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Aula 07 - Profº Carlos

Roberto e Márcio
Damasceno
PC-AL (Agente e Escrivão) Discursivas -
Sem Correção - 2021 (Pós-Edital)

Autor:
Carlos Roberto
Aula 07 - Profº Carlos Roberto e
Márcio Damasceno
06 de Julho de 2021

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Carlos Roberto
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Sumário

Introdução.................................................................................................................................................3

Padrões de resposta do bloco de temas 2 – Crime organizado, drogas e armas ..........................................3

Tema 14.................................................................................................................................................3

Proposta de solução .............................................................................................................................. 5

Tema 15 ................................................................................................................................................. 7

Proposta de solução .............................................................................................................................. 9

Tema 16............................................................................................................................................... 10

Proposta de solução ............................................................................................................................. 11

Tema 17 ............................................................................................................................................... 13

Proposta de solução ............................................................................................................................. 14

Tema 18 ............................................................................................................................................... 15

Proposta de solução ............................................................................................................................. 16

Tema 19............................................................................................................................................... 18

Proposta de solução ............................................................................................................................. 19

Tema 20 ............................................................................................................................................. 20

Proposta de solução ............................................................................................................................ 22

Tema 21............................................................................................................................................... 23

Proposta de solução ............................................................................................................................ 24

Tema 22 ..............................................................................................................................................25

Proposta de solução ............................................................................................................................. 27

Tema 23.............................................................................................................................................. 28

Proposta de solução ............................................................................................................................ 29

Bloco de temas 3 – Crimes em geral e violência contra segmentos vulneráveis ......................................... 30

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Tema 24 .............................................................................................................................................. 30

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 31

Tema 25 .............................................................................................................................................. 38

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 38

Tema 26 ............................................................................................................................................. 42

Abordagem teórica ............................................................................................................................. 46

Tema 27 ...............................................................................................................................................50

Abordagem teórica ..............................................................................................................................52

Tema 28 ..............................................................................................................................................59

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 61

Tema 29 .............................................................................................................................................. 67

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 67

Tema 30............................................................................................................................................... 73

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 76

Tema 31 ............................................................................................................................................... 81

Abordagem teórica ............................................................................................................................. 82

Tema 32...............................................................................................................................................85

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 87

Tema 33.1 ............................................................................................................................................93

Tema 33.2 ........................................................................................................................................... 96

Abordagem teórica ............................................................................................................................. 96

Prática................................................................................................................................................... 101

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INTRODUÇÃO
Olá, meus nobres alunos. Bem-vindos à nossa terceira e última rodada de temas. Espero que vocês tenham
gostado e praticado os temas propostos.
Caso vocês tenham sentido falta de algum tema que considerem relevante, podem enviar as sugestões pelo
meu IG ou pelo fórum. A depender da frequência de pedidos, posso preparar uma aula extra tratando sobre
alguns desses temas.
No mais, espero que este curso possa ter contribuído com a sua caminhada. Bons estudos!
Instagram: profmarciodamasceno

Prof. Marcio

PADRÕES DE RESPOSTA DO BLOCO DE TEMAS 2 – CRIME ORGANIZADO,


DROGAS E ARMAS

Tema 14

Há dez anos o crime organizado parou São Paulo – a cidade mais rica do País. Nesses últimos dez anos,
porém, o crime organizado não parou, seguiu em frente, só cresceu, ampliou suas atuações, expandiu e
variou seus “negócios”. Em 15 de maio de 2006, após a onda de ataques contra agentes de segurança do
Estado iniciada na noite do dia 12, o Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou a população da maior
metrópole da América do Sul atônita, amedrontada, acuada. Em razão do pânico motivado pelas mortes
em série, escolas, estabelecimentos comerciais, empresas fecharam mais cedo. Até fóruns criminais e o
Ministério Público dispensaram seus funcionários e abreviaram o expediente. Trabalhadores refugiaram-se
em suas casas. A cidade se calou.
O saldo dos ataques daquele mês de maio revela um quadro de violência sem precedentes no Brasil que
justifica o pânico em São Paulo. Entre os dias 12 e 21, foram 564 mortos em todo o Estado, entre eles 59
agentes públicos. Muitos dos homicídios com características de execução sumária ainda não foram
esclarecidos pela polícia nem punidos pela Justiça. Em um único fim de semana, 94 presídios se rebelaram
e incontáveis ônibus foram incendiados por bandidos em diversas cidades paulistas. Tudo sob comando do
PCC.
Sem aviso prévio à população, mas com conhecimento do Estado, os ataques cessaram. No domingo, dia
14 de maio, após uma reunião no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes entre o líder da
facção criminosa, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e a cúpula da gestão Claudio Lembo,

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substituto de Geraldo Alckmin que disputaria a eleição presidencial mais à frente, a normalidade começaria
a voltar a São Paulo. O Estado, em julho do ano passado, teve acesso ao depoimento à Justiça do delegado
José Luiz Ramos Cavalcanti, que participou da reunião. Ele afirma que uma advogada da facção dizia que os
ataques só parariam se os bandidos tivessem a certeza de que Marcola estava vivo e bem. O governo cedeu
um avião da PM que levou todos até o encontro com o líder. Lá, ele foi convencido a dar a ordem para
encerrar os ataques. Um outro detento, conhecido por “LH”, recebeu um celular e, após os bloqueadores
serem desligados, passou o recado às ruas.

Disponível em: https://infograficos.estadao.com.br/cidades/dominios-do-


crime/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.

Até os anos 80, as estruturas criminosas limitavam-se ainda a quadrilhas de ação localizada. E ao jogo do
bicho. Ele surgiu no Brasil no fim do século 19, em uma situação inusitada – o dono do antigo Jardim
Zoológico de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, vendo-se diante da falência, estimulou a visitação trocando o
ingresso por um papel com o nome de um dos 25 animais do parque; o animal sorteado pagava 20 vezes o
preço do ingresso. Até ser proibido na década de 1890, era um jogo aristocrático, com os resultados dos
sorteios publicados nos jornais. Desde então, mantém a popularidade entre as classes mais baixas graças,
em parte, à facilidade na aposta, uma vez que se pode jogar qualquer quantia. Além disso, é até hoje
considerado contravenção e não crime, o que ajuda os bicheiros a formar quadrilhas poderosas. Não à toa,
muitos especialistas consideram que ainda hoje eles são o grupo mais representativo do crime organizado
no Brasil. “O jogo do bicho contempla boa parte da definição desse termo: tem território definido, faz
lavagem de dinheiro e tem forte penetração na máquina do Estado”, diz Michel Misse, coordenador do
Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), da UFRJ.
O grande divisor de águas, que tornaria o crime organizado muito mais complexo e violento, foi a entrada
com força da cocaína no mercado nacional. A gestão diária do jogo não exigia uma estrutura muito
complexa, mas as drogas sim. Para operar nesse novo mercado, era preciso montar quase uma indústria,
com estratégias para criar e manter pontos de venda e sistema de transporte para garantir a oferta
constante. “A logística da economia da droga exigiu mudanças estruturais na forma como os grupos
atuavam”, diz a antropóloga Jacqueline Muniz, ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública e
professora da Universidade Cândido Mendes (Ucam), do Rio de Janeiro. Em especial, era preciso mais gente
envolvida. E é com o tráfico que a imagem positiva do malandro – “aquela de saber se virar pela cidade” – é
substituída pela do bandido feio e mau.
[...]
Da mesma forma que o crescimento da população nas cidades levou ao aumento da criminalidade, o
crescimento da população nas cadeias levou à radicalização do crime. O berço das principais facções
criminosas do Brasil são os presídios. Aqui, como em outros países, o melhor lugar para o crime se organizar
ou aumentar seu poder é atrás das grades. “Há vários casos no mundo, inclusive de movimentos religiosos,
como os islamitas americanos. É angustiante que isso apareça exatamente entre os bandidos que estão sob
a tutela do Estado”, diz Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel, uma ONG de pesquisas econômicas e
sociais.

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A primeira a sair dos presídios brasileiros foi o Comando Vermelho (CV), ainda na década de 1970.
Posteriormente, ela teria dado origem a todas as demais grandes facções cariocas. Acredita-se que seus
primeiros líderes tenham convivido com grupos guerrilheiros de esquerda no presídio Cândido Mendes, em
Ilha Grande, Rio de Janeiro, e se inspirado neles para criar sua organização (daí o “vermelho” no nome). A
princípio, eram apenas quadrilhas de ladrões tentando criar uma unidade para facilitar seu trabalho. Com a
chegada das drogas, tornou-se um grupo voltado para o tráfico. A primeira consequência foi exacerbar dois
componentes que já existiam no bicho: o terror aplicado àqueles que se voltassem contra a facção e o
assistencialismo à comunidade. Houve até uma época em que o Comando Vermelho especializou-se em
uma tática Robin Hood: assaltar caminhões com mercadorias e distribuir para os moradores das favelas.

Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/o-


pcccrime-s-a/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
(com adaptações)

Considerando os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.

CRIME ORGANIZADO NO BRASIL

Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:


1 modo de operação do crime organizado;
2 relacionamento entre o encarceramento em massa e o crime organizado;
3 papel do Estado e políticas públicas.

Proposta de solução

O crime organizado é o fenômeno criminal que caracteriza as ações praticadas por uma
organização criminosa, a qual tem como particularidades a sofisticação na prática de crimes;
a estrutura funcional; o reconhecimento dos participantes pertencentes à organização e a
capacidade de impor regras com o uso da violência e com a infiltração no interior do Estado.
[Introdução conceito]

Inicialmente, ressalte-se que o crime organizado se envolve em uma série de atividades


ilícitas. Uma das principais é o tráfico de drogas, o qual exige uma estrutura complexa,

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operacionalizada com engenhosidade pelas organizações criminosas. Associado ao tráfico de


drogas, encontra-se o tráfico de armas, o qual possibilita às organizações prover a segurança
dos seus negócios e obter lucro pela venda dessas armas. Outrossim, as organizações
criminosas se valem do seu poderio econômico para corromper agentes públicos com o intuito
de obter favores, informações privilegiadas e influenciar a tomada de decisão. O lucro auferido
é dissimulado por operações para ocultar a sua origem, por meio da lavagem de dinheiro.

Além disso, frise-se que o encarceramento em massa é importante elemento de


formação e fortalecimento do crime organizado. Inúmeros especialistas apontam que
organizações como o Primeiro Comando da Capital, a qual movimenta, atualmente, cerca
de 200 milhões de reais ao ano, surgiram no interior de presídios com a aglutinação da
população carcerária por melhores condições. O aumento crescente da população carcerária,
que já alcança mais de 700 mil pessoas, serve como elemento facilitador para o
recrutamento de novos integrantes para as facções criminosas. Isso porque é recorrente o
convívio entre presos provisórios ou condenados por crimes simples e criminosos de elevada
periculosidade já pertencentes às organizações criminosas.

Por fim, dada a gravidade da situação, é papel do Estado oferecer soluções para a
redução do poder dessas instituições. De forma mais imediata, como uma resposta a curto
prazo, deve-se buscar a prisão dos membros de organizações criminosas e a recuperação das
áreas historicamente dominadas pelo crime organizado, o isolamento carcerário das
lideranças, a identificação da estrutura e o confisco de seus bens, com o enfraquecimento do

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poder econômico dessas facções. A longo prazo, deve-se envidar esforços em políticas que
reduzam a desigualdade social e dificultem o recrutamento por parte do crime organizado.

Tema 15

Isolamento das lideranças criminosas


Logo no início do ano, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) coordenou a maior transferência de
líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital para unidades do Sistema Penitenciário Federal
por meio da Operação Imperium. A união das forças de segurança pública contou também com
o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Força
Nacional de Segurança Pública, a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Secretaria de Administração Penitenciária
do Estado de São Paulo, a Força Aérea Brasileira (FAB), o Exército Brasileiro e a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin).
Com a edição da Portaria nº 157/2018, as visitas sociais no Sistema Penitenciário Federal passaram a ser
exclusivamente por meio de parlatório, minimizando as chances de comunicação dos presos com o exterior
dos presídios.
De janeiro a novembro de 2019, o Sistema Penitenciário Federal recebeu 324 presos. O número corresponde
a um aumento de 93% do total de inclusões realizadas no mesmo período de 2018.
Disponível em: https://www.novo.justica.gov.br/news/combate-ao-crime-organizado-com-
isolamento-de-liderancas-e-enfraquecimento-do-poder-
economico#:~:text=Isolamento%20
das%20lideran%C3%A7as%20criminosas&text=Com%20a%20edi%C3%A7%C3%A3o%20da
%20Portaria,com%20o%20exterior%20dos%20pres%C3%ADdios. Acesso em: 02/09/2020.
Com adaptações.

Operação da PF mira poder financeiro de facção do crime


Desde a manhã desta segunda-feira, 31/08, a Polícia Federal deflagrou, juntamente com a Força Integrada
de Combate ao Crime Organizado (FICCO), coordenada pela própria PF, a operação Caixa Forte 2, com o
objetivo de investigar o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro praticados por facção criminosa com
atuação em todo o território nacional.
Os dados obtidos na Operação Caixa Forte – Fase 01 (investigação que identificou os responsáveis pelo
chamado “Setor do Progresso” da facção, que se dedica à lavagem de dinheiro proveniente do tráfico)
revelaram que os valores auferidos com o comércio ilícito de drogas eram, em parte, canalizados para
inúmeras outras contas bancárias da facção, inclusive para as contas do “Setor da Ajuda”, aquele
responsável por recompensar membros da facção recolhidos em presídios.

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Foram identificados 210 integrantes do alto escalão da facção, recolhidos em Presídios Federais, que
recebiam valores mensais por terem ocupado cargos de relevo na organização criminosa ou executado
missões determinadas pelos líderes, como, por exemplo, execuções de servidores públicos.
A atuação da Polícia Federal visa desarticular a organização criminosa por meio de sua descapitalização,
atuando em conformidade com as diretrizes do órgão de enfrentamento à criminalidade organizada por
meio da abordagem patrimonial, além da prisão de lideranças.
Disponível em: https://portalcontexto.com/operacao-da-pf-mira-poder-financeiro-de-faccao-
do-crime/. Acesso em: 03/09/2020. Com adaptações.

PF investiga postos e distribuidora de combustível em operação contra lavagem de dinheiro de facção


criminosa
Segundo as investigações, PCC movimentou R$ 30 bilhões. Justiça determinou bloqueio de R$ 730 milhões e
interdição de 70 empresas. 13 pessoas foram presas.
A Polícia Federal em São Paulo realizou nesta quarta-feira (30) uma operação para desarticular um esquema
de lavagem de dinheiro do PCC, facção que atua dentro e fora dos presídios do país, feito por meio de postos
de gasolina e uma distribuidora de combustível. A facção movimentou ao menos R$ 30 bilhões.
Segundo a investigação, o principal alvo era a prisão de um homem conhecido como Alemão, cuja família é
dona de cerca de 50 postos. As investigações também apontam o envolvimento dele com a morte de
Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mague, que foi um dos chefes da facção.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/09/30/policia-federal-faz-
operacao-contra-lavagem-de-dinheiro-do-trafico-de-drogas.ghtml. Acesso em: 18/01/2021.
Com adaptações.

Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.

A ESTRATÉGIA DE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO PELO ISOLAMENTO DAS SUAS


LIDERANÇAS E ENFRAQUECIMENTO DO SEU PODER ECONÔMICO
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
< objetivo do isolamento dos líderes das facções criminosas nos presídios federais;
< ações do Estado para o enfraquecimento do seu poder econômico;
< repercussões do enfraquecimento do seu poder econômico na segurança pública.

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Proposta de solução

O crime organizado é um dos principais problemas brasileiros na área da segurança


pública. Nesse sentido, faz-se necessário discutir algumas das estratégias para seu
enfrentamento, como o isolamento das suas lideranças e a adoção de medidas dirigidas ao
enfraquecimento do seu poder econômico.

Inicialmente, frise-se que o objetivo de isolar os líderes das facções criminosas é diminuir
a capacidade de liderança e coordenação das organizações que chefiam. De acordo com o
Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária (2020-2023), essas
facções, que comandam a criminalidade e possuem como suporte financeiro os recursos
oriundos do tráfico de drogas e de atividades afins, foram criadas nos presídios e de lá são
gerenciadas. Com o isolamento, o objetivo é fazer com que percam as condições de se
comunicarem entre si, de transmitir ordens aos seus subordinados e de coordenar ataques,
dentro ou fora dos estabelecimentos prisionais, o que se traduz na redução ou perda da sua
capacidade de controle e organização sobre essas facções e no seu enfraquecimento financeiro.

Outrossim, o enfraquecimento do poder econômico é outra estratégia relevante para o


enfrentamento do crime organizado, pois, com menos recursos, reduz-se o seu poder. Entre
as ações do Estado para atingir esse objetivo, pode-se mencionar: a apreensão e venda dos
bens obtidos com o dinheiro oriundo de atividades ilícitas, promovendo a descapitalização das
facções criminosas; o rastreamento das operações de lavagem de dinheiro, crime empregado
com a finalidade de recolocação do dinheiro de origem espúria no mercado; e a realização das
operações de combate e repressão às principais atividades lucrativas desses grupos, a exemplo
das operações de combate ao tráfico de drogas, que têm sido realizadas, interrompendo a
entrega dessas substâncias nos centros consumidores.

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Por fim, o enfraquecimento do poder econômico das organizações criminosas apresenta


repercussões positivas sobre a segurança pública, pois menos recursos financeiros significa
menos poder. Com menos dinheiro, as facções criminosas perdem a capacidade de contratar
seus “soldados” para operacionalizar o negócio; de comprar armas, drogas e outros produtos
ilícitos; de patrocinar campanhas políticas para eleger candidatos que, se eleitos, venham a lhe
dar guarida; e de subornar agentes públicos para que sejam coniventes com as práticas
delituosas. Nesse sentido, sufocar financeiramente essas empresas do crime contribuirá para
deixá-las mais vulneráveis, o que facilitará as ações de combate por parte das polícias.

Tema 16

Como as cadeias viraram fábricas de facções criminosas

[...]

Embora o CV tenha sido pioneiro, a força do PCC ainda não encontra paralelo no Brasil. Desde que foi criado,
em 1993, o “Partido do Crime” segue um rigoroso estatuto, atualizado com 18 artigos que regram a conduta
de seus membros. Itens como a “luta contra a opressão do sistema prisional” e valores relacionados à
lealdade seduzem novos integrantes. Assim como um sindicato ou um clube fechado, o PCC cobra de seus
membros não só fidelidade, mas também uma mensalidade. Em troca, oferece proteção, status e
possibilidade de subir na carreira do crime. A sistemática é tão bem-sucedida que outras facções se inspiram
no modelo. Privatizado pelas facções, o sistema prisional entrou num moto-perpétuo. Quanto mais gente
atrás das grades, mais os grupos criminosos se expandem.

São Paulo é exemplo desse mecanismo: o PCC controla 90% dos presídios – isso num estado que concentra
mais de um terço da população carcerária nacional. Nem toda essa massa é de membros ativos. Mas basta
haver a presença da sigla para que seus códigos de convivência sejam impostos. “Quando o réu entra, ele
ganha o papel higiênico de um ‘faxina’ e entende que isso vem do ‘comando’. Ninguém vai forçá-lo a
cometer um atentado, mas ele fica com uma dívida moral, no mínimo, e segue a disciplina”, explica o
defensor público Bruno Shimizu, doutor em Criminologia pela USP.

Foi em São Paulo que o PCC promoveu a maior demonstração de força já feita pelo crime organizado no
Brasil. Os atentados de maio de 2006 pararam a cidade por quatro dias. Mais de 50 policiais morreram e

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outra centena de bandidos perdeu a vida. Ao mesmo tempo, 74 presídios acataram as ordens do comando
e entraram em rebelião. O governo foi obrigado a sentar e negociar com os criminosos. “É impossível
administrar o sistema penitenciário brasileiro sem o apoio das organizações informais de presos”,
acrescenta Shimizu.

Sob a tutela do estado, o crime se radicalizou. Foram-se os tempos do bandido malandro, cantado na
música e retratado com certa dignidade pela literatura. Entraram em cena os funks saudando carnificinas e
exaltando massacres. Espremidas atrás das grades, as facções aproveitam cada brecha aberta pelo poder
público. Nascem, crescem e se multiplicam à medida que mais detentos são colocados para dentro das
cadeias. [...]

Disponível em: https://super.abril.com.br/comportamento/como-as-cadeias-


viraram-fabricas-de-faccoes-criminosas/. Acesso em 06 de junho de 2020.

Considerando que o texto precedente tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo-
argumentativo a respeito do seguinte tema.
DISFUNÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO, CRIME ORGANIZADO E TRÁFICO DE DROGAS:
ENGRENAGENS DE UMA MÁQUINA CHAMADA VIOLÊNCIA
Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
1. a relação entre o sistema carcerário e o crime organizado;
2. a relação entre o crime organizado e o tráfico de drogas;
3. a relação da superpopulação carcerária com o crime de tráfico.

Proposta de solução

Segundo a Organização das Nações Unidas, o Brasil é o segundo país mais


violento da América do Sul. Essa posição nada honrosa possui como causas um conjunto
de fatores, tais como as disfunções do sistema carcerário, o crime organizado e o tráfico de
drogas.

Inicialmente, destaque-se que o sistema carcerário e crime organizado são institutos


intimamente ligados. As maiores facções criminosas foram criadas dentro dos presídios a
partir da aglutinação de indivíduos insatisfeitos com a situação a que os presos estavam

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submetidos. Além disso, os presídios funcionam como o “escritório do crime”, locais onde as
organizações se formam, emanam ordens e recrutam elementos. O nível de organização
dessas facções comprova-se pelos episódios de maio de 2006: em represália à transferência
de presos, o Primeiro Comando da Capital (PCC) articulou rebeliões em 74
penitenciárias do estado do São Paulo e uma série de ataques nas ruas, espalhando violência
dentro e fora dos presídios. [Tópico 1]

Além disso, há forte ligação entre crime organizado e tráfico de drogas. A crescente
demanda por drogas não passou despercebida ao crime organizado, o qual fez do tráfico de
entorpecentes a sua principal fonte de financiamento. A importância desse comércio para
as facções fica evidente pelas constantes guerras entre elas para controle dos pontos de venda
das drogas, suas rotas de escoamento, bem como os seus pontos de entrada no território
nacional, a exemplo da fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, no
Paraguai, a qual, em 2016, foi palco de atentados e mais uma onda de mortes. [Tópico
2]

Outrossim, é notória a relação da superpopulação carcerária com o crime de tráfico:


segundo dados do Infopen 2019, entre o total de presos, respondem por tráfico de drogas,
aproximadamente, 20% dos homens e 51% das mulheres, quantificando a sua
expressividade quando comparada aos demais delitos da legislação penal. Nesse sentido, urge
a adoção de uma abordagem mais estratégica no combate ao tráfico, mais focada no
enfraquecimento econômico das facções, o que compreende o uso da inteligência para a
realização de operações para neutralizar os deslocamentos de grandes cargas de drogas, bem

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como a análise da trilha seguida pelo dinheiro obtido com negócios ilícitos com o objetivo de
identificar os chefes das organizações criminosas, prendê-los e, assim, reduzir a violência
gerada por essas facções.

Tema 17

Rio tem 3,7 milhões de habitantes em áreas dominadas pelo crime organizado; milícia controla 57% da
área da cidade, diz estudo
Mapa dos Grupos Armados do Rio, lançado nesta segunda (19), aponta que três facções do tráfico juntas
dominam 15,4% do território da capital.
Uma pesquisa inédita sobre a expansão de organizações criminosas no Rio revela que milícia e tráfico estão
presentes em 96 dos 163 bairros da cidade. Nessas áreas subjugadas vivem cerca de 3,76 milhões de
pessoas, do total de 6.747.815 habitantes — segundo estima o IBGE.
O estudo, batizado de Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, identificou que milicianos controlam
área maior do que traficantes de drogas na capital fluminense.
Segundo o levantamento, até o fim de 2019, as milícias dominavam 25,5% dos bairros do Rio. O percentual
representa 57,5% da superfície territorial da cidade, onde vivem 33,1% dos habitantes do município – ou
seja, mais de 2 milhões dos cerca de 6,74 milhões de habitantes calculados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/10/19/rio-tem-37-milhoes-
de-habitantes-em-areas-dominadas-pelo-crime-organizado-milicia-controla-57percent-da-
area-da-cidade-diz-estudo.ghtml. Acesso em: 19 de outubro de 2020 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:

O CRESCIMENTO DAS MILÍCIAS COMO AMEAÇA À SEGURANÇA PÚBLICA

Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir.


a) os elementos caracterizadores de uma milícia;
b) o modo de atuação dessas organizações;
c) em que medida as milícias constituem uma ameaça à segurança pública.

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Proposta de solução

A rápida expansão das milícias tem sido objeto de estudos por parte de grandes núcleos
de segurança pública no país. A centralidade do tema e os riscos que dele decorrem
demandam a discussão sobre as principais questões que permeiam as milícias. [Introdução
roteiro]
Primeiramente, frise-se que milícia é um grupo armado de pessoas, geralmente com
formação militar, paramilitar ou policial, que atua à margem da lei em algumas comunidades
carentes, pretensamente para combater o crime. Uma das bases da atuação das milícias é o
controle de território e da polução instalada no local. Para isso, não hesitam em utilizar
meios coercitivos, com ameaças aos moradores que não pagarem pela “proteção” ou pelos
serviços oferecidos, bem como contra autoridades que investiguem as suas atividades. Outra
característica é a existência de um discurso de legitimação, normalmente orientado para seu
reconhecimento como uma estrutura necessária para a proteção dos moradores contra o
narcotráfico e para a instauração da ordem.
Outrossim, as milícias, ao dominarem o território, dominam também as atividades
econômicas locais. Além da venda do serviço de proteção, elas lucram com o controle direto
de atividades como o transporte alternativo e a venda de gás, de água, de sinal de televisão a
cabo ou de serviços de internet. Essas atividades incluem também a apropriação de terrenos
de forma ilegal, o controle de áreas para exploração imobiliária, a venda de terras públicas,
a realização de empréstimos (agiotagem) e o tráfico de drogas. Diante desse rol, constata-se
que a milícia se interessa por toda e qualquer atividade da qual possa extrair proveito
econômico.

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Por fim, as milícias constituem um grande problema de segurança pública, pois


desestabilizam a ordem pública e ofendem os direitos das populações a ela subjugadas.
Interessadas em manter a lucratividade do negócio e os indivíduos sob forte disciplina, essas
organizações se utilizam de diversas práticas violentas, coagindo a população e cerceando-lhe
o exercício da cidadania. Também, ressalte-se a aliança entre as milícias e o narcotráfico.
Se antes eram estruturas rivais, atualmente, observa-se uma relação de colaboração,
manifestada, por exemplo, pela proteção dos pontos de venda de drogas contra ataques de outras
facções ou pela venda ou aluguel do controle territorial para que determinada facção assuma
o controle do tráfico local. Assim, essa interação dificulta ainda mais o combate a um
grande problema da segurança pública, o tráfico de drogas.

Tema 18
CEBRASPE - Escrivão de Polícia Federal/2009
Nos últimos anos, o mundo foi colocado diante de uma realidade nova: os sindicatos do crime ultrapassaram
as fronteiras geográficas dos países, com os objetivos de obter maiores resultados nas operações delituosas
e assegurar proteção e impunidade a seus agentes.
Em razão disso, a comunidade das nações entendeu a importância da criação de acordos internacionais para
uma ação conjunta contra o crime transnacional organizado. No ano de 1998, a Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) determinou a criação de um comitê de trabalho com o fim específico
de elaborar uma convenção internacional para enfrentar esses crimes.
Em dezembro de 1999, realizou-se em Palermo, Itália, uma reunião para a assinatura da Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional - a Convenção de Palermo -, que identificou que
os países estão diante de um gravíssimo problema, que só pode ser eliminado mediante uma ação conjunta
da comunidade das nações.
Essa Convenção, que foi adotada pela ONU em novembro de 2000, na Assembleia Geral do Milênio, é
suplementada por três documentos que abordam áreas específicas de atuação do crime organizado: o
protocolo para prevenir, suprimir e punir o tráfico de pessoas, especialmente mulheres e crianças; o
protocolo contra o contrabando de imigrantes por terra, ar e mar; o protocolo contra a fabricação ilegal e o
tráfico de armas de fogo, incluindo peças, acessórios e munições.

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O problema da corrupção também foi abordado nos documentos; neles há propostas para agravar as
sanções contra esse tipo de crime. A Convenção trata, ainda, de aspectos relacionados com a extradição de
criminosos e a transferência de presos, respeitando a legislação nacional dos países.
O Congresso Nacional do nosso país aprovou, em maio de 2003, o texto da Convenção de Palermo, e o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, sacramentou a adesão
do Brasil a esse documento.
Convenção de Palermo (fragmento). In: Estudos Avançados.
USP, 21 (61), 2007, p. 102 (com adaptações).

