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ANO II - EDIÇÃO 22 FEVEREIRO DE 2021

BOLETIM EDUCAÇÃO
EM EVIDÊNCIAS

Debora Garofalo mostra trabalho de aluno no Seminário do Escritório de Evidências

O que há de novo NESTA EDIÇÃO


INCLUSÃO SOCIAL PELA INCLUSÃO DIGITAL
O Café Debug é um podcast de tecnologia que existe desde
2017, para pessoas que atuam na área, e os temas são
SEMINÁRIO 26/02:
bastante variados. No episódio #37, a desenvolvedora e
apresentadora, Jéssica Nathany, entrevista Caio, Fundador e
ALEXSANDRO
CEO da TOTI, uma startup criada por estudantes
universitários no Rio de Janeiro que faz um belo trabalho de SANTOS
inclusão digital de refugiados e imigrantes. EQUIDADE RACIAL
Ela faz, principalmente, a formação de programadores, tendo NA ESCOLA:
envolvido como parceiros na criação dos cursos os centros
CONHECER PARA
de educação tecnológica (os Cefets). Ouçam o depoimento do
Caio no podcast – como verão ao ler o artigo de debate deste AGIR
boletim, em que comentamos o trabalho de Paulo Blikstein
de aplicação da tecnologia à educação, a Toti é um excelente EVIDÊNCIAS EM
exemplo do que ainda falta no Brasil segundo Paulo: DEBATE:
iniciativas que busquem equidade, que ajudem o indivíduo a A APRENDIZAGEM
dar aquele salto necessário rumo a uma atuação profissional
no campo da tecnologia, uma vez que ele tenha sido
MÃO NA MASSA
“fisgado” por ela em seus processos educacionais.

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Agenda dos Seminários
ASSISTA NO CANAL DO YOUTUBE DO CENTRO DE MÍDIAS DE SÃO PAULO

DIA 26/02 ÀS 14H - ALEXSANDRO SANTOS


EQUIDADE RACIAL NA ESCOLA:
CONHECER PARA AGIR

O que as
evidências de
pesquisas nos
mostram sobre a
desigualdade na

ALEXSANDRO SANTOS é Diretor-Presidente da Escola do educação?


Parlamento, professor do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Unicid e coordenador do curso de Pedagogia da
Faculdade do Educador. É doutor em Educação pela USP e
pesquisador em estágio de pós-doutorado junto ao Núcleo de Como as escolas e
Estudos da Burocracia da Fundação Getúlio Vargas e junto ao
os sistemas de
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da
PUC-SP. Integra o Centro de Pesquisas Transdisciplinares em ensino podem
Educação (Instituto Unibanco). enfrentar o

Alexsandro apresentará alguns resultados de duas pesquisas em racismo?


fase de finalização, que tratam da implementação de políticas
públicas voltadas à promoção da equidade educacional nas
escolas públicas, com foco na mitigação das desigualdades
raciais. Na primeira pesquisa, o tema são as crenças, valores e
adesão das equipes gestoras de escolas públicas em ações
comprometidas com a equidade racial. Na segunda, o tema são
as escolhas e ações de professoras e professores dos anos finais
do ensino fundamental de 8 escolas públicas para a
implementação da Lei 10.639/03.

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Evidências educacionais em debate
TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS E APRENDIZAGEM MÃO NA MASSA

