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~~VISTA
PUBLICAÇÃO MENSAL
TURISMO
DE TURISMO, PROPA-
PROPRIEDADE DA EMPREZA DA "REVISTA DE TURISMO»
GANDA, VIAGENS ,
NAVEGAÇÃO, ARTE ANO VI 5 DE OU f UBRO 1921
E LITERATURA D D D II SERIE N. 0 11~

DIRECTOR : AGOSTINH? LOURENÇO li REDACTOR PRINCIPAL: GUERRA MAIO


SECRETARIO: JOSE LISBOA EDITOR: F. FERNANDES VI LLAS
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: LARGO BORDALO PINR.EIRO, 28 - T&LEFON! 2337 CENTRAL

iiiii 11 iiiiiliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiíiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii 11 iiiii


FED E R AÇÃO HOTE L E IRA
UM GRANDE DESIDERA TUM

C OMO toda a gente sabe e nós basta-


mente o temos repetido n'estas co-
lumnas, a industria da hotelaria tem um
- Para quê servirá haver um bom ho-
tel n'um sitio que seja absolutamente ina-
cessivel?
primacial papel no desenvolvimento do - Que proventos poderá tirar um bom
turismo. hoteieiro, do estabelecimento que lhe me-
A ela poderá caber a gloria d'um
grande exito na atração dos visitantes,
rece os maiores cuidados, se na localidade
onde ele estiver situado não houver atra-
,
quer nacionaes, quer extrangeiros, assim ção alguma?
como se lhe deve atribuir a responsabili- - Quaes as vantagens que se poderão
dade maxima no insucesso que se possa extrahir da imobilisação d'importantes ca-
registar, sobretudo nas localidades classi- pitaes - como a que demanda o estabe-
ficadas de pontos de turismo, como, tam- lecimento d'um bom hotel - se em seu
bem, nas estancias de cura e de repouso. torno não houver, em paralela exploração,
Porque, é preciso que todos comprehen- as industrias complementares, isto é: os
dam que a missão dos boteis, muiro prin- divertimentos que atraiam no local ou nos
cipalmente nas localidades que se im- pontos visinhos facilmente acessíveis cuja
põem ou pela beleza e valôr dos seus notoriedade se recomenda ?
monumentos historicos, ou pela excelen- E' claro que, apreciando-se estes pontos
cia das suas condições climatericas, das de vista e outros que seria fastidioso enu-
suas especiaes aguas ou, ainda, pelo ine- merar, se reconhece a natural e imediata
dito das paisagens que as cercam, não necessidade da constituição, pelos interes-
deve resumir-se a, simplesmente, propor- sados, d'um forte agrupamento que repre-
cionar aos hospedes um maior ou me- sente valor e decisão, impondo-se, se tanto
nor numero de confortos. E' egualmente fôr preciso, para a satisfação dos seus
necessario que os hoteleiros se preocupem desejos. que sob uma criteriosa orientação,
com as comodidades que possam oferecer nada mais podem representar do que a
os sítios onde teem instalada a sua indus- efectivação de directas e imediatas vanta-
tria, muito principalmente para que ela gens em proveito das proprias localidades
seja verdadeiramente rendosa. e em beneficio geral.

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REVISTA DE TURISMO 5 DE OUTUBRO
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Ora esse agrupamento só pode ser a inadiavel a adopção de recursos para a
Federação Hoteleira, que nos paizes ex- defeza d'interesses de classe, que, sob os
trangeiros, mórmente na Suissa, tão ex- pontos de vista apontados, se prendem
plendidos resultados tem dado. com os interesses geraes da nação, um
Em o nosso paiz, muito especialmente, caminho apenas se nos apresenta com a
a existencia d' esse organismo torna-se maxima viabilidade e com a maior ga-
cada vez mais necessaria, tanto mais que rantia d'exito: - é a constituição da Fe-
de dia para dia, mais se vae fazendo deração Hoteleira.
sentir a falta d'uma direção, oficial e su- Isso depende simplesmente dos proprie-
perior, na exploração das industrias que tarios dos hoteis, e a ação oficial em
se prendem com o progresso do turismo nada mais, por emquanto, se pode n'ela
em todos os ramos que a ele dão sêr e, fazer sentir, do que na aprovação dos res-
ainda, d'uma entidade, dependente d'esse pectivos estatutos, visto tratar-se de ·uma
organismo oficial, que fiscalize, que pro- associação de classe.
mova a ação directa, que concretise, ani- E' este um problema que deixamos ao
me e incite os esforços dos mais interes- estudo dos nossos hoteleiros.
sados na exploração do turismo. A idéa está exposta d1um modo geral.
Ora, para se chegar a esse desideratum, A eles resta aprecial'a nos seus funda-
precisava-se de revêr e remodelar a legis- mentos e nos seus resultados, e em se·
lação sobre tudo quanto diga respeito ao guida, agir.
turismo em Portugal, desde a constituição Não deixaremos o assumpto de mão:
dos serviços oficiaes até ao limite maximo e ser-nos·ha muito agradavel se a Revista
onde se devia efectivar a sua acção. Como, de Turismo puder prestar o seu concurso
porém, isso não é facil de suceder com a para a efectivação d'esse importante desi-
rapidez que os factos vão requerendo; e deratum.
como, por outro lado, se torna realmente JosÉ LISBOA

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EXCURSÃO AO ALGARVE

IMPRESSÕES DE ///AGEM
EM AYAMONTE

N
r
o dia em que passámos em Aya-
monte, choveu. Isso nos levou ao
convencimento de que a chuva cae em
Cada un~a possuia o seu par de casta-
nholas, que fazia estalar com inegualavel
agilidade; e emquanto duas d' elas, uma
Espanha como em Portugal - do Ceu em face da outra, exhibiam, com infantil
para a Terra. Era, porém, uma chuvasi- salero, algumas danças andaluzas, a ter-
nha irritante, d'aquela que molha tôlos ceira, acompanhava com castanholas e
quando estamos em casa. canções da região os volteios ageis e gra-
Esse contratempo obrigou-nos a uma ciosos que as duas pequenitas executavam.
imobilidade, que, todavia, aproveitámos D'ahi nos proveiu o conhecimento de
para vêr umas pequenitas dançando de- que as danças espanholas passam de paes
baixo da arcada d'um predio lateral ao para filhos e assim sucessivamente.
jardim publico. As vozes porém eram rouquenhas, e
Eram tres. Qualquer d'elas não tinha não destoavam do diapasão de tantas ou-
mais de 12 anos. trns que ali. ouvimos.

