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FATOS E ATOS PROCESSUAIS

Introdução

O processo inclui uma série de atos, que se encadeiam de forma lógica,


visando chegar, ao final, à prestação da jurisdição. No entanto, apenas os atos
humanos, praticados dentro do processo, são considerados atos processuais.

Os fatos processuais, por outro lado, são eventos naturais, que não
dependem da atuação humana, mas também têm repercussão ou relevância no
processo. Um exemplo é a morte de um dos litigantes, um fato processual de
grande importância, que pode, inclusive, provocar a extinção do processo.

O mesmo acontece com um desastre natural, como uma inundação, que


cause a destruição dos autos.

Algumas condutas humanas, sem relação direta com o processo, mas que
repercutem nele, são consideradas fatos processuais. Um exemplo seria uma
greve geral que viesse a provocar a paralisação dos serviços forenses.

Em relação aos atos processuais, esses deverão ser praticados nos termos
definidos pela lei, que prevê todo procedimento a ser realizado e a forma que
deve observar.

O processo é público e, por isso, em regra, não há espaço para o juiz ou


as partes disporem, da maneira que lhes for conveniente, sobre a sequência ou
forma dos atos processuais. Mas o NCPC trouxe uma flexibilização para essa
regra geral, permitindo que as partes estipulem alterações no procedimento,
tendo liberdade para dispor acerca dos ônus, faculdades, deveres e poderes,
antes ou depois do processo, mediante controle do juiz, nas hipóteses em que a
lei admite a autocomposição.

Veja:

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam


autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou
a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas
neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade
ou de inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte
se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Significa que, havendo disponibilidade em relação ao direito material,


isso refletirá no procedimento, permitindo certa flexibilização, mediante acordo
das partes capazes. No momento oportuno, trataremos da negociação no
processo e da possibilidade de flexibilização do procedimento.

Ato Processual – Conceito

Ato processual é a conduta humana voluntária que tem relevância para o


processo.

Excluem-se desse conceito os atos irrelevantes e os que não tenham


relação com o processo. Os atos processuais se diferenciam dos atos jurídicos
em geral pelo fato de manterem com o processo uma relação direta e devido à
repercussão que têm sobre ele.

Omissões Processualmente Relevantes

O ato processual é uma conduta comissiva. No entanto, algumas


omissões são relevantes para o processo civil, pelo fato de haver consequências
para elas estabelecidas pela lei. Mas a omissão só será relevante quando a lei
determinar que deverá haver uma ação, estabelecendo as consequências para a
sua não realização.

É o que ocorre, por exemplo, em relação à omissão quanto ao ônus de


oferecer contestação, que provoca graves consequências processuais para o réu.

Classificação dos Atos Processuais

Há diversas formas de se classificar um ato processual, sob diversos


critérios. O CPC adota a classificação em relação ao sujeito, classificando-os em
atos das partes e atos judiciais.

Atos das partes


Nos termos do art. 200 do CPC, os atos das partes consistem em
declarações unilaterais ou bilaterais de vontade.

Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações unilaterais ou


bilaterais de vontade produzem imediatamente a constituição,
modificação ou extinção de direitos processuais.

Em regra, as partes do processo praticam atos unilaterais, que não


necessitam da anuência da parte contrária. São atos postulatórios, como a
petição inicial do autor e a contestação do réu, bem como os requerimentos que
as partes fazem no processo, como o requerimento de provas e a interposição de
recursos, por exemplo.

Em relação ao ato bilateral, o melhor exemplo é a transação, que gera a


extinção do processo, com resolução de mérito.

O ato deve produzir efeitos no processo para que possa ser considerado
processual. Esses efeitos podem ser a constituição, modificação ou extinção de
direitos processuais, conforme estabelece o art. 200 do CPC.

Pronunciamentos do Juiz

O art. 203 do CPC enumera os pronunciamentos do juiz: sentença,


decisão interlocutória e despachos.

Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões


interlocutórias e despachos.

Além desses, o juiz pratica outros atos no curso do processo, como a


inspeção judicial, o interrogatório das partes, a colheita de depoimentos, e
outros atos materiais. Entretanto, somente aqueles citados no art. 203 são
denominados pronunciamentos judiciais. Os outros não são pronunciamentos,
mas apenas atos materiais.

Sentenças

Nos termos do art. 203, § 1º:

§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais,


sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento
nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum,
bem como extingue a execução.

A extinção do processo sem resolução do mérito é tratada pelo art. 485


do CPC. Se ocorrerem aquelas hipóteses ali mencionadas, o processo terá fim.

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


I – indeferir a petição inicial;
II – o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência
das partes;
III – por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor
abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
IV – verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;
V – reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa
julgada;
VI – verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
VII – acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou
quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
VIII – homologar a desistência da ação;
IX – em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível
por disposição legal; e
X – nos demais casos prescritos neste Código.
O art. 487 trata de hipóteses de resolução de mérito, quando o juiz não
extingue o processo, mas põe fim à fase cognitiva em que a sentença foi
proferida.

