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Relatório de Estágio

Técnico Superior de Reinserção Social

Catarina Bragança Fontes da Rocha

Março 2001
Relatório de Estágio
Técnico Superior de Reinserção Social

Centro Educativo do Mondego


Catarina Bragança Fontes da Rocha
Orientador: Vítor Martins

Março 2001
Índice

ÍNDICE 3

INTRODUÇÃO 4

FASE DE ACOLHIMENTO E SENSIBILIZAÇÃO 5

A - Enquadramento institucional e conteúdo funcional dos Serviços 5


A1 – Modelos de Gestão da Delinquência Juvenil – Perspectiva Histórica 5
A2– Organização Tutelar de Menores versus Lei Tutelar Educativa 9
A3 – O Centro Educativo do Mondego 12
Introdução
1-Fase de acolhimento e sensibilização

A - Enquadramento institucional e conteúdo funcional dos Serviços

A1 – Modelos de Gestão da Delinquência Juvenil – Perspectiva Histórica

É objectivo deste primeiro capítulo fazer uma breve descrição das diferentes
perspectivas adoptadas na gestão e controlo da delinquência juvenil em Portugal, de
forma a compreendermos o modelo protagonizado pela actual Lei Tutelar Educativa e o
seu reflexo na actividade do Centro Educativo do Mondego.1

Até ao ano de 1911, data em que é publicada a Lei de Protecção à Infância, não existe,
em Portugal, um enquadramento legal específico para menores agentes de factos
qualificados como crime. O modelo adoptado é o modelo penitenciário, em que o jovem
é visto como um adulto em miniatura e por este motivo submetido às mesmas regras
dos adultos. Desta forma, os menores poderiam ser isentos de pena (quer por falta de
imputabilidade, quer por carência de discernimento) ou gozar de uma atenuação
especial da pena em atenção à menoridade. Mas estavam sujeitos a penas que, pela sua
natureza, se não distinguiam das sanções aplicáveis aos adultos sendo julgados pelos
tribunais comuns e segundo as regras do processo penal comum. Era nas cadeias onde
cumpriam normalmente as penas privativas da liberdade. O direito criminal da época
tinha como base a ideia da responsabilidade do agente e da reprovabilidade social da sua
conduta, tendo assim um carácter, no que diz respeito aos menores, fortemente
repressivo, punitivo e intimidativo.

A partir da segunda metade do século XIX, verifica-se em toda a Europa um período


marcado por debates políticos importantes, impulsionados sobretudo pela acção das
Associações Filantrópicas, sobre a necessidade da separação entre os jovens detidos e os
mais velhos como um pré-requisito indispensável para a sua educação. O menor é cada
vez mais visto como um indivíduo em perigo, uma vítima que precisa de ser protegida
contra o risco que representam a sua família e o seu meio de origem. O comportamento
desviante do menor passa a ser encarado como um reflexo do meio em que se encontra
inserido. A noção de culpa é substituída pela noção de risco.

1
Para uma melhor compreensão ver em anexo (anexo 1) o quadro comparativo da sequência cronológica dos
principais instrumentos legislativos publicados referentes a este tópico.
Dentro deste espírito, em 27 de Maio de 1911, é publicada em Portugal a Lei de
Protecção à Infância que assinala a passagem do modelo penitenciário em vigor para o
modelo proteccionista. Este decreto procedeu à separação entre adultos e menores
delinquentes, criando a jurisdição de menores. Instituiu um direito diferenciado de
natureza preventiva, tutelar e eminentemente subjectiva. A doutrina Parens Patriae
surge aqui, como legitimadora da acção precoce e preventiva do Estado no sentido de
proteger os interesses dos menores. Esta lei não limitou o seu âmbito às situações de
delinquência juvenil, abrangendo também os menores em perigo moral, os
desamparados, os indisciplinados e os anormais patológicos. São criadas duas
instituições - a Tutoria da Infância e a Federação Nacional dos Amigos e Defensores
das Crianças, com os... fins de prevenir não só os males que podem produzir a
perversão ou o crime entre os menores de ambos os sexos de menos de dezasseis annos
completos, ou comprometter a sua vida ou saúde mas também de curar os efeitos d
´esses males... (Lei de Protecção à Infância de 27 de Maio de 1911 artigo 1º).
Dentro deste enquadramento legal surgem em 1919 os primeiros serviços centrais de
coordenação de instituições tutelares com a criação da Inspecção Geral dos Serviços de
Protecção de Menores (Decreto n.º 5611 de 10 de Maio), que serão substituídos mais
tarde em 1925 pela Inspecção Geral dos Serviços Juridicionais e Tutelares dos Menores
(Decreto n.º 10767 de 15 de Maio) e em1933 estes serviços passam a designar-se
Direcção Geral dos Serviços Juridicionais de menores (Decreto-lei n.º 22708 de 20 de
Junho).

