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Transcrições dos recursos áudio e vídeo aves, que se criam, e vivem connosco, o papagaio nos fala, o
rouxinol nos canta, o açor nos ajuda, e nos recreia; e até as
grandes aves de rapina encolhendo as unhas reconhecem a
Manual mão de quem recebem o sustento. Os peixes pelo contrário
lá se vivem nos seus mares, e rios, lá se mergulham nos seus
Sequência 1 – Padre António Vieira, «Sermão de Santo pegos, lá se escondem nas suas grutas, e não há nenhum tão
António» grande, que se fie no homem, nem tão pequeno, que não
fuja dele. Os Autores comummente condenam esta condição
Compreensão do oral FAIXA I dos peixes, e a deitam à ouca docilidade, ou demasiada
bruteza; mas eu sou de muito diferente opinião. Não
Exposição sobre um tema (p. 25) condeno, antes louvo muito aos peixes este seu retiro, e me
parece que se não fora natureza era grande prudência.
As virtudes dos peixes no Peixes, quanto mais longe dos homens, tanto melhor: trato,
«Sermão de Santo António» e familiaridade com eles, Deus vos livre. Se os animais da
Capítulo II terra, e do ar querem ser seus familiares, façam-no muito
embora, que com suas pensões o fazem. Cante-lhe aos
(1.o parágrafo) homens o rouxinol, mas na sua gaiola; diga-lhe ditos o
Vindo, pois, irmãos, às vossas virtudes, que são as que papagaio, mas na sua cadeia; vá com eles à caça o açor, mas
só podem dar o verdadeiro louvor; a primeira, que se me nas suas piozes; faça-lhe bufonarias o bugio, mas no seu
oferece aos olhos hoje, é aquela obediência, com que cepo; contente-se o cão de lhe roer um osso, mas levado
chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador, e onde não quer pela trela; preze-se o boi de lhe chamarem
Senhor, e aquela ordem, quietação e atenção, com que formoso, ou fidalgo, mas com o jugo sobre a cerviz, puxando
ouvistes a palavra de Deus da boca de seu servo António. Oh pelo arado, e pelo carro; glorie-se o cavalo de mastigar
grande louvor verdadeiramente para os peixes, e grande freios dourados, mas debaixo da vara, e da espora; e se os
afronta, e confusão para os homens! Os homens tigres, e os leões lhe comem a ração da carne, que não
perseguindo a António, querendo-o lançar da terra, e ainda caçaram no bosque, sejam presos, e encerrados com grades
do mundo, se pudessem, porque lhes repreendia seus vícios, de ferro. E entretanto, vós, peixes, longe dos homens, e fora
porque lhes não queria falar à vontade, e condescender com dessas cortesanias vivereis só convosco, sim, mas como
seus erros; e no mesmo tempo os peixes em inumerável peixe na água. De casa, e das portas adentro tendes o
concurso acudindo à sua voz, atentos, e suspensos às suas exemplo de toda esta verdade; o qual vos quero lembrar,
palavras, escutando com silêncio e com sinais de admiração, porque há Filósofos que dizem que não tendes memória.
