta da sociedade. A lei tem que as varas criminais, os usuários e
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
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(slide 20) Dentro do Anexo II, que estabelece Como esta medida tem que ser estabelecida
essas medidas, já desde aquela época se fala por lei, o governo já entrou com uma
da necessidade de incentivar a Medida Provisória, a qual tem causado
regulamentação da propaganda. (slide 21) muitas notícias a nossa mídia. (slide 23)
Mas, como o assunto da propaganda está Finalmente, mais uma medida importante a
baseado numa lei, nós nos deparamos com o destacar, é a que possibilita a destinação de
problema de não podermos alterá-la por recursos do Fundo Nacional de Segurança
decreto. E a lei diz que, para fins de Pública e do Fundo Nacional Antidrogas
propaganda, considera-se bebida alcoólica para os municípios que apresentem projetos
aquela acima de 13 graus Gay Lussac. que visem à redução da violência associada
Então, nós não podemos, por um decreto, ao consumo de álcool. Por aí vocês vêem
modificar essa situação. Por isso é que um que não se trata de coisa feita em cima da
projeto de lei está já no Congresso para perna, mas algo que vem sendo elaborado
fazer a mudança desse grau de há muito tempo por especialistas, de uma
concentração, passando a considerar bebida forma integrada por vários ministérios afins
alcoólica aquela que tenha 0,5 grau ou mais. e com a participação dos segmentos civis
A partir daí, estará incluída a cerveja,o interessados.
vinho, etc. (slide 22) Ainda, outra medida, é a
que trata da proibição de vendas de bebidas (slide 24) Finalmente, chegamos à Mensagem
alcoólicas ao longo das rodovia s federais. ao Congresso deste ano de 2008. Na
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
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capacitação e o que nós chamamos de eixo
estratégico. Muito rapidamente, (slide 28) o
do diagnóstico, através de levantamentos
nacionais. Já realizamos os levantamentos Slide 30
nacionais domiciliares números 1 e 2; o
(slide 30) Por último, o eixo estratégico. Aí
levantamento nacional sobre o consumo de
vamos encontrar o nosso serviço gratuito
drogas no meio estudantil; o consumo entre
0800 – Viva Voz. É um programa muito
crianças e adolescentes em situação de rua;
interessante para quem busca orientações e
sobre os padrões de consumo de álcool e o
informações sobre drogas no Brasil inteiro.
sobre o consumo de álcool na população
Outro projeto que se destaca é o
indígena. Em breve, estaremos realizando os
mapeamento das instituições que trabalham
levantamentos sobre o consumo de álcool e
com drogas no Brasil. Temos, também, o
drogas no ambiente universitário e nas
projeto que estabelece uma rede de pesquisa
empresas. Esses, de uma maneira geral, são
na área de drogas, em parceria com o
levantamentos nacionais que nos propiciam
governo de Portugal. Com estratégicos,
identificar e diagnosticar o problema, ao
também, temos a concessão de subvenção
mesmo tempo em que nos proporcionam
social, a atualização de nosso Observatório
dados a serem trabalhados por aqueles que
Brasileiro de Informações sobre Drogas -
são os responsáveis pelas políticas setoriais,
OBID, a cooperação horizontal com a
as quais devem estar integradas com a
CICAD-OEA , onde alguns projetos estão
política nacional.
sendo desenvolvidos com a coordenação
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Luiz Fernando Corrêa
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Verificar pronunicamento do Gal. Paulo Roberto Yog
de Miranda Uchôa.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Luiz Fernando Corrêa
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Luiz Fernando Corrêa
da Polícia Federal, para as forças estaduais, vez maior. Hoje ela é muito grande. Nós
para nossas regiões, e também para outros temos efetivos espalhados pelo país em
continentes. Esse é um outro trabalho da operações regulares, e a todo o momento
Polícia Federal, visto que ela já tem um somos surpreendidos por demandas
acúmulo de conhecimento, que se não for eventuais. É imprevisível. Há poucos dias,
articulado com toda a academia, perde a por exemplo, um grupo de índios manteve
razão de ser, assim como o potencial de por um bom período como reféns, técnicos
impacto nas políticas públicas é também da FUNAI e de outras áreas. Isso exigiu,
desperdiçado. De nada adianta esse durante aquele fim de semana, uma
conhecimento, se ele não cumprir um papel. mobilização que acabou por terminar em
uma negociação positiva. Nossa capacidade
Estamos, então, revendo o modelo de de resposta, em termos efetivos, tem sido
formação, inclusive em razão do compensada pela cooperação federativa. E
planejamento. Outro cuidado que temos e ninguém faz favor para ninguém –
sobre o qual discutimos internamente é com simplesmente estamos cumprindo os nossos
o grupo mais especializado, para que ele não papéis. A Polícia Federal tem a sua
fique isolado dentro da instituição. O nosso atribuição, mas o sistema responde, e está
desafio como gestores é buscar a respondendo rápido.
especialização nos diferentes setores sem
perder o caráter sistêmico da instituição. Esse é um momento histórico favorável, e
não devemos permitir qualquer recuo no
A polícia viveu isso quando buscou a processo de cooperação. A solução para
especialização. Os setores especializados superar as dificuldades pontuais, tanto no
tendem a se tornar ilhas de excelência. A âmbito federal como estadual, está na
especialização tem que agir de forma intensa cooperação entre todos nós. Temos
descentralizada nas unidades, e deve que nos entender como um sistema. E
cumprir um papel de difusão da doutrina e quando se diz – e a lei diz – que um órgão
dos procedimentos. Dessa forma, ela tem um papel central, isso não significa que
consegue manter a unidade da instituição, o ele é ‘dono’de alguma coisa que lhe cabe
seu caráter sistêmico, e isso, certamente, enquanto atribuição, mas que é responsável
potencializa e fortalece a interação da por ela. Temos que ter maturidade para
instituição com as demais áreas do sistema. exercer esse papel fundamental, liderar essa
faixa da política pública, e fortalecer os
O nosso desafio hoje é suportar a demanda parceiros nesse processo. O conceito está
que a Polícia Federal recebe. Isso em muito bem descrito. Muitas vezes, para
relação a uma das atividades, que é a do quem olha de fora, pode parecer que o
enfrentamento do problema das drogas. Mas processo é moroso, mas quem acompanhou
as atribuições da Polícia Federal são muitas. sabe que o método utilizado, da construção
O texto constitucional é, eu diria em relação de baixo para cima, foi o mais apropriado
ao sistema como um todo, residual. Ele é porque implicou em mobilização e, em um
muito especializado. E na medida em que sentimento de pertencimento ao processo. E
evolui a consciência federativa no Brasil, as isso, também, estamos aplicando à Polícia
atribuições de um órgão federal como o Federal.
nosso crescem, e a demanda torna-se cada
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não têm capacidade para lidar com policiais e as autoridades judiciárias, entre
fenômenos que ultrapassam as suas o sistema policial e o sistema judicial. O
fronteiras territoriais. Temos, de facto, aqui desafio que se coloca consiste em transpor
um risco muito grande, que resulta do este conceito para o plano internacional. É o
confronto entre duas realidades e que caso da Convenção das Nações Unidas
funciona como um grande filtro gerador de sobre o crime transnacional organizado,
impunidade: a justiça territorializada versus assinada em Palermo, Itália, em 2000. Aí se
criminalidade globalizada. Os sistemas diz que os Estados se devem coordenar. E
penais nacionais estão centrados nas este é o problema que tem de ser enfrentado:
realidades locais, nas realidades nacionais, como é que os Estados se coordenam? Ora,
dessa forma é que eles foram historicamente é impossível imaginar uma coordenação
construídos. Existe a percepção que nós mundial, global. A coordenação tem que ser
continuamos, em termos de organização, feita em um nível regional, tendo em
inspirados pelos modelos do século XIX consideração as especificidades de cada
concebidos para combater a criminalidade região (por exemplo, o Brasil, mais que um
doméstica, a criminalidade que era limitada Estado, é uma verdadeira região, de
pelas fronteiras dos Estados e que deveria dimensão geográfica idêntica à União
ser controlada dentro dessas fronteiras. Européia) e exige, cada vez mais, a criação
de estruturas regionais de coordenação,
Assistimos, neste contexto, a uma assim permitindo que estas estruturas
internacionalização da política criminal, em regionais se possam coordenar também
que a palavra “coordenação” constitui um entre si. Não é possível outro tipo de
conceito-chave. Hoje a cooperação tem um intervenção, outro tipo de resposta. O
significado e um conteúdo distintos do que desenvolvimento destas novas formas de
sucedia ainda há poucos anos atrás. Posso cooperação ao nível da União Européia, tal
exemplificá-lo a partir da minha própria como hoje existem, representam um
experiência nos tribunais: nos anos 1980, embrião de resposta ao nível global, em
existindo processos com conexões resultado do nível de integração regional já
internacionais, procedia-se ao envio de atingido. É, de certa forma, como eu disse
cartas rogatórias que, sendo comunicadas no princípio, um laboratório, uma
internamente por via hierárquica até aos experiência nova que se está a desenvolver.
serviços centrais dos Ministérios da Justiça, O objetivo é por a funcionar mecanismos
eram depois transmitidas pelas competentes coordenados para detectar o crime,
vias diplomáticas para as “autoridades investigá-lo, levá-lo a julgamento e obter a
competentes” de outros Estados que não se condenação dos seus principais
podiam identificar à partida. E assim se responsáveis. Uma acção estritamente
passavam por vezes alguns anos sem que se focada em aspectos locais e parcelares das
obtivesse qualquer resposta. Obviamente, actividades criminosas de dimensão
hoje não é possível continuar a cooperar transnacional arrisca-se a conduzir a um
desta forma. Por isso há que explorar ao resultado perverso que um direito penal
máximo o conceito de coordenação. O adequado aos novos tempos não deveria
conceito de coordenação existe permitir, isto é, a uma incriminação da
internamente, ao nível dos Estados, pobreza. Ou seja, a situações em que as
envolvendo coordenação entre as forças pessoas criminalmente perseguidas acabam
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Luís Lopes da Mota
por ser os pobres, os que têm menos dizer que, em princípio, deverão existir
recursos, e que muitas vezes não têm outra investigações e processos paralelos em
possibilidade de sobreviver senão na vários Estados e, então, haverá que garantir
dependência dos novos senhores do crime. que estes se desenvolvem de maneira
O tráfico é uma actividade que está cada vez coordenada, analisar que autoridades e
mais nos centros de poder, nomeadamente tribunais vão perseguir e julgar os diferentes
do poder económico. factos e agentes, de acordo com as leis
nacionais aplicáveis, se é possível
As considerações que acabo de expor têm concentrar os processos num Estado só ou
que se levar em conta quando encaramos os não. E, ao mesmo tempo, prevenir os
problemas da cooperação. E então, que conflitos de jurisdição, o respeito pelo
elementos devemos considerar para princípio ne bis in idem, que hoje é
identificar respostas a esses novos desafios? universalmente considerado como um
direito fundamental. Outro ponto importante
Em primeiro lugar, é evidente uma é assegurar o confisco dos produtos do
necessidade de desburocratização e crime – aí temos os aspectos ligados ao
simplificação de procedimentos e de branqueamento.
aproximação de sistemas de modo a permitir
uma melhor cooperação entre Estados. O reforço da eficácia da acção contra a
criminalidade organizada obriga também a
Em segundo lugar, há que explorar e recorrer a métodos mais intrusivos de
desenvolver as potencialidades oferecidas investigação, às chamadas técnicas
pela expansão do direito penal. As especiais de investigação tais como escutas
convenções internacionais aprovadas em e intercepção de comunicações, entregas
várias instâncias internacionais têm levado a controladas e ações encobertas. O que
que o direito penal hoje atue em áreas onde significa uma maior intromissão nos direitos
não atuava anteriormente, também em individuais, nomeadamente à escala
virtude da implementação dessas mesmas internacional. E, assim sendo, há também
convenções no direito interno. que garantir maior protecção desses direitos
no âmbito do processo, para que se possa
Em terceiro lugar, a questão de garantir o necessário equilíbrio entre a
criminalização. O Estados têm que garantir liberdade e a segurança. Ao mesmo tempo
que fatos previstos nas normas há que simplificar a cooperação,
internacionais são crime, e isso só pode ser permitindo, por exemplo, a troca direta e
assegurado através da aprovação de leis espontânea de informação entre as
nacionais. Em simultâneo, os Estados têm autoridades nacionais competentes, e
que estabelecer a sua jurisdição sobre os intensificar o recurso a equipes conjuntas de
fatos ocorridos no seu território. investigação, constituídas por autoridades
de vários Estados, agindo no território de
Em quarto lugar, a questão da coordenação, todos os Estados envolvidas, sob a direção
aspecto essencial que obriga a mudar das autoridades nacionais do local de
práticas. Se a coordenação funciona no atuação da equipe.
domínio da investigação e perseguição da
criminalidade transnacional, isso vai querer
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Luís Lopes da Mota
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Luís Lopes da Mota
nacionais para facilitar a cooperação (na no caminho, vão decorrer muitos meses ou
União Européia avança-se ainda segundo vários anos. Pode ainda acontecer que,
um vetor novo, que é o reconhecimento quando a carta chega ao destino, a
mútuo das decisões judiciais); e pela Autoridade Judiciária B necessita de
facilitação da extradição. As bases jurídicas informações ou esclarecimentos
destas novas formas de cooperação complementares porque ao executar o
encontram-se em instrumentos diversos. Ao pedido tem de levar em conta a sua
nível da União Europeia temos os tratados, legislação e não a legislação do Estado
que lançaram as bases para a construção do requerente. E então haverá que fazer um
espaço da liberdade, segurança e justiça. Ao percurso idêntico até se chegar novamente
nível mundial merece especial referência a ao contacto com a Autoridade Judiciária A.
