Você está na página 1de 19

IGREJA DA SANTÍSSIMA TRINDADE – SANTUÁRIO DE FÁTIMA

J. Mota Freitas Eugénio Maia Miguel Guimarães


Prof. Associado Mestre em Engª Civil Mestre em Engª Civil
Convidado. - FEUP ETECLda ETECLda
ETECLda - Porto Porto Porto

SUMÁRIO

Em concurso internacional, o Santuário de Fátima escolheu o Arqº grego A. Tombazis para


elaborar o projecto da nova Igreja da Santíssima Trindade, a implantar no recinto de Fátima e
com capacidade para cerca de 9 000 lugares sentados. Como autores do Projecto de
Fundações e Estruturas, apresentamos nesta comunicação os aspectos mais relevantes
considerados na sua concepção, dimensionamento e execução.

In an international competition, the Sanctuary of Fátima as choose the Greek Arqº the Tombazis
to project of the new Most Holly Trinity Church, with about 9 000 seated places, to implant in the
Shrine of Fátima. As authors of the structural project, we present in this communication the
most significant aspects considered in its conception, detail and execution.

Palavras-chave: Igreja, Betão Branco, Pré-Esforço, Estrutura Metálica, Durabilidade


Church, White Concrete, Pre-stress, Steel Structure, Durability

1. BREVE DESCRIÇÃO

A nova Igreja da Santíssima Trindade situa-se a cerca de 250 m a Sudoeste da actual, no topo
oposto do recinto do Santuário de Fátima. A área de intervenção ocupa um rectângulo com
2
cerca de 230x155 m .
O corpo principal é constituído essencialmente por uma parede cilíndrica de betão armado,
com 125 m de diâmetro e cerca de 15 m de altura média, atravessado na zona central por 2
vigas salientes de grande altura (variável de 4 a 14 m) de betão branco pré-esforçado (VPE, na
sequência) com 2 m de largura, afastadas entre si de 10 m (a eixo) e que aí realizam os apoios
centrais das vigas metálicas da cobertura.
A nordeste foram executadas, em cave, zonas para capelas, foyer, instalações sanitárias,
confessionários e respectivas áreas técnicas de apoio. Também em cave, e a Sudoeste,
situam-se as áreas técnicas principais da nova Igreja, bem como as zonas de apoio aos
serviços religiosos.

Figura 1: Vista Geral

2. SOLUÇÃO ESTRUTURAL

2.1 Movimento de Terras

As campanhas de prospecção realizadas em 1979 e em 2000, complementadas com outras


efectuadas já em fase de arranque da obra, permitiram elaborar uma modelação topográfica do
terreno apoiada nas sondagens para definição das superfícies de transição entre as várias
zonas geotécnicas, posteriormente afinada à custa da introdução de pontos auxiliares,
recorrendo-se a uma aplicação informática vertical específica.
Foram assim estimados os volumes a movimentar dos vários tipos de terrenos encontrados.
Dum modo geral a escavação foi executada sem recurso a entivações especiais, utilizando as
inclinações para taludes provisórios recomendadas no relatório do estudo geotécnico
associado às prospecções referidas.
No entanto, no sentido de minimizar o número de árvores a abater junto aos limites da
intervenção mais próximas das alamedas, utilizaram-se aí entivações especiais provisórias
(tipo berlinense, ancoradas).
A grande heterogeneidade dos solos de fundação prevista em projecto confirmou-se em obra
com o aparecimento de zonas de aterro, zonas com materiais argilosos de preenchimento de
depressões do maciço calcário, zonas de calcário com intercalações margosas e argilosas e
zonas com calcário maciço, que obrigaram à utilização de vários processos de escavação,
desde os correntes ao desmonte com recurso a explosivos.

Figura 2: Escavação (H ≈ 9 m)

2.2 Fundações

Embora nas zonas de afloramento do maciço calcário o relatório geotécnico apontasse para
tensões da ordem dos 2500 kPa, optou-se pela utilização de fundações directas com tensões
limitadas a 1000 kPa. Nas zonas com espessuras de materiais de enchimento maiores,
utilizaram-se estacas (as mais compridas com cerca de 25 m). Devido ao aparecimento de
cavernas (algares), usaram-se ainda estacas com molde metálico perdido. Na transição entre
as zonas de fundação directa e indirecta foram executados enchimentos com betão simples até
à cota do maciço rochoso, garantindo assim que todas as fundações se apoiassem no maciço
calcário, para evitar o risco de assentamentos diferenciais.
Figura 3: Fundações

2.3 Igreja

A estrutura da Igreja é essencialmente constituída por uma parede periférica circular de betão
armado e um par de vigas de betão branco armado pré-esforçado (VPE) que dividem
diametralmente este espaço segundo o seu eixo principal, pelo que a cobertura metálica que
neles se apoia, em shed, se encontra dividida em dois segmentos circulares simétricos
independentes.