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo,
abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:
• importância da Convenção de Palermo;
• crime organizado e direitos humanos;
• medidas de combate ao poder financeiro do crime organizado.

Proposta de solução

De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, o crime
organizado transnacional é uma das principais ameaças à segurança pública. Num mundo
contemporâneo globalizado, cujas distâncias foram encurtadas pelo notável avanço
tecnológico, surgiu a necessidade do estabelecimento de regras que possibilitassem uma ação
coordenada entre os países para combater o crime organizado, contexto em que foi elaborada
a Convenço de Palermo.
Nesse sentido, afirme-se que a Convenção de Palermo é instrumento de grande
importância no combate ao crime organizado transnacional. Primeiramente, a referida
convenção consiste num reconhecimento dos Estados-membros da gravidade do problema e
da necessidade de estreitar os laços de cooperação entre os países. Com efeito, os Estados-
membros que ratificaram esse instrumento se comprometem a adotar uma série de medidas
contra o crime organizado transnacional, incluindo a tipificação criminal na legislação

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nacional de atos como a participação em grupos criminosos organizados, lavagem de dinheiro


e corrupção, além da adoção de medidas para facilitar processos de extradição, assistência legal
mútua e cooperação policial. Assim, a Convenção de Palermo representa um marco
inicial no combate ao crime organizado.
Outrossim, o crime organizado representa uma ofensa aos direitos humanos pelas
consequências das suas atividades e pelo seu modo de operar. As consequências das suas
atividades (tráfico de armas, de drogas, de pessoas, roubos de cargas, crimes ambientais,
contrabando etc.) ofendem inúmeros direitos, como o direito à vida, à liberdade, à dignidade,
à propriedade, à segurança e ao meio ambiente equilibrado. Além disso, o seu modo de
operação envolve, por exemplo, violência, extorsão, assassinatos em larga escala, torturas,
exploração de mão de obra infantil, entre outros. Trata-se de práticas atentatórias a direitos
básicos dos indivíduos, necessários ao exercício da cidadania.

Por fim, as medidas de combate ao poder financeiro do crime organizado envolvem,


principalmente, ações repressivas de combate à lavagem de dinheiro. Para que a estrutura
dessas facções seja, de fato, abalada, é necessário que as ações delineadas pelas polícias envolvam
tecnologia, inteligência e coordenação com outros segmentos da segurança pública e até de
outros países e tenham como meta a identificação e o bloqueio do proveito econômico dos
crimes. Evitando a lavagem de dinheiro e apreendendo os ativos oriundos do crime,
promover-se-á a descapitalização das organizações criminosas. Assim, desprovido de
recursos, o crime organizado não terá as mesmas condições de atuação, o que, inevitavelmente,
representará o seu enfraquecimento.

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Tema 19

Droga é qualquer substância capaz de modificar o funcionamento fisiológico (normal), mental ou


comportamental de um indivíduo. Inclui medicamentos (drogas lícitas) e plantas. As drogas capazes de
alterar o funcionamento mental ou psíquico são denominadas drogas psicotrópicas ou simplesmente
psicotrópicos. Costumamos usar a palavra droga para falar de substâncias que apresentam potencial de
abuso e que podem causar dependência.
A história das drogas acompanha a história da humanidade. Temos relatos muito antigos do uso de chás e
álcool em rituais religiosos ou em comemorações. A alteração da consciência é algo que desperta a
curiosidade do homem e o leva a experimentar substâncias psicoativas.
A dependência de drogas (lícitas e ilícitas) é consequência de uma interação entre os genes, a sequência
temporal dos ambientes externos aos quais estamos sujeitos durante a vida e eventos aleatórios de
interações moleculares que ocorrem dentro das células individuais. São essas as interações que devem ser
incorporadas em uma explicação adequada acerca da formação da dependência. Uma grande parte das
pessoas se envolverá em uso ocasional, porém outra parte se tornará dependente, possivelmente devido a
uma memória que a droga cria no cérebro, nos sistemas de gratificação cerebrais. Memória esta que é
despertada principalmente em diversas situações emocionais e ambientais. Nessas situações, através de
mecanismos desconhecidos, o indivíduo sente necessidade da droga. A incidência de alcoolismo em filhos
de pais dependentes de álcool é de três a quatro vezes maior do que entre os filhos de não dependentes.
Estudos em gêmeos também tendem a confirmar esta predisposição. Existem vários modelos propostos
para explicar este fenômeno, mas nenhum comprovado definitivamente.
Causas e Consequências das Drogas. Disponível em:
http://arquivo.edemocracia.camara.leg.br/web/politica-sobre-drogas/wikilegis/-
/wiki/Main/In%C3%ADcio/pop_up?_36_viewMode=print. Acesso em: 19 de
fevereiro de 2020.

OMS: cannabis é droga ilícita mais consumida no mundo, com 180 milhões de usuários.
A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, com mais de 180 milhões de usuários
globalmente. Apesar disso, segundo novo relatório divulgado este mês pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), ainda há menos conhecimento sobre seus efeitos sociais e na saúde quando comparado ao álcool e
ao tabaco.
A estimativa da OMS é de que haja 181,8 milhões de usuários de cannabis — em suas preparações mais
comuns, como maconha e haxixe — com idade entre 15 e 64 anos no mundo.
Somente na Europa, 11,7% dos jovens (com idade entre 15 e 34 anos) usaram cannabis no ano passado,
percentual que sobe para 15,2% no grupo entre 15 e 24 anos. Do total de usuários globais, estima-se que
13,1 milhões sejam dependentes.
Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-cannabis-e-droga-ilicita-
mais-consumida-no-mundo-com-180-milhoes-de-usuarios/. Acesso
em: 19 de fevereiro de 2020.

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Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
A PROBLEMÁTICA DAS DROGAS ILÍCITAS NO BRASIL
Em seu texto, posicione-se, de forma clara e fundamentada, a respeito da descriminalização do uso de
drogas ilícitas [valor: 7,50 pontos] e discuta os seguintes aspectos:
a. As consequências do uso de drogas ilícitas para a sociedade.
b. A influência dos aspectos geográficos do Brasil para o agravamento do problema.
c. O uso da maconha para fins medicinais: contra ou a favor?

Proposta de solução
1
A criminalização de uso de drogas é um tema polêmico, o qual divide especialistas e
sociedade. Considerando os comprovados danos que substâncias como maconha, cocaína,
“crack” e heroína são capazes de produzir na saúde dos indivíduos e as consequências sociais
que provoca qualquer movimento no sentido de descriminalizar ou legalizar o uso das drogas,
será equivocada essa legalização e levará a sociedade ao colapso [tese].

Inicialmente, esclareça-se que o uso dessas substâncias traz consequências extremamente


danosas à saúde dos seres humanos. Além de serem causadoras de inúmeras doenças, podem
levar à morte por “overdose”. Quando a situação converge para a dependência, além do
agravamento dos problemas de saúde causados pelo uso intenso, a vida social é comprometida
pelo abandono das atividades que o indivíduo desempenhava, como o trabalho, o que conduz
a um quadro de isolamento perante a família e o seu círculo de convivência. A eventual
liberação do uso dessas drogas sem antes dotar as estruturas ligadas à saúde de usuários e
dependentes de vigoroso aparato para tratar o potencial aumento no número de usuários, como

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ocorreu em países como o Uruguai, conduzirá o Estado a uma situação de calamidade, fruto
de decisões inconsequentes e incapazes de mensurar seus impactos.

Um dos fatores complicadores no caso do Brasil é a sua localização geográfica. Além


de ter extensa fronteira seca, com mais de 16.000 quilômetros, o que torna difícil o
controle da entrada de produtos no país, tem ligações físicas com países como Venezuela,
Peru, Bolívia e Colômbia, grandes produtores mundiais de maconha e cocaína. A
debilidade da fiscalização e vigilância nessas8áreas, juntamente com a sua posição geográfica,
de um lado os produtores, de outro grandes centros consumidores, faz do Brasil uma das
principais rotas para o escoamento das drogas, o que se dá por via terrestre, nas estradas, por
via fluvial e por via aérea, com a utilização massiva de pistas de pouso clandestinas.

Por fim, no que se refere ao uso medicinal da maconha, é justo considerar o direito
individual de busca por uma vida saudável, condição para pleno exercício da dignidade
humana, direito assegurado pela Carta Magna. Nesse sentido, a venda em farmácias e
drogarias de produtos feitos com “cannabis” para uso medicinal, mediante prescrição médica,
é medida salutar que auxiliará no tratamento de doenças severas, como epilepsia, esclerose,
autismo, câncer e glaucoma. Eventual proibição consiste em prejuízo a quem o Estado deve
assistência, algo que vulnera os valores sociais e a própria democracia.

Tema 20

Cespe – Oficial PM AL – 2012

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Segundo o Ministério da Justiça, são assassinadas, por ano, no Brasil, nada menos que 50 mil pessoas, média
de 136 mortes por dia, número equivalente ao observado em guerras civis. Ressalte-se que esses números
se referem às vítimas que morrem no local do crime. Não há dados a respeito das que morrem
posteriormente em decorrência das agressões. São vítimas, na quase totalidade, do crime organizado, cujo
epicentro é o tráfico de drogas. De acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, o
Brasil é o segundo maior mercado consumidor mundial de cocaína e derivados, com 20% do mercado
global, e o maior mercado de crack. Nada menos.
Kátia Abreu. Drogas, a peste do século. In: Folha de S.Paulo, p. B5 (com
adaptações).

As estatísticas denunciam: o uso de drogas e a criminalidade estão cada vez mais próximos. Dados do
Programa Ação pela Vida, da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), obtidos com exclusividade pelo
Jornal de Brasília, revelam a relação direta entre o número de homicídios e o uso de entorpecentes. De
acordo com o levantamento, 64% das vítimas de homicídio faziam uso ou estavam sob efeito de drogas,
b
sendo esse o fator principal dos casos de mortes violentas no DF.
O estudo faz parte do relatório de Exames Toxicológicos do Instituto Médico Legal (IML) e reuniu 188 casos
de assassinatos ocorridos até março deste ano. Os dados serão usados pelo plano, que tem como um de
seus eixos o enfrentamento ao uso e ao tráfico de drogas, por meio da integração das forças policiais.
Entre os casos de assassinatos, 65% estavam relacionados a crimes como roubos, furtos, uso de drogas,
homicídios, ameaça e lesão corporal. “Esse estudo serve como uma base sólida para comprovar que o grupo
de risco de pessoas comprometidas com o crime está sendo vítima de homicídio. Em quase 100% dos casos,
vítima e autor possuem um perfil muito semelhante. Ambos com passagens pela polícia, quase sempre por
crimes vinculados ao consumo e tráfico de drogas”, afirma o secretário de Segurança Pública, Sandro
Avelar.

Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/cidades/violencia-e-drogas-


problemas-que-caminham-lado-a-lado/. Acesso em 04/09/2019. (Com
adaptações)

Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do tema a seguir.

DROGAS E VIOLÊNCIA: A NECESSÁRIA ATUAÇÃO DO ESTADO

Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

a) Narcotráfico como símbolo do crime organizado em escala global.


b) Relação entre drogas (produção, comercialização e consumo) e violência.
c) Ação esperada do poder público diante do problema das drogas e do crime organizado.

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Proposta de solução

Segundo os relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), o consumo


de drogas no mundo [assunto] encontra-se numa trajetória ascendente. As mazelas
provocadas pelo uso de drogas na sociedade, entre as quais se destaca a violência perpetrada
pelo narcotráfico, tornam necessária a atuação do Estado [tese].

Inicialmente, mencione-se que o narcotráfico ou tráfico de drogas é operacionalizado e


4
gerenciado por grandes organizações criminosas, interessadas em explorar uma atividade de
elevada lucratividade, potencializada pela crescente demanda e pela restrição da oferta.
Trata-se de organizações de complexa estrutura, que atuam em escala mundial no bojo de
uma economia globalizada, fortemente assentada no conhecimento científico e nas contínuas
inovações tecnológicas, utilizadas para ludibriar os órgãos policiais e de investigação de
circulação de capitais. O narcotráfico estende suas teias em todas as direções, atingindo desde
instituições financeiras que processam a lavagem do dinheiro obtido até setores governamentais
de diversos países. [Tópico 1]

Outrossim, para lograr êxito em sua empreitada, essas organizações não hesitam em se
utilizar da violência. A vultosa quantidade de dinheiro que circula nessa atividade faz com
que as facções busquem acirradamente a expansão dos seus negócios, o que resulta em violência
e vítimas. A disputa pelo domínio de áreas de abastecimento e venda de drogas, em si mesma
marcada pela brutalidade, envolve facções criminosas, que, no mais das vezes, assumem o
controle dessas regiões, dificultando a ação do poder público, atemorizando a população e

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atraindo crianças e jovens para seu serviço. Basta ver a onda de execuções ocorridas no
Brasil entre os anos de 2013 a 2017, dentro e fora dos presídios, ocasionadas pelas
disputas de poder entre as facções criminosas. [Tópico 2]

Em face dessa situação, é urgente que o Estado tome as medidas necessárias para o
enfrentamento desse grave problema social. Nesse sentido, deve-se investir em ações de cunho
educacional, seja na escola, seja em campanhas publicitárias, nas quais se fortaleça a
mensagem sobre todos os perigos envolvidos 2no consumo das drogas, bem como o seu poder
letal. É fundamental também que o Estado fortaleça a sua presença nas áreas sob domínio
do tráfico e implemente políticas públicas de emprego e geração de renda capazes de evitar a
entrada de jovens no mundo das drogas ou seu aliciamento pelo narcotráfico. Por fim, é
necessário aprimorar a assistência aos dependentes e destinar-lhes um tratamento humano e
adequado às circunstâncias pessoais do paciente. [Tópico 3]

Tema 21

TCE/PA – Aplicação: 2016


Drogas são um problema de saúde pública, e não devem ser vistas pela lente do sistema judiciário criminal.
A posição do presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, durante um debate sobre a
dependência da heroína dá força a manifestações recentes de especialistas que se opõem à repressão
policial para combater o consumo de entorpecentes. Recente relatório científico reuniu dados para afirmar
que a chamada guerra às drogas causa danos à saúde pública. Essas argumentações jogaram pressão sobre
a primeira sessão especial sobre drogas da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em abril de 2016.
O Globo, 31/3/2016, p. 25 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.

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UM GRANDE DESAFIO: A CIVILIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA FRENTE ÀS DROGAS ILÍCITAS


Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 drogas ilícitas e crime organizado global;
2 relação entre tráfico de drogas e violência;
3 alternativas à denominada guerra às drogas.

Proposta de solução

Não obstante todos os males que provoca, segundo os relatórios da Organização das
Nações Unidas, é crescente o consumo de drogas ilícitas no mundo. Em face da relevância
b
do tema, faz-se necessário analisar suas relações com o crime organizado e com a violência,
bem como pensar em alternativas à política de guerra às drogas.

Inicialmente, destaque-se a existência de uma relação íntima entre drogas ilícitas e


crime organizado global, visto serem estes os maiores responsáveis por fazer com que a droga
seja levada do local onde é produzida até o consumidor. O interesse nessa atividade decorre
do seu potencial de expressivo lucro, explicado, em parte, pela crescente demanda e pela
repressão provocada pela política de guerra às drogas. Essas organizações possuem uma
estrutura complexa, atuam em escala mundial e empregam sofisticados recursos técnicos para
ludibriar os órgãos policiais e de investigação de circulação de capitais. Sua influência
abrange desde as instituições financeiras que processam a lavagem do dinheiro obtido
ilicitamente até as esferas governamentais com a corrupção de agentes públicos. [Tópico 1]

Além disso, frise-se a intensa relação entre tráfico de drogas e violência. A vultosa
quantidade de dinheiro que pode ser obtida do narcotráfico faz com que as facções busquem

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acirradamente a expansão dos seus negócios através do domínio das rotas de escoamento e dos
pontos de fornecimento e de venda de drogas, o que, frequentemente, resulta em massacres,
dentro e fora dos presídios. Essa expansão, que é facilitada pela omissão do Estado, tem
propiciado controle territorial do crime organizado sob certas áreas, dificultando a ação do
poder público, impondo uma ordem paralela, atemorizando a população e cooptando crianças
e jovens para essas organizações. [Tópico 2]

Por fim, diante dos resultados insatisfatórios da abordagem belicista, é necessário


discutir alternativas à denominada guerra às drogas. Nesse sentido, cabe ao Estado investir
em ações de cunho educacional, seja na escola, seja em campanhas publicitárias, nas quais se
fortaleça a mensagem sobre todos os perigos envolvidos no consumo das drogas, bem como o
seu poder letal. Deve, também, o Estado fortalecer a sua presença nas áreas sob domínio do
tráfico e implementar políticas públicas de emprego e geração de renda capazes de evitar a
entrada de jovens no mundo das drogas ou seu aliciamento pelo narcotráfico. É necessário,
também, aprimorar a assistência aos dependentes e destinar-lhes um tratamento humano e
adequado às circunstâncias pessoais de cada paciente. [Tópico 3]

Tema 22

O atual presidente do Brasil expediu um decreto que facilita a posse de armas. O decreto altera o Estatuto
do Desarmamento, aprovado em 2003, que limita o acesso a armamentos no Brasil. A principal mudança do
decreto é a definição mais flexível de quem tem “efetiva necessidade” de ter uma arma – há o pressuposto
de que as informações prestadas sejam verdadeiras e a Polícia Federal apenas as examina. Outra
modificação importante é o aumento do prazo de validade da autorização de posse de cinco para dez anos.
Internet: <www.bbc.com> (com adaptações).
Em um ano e meio, desde 2019, já foram editados, pelo menos, onze decretos, uma lei e quinze portarias
do Exército que trarão como consequência a fragilização dos instrumentos de controle e fiscalização de

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armas de fogo e munições, o aumento do número de armas em circulação no país, a obstacularização do


combate ao tráfico ilegal dessas armas e a facilitação de sua obtenção por criminosos, como traficantes e
milicianos.
Dos onze decretos publicados em 2019, seis continuam em vigor. Das quinze portarias do Exército, incluídas
aqui as publicadas em conjunto com o Ministério da Justiça, sobre munições, pelo menos cinco foram
revogadas, três delas justamente as que foram editadas após reuniões técnicas com o Tribunal de Contas
da União (TCU), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF). A quantidade de revogações totais
ou parciais dos textos aponta para a ausência de reflexão, embasamento técnico e avaliação de impactos
em sua produção.
Mas o que mudou? Se antes, ao contrário do que diz o lobby armamentista, já havia inúmeras possibilidades
para que as pessoas tivessem acesso a armas, desde que cumprissem determinados requisitos, após essa
produção normativa, o cidadão comum passou a ter acesso facilitado a armamentos, inclusive a alguns de
maior calibre, e a poder comprar munições em maior quantidade. Regras específicas sobre ampliação do
acesso a armas e da quantidade de munições que podem ser adquiridas por determinadas categorias, em
especial os chamados CACs – colecionadores, atiradores e caçadores –, também foram flexibilizadas.
Mecanismos de controle de armas e munições, como as marcações, que possibilitavam rastreamento
desses produtos, deixaram de existir.
Atlas da Violência 2020.
Um publicitário paulistano resolveu adquirir uma arma depois de ficar refém, com a família, em um assalto
dentro de casa. O tio dele, empresário, passou a usar carro blindado após ter sido baleado em uma tentativa
de assalto. “A gente tenta se proteger da forma que pode, até onde nosso dinheiro alcança”, disse ele.
Internet: <www1.folha.uol.com.br> (com adaptações).
Dono de pizzaria reage a assalto e mata criminosos na Zona Norte de São Paulo
Um homem e um adolescente foram baleados em Pirituba após cometerem crime. Comerciante é atirador
esportivo e possui porte de arma.
Dois assaltantes foram mortos após serem baleados pelo dono de uma pizzaria que reagiu a um assalto na
madrugada desta quarta-feira (20) em Pirituba, na Zona Norte de São Paulo.
Os bandidos chegaram a pé e anunciaram o assalto. No entanto, eles foram surpreendidos pelo dono do
estabelecimento que possui posse de arma.
O primeiro foi atingido, correu e caiu na frente do local e morreu. O outro assaltante, um adolescente de 15
anos, foi socorrido e morreu no hospital.
As cápsulas dos tiros ficaram espalhadas pelo chão. Com os criminosos foram encontrados um celular
roubado, relógio, dinheiro e duas armas falsas.
Uma pistola .40, que pertence ao dono da pizzaria, que é atirador esportivo, também foi apreendida. A arma
é legalizada e a documentação foi apresentada na delegacia.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/01/20/dono-de-pizzaria-reage-a-assalto-e-mata-
criminosos-na-zona-norte-de-sp.ghtml. Acesso em 21 de janeiro de 2021.

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Motivado pela leitura dos textos anteriores, redija um texto dissertativo que responda, de forma
fundamentada, ao seguinte questionamento:

A FACILITAÇÃO DA POSSE E DO PORTE DE ARMAS DE FOGO CONTRIBUI PARA A REDUÇÃO DA


INSEGURANÇA PÚBLICA?

Proposta de solução

Segundo o Atlas da Violência de 2020, em 2018, 41.179 pessoas foram


assassinadas por arma de fogo no país, cifra que evidencia a incapacidade do Estado em
prover segurança à sua população. Apesar disso, é inconteste que a facilitação da posse e
do porte de armas de fogo não contribuirá para a redução da insegurança pública [tese].

Primeiramente, mencione-se que a facilitação da posse e do porte de armas de fogo


aumentará a possibilidade de que divergências interpessoais resultem em mortes. Questões
banais e corriqueiras, como brigas de vizinho, discussão, brigas de bar, poderão culminar em
lesões graves ou mortes, as quais poderiam ser plenamente evitadas se os indivíduos envolvidos
não estivessem armados. Portanto, caso o indivíduo que se envolva em um conflito tenha
uma arma de fogo na mão, aumentam-se as chances de ocorrência de uma tragédia, conforme
mostram os estudos científicos sobre o tema.

Além disso, frise-se que arma de fogo nas cidades pode ser considerada um bom
instrumento de ataque, mas um péssimo instrumento de defesa, em vista do fator surpresa.
Assim, nada garante que um indivíduo armado consiga repelir uma investida criminosa,
mesmo sendo uma pessoa devidamente treinada para isso, o que se comprova pelo elevado
número de policiais mortos nos dias de folga. Aliás, o fato de estar armado pode só piorar a
situação, haja vista que o conhecimento desse fato pelo criminoso recrudescerá a violência

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perpetrada, o que pode ocasionar a morte da vítima e a captura de mais uma arma a serviço
do crime.

Ademais, uma arma dentro de casa faz aumentar inúmeras vezes as chances de algum
morador ser vítima de homicídio ou de cometer suicídio ou de ocorrer algum acidente. Nesse
sentido, conforme consta do Atlas da Violência de 2019, o risco de um homem cometer
suicídio em casas onde há armas aumenta mais de 10 vezes. Por fim, ressalte-se que a
questão dos acidentes domésticos é especialmente crítica no segmento infantil, idade em que se
desconhecem os perigos do manuseio de armas de fogo.

Diante do exposto, nota-se que facilitar o acesso às armas agravará o já grave problema
da segurança pública no Brasil. Nesse sentido, cabe à sociedade organizar-se para exigir
dos seus representantes ações contrárias à flexibilização da posse e do porte de armas, como
forma de tornar mais seguro o convívio social, direito constitucionalmente assegurado.

Tema 23

Cespe/Cebraspe – PC-DF – 2013 - Adaptada


As armas de brinquedo devem sair de circulação no Distrito Federal em até dez meses, mas a polêmica sobre
a proibição delas parece estar longe do fim. A lei distrital, sancionada recentemente, impede a fabricação,
a comercialização e a distribuição de peças semelhantes ou não aos armamentos convencionais. Estão
inclusas as que disparam balas, bolas, espuma, luz, laser e assemelhados, as que produzem sons e as que
projetam quaisquer substâncias. A aprovação da norma repercutiu nacionalmente e também fora do Brasil,
com reportagem no jornal britânico The Guardian.
Correio Braziliense, 29/9/2013, p. 27 (com
adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
O CERCO ÀS ARMAS COMO ESTRATÉGIA DE COMBATE À VIOLÊNCIA

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Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:


➢ Percepções diversas acerca das armas, de instrumento de proteção a símbolo de morte e destruição.
➢ Efeito educativo pretendido com a proibição da venda de armas de brinquedo.
➢ Limitações de uma medida legal como a proibição de venda de armas de brinquedo.

Proposta de solução

Pontos semânticos:
Tópico 1: percepções diversas acerca das armas, de instrumento de proteção a símbolo
de morte e destruição;
Tópico 2: efeito educativo pretendido com a proibição da venda de armas de
brinquedo;
Tópico 3: limitações de uma medida legal como a proibição de venda de armas de
brinquedo.
O entendimento acerca da influência das armas na sociedade divide opiniões. Enquanto
há um grupo que defende a ampliação do acesso às armas como forma de proporcionar ao
próprio cidadão o direito de se defender, há um grupo de posicionamento antagônico, o qual
preconiza que mais armas significam, necessariamente, mais mortes. [Tópico 1]
O primeiro grupo entende que o desarmamento estimula a violência, haja vista que os
criminosos, cientes de que a população estará indefesa, lançam-se com maior destemor ao
cometimento de delitos. Para eles, a restrição do acesso às armas só prejudica o cidadão, visto
que os criminosos, por óbvio, não respeitam os limites para a posse e o porte de armas
estabelecido pelo Estatuto do Desarmamento. [Tópico 1]
Noutro giro, o grupo antagônico defende que estimular a aquisição de armas pela
população irá levar a sociedade ao colapso, visto que questões banais podem culminar em

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mortes pelo fato de os indivíduos estarem armados. Outrossim, argumentam que as estatísticas
demonstram a expressiva redução na taxa de homicídios decorrente das restrições impostas
pelo Estatuto do Desarmamento. [Tópico 1]
Em relação à Lei Distrital, a proibição visou a evitar o contato prematuro das
crianças com esse tipo de instrumento, idade em que suas personalidades estão sendo formadas
e que ainda não possuem plena capacidade de discernimento. Objetivou, também, evitar a
banalização do uso desse artefato, banindo o uso das armas do imaginário infantil. Assim,
trata-se de uma questão educativa, com o objetivo de dar o exemplo, desde a tenra idade, sobre
os perigos do uso das armas, criando uma geração de cidadãos capazes de entender os riscos
provenientes do uso desses artefatos. [Tópico 2]

BLOCO DE TEMAS 3 – CRIMES EM GERAL E VIOLÊNCIA CONTRA SEGMENTOS


VULNERÁVEIS

Tema 24

“O TSH – Tráfico de Seres Humanos é um atentado contra a humanidade, consubstanciado em uma


agressão inominável aos direitos humanos, porque explora a pessoa, limita sua liberdade, despreza sua
honra, afronta sua dignidade, ameaça e subtrai a sua vida.
[...]
Crime multifacetado, o TSH advém de uma multiplicidade de questões, realidades e desigualdades sociais.
Quase sempre, a vítima se encontra fragilizada por sua condição social, tornando-se alvo fácil para a cadeia
criminosa de traficantes que a ludibria com o imaginário de uma vida melhor. Aproveitando-se de sua
situação de vulnerabilidade e da ilusão de um mundo menos cruel, transforma a vítima em verdadeira
mercadoria. A crise mundial, causa do aprofundamento da pobreza e das desigualdades, cria espaços para
o fomento das mais diversas formas de exploração mediante o comércio de seres humanos.”.
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional
de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et
al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013.” Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-

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pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf. Acesso: 01 de fevereiro


de 2019.

Tráfico de pessoas: conheça o variado perfil das vítimas


O tráfico de pessoas é uma realidade no mundo, mas ainda pouco discutida no Brasil. Segundo o Relatório
Global sobre Tráfico de Pessoas, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC) em 2018, quase 25 mil vítimas foram detectadas no mundo em 2016.
Seguindo as proporções do gráfico, o número tende a aumentar ano após ano. As estatísticas refletem
apenas os casos registrados, que podem representar apenas uma parte se levados em consideração os ainda
não detectados. O tema segue sendo acompanhando de perto pelo Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH), por meio da Secretaria Nacional de Proteção Global (SNPG).
A assessora para Assuntos sobre Refugiados, Cláudia Giovannetti, falou sobre o crime. “Nesse crime, os
traficantes se aproveitam da situação de vulnerabilidade das pessoas para colocá-las em uma situação de
==18b42b==

exploração. As vítimas têm perfis muito variados, podem ser mulheres, crianças, adolescentes, pessoas
LGBT, imigrantes, homens. O que as une é exatamente a vulnerabilidade, que as expõe a promessas e
ofertas enganosas”, explicou.
De acordo com a assessora, as dificuldades exploradas não são apenas econômicas, mas sociais, situacionais
ou circunstanciais. “Essas vulnerabilidades podem ser decorrentes de uma característica da pessoa, como,
por exemplo, o fato de ser criança, o seu sexo ou a sua orientação sexual. Também há aquelas situacionais,
relacionadas e um momento pelo qual a pessoa esteja passando, como o fato de estar indocumentada em
um país que não é o seu. Já as circunstanciais envolvem situações econômicas, dependência química, entre
outras”, disse.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/julho/trafico-de-
pessoas-conheca-o-variado-perfil-das-vitimas. Acesso: 22 de janeiro de 2021.