e assenso (como se tiveram entendimento) o que não
entendiam. Quem olhasse neste passo para o mar, e para a (3.o parágrafo)
terra, e visse na terra os homens tão furiosos, e obstinados, No tempo de Noé sucedeu o Dilúvio, que cobriu e
e no mar os peixes tão quietos, e tão devotos, que havia de alagou o mundo; e de todos os animais, quais livraram
dizer? Poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham melhor? Dos leões escaparam dois, leão, e leoa, e assim dos
convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em outros animais da terra; das águias escaparam duas, fêmea,
feras. Aos homens deu Deus uso de razão, e não aos peixes; e macho, e assim das outras aves. E dos peixes? Todos
mas neste caso os homens tinham a razão sem o uso, e os escaparam; antes não só escaparam todos, mas ficaram
peixes o uso sem a razão. Muito louvor mereceis, peixes, por muito mais largos que dantes, porque a terra, e o mar tudo
este respeito, e devoção, que tivestes aos Pregadores da era mar. Pois se morreram naquele universal castigo todos
palavra de Deus; e tanto mais quanto não foi só esta a vez, os animais da terra, e todas as aves, porque não morreram
em que assim o fizestes. Ia Jonas, Pregador do mesmo Deus, também os peixes? Sabeis porquê? Diz Santo Ambrósio:
embarcado em um navio, quando se levantou aquela grande porque os outros animais, como mais domésticos, ou mais
tempestade; e como o trataram os homens, como o vizinhos, tinham mais comunicação com os homens; os
trataram os peixes? Os homens lançaram-no ao mar a ser peixes viviam longe, e retirados deles. Facilmente pudera
comido dos peixes, e o peixe, que o comeu, levou-o às praias Deus fazer que as águas fossem venenosas, e matassem
de Nínive, para que lá pregasse, e salvasse aqueles homens. todos os peixes, assim como afogaram todos os outros
É possível que os peixes ajudam à salvação dos homens, e os animais. Bem o experimentais na força daquelas ervas, com
homens lançam ao mar os ministros da salvação? Vede, que inficionados os poços, e lagos, a mesma água vos mata;
peixes, e não vos venha vanglória, quanto melhores sois que mas como o Dilúvio era um castigo universal, que Deus dava
os homens. Os homens tiveram entranhas para deitar Jonas aos homens por seus pecados, e ao mundo pelos pecados
ao mar, e o peixe recolheu nas entranhas a Jonas, para o dos homens, foi altíssima providência da divina Justiça que
levar vivo à terra. nele houvesse esta diversidade, ou distinção; para que o
mesmo mundo visse que da companhia dos homens lhe
(2.o parágrafo) viera todo o mal: e que por isso os animais, que viviam mais
Mas porque nestas duas ações teve maior parte a perto deles, foram também castigados, e os que andavam
Omnipotência que a natureza (…), passo às virtudes naturais, longe ficaram livres. Vede, peixes, quão grande bem é estar
e próprias vossas. Falando dos peixes Aristóteles diz que só longe dos homens! (…)
eles entre todos os animais se não domam nem
domesticam. Dos animais terrestres o cão é tão doméstico, o
cavalo tão sujeito, o boi tão serviçal, o bugio tão amigo, ou Padre António Vieira, «Sermão de Santo António»,
tão lisonjeiro, e até os leões, e os tigres com arte, e in Obra Completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate),
benefícios se amansam. Dos animais do ar afora aquelas tomo II, volume X, Lisboa, Cicrculo de Leitores, 2014, pp. 140-143
Transcrições
nossa sociedade continua a exercer bastantes injustiças para Senso-ji, o mais antigo da cidade e onde acorrem os
com o sexo feminino. Não basta que a lei consagre a japoneses em dias festivos em busca de bons auspícios, e o
igualdade, é necessário educar a sociedade para essa de Meiji-Jingu, palco de casamentos e onde se reúnem três
igualdade. Este será, certamente, outro longo caminho a milhões de pessoas para rezar no dia de Ano Novo.
percorrer pelas mulheres. http://fugas.publico.pt/Viagens/
www.democracia-aberta.pt/ (texto adaptado, consultado em 15.09.2015)
(texto adaptado, consultado em 11.08.2015)
Exposição sobre um tema (p. 319) FAIXA 19 TESTE DE COMPREENSÃO DO ORAL Nº 1 – Sequência 1
Cidades que se recusam a dormir Padre António Vieira, «Sermão de Santo António»
(…)
Tóquio Discurso político (p. 234)
Cai a noite, brilha o néon em Tóquio e uma estranha
metamorfose apodera-se da cidade imensa. Discurso de vitória de Barack Obama no dia 4 de
novembro de 2008 no Parque Grande de Chicago, após ter
– Quando passeio por Tóquio, sinto que acabo de chegar vencido as eleições ao seu concorrente John McCain.