A Lei de Protecção à Infância de 1911 vai vigorar até 1962 altura em que é publicada a
Organização Tutelar de Menores (OTM) - Decreto n.º 44289 de 20 de Abril. A OTM
mantêm e reforça o modelo de protecção em vigor. Esta lei surge em primeiro lugar da
necessidade de compilar e sistematizar a numerosa legislação avulsa publicada
posteriormente à lei de 1911. A OTM teve também como propósito reexaminar muitos
dos conceitos consagradas na Lei de Protecção à Infância à luz das novas
recomendações internacionais e escolas doutrinais da época, os métodos de trabalho
foram repensados e a adequação das instalações vigentes nas instituições tutelares foram
reajustadas tendo em conta o tipo de intervenção que se protagonizava. A OTM prestou
ainda um tributo ao modelo clínico de diagnóstico e do tratamento, através da criação
dos centros de observação anexos aos tribunais centrais. A criação destes centros surge
como indispensável dentro do espírito da OTM dado que uma vez que as medidas de
reeducação não têm como objectivo reprimir ou penalizar um comportamento
desajustado mas sim readaptar socialmente os menores, a observação é uma condição
indispensável ao tratamento eficaz. Esta ideia já estava presente na Lei de Protecção à
Infância mas foi no entanto com a Organização Tutelar de Menores, que se reconheceu
a necessidade da observação ser efectuada por um serviço especializado e de uma forma
sistematizada. Os Centros de Observação surgem assim com a finalidade de estudar os
menores sujeitos à jurisdição tutelar, definindo as suas qualidades, defeitos de
carácter, conhecimentos, aptidões e tendências, a investigar as condições do meio
familiar e social donde provêm e a formular conclusões com vista à instituição do
tratamento mais adequado à sua recuperação social. (OTM – decreto n.º 44289 de 20
de Abril artigo 111º). Com esta lei, as atribuições e funcionamento da Direcção Geral
dos Serviços Tutelares de Menores são também repensados alterando-se a designação
para Direcção Geral dos Serviços Tutelares de Menores (DGSTM).

Em 27 de Outubro de 1978, o Decreto- Lei 314/78, procede à revisão da OTM. Esta


revisão deu-se sobretudo pela necessidade de ajustar a Organização Tutelar de Menores
às profundas alterações à organização dos tribunais judiciais introduzidas pela lei n.º
82/77 de 6 de Dezembro. Esta revisão voltou a introduzir no processo tutelar a situação
dos menores vitimas e em perigo moral que, em 1967 pelo Decreto –Lei nº47727
tinham sido afastados da OTM. Esta reforma extinguiu os Centros de Observação,
substituindo-os pelos Centros de Observação e Acção Social (COAS). Estes definiram-
se como instituições oficiais não judiciárias, nos termos da Lei Orgânica dos Tribunais
Judiciais, com competência para aplicar medidas, em certas condições, a menores com
idade inferior a 12 anos. Este foi o primeiro ensaio em Portugal de protecção de
menores por via administrativa, evitando, em certos casos o recurso aos tribunais, mas
não descurando contudo aspectos da garantia dos direitos individuais, já que a falta de
consentimento ou a oposição dos pais à intervenção destes órgãos administrativos
determinavam, por si só, a competência dos tribunais de menores.

Em 1982, ainda no período da OTM e de acordo com os princípios orientadores da


reforma penal de 1982, é criado o Instituto de Reinserção Social (I.R.S.) pelo Decreto -
Lei nº319 de 11 de Agosto , cuja lei orgânica é publicada em 20 de Maio de 1983 pelo
Decreto - Lei nº204. O IRS foi criado como o objectivo fundamental de desenvolver as
actividades de serviço social prisional e pós – prisional, bem como implementar as
medidas penais não institucionais existentes ou que venham a ser consagradas na lei,
relativamente a delinquentes imputáveis e inimputáveis (art.1.º Lei nº 319/2). Nesta lei
prevê-se que a competência do Instituto poderá ainda abranger os menores sujeitos a
medidas de tratamento em estabelecimento adequado ou de simples acompanhamento
(art2º al. 3). A partir de 1990 procede--se à reorganização dos serviços, com vista á
fusão da Direcção Geral dos Serviços Tutelares de Menores (D.G.S.T.M.) com o
Instituto, que teve expressão legislativa com a publicação do Decreto - Lei nº58 de 31
de Março de 1995, na qual é reestruturada a nova lei orgânica do Instituto de Reinserção
Social e se extingue a Direcção Geral dos Serviços Tutelares de Menores.2

O Modelo Proteccionista que inspirou toda a legislação desde 1911, vai ser o modelo
que vai vigorar até ao final do século XX, altura em que entra em crise. Para tal
contribuíram um conjunto de instrumentos a nível internacional, aos quais Portugal se
vinculou : A Convenção sobre os Direitos da Criança (1989); as Regras Mínimas das
Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores – Regras de Beijing (1985);
as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas não Privativas da
Liberdade – Regras de Tóquio (1990); as Directrizes das Nações Unidas para a
Prevenção da Delinquência Juvenil – Directrizes de Riade (1990) e as Regras das
Nações Unidas para a Protecção dos Jovens Privados de Liberdade – Regras de Havana
(1990).E ainda no âmbito do Conselho da Europa a Resolução R(87) sobre reacções
sociais à delinquência juvenil e a Resolução (88), sobre reacções sociais ao
comportamento delinquente dos jovens de famílias imigrantes.

As principais críticas traçadas ao Modelo Proteccionista foram as seguintes :


 Ao nível da eficácia : o tratamento conjunto de menores em perigo e menores já
delinquentes, não apenas, não permitiu centrar a atenção do sistema judiciário sobre
os que já ofenderam bens jurídicos essenciais à ordem comunitária, como também
viabilizou a aprendizagem célere pelos primeiros dos comportamentos delinquentes
dos últimos; O modelo de protecção conduzia a formas de actuação diferenciada
consoante a situação sócio-económica e familiar do menor – os adolescentes de
classes sociais menos favorecidas eram os mais penalizados.
 Ao nível da legitimidade : A progressiva consciencialização internacional e nacional
quanto à necessidade de garantir, por todos os meios, a salvaguarda dos direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos e a menor intervenção do Estado no domínio da
sua vida privada, veio por em causa a legitimidade da manutenção do modelo de
protecção dado se fundamentar em princípios opostos.
2
Ver em anexo 2, as principais atribuições e competências, estrutura orgânica e o organigrama geral dos Serviços
Centrais do IRS.
Em 1999, na sequência desta crise, são publicadas em Portugal a Lei Tutelar Educativa
(LTE) - Lei n.º 166/99 de 14 de Setembro e a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em
Perigo - Lei n.º 147/99 de 17 de Abril que vêem pôr fim ao modelo proteccionista
adoptando o chamado modelo de justiça.

