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AULA ESTRUTURADA – DIREITO CONSTITUCIONAL

AULA 02

Planejamento

Conteúdo
DIREITO CONSTITUCIONAL - PODER CONSTITUINTE

Carga Horária: 03 HORAS


Unidades de Ensino
CUIABÁ/MT

Pré-aula

BREVE REVISÃO DA AULA 01

Objeto de estudo do Direito Constitucional, a Constituição é a lei fundamental e


suprema de um Estado, criada pela vontade soberana do povo. Todas as leis precisam
ser compatíveis com a CF/88, sob pena de serem consideradas inválidas.

A Constituição tem as seguintes funções básicas:


a) Determinar a organização do Estado: compete à Constituição definir qual será
a forma de Estado (federação ou Estado unitário), a forma de governo (República
ou Monarquia) e o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo).
Cabe, ainda, à Constituição repartir as competências entre os entes federativos.
b) Determinar a organização dos Poderes;
c) Estabelecer os direitos e garantias fundamentais.

O direito constitucional é o ramo do direito público interno que estuda a Constituição,


ou seja, a lei fundamental de organização do Estado, bem como os seus limites: a) forma
de Estado (unitário ou federal); b) forma de governo (Monarquia ou República); c)
sistema de governo (parlamentarismo ou presidencialismo); d) modo de aquisição,
exercício e perda do poder político; e) órgãos de atuação do Estado (Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário); f) principais postulados da ordem econômica e social; g) limites
à atuação do Estado (direitos fundamentais da pessoa humana).

CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO

Os diversos conceitos de Constituição podem ser classificados em três grandes


concepções: sociológica, política e jurídica.

1 - Concepção sociológica.
Para Ferdinand Lassalle, em sua clássica obra O que é uma Constituição, esta é a soma
dos fatores reais de poder, não passando a escrita de uma “folha de papel” que poderia
ser rasgada a qualquer momento, sempre que contrariasse os fatores reais de poder.
Para Lassalle, coexistem em um Estado duas Constituições: uma real, efetiva,
correspondente à soma dos fatores reais de poder que regem um determinado país; e
outra, escrita, que consiste numa mera “folha de papel”.
A constituição real, efetiva, é um fato social, e não uma norma jurídica. Resulta da soma
dos fatores reais de poder que vigoram na sociedade, ou seja, do embate das forças
econômicas, sociais, políticas e religiosas.
A Constituição escrita (jurídica), por sua vez, é mera “folha de papel”, somente sendo
eficaz e duradoura se refletir os fatores reais de poder da sociedade.
Na situação ideal, haverá plena correspondência entre a Constituição escrita e os fatores
reais de poder.
Caso isso não ocorra, no conflito entre as duas Constituições prevalecerá a Constituição
real (efetiva).

2 - Concepção política.
Para Carl Schmitt, a Constituição é a decisão política fundamental, estabelecendo uma
distinção entre ela e as leis constitucionais. A Constituição disporia somente sobre
normas fundamentais (estrutura do Estado e direitos individuais), enquanto as demais
normas contidas em seu texto seriam leis constitucionais.
Schmitt distingue Constituição de leis constitucionais. A primeira, segundo ele, dispõe
apenas sobre matérias de grande relevância jurídica (decisões políticas fundamentais),
como é o caso da organização do Estado, por exemplo. As segundas, por sua vez, seriam
normas que fazem parte formalmente do texto constitucional, mas que tratam de
assuntos de menor importância.
A concepção política de Constituição guarda notória correlação com a classificação das
normas em materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. As normas
materialmente constitucionais correspondem àquilo que Carl Schmitt denominou
“Constituição”; por sua vez, normas formalmente constitucionais são o que o autor
chamou de “leis constitucionais”.

3 - Concepção jurídica.
Para Hans Kelsen, a Constituição, em seu sentido lógico-jurídico, é a norma hipotética
fundamental. Dessa forma, é o vértice de todo o sistema normativo. Leva-se em
consideração a posição de superioridade jurídica. As normas constitucionais são
hierarquicamente superiores a todas as demais normas jurídicas.
Kelsen entende a Constituição como norma jurídica pura, sem qualquer consideração
de cunho sociológico, político ou filosófico. Trata-se da norma superior e fundamental
do Estado, que organiza e estrutura o poder político, limita a atuação estatal e
estabelece direitos e garantias individuais.
Para Kelsen, a Constituição não retira o seu fundamento de validade dos fatores reais
de poder, ou seja, sua validade não se apoia na realidade social do Estado. O Direito
deve ser analisado de maneira pura, sem quaisquer considerações filosóficas ou
sociológicas.
No sistema proposto por Kelsen, o fundamento de validade das normas está na
hierarquia entre elas. Toda norma apoia sua validade na norma imediatamente superior;
com a Constituição positiva (escrita) não é diferente: seu fundamento de validade está
na norma hipotética fundamental, que é norma pressuposta, imaginada.
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES
Diversas classificações de Constituição, conforme o critério adotado para distingui-las,
são apontadas pelos autores. Indicaremos a seguir somente as principais.