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


I – acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
II – decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de
decadência ou prescrição;
III – homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou
na reconvenção;
b) a transação;
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
A lei trata da sentença, analisando seu possível conteúdo, nos arts. 485 e
487, mas o conceito se baseia no fato de ser o ato que põe fim ao processo ou à
fase cognitiva.
Assim, não é o conteúdo do pronunciamento que determina ser o ato
uma sentença. Lembre-se de que a lei prevê o julgamento antecipado parcial do
mérito, bem como decisões interlocutórias de mérito. Mas esses atos não se
confundem com a sentença, porque, sendo interlocutórios, são proferidos no
curso do processo, sem pôr fim a ele ou à fase de conhecimento.

Prazo para sentença

O art. 226, III, prevê o prazo de 30 dias para o juiz proferir sentença.

Art. 226. O juiz proferirá: (...)


III – as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias.
O art. 204 cita, entre os pronunciamentos judiciais, os acórdãos, sendo
assim denominados os julgamentos dos Tribunais. Tratam-se de decisões
proferidas por órgãos colegiados.

Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais.

Decisões Interlocutórias

Outra espécie de ato praticado pelo juiz, além das sentenças, é a decisão
interlocutória, que também possui conteúdo decisório.

É justamente seu caráter interlocutório, por ser proferida no curso do


processo, sem pôr fim a ele, que distingue esse ato da sentença.

A decisão interlocutória também não encerra a fase de conhecimento em


primeiro grau de jurisdição.

Não se confunde com despachos, pois esses não têm nenhum conteúdo
decisório e não podem provocar prejuízo ou gravame para as partes. Se um ato
judicial puder causar prejuízo e não encerrar o processo ou a fase de
conhecimento, será decisão interlocutória, e não despacho.

O art. 226, II, prevê o prazo de 10 dias para o juiz proferir decisões
interlocutórias.

Art. 226. O juiz proferirá (...)


II – as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias;
Despachos de Mero Expediente

Aqui temos aqueles atos sem conteúdo decisório, cuja finalidade é


impulsionar o processo. Eles não são capazes de trazer prejuízos às partes.

Quando o juiz abre vista às partes, ou concede prazo para que elas
indiquem as provas que pretendem produzir, por exemplo, está proferindo um
despacho, contra o qual não cabe recurso, pois não existe nenhum interesse
para a interposição.

Pode acontecer, no entanto, de um ato judicial que normalmente seria


um despacho se tornar uma decisão. Isso acontece quando dele puder resultar
prejuízo.

Exemplo: a remessa dos autos à contabilidade é, em regra, um despacho. No


entanto, se o juiz determina essa remessa para a instrução de uma liquidação
por cálculo do contador, que já não existe, e, com isso, ocorra o retardamento da
execução, a parte prejudicada pode interpor o recurso de agravo.

O artigo 266, I, estabelece o prazo de cinco dias para o juiz proferir


despachos.

Art. 226. O juiz proferirá: I – os despachos no prazo de 5 (cinco) dias;

Forma dos Atos Processuais

Por forma entende-se a exteriorização dos atos. É como eles aparecem. O


CPC, no art. 188, adotou o princípio da liberdade das formas. Veja:

Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma


determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-
se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a
finalidade essencial.

Desse dispositivo legal se extraem duas importantes regras:

• a forma é livre, exceto quando a lei a determina expressamente;


• mesmo quando houver forma determinada, o ato praticado com
inobservância da formalidade legal será válido, se alcançar sua finalidade
essencial.

Alminhas, desde as primeiras linhas do estudo do processo civil sabemos


que ele não é um fim em si mesmo, e sim um instrumento do direito material.
Por isso, quando a lei exige que o ato seja realizado com determinada forma,
essa exigência não tem por objetivo apenas garantir a solenidade ou a
formalidade do processo, mas o atingimento de um fim determinado. Assim, se
esse fim for alcançado, não há que se falar em nulidade.

Veja: a lei, ao tratar da citação do réu, prevê a forma pela qual ela deve
ser feita. Se houver desrespeito à formalidade, mas, mesmo assim, o réu
comparecer e apresentar sua contestação, não haverá nulidade, já que a
finalidade da citação – que é dar ciência da existência do processo, assegurando
o direito de defesa – foi alcançada.

O Processo Eletrônico

Foi a busca pela efetividade e duração razoável do processo que levou à


utilização dos meios eletrônicos e da tecnologia da informação. A
regulamentação da informatização do processo judicial foi regulamentada pela
Lei n. 11.419/2006, que dispôs sobre os meios eletrônicos, transmissão
eletrônica e assinatura eletrônica.

O art. 2º da Lei n. 11.419 autoriza o envio de petições, interposição de


recursos e a prática de atos processuais em geral por meio eletrônico, com a
assinatura digital – por meio do certificado digital emitido pela autoridade
certificadora ou mediante cadastro do usuário no Poder Judiciário –, que
permite a identificação do interessado.