Figura 4: Igreja
2.3.1 Parede Circular Periférica
A parede, isolada termicamente e revestida a pedra, foi concebida sem juntas de dilatação.
Para isso foi estudado um faseamento construtivo que, em conjunto com o efeito (favorável) da
sua geometria curva, minimize as consequências das acções térmicas e da retracção do betão.
Para além de disposições relativas aos betões (nomeadamente betões de baixa retracção),
impuseram-se bandas intercalares de betonagem em 2ª fase, que permitem a dissipação de
uma parcela muito significativa dos efeitos da retracção durante a fase inicial da construção
sem consequências apreciáveis para o funcionamento da estrutura como um todo.
Esta concepção permitiu a consideração da parede como elemento fundamental de travamento
da cobertura que assim, conjuntamente com as vigas centrais, fazem face tanto às situações
de exploração corrente como às situações extremas de actuação dos sismos.
As paredes periféricas, para além do apoio conferido à cobertura por intermédio dos
contrafortes dispostos sob os respectivos dispositivos de apoio, desempenham ainda a função
de suporte de terras dos níveis enterrados da zona da Igreja e dos espaços conexos, com
funções técnicas.
2.3.2 Cobertura
A estrutura da cobertura é metálica, composta por sheds cujas vigas, com 4,45 m de altura
total, são dispostas perpendicularmente às vigas VPE atrás referidas. Apoiam-se nelas e nas
paredes cilíndricas de betão, apresentando por isso desenvolvimentos variáveis.
O banzo inferior de cada viga (traccionado por acção das cargas gravíticas) é ligado ao banzo
superior (comprimido para as mesmas cargas) de uma das vigas contíguas por meio de perfis
inclinados, que constituem o apoio das superfícies da cobertura, materializadas com lajes de
betão. Os planos (verticais) das diferentes vigas são revestidos parcialmente com vidro,
permitindo deste modo o aproveitamento da luz solar.