1 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM


As Constituições se classificam quanto à origem em:
a) Outorgadas (impostas, ditatoriais, autocráticas): são aquelas impostas, que
surgem sem participação popular. Resultam de ato unilateral de vontade da
classe ou pessoa dominante no sentido de limitar seu próprio poder, por meio
da outorga de um texto constitucional. Exemplos: Constituições brasileiras de
1824, 1937 e 1967 e a EC nº 01/1969.
b) Democráticas (populares, promulgadas ou votadas): nascem com participação
popular, por processo democrático. Normalmente, são fruto do trabalho de uma
Assembleia Nacional Constituinte, convocada especialmente para sua
elaboração. Exemplos: Constituições brasileiras de 1891, 1934, 1946 e 1988.
c) Cesaristas (bonapartistas): são outorgadas, mas necessitam de referendo
popular. O texto é produzido sem qualquer participação popular, cabendo ao
povo apenas a sua ratificação.

2 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMA


No que concerne à forma, as Constituições podem ser:
a) Escritas (instrumentais): são elaboradas por um órgão constituinte
especialmente encarregado dessa tarefa. Consistem em documentos solenes,
que fixam a organização fundamental do Estado. É o caso da Constituição de
1988.

b) Não escritas (costumeiras ou consuetudinárias): são aquelas cujas normas


estão em variadas fontes normativas, como as leis, costumes, jurisprudência,
acordos e convenções. Não são elaboradas por um órgão especialmente criado
para esse fim, mas resultam de vários centros de produção de normas. Um
exemplo é a Constituição inglesa.

3 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO


No que se refere ao modo de elaboração, as Constituições podem ser:
a) Dogmáticas (sistemáticas): são escritas, tendo sido elaboradas por um órgão
constituído para esta finalidade em um determinado momento, segundo os
dogmas e valores então em voga. Subdividem-se em:
- ortodoxas: quando refletem uma só ideologia.
- heterodoxas (ecléticas): quando suas normas se originam de ideologias
distintas. A Constituição de 1988 é dogmática eclética, uma vez que
adotou, como fundamento do Estado, o pluralismo político (art. 1º, CF).
b) Históricas: também chamadas costumeiras, são do tipo não escritas. São
criadas lentamente com as tradições, sendo uma síntese dos valores históricos
consolidados pela sociedade. São, por isso, mais estáveis que as dogmáticas. É o
caso da Constituição inglesa.
4 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESTABILIDADE
Na classificação das constituições quanto à estabilidade, leva-se em conta o grau de
dificuldade para a modificação do texto constitucional. As Constituições são, segundo
este critério, divididas em:
a) Imutável (granítica, intocável ou permanente): é aquela Constituição cujo
texto não pode ser modificado jamais. Tem a pretensão de ser eterna. Alguns
autores não admitem sua existência.
b) Super-rígida: é a Constituição em que há um núcleo intangível (cláusulas
pétreas), que não pode ser modificado. As demais normas, entretanto, são
alteráveis por processo legislativo diferenciado, mais dificultoso que o ordinário.
Trata-se de uma classificação menos cobrada em provas, por ser adotada apenas
por Alexandre de Moraes, para quem a CF/88 é do tipo super-rígida. Só para
recordar: as cláusulas pétreas são dispositivos que não podem sofrer emendas
(alterações) tendentes a aboli-las. Estão arroladas no § 4º do art. 60 da
Constituição.
c) Rígida: é aquela modificada por procedimento mais dificultoso do que aqueles
pelos quais se modificam as demais leis. É sempre escrita, mas vale lembrar que
a recíproca não é verdadeira: nem toda Constituição escrita é rígida. A CF/88 é
rígida, pois exige procedimento especial para sua modificação por meio de
emendas constitucionais: votação em dois turnos, nas duas Casas do Congresso
Nacional e aprovação de pelo menos três quintos dos integrantes das Casas
Legislativas (art. 60, §2º, CF/88). Exemplos: Constituições de 1891, 1934, 1937,
1946, 1967 e 1988.
d) Semirrígida ou semiflexível: para algumas normas, o processo legislativo de
alteração é mais dificultoso que o ordinário; para outras não. Um exemplo é a
Carta Imperial do Brasil (1824), que exigia procedimento especial para
modificação de artigos que tratassem de direitos políticos e individuais, bem
como dos limites e atribuições respectivas dos Poderes. As normas referentes a
todas as demais matérias poderiam ser alteradas por procedimento usado para
modificar as leis ordinárias.
e) Flexível: pode ser modificada pelo procedimento legislativo ordinário, ou
seja, pelo mesmo processo legislativo usado para modificar as leis comuns.
IMPORTANTE - É importante salientar que a maior ou menor rigidez da Constituição
não lhe assegura estabilidade. Sabe-se hoje que a estabilidade se relaciona mais com o
amadurecimento da sociedade e das instituições estatais do que com o processo
legislativo de modificação do texto constitucional. A CF/88, mesmo sendo rígida, já
sofreu mais de cem emendas!