Embora essa lei continue a disciplinar o uso dos meios eletrônicos nos
processos, o NCPC, nos arts. 193 a 199, estabelece os princípios e regras gerais
que devem ser observados.

O art. 193 autoriza que os atos processuais sejam praticados, total ou


parcialmente, por meio digital, na forma da lei.
Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais,
de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados
e validados por meio eletrônico, na forma da lei.

Na utilização dos sistemas de automação processual, é necessário que


seja observado o princípio da publicidade dos atos, sendo assegurados às partes
o acesso e a participação no processo.

Nesses sistemas, todos os atos de comunicação processual (citação,


intimações e notificações) deverão ser realizados por meio eletrônico, nos
termos da lei.

Os arts. 8º a 13 da Lei n. 11.419/2006 regulamentam a utilização dos


meios eletrônicos e digitais.

Comunicação Eletrônica dos Atos Processuais

Mesmo quando o processo não é eletrônico, os tribunais podem utilizar o


Diário da Justiça Eletrônico para a publicação dos atos judiciais e
administrativos próprios, bem como os atos dos órgãos que a eles se
subordinam.

Poderão ser realizadas intimações aos advogados das partes, por meio do
Diário da Justiça Eletrônico, sendo nesse caso considerada a publicação no
primeiro dia útil subsequente ao da disponibilização da informação na internet,
iniciando-se a contagem do prazo no primeiro dia útil posterior.

Se a parte ou seu advogado for cadastrada, de acordo com o art. 20 da


Lei n. 11.419/2006, é dispensada a publicação no órgão oficial, inclusive
eletrônico, já que as intimações deverão ser feitas em portal próprio, sendo
consideradas realizadas na data em que for feita a consulta eletrônica à
intimação, o que fica certificado nos autos.

No entanto, se não houver consulta no prazo de dez dias corridos, a


contar da data do envio, essa será considerada realizada ao final desse prazo.

Já no caso do processo eletrônico, todas as citações, intimações e


notificações, inclusive as da Fazenda Pública, serão feitas por meio eletrônico.
A dificuldade que ocorre é quando o ato processual se dirige à parte e
não ao advogado, como acontece com a citação. Nesse caso, só é possível a
utilização de meio eletrônico se o destinatário estiver cadastrado. Se isso não for
viável, a citação deverá ocorrer pelo meio convencional.

O art. 7º da Lei n. 11.419/2006 dispõe que as cartas precatórias,


rogatórias e de ordem, bem como todas as comunicações oficiais entre órgãos
do Poder Judiciário, ou entre esses e os dos outros Poderes, serão feitas
preferencialmente por meio eletrônico.

O art. 246, § 1º, do CPC diz que a citação das pessoas jurídicas públicas e
privadas será feita preferencialmente por meio eletrônico, salvo em relação às
microempresas e empresas de pequeno porte.

§ 1º Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte,


as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos
sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento
de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por
esse meio.

Para isso, essas pessoas deverão manter um cadastro nos sistemas de


processo em autos eletrônicos, para recebimento de citações e intimações.

O art. 1.051 do CPC, por outro lado, determina que as empresas públicas
ou privadas façam seu cadastro no prazo de 30 dias a contar da data do registro
da pessoa jurídica, no juízo onde tenham sede ou filial, para que se cumpra o
disposto no § 1º do art. 246.

Art. 1.051. As empresas públicas e privadas devem cumprir o disposto


no art. 246, § 1º, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data de
inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica, perante o juízo onde
tenham sede ou filial.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às microempresas e
às empresas de pequeno porte.

Requisitos dos Atos Processuais


A lei estabelece alguns requisitos para que os atos processuais sejam
considerados válidos.

O uso do vernáculo (art. 192)

Na hipótese de haver documentos em língua estrangeira, esses deverão


ser juntados ao processo acompanhados da versão para a língua portuguesa,
traduzida por via diplomática ou pela autoridade central, ou firmada por
tradutor juramentado.

Atos orais devem ser praticados também em língua portuguesa. Se o juiz


quiser ou necessitar ouvir uma das partes ou uma testemunha que não fale ou
entenda o português, deverá ser nomeado um intérprete, que também será
necessário quando for ouvida pessoa que se utiliza da linguagem de sinais.

Assinatura das pessoas que participam do processo, nos atos e termos


processuais

Se a pessoa não quiser ou não puder assinar, o escrivão ou o chefe de


secretaria deverá certificar a ocorrência. No caso de processo eletrônico, os atos
nele praticados na presença do juiz podem ser produzidos e salvos pelo modo
digital, num arquivo eletrônico inviolável, registrados e com a assinatura do
juiz, do escrivão ou do chefe de secretaria, e também dos advogados das partes.

Publicidade dos Atos Processuais

A Constituição Federal garante a publicidade do processo e dos atos


processuais no art. 5º, inciso LX, regulamentado pelo art. 189 do CPC.