a um outro planeta, um sentimento que se exacerba quando
a noite chega – muita iluminação, muito barulho, muito Primeira parte (desde o início até ao 0:49 segundos)
movimento, admite Mika Ono. (…)
Os estabelecimentos comerciais, em plena atividade, O caminho que nos espera é longo. A nossa subida
rugem de vida, as persianas dos escritórios são fechadas e as difícil. Podemos não chegar lá num ano, ou mesmo num
bocas do metro engolem homens, mulheres e crianças. mandato. Mas, América, nunca tive tanta esperança como a
Alguns homens de negócios acabaram as suas reuniões que tenho hoje de que chegaremos lá.
tardias, vivem a uma centena de quilómetros de Tóquio e às Prometo-vos, que como pessoas chegaremos lá.
oito da manhã já estão de novo a trabalhar — metem as Teremos contrariedades e falsas partidas. Haverá muitos
suas gravatas no bolso e dormem num hotel-cápsula. que não irão concordar com cada decisão que tome como
– Gosto de apreciar o contraste entre jovens divertidos, presidente. E sabemos que o governo não é capaz de
com tantas opções, seja para compras ou lazer, e homens de resolver todos os problemas.
fato e gravata, cansados e transportando o peso de uma Mas serei sempre honesto convosco em relação aos
vida escravizada. Muitos deles acabaram de se formar, sem desafios que enfrentamos. Vou ouvir-vos, em especial
direito a férias no primeiro ano e permanecem até altas quando discordarmos. E, acima de tudo, vou pedir-vos para
horas da noite fechados em escritórios. De um lado a que se juntem a mim no trabalho de reconstrução desta
liberdade, do outro, o oposto, ressalva ainda a tradutora. nação, da única forma que sempre foi feito na América nos
Na capital nipónica pouco ou nada resta de antigo — últimos 221 anos – bloco a bloco, mão calosa em mão
durante o século XX foi destruída duas vezes, primeiro pelo calosa.
grande terramoto de 1923 e, anos mais tarde, pelos
bombardeamentos da II Guerra Mundial. A melhor maneira Segunda parte (desde 0:50 segundos a 4:25 minutos)
de viajar em Tóquio é de metro, complicado no início, rápido O que começou há 21 meses no inverno não pode
e eficaz quando se percebe a sua dinâmica de terminar nesta noite de outono.
funcionamento, de preferência acompanhado de um mapa
com caracteres latinos. Não é esta vitória a mudança que pretendemos. É a
única forma de começarmos a mudança. E isso não pode
– O transporte é diversificado e eficiente, cada estação acontecer se voltarmos a ser como éramos.
de metro ou de comboio tem lugares para todos os gostos.
Nem Londres, nem Paris, nem Nova Iorque — nenhuma Não acontece sem vós, sem o novo espírito de serviço, o
delas vive num ritmo tão frenético como Tóquio. E, ao novo espírito de sacrifício.
mesmo tempo, no meio de tanta modernização, existem Vamos unir-nos num novo espírito de patriotismo, de
lugares históricos, templos budistas ou sintoístas, tão responsabilidade, em que cada um de nós resolve participar
impregnados de silêncio e capazes de transmitir uma e trabalhar mais e olhar não só por nós mesmo mas também
energia positiva. Tóquio, uma cidade muito segura, também pelos outros.
vive de contrastes, entre o modernismo e o tradicional, e a
Não nos esqueçamos que se a crise financeira nos
convivência é perfeita, observa a japonesa.
ensinou alguma coisa foi que não podemos ter uma Wall
A despeito das destruições no século passado, ainda se Street florescente enquanto que os outros sofrem.
encontram interessantes vestígios da deslumbrante Edo, a
Neste país, levantamo-nos e caímos como uma nação
antiga povoação sobre a qual se ergue Tóquio. O bairro mais
só, como um povo.
antigo e onde ainda se respira o espírito de tempos de
antanho é o Asakusa, com as suas casas térreas, o templo
Resistamos à tentação de voltar a cair no mesmo
sectarismo, na mesma mesquinhez e imaturidade que
envenenou a nossa política durante tanto tempo.