Convenção de Palermo, das Nações Unidas, Ora o que acontece é que falamos
que, no atual momento, constitui um linguagens diferentes, movemo-nos em
instrumento fundamental para a cooperação sistemas jurídicos distintos, usamos
internacional contra o crime grave e procedimentos distintos, o que, obviamente,
organizado. vai produzir problemas complicados de
comunicação. É assim que, de uma maneira
No que se refere à cooperação entre Estados geral, a cooperação ainda funciona no nível
especial referência deve ser feita à internacional, não obstante algumas
tramitação de pedidos de cooperação, isto é medidas que já vão permitindo os contactos
às cartas rogatórias, e de extradição. Todos diretos entre autoridades centrais. Estes
sabemos como ainda se processam os procedimentos, próprios de mundos
pedidos de cooperação, sobretudo quando fechados pelas fronteiras, ainda continuam a
não há tratado. Imaginemos que a ser a matriz da cooperação contra a
autoridade judiciária A do Estado A criminalidade sem fronteiras.
pretende obter uma prova no Estado B.
Emite uma carta rogatória. O pedido vai A experiência da União Europeia permitiu,
seguir internamente os vários degraus da num primeiro passo, eliminar uma etapa: a
hierarquia e burocracia até chegar ao transmissão por via diplomática. Neste
Ministério da Justiça – pode haver dois, três, quadro permitiu-se o contato directo entre
quatro passos distintos até chegar à as autoridades nacionais competentes, ou
autoridade central. O Ministério da Justiça seja o contacto “autoridade central –
por sua vez, vai transmitir o pedido ao autoridade central”. O segundo passo foi a
Ministério de Negócios Estrangeiros ou de judiciarização da cooperação, isto é, a
Relações Exteriores, que contatará a cooperação passou a processar-se através do
embaixada do país respectivo. A embaixada contacto directo e transmissão directa de
vai enviar o pedido ao Ministério de cartas rogatórias entre autoridades
Negócios Estrangeiros do outro país, que, judiciárias. Claro que, para a Autoridade
por sua vez, o enviará à autoridade central, Judiciária A pode ser também um problema
o Ministério da Justiça. Depois segue-se o saber quem é, então, a autoridade judiciária
mesmo processo no sentido contrário, até B, como fazer os pedidos tendo em conta as
chegar à Autoridade Judiciária B, que vai normas que a autoridade judiciária B deve
ser responsável pela execução do pedido. E, observar, e, por isso, precisa que alguém a
se a carta rogatória entretanto não se perder apoie. Por estes motivos se foram
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Raymond Kendall
anos”, eu diria “Bem, isto é razoável”. Mas policia, senão pelos criminais que ocuparam
três anos? E o orçamento certamente é um a zona por acaso. Então, temos um ponto de
problema. partida realmente difícil quando se trata
deste tipo de situação.
O problema que achamos na comunidade
internacional (e peço desculpas aos meus Acredito que os oficiais de polícia aqui
amigos de nível político) é que os políticos presentes que trabalham nesse campo sabem
têm uma extensão de tempo que está qual é a situação. Frequentemente, eles estão
restringida à próxima eleição. Os políticos lutando por uma batalha perdida. No mundo
precisam ter muita coragem para adotar uma há boa vontade para fazer alguma coisa,
política que irá além desse cronograma. É porém isto significa que inclusive a
possível que você não veja os resultados capacitação da polícia deve ser orientada de
realmente grandes dos investimentos uma maneira diferente para lidar com este
durante dez anos ou algo assim, tipo de problema. E, por isso, eu recomendo
especialmente no caso de algo como o enfaticamente que este programa
PRONASCI. Então, nós ainda não chegamos PRONASCI seja estudado cuidadosamente
a um acordo sobre a melhor maneira de lidar por todos, e espero que seja levado à prática.
com o problema, mas eu acredito que o
reconhecimento na apresentação do Os problemas surgem na comunidade
programa PRONASCI é o adequado. internacional, onde ainda ouvimos termos
como “Tolerância Zero”. Nós ainda temos
Portanto, a dificuldade é, como Norine estas expressões que, na verdade, não
MacDonald do ICOS disse ontem, que você significam nada, mas que realmente afetam
não pode ter segurança sem na maneira da comunidade internacional
desenvolvimento. A segurança é um aspecto lidar com as recomendações e resoluções da
muito importante. Isto não está restringido Assembléia Geral das Nações Unidas. E eu
ao Brasil, senão que é aplicável a todos os acho que é uma pena porque, na verdade, a
países do mundo inteiro. No momento, a maioria dos países membros não recebe
situação dos subúrbios das nossas grandes ajuda para o que estão tentando fazer através
cidades na Europa, e acho que a mesma da comunidade internacional. Inclusive as
coisa é aplicável no Brasil, é que existem convenções das Nações Unidas, e
certos territórios em que o estado não especialmente o Conselho Internacional de
controla o que acontece lá. A polícia Controle de Narcóticos, expressou que, no
ocasionalmente penetra nestas zonas, com seu ponto de vista, a repressão e lidar com o
operações periódicas de dois dias, mas não tráfico ilícito é problema “nosso”, mas a
existe uma permanência constante. Embora redução da demanda é problema “vosso”.
uma operação periódica pudesse ser eficaz Naturalmente, eles passam a
até certo ponto, a menos que houvesse uma responsabilidade dos problemas mais sérios
presença ao longo prazo, ela não mudaria a para as pessoas de seus próprios territórios
situação porque as coisas voltam a ser o que e países.
eram antes. Nessas zonas interditas (embora
eu não goste de chamá-las assim), significa Finalmente, há muitos bons indícios de que,
que o sistema básico dentro dessas zonas até certo ponto, a situação está sendo
está controlado, não pelo estado ou pela resolvida.
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Segunda Parte
NARCOTRÁFICO E
SEGURANÇA
INTERNACIONAL
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
NARCOTRÁFICO E SEGURANÇA
INTERNACIONAL
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Mediador
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Emmanuel Reinert
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Perspectivas
Internacionais
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Panorama
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Christopher Langton
Tráfico de...
Drogas:
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Christopher Langton
Os seguintes fatores contribuem para num navio com destino a Dover. Os seres
aumentar a disponibilidade de armas de humanos traficados são fontes de renda para
pequeno porte e armamentos leves: os grupos não-governamentais, como
vazamento de armas e o que chamamos de também fornecedores de um meio para
resíduos explosivos de guerra das áreas de traficar materiais ilegais.
conflito – o fracasso em proteger os lugares
de armazenamento de munições e Armas Químicas, Biológicas,
armamentos no Iraque causou uma Radiológicas e Nucleares:
migração de armamentos e materiais
conexos. O tráfico de armas químicas, biológicas,
radiológicas e nucleares é uma grande
O comércio pós-conflito é outro problema: preocupação. Não se sabe bem qual é a
em 2004- 05 os Estados Unidos comprou dimensão do tráfico, porém está
mais de 200.000 AKs e milhões de cargas generalizado e é diverso. Segundo o livro
de munições da Bósnia para equipar as “Smuggling Armageddon” (Contrabando de
forças de segurança do Iraque. Entre os Armagedão), o comércio nuclear ilícito
guerreiros há uma tendência de usar aparentemente ocorre em associações mal-
armamento por dinheiro. E há um fraco estruturadas com membros variados. Acham
regime internacional de controle de que o clã da máfia italiana, a Ndrangheta,
exportação, o qual não se interessa muito está envolvido no tráfico de resíduos
pela munição, e cuja aplicação é diferente nucleares, e que também é o responsável
por estado. Algumas exportadoras chave de pelos problemas de deposição de resíduos
armas de pequeno porte e armamentos leves domésticos em Florença. Um russo com
até optam por não participar em urânio altamente enriquecido (HEU) foi
mecanismos como Comtrade – preso no ano passado na Geórgia. Um
principalmente a Bulgária, a República da comerciante de explosivos da Turquia fez
África do Sul e a República Democrática contrabando de plutônio. Um traficante de
Popular da Coréia. heroína também tinha HEU em seu poder. E
assim por diante.
Seres Humanos:
Cibercrime e Lavagem de Dinheiro:
O tráfico de seres humanos está
generalizado. Muitos emigrantes ilegais não O cibercrime aumentou mais do que
são somente fontes de renda, são também qualquer outra categoria de atividade não-
transportadores de bens traficados. O governamental nos últimos 10 anos. É uma
aspecto mundial do comércio foi marcado atividade realizada por todos os tipos de
pelo descobrimento de 58 cidadãos chineses grupos que mencionei, de natureza criminal
num contêiner em UKport em Dover. Todos ou terrorista. Através do hacking (pirataria
eles morreram sufocados. Eles haviam sido ou vandalismo informático) de sistemas de
levados de contrabando por uma quadrilha computação privados ou públicos, ou da
“Snakehead” desde o sul da China até a distribuição de conteúdo ilegal, ou ainda,
Rússia, transbordados a um contêiner que mais recentemente, participando no
foi transportado por trem, com destino a ciberterrorismo, os cibercriminais adaptam
Moscou, até Kaliningrado, e carregados seus métodos aos progressos efetuados pela
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Christopher Langton
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Christopher Langton
Conclusões
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
As depredações da máfia
por drogas não estão
restringidas à economia. É
só entrar na política com
naturalidade, e penetrar no
Governo. Esta
criminalizacão da vida
política está muito
marcada no Afeganistão,
mas também pode ser
observada, por exemplo,
em todos os 12 países da
Foto 2 – Pacotes de heroína jogados sobre a grade
Comunidade dos Estados
da fronteira indo-paquistã do Punjab da Índia Independentes (CEI). Em vários países CEI
os bancos e as empresas estavam envolvidos
Os regulamentos e leis contra narcóticos de em procedimentos criminais de lavagem,
muitos países, incluindo os do Afeganistão, incluindo o dinheiro do comércio de drogas
são muito práticos e foram influenciados por ilícitas. Em 1999, em Moscou,
varias Convenções das Nações Unidas pesquisadores descobriram que um
(1961. Convenção Única sobre “Sherkhan Bank”, fundado por Afegãos,
Entorpecentes das Nações Unidas; 1971. lavou milhões de dólares fora da Rússia.
Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas;
1988. Convenção Contra o Tráfico Ilícito de As leis contra narcóticos do Afeganistão são
Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas tão boas quanto às leis de qualquer outro
das Nações Unidas). Estas convenções país, mas mesmo assim não há trégua no
serviram de estrela-guia. Algumas tráfico apesar das organizações antidrogas
estipulações destas Convenções precisam ser terem mais dinheiro do que elas podem
mudadas, e serão consideradas na próxima administrar. A culpa é da corrupção e da
Sessão Especial da Assembléia Geral das colusão.
Nações Unidas sobre Narcóticos em 2009.