Quando um processo tramita em segredo de justiça, ele só poderá ser


consultado pelas partes, seus advogados, terceiros intervenientes admitidos no
processo e pelo Ministério Público. Diante disso, os atos de comunicação
processual, como as intimações e publicações de editais, devem ser cifrados e o
nome das partes aparecerá abreviado. Se um terceiro, que não tenha intervindo
no processo, demonstrar interesse jurídico, poderá requerer ao juiz certidão do
dispositivo da sentença, bem como do inventário e de partilha resultantes de
divórcio ou separação.

Se o sigilo não for respeitado por todos os que participam do processo,


isso poderá levar à aplicação de sanções administrativas e/ou civis.

Requisitos Gerais quanto ao Lugar dos Atos

Os atos processuais, em regra, deverão ser praticados na sede do juízo


(art. 217).

No entanto, há várias exceções a essa regra, vejamos:

• algumas pessoas, em razão do cargo que ocupam, podem ser ouvidas em sua
residência ou local em que exercem suas funções (art. 454);

• alguns atos são praticados por carta;

• algumas pessoas, por motivo de dificuldades de movimento ou de


locomoção, são ouvidas no domicílio ou no local em que se encontram (uma
clínica, por exemplo).

Requisitos Gerais quanto ao Tempo dos Atos

Em regra, os atos processuais devem ser praticados em um determinado


prazo, sob pena de ocorrer a preclusão.

Não existe preclusão em relação aos atos que o juiz deve praticar no
processo ou para os pronunciamentos que deve fazer (tratam-se de prazos
impróprios).

No entanto, se for desrespeitado o prazo fixado por lei, o juiz poderá


sofrer sanções administrativas.

O art. 235 traça o procedimento a ser adotado pela parte, pelo MP ou


pela Defensoria Pública, no caso de atraso injustificado do juiz.

Art. 235. Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria Pública


poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacional
de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente exceder os
prazos previstos em lei, regulamento ou regimento interno.

§1º Distribuída a representação ao órgão competente e ouvido


previamente o juiz, não sendo caso de arquivamento liminar, será
instaurado procedimento para apuração da responsabilidade, com
intimação do representado por meio eletrônico para, querendo,
apresentar justificativa no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 2º Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis, em até 48


(quarenta e oito) horas após a apresentação ou não da justificativa de
que trata o § 1º, se for o caso, o corregedor do tribunal ou o relator no
Conselho Nacional de Justiça determinará a intimação do representado
por meio eletrônico para que, em 10 (dez) dias, pratique o ato.

§ 3º Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto legal do


juiz ou do relator contra o qual se representou para decisão em 10 (dez)
dia

Quando analisamos o tempo no processo, podemos fazê-lo tomando


como referência a ocasião, o momento, o dia, o mês ou o ano em que os atos
podem ser praticados, bem como os prazos que os sujeitos processuais devem
observar.

Ocasião para a prática dos atos processuais

Em relação à ocasião para a prática dos atos processuais, esses devem ser
praticados nos dias úteis.

O art. 216 do CPC considera feriados não só os dias declarados por lei
como tal, mas também os sábados e domingos.

São feriados forenses os dias em que não há expediente forense. Existem


também os feriados específicos da Justiça Federal, os feriados estaduais e os
municipais.
Art. 216. Além dos declarados em lei, são feriados, para efeito forense,
os sábados, os domingos e os dias em que não haja expediente forense

Nos dias úteis, os atos processuais podem ser realizados, em regra, no


horário compreendido entre a 6h e 20h, mas o art. 212 do CPC estabelece
algumas exceções:

Art. 212. Os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis)
às 20 (vinte) horas.

§ 1º Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados antes,


quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano.

§ 2º Independentemente de autorização judicial, as citações, intimações


e penhoras poderão realizar-se no período de férias forenses, onde as
houver, e nos feriados ou dias úteis fora do horário estabelecido neste
artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI, da Constituição
Federal.

§ 3º Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em autos


não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário de
funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de
organização judiciária local.

Assim, o ato que teve início dentro do horário previsto na lei, mas não
pôde ser concluído dentro do limite do horário, pode se estender, sempre que a
interrupção ou o adiamento puder causar prejuízos. Também citação, intimação
e penhora poderão ser realizadas durante as férias forenses, em dias não úteis,
ou fora do horário normal, independentemente de autorização judicial.

O horário de encerramento dos protocolos é estabelecido pelas


respectivas leis de organização judiciária, de âmbito estadual.

No caso de protocolo eletrônico do ato processual, pode ocorrer em


qualquer horário até as 24h horas do último dia do prazo. Atos externos, como
citações e intimações, poderão ser praticados até as 20h, ou até mais tarde.

Férias Forenses

O artigo 93, XII, da Constituição Federal extinguiu as férias coletivas nos


juízos e tribunais de segundo grau.
XII – a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias
coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias
em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão
permanente; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004)

A consequência dessa alteração da Constituição Federal é que não se


aplica o disposto nos arts. 214 e 215 CPC, no que diz respeito a férias, em
relação aos processos que tramitam nessas instâncias.