Relembremos que foi um homem deste Estado que, pela Quarta parte (desde 6:45 a 7:54 minutos)
primeira vez, carregou a bandeira do Partido Republicano
até à Casa Branca, um partido que teve por base a autocon- América, chegamos até aqui. Já vimos muito. Mas ainda
fiança, a liberdade individual e a unidade nacional. há muito para fazer. Por isso, esta noite, perguntemos a nós
mesmos: se as nossas crianças viverem para chegar ao
Esses são os valores que todos partilhamos. E apesar do próximo século; se as nossas filhas tiverem a sorte de viver
Partido Democrata ter conquistado uma grande vitória esta tanto como Ann Nixon Cooper, que mudanças vão poder
noite, fazemo-lo com a humildade e a determinação de sarar ver? Que progressos teremos feito?
o que nos divide e que impediu o nosso progresso.
Esta é a nossa oportunidade de responder a essa
Como Lincoln disse a uma nação muito mais dividida do questão. Este é o nosso momento.
que a nossa, «não somos inimigos», mas sim amigos. Apesar
da paixão nos levar a exageros, não deve quebrar os nossos Este é o nosso tempo, de voltar a dar trabalho à nossa
laços afetuosos. gente, de abrir as portas da oportunidade aos nossos filhos;
de restaurar a prosperidade e promover a paz; de reclamar o
E àqueles americanos, cujo apoio ainda tenho de sonho americano e de reafirmar a verdade fundamental de
conquistar, posso não ter ganho o vosso voto esta noite, que, no meio de muitos, somos um; que enquanto
mas ouço a vossa voz. Preciso da vossa ajuda. E serei, respiramos, mantemos a esperança. E aqui estamos nós,
também, o vosso presidente. frente a frente com o cinismo e as dúvidas daqueles que nos
E para todos os que têm os olhos postos em nós esta dizem que não somos capazes, e a quem respondemos com
noite, para além das nossas costas, dos parlamentos aos o credo intemporal que representa o espírito de um povo:
palácios, para aqueles que se juntaram à volta de rádios nos Sim, somos capazes.
cantos mais esquecidos do mundo, as nossas histórias são Obrigado. Deus vos abençoe. E que Deus abençoe os
diferentes mas o nosso destino é partilhado, e uma nova Estados Unidos da América.
aurora se levanta na liderança americana.
http://maioresdiscursos.blogspot.pt/
Para aqueles que querem destruir o mundo: nós vamos (consultado em 10.01.2016)
destruir-vos. Para os que querem paz e segurança: nós
apoiamos-vos. E para aqueles que se interrogam sobre se a TESTE DE COMPREENSÃO DO ORAL Nº 2 – Sequência 2
luz de liderança da América continua viva: esta noite
provamos, mais uma vez, que a força da nossa nação não Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa
vem do nosso poder militar ou da escala da nossa riqueza,
mas do enorme poder dos nossos ideais: democracia, Exposição sobre um tema (p. 236)
liberdade, oportunidade e esperança.
Essa é a verdadeira genialidade da América: a sua Mitos sobre o amor romântico
capacidade de mudança. A nossa união pode ser perfeita. O
que conseguimos hoje dá-nos ainda mais esperança em Primeira parte
relação ao que podemos conseguir amanhã. Das lendas arturianas aos filmes de Hollywood, o mito
do amor romântico – perfeito, eterno, fiel, trágico,
Terceira parte (desde 4:25 a 6:45 minutos) irracional... – atravessa o imaginário coletivo do mundo
Esta eleição tinha muitas estreias e muitas histórias que ocidental. Esta idealização explica o fracasso de muitas
serão contadas ao longo de gerações. Mas uma que está na relações, nas quais se procura uma paixão impossível.