A2– Organização Tutelar de Menores versus Lei Tutelar Educativa

Dado que a publicação da LTE coincidiu com o inicio do estágio a que este relatório se
refere e sendo esta lei o documento pelo qual actualmente se regem as actividades do
IRS, iremos fazer de seguida uma análise comparativa entre a LTE e a OTM no que diz
respeito às suas principais orientações. O quadro n.º I ilustra este tópico:

Quadro n.º I – OTM/LTE


Organização tutelar de Menores Lei Tutelar Educativa (LTE)
(OTM)
O menor de 16 anos agente de crime é visto como O menor de 16 anos agente de crime é inimputável
uma vítima, uma criança em perigo que necessita . No entanto não pode ser visto como vítima,
de ser protegida do seu meio de origem. podendo e devendo ser responsabilizado pelos
Aos menores de 16 anos são aplicadas medidas actos praticados.
tutelares de protecção e assistência ou educação, São-lhes aplicadas medidas tutelares de educação
Ideias – chave que não são ditadas pelos factos praticados, mas que não são determinadas pela culpa mas fazem a
sim pela situação sócio-familiar em que os jovens pedagogia da responsabilidade.
estão inseridos.
Objectivo da Proteger, assistir e educar Educação para o Direito
intervenção tutelar
Abrange delinquentes, para - delinquentes, Jovens Abrange apenas agentes da factos qualificados
Âmbito que mostrem dificuldade séria de adaptação a uma como crime .
vida social normal, crianças vitimas de maus tratos
ou em perigo.
O estado não tem o direito de se sobrepor à
Liberdade total do tribunal quanto à escolha da família, o estado pode e deve intervir mas só em
Actuação do medida, possibilidade ilimitada de modificação. ultimo recurso.
tribunal Esta lei propõe critérios vinculativos da decisão
judicial: proporcionalidade; Intervenção mínima,
preferencia à medida que consiga a adesão do
menor e dos pais; duração da medida.
Processo do Tribunal desformalizado – não Formalismo – os menores já têm garantias
Características reconhece ao menor as garantias próprias do processuais básicas; pode-se produzir prova
processuais processo penal nem meios de defesa significativos:
“ O menor não precisa de se defender pois
ninguém o está a acusar “.
Medidas Tutelares de Protecção, Assistência e Medidas Tutelares de Educação:
Educação: Admoestação; Privação do direito de conduzir
Admoestação; Entrega aos pais, tutor ou pessoa ciclomotores ou de obter permissão para conduzir
encarregada da sua guarda; Imposição de ciclomotores; Reparação do ofendido; Realização
determinadas condutas ou deveres; de prestações económicas ou de tarefas a favor da
Acompanhamento educativo; Colocação em comunidade; Imposição de regras de conduta;
família idónea; Colocação em estabelecimento Imposição de obrigações; Frequência de
oficial ou particular de educação; Colocação em programas formativos; Acompanhamento
Medidas regime de aprendizagem ou trabalho em educativo; Internamento em Centro Educativo.
estabelecimento oficial ou particular de educação;
Submissão a regime de assistência; Colocação em
lar de semi-internato; colocação em instituto
médico-psicológico; Internamento em
estabelecimento de reeducação.
Tempo indeterminado – “até que o menor dê Medidas de duração determinada ao nível da Lei e
Duração das mostras de estar readaptado”. ao nível da decisão judicial.
Medidas Medidas de duração tendencialmente longa. Medidas de duração curta.
A análise do quadro n.º I, permite-nos verificar que a Lei Tutelar Educativa regulamenta
em moldes fortemente inovadores a intervenção estadual junto de menores de 12 aos 16
anos de agentes de factos qualificados pelo direito penal como crimes. Rompe com a
tradição proteccionista que inspirou todos os modelos adoptados desde 1911,
defendendo a ideia que o jovem transgressor não pode nem deve ser visto como apenas
uma vítima do meio sócio-familiar em que se encontra inserido. No entanto, também
não considera o jovem como um adulto em miniatura, dado que defende que a situação
destes jovens perante o direito penal não é atenuada mas diferente, sujeitando-os a
medidas tutelares de educação que visam a sua educação para o direito.
Um dos aspectos também inovadores desta lei é só contemplar jovens agentes de factos
qualificados como crime, não contemplando as situações de para - delinquência nem
aquelas em que o menor se encontra em risco. Estes segundos casos são abrangidos pela
Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro (Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo),
publicada simultaneamente com a LTE e que prevê a adopção de medidas de protecção.

Uma outra característica da LTE, que difere substancialmente dos modelos adoptados
até à sua entrada em vigor, é o facto de encarar a intervenção, mesmo tendo um fim
educativo como um mal, porque limita direitos – o direito dos pais a educarem os
filhos, o direito à privacidade e intimidade das famílias, o direito do adolescente `a
liberdade e autonomia, e como tal, deve ser tão contida quanto possível. Por estes
motivos a LTE propõe os seguintes critérios vinculativos da decisão judicial: a medida
aplicada deve ser proporcional à infracção cometida (Critério da Proporcionalidade);
dentro das medidas adequadas e suficientes o tribunal deve dar preferência à que
represente menor intervenção na autonomia de condução de vida do menor (Critério da-
Intervenção Mínima); e por último na escolha da medida o tribunal deve dar preferência
à medida mais susceptível de obter a adesão do menor e sempre que possível dos pais,
representante legal ou pessoa que tenha a sua guarda de facto.

