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w Unidade 2 Almeida Garrett, Frei Luis de Sousa ve » EXE ve. 76 Mensagens ruzadas 90 Classificagéo de oragées Apreciagéo critica 79 Contextualizagao histéico- 95 Fungoes sintaticas a aye nt Soe tna sliteraria Bay Cosske teitial 196 Textode opiniao: ‘a5 E mais no digo. S6 sei que passei com 16 € que ia muito bem no papel de aio, segundo me disse a minha mac. Nicolau Santos (tem inédito, 2016) B28) iis rane eRe Contextualizacao histérico-literaria [Daas eseonmeientos | ateearecioet 1799 Nascimento de Almeida Garrett. Regéncia do principe D. Joao de Braganga, por incapacidade da rainha-mae, D. Maria I. 1807-1811 Invasdes Francesas, Fuga da familia real portuguesa e respetiva corte para o Brasil. 1816 Morte de D. Maria I. D. Joao VI é proclamado rei de Portugal. 1820 Revolta liberal (Porto). Proclamagao da liberdade de ensino. 1821 Regresso da familia real a Portugal. ‘Aboligao da censura prévia e regulamentacao do exercicio da liberdade de imprensa 1822 Proclamagao da independéncia do Brasil. D. Pedro assume o trono do Brasil (D. Pedro 1. 1823 Vilafrancada: revolta absolutista. 1824 Abrilada, revolta absolutista, 1826 Morte de D. Jodo VI. D. Pedro 1, proclamado rei de Portugal, abdica em favor de sua filha, D. Maria da Gloria. Outorga da Carta Constitucional. Regéncia da infanta D. Isabel Maria. 1828 Implantacéo da monarquia absolutista por D. Miguel, 1832 Inicio da guerra civil entre liberals (\iderados por D. Pedro) absolutistas (liderados por D. Miguel). 1834 Vitoria liberal: Convengao de Evora-Monte, Morte de D. Pedro IV. D. Maria II ¢ proclamada rainha. 1836 Reyolugdo de Setembro, que resultara na aprovagao de nova Constituigao politica. 1842 Restauracao da Carta Constitucional, por Costa Cabral. 1846 Rebeliao da Maria da Fonte. Inauguragao do Teatro Nacional D. Maria II 1851 Inicio do periodo da Regeneragao. 1854 Publicagao da lei de libertagao dos escravos: pertencentes ao Estado. Morte de Almeida Garrett. 1801 Nicolau Tolentino, Satiras. 1821-1854 ‘Almeida Garrett: Retrato de Vénus (1821); Catdo (1822); Camoes (1825); Dona Branca (1826); Adosinda (1828); Lirica de Jodo Minimo (1829); Um Auto de Gil Vicente (1838), Mérope (1841); 0 Alfageme de Santarém (1842); Frei Luis de Sousa (1843); Romanceiro @ Cancioneiro Geral (1843); Flores sem Fruto(1845); 0 Arco de Sant’Ana (1845); Viagens na Minha Terra (1846); As Profecias do Bandarra (1848); Folhas Caldas (1853). 1822 ‘Antonio Feliciano de Castilho, A Primavera. 1838-1851 ‘Alexandre Herculano; A Harpa do Crente (1838); 0 Bobo (1843); Eurico, 0 Presbitero e O Paroco da Aldeia(1844); 0 Alcaide de Santarém (1845); Histéria de Portugal (1846-1853); O Monge de Cister (1848); A Cruz Mutilada (1849); Lendas e Narrativas (1851). 1851 Camilo Castelo Branco, Andtema, a 1. O autor — Almeida Garrett A personalidade litersria de Almeida Garrett constitui-se ¢ afirma-se num quadro cultural extremamente complexo. ‘Tendo nascido ainda no século xvut (1799), Garrett pode definir-se como. 6 escritor que representa um tempo que é sobretudo de transi transigao entre um Neoclassicismo com mareas visiveis do pensa mento iluminista ¢ um Romantismo que Garrett, juntamente com outros, tratou de difundir entre nds. [...] ‘Tendo nascido no Porto, oriundo de uma familia burguesa e culta (0 pai cra proprietirio, a mae descend fundamental da sua existénca. [...] de emigrantes «brasileiros», tio ra bispo), Garrett conheceu, desde muito novo, o exilio como fendmeno Contextualizago histérico-literéria v 79 1 ‘Alvida Carat, iNografia de Posto ‘Augusto Guglielmi, 1846, &. ja por razdes politicas, pode dizer-se, que a familia de Garrett se desloca para a PROFESSOR Terceira, em 1809, fugindo & segunda invasto francesa. O jovem Garrett instala-se, ‘eitura pois, nos Agores, de onde partiré mais tarde para Coimbra; antes disso, no entanto, = ssa experiéncia agoriana é também um tempo de formagao cultural disciplinada pela Leta figura austera do tio bispo, D. Frei Alexandre da Sagrada Familia. [...] © tempo de Coimbra é para Garrett também um tempo de cruciais experiéncias «CEU culturais [...]. Nao tanto, diga-se de passagem, pelo que aprende na Universidade: PowerPoint desta, Garrett, como outros escritores portugueses, conservou uma recordagao nega tiva, bem atestada pelas seguintes palavras: «A mocidade inexperta ainda ali [na Universidade] bebe o leite da escravidao, e 0 sustento do despotismo. Os seus mestres dogmatizam ainda os prinefpios mais, subyersores da ordem liberal e mais apagadores da luz da natureza [. © que estas palavras muito claramente denunciam é a aguda per cegio de um tempo ideolégico e cultural substancialmente novo, mas ainda contrariado por forcas fidis ao pasado. De certa forma pre parando-se para uma vida ptiblica muito ativa, jovem poeta [...] declara a sua plena adesto a um idesrio que o leva, em 1823, na sequéncia da Vilafrancada, a um primeiro exilio. [...] A um fuugaz regresso a Portugal segue-se um segundo exilio [...]. Agora profiundamente empenhado na luta pelo Liberalismo, Garrettacompanha todos os passos dos emigrados (Inglaterra, Franga, ilha Terceira, Mindelo), até a0 Cerco do Porto ea vitéria em Evora Monte. Depois disso, € uma vida politica muito agitada, em iden tificag3o com a ala mais radical do Liberalismo ¢ com a lideranga de Passos Manuel: a Revolugio de Setembro algo deve aos artigos de Garrett n° O Portugués Constitucionat,e, depois do triunfo de 1836, encontramos o escritor diretamente responsabilizado por importantes reformas que 0 Setembrismo tentou coneretizar (reforma do teatro, etc.) criagio do Conservat6rio, intensificagao da produgio dramsti Contextulizagiohistricolteréria Columbano Bordalo Pinheiro, Passos Manvel, ‘Almeida Garet, Alexandre Hereulano oss Estévdo de Magalies, 1926, PROFESSOR Consotida 1.3) Contexto cultural: perioda de ttansigio entre 0 Neoclassicisma, ainda ‘marcado pelo. Numinism, 20 Romantzmo; jngdo de temas © atitudes. romanticas, representa os na eratura, e a sua vinta, ‘genuina ov simulade, no quotidian: Contexto politico: segunda invaso francesa, evolta da Vilarancads, erco do Port: vitéria em Evora: Monte; govern de Passos Maret Revolugin de Setembro; governa de Costa Cabral tegeneragio-periodo egrandeinstabidade. ) dads biogcéficos do autor: nasce em 1799, no Porto, no selo dd ume fomtia burguesa ¢ cult; 0 familia desiocase para a Tercera (Acores, em 1809; tem formagao cultural disciplinada através do to, bispo,D. Fret Alexandre da Sagrada Familia; estudos em Coimbra; prt meio ioe 1873:breveregresso ‘aPortugal enovoesiio; é respons vel por vrs reformas nas artes; recebe 0 titula de visconde © é noreado par doreinoeministrodos Negécios Estrangeros.em 1652. (©) Personalidade do autor: conte tattio do conservadovismace rania dos mestres; seguidor das ideals berais; hati orador; egocentist: assume se como poota genial e per sequido,d semethanca de Cambes; tendéncia para a teatralidode dos gestose para exaltagia, enqusnion ‘rador ind dadoaoprazor;oube- ‘ante em relogo aos sentiments ¢ conquistador 1 Complacenie: rand, condes sendemt, 2 Degeneresxcincia: degenesasto, declinio 2 Comtextura: constiuigdo, com: leg. 4 Dandisme: afe3520 no compar tamento ¢/0u no moro de vest 5 Multimode que apres muitas formas e axpetom 6 Denjuaniows: conjunto de sor comportamenton peoprios de um Don Juan (pervonagem de virias obras dramiicas que cncarna 0 tipo galantadr, con uisiador). Precisamente daf advirio, mais tarde, na ressaca politica do cabralismo, as persegu bes que a Garrett sero movidas. 