nossa mente hoje é sobre uma mulher que votou em
Atlanta. Ela assemelha-se a muitos milhões que estiveram na Segunda parte
fila para fazer ouvir a sua voz nesta eleição por uma razão: Estudos recentes, efetuados para promover sites de
Ann Nixon Cooper tem 106 anos. encontros na internet, confirmam que o mito do amor
Ela nasceu na geração da escravatura; num tempo em romântico se encontra bem enraizado. No entanto,
que não havia carros na estrada, aviões no céu; quando devíamos fazer, primeiro, uma pergunta elementar: trata-se
alguém como ela não podia votar por duas razões: porque de uma emoção? Para quem estuda essa manifestação da
era mulher e por causa da cor da sua pele. psique humana, não. O grande pioneiro na investigação do
tema foi Paul Ekman, considerado um dos 100 psicólogos
E, esta noite, penso em tudo o que viu no centenário de mais influentes do século XX. Em 1999, apresentou uma lista
vida na América – o desespero e a esperança; a luta e o elementar de emoções baseada em estudos interculturais
progresso; as vezes em que nos disseram que não éramos que desenvolvera na Papuásia–Nova Guiné: não incluía o
capazes e aqueles que mantiveram a sua capacidade de nosso protagonista. Os motivos para a clamorosa exclusão
dizer: Sim, somos capazes. são diversos: que o amor é uma mistura de outras emoções,
E este ano, nesta eleição, ela tocou com o dedo no ecrã como a alegria, a ansiedade e os ciúmes; que se trata mais
e fez o seu voto, porque depois de 106 anos na América, de um sentimento ou uma atitude; que, ao contrário da
depois dos melhores tempos, dos mais obscuros, ela sabe tristeza, da felicidade e da irritabilidade, não pode produzir-
que a América pode mudar. se sem a intervenção de um objeto.
Sim, somos capazes.
Terceira parte
Transcrições
Nessa senda de desenvolvimento, em que o caminho de Nas primeiras décadas do século XX surgem assim as
ferro era o veículo privilegiado, até os lugarejos mais ermos associações femininas e feministas que agregam mulheres
da nação, onde nunca haviam chegado estradas de jeito, de todos os estratos sociais: escritoras, professoras,
passaram a ser visitados por carruagens apinhadas de gente médicas, advogadas, comerciantes, industriais, costureiras,
e mercadorias. Lugares recônditos, de cuja existência apenas domésticas... As mulheres republicanas fundam, em 1907, o
se sabia porque constavam dos mapas, passaram a estar «Grupo de Estudos Feministas», em 1909, «A Liga
unidos ao resto do mundo. Republicana das Mulheres Portuguesas», em 1911, a
«Associação de Propaganda Feminista», em 1914, o
Com o apito do comboio a fazer-se ouvir nos mais «Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas», em 1915, a
longínquos recantos da «pequena casa lusitana», Portugal «Associação Feminina de Propaganda Democrática» e, em
nunca mais voltaria a ser o mesmo. 1916, a «Cruzada das Mulheres Portuguesas».
Superinteressante, nº 160, agosto de 2011.
A aliança entre os dirigentes do partido republicano e as
http://www.superinteressante.pt/
(texto adaptado, consultado em 19.01.2015) mulheres republicanas foi reforçada com a iniciação de
muitas delas na maçonaria e a militância ativa na «Loja
Humanidade», agremiação feminina com igualdade de
TESTE DE COMPREENSÃO DO ORAL Nº 4 – Sequência 4 direitos e representação junto das hierarquias maçónicas.
Naquela época, maçonaria feminina, República e feminismo
Camilo Castelo Branco, Amor de perdição eram expressões do mesmo ideal e espaços de intervenção
na conquista da liberdade, da igualdade e do direito de
Exposição sobre um tema (p. 240) FAIXA 3 cidadania.
Natividade Monteiro, professora e investigadora e Faces
As origens da emancipação feminina de Eva-Cesnova e do CEMRI – Universidade Aberta,
in http://www.aph.pt/ex_assPropFeminina4.php
em Portugal
(consultado em 10.08.2015)
Embora lentamente, muitas mulheres instruídas viram
na escrita e no ensino uma forma de escaparem ao silêncio e
à invisibilidade que, desde há muito, a sociedade impunha TESTE DE COMPREENSÃO DO ORAL Nº 6 – Sequência 7
ao sexo feminino. Ao longo do século XIX, estas mulheres
fazem da imprensa periódica a sua tribuna, exprimindo Cesário Verde, Cânticos do Realismo
ideias, debatendo problemas e propondo soluções. É através (O Livro de Cesário Verde)
da escrita que se afirmam como seres independentes, que
se pretendem livres de qualquer tutela, e reclamam o lugar Exposição sobre um tema (p. 244) FAIXA 4
a que se julgam com direito.
