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Universidade de Brasília - UnB

Faculdade de Educação - FE

Sociologia da Educação

A Imaginação Sociológica

Fernando é acadêmico de história e enfrenta muitos problemas para permanecer na


universidade, desde o deslocamento à alimentação. Esse jovem rapaz, que hoje tem 19 anos, é
oriundo da classe baixa do Distrito Federal. Sua educação básica é marcada por dois
momentos: um período que estudou na rede pública e outro período que ingressou em um
sistema de ensino privado. Apesar de Fernando estar no ensino superior,no atual momento,
sua permanência no mesmo constantemente é ameaçada.
O universitário em questão, mora com sua mãe, que é beneficiária da previdência
social e teve sua vida acadêmica até o Ensino Médio. Eles moram de aluguel em uma cidade
satélite do Distrito Federal. O que dificulta muito a permanência de Fernando na
Universidade, pois o mesmo gasta mais de 4 horas diárias para se deslocar da sua casa até a
Universidade e da Universidade para sua casa. O que o torna totalmente dependente do Estado
para se deslocar, pois as condições econômicas de sua família não possibilitaria esse
deslocamento diário.
O estudante pertenceu ao ensino público, na educação básica, até o Ensino
Fundamental, quando foi cursar o Ensino Médio ele passou por um processo seletivo de bolsa
social e finalizou sua educação básica em uma rede privada. Fernando salienta que durante o
tempo que esteve na educação pública o ensino não era ruim, mas não era uma educação
voltada ao vestibulares para ingressar nas Universidades. Entretanto, quando iniciou sua
formação em uma instituição particular, percebeu que era mais uma preparativo para os
vestibulares.
Fernando destaca que não é o primeiro da sua geração a ingressar no ensino superior,
mas foi o primeiro a ingressar em uma instituição de ensino superior pública. Fator este que
atribui ao fato de ter realizado seu Ensino Médio em uma escola particular que tinha por
interesse aprovar os alunos em instituições públicas de ensino superior.
Ingressar no ensino superior foi uma das formas de melhorar de vida, acrescenta
Fernando. Dessa forma, o estudante teria um bom emprego e poderia mudar seu status
econômico. Porém, para além de uma ascensão social, Fernando destaca que sempre sonhou
em seguir carreira acadêmica para estudar as particularidades das sua religião nos processos
educativos.
De modo inicial, o universitário destaca que sempre teve o apoio da sua família, mas
ele acredita que sua mãe gostaria que sua formação estivesse relacionada com cursos com
maior visibilidade social, como medicina e direito. Contudo Fernando enfatiza que além de
não serem sua área de interesse, seria muito mais difícil entrar nesses cursos no ensino, pois
existe uma certa elitização dos mesmos.
Fernando aponta que a maior dificuldade não foi ingressar na universidade, mas
permanecer nela, pois sua vida está marcada por elementos que dificultam sua permanência,
mas fatores que não se aplicam apenas a ele, mas para uma maioria que são oriundos da classe
baixa. Ir e vir, se alimentar, comprar os materiais, ter forma de expandir o acesso à
informações, ter modos de continuar seus estudos em casa são fatos de demandam certos
recursos financeiros, que por vezes, é bem limite para quem está em um patamar mais baixo
na sociedade.
Desta forma, isso no faz refletir a sentença de Mills: “As realidades da história
contemporânea constituem também realidades para o êxito e o fracasso de homens e mulheres
individualmente.” (MIILS, 1978, p.9). Porque pertencer a uma classe social não requer apenas
um esforço individual, mas toda uma organização da sociedade onde se está inserido. Na
sociedade capitalista os meios de produção se concentram naqueles que possuem maior
capital financeiro, por consequência, aqueles menos desfavorecidos são subordinados a essa
forma de organização social, que refletem diretamente em suas realidades.
A classe a qual Fernando pertence influencia diretamente em sua realidade
acadêmica, pois apesar do Estado custear seu deslocamento e a Universidade ajudar com sua
alimentação. Ele enfrenta outros percalços, pois tem custo com a compra de materiais, e
próprio deslocamento, que por vezes não é custeado pelo Estado, pois existe um limite, tem
também as questões de nível mais pessoal, mas que afeta diretamente a renda da sua família,
como saúde, vestuário, alimentação, lazer entre outros.
Arrumar um emprego dificultaria a organização do tempo para conciliar com a
universidade, então no máximo conseguiria um um estágio que tem horários mais flexíveis. É
a partir deste ponto que passamos a compreender que a permanência no ensino superior não é
meramente uma perturbação, na concepção de Mills(1978), mas sim uma questão pública.
Assim a permanência na universidade não tem apenas implicações individuais, mas também
se permeia em toda uma organização estrutural de sociedade que está atrelada diretamente aos
fatores econômicos e políticos.
Por vezes, as questões que englobam o Fernando são interpretadas com algo de cunho
pessoal que o estado não tem responsabilidade em cima disso, mas indo de consonância com
o pensamento de Mills(1978), essa é só mais uma forma de evitar as grande questões da
sociedade moderna. Porém, Mills(1978) deixa bem explícito que para isso que: “ Hoje a
principal tarefa intelectual e política do cientista social - pois aqui a duas coincidem - é deixar
claros os elementos de inquietação e da indiferença contemporâneas.”(MILLS, 1978, p.20).
Sendo assim, ele aponta uma tarefa da Ciência Social contemporânea para justamente deixar
bem claro o que é perturbações e o que são questões públicas.
Segundo Prestes e Fialho: “As experiências de sucesso escolar na universidade, que
devem ser iniciadas antes do seu ingresso, envolvem, além do aluno, diferentes agentes e
instituições, todos juntos, em busca da construção de outra realidade voltada para a
emancipação do indivíduo.”( PRESTES; FIALHO, 2018, p.883). Dessa forma, só corrobora a
afirmativa que o Estado deve proporcionar plenas condições para que de fato a Educação seja
um direito de todos.
Dessa forma, ter uma imaginação sociológica Mills(1978), irá fornecer as devidas
bases para as possíveis lutas e defesas dos direitos de todos, pois a imaginação sociológica
nos permite compreender todo o processo histórico, antes e durante a nossa existência e como
esse processo nos afeta em grande ou em pequena escala. Logo, essa é capaz de fomentar e
solucionar os problemas que circundam as perturbações e as questões públicas, não deixando
os indivíduos desamparados em uma sociedade cada vez mais injusta e calcada na
desigualdade.

REFERÊNCIAS:
MIILS, C. Wright. A promessa. In: A imaginação sociológica. 4 ed. Rio de Janeiro Zahar
Editora, 1978, p.9-32).
PRESTES, Emília Maria da Trindade; FIALHO, Maríllia Gabriella Duarte. Evasão na
educação superior e gestão institucional: o caso da Universidade Federal da Paraíba. Ensaio:
aval.pol.públ.Educ., Rio de Janeiro , v. 26, n. 100, p. 869-889, Julho 2018 .Disponivel em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40362018000300869&lng=e
n&nrm=iso>. Acessado em: 25/08/ 2019.

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