4 Isso mio impede, contudo, que do Garrett politico tena ficado a imagem consti- tufda do legislador e do parlamentar, cujo brilho orat6rio ajudiou a granjear a notorie- dade que © escritor teve em vida. Uma notoriedade que, ainda no plano politico, fica a dever-se também a distingdes e eargos de destaque, ja no tempo da Regeneragio: © titulo de visconde, a condigao de par do reino ¢ o lugar de ministro dos Negdcios %© Estrangeiros (em 1852) coroaram uma vida piiblica a pouco e pouco complacente! com a degenerescéncia? dos ideais liberais Mas a notoriedade de Garrett nao se deve apenas a sua atividade literdria ¢ 3 sua intervengao na vida politica do Liberalismo. ‘Tal como acontece com outros eseri tores da nossa Literatura (Cam@es e Bocage, por exemplo), Garrett constitui uma * personalidade j4 de si com uma dimensio verdadeiramente literiria, no sentido em que é dotado de uma contextura’ psicologica peculiar. E isto é tanto mais importante quanto é certo que o tempo cultural de Garrett convida a uma espécie de fusio entre a representagao literéria de temas ¢ atitudes romAnticas ea vivencia, no quotidiano, ddesses temas ¢ atitudes ~ ainda que eventualmente seja dificil distinguir o que nela © existe de auténtico do que é encenado |... Seja como for: 0 culto de um egocentrismo dominante, a emulagio com 0 modelo camoniano do poeta genial e perseguido [...}, a tendéncia para os gestos teatrais que cram também os do orador inflamado [...], 0 dandismot conjugado com uma intensa vida mundana, so certamente os aspetos mais salientes de uma personalidade com- & plexa ¢ multimoda’, de um eultor de mitos em que se projetava ¢ comprazidamente revia [...]. Aspetos a que, naturalmente, h4 que juntar uma vitalidade sentimental notivel, decorrente de um perene donjuanismo®, tudo bem representado na publica ‘20, em 1853, um ano antes de morrer, de umas Folbas Caédasem que mundanidade ¢ sentiment amoroso se articulam de forma habil [...]. (Carlos Reise Maria da Natividade Pires, Histria Critica da Liternewra Poraugesa — “<0 Romantismos, vol. V,2.* edigdo, Lisbon, aitorial Verbo, 1999, pp. 69-71. 6688608} 11, Considerando o texto que acabaste de ler, recolhe as seguintes informacces: ) contexto cultural e politico em que viveu Almeida Garrett; b) dados biogréticos do autor; ©) personalidade do autor. ‘Almeida Garrett e o Conservatério Nacional ‘Almeida Garrett teve um papel preponderante na mals audaz reforma do ensino artistico alguma vez posta em pratica em Portugal: por decreto de 17 de novembro de 1836, 6 criada a Inspe¢0-Geral dos Teatros e, simultaneamente, estabelecido 0 Conservatério Geral de Arte Dramatica. € criada, final- fabaed mente, uma instituicdo dedicada & formagdo de atores, _otoalia do. antigo Consenataio par com oensino da misica eda danca. isiea do Concovinis oconat 2. O Romantismo - antinomias © Romantismo nao se apreende numa definigao ou numa formula. A sua natu reza € intrinsecamente contraditéria, aparece constitulda por atitudes e movimentos antitéticos, dificilmente se cristaliza num prinejpio ou numa solugao ‘inivos ¢ incon troversos [...] Analisemos brevemente algumas das importantes contradigoes do romantismo. [..-] [A] literatura romantica foi frequentemente tuma literatura de evasto, mas tam bém é verdade que foi, nao raras vezes, uma literatura de combate, bem enraizada na histéria ¢ procurando agir sobre a histéria. Com eftito, se muitos romdnticos foram reacionirios ¢ passadistas, muitos outros rominticos, perante © mundo em erise em que estavam situados, procuraram ardentemente contribuir para o advento de uma sociedade nova, mais justa, mais livre € mais esclarecida que 0 ancien régime’, que se esboroava por toda a Europa. © romantismo sente se atraido pelo passado, em geral, ¢ pela Idade Média, em particular, mas constitui, sob muitos aspetos, uma manifestagao de dade, pretendendo eriar uma arte nova capaz. de exprimir os tempos novos, consu mando a reagio contra 0 magistério regulista e dogmstico exercido pela antiguidade greco-latina, acreditando no progresso do homem ¢ da histéria orcas primitivas ¢ irracionais, glorificou o homem natural, © seu primitivismo € a sua espontancidade, mas apresenta muitas vezes ati tudes subtilmente intelectualistas ~ pense-se na ironia romantica ~ ¢ exalta os valores culturais. |...] Se meditarmos nesta riqueza polimorfi? do Romantismo, nas forgas desencon- O romantismo valorizou tradas que nele estuam’, na multiplicidade de orientagées ¢ solugdes que ele virtual mente oferece, compreendemos as razes por que © Romantismo tem dinamizado ¢ fecundado todos os grandes movimentos artisticos que se tém sucedido ao longo dos séculos xix € xx, desde o Realismo até a0 Simbolismo, ao Decadentismo, 20 Sur: realismo ¢ ao Existencialismo. guiae€ Sik, Tria da Literarnra, 6. edigso, nba, Livraria Almedina, 1984, pp. 857-558. to PROFESSOR Leitura a Educago Literarta Tal, ‘aPowerPoint ‘ORomantismo 1 Ancien résime: stoma de governo Sve gro na Fars, princi aniictizado pelo absolutismo ¢ pelo mercanilismo, 2. Palmar qu aprenenta vein for: 3. Baan: fridham, fryer, agicam. Vladimir Makovshy,Tertila Litera, 1866. Frontispicio da 1. eigao ‘de Frei Luis de Sousa de ‘Almeida Garett, Imprensa Nacional, Lisboa, 1844 1 Paladarame abundaram. ; d Unidade 2 ALMEIDA GARRETT 3. Garrett e o teatro romantico ‘Toda a perspetiva dramitica do século xix € comandada pelo admirivel esforgo de Garrett para dotar o seu pats dum teatro vilido, literdria e cenicamente. Formado na leitura do teatro clissico [...], © seu gosto repeliu sempre o exagero caricatural dos melodramas, » de origem francesa ou italiana, que pulularam! nos paleos da capital durante © primeito tergo do século, de mao dada com a Opera. [.