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  BIGAMIA
Art. 235. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento
Pena – reclusão, de 2(dois) a 6(seis) anos.
§ 1º Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é
punido com reclusão ou detenção, de 1 (um) a 3(três) anos.
§ 2º Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se
inexistente o crime.

 
Conceito de bigamia: É a situação da pessoa que possui dois cônjuges.
Entretanto, no contexto dos crimes contra o casamento, quer espelhar a hipótese do sujeito que se casa mais de
uma vez, não importando quantas.

 
Assim, quem se casa por quatro vezes, por exemplo, é considerado bígamo, embora seja autêntico polígamo.

 
Fundamento constitucional: De acordo com o art. 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado”. § 1º O casamento é civil, e gratuita, a celebração. § 2º. O casamento religioso tem efeito civil, nos termos
da lei.

 
Objeto jurídico: Protege-se a instituição do casamento e a organização familiar que dele decorre, estrutura
fundamental do Estado, que são colocados em risco com as novas núpcias.

 
Sujeito ativo: Crime de concurso necessário. Sujeito ativo é o homem ou a mulher que contrai novas núpcias. É
admissível a participação (auxílio, instigação, induzimento).

 
Sujeito passivo: É o Estado e o cônjuge do primeiro casamento.

 
Elemento subjetivo: É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de contrair novo matrimônio enquanto
vige o primeiro. Se o agente não estiver ciente da existência do impedimento para contrair o casamento, haverá
erro de tipo (CP, art. 20), o qual exclui o dolo e, portanto, o crime.

 
Consumação: Estamos diante de um crime instantâneo de efeitos permanentes. Dá-se a consumação no momento
em que o segundo casamento é celebrado, ou seja, com o consentimento formal dos nubentes. A lavratura do
assento no livro de registro (CC, art. 1.536) constitui mera formalidade legal, a qual serve como meio de prova da
celebração do matrimônio.

 
Tentativa: até a consumação, os atos são preparatórios, como o processo de habilitação, ou executivos, os quais
se iniciam com o ato de celebração. Nesse sentido: E. Magalhães Noronha.

 
Prescrição da pretensão punitiva: Vide art. 111, IV, do CP. STJ: “Criminal. Bigamia. Prescrição pela pena em
concreto. Data inicial do prazo. Jurisprudência assentada sobre que o prazo começa a correr a partir da notitia
criminis levada ao conhecimento das autoridades públicas” (STJ, RHC 7206/RJ, 5ª T., Rel. Min. José Dantas, j.
28-4-1998, DJ 25-5-1998, p. 124).

 
Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais: Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada, que
independe de representação da vítima ou de seu representante legal. O § 1º do art. 235, em face da pena mínima
cominada (detenção, de 1 a 3 anos), admite a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei n. 9.099/95).

 
 
è    Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento.

 
Art. 236. Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que
não seja casamento anterior:

 
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente
enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou
impedimento, anule o casamento.

 
Objeto jurídico: Tutela-se mais uma vez a regular organização da família.

 
Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo desse delito. Nada impede que ambos os contraentes o
pratiquem; basta que um engane o outro simultaneamente.

 
Sujeito passivo: É o Estado, bem como o outro contraente que esteja de boa-fé, ou seja, desconheça o erro
essencial sobre a pessoa do cônjuge ou qualquer impedimento à celebração do casamento.

 
Elemento subjetivo: É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de contrair matrimônio induzindo o
outro contraente em erro essencial ou lhe ocultando impedimento.

 
Deve-se utilizar o disposto no art. 1.557 do Código Civil, que preceitua tratar-se de erro essencial sobre a pessoa
do outro cônjuge os seguintes casos:

•       “I – o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento
ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;

•       II – a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
•       III – a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e
transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;

•       IV – a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a
vida em comum ao cônjuge enganado”.
 
Consumação: Dá-se a consumação no momento da celebração do casamento.

 
Tentativa: de acordo com a doutrina, é juridicamente inadmissível.

 
Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais: É de crime de ação penal privada de iniciativa exclusiva do
contraente enganado (é a chamada ação personalíssima). Em face da pena máxima cominada (detenção, de 6
meses a 2 anos), trata-se de infração de menor potencial ofensivo, sujeita ao procedimento sumaríssimo da Lei n.
9.099/95.

 
•       no entanto, a figura é defasada e antiquada, merecendo a devida abolição.
•       Deve-se concentrar a resolução do problema na esfera cível, pois o Direito Penal, de acordo com o princípio
da intervenção mínima, é a ultima ratio, não servindo como opção para esse tipo de ilícito.

 
 
è    Conhecimento prévio de impedimento.

 
Art. 237. Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

 
Objeto jurídico: Tutela-se mais uma vez a regular organização da família.