5 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CONTEÚDO


Para entender a classificação das constituições quanto ao conteúdo, é fundamental
deixarmos bem claro, primeiro, o que são normas materialmente constitucionais e o
que são normas formalmente constitucionais.
Normas materialmente constitucionais são aquelas cujo conteúdo é tipicamente
constitucional. Regulam os aspectos fundamentais da vida do Estado (forma de Estado,
forma de governo, estrutura do Estado, organização do Poder e os direitos
fundamentais). Essas normas, estejam inseridas ou não no texto escrito da Constituição,
formam a chamada “Constituição material” do Estado.
Não há consenso doutrinário sobre quais são as normas materialmente constitucionais.
É inegável, contudo, que há certos assuntos, como os direitos fundamentais e a
organização do Estado, que são considerados pelos principais constitucionalistas como
sendo normas materialmente constitucionais.
Por outro lado, normas formalmente constitucionais são todas aquelas que,
independentemente do conteúdo, estão contidas em documento escrito elaborado
solenemente pelo órgão constituinte. Avalia-se apenas o processo de elaboração da
norma: o conteúdo não importa. Se a norma faz parte de um texto constitucional escrito
e rígido, ela será formalmente constitucional.
Cabe, aqui, fazer uma importante observação. Um pressuposto para que uma norma
seja considerada formalmente constitucional é a existência de uma Constituição rígida
(alterável por procedimento mais difícil do que o das leis). Ora, em um Estado que adota
constituição flexível, não cabe falar-se em normas formalmente constitucionais; não há,
afinal, nesse tipo de Estado, distinção entre o processo legislativo de elaboração das leis
e o das normas que alteram a Constituição.

Feitas essas considerações, voltemos à classificação das constituições que, quanto ao


conteúdo, podem ser:

a) Constituição material: É o conjunto de normas, escritas ou não, que regulam


os aspectos essenciais da vida estatal. Sob essa ótica, todo e qualquer Estado é
dotado de uma Constituição, afinal, todos os Estados têm normas de
organização e funcionamento, ainda que não estejam consubstanciadas em um
texto escrito.
Além disso, é plenamente possível que existam normas fora do texto
constitucional escrito, mas que, por se referirem a aspectos essenciais da vida
estatal, são consideradas como fazendo parte da Constituição material do
Estado. Ressalte-se, mais vez, que analisar se uma norma é ou não
materialmente constitucional depende apenas da consideração do seu
conteúdo.
Um exemplo de Constituição material é a Carta do Império de 1824, que
considerava constitucionais apenas matérias referentes aos limites e atribuições
dos poderes e direitos políticos, inclusive os individuais dos cidadãos.
b) Constituição formal (procedimental): É o conjunto de normas que estão
inseridas no texto de uma Constituição rígida, independentemente de seu
conteúdo.
A Constituição de 1988, considerada em sua totalidade, é do tipo formal, pois
foi solenemente elaborada por uma Assembleia Constituinte.
Todas as normas previstas no texto da Constituição Federal de 1988 são
formalmente constitucionais.
Entretanto, algumas normas da Carta Magna são apenas formalmente constitucionais
(e não materialmente), já que não tratam de temas de grande relevância jurídica,
enquanto outras são formal e materialmente constitucionais (como as que tratam de
direitos fundamentais, por exemplo).
Há também, no ordenamento jurídico brasileiro, normas materialmente
constitucionais fora do texto constitucional. É o caso dos tratados sobre direitos
humanos introduzidos no ordenamento jurídico pelo rito próprio de emendas
constitucionais, conforme o § 3º do art. 5º da Constituição

6 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TAMANHO OU EXTENSÃO


Quanto à extensão, as Constituições podem ser analíticas ou sintéticas.
a) Analíticas (prolixas, extensas, longas ou abrangentes): têm conteúdo extenso,
tratando de matérias que não apenas a organização básica do Estado. Contêm
normas apenas formalmente constitucionais. A CF/88 é analítica, pois trata
minuciosamente de certos assuntos, não materialmente constitucionais.
b) Sintéticas (concisas, sumárias, curtas ou negativas): restringem-se aos
elementos substancialmente constitucionais. É o caso da Constituição norte-
americana, que possui apenas sete artigos. O detalhamento dos direitos e
deveres é deixado a cargo das leis infraconstitucionais.

7 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO MODELO OU FINALIDADE


As Constituições podem ser classificadas, quanto à finalidade, em garantia, dirigente ou
balanço.
a) Constituição-garantia: seu principal objetivo é proteger as liberdades
públicas contra a arbitrariedade do Estado. Corresponde ao primeiro período de
surgimento dos direitos humanos (direitos de primeira geração, ou seja, direitos
civis e políticos), a partir do final do século XVIII. As Constituições-garantia são
também chamadas de negativas, uma vez que buscam limitar a ação estatal; elas
impõem a omissão ou negativa de atuação do Estado, protegendo os indivíduos
contra a ingerência abusiva dos Poderes Públicos.
b) Constituição-dirigente: é aquela que traça diretrizes que devem nortear a
ação estatal, prevendo,para isso, as chamadas normas programáticas. Além de
assegurarem as liberdades negativas (já alcançadas), passam a exigir uma
atuação positiva do Estado em favor dos indivíduos. A Constituição Federal de
1988 é uma Constituição-dirigente.
c) Constituição-balanço: é aquela que visa reger o ordenamento jurídico do
Estado durante um certo tempo, nela estabelecido. Transcorrido esse prazo, é
elaborada uma nova Constituição ou seu texto é adaptado. É típica de regimes
socialistas.