No dia 19 de junho do ano passado o


seminário do Escritório de Evidências
recebeu Paulo Blikstein para falar de
tecnologias educacionais e
aprendizagem mão na massa. Contamos
com Debora Garofalo, Gestora de
Inovação e Tecnologias da Seduc SP, na
apresentação e debate com Paulo, que
atualmente é professor do Teachers
College na Universidade de Columbia, em Fonte: apresentação de Paulo Blikstein
Nova Iorque. Ele é formado em
engenharia pela Poli USP, mestre pelo O pesquisador observa que desde
Michigan Institute of Technology (MIT) e algumas décadas atrás as coisas estão
doutor em educação pela Universidade mudando, as escolas e os sistemas de
Northwestern. Paulo Blikstein é muito ensino percebendo que não podiam
mais que um professor e pesquisador. Ele permanecer séculos atrás da vida real.
e Debora Garofalo são como que Hoje temos computadores e informação à
“ativistas” de uma causa. Ele pesquisa mão no celular, para lembrar os fatos e
como as novas tecnologias podem fazer contas. Em suas palavras, a grande
transformar a aprendizagem das chance que a tecnologia nos dá é de
ciências, computação, matemática, e renovar a escola, repensar o que
como essas inovações podem ser levadas queremos ensinar e como priorizar o
para sistemas públicos de educação, em tempo. É preciso mudar ênfases, reduzir
grande escala. Criou há 10 anos os espaço de algumas coisas para caberem
FabLabs, espaços em que estudantes coisas novas. Paulo aponta que no Brasil
podem fabricar soluções para problemas é forte uma visão conteudista, quando
que eles resolvem sozinhos. outras experiências mostram que dá mais
Blikstein parte de uma constatação não resultado aprofundar a aprendizagem de
tão nova, mas chocante: as escolas menos conteúdos e o desenvolvimento de
públicas ainda hoje ensinam competências mais fundamentais para os
praticamente da mesma forma que dias de hoje.
ensinavam a mais de 500 anos. Usa como Fazendo uma exposição didática de como
ilustração um dos primeiros livros a tecnologia foi historicamente sendo
didáticos de aritmética, publicado em
introduzida na educação, ele mostra que
Treviso, Itália, em 1478 - vejam a
seu uso começou a ter bons resultados
tabuada na foto acima à direita.
apenas quando ela passou a ser tratada
Também os problemas usados em nossos
no bojo de uma concepção pedagógica
livros estão datados, desconectados da
que hoje em dia é conhecida como
vida real da criança de hoje: "Um
educação maker, apoiada no
pedreiro constrói uma casa em 20 dias,
construcionismo de Seymour Papert,
trabalhando 8 horas por dia. Se a ele se
somar mais um pedreiro..." e por ai vai.
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que por sua vez bebeu em outras teorias Se deparou o dado de realidade: lá todos
como o construtivismo, e também na usavam "gatos" , ligações ilegais à rede,
teoria de Paulo Freire em torno da portanto não pagavam pelo consumo de
aprendizagem significativa. energia. O problema real e significativo
O primeiro tratamento das tecnologias veio dos alunos: a comunidade precisava
na educação partia de uma abordagem fazer "gatos" mais bem feitos, para evitar
“instrucionista”: assumindo que o as constantes explosões dos
processo de aprendizagem se resumia na transformadores e o risco de incêndio.
transmissão de informação, a ideia era Estava lá a lição de Paulo Freire: todo
substituir o professor pela tecnologia – processo educativo parte de conhecer de
que podia ser o cinema, o rádio, mais fato quem são os alunos. No processo, os
tarde os aplicativos. Viu-se, com o alunos o ensinaram a reaproveitar
tempo, que isso não funcionava. O uso da motores de equipamentos usados, em
tecnologia para o ensino remoto tem substituição aos kits caros da Lego, e o
outros objetivos, não é a essa discussão professor por sua vez trouxe um
que estamos nos referindo aqui. conhecimento novo: a robótica.
A partir de Seymour Papert, Paulo Freire
e John Dewey, foi se consolidando a Uma preocupação fundamental trazida
abordagem segundo a qual a por Paulo é garantir que a atividade
aprendizagem é mais efetiva quando o maker seja integrada ao currículo e a
conhecimento produzido é significativo objetivos claros de aprendizagem. Sim, é
para o indivíduo, e que participar de preciso transformar a escola em um
experimentos, manipular materiais, espaço mais motivador, colocar mais
construir coisas que façam sentido é a ferramentas nas mãos das crianças e
melhor forma de aprender. Papert criou o fazer menos instrução direta. Mas é
LOGO - uma linguagem de programação preciso haver método e sistematicidade
para crianças, para usar a tecnologia na proposição de tais práticas aos
como matéria prima para a criação na alunos, elas precisam estar entremeadas
mão dos alunos – as tecnologias de por momentos de reflexão e estudo dos
exploração. Com o tempo essas conceitos. A discussão sobre como
tecnologias se expandiram para a
integrar a educação maker ao currículo
robótica, entre outros.
é feita em um artigo de Paulo com José A.
A contribuição de Paulo Freire é
Valente e Éliton de Moura, disponível
fundamental nesse contexto. Paulo
aqui.
Blikstein narra como vivenciou
Os experimentos feitos por Blikstein
concretamente a importância de que o
como pesquisador visam justamente
ensino seja significativo, apoiado na
colher evidências científicas sobre os
cultura e no contexto social do(a)
resultados da "aprendizagem mão na
aluno(a). Em 2001, no mestrado no MIT,
massa". Apenas assim, diz ele, é possível
começou um projeto em Heliópolis
convencer os gestores da educação
usando a robótica Lego. Achou de início
pública a aplicá-la em larga escala.
que reduzir o gasto de energia das
Passando então a falar de um desses
pessoas na comunidade era um bom
objetivo para o projeto.