--] Garrett é ainda hoje, a0 lado Camses, 0 escritor que mais enal- teceu e dignificou a sua patria. Espirito aberto ¢ europeu, tem dos factos e dos seres vivos uma visio hicida e viva, que o conduciria, 1» naturalmente, a tirar partido do género histérico no palco. Mas per i cebeu que nio bastava uma evolugio exterior, mais ou menos exata ¢ pitoresca, de temas do passado, para se fazer bom teatro. Era preciso enriqueeé-los, dar ao episddio um contetido ideoldgico de ordem geral. [...] Ponto mais alto dum exemplar caminho de aperfeigoa- 15 mento de valores, de simbolos e de expressio, este drama [ Frei Luis de Sousa] d-nos a imagem duma pitria austera e grande, eapaz de amores ¢ de rentincias desmedidas, e onde o fantasma do passado aventureiro vem. quebrar a rotina feliz do presente, e aniquilar absurdamente o sonhador lirismo duma crianga. Frei Luis de Sousa nio é, de resto, uma obra a0 2¢a80. [...] Relevante exem- plo do que um espirito moderno podia tirar duma tragédia ag6nica, sem esperanga, batida por uma cruel fatalidade, ainda hoje o drama reflete iuminosamente virtudes dum povo, a0 mesmo tempo que analisa aspetos do eterno ¢ universal comporta~ mento humano. Sentimento de honra, amor, perplexidade diante das injustigas, tudo se encontra nesta pega singular, certamente a mais significativa de quantas se esere~ veram em Portugal. Andrée Crabbé Rocha, Teatro moderna, in Disiodrie de itera (die Jacinto do Prado Couto) 4.° vol, Poet Fgsitinhas, 1989, pp. 1070-1071. PROFESSOR Consotida 1 av 1) F—protendia sero espalho das tempos modernos,apesa de, para- lelamente,deiartransparccer uma cesta preferénciapelopassda, ov av (Frei Lu de Sousa evdencia um carder ieoldgico, viel na denn ciadasinustigas ena apresentacto das virtues do poveportuguts. ov —{consotion, 1, Classifica as atirmagoes que se seguer como verdadeiras (V) ou falsas (F). Corrige as ~ afirmagées falsas. @) Os romanticos pretendem contribuir para 0 devir de uma sociedade caracterizada ainda pelas injustigas, pela auséncia de liberdade e pelo obscurantismo. ) Aarte romantica rejeitava os tempos modernos, fazendo apenas a apologia do pas- sado. ©) Uma das aparentes antinomias do Romantismo foi a valorizagéo do sentimento e a manifestagao subtil da razao. @) A obra dramatica de Almeida Garrett diferenciou-se das demais pela rejeicdo da ddramaticidade exagerada, ©) Nao se vislumbram em Frei Luts de Sousa quaisquer vestigios de umn carter ideo- logic. 4) Aandlise de facetas do ser humano, do seu comportamento, é um dos exemplos da modernidade de Garrett presente em Frei Lu(s de Sousa. 4. As fontes PROFESSOR ‘Leitura Frei Latis le Sousa, semelbanga dos anteriores dramas do autor, tem por base a at Historia de Portugal. [...] ‘Educagdo Literdea Entre 1835 ¢ 1842 conhecem~se varias obras que tem como tema a vida «roman- 16. ceada» de Manuel de Sousa Coutinho: Lués de Sousa, romance de Ferdinand Denis 5 (1835), © Cativo de Fes, drama de Silva Abranches (em 1840 apreciado pelo Con- servatério), um poema em verso heroico publicado numa revista do Porto por um «poeta obscuro» (1840), 0 «rimance! em prosa» Manuel de Sousa Coutinho, por Paulo Midosi (1842). Sabemos que Almeida Garrett conhecia, além destes textos, a biografia de Frei 10 Luis de Sousa da responsabilidade de Frei Antonio da Encarnagio. Nem a quantidade de obras jé cxistentes nem o conhccimento inevitavel que o piiblico teria da «hi impediram Almeida Garrett de se langar a0 trabalho ¢ de terminar em treze dias a eserita de uma primeira versio de Frei Lavi de Sousa. ‘Maria Joo Brilhante, «ApresentagZo erties, in Frei Lud de Sousa de Almeida Garrett, 3. edo, Lisbon, Editorial Comunicas3o, 1994, pp. 19-20, 5. Frei Luis de Sousa: a histéria por tras da ago Historiador e admirdvel prosador da lingua portuguesa [Santarém, 1555? ~ Convento de Benfica/Lisboa, 1632] Manuel de Sousa Coutinho [...] era filho de Lopo de Sousa Coutinho e de D. Maria de Noronha, dama da rainha D. Catarina, ¢ oriundo da melhor nobreza do reino, Comegou por seguira carreira das armas, Cavaleiro da Ordem de Malta, esteve algum tempo cativo em Argel (1576-15772) [...]. Liberto do cativeiro, passou dois 8 anos em Valenga [...]- Em 1580 foi nomeado alcaide-mor do castelo e capitio-mor da gente das orde- nangas de Marialva e seu termo. Filipe IP, como recompensa pelos seus Servigos, | Rimanar naraiva cm von que concede-the 0 acrescemamento de moyo fidalgo a fidalgo escudeiro, com corres- _, Temont so sul : : 2 lige It rei de Papanba desde pondente aumento de moradia, em dezembro de 1582. Um ano depois celebrou 0” {56 taclanalo ree Formal 1 contrato de casamento com D. Madalena de Vilhena, vitiva de D. Jodo de Portugal ‘Filipe 1) em 1 desaparecido em Aledcer Quibir. Entre 1596 ¢ 1600 foi provedor da Mise~ ricérdia de Almada [...]. Em 1598 era guar- da-mor da satide © capitio-mor da vila de 45 Almada. Em 1599 Lisboa foi assolada pela peste ©, tendo os governadores do reino passado 4 margem sul do ‘Tejo, primeiro a Aleochete Grovura representando a Bataha de Alccer Quibr (1578), in Miguel Leto de Andrada, Miscotinea, Lisboa, Matheus Pine, 1629, ( y Jnidade 2. ALMEIDA GARRETT PaGEEaTOe € depois a Almada, quis um deles instalar-se numa casa do fidalgo. Para impedir Consolida a ocupagio, D. Manuel langou fogo a casa, seguindo a cavalo na diregao de Madrid 1 2% ‘Tornoua Lisboa em maio de 1600 e, voltando a peste a Lisboa nesse mesmo ano, ne) foi confirmado nos cargos de capitio-mor ¢ guarda-mor da satide de Almada, Em 120) a 40) 1613, quando thes faleceu uma filha Gnica, D, Manuel e D. Madalena resolveram professar em conventos da Ordem Dominicana, entrando ele em Si0 Domingos de Benfica. Tomou 0 habito dominican em 1614, apés o ano de noviciado, com 0 ® nome conventual de Frei Lufs de Sousa. Viirias conjeturas que se teceram em torno desta dupla reclusto foram aproveitadas pela literatura, mas a perda da filha ¢ a religiosidade dos pais afiguram-se motivos suficientes para justificar a decisto tomada, ‘Centro de Documentasso de Autores Portugueses, DGLAB, junho de 2004 Uhttp:/ ivrolglab.gow,ptsconsutado em janho de 2015), (CONSOLI 1, Apis a leitura dos textos, responde a cada um dos itens de 1.1. 1.4, selecionando a ‘opgao comet 1.1 As fontes indicadas de Frei Luts de Sousa sao (A) dois romances, um poema, um drama e uma biogratia, (8) um romance, uma biografia, um poema, um rimance e um drama. (©) um romance, um drama em verso heroico, um rimance e uma biografia, (D) dois romances, dois dramas e uma biografia 1.2 Almeida Garrett terminou em treze dias a primeira versdo de Frei Lu/s de Sousa, (A)_ uma obra sobre um assunto inédito, totalmente novo para o pablico. (B) uma obra sobre um assunto inédito, apesar do conhecimento do pablico. (C)_ uma obra sobre um assunto inédito, desconhecido do pablico, (0) uma obra sobre um assunto que ndo era inédito e, como tal, do conhect: mento do piblico. 1.3. Manuel de Sousa Coutinho casou-se com D. Madalena de Vilhena (A) logo apds ter sido libertado do cativeiro. (B) apis ter-Ihe sido concedido o titulo de moco fidalgo. (C)_ apis ter-Ihe sido concedido o titulo de fidalgo escudeiro, (0) apis ter sido nomeado capitéo-mor de Almada. 