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VARIAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA: TIPOS

2
aula

Ao final desta aula, você deverá ser capaz


Objetivos

de:

• perceber que a variação linguística se


manifesta de diversas formas;

• identificar os tipos de variação;

• reconhecer que a variação é um princípio


natural de qualquer língua.
2
Aula
AULA 2
VARIAÇÃO SOCIOLINGUÍSTICA: TIPOS

1 INTRODUÇÃO

Você aprendeu, na aula anterior, que a Sociolinguística,


enquanto disciplina, tem como meta compreender e relacionar
heterogeneidade linguística com heterogeneidade social, pois seu
pressuposto básico é que a variação linguística é um fenômeno natural
e que a língua é influenciada pelos usos sociais que os falantes fazem
dela. Nesta aula, estudará os diferentes tipos de variação, com o
propósito de que você compreenda que uma língua, em particular o
português brasileiro, não é e não pode ser preconizada como sendo
uniforme.

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Linguística II: sociolinguística Variação sociolinguística: Tipos

2 TIPOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

Basicamente você encontra, nos textos especializados, os


seguintes tipos de variação: diatópica; diastrática; diacrônica;
sincrônica; diafásica e diamésica. Como dizem Ilari e Basso (2006,
p. 152), “essas expressões são à primeira vista estranhas, mas
um pouco de etimologia mostrará ao leitor que elas são, no fundo,
bastante transparentes”. Vamos então conhecê-las!

2.1 Variação diatópica

A variação diatópica (do grego diá = através de; topos =


lugar) se caracteriza pelas diferenças que se observam na dimensão
do espaço geográfico, ou seja, a língua falada em diferentes lugares:
numa mesma região, num mesmo estado, num mesmo país, ou em
países diferentes. Vamos, agora, estudar dois casos!
Você, certamente, sabe reconhecer um gaúcho, um paulista,
ATENÇÃO
um carioca, um baiano, um mineiro... pela forma como falam. Estou
Em termos fonéticos, den-
tal é o som produzido com certa? Poderemos ilustrar essa variação regional com inúmeros casos
a ponta da língua contra a
parte posterior dos dentes
que afetam os diferentes níveis de uma língua.
incisivos superiores, como De ordem lexical: você já ouviu falar em macaxeira, aipim,
no caso de [t]; e africada
é o som produzido por um mandioca, castelinha e pão-de-pobre? E abóbora e jerimum? Ananás,
bloqueio completo à corren-
te de ar dentro da cavidade aberas e abacaxi? Tangerina, mexerica, bergamota, mandarina? Já
oral, em sua parte inicial, e
ouviu expressões do tipo: estão mangando de mim; estão zombando
uma obstrução na parte fi-
nal de sua articulação, como de mim; estão zoando de mim? Todos esses casos são variações que
no caso de [tch] (MASSI-
NI-CLAGLIARI; CAGLIARI figuram no léxico de falantes de diferentes regiões do Brasil.
(2001)). Na disciplina de fo-
nética e fonologia você terá
De ordem fonético/fonológica: vamos recorrer a dois casos
contato com essas e várias bastante conhecidos: a realização variável do /r/ e a realização
outras classificações.
variável dos fonemas /t/ e /d/. A propósito do /r/ em final de sílaba,
por exemplo, em porta, mar, força, um falante do interior de São
Paulo o realiza diferentemente da maioria dos brasileiros. Com
Figura: UAB/UESC
relação ao /t/ e o /d/, no Sul e em algumas regiões do
Nordeste do Brasil, inclusive no interior da Bahia, eles
são pronunciados em palavras como leite, dente,
pede, rede, em sua forma dental; já, em quase todo
território brasileiro, ele é pronunciado em sua forma
africada: [leitchi]; [dentchi]; [pedchi]; [redchi].
De ordem morfossintática: você sabe que, para expressar a
segunda pessoa do singular, o português dispõe de duas formas
pronominais: tu e você. No entanto, deve saber que o tu está
restrito a algumas regiões específicas do Brasil, por exemplo, a

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região Sul, mais especificamente Rio Grande do Sul. De modo geral, SAIBA MAIS
a forma mais usada é o você, tanto para a segunda quanto para a Para saber mais sobre a
terceira pessoa do singular. Em se tratando do tu, vale dizer ainda que variação do “tu” e “você”,
leia o artigo de MODESTO,
ele é mais recorrente com a forma verbal correspondente à terceira A. T. T., Formas de trata-
mento no português brasi-
pessoa: tu vai e não tu vais; tu é e não tu és. Você sabia disso? leiro: a alternância tu/você

2
Bem, os fatos demonstrados aqui ilustram a variação dentro na cidade de Santos-SP,
no site: http://www.letra-
de um mesmo território: Brasil. Agora, ilustraremos a variação que magna.com/xerxesartigo.

