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Imagens: AdobeStock
Edição do Kindle.
Este é um livro de ficção. Os personagens, a cidade de Santa
Maria, a trama e o enredo são completamente fictícios, saíram todos
da minha imaginação.
1- Find Me │Sigma
2- Unstoppble │Sai
3- Tennessee Whiskey │Chris Stapleton
4- Another Love │Tom Oddel
5- Save Me│ Hanson
6- One Last│ Breath Creed
7- My Sacrifice │Creed
8- Higher│ Creed
9- Hurt │Johnny Cash
Saí do quarto atrás de um café, ainda era muito cedo, mas Mollie
não estava na cama. Porra, eu tinha que dar um jeito de me comunicar
melhor com a minha esposa. Agora que a força tarefa no DEA[1]
acabou, eu finalmente poderia viver ao lado da minha família como
deveria ter sido desde o começo. Laine, minha filha de três anos,
praticamente não me conhecia.
Dei uma última tragada e joguei o cigarro fora, ela abriu a boca
para reclamar, mas a segurei firme pela cintura agarrando os seus
cabelos por trás.
Ela gemeu sob minha boca e meu pau ficou duro como uma pedra.
– Sempre lírios, mas Alex, não precisa me dar flores, nossa família
unida é tudo o que eu sempre quis, estou muito feliz que os dias sem
você finalmente acabaram.
– Me perdoe, mas preciso ir, lembrei que tenho algo urgente para
resolver…
Deu suspiro alto, mas não insistiu no assunto, olhei de novo para o
relógio e um gosto amargo começou a se formar na minha boca. Eu
realmente precisava ir embora. Parecendo perceber minha aflição,
andou comigo até a saída.
– Sim, mas ele é o curador dos meus bens, desde quando fui
internada e... ah! A senhora sabe. – Estava difícil fazer as palavras
saírem, detestava lembrar disso. – Precisamos da permissão dele, ou
nada feito.
– Tudo bem, minha querida. Tive uma ideia ainda melhor – Dona
Lúcia pegou o telefone e mexeu os dedos rapidamente. – Mandei uma
mensagem para a diretora do projeto das cooperativas encontrar com
a gente na sua casa, ela pode explicar ainda melhor que eu, vamos?
Ele soltou um longo suspiro e tirou uma chave do bolso, sem olhar
em nossa direção novamente.
– Esse estacionamento é exclusivo para alunos da faculdade e o
senhor ainda estacionou errado.
– Não seja por isso – ele respondeu com uma voz máscula e
aveludada. Entrou na caminhonete e saiu cantando pneu.
Rita parecia mais velha do que realmente era, creio que não devia
ter nem trinta anos ainda. Era uma mulher bonita, cheia de curvas,
cabelos e olhos pretos, mas estava sempre tão brava e carrancuda
que sua beleza não aparecia tanto. Nunca entendi o motivo de não
gostar de mim, mas no momento isso não estava no topo das minhas
preocupações.
– Cecília pode nos mostrar, não? Ela entende dessas flores como a
palma de sua mão. – Dona Lúcia disse.
– Cecilia adoraria, mas ela vai ter que sair comigo, combinamos um
outro dia, sim? – Ele disse se levantando do sofá e não dando opção
para os convidados, a não ser se retirar.
– Minha querida, não suma! Qualquer coisa que você precisar pode
me ligar, dia ou noite – virou a cabeça para Vicente e depois para mim.
– Perdi minha mãe muito cedo também, sei que precisamos de alguém
para conversar. Vai tomar um café lá em casa, os meninos morrem de
saudade de você.
– Sua mãe era minha melhor amiga, ela se foi, mas eu estou
aqui…
– Agradecemos muito sua visita, Lúcia – a voz de Vicente cortou o
ar, gelada.
– Ratinha!
Como não respondi nada, ele aplicou uma pressão dolorosa com
seus dedos tatuados, mordi meu lábio inferior para não gritar. Não sei
de onde tirei coragem para tentar explicar, mas apontei para a planta
caída em nossa frente.
Minha voz foi diminuindo assim que vi seu semblante, ele agarrou
meu pescoço com a outra mão me fazendo ficar de pé.