Mas pode haver férias forenses nos tribunais superiores, período em que
não serão praticados atos processuais (CPC, art. 214):

Art. 214. Durante as férias forenses e nos feriados, não se praticarão atos
processuais, excetuando-se:
I – os atos previstos no art. 212, § 2º;
II – a tutela de urgência.
Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não
se suspendem pela superveniência delas:
I – os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à
conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo
adiamento;
II – a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de
tutor e curador;
III – os processos que a lei determinar.
Há determinados atos que podem ser praticados durante as férias, assim
como há alguns processos que correm normalmente, nesse período.

Mesmo nos processos que se suspendem durante as férias, há alguns atos


de urgência, que têm sua prática autorizada pela lei durante a suspensão.

• Os atos que podem ser praticados nas férias, seja qual for o tipo de processo,
são mencionados no art. 212, § 2º, que já vimos (citações, intimações e
penhoras), além das tutelas de urgência.

• Os processos de jurisdição voluntária não se suspendem nas férias.

• Os processos necessários à conservação de direitos, quando puderem ser


prejudicados pelo adiamento, igualmente têm seu curso normal durante as
férias.
• As ações de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de tutor e
curador.

• Os demais processos que a lei determinar.

É isso o que estabelece o art. 215 do CPC.

Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde as houver, e não


se suspendem pela superveniência delas:
I – os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários à
conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo
adiamento;
II – a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remoção de
tutor e curador;
III – os processos que a lei determinar
Prazos Processuais

A lei prevê prazos para que os atos processuais sejam praticados, a fim
de evitar que os processos se tornem eternos. Entende-se por prazo processual a
medida de tempo entre dois atos.

Assim, por exemplo, a lei determina que o prazo para contestação é de


quinze dias, a contar da data da juntada aos autos do mandado de citação. Se
esse prazo for desrespeitado, o ato será intempestivo.

Tipos de prazos processuais – prazos próprios e impróprios

Os prazos podem ser próprios (ou preclusivos) ou impróprios.

Os prazos das partes (inclusive do Ministério Público, quando atua como


parte) e dos terceiros intervenientes, em regra, são próprios, devendo ser
observados, sob pena de preclusão temporal, que é a perda da faculdade de
praticar aquele ato no processo.

No entanto, existem atos das partes e dos advogados que não se sujeitam
à preclusão.

É o caso, por exemplo, do prazo para formular quesitos e indicar


assistentes técnicos (quinze dias), quando for determinada prova pericial. A
jurisprudência do STJ é no sentido de ser admitida a apresentação até o início
dos trabalhos periciais.

O prazo para restituir os autos, retirados do cartório também não é


preclusivo, assim como o prazo para indicar bens que possam ser penhorados
também não preclui.

Em relação aos prazos do juiz, de seus auxiliares e do Ministério Público,


quando esse atua como fiscal da lei, são impróprios, pois não levam à perda da
faculdade, nem provocam a perda da obrigação de praticar o ato, mesmo
depois de superados.

Naturalmente, o juiz não pode se eximir de sentenciar, nem o Promotor


de Justiça de se manifestar, só porque expirou o prazo previsto na lei. O mesmo
se aplica aos auxiliares do juízo.

No entanto, se o membro do MP estiver atuando como fiscal da lei e


pretender apresentar recurso, deverá protocolá-lo dentro do prazo, sob pena de
preclusão, pois o prazo de recurso é sempre próprio.

Prazos dilatórios e peremptórios

Na vigência do CPC de 1973, os prazos podiam ser peremptórios ou


dilatórios, sendo que os peremptórios não podiam ser alterados por vontade
das partes, enquanto os dilatórios podiam ser alterados, se as partes assim
convencionassem, desde que a alteração fosse solicitada antes do vencimento
do prazo e fosse amparada em um motivo relevante. Nesse caso, o juiz deveria
fixar o dia de vencimento da prorrogação, respeitando o acordo das partes.

Ocorre que o CPC de 2015, ao dispor sobre os prazos, não trouxe


tratamento diferenciado para prazos peremptórios e dilatórios.

O texto legal autoriza que as partes capazes estabeleçam alterações no


procedimento em processos que admitem autocomposição, podendo ainda
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais,
bem como fixar um calendário para a prática dos atos, de comum acordo com o
juiz.
Veja o que estabelecem os arts. 190 e 191:

Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam


autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e
convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a
validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em
contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta
situação de vulnerabilidade.
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário
para a prática dos atos processuais, quando for o caso.
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele previstos
somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados.
§ 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual
ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no
calendário.
Perceba que a lei não impõe nenhuma restrição à convenção das partes,
salvo aquelas previstas no parágrafo único do art. 190.

Diante desse texto do NCPC, perdeu o sentido, em termos práticos, a


distinção entre prazos peremptórios e dilatórios, ficando mantida apenas para
fins doutrinários e acadêmicos.

Até mesmo aqueles prazos que, anteriormente, eram considerados


peremptórios, no NCPC, passaram a ser sujeitos à alteração, por acordo das
partes e com a fiscalização do juiz.