Aula
pdf
ocorre entre dois territórios diferentes: Brasil e Portugal.
Obviamente, são muitas as diferenças
que ocorrem entre esses dois espaços.
Você já viu um português conversando?
SAIBA MAIS
Com certeza deve ter percebido inúmeras
peculiaridades que o diferenciam de um Conforme Valente (2002), apud Ilari e Basso (2006, p. 159), “nem
todas as diferenças entre o PE e o PB resultam do fato de que
falante brasileiro. Uma das mais marcantes essas duas variedades têm repertórios de palavras distintas”. Há
é a de natureza lexical. Por exemplo, se palavras ou expressões que existem tanto numa como na outra,
e a possibilidade de variação decorre das chamadas “diferenças
alguém te pedir uma cerveja de pressão,
de colocação”. O quadro abaixo ilustra algumas delas:
uma pastilha elástica, uma tira-cápsulas,
PE PE e PB PB
uma arca frigorífica, saberia reconhecer que
Teimoso como Que nem a mulher
se tratam, respectivamente, de: um chope, Feito um burro
uma mula do piolho
um chiclete, um abridor de garrafas, um Como uma Falar pelos Mais que o homem
gralha cotovelos da cobra
freezer? Se alguém te perguntar se conhece
Comprar por uma
A troco de reza Por uma micharia
o professor reformado ou se sabe onde está pechincha

o atendedor automático, será que saberia Pescar um Arranjar um


Fisgar um marido
marido marido
responder? Acredito que não. Professor Pela medida Como um cachorro
Apanhar
grande sem dono
reformado corresponde a professor
aposentado e atendedor automático, à
Segundo esses autores, o papel dos dicionaristas é
secretária eletrônica. Diferentes, não?!!! indicar essas diferenças.

Veja, na figura abaixo, mais um caso de


variação lexical:
Figura: UAB/UESC

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2.2 Variação diastrática

Variação diastrática (do grego dia = através de;


stratum = estrato, camada) corresponde às diferentes
formas produzidas por falantes de diferentes classes sociais.
Ilustraremos aqui variações que se manifestam na fala de
indivíduos com diferentes escolaridades, bem como de alguns
casos que caracterizam a chamada variedade não-padrão.

ATENÇÃO
Para o primeiro caso, recorremos ao estudo de Vazzata-
Dias (2000), que revela a relação direta entre o aumento dos
Estamos falando aqui de variações do
tipo: anos de escolarização e o favorecimento da marca explícita
de plural no predicativo/particípio passivo no português falado
a) Eles são rebeldes X Eles são
rebelde. no Brasil: o nível de escolaridade colegial (ensino médio), ao
b) Meus pais são descendentes X
contrário do primário (fundamental I) e do ginásio (fundamental
Meus pais são descendente.
c) Os presos foram mandados... II), favorece mais a forma de prestígio.
X Os presos foram mandado...
Para ilustrar o segundo caso, recorremos a letras de duas
Veja a tabela (cf. Vazzata-Dias, 2000) músicas que retratam os chamados “dialetos caipiras”: uma
com os números correspondentes à
influência da variável escolaridade na de Adoniran Barbosa, “Samba do Arnesto”, e a outra “Couro de
escolha da variante presença de marca boi”, de Teddy Vieira e Palmeira, que já foi gravada nas vozes
de plural:
de Tonico, Sergio Reis e outros:
Fator “escolaridade” %

Primário 21
Samba do Arnesto
Ginásio 36

Colegial 64 O Arnesto nos convido


Prum samba ele mora no Brás
Como você pode perceber, o colegial
Nóis fumo mas não encontremo
(ensino médio) favorece em 64% a
regra considerada “correta”. No entanto, ninguém
o uso não é categórico: ou seja, mesmo Nóis vortemo cuma baita de uma
os falantes mais escolarizados também reiva
usam a forma tida como não-correta: Da outra veiz nóis num vai mais
34%.