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo sobre o
tráfico de pessoas, mencionando, necessariamente os seguintes pontos:
➢ Explique no que consiste o crime de tráfico de pessoas e mencione três das suas características;
➢ Desafios e principais iniciativas governamentais para o seu enfrentamento;
➢ Apresente três sugestões para combater a situação.

Abordagem teórica

Pessoal, como o primeiro tópico questionador tem natureza de tópico introdutório, vou respondê-lo já
na introdução do nosso texto. Neste caso, o primeiro parágrafo funcionará como introdução e resposta ao
primeiro tópico questionador.
1. Aspectos Gerais

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O tráfico de pessoas não é um crime particular à sociedade contemporânea. De acordo com GRECO1 (2017,
pg. 703), desde a antiguidade, principalmente nas sociedades grega e, posteriormente, romana, a compra
e venda de pessoas era prática comum, principalmente para efeitos de exploração de sua força laboral, ou
seja, havia, desde aquela época, o comércio de escravos, que eram tratados como meros objetos.
O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transacional
relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoa, em especial Mulheres e Crianças,
também conhecido como Protocolo de Palermo, é o marco legal sobre o tema. Segundo o referido
diploma, ratificado pelo Brasil, essa conduta criminosa pode ser definida como:

“O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à


ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade
ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o
consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração, que incluirá, no
mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou
serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, à servidão ou à remoção de órgãos.”

O tráfico de pessoas é considerado uma agressão aos direitos humanos, particularmente, à dignidade
humana. Compreende condutas deploráveis, tais como: exploração de trabalho ou serviços forçados,
escravatura ou práticas similares, a servidão por dívida, a exploração sexual e a prostituição forçada, a
remoção de órgãos, o casamento servil, a adoção ilegal.
É, ao mesmo tempo, causa e consequência de graves violações de direitos humanos. É causa porque sua
finalidade é a exploração da pessoa, degradando sua dignidade e retirando seu direito de liberdade. É
consequência porque tem origem na situação de vulnerabilidade decorrente da desigualdade de gênero,
social e econômica, na violência doméstica, na desestrutura familiar, no abuso sexual e na ausência de
perspectivas de profissionalização.
Outrossim, trata-se de atividade criminosa complexa, transnacional, de baixos riscos e altos lucros e que
se manifesta de diferentes maneiras. A capacidade de articulação das organizações criminosas dificulta
sobremaneira o seu enfrentamento, tornando o comércio de humanos o terceiro negócio ilícito mais
rentável no mundo, superado apenas pelo tráfico de drogas e contrabando de armas2.
Estimativas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) indicam que a exploração
sexual é a forma de tráfico de pessoas com maior frequência (79%), seguida do trabalho forçado (18%),
atingindo, especialmente, crianças, adolescentes e mulheres. O fato é que o tráfico de pessoas não é um
problema só dos países de origem das vítimas, mas também dos de trânsito e de destino, que devem coibir,
principalmente, o consumo de produtos desse crime.

1
GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.
2
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed.
Brasília: Ministério da Justiça, 2013. Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-
pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf

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Segundo o CNJ3, há tráfico de pessoas quando a vítima é retirada de seu ambiente e fica com a mobilidade
reduzida, sem liberdade de sair de uma situação de exploração sexual ou laboral ou do confinamento para
remoção de órgãos ou tecidos. A mobilidade reduzida caracteriza-se por ameaças à pessoa ou aos familiares
ou pela retenção de seus documentos, entre outras formas de violência que mantenham a vítima junto ao
traficante ou à rede criminosa.
Os aliciadores são, em grande parte dos casos, pessoas que fazem parte do convívio da vítima ou, até
mesmo, membros da família. Alguns, como forma de conseguir maior credibilidade e despertar o interesse
da vítima, apresentam-se como empresários ou se dizem proprietários de casas de show, bares, falsas
agências de encontros, matrimônios e modelos. Oferecem bons empregos como forma de despertar o
interesse das vítimas, mas essa promessa se revela uma grande armadilha.
De acordo com o CNJ4, no tráfico para trabalho escravo, os aliciadores, denominados de “gatos”,
geralmente fazem propostas de trabalho para pessoas desenvolverem atividades laborais na agricultura ou
pecuária, na construção civil ou em oficinas de costura. Há casos notórios de imigrantes peruanos,
bolivianos e paraguaios aliciados para trabalho análogo ao de escravo em confecções de São Paulo.
Conforme já mencionado, o Brasil é signatário do Protocolo de Palermo, internalizado por meio do Decreto
5.017/2004. De acordo com o art. 5° do referido decreto, o país se comprometeu a criar as infrações penais
correspondentes ao crime de tráfico de pessoas nos termos do protocolo, o que somente veio a acontecer
12 anos depois, com a edição da Lei 13.344/2016, próximo ponto da nossa abordagem.
2. Aspectos Penais
O crime de tráfico de pessoas encontra-se previsto no art. 149-A do Código Penal (CP):

Tráfico de Pessoas (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)


Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante
grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:

3
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/assuntos-fundiarios-trabalho-escravo-e-trafico-de-pessoas/trafico-
de-pessoas/. Acesso em:08/01/2020.
4
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/assuntos-fundiarios-trabalho-escravo-e-trafico-de-pessoas/trafico-
de-pessoas/. Acesso em:08/01/2020.

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I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego,
cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização
criminosa.
Anteriormente, o tráfico de pessoas estava topograficamente situado nos arts. 231 e 231-A do CP, contudo
sua aplicação era restrita à finalidade de exploração sexual. Alinhada aos compromissos assumidos pelo
Brasil (Protocolo de Palermo), o referido crime passou a abrigar outras condutas, nos termos previstos pela
Lei 13.344/2016, o que justificou a sua remoção do Título VI - dos crimes contra a dignidade sexual - e
migração para o Capítulo IV do Título I - dos crimes contra a liberdade individual.
Segundo CUNHA5 (2017, p. 225/226), o tipo em análise é de conduta mista, constituído de oito verbos
nucleares (alguns, inclusive, sinônimos), que representam a operação típica, desde o seu princípio com o
aliciamento da vítima, passando pelo seu transporte e acolhimento no local de destino. Nesse sentido,
pune-se o agente que agenciar (negociar, comerciar, servir de agente ou intermediário), aliciar (atrair,
persuadir), recrutar (chamar pessoas), transportar (levar de um lugar para outro), transferir (mudar de um
lugar para outro), comprar (adquirir a preço de dinheiro), alojar (acomodar) ou acolher (receber, aceitar,
abrigar) pessoa.
No que se refere aos meios, esses comportamentos devem ser praticados mediante grave ameaça,
violência, coação, fraude ou abuso.
Por fim, deve estar presente a finalidade específica, qual seja, a remoção de órgãos, tecidos ou partes do
corpo, a submissão a trabalho em condições análogas à de escravo e a qualquer tipo de servidão, adoção
ilegal ou exploração sexual.
3. Política de enfrentamento ao tráfico de pessoas
O Brasil estruturou uma Política Nacional para combater esse crime, coordenada de forma tripartite entre
o Ministério da Justiça, a Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República.
Na esteira dessa política, foram produzidos os seguintes decretos e demais providências que dela derivam:

5
CUNHA. Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361) / Rogério Sanches Cunha- 9. ed. rev., ampl
e atual.- Salvador: JusPODIVM.2017.

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− Decreto 5.948/2006: aprovou a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e instituiu


o Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar proposta do Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – PNETP.
− Decreto 6.347/2008: aprovou o PNETP e instituiu Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação do
referido Plano.
− Decreto 7.901/2013: instituiu a Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas e o Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - CONATRAP.
A CONATRAP, integrada pelo Ministério da Justiça, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, tem como
objetivo, por exemplo: conduzir a construção dos planos nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas
e coordenar os trabalhos dos respectivos grupos interministeriais de monitoramento e avaliação; mobilizar
redes de atores e parceiros envolvidos no enfrentamento ao tráfico de pessoas e articular ações de
enfrentamento ao tráfico de pessoas com estados, Distrito Federal e municípios e com as organizações
privadas, internacionais e da sociedade civil.
Ainda em 2013, aprovou-se o II PNETP, reforçando compromisso político, ético e técnico do Estado
brasileiro em prevenir e reprimir o crime do tráfico de pessoas e garantir a necessária assistência e proteção
às vítimas, bem como a promoção de seus direitos, de acordo com os compromissos nacionais e
internacionais estabelecidos.
A política, e a sua execução por meio dos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, está
estruturada em três grandes eixos estratégicos, a saber: a) prevenção; b) repressão e responsabilização
dos autores e c) atendimento à vítima. Esse conjunto de ações representa um marco histórico por
reconhecer o fenômeno de tráfico de pessoas como um problema cuja dimensão e gravidade exigem uma
atuação estatal transversalmente articulada com vários ministérios, instituições públicas e sociedade civil.
Por fim, como produtos concretos dessas políticas, houve a criação de Núcleos de Enfretamento ao
Tráfico de Pessoas6, com a finalidade de articular, estruturar e consolidar uma rede interestadual de
referência e atendimento às vítimas do tráfico de pessoas.
Por fim, o Decreto 9.440/2018 aprovou o III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
(2018-2022), o qual dá continuidade aos anteriores, assumindo uma importante dimensão de
transversalidade e colaboração, tanto em sua implementação como em seu monitoramento.
4. Desafios
Com a promulgação da Lei 13.344/2016, o crime de tráfico de pessoas, antes diretamente ligado à finalidade
de exploração sexual da vítima, passou a englobar uma série de práticas criminosas (remoção de órgãos,
submissão a trabalho em condições análogas às de escravo ou servidão, adoção ilegal ou exploração sexual).

6
Segundo informações disponíveis em: https://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas/redes-de-
enfrentamento/nucleos-de-enfrentamento, atualmente, estão em funcionamento quinze (15) Núcleos.

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Isso passou a demandar uma atuação multidisciplinar e coordenada de diversos órgãos, tais como
Auditores e Procuradores do Trabalho, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, entre outros.
Faz-se também necessária uma maior articulação entre sociedade civil e diversos setores do Estado. O
problema deve ser tratado como Política de Estado, haja vista o fato de que o enfrentamento ao tráfico de
pessoas depende de uma grande mobilização da sociedade e das instituições, demandando ações de
cooperação, coordenadas e integradas, de diversas áreas como saúde, justiça, educação, trabalho,
assistência social, turismo, entre outras.
Além disso, com o fenômeno da globalização e com uma maior facilidade para se estabelecerem redes de
comunicação internacionais, facilita-se a livre locomoção das pessoas, bem com a organização e
operacionalização desse crime de caráter transfronteiriço, o que, por certo, dificulta o seu controle e sua
fiscalização e repressão.
Outro desafio é tornar a lei conhecida, assim como ocorreu com a Lei Maria da Penha. É importante que
tanto as autoridades policiais quanto os cidadãos de forma geral conheçam a lei, de maneira que sejam
capazes de identificar as situações de sua ocorrência e para que as potenciais vítimas tenham condições de
se prevenir e não se deixarem ser envolvidas pelas redes de aliciamento.
Também é desafio proporcionar redes de proteção como forma de encorajar às vítimas a denunciarem os
crimes dessa natureza, superando o silêncio e o medo de denunciar. E, por fim, o maior desafio é prover
condições sociais adequadas para superar a situação de vulnerabilidade em que se encontram as vítimas,
evitando que se tornem “presas fáceis” para os aliciadores.
5. Enfrentamento
Sem sombra de dúvida, houve um avanço no enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil, mas essa
estrutura ainda não é capaz de proporcionar, de forma plena, uma segurança robusta às vítimas (potenciais
e efetivas). Por esse motivo, é necessário que o Estado envide providências para o seu enfrentamento. De
forma mais específica, pode-se sugerir a adoção das seguintes medidas:
− Ampliação e aperfeiçoamento da atuação da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios
no enfrentamento ao tráfico de pessoas, na prevenção e repressão desse crime, na responsabilização
de seus autores, na atenção e na proteção dos direitos de suas vítimas.
− Realização de campanhas informativas e preventivas. É fundamental educar a população para
desconfiar de propostas de emprego fácil e lucrativo. As ações educativas devem enfatizar que, antes
de aceitar qualquer proposta de emprego, é importante ler atentamente o contrato de trabalho,
buscar informações sobre a empresa contratante e, caso haja qualquer desconfiança, procurar auxílio
da área jurídica especializada. A atenção é redobrada em caso de propostas que incluam
deslocamentos, viagens nacionais e internacionais.
− Investimento nas operações de inteligência, necessárias para a identificação do funcionamento das
redes de aliciamento de pessoas, dando maior efetividade à atividade repressiva.

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− Fomento ao processo de articulação, descentralização e participação de todos os segmentos da


sociedade, de forma a estabelecer um pacto federativo entre os distintos poderes e níveis de governo,
torna-se fundamental para que haja um efetivo enfrentamento a esse crime, já que o tráfico de
pessoas é um crime complexo e transnacional. Daí a necessidade de fortalecimento das Redes de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, constituídas pelos núcleos já mencionados.
− Busca pelo envolvimento e pela atuação coordenada entre diversas instituições, tais como do
Ministério Público, da Defensoria Pública e do Judiciário, dos órgãos de segurança e serviços de
inteligência — nacional e internacional —, dos órgãos envolvidos na cooperação internacional, dos
movimentos sociais, das organizações privadas de defesa dos direitos de grupos vulneráveis ou de
defesa dos direitos humanos etc., com foco no acolhimento das pessoas em situação de tráfico e
sua reinserção na sociedade e no mercado de trabalho7.
− Inserção de conteúdos de direitos humanos nas escolas e formação dos educadores para tratamento
de crimes contra a dignidade da pessoa humana.
− Estabelecimento de parcerias entre o Estado e a sociedade civil para formação e capacitação sobre
tráfico humano de conselheiros tutelares, policiais, membros do Judiciário e do Ministério Público, das
lideranças comunitárias, profissionais da área de saúde e assistência social, dentre outros8.
− Sensibilização e mobilização da sociedade para prevenir a ocorrência, os riscos e os impactos do
tráfico de pessoas.
− Combate às causas do crime, como a má distribuição de renda, o desenvolvimento assimétrico entre
os países e a desigualdade de gênero e de raça.

6. Bibliografia

Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria
Nacional de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves
dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-
protecao/trafico-de-pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_
humanos.pdf. Organizadores: Daniela Muscari Scacchetti, Fernanda Alves dos Anjos, Gustavo Seferian Scheffer
Machado e Inês Virginia Prado Soares.
CUNHA. Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361)/ Rogério Sanches Cunha- 9. ed.
rev., ampl e atual.- Salvador: JusPODIVM.2017.

7
SOARES, Inês Virgínia Prado. Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas sob a Ótica dos Direitos Humanos no Brasil. Disponível
em:http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas _uma
abordadem_direitos_humanos.pdf
8
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed.
Brasília: Ministério da Justiça, 2013. https://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-
pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf

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GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.

Tema 25

Cespe/Cebraspe – PRF – 2013


Nas regiões brasileiras de fronteira, o crime de contrabando, tipificado no art. 334 do Código Penal, Nas
regiões brasileiras de fronteira, o crime de contrabando, tipificado no art. 334 do Código Penal, no capítulo
referente aos crimes praticados por particular contra a administração geral, ao lado do tráfico de
entorpecentes e drogas afins, é o que mais importuna a atividade dos poderes públicos, tanto de prevenção
e fiscalização quanto de repressão ou apuração das responsabilidades penais. O Brasil tem uma
peculiaridade em relação a esse crime, devido ao fato de possuir milhares de quilômetros de fronteira seca,
muito difíceis de fiscalizar.
Enivaldo Pinto Pólvora. Internet: <www.ambito-juridico.com.br> (com
adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo que atenda, necessariamente, ao que se pede a seguir:
➢ Defina o crime de contrabando e indique, em linhas gerais, as circunstâncias que integram esse tipo
penal. [valor:5,50 pontos]
➢ Comente acerca das principais mercadorias e cargas contrabandeadas no território brasileiro.
➢ Explane a respeito dos problemas decorrentes do contrabando de mercadorias e cargas para a
economia nacional e para a saúde pública.
➢ Sugira medidas e ações efetivas das forças públicas para o combate ao contrabando de mercadorias e
cargas no país.

Abordagem teórica

1. Contrabando
As ruas das grandes cidades, atualmente, encontram-se congestionadas pelo comércio ambulante,
geralmente, praticado à margem da lei. Não há garantia sobre a procedência desses produtos, não se sabe
sobre a sua qualidade nem sobre o seu potencial de causar riscos à saúde, mas, em virtude dos preços
inferiores, acabam sendo consumidos em larga escala.
Além dos consumidores, os comerciantes formais, que pagam seus impostos, e adquirem produtos
originais, de qualidade reconhecida e atestada, também são prejudicados pelo comércio ilegal, fruto do
contrabando, haja vista que os produtos por eles comercializados, inevitavelmente, terão preços superiores

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aos oriundos do contrabando; o que gera uma concorrência desleal, colocando-os em situação de clara
desvantagem.
Um exemplo claro da relevância dessa situação acontece com os brinquedos: para que sejam regularmente
comercializados, há uma série de normas a serem cumpridas (as NBRs), o cumprimento dessas normas é
verificado por órgãos certificadores acreditados pelo Inmetro e caso aprovados em todos os ensaios esse
brinquedo pode ser comercializado. Assim, ao comprar um brinquedo ilegal, que provavelmente não passou
por esse controle, é possível que se esteja colocando em risco as crianças, expondo-as a, por exemplo,
elementos de elevada toxicidade.
Em razão da gravidade dessa situação, houve a necessidade de criminalizar essa conduta, tipificada no art.
334-A do Código Penal. Acompanhe:

Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de
órgão público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.

Nos termos do que vimos acima, o crime de contrabando pode ser definido como a conduta de exportar
ou importar mercadoria proibida. Pune-se, portanto, importação ou exportação de mercadorias cuja
entrada no país, ou saída dele, é absoluta ou relativamente proibida. Importar tem o sentido de trazer para
dentro do território nacional, ou seja, comercializar, uma mercadoria que se encontrava em outro país.
Exportar significa enviar, comercializar, para outro país mercadoria que se encontrava no território nacional.
Trata-se de norma penal em branco, uma vez que necessita de complementação no sentido de se
estabelecerem quais seriam as mercadorias proibidas. O Governo brasileiro, por intermédio de seus
Ministérios (Fazenda, Agricultura, Saúde etc.), como regra, são os responsáveis por determinar quais as
mercadorias são consideradas proibidas. São exemplos nesse sentido a importação de: cigarros e bebidas
fabricados no Brasil, destinados à venda exclusivamente no exterior; cigarros de marca que não seja
comercializada no país de origem; brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se

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possam confundir; espécies animais da fauna silvestre sem um parecer técnico e licença expedida pelo
Ministério do Meio Ambiente, mercadorias cuja produção tenha violado direito autoral (“pirateadas”) 9,
etc.
O § 1° do art. 344-A relaciona algumas figuras típicas, equiparadas ao crime de contrabando. São elas:
1. Quem pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando: é também norma penal em branco,
cabendo à lei especial indicar qual é o fato assimilado ao contrabando;
2. Aquele que importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou
autorização de órgão público competente: aqui, a mercadoria até é permitida, contudo necessita de
anuência das autoridades nacionais. Um exemplo é a importação de gasolina de países como a
Venezuela, ainda que idêntica à comercializada no país;10
3. Quem reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação. Exemplo típico
são os cigarros: mesmo se produzidos no país, se destinados à exportação, não poderão ser vendidos
nem expostos à venda no País;
4. Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira
5. Aquele que adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
O bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente à proteção da saúde, da moralidade
administrativa, do meio ambiente e da ordem pública, como corolário da proibição no território nacional
da mercadoria importada ou exportada. Outrossim, importante mencionar que o delito de contrabando tem
natureza residual, ou seja, somente restará caracterizado se a importação ou exportação de mercadoria
proibida não configurar crime específico. Exemplo: se a mercadoria for qualquer tipo de droga, configurar-
se-á o crime previsto no art. 33, caput da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas); raciocínio análogo se for arma de
fogo, hipótese em que se deve recorrer o estatuto do desarmamento.
De acordo com o estudo do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), 11 o
produto mais contrabandeado é o cigarro (67,44%), vindo principalmente do Paraguai. Isso se justifica pelos
impostos baixíssimos do país, favorecendo a sua produção, e, noutro extremo, a alta carga tributária
brasileira sobre esse produto, tornando esse negócio extremamente lucrativo. Ainda segundo o Idesf, a
lucratividade do cigarro contrabando do Paraguai e vendido no Brasil pode atingir 231,15%12.

9
GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.
10
AgRg no AREsp 348.048/PR.
11
Disponível em: http://www.etco.org.br/16/wp-content/uploads/O-CUSTO-DO-CONTRABANDO.pdf. Acesso em 01 de julho de
2020.
12
Disponível em: http://www.idesf.org.br/2019/09/25/idesf-apresenta-dados-do-contrabando-em-reuniao-do-gsi-em-foz-do-
iguacu/. Acesso em 01 de julho de 2020.

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Segundo A Folha de São Paulo, metade dos cigarros vendidos hoje no país têm origem no contrabando. O
fabricado aqui paga, em média, 71% de imposto, e não pode ser vendido por menos de R$ 5. Já o paraguaio
custa metade do preço. A tributação em seu país de origem é de 16%, a mais baixa do mundo.13

Entram também nessa lista, sequencialmente, materiais eletrônicos (15,42%), de informática (5.04%),
vestuário (3,03%), perfumes (2,45%), relógios (2,03%), brinquedos (1,89%), óculos (1,5%), medicamentos
(0,85%) e bebidas (0,35%).
Segundo Levantamento feito pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), em 2019, o
Brasil perdeu R$ 291,4 bilhões de reais para o mercado ilegal. Esse valor é composto pela perda dos setores
industriais e a estimativa dos impostos que deixaram de ser arrecadados em função dessa ilegalidade. Em
2018, esse número foi de R$ 193,1 bilhões e em 2017, R$ 146 bilhões.14
O cigarro, setor mais afetado pelo contrabando, por exemplo, perdeu R$ 15,9 bilhões em 2019. Em 2018
foram R$ 14,4 bilhões.
Uma estimativa da Aliança Latino Americana de Contrabando (ALAC) também aponta que, em média, o
mercado ilegal corresponda a 2% do PIB dos países latino-americanos. No Brasil, segundo a FNCP, esse
percentual está, no mínimo, em 7,85%.
Como se viu, a prática do contrabando gera elevados prejuízos à economia nacional, tendo em vista a
elevada evasão fiscal. Essa evasão implica a redução da capacidade do Governo em investir em saúde,
educação, segurança, etc. Além disso, devido à concorrência desleal, há impactos negativos também para
a indústria, com o fechamento das unidades fabris, fechamento de postos de empregos e o

13
Disponível em: https://temas.folha.uol.com.br/contrabando-no-brasil/uma-muralha-da-china-por-ano/brasil-perde-r-146-3-
bilhoes-para-o-mercado-informal.shtml. Acesso em 01 de julho de 2020.
14
Disponível em: http://www.fncp.org.br/forum/release/292. Acesso em 25 de janeiro de 2021.

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enfraquecimento da capacidade de investimento privado no país, promovendo, por conseguinte, perda de


empregos formais, aumento do desemprego e a substituição dos empregos formais pelos informais.
Uma outra faceta negativa é a exposição a riscos à saúde, uma vez que se desconhece a qualidade desses
produtos. Não se tem nenhuma clareza sobre se tais produtos foram submetidos a exames e ensaios com o
objetivo de verificar a inexistência de impactos do seu consumo/manuseio à saúde humana, muito menos
se cumpriram-se os requisitos estabelecidos pelas entidades reguladoras nacionais (Anvisa, Inmetro,
Anatel, entre outros). Esse problema é bastante crítico em mercadorias como cigarros, bebidas alcóolicas,
brinquedos e medicamentos.
Segundo pesquisa realizada em 2013 pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foram
encontrados insetos, areia, terra, pelos, coliformes fecais, plásticos e fungos em cinco marcas de cigarros
frequentemente contrabandeadas para o Brasil. Além disso, em 65% das marcas pesquisadas, foram
observadas elevadas concentrações de elementos químicos como níquel, cádmio, cromo e chumbo e o
dobro da concentração média de arsênio encontrado em cigarros legais 15.
O grande volume comercializado assegura alta rentabilidade ao mercado ilegal. Não à toa, o contrabando
é apenas uma de várias atividades desenvolvidas por redes criminosas organizadas, como tráfico de drogas
e armas e lavagem de dinheiro. O risco é relativamente baixo: além das brechas fronteiriças e da fiscalização
falha em pontos de venda, as penas são mais brandas do que as aplicadas para outros crimes praticados por
estas organizações. Assim, o mercado ilegal de cigarros também contribui para o aumento da violência e da
criminalidade, não apenas nas regiões de entrada das cargas contrabandeadas, como nas de todos os
pontos de abastecimento.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, combater o crime de contrabando, certamente, não é
uma missão fácil. Contudo, caso o combate a esse crime seja escolhido como prioridade, certamente, é
possível que se reduzam os seus impactos danosos sobre a sociedade. Isso é possível por meio da adoção
de medidas no sentido de reforçar a segurança nas fronteiras, por meio da maior quantidade de agentes
dedicados à fiscalização, uso mais intenso de recursos tecnológicos e ampliação das ações de inteligência.
Visto ser esse um problema transfronteiriço, é também desejável a realização de operações integradas com
os países de origem das mercadorias ilegais, de modo a tornar mais efetiva a sua repressão.
Entendo que essa breve revisão é suficiente para resolver à questão. Mãos à obra.

Tema 26

Polícia Federal intensifica o combate à pornografia infantil

15
Disponível em: http://www.souzacruz.com.br/group/sites/SOU_AG6LVH.nsf/vwPagesWebLive/DO9YDBCE#:~:text=O%
20contrabando%20%C3%A9%20um%20problema,mas%2C%20sim%2C%20o%20contrabando. Acesso em 01 de julho de 2020.

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Em dois anos, foram deflagradas nove operações, que resultaram em prisões em flagrante
Um crime relativamente novo, mas que tem feito cada vez mais vítimas no Ceará, principalmente em
ambientes virtuais. A pornografia infantil se encaixa em um tipo de delito repugnado pela sociedade,
sobretudo porque, muitas vezes, os pedófilos são pessoas próximas, que possuem certo grau de confiança
e afetividade com crianças e adolescentes molestadas.
A Polícia Federal (PF) tem intensificado as ações de combate à pornografia infantil no Estado. O resultado
é que em dois anos, entre 2014 e 2015, foram deflagradas nove operações, que resultaram no cumprimento
de 27 mandados de busca e apreensão e 11 prisões em flagrante. Nas ações de repressão ainda foram
apreendidos milhares de CDS, DVDs, pen-drives, cartões de memórias e HDs de computadores, contendo
material pornográfico envolvendo imagens de crianças e adolescentes.
Dentre os crimes relacionados à pornografia infantil, de acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescentes (ECA), estão a produção, venda, compartilhamento ou até mesmo a posse de qualquer
material que contenha cena de sexo explícito envolvendo meninos e meninas menores de 18 anos. As penas
podem variar entre 1 a oito anos de prisão, e multa.
A PF também atua em parceria com outros órgãos, como a ONG Safernet Brasil, grupo formado por
cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis de Direito que atuam contra crimes
virtuais. De acordo com dados repassados pela ONG, a pornografia infantil já é o crime virtual mais
praticado no Brasil. Somente em 2014, foram processadas 51 mil denúncias, envolvendo 22.789 sites
diferentes no País.
Conforme detalhou a titular da Delegacia de Defesa Institucional (Delinst) da PF, delegada Juliana Sá, os
criminosos agem sobre o anonimato da internet. No entanto, através das denúncias, os investigadores
conseguem rastrear os endereços dos IPs dos computadores e assim chegar aos envolvidos.
Na 'Operação Darknet', deflagrada em 18 estados brasileiros, por exemplo, os policiais federais chegaram
aos acusados após identificar os IPs de computadores utilizados para compartilhar imagens de sexo
explícito envolvendo crianças e adolescentes. Um cearense foi preso em flagrante pela PF, acusado de
abusar sexualmente de duas crianças, gravar as violências e divulgar vídeos e fotos na internet. Ele foi
condenado a mais 56 anos de prisão por pedofilia.
Virtual
"As imagens descobertas pela polícia eram terríveis. Tinham crianças amarradas, dopadas e até cenas de
sexo explícito com um bebê. Para conseguirmos chegar aos alvos, foi preciso um trabalho minucioso, pois
eles mantinham as imagens em um espaço virtual abaixo ainda mais anônimo. Mas conseguimos deflagrar
as operações utilizando métodos investigativos com tecnologia mais avançada", comentou a delegada.
Para a titular da Delinst, o aumento das operações e, consequentemente, das prisões no Ceará é um
resultado de capacitações realizadas na área investigativa. "Assim como os criminosos usam de artimanhas
avançadas para realizar os crimes virtuais, nós (Polícia Federal) também temos nos capacitados mais nessa
área. Com isso, estamos conseguindo dar andamento aos inquéritos, deflagrar mais operações e chegar aos
alvos", afirmou a investigadora.