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•.. E se fossemos a aquilatar a entoa- Entrámos depois n'um estabelecimento


ção das falas visinhas pelas amostras das para comprar alg umas lembranças, obtendo
vozes femininas de Ayamonte, diríamos ahi a confirmação da forma atrahente como
que em Espanha, principalmente as mu- n'essa pequena vila sab.em comercialisar.
lheres, se exprimiam. . . pelas fossas na- Tendo apenas em mira trazer simples
saes. recaerdos, pouco faltou para comprarmos
Sabemos, todavia, que no paiz da ma- a loja em pezo, com o dono, a dona, os
zanilla ha vozes tão delicadas que che- caixeiros e tudo.
gam a confundir·se com gorgeios de mi-
c:x::ia=
mosas aves - cantando e falando •••
=a=
Depois d'um opiparo almoço em que
Manolo mostrou uma vez mais a sua
Ficámos uma noite em Ayamonte, n'uma
f onda que nos ofereceu um quarto de-
cente, amplo, com boa luz, vinda por uma
larga janela sobre uma das calles princi-
paes e que abundantemente arejava o
com partimento.
Interessava-nos ouvir a cantiga dos se-
renos, tão habitual nas terras espanholas;
mas o somno, mais poderoso que o nosso
desejo, envolveu-nos no completo descanço
em que nos mantivemos até o raiar das
oito da manhã seguinte.
Aproveitámos ainda esse quarto d'alva
para visitarmos o mercado, cujo movi-
mento nos interessou, tal a quantidade de
gente que n'ele fazia as suas provisões
para o dia.
A' sahida em um dos lados d'esse edi-
ficio - modesto e sem nada de nota vel -
deparámos com um quadro interessante :
um homem gordo, vestido de cosinheiro,
alvo avental e branca boina, fritava, em
gordura ardente n'um grande certã, uma
massa enroscada, que fazia sahir d'uma AYAMONTE-No Caes de embarque
enorme seringa.
Prendeu-nos, sobretudo, a atenção, a grande arte de atrahir, deixámos essa vi-
forma agi! como esse homem, apenas com lasita espanhola, d'onde trouxemos boas
duas varinhas sobrecompridas, fazia mover recordações, avivadas n'uma muito afec-
a farinha enrolada como um chouriço sem tuosa despedida no caes.
fim, ora impelindo-lhe um movimento ro- Largámos para Vila Real, tendo feito a
tativo, ora voltando-a para córar do lado travessia n'uns rapido's minutos, dentro
que estava para cima. d'um veloz gazolina.
Achámos curiosa e pitoresca essa fa- Chegados que fomos ao extremo da bela
brica de fartaras, que los gaaçons com- Terra Portugueza, atravessamol'o rapida-
pravam depois por uma perra chica, pa- mente, para que o confronto não nos con-
ga a uma velhota bem humorada e duzisse á tristeza que queríamos séparada
chistosa, que, n' uma banca ao lado do de nós.
interessante cosinheiro, ia dispondo com Embarcámos ahi no comboio a sahir
atractivo, o pro_ducto acabado de cosinhar. para Faro, onde horas depois desembar-

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cavamos e tomávamos o caminho do nida, e encaminhámo-nos para o theatro,
Grande Hotel. onde o ruido sonoro e continuo d' uma
D'este edificio já nos ocupámos desen- quezilenta campainha, convidava os pas-
volvidamente n'esta Revista, motivo por- seantes a assistirem ao espectaculo de
que apenas registamos agora a confirma- variedades que então se exhibia ali.
ção das boas impressões que nos deixou Fomos na onda, para p,a ssar a noite e
a visita que especialmente lhe fizemos. conhecermos o theatro, onde por certo
Como eram horas de jantar, fomos teriamos ocasião de vêr mais de perto
ocupar o nosso logar na sala de refeições, uma parte da população farense.
já reanimados com a limpeza a que nos ..• E não perdemos o nosso tempo,
havíamos imposto. porque alguma coisa d'interessante se nos
Soube-nos bem esse repasto, já por ser mostrou á nossa apreciação.
em a nossa Terra, já pelo conforto espi-
ritual e physico que nos rodeava. E' claro que não pudemos fazer uma
E não passou despercebido esse nosso completa idéa da beleza das mulheres e
ar de burgaezes endinheirados a alguns das subtilezas que possam distinguir a
dos comensaes, que nos inquiriram com raça feminina algarvia da das outras pro-
olhares cheios de curiosidade. víncias portuguezas.·Mesmo isso é uma coi-
Constatámo-lo e achámos graça. sa dificil porque, em Portugal, todas as
Depois de jantar demos uma volta na mulheres são belas, lindas, na acepção ma-
cidade, que achámos bem iluminada - xima da palavra e - sobretudo originaes
relativamente. - cada uma de per si (bem entendido).
Estava uma noite amena, e a brisa que . .. A bon entendeur, salut . ..
vinha do levante era suave.
Estendemos as pernas pela grande ave- A. L.