1.4 As causas avancadas para a tomada do habito de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vithera so (A) oregresso de D. Jodo de Portugal ea morte da filha. (B) oincéndio da casa e a morte da filha (©) asconjeturas tecidas na época, (D) amorte da filha ea sua religiosidade. Peter Paul Rubens, Retrato de Soror Ana Dorotea de la Concepcién Habsburgo parmenn), 1628, Contextualizagao hist6rico-literdria Frei Luis de Sousa: drama e tragédia Meméria ao Conservatorio Real, de Almeida Garrett Ao Conservatério Real’ £ singular condig30 dos mais belos factos e dos mais belos caracteres que ornam 6s fastos portugueses serem tantos deles, quase todos cles, de uma extrema ¢ estreme simplicidade. [...] Na historia de Frei Luis de Sousa - como tradigio a legou a poesia, ¢ desprezados para este efeito os embargos’ de eritica moderna ~ a qual, ainda assim, tio-somente alegou mas no provou =, nessa historia, digo, ha toda a simplicidade de uma fbula trigica antiga, Casta e severa[.,.],tem [...] aquela ungio e delicada sensibilidade que 6 espirito do cristianismo derrama por toda ela, molhando de lagrimas contritas 0 que seriam desesperadas ansias num pagio, acendendo até nas iltimastrevas da morte avela daesperanga, que se ndo apaga com a vida. Accatistrofe é um duplo c tremendo suicidio, mas nao se obra pelo punhal ou pelo veneno; foram duas mortalhas que caftam sobre dois cadaveres vivos: —jazem em paz ‘no mosteiro, o sino dobra por eles; morreram para o mundo, mas vo esperar ao pé da Cruz que Deus os chame quando fora sua hora. [...] Esta é uma verdadeira tragédia ~ se as pode haver, ¢ como s6 imagino que as possa haver, sobre factos ¢ pessoas comparativamente recentes. Nao the dei, todavia, esse nome porque nio quis romper de viseira com os estafermos respeitados dos séculos que, formados de pegas que [...] ainda tém, contudo, a nossa veneragio, ainda nos inclinamos diante deles quando ali passamos por acaso, Demais, posto que nio creia no verso como lingua dramética possivel para assuntos 0 modernos, também nao sou to desabusado', contudo, que meatreva a dara uma composisio em prosa o titulo solene que as musas gregas deixaram consagrado 3 mais sublime e dificil de todas as composigdes poéticas. (© que escrevi em prosa pudera escrevé-lo em verso ~ ¢ © nosso verso solto esti provado que é décil e ingénuo bastante para dar todos os efeitos de arte sem quebrar nna natureza. Mas sempre havia de aparecer mais artificio do que a indole especial do assunto podia softer. E di-lo-ei, porque é verdade: ~ repugnava-me também pér na boca de Frei Luts de Sousa outro ritmo que nao fosse o da elegante prosa portuguesa, que ele, mais do que ninguém, deduziu com tanta harmonia e suavidade. [...] Contento-me para.a minha obra com o titulo modesto de drama; s6 pego quea no julguem pelasleis que regem, ou devem reger, essa composigdo de forma e indole nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela indole hi de ficar perten- cendo sempre ao antigo género trigivo. [.-.] Nenhuma agio mais dramtica, mais trigica do que esta; mas as situagdes slo pou cas: estender estas de invengio era adelgagar a forga daquela, quebrar-lhe a energia, Em um quadro grande, vasto~as figuras poucas, as atitudes simples, € que se obram os, grandes milagres de arte pela corresio no desenho, pela verdade das cores, pela sibia distribuigio da luz. PROFESSOR eitura mhI2 EducagioLiterttia 4243, OEE ‘mPowerPoint “Meméria ao Conservatrio Real» 1 Boj lida eta Memoria em con feréncia do Conservatrio Real de Lisboa em 6 de maio de 1843. [Nota do Au 2 Embargos obssculos 3 Dewbusade stevie. NAL PROFESSOR CConsotida 1a) € singular condi dos mais belos foctose das maiseloscarae teres que ornam os fasts portugue- ses serem tants eles, quse todos ‘des, deumaestrema cestreme sim: pleldade 1-3 2) -Na istriade Fei Luis de Sous [LL toda simptcade de ure fébula tigia antigo (47; stem {LJoqueta ung edeticada sensi dade que este do erstianismo derrama por toda ela, molhondo de Lagrimas contitas 0 que seam desesperada nsiasnumpagao.I+ wr eter arotes emaventuras. nem Dies, nem caratereswolentas de renium géoero [Equi ver se craposshel exit fortemente oer ror eapiedae|_ (20-40) A. josrara bamressto teria mais verdodeira do estado da soe dhe fliteaturastua éapalawa, over sinda batbucirte, de ura Sociedade indefnde,e contudo jt influ sabre la] Pars erslar estas mines teoias de ate, [.}eseali sxioasumtal bil £2508 2. Ceracteisticas da tron sil tka da aco esimplickade de wma fibula trina niga, 6 7; Casta f sever, |, eas situagbes $0 poucas. 34°39, apresenta uma castrate A catéstrafe@ um duplo etrementosucidn LI poucas per sonagersrastiguraspouca 3) Caractersticns do drama: assnto nacional (histéria de Frot Luis de Sousar, | 4) presenga da religito erst eo esplito do cristanismo rama porta cla 8 draaem ros (posto qu no rear wert coro lingua dramstica passive para assuntas tho modernasy, 20-7 “reguanexa me tbe pr na boca drei Luts de Sousa cutroritmoque do fosseo da legate prosa prt guest, que cle. mas do que inguém, eri cor tanta hrroniae sua ade 71-29} apcogiadatiberdade nética em detriments do igor his, {orkn (Escuso dzer-ros, Senhors, ‘te me nbo julquel obigado a ser fcr da crook nema tea, a imorieio da cea, tudo quanto 2 sever ctiea moderna indigtou como ariseade de se gpurr para ‘a histvie, I $2.54); miso socil aa iterate fa teratra atu] inflsobroela-1 Paracnsaarestas 0 @ ‘Nem amores, nem aventuras, nem paixdes, nem caracteres violentos de nenhum género. [...] [E]u quis ver se era possivel excitar fortemente o terror € a piedade a0 cadiver das nossas plateias, gastas ¢ caquéticas * pelo uso continuo de estimulantes violentos, galvanizé-lo * com s6 estes dois metais de lei.* Nem parega que estou dando grandes palavrasa pequenas coisas: odramaé a expres- sio literdria mais verdadcira do estado da sociedade; a sociedade de hoje ainda se nao sabe o que é;0 drama ainda se nao sabe 0 que é; a literatura atual 6a palavra, é0 verbo, ainda balbuciante, de uma sociedade indefinida, e contudo jé influi sobre ela; 6, como disse, sua expresso, mas refletea modificar os pensamentos que a produziram, Para ensaiar estas minhas teorias de arte, que se reduzem a pintar do vivo, desenhar do nu, endo buscar poesia nenhuma, nem de invengio nem de estilo fora da verdade edo natural, escolhi este assunto, porque em suas mesmas dificuldades estavam ascon- digdes de sua maior propriedade. Escuso dizer vos, Senhores, que me nao julguei obrigado a ser escravo da cronolo gia nema rejeitar, por impréprio da cena, tudo quanto a severa erftica moderna indigi: tou como arriscado de se apurar para a histéria. Eu sacrifico &s musas de Homero”, nao ais de Herddoto": e quem sabe, por fim, em qual dos dois altares arde o fogo de melhor verdade![. O estudo do homem é 0 estudo deste século, a sua anatomia ¢ fisiologia moral as ciéncias mais buscadas pelas nossas necessidades atuais. Coligir os factos do homem, emprego parao sibio; comparé-los, achar lei de suas séries, ocupagio para o filésofo, 0 politicos revesti-los das formas mais populares e derramar assim pelas nagdes tim ensino ficil, uma instrugio intelectual ¢ moral que, sem aparato de sermio ou prelegao, sur- preenda os animos cos coragdes da multidao, no meio de seus proprios passatempos~a missio do literato, do pocta. Almeida Garret, so Conservatrio Rel Fred Fade Soma de Almeida Carre (apresenasSocria, rag de textresugesties para nd itera de Mara Joo Briar), 31 edgio, Lisboa, Ecitor.al Comniniasio, 1994, pp. 57.71 4 Caguiscas: coved, se Mo ~ para o drama 2 que, por falta de melhor 5 Galvanizar teas to. ‘ome alex, chamam grande [.]