Figura 5: Vista interior da cobertura metálica

Nas lajes da cobertura pretendia-se, por um lado, alguma massa por razões acústicas, e por
outro lado, aligeiramento para não sobrecarregar a estrutura. Assim, optou-se pela utilização
de lajes de betão alveoladas prefabricadas, pré-esforçadas.
Numa concepção inicial, admitiu-se o comportamento de "viga mista" para as vigas que
suportam as lajes, constituindo-se assim lâminas de elevada rigidez que realizariam o
contraventamento da estrutura da cobertura. Esta hipótese foi abandonada devido aos
excessivos esforços de tracção que se desenvolviam na zona de ligação entre as lajes e a
estrutura metálica.
Por este motivo, no seu apoio intercalaram-se elementos deformáveis (bandas de neoprene)
que limitam ou mesmo eliminam a materialização desses efeitos. Dispuseram-se em todos os
cantos das lajes elementos de apoio e fixação para facilitar a sua colocação e garantir o seu
posicionamento mesmo nas condições mais adversas. Estas lajes passam assim a ter em
consideração apenas as acções que lhes são directamente impostas, sendo a função de
contraventamento desempenhado por elementos tubulares, dispostos paralelamente às
mesmas: conjuntamente com os banzos das vigas principais, constituem vigas transversais
muito eficazes no travamento e adequada distribuição das acções horizontais actuantes na
cobertura.
Para atender ao facto de que o elemento de apoio central (VPE) tem um comportamento
longitudinal completamente distinto do da cobertura metálica, pois tende a encurtar
significativamente por efeito da retracção e da compressão devida ao pré-esforço ampliada
pela fluência (apesar de se terem já materializado parcialmente aquando da instalação da
estrutura metálica), ao que se pode somar a variação de temperatura, concebeu-se a estrutura
da cobertura como um “harmónio” longitudinal que permite acomodar sem grandes esforços ou
concentração de deformações nos apoios ou nos elementos extremos tanto as alterações
dimensionais como as devidas às variações de temperatura.
Para reduzir o efeito acumulado dessas diferenças, foram ainda adoptados aparelhos de apoio
do tipo elastómero cintado, tendo sido estudada cuidadosamente a relação entre a rigidez e a
resistência destes dispositivos, considerando todas as situações de serviço bem como as
situações extremas decorrentes sobretudo da acção dos sismos. Não obstante, o curso desses
movimentos foi limitado por batentes, de modo a impedir situações extremas de perda de
equilíbrio.
Importa no entanto ainda assegurar a sua estabilidade global: para tal, do lado das vigas
centrais, os apoios das vigas metálicas foram dispostos tão alto quanto possível, com
vantagem para o seu equilíbrio (sobretudo na fase da construção) e para o modo como a
reacção é entregue nas vigas centrais, ligando-se ainda de forma efectiva os pontos inferiores
extremos das vigas metálicas entre si, aos pares, formando a partir de cada “prega” triângulos
rígidos isostaticamente definidos e independentes, sem comprometer portanto o funcionamento
em harmónico referido.
Do lado da parede periférica, não havendo esta diferença de comportamentos, foi possível
considerar ainda elementos de travamento em todo o contorno da cobertura, apenas ao nível
do banzo inferior.
A cobertura dispõe assim da deformabilidade suficiente para acomodar no seu plano as
deformações que lhe sejam impostas tanto pelos seus carregamentos directos como indirectos,
ao mesmo tempo que dispõe dos mecanismos necessários para efectuar uma eficaz
distribuição dessas acções pelos diversos apoios, de forma homogénea.
2.3.3 Vigas Principais Pré-Esforçadas - VPE
Estas vigas, de betão branco armado pré-esforçado, constituem uma estrutura de grande
importância nesta obra, em função do partido arquitectónico pretendido.
Figura 6: Vigas VPE

São parcialmente aparentes no exterior e apresentam uma altura significativa que varia
linearmente desde Sudoeste (altura máxima de 14m) até Nordeste (altura mínima de 4m),
resultando num elo de ligação visual entre o espaço da Grande Assembleia, que envolvem, e
as capelas onde mergulham, após terem passado por cima do foyer, destacando-se de
quaisquer outros elementos do edifício.
Resultam assim elementos de grande comprimento (cerca de 182m) e altura, sendo a sua
secção vazada em caixão, o que permite um aligeiramento significativo a par de um elevado
desempenho estrutural. Este vazamento é ainda aproveitado para facultar acessos técnicos à
cobertura, bem como para equipamentos e instalações técnicas.
Os 3 apoios de cada viga são lâminas de betão armado de grande comprimento, complanares
e solidárias com as vigas, definindo 2 tramos contínuos. O maior (com cerca de 81m livres)
vence a quase totalidade do espaço correspondente à Assembleia, recebendo as acções
provenientes da sua cobertura; o menor que é muito menos carregado funciona como tramo de
equilíbrio e prolonga esta estrutura até às capelas.
Figura 7: Apoios das Vigas VPE

Os efeitos acumulados das variações de temperatura e da retracção do betão, associados à