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A delegada Juliana Sá revela que, na maioria dos casos, os criminosos são do sexo masculino, com idades
entre 20 e 50 anos, e que possuem habilidade com computadores e informática. Embora as investigações
apontem para um tipo específico de suspeito, o perfil dos agressores pode ser bastante diversificado. Nas
ações da PF no Ceará, já foram identificados policiais, universitários, funcionários públicos e até religiosos
consumindo materiais pornográficos envolvendo crianças.
"Geralmente, os acusados são homens, que têm bom conhecimento em sistemas de informática, para
conseguirem armazenar os vídeos em locais de difícil acesso. São pessoas que não levantam muitas
suspeitas, que tentam ganhar a confiança das famílias e assim conseguem se aproximar das crianças. Eu
diria que os agressores não têm classe social, cor ou crença definidos", explicou a delegada.
Punição
A investigadora federal diz que os casos devem ser denunciados para que a PF chegue aos envolvidos. As
pessoas que recebem vídeos através das redes sociais também devem denunciar, mesmo que não
conheçam os autores ou as vítimas. Quem mantiver material de pornografia infantil, seja no celular ou
computador, também estará passível de punição.
"Não só a produção, mas também o consumo de vídeo ou foto é crime. Não adianta tentar compartilhar um
vídeo de abuso contra criança através das redes sociais para que se chegue ao culpado, como é comum
verificarmos na internet. Isso acaba expondo as vítimas e é crime. Recebeu um vídeo? Então apague
imediatamente e denuncie", reiterou a delegada Juliana Sá.
Além da Polícia Federal, as denúncias podem ser realizadas através da Secretaria de Direitos Humanos
(SDH), por meio do Disque 100, ou pelo site da ONG Safernet Brasil. A Delegacia da Criança e do
Adolescente (DCA) da Polícia Civil também investiga casos de pornografia infantil, no entanto, os dados
tabulados de vítimas e prisões não foram repassados à reportagem.
Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/02/15/brasil-e-o-segundo-
pais-no-mundo-com-maior-numero-de-crimes-ciberneticos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso
em: 19/07/2020. (com adaptações)

Brasil é o segundo país no mundo com maior número de crimes cibernéticos


De acordo com um relatório da Norton Cyber Security, em 2017 o Brasil passou a ser o segundo país com
maior número de casos de crimes cibernéticos, afetando cerca de 62 milhões de pessoas e causando um
prejuízo de US$ 22 bilhões.
No ano anterior, o Brasil era o quarto colocado na lista, mas agora fica atrás apenas da China, que em 2017
teve um prejuízo de US$ 66,3 bilhões.
Um dos principais fatores desse aumento de crimes está na popularidade de smartphones, que agora
chegam a 236 milhões de aparelhos no Brasil, ou 113,52 para cada 100 habitantes.
"Esse aumento também impacta no crescimento de cibercrimes, já que muitos acreditam que estejam mais
seguros utilizando aparelhos móveis", explica o professor e coordenador do MBA em Marketing Digital da
Fundação Getúlio Vargas em todo o Brasil, Andre Miceli. "O paradoxo segurança x liberdade, que sempre
existiu no meio físico, existe no digital também. Quanto mais livres estivermos, menos seguros estaremos."

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No último ano, o número de golpes e crimes aplicados via serviços como o WhatsApp aumentaram
significativamente, tornando-se a principal ferramenta para hackers no país. Por isso, Miceli reforça
vigilância constante por parte de usuários.
"A melhor maneira é se precaver para navegar de uma forma mais segura na web. Evitar o uso de redes
públicas, modificar sua senha constantemente, não usar a mesma senha em todos os sites, não instalar
nenhum software sem ter certeza da procedência e não abrir e-mails de desconhecidos."
"Essas práticas irão resolver 80% dos casos."
Para o professor, tomar medidas preventivas para proteger seus dados e não sofrer com golpes ou outros
crimes cibernéticos é essencial, já que o número de ferramentas digitais só deve crescer no futuro.
"Nos próximos anos, veremos ataques a carros, drones, roupas, cardioversores, bombas de insulina e outros
gadgets que irão fazer parte de nossas vidas. Por isso é tão importante falar sobre esse assunto.", declarou.
Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/02/15/brasil-e-o-segundo-
pais-no-mundo-com-maior-numero-de-crimes-ciberneticos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso
em: 14/07/2020. (com adaptações)

Gigantes da internet aliados na luta contra a pedofilia


AFP- 11/06/20 - 09h31
Os gigantes americanos Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft apresentaram nesta quinta-feira
(11), juntamente com outras empresas da Internet, um plano para combater a pedofilia online.
Reunidas na ‘Tech Coalition’, essas empresas concordam em financiar um “fundo multimilionário de
pesquisa e inovação para criar instrumentos tecnológicos para prevenir e trabalhar de maneira mais eficaz
para erradicar a exploração e o abuso sexual de crianças online”, de acordo com um anúncio feito em um
blog dessa coalizão.
A organização também publicará um relatório anual sobre os esforços realizados e anunciou a criação de
um “fórum anual” sobre esse flagelo.
“Os projetos de pesquisa serão conduzidos independentemente da Tech Coalition e de seus membros e
incluirão estudos-piloto sobre questões como a evolução das ameaças, a eficácia das intervenções de
conscientização e dissuasão e como melhorar o trabalho dos moderadores”, de acordo com a organização.
Esse novo plano “nos ajudará a compartilhar os avanços, as lições e os principais instrumentos do
ecossistema digital. Nenhuma empresa pode combater esse problema sozinha”, afirmou Kent Walker,
funcionário do Google, citado no comunicado.
“O Facebook tem orgulho de contribuir para essa iniciativa, que, esperamos, trará mudanças reais para
garantir a segurança das crianças”, disse Sheryl Sandberg, CEO do Facebook.
A Tech Coalition nasceu há 15 anos para coordenar a implementação de instrumentos de moderação
tecnológica em grandes plataformas digitais: principalmente, sistemas de reconhecimento automatizado
de imagens de pornografia infantil.

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Apesar das regras estritas contra o conteúdo que sexualiza ou explora menores, as redes sociais voltadas
principalmente para jovens, como Snapchat, TikTok, YouTube e Instagram, costumam ser alvo de críticas
por não proteger suficientemente os menores contra abusadores para evitar escândalos e a fuga de
anunciantes.
https://www.istoedinheiro.com.br/gigantes-da-internet-aliados-na-luta-contra-a-pedofilia/
(com adaptações)

A partir das ideias dos textos precedentes, que têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
A PROTEÇÃO DA CRIANÇA NUM CONTEXTO DE ESCALADA DOS CRIMES VIRTUAIS
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) o advento da internet e o reflexo sobre a pornografia infantil;
b) a garantia da proteção da criança;
c) o combate à pornografia infantil virtual.

Abordagem teórica

1. O advento da internet e o reflexo sobre a pornografia infantil

São inegáveis os ganhos proporcionados pelo advento da internet. Com a sua difusão, quase tudo no mundo
foi modificado: trabalho, lazer, aprendizado, vida social etc.
Não obstante as inúmeras facilidades que apresentou, vieram também muitos problemas e desafios e um
deles refere-se à pornografia infantil.
Não é que a internet criou o crime. Ela apenas proporcionou ferramentas que facilitam a prospecção,
abordagem e aproximação das crianças e que aumentaram a exposição das suas intimidades. À medida que
o uso da Internet se dissemina, os riscos de crianças serem expostas a material de cunho sexual ou de serem
vítimas de abordagem por parte de pedófilos e pornógrafos infantis também cresce.
Com a possibilidade do anonimato e da criação de perfis falsos, facilitou-se a dissimulação e tornou-se mais
fácil enganar as crianças. Essas pessoas podem se passar por jovens ou crianças da mesma idade para atrair
o interesse com assuntos que agradam suas vítimas potenciais, as quais, muitas vezes, são facilmente
induzidos a se identificar com promessas vantajosas e acabam cedendo aos pedidos do abusador.
Interessante notar também que as informações deixadas pelos indivíduos na internet (blogs, sites ou redes
sociais) podem ser utilizadas para entender sobre os gostos e fragilidades das vítimas.
Além disso, o conteúdo produzido pode se espalhar com enorme velocidade e sem barreiras físicas,
podendo transitar entre países em segundos, o que dificulta o controle e a punição dos infratores.

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Vejamos o que consta na cartilha " Navegar com Segurança "16, organizada pela Childhood Brasil17:
No ambiente virtual, a violência sexual se manifesta principalmente na forma do abuso online e da
pornografia. [...]
O abuso online é a manifestação do abuso sexual por meio da internet. O abusador muitas vezes age de
forma sedutora, conquistando a confiança das crianças e dos adolescentes. Ele pode acontecer de
diversas maneiras e chegar ou não ao contato pessoal, embora o desejo desse encontro sempre exista.
Em alguns casos, porém, o encontro pessoal pode terminar em violência física ou sexual.
A conquista da confiança pode ocorrer por meio de uma tática conhecida como grooming, em que o
contato é constante e desenvolvido ao longo do tempo. Elogiar, oferecer presentes, chantagear e até
intimidar são verbos que fazem parte do cotidiano do abusador. A criança costuma ficar impotente diante
de um abusador, que tem a capacidade de anular sua capacidade de decisão, sugerindo um pacto de
silêncio ou até fazendo ameaças. [...]
Pornografia infantojuvenil é uma forma de exploração sexual definida pela produção, utilização, exibição,
comercialização de material (fotos, vídeos, desenhos etc.) com cenas de sexo explícito envolvendo
crianças e adolescentes ou com conotação sexual das partes genitais de uma criança. A pornografia
infantil é um comércio criminoso e rentável, que deve ser denunciado.
Ela alimenta os “clubes de abusadores”, que podem adquirir fotos ou vídeos contendo pornografia infantil,
ou “contratar” serviços de exploradores sexuais no turismo ou mesmo efetivar o tráfico de crianças e
adolescentes e aliciá-los para práticas de abuso sexual.
A pornografia infantil virtual acabou se tornando um mercado pelo seu elevado potencial de lucro. As
pessoas que "consomem" esse tipo de conteúdo organizam-se em "clubes" ou comunidades, onde podem
negociar o material, contratar exploradores sexuais ou traficantes de pessoas.
Vejamos agora alguns dados para dar a dimensão do problema, retirados do sítio da Safernet 18. Em 2018,
contabilizaram-se 133.732 queixas de delitos virtuais. Entre essas, em primeiro lugar, respondendo por
quase metade das ocorrências, encontra-se a pornografia Infantil com 60.002 denúncias. O segundo
colocado, a apologia e incitação a crimes contra a vida, vem bem distante com 27.716 denúncias. Ainda
segundo o Safernet:

16
Com adaptações. Navegar com segurança: por uma infância conectada e livre de violência sexual. -- 3. ed. -- São Paulo:
CENPEC: Childhood Instituto. WCF Brasil, 2012.
Disponível em: https://new.safernet.org.br/sites/default/files/content_files/navegue_com_seguranca.pdf. Acesso em: 18 de julho de
2020.
17
A Childhood Brasil é uma organização brasileira que faz parte da World Childhood Foundation (Childhood), instituição
internacional criada em 1999 por Sua Majestade Rainha Silvia da Suécia para proteger a infância e garantir que as crianças sejam
crianças.
18
A SaferNet Brasil é uma associação civil de direito privado responsável por uma central on-line que registra denúncias de crimes
virtuais.

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Em 14 anos, a Central de Denúncias recebeu e processou 1.661.110 denúncias anônimas de Pornografia


Infantil envolvendo 383.646 páginas (URLs) distintas (das quais 282.336 foram removidas) escritas em 10
idiomas e hospedadas em 53.265 domínios diferentes, de 247 diferentes TLDs e conectados à Internet
através de 58.340 números IPs distintos, atribuídos para 100 países em 6 continentes. As denúncias foram
registradas pela população através dos 3 hotlines brasileiros que integram a Central Nacional de
Denúncias de Crimes Cibernéticos.
Acerca desse assunto, é importante saber que essas práticas constituem crimes. De acordo com o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA):

Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo
explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 1° Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia
a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com
esses contracena.
[...]
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de
2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer
meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei
nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) [...]
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Assim, percebe-se que até mesmo armazenar fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica constitui crime. Esse rigor justifica-se pela regra da proteção integral,
conforme veremos no item seguinte.
2. Proteção da criança e do adolescente pelo Estado

A doutrina da proteção integral é o que caracteriza o tratamento jurídico dispensado pelo direito brasileiro
a crianças e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no próprio texto constitucional, em
documentos e tratados internacionais e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Senão, vejamos:

CF/1988, art. 227: “ É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

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profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,


além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão”
ECA, art.3º “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios,
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.
Decreto 99.710/199019, art. 3º, 2: “Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e
o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em consideração os direitos e deveres de
seus pais, tutores ou outras pessoas responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão
todas as medidas legislativas e administrativas adequadas.”

Essa doutrina exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de
forma integral e integrada, mediante a operacionalização de políticas de natureza universal, protetiva e
socioeducativa.
Segundo Rossato, Lépore e Cunha20 (2010, p.79): “Não implica, a proteção integral, em mera proteção a todo
custo, mas sim, na consideração de serem a criança e o adolescente sujeitos de direito, devendo as
políticas públicas contemplar essa situação, proporcionando o reequilíbrio existente pela condição de serem
pessoas em desenvolvimento, o que deverá ser levado em consideração na interpretação do Estatuto”.
Assim, segundo o princípio da proteção integral, a criança e o adolescente devem gozar de proteção do
Estado. Particularmente, a definição do adolescente como a pessoa entre 12 a 18 anos incompletos implica
a incidência de um sistema de justiça especializado para responder a infrações penais quando o autor é
adolescente. A imposição das medidas socioeducativas, e não das penas criminais, relaciona-se justamente
com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da condição
peculiar de desenvolvimento em que se encontra o adolescente.
3. O combate à pornografia infantil virtual

Podemos atribuir a responsabilidade pelo combate à pornografia infantil virtual a diversos atores.
1. Pais e educadores: devem entender o problema e tomar as medidas para evitar que aconteça. Devem
orientar e estimular o diálogo e criar um ambiente de confiança, o qual permitirá que a criança procure
apoio em situações de dúvida e medo.
Atualmente, há diversas ferramentas tecnológicas que podem ajudar os pais a controlarem a
navegação dos filhos na internet. Nesse sentido, são exemplos as ferramentas que limitam o acesso a

19
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989.
Internamente, entrou em vigor para o Brasil em outubro de 1990 e foi promulgada em novembro de 1990 por meio do Decreto
99.710/1990.
20
ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da criança e do adolescente comentado.
Lei 8.069/1990 – Artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

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páginas de conteúdo sensível ou que permitem controlar que tipo de sites as crianças acessam e em
qual horário isso ocorreu. Empresas como o YouTube e Netflix disponibilizam configurações especiais
para o público infantil. Ainda, é importante verificar configurações de privacidade de redes sociais
para que não se forneçam informações como a localização da residência, por exemplo.
Importante também instruir os filhos a não divulgarem dados pessoais, telefone, fotografia ou
quaisquer outras informações que possam facilitar a abordagem ou servir como objeto de chantagem
pelo criminoso.
Ao perceber indícios de que a criança está sendo vítima, é necessário denunciar à polícia, Disque 100,
Ministério Público, Conselho Tutelar ou pelo sítio da ONG Safernet para que se tomem as providências
cabíveis.
Quanto às escolas, são também válidas a discussão do tema, campanhas de mobilização e outras
ferramentas para esclarecimento do tema.
2. Empresas de tecnologia: as empresas de tecnologia que operacionalizam as plataformas digitais
onde esses crimes ocorrem devem implantar mecanismos de controle capazes de identificar e sua
ocorrência e evitar sua concretização. Outrossim, devem também fortalecer os sistemas de segurança
de modo a tornar os computadores mais robustos à invasão de hackers.
3. Segurança Pública: os diversos órgãos que militam na área (polícias, MP, Judiciário) devem dar a
necessária ênfase a esse crime. À polícia cabe envidar esforços nas investigações para identificar a
ação de criminosos e desarticular as organizações envolvidas nesse negócio. Haja vista a
complexidade inerente a esse crime, pois que ocorre no meio virtual, é necessário que as forças
policiais sejam adequadamente treinadas e aparelhadas para que consigam competir em igualdade
de condições com os criminosos.
Além disso, considerando a relevância qualitativa e quantitativa desses crimes, também é importante
a criação de delegacias especializadas em investigações de crimes cibernéticos. Pela
transnacionalidade desses crimes, pode-se sugerir a criação de protocolos de cooperação com
Estados estrangeiros, objetivando coordenar ações, facilitar a transferência de informações e a
identificação e responsabilização dos infratores.

Tema 27

Autoral
Operação Luz da Infância prende 27 por exploração infantil na internet
Ação envolve investigações em quatro outros países, além do Brasil
Vinte e sete pessoas foram presas nas ações da Operação Luz da Infância 7, deflagrada hoje (6) pelo
Ministério da Justiça (MJ) e polícias civis de 10 estados. Segundo o MJ, 10 delas foram em São Paulo; oito

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em Santa Catarina; três no Pará; e três no Paraná. Alagoas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul contabilizam
até o momento uma prisão, cada.
A Operação Luz da Infância 7 foi deflagrada com o objetivo de identificar autores de crimes de abuso e
exploração sexual contra crianças e adolescentes praticados na internet no Brasil e em quatro outros países.
No Brasil, a legislação prevê pena que varia de um a quatro anos para quem armazena esse tipo de conteúdo.
O compartilhamento de materiais desse tipo pode resultar em penas de três a seis anos; e, no caso de
produção de conteúdo relacionado a crimes de exploração sexual, a pena varia de quatro a oito anos de
prisão.
A operação cumpre 137 mandados de busca e apreensão em dez estados (AL, CE, GO, MT, PA, PR, RJ, RS,
SC e SP). Há também frentes de ações na Argentina, Panamá, Paraguai e Estados Unidos. Segundo o MJ,
nos EUA há medidas sendo cumpridas nas cidades de Knoxville, Nashville, Dallas, Raleigh e Pittsburgh.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-11/operacao-
luz-da-infancia-prende-27-por-exploracao-infantil-na-internet. Acesso em: 26 de
janeiro de 2021.

Violência contra as mulheres


• A violência contra as mulheres – particularmente a violência por parte de parceiros e a violência sexual
– é um grande problema de saúde pública e de violação dos direitos humanos das mulheres.
• Estimativas globais publicadas pela OMS indicam que aproximadamente uma em cada três mulheres
(35%) em todo o mundo sofreram violência física e/ou sexual por parte do parceiro ou de terceiros
durante a vida.
• A maior parte dos casos é de violência infligida por parceiros. Em todo o mundo, quase um terço (30%)
das mulheres que estiveram em um relacionamento relatam ter sofrido alguma forma de violência física
e/ou sexual na vida por parte de seu parceiro.
• Globalmente, 38% dos assassinatos de mulheres são cometidos por um parceiro masculino.
• A violência pode afetar negativamente a saúde física, mental, sexual e reprodutiva das mulheres, além
de aumentar a vulnerabilidade ao HIV.
• Entre os fatores associados ao aumento do risco de perpetração da violência estão a baixa escolaridade,
maltrato infantil ou exposição à violência na família, uso nocivo do álcool, atitudes violentas e
desigualdade de gênero.
• Entre os fatores associados ao aumento do risco de ser vítima de parceiros e de violência sexual estão
a baixa escolaridade, exposição à violência entre os pais, abuso durante a infância, atitudes que
permitem a violência e desigualdade de gênero.
• Em contextos de alta renda, há evidências de que os programas escolares podem ser eficazes na
prevenção da violência em relacionamentos entre os jovens.
• Em contextos de baixa renda, as estratégias para aumentar o empoderamento econômico e social das
mulheres – como as microfinanças combinadas à formação em igualdade de gênero e as iniciativas

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comunitárias contra a desigualdade de gênero e as habilidades de relacionamento interpessoal –


demonstraram certa eficácia na redução da violência por parte de parceiros.
• Situações de conflito, pós-conflito e deslocamento podem exacerbar a violência por parte de parceiros
e apresentar formas adicionais de violência contra as mulheres.
Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5669:folh
a-informativa-violencia-contra-as-mulheres&Itemid=820. Acesso em: 26 de janeiro de
2021.

A partir da leitura dos textos de motivadores, redija um texto dissertativo sobre o tema:
A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E CRIANÇAS: FERIDA ABERTA NO SEIO DA
SOCIEDADE
a) desafios relacionados à violência sexual a serem considerados pelas organizações policiais;
b) a violência sexual contra crianças e adolescentes como grave problema social;
c) papel da polícia no enfrentamento do problema da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Abordagem teórica

1. Violência Sexual
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), violência sexual é “todo ato sexual, tentativa de
consumar um ato sexual ou insinuações sexuais indesejadas; ou ações para comercializar ou usar de
qualquer outro modo a sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra pessoa,
independentemente da relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar e o local de
trabalho”21.
Segundo a OMS, a coerção pode ocorrer de diversas formas e por meio de diferentes graus de força,
intimidação psicológica, extorsão e ameaças. A violência sexual também pode acontecer se a pessoa não
estiver em condições de dar seu consentimento, em caso de estar sob efeito do álcool e outras drogas,
dormindo ou mentalmente incapacitada, entre outros casos 22.
O termo violência sexual abrange diferentes formas de agressão, que ferem a dignidade e liberdade sexual
de uma pessoa, tais como assédio, exploração sexual e estupro.

21
Disponível: https://nacoesunidas.org/oms-aborda-consequencias-da-violencia-sexual-para-saude-das-mulheres/. Acesso em: 22 de janeiro
de 2020.
22
Disponível: https://nacoesunidas.org/oms-aborda-consequencias-da-violencia-sexual-para-saude-das-mulheres/ Acesso em: 22 de janeiro
de 2020.

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O assédio é, nos termos do Código Penal, art. 216-A: " constranger alguém com o intuito de obter vantagem
ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função."
A exploração sexual, modalidade em que se visa obter proveito financeiro à custa de outrem, também
prevista em diversos artigos do CP, consiste em práticas como "induzir ou atrair alguém à prostituição ou
outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone", "Manter, por conta
própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou
mediação direta do proprietário ou gerente”, além do tráfico de pessoas e outras condutas".
Recentemente, em 2018, foi integrada ao Código Penal Brasileiro a Lei 13.718/2018, a qual passou a tipificar
como crime: importunação sexual; divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável,
de cena de sexo ou de pornografia; estupro corretivo. A lei ainda tornou a pena mais rígida nos casos de
crimes sexuais contra vulnerável e estabeleceu causas de aumento de pena para esses crimes, bem como
no caso de estupro coletivo e estupro corretivo. Reforçou-se, pois, o arcabouço normativo como forma de
combater as diversas formas de violência sexual.
Tratemos agora sobre o estupro23, modalidade de violência mais brutal e também mais conhecida. O
trauma decorrente dessa violência deixa sequelas físicas e psíquicas nos atingidos. Sobre o primeiro
aspecto, mencionam-se as lesões nos órgãos genitais, contusões e fraturas, alterações gastrointestinais,
infecções do trato reprodutivo, gravidez indesejada e a contração de doenças sexualmente transmissíveis.
Sob o ponto de vista psicológico, o estupro pode resultar em diversos transtornos, tais como depressão,
fobias, ansiedade, uso de drogas ilícitas, disfunção sexual, ansiedade, transtornos alimentares, tentativas
de suicídio e síndrome de estresse pós-traumático.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, em 2019, registraram-se 66.123 estupros e
estupros de vulneráveis (1 estupro a cada 8 minutos). Além disso, 85,7% delas são do sexo feminino24, o
que coloca a desigualdade entre os gêneros como uma das razões da violência sexual. Apesar de não ser
insignificante o quantitativo de vítimas do sexo masculino, pode-se dizer que o sistema atual perpetua a
violência contra a mulher e culpabiliza as vítimas do sexo feminino. O ainda existente ideal passivo feminino,
no qual espera-se submissão e recatamento, tem legitimado agressões àquelas que não se adequarem a

23 Código Penal. Estupro


Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2° Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
24
Disponível: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/01/FBSP_Policia_precisa_falar_estupro_2016.pdf Acesso em: 22
de janeiro de 2020.

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esse padrão. Basta ver que, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha 25, 42% dos brasileiros do sexo
masculino acreditam que as mulheres que se dão ao respeito não são estupradas, o que denota uma
distorção conceitual acerca do real responsável pelo ato criminoso.
Nessa linha, segundo a pesquisa "A Polícia Precisa Falar Sobre Estupro - Percepção sobre violência sexual e
atendimento a mulheres vítimas nas instituições policiais ", a culpabilização pela violência sofrida é uma
reação frequente relatada pelas mulheres, até mesmo quando recebem atendimento nos serviços de
justiça, segurança e saúde.
Pelas suas características, os crimes de violência sexual representam um desafio às autoridades: quando o
suspeito é uma pessoa conhecida, não é trivial a obtenção de provas irrefutáveis do não consentimento;
quando o perpetrador é um estranho, a dificuldade geralmente está em identificar e encontrar o autor.
Além disso, o trauma e a vergonha podem inibir a realização da denúncia imediatamente após a ocorrência.
Adicione-se a esse rol, a dificuldade em apontar o perpetrador quando se trata de uma pessoa da família ou
conhecida, bem como o medo de retaliação por parte desta. Não se pode ignorar o fato de que, em relação
ao vínculo com o abusador, 84,1% dos casos o autor era conhecido da vítima (parentes, companheiros,
amigos e outros), resultado que se aproxima ao de pesquisas de vitimização já produzidas 26.
Outro desafio é o elevado risco de revitimização durante os procedimentos legais - humilhação, julgamento
moral, procedimentos de coleta de provas, exposição à imprensa -, que expõem o corpo violado da vítima a
novas intervenções. Trata-se de um fenômeno causador de sofrimento entre as vítimas de crimes, oriundo
do fato de as vítimas reviverem, recordarem e exporem, às vezes publicamente, o fato violento. Isso ocorre
em função do próprio sistema judiciário e da persecução penal, o qual exige, por exemplo, a oitiva da vítima.
A elevada subnotificação, que decorre de todos esses fatores, é revelada pelo seguinte dado: de acordo
com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no Brasil, apenas 7,5% das vítimas de violência
apresentam o caso à polícia.
Outro desafio é a criação de delegacias especializadas para lidar com esses casos. Contudo, mais
importante, é romper a invisibilidade do problema e fazer desse um tema transversal em todas as
corporações policiais, em todos os níveis de atendimento. Os profissionais envolvidos na investigação
precisam estar preparados para lidar com esses casos em qualquer delegacia, visto que, ainda que haja uma
ampla cobertura territorial pelas delegacias especializadas, haverá casos em que não será possível dispor
desse atendimento.
Outrossim, é necessário que cada policial conheça as especificidades dos crimes de violência sexual,
conheça em detalhes a legislação, de modo que seja capaz de identificar quando configurado algum crime,
tenha conhecimento e sensibilidade para dar o acolhimento e saiba o encaminhamento necessário para
cada caso.

25
Disponível: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-09/onu-mulheres-brasil-diz-que-pesquisa-sobre-estupro-reflete-
estagnacao. Acesso em: 22 de janeiro de 2021.
26
Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019.