. [NA] (6 Na agédis eno drama trgico n30 podem entrar 7 Hamere: poeta grepo. ‘outros afetos. O horrar, © asco serio bons ~ mio sei 8 Hondo: hisoriadorgrego. 1, Transcreve passagens do texto que ilustrem as seguintes atirmacces: 4) 05 factos histéricos portugueses caracterizam-se pela simplicidade. b) A historia de Frei Luis de Sousa apresenta uma simplicidade tragica; no entanto, odesespero das personagens ¢ suavizado pelo espirito do cristianismo. ©) Almeida Garrett manifesta 0 seu intento de verificar a possibilidade de suscitar no pblico, através de uma historia simples, o terror ea piedade. ) Oautor considera a historia de Frei Luis de Sousa ideal para testar as suas teorias da relagao entre literatura e sociedade. 2, Procede ao levantamento das caracteristicas da obra Frey Luis de Sousa que permitem Contextualizagao histérico-literd Frei Luis de Sousa PROFESSOR Estrutura externa e estrutura interna wrest rte Em Frei Luts de Sousa, além da divisio da estrutura interna em exposigio, con- a flito ¢ desenlace, & possivel proceder a uma subdivisto de cada ato (também em exposigi0, conflito ¢ desenlace), por se verificar a repeti¢io do mesmo esquema estrutural, conducente a uma ligagio harmoniosa entre cada ato, oa a Sites ‘Antecadentes da aga « informag6es sobre as porsonagens: * primeira casamento de D. Madalena de Vilhena com D. Jodo de Portugal; * desaparecimento de 0. Jodo de Portugal na batalha de Alcécer Quibir; * ciligdncias de D. Madalena de Vithona para o encontrar (sete anos) ‘= casamentode D. Madalena de Vilhena com Manuel de Sousa Coutinho (eatorze anos. cenastay | _ 2 easamentod; ‘= nascimento de uma filha, Maria de Noronha (tem treze anos); * referéncia & dobilidade de Maria de Noronha, vitima de tuberculoso; * fidelidade de Telmo Pais a D. Jodo de Portugal, de quem fora escudeiro; * sabastanismo de Maria de Noronha: fascinio pelo rel desaparecido (D. Sebastigo); 1p entendie a razBo da perturbac’o dos pais quando se mencionao possivelregresso, core) *= comunicagdo da intengo dos governadores om se instalarom no palécio de Manual ce Sousa Coutinho para fugirem dos ares empestados de Lisboa: * cecisao de Manuel de Sousa Coutinho de se mudarem para o palécio de D. Joao de CENAS Vall | Portugal * oposicao de D. Madalena de Vilhena por temer a desgraga, atitude considerada ‘caprichosa por Manus de Sousa Coutinho; * antecipagao da chegada dos governadores. * ciligéneias para a mudanca de palécio; * Manual do Sousa Coutinho incandaia 0 sou préprio palécio, conscionte das, CENAS XXII | consequencias; * incéndio do palacio: desasporo de D. Madalena de Vilhona ao ver oretrato de Manuc ‘Sousa Coutinho ser consumido polas chamas. Roteréncia aos factos ocorridos apés 0 incl: * D, Madalenade Vilhena encontra-se doente ha oto dias: quandochega zo palico de D, Jado de Portugal, depara de imediato com 0 retrato de D. Jo#o de Portugal e, recordando oretrato de Manvel de Sousa Coutinho a arder, entra em pico; cenasian | * Manuel de Sousa Coutinho encontrase escondido, receando represdlias dos overnador * Maria de Noronha, em dialogo com Telmo Pais, solicita-the, inrutiferamente ‘ confinmago da identidale do cavaleto de um dos rtrat * visita de Manuel de Sousa Coutinho, que revela @ Maria de Noronha @ identidade aon do cavaleiro,tecendo grandes elogos aD. Joo de Portugal * Ftei Jorge Coutinho comunica a Manuel de Sousa Coutinho j8 nBo haver nada a ‘temer, pois os governadores esto dispostos a esquecer 0 incéndio do seu paldcio; * partidade Manuel de SousaCoutinho para Lisboe, juntarmente com Maria deNoronta €Telmo Pais, contraria a vontade de D. Madalena de Vilhena; ‘CENAS IV-XIH_| * D, Madalena de Vilhena confessa a Frei Jorge Coutinho a razéo dos seus receios: hhaquele dia (sexta-feira), fazia anos que se casara com D. Jodo de Portugal, @ que ‘este desaparecera e que ela se apaixonara por Manuel de Sousa Coutinho, ainda asada; * @ anunciada a chegada de um romeiro que deseja falar com D, Madalena. ExPOSIGAO ATO! CONFLITO* *Diviso estar tera: sues das autor. Estrutura extema TOW £ arom PROFESSOR Consolida 1.€D. Madalena de Vithena, Manu! de Sousa Coutinho, Telmo Pai fe Noronha, Frei Jorge Cout 1D. de Portugal o Romie) adeManvel e Sousa Cauth de Portugal ‘Manuel de Sousa Coutinho (ton dob Estrutura interna Sintose + D. Madalena de Vilhena fica saber pelo Romeiro que D. Jodo de Portugal est vivo esaide cena aos gritos, aterorizada por constatara ilegitimidade do seu casamento CENASXWv | ode-sua filha + ofRomeir, questionado por Fre rge Coutinho sobre a su identidade, aponta para ‘retrata de D. Joao de Portugal, respondendo «Ninguéms Reteréncia ans facts ocoridos apésaidentificagao de D. Joao de Portugal * Maia de Noronha chagara doante de Lisboa o encontrava-se acamaday CeNAI | * Manuel de Sousa Coutino tora conhacimento do rgresso de D. Jodo de Portugal * indicagdo da solugao escola: a tomada do hdbite de D. Madalana de Vlhena ode Manuel de Sousa Coutinho naquale mesma dia * Telmo Pais informa que Maria de Noronha jé se encontra melhor, apesar de muito fracay + Telmo conversa com 0 Romeir, econhecendo D. Jodo de Portugal pala vor; * D. Joo do Portugal, 20 aperceber-so das consoquéncias da sou ragresso, manda elmo Pas dizer quo o peregrino 6 um impostor e que se trata de um eembustes dos inimigns de Manu! de Sousa Coutinho; GENASIIK | Tomo Pais transmitea Frei Jorge Coutinho padido de D. Jodo de Portugal contudo, o freindo Ihe coresponde, * oposicdo de D. Madalona de Vilhena dtomada do habito, alegando no haverprovas de que D. Jo8o de Portugal se encontra vivo, mas Manvel de Sousa Coutinho e Frei Jorge Coutinho, saberdo averdade, ja tém a deciso tomada, + D. Madalona de Viena aceita a dectso do marido, * inicio da corimeénia da torada do habitos * Maria de Noronha irompe pola capola, manifestando a sua revolta e indignagao Contra 0 mundo, Deus ¢ uma sceiedade hipdcita que condena inocentes CENAS xxi! | + aoouvira voz do Romero, a pedira Telmo Pais que cs salve, Mara «cai fica morta nnochéo»; * tomada do habito de D. Madalena de Vthena (Soror Madalona) e de Manuel de Sousa Coutinho (Froi Luis da Sousa): «morte» para mundo. {ConsoLipA} 1, Procede a andlise da estrutura interna de Frei Luis de Sousa, indicando os seguintes aspetos: ) as varias personagens que participam na acto; b) 05 espacos em que a agdo decorre: ©) ofinal tragico Anne Louis Giradet, 0 Enterro ‘de Atal (perene), 1B08, Almeida Garrett, Frei Luis de Sousa Drama romantica - drama principalmente historico, que reflete 0 culto dos sentimen- tos fortes, mesmo violentos, proprio do Romantismo, No fundo, segue, exagerando- -28, as caracteristicas da tragédia, Maria Leonor Machado de Sous, imwwwedt.compt (consulted em julho ee 2015), Gena 11, Observa o cartaz da pega de teatro Madalena, baseada na ‘obra Frei Luts de Sousa, de Almeida Garrett. Descreve-o, ‘oralmente, de acordo com os seguintes