Não existindo qualquer convenção das partes, o juiz só terá poderes para
dilatar prazos processuais, a fim de adequá-los às necessidades do processo e
dar efetividade à prestação jurisdicional.

Vejamos o art. 155, VI:

Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça: (...)


VI – certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada
por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de
comunicação que lhe couber. (...)
Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no
inciso VI – o juiz ordenará a intimação da parte contrária para
manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento
regular do processo, entendendo-se o silêncio como recusa.
Além dessa hipótese, o juiz poderá dilatar o prazo por, no máximo, dois
meses, nas comarcas, seções ou subseções judiciárias, onde for difícil o
transporte, conforme dispõe o art. 222, ou reduzir os prazos meramente
dilatórios, mesmo sem a anuência das partes.

No caso de prazos peremptórios, só poderá fazê-lo se houver expressa


concordância das partes (art. 222, §1º)

Art. 222. Na comarca, seção ou subseção judiciária onde for difícil o


transporte, o juiz poderá prorrogar os prazos por até 2 (dois) meses.
§ 1º Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das
partes.
Contagem de Prazo

É possível que os prazos sejam contados em anos, meses, dias, horas ou


minutos.

Veja:

• 2 anos: prazo da Ação Rescisória;

• até 6 meses: prazo para suspensão do processo por convenção das partes;

• 15 dias: prazo de Contestação;

• 48 horas: prazo mínimo de antecedência na intimação para comparecimento;

• 20 minutos: prazo para as partes se manifestarem, nas alegações finais.

Os prazos são fixados por lei ou pelo juiz, no caso de silêncio da lei. Na
ausência de prazo legal e de determinação judicial, considera-se o prazo de
cinco dias, nos termos do art. 218, § 3º, do CPC.
Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em
lei.
§ 1º Quando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em
consideração à complexidade do ato
§ 2º Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente
obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito) horas.
§ 3º Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5
(cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.
Pode, ainda, haver fixação de prazo pelas partes, por convenção, de
acordo como os arts. 190 e 191 do CPC, que já vimos.

A contagem dos prazos processuais exclui o dia do começo e inclui o do


vencimento. Sendo computado em dias, apenas os dias úteis (art. 219).

Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo


juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos
processuais.
Suspensão e interrupção do prazo

Quando se pensa nos prazos processuais, é muito importante ter clara a


distinção entre suspensão e interrupção.

Na suspensão, o prazo é paralisado por um determinado tempo,


voltando a correr do ponto em que parou.

No caso da interrupção, há o retorno do prazo à estaca zero, começando


a correr do início.

A regra é que os prazos não se suspendem depois de iniciada a


contagem, exceto nas hipóteses arroladas no art. 313, I a VIII, do CPC, ou se
ocorrer algum fato que impeça a parte de se manifestar, como, por exemplo,
uma greve que paralise as atividades forenses.

Art. 313. Suspende-se o processo:


I – pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das
partes, de seu representante legal ou de seu procurador;
II – pela convenção das partes;
III – pela arguição de impedimento ou de suspeição;
IV – pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas;
V – quando a sentença de mérito:
a)depender do julgamento de outra causa ou da declaração de
existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto
principal de outro processo pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato
ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo;
VI – por motivo de força maior;
VII – quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e
fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo;
VIII – nos demais casos que este Código regula.
IX – pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada
responsável pelo processo constituir a única patrona da causa; (Incluído
pela Lei n. 13.363, de 2016)
X – quando o advogado responsável pelo processo constituir o único
patrono da causa e tornar-se pai.
Em relação à interrupção de prazo, são basicamente duas as causas
interruptivas:

• requerimento de desmembramento do processo, feito pelo réu, devido à


existência de litisconsórcio multitudinário;

• embargos de declaração.

Benefícios de prazo

O caput do art. 180 confere prazo processual em dobro para o Ministério


Público:

Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para


manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação
pessoal, nos termos do art. 183, § 1º.

O art. 183 prevê prazo em dobro para a Fazenda Pública (abrange todas
as pessoas jurídicas de direito público: União, Estados, Municípios, Distrito
Federal, autarquias e fundações públicas).

Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas


respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo
em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem
terá início a partir da intimação pessoal.
O art. 186, por sua vez, declara o prazo em dobro para a Defensoria
Pública:

Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as


suas manifestações processuais.

Atenção! O Ministério Público tem o prazo em dobro em todos os processos,


seja nos que atua na condição de parte, seja nos que é fiscal da lei.

Prazo para litisconsortes com advogados diferentes

Já vimos isso, mas não custa lembrar:

Obs.: quando os litisconsortes tiverem advogados diferentes, todos os prazos


legais serão contados em dobro: para contestar, recorrer, contrarrazoar e falar
nos autos em geral.

Mas, isso só se aplica se os procuradores forem diferentes e não


pertençam ao mesmo escritório de advocacia (art. 229).

Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de


escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para
todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento.

O dobro do prazo não se aplica aos processos eletrônicos (art. 229, § 2º).

§ 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos


eletrônicos.

Se acontecer, em um litisconsórcio, de os litisconsortes terem, cada um,


vários advogados, o prazo será simples se um dos advogados for procurador de
todos os litisconsortes.

