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aula
de:
1 INTRODUÇÃO
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Bem, os fatos demonstrados aqui ilustram a variação dentro na cidade de Santos-SP,
no site: http://www.letra-
de um mesmo território: Brasil. Agora, ilustraremos a variação que magna.com/xerxesartigo.
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ocorre entre dois territórios diferentes: Brasil e Portugal.
Obviamente, são muitas as diferenças
que ocorrem entre esses dois espaços.
Você já viu um português conversando?
SAIBA MAIS
Com certeza deve ter percebido inúmeras
peculiaridades que o diferenciam de um Conforme Valente (2002), apud Ilari e Basso (2006, p. 159), “nem
todas as diferenças entre o PE e o PB resultam do fato de que
falante brasileiro. Uma das mais marcantes essas duas variedades têm repertórios de palavras distintas”. Há
é a de natureza lexical. Por exemplo, se palavras ou expressões que existem tanto numa como na outra,
e a possibilidade de variação decorre das chamadas “diferenças
alguém te pedir uma cerveja de pressão,
de colocação”. O quadro abaixo ilustra algumas delas:
uma pastilha elástica, uma tira-cápsulas,
PE PE e PB PB
uma arca frigorífica, saberia reconhecer que
Teimoso como Que nem a mulher
se tratam, respectivamente, de: um chope, Feito um burro
uma mula do piolho
um chiclete, um abridor de garrafas, um Como uma Falar pelos Mais que o homem
gralha cotovelos da cobra
freezer? Se alguém te perguntar se conhece
Comprar por uma
A troco de reza Por uma micharia
o professor reformado ou se sabe onde está pechincha
ATENÇÃO
Para o primeiro caso, recorremos ao estudo de Vazzata-
Dias (2000), que revela a relação direta entre o aumento dos
Estamos falando aqui de variações do
tipo: anos de escolarização e o favorecimento da marca explícita
de plural no predicativo/particípio passivo no português falado
a) Eles são rebeldes X Eles são
rebelde. no Brasil: o nível de escolaridade colegial (ensino médio), ao
b) Meus pais são descendentes X
contrário do primário (fundamental I) e do ginásio (fundamental
Meus pais são descendente.
c) Os presos foram mandados... II), favorece mais a forma de prestígio.
X Os presos foram mandado...
Para ilustrar o segundo caso, recorremos a letras de duas
Veja a tabela (cf. Vazzata-Dias, 2000) músicas que retratam os chamados “dialetos caipiras”: uma
com os números correspondentes à
influência da variável escolaridade na de Adoniran Barbosa, “Samba do Arnesto”, e a outra “Couro de
escolha da variante presença de marca boi”, de Teddy Vieira e Palmeira, que já foi gravada nas vozes
de plural:
de Tonico, Sergio Reis e outros:
Fator “escolaridade” %
Primário 21
Samba do Arnesto
Ginásio 36
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você mande o véio imbora, se não quisé que eu vá,
o rapaiz coração duro, com o veinho foi falá:
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para o senhor se mudá, meu pai eu vim lhe pedi,
hoje aqui da minha casa, o sinhô tem que saí,
leva esse couro de boi, que eu acabei de curti,
pra lhe servi de cuberta aonde o sinhô durmi.
O pobre véio calado, pegou o couro e saiu,
seu neto de oito ano, que aquela cena assistiu,
correu atrais do avô, seu palito sacudiu.
Metade daquele couro, chorando ele pediu,
o veinho comovido, pra não vê o neto chorando,
cortou o couro no meio, e pro netinho foi dando.
O menino chegou em casa, seu pai foi lhe perguntando
pra que você qué este couro, que seu avô ia levando.
Disse o menino ao pão, um dia vou me casar
o senhor vai ficá veio e comigo vem morá
pode ser que aconteça, de nois não se cumbiná
essa metade do couro, vou dar pro senhor levá.
VOCÊ SABIA?
Como você pode notar, há vários traços típicos da fala não-
Você sabia que as línguas
padrão em ambas as músicas. Com esses traços, a imagem do caipira românicas surgiram do la-
é projetada. Temos, então, ilustrada a fala no âmbito diastrático. tim vulgar? Não foi nem do
latim literário nem do latim
da Igreja Católica. Mas o que
seria vulgar? Seria a forma
de aprendizado espontâneo
2.3 Variação diacrônica e inconsciente, no ambien-
te em que as pessoas são
criadas, portanto, a forma
A variação diacrônica (do grego diá = através de; khrónos = vernácula. Conforme Ilari e
Basso (2006, p. 17), “o latim
tempo) é aquela que se verifica ao longo do tempo. Para entendê-la, vulgar foi uma variedade de
vamos falar um pouco da história do português que você fala hoje. latim principalmente falada,
a mesma que os soldados e
Como você sabe, o português, assim como o espanhol, comerciantes romanos le-
varam às regiões conquista-
o italiano e o francês, por exemplo, se originou do latim, a língua das durante a formação do
da civilização que teve como centro a Roma antiga. Do latim ao Império, que foi passada de
geração em geração sem ser
português da época da colonização, muito tempo se passou e muitas ensinada formalmente”. Com
foram as transformações. Daquele português ao português que você a fragmentação do Império
e com as influências das in-
fala e convive hoje, também não foi diferente: muitas mudanças se vasões “bárbaras”, o que era
tido como território linguísti-
processaram nos vários níveis da língua. Para ilustrar algumas dessas co único se transformou num
mudanças, vamos recorrer a alguns fatos. O primeiro se refere a uma mosaico de falares locais,
dos quais alguns ganharam
transformação do latim para o português; os outros se referem a projeção e se transformaram
transformações que se processaram no âmbito do próprio português. nas línguas românicas que
conhecemos hoje: além das
Os artigos definidos e os clíticos de terceira pessoa, (o, que já mencionamos, são lín-
guas românicas: o romeno, o
a, os, as), que você conhece hoje, “nasceram” de um pronome sardo, o reto-românico, o oc-
demonstrativo, mais especificamente, ille, em sua forma acusativa, citano, o catalão e o galego.