tépicos: ) significado da centralidade das figuras femininas; b) justificagao do novo titulo da representacao; ©) simbologia da luz. Frei Luis de Sousa (1843)' oo afar te ais re Drama Representado, a primeira vez, em Lisboa, por uma sociedade particular, no teatro. da Quinta do Pinheiro, em 4 julho de 1843 Pessoas Manuel (Frei Lufs) deSousa‘Telmo Pais. Doroteia Dona Madalena de Vilhena © Prior de Benfica Coro de fades de Dona Mariade Noronha O Irmio Converso S. Domingos Frei Jorge Coutinho: Miranda Clérigos do arcebispo, frades, criados, ete. O Romeiro Lugar da cena— Almada. Ato Primeiro Camara antiga, ornada com todo 0 luxo ¢ caprichosa elegdncia portuguesa dos prin cipios do século desassete. Porcelanas, xaries, sedas, flores, etc. No funda, duas grandes janclas ragadas, dando para um cirado gue olba sobre o Tojo e donde se vé toda Lisboa; entre as janclas o retrato, em corpo inteiro, de um cavaleiro mogo, vetido de preto, com a cruz branca de novigo de 8. Joio de Jerusalém. Defrontee para a boca da cena, um bufete pequeno, coberto de rico pano de veluda verde franjado de prata; sobre o bufite alguns livres, obvasdde rapecaria meiasfeitase um vaso da China de colo alco, com flores, Algumas cadeirasantigas, tamboretesrases, contadores, Da direita do espectador, porta de comuni- casio para interior da casa, outra da esquerda para o exterior. k no fim da tarde. Frei Lus de Sousa Y 89 j PROFESSOR Oralidade 51 Educagio Literdria Vl: 142: 16 54 44S VT: V4. YATES Granatiea m8. Ponto dePartia 1. 0 cartaz apresenta sete figuras ‘humanas tuminadas por fetes de luz eineo homens e duas mulhe res - destacando-se a personage femining que Se encontra em pr ‘melroplano,pelocapuz queenvesgs 3) As figuras femininas destacar se pela suacentralidade, oaue indict seurelevonaogio, 1) O novo thtuta indica que a perso fiagem principal sevs Madalena, a figura que surge em primi plano, ©) ineldénela da luz em todas as personogens, especialmente na se ‘gunda figura feminina, poder si bolizat tigagdo com divino/des tino * Sunes transversal aba: Lesturasitenciosadas conas *Distrbuigo dos vrios papel; *Lefturadramatizadadas cena, 1 Fiego de texto por: Maia Jone Balhae em Pe Las Me Soa de Almeida Garris, 2." digo, Lisboa, Bora ‘Connniea, 19%. PROFESSOR ucagdoLiterria u nico do século ean fim datarde b)Aimads:indicagaodeque dasjone- a (JUmasalaluxuosomentedecorada ‘com varios aderegos: dua janelas largas ao fundo, entre as quais um retrato de um cavalo; duas por ts, ume para lnteriore outta para © exterior uma mesa pequena com lira obras de tapegaria € um vaso com flores; algumas caderas, tam boretes eeontadores. 1) Arstocracia (sla ample deco- ‘da de forma rca e luxuosa) culta (ites eveigiosa letra de cari religion 0) Sugestio de flicade:luinost dade, abertura 20 exterior (grandes Janelasrasgadas) sugestbes cram ticas;iberdade de movimentos das, Dersonagens (as porta). Esta fel: ‘ide poders ser aparente e pouco \duradouraincompletude dassobras \detapecaria mois feta) 2.1 ns de Castro amu e foi amade, ‘asomethanga de, Madalona, tendo, sido eli, ands que por breves ins tame, ois nko sabia o que o des- tino the reserva, Cotrariamente, D.Madalena ndo consegue ser feliz, Sevido 20 «medos (7) e 005 cons: tantes terrors (L), encarando ‘breve «engano de nds de Castro ‘como a felicidade suprema neste smundor(5). Unidade 2 ALMEIDA GARRETT CENAI MADALENA, 3, sntada junto & banca, os péssobre uma grande almofada, um livro aberto no regaco, eas mdos crusadas sobre ele, como quem descain da leitura na meditagao, Madalena (repetindo magquinalmente e devagar o que acaba de ler) «. Unidade 2. ALMEIDA GARRETT ‘Madalena — Pois esti bem. Digo que mal sei dar-vos conselhos, ¢ nio queria dar- -vos ordens... Mas, meu amigo, tu tomaste—¢ com muito gosto meu ¢ de seu pai—um 4s ascendente no espirito de Maria... tal que nao ouve, no cré, nao sabe senio o que Ihe dizes. Quase que és tu a sua dona, a sua aia de criagao. Parece-me... cu sci... nao fales com ela desse modo, nessas coisas. ‘Telmo 0 qué? No que me disse o inglés sobre a Sagrada Escritura, que eles tém em sua lingua, e que’ £0 Madalena— Sim... nisso decerto... ¢em tantas outras coisas tio altas, to fora de sua dade, e muitas deseu sexo também, que aquela crianga estd semprea querer saber, per- guntar. Ea minha Gnica filha; no tenho... nunca tivemos outra.... e,além de tudoo mais, bem vés que no é uma crianga... muito... muito forte, ‘Telmo - f.... delgadinha, €. Hi de enrijar, f té-la por aqui, fora daqueles ares apes- 55 tados” de Lisboa; ¢ deixai, que se ha de por outra, ‘Madalena ~Fiha do meu coragio! Telmo ~ F do meu. Pois nao se lembra, minha senhora, que a0 principio cra uma ctianga que eu nto podia... ~ 6a verdade, nio a podia ver: jd sabeis porque; mas vé-a, cra ver... Deus me perdoe!... nem eu sei... E dai comeyou-me a erescer, a olhar para c mim comaqueles olbios....a fazer-me tais meiguices, ea fazer-se-me um anjo tal de for- mosura e de bondade, que—vedes-me aqui agora, que lhe quero mais do que seu pai, Madalena (sorrindo) Isso agora... ‘Telmo- Do que vos. Madalena (rindo) ~Ora, Telmo! © — Telmo~ Mais, muito mais. E veremos: tenho c4 uma coisa que me diz que, antes de muito, se hd de ver quem é que quer mais A nossa menina nesta casa. Madalena (asustada)~ Est bom; nao entremos com os teus agouros* e profecias do costume: sio sempre de aterrar... Deixemo-nos de futuros. ‘Telmo—Deixemo-nos, que niio sio bons. wm — Madalena— E de passados também... ‘Telmo—'Também. Madalena— E vamos ao que importa agora.— Maria tem uma compreensio... ‘Telmo—Comprcende tudo! Madalena~ Mais do que convém. % — Telmo~Asveres. Madalena—f preciso moders-Ia. Telmo - Eo queeu faso. Madalena Nao the dizer... ‘Telmo—Nio Ihe digo nada que nfo possa, que nd deva saber uma donzela honesta edigna de melhor... de melhor... Madalena~Melhor qué? ‘Telmo—De nascerem melhor estado. —Quisestes ouvi-lo... esti dito, Madalena— Oh, Telmo! Deus te perdoc o mal que me fares. (Dewata a chorar.) Telmo (ajocthando cbeijando-the a méo) Senhora... senhora D. Madalena, minha ama, minha senhora... castigai-me... mandai-me j4 castigar, mandai-me cortar esta ‘oo 3 pee). lingua perra que no toma ensino. - Oh senhora, senhora!... & vossa filha, é a filha Sewers do senhor Manuel de Sousa Coutinho, fidalgo de tanto primor, e de to boa linha- gem? como os que se tém por melhores neste reino, em toda a Espanha... A senhora ® us 0 1% 1D. Maria... a minha querida D. Maria é sangue de Vilhenas e de Sousas; nao precisa ‘mais nada, mais nada, minha senhora, para ser... para ser... ‘Madalena —Calai-vos, calai-vos, pelas dores de Jesus Cristo, homem, ‘Telmo (soluganio) ~ Minha rica senhora!... Madalena (enxyga osolhase toma uma atitude grave firme) ~ Levantai-vos, Telmo, eouvi-me. (Telmolevanta-se.) Ouvi-me com atengao. fa primeira vez.e seria tltima vex, que vos filo deste modo ¢ em tal assunto, ~ Vs fostes 0 aio e o amigo de meu senhor... cde meu primeiro marido, o senhor D. Joao de Portugal; tinheis sido © companheiro de trabalhos e de gléria de seu ilustre pai, aquele nobre conde de Vimioso, que eu de tama nhinha!