muito elevada rigidez das paredes de apoio no plano das vigas, levou a que se adoptassem
juntas horizontais nos apoios extremos, sendo os esforços verticais e transversais transmitidos
por intermédio de apoios adequados capazes de permitir deslocamentos longitudinais e
rotações.
Reduzem-se assim de forma significativa os esforços devidos aos deslocamentos impedidos,
bem como se permite uma aplicação eficaz do pré-esforço, que de outro modo seria quase
integralmente transferido para as fundações.
As vigas VPE são solidarizadas entre si por intermédio de uma laje e um conjunto de septos do
mesmo material, situados em correspondência com os planos das vigas metálicas da cobertura
a que dão apoio.
Para as acções horizontais no plano da cobertura na direcção transversal às duas vigas VPE,
funcionam assim em conjunto formando uma única viga horizontal de grande altura cuja alma é
constituída pela laje que as liga e que na extremidade Sudoeste (a mais alta) se dobra para
baixo e se prolonga na vertical até ao chão, ao nível dos apoios, desempenhando o papel de
parede de fecho posterior da Igreja pelo que funciona como gigante de solidarização das duas
vigas no que respeita à estabilidade transversal.
Esta estabilidade é assim garantida quer pelos seus apoios verticais, devido ao seu
significativo afastamento na direcção transversal às vigas, quer pelas paredes das zonas do
apoio central. As extremidades Norte encontram-se soltas, funcionando transversalmente como
consolas.
O dimensionamento destas vigas foi muito condicionado por este funcionamento transversal,
considerando, para além dos esforços verticais, as acções devidas à cobertura (variação de
temperatura, vento, sismos) e às próprias vigas, sobretudo a variação diferencial de
temperatura devida à exposição solar assimétrica.
Para todos os dispositivos de apoio, tanto os principais que suportam as VPE como os que
nestas suportam a cobertura, houve o cuidado de prever a sua inspecção e manutenção, seja
no que respeita à acessibilidade como à possibilidade de se recorrer a equipamentos
hidráulicos de pequeno curso para se proceder à sua eventual substituição.
A execução destes elementos em betão branco impôs a utilização de medidas especiais na
sua produção, aplicação e cura. Realça-se a execução de protótipos à escala real, os cuidados
com a cofragem, a criteriosa sequência de execução e a utilização de meios especiais para
controlo da temperatura de aplicação do betão. Dos procedimentos sugeridos, o Empreiteiro
recorreu, com êxito, ao arrefecimento do betão por azoto líquido à saída da central de
produção, processo entre nós ainda pouco comum.

Figura 8: Aplicação de Azoto Líquido

2.4 Corpos Anexos

Completam este edifício ainda alguns corpos que desempenharão funções complementares e
que a seguir se referem.

2.4.1 Zona das Capelas e Foyer, a Nordeste

Esta parte do edifício é toda construída em cave, sendo a cobertura na continuidade do


pavimento do recinto existente.
Os elementos verticais são realizados com paredes de betão armado. As de contorno
funcionam como muros de suporte das terras adjacentes e das lajes. No interior existem
paredes com 3 funções distintas: suporte de lajes, travamento e também isolamento acústico
(em todas as capelas e confessionários). Comportam ainda um número significativo de
aberturas para permitir a passagem das instalações técnicas, com maior relevo para as
condutas do AVAC.
As lajes do foyer de betão armado são maciças e fungiformes.
Nas capelas prevê-se a utilização de 2 tipos de lajes: maciças (no corredor e zonas técnicas) e
pré-fabricadas tipo TT (nos vãos maiores sobre as capelas e confessionários). Estas últimas
vencem vãos entre 9 m e 20 m.
Aliada à facilidade e rapidez de montagem, à ausência de cofragem e de cimbre, a solução
adoptada apresenta ainda a vantagem de aumentar significativamente o período em que as
peças de betão, já endurecido funcionam isostaticamente, o que permitiu tirar o melhor partido
do seu pré-esforço.
Este facto, conjuntamente com a adopção de um betão adequado de baixa retracção, um
faseamento construtivo cuidado com a adopção de bandas de betonagem em 2ª fase (tal como
para a parede periférica da Igreja), complementado com um bom isolamento térmico da face
superior, permitiu que este corpo tivesse uma forma final monolítica, evitando-se juntas e
dispositivos de apoio internos com os inerentes cuidados de inspecção e manutenção.

2.4.2 Zona Técnica, a Sudoeste

Constituída por dois pisos em cave para áreas técnicas e salas de apoio aos serviços
religiosos, tem uma estrutura realizada com paredes e lajes de betão armado e prefabricadas
em TT, de forma análoga à estrutura já descrita para a zona das capelas, obedecendo aos
mesmos critérios de concepção e dimensionamento.
A maior diferença reside nos condicionamentos geométricos impostos pelas instalações
mecânicas, nomeadamente das duas áreas destinadas ao Ar Condicionado de onde saem
condutas de grande dimensão que passam sob o pavimento da Igreja, e que implicam a
realização de galerias para a passagem e acesso às mesmas, causando restrições
significativas na modulação dos apoios das lajes.
Deste modo, a zona contígua à Igreja, de geometria mais irregular, é executada ou com lajes
maciças fungiformes ou em vão apoiadas em vigas ou paredes, sendo a sua execução também
pontuada pela introdução de bandas de betonagem em 2ª fase para controlo da retracção,
convenientemente dispostas de modo evitar a necessidade da manutenção de cimbres nos
troços adjacentes da laje entre as 2 fases da construção.