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É preciso rever os currículos policiais e reformulá-los também a partir da igualdade de gênero. É preciso
motivar policiais a acolher mulheres vítimas de violência sexual, reconhecer a validade dos relatos de vítimas
de estupro e valorizar a autonomia da mulher e o direito ao seu corpo. Os operadores da segurança pública
e do sistema de justiça criminal devem ser protagonistas na garantia e na promoção da igualdade entre
homens e mulheres – inclusive dentro das corporações.
Como de costume, guarde alguns dados apresentados pela pesquisa "A Polícia precisa falar sobre estupro:
percepção sobre violência sexual e atendimento a mulheres vítimas de estupro nas instituições
policiais"27, os quais poderão lhe auxiliar no momento da sua prova:

27
http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/a-policia-precisa-falar-sobre-estupro-percepcao-sobre-violencia-sexual-e-atendimento-a-
mulheres-vitimas-de-estupro-nas-instituicoes-policiais/

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2. Violência sexual no contexto infanto-juvenil


Segundo o art. 227 da Constituição Federal, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
O texto constitucional trouxe os princípios da proteção integral dos direitos da criança e do adolescente,
com absoluta prioridade. Nele o tema violência sexual tem especial relevância, basta ver o § 4º desse mesmo
artigo, o qual estabelece que a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da
criança e do adolescente.
Não obstante essa obrigação, os números referentes à violência sugerem a existência de falha nesse dever
de cuidado.
Segundo o ABSP/2020, 70,5% do total de casos de estupros ocorreram contra vulneráveis (46.616 casos),
ou seja, contra menores de 14 anos ou alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência (art. 217-A, CP).
. Estima-se que isso represente apenas 10% dessas ocorrências28, haja vista que, como regra, a violência
sexual contra crianças e adolescentes é subnotificada, tratada como segredo.
A baixa idade da maioria das vítimas e o fato do abuso sexual ser, em geral, praticado por membros da
família ou de confiança das crianças constitui um enorme desafio no enfrentamento a este tipo de crime,
visto que os depoimentos de crianças com certa frequência são questionados por falta de credibilidade,
além do silêncio e, por vezes, cumplicidade que envolvem outros parentes próximos.
No contexto infanto-juvenil, a violência sexual pressupõe o abuso do poder em que crianças e adolescentes
são usados para gratificação sexual de adultos, sendo induzidos ou forçados a práticas sexuais. Essa violação
de direitos de crianças e adolescentes interfere diretamente no desenvolvimento da sexualidade saudável
e nas dimensões psicossociais da criança e do adolescente, causando danos muitas vezes irreversíveis29.
A violência sexual cometida contra crianças e adolescentes costuma desmembrar-se em duas categorias:
abuso sexual e exploração sexual.
Segundo a Fundação Childhood Brasil30, constitui abuso sexual toda forma de relação ou jogo sexual entre
um adulto e uma criança ou adolescente, com o objetivo de satisfação desse adulto e/ou de outros

28
TIC Kids Online, 2018.
29
Disponível: https://www.childhood.org.br/nossa-causa. Acesso em: 22 de janeiro de 2020.
30
A Childhood Brasil é uma organização brasileira e faz parte da World Childhood Foundation, instituição internacional criada em 1999 por
Sua Majestade Rainha Silvia da Suécia para proteger a infância e garantir que as crianças sejam crianças. No Brasil, a organização influencia
políticas públicas e privadas e estimula a sociedade civil a olhar para a questão da violência sexual contra crianças e adolescentes.

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adultos. Pode acontecer por meio de ameaça física e/ou verbal, ou por sedução. Na maioria dos casos, é
cometido por pessoa conhecida da criança ou adolescente, em geral, um familiar.
O abuso sexual compreende práticas como carícias nos órgãos genitais, tentativas de relações sexuais,
masturbação e à prática de relações sexuais. Não se requer, contudo, a ocorrência de contato físico, pois
também são formas de abuso as carícias, falas erotizadas, exibicionismo, voyeurismo (prazer em olhar),
exibição de material pornográfico, entre outros.
Também segundo Fundação Childhood Brasil, a exploração sexual é caracterizada pela relação sexual de
uma criança ou adolescente com adultos, mediada pelo pagamento em dinheiro ou qualquer outro
benefício (favores ou presentes). Nesse contexto, crianças e adolescentes são tratados como objetos
sexuais ou como mercadorias.
A exploração sexual de crianças e adolescentes acontece em diferentes contextos:
• Na atividade sexual agenciada, quando há a intermediação por uma ou mais pessoas ou serviços.
No primeiro caso as pessoas são chamadas rufiões, cafetões e cafetinas e, no segundo, os serviços
são normalmente conhecidos como bordéis, serviços de acompanhamento, clubes noturnos.
• Na atividade sexual não-agenciada, na qual a prática de atos sexuais realizada por crianças e
adolescentes mediante pagamento ou troca de um bem, droga ou serviço.
• No tráfico para fins de exploração sexual: é a prática que envolve cooptação e/ou aliciamento,
rapto, intercâmbio, transferência e hospedagem da pessoa recrutada para essa finalidade. O mais
recorrente é que o tráfico para fins de exploração sexual ocorra de forma disfarçada por agências de
modelos, turismo, trabalho internacional, namoro-matrimônio, e, mais raramente, por agências de
adoção internacional.
• Na pornografia, quando há produção, utilização, exibição, comercialização de material (fotos,
vídeos, desenhos) com cenas de sexo explícito envolvendo crianças e adolescentes ou imagem, com
conotação sexual, das partes genitais de uma criança.
• No turismo com motivação sexual.
• No contexto das rodovias. Segundo apurado pela PRF, entre 2019 e 2020, apuraram-se 3.651
pontos vulneráveis nas rodovias federais brasileiras. São pontos vulneráveis os locais que
apresentem algum risco aos jovens que vivem ou passam pela região, tais como postos de
combustíveis, bares, casas de show, pontos de alimentação e pontos de hospedagem.
De acordo com a Lei 13.431/2018, inclui-se nas formas de violência sexual contra crianças o tráfico de
pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da
criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração
sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de
autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre
os casos previstos na legislação.

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3. Papel da Segurança Pública


Inicialmente, vale reforçar um conceito que pode ser utilizado em múltiplas situações: é fundamental que a
polícia seja vista como um elemento garantidor de direitos e garantias fundamentais, de forma que possa
se aproximar da população, o que possibilita maior abertura para que sejam relatados eventuais crimes. O
propósito é estabelecer um estilo de policiamento fundado na integração e cooperação entre as partes.
Nessa esteira, há como iniciativa as polícias comunitárias, projeto já implantado em diversos locais.
Outro importante ponto é o acolhimento, como forma de minimizar os efeitos deletérios desse tipo de
violência. A abordagem do policial deve ser cuidadosa (criança ou adolescente), como forma de evitar
causar-lhe qualquer constrangimento e, principalmente, sua exposição aos meios de comunicação. Para
isso, os agentes devem buscar capacitação no enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes,
de forma que saibam identificar as situações em que esse fato se configurar e agir adequadamente.
Outra frente é a ampliação das delegacias especializadas na investigação de suspeitas ou ocorrências de
violências contra crianças e adolescentes, as denominadas "Delegacias de Proteção à Criança e ao
Adolescente". Nelas, o ambiente deve ser planejado de forma a respeitar a sua condição peculiar de pessoa
em desenvolvimento, preservar a privacidade das crianças e deixá-las mais à vontade para conversar e
relatar os fatos31.
Destaque-se que, nem sempre, as vítimas apresentam marcas físicas da violência ou perturbação
emocional, ou têm um relato absolutamente coerente. Isso, por si só, não deve servir como justificativa para
se concluir pela inexistência da violência. Por outro lado, dar tratamento legal a uma denúncia de estupro
não significa condenar sumariamente o suspeito, mas sim acolher a vítima, escutá-la, dar credibilidade a
seu relato e buscar, através da devida investigação, a devida elucidação do caso.
Outro pronto crucial é a realização de operações policiais com o fito de desarticular organizações
criminosas envolvidas em exploração sexual e tráfico de pessoas. Nessas operações, é imprescindível a
articulação entre as diversas polícias (Federal, Rodoviária e Civis) e a cooperação internacional, visto que se
trata de crimes de alargada abrangência territorial, principalmente os que utilizam a internet como meio de
propagação. Um dos exemplos em que isso acontece é a operação Luz na Infância, a qual conta com a
participação de diversas corporações, órgãos e até países.

Tema 28

“Milhares de mulheres entraram na justiça do DF com medidas protetivas, desde que a Lei Maria da Penha
entrou em vigor, em setembro de 2006. A maioria se refere a proibições judiciais de contato pelos companheiros

31
Em vigor desde 4 de abril de 2018, a Lei 13431 estipula que todas as delegacias de polícia precisam ter um serviço especializado ao fazer
oitivas de crianças e adolescentes.

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e ex-companheiros. Esses pedidos vieram de mulheres que moram em Brasília (região que inclui, além do Plano
Piloto, o Lago Sul e o Lago Norte, o Varjão e a Estrutural) e localidades circunvizinhas. A grande maioria das
ações acolhidas pelo Tribunal de Justiça do DF com base na Lei Maria da Penha têm-se relacionado à ingestão
de álcool e são feitas contra ex-companheiros das mulheres agredidas. Em 2018, o número de inquéritos abertos
na Delegacia da Mulher do DF cresceu 86% em relação às 1.677 denúncias feitas no ano anterior. Isso não
significa que a prática do crime tenha aumentado, mas sim que as mulheres estão denunciando as agressões
com maior frequência”.
Correio Braziliense (com adaptações).

“Uma ligação anônima ajudou a esclarecer as circunstâncias da morte da auxiliar de serviços gerais Pedrolina
Silva, 50 anos. Segundo a pessoa que acionou a PCDF, João Marcos Vassalo da Silva Pereira, 20, teria dito a
diversas pessoas no Paranoá Parque, condomínio em que os dois moravam, que se a mulher “não for minha,
não será de mais ninguém”.
https://www.metropoles.com/violencia-contra-a-mulher/se-nao-for-
minha-nao-sera-de-mais-ninguem-teria-dito-assassino-de-pedrolina

“A Lei Maria da Penha apresenta cinco tipos de atitudes violentas contra as mulheres: física, psicológica, sexual,
patrimonial e moral. A violência física é representada por ações como tapas, empurrões, socos, mordidas,
chutes, queimaduras, cortes, estrangulamento, lesões por armas ou objetos etc. A violência psicológica inclui
ações como insultos constantes, humilhação, desvalorização, chantagem, isolamento de amigos e familiares,
ridicularização, rechaço, manipulação afetiva, exploração e negligência.
A violência sexual é a ação cometida para obrigar a mulher, por meio da força física, coerção ou intimidação
psicológica, a ter relações sexuais ou presenciar práticas sexuais contra a sua vontade. Já a violência patrimonial
ocorre quando o agressor retém, subtrai, ou destrói os bens pessoais da vítima, seus instrumentos de trabalho,
documentos e valores. Por fim, a violência moral ocorre quando a mulher sofre com qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria praticada por seu agressor”.
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/o-
tipo-de-violencia-sofrida

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
A PERSISTÊNCIA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 aponte uma causa da violência contra a mulher;
2 barreiras para a superação do problema;
3 o dever do Estado de garantir a segurança dos cidadãos, em especial a das mulheres.

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Abordagem teórica

Importante notar que já há, inquestionavelmente, um problema e, mais do que isso, que esse perdura. Com
isso, a proposta de intervenção social torna-se essencial, independente de constar expressamente do
enunciado. Se algo negativo subsiste, concorda que está implícita a exigência de reflexão em torno de uma
alternativa para sua resolução desse problema? Daí a importância de que seja apresentada uma ou mais
propostas de intervenção.

1. Introdução

A Convenção de Belém do Pará, define violência contra a mulher como “qualquer ato ou conduta baseada
no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera
pública como na esfera privada” (Capítulo I, Artigo 1º). Ampliando o escopo, a Lei Maria da Penha
(11.340/2006) apresenta mais duas formas de violência - moral e patrimonial -, que, somadas às violências
física, sexual e psicológica, totalizam as cinco formas de violência doméstica e familiar reconhecidas
legalmente no Brasil.
A violência contra a mulher não é um fato novo. É fenômeno global e ocorre em qualquer camada social e
independe de condição socioeconômica e/ou grau de instrução dos envolvidos.
Apesar de não ser novo, o debate mais aprofundado sobre a violência contra a mulher, no país, é algo
recente. Nos últimos 15 anos, houve a consolidação do arcabouço legal destinado ao enfrentamento dos
diferentes tipos de violência contra a mulher, a exemplo da Lei Maria da Penha, das alterações no Código
Penal referentes ao crime de estupro (2009) e ao crime de feminicídio32 (2015), e, por fim, da recente lei de
importunação sexual (2018).
Apesar dos significativos avanços registrados nos campos político, legal e social, as mudanças para que as
mulheres possam viver sem violência ainda ocorrem de forma lenta. Os dados são preocupantes: conforme
apurou a pesquisa Violência doméstica e familiar contra a mulher – 201733, realizada pelo Instituto
DataSenado, do Senado Federal, quase uma em cada três mulheres já foi vítima de algum tipo de violência
doméstica.

32
A Lei 13.104/2015 altera o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o
inclui no rol dos crimes hediondos. O feminicídio, então, passa a ser entendido como homicídio qualificado contra as mulheres
“por razões da condição de sexo feminino”.
33
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/muitas-mulheres-ainda-sofrem-violencia-
no-brasil

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Segundo o Atlas da Violência de 201934, houve também um crescimento dos homicídios femininos no Brasil
em 2017, com cerca de 13 assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas, o maior número
registrado desde 2007. Esse dado compõe o crescimento expressivo de 30,7% no número de homicídios de
mulheres no país durante a década 2007-2017.
Com relação aos agressores, há reconhecimento na literatura internacional de que a significativa maioria
das mortes violentas intencionais que ocorrem dentro das residências são perpetradas por conhecidos ou
íntimos das vítimas. A principal causa apontada é o inconformismo do homem com o término do
relacionamento.
A violência contra a mulher é consequência, principalmente, do machismo na sociedade, responsável pela
cultura de objetificação da mulher, posicionando-a em situação de inferioridade em relação ao homem. A
ainda presente desigualdade de poder entre os sexos, constituída por questões econômicas, culturais,
educacionais coloca a mulher em situação de vulnerabilidade, o que oportuniza todo tipo de violência contra
ela.
Geralmente, a causa alegada pelo agressor para o ato de violência doméstica é um motivo fútil. O
alcoolismo, uso de drogas, ciúmes, comportamento da mulher e questões financeiras são os que costumam
ser apresentados como justificativas, mas é o machismo, enraizado na sociedade, e revelado no sentimento
cotidiano de posse e subjugação que determina a maioria absoluta de casos de violência doméstica.
Um conceito relevante nessa discussão é o de masculinidade tóxica. Reflete o aspecto repressivo da
masculinidade, a qual associa ao homem à força e agressividade, enquanto as emoções são uma fraqueza.
Nessa esteira, sexo e brutalidade são padrões pelos quais os homens são avaliados, enquanto traços
supostamente "femininos". Alguns do efeitos da masculinidade tóxica estão a supressão de sentimentos,
encorajamento da violência, falta de incentivo em procurar ajuda, perpetuação da cultura do
estupro, homofobia, misoginia35, racismo e machismo.
Outro motivo é a impunidade, fruto da ineficiência do sistema de segurança pública e jurídico do país. Não
raro o agressor permanece em liberdade e dando continuidade às suas ameaças, o que incentiva o
cometimento de abusos, a sensação de insegurança da ofendida e o descrédito quanto ao amparo do poder
público.
Dentre as mulheres que declararam ter sofrido violência doméstica, a maioria apontou como agressor o
atual marido, companheiro ou namorado ou ex-marido, ex-companheiro ou ex-namorado. Disso extrai-se
que uma característica marcante da violência doméstica e familiar contra mulheres é o fato de ela ser
perpetrada principalmente por pessoas que mantêm ou mantiveram com a vítima uma relação de

34
Atlas da violência 2019. Organizadores: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Brasília: Rio de Janeiro: São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_ 2019.pdf.
35
Sentimento de aversão, repulsa ou desprezo pelas mulheres e valores femininos.

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intimidade; fato que contribui bastante para a subnotificação e, consequentemente, para a repressão desse
tipo de crime.
São diversas as razões pelas quais as mulheres não denunciam seus agressores. A principal delas é o medo
de: ocorrer a represália por parte do agressor ou o agravamento da situação, que suas alegações não sejam
tidas como verdadeiras, colocar em risco a estrutura familiar, ser julgada pela sociedade, abandonada, ter
seu marido preso, não ter apoio familiar, dentre outros medos.
Há também razões culturais, próprias de uma sociedade machista, que leva a mulher vitimizada a se sentir
culpada ou inadequada por supostamente estar infringindo regras e padrões sociais estereotipados.
Também ligada à questão cultural, há o vínculo de submissão, fazendo com que as vítimas encarem com
certa normalidade o comportamento agressivo dos seus companheiros.
Nesse contexto, alguns dados são capazes de dar a profundidade desse problema. Por mais surreal que
pareça, um em cada três brasileiros acredita que, nos casos de estupro, a culpa é da mulher (!!!), de
acordo com pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e
divulgada em 201636. Segundo o levantamento, 33,3% da população brasileira acredita que a vítima é
culpada. O mais incrível é que esse dado inclui as mulheres, principais vítimas desse crime. Entre elas, 32%
acredita que, nos casos de estupro, a culpa é da mulher. Entre os homens, esse número é de 42%. E mais,
segundo a mesma pesquisa, para 30% dos homens, a mulher que usa roupas provocativas não pode
reclamar se for estuprada.
Há também razões ligadas à dependência financeira, pois, caso o agressor seja preso, pode-se perder a
principal fonte de renda da família. Nesse sentido, a denúncia pode significar não ter recursos para sua
sobrevivência e da sua família.
A violência contra a mulher é assunto complexo e, como tal, exige atuação em diversas frentes. Sob o ponto
de vista educacional, é preciso inibir o reforço a estereótipos que impõem a linguagem da violência contra
a mulher como algo normal na nossa sociedade, investindo em projetos socioeducativos direcionados à
valorização e à proteção da figura da mulher.
Além disso, é necessário que haja o encorajamento para que haja a denúncia em caso de agressão. Nessa
seara, é imprescindível que o Estado entenda e exerça o seu papel como protagonista desse processo. Isso
envolve a necessidade de serem providas tanto a infraestrutura física quanto o suporte emocional e familiar
para que as vítimas se sintam suficientemente seguras para denunciar. Enquanto medidas efetivas não
forem suficientemente adotadas pelo Estado, as iniciativas que incentivem as vítimas a denunciarem
restarão frustradas.

36
Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/09/um-em-cada-3-brasileiros-culpa-vitima-em-casos-de-
estupro-diz-datafolha.html. Acesso em 06 de janeiro de 2020.

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A proteção a ser implementada pelo Estado deve ser ainda mais intensa uma vez havida a denúncia. Nesse
âmbito, destacam-se as medidas protetivas de urgência constantes da Lei Maria da Penha37, propostas
com o fito de neutralizar o poder de ação do autor da violência, além de medidas severas caso o ofensor as
descumpra.
Para isso, é fundamental o fortalecimento da repressão aos atos de violência, intensificando a fiscalização
do cumprimento das medidas impostas, bem como dotar de maior agilidade os procedimentos
administrativos e judiciais, contendo de forma oportuna a violência e as ameaças e evitando que elas
redundem em morte.
Agora, apresentemos alguns dados acerca do cometimento desse crime. Segundo pesquisa quantitativa
elaborada pelo FBSP e pelo Instituto Datafolha38:

37
São medidas protetivas de urgência, previstas nos arts. 22 a 24 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha - LMP):
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de
imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço
similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo
expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a ofendida.
38
http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/02/relatorio-pesquisa-2019-v6.pdf. Acesso em: 06 de janeiro
de 2020

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• De acordo com o ABSP/2020, houve, em 2019, 266.310 registros de lesão corporal dolosa em
decorrência de violência doméstica 39, o que significou um aumento de 5,2% em relação ao ano
anterior.
• 27,4% das mulheres reportaram ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos doze meses
(aproximadamente 1 em 4);
• O autor da violência contra a mulher é normalmente alguém próximo da vítima: 76,4% das mulheres
indicaram que o agressor era um conhecido, aumento de 25% em relação à pesquisa realizada em
2017. Dentre os vínculos mais citados destaca-se namorado/cônjuge /companheiro como o principal
perpetrador, com 23,8% (aumento de 23%), ex-namorados e ex-companheiros com 15,2% e vizinhos
com 21,1%;
• A maioria das mulheres continua sendo vítima de violência dentro de casa (42%), e apenas 10% relatam
ter buscado uma delegacia da mulher após o episódio mais grave de violência sofrida no último ano.
Acrescentando algumas informações, acompanhe o infográfico, apresentado pela pesquisa “Visível e
invisível: a vitimização de mulheres no Brasil 2° edição40”.

39
A lesão corporal dolosa praticada em contexto doméstico refere-se a todo ato de violência física praticado contra a mulher no
ambiente familiar.
40
Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/visivel-e-invisivel-a-vitimizacao-de-mulheres-no-brasil-2-
edicao/. Acesso em: 26 de janeiro de 2021.

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Tema 29

Inédita
“Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar
visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua
forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem
repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes
misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos
e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie.”
Eleonora Menicucci, ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência (Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República).
Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/ blog/atualidades-vestibular/entenda-a-lei-
do-feminicidio-e-por-que-e-importante/. Acesso em: 13/01/2019.

A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:
FEMINICÍDIO: PROBLEMA SOCIAL A SER ENFRENTADO NO BRASIL
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) o feminicídio como problema social;
b) o feminicídio como expressão da desigualdade de gênero;
c) ações do Estado para o seu enfrentamento.

Abordagem teórica

1. Introdução

A violência contra a mulher não é um fato novo e as mortes violentas de mulheres por razões de gênero são
fenômeno global. Sabe-se que muitas dessas mortes ocorrem com a tolerância das sociedades e governos,
encobertas por costumes e tradições, revestidas de naturalidade, justificadas como práticas pedagógicas,
seja no exercício de direito tradicional – que atribui aos homens a punição das mulheres da família – seja na
forma de tratar as mulheres como objetos sexuais e descartáveis 41.
Não há riqueza de dados sobre o assunto, mas é possível afirmar que muitas mulheres morrem em razão
de seu gênero, ou seja, em decorrência da desigualdade de poder que a coloca em situação de maior
vulnerabilidade e risco social nas diferentes relações de que participam.
A atuação de movimentos de mulheres e feministas contribuiu para que o tema da violência contra as
mulheres entrasse na pauta do direito internacional dos direitos humanos, contribuindo para que se

41
Diretrizes nacionais feminicídio: Investigar, processar e julgar. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-
content/uploads/2016/04/diretrizes_feminicidio_FINAL.pdf

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desencadeasse uma agenda para dar visibilidade às diferentes formas de expressão da violência baseada no
gênero.
Localmente, como expressão desses movimentos, destaca-se a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a violência contra a Mulher, também conhecida como Convenção de Belém do Pará de
1994, importante elemento de pressão sobre as autoridades públicas no sentido de promover mudanças
legislativas como parte de medidas capazes de enfrentar o problema da violência doméstica e familiar,
situações em que as mulheres são as principais vítimas.
Como forma de responder a esses anseios, entre outras medidas, o Poder Público manifestou-se e, por meio
da edição da Lei nº 13.104/2015, promoveu a alteração do Código Penal, passando a prever o feminicídio
como circunstância qualificadora do crime de homicídio 42, incluindo-o, também, no rol dos crimes
hediondos.
Feita essa abordagem inicial, passemos aos aspectos penais referentes ao feminicídio.

2. Aspectos Penais

Iniciando a revisão, confiramos a atual redação do CP:

Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
[...]
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
[...]
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
[...]
§ 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
[...]
Aumento de pena
§ 7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

42
Antes da lei 13.104/15, esta forma do crime já qualificava o homicídio, mas pela torpeza, sendo igualmente rotulada como
hedionda. A mudança, portanto, foi meramente topográfica, migrando o comportamento delituoso do art. 121, § 2°, l, para o
mesmo parágrafo, mas no inciso VI. A virtude dessa alteração está na simbologia, isto é, no alerta que se faz da necessidade de
se coibir com mais rigor a violência contra a mulher em razão da condição do sexo feminino.

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II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de
doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art.
22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

Como primeiro ponto, deve-se observar, entretanto, que não é pelo fato de uma mulher figurar como sujeito
passivo do delito tipificado no art. 121 do Código Penal que já estará caracterizado o delito qualificado, ou
seja, o feminicídio. A incidência da qualificadora reclama situação de violência praticada contra a mulher
“por razões da condição de sexo feminino”.
Matar mulher, na unidade doméstica e familiar (ou em qualquer ambiente ou relação), sem menosprezo ou
discriminação à condição de mulher é denominado femicídio. Se a conduta do agente é movida pelo
menosprezo ou discriminação à condição de mulher, aí sim temos femiNIcídio.
Portanto, para caracterizar a qualificadora do feminicídio, deve-se atentar para especial motivação que
move a conduta contra o sujeito passivo: a condição de mulher.
Para facilitar o entendimento, vejamos um exemplo retirado de “Dizer o Direito”: duas irmãs, que vivem na
mesma casa, disputam a herança do pai falecido; determinado dia, uma delas invade o quarto da outra e a
mata para ficar com a totalidade dos bens para si; esse crime foi praticado com violência doméstica, já que
envolveu duas pessoas que tinham relação íntima de afeto, mas não será feminicídio porque não foi um
homicídio baseado no gênero (não houve violência de gênero, menosprezo à condição de mulher), tendo a
motivação do delito sido meramente patrimonial.
Outro exemplo: dois funcionários, Pedro e Marta, concorrem a uma promoção. A chefia decide promover
Marta. Pedro indignado decide matá-la. Ao ser interrogado, ele argumenta que estaria disposto a matar
qualquer um que fosse promovido em seu lugar. Nesse caso, novamente, teríamos um femicídio. Situação
seria bem diferente se ele tivesse dito que “nunca aceitaria ser preterido por uma mulher, ser, que, por sua
natureza, é inferior ao homem”. Aí, nesse caso, tudo indicaria ser hipótese de femiNIcídio.

3. Feminicídio no Brasil - panorama

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, em 2019, foram 3.730 homicídios (contra
4.340 em 2018), mas foram e 1.326 feminicídios, o que significou um crescimento de 7,1% em relação ao
ano anterior (1.229 em 2018). Importante conhecer também os seguintes dados, extraídos do Anuário:
• Desde que a Lei nº 13.104/2015 entrou em vigor, os casos de feminicídio subiram 43%.
• O perfil de raça/cor das vítimas revela a maior vulnerabilidade das mulheres negras: elas são 66,6%
das vítimas, contra 33,1% de brancas e 0,3% amarelas.
• O feminicídio é observado em todas as faixas etárias, mas é significativamente maior entre mulheres
em idade reprodutiva: 28,2% das vítimas tinham entre 20 e 29 anos, 29,8% tinham entre 30 e 39
anos e 18,5% tinham entre 40 e 49 anos quando foram mortas.

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• Nos casos onde a informação está disponível, pode-se observar que 58,9% dos feminicídios têm como
local de ocorrência uma residência e que, em 89,9% dos casos o autor do crime é um companheiro ou
ex-companheiro da vítima.
4. Feminicídio como problema social

Um problema social é uma condição social que afeta determinados segmentos da sociedade e que, se não
corrigidos, podem repercutir de forma negativa perante a sociedade. Pelos impactos que produz, pode-se
falar que o feminicídio é um problema social, principalmente, pelas vítimas indiretas desse crime.
Em média, como foi visto, mais de 1.000 mulheres são vítimas de feminicídio anualmente. Além desse
impacto direto, há um efeito multiplicador devastador sobre as famílias.
Considerando que, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 88,8% das vítimas foram
assassinadas pelos próprios companheiros ou ex-companheiros e que 58% têm entre 20 e 39, há grandes
chances de que essas mulheres sejam mães com filhos menores e que o autor seja o próprio pai. Assim, além
de o crime gerar órfãos de mãe, há grande chance de que os pais dessas crianças estejam eventualmente
desaparecidos ou presos.
Isso tem consequências materiais evidentes, pela perda do suporte financeiro, mas, sobretudo,
psicológicas, pelos traumas provocados e pela falta de suporte emocional, situação que se agrava,
principalmente, quando os filhos testemunham as cenas de violência e morte.
Além disso, propaga um modelo de família calcada na violência, naturalizando esse tipo de comportamento
e estimulando a perpetuação desses papéis nos núcleos familiares que os filhos vierem a constituir
futuramente.
Segundo matéria disponível no Portal G143:

O psicólogo Guilherme Fagundes afirma que o tratamento para crianças que presenciaram a violência de
forma extrema precisa ser minucioso e paciente. A possibilidade desse trauma trazer consequências até a
vida adulta é muito grande:
"Uma criança ou adolescente que vem dessa realidade precisa criar um propósito para conseguir lidar com
as adversidades no futuro. Jovens que conheceram um ambiente hostil têm grandes chances de crescer
com crenças limitantes e isso impacta em dois pontos: primeiro, eles tendem a não acreditar que sua
história pode ser melhor que a da própria família, e segundo, jovens costumam repetir o comportamento
violento dos pais em momentos de pressão ao longo da vida."
Guilherme explica que a culpa é outro fator que pesa no psicológico de crianças que vivem situações de
violência doméstica.
"Como dependem dos pais na primeira infância, as crianças os veem como heróis. Quando o pai é violento,
essa imagem é arranhada e por não entender a razão dele agir assim, a criança traz a culpa para si, sente

43
Disponível em: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2019/06/17/filhos-do-feminicidio-em-ms-a-dor-de-
criancas-e-adultos-com-familias-destruidas-pela-violencia-domestica.ghtml. Acesso em: 04.07.2020.