 
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.

 
Sujeito passivo: É o Estado, bem como o outro contraente de boa-fé, isto é, desde que desconheça o impedimento.

 
Elemento subjetivo: É o dolo direto, consubstanciado na vontade livre e consciente de contrair casamento,
conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade. Não se admite o dolo eventual. No caso de erro
quanto à existência de impedimento, haverá erro de tipo, o qual exclui o dolo e, portanto, o crime (CP, art. 20).

 
Consumação e tentativa: Trata-se de crime instantâneo e efeitos permanentes. Consuma-se no momento em que
o segundo casamento é celebrado, ou seja, com o consentimento formal dos nubentes. Quanto à tentativa, vide
comentários ao crime de bigamia.

 
•     Impedimento que lhe cause a nulidade absoluta: Trata-se de norma penal em branco, que deve ser
complementada pelo art. 1.521, I a VII, c/c o art. 1.548, II, do Código Civil.
 
Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais: É crime de ação penal pública incondicionada. procedimento
sumaríssimo da Lei n. 9.099/95. É cabível a suspensão condicional do processo (art.89 da lei), em virtude da pena
mínima prevista.

 
è    Simulação de autoridade para celebração de casamento.

 
Art. 238. Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento:
Pena – detenção, de 1(um) a 3(três) anos, se o fato não constitui crime mais grave.

 
Objeto jurídico: Tutela-se o matrimônio, a proteção da disciplina jurídica do casamento.

 
Sujeito ativo: É o particular. Também pode sê-lo o funcionário público que não tenha atribuição para celebrar
casamento. É possível a participação.

 
Sujeito passivo: É o Estado, bem como os cônjuges de boa-fé.

 
Elemento subjetivo: Consubstancia-se no dolo, isto é, na vontade livre e consciente de atribuir-se falsamente
autoridade para a celebração de casamento. O erro quanto a tal circunstância exclui o dolo e, portanto, o crime em
questão (CP, art. 20).

 
Consumação e tentativa: Por se tratar de crime formal, consuma-se com o ato de o agente atribuir-se falsa
autoridade, independentemente da efetiva realização do casamento. A tentativa é possivvel.

 
Distinção: O crime em estudo é uma forma específica do delito de usurpação de função pública (CP, art. 328). É
de natureza subsidiária, somente incidindo se o fato não constituir delito mais grave. Assim, se for praticado com
vista à obtenção de vantagem, a figura penal incidente será a do art. 328 do Código Penal, cuja pena prevista é de
reclusão de 2 a 5 anos, portanto mais grave.

 
Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais: A ação penal é pública incondicionada. Incide o instituto da
suspensão condicional do processo previsto no art. 89 da Lei n. 9.099/95, em face da pena mínima cominada
(detenção, de 1 a 3 anos).

 
 
è    Simulação de casamento

 
Art. 239. Simular casamento mediante engano de outra pessoa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.

 
Objeto jurídico: Tutela-se mais uma vez o matrimônio.

 
Sujeito ativo: Para Romão C. Lacerda, somente um dos contraentes ou ambos podem ser autores do delito em
estudo. Para Noronha, não só os nubentes podem ser sujeitos ativos do crime, por exemplo, o magistrado e o
oficial do Registro Civil.

 
Sujeito passivo: É o Estado, bem como o cônjuge ou os cônjuges enganados.

 
Elemento subjetivo: É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de praticar a conduta típica. Por se tratar
de crime subsidiário, se a finalidade do agente for a de obter fraudulentamente a posse sexual da mulher, o crime
poderá ser outro (CP, art. 215).

 
Consumação e tentativa: Consuma-se com a simulação da celebração do casamento. A tentativa é admissível.

 
Ação penal. Lei dos Juizados Especiais Criminais: Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada. Tendo
em vista a pena mínima prevista, detenção de um ano, é cabível a suspensão condicional do processo (art. 89 da
Lei n. 9.099/95).

 
è    Adultério

 
Art. 240. (Revogado pela Lei n. 11.106/2005)

 
è    Revogação: A Lei n. 11.106, de 28-3-2005, cuidou de revogar o art. 240 do Código Penal, retirando-o do
ordenamento jurídico. Operou-se verdadeira abolitio criminis, dado que o fato passou a ser considerado atípico.
Como o comportamento deixou de constituir infração penal, o Estado perde a pretensão de impor ao agente
qualquer pena, razão pela qual se opera a extinção da punibilidade, nos termos do art. 107, III, do Código Penal. O
adultério, dessa forma, a partir do advento da Lei n. 11.106/2005, passou a gerar efeitos apenas na esfera cível,
sendo uma das causas que justifica a separação judicial, não surtindo mais qualquer efeito na esfera penal. Sobre
separação judicial, vide a Emenda Constitucional n. 66/2010, que alterou a redação do art. 226, § 6º, e passou a
dispor que “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”, não fazendo, portanto, mais qualquer menção
aos requisitos da prévia separação judicial por mais de um ano ou a comprovada separação de fato por mais de
dois anos.