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CARTAS DE PARIS
Os Pyreneos - l uchon e Superbagners -
Calor extenuante - Vernet les Bains e o
Hotel de Portugal - Um caminho de ferro
electrico impressionante - Font-Romeu e o
seu grandioso Hotel

regresso de Portugal, tin~a no meu


D E
programa uma nova viagem aos
Pyreneos, que já visitára ha dois anos,
tanhas rodeiam n'um grande abraço de
verdura.
Os hoteis sucedem-se em todas as por-
mas onde não tinha podido então vêr tas, parecendo não haver ali outras casas
tudo, principalmente a parte da Cerdanha, onde se viva senão boteis e pensões.
que é uma das mais interessantes. O balneario, vasto e moderno, abre para
A primeira detenção foi, pois, em Lu- um extenso parque, onde ha duas arvores
chon, a Rainha dos Pyrelleos, deliciosa de tão largo tronco que seis homens di-
estação d'aguas, assente no pequeno pa- ficilmente as abraçam.
tamar de um estreito vale, que altas mon- Para o turista, porém, a maior atração,

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é o ascensor a Superbagners, a 1.800 o andar do comboio, como se fosse uma
metros de altitude, e que um comboio fita cinematographica, fazia desenrolar aos
electrico em cremalheira, vence em 45 mi· nossos olhos, admirados d' essa sensação.
nu tos. Narbonne e Perpigna.n ardiam tambem
A ascensão é impressionante, ora nos sob este torrido calôr. Uma paragem em
deixando ver derramada, no fundo do qualquer d'elas era impossível.
vale, a cidade, ora nos mostrando os Fugimos para Vernet-les-Bains, Paraiso
vastos vergeis da montanha, sempre com dos Pyrmeos, dizem. Não é, porém, um
novos aspectos. exagero. A famosa estancia, na sua· pa-
Lá no alto, está-se ultimando um gran- catez e no verde pujante do seu arvore-
dioso Hotel, pertencente á Companhia dos do, tem qualquer coisa de Paraíso.
Hoteis de Montanha, na qual a Compa- Logo á chegada tivemos uma surpreza
nhia do Midi é grande interessada. agradavel: vimos um carro com uma pe-
Este hotel é destinado a receber os hos- quena taboleta, onde se lia o nome do
Hotel Portugal. Não hesitá-
mos. Tomámos Jogar no car-
ro e para lá nos dirigimos.
E' o melhor hotel da es-
tancia.
Tem um luxo moderno e
um conforto superior.
Situado no meio d'um ex-
tenso parque onde a agua
canta na sua doce queda em
bacias de pedra; o Hotel
Portugal oferece um amt.
biente onde se respira qual-
quer coisa de frescura, que
n'aquele momento bem apre-
ciámos.
Viemos depois a saber que
VERNET LES BAINS- Grande Holel de Portaid esse bom estabelecimento,
bem como o balneario, são
pedes da estação de verão e os que ali forem pertença da casa Burnay, de Lisboa, e que
por motivo dos desportos d'inve1:no sobre o antigo chefe d' essa casa, o falecido Con·
a neve. de de Burnay, tinha por Vernet-les-Bains
O panorama é surprehendente, sobretudo uma grande sympathia.
para os lados de Hespanha, de que se A estancia tem um aspecto tranquilo e
a vista uma cordilheira escarpada. de repouso que parece feito para neuras-
Dois dias em Luchon era bastante. Parti, tenicos, ou para aqueles que, fartos da vida
de lá, porém, com saudades. intensa das cidades, procuram no silencio
Quiz parar em Toulouse, mas o calor a cura dos seus males.
esbraseante que tinha feito nos ultimos Não é, porém, só para esses, pois lá en-
dias convidou-me a contemplar-lhe de longe, contrámos, tambem, gordos eclesiasticos
apenas, a torre esguia da sua cathedral. hespanhoes, que passavam as tardes sob
Por isso dirigi-me para a montanha, onde as arvores lendo o seu breviario, mas não
o sol não queimava tanto. muito afastados dos risos mundanos dos
jogadores de tenis .••
=o=
c=o=
Passado Carcassone, o sol ardentíssimo,
tingia d'um rubro vivo os vinhedos que No dia seguinte parti para Font-Romeu.

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·- -
5 DE OUTUBRO
REVISTA DE TURISMO
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O comboio electrico encarrapita-se pela MARINHA MERCANTE NACIONAL
montanha, na estreiteza do vale, onde um
ribeiro, formando deliciosa cascata, vae Navegação para o Brazzt
fugindo por entre penedos mais brancos
que o marmore. São duas horas de as- EMdovirtude do sucesso alcançado com a linha
Brazil, os Transportes Marítimos do Es-
censão. O comboio enfia por séries infin-
tado resolveram fazer duas carreiras mensaes
. daveis de tuneis, deixando-nos gosar, nos entre Hamburgo, Lisboa e America do Sul, uma
intervalos, o rio que nos aparece ao fundo de carga e outra de passageiros.
das . vertentes, dando-nos a idéa de que Na primeira são empregados os vapore$ lnham-
nos quere atrahir. bane, Gôa, Fernn.o Veloso, Peniche e Cunéne, e
na segunda utilizar-se-hão os paquetes Traz-os-
Atingido porém Mont-Louis, a linha en- Montes, Porto e Lourenço Marques.
tra em declive, mostrando-nos o panorama Para a linha do Norte do Brazil, em virtude
incomparavel da Cerdanha, que se alonga da crise que estes estados atravessam, continua-
n'um extenso vale, e que vae até Puig- rão os paquetes Lima e S. Jorge, e o vapor Sa-
cerda, primeira terra de Hespanha, e onde
cavem. ·
Para se poder avaliar bem qual o sucesso da
,em breve, vae passar o caminho de fe"rro nossa navegação para o Brazil, basta dizer que,
electrico de Toulouse a Barcelona. apezar da irregularidade das carreiras e da sua
Subamos porém ao Grande-Hotel de grande concorrencia, os vapores portuguezes con-
tinuam a ser preferidos, navegando sempre abar-
Font-Romeu. rotados de passageiros e de carga
Um omnibus leva-nos em 10 minutos. Na sua ultima viagem o vapor Lima trouxe do
Tudo ali é sumptuoso. Brazil 560 passageiros, emquanto que o Alban
O atrio é digno d'uma moradia real. O da Booth-Line, trouxe apenas para Lisboa 39.
E' bem este um frisante exemplo.
salão de jantar, o salão de fumo, a sala Além d'isso ha que registar que d'aqueles 560
das senhoras, deixam a perder de vista passageiros apenas 150 vieram por conta dos con-
os luxuosos boteis de Nice e Monte- sulados portuguezes no Brazil.
Carlo. Começa, emfim, a realizar-se a idéa que a Re-
Subamos ao quartos ; o gerente do ho-
vista de Turismo tem defendido desde a sua
tel, apresentadas as credenciaes, acompa- .
fundação, com o maior interesse.
nha-nos. Pelos corredores fóra nota-se um CVapor •:Machico•
ar grandioso, se bem que tudo respira
simplicidade. Q vapor Machico, dos T. M. E. ex-alemão
Colmar, que era um magnifico barco de
Os quartos, teem todos duas camas,
dois lavatorios, para que os hospedes que carga, de 6.146 toneladas brutas, tendo sido
construido em 1912, acha-se sofrendo uma grande
não queiram esperar, se possam lavar os transformação afim de ser exclusivamente utili-
dois ao mesmo tempo. zado no t~ansporte de passageiros.
Mas, além d'isto, ha duche privativo, As camaras, que terão todo o conforto e como-
aparelho para limpar as botas, cortar as didades exigidas em paquetes de luxo, ficarão
com 162 logares de 1.11 classe, 120 de segunda e
unhas e outro utensilios de aplicação par- 70 de terceira.
ticular. Esta importante obra obedeceu á idéa de des-
Descemos. Eram horas do comboio, a tinar este belo barco á carreira da Africa Orien-
visita estava feita. Batia porém a hora do tal, para onde deve iniciar o seu serviço no co·
meço do proximo ano.
almoço. Passámos á casa de jantar. Não Fica assim a nossa marinha mercante dotada
sei quanta infinidade de objectos inateis com mais um explendido barco.
havia sobre a mesa; quiz observar-lhes a
aplicação, mas uma coisa me reteve mais ====-== lID ==============
depressa a atenção : foram as pinturas do SOCIEDADE
friso do teto, onde um artista cheio de PROPAOANDA DE PORTUOAL
originalidade, pintou os precalços sucedi-
dos a um cosinheiro apressado. Qs socios inscriptos depois de 1 de Outubro
só pagam a quota do ano seguinte, come-
Paris, Aitosto de 1921. çando desde logo a gosar os seus direitos de
GUERRA MAIO socio.