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que sua presença atrapalha. Imagine a proporção desse sentimento quando a briga termina com a morte
da mãe."
Segundo o psicólogo, a postura de Glauco com as filhas está correta. Tanto para meninas quanto meninos,
a necessidade de encontrar segurança após uma ruptura dessa magnitude é constante para que possam,
dentro do possível, minimizar o trauma na vida adulta.
"Essa criança vai precisar encontrar novos padrões, como um modelo de homem que não seja violento e um
contexto positivo de família, para que no futuro ela sinta confiança na construção de sua própria família",
conclui.

5. Feminicídio como expressão da desigualdade de gênero

Apesar dos significativos avanços registrados nos campos político, legal e social, as mudanças para que as
mulheres possam viver sem violência ainda ocorrem de forma lenta. Reconhecidamente, trata-se de
problema complexo, com causas relacionadas a aspectos intrínsecos da sociedade, ainda marcada pelo
machismo e patriarcalismo.
O feminicídio é uma expressão da desigualdade de gênero, fruto de construções históricas, culturais,
econômicas, políticas e sociais discriminatórias ainda presentes na sociedade.
Desde os primórdios da humanidade, em regra, as sociedades se desenvolveram sob o patriarcalismo,
estrutura social marcada pelo protagonismo do homem e a submissão da mulher. Caracteriza-se por uma
divisão de papéis: enquanto os de maior importância reservam-se aos homens, os trabalhos considerados
de menor importância, por exemplo os domésticos, reservam-se às mulheres. Integra-se a esse modelo
social a construção do homem como o responsável pelo sustento do lar e a mulher como elemento que
deveria servi-lo, cuidar dos filhos e do marido.
Associados ao patriarcalismo, há também a questão do machismo, visão do homem como superior à
mulher. Ao homem associa-se a força, a brutalidade. À mulher a sensibilidade, fragilidade e passividade.
São conceitos que compõem esse cenário a misoginia e o sexismo. A misoginia, ao "pé da letra", significa
ódio às mulheres ou às mulheres que não se comportam conforme um determinado modelo. Normalmente,
associa-se a um contexto de violência e pode ser percebido em casos em que há mutilações dos órgãos
genitais ou partes do corpo associadas ao feminino. O sexismo pode ser definido como o conjunto de
atitudes discriminatórias que visam a definir os papéis que cada gênero deve exercer, bem como quais usos
e costumes devem ser respeitados por cada sexo, desde a maneira como se veste até o comportamento
sexual adequado. São exemplos desse tipo de comportamento: dizer que as mulheres não sabem dirigir ou
não são boas em matemática e que homens não podem chorar ou brincar com bonecas.
A existência de uma cultura que contém elementos dessa natureza fragiliza a mulher, retira a sua
importância, suprime seus direitos e a torna mais vulnerável. Isso possibilita o surgimento e o
fortalecimento de um sentimento de posse do homem sobre a mulher, legitimando manifestações de
agressividade, as quais, não raro, culminam no feminicídio, desfecho fatal de um cotidiano de violências.
Insere-se nesse contexto a banalização da violência contra a mulher. Quem nunca ouviu a frase: “em briga
de marido e mulher não se mete a colher”? Outra situação emblemática ocorreu com o goleiro Bruno, que,

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ao opinar sobre briga entre o jogador Adriano e a então namorada, declarou, com estarrecedora
naturalidade: "Quem nunca saiu na mão com uma mulher?". Depreende-se, pois, uma normalização
perigosa, que permite que eventos trágicos continuem ocorrendo.
Os ciúmes e o inconformismo com o término do relacionamento são, normalmente, apontados como
causas para o feminicídio. Embora não se possa desprezar essa afirmação, amparam-se no sentimento de
posse, menosprezo e subjugação.

6. Enfrentamento da situação

O estudo Raio X do feminicídio 44 preconiza ser possível evitar a morte se a mulher romper o silêncio e se o
Estado intervier a tempo. Segundo esse estudo, no estado de São Paulo, entre as mulheres que foram
atacadas, apenas 3% tinham medidas protetivas e, das 124 mulheres que foram mortas, só cinco haviam
registrado boletim de ocorrência. Dessa forma, percebe-se que, quando a vítima e o Estado agem, é possível
evitar a morte.
Assim, é fundamental que haja o encorajamento para que aquelas que já tenham sido vítimas de
violência ou estejam na iminência de sê-lo denunciem o agressor, de modo que o Estado possa tomar
medidas destinadas a evitar que a violência e as ameaças, permanentes ou eventuais, redundem em morte.
A denúncia pode acontecer por meio das Defensorias Públicas (algumas possuem núcleos próprios para
isso), dos Ministérios Públicos estaduais, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, dos Disque-
Denúncias e das Polícias Civil e Militar.
A sociedade também pode atuar nesse sentido. No contexto da violência cometida contra a mulher, há
varias dificuldades para que a vítima denuncie, entre as quais podem ser citadas: a questão familiar, o medo
de que essa violência se repita ou intensifique, o julgamento da sociedade, o constrangimento gerado pela
situação, questões econômicas etc. Nesse sentido, ao presenciarem atos que envolvam a violência contra a
mulher, os cidadãos podem utilizar os diversos canais existentes para realizarem uma denúncia, rompendo
a lógica do "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher".
Por seu lado, o Estado pode auxiliar utilizando-se das medidas protetivas no âmbito da Lei Maria da Penha
(Lei 11.340/2006), que incluem, por exemplo, o afastamento do agressor do lar ou local de convivência com
a vítima, a fixação de limite mínimo de distância, que o agressor fica proibido de ultrapassar em relação à
vítima etc.
Outra ação é a manutenção, a ampliação e o aprimoramento das redes de apoio à mulher, previstos na
Lei Maria da Penha, notadamente, provendo abrigo em situação de violência, propiciando segurança,
alimentação e repouso para as mulheres e seus filhos, bem como assistência jurídica e psicológica. Por
vezes, a mulher não tem para onde ir e, nessa hora, ter um acolhimento é muito importante. Em outros
casos, as mulheres não estão preparadas naquele momento para registrar um boletim de ocorrência. Então
a existência da rede como um todo é fundamental para que ela seja acolhida e orientada, para que se

44
Raio X do feminicídio em São Paulo. É possível evitar a morte. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/ wp-
content/uploads/2018/03/RaioXFeminicidio-formato-livreto.pdf

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fortaleça e, principalmente, não fique só. Assim, é fundamental que a mulher conte com esse suporte do
Estado, especialmente no momento do rompimento do relacionamento, principal motivo de morte de
mulheres no contexto do feminicídio.
São estruturas existentes para dar esse suporte: a Casa da Mulher Brasileira, Casa Abrigo, Centro
Especializado de Atendimento A Mulher – CEAM e os Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de
Violência Doméstica (Nafavds).
Também é importante a realização de campanhas informativas e educativas com o objetivo de disseminar
o respeito às mulheres, a solução pacífica de conflitos e a isonomia entre os gêneros. Um exemplo é a
campanha do CNJ chamada "Sinal Vermelho". Segundo o CNJ45:
O protocolo é, de fato, simples: com um “X” vermelho na palma da mão, que pode ser feito com caneta
ou mesmo um batom, a vítima sinaliza que está em situação de violência. Com o nome e endereço da
mulher em mãos, os atendentes das farmácias e drogarias que aderirem à campanha deverão ligar,
imediatamente, para o 190 e reportar a situação.
Tudo que foi visto até o momento tem caráter preventivo, visando a evitar que a violência culmine em
morte.
Sob o ponto de vista repressivo, é necessário que as investigações desses casos sejam rigorosas e o
Ministério Público e Judiciário façam a sua parte de forma a combater a impunidade. Quando o Estado não
responsabiliza os autores de atos de violência e a sociedade tolera, expressa ou tacitamente, tal violência, a
impunidade não só estimula novos abusos, como também transmite a mensagem de que a violência
masculina contra a mulher é aceitável, ou normal, algo que vai de encontro ao que se pretende, qual seja,
uma mudança cultural.

Tema 30

Visão do Correio: Infância, um grito de socorro


Denúncias de maus-tratos infringidos a crianças e adolescentes se tornam cada vez mais frequentes no
Brasil. Algumas ganham notoriedade, como o caso de Isabella Nardoni, de 5 anos, Mirella Poliana de
Oliveira, de 11 anos, e Rhuan Maycon, de 9 anos. A primeira, morta pelo pai e a madrasta, foi jogada do 6º
andar do prédio onde passava o fim de semana. A segunda, nas manchetes desta semana, foi assassinada
pela madrasta, que, ao longo de dois meses, a envenenou à prestação. O terceiro foi esquartejado pela mãe
e companheira, depois de ter o pênis decepado.

45
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/sinal-vermelho-cnj-lanca-campanha-de-ajuda-a-vitimas-de-violencia-domestica-na-
pandemia/. Acesso em: 17.07.2020.

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As tragédias que ganham visibilidade não constituem ponto fora da curva. Ao contrário. Chamam a atenção
para a crescente violência cometida contra parcela da população indefesa, incapaz de exercer a plenitude
dos direitos. Os algozes, na maior parte das vezes, não são inimigos contra os quais se aciona a Justiça na
busca de salvaguarda. São membros da família ou instituições do Estado, negligentes no cumprimento da
Constituição e na efetividade da rede de proteção legal — seja na prevenção às violações, seja na redução
de danos.
Os números divulgados causam indignação. Em 2017, segundo o levantamento mais recente do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), houve 307.367 casos de violência no
Brasil — 126.230 dos quais se referem a menores de idade. É assustador: nada menos de 41%. Em 2018, o
Disque 100 (canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) registrou
152.178 ocorrências de agressão contra o público infantojuvenil.
[...]
Com adaptações. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2019/09/12/internas_opiniao,781980/visao-
do-correio-infancia-um-grito-de-socorro.shtml. Acesso em 27 de maio de 2020.

Enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres


A violência contra mulheres constitui-se em uma das principais formas de violação dos seus direitos
humanos, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde e à integridade física. Ela é estruturante da
desigualdade de gênero.
A violência contra as mulheres se manifesta de diversas formas. De fato, o próprio conceito definido na
Convenção de Belém do Pará (1994) aponta para esta amplitude, definindo violência contra as mulheres
como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual
ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado” (Art. 1°). Além das violações aos direitos
das mulheres e a sua integridade física e psicológica, a violência impacta também no desenvolvimento social
e econômico de um país.
A violência atinge mulheres e homens de formas distintas. Grande parte das violências cometidas contra
as mulheres é praticada no âmbito privado, enquanto que as que atingem homens ocorrem, em sua maioria,
nas ruas. Um dos principais tipos de violência empregados contra a mulher ocorre dentro do lar, sendo esta
praticada por pessoas próximas à sua convivência, como maridos/esposas ou companheiros/as, sendo
também praticada de diversas maneiras, desde agressões físicas até psicológicas e verbais. Onde deveria
existir uma relação de afeto e respeito, existe uma relação de violência, que muitas vezes é invisibilizada por
estar atrelada a papéis que são culturalmente atribuídos para homens e mulheres. Tal situação torna difícil
a denúncia e o relato, pois torna a mulher agredida ainda mais vulnerável à violência. Pesquisa revela que,
segundo dados de 2006 a 2010 da Organização Mundial de Saúde, o Brasil está entre os dez países com
maior número de homicídios femininos. Esse dado é ainda mais alarmante quando se verifica que, em mais
de 90% dos casos, o homicídio contra as mulheres é cometido por homens com quem a vítima possuía uma
relação afetiva, com frequência na própria residência das mulheres.
Um dos instrumentos mais importantes para o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra as
mulheres é a Lei Maria da Penha - Lei nº 11.340/2006. Esta lei, além de definir e tipificar as formas de

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violência contra as mulheres (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral), também prevê a criação de
serviços especializados, como os que integram a Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher,
compostos por instituições de segurança pública, justiça, saúde, e da assistência social.
[...]
Com adaptações. Disponível em http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/areas-tematicas/violencia.
Acesso em 27 de maio de 2020.

Coronavírus: denúncias de violência doméstica aumentam e expõem impacto social da quarentena


À medida que a população tem acatado a quarentena, na tentativa de achatar a curva de afetados pela
Covid-19, um outro (velho) desafio aponta no contexto de isolamento social. Indicadores de violência de
alguns estados, sobretudo a doméstica, aumentaram logo após terem sido estabelecidas restrições de
deslocamento a espaços públicos e privados por causa da pandemia.
Somente no Paraná, por exemplo, houve um aumento de 15% nos registros de violência doméstica
atendidos pela Polícia Militar no primeiro fim de semana de isolamento. No Rio de Janeiro, a incidência foi
ainda mais expressiva: os números cresceram em 50%.
ONGs chinesas de proteção à mulher notaram, além disso, procura maior por ajuda durante a pandemia do
novo coronavírus. No Brasil, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) anunciou aumento de 9%
das denúncias atendidas pelo Ligue 180.
A violência doméstica é, no entanto, apenas parte da esteira do contexto atual que envolve, entre outras
coisas, o aumento de denúncias de violação de direitos humanos, por exemplo. Segundo o Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), foram registradas 1,3 mil queixas dessa natureza de
14 a 24 de março.
Por violência doméstica, compreende-se qualquer tipo de violência ocorrida dentro do âmbito familiar.
Mulheres, homens, idosos, crianças e funcionários podem ser vítimas.
"O isolamento social imposto recentemente é, na verdade, um fenômeno comum e que frequentemente
está ligado a situações de violência doméstica", explica a professora doutora Valéria Ghisi, coordenadora
do Projeto Vidora (Violência Doméstica e Relacionamentos Abusivos) do curso de Psicologia da
Universidade Positivo (UP). "O agressor tende a isolar socialmente a vítima, e a casa onde isso ocorre é tida
por muitos como um espaço onde os olhos dos outros não chegam. O coronavírus apenas potencializou a
questão".
Com adaptações. Disponível em https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/coronavirus-denuncias-de-
violencia-domestica-aumentam-e-expoem-impacto-social-da-quarentena/. Acesso em 27 de maio de 2020.

Considerando que os fragmentos de texto apresentados têm caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca da VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA VULNERÁVEIS. No seu texto, aborde,
necessariamente:
a) violência doméstica contra crianças e adolescentes;
b) violência doméstica contra mulheres;

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c) a pandemia da Covid-19 como circunstância agravadora para as vítimas da violência doméstica.

Abordagem teórica

1. Violência doméstica contra crianças


A violência doméstica é toda ação ou omissão que prejudique a integridade física, psicológica, a liberdade
ou o direito ao pleno desenvolvimento e que ocorra no contexto físico de uma residência. Não se exige,
necessariamente, relação familiar entre dois membros, podendo se manifestar, por exemplo, entre um
padrasto e uma enteada.
A violência doméstica contra crianças e adolescentes é um grave problema social, tanto por acometer um
grupo de elevada vulnerabilidade, quanto pelas consequências que gera. Esse problema é maximizado
quando se considera a frequência que ocorre: em 2018, o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) recebeu
76.216 denúncias envolvendo crianças e adolescentes46. Em 2019, foram 86.837 denúncias, 14% a mais do
que no ano de 201847. Considerando a elevada subnotificação, esses números são, certamente, muito
maiores.
A família é a referência central da criança e o primeiro agente socializador; é na família que ela encontra
amparo quando se sente ameaçado. O fato de a violência ser praticada pelos próprios familiares aumenta
ainda mais a gravidade desse tipo de violência, pois, onde deveria encontrar segurança, a criança encontra
dor e sofrimento. A violência contra crianças e adolescentes tem uma dupla implicação: representa, além
da transgressão do poder de proteção do adulto, a coisificação da infância, pela negação da sua existência
enquanto sujeitos de direitos em condição peculiar de desenvolvimento.
A criança faz jus a diversas proteções, sejam elas previstas na Constituição, no Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) e nos tratados internacionais assinados pelo Brasil. Reconhece-se a necessidade de se
preservar a infância e de se propiciar condições adequadas de desenvolvimento para que essa criança se
torne um adulto plenamente capaz de viver em sociedade.
A violência contra a criança pode ocorrer de diversas formas. A violência física é a face mais evidente. Não
é objetivo aqui se discutir a polêmica da Lei da Palmada. Nosso foco é tratar sobre a violência abusiva,
consistente, desproporcional, que deixa marcas físicas e psicológicas nas crianças e adolescentes.
Além dessa, é muito comum a negligência, a ação e omissão de responsáveis quanto aos cuidados básicos
com a criança: alimentação, escola, atenção, amparo emocional, cuidados médicos, entre outros. A falta de

46
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/maio/criancas-e-adolescentes-sao-vitimas-em-mais-de-76-mil-
denuncias-recebidas-pelo-disque-100#:~:text=O%20Disque%20100%20(Disque%20Direitos,ter%C3%A7a%2Dfeira%20(14). Acesso em: 13
de junho de 2020.
47
Disponível em: http://www.crianca.mppr.mp.br/2020/05/294/DISQUE-100-Ministerio-da-Mulher-divulga-Relatorio-
2019.html#:~:text=Segundo%20o%20relat%C3%B3rio%2C%20o%20Disque,melhoria%20da%20qualidade%20do%20servi%C3%A7o.
Acesso em: 13 de junho de 2020.

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um suporte adequado provoca prejuízos ao desenvolvimento da criança, sejam eles de ordem afetiva
(carência de afeto, de reconhecimento, de valorização etc.), sejam eles de ordem física.
Também comum é a violência psicológica/emocional. Como se supõe, consiste, por exemplo, em ameaça,
manipulação, humilhação, chantagem e outros instrumentos capazes de levar a criança ou o adolescente a
um quadro de sofrimento.
Não se pode deixar de mencionar a violência sexual, a qual ocorre por meio do abuso sexual ou da
exploração sexual (pornografia infantil, prostituição, turismo sexual, tráfico de pessoas). A violência sexual
é majoritariamente cometida no ambiente doméstico 48, o que contribui para sua invisibilidade. Suas
consequências envolvem a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e transtornos
psicológicos dos mais variados, os quais podem, inclusive, culminar em suicídio.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, dos 66.041 casos registrados de violência
sexual, 53,8% foram cometidas contra crianças de até 13 anos. Trata-se de dado estarrecedor e que nos dá
a gravidade do problema a ser enfrentado.
A violência contra a criança e o adolescente é um fenômeno ligado a causas histórico-culturais. Parte da
presunção de que crianças e adolescentes são objeto de dominação do adulto e de que, pela sua condição
de dependência, estão sujeitos a abusos realizados por seus mantenedores.
Essa violência baseia-se numa relação de poder e é justificada muitas vezes com o objetivo de “educar” ou
“corrigir”. Culturalmente, ainda existe a crença de que castigos físicos ou psicológicos fazem parte do
processo de educação.
Nesse contexto, é importante mencionar que o reconhecimento legal da dignidade e vulnerabilidade da
criança e da necessidade de tratamento especial são garantias recentes. Até pouco tempo, crianças eram
vistas como adultos, a infância não existia e o trabalho infantil não era visto como exploração. Além disso,
as crianças eram julgadas como adultos nos crimes que cometiam e o infanticídio não era crime.
Comparando esse panorama com o estágio atual, percebe-se que a legislação evoluiu bastante, mas a
cultura muda de forma muito mais lenta, o que, em parte, contribui para o referido cenário de violência.
Pode-se também mencionar como elemento da violência infantil a falta de preparo dos pais para a
paternidade/maternidade. A ausência de um planejamento familiar pode aumentar a probabilidade de
haver, em alguma medida, um sentimento de rejeição dos pais para com a criança, o que aumenta as
chances de violência.
A impunidade é outro fator a ser mencionado. A inocência característica da infância e o fato de essa
violência ser, predominantemente, realizada por quem mantém algum tipo de vínculo com a vítima podem
ser usados como forma de distorcer a realidade ou chantagear a criança para que não relate a ocorrência de
abusos. Não sendo a verdade revelada, não há como haver punição. Contribuem também para a

48
Segundo Ouvidoria Nacional do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), apresentados
nesta terça-feira na Câmara dos Deputados quase 90% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes
são registrados no ambiente familiar.

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impunidade o fato de as crianças que relatam essas violências serem frequentemente estigmatizadas ou
desacreditadas e o medo de represália.
Algumas bibliografias sobre o assunto mencionam haver um recorte social na questão. Segundo a
bibliografia de referência49, essa violência seria mais frequente nas classes economicamente mais
desfavorecidas:
" Trata-se de um fenômeno complexo que envolve causas sociais, culturais, ambientais, econômicos e
políticos, aliado a pouca visibilidade, à ilegalidade e à impunidade. Atinge todas as classes sociais e está
também ligada as relações desiguais entre homens e mulheres, adultos e crianças, brancos e negros, ricos
e pobres.
Entretanto, a violência apresenta-se com mais facilidade nas classes economicamente mais
desfavorecidas, devido as condições precárias de sobrevivência, causadas pela má distribuição da renda,
a aceleração do processo de urbanização, a migração, a pobreza e a ineficácia das políticas sociais.
Neste contexto estão inseridas as crianças e os adolescentes como vítimas de uma estrutura econômico-
social de desigualdades, além de serem consideradas como objeto de dominação dos adultos,
contaminados da ideia de fraqueza e inferioridade". (Grifos nossos)
Para finalizar e resumir essa discussão, destaco um excerto de um dos documentos da OMS sobre o
assunto50:
Um fator chave que torna as crianças, e especialmente as meninas, vulneráveis à violência (e que aumenta
a probabilidade de que meninos e homens pratiquem tais violências) é a tolerância social, tanto da
vitimização de meninas quanto da perpetração por parte de meninos e de homens. Esse tipo de abuso ou
exploração é frequentemente percebido como normal e fora do controle das comunidades, o que, ao lado
da vergonha, do medo e da crença de que ninguém pode ajudar, resulta em baixos níveis de denúncia às
autoridades. Além disso, as vítimas muitas vezes são consideradas culpadas pela violência que
sofreram. Essa tolerância da sociedade em relação à violência em geral e, particularmente, à violência
sexual e perpetrada por parceiros íntimos decorre do status inferior de mulheres e crianças em muitas
sociedades, e de normas culturais relacionadas a gênero e masculinidade. Dessa forma, mudanças em
normas sociais relacionadas ao direito dos homens sobre o corpo de meninas e de mulheres – e ao controle
de seu comportamento – são uma estratégia crucial para alcançar equidade de gênero, reduzir a violência
contra meninas, formatar atividades de prevenção e dar atendimento a necessidades específicas de
cuidados e apoio.

49
Ministério dos Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Proteção dos Direitos da Criança e Adolescente. Violência contra
Crianças e Adolescentes: Análise de Cenários e Propostas de Políticas Públicas / elaboração de Marcia Teresinha Moreschi –
Documento eletrônico – Brasília: Ministério dos Direitos Humanos, 2018, 494 p. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/centrais-de-conteudo/crianca-e-adolescente/violencia-contra-criancas-e-adolescentes-analise-de-cenarios-e-propostas-de-
politicas-publicas-2.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2020.
50
INSPIRE: sete estratégias para pôr fim à violência contra crianças. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/207717/9789241565356-por.pdf?ua=1. Acesso em: 13 de junho de 2020.

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2. Violência doméstica contra mulheres


Esse é um tema já debatido em aulas anteriores, por isso iremos tratar de forma mais sucinta e específica
voltada à questão da violência doméstica.
Pode-se afirmar que a violência contra as mulheres possui certas especificidades que a diferenciam da
violência de forma geral. Enquanto os homens têm maior probabilidade de serem vítimas de pessoas com
as quais não há vínculo mais próximo, as mulheres têm maior probabilidade de serem vítimas de membros
de suas próprias famílias ou de seus parceiros íntimos.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020:
• Foram registrados, em 2020, 3.730 homicídios com vítimas do sexo feminino, sendo 1.326 mortes
consideradas feminicídio51.
• Nos casos em que foi possível identificar qual é a relação do autor do feminicídio com a vítima, 89,9%
das vítimas foram assassinadas pelos próprios companheiros ou ex-companheiros.
Além disso, segundo o documento mencionado, nos registros em que é possível identificar onde a mulher
foi assassinada, 58,9% aconteceram na residência, o que remete ao contexto de violência doméstica. Assim,
ocorrem no âmbito de relações das quais se espera segurança e confiança, e que, frequentemente, estão
permeadas por tabus por dizerem respeito à esfera doméstica e familiar. Essa cultura pode ser constatada
a partir de frases cristalizadas no imaginário popular, como: "em briga de marido e mulher, ninguém mete
a colher".
Segundo o Atlas da Violência de 2019:
Apenas em 2017, mais de 221 mil mulheres procuraram delegacias de polícia para registrar episódios
de agressão (lesão corporal dolosa) em decorrência de violência doméstica, número que pode estar em
muito subestimado dado que muitas vítimas têm medo ou vergonha de denunciar.
[...]
Pesquisa de vitimização produzida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto
Datafolha indicou, em fevereiro de 2019, que apenas 10,3% das mulheres que afirmaram terem sofrido
algum tipo de violência no período de 12 meses entre 2018 e 2019 procuraram uma delegacia da mulher,
8% procuraram uma delegacia de polícia comum e 5% das respondentes ligaram para o 190.
É também crítica a questão da reiteração nesse tipo de violência, pois, sendo praticada por alguém da
estreita convivência da vítima, tende a acontecer novamente. Decorre disso um estado de terror constante,
causador de insegurança e instabilidade, agravado pelo fato de as vítimas nunca saberem quando e que tipo
de evento pode desencadear a fúria dos agressores. Trata-se de contexto com alta possibilidade de
formação de um ciclo de violência, cujo desfecho pode ser a morte da vítima.

51
Feminicídio é o homicídio praticado contra vítima mulher por motivações baseadas em violência doméstica e/ou intrafamiliar,
ou em caso de menosprezo ou discriminação pela condição de mulher. Lei.13/104 de 2015.

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Esse tipo de violência gera um intenso constrangimento às vítimas perante família, vizinhos, amigos e
conhecidos. Tal cenário pode gerar ansiedade e depressão e contribuir para que a vítima não denuncie o
agressor.
Há também um recorte racial na violência contra a mulher. Observe o que diz o Atlas da Violência de 2020:
Embora o número de homicídios femininos tenha apresentado redução de 8,4% entre 2017 e 2018, se
verificarmos o cenário da última década, veremos que a situação melhorou apenas para as mulheres
não negras, acentuando-se ainda mais a desigualdade racial.
Se, entre 2017 e 2018, houve uma queda de 12,3% nos homicídios de mulheres não negras, entre as
mulheres negras essa redução foi de 7,2%. Analisando-se o período entre 2008 e 2018, essa diferença fica
ainda mais evidente: enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras caiu 11,7%, a taxa entre
as mulheres negras aumentou 12,4%.
3. A pandemia da Covid-19 como circunstância agravadora
A Covid-19 provocou inúmeras modificações na sociedade. Uma das maiores foi o isolamento social, o qual
tem permitido que as pessoas passem mais tempo em contato com a sua família.
Contudo, o que, num primeiro momento, seria algo positivo, pode ser aterrorizante para as vítimas de
violência doméstica familiar. O tempo prolongado em casa aumentou os afazeres domésticos, o convívio
com familiares e ampliou a manipulação do agressor sobre a vítima, contexto potencializador dos conflitos
e de violências pré-existentes.
Assim, com as instituições funcionando parcialmente (inclusive as de acolhimento às vítimas), além do
fechamento de empresas, de espaços culturais e esportivos e das escolas, as vítimas ficaram sem espaços
de refúgio. A isso se soma o impacto econômico do vírus em muitas famílias. A degradação socioeconômica
das famílias, associada ao confinamento, ao aumento dos níveis de estresse e ao aumento do consumo de
álcool52, converge para uma situação de elevação da violência doméstica.
No primeiro semestre de 2020, no Brasil, houve uma redução do número de registros de violência
doméstica. Contudo essa redução é atribuída menos à redução da violência propriamente dita e mais ao
aumento da dificuldade de a vítima realizar a denúncia acerca do abuso e à instabilidade sofrida no período
pelos serviços de proteção, devido à diminuição do número de servidores e dos horários de atendimento e
ao aumento das demandas53.
Segundo o ABSP/2020:
Como a maior parte dos crimes cometidos contra as mulheres no âmbito doméstico exigem a presença da
vítima para a instauração de um inquérito, as denúncias começaram a cair na quarentena em função das

52
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde Mental e Atenção Psicossocial: Violência Doméstica e Familiar na Covid-19. Disponível
em: https://portal.fiocruz.br/documento/saude-mental-e-atencao-psicossocial-violencia-domestica-e-familiar-na-pandemia-
de-covid-19.
53
ABSP/2020.