Durante minhas visitas aos postos no
É a relação altamente interativa entre as Afeganistão – fronteira do Irã na província
quadrilhas criminais e os Governos o que de Herat e Nimroz, eu fiquei surpreso ao
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
saber que, além de algo como um registro Em recompensa, seus negócios são
de comparecimento e algo como um livro de protegidos, como tem sido até agora. O
registros sem fio, não havia nenhuma outra agricultor pobre, o que está na parte mais
documentação na maioria dos Postos baixa da corrente da droga e, incrivelmente,
Fronteiriços. Não havia evidência de um o mais honesto, é quem paga mais caro. Do
controle exercido pelos funcionários sênior, preço de farmgate (preço do produto no
com exceção das escassas visitas. A maioria lugar de cultivo) de US$86 por kg.,
dos postos era administrada por soldados estabelecido pelas Nações Unidas, o
analfabetos. Até o Comandante de um Posto agricultor de ópio fica somente com US$40
Fronteiriço em Herat não escrevia direito. por kg. depois de pagar o suborno e a
Quase todos os soldados eram jovens. proteção. Assim, o monstro criminoso
continua alimentado sua ambição,
Os soldados com experiência e explorando as vulnerabilidades de um
alfabetizados foram aposentados sob sistema regulador comprometido e
recomendação médica. Especula-se que trabalhando em tandem, vestido de terror,
talvez tenham sido corrompidos devido à num acordo mutuamente benéfico.
associação com o Governo de Najibullah
durante o cultivo de um terreno deste As condições de vida nos Postos
governo de cerca de 10.000 hectares. Seus Fronteiriços nos 920 km da fronteira afegã
substitutos devem seus empregos ao são horríveis. A fronteira está formada por
suborno. Agora eles ganham dinheiro para uma série de desertos. Só no norte de
pagar as dívidas e alimentar seus próprios província de Herat, onde o lento e fino Hirai
oficiais. Assim, a desestabilização começa Rud (rio) marca a fronteira, um chuvisco
pelo posto mais baixo. É mais fácil receber nutre os caminhos tristes da vegetação entre
ajuda de escalões mais altos com os imensos as dunas de areia. O clima é extremamente
ativos que os traficantes de narcóticos quente ou frio, e o lugar está sempre
continuam acumulando. É difícil esperar empoeirado. Não há água e os geradores não
que um sistema fundamentalmente falhado funcionam. Os soldados mal-remunerados
seja eficaz contra cartéis de droga bem não são treinados ou comprometidos o
organizados e entrincheirados. suficiente para se arriscarem ou ser
honestos, e raramente dormem em seus
O cenário de narcóticos afegão está postos. Na maioria dos postos, a cozinha
dominado pelos funcionários corruptos, nunca havia sido usada. Não é para menos
senhores da guerra, barões da droga e, que os iranianos, os quais têm postos em
acima de tudo, todos pelos talibãs. Enquanto frente a eles, confiscam mais do que o triplo
um soldado no Governo recebia, no final de dos narcóticos que os afegãos. E só gastam
2006, a pequena quantia de US$40, um 15% desta quantia.
soldado talibã recebia US$300, só para
começar. E todas as suas despesas eram A Foto 3 é a povoação comparativamente
pagas. Os talibãs têm um sistema muito “fértil” de Buniian no Herat do norte. O
simples. Eles pedem a um barão da droga de matagal de Hirai Rud está na parte detrás e
uma área para pagar pela manutenção de 10 o Irã mais adiante. Povoações como estas
soldados, incluindo suas armas. estão sempre prontas para ajudar no
contrabando de narcóticos – por um preço.
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
Aquele Toyota entrando na povoação é uma Existe outro sistema estranho ao qual se
prova da prosperidade que o comércio das obedece no Afeganistão. Os Governadores
drogas trouxe para estas povoações desertas e até mesmo os oficiais, como os chefes da
da fronteira. polícia local, dirigem milícias privadas. A
maioria destas milícias são anti-talibãs,
O exemplo dado pelos oficiais é mais do que porém também protege o cultivo do ópio –
inspirador para os homens que impõem o com pagamento. Esse é o motivo dos talibãs
cumprimento das leis contra as drogas. Os combaterem contra eles. O Governador de
que têm influência deixam seus postos em Nimroz tem sua própria milícia, como
poucos dias, e muitos possuem palácios de muitos outros. Tal como os outros, ele é
cores brilhantes nos bairros chiques de subornável. Ele aceita pagamentos para
Wazir Khan e Sherpur de Kabul. fornecer 1000 tropas de uma organização
que constrói Estradas Indianas, mas até
pouco tempo atrás, forneceu somente 300.
Só depois que 6 desses construtores de
estradas foram assassinados pelos talibãs, a
segurança melhorou. Sua milícia vigia
exclusivamente algumas das rotas mais
usadas para ir ao Irã. Como a do Posto de
Kerta no norte de Nimroz.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
no fim de 2006 começou a formar sua outro lado realizaram muitas confiscações
própria milícia grande, aparentemente para em 2006, ao passo que não houve nenhuma
combater o tráfico de drogas! neste posto.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
O Irã confiscou 231.352kg de ópio contra também são Baluch. As afiliações tribais
90.990 pelo Afeganistão, o país fonte. E o protegem seus atos criminais. Os talibãs
Irã, Paquistão, China, Turquia, Tajiquistão vigiam as rotas. Tornou-se o coração de um
e a Rússia representam 69% de toda a novo triângulo dourado. Dentro deste
heroína confiscada em 2005. O Afeganistão triângulo mais de 65% do ópio total é
confiscou um mero 10% o 9079kg. produzido, cerca de 80% é refinado aqui e
cerca de 70% de todas as rotas para fora
partem deste triângulo. O alvo das drogas
afegãs é principalmente a Europa, logo, bem
atrás, a Rússia e a China. Os governos
destas nações não podem ser subornados
facilmente, entretanto muitas das suas
instituições estão ameaçadas.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Romesh Bhattacharji
por balsas para bases aéreas em Kirghistão e foram confiscadas desde os estados CIS. Os
Turquia. Ao comentar sobre estes relatórios, presos são de todos os lugares do mundo.
o Embaixador russo para o Afeganistão
disse diplomaticamente que isto era “Algo novo e importante está acontecendo
possível. O ex-embaixador dos Estados no mercado mundial das drogas. No
Unidos para as Nações Unidas, Richard Relatório Mundial de Drogas do ano
passado, argumentamos que
o controle de drogas está
funcionando e o problema
mundial das drogas está
sendo contido. Este Relatório
de 2007 fornece mais
evidências sólidas desta
tendência. Para quase todo
tipo de droga ilícita –
cocaína, heroína, cannabis e
estimulantes tipo anfetamina
(ATS) – há sinais de
estabilidade geral, em termos
de cultivo, produção ou
Holbrooke, escreveu no Washington Post consumo. Esperamos que, dentro dos
em janeiro: “funcionários do governo”, próximos anos, a evidência para apoiar esta
incluindo alguns com laços fortes com a reivindicação se torne estatistíca e
presidência, estão protegendo o tráfico de logicamente incontrovertível.”
drogas e estão lucrando com isto”. No
mesmo artigo, Holbrooke descreveu o
esforço contra os narcóticos no Afeganistão Relatório Mundial de Drogas de 2007
como “o único programa mais ineficiente da
história da política exterior americana”. Esta passagem otimista é da introdução
escrita pelo Diretor Executivo do UNODC
O que antes era um problema para o Relatório Mundial de Drogas de
essencialmente nacional, tornou-se agora a 2007. Com 8.200 toneladas de ópio
dor de cabeça dos países vizinhos. O produzidas no Afeganistão no ano passado,
tumulto provocado pelos narcóticos está se um aumento de 34% durante o ano anterior,
espalhando aqui e acolá. Na Ásia do Sul, existe somente uma “sólida evidência” do
Ásia Ocidental e na Ásia Central. Em 2005 contrário.
o Paquistão confiscou 27% (24,341kg) da
heroína total. Em 2002, Kurbanbibi
Atadzhanova, Promotor Geral do
Turkmenistão, foi preso por tráfico de
narcóticos. Em 2002 em Tajiquistão, mais
de 3 toneladas de heroína foram
confiscadas. Nos últimos dois meses de
2007, cerca de 1 tonelada de ópio e heroína
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Francisco E. Thoumi
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Francisco E. Thoumi
Para começar, vale a pena falar sobre o No lado do consumo, achamos uma coisa
lucro e a produção. Uma coisa que é muito parecida: a imensa maioria das pessoas tem
importante compreender sobre a coca, acesso às drogas ilegais, mas não
cocaína, ópio e heroína é que a imensa consomem. Freqüentemente, fala-se das
maioria dos países que podem produzi-los drogas como se fosse um problema
não produz. Isso é surpreendente. Isso “mundial”. Eu não gosto de usar a palavra
significa que se a demanda realmente mundial; eu prefiro “internacional”. Eu não
determinasse o lugar onde a produção acho que é mundial porque a importância
ocorre, facilmente teríamos trinta países das drogas varia muito entre os países, e há
cultivando cocaína hoje, e cerca de cem muitos países onde, na verdade, as drogas
refinando cocaína. É assim como todas as não estão na agenda política. O fato é que o
indústrias funcionam. consumo está e sempre esteve concentrado
em alguns países e dentro de certos grupos
Além disso, não é verdade que a coca só é sociais. Quando as pessoas falam que este é
cultivada nos Andes. A história diz tudo. Há um problema “mundial”, eles evitam a
cem anos, os principais exportadores de necessidade de falar sobre estes países e
folha de coca para o comércio e laboratórios estes grupos.
alemães e americanos eram a ilha de Java e
Sumatra, hoje na Indonésia. Os japoneses Outra característica interessante do
produziam coca em Taiwan; os ingleses em consumo de drogas é que varia bastante
Sri Lanka e no Sul da Índia. Também havia entre os países, inclusive entre os países
um pouco nas Filipinas. Eu me pergunto, se consumidores. Por exemplo, nos Estados
é tão lucrativo, porque estes países já não Unidos, o consumo de estimulantes é muito
produzem coca? maior do que o consumo de narcóticos.
Onde a cocaína tem sido claramente mais
Quando analisamos o mapa do mundo da procurada, o consumo da heroína tem sido
coca-cocaína e do ópio-heroína, achamos marcadamente menor. Tradicionalmente, o
uma concentração da produção apesar da contrário tem sido a realidade na Europa.
rentabilidade e da frase tão anunciada “onde Eu, como economista, não entendo. Eu
há demanda, há oferta”. Sim, onde há posso propor hipóteses: A propensão dos
demanda, há oferta. Porém, a existência da Estados Unidos a competir incentiva o uso
demanda não explica por que a produção da cocaína, que é um estimulante? Ou será
está concentrada, especialmente se é tão que na Europa as pessoas acham que já foi
lucrativo. Isso nos obriga a notar a diferença feito tudo e, portanto, elas preferem os
entre uma indústria como a do café e uma narcóticos? É por isso que a Espanha, que
indústria como a da coca. A diferença foi reprimida por tanto tempo, tornou-se o
fundamental é a ilegalidade. maior consumidor de cocaína na Europa
depois que a repressão terminou? Eu não
Basicamente, quando uma coisa muito fácil sei, mas vale a pena pensar sobre estas
de produzir é declarada ilegal a nível hipóteses. A conclusão é simples. Como
mundial, esta produção se concentrará em regra geral, o consumo e a produção das
áreas onde é mais fácil realizar atividades drogas refletem nos problemas de
ilegais. É simples! comportamento.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Francisco E. Thoumi
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Francisco E. Thoumi
psiquiatra, para obrigar o país a achar seu aceitável por distintos grupos. As mudanças
subconsciente. Eu não sou psicólogo, mas no comportamento, ou na cultura, devem ser
se eu fosse o subconsciente colombiano, e abordadas por políticas que modificam
encontrasse um brasileiro, diria, bem, você valores, convicções e atitudes, e têm o
está muito orgulhoso do seu objetivo de gerar solidariedade, confiança e
desenvolvimento. Você pode competir com reciprocidade.
a Colômbia no café, mas não pode competir
na coca. Você não pode competir com a Isso nos leva a pensar sobre algo que hoje é
nossa cocaína, e é muito mais lucrativa do geralmente proibido: “reforma”. Lembrem
que o café. Nós somos melhores capitalistas que a Colômbia é o único país andino com
do que vocês! Quando o subconsciente um grande número de camponeses que
colombiano olha para o Equador, Peru e nunca teve uma reforma agrária. Por um
Bolívia, ele diz: “que países primitivos; que lado, a reforma agrária tornou-se um
vergonha!” Porém, estes países têm programa de irrigação que beneficiou o
controles sociais que não existem na território controlado pelos grupos
Colômbia. paramilitares ao longo da costa e, por outro,
um programa que permitiu o crescimento
Para mim, o primeiro passo é que a elite das zonas longe do mercado, o que hoje é o
colombiana reconheça o problema. A lugar de domínio e de produção de coca das
postura da elite colombiana, expressada em FARC. Esse foi um jeito de evadir a divisão
todos os documentos pelos intelectuais mais do território. É possível afirmar que, na
importantes do establishment, é apresentar economia moderna, esta maneira de fazer as
a Colômbia como vítima. coisas é cara e ineficiente. Isto é verdade.
Internacionalmente, eles falam sobre como Mas eu sou um Chicago Boy: eu entendo
a Colômbia paga com as vidas de muitas como a teoria do capitalismo funciona e, às
pessoas; que a Colômbia paga um preço vezes, é preciso fazer sacrifício em termos
enorme com a luta contra as drogas. Eu de eficiência para conseguir ter eficiência
prefiro não perguntar por que a Colômbia social, mais do que eficiência econômica.
tem tido tantas mortes, mas sim, por que a
Colômbia tem produzido tantos assassinos. É impossível que minha proposta não seja
Na versão oficial, os traficantes de droga, viável. Mas minha pergunta é a seguinte:
guerrilhas e paramilitares são estrangeiros; isto representa uma opção melhor para o
eles não são produtos da sociedade caminho que estamos seguindo no
colombiana; eles não são pessoas que momento?
nasceram, cresceram e se socializaram na
Colômbia. Eles são vistos como uma
calamidade desencadeada do país.
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Perspectivas do
Brasil
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
ramificações que superam as divisas dos repressiva bem sucedida, seus membros e
próprios países; consequentemente impõe integrantes são presos, parte dos seus bens é
uma dificuldade adicional aos mecanismos seqüestrado e confiscado, mas a outra parte
de repreensão nestes países onde atua, pois pode estar oculta, dissimulada dentro de
tende a se infiltrar nas regras, leis internas, atividades regulares, pertencentes a supostas
tende a se articular – forçosamente tem que empresas ou pessoas que não teriam
buscar a articulação, integração, para obter nenhum vínculo associativo com o grupo, e
sucesso na ampla neutralização destas assim mantém o seu poder econômico
organizações (Slide 5). preservado.