8 - CLASSIFICAÇÃO QUANTO À DOGMÁTICA OU À IDEOLOGIA


a) Ortodoxas ou simples. Influenciadas por uma só ideologia. Exemplo: Constituição
soviética.
b) Ecléticas, complexas ou compromissórias. Influenciadas por ideologias de tendências
diversas, resultando de uma fórmula de compromisso entre as forças políticas existentes
em determinado momento histórico. Exemplo: Constituição brasileira de 1988.

9 - Classificação QUANTO À CONCORDÂNCIA COM A REALIDADE


Adotando a classificação proposta por Loewenstein, podemos classificar as
Constituições em:
a) Normativas. As Constituições cujas normas efetivamente dominam o processo
político, limitando o poder do Estado. Por exemplo, a dos Estados Unidos da América.
b) Nominais. As Constituições que não conseguem adptar suas normas à dinâmica do
processo político, embora não limitem o processo político, possuem esta finalidade.
c) Semânticas. As normas da Carta Constitucional são mera formalização da situação do
poder político existente. Como observa Jorge Miranda, em seu Manual de direito
constitucional, “servem apenas para estabilizar e eternizar a intervenção dos
dominadores de fato na comunidade”. Exemplo: as Constituições impostas por regimes
militares.

IMPORTANTE - CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988


Quanto ao conteúdo, é de natureza formal; quanto à forma, escrita; quanto ao modo de
elaboração, dogmática; quanto à origem, democrática; quanto à estabilidade, rígida;
quanto ao modelo, dirigente; quanto ao tamanho, analítica; e, por fim, quanto à
dogmática, é eclética.

SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO
A Constituição é a lei maior do país, o vértice do sistema jurídico.
Contém as normas fundamentais do Estado, estando todos sujeitos ao seu império,
inclusive os membros do governo, e confere autoridade aos governantes, que só podem
exercê-la dentro dos limites por ela traçados.
A supremacia da Constituição decorre de sua própria origem, pois provém de um poder
constituinte originário, de natureza absoluta, bem como do seu caráter de rigidez,
sobrepondo-se as normas constitucionais em relação a todas as demais normas
jurídicas.

ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO
Em uma Constituição, que tem por finalidade estruturar o Estado e delimitar o seu poder
de atuação, inserem-se normas de conteúdos diversos. José Afonso da Silva, em sua
obra Curso de direito constitucional positivo, classifica as normas constitucionais em
cinco grandes grupos:
(1) elementos orgânicos: contemplam as normas que regulam a estrutura do Estado e
dos Poderes;
(2) elementos limitativos: estão presentes nas normas institutivas do rol de direitos e
garantias fundamentais;
(3) elementos sócio-ideológicos: são as normas que explicitam o compromisso social
das Constituições modernas com a proteção dos indivíduos e busca pela efetivação de
um bem estar social;
(4) elementos de estabilização constitucional: conjunto representado pela reunião das
normas que objetivam assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da
Constituição, do Estado e das instituições democráticas;
(5) elementos formais de aplicabilidade: normas que instituem regras de aplicação das
normas constitucionais.

EFICÁCIA DA NORMA CONSTITUCIONAL


O Professor José Afonso da Silva, que inovou as discussões doutrinárias ao partir da
premissa de que não há norma constitucional destituída de eficácia, pois todas elas são
possuidoras de, ao menos, dois efeitos:
1) positivo - capacidade que toda norma constitucional detém de impedir a
recepção das normas anteriores à sua vigência que com ela não
guardem compatibilidade;
2) negativo - capacidade que toda norma constitucional possui de vedar, ainda que
implicitamente, ao legislador ordinário a edição de normas que a
contrariem.

Classificação da eficácia da norma constitucional


O Professor José Afonso da Silva classifica as normas constitucionais em três
grupos, a saber, normas de eficácia plena, normas de eficácia contida e normas de
eficácia limitada.

1 – NORMAS DE EFICACIA PLENA


As normas de eficácia plena são aquelas capazes de produzir todos os seus efeitos
essenciais simplesmente com a entrada em vigor da Constituição, independentemente
de qualquer regulamentação por lei. São, por isso, dotadas de aplicabilidade:
• imediata, eis que estão aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples
promulgação da Constituição;
• direta, pois não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a
produção de efeitos; e
• integral, porque já produzem seus integrais efeitos, sem sofrer quaisquer
limitações ou restrições.

2 – NORMAS DE EFICACIA CONTIDA


As normas de eficácia contida são aquelas que também estão aptas para a produção de
seus plenos efeitos desde a promulgação da Constituição mas que podem vir a ser
restringidas. O direito nelas previsto é imediatamente exercitável, com a simples
promulgação da Constituição. Entretanto, tal exercício poderá ser restringido no futuro.
São, por isso, dotadas de aplicabilidade:
• imediata, por estarem aptas a produzir efeitos imediatamente, com a simples
promulgação da Constituição;
• direta, pois não dependem de nenhuma norma regulamentadora para a
produção de efeitos;
• mas, possivelmente, não-integral, eis que sujeitas à imposição de restrições.