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medidas que exigem o distanciamento social e a maior permanência em casa. Além disso, a presença mais
intensa do agressor nos lares constrange a mulher a realizar uma ligação telefônica ou mesmo de dirigir-se
às autoridades competentes para comunicar o ocorrido54.
Comparando os dados do primeiro semestre de 2019 e de 2020, constata-se que houve redução dos
registros de lesão corporal dolosa, ameaça, estupro e estupro de vulnerável, mas aumento da violência
letal contra as mulheres. Ademais, as ligações para o 190 registradas por violência doméstica cresceram
3,9%. Assim, observou-se queda nos registros dos crimes que dependiam principalmente da presença física
da vítima nas delegacias, em especial os de estupro, que demandam também exame pericial. Fato que
corrobora a tese da subnotificação da violência doméstica, não sua redução.
Por fim, segundo a ONU55, seis meses de restrições sanitárias poderiam comportar 31 milhões de casos
adicionais de violência no mundo, sete milhões de gravidezes não desejadas, além de colocar em risco a luta
contra a mutilação genital feminina e os casamentos arranjados.

Tema 31

Brasil perde jovens para violência em patamar de países como Haiti, aponta Atlas da Violência
"A morte prematura de jovens (15 a 29 anos) por homicídio é um fenômeno que tem crescido no Brasil desde
a década de 1980", aponta estudo recém-divulgado, lembrando que essa é uma idade em que as pessoas
têm um alto potencial produtivo que acaba sendo desperdiçado. "Além da tragédia humana, os homicídios
de jovens geram consequências sobre o desenvolvimento econômico e redundam em substanciais custos
para o país."
Levantamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal de junho de 2018 aponta que o
Brasil perde cerca de R$ 550 mil para cada jovem de 13 a 25 anos vítima de homicídio, levando-se em conta
o quanto o país deixa de ganhar com a capacidade produtiva (o trabalho) da vítima e os custos de saúde,
judiciais e de encarceramento ligados a cada morte. [...]

Com adaptações. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-


48504184. Acesso em 7 de outubro de 2020.

A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:

54
Também tem sido indicado como fatores de risco associados ao aumento das ocorrências de violência contra a mulher na
pandemia a diminuição da renda familiar, aumento dos níveis de estresse, aumento do consumo de álcool (FUNDAÇÃO
OSWALDO CRUZ, 2020), restrição de acesso aos serviços de proteção e a redes de apoio (MARQUES et al, 2020).
55
Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/11/23/interna_internacional,1208733/violencia-
contra-as-mulheres-dispara-a-outra-face-da-pandemia.shtml. Acesso em 27 de janeiro de 2021.

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JUVENTUDE PERDIDA: O DRAMA DA VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS NO BRASIL


Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) a importância de prevenir a violência entre jovens;
b) a relação entre as drogas e a violência entre jovens;
c) iniciativas, de cunho preventivo, com vistas a reduzir os números de jovens vítimas e autores da
violência.

Abordagem teórica

1. Importância de prevenir a violência entre jovens

Primeiro ponto: a violência é a principal causa de morte de jovens no país. Segundo o Atlas da Violência
(2020):

No Brasil, os homicídios são a principal causa de mortalidade de jovens, grupo etário de pessoas entre 15 e
29 anos. Esse fato mostra o lado mais perverso do fenômeno da mortalidade violenta no país, na medida
em que mais da metade das vítimas são indivíduos com plena capacidade produtiva, em período de
formação educacional, na perspectiva de iniciar uma trajetória profissional e de construir uma rede familiar
própria.
[...]
Homicídios foram a principal causa dos óbitos da juventude masculina, responsável pela parcela de
55,6% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos; de 52,3% daqueles entre 20 e 24 anos; e de 43,7% dos
que estão entre 25 e 29 anos.
Para as mulheres nessa mesma faixa etária, a proporção de óbitos ocorridos por homicídios é
consideravelmente menor: de 16,2% entre aquelas que estão entre 15 e 19 anos; de 14% daquelas entre 20
e 24 anos; e de 11,7% entre as jovens de 25 e 29 anos.
Na comparação com as taxas das demais faixas etárias, contudo, é possível afirmar que a causa morte por
homicídio atinge mais as mulheres e homens jovens do que indivíduos de qualquer outra faixa de idade.

Segundo a mesma fonte, em 2018, houve 57.956 homicídios Brasil. Desse total, 30.873 ocorreram contra
jovens. Assim, em 2018, mais da metade dos homicídios ocorreu contra jovens.
Considerando que o comando da questão pede que se disserte sobre a violência entre jovens, outra
perspectiva a ser considerada é que essa violência é praticada também por jovens. Segundo o Infopen 2017,
do universo total de presos no Brasil, 55% têm entre 18 e 29 anos. Informações mais recentes (infopen 2019),
informam que dos 748.009 presos, 23,3% possuem entre 18 e 24 anos e 21,5% possuem entre 24 e 29 anos,
ou seja, aproximadamente, 45% dos presos possuem entre 18 e 29 anos.
Trata-se de contexto extremamente nocivo ao país. Seja pela morte, seja pela prisão, são trajetórias que se
interrompem, famílias que se despedaçam, pessoas com elevado potencial produtivo que acaba sendo
desperdiçado.

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Segundo o Relatório de Conjuntura “Custos Econômicos da Criminalidade no Brasil” (2018), realizado pela
SAE (Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos) do governo federal, o Brasil perde cerca de R$ 550 mil
para cada jovem de 13 a 25 anos vítima de homicídio, levando-se em conta o quanto o país deixa de ganhar
com a capacidade produtiva (o trabalho) da vítima e os custos de saúde, judiciais e de encarceramento
ligados a cada morte. "A perda cumulativa de capacidade produtiva decorrente de homicídios, entre 1996
e 2015, superou os R$ 450 bilhões de reais", diz o texto.
Apesar, da grandeza desses números, é impossível precificar a dor e o sofrimento das vítimas, de seus
amigos e dos familiares. O impacto social é gigante. Interessante tratar aqui do conceito de anomia, do
sociólogo francês Émile Durkheim.
Para Durkhein, a anomia seria uma situação de enfraquecimento dos vínculos sociais e pela perda da
capacidade da sociedade de controlar o comportamento dos indivíduos. No contexto de uma situação
anômica, os limites sociais se encontram fragilizados e os indivíduos não conseguem distinguir o que é justo
ou injusto, legítimo ou ilegítimo, o que gera um sentimento de frustração, caos e falta da percepção da
existência de normas, imperando o tudo pode.
A questão da violência do país pode ser associada à questão da anomia. Pode-se argumentar que a
sociedade atual vivencia um contexto de anomia e que isso é reflexo, também, do cotidiano de violência
que afeta os brasileiros. Esse cotidiano gera o medo e enfraquece as relações sociais. Vejam esse fragmento
de texto56:

Ao alto impacto financeiro causado pela violência, que impede o crescimento econômico sustentável do
País, soma-se ainda o impacto social, como destaca o doutor em Sociologia e coordenador do Centro de
Estudos em Segurança Pública da PUC Minas, Lúcio Flávio Sapori. “Esse alto grau de violência gera uma
sociedade altamente anômica do ponto de vista sociológico. Gera uma sociedade muito pautada pelo
medo, pela desconfiança nas relações sociais e, à medida que uma sociedade como a nossa vive pautando
seu cotidiano pelo medo de ser vítima do crime, ela tende, de alguma maneira, a não valorizar as
instituições de Estado, a lei, a Justiça, a polícia, então isso provoca um elevado esgarçamento das relações
sociais cotidianas. E isso não é mensurável”, pontua.
O efeito desse impacto social, afirma Sapori, tem reflexos em todas as relações sociais, seja entre amigos,
na vizinhança, no trabalho, no trânsito. “O grau de solidariedade e de cooperação na sociedade brasileira
é muito baixo e isso implica também baixa qualidade de vida e acaba, inclusive, perpetuando a pobreza e a
desigualdade social.”

2. Relação entre as drogas e a violência entre jovens

Tema já explorado em oportunidade anterior. Em síntese, quando se fala de drogas ne violência, pode-se
abordar a questão tanto sob o ponto de vista do em usuário quanto do traficante.
Sob o ponto de vista da oferta, sabe-se que o tráfico de drogas, principal fonte de financiamento do crime
organizado, é um dos maiores fomentadores de violência. Além das ações praticadas diretamente contra
civis e militares, a guerra entre facções, dentro e fora dos presídios produzem incontáveis vítimas. A disputa

56
http://saporiconsultoria.com.br/noticias/vidas-perdidas-o-preco-da-violencia/

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pelo domínio de áreas de abastecimento e venda de drogas, em si mesma marcada pela brutalidade,
envolve facções criminosas, que, no mais das vezes, assumem o controle dessas regiões, dificultando a ação
do poder público, atemorizando a população e atraindo crianças e jovens para seu serviço.
Observem, como forma de comprovar a relação intrínseca entre tráfico de drogas e violência, o
elucidativo trecho do Atlas da Violência de 2019:

A tensão na disputa por mercados varejistas e por novas rotas de narcotráfico chegou ao limite em 2013,
quando, em Mato Grosso, os integrantes do CV – facção que possuía a hegemonia no estado – passaram a
impedir que o PCC atraísse e fizesse a filiação e batismo de novos faccionados (Manso e Dias, 2018). Tal
procedimento, que passou a ser adotado em outras regiões, fez com que as rusgas entre as duas maiores
facções – e seus aliados regionais – aumentassem gradativamente nos anos seguintes.
Finalmente, o assassinato do traficante Jorge Rafaat pelo PCC, em 15 de julho de 2016, na cidade de Pedro
Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã (MS), acentuou ainda mais a disputa do narconegócio, uma vez
que que tinha como pano de fundo o controle do mercado criminal na fronteira e, por conseguinte, a obtenção
de um grande diferencial competitivo, com a integração vertical da cadeia de valor, a partir do acesso
privilegiado à droga produzida e comercializada na Bolívia, no Peru e no Paraguai (Manso e Dias, 2018).
Finalmente, no início de 2017, a guerra entre as maiores facções penais brasileiras eclodiu de forma
generalizada, primeiro dentro dos presídios e depois nas ruas.
No dia 1º de janeiro de 2017, houve uma rebelião no Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus, quando
integrantes do PCC e da Família do Norte (FDN), aliada do CV, se enfrentaram, tendo como resultado
56 mortes. No dia 14, outros 26 detentos foram mortos na Prisão Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do
Norte, nas escaramuças entre o PCC e o Sindicato do Crime (SDC), aliado do CV. Nesse período, em 15 dias
o saldo foi de 138 homicídios nas prisões brasileiras, com episódios que atingiram também os sistemas
penitenciários de Roraima, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Sob o ponto de vista do usuário, o consumo de drogas, tipificado criminalmente, acaba aproximando o
indivíduo da delinquência. Quando se estabelece um quadro de dependência, maior será essa
probabilidade, pois mais disposto a correr riscos ele estará. Quando a quantidade e as circunstâncias
permitem que seja enquadrado como traficante, o indivíduo pode condenado a cumprir penas nas prisões,
sabidamente, uma das portas de entrada para a criminalidade "profissional". Esse contexto é
particularmente critico no caso dos jovens, que, por vários motivos (personalidade não totalmente formada,
busca de afirmação e de inclusão perante o grupo etc.) encontra-se mais suscetível a experimentar essas
substâncias e, a partir disso, desenvolver uma dependência, fato que pode prejudicá-lo durante toda a sua
vida.
Assim, é possível falar num estreito relacionamento entre as drogas e a violência entre jovens. Primeiro,
porque os jovens das comunidades periféricas podem ser empregados como mão de obra para o tráfico e,
como "soldados rasos" são os mais suscetíveis a serem vítimas na intensa guerra entre as facções. Segundo,
porque, em virtude de particularidades referentes à idade, podem se tornar usuários, aproximando-os da
via delituosa.

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3. Iniciativas, de cunho preventivo, com vistas a reduzir os números de jovens vítimas e autores da
violência

Primeiro e mais importante aspecto é observar que o enunciado pediu que se falasse de iniciativas de cunho
preventivo. Logo, não cabe aqui abordar políticas repressivas.
A questão foi generosa. Veja que você poderia falar tanto de iniciativas oriundas do poder público quanto
da sociedade organizada.
Em termos de iniciativas públicas é interessante trabalhar os eixos educação, emprego, cultura, religião.
Segundo o Atlas da Violência 2019:

Nesse ponto, é fundamental que se façam investimentos na juventude, por meio de políticas focalizadas
nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a garantir condições de desenvolvimento
infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do
jovem no mercado de trabalho. Inúmeros trabalhos científicos internacionais, como os do Prêmio Nobel
James Heckman mostram que é muito mais barato investir na primeira infância e juventude para evitar que
a criança de hoje se torne o criminoso de amanhã, do que aportar recursos nas infrutíferas e dispendiosas
ações de repressão bélica ao crime na ponta e encarceramento.
Do ponto de vista da segurança pública, uma atuação preventiva é aquela que evita que o crime aconteça.
Assim, pode-se falar no uso do policiamento ostensivo e dissuasório, utilizado de forma estratégica, bem
como das atividades de inteligência e investigação, capazes de desarticular futuras ações dos grupos
criminosos.
Do ponto de vista da sociedade, pode-se mencionar a possibilidade de organização por meio de fundações,
ONGs, Organizações Sociais etc. que atuem em paralelo com o Estado e reforcem a sua atuação.

Tema 32

Brasil sofre seu maior ataque hacker da história


Superior Tribunal de Justiça, Ministério da Saúde e Distrito Federal foram alvos de cibercriminosos, que
obtiveram acesso a informações sigilosas
Desde terça-feira, 5, importantes órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário foram invadidos por
cibercriminosos. Inicialmente, imaginava-se que somente o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tivesse sido
atacado e tido as informações roubadas. Contudo, outras bases de dados foram atacadas. Não se sabe ainda
se o hackeamento foi orquestrado ou não. Porém, os sistemas do Datasus, do Ministério da Saúde, e do
Governo do Distrito Federal (GDF) estão fora do ar e o motivo disso está sendo relacionado ao ciberataque.
Alguns sistemas da Receita Federal também foram alvo da ação. Há risco de se perder as informações.
Segundo especialistas em segurança cibernética consultados pelo Radar Econômico, este foi o maior ataque
cibernético já sofrido pelo governo brasileiro em termos de impacto.

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A Polícia Federal iniciou uma investigação e órgãos de tecnologia estão tentando resgatar os dados que
estão criptografados. Contudo, não se sabe a possibilidade de reavê-los. “Existem técnicas para reverter
criptografia. A depender da complexidade do algoritmo e do tamanho da chave da criptografia utilizada,
podem colocar um computador por 200 anos calculando e não se consegue abrir. Mas, caso seja algo menos
sofisticado, é possível reverter a situação”, afirma Marco Zanini, CEO da Dinamo Networks, que atua na
segurança criptográfica do sistema PIX, do Banco Central.
[...]
Os órgãos, ao que consta segundo fontes da Polícia Federal, foram alvos de um ataque por meio de
Ransomware. Esse tipo de crime é quando o hacker sequestra as informações que obteve acesso a partir da
quebra da segurança virtual por meio de alguém hackeado — sendo esta pessoa, um alto executivo, servidor
ou até mesmo um ministro de Estado. A partir disso, ele criptografa as informações e pede um resgate para
liberá-las.
Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/radar-economico/brasil-sofre-
seu-maior-ataque-hacker-da-historia/. Acesso em 06 de março de 2021.

Polícia Federal alerta para ameaças cibernéticas


Criminosos têm utilizado campanhas falsas para obter dados bancários e informações pessoais para o
cometimento de crimes durante a crise do Covid-19
Brasília/DF - Durante a crise sanitária provocada pela Covid-19, a Polícia Federal detectou um aumento
significativo de ameaças cibernéticas. Os criminosos utilizam campanhas falsas - compostas por meio de e-
mails, links, mensagens por aplicativos, ligações telefônicas e outros canais – para obter dados bancários e
informações pessoais para o cometimento de crimes cibernéticos.
Seguem orientações para prevenção:
- Links: não clique em links enviados por e-mail, SMS ou aplicativos de mensagens em nome de instituições
bancárias, não preencha dados de cartões de crédito em formulários e nem informe dados de cartões de
crédito e senha em ligações telefônicas. Procure as informações junto ao seu banco nos canais oficiais.
- Voucher auxílio emergencial: diversas mensagens disparadas por meio de aplicativos como Whatsapp,
SMS, e-mails e até telefonemas têm solicitado informações para cadastro dos beneficiários do auxílio
emergencial aprovado pelo Governo Federal. Não informe os seus dados nesse tipo de mensagem.
- Aplicativos maliciosos: foram identificados diversos aplicativos que solicitam informações ou se passam
por órgãos do governo a fim de obter dados pessoais. Fique atento e baixe apenas os aplicativos indicados
nos sites oficiais.
- Golpes usando o Whatsapp: solicitações de empréstimos e transferências oriundas de contatos no
Whatsapp podem ser golpes! Ligue para o seu contato e confirme a solicitação!
- Boleto falsificado: códigos de barras podem ser facilmente alterados. Fiquem atentos ao nome da empresa
e valor do pagamento. Qualquer dúvida, entre em contato com o credor e emissor do boleto ou com a sua
instituição bancária.

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A Polícia Federal orienta que, para garantir que você tenha acesso às informações precisas e atualizadas
sobre as ações federais em torno da crise sanitária provocada pelo COVID-19, procure os canais oficiais nos
sites ou mídias sociais do Portal Governo do Brasil (gov.br), Ministério da Justiça e Segurança Pública,
Ministério da Saúde, Ministério da Economia, Ministério da Cidadania e das instituições bancárias.
Não seja vítima de fraudes! Verifique a origem e se proteja!
Disponível em: http://www.pf.gov.br/imprensa/noticias/2020/04-noticias-de-
abril-de-2020/policia-federal-alerta-para-ameacas-ciberneticas. Acesso em 06
de março de 2021.

Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.

A ESCALADA DOS CRIMES CIBERNÉTICOS E O PAPEL DA POLÍCIA NA REPRESSÃO AO DELITO


a) fatores que têm proporcionado a escalada dos crimes cibernéticos;
b) danos sociais gerados por esse tipo de crime;
c) papel polícia no combate a esse tipo de crime.

Abordagem teórica

Crime cibernético ou cibercrime é uma atividade criminosa que tem como alvo, ou faz uso de um
computador, uma rede de computadores ou um dispositivo conectado em rede. Os cibercrimes geram,
anualmente, bilhões de reais em prejuízos, afetam as operações das empresas e ameaçam a privacidade
e a integridade patrimonial das pessoas. Trata-se, pois, de um grave problema que a todos envolve, visto
que grande parcela da população mundial acessa serviços online e, portanto, correm o risco de terem seus
dados pessoais roubados ou usados de forma indevida.
Sob o aspecto penal, trata-se de conduta tipificada no nosso Código Penal, art. 154-A:

Invasão de dispositivo informático (Incluído pela Lei nº 12.737, de 2012)


Art. 154-A. Invadir dispositivo informático de uso alheio, conectado ou não à rede de computadores, com o
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do usuário do
dispositivo ou de instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: (Redação dada pela Lei nº 14.155,
de 2021)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 14.155, de 2021)
§ 1° Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de
computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. (Incluído pela Lei nº 12.737,
de 2012) Vigência
A conduta de invadir equipamentos eletrônicos passou a ser considerado como crime no Direito Penal
Brasileiro a partir do advento da famosa Lei Carolina Dieckmann (Lei 12.737/2012), que tipificou os delitos

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ou crimes cibernéticos, os quais passaram a ter previsão legal elencada no Art. 154-A do CP, transcrito
acima.
De forma bem ampla, os crimes cibernéticos abrangem várias possibilidades, tais como os que envolvem os
delitos de natureza patrimonial, o cyberbullying, a pornografia infantil, o racismo, o ciberterrorismo, entre
outros.
O crime cibernético custa ao mundo mais de US$ 1 trilhão ao ano, 0,8% do PIB global, segundo o relatório
do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) e da McAfee 57.
Segundo o FMI (Global Financial Stability Report58), os riscos cibernéticos foram colocados ao lado do
aumento da desigualdade, das mudanças climáticas, da incerteza política e da redução da confiança nas
instituições como uma das principais causas capazes de gerar instabilidade financeira em nível global 59.
Apenas por hipótese, imaginem as consequências de uma invasão ao sistema do seu banco, tornando-o
inoperante por, somente, algumas horas. Além dos problemas causados às pessoas e empresas
(pagamentos, recebimentos etc.), isso poderia gerar uma perda de confiança, produzindo um elevado risco
sistêmico no sistema financeiro e levando o sistema como um todo ao colapso.
Além disso, pode-se falar que se trata de uma ameaça real e globalizada. Apesar dos avanços
proporcionados pela intensa difusão das ferramentas tecnológicas, as possibilidades de fraudes virtuais têm
aumentado e, ao que tudo indica, permanecerão crescendo. Atualmente, a sociedade vive um processo de
intensificação da bancarização e de inclusão digital60, acelerada pelo distanciamento social e, no caso
brasileiro, pelo pagamento do auxílio emergencial por contas digitais. Nesse sentido, adentram no universo
digital pessoas que, por vezes, não possuem muita intimidade com o mundo digital, e, por isso, são
naturalmente mais propensas a serem alvo de golpes.
Além disso, verificou-se uma grande disseminação do trabalho remoto. Grandes quantidades de dados
comerciais sigilosos e sensíveis foram transferidas de computadores seguros para notebooks pessoais,
muitas vezes desprotegidos. Assim, como as redes domésticas são mais expostas que as corporativas,
abrem-se brechas de segurança para hackers entrarem nas redes de TI, facilitando, portanto, o ataque aos
sistemas das empresas. Por fim, as pessoas passaram a navegar mais na internet: durante a quarentena, o
tráfego mundial na internet subiu 20%, alcançando os níveis mais altos da história. Isso, naturalmente, atrai
a presença de golpistas. Segundo especialistas, o coronavírus fez a vida online acelerar dez anos em seis
meses e os crimes virtuais seguiram a mesma tendência.

57
Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/cibercrimes-terao-impacto-de-mais-de-us-1-trilhao-na-economia-global-
em-2020/. Acesso em 06 de março de 2021.
58
Disponível em: https://www.elibrary.imf.org/doc/IMF082/25728-9781498302104/25728-
9781498302104/Other_formats/Source_PDF/25728-9781498302173.pdf?redirect=true. Acesso em 06 de março de 2021.
59
Disponível em: https://valor.globo.com/mundo/blog-do-fmi/post/2020/12/o-risco-cibernetico-e-a-nova-ameaca-a-
estabilidade-financeira.ghtml. Acesso em 06 de março de 2021.
60
Segundo o Banco Central, cerca de 11,8 milhões de pessoas começaram um relacionamento com uma instituição financeira
desde o início da pandemia.

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Diante desses fatores, não se estranhe que, em março, pouco depois do início do isolamento social, os
crimes virtuais aumentaram 400% no mundo, segundo estimativas da Unisys. No Brasil, as ações
criminosas contra redes privadas de empresas aceleraram 148% desde o início da quarentena, conforme
pesquisa da firma de segurança VMware. Além disso, de fevereiro a abril de 2020, foi de 238% o aumento
nos ataques direcionados ao setor financeiro no Brasil61.
O avanço do comércio eletrônico, outro efeito do coronavírus, também atraiu a criminalidade. No Brasil,
os ataques ao varejo online aumentaram 53,6% em 2020, na comparação com 2019, segundo dados da
ClearSale, empresa de segurança digital. A companhia analisou 106 bilhões de operações digitais e
identificou 3,5 milhões de tentativas de fraude62. Dados da Federação Brasileira de Bancos mostram que as
tentativas de assaltos digitais contra as instituições filiadas cresceram 45% do início da pandemia até
junho63.
Uma pesquisa realizada pelo Serasa e o Instituto Locomotiva revelou que mais de 60 milhões de brasileiros
já sofreram algum tipo de fraude financeira na internet. O levantamento informou ainda que só 35% das
pessoas que foram vítimas de fraude conseguem recuperar o valor.
Essa grande quantidade de números coincide com o que a sociedade presenciou no ano de 2020. Foram
inúmeros tipos de golpes cibernéticos. São exemplos: os "inspetores" do novo coronavírus (pessoas que
tentam entrar nas residências para realizar uma inspeção para combate ao coronavírus); o agendamento da
vacina contra a covid-19 pelo “Ministério Público da Saúde”; pesquisas telefônicas fraudulentas e muitas
outras. Não surpreende, portanto, o fato que, segundo a Kaspersky, o Brasil foi o país da América Latina
que registrou maior número de ataques cibernéticos durante a pandemia, tanto em ambientes domésticos
quanto corporativos.
A impunidade tem alavancado o cometimento de crimes cibernéticos no país, justamente pelo seu elevado
retorno e baixo risco. Como, em parte dos crimes, a própria instituição financeira realiza o ressarcimento
dos danos, muitas pessoas não informam a ocorrência à polícia. Além disso, quando a polícia toma
conhecimento do fato, muitas negociações do crime cibernético ocorrem na conhecida Dark Web, onde o
anonimato e o uso das criptomoedas (por exemplo, Tor e Bitcoin) dificultam a identificação dos envolvidos.
Além das dificuldades de identificar o responsável pela fraude, a pena para esses tipos de crime é baixa,
estimulando o seu cometimento.
Os crimes cibernéticos possuem como caraterísticas serem crimes sem violência, pois, diferentemente de
um roubo, sequestro etc., não há violência direta empregada contra a vítima. Contudo, como ficará
comprovado nessa exposição, essas fraudes estão diretamente relacionadas com o cometimento de outros

61
Disponível em: https://veja.abril.com.br/tecnologia/o-home-office-facilita-a-invasao-de-computadores-por-hackers/. Acesso
em 06 de março de 2021.
62
Disponível em: https://veja.abril.com.br/tecnologia/maior-vazamento-de-dados-pessoais-do-pais-expoe-riscos-da-era-
digital/. Acesso em 06 de março de 2021.
63
Disponível em: https://veja.abril.com.br/tecnologia/o-home-office-facilita-a-invasao-de-computadores-por-hackers/. Acesso
em 06 de março de 2021.