127
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
permitindo a esse outro Estado – no caso de Elas têm que ter autorizações prévias,
entrega vigiada internacional, onde a droga sai obtidas pelo Ministério da Justiça e pela
do país e vai para o exterior –, por exemplo, Polícia Federal, são submetidas a controle
identificar e reprimir os importadores desta rigoroso, todo esse processo visando evitar
droga no exterior (Slide 7). o desvio desses produtos, da sua finalidade
legal (Slide 8).
Além disso, temos a interceptação de
comunicações telefônica e telemáticas,
interceptação de sinais ambientais e a
infiltração policial. Todas essas técnicas são
comumente conjugadas pelas forças
policiais, pela Polícia Judiciária no Brasil,
e por meio delas, técnicas aprovadas pelo
nosso arcabouço legal, conseguimos
desenvolver o que hoje chamamos de
investigações pró-ativas (Slide 7).
Slide 9
129
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
testemunha que se vê ameaçada por aqueles narcotraficantes que atua em dois ou mais
contra os quais ela presta depoimento ou países com seus integrantes, permeando os
produz prova (Slide 8). segmentos da atividade de narcotráfico,
passam a ser alvos de investigação cada qual
Feita essa análise de todo o arcabouço legal no seu país, levando a efeito, essa
que hoje sustenta, ou dá embasamento às investigação conjunta. Essas investigações
ações das forças policiais, da polícia acabam sucedendo de forma coordenada a um
judiciária, irei ressaltar brevemente algumas intenso intercâmbio de informações, onde se
ações integradas no campo da repressão que ajustam até mesmo o momento, data, horário
têm sido levadas a efeito aqui no Brasil. ideal para se deflagrar ou se executar
mandado de prisão, de modo que a fase
O intercâmbio de dados de inteligência já é sigilosa da investigação sucede, cada qual
uma realidade. Nós temos trocado bastante dentro e submetida à própria lei do país onde
informação com a Secretaria de Segurança aquela organização é investigada, mediante
Pública, com Agência de Vigilância obtenções de autorizações judiciais,
Sanitária, a nossa unidade financeira, órgãos acompanhamento do Ministério Público...
de inteligência das Forças Armadas, Receita Contudo, há uma autorização expressa do
Federal, Polícia Rodoviária Federal, etc. próprio Judiciário para que essas
Essa atividade já tem acontecido e informações, inclusive as protegidas por
felizmente tem sido incrementada com o sigilo, fluam ao órgão ou ao órgão estrangeiro
passar dos anos. Esse intercâmbio de do outro país de modo a permitir uma
informações, ou dados de inteligência como coordenação e o aproveitamento melhor do
nós chamamos no enfrentamento da questão elemento surpresa na repreensão a esses
do narcotráfico, não só se dá no âmbito grupos criminosos. Essa prática tem expresso
doméstico como também com os resultados positivos para o Brasil, e a Polícia
organismos policiais estrangeiros. Todos os Federal tem tido experiências muito
países – aqueles que têm um contato mais significativas no enfrentamento ou na
direto com o Brasil, seja por meio da desarticulação de grupos criminosos: por
Interpol ou por meio dos adidos policias exemplo, grupos colombianos implantados no
acreditados no Brasil e os brasileiros Brasil, em que todo o narcotráfico era
acreditados no exterior –, com esse fluxo de praticado da Colômbia para a América do
informação para a abordagem do fenômeno Norte, mas o líder estava aqui no Brasil, com
(enfrentamento do narcotráfico), de um uma fachada de homem de negócios. E é por
modo sistêmico têm funcionado meio deste intercâmbio intenso de
razoavelmente bem (Slide 9). informações, que essas pessoas (esses grupos)
que aqui se encontravam, que não traficaram
A cooperação internacional tem se dado um grama sequer de cocaína dentro do país,
também de outras formas. Acabei de falar da foram presas, processadas e condenadas com
lei que dá embasamento para as entregas base na lei de lavagem de dinheiro. E também
vigiadas e até mesmo as investigações foram processadas e condenadas por este
conjuntas. Gostaria de fazer um parêntese e crime cometido no exterior.
esclarecer do que se tratam essas
investigações conjuntas (Slide 9). Uma A recuperação de ativos é uma outra forma
organização, uma empresa de que tem se apresentado muito eficaz nessa
130
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
cooperação internacional (Slide 9). O Brasil a Nacional de Polícia. São cursos de longa
partir de 2003 criou o departamento de duração, onde todo o conhecimento que é
recuperação de ativos, cooperação jurídica passado na formação destes novos policiais
internacional vinculada ao Ministério da é aberto sem nenhuma restrição para os
Justiça e por meio do qual tem centralizado, policiais das nações amigas (Slide 9).
potencializado e agilizado a identificação, o
seqüestro e o pedido de recuperação destes
ativos produzidos ou obtidos por meio da
atividade criminosa de narcotraficantes, de
modo, também, em última instância
confiscá-los e revertê-los para o país. É uma
via de dupla mão, tanto nós solicitamos a
cooperação a países estrangeiros, quanto
atendemos a solicitação desses países para
recuperação de ativos havidos no Brasil.
Slide 10
Por fim essa cooperação internacional Outras ações mais específicas e cada uma
também é bastante verificada na capacitação delas associadas à programas que hoje a
e intercâmbio de boas práticas. Capacitação Polícia Federal desenvolve mencionarei
de policiais de países europeus, que a rapidamente: erradicação de cultivos ilícitos
América do Norte há muito já, e aqui das regiões Norte e Nordeste, na verdade o
mesmo na América do Sul, ofereciam para o cultivo ilícito nestas regiões é
Brasil. Esses cursos de capacitação, essencialmente ‘Cannabis Sativa’
reciclagem, treinamentos, e os seminários, (maconha) (Slide 10). Recentemente fizemos,
são muito importantes não só para no final do ano passado, uma operação – e
adquirimos novos conhecimentos, existe uma seqüência de operações
conhecimentos desenvolvidos pelo país, semelhantes ou deste nível nos próximos
através organização que nos oferece, como meses, periodicamente – com o objetivo de
também é um ambiente muito propício para interditar esses plantios ilícitos. Nessas
o estreitamento de relações, num mundo em operações atuaram, em parceria com a
que cada vez mais precisamos estar Polícia Federal, expressivamente a
integrados aos nossos parceiros e Secretaria de Segurança Pública dos Estados
semelhantes de outras partes do globo para – nessa primeira ação fizeram parte
obtermos sucesso em nossos Maranhão, Pará, Pernambuco e Bahia – e a
empreendimentos. Recentemente, e na atual Secretaria Nacional de Segurança Pública,
administração da Polícia Federal, também provendo helicópteros para o auxílio da
agindo sob demanda, tal como exposto pelo ação; se juntaram à nossa força aérea, o
Doutor Luiz Fernando nesta seção, a Polícia Comando da Aeronáutica e mesmo o Centro
Federal do Brasil passa a oferecer de Sistema de Proteção da Amazônia com
capacitação para vários países de língua todo seu equipamento, tanto do SIPAM
oficial portuguesa e também do Mercosul, (Sistema de Proteção Ambiental da
possibilitando, num primeiro movimento, Amazônia) quanto do SIVAM (Sistema de
que esses policiais freqüentem nossos Vigilância da Amazônia), que hoje tem por
cursos regulares de formação na Academia objetivo a proteção da Amazônia, destinado
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Roberto Troncon
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
é, ou era, o "grande fiel da balança" Rocinha. Por que elas iriam morar na Zona
econômica do Rio de Janeiro: o royalty do Norte?
petróleo, que também na década de 1970
teve uma decadência muito forte. E, Nós temos no bairro da Tijuca 19 morros;
obviamente, com a ida da capital da tudo contido num bairro só. Isso foi um
República para fora, o Rio de Janeiro nunca cenário facilitador para que, nesses lugares,
mais teve um link, nunca mais teve um se instalassem núcleos de criminalidade. É
entendimento estreito com a Capital importante frisar que, nessas comunidades,
Federal. Isso também é muito sério: um 99,9% das pessoas são de bem, pessoas
estado não ter um estreitamento de relações trabalhadoras, mas infelizmente atuam
com o Governo Federal. Hoje, ao contrário, nessas áreas indivíduos que comercializam
temos uma relação muito nítida, clara e substâncias entorpecentes. E não se trata só
harmônica com o Governo Federal. Isso, do entorpecente. Nesse contexto há a
sem dúvida alguma, tem trazido grandes presença das armas, e não existe arma,
benefícios à sociedade fluminense. obviamente, sem munição. Então, temos no
Rio de Janeiro núcleos do crime instalados
Obviamente que essa crise financeira, esse no centro da cidade. Isto é uma
abandono do Rio de Janeiro, ocasionou e característica carioca. Não se encontra isso
proporcionou a questão da ocupação em São Paulo, porque lá os núcleos de
desordenada do solo. Todos nós, que criminalidade estão instalados no cinturão
andamos pela cidade, vemos as favelas da cidade. Em Brasília temos cidades como
(Rocinha, Vidigal, Dona Marta) crescerem. Ceilândia, que tem um índice de
E o que foi feito? Os métodos jurídicos criminalidade absurdo, mas está localizada a
estão colocados, o Ministério Público atua 30 quilômetros do Plano Piloto.
em sua área de competência; mas, seguindo
uma lógica contrária no tratamento dessas Aqui no Rio de Janeiro as pessoas convivem
ocupações desordenadas do solo, foram ali e de perto com a criminalidade. Cidadãos que
colocaram luz, foram ali e colocaram água, moram em bairros como a Tijuca, como o
foram ali e colocaram saneamento básico, Méier, bairros de classe média alta, no
foram ali e, de uma certa forma, conforto dos seus lares, estão assistindo
homologaram a ocupação desordenada que diariamente brigas, confrontos entre facções
passou a ser, em tese, ordenada. Obviamente criminosas. Nenhum governante em
que a configuração geográfica do Rio de Brasília, em São Paulo, em Nova York,
Janeiro permite – ela é uma diferença assiste isso. É nesse ponto que podemos
fundamental (mar, matas, serras) – e classificar o Rio de Janeiro como uma
proporciona que se formem esses cidade violenta. Porque nós assistimos, nós
aglomerados de pessoas. Colocando-me no presenciamos diariamente a violência.
lugar de um trabalhador do centro da cidade Porque, novamente, a configuração
do Rio de Janeiro, imagino que ia querer geográfica do Rio de Janeiro se presta a
morar numa favela, mas ia querer morar no isso, possibilita um refúgio e um
centro, porque eu não precisaria pegar esconderijo aos traficantes que usam e
ônibus, podendo me deslocar a pé. A título exploram esses lugares, essas comunidades.
de exemplo, 85% das empregadas Nesses núcleos, eles impõem a violência.
domésticas da Barra da Tijuca moram na Violência que não é a violência de bater, é a
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
violência silenciosa; é a violência da lei do Uma mãe que não pode reclamar a morte do
fuzil, é a violência de perguntar 'para quem seu filho, ir à delegacia de polícia, porque
você estava ligando nesse orelhão?', ou 'o ela será ameaçada e consumida pelo tráfico.
que você foi fazer?', ou 'com quem você Mas o tráfico contabiliza os seus mortos. O
estava conversando?'. É a violência de tráfico queima os corpos destas pessoas e
vigiar escolas, de terem sobre seu comando mães e pais não podem reclamar esses
essas mesmas escolas. Quando se deu o corpos na delegacia, porque quem seria
conflito no Complexo do Alemão, aqui na queimado seriam eles. Um outro exemplo
Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, no de violência: um morador de uma
ano passado (2007), recebemos na secretaria comunidade ao comprar um eletrodoméstico
mães que vieram reclamar que seus filhos num grande magazine pede para que o
estavam há dois meses sem aulas. E pude produto seja entregue na sua casa: ela habita
dizer a elas: 'Olha, mães, eu também sou pai numa favela. Depois de duas horas numa
e não gostaria que meu filho ficasse um ano fila degradante para fazer o cadastro de
sem aulas; mas, principalmente, que ele não crediário, o vendedor se nega a entregar e
tivesse que, para ir ao colégio, passar por diz: 'Não, lá eu não entrego'. Isso, sim, é
pessoas portando fuzis, com granadas na violência. Eu pergunto aos senhores: 'que
cintura. Que educação é essa?'. E mais, sociedade é essa?'
disseram essas mesmas mães: 'Quando
chega à noite, na festa de São João, não Então, se enganam as pessoas que dizem
podemos fazer a festa porque acontece o que o Estado leva violência. Existem sim,
baile funk no colégio'. Baile funk do tráfico. situações de confronto, sem dúvida alguma.