No outro dia encontremo co Arnesto


Que pidiu descurpa mas nóis não
aceitemus
Isso não se faz Arnesto
Nóis não se importa
Mas você devia ter ponhado um
recado na porta

Um recado ansim ói:


ói turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso não faz má
Num tem importância
Num faz má

Assinado em cruiz porque num sei


Escrevê
Arnesto

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Couro de boi

Conheço um velho ditado desde os tempos dos zagais,


um pai trata deis fio, deis fio num trata um pai,
sentindo o peso dos anos, sem podê mais trabaiá,
um véio peão estradeiro, com seu fio foi morá,
o rapaiz era casado, e a muié deu de impricá,

2
você mande o véio imbora, se não quisé que eu vá,
o rapaiz coração duro, com o veinho foi falá:

Aula
para o senhor se mudá, meu pai eu vim lhe pedi,
hoje aqui da minha casa, o sinhô tem que saí,
leva esse couro de boi, que eu acabei de curti,
pra lhe servi de cuberta aonde o sinhô durmi.
O pobre véio calado, pegou o couro e saiu,
seu neto de oito ano, que aquela cena assistiu,
correu atrais do avô, seu palito sacudiu.
Metade daquele couro, chorando ele pediu,
o veinho comovido, pra não vê o neto chorando,
cortou o couro no meio, e pro netinho foi dando.
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando
pra que você qué este couro, que seu avô ia levando.
Disse o menino ao pão, um dia vou me casar
o senhor vai ficá veio e comigo vem morá
pode ser que aconteça, de nois não se cumbiná
essa metade do couro, vou dar pro senhor levá.

VOCÊ SABIA?
Como você pode notar, há vários traços típicos da fala não-
Você sabia que as línguas
padrão em ambas as músicas. Com esses traços, a imagem do caipira românicas surgiram do la-
é projetada. Temos, então, ilustrada a fala no âmbito diastrático. tim vulgar? Não foi nem do
latim literário nem do latim
da Igreja Católica. Mas o que
seria vulgar? Seria a forma
de aprendizado espontâneo
2.3 Variação diacrônica e inconsciente, no ambien-
te em que as pessoas são
criadas, portanto, a forma
A variação diacrônica (do grego diá = através de; khrónos = vernácula. Conforme Ilari e
Basso (2006, p. 17), “o latim
tempo) é aquela que se verifica ao longo do tempo. Para entendê-la, vulgar foi uma variedade de
vamos falar um pouco da história do português que você fala hoje. latim principalmente falada,
a mesma que os soldados e
Como você sabe, o português, assim como o espanhol, comerciantes romanos le-
varam às regiões conquista-
o italiano e o francês, por exemplo, se originou do latim, a língua das durante a formação do
da civilização que teve como centro a Roma antiga. Do latim ao Império, que foi passada de
geração em geração sem ser
português da época da colonização, muito tempo se passou e muitas ensinada formalmente”. Com
foram as transformações. Daquele português ao português que você a fragmentação do Império
e com as influências das in-
fala e convive hoje, também não foi diferente: muitas mudanças se vasões “bárbaras”, o que era
tido como território linguísti-
processaram nos vários níveis da língua. Para ilustrar algumas dessas co único se transformou num
mudanças, vamos recorrer a alguns fatos. O primeiro se refere a uma mosaico de falares locais,
dos quais alguns ganharam
transformação do latim para o português; os outros se referem a projeção e se transformaram
transformações que se processaram no âmbito do próprio português. nas línguas românicas que
conhecemos hoje: além das
Os artigos definidos e os clíticos de terceira pessoa, (o, que já mencionamos, são lín-
guas românicas: o romeno, o
a, os, as), que você conhece hoje, “nasceram” de um pronome sardo, o reto-românico, o oc-
demonstrativo, mais especificamente, ille, em sua forma acusativa, citano, o catalão e o galego.

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como você pode observar na reconstrução abaixo:

Masculino singular: ĭllu > elo > lo > o.


Feminino singular: ĭlla > ela > la > a.
Masculino plural: ĭllos > elos > los > os.
Feminino plural: ĭllas > elas > las > as.

Conforme Tarallo (1994), essa reconstrução se explica da


seguinte forma: o /i/ se fechou em /e/; as consoantes geminadas /ll/
foram simplificadas; o /e/ inicial cairia posteriormente; e o /l/, agora
inicial, seguindo a evolução fonética normal das consoantes, durante
a passagem do latim ao português, teria sofrido queda; originando,
assim, as formas que temos hoje: /o/, /a/, /os/, /as/.
Você já sabe que, para representar o objeto direto, aquele
exigido por um verbo transitivo direto, a língua nos põe à disposição
diferentes formas, como as que apresentamos a seguir:

a) João viu Maria.


b) João a viu.
c) João viu ela.
d) João viu Ø.