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crimes. Financiam diversas atividades criminosas e, por isso, pode-se falar que esses crimes geram violência
de uma forma indireta.
Também possuem como característica a invisibilidade, visto que, muitas vezes, não deixam rastros visíveis
do seu cometimento. Assim, apesar das perdas bilionárias, esse tipo de crime não gera uma repercussão
social e midiática tão intensa, se comparado, por exemplo, a uma explosão de caixa eletrônico.
Apesar de serem mais discretos, as consequências nocivas para a sociedade são as mais diversas: fraudes
online e crimes financeiros, frequentemente em decorrência do roubo de informações de identificação
pessoal; custo de se proteger redes, adquirir seguros cibernéticos e pagar pela recuperação de
ataques cibernéticos; danos à reputação e riscos de responsabilidade jurídica da empresa afetada e sua
marca; e impactos à segurança pública, uma vez que mobiliza núcleos de policiais e o Poder Judiciário, nas
fases investigativa e processual, além do fato de patrocinar a realização de uma série de outros crimes e
serem utilizados para lavagem de dinheiro.
Fechado esse bloco introdutório, tratemos sobre as várias possibilidades de crimes cometidos pela
internet. Incluem: roubo de dados financeiros ou relacionados a pagamento de cartões, randomware,
phishing, sequestro de e-mails empresariais, spyware e roubo de criptomoedas.
Um tipo de fraude bastante comum é a quitação de dívidas de pessoas físicas ou jurídicas. Funciona da
seguinte maneira: alguém com um boleto (exemplos: contas de água, luz etc.) realiza o seu pagamento com
recursos de terceiros, ou seja, quita dívida própria com recurso alheio. Assim, por exemplo, uma empresa
pode adquirir estoques para venda mediante o pagamento feito com recursos de terceiros.
São de natureza bem semelhante as fraudes em cartões de crédito (clonagem de cartões), em que são
feitas compras com cartões de terceiro, e a abertura de contas com dados alheios, as quais passam a ser
utilizadas para a realização de compras. Tenho certeza que, pelo menos alguns de vocês, já identificaram
compra não realizadas na fatura do cartão de crédito ou já tiveram contas abertas em bancos em seus
nomes.
O phishing é modalidade também muito comum. Ocorre quando e-mails de spam ou outras formas de
comunicação são enviadas em massa com a intenção de induzir os destinatários a fazer algo que prejudique
a segurança deles ou a segurança da organização em que trabalham. As mensagens de campanhas de
phishing podem conter anexos infectados ou links que redirecionam para sites maliciosos. Nessa fraude, o
golpista tenta se passar por uma marca famosa, uma instituição financeira ou por instituição governamental
(exemplos: RFB, INSS, BCB), ofertando um produto ou solicitando uma atualização cadastral. O intuito é
coletar o máximo de informações pessoais para que depois o criminoso consiga realizar compras ou
operações em nome da vítima.
Outra categoria são os ataques de malware. Ocorrem quando um sistema ou uma rede de computadores é
infectada por um vírus de computador ou outro tipo de malware. Um computador comprometido por
malware pode ser usado por criminosos cibernéticos para diversos fins, por exemplo, roubar dados
confidenciais, realizar outros atos criminosos ou causar danos aos dados. Um exemplo famoso de ataque

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de malware foi o ataque do ransomware WannaCry. Ransomware é um tipo de malware usado para
extorquir dinheiro, pois mantém os dados ou o dispositivo da vítima como refém em troca de um resgate.
Recentemente, têm sido muito comuns os gigantescos vazamentos de dados sigilosos em sistemas
governamentais e privados decorrentes de ataques dessa natureza.
Em 2020, os CPFs de 223 milhões de pessoas vivas e falecidas e 40 milhões de CNPJs de empresas
nacionais vazaram, maior ataque cibernético da história do país. As informações incluíam dados sobre o
imposto de renda, salário, nível de escolaridade, título de eleitor etc. Agora, em 2021, veio à tona mais um
vazamento de proporções gigantescas - dessa vez dos registros de mais de 100 milhões de contas de
celulares, supostamente obtidas do banco de dados das operadoras de telefonia Vivo e Claro. Essas
informações, extraídas por hackers, possuem valor comercial. Podem ser adquiridas por criminosos, por
meio das quais conseguem realizar empréstimos, clonar cartões, vender bens da vítima e usar a identidade
alheia para cometer crimes, mas também por empresas, interessadas, por exemplo, em melhor conhecer a
base de clientes para melhor direcionar as suas campanhas publicitárias.
Há também a invasão aos sistemas de empresas com o objetivo de criptografar dados, restringir acesso a
sistemas e, por conseguinte, inviabilizar o funcionamento da empresa. A partir disso, cobram recompensas
em troca do resgate dos dados. Isso tem acontecido com frequência em empresas de setores extremamente
sensíveis como as do setor elétrico (exemplo: Copel, Energisa, Light) e do setor hospitalar. Esse tipo de
ataque, por meio de ransomware, foi o que também ocorreu na histórica invasão hacker ao site do STJ (ver
texto motivador).
Uma discussão de grande relevância refere-se aos crimes cibernéticos e o financiamento do crime
organizado.
Além dos danos sofridos pela vítima do crime, as fraudes eletrônicas − particularmente as com cartão de
pagamento e conta de pagamento − fornecem um meio confiável e quase ilimitado de financiamento para
crimes transnacionais muito mais graves . A fraude de pagamento é usada para lavar dinheiro para o crime
organizado, subsidiar os custos do tráfico de drogas, armas e humanos e fornecer suporte material para
grupos terroristas. Trata-se de um crime facilitador de uma série de outros crimes hediondos e até mesmo
de atos terroristas.
A ampla disponibilidade de informações de pagamento comprometidas e dados de identidade na dark web
fornece financiamento quase ilimitado para essas operações de crime transnacional, seja por meio de
saques em cartões de pagamento roubados, lavagem de fundos ilícitos por meio de contas bancárias
fraudulentas ou obtenção de novas identidades para vítimas de tráfico humano. Esses criminosos
arquitetam complexas redes para ocultação de ativos por meio de cartões pré-pagos, contas bancárias de
laranjas ou mecanismos que envolvam o uso de moedas digitais.

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Para que fique mais claro, vejam esses exemplos retirados do sítio eletrônico da Forbes64:
Por exemplo, os cartões de crédito roubados desempenharam um papel fundamental em uma trama de
2005 para explodir o Melbourne Cricket Grounds durante a Grande Final da Australian Football League
entre o Sydney Swans e o West Coast Eagles. A trama, perpetrada por 12 homens e liderada por um certo
Abdul Nacer Benbrika, envolveu passagens de avião e telefones celulares comprados com cartões de
crédito roubados comprados de um motorista de táxi local por US$ 10.
Em outro exemplo do ano passado, a polícia da Alemanha e da Suécia derrubou uma rede de tráfico de
pessoas administrada por cidadãos sírios que usaram cartões de pagamento roubados para comprar
centenas de passagens aéreas e de trem para ajudar a contrabandear pessoas do Oriente Médio para a
Europa. No geral, os cartões roubados foram usados para comprar quase 500 reservas, a maioria passagens
só de ida de Beirute para vários locais em toda a Europa. O comunicado oficial da Europol disse: “Os
contrabandistas com experiência em tecnologia evitaram a detecção fazendo as reservas usando cartões
de crédito corporativos comprometidos e credenciais adquiridas online de outros criminosos que os
ofereciam para venda”.
Assim, concluindo essa parte, considerando os efeitos indiretos que produz, a fraude em meios de
pagamento não pode continuar sendo vista como um crime de menor importância. Por isso, as pessoas que
forem vítimas desse tipo de crime, além de comunicar o fato à instituição financeira para que seja feito o
ressarcimento, devem também denunciá-lo às autoridades policiais.
Por outro lado, os agentes responsáveis pela investigação criminal devem se esforçar para uma
compreensão mais completa do papel que a fraude virtual desempenha em casos criminais graves. Por meio
da atividade de inteligência e da organização das informações, poder-se-á rastrear de forma precisa e
consistente as ligações entre fraude de pagamento e crime transnacional e, com isso, atacar de forma
qualificada as facções criminosas que atuam por trás dos crimes cibernéticos.
Para que isso seja possível, é necessário que se invista em treinamento especializado. É necessário
conhecer os recursos tecnológicos mais utilizados pelos criminosos no ciberespaço, como identificar os
vestígios digitais, os principais softwares e recursos de buscas eletrônicas que possibilitem a descoberta, a
aquisição, a preservação e o processamento de dados presentes em ambiente cibernético, entre outros.
Além disso, os profissionais devem estar prontos para orientar as vítimas e a população em geral sobre
como se prevenir e se defender em relação aos crimes virtuais. Nesse intuito, são sempre importantes as
campanhas educativas.
Outra frente é a criação de delegacias especializadas, assim como ocorre, por exemplo, nos crimes
cometidos no contexto de violência contra a mulher no contexto familiar. Outra frente é o estabelecimento
de protocolos de cooperação com empresas privadas, detentoras das informações necessárias à apuração

64
Disponível em: https://www.forbes.com/sites/forbestechcouncil/2019/03/19/payment-card-fraud-the-ultimate-platform-
crime/?sh=662ab7136a18. Acesso em 06 de março de 2021.

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do delito. Acordos com empresas como a Microsoft e a Google possibilitam que os investigadores consigam
as informações em tempo menor.
Nessa linha, igualmente importante é a criação de protocolos com outros países, haja vista a
transnacionalidade dos delitos. É essencial a cooperação internacional no combate aos crimes cibernéticos,
pela necessidade de uma ação rápida, em razão da efemeridade das provas, que muitas vezes são difíceis
de se obtidas por estarem localizadas em provedores de acesso e de serviço fora do território nacional.
Às empresas e instituições públicas cabe a criação de sistemas robustos, que dificultem a ocorrência de
ataques. Ao Legislativo cabe a elaboração de leis que protejam os usuários, responsabilizem de forma
rigorosa os culpados, exijam a adoção de melhores práticas de segurança da informação das empresas e
instituições governamentais.
Aos usuários cabe a busca de informações para não se tornarem alvos fáceis para os criminosos. Deve-se:
desconfiar sempre de links recebidos, verificar o endereço do site para ao qual você foi redirecionado,
verificar se a mensagem é verdadeira visitando o site oficial da empresa ou organização ou nos perfis nas
redes sociais e usar soluções de segurança confiáveis em seus dispositivos eletrônicos.

Tema 33.1

05 de junho — Dia Mundial do Meio Ambiente


O Dia Mundial do Meio Ambiente foi estabelecido na conhecida Conferência de Estocolmo e passou a
ser comemorado todo dia 05 de junho.
Em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, a
Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial do Meio Ambiente, que passou a ser
comemorado todo dia 05 de junho. Essa data, que foi escolhida para coincidir com a data de realização dessa
conferência, tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os
problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram
considerados, por muitos, inesgotáveis.
Nessa Conferência, que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo, iniciou-se uma mudança no modo
de ver e tratar as questões ambientais ao redor do mundo, além de serem estabelecidos princípios para
orientar a política ambiental em todo o planeta. Apesar do grande avanço que a Conferência representou,
não podemos afirmar, no entanto, que todos os problemas foram resolvidos a partir daí.
Atualmente existe uma grande preocupação em torno do meio ambiente e dos impactos negativos da ação
do homem sobre ele. A destruição constante de habitat e a poluição de grandes áreas, por exemplo, são
alguns dos pontos que exercem maior influência na sobrevivência de diversas espécies.
Tendo em vista o acentuado crescimento dos problemas ambientais, muitos pontos merecem ser revistos
tanto pelos governantes quanto pela população para que os impactos sejam diminuídos. Se nada for feito,

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o consumo exagerado dos recursos e a perda constante de biodiversidade poderão alterar


consideravelmente o modo como vivemos atualmente, comprometendo, inclusive, nossa sobrevivência.
Dentre os principais problemas que afetam o meio ambiente, podemos destacar o descarte inadequado de
lixo, a falta de coleta seletiva e de projetos de reciclagem, consumo exagerado de recursos naturais,
desmatamento, inserção de espécies exóticas, uso de combustíveis fósseis, desperdício de água e
esgotamento do solo. Esses problemas e outros poderiam ser evitados se os governantes e a população se
conscientizassem da importância do uso correto e moderado dos nossos recursos naturais. [...]
SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "05 de Junho — Dia Mundial do Meio Ambiente"; Brasil
Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-
mundial-do-meio-ambiente-ecologia.htm. Acesso em 03 de junho de 2020.

Caso Manchinha: Carrefour terá de depositar R$ 1 milhão em fundo para cuidados a animais
O fundo será criado pelo município de Osasco e será destinado a ações com animais.
O supermercado Carrefour terá de depositar R$ 1 milhão em um fundo, criado pelo município de Osasco,
na Grande São Paulo, pela agressão de um segurança que resultou na hemorragia e, consequentemente, na
morte do animal em 28 de novembro. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, foi assinado um
Termo de Compromisso em que a empresa assume a obrigação.

Caso manchinha
Câmeras de segurança do supermercado e vídeos feitos por celulares de testemunhas registraram o
momento em que o segurança corre atrás do cão com uma barra de ferro.
Apesar de as imagens não mostrarem a agressão, o segurança admitiu, em depoimento à polícia, ter batido
no animal com a barra, mas que não teve a intenção de feri-lo. Posteriormente, Manchinha aparece
mancando e sangrando nas cenas. Ele era um cachorro abandonado e dócil que perambulava pelo Carrefour
e recebia alimentos e afagos de clientes e funcionários.
Outras filmagens mostram o cachorro machucado sendo imobilizado por funcionários da prefeitura. Eles
utilizam uma corda laçada ao pescoço do bicho, que desmaia. Em seguida, o bicho é levado a uma unidade
especializada em animais onde morreu. Segundo a veterinária que o atendeu, ele faleceu em
decorrência de sangramento.
O segurança
O segurança, que não teve o nome divulgado pela investigação, irá responder em liberdade por abuso e
maus-tratos de animais, de acordo com o artigo 32 da Lei número 9.605/98 de Crimes Ambientais. A
reportagem também não conseguiu localizar sua defesa para comentar o assunto.
Como o crime é de menor potencial ofensivo, não cabe prisão e nem indiciamento, de acordo com a pasta
da Segurança Pública. São enquadrados nesse artigo da lei quem fere ou mutila animais domésticos,
silvestres, nativos ou exóticos. Se condenado, o agressor pode receber pena de detenção de três meses a
um ano, além de multa.

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Carlos Roberto
Aula 07 - Profº Carlos Roberto e Márcio Damasceno

Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/03/15/caso-manchinha-


carrefour-tera-de-depositar-r-1-milhao-em-fundo-para-cuidados-a-
animais.ghtml.Acesso em 03 de junho de 2020.

Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão no âmbito das investigações do "Dia do Fogo"
Ação faz parte do esforço dos órgãos federais (Operação Verde Brasil) e visa recolher novas provas e elementos
que auxiliem nas investigações de possíveis crimes ambientais praticados no Pará
Belém/PA - A Polícia Federal deflagrou, nesta terça feira 22/10, na cidade de Novo Progresso /PA, a
Operação “Pacto de Fogo” que visa colher novas provas em investigação que apura associação criminosa
suspeita de praticar crimes ambientais em reservas e Unidade de Conservação Federais na Amazônia.
Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em residências e estabelecimentos ligados aos
suspeitos com o intuito de obter novos elementos de informação sobre os crimes em apuração.
As investigações tiveram início a partir da divulgação, pela imprensa nacional, de que fazendeiros e
produtores rurais da região de Novo Progresso teriam combinado a execução do chamado “Dia do Fogo”.
Segundo estes órgãos de imprensa, em 10 de agosto de 2019 seriam iniciados incêndios em diversas
localidades, inclusive Unidades de Conservação Federais na região.
A operação recebeu o nome ante a divulgação pela imprensa local e nacional de que diversas pessoas teriam
combinado, em grupos de aplicativos de mensagem, a data para as ações criminosas.

Disponível em: http://www.pf.gov.br/imprensa/noticias/2019/10/policia-federal-


cumpre-mandados-de-busca-e-apreensao-no-ambito-das-investigacoes-do-dia-do-
fogo. Acesso em 28 de janeiro de 2021.

Ação conjunta PRF e IBAMA flagra madeira transportada ilegalmente na BR 101 em Joinville
Uma ação conjunta entre policiais rodoviários federais e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(IBAMA) apreendeu na tarde de ontem (quarta), na BR 101 em Joinville, 45m³ de madeiras diversas
transportadas ilegalmente.
A carga estava em uma carreta Volvo de Presidente Prudente/SP. Os agentes constataram que a Guia
Florestal, emitida pelo estado do Mato Grosso, já estava vencida há mais de um mês. Além disso, conforme
o documento fiscal, a mercadoria já fora recebida pelo proprietário. Ou seja, os documentos apresentados
estavam sendo reutilizados para tentar enganar a fiscalização.
Servidores da Secretaria Estadual da Fazenda estiveram no local e confirmaram a fraude fiscal. A empresa
responsável também vai responder a Termo Circunstanciado pelo crime ambiental de transportar madeira
sem licença válida.
Disponível em: https://www.prf.gov.br/agencia/acao-conjunta-prf-e-ibama-flagra-
madeira-transportada-ilegalmente-na-br-101-em-joinville/. Acesso em 28 de janeiro
de 2021.

Considerando os textos acima como meramente motivadores, redija uma dissertação sobre:

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MEIO AMBIENTE E CRIMES AMBIENTAIS

No seu texto, aborde, necessariamente:


a) o meio ambiente equilibrado e o exercício da cidadania;
b) exemplos de ações criminosas contra o meio ambiente ocorridas recentemente no Brasil;
c) como a polícia pode atuar na defesa do meio ambiente.

Tema 33.2

Considerando os textos acima como meramente motivadores, redija uma dissertação sobre:
O PAPEL DA POLÍCIA CIVIL NA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE
No seu texto, aborde, necessariamente:
a) proteção da fauna;
b) proteção da flora;
c) combate à ocupação irregular do solo.

Abordagem teórica

1. Meio ambiente e cidadania

A Constituição Federal de 1988, afirma, em seu art. 225 que: “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Dessa
forma, cabe ao Poder Público tomar as medidas cabíveis para assegurar a efetividade desse direito. Uma
das instituições que pode auxiliá-lo no desempenho dessa tarefa á a Polícia, conforme veremos no decorrer
dessa exposição. Mas, antes, vejamos alguns tópicos básicos sobre o tema.
Um meio ambiente equilibrado é uma condição essencial para a vida no planeta. Basta ver que todo e
qualquer ser humano precisa de ar puro, água potável, um ambiente limpo e condições climáticas
adequadas.
Profundos desequilíbrios no meio ambiente, como os provocados pelo agravamento do aquecimento do
planeta, podem ter impactos diretos sobre a agricultura, afetar o nível dos oceanos e provocar efeitos
climáticos extremos, a ponto de inviabilizarem a vida no planeta. O aumento da poluição atmosférica pode
causar inúmeras doenças e gerar impactos ao meio ambiente (exemplos: intensificação do efeito estufa,
chuvas ácidas, inversão térmica), os quais, por sua vez, tenderão a desequilibrar ainda mais o meio
ambiente. As florestas, por meio da fotossíntese, reduzem da quantidade de carbono na atmosfera,

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concentram boa parte da biodiversidade e auxiliam na regulação climática e na estabilidade do regime de


chuvas em todo país. Essas são apenas algumas consequências da degradação do meio ambiente.
Conforme já tratamos em outros temas, a condição de cidadão envolve a existência de direitos e deveres.
Nesse sentido65:
"Em seu sentido tradicional, a cidadania expressa um conjunto de direitos e de deveres que permite aos
cidadãos e cidadãs o direito de participar da vida política e da vida pública, podendo votar e serem
votados, participando ativamente na elaboração das leis e do exercício de funções públicas, por exemplo.
Hoje, no entanto, o significado da cidadania assume contornos mais amplos, que extrapolam o sentido
de apenas atender às necessidades políticas e sociais, e assume como objetivo a busca por condições que
garantam uma vida digna às pessoas".
Aplicando essa noção ao assunto tratado, vê-se que um meio ambiente equilibrado é um dos direitos do
cidadão, assegurados constitucionalmente, cujo desrespeito, por sua vez, impacta em uma série de outros
direitos, como saúde, alimentação, moradia e, em última análise, o próprio direito à vida. Assim, um meio
ambiente em condições inadequadas inviabiliza o gozo de inúmeros direitos, prejudicando o exercício da
cidadania.
A participação do cidadão na defesa do meio ambiente é fundamental, visto que a qualidade do meio
ambiente repercutirá diretamente na sua qualidade de vida. Nesse diapasão, não se pode deixar de lembrar
dos instrumentos de que dispõe o cidadão para exigir o cumprimento dos seus direitos, visto que é inerente
ao regime democrático o direito pleno de participar na vida pública.
Um dos instrumentos mais conhecidos é a Ação Popular, legítima ferramenta da democracia participativa.
Também podem ser citados o Mandado de Segurança coletivo, Ação Civil Pública, a iniciativa popular de
leis e o direito de participar na formulação e execução das políticas ambientais, a ser discutida, no mínimo,
com as populações atingidas. Para essa finalidade, são instrumentos as consultas e audiências públicas.
Por outro lado, como vimos, o cidadão também tem deveres. E um deles é contribuir para a preservação do
meio ambiente. Nesse sentido, todos devem zelar pela preservação do meio ambiente, adotando hábitos
mais sustentáveis e que envolvam maior racionalidade no uso dos recursos naturais. Ao contrário do que
muitos pensam, contribuir na preservação do meio ambiente não exige medidas sofisticadas. Não jogar lixo
em locais impróprios, apagar a luz e tomar banhos de menor duração são ações simples que ajudam a
preservar o meio ambiente.

2. Exemplos de atos criminosos praticados contra o meio ambiente e ação da polícia

Inicialmente, conhecer a lei que trata sobre os crimes ambientais já lhe dará uma boa noção. Vamos, então,
dar uma olhada em alguns artigos da Lei 9.605/1998.

CAPÍTULO V

65
Ética e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade / Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação. –Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

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DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE


Seção I
Dos Crimes contra a Fauna
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo
com a obtida:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:
Seção II
Dos Crimes contra a Flora
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação,
ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade
competente:
Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do
Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização:
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e
demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano:
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia
autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação:
Seção III
Da Poluição e outros Crimes Ambientais
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Seção IV
Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:
I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato
administrativo ou decisão judicial:
Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de
seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico
ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:

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Dos crimes listados, tecerei somente alguns comentários sobre alguns aspectos relevantes.
Recentemente, tem ganhado grande repercussão na mídia e sido assunto de grande comoção social os
maus-tratos a animais, tanto na condição de animais domésticos, quanto na condição de exploração
comercial. Tem sido comuns ações policiais em rinhas e canis clandestinos, locais onde, por vezes, a polícia
verifica más condições de higiene do local, privação de alimentação e sofrimento físico ou psicológico do(s)
animal(is).
Outra questão bastante noticiada é o tráfico de animais silvestres e exóticos. Segundo a Rede Nacional
de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), no Brasil:
• 38 milhões de animais silvestres retirados da natureza todos os anos no Brasil;
• Nove de cada dez animais traficados morrem antes de chegar às mãos do consumidor final;
• Us$ 2 bilhões movimentados anualmente por esse comércio ilegal no Brasil;
• 3ª maior atividade ilegal do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de droga.
Segundo a Renctas, de cada 100 animais capturados ilegalmente no país, 70 são vendidos em território
nacional e 30 são destinados ao exterior. Um dos fatores que explica o Brasil ser uma das principais rotas do
tráfico é a grande biodiversidade, o que o torna um alvo direto das quadrilhas e organizações criminosas 66.
Segundo Dener Giovanini, coordenador geral da Renctas, as redes sociais tornaram o problema ainda
maior, pois o que antes acontecia pontualmente em espaços físicos como feiras livres em pequenas cidades
do interior agora tem uma vitrine universal na internet67.
Devido à importância desse tema, vou destacar alguns pontos importantes, apresentados no Portal Ecoa 68:
• Mais de 80% dos bichos vendidos no Brasil são aves. [...] Os motivos são diversos: desde o hábito do
brasileiro de ter passarinhos presos em gaiola em casa até a beleza do canto e das plumas das aves que
passam a ser exploradas em diferentes níveis.
• Existe outra tendência de preferência entre compradores ilegais de animais silvestres: quanto mais rara a
espécie, melhor. A obsessão pelo exclusivo, a oportunidade de poder acessar e ostentar bens caros ou
escassos também se estende para a compra e venda ilegal da fauna brasileira.
Segundo Dener Giovanini:
" Quanto mais ameaçada de extinção a espécie, mais procurada ela se torna e maior é o valor que
esse animal alcança no mercado ilegal. É o que chamo de 'ciclo da morte'. Ou seja, quanto mais
ameaçado ele está, mais caro é comercializado, e mais procurado ele se torna. E quanto mais
procurado esse bicho for, mais ameaçado de extinção ele estará. É um ciclo vicioso."

66
Disponível em: https://www.ufsm.br/midias/arco/trafico-animais-silvestres/. Acesso em 28 de janeiro de 2021.
67
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/trafico-no-brasil-tira-por-ano-35-milhoes-de-animais-da-
floresta-e-gira-r-3-bilhoes/#page4. Acesso em 28 de janeiro de 2021.
68
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/trafico-no-brasil-tira-por-ano-35-milhoes-de-animais-da-
floresta-e-gira-r-3-bilhoes/#page13. Acesso em 28 de janeiro de 2021.

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• Um levantamento realizado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)


mostrou que, das 12.256 espécies da fauna brasileira analisadas, 1.173 estão ameaçadas de extinção. A
caça desses animais para fins de comércio ilegal ou subsistência é a segunda principal causa. A primeira
ainda é a perda de habitat provocada por atividades humanas, como agronegócio e queimadas.
• Por terem as rodovias federais como principal rota de tráfico de animais, é preciso conseguir esconder os
bichos de diversas formas. A Renctas elenca algumas delas: pequenos animais dentro de malas ou em
carros pequenos, escondidos em porta-malas ou até nos forros dos bancos. Também existem os que são
transportados contrabandeados em containers. Não existe qualquer preocupação com o bem-estar do
animal. Por isso, a estimativa é de que a cada dez animais capturados, apenas um sobreviva. A maioria
morre durante o transporte ou após chegar ao seu destino devido a traumas psicológicos ou ferimentos
físicos.
Outros crimes de grande repercussão são o desmatamento ilegal e a extração ilegal de madeira nativa.
Esse crime provoca danos ao meio ambiente sob diversos pontos: redução da biodiversidade, danos ao solo,
modificação do clima, além dos impactos sociais.
Outro crime bastante comum relaciona-se ao uso irregular do solo, com a demarcação de lotes, abertura
de ruas sem autorização do órgão público competente ou em desacordo com a legislação. Normalmente as
ações de grilagem de terras envolvem uma série de outros delitos como extorsões, homicídios e ameaças.
Não pode passar despercebido o crime que envolve balões. Graças a essa prática irresponsável, todos os
anos, florestas, casas, entre outras instalações são incendiadas, provocando danos materiais ou até mesmo
perda de vidas. Esses balões podem cair em matas, casas, hospitais, postos de combustíveis, subestações,
zoológicos, podendo provocar estragos irreparáveis, incluindo perda de vidas.
Há também os crimes que envolvem poluição do ar e da água. São exemplos o despejo de resíduos sólidos
ou líquidos decorrentes de indústrias.
3. Ação da polícia

Nos crimes ambientais, à polícia compete a vigilância ambiental ostensiva, a fiscalização, a repressão de
atividades danos as ao meio ambiente, a apuração de denúncias e a realização de diligências para
confirmá-las. Além disso, tem como responsabilidade a atividade investigativa, com o objetivo de apurar
os fatos e identificar os autores pelos delitos ambientais.
Em diversas operações, os policiais trabalham de forma integrada com o IBAMA, Secretarias Estaduais de
Meio Ambiente, Universidades, ONGs e outras instituições que trabalham efetivamente de forma a
fiscalizar e preservar o meio ambiente.
A atividade ambiental nos crimes ambientais tem algumas particularidades. Uma delas é, em alguns tipos
de crimes, a existência de forte envolvimento da sociedade e de ONGs para a apuração dos fatos. Em
eventos que envolvem maus-tratos com animais, percebe-se um grande engajamento social, tanto no
sentido de denunciar, quanto no de cobrar providências para a responsabilização. Assim, a polícia pode se
valer desse apoio e estreitar o seu relacionamento com a comunidade como forma de obter informações
com os habitantes locais.

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Outra característica é que boa parte dos crimes cominados na Lei 9.605/1998 são de menor potencial
ofensivo (pena máxima não superior a dois anos, ou multa), atraindo a competência dos Juizados Especiais
Criminais. Isso tem uma série de consequências, a exemplo do não cabimento da prisão em flagrante, da
impossibilidade de transação penal e dos prazos prescricionais mais céleres. Tudo isso acaba gerando uma
forte percepção da sociedade de que, em matéria ambiental, a impunidade é ainda maior.
Diante desse cenário, é oportuno envidar esforços na prevenção desses crimes. Nesse sentido, é importante
que a polícia organize campanhas de educação e esclarecimento, voltadas tanto para o público adulto
quanto para o infantil. Essas campanhas devem focar o papel do indivíduo como agente transformador de
sua realidade em relação à preservação ambiental, bem como estimular a capacidade de entender as
consequências das suas condutas na modificação do espaço em que vive.
Uma política de vanguarda nessa área é o Programa Brasil MAIS – Meio Ambiente Integrado e Seguro, o
qual prevê ações na área de segurança pública, por meio do acesso a imagens de satélite de alta resolução. O
objetivo é promover a aplicação da geotecnologia em apoio às funções de segurança pública, polícia
judiciária, administrativa e demais atividades de Estado.
A ferramenta permite receber cinco vezes mais imagens, com resolução sete vezes melhor, inclusive em
regiões com alta nebulosidade diariamente, de todo o território nacional. Assim, podem ser identificadas
fraudes em obras de engenharia, crimes de tráfico de entorpecentes e crimes ambientais, como fraudes em
manejo florestal, corte seletivo de madeira e a detecção, ainda no início, de queimadas, desmatamento,
mineração irregular, dentre outros. A ferramenta é disponibilizada, de forma gratuita, para órgãos federais,
estaduais e municipais, e para todos as instituições integrantes do Sistema Único de Segurança Pública
(Susp).

PRÁTICA
Caro aluno, agora é com você! Treine bastante com os temas expostos, lembrando-se sempre de aplicar o
conhecimento acumulado nas aulas anteriores, tanto sob o ponto de visto da estrutura, quanto dos aspectos
gramaticais.
Lembrem-se de nos encaminhar seu texto, se assim desejarem, por meio da área do aluno, de forma
manuscrita digitalizada, conforme explicado na aula 00 do curso.
Para a sua redação, é importante especificar o número do texto escolhido no campo apropriado. Você pode
nos encaminhar um arquivo único (em PDF) ou colar as imagens digitalizadas dentro de um documento em
Word.
As questões discursivas serão devolvidas exclusivamente ao aluno, por meio da área destinada ao curso no
site do Estratégia Concursos.

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