Em relação ao litisconsórcio e prazo para contestação, surge uma questão


bem polêmica:

Obs.: qual é o prazo para apresentar contestação, já que, no momento da


citação, ainda não é possível saber se os litisconsortes contratarão os mesmos
advogados ou advogados diferentes?
O entendimento majoritário é no sentido de que, havendo dois ou mais
réus, mesmo que um deles fique revel, o outro terá prazo em dobro para
contestar, pelo fato de não ser possível, naquele ponto em que o processo
estava, saber qual dos réus contrataria advogado ou se esse advogado seria o
mesmo para todos.

A dobra do prazo é automática, não sendo necessário sequer requerê-la


ao juiz. Se os advogados forem distintos, os prazos permanecem em dobro até o
final do processo.

Atenção: Súmula n. 641 do STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer,
quando só um dos litisconsortes haja sucumbido.

Juizados Especiais Cíveis e contagem de prazo

O entendimento que predomina é o de que o art. 229 do CPC não se


aplica aos Juizados Especiais Cíveis. A razão da inaplicabilidade é que o prazo
em dobro não condiz com a celeridade que a lei exige dos procedimentos nos
juizados especiais.

Outra questão interessante é relacionada à possibilidade de aplicação


cumulativa das causas de dobra do prazo.

Por exemplo: se estiverem presentes as hipóteses previstas nos artigos


183 e 229, como será contado o prazo? Em quádruplo? Não. O juiz só aplicará
uma das causas, ficando o prazo duplicado.

Contagem de prazo para beneficiários da Justiça Gratuita

A regra é que não há prazo especial só pelo fato de a parte ser


beneficiária da justiça gratuita. No entanto, se for patrocinada pela Defensoria
Pública ou a Procuradoria do Estado, passa-se a ter todos os prazos em dobro.
O mesmo em relação aos Centros Acadêmicos das Universidades Públicas que
prestam assistência judiciária.

Já no caso de advogados particulares que prestam serviço de assistência


judiciária, não há benefício do prazo em dobro.
Preclusão

Trata-se da perda de uma faculdade processual por não ter sido exercida
dentro do prazo devido (preclusão temporal), devido à incompatibilidade com
um ato anteriormente praticado (preclusão lógica), ou pelo fato de que tal
faculdade já foi exercida anteriormente (preclusão consumativa).

Preclusão temporal

Haverá preclusão temporal quando se tratar de prazos próprios, que são


aqueles que, quando desrespeitados, levam à perda da faculdade de praticar o
ato processual. Assim, no caso de recurso ou contestação, a omissão implica a
preclusão temporal.

Preclusão consumativa

Ocorre quando não é mais possível “refazer” um ato que já foi praticado.
Imagine que o réu já tenha apresentado sua contestação, antes do fim do prazo
para tal, e queira apresentar novos argumentos, antes do 15º dia. Não será
possível, pois ocorreu a preclusão consumativa. Poderá oferecer novo recurso
ou novos argumentos ao primeiro.

Preclusão pro judicato

Apesar de serem impróprios os prazos do juiz, é necessário que até esses


se subordinem à preclusão, pois o processo precisa ser concluído. No caso da
preclusão pro judicato, trata-se da impossibilidade de o juiz decidir novamente
aquilo que já foi examinado. Não há a perda da faculdade processual, mas
vedação à prolação de decisões distintas e incompatíveis com as já proferidas.

Atenção! Apenas algumas decisões que se sujeitam à preclusão pro judicato.


Assim, é vedado ao juiz voltar atrás nas decisões que:

• deferem a produção de provas;

• concedem medidas de urgência;

• decidem matérias que não são de ordem pública, como as referentes a


nulidades relativas. Entretanto, mesmo nestes casos, o juiz poderá alterar sua
decisão se surgirem fatos novos que justifiquem a alteração. Além disso, se foi
interposto recurso de agravo de instrumento contra a decisão, o juiz poderá
fazer o juízo de retratação enquanto o recurso não for julgado.

Existem, ainda, outras decisões que não se sujeitam à preclusão pro


judicato:

• as que examinam matéria de ordem pública, como falta de condições da ação


e pressupostos processuais, requisitos de admissibilidade dos recursos;

• indeferimento de provas, pois o juiz pode, a qualquer tempo, voltar a traz e


determinar a produção de todas as provas que levem ao seu convencimento.

Nulidades

Alminhas, dou início a esse tópico fazendo um alerta: não podemos


confundir o sistema de nulidades do processo com aqueles atos nulos e
anuláveis, estudados no direito material.

As nulidades do Direito Civil não são as mesmas do processo civil.

Pois bem, para que a compreensão seja simples, basta ter sempre em
mente que o processo civil é um instrumento destinado a tornar efetivos os
direitos materiais. O processo se materializa por meio de um procedimento, que
pode ter uma existência bem longa.