– Você quer mesmo falar da puta da sua mãe depois do que me fez
hoje? – sussurrou as palavras no meu ouvido.
O gosto amargo voltou com tudo na minha boca, eu sabia que não
deveria ter aceitado o convite para ir à faculdade…
– P-por quê?
– Se eu tiver que ir até aí, será bem pior, você sabe disso.
Como qualquer coisa poderia ser pior? Eu não sabia, mas não
estava a fim de descobrir. Suprimindo a náusea, tirei minhas roupas
ficando de calcinha e sutiã. Ele franziu o cenho e eu tirei o resto.
Coloquei minhas mãos para cima, ficando do jeito que ele me treinou
para ficar. Satisfeito, lambeu os lábios varrendo cada centímetro do
meu corpo com adoração nos olhos. Minha náusea se intensificou.
– Além de ser uma cadela como sua mãe era, você é retardada,
Cecília?
– Não, Vicente.
–Percebe por que eu preciso ser duro com você? Eu estou aqui
para te ajudar a ser a menina pura e inocente que eu sei que você
pode ser. Mas enquanto essa puta imunda e mentirosa que arma
esquemas ao invés de fazer suas obrigações estiver dentro de você…
eu sinto muito, mas não posso permitir que ela vença.
Não há nada que dure para sempre, Cecília, isso logo vai passar,
pensei enquanto sentia minhas costas pegando fogo devido aos
golpes. E de fato passou, Vicente parou de me bater, e ofegante me
puxou novamente pelos cabelos. Meu corpo tremia inteiro de dor, mas
ainda não tinha acabado, a surra não era a pior parte. Fechei os olhos
lutando contra a bile que subia em minha garganta.
Não respondi e, mesmo assim, ele me virou de frente para ele com
brutalidade dando um forte tapa no rosto que me derrubou no
chão. Ele agarrou o meu pulso e enfiou minha mão dentro da sua
calça.
– Puta... está vendo isso daí? É isso que você faz, você me faz te
querer de uma forma insana, passo o dia todo de pau duro pensando
em você, Ratinha. Estou perdendo minha sanidade imaginando essa
bocetinha virgem apertadinha. Posso ser enérgico às vezes, mas só
estou tentando te educar como sua mãe deveria ter feito, eu preciso te
consertar para mim – ele disse acariciando meus cabelos. – Me perdoe
por te machucar, posso fazer a dor ir embora, você quer?
Um dia respondi que não queria e mais uma vez apanhei até
desmaiar.
– Sim, Vicente, por favor, eu quero me sentir melhor.
Ele gemeu acariciando meu clitóris, tirou seu enorme membro para
fora e se masturbou de pé ao lado da cama, apertando-me, até soltar
um jato quente e pegajoso no chão. Ele passou um tempo apreciando
sua “obra de arte”, que era como chamava sempre que a gente “tinha
uma conversa”. Desamarrou minhas mãos e me segurando pela
nunca, esfregou minha cara em cima da porra. Obrigando-me a lamber
tudo até o chão ficar limpo.
Não, não, não! Vicente falou com todas as letras que ficaria mais
de uma semana em Vitória, não tinha nem três dias que ele saiu. Meu
corpo reagiu violentamente à sua voz, corri de volta para o banheiro e
vomitei, chorando compulsivamente. Se ele me visse assim eu teria
muitos problemas… Quanto mais eu me forçava a parar de chorar,
mais desesperada eu ficava e mais as lágrimas desciam. Consegui me
acalmar um pouco, concentrando no movimento de puxar o ar o
máximo que dava. Escovei os dentes olhando para a maquiagem toda
borrada no meu rosto. Não me dei o trabalho de limpá-la e saí pela
janela do quarto em direção à estufa.
Fiz de tudo para que nenhum deles me visse, mas dentro da minha
estufa, um homem vestindo uma jaqueta de couro olhava com atenção
minhas flores. Eu já estava virando para voltar de onde vim, quando
ele me notou. Involuntariamente dei um passo para trás. Seu rosto
tinha uma enorme cicatriz e seus olhos eram duros, frios. Analisou-me
de cima a baixo e logo voltou à expressão severa que carregava antes
da minha presença o interromper.
