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·~!!~ -S. MM 2010 \J,Jut-, ~.

!!!!! 11 11 !!!!!
REVISTA
DE iiiiiiiiiii
PUBLICAÇÃO MENSAL
DE TURISMO, PROPA-
TURISl\'lO PROPRIEDADE DA EMPREZA DA «REVISTÂ OE TURISMO"
GANDA, VIAGENS,
NAVEGAÇÃO, ARTE ANO VI 5 DE JULHO 1921
E LITERATURA a a o II SERIE N. 0 109
DIRECTOR: AGOSTINH? LOURENÇO li REDACTOR PRINCIPAL: GUERRA MAIO
SECRETARIO: JOSE LISBOA EDITOR: F. FERNANDES VILLAS
REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO: LARGO BORDALO PINBEIRO, 28 - TltUFON! 2337 ~ IP•

~11 . ,.~
Á RE//JSTA DE TURISMO ·.,. .~
QUINTO ANIVERSARIO

F AZ, precisamente n'esta data, cinco


anos que a Revista de Tllrismo pu-
blicou o seu primeiro numero.
ciencia ao esforço titan ico que temos posto
á prova para manter esta publicação.
Atribuímos a pouca satisfação a parte da
Ela inicia hoje o sex- nossa obra, á corrupção
to ano da sua publica- dos homens da gover-
ção. nação publica, ao seu
Entre as duas datas extremo egoismo e de-
ha, simplesmente, um mentado ra~iocinio, á
espaço mais do que su- extraordinaria crise de
ficiente para o desfale- caracter por que, infe-
cimento d'uma idéa - lizmente, estamos pas-
que, muitas vezes, morre sando, á falta de pa-
um mint.1to depois de triotismo que caracte- ...
têr sido ,concebida. risa o portuguez e a
Mas a que deu sêr e tantos outros factores
vida á Revista de Til- que seria fastidioso enu-
r ismo não podia diluir-se merar.
no vago comum onde Mas, se nos falta o
se desfazem os ideaes apoio oficial, não nos
utopicos, por isso que tem decrescido felizmen-
ela assentou sobre as te <> concurso moral e
bases consistentes que material de particulares
a teem sustentado até que na nossa obra vêem
agora. . justamente o que ela
E' pouco o que temos representa.
conseguido ? Isso não - E isso nos con-
nos desanima para pro- sola.
seguirmos, porque não AGOSTINHO LOURENÇO Temos, porém, espe-
atribuimos pouca efi- Dlrector da ~<Rnfsla de Turismo;> rança de que Um dia -

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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que não virá talvez longe-a Revista de não fosse a da satisfaçãocompleta do fim
Turismo ha sêr apreciada como merece, que nos propomos atingir : crear, f om~n­
e ha de têr como supremo tar e fazer progredir a in-
premio o seu reconhecimen- dustria do Turismo em Por-
to publico e oficial que confir tugal.
mará a sua necessaria exis- - Só e unicamente.
tencia.
Não é de supôr que isso lsto, porém, só nos pa-
aconteça para que nos favo- rece que se conseguirá quan-
reçam seja com o que fôr; do as cousas mudem d'as-
porque prezamos muito a pecto. Todavia não deixa-
nossa independencia e não remos de trabalhar para
nos subjugamos a convenien- a realisação d' esse n osso
cias extranhas, nem tampou- ideal.
co a nossa consciencta re- 1ost useoA Esse é o nosso programa
ceberia OUtrO premio q U e Secretario da «Revista de Tarlamo,. de hoje e de sempre.

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A RE//ISTA DE TURISMO
NOVO ANO

A «Revista de Turismo-. ao iniciar,


com o presente numero, o seu sexto
ano de publicação, não pode deixar de,
em primeiro togar, dirigir uma especial sau-
dação aos homens que em Portugal se teem
dedicado ás diferentes questões do Turismo.

GUERRA:MAIO FR4NCISCO Ft.t<NANDES VlLLAS


Redactor prlllclpal da 11Rnlala de Tarl1mo» Cbele de propaiaoda da 11Rnl1ta de Tarl1m11t

')
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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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São poucos; mas se admirarmos essa es- A ação de todos esses homens tem
colhida pleiade, que vem -- em nossos dias sido um mixto de grandeza e de sacri-
- desde Ramalho· Ortigão - que, na voz ficio ; - de grandeza, pelas patrioticas
auctorisada de Manuel Emygdio da Silva, foi concepções iniciadas na pratica com o
o primeiro turista portuguez-vemos que, 01aior enthusiasmo, como a benemerita
embora, de resumido numero, cada um dos Sociedade Propaganda de Portugal, que é
seus componentes é um verdadeiro valor. hoje uma instituição d'incontestavel valôr;
a instalação do posto de informações em
Paris; a transformação do grande parque do
Estoril na explendorosa estanda thermal,
climaterica, de cura e de repouso a que
a sublime audacia d' um homem - Fausto
de Figueiredo .- vem dando o maior im-
pulso ; - de sacrifi.cio, porque teem sido
taes e tantos os obstaculos impostos á
realisação pratica e util d' aquelas inicia-
tivas e d'outras que, por isso mesmo, ·
não tem tido ainda vida, que só vonta-
des de ferro, aliadas á persistencia d'um
ENGENHEIRO J, FERNANDO DE SOUZA
capricho indomavel teem conseguido trium-
Fundador da Sociedade Propatanda de Porlatal far relativr.mente.

-Que ha de dizer de todos eles, se os
nomes são sobejamente conhecidos como
homens de iniciativa, de trabalho honesto,
de invulgar força de vontade e de arrei-
gado amôr patrio ?
Ha, apenas, que mencional'os, para que
o seu exemplo seja justamente apreciado
e sirva d' incentivo a t.!lntas forças esta-
gnadas que se encontram por esse paiz
em fóra - por comodismo d'uns, por iner-
cia d'outros.
Justo é que os nomes d'esses bene-
meritos portuguezes fiquem, mais uma
vez, arquivados nas columnas d'esta Re-
vista, que muito se honra em os contar
como seus sinceros amigos, colabores e
admiradores da sua modesta, mas patrio-
tica obra. São eles: o Engenheiro José
Fernando de Souza ; Leonildo de Men-
donça e Costa; o engenheiro Manuel
Roldan y Pego, Manuel Emigdio da Silva,
Ferreira Madail, o Dr. ·Sentes Castel-Bran- MENDONÇA E COSTA
co, Pedro d'Oliveira Pires, Jayme de Fundador da Sociedade Propaganda de Portutal
Padua Franco ; o Dr. Magalhães Lima;
o Dr. José d' Albayde; Fausto Cardoso A nossa pequena obra - esta Revista
de Figueiredo; o Engenheiro Antonio de de Turismo que entra hoje no sexto ano
Vasconcelos Correia; Alberlo Fabri: Pe- da sua existencia, representa um esforço
dro Ramos de Paiva, Ribeiro Christino e titanico, só justificado pelo en husiasmo
poucos mais infelizmente. dos seus auctores e pelo vehemente desejo

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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de, por esta forma, cumprirem o seu dever A todos os nossos muito estimados
patriotico como um sagrado tributo de assignantes, anunciantes e colaboradores
que se não dispensariam. e a todos emfim, que á nossa publicação
Nem a simples razão d'ela sêr a unica teem prestado o seu concurso e lhe teem
publicação que no genero se faz em Por- dado o incentivo do seu conforto moral,
tugal, a tem reservado de peias, dificul- a Revista de Turismo, agradece comovi·
dades de toda a ordem, da carencia até dan~ente, saudando-os com o mais frater-
do mais elementar concurso para a defeza nal cumprimento.
dos interesses alheios. Aos nossos colegas da imprensa apre-
Emfim, ela já completou cinco anos sentamos, com o testemunho do nosso
d'ardua existencia, representada por penosos reconhecimento pelas amaveis refer~ncias
esforços e dura administração, atravez este que nos teem dedicado, as nossas mais
periodo calamitoso desde a sua.fundação. cordeaes saudações.
O que ela tem feito e o que tem produzido,
a sua existencia e os factos o atestam, =========== @;-====================
RIBEIRO CHRISTINO
Q grande artista, mixto de pintor e de dc.se-
nhador, Sr. Ribeiro Christino, ilustre pro·
fessor da Escola Marquez de Pombal, que ha
• já tempo, por uma muito especi;.l sympathia
pela n<'ssa t bra, lhe vem prestando o seu pre-
cioso concurso, acaba de nos dar mais uma prova
da sua valiosa dedicação, enviando-nos o dese-
nho para a capa que figurai á em a nossa Re·
DR. EMYGDIO DA SILVA vista, a partir do presente numero.
Dlreclor da Sociedada Propa•anda da Porta•al Ribeiro Christino tinha já consagrado a sua
genial concepção no p(imoroso quadro repre~
melhor do que qualquer referencia nossa. sentado pela nossa capa do anc que findou, em
E embora não tenhamos ainda tido a que o sentimento patriotico d'esse muito distincto
mais simples compensação a esse nosso artista e professor se aliou com singela felicidade
continuo esforço (nem a queremos, por á beleza d'esse seu delicado trabalho.
isso não a esperamos), basta-nos a gloria Acedendo gentilmente ás solicitações que lhe
de mantermos a Revista de Turismo - fizemos, esse nos,o muito querido amigo e obse·
para nós bastante grande-para nos achar- quioso colaborador, t!oviou-nos um novo dese-
mos compensados sobejamente. nho para substituir o anterior, o qual, interpre·
Continuaremos pois, o nosso caminho, tando por interessantes motivos a índole d'esta
trilhando-o sob a mesma orientação e sob publicação, 1 evela mais uma vez o seu belo tem·
o mesmo programa, que não alterámos peramento d'artista.
nem alteraremos. .Ribeiro Christino é um turista na verdadeira
acepção do termo e, por isso, o seu espirito•
melhor do que qualquer outro. poude facilmente
Como singela homenagem de respeito e fazer traduzir pela pena, algumas modalidades •
de admiração pelos homens do Turismo da vilegiatura, o que conseguiu com um muito
em Portugal, inserimos no presente nu- feliz resultado.
mero os seus retratos; completando essa Manifestando por esta forma a nossa muita
escolhida coleção com o pessoal da casa, admiração pelo seu belo talento, e os nossos
que crêmos justamente digno de figurar reconhecidos agradecimentos pela sua genial
entre os grandes obreiros da magna in- oferta, enviamos a Ribeiro Christino as nossas
dustria do turismo. homenagens.

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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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O TURISMO EM PORTUGAL
quasi se confundirem, isto é, duas aben-
E STADISTAS e politicos portuguezes sor-
riem ironicamente ao apontar-se-lhes
o turismo como uma das mais rendosas
çoadas regiões: o Sul da California e Por-
tugal. onde a diferença entre a tempera·
tura media estival e a hibernal é mínima;
industrias para o paiz. Não lhe prestam em que as condições climatericas pouco
credito. variam do inverno ao estio; em que a
Basta, porém, folhear as estatisticas fran- primavera é quasi continua. Havendo si-
cezas, italianas, suissas e mesmo egypcias, militude nos climas dos dois paizes, ha
antes da guerra, para se reconhect:r a enorme diferença na .maneira porque n'eles
bestial receita que d'ele provinha a estes se encara o seu aproveitamento. Na Cali-
paizes, alguns dos quaes, como a Italia e fornia, uma extensa obra de irrigação e uma
a Suissa, d'ele usofruiam o seu maior ren- vasta rede conductora de energia electrica
dimento. · veem espandir pelo Estado a agricultura,
Estadistas e politicos portuguezes via- a luz e a energia a minimo custo. Ajar-
jados sabem comparar a nossa ma teria prima dinam-se as ruas e praças das cidades e
de turismo, de primeira qualidade, com a vilas; criam-se parques, nos logares mais
amenos, com boteis, cumulo de conforto,
como só americanos sabem edificar e ge-
rir; estendem-se linhas ferreas e electricas,
onde serpeiam comboios-hoteis, com va-
randas e salões miradouros, em que nada
falta desde o banho á barbearia ; lançam-
se estradas cimentadas, asfaltadas, alca-
troadas, deslisantes como salões encerados,
largas como avenidas, sem poeiras nem
lamas, diariamente regadas ; reparam.se e
ENGENHEIRO M, r.Ul!.i. ROLDAN Y PEGO
conservam-se com o maximo cuidado,
Dlrector da Sociedade Propaiaoda de Portuaal sem lhes alterar uma liriha arquitectonica,
sem lhes deslocar um sino, mantendo-lhe
dos paizes visitados i sabem apreciar a o caracter monacal, mistico, as antigas
perft:ita e inteligente preparação d'essas casas-missões dos frades franciscanos de
nações e a nula nossa. Junipero Serra. E o •camino real de las
E nas conversas extramuros ideiam missiones>, conservando o seu nome cas-
amplos projectos de largo aproveitamento telhano, estrada que liga as casas- residen-
das nossas especiaes condições climaceri- cias da comunidade ao longo do Estado,
cas, dos nossos encantos naturaes, dos é transformado, na sua lonjura de 300
nossos magestosos monumentOSi mas, kilometros. em magnifica via de turismo.
reentrados, transposta a fronteira, as tricas E a longa linha de praias do Pacifico, que
politicas absorvem.lhe o pensamento e não corre de Seatel ao Coronado, em S. Die-
mais recordam, nem mesmo o brilhante go, oferece todos os encantos, todas as
poalho do sol lusitano, lhe faz lembrar os distrações, todo o conforto. A flôr esmalta
planos que verbosamente lançaram em as cidades e os campos. Os pomares som-
ondas faiscantes ao ambiente bulevardino breiam os vales. Os bosques de sequoias
na mesa do .cLa Paix~. e obetos enobrecem as serras. E não ha
Examinando uma carta isothermica obser- sitio ou objecto de turismo, por mais pe-
va-se existirem na terra duas regiões onde queno e insignificante, que não seja inte-
as curvas de temperaturas medias hibernal ligentemente aproveitado e explorado.N'esta
e estival muito se aproximam, a ponto de lucta quotidiana desveladamente se ocupam

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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o Governador e o Senado do Estado, as Estasiava-se ante as rendas em pedra,
municipalidades, os sindicatos de iniciati- ante a patina dourada do monumento e
va, os sindicatos de operarios (trade-unions), perguntou-me o motivo porque não fazía-
os particulares, n'um plano, antecipada- mos a devida propaganda ao paiz e aos
mente acordado, que se segue linha a seus monumentos, tudo desconhecido na
linha, traço a traço, sem regateio de ver- Europa e na America. Percorrendo havia
bas, por todos saberem ser a aplicação dois anos o mundo em viagem de recreio,
mais rendosa dos capitaes estatuaes, mu- por acaso se encontrava em Lisboa, de
nicipaes e particulares. que pouco ouvira falar, ao P.retender na
Entretanto em Portugal, as estradas vão península embarcar para Liverpool.
profunda e extensamente esburacando-se; Visitára as colonias portugueza da Asia
os rios assoriando-se dia a dia; as linhas da Africa, os archipelagos dos Açores e
ferreas vão mais morosa e caramente Madeira, a metropole. Conhecia as nossas
transportando os passageiros; os hoteis riquezas.
vão menos confonavel e mais custosa- Havia apenas o defeito de as não sa-
mente atendendo, digo, desatendendo aos bermos administrar. A nossa administração
hospedes; as camaras municipaes, corno a dava-lhe a ideia de uns homens ante
de Lisboa, vão transformando as cidades uma caixa com duas duzias de comparti-
e vilas em povoações do ~front•, derruidas mentos, existindo apenas dentro de dez
e carbonisadas pela artilharia, cheia de en- d' eles seis moedas de prata em cada. O
tulho e sugidade. problema era enchei-os todos com a meia
Haja em vista as ruinas do Rocio e o duzia de escudos. Mui atarefado, em activa
enegrecimento da Torre de Belem. E o azafama, encostado a pezada barra de
pejo não os córa ao lerem os fustigantes prata, mudava os montes de moedas d'uns
artigos de membros estrangeiros da Con- para outros compartimentos, onde mais
ferencia Inter-parlamentar do Comercio, necessarios se tornasse, sem nunca con-
de diplomatas e de artistas. seguir o seu desideratum, não se lem-
Os monumentos, de valor inestimavel, brando que o acunhar a barra a que se
vão-se esboracando pela ação do tempo, apoiava era a solução do problema.
pek> vandalismo do nomem, pela pedra da Estadistas, portuguezes que amais o
garotada sob a vista consentidora das au- paiz e desejais vel-o sahir da crise em
toridades, pela ignorancia e incompetencia que se debate, despi-vos de sectarismos e
das municipalidades, pela ganancia e egoís- lanyae-vos com afinco á resolução do pro-
mo de industriaes pouco escrupulosos. blema; acunhae a barra, de que uma parte
E o sol continua a acariciar-nos com é o turismo, e unindo-vos um por todos,
os seus mais brilhantes raios, e as brizas todos por um, cuidae sómente em elevar
marinhas corrigem o calor dos seus afa- Portugal.
gos, e as flores matizam os verdes cam- O gesto urge.
pos, e os rios correm murmurantes as Atea jacta est.
cristalinas aguas sobre douradas areias, e MANUEL RoLDAN Y PEGO
os monumentos reforçam a sua patine de
tons aureos roseos e neutros, sem que os ===== (§) ============
homens do Estado distraiam um só mi- REGISTO
nuto a sua atenção para a ninharia do
turismo, que não encerra enredos politi-
cos, mas que deixaria aperceber a espíri-
Q nosso prezado colega «0 Jornal d'Extre-
moz• publicou na integra, em o seu numero
tos clarividentes a vasta politica econo- referido a 6 do corrente, o artigo principal do
mica portugueza. n.o 108 da nossa Revista, firmado pelo nosso
Vem-me á memoria as palavras de uma Secretario, Sr. José Lisboa.
Agradecemos a transcripção, bem como a
senhora norte-americana que em 1914 referencia que nos faz em outro local do seu
encontrei visitando o templo da Batalha. aludido numero.
,
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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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ARTE E LITERATURA

CANÇÁO XVI
Eu hontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.
Chorámos, ri~os, cantámos.
Fallou-me do seu destino,
Do seu fado... ·
Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e ri!ldo,
Poz-se a cantar
Um canto molhádo e lindo.
O seu hallto perfuma,
E o seu perfume faz mal !
Deserto de aguas sem fim.
0' sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim? .. .
Elle afastou-se calado ;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado . ..
Ao longe o Sol na agonia
De rôxo as aguas tingia.
« Yozdo mar mysteriosa;
Voz do amor e da verdade I
- 0' vóz moribunda e dôce
Da minha grande Saudade I
1 Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte • •. •
......... ..... .. ... ..........
E os poetas a cantar
São echos da voz do mar I
Do livro CANÇÕES ANTONIO Borro
alllmameate publicado

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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NO ANI VERSARIO DA
R EVISTA DE TURISMO
- lle/11s 1-- como dizem os francezes de publicação - é simplesmente assom-
n'uma expansão de surprehendente espanto broso!
-Pois a Revista de Turismo conta já cinco Dir-se-ha, com propriedade, que a plan-
anos de vida ! ? ! tação d' esta arvore foi feita em boa terra
- E' espantoso - mas é certo. e que os seus alicerces se enraizaram tão
funda e solidamente que não ·ha vendaval
que a destrúa.
E' um facto, indiscutivel, axiomatico.
E os seus numeros publicados durante
cinco consecutivos anos ahi estão a afir-
mar o poder d'um ideal ; a fé e a con-
fiança no proprio esforço ; a energia e a
tenacidade, correndo parelhas, para a rea-
lisação d'esse ideal, sob a vontade persis-
tente que não conhece obstaculos, que
vence todos os contratempos, que salta
todas as barreiras, para o valoroso triumfo
final.
Bemdita cruzada.

1
·j

DR. MAGALHÃES LIMA


DI ector do Conselho de Turismo

N'um paiz de três milhões d'analfabe-


tos, de milhão e meio de pessoas que não
digerem o que lêem e que, a reSJleito de
patriotisrno ..• nem sequer sabem blasonar
de patriotas; n'um paiz onde um terço da
sua população apenas se interessa pela ENGENHEIRO VASCON: ELOS CORREIA
política réles, mesquinha, suja, imunda; a Dlreclor da Sociedada Propatanda de Portutal
Revista de Turismo, nascida no período
calamitoso da grande guerra - conseguir Heroicos portuguezes, estes, os d'esta
atravessar toda a crise que-desde então, mais do que resumida pleiade, a quem se
não cessou de agravar·se-e aparecer hoje deve o inestimavel e patriotissimo serviço
a solemnisar a entrada do seu sexto ano de manter esta Revista - a Revista de

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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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Turismo-o unico baluarte que a preciosa a Revista de Turismo seria exagerar o
industria do turismo tem a defendel-a. que não é possível de exageros, porque os
Mas está bem defen- factos o afirmam inilu-
dida, porque este ba- divelmente. Na sua re·
luarte é inexpugnavel. !ativa pequenez, ela tem
Que belo exemplo de \ conseguido muito, por-
coragem, de compre- que a su~ conducta se
hensivel civismo e de impõe pela honorabili-
amôr patrio dão os ho- dade das suas aprecia-
mens da Revista de ções, pela sua auctori-
Turismo a esses que ... dade moral e pelo fundC\
não fazem senão des- conhecimento da com-
truir! plexa industria que de-
Se todos os portu- fende, afirmado nas
guezes o seguissem co- multiplas e interessantes
mo aqueles a ele se questões que tem tra-
escravisam, seria então tado nas suas brilhan-
caso para dizermos co- tes columnas.
mo o Rei dos Poetas : D'esta fórma ela far-
se-ha grande, continua
Esta é a nossa ditosa rá caminhando, porque
Patria mesmo a sua exis-
Malto amada tencia é preciosa, é de
utilidade, é indispensa-
=o= DR. JOSÉ DE ATJHYL>E
vel.
Dlreclor da ReparliçJo de Turismo
- Não só reconhe-
Dizer o que tem sido cido por mim, mas por

DR. SENTES CASTEL·BRANCO SARAIVA PEDRO RAMOS DE PAIVA


Ex-Dlreclor das Caldaa de Moacblque

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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todos os que lêem a Revista de Tu- tes se alenta a cada nova scentelha de vigor.
rismo. Por isso vos saudo, como a irmãos e
- ~ continuará porque quando á frente compartilho da vossa felicidade.
da em preza estão homens como os da Revis-
ta de Turismo, a idéa nunca esmorece, an- MARIO DE MoNT'ALVÃO

======================== IID ========================


EM VIANA DO CASTELO

//IS/TA A SANTA LUZIA


O caso passou-se assim.
Eu chegava a Viana do Castelo
pelo meio dia, e na intenção de regressar
panorâmas portugueses : o da Peninha, em
Cihtra; o da Cruz Alta, no Bussaco; o
do Castelo de Palmela; o das Cumieiras,
de noute para o sul. la lá, tanto para vêr na ilha de S. Miguel ; não falando em
a joia do Minho, como para gosar o pa- alguns estrangeiros, como o do Notre
norâma do monte de Santa Luzia. Dame de la Garde, em Marsêlha; ou, em
A verdade é que eu andava já arre- Paris, o da Torre Eiffel.
A gora ia a Viana vêr se aquele de
Santa Luzia era rialmente o assômbro,
que me diziam.

Pouco depois de chegar á cidade, falára


com dois conhecidos meus, que lá encon-
trára, os quaes, sabendo a minha intenção,
me prometer a m ir pelas cinco horas
da ta rde, bus~r- me ao Hotel Central
n'u ma tipoia, - diziam eles, - para se-
g uirmos pela ,estrada de lacêtes ao famôso
monte.
Oadas umas voltas pela cidade em
busca de vêr alguns antigos edificios com
motivos ornamentaes, e gosada a vista do
suave Lima, de azuladas e tranquilas aguas,
fui para o Hotel aguardar os meus amigos.
Esperei; li jomaes; li anuncios do esta-
belecimento hoteleiro, para passar o tempo,
e eles nada de aparecerem. Eram já
perto das seis horas da tarde, (das 18,
como se diz agora).
- Querem vêr que venho a Roma e
não vejo o Papa, -- disse com os meus
botões, ao ver as horas no meu relógio ;
lllBElltO CHlllSTlNO nada, vou sózinho.
- Mas espera, acrescentei mentalmente,
liado com a scie da belêsa do afamado eu não sei caminho nem carreira; preciso
sitio, com que toda a gente me matava de arranjar um guia.
o bichinho do ouvido. Um solicito creado do Hotel, sabedor
Ora, eu já conhecia vários soberbos do caso, prontificou-se a encontrar um

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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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guia; e d'ali a pouco, aparecia-me, este, Q., feito de bronze, estatua que estivera ex-
na pessôa de uma velhota toda sorridente. posta em Lisboa entre pequenos cyprestes,
- Vocemecê é que vai comigo ?-per- a qual fizera na Capital um sucesso ... de
guntei-lhe, calculando que ela, pondo-se a fiasco, e que afinal foi colocada n'aque-
andar, chegaria só lá pela noute velha. las alturas. Um pavôr artístico com que
-Nada, não senhor, é o meu neto quE} ali tornei a deparar.
vae; eu só vim para o ajuste. Fez-se a Mas, voltei-me para o lado do horisonte,
combinação a contento. seguindo ao longo a curva da esplanada
A boa da mulher lá se foi e passa- e, rialmente, fiquei encantado com a sur-
ram-se n~ ais uns tantos minutos de deses- prema belêsa da vista panorâmica, arre-
peradôra esçera, até que chegou um ha tadora, na sua variedade de perspectivas.
rapazito, de seus treze a quatorze anos. Para um lado, á esquerda, seguia uma
- Então tu sabes o caminho . mais cadeia de caprichosas serras dirigindo-se
curto para o Monte-inqueri, suspeitôso para o longe; ao lado nas vertentes viam-se,
da pequenez do guia. espalhados pelos distantes campos, vários
- Sei, sim senhor; vamos pelas esca- logarejos e casaes, que o rapaz me men-
das acima. cionava os nomes, todos muito branqui-
- Está dito, e vamos já; mas pri· nhos, por entre as culturas e arvorêdos;
meiro dirigi-me ao creado principal das mais para o centro notava desde muito
mesas do Hotel, a dizer-lhe aonde ia. longe, vir serpenteando pelas longínquas
- O senhor vae agora, a esta hora, a planícies, em graciosas curvaturas, o suave
Santa Luzia ?-ás seis horas ! Mas não rio Lima, muito azulinho, a apagar-se ao
tem tempo, pois o jantar serve-se ás sete fundo na distancia de leguas ; na frente
em ponto. para lá do rio destacava-se a linda aldeia
- Deixe lá, não tenha cuidado; devo de Darque; depois a grande ponte do cami-
voltar a tempo, e d'ahi, prefiro antes perder nho de ferro desde ali seguia para cá, para
o jantar, a deixar de ir lá acima ao Monte. a banda da cidade, a qual lá em baixo
- Faça o que quizer, mas verá que com os seus monumentos e a sua casa-
não chega a tempo. ria bastante reduzida pela distancia, niti-
Parti, indo o rapazito adeante; e ele, damente se estendia como n'um mapa,
passadas poucas ruas, lá me conduziu ás ao longo do rio ; agora para a direita,
escadarias, e vá de subir, subir, subir, perdendo-se tambem nos longes, viam-se
degraus de pedra, ás dezenas, ás cente- os areais da costa, contornados pelo branco
nas, sempre por entre arbustos, e quando das espumas da arrebatação do Mar, e
julgava já terem acabado, lá apareciam este por ultimo, com o seu azul profundo,
n'outra direcção outros novos lances da enchia o resto do maravilhôso quadro, onde
interminarel escadaria, até que por fim o Sol, já bastante Ôaixo, punha nas aguas
sempre alcancei a esplanada do Monte. uma esteira de ouro. Por cima de tudo isto
- O senhor quer ir vêr o hotel nôvo? estendia-se o lindo Ceu azul de Portugal.
-perguntou· me o rapasinho, indicando-me, Não pude deixar de confessar, a mim
ainda mais alto, um edificio. próprio, que o panorâma do Monte de
- Era o que me faltava, farto de ho- Santa Luzia batia o record de quantos
teis ando eu. até então presenceara.
- Venho aqui só para vêr as vistas, E agora lá regresso eu a nove, outra
expliquei-lhe. vez descendo pelas escadarias.
N'este momento deparei n'um extranho Faltavam dez minutos para as sete,
vulto negro, que sobranceiro ao ponto onde entrava eu novamente na sala de jantar
eu estava, parecia precipitar-se sobre mim do Hotel Central, e os criados de mesa
pelo declive: era uma figura alta esguia, mal queriam acreditar na minha façânha
desagrada vel. de ir e voltar do Monte a tempo da hora
Reconheci. Era o «Christo> do escultor de jantar.

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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- .Olhe sabe, dis$e-me um d' eles, esti- morado, o que senti, agradecendo-lhes;
veram ahi dois sujeitos á sua procura, mas, disse-lhes-não queria vir a Viana
vindos de trem, e a gente disse-lhes que sem visitar o monte, mesmo á custa de
um hospede tinha ido para Santa Luzia. uma tremenda subida, como a que expe-
Eram os meus dois amigos, com quem rimentára n'aquele dia, e que me ficou de
depois, á noute, tornei a fa lar, e que de- memória.
ploraram não me terem encontrado, por
motivos de seus afazêres se terem de- RIBEIRO C HRISTINO.

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TURISMO INSUL A R
CARTA DA MADEIRA

A minha vida, que não é feita pro-


priamente de jornalismo, por isso
mesmo não me permite a larg ueza neces-
qualquer dos seus mais altos pontos, ou do
surprehendente espectaculo que oferecem os
poentes, para nó~ muito superiores, muito
saria a uma mais proveitosa e interessante mais sentimentaes e impressionantes do
colaboração na «Revista de Turismo>. que os poentes de França, aliás comovi-
O jornalista - quando verdadeiro e não damente contados por Antonio Nobre,
blra-tem, em geral, facilidades e opor- n'esse livro •SÓ» que o fez transpôr os
tunidades de faze r turismo, de apreciar as humbraes da Posteridade.
mais simples manifestações d'essa muito N'uma palavra: - estas minhas cartas
preciosa industria e de atrahir, com as
fulgurações do seu espirito, a atenção dos
seus leitores - facilidades e oportunidades
que não é dado, infelizmente, proporcio-
narem-se a quem se ocupa d'outro, ou
d'outros modos de vida e que, não se
tendo formado na carreira das letras, ape-
nns usa d'elas para a satbfação dos seus
deveres de consciencia, tanto quanto as
suas fo rças lhe permitem.
E' este o meu caso.
Ora, este preambulo serve simples-
mente, para mostrar a razão por que estas
min has despretenciosas cartas, tendo unica-
mente por fim a atração das atenções
superiores em proveito da obra da Ma-
deira, não reflectem as imµressões que
poderiam ser habilmente colhidas em espe- "PF.DRO D'OLIVEIRA PIRES
Dlrecl~r da Sociedade Propafaoda de Porlotal
cial estudo das belezas artísticas d'esta
terra, o que daria assumpto para largos
artigos se a situação m'o permitisse; nem, não são propriamente de atrahente inte-
pela mesma razão, constituem descripções resse para a massa geral dos leitores
interessantes dos passeios que a Ilha pro- d'uma publicação da indole especial da
.. porciona, da beleza original da sua verde- Revista de Turismo, porquanto elas vi-
jante flora, dos nascentes observados em sam só ao interesse d'uma região, embora

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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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bem merecedora de todo o concurso ; mas Ora leio sempre, com interesse, o
• como adentro da sublime idéa que esta <Comercio da Madeira~ - nem podia dei-
Revista defende e do programa que se xar de o fazer, não só porque esse bri-
impoz, cabem bem as minhas apreciações, lhante colega me tem dado todo o seu
que são, por assim dizer, restrictas a valioso apoio, corno · porque é, principal-
um unico pensamento - o bem da Madeira, mente, como éco e orientador das opiniões,
por isso me abalanço a transmitil'as ao onde mais facilmente encontro materia
publico que pela nossa Ilha se interessa, para as minhas conjecturas, sem têr o
não só o que habita no Continente e que trabalho de discussões contradictorias,
pode enthusiasmar-se com as referencias geralmente infructiferas, porque se perde
feitas á sua terra, como no Funchal, onde tempo sem um lucro positivo.
a util e patriotica Revista de Turismo Quem quer ou póde perceber, percebe
conta já um certo numero de leitores e facilmente as idéas alheias ; quem não
apreciadores da sua bela obra. atinge as concepções d'outrem, deve
Completada assim esta introdução, que aguardar o seu resultado pratico - sys-
tema economico e util para quem não
gasta tempo com divagações.
- Como ia dizendo, . leio sempre o
Comercio, e vejo com prazer a sua mis·
são, que é bem comprehendida - o que
lhe tem grangeado auctoridade e sympa-
thias. A sua acção, inspira-se sobretudo
em ser util á terra em que nasceu e na
qual vive. Todos o reconhecem.
Assim, ele vem denunciando os males;
vem apontando o que deve sêr modifi-
cado, emfim - o que se deve fazer para
proveito da nossa linda terra.
E' muito. mas pode ir mais alem. Com
o pezo da sua autoridade e com o valôr
da sua vulgarisação, o ~comercio:. póde
e deve desempenhar um papel preponde-
rante na vida madeirense - e estou bem
certo de que ha de atingir essa situação.
Para isso - a meu vêr - é necessario que
abra uma insistente campanha d'onde
ha de, sem duvida, sahir a Sociedade de
Propaganda e defeza da Madeira.
FERNANDO MENDES Só a essa instituição poderemos impôr
o nosso programa, que ela não pode dei-
- para mim - é d'um excepcional valôr, xar de aceitar porque ele constituirá a sua
passo a dar largas ao meu espirito, fazendo-o unica razão de sêr. '
de forma a que os meus pensamentos Só essa Sociedade nos póde defender,
sejam os mais concretos possiveis e tra- porque só ela pode agrupar em volta de
duzam, tanto quanto em mim cabe a si todos os madeirenses.
singeleza que pretendo impôr aos meus Emquanto isso não se fizer, sob os
conceitos para que eles sejam apreciados simples delineamentos que expuz na mi-
tão sómente como sugestões, ou recur- nha anterior carta-isto sem pretensões,
sos a experimentar na solução dos varios bem entendido - nada se conseguirá de
problemas cuja responsabilidade nos im- que resulte um util e pratico beneficio para
pende muito directamente. a nossa querida ilha.

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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Creia o colega que não são os polí- medio da Sociedade Propaganda e Defeza
ticos (que nos vão representar no con- da Madeira.
gresso), que nos proporcionarão a satis- Antes nada se obterá ; porque, mesmo
fação dos nossos desejos. Elê!s, apenas, alguma coisa que se faça, isoladamente,
ali, procuram satisfazer os interesses do sem obediencia a um programa criterioso
partido a que pertencem para - como de e ordenado, não surtirá efeito algum apre-
resto todos os outros-simplesmente man- ciavel. O bom resultado só depende dos
terem as suas situações. Os que foram interesses ligados á obra.
agora eleitos nossos representantes em Tratemos pois, de preparar o ambiente
Côrtes, sel· o hão amanhã da Patagonia e de enthusiasmar e incitar as energias,
ou da Cochichina, se estas um çlia vierem que as temos e das melhores para o conse-
a ser colonias portuguezas. guimento do nosso fim.
Aqui veem-se as coisas muito diferen-
Funchal, Julho de 1921.
tes do que elas se passam em Lisboa,
C. N.
nos centros políticos, á sombra da Arcada
do Terreiro do Paço, ou nos comodos ==============
@
jaateutls do Congresso.
Portanto, e para não alongar mais
FEIRA DA NORUEGA
estas considerações-o unico recurso via-
SEGUNDO comunicação que nos foi feita pela
vel e pratico de que podemos dispôr com
Legação da Noruega em Lisboa, deve rea·
exito, é o da constituição da Sociedade
lizar-se em Christiania, de 4 a 11 de Setembro
de Propaganda. Só a ela é que pode-
proximo, a segunda grande feira nacional para
mos exigir tudo quanto o .:Comercio> fez
uma completa exposição dos seus productos na·
lembrar ao nossos representantes em cor-
turaes, taes como: maquinas e utensilios ; gaz e
tes e mais alguma coisa de que o bri-
electricidade; metaes trabllhados e utensílios;
lhante colega se esqueceu.
instrumentos de precisão; ourivesaria; vidraria,
Alem d'isso, unicamente d'essa valiosa porcelana, faianças, bijuteria; tecidos e confe-
instituição é que poderemos esperar bene- ções; m:iddras trabalhadas; pasta de madeira,
ficios taes como a reparação e manutenção mobiliario; artigos de desportos; borrarha e
em bom estado da!-i nossas ruas e estra- coiro aplicados a artigos de utilidade e de fan·
dras; o com pleto e inexcedível asseio na ta~ia; materiacs de construção; livraria, maqui·
cidade e nas nossas alcandoradas vilas, nas e utensil1os de imprensa e li1ografia, etc. etc.
já por uma irreprehensivel limpeza das Dados os bons e proveitosos resultados obti·
ruas, quer pela pintura exterior dos pre- dos na primeira expo~ição, é de esperar que o
dios, que devem apresentar um aspecto - exito d'este segundo certame exceda a melhor
salutar e sympathico para que bem im- espectativa.
pressione o visitante; a exploração do Todos os esclarecimentos são fornecidos pelo
caes e os transportes marítimo$. aOfice Nacional du Comerce Exterieur da No-
A soluyão da magna questão dos hoteis ruega, em Christianian,
e respectivos corretores, a nacionalisação
dos bordados, a transformação do jardim
Municipal, a reconstrução do theatro, a CANÇÕES
importantíssima questão da regulamenta- DE ANTONIO BOTTO
ção do jogo, a viação electrica ; o esta-
belecimento de mais ameudadas e regulares
UMAgralhada,
infeliz revisão deu lugar a que sahisse
em o n.o d'esta Revista, a
107
carreiras marítimas, assim como a propa- maviosa Canção XVI do primoroso livro lati·
ganda para a visita dos turistas, são outros çõts que o nosso distincto colaborador literario
tantos assumptos do mais capital interesse e genial poeta Antonio Botto, fez ha pouco pu-
blicar. Por isso a reproduzimos n'este numero,
para a vida madeirense e que só poderão especialmente revista pelo seu auctor, a quem
têr solução pratica e satisfatoria por inter- enviamos uma vez mais, as nossas felicitações.

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DE 1921 REVISTA DE TURISMO
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EXCURSÃO AO ALGARVE

IMPRESSôES DE ///AGEM
EM VILA REAL DE SANTO ANTONIO

D EPOIS de chegados a Vila Real de


Santo Antonio, procurámos um g uia
que nos levasse ao melhor hotel da terra.
meiro hotel da vila. A nossa surpreza não
se modificou, porquanto o hotel está em
justa relação com o valor da localidade.
Entretanto fomos apreciando o que pelo - Mas, Vila Real de Santo Antonio é
caminho se nos ia depa rando, e, com a uma vila importante pela sua ind~st ria,
maior sinceridade, embora com a mais pela sua situação de porto de mar no ex-
funda tristeza, não podêmos deixar de tremo oriental do nosso Paiz e, demais,
manifestar a nossa desagradavel impres- fronteira a Espanha, que lhe fica distante
são. A estação do caminho de ferro está vinte minutos de travessia sobre o Gua-
por construir, embora já ha tempo tenha diana, que soberanamente banha essa vila.
sido projectado um edificio para. esse fim. Estes predicados constituíam suficientes
No verão, ainda é possível a qualquer sêr motivos para tornar a ultima Vila de Por-
civilisado apear-se ali sem receio de perigo tugal n' uma interessante e atrahente loca-
de maior; mas no inverno, sem quasi têr lidade de qualquer nação que não fosse a
resguardos e com as plataformas em terra nossa.
solta, é caso para se ir munido de botas Como, porém, ela faz parte integrante
eguaes ás que empregou o celebre capitão do continente portuguez, por isso dá a
Boyton para fazer a travessia do Tejo, por impressão d'uma terra de pescadores sel-
que dificil será sahir-se incolume da gare. vagens no extremo Austral do Continente
O caminho que lhe dá acesso é tambem Africano. .
pouco tentador ; havendo um carreiro pelo O Hotel, nem merece a mais simples
meio d' um campo escalvado, fronteiro á referencia. Ha hospedarias em outras ter-
estação. que, encurtando o espaço pa ra a ras de provinda que, ao pé do Hotel
Vila - aliás a pequeníssima distancia - Central de Vila Real, são quasi que ver-
mostra, todavia, ao viajante, um aspecto dadeiros ~Palaces• .
desolador. No emtanto o seu proprietario tem um
E' um cam po explendido para um par- especial tipo de burguez.
que, um j ardim ou uma boa construção ;
mas - infelizmente para todos - está em
completo abandono.
=o=
Na travessia para o hotel seguimos por Um pouco refeitos da viagem e depois
diversas ruas, todas feias, de mau piso, d'uma rapida limpeza (tanta quanto o
ladeadas ~e casebres, sem vestígios de tempo e o local permitiam), fomos fazer
civilisação. Quasi todas as casas são ter- uma mais minuciosa visita á \'ila ; e a
reas, não tendo nenhum pavimento superior nossa desolação confirmou-se a cada passo.
a dar-lhes um vislumbre de esthetica. Apenas notám o~, para especial referen-
A sua construção é simples e primiti- cia, a existencia d'uma grande Avenida
va : uma porta e uma janela de cada lado; á beira-mar, onde se encontram as prin-
mas, tanto a porta como as janelas, mal cipaes e mais civilisadas habitações, toda-
traçadas e sem um delineamento, nem o via em mistura com grandes fabricas de
mais pequeno motivo alegorico. conservas. Na Estrada da Légua tambem
Dentro em pouco chegavamos ao pri- uma ou duas casas de mais apurada

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REVISTA DE TURISMO 5 DE JULHO
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construção, sobresahem por entre os ca- · A gente pareceu-nos pouco comunicativa


sebres que a ladeiam. e talvez mesmo concentrada. Certamente
A praça principal é tão simples como por isso não topámos, em a nossa curta
o obelisco que plantaram no seu meio. visita, nenhum exemplar feminino por onde
Em resumo-não possue um monumento, pudessemos aquilatar os dons que a na·
nem um edificio mais nota vel, nem um tureza dispensou ás muJheres de Vila Real
jardim ; emfim, nada de nada. de Santo Antonio.
No emtanto, a vila tem vida propria e Emfim, nada Je interessante nos pren-
importante. A sua intensa industria de deu a esse triste rincão da Terra Portu-
conserva de peixe e o seu comercio com gueza, que ali emudeceu os seus canticos,
a visinha Espanha davam-lhe direito a sêr os doces gorgeios pelas luarentas noites
tratada com amor diferente do que lhe estivaes ; terra sem aroma ; sem mulheres,
dispensam os seus filhos. sem beleza, de homens sizudos e rudes.
A cresce, ainda, que o seu bom porto A característica dos homens tem, toda-
de mar lhe facilita a vida não só pela via, u ma, justa definição: a maioria d'eles
exportação das conservas, como pelos fazem vida de pescadores, os que os torna
importantes fornecimentos de viveres com rudes e pouco comunicativos ; a outra
que abastece os numerosos vapores que parte por constantes relações com uma
ameude vão ao Pomarão carregar os mi- população mesclada de espanhoes e por-
nerios de cobre da mina de S. Domingos. tuguezes, e vice-versa, oferece uma in-
Os seus arredores são insignificantes, decisa apreciação ·- a que, em geral, se
constatando-se uma paysagem arida, ape- atribue aos raianos.
nas cortada pelo vetusto castelo de Castro Como nos sobejava tempo da demora
Marim, o unico e antigo padrão que (se que fõrn projetada para estarmos n'esta
não estamos em erro) se nota n'aquelas Vila, resolvemos fazer uma pequena deri-
paragens. vação, que · no proximo numero relatare-
Para os lados de Vila Real a flora é mos.
menos exuberante ; o terreno é mais es-
calvado. Explica-se o facto pela razão da A. L.
população se entregar mais á vida mari-
tima, pois é quasi toda constituída de pes- Composto e Impresso no CENTRO TIPOGRAPHICO COLONIAL-
cadores. Larto R~ phael Bo dalo Pinheiro. 27- (A ollCo Larco d'Abeto orla)

. @ ==========
PO r~·r uGAL P ITORESCO
- - - -------

THOMAR-Vlsla ceral do Convento' de Cbrlslo (lado Norle)

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