No que diz respeito às medidas a aplicar a LTE trás também algumas inovações, no
sentido de responsabilizar o jovem pelos actos praticados e o educar para o direito.
Desta forma, no conjunto das medidas aplicáveis, inclui não só as medidas próximas das
tradicionais do direito de menores (admoestação, imposição de regras de conduta e de
obrigações, acompanhamento educativo, internamento em centro educativo), as
chamadas medidas reparadoras, que se traduzem na imposição de determinadas acções
que visam a reparação, efectiva ou simbólica , do dano causado com a infracção (arts.4º,
n.º1, als. C) e d), 11.º e 12.º LTE). Como medida inovadora prevê a frequência de
programas formativos (arts. 4.º, n.º1, al. G) e 15.º da LTE). Estes programas visam agir
sobre aspectos concretos do comportamento do jovem em que este demonstrou não estar
suficiente formado para o respeito pelas normas jurídico - criminais. Em relação às
medidas de acompanhamento educativo ou de internamento em instituições do IRS, esta
lei também trouxe algumas alterações, estas medidas ao contrário do que sucedia no
período de vigência da OTM passaram a integrar um programa concreto, fixado no
denominado Projecto Educativo Pessoal (PEP) que contempla os objectivos a alcançar
durante o tratamento, duração, fases e meios de realização, de forma a que o menor
possa aperceber-se da sua evolução e ser avaliado de acordo com esta. Esta lei define
ainda que as medidas devem ter uma duração determinada não podendo exceder os dois
anos e excepcionalmente os três anos (regime fechado). Admite também que as medidas
de internamento podem ser cumpridas em diferentes regimes – aberto, semi- aberto e
fechado de acordo com a gravidade dos factos praticados. A possibilidade de
internamento em regime fechado não descura a preocupação com as garantias e direitos
do menor e é coerente com a filosofia geral da LTE, já que é uma forma de proporcionar
um último meio de apoio aos adolescentes mais problemáticos sob o ponto de vista
criminal, que não possam ser educados para o direito em centros abertos ou
semiabertos.

Por último a LTE também modifica profundamente o sistema existente, no que diz
respeito ao formalismo de aplicação das medidas. Na OTM o processo judicial
caracterizava-se por ser desformalizado, já que o menor por não estar a ser acusado
não precisava de se defender. O processo judicial na Lei Tutelar Educativa é
estruturado de forma a conferir aos menores as garantias processuais básicas. Assim
prevê um processo constituído por duas fases, a primeira de inquérito que é dirigida
pelo MP e que visa investigar tanto a prática do crime como a necessidade de educação
para o direito, a segunda, jurisdicional, é presidida pelo juiz e visa a comprovação
judicial tanto dos factos como da necessidade de educação para o direito e, quando seja
caso disso a aplicação da medida.
A3 – O Centro Educativo do Mondego

O actual Centro Educativo do Mondego está localizado na Quinta da Mitra, Freguesia


de Cavadoude, na margem direita do rio Mondego, a 18 Km da capital de distrito
(Guarda).

Foi no início do século XX (1910), que a Quinta da Mitra, antiga residência balnear dos
Bispos da Guarda e posterior Seminário Menor da Diocese da Guarda passou para a
posse do Estado em virtude das nacionalizações. Desde a década de 30, passou a
desenvolver actividades de acolhimento, educação e formação de menores, tendo as
estratégias adoptadas em cada época variado de acordo com as leis vigentes em cada
momento. Deste modo, em 19 de Fevereiro de 1926, tendo como enquadramento legal a
Lei de Protecção à Infância de 1911, é fundado o Reformatório da Guarda (Decreto n.º.
1146), que iniciaria a sua actividade em 7 de Janeiro de 1932 apenas com três alunos.
Mais tarde e na sequência da Organização Tutelar de Menores, esta instituição passa a
designar-se Instituto de Reeducação da Guarda. Em 1980 com a revisão da OTM, a
nomenclatura e a filosofia de intervenção volta a alterar-se passando a designar-se
Instituto da Guarda pelo Decreto- Lei n.º 506 de 21 de Outubro. Em 1995, já após a
criação do IRS e a extinção da Direcção Geral dos Serviços Tutelares de Menores, o
Decreto-lei n.º 58 de 31 de Março de 1995 atribui-lhe a categoria de Colégio de
Acolhimento, Formação e Educação (CAEF), integrado-o nos serviços desconcentrados
do Instituto de Reinserção Social (I.R.S.).Em 95 a portaria 689/95 de 30 de Junho,
atribui-lhe o nome de Colégio do Mondego. Actualmente, na sequência das alterações
decorrentes da Lei Tutelar Educativa (Lei nº166/99), em 1 de Janeiro de 2001, , passou
a chamar-se Centro Educativo do Mondego, pela publicação em Diário da República,
através da portaria nº1200-B/2000 de 20 de Dezembro.

O Centro Educativo do Mondego é um centro educativo orgânica e hierarquicamente


dependente dos serviços desconcentrados de reinserção social (Delegação Regional de
Coimbra)3. A sua intervenção e organização sofreu alterações significativas com a
publicação da Lei Tutelar Educativa.

Ao nível da intervenção, esta lei como já vimos defende um modelo que baseia a
legitimidade da intervenção do Estado na prática de um facto qualificado pela lei como
3
Ver em anexo 3 o organigrama dos Serviços Desconcentrados do IRS.
crime e nas necessidades de educação para o direito manifestada naquela prática e de
inserção do menor, de forma digna e responsável, na vida em comunidade. Com vista à
realização uniforme destes princípios a intervenção do Centro Educativo do Mondego
obedece aos limites estabelecidos pelo Regulamento Geral (Decreto-lei n.º 323 –
D/2000 de 20 de Dezembro) e por orientações pedagógicas estabelecidas para todos os
centros educativos. A sua intervenção orienta-se, em geral, pelo projecto de intervenção
educativa do centro e, em particular, pelo projecto educativo pessoal do menor.