– Ahn… não sabia que tinha alguém aqui, volto outra hora – eu
disse com as mãos tremendo. Aquele homem não era boa notícia, por
que Vicente estaria envolvido com esse tipo de gente?
Dei as costas da mão para ele, que, na verdade, notei ser ela,
cheirasse e, assim que estabelecemos uma confiança mútua, afundei
minhas mãos naquele pescoço fofinho. Ela balançou o rabo feliz e saiu
correndo por onde veio. Quando achei que já estava longe, voltou me
chamando para brincar. Olhei apreensiva para os lados, não tinha
ninguém à vista, o ipê ficava bem nos limites da fazenda com as terras
vizinhas, não era perto da plantação nem da casa, apesar que da
janela do andar de cima da casa principal dava para vê-lo. Fiquei de
pé e aceitei o convite da minha mais nova amiga. Ela pulou quase me
derrubando no chão e saiu correndo.
Avistei uma pia e resolvi passar uma água gelada pelo meu rosto e
pescoço. Com os olhos fechados pensei que poderia passar meus dias
tranquilamente naquele lugar, com a companhia de Liberty e dos
cavalos. Mas assim que os abri mudei de ideia. Um homem loiro, sem
camisa, usando um chapéu marrom e com um rifle enorme, apoiado no
chão ao seu lado, me encarava com o semblante fechado. Não tive
como deixar de notar seus braços musculosos e abdômen definido,
terminando em um “v” no cós da calça jeans. Ergui minha cabeça e
assim que os vi, me lembrei. Era o homem dos olhos de tempestade,
que Dona Lúcia conversou por causa da caminhonete.
Ele olhou para o lado com cara de tédio, tirou um maço de cigarros
do bolso da calça e acendeu um, com um zippo prateado, soprando a
fumaça toda na minha direção.
– Ei, tira isso da minha cara – falei balançando a mão para dissipar
a fumaça – um absurdo, fumando perto dos bichinhos, que dó!
– Meus animais não são da sua conta. Agora vá, tenho mais o que
fazer.
Ele enrolou meus cabelos em suas mãos e os puxou até que ergui
minha cabeça e nossos olhos se encontraram, imobilizada em seus
braços, algo contraiu entre minhas pernas e precisei esfregar uma na
outra para que parasse de formigar. Ainda com o olhar fixo no meu ele
suavizou a expressão indo de nervoso a curioso, me soltou de uma só
vez e eu cambaleei para trás.
– Damn it.[3]
– Como eu disse, me perdoe por invadir sua casa, isso não vai
mais se repetir, não precisa me bater eu juro que não vou fazer de
novo, eu tenho permissão para ir embora agora?
Deu uma longa tragada no cigarro e o jogou longe das baias. Sem
querer, me encolhi e fechei os olhos quando ele se aproximou mais
uma vez. Eu estava confusa, pois uma parte de mim, sabia que ele
não me faria mal, mas eu não estava mais no comando.
– Por favor, não vai se repetir, eu não disse nada por mal, só me
deixe ir embora.
Entrando pela cozinha, dei de cara com Rita fazendo chá de canela
e meu estômago deu voltas. Vicente amava isso.
– Por que você está suada e corada desse jeito? – ela perguntou
sem dar bom dia.
– O que você tem a ver com isso, Rita? Pelo amor de Deus, me
deixe em paz.
– Agora você vai ser muito boazinha e fazer tudo o que eu mandar,
Ratinha ou você vai acabar igual a sua mãe.
Saia de perto dele, Liberty, ele vai acabar te matando. Eu ainda não
estava louco, por mais surpreendente que isso fosse, mas foram essas
as exatas palavras que saíram de sua boca, o nome da minha filha
mais velha... Doía tanto saber que nunca mais eu sentiria o cheiro do
topo da sua cabeça ou ouviria sua voz… tomei mais uma grande dose,
eu não podia ir para esse lugar de novo.
– Porra cara, foi mal. – Falei guardando a arma. – Mas não encoste
em mim de novo. Você está bem?