Quando a lei estabelece determinada forma para um ato processual, ou


um prazo para que seja praticado, ou ainda o lugar para sua prática, tais regras
devem ser observadas. Constatada a inobservância à previsão legal, é
necessário verificar se os vícios do ato impediram ou não que ele atingisse seus
fins.

Essa verificação é importante, pois os vícios que atingem o ato processual


se classificam em três categorias:

• meras irregularidades;

• nulidades – relativas ou absolutas;

• ineficácia.
Vamos, então, analisar cada uma dessas categorias.

Atos meramente irregulares

São aqueles nos quais se verifica a inobservância a uma formalidade que


não é indispensável para sua validade. É o que ocorre, por exemplo, quando o
ato apresenta rasuras, mas essas não põem em dúvida a autenticidade.

Nulidades processuais

Aqui temos uma situação diferente. O ato foi praticado sem a


observância de um requisito de validade. A diferença da nulidade para a mera
irregularidade é que esta não gera consequências graves.

Mas, se, no curso do processo, o juiz se deparar com uma nulidade, ele
deverá determinar que o ato processual seja corrigido e que os atos a ele
relacionados sejam refeitos.

Mesmo depois que o processo estiver encerrado, ainda haverá


possibilidade de, pela via da ação rescisória, serem arguidas as nulidades. Mas,
se o prazo para a propositura da ação rescisória expirar, a nulidade será sanada.

No caso da ineficácia, não haverá sanatória pelo decurso do tempo, pois


ela pode ser arguida a qualquer tempo.

Então, se o ato for nulo, ele irá produzir seus efeitos e consequências
processuais até o momento em que o juiz declarar a nulidade.

Atenção! Apenas os atos do juiz e dos seus auxiliares podem ser qualificados
como nulos. Atos das partes não são propriamente nulos. O que acontece é que,
se eles não preencherem os requisitos legais, não irão produzir os devidos
efeitos. Veja: se o réu apresenta uma contestação, sem observância dos
requisitos legais, o juiz não vai declarar nula essa contestação. Vai considerar
que ela não foi apresentada e, por isso, não serão produzidos os efeitos
esperados. Teremos um ato ineficaz. Embora a lei não traga um rol das
hipóteses de nulidade, o Código de Processo Civil diz, genericamente, que são
nulos os atos que não respeitam determinado requisito legal.
Hipóteses de nulidades:

• decisões prolatadas por juízes impedidos ou por juízos absolutamente


incompetentes;

• falta de intervenção do Ministério Público, quando obrigatória;

• citação realizada sem obediência às formalidades legais;

• sentença que não observe a forma prescrita em lei.

Nulidades absolutas ou relativas

Nos dois casos ocorre o desrespeito à forma prescrita em lei. O que as


diferencia é o fato de que, na nulidade absoluta, a observância da forma vem
atender ao interesse público, enquanto na nulidade relativa o interesse é das
partes.

Por essa razão, a nulidade absoluta poderá ser decretada de ofício pelo
juiz, ao passo que a relativa precisa ser arguida pelo interessado. Além disso, a
nulidade absoluta não se sujeita à preclusão e pode ser arguida a qualquer
tempo do processo, exceto nos recursos especial ou extraordinário (exigem
prequestionamento), ou após o processo, mediante ação rescisória.

A nulidade relativa preclui e, por isso, deve ser alegada na primeira


oportunidade que o interessado tiver.

Embora a regra seja que a nulidade absoluta possa ser arguida por
qualquer dos sujeitos do processo, mesmo por quem não tenha sofrido nenhum
prejuízo, podendo ainda ser conhecida de ofício, há casos excepcionais em que
só poderá ser alegada por quem sofreu prejuízo. É o que ocorre com a falta de
intervenção do Ministério Público, quando atua como auxiliar da parte, ou falta
de intervenção do curador especial, quando atua em favor de um dos litigantes.
Nesses casos, somente poderá ser alegada a nulidade absoluta se a parte em
favor da qual o MP ou o curador especial deveria intervir for vencida na ação.
Se não tiver sofrido prejuízo, não há que se falar em nulidade.
Alminha, a distinção entre nulidade absoluta e relativa não é muito fácil de
detectar, pelo fato de serem a jurisprudência e a doutrina que tratam desse
tema.

Mas, para simplificar seu estudo, vamos entender da seguinte forma.


Quando a própria lei aponta a nulidade, essa será absoluta, em 99% dos casos.
Já vimos, por exemplo, os atos praticados por juízo absolutamente
incompetente ou por juiz impedido e a ausência de intervenção do MP ou do
curador especial, quando necessária.

Como exemplos de nulidade relativa, posso citar os atos praticados por


juiz suspeito ou a incompetência relativa do juízo.

Para que seja detectada a nulidade absoluta ou relativa, é necessário,


primeiramente, que se faça a verificação da forma prevista em lei para o ato.

Havendo vícios, deverá ser verificado se a norma violada é cogente,


estabelecida em razão do interesse público, ou se é uma norma não cogente,
estabelecida em vista do interesse das partes. No primeiro caso, teremos
nulidade absoluta e, na outra hipótese, nulidade relativa.

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