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estudos, publicado em 2012 em co- Paulo Blikstein conclui sua fala com uma
autoria com Schneider e Macckay, foram descrição realista do contexto
comparadas duas estratégias: na educacional brasileiro e de nossa
primeira estudantes antes faziam uma responsabilidade como educadores e
atividade exploratória sistemática para educadoras: os jovens das escolas
depois ter uma atividade mais expositiva públicas têm muitas vezes ideias que
sobre o conteúdo; na segunda ocorria o podem se transformar em produtos e
inverso. O estudo comprovou, por testes serviços vendáveis, mas infelizmente não
aplicados antes, durante e depois do oferecemos a eles as condições e
experimento, um desempenho 20% maior mecanismos pra que ela ou ele crie uma
em testes de conhecimento se as empresa, uma startup, continue essa
crianças faziam a atividade exploratória trilha de estudo; este é um privilégio que
antes da exposição de conteúdo (table reservamos apenas para crianças da elite.
-> text na legenda abaixo). Concretamente, principalmente
considerando a reforma do Ensino Médio
e a implementação dos itinerários
formativos, precisamos buscar
alternativas de real vinculação entre a
escola e o mundo do trabalho, que parta
de uma visão não estereotipada das
possibilidades desses jovens e de seus
futuros. A educação tecnológica pode
reduzir desigualdades, mas para isso
precisamos construir estratégias
concretas de promoção da equidade.
Fonte: apresentação de Paulo Blikstein
A foto à esquerda é de um carrinho de
bebê automatizado construído por Jaine,
aluna de Paulo, há 10 anos. Pensando na
irmã que acabara de ter bebê, o carrinho
captava o choro, balançando e parando
automaticamente. Esse produto existe no
mercado hoje, mas não foi Jaine que fez.

Quando a gente leva tecnologias


de exploração para a sala de aula,
estamos acordando na criança o
espírito de invenção, de criação, e
esse é um espírito que depois não
Fonte: apresentação de Paulo Blikstein
podemos negar a elas.

Paulo Blikstein

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Debora Garofalo, que como Paulo A aprendizagem significativa tem
Blikstein trabalhou em comunidades repercussões muito mais amplas na
pobres com robótica (seu projeto de maneira como essa criança ou jovem se
robótica com sucata é reconhecido relaciona com o conhecimento. Na foto da
mundialmente), em seu depoimento capa deste boletim, Debora mostra o
corrobora um dos principais argumentos helicóptero de sucata construído por um
feito por Paulo: não se trata de ensinar aluno de 13 anos. Ao final do processo,
robótica pela robótica, mas sim de, por em que se envolveu profundamente, ele
meio dela, conduzir a aprendizagem a pediu a ela que o ensinasse a ler e
partir da exploração, com objetivos e escrever, coisa que ele ainda não tinha
materiais trazidos da realidade dos aprendido.
alunos.

Cartas, recados, e outros...


ESCREVAM PARA EVIDENCIAS@EDUCACAO.SP.GOV.BR

Caros(as) leitores(as), 
A partir de agora os seminários serão quinzenais, em semanas alternadas ao Boletim. Achamos
que assim mais gente vai participar. Caso tenham outras sugestões que possam facilitar a
participação, por favor nos escrevam.

Sempre é bom lembrar: nos escrevam também dando sugestões de pesquisas sobre educação
que em sua opinião mereçam ser apresentadas em nossos seminários, ou de assuntos a serem
tratados no boletim.

Se tiverem resenhas de obras que acham importante divulgar, sempre na lógica das evidências
educacionais, mandem pra gente também.

Abraços!

Clique aqui para acessar o nosso Canal!

Coordenação: Marcos Barros (CITEM)


Expediente: Redação e diagramação: Escritório de Evidências (Vinícius Georges, Maria Elisa Brandt e
Guilherme Corte) 67

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