 
 
è    REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE

 
Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.

 
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.

 
Sujeito passivo: É o Estado. Secundariamente, a pessoa prejudicada pelo registro inexistente.

 
Objeto jurídico: É o estado de filiação.

 
Objeto material: É o registro civil realizado.

 
Promover: É gerar ou dar origem.

 
Obs: O objeto é a inscrição no registro civil de nascimento não ocorrido. A pena é de reclusão, de dois a seis anos.

 
Elemento subjetivo do crime: É o dolo.

 
Tentativa: É admissível.

 
Momento consumativo: Quando a inscrição realizar-se.

 
Particularidade: A prescrição somente começa a correr após o fato ter-se tornado conhecido (art. 111, IV, CP).

 
 
è    PARTO SUPOSTO

 
•       Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou
substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos. 

 
•       Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: 
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena.

 
Sujeito ativo: Só a mulher na primeira figura e qualquer pessoa nas outras.
 
Sujeito passivo: É o Estado. Secundariamente, a pessoa prejudicada pela situação irregular criada.

 
Objeto jurídico: É o estado de filiação.

 
Objeto material: Pode ser o recém-nascido ou o registro realizado.

 
Dar: É considerar ou atribuir.
Registrar: É lançar em livro ou consignar.
Ocultar: É encobrir ou esconder.
Substituir: É tomar o lugar de algo ou alguém.
Suprimir: É eliminar ou fazer desaparecer

 
O objeto protegido é o estado de filiação.

 
Trata-se de tipo misto cumulativo e alternativo.

 São previstas três condutas diferenciadas, embora, entre elas, exista alternatividade:
 
•       a) dar parto alheio como próprio;
•       b) registrar como seu o filho de outrem;
•       c) ocultar ou substituir recém-nascido.
 
 
Elemento subjetivo do crime: É o dolo.

 
Tentativa: É admissível.

 
Momento consumativo: Quando qualquer das condutas for praticada, alterando o estado de filiação.

 
 
•       Lembremos que há duas opções fixadas pelo legislador ao juiz, quando houver motivo de reconhecida
nobreza: aplicar o privilégio (pena de detenção, de um a dois anos) ou o perdão judicial (extinção da
punibilidade), razão pela qual pode ele valer-se dos fatores pessoais do agente para essa avaliação.

 
 
è    Sonegação do estado de filiação

 
Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a
filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil:

•       Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.


 
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado.  Secundariamente, a pessoa prejudicada pela situação irregular criada.

 
Objeto jurídico: É o estado de filiação.

 
Objeto material: É a criança abandonada.

 
Deixar: É largar ou abandonar.
Asilo de expostos: São os orfanatos ou outra instituição de assistência.
Ocultando-lhe: É escondendo a filiação.
Atribuindo-lhe: É imputando ou conferindo outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil.

 
Elemento subjetivo do crime: É o dolo.

 
Classificação: Comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; unissubjetivo; plurissubsistente.

 
Tentativa: É admissível.

 
Momento consumativo: Quando ocorrer o abandono.

 
 
 
 
 
 
 
 Situação problema,
 
Pedrinho e Ana, são casados há 18 anos, dessa união nasceu Penina e Damiana, com idades de 15 e 17anos,
respectivamente. Ana, trabalha no salão de beleza – Beauty, e descobriu que sua colega de trabalho estava
gestante, e que iria abortar, pois havia sido abandonada pelo namorado, e já tinha 4filhos de outros
relacionamentos.
Ana, compadecida pela situação enfrentada pela amiga, se prontificou a ajudar, inclusive, evitou que sua Amiga
Paulete, consuma-se o aborto. Os dias passaram e Ana, então, resolveu pedir a Paulete o menor que acabara de
nascer.
Pois Paulete havia confidenciado a Ana, que assim que a criança viesse ao mundo, a deixaria na maternidade ou
em casa pra adoção. Paulete, consentiu e ainda no hospital, entregou o infante para Ana e Pedrinho.
Ana e Pedrinho, registraram o menor como filho legitimo, e assim cuidou e zelou do menor até os 3anos de idade,
quando Paulete, apareceu juntamente com Caio o pai biológico do menor para busca~lo.
Nessa situação hipotética, qual tipos penais podemos identificar? Qual solução mais pertinente ao caso? Justifique
sua resposta

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