2.4.3 Galerias Técnicas

Existem vários tipos de galerias técnicas: galerias para as condutas de insuflação, que derivam
da Zona Técnica atrás referida em direcção aos diferentes plenos de ar existentes debaixo das
cadeiras da igreja; galerias para instalação de paredes móveis motorizadas e galerias para
passagem de condutas e tubagens enterradas.
Todas estas galerias são realizadas com betão armado.
3. MATERIAIS E QUANTIDADES PRINCIPAIS

2
Área de Construção: 38 673 m
3
Betão Cinzento (C25/30): 34 965 m
3
Betão Branco (C35/45): 6 371 m
Aços Passivos (A400NR): 4 907 ton.
Aços para pré-esforço (aço especial de baixa relaxação com fpuk ≥ 1860 MPa): 151 ton.
2
Moldes para Betão Cinzento: 121 400 m
2
Moldes para Betão Branco: 24 100 m
Estrutura Metálica (S355 JO): 950 ton.
2
Contenções Provisórias: 1 700 m

4. ACÇÕES EM GERAL

- Pesos próprios
- Sobrecargas: definidas em cada caso, em função da utilização prevista; nas lajes de
pavimento exterior foi ainda considerada a acção do o veículo dos bombeiros.
- Acção dos Sismos: obtida por análise modal com ponderação quadrática dos efeitos relativos
aos diversos modos, segundo os espectros definidos no RSA (zona C; α = 0,7), tanto da
estrutura total como da estrutura parcial da cobertura, tendo sido obtidos resultados
concordantes.
- Acção do Vento: considerou-se o edifício situado em zona A, de rugosidade do tipo II; esta
acção não é condicionante face à dos sismos, para estas estruturas.
2; 2
- Acção da Neve (H = 346 m; S0k = 0,875 kN/m Sk = 0,96x0,625 = 0,60 kN/m )
- Variações de Temperatura:
Uniformes (VUT):
Estruturas de betão e metálicas protegidas: +/- 10º
Estruturas de betão não protegidas: +/- 15º
Diferenciais (VDT):
Estruturas de betão não protegidas: +/- 5º
- Impulsos das terras: avaliados com os parâmetros geotécnicos conhecidos para os solos
envolvidos; conforme as condições de apoio das estruturas de suporte foi utilizado o impulso
em repouso ou o activo; na quantificação da acção sísmica foi adoptado um impulso
incremental obtido pela Teoria de Mononobe-Okabe; foi considerada uma sobrecarga no
2
terrapleno de 10kN/m .

5. DESENVOLVIMENTO DOS ESTUDOS

5.1 Modelos gerais de Cálculo

A dimensão e a complexidade do funcionamento estrutural descrito exigiu uma análise


criteriosa, tendo-se recorrido a diversos modelos analíticos tanto para a simulação estrutural
como para o próprio dimensionamento das peças e verificação da segurança.
Elaborou-se assim um modelo global da estrutura, por elementos finitos e elementos de barra,
considerando todas as suas partes relevantes, analisando-se o seu comportamento face às
cargas gravíticas permanentes e variáveis (peso próprio, revestimentos, sobrecargas relativas
às coberturas ordinárias em virtude do seu acesso condicionado e da sua inclinação, neve,
eventuais equipamentos), às variações de temperatura ou assimiláveis, uniformes ou
diferenciais, em conjunto ou por zonas, conforme fosse realisticamente materializável face às
características do edifício, a sua ocupação e exposição (variação sazonal e diária da
temperatura, incidência solar, retracção e fluência do betão).
Fez-se também neste modelo uma simulação da acção sísmica, análise que passou pela
obtenção dos modos de vibração do edifício e das suas partes constituintes, aplicando
posteriormente a acção regulamentar, de acordo com o estabelecido no RSA, acção que é,
neste caso, significativamente mais gravosa do que a do vento.
Deste modelo, extraíram-se elementos parcelares para uma análise mais detalhada e
dimensionamento das estruturas das paredes periféricas e lajes contíguas.
Extraiu-se também um modelo de barras de pórtico espacial da estrutura metálica da cobertura,
respeitante a metade da área coberta por esta, devido à simetria, para a sua análise específica,
considerando ainda adicionalmente os elementos de betão mais influentes no seu
comportamento.
Para além das acções gravíticas e térmicas já mencionadas, bem como a análise local do
efeito da acção dos sismos, fez-se uma análise detalhada das condições das diversas peças
ou partes da estrutura face aos diversos modos de encurvadura possíveis, daí se retirando as
consequentes ilações para a concepção e dimensionamento da estrutura, como seja o seu
mútuo contraventamento.
Finalmente, as vigas VPE foram analisadas num modelo de pórtico plano específico, como se
refere adiante.
Todos os modelos foram mutuamente aferidos, de modo a garantir que, com a precisão
desejável, se encontrem em consonância tanto quanto ao objecto descrito como quanto aos
resultados obtidos da análise. Foram também elaborados modelos por elementos finitos para a
análise dos pontos singulares da estrutura, com destaque para os cachorros e septos de apoio
da estrutura metálica da cobertura.
Figura 9: Modelo Global