mudança muito grande em relação ao uso do clítico: enquanto ele era Para conhecer outros fe-
nômenos estudados nu-
a forma quase que preferida dos falantes na segunda metade do século ma perspectiva diacrôni-
ca, recomendo a leitura
XVIII (96,2%), no século XX, por sua vez, ele é pouco recorrente
do livro de ROBERTS, I.;
(18,0%). Ao seu desaparecimento está associado o surgimento do KATO, M. A. (Orgs.). Por-
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tuguês brasileiro: uma
objeto nulo, como viu na primeira tabela, bem como o surgimento do viagem diacrônica. Cam-
pinas: Unicamp, 1993.
pronome tônico, como ilustra a tabela 3 abaixo, também de Cyrino
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Também sugiro a leitura
(1990), apud Galves (1993): do livro de TARALLO, F.
Tempos lingüísticos:
itinerário histórico da lín-
Tabela 3: frequência do clítico e do pronome tônico gua portuguesa. 2. ed.
São Paulo: Ática, 1994.
ATENÇÃO
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seu chefe, de um e-mail enviado a um colega, de uma resenha a ser
encaminhada ao professor... Cada situação exige de você um controle
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maior ou menor, tanto do seu comportamento em geral quanto do
seu comportamento verbal.
Trata-se, portanto, do monitoramento estilístico “que vai do
grau mínimo ao grau máximo” (BAGNO, 2007, p. 45). Conforme o
autor, cada pessoa, independentemente de seu grau de instrução,
classe social, idade etc. varia o seu modo próprio de falar, podendo
ser mais ou menos consciente, dependendo da situação em que está.
Os termos usados para designar esse tipo de variação são “estilo” ou
“registro”. As figuras abaixo ilustram um desses casos:
Figura: UAB/UESC
i) Chegaram os sem-floresta...
j) Acabaram os roubos de automóveis...
k) Saíram os custos de produção...
l) A taxa acabou, mas sobraram as dúvidas de pessoas...
m) (...) às mulheres restavam os trabalhos domésticos e o cuidado
dos filhos.
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Vamos ver como isso se configura, contrastando os dois textos
abaixo (cf. FAVERO et al., 2002). O primeiro corresponde a um trecho
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de fala retirado de textos do projeto NURC/SP:
DESCRIÇÃO DE UM MUSEU
DESCRIÇÃO DE UM MUSEU
ATIVIDADES
1. Para sintetizar o que viu nesta aula, procure definir cada um dos tipos de variação
estudados.
2. A variação de natureza lexical é uma das que mais caracteriza a variação diatópica. Para
testar o seu conhecimento, procure definir as palavras abaixo, retiradas do “Dicionário
oral lingüístico da microrregião de Irecê”. O objetivo é verificar se o falar daquela região
se aproxima ou não da sua. Vamos lá!
a) Abelhudo: _________________________________________________________
b) Afolozado: _ _______________________________________________________
c) Arizia: _ __________________________________________________________
d) Baleadeira: _______________________________________________________
e) Barrelar: _________________________________________________________
f) Budejar: __________________________________________________________
j) Cajoeta: _ ________________________________________________________
h) Congoncha: _ ______________________________________________________
i) Estisicar: _ ________________________________________________________
j) Fuá: _____________________________________________________________
k) Gasgita: _ _________________________________________________________
l) Latumia: _ _________________________________________________________
m) Marimba: _________________________________________________________
n) Oreba: _ __________________________________________________________
o) Paruara: __________________________________________________________
p) Ribigudo: _ ________________________________________________________
q) Soroio: ___________________________________________________________
r) Trelo: _____________________________________________________________
s) Urucubaca: ________________________________________________________
a) A migué:_ _________________________________________________________
b) Abriram a porta do cemitério:__________________________________________
c) Bateu na piçarra:____________________________________________________
d) Cabelo ninho-de-querequeché:_________________________________________
e) Chamar cachorro de cacho:____________________________________________
f) Dar um tangolumango:_ ______________________________________________
g) Enrolado no xale da doida:____________________________________________
h) Ficar no barricão:_ __________________________________________________
i) Isso não voga não!:__________________________________________________
j) Levar um chepo:_____________________________________________________
l) Metido a gás-com-água:_______________________________________________
k) Não fazer “o” com copo:______________________________________________
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4. Agora, deverá fazer um levantamento de, no máximo, dez expressões que você
conhece e ouve em sua região.
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5. Para demonstrar a variação diastrática, apresente, pelo menos, uma letra de música
(moda de viola, ou música sertaneja, ou música raiz) que retrata o dialeto caipira.
6. Observe os dados:
RESUMINDO
LEITURA RECOMENDADA
REFERÊNCIAS
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Monografia de Especialização, FACSUL, Itabuna-BA, 2007.
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BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolingüística. 12. ed. São
Paulo: Contexto, 2008.