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Manifesto em Defesa dos Pesquisadores em Propriedade Industrial

Na era da telemática, a informação não corre mais rápida do que a luz. Muito mais do que
isso. Ela está onipresente, ela é o Deus da Nova Era. Por meio dela, o INPI está “na boca do
sapo”.
Começando pelos dizeres do Jornalista Ricardo Eugênio Boechat (Jornal da Band,
20/09/2018): “O INPI que é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial, é uma das muitas
caixas pretas da burocracia brasileira, o órgão costuma levar 10 anos em média para aprovar
patentes, obviamente não foi o tempo que dedicou a esta análise favorável ao Laboratório
americano que atropelou pesquisas já avançadas da Fiocruz para produzir um genérico de uso
popular, portanto de uso disseminado através do SUS com uma economia gigantesca para o
país e um benefício gigantesco para os portadores de Hepatite C. O INPI, neste caso, agiu com
uma rapidez admirável”;
Podemos também citar um título de um dos blogs muito visitado, o blog do Fórum Social
Brasileiro para enfrentamento de Doenças Infecciosas e Negligenciadas que é um grande
coletivo de pacientes, familiares, ativistas e ONGs com a missão de aglutinar os saberes e
fortalecer as lutas por direitos há décadas travadas pelos que vivem ou convivem com doenças
infecciosas e negligenciadas, como a Leishmaniose, a Hanseníase e a Doença de Chagas
(http://forumnegligenciadas.org/): INPI isolado – Organizações e presidenciáveis criticam
patente e pedem licença compulsória (21/09/2018).
A Associação Nacional dos Pesquisadores em Propriedade Industrial (ANPESPI) repudia
veementemente as declarações falaciosas e insidiosas feitas por figuras brilhantes, reconhecidas
por todos, contra esse nobre Instituto, o INPI. Diante dessa discussão sobre a patente do
medicamento sofosbuvir, da companhia americana biofarmacêutica Gilead Sciences, ANPESPI
demanda ao caro Ricardo Eugênio Boechat, bem como a todos os meios de comunicação
envolvidos diretamente ou indiretamente com esse mal-entendido, um espaço para falar à
Sociedade Civil Brasileira sobre a Propriedade Industrial e o papel do INPI. Clamamos.
ANPESPI enuncia claramente que o pedido de patente da Gilead (PI0410846-9) deferido por
este INPI, foi depositado em 2004, contrariamente à suspeita proferida pelo ilustre jornalista, ele
levou 14 anos para ser concluído. Conforme todos estão percebendo, o INPI representa uma
Autarquia federal de suma importância para a Sociedade Brasileira, pois sua decisão impacta
diretamente na Economia do Estado Brasileiro, atinge o Tesouro Nacional e, na ocasião, o
orçamento do SUS, e, como tal, deve obediência apenas à lei.
A decisão do INPI é meramente técnica. Dar ou não dar uma proteção patentária a um
inventor é uma questão puramente técnica, fundamentada sobre critérios regidos por Tratados
internacionais dos quais o Brasil é signatário, conforme promulgado pela Lei 9.279/96 (Lei da
Propriedade Industrial, comumente chamada de LPI). A patente é um título de propriedade
temporária sobre uma invenção, outorgado pelo Estado aos inventores com o objetivo de
proteger sua criação. Todos nós concordamos que o sofosbuvir é significativamente melhor do
que todos os outros antivirais anti-hepatite C, causa menos efeitos colaterais, cura mais de 95%
de pacientes portadores do vírus da hepatite C e sua fabricação pela Fiocruz traria uma
economia enorme para o SUS e para o Tesouro Nacional. O que, por si só, já demonstra algo
inovador e indica a análise adequada dos critérios que determinam tal invenção.
Os examinadores de patentes, ligados ao exame técnico favorável e que concederam a patente
do sofosbuvir, são altamente qualificados, especialistas no campo da invenção a qual pertence o
sofosbuvir, competentes e proficientes. Eles reconheceram por análise técnica do assunto da
matéria que das 126 reivindicações do Inventor, apenas 2 reivindicações preenchiam os critérios

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de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Assim, comparativamente aos outros


escritórios de Propriedade Industrial (Europa, Estados-unidos, Japão etc.), que também
concederam patente ao inventor, os nossos especialistas examinadores, de fato, concederam uma
patente de mérito à Gilead. Como diz a Diretora de Patentes do INPI, num dos painéis do IX
SIPID, “o preço não é um quesito de patenteabilidade e o INPI não pode ser responsabilizado
pelo custo ou pelo preço de um medicamento”. O Estado Brasileiro tem outras instâncias para
tal discussão.
Na verdade, sobre o remédio que todos falam, a tal “quebra de patente”, trata-se na verdade
de um remédio jurídico que se encontra na própria LPI, no art.68, chamado de Licença
compulsória, e que somente pode ser administrado depois da concessão de patente, “ O titular
ficará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente se exercer os direitos dela
decorrentes de forma abusiva, ou por meio dela praticar abuso de poder econômico,
comprovado nos termos da lei, por decisão administrativa ou judicial”. Até nisso, o INPI está
amparado pela própria LPI e a Sociedade também.
Portanto, as alegações de que o INPI deveria ou poderia analisar os pedidos de patente
baseando-se em considerações que não sejam apenas a averiguação dos requisitos legais para a
outorga de uma patente são indevidas e contrárias à Constituição Federal. Visto que, como ente
administrativo que é, as decisões do INPI podem sempre ser revistas pelo Poder Judiciário, em
função do conhecido princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional dos atos do Poder
Público, previsto no art. 5º, inciso XXXV, da CF/1988.
Como disse o Hélio Schwatsman “se o imperativo de salvar mais vidas ao menor custo para
o Estado é absoluto, o Brasil não deveria reconhecer nenhuma patente, já que, em tese, seria
sempre mais barato não pagar o licenciamento. Não fazemos isso porque o país entende que a
patente é uma forma legítima de estimular a inovação”.
O que todos devem estar preocupados não é sobre a concessão de uma patente, por exemplo,
uma patente tal qual a concedida à Gilead, mas sim sobre o sucateamento que a autarquia vem
sendo submetida há décadas. Essa Autarquia, órgão de Estado, deve urgentemente passar por
uma reestruturação para que seu corpo de servidores altamente qualificado [Pesquisadores em
Propriedade Industrial (Examinadores de patentes); Tecnologistas em Propriedade Industrial;
Analista em Planejamento, Gestão e Infraestrutura em Propriedade Industrial; Técnico em
Planejamento, Gestão e Infraestrutura em Propriedade Industrial e Técnico em Propriedade
Industrial] possa atender a crescente demanda do país. Medidas prementes estruturantes
como a reestruturação das carreiras do INPI em Carreira de Estado, para contratação de
servidores, diminuição da evasão e estruturação de Tecnologia da Informação. Enfim, medidas
concretas que possibilitem ao INPI desempenhar seu papel de órgão de Estado mediador do
Sistema de Propriedade Industrial no Brasil.
A ANPESPI reitera seu apoio aos examinadores que sob pressão de muitos decidiram sobre o
pedido de patente do sofosbuvir com toda a proficiência, competência e conhecimentos
técnicos; parabeniza a DIRPA e a PRESIDÊNCIA do Instituto que apóiam a independência
técnica dos pesquisadores em propriedade industrial do INPI; e agradece a todos os setores que
se manifestaram a favor do INPI e torce pela obtenção de um espaço aberto nas mídias desse
país para um debate mais amplo sobre Propriedade Industrial.

ANPESPI
(Associação Nacional dos Pesquisadores em Propriedade Industrial)

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