Se na primeira metade do século muitas se escondem O Portugal de Cesário
sob o anonimato, na segunda metade assumem sem Em 1886, Portugal era um país predominantemente
preconceitos as suas identidades e aventuram-se na rural. Fora de Lisboa e do Porto, não havia verdadeiramente
fundação e direção de revistas e jornais e na propagação das cidades. A maior parte da população – oito em cada dez
ideias emancipadoras do direito à educação e ao exercício portugueses – vivia no campo, trabalhando uma terra pouco
de uma profissão, a fim de se tornarem economicamente fértil mal distribuída. A norte do Mondego predominava a
autónomas. Em 1849, surge A assembleia literária, o pequena propriedade, cultivada por camponeses e rendeiros
primeiro jornal fundado e dirigido por uma mulher, Antónia pobres; a sul, o latifúndio.
Gertrudes Pusich, consagrado à instrução do sexo feminino.
Ao contrário do que sucedia nalguns países europeus, a
Nos anos que se seguem, entre os periódicos femininos
maioria dos senhores residia nas cidades, administrando as
destinados a entreter a preguiça e a frivolidade, aparece
suas terras por intermédio de feitores; só um punhado de
outros apostados na defesa dos direitos das mulheres e na
proprietários rurais se interessava o suficiente pelas suas
mudança de mentalidades e comportamentos sociais.
explorações para aí tentar introduzir as inovações que sabia
Francisca Wood funda A voz feminina, em 1868, e O
estarem a ser utilizadas no estrangeiro. Mas, num país que
progresso, em 1869; Guiomar Torrezão toma a direção d'O
Transcrições
dispunha de uma mão de obra barata inesgotável, como O caráter fortemente voluntarista do herói [romântico]
Portugal, a mecanização raramente foi um êxito. Apesar de, projeta-se inevitavelmente na ação. E o herói é-o tanto mais
em 1843, na Granja Real de Mafra, terem sido exibidas quanto mais insubmisso for, portanto, quanto mais em luta,
várias máquinas agrícolas, quarenta anos mais tarde o seu em oposição se constituir.
número era extremamente reduzido. Dos três produtos
cultivados em grande escala, o trigo, a vinha e o arroz, só Não é difícil constatar este facto, por exemplo, n’ «A
com o primeiro era possível utilizá-las. Assim, a maioria dos morte do lidador», n’ «O castelo de Faria ou n’ «A abóbada».
trabalhos agrícolas continuou a ser feita por trabalhadores Nos três textos, de facto, os heróis afirmam-se pela sua
rurais, camponeses ou assalariados, com os métodos que os vontade, pela sua não submissão a regras, convencionais e
seus pais e avós usavam há séculos. até mesmo físicas, que condicionariam «toda a gente». O
Nas cidades, a Civilização penetrou mais facilmente. lidador e o alcaide do castelo de Faria afirmam a sua
Depois das tempestades da primeira metade do século, vontade para lá da própria morte, que ambos escolhem e
Portugal atravessou um período calmo, durante o qual um procuram; Afonso Domingues ergue-se contra a cegueira, a
grupo de políticos enérgicos se entregou à exaltante tarefa velhice e o «lugar sensato» a que a burocracia do Conselho
de modernizar o país. Durante alguns anos, a realidade do rei o queria limitar. Talvez por isso mesmo possamos
correspondeu às expectativas. A indústria desenvolveu-se: dizer que a questão se põe, em termos alternativos, como
Lisboa especializou-se na estamparia de tecidos e na submissão ou capacidade de transcendência em relação às
metalurgia; o Porto, na fiação e tecelagem de algodão. limitações impostas pelo exterior – interessa, pois, o modo
Apesar do esforço do Fontismo, no que diz respeito a vias de como a personagem se posiciona enquanto demonstração
comunicação, o mercado interno estava longe de se da sua capacidade de «ultrapassar» barreiras, e a
encontrar unificado. Em muitas aldeias, os camponeses possibilidade de se afirmar qualitativamente não submisso à
continuavam a comer o que produziam e a vestir o que o ordem social (Afonso Domingues não teme a ordem
artesanato local lhes fornecia, como sempre haviam feito. representada pelo rei), capaz justamente de representar a
criação de novos limites. Por outras palavras, o herói é
No litoral, as fábricas produziam alguns bens de condição de um progresso evolutivo. O indivíduo
consumo simples, tecidos, pás e enxadas, tabaco, papel e verdadeiramente digno deste nome é pois o que não se
rolhas. Apenas se exportavam conservas de peixe e de deixa submeter pela sociedade organizada, mas a cria e a
cortiça. transforma, ultrapassando os limites que ela lhe apresenta.