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PRAIAS PORTUGUEZAS

PILA DO CONDE
na descripç~o que iniciá-
P ROSEGUIMOS
mos em o nosso numero passado,
sobre os beneficios com que foi dotada a
dade construida_ especialmente para esse
fim, e fica situado na esquina da Avenida
Julio Graça e rua Bento de Freitas; tendo,
bela praia de Vila do Conde. portanto, a fachada principal para o jardim
Referimo-P.os, então, ao Palace Hotel, e publico. E' um amplo edificio de dois

r ·.

VILA DO CONDE-Palau Holele Culno

d'ele démos uma larga noticia. Hoje va- altos pavimentos, sendo o rez-do-chão ocu-
mos ocupar-nos do Casino, e d'outros im- pado pelo café, pelo restaurante e pela bar-
portantes melhoramentos com que essa bearia, e o primeiro andar pela assembleia.
praia foi dotada. A entrada para esta faz-se por uma
O Casino acha-se instalado em proprie- larga portaria, ao fundo da qual ha uma

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elegante escada que se biparte para o gando até altas horas. Ha concertos á
andar superior, terminando n'uma galeria tarde e á noite, durante a epoca.
que dá acesso ás diversas salas. Em geral, todos os anos se realisam
O )alão de baile, tem 216 metros qua- ali dois ou três grandes bailes, que atraiem
drados e uma cubagem correspondente. muitas pessoas que se acham em outras
Está bem ornamentado e mobilado, ofe- praias, como a Foz, Espinho, Granja e

VILA DO CONDE-Jardim Publico

recendo o aspecto agradavel que se im· Povoa de Varzim, porque as grandes fes-
põe pela sua vastidão. A seguir e em li- tas:no Casino de Vila do Conde marca-
gação com essa sala, ha outras, egualmente ram em todos os tempos, por uma espe-
boas, onde se acham o bufete, as mezas cial distinção e por um cunho de sugestiva
para jogos de vasa, secretarias, mezas de alegria e de comunicativo bem-estar que
leituras, etc. A outro lado fica o salão de em qualquer outra praia dificilmente cau-
reuniões, delicadamente ornamentado e com sam enthusiasmo.
um mobiliario adequado ; e a sala das se- N'uma das ruas principaes acha-se ins-
nhoras, decorada a «marfim>, cuja mobí- talado o belo theatro, que se chama «Afonso
lia obedece ao mesmo tom. Sanches>, em homenagem ao fundador
De dia, a natural Jluminação que lhe do Convento de Santa Clara.
provem das suas amplas e inumeras ja- O seu edificio é de aparencia sobria, da-
nelas, dá-lhe um belo aspecto de alegria; tando a sua construção de 1898.
á noite, a luz electrica, distribuída profu- Presentemente foi reformado e sensivel-
samente, torna-o um quadro de atrahente mente melhorado.
pheerismo. Fica situado na rua Bento de Freitas,
E' este um dos sitios mais predilectos muito proximo do bairro balnear e de
da colonia balnear, que n'ele passa agra- muito facil acesso.
daveis horas da tarde, e se diverte todas No sul do jardim publico, que se en-
as noites, dançando e conversando ou jo- contra n'este bairro, ha um belo campo