A propósito de (d), construção com o objeto nulo (apagado),


Cyrino (1990a), apud Cyrino (1993), mostra a sua frequência em
diferentes séculos, como ilustra a tabela 1 abaixo:

Tabela 1: frequência do objeto nulo

Séculos Objetos nulos (%)

Primeira metade séc. XVIII 14,2

Primeira metade séc. XIX 41,6


Segunda metade séc. XIX 23,2

Primeira metade séc. XX 69,5

Segunda metade séc. XX 81,1

Como você pode perceber, o uso dessa variante aumenta com o


passar dos séculos. Segundo a autora, esse aumento é decorrente da
perda dos clíticos no português do Brasil. A propósito, Tarallo (1983),
apud Cyrino (1993), foi o primeiro a apontar a mudança a partir de
cinco momentos históricos, como se pode notar na tabela 2 abaixo:

Tabela 2: frequência dos clíticos

Séculos Clíticos (%)


Primeira metade séc. XVIII 89,2
Segunda metade séc. XVIII 96,2
Primeira metade séc. XIX 83,7
Segunda metade séc. XIX 60,2
Corpus sincrônico (1982) 18,0

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Você percebe que, do século XVIII ao século XX, houve uma SAIBA MAIS

mudança muito grande em relação ao uso do clítico: enquanto ele era Para conhecer outros fe-
nômenos estudados nu-
a forma quase que preferida dos falantes na segunda metade do século ma perspectiva diacrôni-
ca, recomendo a leitura
XVIII (96,2%), no século XX, por sua vez, ele é pouco recorrente
do livro de ROBERTS, I.;
(18,0%). Ao seu desaparecimento está associado o surgimento do KATO, M. A. (Orgs.). Por-

2
tuguês brasileiro: uma
objeto nulo, como viu na primeira tabela, bem como o surgimento do viagem diacrônica. Cam-
pinas: Unicamp, 1993.
pronome tônico, como ilustra a tabela 3 abaixo, também de Cyrino

Aula
Também sugiro a leitura
(1990), apud Galves (1993): do livro de TARALLO, F.
Tempos lingüísticos:
itinerário histórico da lín-
Tabela 3: frequência do clítico e do pronome tônico gua portuguesa. 2. ed.
São Paulo: Ática, 1994.

Séculos Clítico Tônico

1ª met. XVIII 100% 0%

1ª met. XIX 100% 0%

2ª met. XIX 91,3% 8,6%

1ª met. XX 81,6% 18,3%

2ª met. XX 47,3% 52,6%

Você nota que o clítico, categoricamente, era a forma preferida


inicialmente. O tônico, por sua vez, começa a surgir na segunda
metade do século XIX e vai aumentando, progressivamente, nos
séculos seguintes.
Percebe como as pesquisas diacrônicas contribuem para a
constatação das mudanças que se processam no interior das línguas?
Daí a importância de se considerar o tempo na constatação das
variações.

ATENÇÃO

É importante que fique claro que não só a língua que falamos


hoje é resultado de muitas mudanças que ocorreram em Latim Português padrão
diferentes épocas. Na língua que falamos hoje, recorremos a Perículu perigo
muitas palavras e construções que são de cronologias diferentes. Vermículu vermelho
E o mais interessante é que a história nos permite explicar
Pópulu povo
fatos que, para a maioria dos falantes, são desconhecidos. Por
exemplo, a transformação de proparoxítona em paroxítona: Fábula fala
árvore > arvre; córrego > corgo; fósforo > fosfro; ônibus > Hómine homem
oimbus; música > musga. Reconhece essas variações? Para Ópera obra
muitos, as transformações correspondem ao chamado português
Miráculu milagre
não-padrão, o português falado por pessoas que não conhecem
a forma de prestígio. Agora, o curioso é que esse tipo de Páuperre pobre
transformação é muito comum quando se compara o latim com o Tégula telha
chamado português padrão. Veja alguns casos, conforme Bagno Víride verde
(2008):

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Linguística II: sociolinguística Variação sociolinguística: Tipos

2.4 Variação sincrônica

Diferentemente da variação diacrônica, a sincrônica (do grego


syn- = juntamente e -chrónos = tempo) se processa num dado
momento do tempo. São inúmeras as pesquisas que abordam esse
tipo de variação no português brasileiro. Recorremos, aqui, a duas
pesquisas realizadas recentemente, no âmbito Itabuna e região:
Andrade (2007) e Oliveira (2008).
Andrade (2007) pesquisou o uso variável de para mim e para
eu em orações reduzidas de infinitivo, como as que seguem abaixo:

a) Esse gravador é pra mim gravar.


b) Este livro de Ciências é para eu estudar.
c) Saí de lá pra Ø mudar de escola.

