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Monogenea: parasitos versáteis e problemáticos

Article · August 2016

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Gabriela Tomas Jerônimo Karen Roberta Tancredo


Federal University of Amazonas Federal University of Santa Catarina
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Monogenea:
parasitos versáteis &
problemáticos
© Santiago Benites de Pádua

Gabriela Tomas Jerônimo1,2*


Karen Roberta Tancredo2
Carinne Moreira de Souza Costa1
Liliane Campos Ferreira1
Santiago Benites de Pádua3
1
Programa de Pós Graduação em Aquicultura, Univer-
sidade Nilton Lins, Manaus, AM.
2
AQUOS – Laboratório de Sanidade de Organismos
Aquáticos, UFSC, Florinópolis, SC.
3
AQUIVET Saúde Aquática, São José do Rio Preto, SP.
* gabrielatj@gmail.com

V ermes monogenéticos estão entre as parasitoses mais comuns que acometem


os peixes em criação e de vida livre, de água doce e salgada. Este grupo de parasito é bastante
diversificado e durante sua evolução desenvolveram diferentes estratégias de fixação sobre
seus hospedeiros, bem como diferentes estratégias reprodutivas. Essas características os
tornaram parasitos de importância para a aquicultura, sendo responsáveis por causarem
surtos de mortalidade especialmente em peixes jovens. Muitas vezes, altas infestações
em peixes em fase de crescimento podem causar o comprometimento das condições de
saúde desses animais, com reflexo negativo sobre o desempenho zootécnico. Neste artigo
abordaremos a Monogeníase, os principais agentes causadores da doença, sua relação com o
hospedeiro, ambiente, as estratégias para prevenção e tratamento que podem ser utilizadas.

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Etiologia

ARTIGO

Monogeníase é uma doença parasitária cau-
sada por vermes achatados pertencentes ao Filo dos
Platelmintos e Classe Monogenea, também denomina-
da Classe Monogenoidea. Reúne milhares de espécies
parasitos de peixes, sendo microscópicos em peixes de
água doce e ocasionalmente macroscópicos em peixes
marinhos. Em peixes de criação, são responsáveis por
atacar a pele, nadadeiras e brânquias, sendo poucas
espécies endoparasitas.

Biologia do parasito

Os aspectos biológicos de cada espécie de
Monogenea apresentam variações. De forma geral,
atuam como ectoparasitos, onde os dactilogirídeos são
parasitos que apresentam preferência por sítios bran-
quiais para sua fixação, enquanto os girodactilídeos
são mais comuns em pele e nadadeiras. No entanto,
infestação concomitante pelo mesmo grupo em to-
dos estes sítios pode ser detectada com frequência. Figura 1. Caracteres morfológicos de vermes monogenéticos pertencentes à
Os dactilogirídeos são vermes ovíparos her- família Dactylogyridae (ovíparos) e Gyrodactylidae (vivíparos) que infestam
mafroditas, que apresentam um complexo conjunto de peixes de criação no Brasil.

ganchos e barras em sua extremidade utilizados para fixação sobre o hospedeiro. Por outro lado, os girodac-
tilídeos são em sua maioria vivíparos hermafroditas, que possuem estruturas especializadas para fixação com-
postas por ganchos, âncoras e barras (Figura 1).

Patogenia

A ação patogênica destes vermes está relacionada principalmente à forma de fixação sobre os órgãos
dos seus hospedeiros, geralmente realizada por meio de ganchos, âncoras, barras ou ventosas. Dessa forma,
podem ocasionar lesões dilacerantes nos órgãos de fixação, com indução de processo inflamatório, proliferação
epitelial e até mesmo necrose tecidual. Na figura 2 pode ser observado a presença de um Dactylogyridae fixado
na brânquia de tilápia, associado com respostas proliferativas, edema e dilaceração do epitélio de fixação.

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© Santiago Benites de Pádua
ARTIGO

Figura 2. Secção histológica de brânquias de tilápia exibindo a presença de um verme monogenético (seta)
fixado no filamento branquial. Coloração HE.

Diagnóstico

© Santiago Benites de Pádua

Para realizar o diagnósti-


co desta parasitose, basta realizar
análises microscópicas do raspado de
pele, brânquias (Figura 3) e nadadeiras.
Somente para algumas es-
pécies de peixes marinhos é possível
realizar o diagnóstico sem o uso de
microscópio ou lupa, devido ao maior
tamanho destes vermes.
Outra ferramenta de diag-
nóstico corriqueiramente utilizada
são análises histopatológicas, as quais
permitem a detecção do parasito em
secções de órgãos infestados.

Figura 3. Infestação branquial por vermes monogenéticos (Dactylogyridae)


em acará-bandeira.

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Estratégias de controle e prevenção

ARTIGO

Entre as estratégias para realizar o controle e prevenção dos monogenéticos, o piscicultor deve estar
atento a requisitos fundamentais, tais como:

Manutenção das densidades de Realizar estratégias de Realizar o vazio


estocagem adequadas para cada arraçoamento eficientes, sanitário
fase e espécie de peixe, conforme evitando desperdícios e entre ciclos
capacidade de suporte do acúmulo de matéria de produção.
ambiente de produção e sistema orgânica na água de criação.
utilizado.

Realizar a limpeza Uso contínuo de Realizar tratamentos


e desinfecção imunomoduladores, com foco estratégicos em fases de
periódica dos no aumento da maior incidência destes para-
ambientes/viveiros resistência destes animais sitos, mediante a diagnóstico
de criação. contra patógenos. prévio.

Para realizar o tratamento de monogeníase, deve-se levar em conta uma série de fatores que, direta ou
indiretamente, podem comprometer a eficácia do produto, seja ele natural ou sintético. Entre as características
do produto terapêutico a ser utilizado, listamos as seguintes: não causar dano ao tecido do animal tratado; de-
gradação rápida no ambiente; não deixar resíduos na água, no substrato ou no tecido do animal tratado; não
influenciar a qualidade da água; não oferecer perigo a humanos e animais; custo acessível e fácil aplicação.
Atualmente dispomos de um único antiparasitário com registro de uso para Aquicultura no Bra-
sil, sendo o Masoten® (Bayer), o qual possui especificações de bula para uma espécie de peixe nativa, o
pacu (Piaractus mesopotamicus) e a exótica tilápia (Oreochromis niloticus). Além deste produto, a campo
são utilizados outros produtos conforme a ocasião, especialmente os desinfectantes, tais como formaldeí-
do, permanganato de potássio e cloramina-T. Contudo, para o uso de desinfectantes é necessário manter
os animais em ambientes controlados, tais como vini-tanques, tanques de concreto de pequeno volume ou
tanques de fibra de vidro, isentos de matéria orgânica em suspensão, pois podem ser facilmente inativados.
Além destes produtos, o uso de sal comum (cloreto de sódio, NaCl) é um produto bastante útil na terapia de
suporte em animais submetidos aos tratamentos. Contudo, deve-se ressaltar que o cloreto de sódio apenas interfere
na regulação osmótica do parasito e do peixe, atuando somente como prevenção e não como tratamento, pois não
inativa o parasito, apenas o desidrata temporariamente conforme a dose utilizada. Já os desinfectantes ou organofos-
forados, destroem a superfície epitelial do verme, ou causam sua paralização, respectivamente, levando-o à morte.

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