® me acostumei a reverenciar! como pai. Entrei depois nessa familia de tanto respeito; achei-vos parte dela, ¢ quase que vos tomei'a mesma amizade que 20s outros... (Chegastes a aleangar um poder no meu espirito, quase maior... ~ decerto maior ~ que nenhum deles. O que sabeis da vida e do mundo, o que tendes adquirido na conversagio doshomense doslivros~porém, mais que tudo, 0 que de vosso coragio fui vendo ¢ admi- rando cada vez mais ~me fizeram ter-vos numa conta, deixar-vos tomar, entregar-vos cu ‘mesma tal autoridade nesta casa sobre minha pessoa... que outros poderao estranhar... ‘Telmo—Emendai-o, senhora. ‘Madalena — Nio, Telmo, no preciso nem quero emendé-lo.~ Mas agora deixai~ -me falar, — Depois que fiquei s6, depois daquela funesta jornada de Africa que me dei- xou vitiva, 6rff'e sem ninguém... sem ninguém, ¢ numa idade... com dezassete anos! —em vés, Telmo, em v6s 56, achei o carinho ¢ proteso, 0 amparo que eu precisava, Ficastes-me em lugar de pai: € eu... salvo numa coisa! — tenho sido para v6s, tenho-vos obedecido como filha. ‘Telmo ~ Oh minha senhora, minha senhora! mas essa coisa em que vos apartastes dos meus conselhos... ‘Madalena ~ Para essa houve poder maior que as minhas forgas... D. Joao ficou nnaquela batalha com scu pai,com a lorda nossa gente. (Sina de impaciéncia em Tebmo.) Sabeis como choreia sua perda, como respeitei a sua meméria, como durante sete anos, inerédula a tantas provas ¢ testemunhos de sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia", por todas as séjanas de Fez-e Marrocos"*, por todos quantos aduares de Alar- ves"* af houve.... Cabedais ¢ valimentos'®, tudo se empregou; gastaram-se grossas quan- tias; 05 embaixadores de Portugal e Castela tiveram ordens apertadas de © buscar por toda a parte, a0s padres da Redengio, a quanto religioso ou mercador podia penetrar rnaquelasterras,a todos se encomendava o seguir pista do mais leve indicio que pudesse desmentir, por em diivida ao menos, aquela noticia que logo viera com as primeiras novas da batalha de Alcécer. Tudo foi indtil; ea ninguém mais ficou resto de dtivida... Telmo~Senioa mim. ‘Madalena ~ Diivida de fiel servidor, esperanga de leal amigo, meu bom 'Telmo! que diz.com vosso coragio, mas que tem atormentado o meu... ~ E entio sem nenhum fundamento, sem o mais|eve indicio... Pois dizei-me em consciéneia, dizei-mode uma ‘vez, claro e desenganado: a que se apega esta vossa credulidade de sete... € hoje mais catorze... vinte ¢ um anos? ‘Telmo (gravemente) ~ As palavras, as formais palavras daquela carta, escrita na pro: pria madrugada do dia da batalha, ¢ entregue a Frei Jorge que vo a trouxe. — «Vivo ou mort» —rezava ela— «vivo ou morto...» Nao me esqueccu uma letra daquekas palavras: €cusei que homem era meu amo para asescrever em vio: «vivoou morto, Madalena, Frei Luis de Sousa 10 Tamaninia: poqucnina. UL Reveencia: rape. 12 Rerbera:regito do Norte de Aca once vivian o Rerberes 12 «Todos 08 nossos cronistas escrtores de memirias do tempo chamam *séjanas” Aqueles bairros ov distros echados das cidades de Ret beria em que vivian judeus, € aonde foram geralmente Slop ¢guardados ox ports sucses cativos que esperavam ‘seu reste.» [N.A.] M4 Aduars de Alarver alias Sea bes 15 Cabedaise raiment dino ce indutnca, 16 Devarrazoar: falar xem 17 Tempera: indole, caster. 18 Guape elegant, corsjon, 19 Cabeda: recurs, poe, © saber, considerado como riquera 20 Poracinte de proptnito 21, Quimere: anes, iusto, 22 «A incredulidade popular sobre 4 morte de elt D. Sebastito comegou logo. com as primeiras noticias que chegaram 30 reino da derrota de Ales «et Quibi. Querem alguns ‘que a caperangas do pov, fossem adrede sustentadas pelos que mais haviam instigado aquela iste jornada, para evitarem 2 Fesponsabilidade de seus faaisconsehos, O facto ¢ que, no pablico, nunca se acreditou ber na mere de bre. Eenluim, de rantos ‘que escaparam,, nenbum disse nunca que © vins mmorrer, |] Mens bas tava para dar cor e cenga 2 mul de bul rom neacas © pottcas, de que se enchet logo Portugal € {que duraram até sox nos dias [NAL] 138. hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez, neste mundo.» ~ Nao era assim que dizia? Madalena (atervada) Era. ‘Telmo— Vivo nao veio... inda mal! E morto... asua alma, sua figura... Madalena (posuida de grande terror) —Jesus, homem! ‘Telmo—Nao vos apareceu, decerto. Madalena~ Nao, credo! ‘Telnio (misterioso)—Bem sei que ndo. Queria-vos muito; ea sua primeita visita, como de razio, seria para minha senhora, Mas no se ia sem aparecer também ao seu aio velho. Madalena ~ Valha-me Deus, ‘Telmo! Conhego que desarrazoais'*, ¢ contudo as ‘Yossas palavras metem-me med... Nao me fagais mais desgragada, ‘Telmo ~ Desgragada! Porqué? Nao sois feliz.na companhia do homem que amais, nos bragos do homem a quem sempre quisestes mais sobre todos? ~ Que o pobre do ‘meu amo... respeito, devogao, lealdade, tudo Ihe tivestes, como tao nobre ¢ honrada senhora que sois... masamor! Madalena — Nao esti em nds dé-to, nem quité-lo, amigo. ‘Telmo — Assim &. Mas os citimes que 0 meu amo nfo teve nunca ~ bem sabes que témpera’? d’alma eraaquela~tenbo-osen...aquiestéaverdade nua ecrua... tenho-aseu ppor cle: n2o posso, nao posso ver... € desejo, quero, forcejo por me acostumar... mas no posso. Manuel de Sousa... 0 Senhor Manuel de Sousa Coutinho é guapo" cavalheiro, honrado fidalgo, bom portugués... mas~_mas nio é, nunca hi de ser, aquele espelho de cavalaria e gentileza, aquela flor dos bons... Ah meu nobre amo, meu santoamo! ‘Madalena~ Poissim, tereis razao... tendes razao, serd tudo como dizeis. Mas refleti, que haveis cabedal” de inteligéncia para muito: ~ eu resolvi-me por fim a casar com Manuel de Sousa; foi do aprazimento geral de nossas familias, da propria famtlia de meu primeiro marido, que bem sabeis quanto me estima; vivemos (com afetagio) seguros,em 1@ paze felizes... hd catorze anos. Temos esta filha, esta querida Maria que & todo 0 gosto e Ansia da nossa vida. Abengoou-nos Deus na formosura, no engenho, nos dotes admin veis daquele anjo... E tu, tu, meu Telmo, que és tio seu, que chegasa pretender ter-Ihe maisamor que nés mesmos... ‘Telmo— Nao, nao tenho! 