Entre 1850 e 1880, a indústria crescera vagarosamente, É então, por definição, um marginal, um proscrito.
mas crescera: em 1850, o total de cavalos-vapor existentes Não deixa de ter importância sublinhar, neste contexto,
era de 938; em 1880 subira para 7000. No têxtil, cortiças e a inevitabilidade da afirmação pública da ação individual;
tabacos existiam agora fábricas com mais de 500 operários. não há, não pode haver, com efeito, oposição de base entre
Infelizmente, Portugal estava suficientemente perto da o «ato pessoal» do herói e a incidência pública que ele,
Europa para que os progressos destes países afinal, acaba por representar – a sua vontade é uma vontade
ensombrecessem o que aqui se passava. Em 1881, um de grupo ou, melhor, a «vontade da nação». O seu ato é
membro da comissão do Inquérito Industrial que o Governo afinal sempre público, porque deriva de uma compreensão
mandou efetuar escrevia desencantadamente: «Levam-nos globalizante pela qual o indivíduo se torna, mais até do que
um grande avanço as nações industriais, tocaram quase a o representante, o símbolo do próprio sentimento e do
meta, quando nós principiámos ainda a caminhar», e próprio ser nacional. Por isso, Afonso Domingues «é» o
acrescentava «Esforços e energias de que valem, se os mosteiro, e o mosteiro «é» a vitória da identidade da nação.
passos que nós damos para diante são sempre fartamente Por isso, o lidador e o alcaide fundam nas suas mortes
compensados por outros mais largos e mais rápidos que eles (voluntárias e sacrificiais, como a de Afonso Domingues) as
dão no mesmo sentido?». raízes da sobrevivência nacional, contra o invasor, árabe ou
castelhano.
Na agricultura, as coisas não tinham corrido mal. O
Minho exportava quantidades razoáveis de vinho e de gado O herói herculaniano torna-se, por necessidade dos
para os ricos mercados europeus; o Sul, laranjas, maçãs, pressupostos que o constituem, o que (se) exibe enquanto
figos, azeite e amêndoas. Mas em meados de 1880, Portugal tal, e se afirma por meio dessa exibição – de onde a
começou a ter rivais temíveis nos mercados europeus. A fundamental incidência do estatuto público dos seus atos.
exportação de gado ressentiu-se imediatamente, sofrendo o E, afinal, que maior dimensão pública do que a
Minho uma severa recessão: nos «leilões dos estrangeiros», dimensão nacional, que é como quem diz, sob certos
o concorrente consegue vencer-nos «por uma cotação que aspetos, universal?
nos desvia». O modelo fontista entrava em crise.
Helena Carvalhão Buescu, (apresentação crítica, seleção, notas
Maria Filomena Mónica, in Revista Prelo, nº 12, 1986 e linhas de leitura) in Lendas e narrativas de Alexandre Herculano,
Lisboa, Editorial Comunicação, 1987, pp. 31-32
Alexandre Herculano, «A Abóbada»
Compreensão do oral
O herói romântico