5.2 Modelo da Vigas VPE

As vigas principais pré-esforçadas (VPE) foram analisadas num modelo de pórtico plano, onde
foram introduzidas todas as acções com expressão nessa estrutura, como as acções gravíticas
e do pré-esforço e as acções de natureza térmica desse plano, bem como acções axiais
equivalentes capazes de traduzir adequadamente os efeitos das acções que por natureza lhes
seriam transversais, mas que dada a dimensão das peças nesse sentido, não podem ser
ignoradas, nomeadamente os sismos e as variações diferenciais de temperatura, ajustadas
segundo os resultados obtidos pelo modelo global. As acções aplicadas e os correspondentes
esforços e tensões foram obtidos na sequência que simula a da construção.
Houve também o cuidado de validar a sequência da construção, verificando a entrada em
serviço das diversas fases da evolução da estrutura, com as acções inerentes ao seu peso
próprio e aos pré-esforços aplicados em cada fase. Esta análise permitiu, aliás, simplificar um
pouco a sequência inicialmente prevista como provável.
A ponderação do diagrama de esforços considerando as previsíveis migrações no tempo, em
virtude da acomodação da estrutura na fase contínua devida à fluência do betão com o seu
cálculo efectuado sobre a estrutura total final, face aos esforços obtidos considerando no
cálculo a sequência da construção, foi feita de forma paritária. Este facto não se reveste, no
entanto, da importância usual, dada a proximidade dos diagramas de esforços, nas duas
circunstâncias.
Em termos de esforços transversos, a secção crítica é, obviamente, a secção vizinha do apoio
central, dada a coincidência de ser a secção com maior esforço, com menor altura do vão e
onde os cabos de pré-esforço se apresentam com menor inclinação, na zona em causa. Na
consideração dos esforços resistentes, foram tomados os estados de tensão do betão os
menos favoráveis, tendo-se optado por proceder a um espessamento das almas nessa zona,
mesmo considerando que uma parcela das cargas aplicadas se poderá encaminhar
directamente para o apoio.
Figura 10: VPE – Alçado e corte

Acções consideradas
- Peso próprio (PPi) dos elementos estruturais em betão armado ou pré-esforçado,
aplicado na sequência: apoios, vão central, vão de equilíbrio, septos, lajes de ligação
- Pré-esforço (PEi), de acordo com os seguintes parâmetros, por strand:
2
Área = 1.4 cm
Força de esticamento = 200 kN
Entrada das cunhas = 5mm
Parâmetros de perdas instantâneas em linha:
Coef. de atrito = 0.2
Desvio angular parasita = 0.0125 (rad)/m
Perdas elásticas iniciais e diferidas por fluência do betão e
relaxação das armaduras: Valor estatístico obtido a partir de cálculo
iterativo: -20%
- Peso próprio da estrutura metálica da cobertura (PPM)
- Peso próprio das lajes alveoladas da cobertura (PPL)
- Peso próprio dos revestimentos e equipamentos da cobertura (RCP)
- Sobrecargas na cobertura (SOB)
- Neve sobre a cobertura (NEV)
- Retracção do betão (RET): -25º (embora se exija um betão com -10º)
- Variação uniforme de temperatura das vigas (VT1):
- Variação diferencial de temperatura das vigas (VT2):
- Variação diferencial de temperatura entre vigas (VT3): equivalente a uma tracção de
14 MN ou a uma compressão de 33 MN.
- Levantamento de um aparelho de apoio, para manutenção (AAP): 5 mm
- Vento transversal às vigas (VEN)
- Sismo longitudinal às vigas (SIL)
- Sismo transversal às vigas (SIT)
Esforços e Deformações
Na sequência da construção, e para os diversos estados limites, resultam as seguintes
tensões (MPa), esforços (MN.m) e flechas (cm):
Quadro 1: Tensões e Deformações
Secção do Vão Secção do Apoio
Estado σsup σinf σsup σinf Flecha
Const. Fase 1 - - 2,64 -0,13 -
Const. Fase 2 2,33 10,35 13,32 3,69 -4,1
Const. Fase 3 2,32 10,36 13,31 3,69 -4,2
Const. Fase 4 3,44 9,16 11,26 5,84 -2,1
Const. Fase 5 4,13 8,41 10,79 6,33 -1,5
Const. Fase 6 4,37 8,14 10,20 6,96 -0,9
Const. Fase 7 5,28 7,15 8,07 9,21 1,3
Vazio Inicial 9,45 3,44 6,23 11,71 2,2
Vazio Final 9,80 0,43 1,69 12,96 4,8
Comb Q. Perm. 9,83 0,43 1,69 12,96 4,8
Comb. Freq. 10,63 -0,08 0,84 14,22 5,0
Comb. Raras 12,53 -1,22 -1,13 17,22 5,2