Construções como essas não lhe são estranhas. Estou certa?


Pois é, elas ocorrem com bastante frequência no português do
Brasil. Em sua pesquisa, Andrade investigou falantes da região de
Itabuna-BA e constatou: construção como a primeira, preposição +
mim, ocorreu em 44,3% dos casos; preposição + eu, em 22,9%;
e preposição + Ø, 32,8%. Como você pode observar, a forma
preconizada pelas gramáticas tradicionais é a menos recorrente. E,
mesmo assim, verifica-se a preferência pela construção em que a
preposição aparece contraída: pra eu (71,4%); peu (14,3%); preu
(7,2%); e para eu (7,1%).
Oliveira (2008) investigou a realização variável da concordância
verbal em textos escritos. Analisou construções do tipo:

a) Os jovens e crianças estão descobrindo a sexualidade mais cedo.


b) As crianças e adolescente está se desenvolvendo mais cedo.

Ela analisou 30 redações de alunos do ensino fundamental e


médio e constatou: a realização explícita da concordância ocorreu
em 61,5% dos casos e a não-explícita, em 38,5%. Os resultados
confirmam a influência da escola quanto ao uso da regra formal.

2.5 Variação diafásica

Também denominada de variação estilística, a variação


diafásica (do grego diá = através de; phásis = expressão, modo de
falar) é registrada nos usos diferenciados que o indivíduo faz da língua
conforme a situação/contexto em que ele se encontra. Certamente,

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você já vivenciou esse tipo de experiência, não é? É só prestar
atenção como as pessoas falam em casa, na mesa
LEITURAde um bar, num
RECOMENDADA
encontro com os amigos, com o chefe, numa conferência... Quando
escreve, você também registra esse tipo de variação: um bilhete
deixado na porta da geladeira é diferente de um relatório enviado a

2
seu chefe, de um e-mail enviado a um colega, de uma resenha a ser
encaminhada ao professor... Cada situação exige de você um controle

Aula
maior ou menor, tanto do seu comportamento em geral quanto do
seu comportamento verbal.
Trata-se, portanto, do monitoramento estilístico “que vai do
grau mínimo ao grau máximo” (BAGNO, 2007, p. 45). Conforme o
autor, cada pessoa, independentemente de seu grau de instrução,
classe social, idade etc. varia o seu modo próprio de falar, podendo
ser mais ou menos consciente, dependendo da situação em que está.
Os termos usados para designar esse tipo de variação são “estilo” ou
“registro”. As figuras abaixo ilustram um desses casos:

Figura: UAB/UESC

Para exemplificar esse tipo de variação na modalidade escrita,


vamos usar os exemplos apresentados por Bagno (2007, p. 110-111).
As frases que se seguem foram retiradas dos fragmentos de textos
apresentados pelo autor, todos coletados da Internet:

a) Hoje aconteceu os treinamentos oficiais...


b) Chegou os blocos de papel...
c) A que ponto chegou os políticos do Brasil...
d) A classe média acabou, só sobrou os concursados...
e) No lugar da mata entrou os pastos e as monoculturas...

Você saberia dizer qual regra está sendo violada nesses


exemplos? É a mesma que se verifica nos exemplos abaixo:

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Linguística II: sociolinguística Variação sociolinguística: Tipos

f) “Faz-se necessário duas abordagens para que se abranja a


totalidade da situação” (Dissertação de Mestrado em Lingüística,
2005, Universidade de Brasília).
g) “Ao contrário do que ocorre com os pidgins e crioulos, em que
o normal é a relexificação da língua dominada, na qual subsiste
no entanto os aspectos morfossintáticos [...]” (Dissertação de
mestrado em Lingüística, 2005, Universidade de Brasília).
h) “Num país onde existe mais de 100 línguas além da oficial é
inconcebível perpetuar a idéia que só a língua normativa é a
correta” (Texto produzido por professora de português do Distrito
Federal).

E aí, sabe qual é a regra? Se pensou na concordância verbal,


acertou! Como você vê, a falta de concordância do verbo com o sujeito
posposto ocorre desde situações menos formais (como nos textos
da Internet) até as mais formais (como nos textos produzidos por
pessoas tidas como cultas, conhecedoras da modalidade de prestígio).
Para muitos, a concordância do verbo com o sujeito posposto passa a
ser uma regra “invisível”, tornando a construção, sem a aplicação da
regra, bastante “natural” para muitos falantes do português brasileiro.
No entanto, mesmo com a influência dessa variante, a
regra prevista na norma-padrão ainda permanece viva e forte na
consciência de muita gente, como ilustram as frases abaixo, retiradas
dos fragmentos de textos apresentados por Bagno (p. 115):

i) Chegaram os sem-floresta...
j) Acabaram os roubos de automóveis...
k) Saíram os custos de produção...
l) A taxa acabou, mas sobraram as dúvidas de pessoas...
m) (...) às mulheres restavam os trabalhos domésticos e o cuidado
dos filhos.