OBS: As restrições às normas de eficácia contida poderão ser impostas:


(a) por lei (ex.: art. 5°, XIII, da CF/88, que prevê as restrições ao exercício de
trabalho, ofício ou profissão, que poderão ser impostas pela lei que estabelecer as
qualificações profissionais, bem como o disposto no art. 5°, LXXVIII, da CF/88);
(b) por outras normas constitucionais (ex.: art. 139 da CF/88, que impõe
restrições ao exercício de certos direitos fundamentais, durante o período de
estado de sítio);
(c) por conceitos ético-jurídicos geralmente pacificados na comunidade jurídica e,
por isso, acatados (ex.: art. 5°, XXV, da CF/88, em que o conceito de "iminente
perigo público" atua como uma restrição imposta ao poder do Estado de requisitar
propriedade particular).

3 – NORMAS DE EFICACIA LIMITADA


As normas de eficácia limitada são aquelas que só produzem seus plenos efeitos depois
da exigida regulamentação. Elas asseguram determinado direito, mas este não poderá
ser exercido enquanto não for regulamentado pelo legislador ordinário. Enquanto não
expedida a regulamentação, o exercício do direito permanece impedido. São, por isso,
dotadas de aplicabilidade:
• mediata, pois somente produzem seus efeitos essenciais ulteriormente, depois
da regulamentação por lei;
• indireta, porque não asseguram, diretamente, o exercício do direito,
dependendo de norma regulamentadora para tal; e
• reduzida, eis que com a promulgação da Constituição, sua eficácia é meramente
"negativa".
Com efeito, as normas de eficácia limitada foram divididas pelo Professor José Afonso
da Silva em dois grupos: as definidoras de princípios institutivos (organizativos ou
orgânicos) e as definidoras de princípios programáticos.
As normas de eficácia limitada definidoras de princípios institutivos (organizativos ou
orgânicos) são aquelas pelas quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de
estruturação e atribuições de órgãos ou entidades, para que o legislador ordinário os
estruture posteriormente, mediante lei.
As normas de eficácia limitada definidoras de princípios programáticos são aquelas
pelas quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados
interesses, limitou-se a lhes traçar os princípios para serem cumpridos pelos seus
órgãos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas
das respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado.

AULA
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
A partir do reconhecimento de que a proteção simultânea no ordenamento jurídico de
diversificados direitos e bens propicia um ambiente favorável às possíveis tensões entre
os distintos interesses, foram consagrados diversos princípios e métodos voltados à
interpretação do texto constitucional e da legislação infraconstitucional que a ele se
subordina.

Conceito – A hermenêutica constitucional é a tarefa de interpretação da Constituição.


Interpretar é tornar claro e compreensível o que está disposto de maneira técnica. Isso
pode ser feito considerando o sentido literal do texto, a vontade do legislador, o
contexto histórico, dentre outros aspectos que permitem a justa e adequada aplicação
do texto constitucional.

PRINCIPIOS DA HERMENEUTICA CONSTITUCIONAL

Princípio da supremacia da Constituição


Referida premissa interpretativa estabelece que, em virtude de a Constituição ocupar o
ápice da estrutura normativa em nosso ordenamento, todas as demais normas e atos
do Poder Público somente serão considerados válidos quando em conformidade com
ela. Em decorrência da supremacia da Constituição e da higidez de seu texto, é possível
questionar a constitucionalidade dos diplomas infraconstitucionais (e das emendas
constitucionais) por intermédio do controle de constitucionalidade.

Princípio da interpretação conforme à Constituição


Postulado que não se presta à interpretação das normas constitucionais propriamente,
e sim da legislação infraconstitucional, encontra sua morada diante das chamadas
normas polissêmicas ou plurissignificativas, isto é, aquelas que podem ser interpretadas
de maneiras diversas.

Princípio da presunção de constitucionalidade das leis


Como os poderes públicos extraem suas competências da Constituição, por
consequência presume-se que eles agem estritamente em consonância com esta. Isso
confere às normas produzidas pelo Poder Legislativo (e também pelos demais poderes,
no exercício da função atípica de natureza legislativa) a presunção de serem
constitucionais, de terem sido engendradas em conformidade com o que prescreve a
Carta Maior. Acaso não existisse essa presunção, não se poderia falar em imperatividade
das normas jurídicas, característica necessária para impor a obediência delas a todos.

Princípio da unidade da Constituição


Dotado de acentuada importância, o princípio da unidade da Constituição visa conferir
um caráter ordenado e sistematizado para as disposições constitucionais, permitindo
que o texto da Carta Maior seja compreendido como um todo unitário e harmônico,
desprovido de antinomias reais. Muito mais que um conjunto caótico de normas
desconectadas e esparsas, o texto constitucional é um agrupamento de preceitos
integrados, alinhavados pelo ideal de unidade.
Em decorrência desse princípio interpretativo, pode-se afirmar que não há hierarquia
normativa, tampouco subordinação entre as normas constitucionais; eventuais conflitos
entre as normas originárias serão, pois, sanados por meio da tarefa hermenêutica. É
nesse sentido que no direito pátrio é inviável a declaração de inconstitucionalidade de
uma norma constitucional originária em face de outra.

Princípio da força normativa


Idealizado por Konrad Hesse, preceitua ser função do intérprete sempre "valorizar as
soluções que possibilitem a atualização normativa, a eficácia e a permanência da
Constituição". Destarte, deve o intérprete priorizar a interpretação que dê concretude
à normatividade constitucional, jamais negando-lhes eficácia.