Deste modo, segundo o Regulamento Geral e Disciplinar dos Centros Educativos


(artigo 1º), a intervenção em centro educativo, tem como finalidade proporcionar ao
educando, por via do afastamento temporário do seu meio habitual e da utilização de
programas e métodos pedagógicos, a interiorização de valores conformes ao direito e a
aquisição de recursos que lhe permitam, no futuro, conduzir a sua vida de modo social
e juridicamente responsável. Ainda segundo este regulamento (artigo 8º), os Centros
Educativos destinam-se :
 À Execução da medida tutelar de internamento;
 À Execução da medida cautelar de guarda em centro educativo;
 Ao internamento para a realização de perícia sobre a personalidade;
 Ao cumprimento da detenção;
 Ao internamento em fins de semana.

De acordo com estes fins e com as modalidades e finalidades do internamento, este


Centro Educativo passará a concretizar a sua actividade no projecto de intervenção
educativa (em elaboração neste momento). Este deve especificar as unidades
residenciais de que dispõe, os programas e métodos que adopta e a programação faseada
da intervenção, diferenciando os objectivos a realizar em cada fase e o respectivo
sistema de reforços positivos e negativos, dentro dos limites impostos por lei, pelo
regulamento geral e regulamento interno do próprio centro.

A intervenção do Centro Educativo deve também privilegiar o projecto educativo


pessoal do menor, como instrumento fundamental na execução da medida. Este
projecto, subordinado a limitações temporais, deve contemplar a avaliação da situação
do menor, as metas com programação faseada e progressiva, e as estratégias de
intervenção a serem utilizadas, tendo em atenção as particularidades de cada jovem e a
duração da medida de internamento.
Para garantir a convivência tranquila e ordenada e assegurar a realização do projecto de
intervenção educativa do centro e dos programas de actividades, o Centro Educativo do
Mondego passará também a ter um regulamento interno de acordo com as orientações
do regulamento geral de todos os centros educativos.

Ao nível da organização interna do Centro Educativo do Mondego, a actual lei


também levou a alterações substanciais4.Passou a ter três unidades residenciais, duas em
regime semiaberto e uma em regime fechado. O regime semiaberto com lotação para 20
alunos e o regime fechado com lotação para seis. Estes dois regimes têm modalidades
de funcionamento distintas:
 Os educandos acolhidos em execução de medidas de internamento em regime
semiaberto, são educados e frequentam actividades educativas e de tempos livres
no estabelecimento, mas podem ser autorizados a frequentar no exterior
actividades escolares, educativas ou de formação, laborais ou desportivas, na
medida de que se revele necessário para a execução inicial ou faseada do seu
projecto educativo pessoal. Podem também ser autorizados a sair sem
acompanhamento para passar períodos de férias com os pais, ou representante
legal.
 Os educandos acolhidos no Centro Educativo do Mondego em execução de
medida de internamento em regime fechado residem, são educados e frequentam
actividades formativas e de tempos livres exclusivamente dentro do
estabelecimento, estando as saídas, sob acompanhamento, estritamente limitadas
ao cumprimento de obrigações judiciais, por motivos de saúde ou motivos
excepcionais

Para dar resposta à maior exigência de uma intervenção eficaz, limitada no tempo, com
regimes distintos e com objectivos muito concretos, o Centro Educativo do Mondego
passou a ter a seguinte organização:
 Órgãos do Centro Educativo: O Director e o Conselho Pedagógico. Quem
dirige o Centro é o Director e na sua ausência é o Subdirector ou o
Coordenador da Equipa de Reinserção Social. É também o responsável
principal pelo Centro, coordenando e assegurando a gestão do mesmo. Ao

4
Ver em anexo 4 os organigramas do Colégio de Mondego e do actual Centro Educativo do Mondego.
Conselho Pedagógico compete pronunciar-se sobre todas as matérias
relacionadas com a intervenção no Centro Educativo.

 Serviços: dividem em sector técnico-pedagógico e sector administrativo. Do


sector técnico-pedagógico compreendem todos os profissionais directamente
envolvidos na intervenção educativa junto dos educandos, organizados em
duas equipas cada uma com um coordenador específico – a equipa técnica e
residencial e a equipa de programas. A equipa técnica e residencial tem
como competências assegurar todas as tarefas relacionadas com o
acolhimento e o enquadramento residencial dos educandos, bem como a
preparação, acompanhamento e avaliação das acções necessárias à execução
das decisões judiciais. A equipa de programas tem como atribuições
assegurar o planeamento, a execução e a avaliação dos programas previstos
no projecto de intervenção educativa do centro. O sector administrativo
compreende a secção de pessoal e assuntos gerais e a secção de
contabilidade e património, e têm como funções desenvolver as tarefas
relativas à organização dos recursos humanos, financeiros e materiais afectos
ao centro.
B – Descrição e actividades de Estágio

Foi num contexto de mudança, já descrito nos pontos anteriores deste relatório, que
iniciei o meu estágio em Janeiro de 2000 como Técnica de Reinserção Social. Por este
motivo e dado ser a minha primeira experiência de trabalho com delinquentes juvenis, a
integração na equipa de trabalho teve que ser necessariamente lenta. Acresceu ainda a
estes factores o facto de ter interrompido o estágio por um período de cinco meses por
ter entrado em licença de parto (Março a Agosto).