Entendeu como se caracteriza a variação diafásica? São os


usos monitorados (de maneira mais consciente ou menos consciente)
que os falantes fazem da língua conforme a situação em que se
encontram.

2.6 Variação diamésica

Variação diamésica (do grego diá = através de e mésos =


meio) é aquela que se observa entre a língua falada e a língua escrita.
Por exemplo, quando você escreve um texto, pode apagá-lo, corrigi-
lo, modificá-lo, reescrevê-lo quantas vezes quiser. Já com o texto

54 Módulo 2 I Volume 5 EAD


falado, o mesmo não acontece. Você não tem como apagar o que
disse, por exemplo. O que pode fazer é reapresentar a ideia num
processo de correções, acréscimos e reformulações, configurando
estruturas que basicamente se diferenciam daquelas tidas como bem
acabadas pelos gramáticos.

2
Vamos ver como isso se configura, contrastando os dois textos
abaixo (cf. FAVERO et al., 2002). O primeiro corresponde a um trecho

Aula
de fala retirado de textos do projeto NURC/SP:

DESCRIÇÃO DE UM MUSEU

Bom... eu, eu fui a a a Paris e visitei o Louvre... e estive


no Louvre eu acho que umas eu passei uma semana só em
Paris mas eu fui umas quatro vezes ao Louvre... porque
realmente o que a gente vê no Louvre é indescritível...
e é aquilo que a gente está costumado a ver em livros
e álbuns sobre obras célebres... ter oportunidade de
ver lá e e examinar... dá assim uma sensação uma
emoção até inenarrável porque é completamente é
indescritível... entendeu? Eu fui também a a ao Museu
do Prado... fui algumas vezes no Museu do Prado em
em em na capital da Espanha... lá em Madri e na Itália
também tive oportunidade de conhecer bonitos museus...
principalmente em Florença...

Agora, o segundo texto é uma reformulação escrita do primeiro:

DESCRIÇÃO DE UM MUSEU

Quando fui a Paris, visitei o Louvre por quatro vezes, ATENÇÃO


embora a minha permanência na capital francesa tenha
A propósito desse tipo de variação,
sido de uma semana. A justificativa para tantas visitas não podemos deixar de falar aqui
está no que se tem para admirar naquele museu. É dos gêneros textuais, outro fator
algo indescritível. Sente-se uma emoção inenarrável que determina essa variação. Você já
deve ter estudado que, a depender
quando se tem a oportunidade de examinar de perto
do gênero, os textos, falados ou
aquelas obras célebres cujo contato sempre foi através escritos, apresentam estruturas,
de livros ou álbuns de História da Arte. Conheço outros vocabulários e gramática próprios.
museus da Europa. Na Espanha, mais precisamente Exemplificando: pense nos textos da
Internet, num site, num e-mail, num
na capital Madri, estive no Museu do Prado. Já na
chat... cada um apresenta estrutura/
Itália pude apreciar bonitos museus, principalmente forma e linguagens específicas,
em Florença. marcadas pela natureza do veículo
em questão. Um exemplo mais
prático ainda é este texto da EAD que
Percebeu as diferenças entre os dois textos? Elas você está tendo contato. Com sua
forma e linguagens adaptadas, esse
são bastante visíveis, não são? Pois é, temos aí a chamada tipo de texto está sendo produzido
variação diamésica. para atender a uma situação
específica, a aula não-presencial,
Agora que já conheceu as variações e as que, com certeza, se diferencia da
aula tradicional/presencial.
classificações apresentadas a elas, vamos às atividades!

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Linguística II: sociolinguística Variação sociolinguística: Tipos

ATIVIDADES
1. Para sintetizar o que viu nesta aula, procure definir cada um dos tipos de variação
estudados.

