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Novas polarizações –
ainda sobre esquerda e direita
Marcos Nobre*
*
Professor de Filosofia da Unicamp e pesquisador do Cebrap e do CNPq. Rua Morgado
de Mateus, 615, CEP 04015-902 – São Paulo, SP. Email: nobre@pq.cnpq.br.
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Notas
1
Sendo que, nos dois casos, havia uma relação de dependência entre centro e periferia,
o que é particularmente importante para a consideração do assim chamado nacional-
desenvolvimentismo brasileiro.
2
A referência à “juridificação de relações sociais” me permite esclarecer também como
utilizo aqui o termo “capitalismo regulado”. Não se trata simplesmente de verificar a
presença do Estado no processo mais geral de produção, distribuição e consumo. Isso
ocorreu, de diferentes maneiras, em todos os momentos do desenvolvimento capita-
lista, ainda que a relação entre Estado e capital tenha suas especificidades no período
pós-guerra. Este capitalismo regulado tem como marca distintiva a amplitude da sua
intervenção. A lógica planejadora estatal (com sua ideologia tecnocrática) não atin-
giu apenas a esfera econômica, mas todos os domínios da vida social, instituindo uma
série de novos mecanismos de controle social (pretensamente impessoais, burocráti-
cos). E o direito foi o principal instrumento dessa intervenção, que atingiu esferas
antes impensáveis, como foi o caso das profundas transformações no direito de famí-
lia, por exemplo. A marca intervencionista permanece hoje em boa medida presente,
ainda que tenha perdido o lastro ideológico da “neutralidade da técnica” que lhe deu
inicialmente sustentação (e que perdura no caso da regulação macroeconômica, por
exemplo). No momento atual, diversificaram-se as justificações das diferentes formas
de intervencionismo estatal. A chamada “ameaça terrorista”, por mais significativa
que seja, é apenas uma dentre muitas outras.
3
Para tirar apenas uma das muitas conseqüências possíveis dessa posição, isso significa,
por exemplo, afastar a idéia de que só se pode entender o Brasil pelo negativo, ou
seja, por aquilo que o país ainda não é (em comparação com um padrão abstrato e
fixo que lhe seria externo).
4
Vale aqui fazer mais uma breve anotação histórica: se boa parte da direita e da
esquerda partilham hoje da idéia de que as disputas no Estado Democrático de Direi-
to são legítimas, o que partilharam no passado foi exatamente um modelo de moder-
nização único. Compreendem de maneira bastante diversa a natureza da legitimidade
democrática hoje, como compreendiam de formas diferentes o modelo único de
modernização que partilharam no passado. Se a esquerda se moveu na direção de
colocar em questão esse paradigma da modernização, a direita permaneceu aferrada
a ele.