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~==::=;=============== Cl
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de lawn-tennls, ladeado por frondosas ar- Falta-nos fazer referencia ao balneario,
vores que proporcionam uma agradavel simples e sobrio, mas instalado de har-
sombra aos assistentes. monia com as regras da moderna hygie·
Vila do Conde oferece a dupla facili- ne. N'ele são fornecidos. banhos quentes
dade de se tomarem banhos no Rio Ave, e frios, salgados e doces, nas suas diferen-
ou no Oceano Atlantico, em bela agua tes aplicações.
batida e clara, que rebenta suavemente na São estes os beneficios mais em evi-
praia vasta e livre. dencia e que proporcionam ao visitante a
A sua extensão marca-se desde a Foz confiança de se poder demorar n'essa
do Ave até Povoa de Varzim, descrevendo praia, entretendo as suas horas de ocio na
uma larga bahia por onde a vista se perde visita ás preciosidades historicas que ali
em agradavel extasis. carinhosamente se encerram, taes como
A praia fica inferior ao nivel da terra, a casa da Camara, original edificação qui-
dominada, por assim dizer, no prolonga- nhentista; o pelourinho que lhe fica fron-
mento do bairro balnear, por uma explen- teiro, no jardim Vasco da Gama; a esta·
dida avenida, que d'aqui a algum tempo ção agrícola ; a linda e rica egreja matriz;
será, sem duvida, um passeio favorito dos as egrejas da Misericordia, da Ordem Ter-
banhistas. ceira e da Lapa; a memoria fronteira ao
Do lado em que essa Avenida confina novo hospital da Misericordia; o archaico
com a terra, possue a Companhia Portu- Con\'ento de Santa Clara; o Castelo; as
gueza de Turismo uma extensa area de poeticas margens do Ave ; a ermida da

VILA DO CONDE- Casa Minhota

terreno, destinada a edificações que teem Senhora da Guia, e tantos outros motivos
de obedecer ao estylo regional. e passeios em que Vila do Conde é fertil
As condições da vida presente não se para atrahir com encanto os seus visitantes.
compadecem com a exigencia da conclu- D' essa bela praia, além de bastas recor-
são d'essa importante obra que, depois de dações espirituaes de indizível sabor, po-
prompta, representará para Vila do Conde dem trazer·se egualmente recordações ma-
um patrimonio d' altissimo valôr, tornando-a teriaes, principalmente em rendas de bilros,
certamente a mais interessante praia por· cujo fabrico constitue uma das suas pre-
tugueza. ciosas industrias.

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E' tambem interessante a industria das CASTELO DE GUIMARÃES
construções navaes, onde se emprega uma
grande parte da sua população indigena.
UM GRAVE PERIGO
Emfim, esta nossa descripção constitue
um esboço feito a largos traços, porque o
SosdaesteManhl!
impressionante titulo inseriu o Correio
de quarta feira 21 do mez pas-
seu relêvo fica muito áquem da realidade, sado, a noticia que transcrevemos integralmente:
que só pode ser verdadeiramente apreciada •A direção geral de Belas Artes solicitou do
por quem passar ali pelo menos, uns «.Ministerio da Guerra que -seja urgentemente
quinze dias, que em menos
não se pode gozar toda a
excelencia que essa boa terra
portugueza oferece a quem
a visita.
Antes de terminarmos, im·
põem-se-nos umas rectifica-
ções: o sr. Dr. Alberto Tho-
maz David, que citámcs co-
mo actual Administrador da
Companhia Portugueza de
Turismo, faleceu recente-
mente, tendo sido a sua
vaga preenchida pelo sr.
Julio d' Almeida Ribeiro.
Uma gralha typographica
fez com que tivessemas dado
o nome de Silva Amarante VILA DO CONDE-Tumulo do fundidor d& vila
ao sr. Antonio Teixeira da
Silveira Amarante, que é um dos actuaes «retirado do Castelo de Guimarães o paiol da
administradores delegados da mesma Com- upolvora ali instalado perto do ponto em que
«termina a parte do antigo pára-raios, por isso
panhia e á qual ele consagra os seus r!le- «que põe em risco aquele historico monumento,
lhores esforços. «documento excepcional sob todos os aspectos.)>
Aproveitando este ensejo, aqui expres-
samos ao mesmo senhor o nosso sincero E' a confirmação oficial da, divulgação que
reconhecimento pelas amabilidades e defe- fizemos 110 artigo de fundo do nosso anterior nu-
rencias que nos dispensou por ocasião da mero e da incuria manifestada em todos os nos·
sos serviços oficiaes.
nossa visita a Vila do Conde, extendendo Aquele facto constatámos n6s.
tambem o nosso agradecimento ao habi- Quantos crimes, porém, semelhantes aquele,
lissimo gerente do Palace Hotel, sr. José se terão perpretado em outros preciosos monu-
Wissmann a quem, por lapso de que nos mentos historicos, que s6 o acaso venha a denun-
ciar?
penitenciamos, chamámos Alfredo Wiss- Aquele facto leva-nos a crêr que o rei!imento
mann, na nossa anterior descripção. de fartos inspectores que se anicham em todos
os serviços publicos, apenas se manifesta por
ocasião do pagamento dos respectivos honorarios.
J. L. Seja, porém, como fõr, o que é absolutamente
indispensavel é que o Governo promova á ur-
gente e rapida mudança do paiol de polvora
Na séde da Companhia Portugueza de Tu- existente no Castelo de Guimarães, e que mande
rismo, Rua Alexandre Herculano, 236, Porto, no in~ecionar atentamente os outros monumentos
Palace Hotel e no Casino de Vila do Conde a fim de evitar a continuação de qualquer van-
vendem-se guias ilustradas d'esta praia. dalismo que, porventura, tenha sido perpretado.

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ARTE E LITERATURA

SONETO

Passou o outomno já ; já torna o frio ...


- Outomno do seu riso maguaio. ·
Algido inverno ! Obliquo o Sol, gelado ...
'
1
- O Sol, e as aguas limpidas do rio.
1
1

Aguas claras do rio! Aguas do rio,


1
Fugindo sob o meu olhar cansado,
1
Para onde me levaes meu vão cuidado ?
11
Aonde vaes, meu coraçã,o vasio ?
j

Ficae cabei/os d'Ella, fluctaando,


E, debaixo das aguas fugidias,
Os seus olhos abértos e scismando ...

Onde ides a correr, melancolias ?


- E, refractadas, longamente ondeando,
As suas mãos translucidas e frias . , .

C:AM/LLO PESSANHA

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REVISTA DE TURISMO 5 DE OUTUBRO
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eJs progressos do 'Gurismo em que se podiam constituir em unidade.


Assim, os Touring-Clubs, os syndicatos
d'iniciativa e as federações, tem nascido

S ó quem, como nós, 'se interessa por


tudo quanto respeita ao turismo mun-
dial e se entretem na leitura das revistas
como cogumelos no campo ; e todas essas
entidades se subjugam, voluntaria e expon-
taneamente, á direção superior que está
da especialidade, pode constatar quanto a concentrada nas assembleias geraes do
preciosa industria da vilegiatura está sendo turismo.
apreciada, cuidadosamente estudada e sa- E' o que se está passando no extran-
biamente explorada em todas as nações geiro.
que conhecem a excelencia d'essa indus- Porém, como isto ainda não era sufi-
tria. ciente para garantia d'uma parcimoniosa
E' comprehensivel e muito facil de exploração dos turistas mundiaes, as na-
achar-se o motivo de tanto interesse. Essa ções mais interessadas n'essa industria,
industria não demanda materia prima, por- taes como a França, a Suissa, a Belgica
que ela existe por toda a parte do globo. e a ltalia constituiram-se ha pouco em
Unicamente se torna preciso saber explo- federação, para mutuamente se auxiliarem
ral' a; o que, sendo um pouco mais difi- na troca dos seus turistas.
cil, não representa todavia uma incognita Está pois constituído o ciclo dentro do
que não esteja ao alcance de qualquer in- qual o viajant~ tem de percorrer os itine-
teligencia medianamente cultivada. rarios que lhe marcarem e de esportular toda
A formação de instituições de turismo, a soma do seu orçamento de viagem-se
veiu facilitar grandemente a resolução d'al- não se vir na contingencia de pedir um
guns problemas que se apresentavam de reforço ás reservas caseiras.
mais complexa solução, justamente pela
falta de unidade e de direcção superior. A O que é mais notavel na constituição
d'este bloco é que Portugal, paiz de tu-
dispersão de elementos vitaes anulando-se
quasi em esforços excentricos, não produ- rismo por excelenci.a, foi. • • systhemati-
zia os resultados que, com extraordinario camente excluído.
assombro, se estão manifestando como na- - Certamente por ser conhecido lá fóra
tural consequencia do movimento concen- como uma irrequieta província de Espa-
trico. nha •.•
Isto é: todos quantos se convenceram D'esta fórma, as outras nações vão-se
de que uma boa exploração da industria reconstituindo, valorisando as suas rique-
de turismo era de efeitos beneficos e pro- zas e belezas e equilibrando as suas situa-
ductivos ; mas que esses resultados só çõe::; economicas com a importação de
poderiam ser obtidos por meio d'uma na- bom oiro e com a equiparação das respec-
tural associação d'interesses; acorreram a tivas moedas n'um facil e constante inter.
submeter-se á direção da unica instancia cambio.

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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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Para se avaliar a expansão do turismo, o que é de excepcional apreço sob todos
acrescentaremos a interessante noticia da os pontos de vista.
constituição, na Syria, do Touring-Club da Isso facilita sobremaneira as curas de
Syria e do Libau. repouso para os argentarios e para os
A idéa partiu d'um antigo socio do grandes industriaes e comerciante que pelo
Touring-Club de França e fundador do seu extenuante trabalho se veem na ne-
jornal do eairo, sr. Georges Vayssié, cessidade de, frequentes e ameudadas ve-
que hoje é o proprietario e director do zes, procurarem um repouso para refazerem
importante periodico la Syrie. as forças exgotadas.
Este enthusiasta do turismo conseguiu Estamos, pois, perfeitamente no período
organisar um grupo para a fundação do da grande lucta pela vida- guerra mais
Touring-Club, sob o alto patronato do intensa que a cruel hecatombe que asso-
commissario francez, o general Gourand, lou a humanidade e que tem sido a origem
que não só aceitou o Jogar de honra que de todo o incessante movimento que domina
lhe foi oferecido, como, inclusivamente, actualmente as nações que querem viver.
prometeu efectivar o seu concurso para o
========= [§) ~=========
desenvolvimento tnaterial e moral d'esse
Paiz; gesto que, aliás, foi logo secundado
pelas entendidades mais importantes da ª Sud-Atlantzque Express))
Syria e de Libau.
Para se fazer uma idéa da importancia
que este caso tem para a França, basta
dizer que ela, pelas suas instancias compe-
C OMO foi resolvido na ultima confe-
rençia do trafego internacional, rea-
lisada em Maio passado, no Buss~o, o
tentes, está disposta a favorecer tudo quanto Sud-Express deve ser restabelecido a par-
seja possível para um rapido desenvolvi- tir do dia 29 do corrente entre Lisboa e
mento d'esse seu novo protectorado. Paris, denominando-se Sud-Atlantique
=o= Express.
Este titulo representa um especial re-
Secundando a obra eminentemente grande clamo· para o nosso Paiz, indicando assim
de todas as instituições de turismo, as que é por Lisboa o caminho mais rapido
Companhias de Caminhos de Ferro quer e curto para as nações do Atlantico do
em França, quer na Suissa, como na Sul (Africa e America do Sul).
Belgica e ainda na ltalia, promovem a rea- Este comboio partirá de Lisboa, ás ter-
lisação de importantes melhoramentos, não ças, quintas e sabados, pelo meio dia ;
só beneficiando o material de passageiros, devendo o seu regresso fazer-se, sahindo
mas, tambem, ampliando os seus horarios de· Paris ás segundas, quartas e sextas·
com maior numero de comboios rapidos feiras, ás 10,20 da manhã.
e comodos, de A1aneira a facilitar as via- Segundo está projectado, em Janeiro do
gens e a atrahir o gosto pela vilegiatura proximo ano, o Su.d·Atlantique Express
instructiva. circulará diariamente.
Por outro lado, as Companhias de Na- Não temos senão que louvar esta ini·
vegação Marítima disputam a primazia, ciativa que é digna do maior concurso
cada uma oferecendo as viagens mais ra- para que o nosso Paiz d'ela tire os me·
pidas, comodas e luxuosas por preços lhores proveitos.
relativamente economicos. ===========[§)=====::;:;:;==========
A navegação aerea progride como com- ASSIGNATURA
plemento directo do desenvolvimento ter- PORTUGAL (Cont.)-Semestre. . • . . Esc. 1$50
restre, oferecendo aos mais exigentes as Ano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esc. 3$00
comoções d'um transporte fóra do vulgar, COLONIAS-Ano... . .............. Esc. 5$00
e proporcionando os beneficios d'uma ra- EXTRANGEIRO - Ano.. .• . . . . • . . . Esc. 6$00
pida e constante correspondencia postal- Numero avulso $30 (300 réis)

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REVISTA DE TURISMO 5 DE OUTUBRO
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Aliança Internacional de Hoteis


P OR iniciativa de S. A. o Príncipe de
Monaco, realizou-se ha pouco, em
Nice, o 1.° Congresso Internacional Hote-
em pouco se lançar novamente na explo-
ração dos forasteiros.
Por isso, S. A. o Príncipe de Monaco
leiro, cujas sessões, tendo tido logar na reconhecendo, sobretudo, a inferioridade
grande sala do Museu Oceanografico que dos hoteis francezes para uma eficaz con-
Sua Alteza possue n'aquela Cidade, decor- currencia aos da Alemanha, promoveu a rea-
reram com extraordinario enthusiasmo, lização d' este primeiro congresso, certo de
achando-se n'ela representadas as nações que a sua boa diplomacia conseguia, muito
que máior interesse teem no progresso da principalmente, assegurar-se d'uma entente
industria de Turismo, taes como a Fran- entre os concurrentes, e atrahir para a
ça, a Suissa, a ltalia e a Belgica. França e para o seu pequeno Paiz as
Portugal, por uma feliz coincidencia, sympathias e o auxilio das outras nações
fez-se representar pelo sr. Alexandre d' Al- representadas n'esse Congresso.
meida, o habilissimo proprietario e director Pelos resultados obtidos, vê-se que a
dos Hoteis Metropole, Frankfort e Euro- sua tarefa foi coroada de bom exito, pois
pe, em Lisboa, e actual arrendatario do ali se instituiu a .:Aliança Internacional
Palace-Hotel, do Bussaco. de Hoteis> que representa a força maxima
A idéa que presidiu á reunião d'este ou o grande baluarte a opôr ás ambições
Congresso, foi especialmar:.te a de crear germanicas.
relações e entendimentos entre os repre-
sentantes hoteleiros das nações que dispu- Não conhecemos ainda o estatuto d' essa
tam a concurrencia, principalmente da Associação, nem os seus fins especiaes·;
Alemanha, a fim d' evitar que se renove todavia, não é de dificil admitir a hypo-
e intensifique a corrente de extran~eiros these de que tanto uns como outros ten-
que antes da guerra inundavam as suas derão, em especial, para a defeza dos inte-
estações thermaes. resses francezes.
Como é sabido, a Alemanha tinha-se Seja, porém, como fôr, esse facto re.-
aprimorado em tudo quanto se relacionava presenta um frisante exemplo de solida-
com o turismo, proporcionando os maiores riedade internacional, d'onde é possível
confortos nos seus explendidos boteis, as que nos advenha algum beneficio.
mais agradaveis comodidades em trans- Achamos, todavia que a nossa repre-
portes por mar e terra, sendo bem noto- sentação n'esse congresso, tendo sido aliás
rias as que se disfructa vam principalmente muito distincta, não interpretou a força
nas carreiras marítimas para as Americas. que lhe adviria d'uma especial delegação
O seu serviço de propaganda tinha en- de todos os hoteleirQ:) portuguezes, o que
tão atingido o limite nunca alcançado pelas só se poderia efectivar se eles se tivessem
outras nações, e a isso deveu, principal- reunido antes d' esse congresso - o que
mente, aquele grande imperio, a conside- não nos consta se tivesse realisado.
ravel importação de forasteiros que dia- Esse facto vem mostrar a necessidade
riamente fazia pelos seus caes e gares da constituição da federação hoteleira por-
terrestres. tugueza, a que nos referimos no primeiro
Não é de presumir que a nova lucta artigo d'esta Revista; tanto mais que, os
do imperio germanico para ressarcir-se do interesses de Portugal, pela especial situa-
fundo abalo em que a guerra a deixou, ção do nosso Paiz, não devem subordi-
não abranja esse importante vacuo da nar-se d'uma forma geral, aos interesses
vida. Sabemos mesmo que ele começou alheios, que apenas nos atrahem para que
já preparando as suas coisas para dentro lhe possamos sêr uteis .

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De resto é essa a idéa claramente ex· «Torna-se, pois, necessario- visto que
posta por S. A. o Principe de Monaco 'ª hora suou-desenvolver a estaçbes
na entrevista que concedeu ao Diario de cd'agua francezas, levando-as a rivalisar
Noticias por ocasião da sua recente vi· ..ccom as alemãs.
sita a Lisboa. A ela se refere o seguinte
periodo que transcrevemos para que fique E' este um precioso aviso para que
archivado n'estas columnas: nos acautelemos e nos defendamos da
concurrencia alheia.