2. A variação de natureza lexical é uma das que mais caracteriza a variação diatópica. Para
testar o seu conhecimento, procure definir as palavras abaixo, retiradas do “Dicionário
oral lingüístico da microrregião de Irecê”. O objetivo é verificar se o falar daquela região
se aproxima ou não da sua. Vamos lá!

a) Abelhudo: _________________________________________________________
b) Afolozado: _ _______________________________________________________
c) Arizia: _ __________________________________________________________
d) Baleadeira: _______________________________________________________
e) Barrelar: _________________________________________________________
f) Budejar: __________________________________________________________
j) Cajoeta: _ ________________________________________________________
h) Congoncha: _ ______________________________________________________
i) Estisicar: _ ________________________________________________________
j) Fuá: _____________________________________________________________
k) Gasgita: _ _________________________________________________________
l) Latumia: _ _________________________________________________________
m) Marimba: _________________________________________________________
n) Oreba: _ __________________________________________________________
o) Paruara: __________________________________________________________
p) Ribigudo: _ ________________________________________________________
q) Soroio: ___________________________________________________________
r) Trelo: _____________________________________________________________
s) Urucubaca: ________________________________________________________

3 As expressões abaixo foram retiradas do Dicionário de Baianês, de Nivaldo Lariú.


Procure definir cada uma delas. Se você as conhece, não terá dificuldades. Se não as
conhece, procure trocar ideias com os colegas antes de responder a questão.

a) A migué:_ _________________________________________________________
b) Abriram a porta do cemitério:__________________________________________
c) Bateu na piçarra:____________________________________________________
d) Cabelo ninho-de-querequeché:_________________________________________
e) Chamar cachorro de cacho:____________________________________________
f) Dar um tangolumango:_ ______________________________________________
g) Enrolado no xale da doida:____________________________________________
h) Ficar no barricão:_ __________________________________________________
i) Isso não voga não!:__________________________________________________
j) Levar um chepo:_____________________________________________________
l) Metido a gás-com-água:_______________________________________________
k) Não fazer “o” com copo:______________________________________________

56 Módulo 2 I Volume 5 EAD


l) Obra de Santa Ingrácia:_______________________________________________
m) Pererê, caixa de fósforo:_ ____________________________________________
n) Por honra da firma:__________________________________________________
o) Roer beira de penico:_________________________________________________
p) Tá na jante:________________________________________________________

2
4. Agora, deverá fazer um levantamento de, no máximo, dez expressões que você
conhece e ouve em sua região.

Aula
5. Para demonstrar a variação diastrática, apresente, pelo menos, uma letra de música
(moda de viola, ou música sertaneja, ou música raiz) que retrata o dialeto caipira.

6. Observe os dados:

Português culto Português não-culto


Eu estudo Eu estudo
Tu estudas Você/ Cê estuda
Ele(a) estuda Ele(a) estuda
Nós estudamos Nós / a gente estuda
Vós estudais Vocês / Cês estuda
Ele(a)s estudam Ele(a)s estuda

6.1. Analise diacronicamente as formas (gráficas e acústicas), apontado as diferenças e


semelhanças.

7 Compare os dados abaixo:

latim francês português

Grafia Cera cire cera

Som [kera] [sir] [será]

Grafia Costa Cote Costa

Som [kosta] [kot] [kosta]

Grafia Carus Cher Caro

Som [karus] [xer] [caru]

7.1 Numa análise sincrônica, aponte as semelhanças e as diferenças que se observam


nas formas do paradigma pronominal e verbal.

8. Veja as explicações e depois diga se são diacrônicas (D) ou sincrônicas (S):

a) Pôr é um verbo da 2ª conjugação, porque no português arcaico o infinitivo era poer.


b) Pôr é um verbo da 2ª conjugação porque sua vogal temática é “e”, como comprovam
as formas atuais pudesse, puser, põe...
c) Forma-se o plural de notável pela troca do “l” por “is”: notável/notáveis.

UESC Letras Vernáculas 57


Linguística II: sociolinguística Variação sociolinguística: Tipos

d) O plural amáveis provém da forma latina amabiles: amabiles>amvavies>avave


es>amáveis.
e) O plural de lobo forma-se pelo acréscimo de “s” ao singular.
f) O plural dos nomes terminados em “ão” apresenta três possibilidades: grão/
grãos, pão/pães, leão/leões.
g) Gra(n)os> grãos; pa(n)es> pães>leo(n)es> leões.
h) Tauru>touro; vacca>vaca; libru>livro; mensa>mesa.
i) O pronome “a gente” concorre com o pronome nós, atualmente.
j) No século XVIII, os clíticos eram usados do que atualmente.
k) Do século XVIII ao século XXI, o objeto nulo foi aumentando gradativamente.