– Vai se foder, que casar com você o que, sai pra lá. Cara feio
desses que acorda bebendo. – Ele deu uma gargalhada que acabou
me contagiando, o clima tornou-se menos pesado. – Bom, já que você
é avesso a crescimento pessoal e conversa fiada, vamos falar sobre
trabalho, a égua do prefeito…
A cachoeira não ficava muito longe e, por mais que eu tentasse não
pensar no que aconteceu de manhã, não conseguia parar, era como
se fosse um filme repetindo o tempo todo em minha mente.
Ela fez menção de falar mais uma coisa, mas a porta se abriu.
Vicente me encarava com os olhos queimando.
– Está dando para te ouvir por toda casa, Cecilia. Eu não entendo
porque você já acorda tão infeliz.
Eu deveria pedir logo desculpas, mas não consegui. Fui até ele,
talvez meu padrasto ainda tivesse alguma parte humana dentro de si.
– Pelo amor de Deus, meus pais…
– Juro para você Cecília, sempre acordo pensando que não terei
que te disciplinar, que você finalmente entendeu o significado da
palavra gratidão e você sempre me decepciona.
– Bom, não vai ser difícil porque você nunca foi casado com a mãe
dela, então são os dias normais dos trâmites, vou passar para o juiz de
paz. – Ele me lançou um olhar de pena que durou poucos segundos –,
mas por uma porcentagem maior na... exportação e importação te
garanto para ainda essa semana.
Vicente deu um soco na mesa me assustando tanto que quase caí
da cadeira. Bartolomeu não fazia ideia com quem estava mexendo.
Eu odiava tanto, mas tanto esse apelido! Ele o usava sempre que
estávamos sozinhos. Na frente das outras pessoas me tratava como
se eu fosse muito especial e pudesse quebrar a qualquer momento.
– Que bom que você gosta. Malho pensando em você, tudo o que
eu faço é pensando em você.
Afundou a cabeça entre as minhas pernas, segurando minhas
coxas abertas e lambeu o meu clitóris do jeito que ele sabia que eu
gozaria. Mas ele tinha outros planos. Mordeu no lugar com tanta força,
que pensei que fosse desmaiar, nunca senti tanta dor na minha vida. E
olha que criatividade para me machucar nunca lhe faltou.
– Eu sou grata, eu adoro tudo o que você faz, só fiquei com medo
de você ser preso com o assunto da fazenda, o que eu faria sem
você? Por favor, eu te amo Vicente, não faz isso comigo.
Não soube como não vomitei ali mesmo ao dizer aquelas palavras,
mas pareceu funcionar. Seu corpo ficou rígido por alguns segundos e
ele enfiou suas unhas nas minhas coxas até que sangrassem,
soltando um gemido. Eu nunca falei nada assim antes. Não falava
quando ele estava desse jeito, era sempre pior. Mas dessa vez a dor
foi tanta que escapou de mim. Vicente entrelaçou suas mãos na minha
cintura e me beijou na boca. Seu beijo era horrível, sua língua áspera,
tudo nele era aversivo, mas separei meus lábios e gemi como se o
adorasse.
Entrei na água.
Estava muito, mas muito mais gelado que previ, quando a água
atingiu meu peito, senti como se estivessem enfiando agulhas em
minha pele. Mas seria a última dor que eu sentiria, então ela era bem-
vinda. Nadei até onde eu sabia ser o local mais perigoso e, ouvindo
Liberty latindo atrás de mim, afundei a cabeça.
Pelas pegadas de Imperatriz que ficaram no caminho, só havia
mesmo um lugar que a loirinha poderia ter ido. Ninguém em Santa
Maria costumava frequentar a Queda da Viúva à noite. Eram águas
traiçoeiras e geladas. Eu não saberia dizer o quê, mas alguma coisa
estava muito errada com aquela moça. O percurso demorou um pouco
mais do que previ e minha mente foi tomada por uma série de
imagens, todas ruins. Apertei o passo, deixaria para entender o que
me chamou tanta atenção depois. Provavelmente foi o desespero
contido em seu olhar, ou talvez não fosse nada e eu finalmente
estivesse perdendo a razão. Pensei até com um certo alívio. Naquele
momento da minha vida, nada teria me feito mais feliz do que perder
de vez o contato com a realidade.
Um, dois, três… dez… vinte… trinta… