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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC

Faculdade de Direito de Maceió - FADIMA


Núcleo de Extensão e Pesquisa - NEPE

Ivan Santos Araújo

ARTIGO 282, CPC E AS CONDIÇÕES DA AÇÃO.

Maceió/AL

2011
Artigo 282 CPC

Dá-se ao artigo 282 do Diploma de Processo Civil brasileiro a seguinte redação:

A Petição Inicial indicará:

I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;


II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido, com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - o requerimento para a citação do réu.

Ao iniciar a petição inicial, antes de qualquer outra coisa, deverá ser indicado o Juízo ou tribunal
competente para o julgamento do pedido do autor. É de grande importância a correta indicação do
órgão jurisdicional a que é enviada a peça vestibular, pois é dessa maneira que se conhece o órgão que
o autor considera competente para seu caso. Interessante ponto ressalta Alexandre Câmara, ao destacar
um erro do legislador no momento da feitura do inciso I do art. 282:

“confunde-se, no texto da norma, o juízo (ou seja, o órgão jurisdicional)


com a pessoa natural do juiz.”

Após a apresentação do órgão judiciário que julgará a demanda, as partes deverão ser
qualificadas, o inciso II do artigo em discussão pede que sejam mencionados nessa qualificação o
nome, prenome, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu, porém se for do
conhecimento do autor, é recomendado que sejam indicados também CPF e RG das partes. Em
contrapartida é importante levar em conta que nem sempre o autor terá em mãos todos os dados
necessários a completa individuação do réu, situação em que deverão ser apresentados todos os dados
que possua a respeito do demandado. Inclusive outros elementos não citados no artigo, como por
exemplo um apelido ou uma característica física de destaque para melhor identificação do demandado.

No terceiro inciso do art. 282 do CPC são mencionados “o fato e os fundamentos jurídicos do
pedido”, o que constitui nada mais que a razão da ação, sua causa de pedir. Esta causa de pedir é
dividida em duas, a próxima e a remota. A próxima é o fato que deu origem à ação, por exemplo, numa
ação de despejo seria o não pagamento do aluguel pelo locatário ao locador. Já a remota é o fato
constitutivo do direito que origina a relação. Seguindo o exemplo supracitado seria o contrato de
aluguel firmado entre as partes.

Com base no princípio IURA NOVIT CURIA (o juiz conhece o direito), torna-se desnecessário a
apresentação de dispositivos legais que fundamentam o pedido.

O próximo passo do autor será indicar o pedido, o qual deverá ser certo e determinado, já que este
delimitará o objeto do processo. O pedido será determinado quando buscar um bem jurídico
perfeitamente caracterizado, e será certo quando não deixar dúvidas a seu respeito. O pedido é dividido
em mediato (a tutela do bem da vida) e imediato (o provimento jurisdicional).

Seguindo a ordem do artigo, virão em seguida o valor da causa de acordo com o autor, as provas
com que o autor pretende embasar as suas alegações e sua demanda e por último o pedido para a
citação do réu.

Caso qualquer dos requisitos exigidos neste artigo não seja cumprido, ou caso apresentem-se com
algum defeito ou irregularidade capaz de dificultar o julgamento do mérito, será determinado ao autor
que emende ou complete a inicial num prazo de 10 dias.

Já se estes e outros requisitos exigidos pelo código estejam em ordem o juiz despachará a inicial
ordenando a citação do réu para que ele a responda e conteste tudo que não deseje que seja considerado
verdade.

As condições da ação

Mesmo quando o pedido do autor é negado, foi exercido o IUS ACTIONIS (direito de pedir a
tutela jurisdicional), porém para que este pedido seja estudado pela autoridade competente, faz-se
necessário invariavelmente a presença das condições da ação.

Estas condições são a possibilidade jurídica, o interesse de agir e a legitimidade das partes
(legitimidade ad causam).

O art. 267 do CPC elenca uma série de casos em que um processo será extinto sem a resolução de
mérito, dentre eles, no seu inciso VI estão as supracitadas condições da ação.

Posição diversa da doutrina majoritária a respeito do tema, possui Alexandre Freitas Câmara,
discordando principalmente nos seguintes pontos:

– Primeiroo, a nomenclatura seria imprecisa, pois estas condições não se referem a eventos
futuros e incertos a que se subordina a eficácia de um ato jurídico, pois mesmo quando em falta alguma
dessas condições da ação haverá uma sentença, meramente terminativa é claro, mas ainda assim, terá
sido exercida a função jurisdicional e o poder de ação, tornando-se assim mais adequada a expressão
“requisitos do provimento final”;

– O segundo ponto de discordância refere-se a possibilidade jurídica e a sua aceitação como um


requisito ou condição autônomo da ação e a nomenclatura dada a ela por grande parte dos
doutrinadores.

1. INTERESSE DE AGIR

O artigo 3º do CPC define que para prôpor ou contestar uma ação é necessário ter interesse e
legitimidade e o artigo 267 em seu inciso VI do mesmo diploma aponta como punição para a ausência
destes requisitos a extinção do processo sem a resolução do mérito.

Ao exercer uma atividade jurisdicional que não seja absolutamente necessária, o estado esta
prejudicando àqueles que realmente precisam de sua intervenção, como por exemplo o acúmulo de
processos desnecessários em um Juízo ou Tribunal.

Este interesse é identificado pela presença de dois elementos: “interesse-necessidade”


(necessidade da tutela jurisdicional) e o “interesse-adequação” (adequação do provimento pleiteado). A
inexistência de um destes dois elementos implica na falta do próprio interesse de agir.

O “interesse-necessidade” nasce da proibição da autotutela. Quando alguém sente que possui um


direito ameaçado ou desrespeitado, e não consegue resolver este problema por ato próprio (dentro do
que a lei lhe permite é claro!), este encontra-se numa posição que pede pela intervenção judicialpara
solucionar seu problema.Exemplo é o caso do credor que tem que demandar o devedor inadimplente
para ver o seu crédito satisfeito.

Já o “interesse-adequação”, nasce da necessidade do autor usar a ação correta para o seu caso. O
entendimento deste elemento torna-se muito simples através de dois exemplos citados por Alexandre
Câmara Freitas Câmara:

Primeiro, o locador que pretenda recuperar a posse do imóvel locado terá de postular o despejo do
locatário, sendo inadequada a propositura de demanda de reintegração de posse, da mesma forma que o
cônjuge que pretenda desfazer seu casamento em razão de ser o outro adúltero deverá pleitear a
separação judicial, e não a anulação do casamento.

Após estes dois exemplos fica simples entender que o “interesse-adequação” nada mais é que a
utilização da ferramenta correta para a provocação do órgão competente para seu caso.
É de imensa relevância também, diferenciar o interesse de agir aqui estudado, também conhecido
como interesse processual, que é a condição da ação com o interesse de direito material, ou interesse de
direito primário, que o demandante pretende fazer valer em juízo, o que é muito bem trabalhado na
lição de José Frederico Marques em seu Manual de Direito Processual Civil:

“Esse interesse, instrumental e secundário, não se confunde com o interesse que constitui o
núcleo do direito subjetivo material. O interesse do credor, quando exige o pagamento de seu
crédito, está em receber o que lhe é devido; mas, ao propor ação para cobrar a importância desse
pagamento, o interesse que condiciona o ius actionis diz respeito à prática de atos processuais
para obter a tutela jurisdicional, pois não se examina, aí, se o crédito realmente existe, mas, sim,
se, em face da pretensão formulada em juízo, possibilidade tem o autor de conseguir do Estado a
prestação da tutela jurisdicional, por ser a sua pretensão objetivamente razoável. Inexistindo o
crédito, falta ao credor legítimo interesseem pretendê-lo do apontado devedor; inadmissível, para
o caso levado a juízo, a providência jurisdicional invocada, faltará legítimo interesse em propor
ação, porquanto inexiste pretensão objetivamente razoável que justifique a prestação
jurisdicional requerida. Pas d'interêt, pas d'action”

2. LEGITIMAÇÃO PARA AGIR

A legitimidade para agir nada mais é que a individualização daqueel a quem pertence o interesse
de agir e daquele frente ao qual se formula a pretensão levada ao judiciário. Autor e réu, eles deverão
ser os titulares do direito discutido em um processo, pois só os titulares possurem a legitimidade ad
causam. Faz-se mister, novamente a apresentação da lição do professor Alexandre Câmara, para um
perfeito entendimento deste tópico, graças a clareza de suas explicações e o uso ados mais adequados
exemplos:

“pode-se afirmar que têm legitimidade para a causa os titulares da relação jurídica
deduzida, pelo demandante, no processo. Explique-se: ao ajuizar sua demanda, o autor
necessariamente afirma, em sua petição inicial, a existência de uma relação jurídica, chamada
res in iudicium deducta. Assim, por exemplo, aquele que propõe “ação de divórcio” afirma
existir, entre ele e a parte adversa, uma relação matrimonial. Da mesma forma aquele que
propõe “ação de despejo” afirma existir entre ele e o réu uma relação de locação. Ao afirmar em
juízo a existência de uma relação jurídica, o autor deverá, obviamente, indicar os sujeitos da
mesma. Esses sujeitos da relação jurídica deduzida no processo é que terão legitimidade para
estar em juízo. Assim, por exemplo, na ação de despejo a legitimidade ativa (para ser autor) é
daquele que se diz locador, enquanto a legitimidade passiva (ou seja, para figurar como
demandado) é daquele que o autor apontou como sendo o locatário. Da mesma forma, em uma
“ação de cobrança”, legitimidado ativo será aquele que se diz titular de um crédito, e legitimido
passivo aquele apontado pelo autor como devedor.”

Após esta brilhante explanação fica fácil trabalhar esta primeira idéia de legitimidade, a qual
configura a legitimidade ordinária.

Já a legitimidade extraordinária divide-se em legitimidade extraordinária autônoma e subordinada


de acordo com a maior parte da doutrina.
A subordinada (ou subsidiária) ocorre quando o legitimado extraordinário só pode ir a juízo
diante da omissão do legitimado ordinário em demandar, exemplo disso é, no processo penal, a ação
penal subsidiária da pública.

Já a autônoma engloda um número um pouco maior de situações, sendo inclusive dividida pelo
professor Alexandre Câmara em concorrente e exclusiva.

Esta engloba todas as situações em que o legitimado extraordinário puder agir de forma
independente do legitimado ordinário, o que não exclui a possibilidade de ambos agirem em conjunto.
Exemplos desta configuram-se em casos como a ação de investigação de paternidade, onde o
legitimado extraordinário (MP) e o ordinário (suposto filho) podem ajuizar a ação separadamente ou
em conjunto e nas ações populares, onde o cidadão a ajuizará em nome da coletividade para proteger
um interesse supra-individual.

3. POSSIBILIDADE JURÍDICA

O último requisito ou condição da ação elencado pelo art. 267, VI é a possibilidade jurídica ou
como grande parte da doutrina se refere a ela, possibilidade jurídica do pedido. Ninguém pode invocar
a tutela jurisdicional para formular pedido não admitido no direito objetivo, ou por este proibido, como
na hipótese de ação de cobrança cuja causa de pedir seja dívida de jogo.

Mais uma discórdia nas lições do professor Alexandre Câmara em relação a doutrina majoritária
apresenta-se no estudo desta condição da ação.

O primeiro ponto seria que a possibilidade jurídica não poderia fazer parte das condições da ação
porque uma vez que o autor vai a juízo em busca de algo juridicamente impossível, não pode ser
esperada nenhuma utilidade do provimento pleiteado, razão pela qual faltaria interesse de agir.

O segundo ponto aparece quando este renomado autor prefere seguir a lição de uma corrente
minoritária da doutrina denominando esta possibilidade jurídica como possibilidade jurídica da
demanda (o que engloba partes, causa de pedir e o pedido) ao contrário da maioria absoluta dos
doutrinadores que se referem a isto como possibilidade jurídica do pedido, como já fora mencionado.

Esta posição é exlpicada segundo o autor através de exemplos em que mesmo o pedido sendo
possível, a causa de pedir ou a algo relacionado as partes configurariam o caso como impossíveis de
serem tratados juridicamente falando.

Ex.1: Na tao falada dívida de jogo, o pedido formulado pelo autor, de condenação do réu ao
pagamento de certa quantia em dinheiro, é perfeitamente possível em nosso ordenamento. Já a vedação
à cobrança de dívida de jogo ou aposta diz respeito não ao pedido (pagamento de dívida) mas sim a
causa de pedir (situação que constituiu a dívida).

Ex.2: A cobrança, em Juizado Especial Cível, de uma indenização por dano decorrente de
acidente de trânsito em um caso em que o demandado esteja, no momento da instauração do processo,
preso. A impossiblidade jurídica da demanda existe pois, a lei brasileira não permite ao preso ser parte
nos processos que tramitam pelos Juizados Especiais (impossibilidade da parte).

Observando tudo que foi estudado, verifica-se que as 3 condições da ação civil que o CPC
enumera, se resumem na existência do pedido contendo uma pretensão razoável. O interesse de agir
traduz essa condição básica para o exercício do direito de agir no plano objetivo, já a legitimidade para
agir é que revela esta condição quando se trata das partes do processo. Já a possibilidade jurídica é
condição indeclinável para comprovação da pretensão razoável.

Tudo isto será examinado no conteúdo da Inicial, juntamente com os documentos enviados nela
para comprovação das alegações.

Apesar de diferentes as punições para a falta das condições da ação e a falta ou irregularidade nos
requisitos essenciais da inicial (extinção do processo sem resolução do mérito para aquelas e emenda
da inicial em 10 dias para estes) todas apresentam-se como essenciais para a prática da atividade
jurisdicional em seu ponto de partida, que ocorre com a entrega da peça vestibular, o que só aumenta a
responsabilidade do operador do direito no momento da criação desta peça tão relevante.
LEVANTAMENTO BIBLIOGRAFICO

MARQUES, J. F. Manual de Direito Processual Civil. Volume I. 9ª ed. Campinas. Millenium. 2003.
539 p.

CÂMARA, A. F. Lições de Direito Processual Civil. Volume I. 19ª ed. Rio de Janeiro. Lumen Juris.
2009. 528 p.

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