Numa primeira etapa, que decorreu sensivelmente até Fevereiro de 2000, a minha
preocupação essencial foi a de compreender o perfil dos jovens sujeitos a intervenção e
a aprendizagem dos procedimentos, métodos e técnicas necessários a uma correcta
intervenção. Desta forma orientada pelo Dr.º Vítor Martins comecei por efectuar um
conjunto de leituras dos principais instrumentos legislativos e normas internas que
regem a actividade do TRS. Paralelamente procedi à consulta e análise dos dossiers dos
menores. Durante este período acompanhei ainda as tarefas realizadas por um dos
TRS`s já a desempenhar funções no IRS há cerca de três anos. Esta fase inicial foi
crucial, pois permitiu-me interiorizar a filosofia de intervenção do IRS em ambiente
institucional, bem como a compreensão da dinâmica específica do funcionamento
interno do Centro Educativo do Mondego. Foi ainda durante este período que frequentei
uma acção de formação levada a cabo pela Delegação Regional de Coimbra para TRS´s
– estagiários, que dado a extensão e pertinência dos seus conteúdos, permitiu que
encara-se de uma forma mais sistematizada qual o papel do Técnico de Reinserção
Social nas suas vertentes de assessoria aos tribunais e de acompanhamento das
actividades que constituem a vida quotidiana dos jovens acolhidos em centro educativo.
Após esta acção tive oportunidade de reanalisar os processos dos jovens aqui adstritos
tendo como base a Teoria da Regulação Psicológica e Social de Leblanc e Caplan,
analise esta que expus no relatório da acção de formação.

Após esta primeira etapa de aprendizagem, e dado estar quase a interromper o meu
estágio pelos motivos já referidos, foi-me pedido que elabora-se um plano de
actividades extra-curriculares até ao final do ano lectivo em conjunto com os
Professores, responsáveis das diferentes oficinas e Técnicos Adjuntos de Reinserção
Social (TARS´s), sendo esta actividade principal que desenvolvi até meados do mês de
Março. A minha principal preocupação nesta tarefa, foi a de criar alguns instrumentos
que permitissem a realização das actividades propostas pelos diferentes sectores de uma
forma sistematizada e planeada a médio prazo, com a definição concreta dos objectivos
das mesmas. Para este efeito concebi uma pequena ficha de proposta de actividade na
qual todas as propostas apresentadas foram descritas em termos de intervenientes,
objectivos, cronograma e responsáveis5. Foi elaborada também uma pequena folha de
contactos na qual foram descritos para cada uma das actividades os diferentes contactos
efectuados no sentido de a concretizar. Estas fichas, bem como os dados referentes a
todas as actividades previstas ou concretizadas foram organizados no “Dossier de
actividades Ano 2000”. Continuei a desempenhar esta tarefa no corrente ano tendo já
aberto um dossier para o ano 2001. Ainda no âmbito das actividades extra-curricular,
foi-me também pedido para dinamizar um conjunto de actividades a realizar por
proposta da escola, dado ser um sector, onde se verificava alguma passividade para
realização de actividades complementares ao processo educativo. Para este efeito
realizei uma série de reuniões conjuntas com os Professores dos diferentes níveis de
ensino e elaboramos um cronograma de actividades até junho de 2000, cuja organização
ficou à responsabilidade dos professores.

A segunda parte do meu estágio iniciou-se em meados do mês de Agosto. Dado ter
estado ausente por um período relativamente longo, voltei a ter uma pequena fase de
integração. Após esta fase iniciei gradualmente as funções de TRS., começando a
assegurar a intervenção técnica e o acompanhamento das diferentes actividades do
centro de acordo com o conteúdo funcional desta função. Ao nível da intervenção
técnica, efectuei as seguintes tarefas :
 Acolhimento do educando : entrevista com o menor; elaboração da ficha de
acolhimento; articulação com TARS’s e todos os serviços do centro com
vista à integração do jovem, articulação com a família e entidades judiciais.
 Diagnóstico da situação do educando :Entrevista com o educando; contactos
com a família, equipa de circulo e outras entidades necessárias para
averiguar a situação do menor; recolha de informações sobre o menor com
todos os profissionais do centro co-responsáveis pela sua educação.
 Preparação e actualização do PIAEF (PEP): Recolha de informações sobre o
menor com todos os profissionais do centro co-responsáveis pela sua
educação; entrevista com o menor com vista a avaliação dos factos
5
Ver em anexo 5 o exemplo da Ficha de Proposta de actividade, ficha de contacto e cronograma geral de
actividades.
praticados ou desempenho desde a elaboração do PIAEF/PEP, e elaboração
conjunta de um conjunto de objectivos a atingir; redacção do PIAEF/PEP
tendo em conta o perfil do formando, os objectivos a atingir e as estratégias
adequadas ao seu cumprimento.
 Articulação com a família e o meio social de origem : contactos pessoais ou
por telefone, tendo em vista a troca de informações mútua sobre o
desempenho do educando e a estratégia a seguir na sua reinserção.
 Elaboração de relatórios e informações para avaliação da intervenção :
Elaboração de Relatórios de Observação; Informações; Projecto Educativo
Pessoal e revisão do mesmo.