165 Madalena — Pois tens: melhor! — E és tu o que andas, continuamente e quase por acinte™, a sustentar essa quimera”,a levantar esse fantasma, cujasombra,a mais remota, bastaria para enodoara pureza daquela inocente, para condenara eterna desonra a mae eafilha... (Telmo dé sinaisde grande agitagao.) Ora dize: j pensaste bem no mal que estis fizendo? Eu bem sei que a ninguém neste mundo, sendo a mim, falas em tais 170 coisas... falas assim como hoje temos falado... mas as tuas palavras misteriosas, as tuas alusdes frequentes a esse desgracado rei D. Scbastiao, que 0 seu mais desgragado povo: ainda nao quis acreditar que morresse, por quem ainda espera em sua leal increduli dade!” — esses continues agouros, em que andas sempre de uma desgraga que esta imi- nente sobre a nossa familia... no ves que ests excitando com tudo isso a curiosidade vrs daquela crianga, agugando-Ihe o espirito — jé tao perspicaz! ~a imaginar, a descobrir... quem sabe se a acreditar nessa prodigiosa desgraga em que tu mesmo... tu mesmo. sim, nao crés deveras? Nao crés, mas achas nao sei que doloroso prazer em ter sempre viva suspensa essa divida fatal. E-entio considera, vé: se um terror semelhante chegaa entrar naquela alma, quem Iho hé de tirar nunca mais?... O que hé de ser delae de nés? 1a —Naoa perdes, ndoa matas... ndo me matasa minha filha? ‘Telmo (em grande agitagio durante a fila precedente, fica pensativo e aterrado; fala depois como para si) ~ E verdade que sim! A morte era certa. ~ E no hd de morrer: nao, nao, nao, trés vezes nao, (Para Madalena,) A fé de escudeiro honrado, senhora. D. Madalena, a minha boca nao se abre mais; ¢ o meu espirito hi de... hd de fechar-se iw também... (@ parte), Nao é posstvel, maseu hei desalvar omeuanjodo Céu! (alto para Madalena). Est& dito, minha senhora. “Madalena ~Ora Deus to pague.~ Hoje € tiltimo diade nossa vida que se fila em tal ‘Telmo-O Giltimo. Madalena ~ Ora pois, ide, ide ver 0 que ela faz. (levantando-se): que no estejaa ler 190 ainda, a estudar sempre. (Telmo vai a sain.) E.olhai: chegai-me depois alia S. Paulo, ou mandai, se no podeis... ‘Telmo— Ao convento dos Dominicos”? Pois nio possol... quatro passadas. ‘Madalena ~ E dizei ao meu cunhado, a Frei Jorge Coutinho, que me esti dando cuidado a demora de meu marido em Lisboa; que me prometeu de vir antes de vés- 19 pera, € nao veio; que é quase noite, ¢ que j4 nao estou contente com a tardanga. (Chega i varanda ¢ olba para rio.) Q ar esti sereno, 0 mar tio quieto, © a tarde tio lindat... quase que nao hé vento, é uma viragto que afaga... Oh € quantas faluas** navegando tio garridas por esse 'Tejo! 'Talvez nalguma delas ~ naquela tio bonita — venha Manuel de Sousa. ~ Mas neste tempo nio hi que fiar no 'Tejo, dum instante ‘x0 para outro levanta-se uma nortada... ¢ entio aqui o pontal de Cacilhas! ~ Que ele é tio bom mareante... Ora, um cavaleiro de Malta! (Otba para o retrato com amor.) Nao 6 iss0 0 que me dé maior cuidado, Mas em Lisboa ainda hd peste, ainda nao estao impos 05 ares... E esses outros ares que por af correm destas alteragdes ptiblicas, destas malquerengas entre castelhanos e portugueses! Aquele cariter inflexivel de 208 Manuel de Sousa traz-me num susto continuo. —Vai, vaia Frei Jorge, que diga se sabe alguma coisa, que me assossegue, se puder. Alnscida Garrett op. pp. 80-108, 1, Ao longo da Cena II, s30 referidos varios acontecimentos do passado que permitem a ™ focalizagado temporal da ago de Frei Luls de Sousa. 11.1 Procede ao levantamento desses acontecimentos e preenche 0 quadro que se segue: ‘a a) Antes de 1578 i 28:32) i ic ace 2 678 21264 ©) 1578-1585 0114-124) «) 1585 «i 156-163) ©) 1586 d 23.24;1. 160) ‘15994, 156-163) 1.2 A partir da analise do quadro, refere a importancia da simbologia da conjugagao dos niimeros 3 e 7 enquanto indicios de uma mudanga. = . Maria é uma figura central no didlogo entre D. Madalenae Telmo Pais, 2.1 Procede a sua caracterizagao, fundamentando a tua resposta com elementos textuais, 2.2. Justifica a evolucao de sentimentos de Telmo por Maria. Frei Lufs de Sousa PROFESSOR EducagaoLitertra 1L1 a} Casamento de D. Madatena ‘com D. Jodo de Portugal, b) Bat ‘ha de Aldcer Cairo) Diigéncias de D. Madalena para. encontrar , Jodo, mas Sem qualsquer resulta 1s.) Casamento de 0. Madalena fe de Manuel de Sousa Coutinho, ©) Nascimento de Maria. f) Ano em ‘quedecomeaacio. 112 0. Madatena procurow 0. Joo ‘durante T onos, ests casada com Manwot de Sousa hi 4 anos (x7) Estando o mero 3. associa per {edge ds Ws fases da esti, €0 Taconelussode uneielo,onimeso (anos passodas desde 0 desapares ‘mento de Dodo) completa a trade {e7.ndiando ofechar de urckioe olniciadeoutroaindadesconhecido, 21 Maria de Noronha, filha de 1. Madalens ede Menuet de Sousa, stem trem anos fetoss (23, énobre (+0, Maria &sangue de Viena e de ‘Sousae 89), bondosa (Um anjo ‘como aquele.. uma vieza, un esp tito eentequecoragiolIL26-27, ‘presenta um desenvolvimento pre ccefsea tem erescido de mais, |.2 epsieolonicamente Maria tem tuna. compreensio.»,L 72; «Com preende trios, L730 perspcize, LITE, apesar de ser doente © deb [endo € uma evang multo..mito Forte 53..dalgainha 5, 22 Tela, nciatmente. no acetava avi, porestaserutodocasamento entre. Madalena eManual de Sousa, casamento que ete vi como ura ra «aD. Jo de Portugal, cujamorte Sse recuse a aceite. Como passar dos anos, a formosura © a bordade de aria catnacane no de tal made que considerate Une mais mor doque os sous pris pis 25 Dominicos dominicanos des ds Ondem de 8. Doria ee) 24 Viper: hora de oraga0 que tem lugar passes da ante, 25 Faluas:mbareagdes deve. r- y Unidode 2. ALMEIDA GARRET PROFESSOR 3.0. Modatenarespita Tel como Se este fosse seu familiar € amigo, reconhece a autoridade que, por vezes temsabreelae segue os seus onselhos «como fae Telmo, por suaver.¢dedicad i ialga resp tera. aconsehava,apesar de con sidorar quo nem sempre ela soguiy as sia orientacées, eferindose 20 seusequndo casement, 4, Telmo no acredita na morte de . Jao de Portugal, tal como 0s portugueses que. devo 20 domé ro Filipino, na acitarara oct do ret erenda no seu rogresso para salvar Portugal. Esta associa Bo. desagrada profundamente @ 1. Madea, pois 0 regresso do ri podera signifier © regreso do seu ‘rimeira mario, provocando a sua desonraeadasuafiha S.OsapartesdeTelmodelsamtrans: parecer as divides relatvamente a mortedeD odePortugal prev {ama sua intengao de salvar Naia de uma desgraga que considera int 8A arti da tima fla de (.Madalen, ca sea saber gue sila na pest em Lisboa e ue renee 2 disci entre castelhanas © porte ucses oquepermitelocalzar 39730 anésobniciodapeste erplenodomino fpr Gramatica 1. a) maticador apostive do nome: ») complementa do nore; ¢ com plement oblique Oralidade 112)¥;b) Vie) 0 su trad, 0 cardeaO. Henrique; dF: em vor, V0) F:— via gloria 9) VAY; DF: muitos homens, [a fuge de poucos PF: mas foleceupouco depois: iV. 210 tema domioante & 8 megalo: ‘mania de 0. Seastio conducente & derrotacm Aleer Qui 22 Caracteisticas do discuse: in ‘quagean bjetiva sem lzosde valor: Teglsto de lingua corente; uso de terceica pessoa gramaticl uso pte dominate de rasesdeclaratvas mhudo ‘Primera Aldea Global, ddeMartimPage 3. Explicita a relacao existente entre D. Madalenae Telmo Pais. 4, Demonstra o paralelo estabelecido entre D, Joao de Portugal e D. Sebastiao. 5. Clatifica 0 sentido dos apartes de Telmo. 6. Indica as informagées acerca do tempo historico presentes na ultima fala de D. Madalena, GRAMATICA. 11, Identifica as fung6es sintéticas dos elementos destacados. (oa a a) «{...]jAentéo eras o que hoje és, o escudeito valida [...}» (1.31) ») <[...]um ascendente no espirito de Maria. (Il. 44-45)» ©)

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