Princípio do efeito integrador


Como a finalidade primordial da Constituição é ordenar a vida em sociedade,
integrando-a a um Estado formalmente constituído, todas as suas normas devem ser
interpretadas de maneira a prestigiar a unidade política instaurada pelo documento
constitucional.
Destarte, quando da interpretação da Constituição, deve-se, necessariamente, buscar a
leitura que reforce o ideal de que a Constituição é um agrupamento normativo único,
composto por normas conectadas, que devem ser lidas de maneira a reforçar e a
reafirmar a integração política e social engendrada pela Constituição.

Princípio da concordância prática ou harmonização


Tal qual o princípio da unidade constitucional, o da concordância prática também visa
solver eventuais desacertos entre as normas constitucionais. Enquanto o primeiro, no
entanto, é manejado em abstrato, envolvendo normas que dissociadas das ocorrências
fáticas já se põem em rota de colisão, o último atua perante conflitos específicos, que
somente se pronunciam diante de um caso concreto.
Pode-se mencionar, como exemplo, os direitos à liberdade de informação e à
privacidade que, abstratamente, não guardam ente si qualquer tensão visível. Perante
casos concretos, entretanto, é plausível supor que colidam quando, imaginemos, a não
exibição de uma reportagem (direito à privacidade) for confrontada com o direito à
informação em se exibir tal matéria jornalística.

Princípio da máxima efetividade ou da eficiência (intervenção efetiva)


Doutrinariamente aponta-se que a definição desse postulado é muito semelhante a do
princípio anterior: o que os diferencia é a circunstância de o princípio da força normativa
se referir à Constituição globalmente considerada e o da máxima efetividade relacionar-
se, sobretudo, aos direitos fundamentais.
O princípio da máxima efetividade (ou da eficiência) apresenta-se, pois, como um apelo,
para que seja realizada a interpretação dos direitos e garantias fundamentais de modo
a alcançar a maior efetividade possível, de maneira a otimizar a norma e dela extrair
todo o seu potencial protetivo.

Princípio da conformidade funcional ou justeza


Sabe-se ser tarefa da Constituição fixar a estrutura política organizacional do Estado,
estabelecendo as atribuições dos Poderes. Manter intacto o panorama de competências
tal qual engendrado pela Carta Maior é imprescindível à própria continuidade do projeto
constitucional.
É nesse contexto que o princípio da conformidade funcional ou justeza objetiva impedir
que os órgãos encarregados de realizar a interpretação constitucional cheguem a um
resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório funcional estabelecido
pela Constituição, sob pena de usurpação de competência.
Um exemplo que corriqueiramente é trazido à baila como expressão de mau uso do
princípio é a suposta mutação constitucional que atingiria a norma constante do art. 52,
X da CF/88, transformando a atribuição do Senado Federal- de suspender a execução da
lei declarada inconstitucional pelo STF, ampliando os efeitos da decisão de "inter partes"
para "erga omnes" - em competência do Supremo Tribunal Federal, restando ao Senado,
tão somente, a tarefa de conferir publicidade à decisão emanada da Corte.

Os métodos de interpretação da constituição são:

Método jurídico ou hermenêutico clássico


A constituição é lei, e como tal deve ser interpretada. Deve-se buscar a sua real intenção
a partir de elementos históricos, gramaticais, finalistas e lógicos.
Método tópico-problemático
Parte-se de um concreto para a norma. Tem por fundamento os aspectos práticos e não
o texto em si.

Método hermenêutico-concretizador
O objetivo desse método é, após a verificação do texto constitucional em seu conjunto
e, portanto, de uma analise previa, concretizar a aplicação da norma ao caso prático.

Método científico-espiritual
A analise interpretativa do texto constitucional não pode se ater as letras, deve levar em
conta os verdadeiro valores que estão por trás das normas constitucionais.

Método normativo-estruturante
O texto literal deve ser analisado de acordo com a realidade social.

PODER CONSTITUINTE
Pode ser conceituado como o poder de estabelecer um novo ordenamento jurídico, por
meio da criação de uma nova constituição ou pela modificação das regras existentes.

DISTINÇÃO
É importante distinguir o poder constituinte dos poderes constituídos. Ele é o poder que
elabora a Constituição, não devendo ser confundido com aqueles, que são o Executivo,
o Legislativo e o Judiciário. Estes são instituídos pela Constituição, obra do poder
constituinte, que poderia optar por outros, como já ocorreu no Brasil-Império, com a
previsão de um quarto poder, o Moderador. O poder constituinte está acima dos
poderes constituídos, não devendo ser confundido com nenhum deles.

ORIGEM
A ideia de uma Constituição como fruto de um poder distinto, do poder constituinte,
que elabora uma nova ordem constitucional para o Estado, é do Abade Sieyès, que, às
vésperas da Revolução Francesa, escreveu o panfleto “O que é o terceiro Estado?”.

ESPÉCIES
O poder constituinte pode ser dividido em originário e derivado.

• PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO, DE 1º GRAU OU GENUÍNO


É o poder que elabora uma nova Constituição. Estabelece uma nova ordem jurídica
fundamental para o Estado em substituição à anteriormente existente.
Natureza. Trata-se de um poder de fato, de caráter absoluto, pois não está condicionado
a qualquer limitação de ordem jurídica. É ele que vai estabelecer a ordem fundamental
do Estado.
Características. O poder constituinte originário é: a) inicial, pois dá origem a uma nova
ordem constitucional, não se fundando em qualquer outro; b) ilimitado ou autônomo,
já que não está submetido a nenhuma ordem jurídica, podendo dispor sobre qualquer
assunto; c) incondicionado, pois não tem fórmula preestabelecida para sua
manifestação.
• PODER CONSTITUINTE DERIVADO, DE 2º GRAU, SECUNDÁRIO, RELATIVO OU
LIMITADO
É o poder de modificação da Constituição, bem como o poder do Estado-Membro de
uma Federação de elaborar sua própria Constituição. Abrange tanto o poder
constituinte de reforma como o poder constituinte decorrente.
Natureza. Trata-se de um poder de direito, pois instituído pelo poder constituinte
originário. Deve manifestar-se de acordo com as limitações previstas na Constituição.
Características. O poder constituinte derivado é: a) subordinado, pois se encontra
abaixo do poder constituinte originário, limitado por este. A atual Constituição, por
exemplo, estabelece que certos assuntos não podem ser modificados, as denominadas
cláusulas pétreas (CF, art. 60, § 4º); b) condicionado, uma vez que deve manifestar-se
de acordo com o preestabelecido pelo poder constituinte originário. A atual
Constituição, por exemplo, determina o procedimento exigido para a aprovação de uma
emenda à Constituição (CF, art. 60 e parágrafos).
Espécies: poder constituinte derivado de reforma ou reformador e poder constituinte
decorrente;
• O poder constituinte derivado de reforma ou reformador é o poder de
modificação das normas constitucionais. A atual Constituição brasileira
estabelece duas formas de alteração, por intermédio de emendas à Constituição
e pela revisão constitucional. Emendas à Constituição são modificações de certos
dispositivos constitucionais, exigindo-se para aprovação maio ria de 3/5 em
ambas as Casas do Congresso Nacional, em dois turnos de votação (CF, art. 60).
Pelo processo de revisão constitucional houve possibilidade de ampla alteração
do texto constitucional, exigindo-se somente a maioria absoluta dos membros
do Congresso Nacional, em sessão unicameral (ADCT, art. 3º). A revisão
constitucional brasileira já foi realizada, cinco anos após a promulgação da
Constituição de 1988, conforme estabelecido pelo poder constituinte originário.
• Quanto ao poder constituinte decorrente, é o poder do Estado- -Membro de uma
Federação de elaborar sua própria Constituição. A atual atribui esse poder
constituinte aos Estados Federados em seu art. 25, estabelecendo os limites e a
forma de manifestação no art. 11 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias — ADCT. Cada unidade da Federação possui a sua Constituição
Estadual. O poder constituinte decorrente não foi estendido pela atual
Constituição aos Municípios, que se regem por leis orgânicas aprovadas pelas
respectivas Câmaras Municipais (CF, art. 29, caput).

TITULARIDADE
Observa Luís Roberto Barroso que o debate acerca da titularidade do poder constituinte,
na teoria constitucional, não tem por objeto a descrição da força material que o exerce,
mas a sua valoração ética. Segundo Dalmo Dallari, da própria noção de Constituição
resulta que o titular do poder constituinte é sempre o povo. Porém, como aponta Celso
Bastos, titular também do poder constituinte pode ser uma minoria, quando o Estado
terá então a forma de aristocracia ou oligarquia. Por essa razão, alguns autores fazem
uma distinção entre titularidade e exercício do poder constituinte. Segundo essa
concepção, o titular seria sempre o povo, mas o seu exercício poderia ser atribuído
somente a uma parcela dele.
Dentro de uma concepção democrática, o titular do poder constituinte é o povo, que
elabora uma nova Constituição por intermédio de representantes legitimamente
eleitos.

AGENTES DO PODER CONSTITUINTE


São as pessoas que estabelecem a Constituição em nome do titular do poder
constituinte. Na Constituição de 1988, elaborada por uma Assembleia Nacional
Constituinte, o titular do poder constituinte foi o povo brasileiro, mas os agentes foram
os seus representantes eleitos para tal, conforme consta do próprio preâmbulo do texto
constitucional: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia
Nacional Constituinte...”.

LIMITES DO PODER CONSTITUINTE


Sempre que for feita referência a limites do poder constituinte, ela o será ao poder
constituinte derivado. O originário, como já vimos, é um poder absoluto, de fato, que
não encontra qualquer limitação de ordem jurídica. Os limites do poder constituinte
derivado são estabelecidos pelo poder constituinte originário. Podemos classificar esses
limites dentro dos critérios a seguir expostos.

• LIMITES CIRCUNSTANCIAIS
Certas Constituições não podem ser alteradas em determinadas situações de
instabilidade política. Pretende-se que qualquer alteração da Constituição ocorra em
plena normalidade democrática, sem qualquer restrição a direitos individuais ou à
liberdade de informação, para que as consequências de eventuais modificações do texto
fundamental sejam amplamente discutidas antes de qualquer deliberação.
Exemplos: a) a Constituição brasileira de 1988 não admite emendas na vigência de
intervenção federal, estado de defesa ou estado de sítio; b) a Constituição francesa não
permite modificações com a presença de forças estrangeiras de ocupação em território
francês. Essa norma é fruto da história francesa, que teve a sua Constituição desfigurada
durante o período de ocupação nazista.