Paralelamente, efectuei um conjunto de actividades relacionadas com a educação


escolar, formação profissional, socioterapia, terapia ocupacional, desporto, cultura e
organização das actividades de vida diária e residencial, nomeadamente :
 Gestão de Unidade Residencial: Em conjunto com dois TRS´s e de acordo
com as orientações da Coordenadora da Área Residencial assegurei a gestão
da vida quotidiana de uma das unidades residênciais. As tarefas principais
desenvolvidas nesta área foram a gestão do pecúlio mensal dos educandos, a
resolução de conflitos, a organização das tarefas relacionadas com a limpeza
e manutenção dos infra-estruturas existentes, a Gestão dos telefonemas e
correspondência, Procedimentos disciplinares, acompanhamento das
actividades escolares e formativas, o acompanhamento individualizado dos
educandos, etc.
 Planeamento, organização e avaliação de actividades: Em articulação com os
diferentes serviços do centro educativo, colaborei na organização e
realização de actividades internas e externas, com vista à educação para o
direito dos jovens aqui residentes;
 Projecto de Intervenção Educativa e Regulamento Interno: Participei em
grupos de trabalho com vista à concepção do Projecto de Intervenção
Educativa e do Regulamento Interno no centro.
 Organização e gestão de ficheiros e arquivos : Sempre que necessário,
colaborei na organização e gestão dos ficheiros e arquivos necessários a
organização e funcionamento do centro educativo.
1-Fase Teórico-prática e Avaliação Crítica

A – Funções do Técnico Superior de Reinserção Social

A Lei orgânica do IRS (Decreto –Lei nº 58/95 de 31 de Março, art. 80º) define as
funções do TRS em ambiente institucional da seguinte forma : À equipe de reinserção
social nos colégios compete assegurar a intervenção técnica, desenvolvendo as
actividades relacionadas com o acolhimento, diagnóstico da situação do menor,
preparação e actualização do plano individualizado, acompanhamento psicológico e
social, articulação com a família e o meio social do menor, elaboração de relatórios e
informações para avaliação da intervenção. Define ainda que é no âmbito da equipa de
reinserção social que se desenvolvem as actividades relacionadas com a educação
escolar, formação profissional, terapia ocupacional e socioterapia, saúde , desporto,
cultura e a organização das actividades diárias e residenciais, a tempo integral ou
parcial.

Por sua vez o Regulamento Geral e Disciplinar dos Centros Educativos (Decreto-Lei
nº323 – D/200 art. 132º, 133º e 134º) prevê, a nível de organização da equipe técnica em
centro Educativo, que esta se subdivida em equipe técnica e residencial e equipa de
programas. Na equipe técnica e residencial o TRS deverá assegurar :
 as tarefas relacionadas com o acolhimento e o enquadramento residencial dos
educandos;
 a preparação, o acompanhamento e a avaliação das acções necessárias à
execução das decisões sociais judiciais, na perspectiva da reinserção social do
educando, através da gestão e organização das unidades residenciais, do
planeamento diário e semanal das actividades, do acompanhamento
individualizado de cada um dos educandos;
 desempenhar o papel de tutor técnico dos educandos que lhe estão atribuídos,
apoiando, orientando e supervisionando todo o processo educativo dos mesmos,
estabelecendo a articulação com a família e o meio social de origem e
preparando as informações, relatórios e planos necessários ao cumprimento da
decisão judicial que determinou o internamento.
Por sua vez na equipa de programas compete ao TRS:
 assegurar o planeamento, a execução e a avaliação dos programas educativos
previstos no projecto de intervenção educativa do centro educativo.

Quer esteja integrado na equipa técnica e residencial, quer esteja na equipa de


programas, espera-se que o Técnico de Reinserção Social tenha uma postura dinâmica
na criação e manutenção das condições necessárias ao desenvolvimento e educação para
o direito do educando. Que seja, também, capaz de criar com este uma relação próxima
e personalizada, criando os vínculos necessários para que possa servir de ponto de
referência para o mesmo como modelo de conduta. Para que esta actuação seja possível
é necessário, não só, que o TRS conheça bem cada um dos educandos que tem a seu
cargo, mas também que consiga compreender o seu ciclo de relações e os padrões de
referência nos quais baseia a sua conduta. Por estes motivos, é fundamental que o TRS
no exercício da sua actividade consiga criar um conjunto de indicadores que lhe
permitam medir o desenvolvimento do educando de uma forma global. O sistema de
avaliação de cada uma das actividades em que o jovem se encontra inserido, os
relatórios efectuados sobre o mesmo, a troca de informações com todos os profissionais
a exercer actividades no centro e a observação contínua destes jovens em ambiente
institucional, constituem, todos eles indicadores preciosos sobre a evolução da
personalidade do jovem. A análise do grupo de educandos, como um todo, é também de
especial relevância pois permite por um lado detectar possíveis pontos de
tensão/conflito entre os jovens acolhidos no centro, factor indispensável para a
manutenção de um clima de harmonia e estabilidade necessários à sua educação, como a
detecção de eventuais lideres cuja influência pode ser uma variável a ter em conta na
reeducação destes jovens. A análise do contexto grupal permite ainda perceber de
melhor forma quais os valores que predominam nesta faixa etária, e que legitimam a
sua conduta, e perceber quais as competências interpessoais a desenvolver em cada
menor, tendo como referência a sua relação com o grupo de pares.
Foi neste sentido, que desenvolvi um pequeno estudo que passo a descrever .

Sociograma dos Educandos do Centro Educativo do Mondego

O teste sociómetrico desenvolvido por Jacob Moreno nos anos 30, é uma técnica
quantitativa que permite descrever as atracções e repulsões, assim como os casos de
indiferença existentes entre indivíduos de um grupo restrito. A finalidade do teste
sociómetrico é a mensuração num grupo concebido como um todo, de um sistema de
preferências e de repulsões espontâneas. Permite através da representação gráfica da teia
de preferências/rejeições entre indivíduos do mesmo grupo detectar :
 Lideres - os indivíduos mais solicitados;
 Grupos - indivíduos que se escolhem mutuamente, constituindo um pequeno
grupo com base em características comuns;
 Isolados - indivíduos que não recebem nenhuma nomeação ou rejeição;
 Rejeitados – Indivíduos que recebem maior número de rejeições;
 Relações reciprocas – indivíduos que se nomeiam mutuamente .
A análise do Sociograma permite estabelecer correlações entre factores sociométricos e
factores individuais como a idade, os traços de caracter, etc. Permite examinar as
clivagens sexuais, socioeconómicas no seio do grupo. Permite ainda detectar causas de
tensão no seio do grupo.