Isso é liberdade? Isso é violência. Mas temos que optar. Temos que optar sobre
o lado que estamos e o que queremos. Essas
Enganam-se as pessoas que dizem que o pessoas devem se convencer de que existe
Estado, através das instituições policiais, um Governo, de que existe um Estado, de
leva violência para esses locais. Violência é que existe um secretário de Segurança, de
um cidadão comprar um carro e não poder que existe polícia, que existe delegado, que
estacionar esse carro na frente da sua casa, existe autoridade, e que o Estado tem que
porque existem entulhos de lixo, pneus e entrar lá para cumprir suas funções.
troncos de árvore fazendo barricadas para
impedir o acesso da polícia na comunidade. Este é um contexto real. Mas não é um
Barricada erguida por traficantes e que não contexto de agora; está estabelecido há
permite que o cidadão de bem chegue com décadas. E, obviamente, que não serão em
seu automóvel em sua casa. Violência é 12 meses ou em quatro anos que iremos
fazer com que as pessoas que moram nessas resolver este problema. E tenham certeza
comunidades terem que dormir com os seus que não serão ações policiais que vão
portões abertos para que o tráfico possa resolver isso. O que nós não vamos permitir
transitar por dentro de suas casas sem que a é que a violência se alastre. A medida em
polícia possa ir atrás, porque a polícia pode que dermos dignidade à população, num
circular no que é público. E o privado passa processo de criação de trabalho, de renda,
a ser público para o traficante. Isso é ou não geração de empregos, é que daremos um fim
violência? à violência. Ao valorizarmos a vida humana
trabalhamos para que os índices de
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
estão, nós vamos buscar. Porque, se não antes mesmo de atacarmos ou até
fizer isto, estarei prevaricando. elogiarmos o Rio de Janeiro, é preciso levar
Infelizmente, esta operação é bastante em consideração muitos fatores neste
complexa. Não posso pegar um guincho, um contexto; justamente para que possamos ter
cabo e ir lá em cima do morro Dona Marta um mínimo para falar e atuar. Não
tirar aquela casa de lá e trazer aqui para combatemos o crime aqui como se combate
baixo. E esses sujeitos – os narcotraficantes em São Paulo, que fica a 500 quilômetros.
– não freqüentam as praias com essas armas São realidades totalmente diferentes.
porque, senão, esperaríamos aqui em baixo
para apreendê-las. Alguns índices criminais (de homicídio,
roubo de veículos, entre outros) mostram
Com granada é a mesma coisa. Pararam um claramente a diferença entre Zona Sul e
pouco de usar granada, porque eles agora Zona Norte. Faz bastante diferença quando
têm pessoas que fazem isso em casa. Existe olhamos para essas regiões. Todas as vezes
aqui na cidade, um lugar lá na favela da que esses índices são divulgados, sofremos
Maré, que fabrica granada, onde logo muitas críticas. Mesmo assim, avançamos.
devemos chegar. Portanto, não é necessário Reduzimos o índice de homicídios em
mais comprar esse armamento; os quase mil casos em 2007. Registramos
criminosos desenvolveram uma tecnologia, sucesso semelhante em relação ao roubo de
ou terceirizaram, como num negócio. veículo, dando mais capilaridade para a
Polícia Militar; justamente porque não
Falam que o Rio de Janeiro é formado por temos condições de, no Rio de Janeiro,
duas cidades diferentes. Em minha visão colocar um policial em cada esquina. E
não são duas cidades diferentes: são duas nenhuma polícia do mundo tem condições
realidades diferentes – que, creio, é a de fazer isso. Então, colocamos motos e
expressão mais correta: a Zona Sul e a Zona barreiras policiais em pontos estratégicos,
Norte. Alguns pontos da Zona Sul têm de acordo com as manchas criminais. O
índices de criminalidade europeus, mas se segredo é que não fazemos barreiras fixas:
nós passarmos o Corte Cantagalo (entre elas são móveis. Onde havia maior
Ipanema e Copacabana), nesses territórios a incidência de roubos, homicídios,
situação já muda de figura. colocamos mais policiamento, mas um
policiamento itinerante. Das 19h às 21h, os
Até aqui vim tentando contextualizar as policiais ficam num local X, das 21h às 23h
situações pelas quais estamos passando no eles se deslocam para o local Y e, mesmo
Rio. Porque, quando chegamos à secretaria assim, a gente obviamente não consegue
de Segurança, foi preciso saber, resolver todos os problemas. O resultado
efetivamente, o que é o Rio de Janeiro, para dessa ação foi positivo. Mas tem muita coisa
que pudéssemos começar a trabalhar. E, a ser feita.
nesse sentido, pergunto, através daquela
música de Noel Rosa: 'Com que roupa eu O Rio de Janeiro tem em torno de 6 mil
vou pro samba que você me convidou?'. policiais para 13 milhões de pessoas. É
complicado, mas é um desafio de gestão.
Tenho a convicção de que, antes de Podemos demonstrar as manchas de
discutirmos qualquer tipo de medida, ou criminalidade no Rio de Janeiro através de
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • José Mariano Benincá Beltrame
Para voltar ao tema, não dá para falar em Mas, para acabar com a violência, temos um
droga no Rio de Janeiro sem que se conheça passo importante a dar, que são as obras do
um pouco do contexto deste problema. PAC (Programa de Aceleração de
Precisamos urgntemente criar uma solução, Crescimento). As obras do PAC pretendem
uma perspectiva para o jovem no que diz levar isso às comunidades: água, esgoto,
respeito ao consumo de varejo da droga. O saneamento, educação. Temos situações
jovem, atualmente, é um alvo, uma presa nesses territórios da cidade em que um
muito fácil. E, no Rio de Janeiro, isso é cadáver, encontrado em determinada favela,
visível, porque o exemplo para um jovem é retirado num carrinho de supermercado.
que está freqüentando uma escola que não é De qual cidadania estamos falando? Que
boa, uma escola que não o seduz, uma nível de cidadania é esse? Creio que a
escola que não ocupa o seu tempo – é o violência sem dúvida alguma depende muito
traficante. O traficante que se mostra forte, mais de ações públicas e de políticas
malhado, com uma correntinha de ouro, que públicas do que de uma ação policial;
tem um carrão e, muitas vezes, tem a justamente porque é uma ação do Estado.
menina, a moça, uma mulher daquela favela Mas se não houver uma 'grande
porque paga ou impõe. Esse é o exemplo. transformação', no sentido de ações sociais
Nós temos jovens com 14 anos, 13 anos que e de políticas públicas, vamos ficar no
ganham mais que o pai e a mãe, e que mesmo patamar. Nosso compromisso é
ganham para ficar soltando pipa na laje com combater e permitir que a violência não se
o radinho no bolso avisando quando a alastre, permitir que o cidadão não seja mais
polícia está para chegar. São R$ 20, R$ 30 afrontado nos sinais de trânsito ou
por dia e, no final da semana, ele tem mais caminhando nas praias. Mas o problema é
dinheiro que o pai e a mãe que trabalham o muito mais profundo, muito mais complexo
dia inteiro. Como é que o pai e a mãe vão e precisamos estar juntos neste processo.
exercer a sua capacidade de persuasão?
Portanto, há uma relação em que a droga
está inserida e facilita porque ela está no
varejo, ela está nas esquinas destes locais,
prontas para o jovem não ir à escola, pronta
142
Terceira Parte
JUVENTUDE E
NARCOTRÁFICO:
FATORES DE RISCO E
DE PROTEÇÃO
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
JUVENTUDE E NARCOTRÁFICO:
FATORES DE RISCO E DE
PROTEÇÃO
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Mediador
Paulina do Carmo
Arruda Vieira Duarte
Secretária Nacional Antidrogas
Adjunta – Brasil
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Antônio Nery Filho
O Papel do Tratamento e da
Punição no Abuso de Drogas
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Antônio Nery Filho
que estava em jogo o Tempo até então permanente porque não era dotado de
“linear”, sem começo e sem fim; o Fruto linguagem, não simbolizava e, portanto, não
Proibido veio revelar aos dois seres divinos antecipava o futuro e nem reconstruía o
um novo tempo, circular, com início, meio, passado. Contudo, à medida que a horda se
fim e re-início. Eis aí a hominização. desloca no tempo, fala e simboliza. Nesta
circunstância vão olhar para trás e verificar
A passagem da ordem divina para a ordem que há um resto deixado ao longo da trilha
humana, marcada pela finitude, o do tempo, este algo era a história de fatos e
conhecimento do tempo, separou a mão do corpos, era a morte, reconhecida – ou se
Criador da mão da Criatura determinando o preferirem- significada. Assim se fez a
que denomino de Sofrimento Original para história dos humanos; ao reconhecer o
o qual haveria de se buscar lenitivo. Livre- passado foi possível, também, antecipar o
arbítrio e sofrimento foram as condições futuro. Curioso notar que o reconhecimento
fundamentais para o (possível) encontro dos do passado e do futuro destituíram os
humanos com as substâncias capazes de humanos do presente em que estavam
modificarem a percepção do mundo e suas aprisionados anteriormente; o presente
dores, modificarem a percepção de si torna-se uma ficção, impossível de ser
mesmos. Se o Senhor não nos tivesse dado apreendido exceto na fugacidade de sua
a condição de decidir sobre nosso futuro, e percepção. A título de provocação posso
se tivéssemos permanecido iguais a Ele, não dizer que o presente é um futuro que não
estaríamos submetidos à diferença. chegou ou um passado que já se fez.
A finitude marcada pela morte define nossa Nesta nova posição “simbolizante e
condição de “seres do sofrimento”. Eis aí falante”, os seres humanos experimentaram
uma questão absolutamente humana: o o insuportável sofrimento da condição de
sofrimento determinado pela consciência mortais. Ali, também vão, ao acaso dos
que temos da morte. O livre-arbítrio, deu encontros introduzirem em seus corpos
aos humanos a possibilidade de buscar nos produtos capazes de reduzirem a percepção
objetos do mundo alguma coisa que pudesse do sofrimento. Defendo, portanto, que a
minorar o sofrimento causado pelo presença no mundo de substâncias
reconhecimento de sua finitude. Defendo psicoativas é uma responsabilidade Divina,
que foi o acaso-no-livre-arbítrio a condição mas o ato de usar a substâncias é da ordem
propiciadora da vida pela redução do humana. Esta é a segunda proposição.
sofrimento através das substâncias
psicoativas. Nesta condição, usamos drogas Isto posto, peço aos senhores autorização
porque somos Filhos de Deus tornados para uma ruptura para tratar do consumo de
humanos. Esta é a primeira postulação. substâncias psicoativas nos dias atuais.
152
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Antônio Nery Filho
categorizar os consumos em experimental, familiar; não se pode dizer que seja bonito,
absolutamente destituído de caráter pelo contrário. Sempre disse aos pais que se
patológico, uma aventura bem ao gosto dos uma lagartixa consumir cocaína, ela será
adolescentes e adultos jovens; consumo sempre uma lagartixa cocainada! Pode até
eventual ou circunstancial no qual se insere “pensar” que é a dona(o) do mundo mas
a maioria das pessoas e o consumo suas possibilidades serão sempre de uma
patológico ou dependência química, lagartixa. E como devemos lidar com este
situação bem mais rara, que requer pequeno animal? Evidentemente, com
competência e técnica para sua abordagem e delicadeza e cuidado se não o queremos
cuidados (infelizmente, fala-se das três sacrificar; uma pequena caixa é bastante
categorias como se fosse uma só, com para aprisioná-lo(a), se se for
graves prejuízos para todos) Em minha suficientemente hábil para alcançá-lo(a).
prática clínica, que já ultrapassa três Por mais cocaína que tenha usado, a
décadas, estabeleci, com finalidade didática, lagartixa, será sempre uma lagartixa. E o
duas categorias de consumidores jovens, crocodilo? O crocodilo é um grande réptil
tendo em vista lidar com os pais e com as da família dos crocodilídeos, ainda de
mães, desesperados diante da notícia do uso acordo com o Houaiss, de pele grossa e
de drogas por um filho, em geral a maconha coreácea, com placas córneas, focinho
(Canabis sativa). Quando procurado por um longo, dotados de grandes dentes cônicos
familiar, minha pergunta era: “quem é o seu (...) dedos com garras (...) cauda longa e
filho?”. Geralmente os pais se comprimida lateralmente. Este animal, por
surpreendiam: suas características deu lugar a expressões
tais como “crocodilagem”, isto é,
- Como, quem é meu filho? Meu filho se “falsidade, traição, hipocrisia”. Imaginemos
chama Marcelo. então que um crocodilo embriague-se e
- E quem é Marcelo? pense que é uma lagartixa; dá para
- Marcelo é meu filho. aprisioná-lo em uma pequena caixa? Um
- Sim, mas quem é seu filho...? crocodilo embriagado será sempre um
crocodilo exigindo toda a técnica necessária
Ficava claro que os pais, apesar da para alcançar um animal com estas
convivência, não conseguiam falar muito de características.