LIMITES MATERIAIS
Determinadas matérias não podem ser objeto de modificação. São as denominadas
cláusulas pétreas, o cerne fixo da Constituição, a parte imutável do texto constitucional.
Exemplo: todas as Constituições brasileiras de 1891 a 1946 proibiam qualquer emenda
visando a alteração tanto da República como da Federação. A atual retirou das cláusulas
pétreas a República, estabelecendo a realização de um plebiscito em que o povo pôde
optar livremente por ela como forma de governo preferida. Por outro lado, inseriu, além
da forma federativa de Estado, três outras cláusulas pétreas, o voto direto, secreto,
universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais (CF,
art. 60, § 4º). Essas limitações materiais podem ser explícitas ou implícitas. As primeiras
são as que já vêm enunciadas na própria Constituição, as já mencionadas cláusulas
pétreas. Implícitas são as que decorrem do sistema constitucional, como as que
estabelecem o processo de alteração de normas constitucionais, as que fixam as
competências das entidades federativas etc.
LIMITES TEMPORAIS OU FORMAIS
Certas Constituições não podem ser modificadas durante certo período após a sua
promul gação ou só admitem a aprovação de alterações de tempos em tempos, de
forma espaçada. Exemplo: a Constituição brasileira do Império, que admitia qualquer
alteração somente quatro anos após a sua promulgação.

LIMITES PROCEDIMENTAIS
A própria Constituição estabelece o rito a ser seguido para sua alteração. Esse
procedimento deve ser rigorosamente obedecido, sob pena de inconstitucionalidade
formal da norma aprovada.

LIMITES IMPLÍCITOS OU INERENTES OU TÁCITOS


Além dos limites explícitos anteriormente mencionados, há limites materiais implícitos
ao poder constituinte derivado, decorrentes dos próprios princípios adotados pela
Constituição. Esses limites também são denominados inerentes ou tácitos. Como
exemplos, a doutrina aponta: a) os concernentes ao titular do poder constituinte; b) os
referentes ao titular do poder reformador; c) os relativos ao processo de emenda. Como
ensina José Afonso da Silva, essas restrições se justificam por razões lógicas: “se
pudessem ser mudadas pelo poder de emenda ou ordinário, de nada adiantaria
estabelecer vedações circunstanciais ou materiais”.

PODER CONSTITUINTE DIFUSO


Há autores que sustentam, com fundamento em Burdeau, que, além do poder
constituinte originário e do poder constituinte derivado, existe uma terceira
modalidade, o poder constituinte difuso, responsável pelas mutações constitucionais,
que são os processos informais de modificação da própria Constituição. Sem alterar o
enunciado formal, a letra do texto constitucional, modifica-se o entendimento da norma
constitucional. A titularidade do poder constituinte permanece sendo do povo, mas é
exercido pelos órgãos do poder constituído, por meio de interpretação administrativa
ou judicial, leis e costumes.

FENOMENOS QUE OCORREM COM A ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA


CONSTITUIÇÃO

• RECEPÇÃO NO DIREITO CONSTITUCIONAL


Sempre que promulgada uma nova Constituição, surge a questão de aproveitamento do
ordenamento jurídico infra constitucional vigente sob a anterior. A legislação
infraconstitucional que estiver em conformidade com a nova ordem constitucional é por
ela recepcionada, admitida como válida.
A legislação infraconstitucional, ao ser recepcionada pela Constituição, recebe a
natureza que a nova ordem constitucional reservou para a matéria. Exemplo: a atual
Carta exige que diversos dispositivos relativos à ordem tributária sejam regulamentados
por lei complementar. Esses dispositivos, que constam atualmente do Código Tributário
Nacional, elaborado como lei ordinária na vigência da Constituição anterior, foram
recepcionados na nova ordem constitucional como legislação complementar.
• REPRISTINAÇÃO NO DIREITO CONSTITUCIONAL
Ocorre o fenômeno da repristinação quando uma lei volta a vigorar, pois revogada
aquela que a revogara. A Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 2º, § 3º, veda
expressamente a repristinação: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se
restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência”. Também não se admite o
fenômeno da repristinação no direito constitucional, salvo se houver expressa previsão
no texto da nova Constituição. A legislação infraconstitucional revogada pela vigência
de uma Constituição não se restaura pelo surgimento de uma nova Lei Maior.

• DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
A desconstitucionalização seria a possibilidade de recepção pela nova ordem
constitucional de dispositivos da Constituição anterior como legislação
infraconstitucional. A ordem constitucional brasileira não admite esse fenômeno. A
edição de uma nova Constituição importa na revogação total da anterior, havendo a
possibilidade somente de manutenção de dispositivos infraconstitucionais que sejam
compatíveis com a nova ordem constitucional.

• “VACATIO CONSTITUTIONIS”
É o período de transição entre uma Constituição e a outra. Em regra, ao ser elaborada,
promulgada e publicada, a nova Constituição entra em vigor imediatamente.
Em tese, pelo instituto da “vacatio constitutionnis”, é o período de tempo entre a
publicação de uma nova Constituição e a sua entrada em vigor. e a sua entrada em vigor.

Pós-aula
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES DA DISCIPLINA:
22/02/2022 - AULA 03 – CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

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