Quadro 2: Verificação à Rotura das Secções


Secção do Vão Secção do Apoio
Estado M+ M- M+ M- V
Est.Lim.Ult. 478 296 -250 -436 34,5
Figura 11: VPE – Diagramas de Tensões

A Fig. 11 ilustra o modelo de cálculo e dois exemplos da configuração dos diagramas de


tensões, a envolvente das fases da construção e as tensões em vazio, sem e com as perdas
diferidas do pré-esforço (as tensões de compressão da fibra superior representam-se para cima
e as da inferior para baixo do eixo da peça).

Reacções Verticais nos Aparelhos de Apoio


A. Ap. 1: NK= 25 800 kN
A. Ap. 2: NK= 7 700 kN
A. Ap. 3: NK= 8 800 KN
Deslocamentos Previstos nos Aparelhos de Apoio
Pré-Esforço: ∆PE,inst = 1.64 cm; ∆PE,∞ = 5.40 cm (φc = 3.30)
Variação de Temperatura: ∆temp = 0.89 cm (∆T = 10ºC)
Retracção: ∆ret = 2.23 cm (∆T = -24.2ºC)
Deformação Total a Longo Prazo: ∆T,∞ = 5.40 + 0.89 + 2.23 = 8.52 cm
Deformação Total Após Aplicação do Pré-Esforço: ∆T,PE = 1.64 x (3.30-1) + 0.89 = 4.65 cm
Deformação Total 1 Mês Após a Aplicação do Pré-Esforço:
∆T,PE = 1.64 x (1.65-1) + 0.89 = 1.95 cm
5.3 Concepção tendo em vista a durabilidade