seus filhos; geralmente eu solicitava que
retornassem a eles e depois me dissessem o Se um crocodilo usar maconha, ele será um
que encontraram. Posteriormente, pouco a crocodilo maconhado e, provavelmente, o
pouco, falava-lhes dos filhos lagartixa e dos dano que causará será muito maior do que
filhos crocodilo. Para quem não conhece, qualquer dano que uma lagartixa sob o
lagartixa é um pequeno lagarto, segundo o efeito de ácido lisérgico possa produzir. Isso
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é banal.
da família dos geconídeos, natural da
África e introduzido na América do Sul, Evidentemente minha metáfora tem limites,
onde vive especialmente em habitações muitos limites, mas ajudou muitos pais a
humanas. Quem já viu um destes pequenos compreenderem a inadequação de suas
animais sabe o quanto são fugidios, atitudes com relação a filhos e filhas com
desconfiados, frágeis e adaptados à vida características muito mais para a
153
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Antônio Nery Filho
minha filha Adriana, está o meu futuro. Faz valores que fundam e sustentam a
algum tempo me encontrei diante de um convivência humana estão se dissolvendo; a
sério dilema: como proteger Ana Beatriz, família perdeu sua possibilidade de definir
em plenos dois anos de vida, da piscina em as margens do rio e os filhos tornam-se
Itacimirim, onde posso ver o Cruzeiro do lagos sem futuro. A tecnologia nos oferece
Sul em noite estrelada? Talvez cercá-la (a possibilidades impensadas por Júlio Verne.
piscina) com arame farpado! Não pareceu A internet nos liberta e aprisiona. A
ser uma boa opção; uma cerca de madeira pornografia infantil alcança “la dérraison”
pintada de amarelo, bem visível (para neste moderníssimo meio de comunicação;
quem?), fechando a área, como um pequeno a violência nos lança numa verdadeira
curral; também não foi adiante. A solução barbárie. Não será pela compra de armas e
veio de Adriana: “meu pai, vou colocar Ana veículos que nossa lei e ordem será
Beatriz numa escola de natação”. Fazem restaurada; será necessário um longo
poucos dias vi minha neta sem muita técnica trabalho de qualificação e de valoração dos
– ainda – nadando para alcançar a borda da homens e mulheres policias.Mais do que
piscina, sôb o olhar vigilante da mãe e o isto, necessitamos restaurar a significação
desespero do avô! Não colocamos arame da Lei. O respeito à lei que nos organiza,
nem cerca elétrica porque meu futuro está que nos permite sair do caos.
aprendendo a nadar, com a nossa ajuda. O
risco e o esforço são dela, a vigilância e o Devemos advertir nossos filhos das coisas
apoio são nosso. que machucam o corpo e a alma. Rever
nossas próprias posições e servir de
Saber nadar. Esta é a minha proposta, referência. Talvez esta seja a questão
medida de proteção. Ensinemos a nossos fundamental: nós, os pais, policiais,
filhos o respeito à lei. Ensinemos a nossos professores, médicos, operadores da lei,
filhos o uso de expressões simples –e religiosos, para mencionar uns poucos,
indispensáveis- como ‘por favor’, talvez tenhamos deixado escapar, ou não
‘obrigado’, ‘bom-dia’. Contemos aos nossos saibamos mais, que legado deixar para
filhos a história de nossos antepassados e o nossos filhos e filhas. Se assim for, nós é
lugar das substâncias psicoativas no alívio que precisamos re-aprender a nadar.
dos sofrimentos humanos, sem demonizá-
las. Ensinemos nossos filhos a nadar nas
dificuldades da vida. Do ponto de vista das
substâncias psicoativas, devemos, desde
muito cedo, dizer-lhes dos riscos e danos
possíveis, das implicações, das
necessidades; ensinemos a nossos filhos e
filhas o valor do sim e o valor do não;
deixemos a eles as decisões, erros e acertos.
Assim crescerão.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
I - advertência sobre os efeitos das (Slide 04) Fazendo uma revisão histórica, o
drogas; artigo 281 do Código Penal, na redação
original de 1940, apenas descrevia a posse
II - prestação de serviços à comunidade; da droga e não se preocupava em dizer se
era para uso próprio ou não. Estabelecia
III - medida educativa de uma pena de reclusão de um a cinco anos e
comparecimento a programa ou curso multa, de dois a dez contos de reis, que
educativo. servia para o usuário e para o traficante.
Obviamente quando estabeleceu essa pena,
§ 1º Às mesmas medidas submete-se
o legislador daquela época só se ocupava do
quem, para seu consumo pessoal, semeia,
traficante porque o usuário não era um
cultiva ou colhe plantas destinadas à
problema de saúde pública para ele, e o
preparação de pequena quantidade de
nomen juris atribuído ao tipo penal era o do
substância ou produto capaz de causar
comércio de entorpecentes. Em 1968,
dependência física ou psíquica.
acrescenta-se o parágrafo 1º, inciso III, que
estabelece expressamente que para o usuário
Primeiro esse artigo traz uma questão
também se aplica a mesma pena. Ou seja, o
seríssima: “para consumo pessoal”. O que é
traficante e o usuário tinham exatamente o
consumo pessoal? Só o dia-a-dia vai nos
mesmo tratamento. Com a Lei nº 6368 de
dizer. Eu já tive a oportunidade de, como
1976 (é claro que ela hoje é uma lei caduca,
juiz (sou juiz criminal desde o início de
uma lei velha de 30 anos, mas na época
minha carreira por opção, porque gosto de
apresentou um avanço ao estabelecer um
trabalhar nessa área), condenar traficantes
tipo próprio – o próprio artigo 16 antigo
com um cigarro de maconha; e de
virou até música do Bezerra da Silva, para
desclassificar do tráfico para o uso, a
ser popularizada entre a população)
infração atribuída a um usuário que tinha
estabeleceu-se a posse de drogas para uso
um quilo de cocaína em casa, porque a
próprio com um pena diferente do tráfico.
prova me levou à convicção e à certeza de
Essa foi a evolução do direito brasileiro: do
que aquilo era para uso próprio, não era para
momento em que não se preocupava com o
tráfico. No caso do traficante, ele estava
usuário ao estabelecimento de uma política
vendendo aquele cigarro de maconha, tal
legislativa de repressão ao usuário com a
qual comércio formiga: um a um.
mesma pena do traficante e até o
estabelecimento de penas diferentes.
Em seguida, a lei fala em submissão “às
seguintes penas”. Logo se impõe criticar a
corrente de interpretação que fala em
despenalização. Não houve despenalizacão
e também não houve descriminalização, já
que a Lei diz se submeterá o usuário às
penas que ali enumera. A gente precisa parar
com o preconceito histórico de que somente
existe pena quando se comina ao tipo a
sanção prisional, aquela da cadeia, que já
estava naquele primeiro slide.
Slide 04
158
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
E aí a pergunta que se colocou primeiro foi de hierarquia de leis. Uma lei internacional,
se houve descriminalização ou não. Como ratificada pelo Congresso Nacional, passa a
eu disse, metade dos juízes simplesmente integrar o ordenamento jurídico brasileiro
cruzou os braços e disse “olha, se não tem com força de lei complementar.
pena de prisão, isso não é crime”. A Lei de
Introdução ao Código Penal de 1940 fala Logo depois, Ministro Sepúlveda Pertence,
que é crime a infração a que estiver no Supremo Tribunal Federal, julgando um
cominada isolada ou cumulativamente, pena processo aqui do Rio de Janeiro (foi o
de detenção ou reclusão. E a lei nova não primeiro julgamento no Supremo sobre a
prevê isso. Só que se esqueceram, esses causa), definiu bem a questão. É importante
juristas, que em 1988 nós fizemos uma salientar que a matéria foi tratada em uma
Constituição, chamada Constituição Cidadã, questão de ordem pelo seguinte: Tratava-se
que determina que o legislador, entre outras um processo que estava prescrito. O destino
penas, fixará aquelas que o artigo 5º dele seria o arquivo. Ou melhor, como
estabelece como baliza. Estabelece a Magna dizem lá no Juizado da Barra, a reciclagem.
Carta, como freio, que só não se pode fixar Só que a questão é tão importante que o
pena de morte, pena infamante ou cruel ou Supremo Tribunal resolveu que tinha que se
pena de caráter perpétuo. pronunciar sobre isso. Então se pronunciou
em tese, já que não havia mais crime, já
O Deputado Paulo Pimenta deixou isso bem estava prescrito. E diz o Ministro
claro no relatório apresentado ao projeto Sepúlveda Pertence:
dele, que contou com o apoio da Secretaria
Nacional Antidrogas, com relação ao crime Estou convencido de que a conduta antes
de uso de drogas: descrita no artigo 16 da Lei 6368
continua sendo crime pela nova lei. Nada
A grande virtude da proposta é a impede, contudo, que a lei ordinária
eliminação da possibilidade de prisão superveniente adote outros critérios
para o usuário dependente. Ressalvamos gerais de distinção, ou estabeleça para
que não estamos de forma alguma determinado crime – como fez o artigo 28
descriminalizando a conduta do usuário. da Lei 11.343 – pena diversa da ‘privação
O Brasil é signatário de convenções ou restrição da liberdade’ a qual constitui
internacionais que proíbem a eliminação somente uma das opções constitucionais
desse delito. O que fazemos é apenas passíveis de serem adotadas pela “lei”
modificar os tipos de pena a serem (CF/88, art. 5º, XLVI e XLVII) (RE
aplicadas, excluindo a privação da 430105 QO/RJ - RELATOR: MIN.
liberdade como pena principal (PL SEPÚLVEDA PERTENCE).
7.134/02 – oriundo do Senado).
O legislador pode perfeitamente estabelecer
O fato de o Brasil ser signatário de acordos outras modalidades de pena, atento sempre
internacionais torna esses acordos, depois à baliza que a constituição estabelece: não
de homologados pelo Congresso Nacional, pode pena de morte, não pode pena
lei complementar. Ou seja, o legislador infamante ou cruel, nem pena de caráter
ordinário não pode, pela hierarquia das leis, perpétuo. Continua o Ministro Sepúlveda
descriminalizar o uso da droga. É questão Pertence:
159
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
lei que tem princípios, deve ser interpretada atendimentos no juizado só da capital. Não
de acordo com seus princípios e não com estou falando do Estado do Rio de Janeiro
apenas o texto legal seco. todo, porque a Secretaria é municipal, e
embora ele atenda gente de todo o estado
E o que a gente tentou fazer no Rio de porque o Rio de Janeiro acaba atraindo a
Janeiro? Já desde antes da feitura da lei, os população das cidades periféricas, ele não
Juizados Especiais Criminais procuraram a tem como atender o resto do estado do Rio
Secretaria Nacional de Segurança Pública de Janeiro. É até uma impossibilidade física.
(SENASP), procuramos diversos locais em
que se pudesse fazer qualquer tipo de
parceria para atender o usuário que está lá
na nossa frente, dentro do judiciário,
procuramos o Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas
(NEPAD), procuramos diversos órgãos. A
Prefeitura do Rio de Janeiro tem uma
Secretaria Especial de Prevenção de
Dependência Química, onde nos reunimos
com o Coronel Duran para pensar o que se
Slide 13
poderia fazer em conjunto, como a justiça
pode também ser preventiva. E a Prefeitura Chegamos a 700 atendimentos, e um dado
do Rio atendeu nosso apelo. Embora não que me pareceu bastante interessante: foram
tivesse profissionais disponíveis, o Coronel convocadas 1150 pessoas. Desses, os 700
Duran comprou essa briga e, através do compareceram espontaneamente. O
próprio conceito de rede, conseguiu processo dos que não compareceram
estabelecer um sistema de atendimento nos permanece no juizado, mas nós vamos ter
juizados do município do Rio de Janeiro. que insistir para que eles venham. Um
trabalho de convencimento, um trabalho em
Então, em 2006, havia a seguinte que a justiça vai ter que servir de meios até
composição etária: a maioria dos nossos coercitivos para trazê-los porque a lei
clientes tinha de 18 a 24 anos (slide 13). Se obviamente não exclui a possibilidade da
analisarmos até 34 anos, chega a 75%. sentença condenatória. O usuário de drogas
Ainda em 2006, tivemos encaminhamentos tem o direito constitucional de dizer e
propostos, foram 630 atendimentos em querer provar que a droga apreendida não
2006. E havia uma prevalência muito era dele. É um direito que ele tem. Mesmo
acentuada de recomendação a grupos de que ele seja dependente de drogas, ele tem
mútua ajuda, tratamento ambulatorial, direito de provar isso e querer não aceitar a
visitas institucionais, o curso de prevenção pena. Ou, ele pode afirmar que seu
à dependência que a Secretaria mantém no relacionamento com a droga é maravilhoso,
Centro Reinaldo Delamare e sempre que gosta muito dela e que quer continuar
prestação de serviços à comunidade, usando. Ele pode até dizer isso, mas a pena
internação e inclusão escolar, é claro. Em terá que ser imposta – uma das três já
2007, segundo os dados que me passou especificadas – após uma abordagem
Coronel Duran, nós chegamos a quase 700 multidisciplinar. Eu não posso, da minha
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
cabeça, dizer “olha, ele é preto, é pobre, serviço pintando uma escola que não tem
mora longe, e por isso vai prestar serviços à nada a ver com o uso da droga. Se for uma
comunidade. Ele é branco, mora perto e escola que tem um trabalho sobre drogas, é
rico, por isso eu vou dar uma advertência”. válido que ele vá lá pintar o muro da escola
Não é esse o critério da lei. O critério da lei e tenha contato com esse trabalho. A função
é a abordagem interdisciplinar. E por isso é do judiciário é a aproximação. É integrar a
importante essa parceria que é feita com a rede para aproximar o usuário de quem tem
rede, para conseguir dotar o judiciário de que tratá-lo, se for necessário tratá-lo.
meios para enunciar essa sentença.