Para o realizar perguntei a cada um dos educandos quais os membros (até três elemento)
do grupo total de jovens acolhidos no centro que escolheria para fazerem parte do seu
grupo de actividades (quer internas quer externas ao Centro). Perguntei ainda qual seria
o elemento que não gostaria que se encontra-se no seu grupo. As perguntas foram feitas
individualmente a cada um dos educandos durante o período em que estes se encontram
na oficina, de forma a minimizar ao máximo a troca de impressões entre eles.
B – Conclusão e breve apreciação crítica
ANEXO 1
Perspectiva Histórica da Legislação Publicada

Enquadramento Legal Serviços Centrais Instituição


Data
Ausência de enquadramento legal 1910
Até 1911 específico em Portugal em matéria de A Quinta da Mitra passa para a posse
delinquência juvenil. do Estado com as nacionalizações.

Criação da Tutoria da infância e da


1911 Decreto- Lei de 27 de Maio de 1911 Federação Nacional de amigos e
Lei de Protecção à Infância defensores da criança.

Decreto n.º 5611 de 10 de Maio 1919


1919 Criação da Inspecção Geral dos
Serviços de Protecção de Menores.

Decreto n.º 10767 de 15 de Maio


A IGSPM deu lugar à Inspecção
1925 Geral dos Serviços Juridicionais e
Tutelares dos Menores.

Decreto n.º 11446 de 19 Fevereiro de


1926
1926 Fundação do reformatório da Guarda
(comissão instaladora)

7 de Janeiro de 1932
1932 Inicio de funcionamento do
reformatório apenas com três alunos.
Decreto-lei n.º 22708 de 20 de Junho.
IGSJTM passam a designar-se por
1933 Direcção Geral dos Serviços
Juridicionais de menores (DGSTM)

Decreto n.º 44289 de 20 de Abril de Decreto- Lei n.º 44287de 20 de Abril


1962 A DGSTM passa a Direcção Geral O Reformatório da Guarda passa a
1962 Organização Tutelar de Menores dos Serviços Tutelares de Menores designar-se por Instituto de
(OTM) Reeducação da Guarda

Decreto – Lei 314/78 de 27 de


1978 Outubro
Revisão da OTM

Decreto-lei n.º 506 de 21 de Outubro


de 1980
1980 Passa a designar-se Instituto da
Guarda

Decreto – lei n.º 319 de 11 de Agosto


de 1982
1982 Criação do Instituto de Reinserção
Social (IRS)

Decreto lei n.º 204 de 20 de Maio de


1983 1983
Lei Orgânica do IRS

Decreto-lei n.º 58 de 31 de Março de Portaria n.º 689/95 de 30 de Junho


1995 Designação de Colégio do Mondego –
1995 Nova Lei Orgânica do IRS; extinção Colégio de Acolhimento Educação e
da DGSTM. Formação (CAEF).

Lei n.º 166/99 de 14 de Setembro


Lei Tutelar Educativa (LTE)
1999 Lei n.º 147/99 de 17 de Abril
Lei de Protecção de Crianças e Jovens
em Perigo.

Portaria n.º 1200 – B/2000 de 20 de


Dezembro
2000 Passa a designar-se Centro Educativo
do Mondego em 01701/01
ANEXO 2
Atribuições e Competências do IRS

O artigo nº3 do decreto-lei nº58/95 de 31 de Março,atribui ao Instituto de Reinserção


Social, entre outras, as seguintes competências:

 Contribuir para a definição das políticas de defesa e protecção de menores, de


reinserção social de jovens e adultos e de prevenção da marginalidade e da
delinquência;

 Promover a investigação técnica e estudos no âmbito das respectivas atribuições;

 Assegurar o apoio técnico aos tribunais na tomada de decisões, designadamente no


âmbito da jurisdição de menores;

 Intervir na execução de medidas judiciais aplicadas a menores em articulação,


sempre que necessário, com outras entidades públicas ou particulares;

 Assegurar apoio psicológico e social a crianças, jovens e adultos intervenientes em


processos judiciais, em articulação com as competentes entidades públicas e
particulares;

 Desenvolver acções de prevenção da marginalidade e delinquência, em articulação


com outras entidades públicas;

 Assegurar, no âmbito do seu objectivo e atribuições, a articulação com entidades


similares estrangeiras e organizações internacionais;

 Prosseguir outras atribuições que lhe sejam conferidas por lei.


Estrutura Orgânica do IRS

O Instituto de Reinserção Social, possui uma estrutura orgânica que se distribuí da


seguinte forma:

ORGÃOS:
 Presidente
 Conselho Geral
 O Conselho de Gestão
 A Comissão de Fiscalização

SERVIÇOS:
CENTRAIS:
 Departamento de Gestão Financeira e Patrimonial;
 Departamento de Gestão de Recursos Humanos;
 Departamento de Coordenação da Actividade Técnica - Operativa;
 Departamento de Coordenação dos Serviços de Execução das Medidas
Tutelares de Internamento;
 Departamento de Desenvolvimento e Cooperação;
 Departamento de Organização e Informática.

Serviços Desconcentrados:
 Delegações Regionais (Quatro);
 Núcleos de Extensão (Cinco);
 Centros Educativos (Catorze);
 Equipas de Reinserção Social.
ANEXO 3
ANEXO 4
ANEXO 5
ANEXO 6

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