9. Para ilustrar a variação diafásica, você deverá buscar em textos da Internet, de


preferência mais informal, dez casos que ilustrem a variação da concordância em
estruturas com a ordem inversa do sujeito, ou seja, quando ele aparece posposto ao
verbo. Deverão ser: cinco casos com a marcação explícita (como manda a regra) e
cinco casos sem a marcação. Deverá indicar as fontes dos textos.

RESUMINDO

Nesta aula, você viu que:

• A variação linguística se manifesta de diversas formas.


• Os tipos de variação, conforme os textos especializados, são: diatópica;
diastrática; diacrônica; sincrônica; diafásica e diamésica.
• Cada um dos tipos revela particularidades que caracterizam a “vida” de
uma língua.

LEITURA RECOMENDADA

Para complementar esta nossa aula, bem como


auxiliar na compreensão de outros tópicos que
serão estudados em aulas posteriores, em particular
a próxima, você deverá ler o texto de Marcos
Bagno, em anexo: Mas o que é mesmo variação
lingüística?, publicado em: Nada na língua é por
acaso: por uma pedagogia da variação lingüística.
São Paulo: Parábola Editorial, 2007. Nesse livro,
o autor, além de discutir conceitos básicos da
Sociolinguística, apresenta atividades práticas
para abordar a variação linguística em sala de
aula. Vale a pena lê-lo por completo!
Fonte: http://www.parabolaeditorial.com.br

58 Módulo 2 I Volume 5 EAD


ALKMIM, T. Sociolingüística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs.).
Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez,
2001, p. 21- 47.

ANDRADE, R. L. L. O uso variável de para mim e para eu em


orações reduzidas de infinitivo: um estudo sociolingüístico.

REFERÊNCIAS

2
Monografia de Especialização, FACSUL, Itabuna-BA, 2007.

Aula
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolingüística. 12. ed. São
Paulo: Contexto, 2008.

BAGNO, M. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da


variação lingüística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

BELINE, R. A variação lingüística. In: FIORIN, J. L. (Org.). Introdução


à lingüística: objetos teóricos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003, p.
121-140.

CAMACHO. R. G. Sociolingüística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C.


(Orgs.). Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. São Paulo:
Cortez, 2001, p.49-75.

CEZARIO, M. M.; VOTRE, S. Sociolingüística. In: MARTELOTA, Mário


Eduardo (Org.). Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008,
p. 141-155.

CYRINO, S. M. L. Observações sobre a mudança diacrônica no


português do Brasil: objeto nulo e clíticos. In: ROBERTS, I.; KATO,
M. A. (Orgs.). Português brasileiro: uma viagem diacrônica.
Campinas: Unicamp, 1993, p. 163-184.

DICIONÁRIO ORAL LINGÜÍSTICO DA MICRROREGIÃO DE


IRECÊ. Irecê: UNEB.

DUBOIS, J. et al. Dicionário de lingüística. Tradução de Barros et


al. São Paulo: Cultrix, 1997.

ELIA, S. Sociolingüística. Rio de Janeiro: Padrão, 1987.

FAVERO, L. et al. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de


língua materna. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

GALVES, C. C. O enfraquecimento da concordância no português


brasileiro: In: ROBERTS, I.; KATO, M. A. (Org.). Português
brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: Unicamp, 1993, p.
387- 408.

ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente: a língua que estudamos,


a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006.

MASSINI-CLAGLIARI, G.; CAGLIARI, l. C. Fonética. In: MUSSALIM,


F.; BENTES, A. C. (Orgs.). Introdução à lingüística: domínios e
fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001, p.105-146.

UESC Letras Vernáculas 59


Linguística II: sociolinguística Variação sociolinguística: Tipos

MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (Orgs.). Introdução à Sociolingüística


Variacionista. Rio de Janeiro: UFRJ, 1992.

OLIVEIRA, T. R. de M. Q. A variação da concordância verbal em


língua escrita: influência das variáveis lingüísticas e extralingüísticas.
Monografia de Especialização, Universidade Estadual de Santa Cruz,
Ilhéus-BA, 2008.

PRETTI, D. Sociolingüística: os níveis da fala. São Paulo: USP, 2003.

ROBERTS, I.; KATO, M. A. (Orgs.). Português brasileiro: uma


viagem diacrônica. Campinas: Unicamp, 1993.

TARALLO, Fernando. Tempos lingüísticos: Itinerário histórico da


língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Ática, 1994.

VAZZATA-DIAS, J. F. A concordância de número nos predicativos/


particípios passivos na fala do Sul do Brasil: motivações
extralingüísticas. In: LETRAS de Hoje: A variação no sistema. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2000, p. 209-228.

60 Módulo 2 I Volume 5 EAD


ANEXO II
Suas anotações
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