Medida de comparecimento a curso. Mais
Em 2007, a prevalência de atendimento é do uma vez as mesmas características do artigo
sexo masculino e mantém a mesma relação 5º. Não é qualquer curso que tem que ser
de faixa etária, até 34 anos, atendemos feito, é um curso que tenha alguma ligação
quase 20% de usuários de outros com a adicção às drogas.
municípios. E o perfil de penas sugeridas
continua sendo o mesmo, que é do Descumprimento (para garantir as
encaminhamento para a rede para, medidas educativas). É claro que a
prevalentemente, grupos de narcóticos advertência não tem como descumprir. Se
anônimos e para tratamento ambulatorial. eu adverti, já está advertido. Nas demais
penas, o juiz pode, sucessivamente submeter
Advertência sobre o uso de drogas. o usuário à admoestação verbal ou multa. A
Qualquer pena vai ser sempre proposta após primeira é a minha medida predileta:
a abordagem intersetorial. E o que é costumo ser muito chato com meus réus. Se
advertência? A advertência se exaure no eles não cumprem, eles vão lá 3, 4, 5 vezes.
momento que eu faço a advertência sobre a
droga. Ela não é advertência jurídica, por A multa, que pode chegar até 114 mil reais,
exemplo: “olha, usar maconha é crime”. segundo os meus cálculos. Acredito que
Não tem sentido nenhum, ele já sabe disso, essa multa não tenha um caráter muito
está na lei, está na imprensa, está em tudo efetivo porque só vai atingir a classe média.
quanto é canto. A advertência tem que ser A classe alta vai poder pagar, a classe baixa
técnica e pressupõe uma capacitação dos não vai pagar nunca. E a destinação dela é o
operadores de Direito, que é o que a gente Fundo Nacional Antidrogas, em convênios
vai tentar buscar com a SENAD. Uma até a ponta, até chegar na rede.
advertência tem que ser multidisciplinar sob
todos esses aspectos da lei. Internação. É possível pela nova lei? É,
sim. Porém o juiz não faz internação. O juiz
Prestação de serviços à comunidade. Diz é garantidor do direito constitucional à
a própria lei que, primeiro, ela tem que ser internação. O juiz determinará ao Poder
intersetorial – eu botei de propósito isso Público que a coloque à disposição do
para lembrar que toda pena é intersetorial – usuário, gratuitamente, um estabelecimento
e ela vai ser cumprida em instituições de saúde – preferencialmente ambulatorial
destinadas ao tratamento de usuários de – para o tratamento especializado. O juiz,
drogas. Eu não posso simplesmente pegar atendendo mais uma vez ao caráter
um usuário de drogas e mandá-lo prestar interdisciplinar da lei, vai se deparar com
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Joaquim Domingos de Almeida Neto
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
passaram a se envolver cada vez mais com questionário longo aplicado segundo
crimes, e crimes cada vez mais violentos? amostra aleatória em três estágios para
Em que a nação, enquanto sociedade que garantir a representatividade. Foram 3435
socializa formal e informalmente os mais pessoas entrevistadas na primeira pesquisa,
jovens, falhou? Por que, por exemplo, entre 660 na segunda. Isto quer dizer que cada
aquilo que é aceito moralmente e a lei pessoa entrevistada representa 1.500 outras,
parece que o divórcio aumentou? Eu não com a possibilidade de fazer muitos
vou falar sobre a questão do uso da droga, cruzamentos e correlações entre as variáveis
mas eu diria que um dos problemas começa relativas às condições sócio-econômicas da
justamente com a proibição do uso de certas população da cidade e as experiências de
substâncias e a permissão de outras que são vitimização, percepção de crime, medo e
igualmente ou apenas um pouco menos insegurança, relações com vizinhos,
danosas. A dificuldade do entendimento não imagens e vivências com as polícias militar,
está só no antropólogo que estuda, não está civil e guarda municipal. Além disso, hoje é
só no psicólogo que atende, mas está possível fazer muitas tabelas, séries
também no juiz que tem que decidir a pena, históricas e gráficos a partir dos dados de
está provavelmente no policial, cujo registro mortes violentas do DATASUS, Ministério
vai decidir se um jovem será processado da Saúde.
como traficante ou usuário. Enfim, esta
confusão está no início de toda a nossa Vou falar muito rapidamente sobre a
problemática na medida em que cria globalização econômica e cultural que é
divergências quanto ao que é moralmente preciso levar em consideração. Mas eu diria
aceito, quanto ao que provoca perigos e que o problema no Brasil é que tais
danos aos cidadãos. Evidentemente é processos globais se tornam muito mais
preciso enfrentá-la sabendo que o Brasil é graves, muito mais problemáticos onde a
signatário de uma convenção internacional e institucionalidade apresenta falhas ou
que nela algumas drogas são proibidas e fraquezas, como no Brasil. O crime negócio,
outras não. Fiquei muito feliz de ouvir o que existe há séculos, teve novo impulso
juiz, porque acho que, com relação ao com o tráfico de drogas e armas, passando a
usuário, muito se avançou, mas, em relação ameaçar a organização, a governança e um
ao tráfico, os sérios problemas continuam. dos princípios básicos da existência do
estado: o monopólio legítimo da violência.
O meu foco vai ser a cidade do Rio de Isto aconteceu de alguma maneira no mundo
Janeiro, onde desenvolvi desde 1980 muitas todo, mas as ameaças à governabilidade
pesquisas etnográficas, mas também duas foram sempre maiores onde a
pesquisas de vitimização, uma desenvolvida institucionalidade é fraca e inconsistente, já
entre o final de 2005 e 2006, em toda a que favorece corrupção institucional, a
cidade do Rio de Janeiro, e a outra em 2007, irreverência pela lei, a ineficácia e a
feita apenas em favelas da cidade, sendo que discriminação no sistema de Justiça,
a primeira pesquisa de vitimização incluiu ineficiência das políticas de prevenção e
20% de favelas, que é mais ou menos o tratamento. O divórcio entre o real e o legal,
percentual da população do Rio de Janeiro que existe em toda parte no que se refere ao
que vive nelas. O mesmo instrumento foi uso das drogas, aqui se ampliou para a
utilizado nas duas pesquisas: um aceitação, por exemplo, de práticas de
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
Isto não facilita em absoluto a corrupção para o policial que vai decidir
transformação da Polícia Militar em uma sobre o futuro da pessoa envolvida. A partir
polícia pró-ativa, numa polícia que tenha da facilidade da corrupção de agentes da lei
mais ligação com a comunidade, uma por conta da quantidade de dinheiro
polícia que venha a fazer da inteligência, da envolvido no tráfico, assim como a
investigação, uma atividade muito mais violência advinda do negócio ilegal, uma
importante do que a repressão violenta. Eu série de atores passa a estar interessada em
sei que esse é um tema polêmico, mas eu manter a ilegalidade por essas vantagens
faço questão de dizer o que eu penso a que obtém.
respeito disso depois de tantos anos de
estudo. Em mais de 600, 700 entrevistas Há também o fato de que, durante muitos e
feitas com pessoas que moram em bairros muitos anos, a repressão esteve
pobres e favelas, ouvi várias dizerem que o exclusivamente focalizada nos jovens
problema começou quando a Polícia Militar pobres, pretos e pardos, que não são os
passou a fazer o policiamento ostensivo no personagens que enriquecem com a
lugar da Guarda Civil que foi engolida por atividade econômica ilegal. Eu fiz
ela no Rio de Janeiro no final da década de recentemente uma pesquisa com ex-
60 durante o regime militar. Além disso, a traficantes que haviam passado pela prisão e
questão do acesso às armas exclusivas das nenhum deles tinha bens, após os anos de
Forças Armadas é um problema seriíssimo detenção. Certamente há os que
que não foi resolvido. Por quê? No meu enriqueceram, mas não a maior parte dos
entendimento ele é muito pouco pequenos traficantes que acabam presos. Ou
investigado, não há um esforço em entender seja, a sedução do dinheiro fácil e do poder
como se dá esse fluxo de armas que são adquiridos pelas armas e pelo tráfico não
importadas, armas que são contrabandeadas, passa de uma armadilha para os jovens
e que são levadas por policiais corruptos e pobres. Este conhecimento sociológico tem
também membros das Forças Armadas para que ser transmitido urgentemente aos jovens
traficantes da favela. Isso se deu durante vulneráveis como parte da prevenção. A
muitos anos, desde o final da década de 70. ilusão do "dinheiro fácil" atrai o jovem
Desde 1980, quando eu comecei minhas pobre para a quadrilha, mas enriquece
pesquisas no Rio de Janeiro, ouço os outros personagens impunes e ricos:
moradores dizerem que quem traz a arma é receptadores de bens roubados, traficantes
a polícia, o que foi confirmado em todas as do atacado, contrabandistas de armas,
favelas onde pesquisas foram feitas pela policiais corruptos, seguranças privados ou
equipe que coordeno. milícias.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
pobres e negros presos como traficantes mesma, tendo o acesso – quem pode ou não
criam a superpopulação carcerária, tornam ir morar na favela – cada vez mais
o funcionamento do sistema jurídico no país dependendo das decisões ou permissões
injusto, aumentando a revolta e a opção pelo daqueles que controlam a favela, sejam eles
comportamento desviante. Os traficantes traficantes bem armados, ou milícias,
postos na prisão sabem que os seus igualmente armadas, mas sem acumular, no
fornecedores, aqueles que levavam armas e local, armas para guerras com grupos rivais
drogas para eles, melhor dizendo os grandes ou com a polícia, visto que policiais as
fornecedores não são investigados. Há controlam.
também um tráfico de pequena escala,
“formiguinha”, feito por meio de “mulas” Polícias civis e militares fazem incursões
carregadeiras que trazem essas mercadorias armadas em favelas e bairros pobres para
em pequenas quantidades em suas confrontar os traficantes em embates
bagagens, e estes são os únicos presos. Os armados. Mas são principalmente policiais
grandes fornecedores não são encontrados corruptos que levam armas para os
na prisão, o que aumenta ainda mais o traficantes favelados, sendo pouco
divórcio com a lei e a desconfiança em investigados e punidos. Grande quantidade
relação ao sistema de justiça, razões para de armas torna-se disponível para os jovens
aumentar a revolta e a opção que jovens moradores das favelas tidas como perigosas
pobres fizeram pelo comportamento porque dominadas pelos traficantes. O porte
desviante. Uma justiça mais equânime e de armas de fogo por estes se explica pela
eficiente é fundamental na prevenção do lógica da guerra: competidores no negócio
crime. das drogas se tornam inimigos mortais que é
preciso dissuadir pelo aumento progressivo
No que se refere à facilidade no acesso às do arsenal de armas e homens da quadrilha.
armas, como já disse o Secretário de No entanto, esta lógica se expande e
Segurança Pública do Rio de Janeiro, José extravasa para os pequenos grupos a que
Mariano Beltrame, temos que considerar a pertencem os jovens, tais como turmas e
história da cidade que foi a capital do país galeras. Jovens passam a andar armados
entre 1688 e 1960. Havia, portanto, na para evitar serem vitimizados pelos seus
cidade desde muito tempo, vários paióis pares armados, para impor respeito e para
com muitas armas e munições, que gozar do prestígio adquirido com a posse de
acabaram, devido à dificuldade de controle armas. A facilidade de obter armas que os
interno, extravasando para locais em que a jovens encontram nas favelas dominadas
informalidade, no que diz respeito à por traficantes, onde os próprios donos das
propriedade da terra e da residência, armas, também denominadas de paiol, as
permanece não resolvida. Por isso são emprestam para outros jovens assaltar e
chamadas de “aglomerados subnormais” ou matar no caso de invasões e vinganças, faz
“favelas”. Nas favelas do Rio muitos com que o valor atribuído a um homem
problemas relativos à infra-estrutura urbana passe pela posse da arma, e com isso
– de luz, água, até mesmo saneamento conquistar o que eles chamam
básico -- já foram dirimidos, embora não “consideração” ou “conceito”. Para usá-la,
estejam totalmente resolvidos. No entanto, tem que adquirir o que denominam
a questão da propriedade permanece a “disposição para matar”. Ou seja, precisa se
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
tornar uma pessoa mais dura, mais cruel, masculinas bem sucedidas ou as novas
insensível ao sofrimento alheio. O contágio imagens do homem bem-sucedido. Ajudar
de idéias e as posturas da crueldade e amigos, vizinhos e parentes com
insensibilidade ao sofrimento alheio se empréstimos em dinheiro, impressionar a
espalham entre eles, naturalizadas como se todos com uma exibição de consumo
não houvesse outra maneira de se conspícuo, jóias e roupas de marca
comportar. O grupo de pares vem a ser o dispendiosas no seu próprio corpo, gastar
maior preditivo de delinqüência entre muito em festas e churrascos, em
homens jovens, principalmente homicídios pagamento de bebidas em locais públicos e
por arma de fogo. carros do ano servem para o jovem se impor,
para adquirir respeito e consideração dos
É isso que um autor americano chamou da vizinhos e colegas. Para além disso, mas
ecologia do perigo, mostrando que nas parte do mesmo padrão, há também a
cidades americanas pesquisadas em que exibição da insensibilidade, da crueldade,
colegas têm armas, a possibilidade de que que também aumenta o respeito (ou o medo)
um jovem venha também a ter armas é 19 que inspiram nos demais. É o estilo que foi
vezes maior do que nas áreas em que os definido como o da masculinidade
exacerbada ou exibição espetacular de
colegas não andam armados. Portanto, o
protesto masculino em que os homens
controle no acesso às armas e na sua
jovens que o adotam se tornam ameaça para
comercialização é imprescindível em
a vizinhança e em que o Estado os
qualquer política de prevenção da violência.
estigmatiza como criminosos a serem
reprimidos e presos. Este estilo tem sido
A outra questão diz respeito à construção da
muito bem estudado nos Estados Unidos,
identidade masculina entre os jovens que
porque lá também é um problema a ser
devem fazer escolhas entre vários modelos.
enfrentado nos projetos de prevenção da
Há muitos estilos de masculinidade entre os
violência já em curso. No Brasil, é preciso
migrantes de outros estados, entre os jovens
prestar muito mais atenção no que está
da segunda geração de migrantes ou
acontecendo com os jovens cada vez mais
cariocas, entre os jovens negros, pretos,
atraídos pelas práticas violentas nas quais os
pardos ou mulatos, entre os jovens que conflitos são resolvidos por meio da força
ficam ociosos pelas vielas, ruas e praças da física ou das armas de fogo, instrumentos da
cidade ou os que participam de projetos violência para impor sua vontade sobre os
esportivos e culturais, entre jovens que demais e deles extrair, pelo assalto, roubo
largam a escola e ficam sem perspectivas de ou extorsão, o dinheiro para adquirir os bens
futuro ou os que se disciplinam na escola e materiais que vão impressionar os pares.
adotam os valores de vencer pelo mérito,
pela dedicação e trabalho. Estes diferentes Não é surpresa, neste quadro acima descrito,
estilos convivem nas mesmas vizinhanças, a curva dos homicídios no Brasil. Não resta
mas os últimos podem ser atropelados a menor dúvida de que atinge sobretudo os
naquelas em que a hipermasculinidade, o mais jovens. A curva começa a subir aos 13
estilo dos traficantes, predomina. anos e só vai abaixar depois dos 40, 35 anos.
O gráfico a seguir foi tirado do mapa da
Na hipermasculinidade, o consumo violência, que é um estudo sobre o jovem do
conspícuo define as novas identidades Brasil da UNESCO.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
Gráfico 2
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
Gráfico 5 Gráfico 8
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
cobrança exagerada por outros bens e Em segundo lugar, para que os obstáculos à
serviços que passam a ser vendidos pelos entrada das armas dêem resultados mais
homens armados que a compõem. duradouros, é preciso atentar também à
socialização dos jovens de modo a reverter
Gráfico 12 a atração que sentem pela dureza, pela
crueldade, e pelo uso de armas para se
afirmar como homens, ou seja, desarmá-los
do instrumento e posturas da morte
internamente, na sua formação subjetiva. É
pela convivência e é pela observação in loco
que os jovens aprendem com outros jovens
Fonte: Pesquisa Vitimização NUPEVI 2007, favelas
que portam armas a ser cada vez mais
do município do Rio de Janeiro cruéis, agressivos, durões, bárbaros; é com
essas práticas instrumentalizadas pelas
Gráfico 13
armas que eles vão adquirindo a disposição
para matar ou ser agentes da morte.
Infelizmente, alguns desses jovens chegam
a aprender como usar armas pela presença
de outros jovens que receberam treinamento
nas Forças Armadas Brasileiras durante o
serviço militar obrigatório, alguns dos quais
Fonte: Pesquisa Vitimização NUPEVI 2007, favelas se tornam membros das quadrilhas para
do município do Rio de Janeiro exercer o papel de armeiros, outros que são
constrangidos pelos traficantes a dar este
Por fim, diante desses dados tão treinamento.
contundentes, pode-se discutir o que fazer
em termos de medidas pró-ativas, medidas Em terceiro lugar, as outras medidas de
que previnam ou que se antecipem ao crime. prevenção se referem à educação para a
Em primeiro lugar, é preciso pensar em civilidade, ou seja, educar para desenvolver
como sustar esse fluxo das armas e o orgulho de ser homem por respeitar os
munições que vão parar nas mãos dos outros e não pela disposição de matar o
jovens vulneráveis nas áreas mais pobres e semelhante, não por ser agressivo com o
onde a associação perversa entre traficantes outro, mas por saber controlar suas
e policiais corruptos as fazem tão facilmente emoções, por mostrar-se civilizado, por
acessíveis. Restringir o fluxo de armas para saber negociar através do diálogo, tal como
os locais mais perigosos e inseguros da é feito no esporte. Isto significa dissolver o
cidade significa investigar melhor as redes desejo de matar nos seus corações e mentes.
de fornecedores de armas e drogas. O Tais medidas podem ser implementadas por
policiamento deveria ser orientado para meio de programas esportivos e culturais
interromper esse fluxo, no que se chama vicinais, coletivos e inter-geracionais. Ao
‘gun-oriented policing’, uma medida usada envolver vizinhos de diferentes idades,
em muitas cidades americanas para deter a principalmente os mais velhos, dá-se
entrada das armas e o treinamento dos continuidade ao processo de socialização
jovens na crueldade e na violência. informal na vizinhança, base para a
177
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Alba Zaluar
179
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Oscar Zuluaga
180
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Oscar Zuluaga
também para as comunidades onde eles O Consenso de Roma: uma iniciativa das
vivem. Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha
e do Crescente Vermelho
O problema das drogas afeta três setores
A declaração do Consenso de Roma sobre
chave da nossa Sociedade:
uma política humanitária de drogas foi
assinada pela primeira vez em Dezembro
1. Economia local: as drogas bloqueiam o
em Roma durante o Seminário de alto nível
desenvolvimento da economia pública,
“Fazendo uma ponte entre a saúde pública
obrigam a emigração de cérebros e
e as politicas de drogas” organizado pela
colocam sob enorme pressão os recursos
Cruz Vermelha Italiana e o ICOS em 2005.
públicos, produzindo mais pobreza e
falta de oportunidades.
O Consenso de Roma já foi assinado por
2. Segurança das pessoas: Drogas
106 Sociedades Nacionais da Cruz
aumentam a violência especialmente
Vermelha e do Crescente Vermelho da
entre os jovens e incrementam os
Europa, Médio Oriente, África, América
problemas de saúde pública, incluindo a
Latina e Ásia Pacifico
disseminação do HIV/SIDA e
tuberculoses, pondo muita pressão nos
O nosso trabalho está baseado em três
sistemas de saúde usualmente frágeis e
estratégias:
gerando mais discriminação e
isolamento.
• Sensibilização da Comunidade
3. Governo e legitimidade: Narcóticos
Internacional, os governos nacionais e
criminalizam os sectores da sociedade,
as comunidades locais
promovem a corrupção e a lavagem do
• Educação entre semelhantes,
dinheiro, criando instabilidade nas
especialmente entre os jovens, e os ex
autoridades locais e semeando
drogados,
corrupção a todos os níveis. As políticas
• Tratamento e reabilitação (Actividades
desenvolvidas para enfrentar as drogas
de redução de danos)
com frequência contribuem para piorar
a situação. O uso da violência contra os
consumidores não tem bases racionais Conclusões
ou lógicas. Violência cria mais violência Este simpósio no Rio é a ocasião de propôr
e sofrimento e no final afetam toda a novas idéias para que as políticas de drogas
comunidade. sejam um assunto estratégico a todos os
níveis.
A esse respeito o Movimento da Cruz
Vermelha fala alto em nome dos mais É evidente que o Movimento da Cruz
vulneráveis. Vermelha e do Crescente Vermelho aprende
todos os dias e muitas vezes tem dúvidas
sobre o que fazer e como fazê-lo, mas a sua
missão de “ Prevenir e aliviar o sofrimento”,
no final mostra com claridade o que temos
de fazer.
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Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas • Oscar Zuluaga
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drogas aqui no Rio é um problema de previsto na sua Política Nacional sobre
varejo. O Senhor Oscar Zuluaga trouxe Drogas e determinado pela sua nova lei,
reflexões sobre o problema das drogas e da inclusive o estabelecido para o Sistema
visão humanitária da Cruz Vermelha. O Nacional de Políticas Públicas sobre
Doutor Joaquim Domingos, detalhou um Drogas.
pouco mais a nossa nova lei, a Lei 11.343
de agosto de 2006 – que institui o Sistema Concluindo, ao encerrarmos este simpósio,
Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas deixemos claro o quanto foi importante
(Sisnad), e “prescreve medidas para trocarmos nossas experiências e nos
prevenção do uso indevido, atenção e esclarecermos sobre nossas atividades.
reinserção social de usuários e dependentes Pouco a pouco, vamos melhor nos unindo,
de drogas; estabelece normas para repressão melhor nos integrando, melhor nos
à produção não autorizada e ao tráfico ilícito conhecendo, para cada vez mais melhor
de drogas e define crimes”2 – e nos falou da trabalharmos em prol dessa causa tão
justiça restaurativa e a sua experiência aqui importante para a nossa sociedade e que diz
no Rio de Janeiro com o apoio e a parceria respeito à droga, à violência, à
da Secretaria Especial de Prevenção à criminalidade e à sua própria segurança.
Dependência Química do município do Rio
de Janeiro. A Doutora Alba Zaluar nos
mostrou a sua visão antropológica quanto à
problemática da droga e da violência.
2
Cf. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia
para Assuntos Jurídicos, “Lei 11.343 de agosto de
2006” (artigo 1º). Ver site
www.planalto.gov.br/CCIVIL/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm
(Nota do Editor)
Observações
Conclusivas
do ICOS
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
Vitalino Canas
193
Novas Abordagens para Segurança Pública e Políticas de Drogas
Portanto, esta foi uma conferência única do E está em discussão aqui no nível brasileiro,
ponto de vista histórico, com um no nível federal, o programa Pronasci
componente de alto nível político e (Programa Nacional de Segurança Pública
estratégico e também com um componente com Cidadania). Como Raymond Kendall
operacional. Pudemos ter a oportunidade de afirmou, é um programa que interessa
debater, pôr em conjunto e em interação obviamente não apenas ao Brasil, mas
agentes da autoridade, autoridades de interessa a todos aqueles que querem
polícia, autoridades da área da política das aprender com as ‘boas práticas’ e com as
drogas, políticos, membros das melhores políticas. E é por isso que o ICOS
magistraturas e também o Ministério quer se envolver bastante na discussão
Público, do Brasil e do exterior, com o acerca do desenvolvimento desse programa.
objetivo de debater sobre os desafios e as
perspectivas da segurança pública, da sua Além dessa iniciativa do Pronasci
relação com o desenvolvimento – tudo isto (Programa Nacional de Segurança Pública
em interação com a questão das drogas. com Cidadania), podemos perceber
igualmente aquela idéia de preocupação
A geografia, a diversidade cultural e os com as comunidades em muitas outras
vários desafios do Brasil geraram aqui um iniciativas, algumas das quais pudemos ver
conhecimento e um acervo de pessoalmente no Paraná.
especialização no campo da segurança
pública que é único. Isso levou, ou isso leva Encontramos aqui de fato muita vontade de
a que o Brasil se possa tornar num centro de não esperar que haja mudanças ao nível do
excelência capaz de liderar ao nível mundial status quo nos outros países e ao nível
no que toca as políticas de segurança mundial. O Brasil está avançando com
pública. As forças policiais brasileiras autonomia, com políticas inovadoras,
desenvolveram, na nossa percepção (embora progressivas, que vão certamente ter bons
atualmente haja debate em torno disso), um resultados. É esta a condição, é este o sinal
conhecimento e um conjunto de capacidades do líder: saber avançar sem esperar pelos
únicas, especialmente no que se refere a outros. E naturalmente, o ICOS, que quer
esses assuntos. Elas mostram coragem no alargar as suas perspectivas ao nível
enfrentamento do problema e é claro que os geográfico, ao nível das políticas, não pode
seus agentes, os seus componentes, aqueles deixar de acompanhar o Brasil nessa sua
que nelas trabalham, se preocupam nova fase histórica.
realmente por suas comunidades e estão
motivados para melhoria da situação.
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Raymond Kendall