A elevada durabilidade pretendida, superior a 100 anos, levou a que fossem tomados cuidados
especiais na concepção, projecto, selecção dos materiais, sua produção e controlo, bem como
na adopção de medidas adicionais, algumas já descritas.
Assim, como já referido anteriormente, usaram-se diversos processos para reduzir os esforços
indesejados devidos às deformações impedidas, seja pela introdução de juntas
adequadamente dispostas, como no caso das VPE, seja pela consideração de bandas de
retracção. Estas foram definidas de forma a dividir os edifícios em módulos com dimensões
máximas de 30 m: desta forma, verifica-se que o efeito da retracção nas lajes se torna
praticamente desprezável, enquanto que nas paredes se limita às zonas centrais junto às
fundações.
Do lado das acções, optou-se complementarmente por controlar os efeitos da retracção através
da utilização de betões com características especiais, de retracção total controlada (neste caso
-6
εt = -100 x 10 = -10º) com o valor máximo atingido até aos 28 dias. Deste modo, para além do
benefício como acção global, obteve-se uma redução muito significativa nas condições de
ligação entre painéis adjacentes e nas tensões de tracção que inevitavelmente surgem nos
painéis mais recentes de elementos de betão com grandes dimensões executados por fases.
No entanto, no cômputo das deformações e esforços inerentes ao funcionamento estrutural
global, usou-se sempre o valor mais conservativo de -25º, não só porque se entendeu que o
valor pretendido poderia não ser garantido como os dois valores correspondem a
considerações feitas em fases distintas dos estudos e a manutenção deste pressuposto ser do
lado da segurança.
Na execução dos elementos em betão branco, como já se referiu, recorreu-se à aplicação de
azoto líquido para controlo da temperatura, com benefícios tanto na retracção como na
durabilidade, praticamente eliminando os perigos do futuro desenvolvimento de reacções
álcalis-agregados, expansivas e reduzindo a probabilidade de fendilhação devida à retracção
inicial. No projecto da limitou-se a 20 º a temperatura de aplicação do betão para ter em conta o
elevado calor de hidratação do cimento branco e a volumetria das peças. A eficácia deste
processo foi sendo aferida durante a execução com instrumentação "in-loco" nos troços das
peças com maior volumetria, observando-se bons resultados mesmo no período estival.
Sendo a execução uma oportunidade única de se intervir ao nível da qualidade dos betões,
tanto quanto à elevada resistência e compacidade, baixa permeabilidade e retracção
controlada, estes foram ainda dotados de agentes de protecção anticorrosiva, com efeitos tanto
na reacção catódica como anódica do processo electroquímico da corrosão.
A composição, produção e aplicação do betão foram sendo ajustadas com a execução de
ensaios e protótipos à escala real, de forma a garantir a obtenção das características
especificadas no projecto.
Foram também adoptados critérios de verificação mais exigentes do que os habitualmente
considerados, com destaque para as condições de serviço das secções de betão, tanto no que
respeita às tensões aplicadas como à verificação dos estados limites associados à fendilhação,
o que condicionou significativamente o nível de pré-esforço adoptado.
Figura 12: VPE – Cachorros de apoio das vigas da cobertura

Assim, na linha do defendido por alguns autores, respeitaram-se os estados limite referentes às
estruturas situadas em ambiente muito agressivo, relativos tanto quanto às armaduras
ordinárias como às de pré-esforço e aos respectivos recobrimentos - estas regras vão ao
encontro das considerações feitas actualmente sobre condições de exposição e durabilidade
na recente regulamentação europeia e nacional.
O pré-esforço procurou atender não só aos esforços principais como também aos efeitos das
acções secundárias e à existência de zonas com variações significativas do estado de tensão,
como sejam as juntas do faseamento construtivo, os cachorros de apoio da cobertura, as
extremidades em consola das vigas VPE, os septos transversais, as lajes transversais e suas
aberturas, para o que se dispuseram diversos sistemas específicos de cabos.
Houve ainda um cuidado acrescido na pormenorização das zonas mais sensíveis da obra,
tanto procurando para as peças geometrias que melhorassem o seu comportamento e
exequibilidade e detalhando-se algumas zonas, com pormenorização individualizada de todos
os varões e peças do pré-esforço.
Foi assim possível constatar que a obra foi executada sem que se observasse fendilhação ou
fissuração com significado.
Estes aspectos tiveram um impacto pouco significativo no custo da obra e terão com certeza
impacto na sua qualidade perceptível e no prolongamento da sua vida esperada.

6. AGRADECIMENTOS

Um trabalho desta complexidade só é possível com um empenhamento de todas as entidades


intervenientes quer ao nível do projecto quer ao nível da execução, sempre com um
acompanhamento próximo do Dono de Obra (Santuário de Fátima) e que aqui queremos
destacar:
Projecto:
Arquitectura: Meletitiki – Arq. A. N. Tombazis / Paula Santos Arquitectos, Lda
Movimento de Terras, Fundações e Estruturas: ETEC Lda
Instalações Mecânicas, Rede de Gás e RCCTE: Edifícios Saudáveis, Lda
Águas, Esgotos e Acústica: Vítor Abrantes, Lda
Electricidade, Telefones, Informática e Segurança: Ohm-E, Lda
Paisagismo: PROAP, Lda / Laura Costa
Plano de Segurança e Saúde: ETEC Lda
Coordenação Geral: ETEC Lda
Obra:
Empreiteiro Geral: Somague Engenharia, S.A.
Fiscalização: FASE, S.A.

No caso particular do betão branco, pela sua importância singular nesta obra, referimos as
contribuições da Engª Ana Maria Proença, ao nível do projecto, do LNEC e da Fase (com a
colaboração especial do Engº Armando Camelo) no controlo de qualidade e da Secil enquanto
fornecedor.

Você também pode gostar