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CARTA S DE LONGE
CHRO N ICAS D ' UM
TURIS TA SENTIMENTAL

MINHA JOIA . forto aos nossos vasios estomagos, que,


todavia, apenas nos exigiam uma leve
' S INTO um inefavel prazer em te escre· refeição.
~ ver estas cartas. S uponho que estou Sentados a uma meza, e emquanto es-
falando comtigo, que tu me estás escu- pera vamos que nos servissem o café, o
tando com o especial sorriso de ternura leite e as torradas, fomos divagando o
com que acolhes sempre as minhas fundas espírito em diferentes campos : primeira·
lamentações. Por isso me enthusiasmo a mente, saboreámos o prazer visual que
fazer a descripção da minha vilegiatura, sorvemos ao atravessar a grande ponte
que faço por colorir com as tintas impres· Maria Pia, disfructando para um lado, o
sionantes que se me fixaram no espírito espectaculo interessante da Cidade da Vir-
quando n'ele retratei esses atrahentissimos gem, cuja disposição parece a d'um am-
quadros que deliciosamente gozei. phitheatro onde os moradores estivessem
- Fiquei na minha anterior carta jus· apreciando a passagem do Douro, derra· /

tamente no momento em que uma mu· mando-se em leves catadupas até á Foz;
dança de comboiQ nos fez momentanea· para o outro, as pheericas margens d' esse
mente interromper a viagem. rio, que nos fizeram pensar em lendas de
Foi em Campanhã. sonhos phantasmagoricos, em contos de
Ahi nos deitámos n'essa onda humana façanhas idilicas, em fim -n' um turbilhão de
que então inundava a gare. O vae-vem pensamentos e de recordações sensibilis-
de pessoas, as suas diferentes caracteris- simas.
ticas e condições, a que os diversos com- Depois, o café, o leite e as torradas
plementos - taes como cães, malas, crea· trouxeram-nos á realidade positiva dos fac-
dos, meninos, papagaios, etc., davam uma tos e, d'ahi, ao exame mais minucioso do
nota muito original, revelavam-nos um que então nos circundava.
quadro phantastico e merecedor d'um es· . .. E os nossos olhos foram cahir ainda
pecial estudo. na materialidade humana que, embora me-
O sussurro que toda essa gente produ· nos volumosa, se amolgava na gare, na
zia, assemelhava-se aos echos d'um lon· ancia de obter togar nos comboios que
giquo batuque africano. iam chegando. ·
Conforme pudemos, fomos abrindo ca- Entretanto aproximou-se de nós::um
minho, empurrando um, afastando outro, novel cadete, companheiro d'um proximo
até chegar ao restaurante, para dar con· parente, que, ao vêr· nos, nos cumprimen-

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REVISTA DE TURISMO 5 DE OUTUBRO
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tou com uma grande expansão de alegria. Felizmente e em obediencia ao ditado,
Parecia que por um phenomeno telepalhi- predizendo que ao menino e ao borracho
co, tinha sentido a nossa aproximação e pbe Deus a mão por baixo, a pobre
por isso o seu espirito se manifestára com creancita nada sofreu aléin do susto e do
o jubilo de se encontrar com outros que trambulhão. Mas para que se chegasse a
sabia comprehenderem a nova theoria que saber isso, esperámos três dilatados quar-
o estava dominando : o saudosismo. tos de hora, durante os quaes a nossa
Avido de expôr as suas idéas a res- rica paciencia se poz á prova.
peito de tão transcendente manifestação Por fim lá fomos, e Paredes apareceu·
d'urna néo-philosophia, entreteve-nos com nos pouco tempo depois, para satisfação
divagações d'um muito curioso estudo. do nosso mais caro e insaciavel desejo.
Quando estavamos precisamente no mo- Ahi, o teu velho cocheiro, envergando
mento mais interessante do seu saúdosis- a libré com as cores representativas da
nzo, o comboio do Minho levou-o com des- tua casa, reconheceu-nos; e . com o seu
tino a Viana, onde se ia apresentar nas sorriso amora vet - esse sorriso que lhe
hostes guerreiro-amorosas. nasceu no tempo em que recebia os teus
E assim se nos passou o João Cama- antepassados á porta dos marquezes de
cho Pereira, tal é o nome do sympathico Viana e do Conde de Farrobo - fez-nos
cadete. o mais entern·ecedor acolhimento.
Vimol' o desaparecer nas sombras do - Oh I os meninos por cd !
alem, e o nosso espírito ia apreciando a - eomo o meu amo vae ficar satisfeito!
exquisitisse da these que nos propoz, E tomando o governo dos dois casta-
quando o comboio do Douro nos convidou nhos que rebocavam a victoria, levou-nos
a seguir viagem. para a l avandeira.
Embarcámos. Um cantinho vazio n'um Con1eçou, então, uma nova phase da
compartimento, nos atrahiu para um re- existencia que momentaneamenfe passá-
pouso physico e para melhor gozarmos as mos.
perspectivas que se nos oferecessem pelo E' um novo capitulo d' esta descripção;
caminho. por isso reservo-o para a proxima carta .
Isolámo-nos então, completamente alheios Muito teu
aos restantes passageiros que, na phrase MARIO DE MONT' A LVÃO
espirituosa e sarcastica de Antonio Ferro,
deviam sêr alguns dos etceteras da vida.
@=----==========='======
Passámos estações e apeadeiros ; mas CAPAS PARA ENCADERNAR
estava escripto que um episodio havia de A «REVISTA DE TURISMO »
vir quebrar a monotonia da viagem, para
que os incalaveis c0ntinuassem a têr mo· Em a nossa Administração Lar-
tivo para às suas quezilentas e extranhas go Bordalo Pinheiro, 28, acham-se
apreciações. á. venda as capas que especial-
mente mandai.mos fazer para en-
Quando o comboio circundava um monte, cadernação dos numeros Telativos
desejoso de galgar a curva para recuperar ao 5.0 ano da REVISTA DE TU-
o atrazo que já levava, uma grita infernal RISMO, pelo preço de Esc. 2$50
partiu do compartimento visinho do nosso.
Foi o caso que a portinhola mal fechada,
cada capa.
Tambem nos encarregamos da
abriu-se pela trepidação do comboio, le- respectiva encadernação mediante
vando atraz de si um rapazito dos seus
sete anos, que o descuido dos paes .con-
o pagamento de $80.
Para a provincia acresce o porte
sentiu que se debruçasse na janela sem
se haverem certificado se podiam confiar
do correio.
na segurança d' essa porta. Depois é que Composto e Impresso no CENTRO TIPOGR APHICO COLONIAL-
gritavam e lamentavam a sua infelicidade. l.arfo Rnpbael Bordalo Pinheiro, 27- (Anll•o LarCo d'Abefoarla)
I
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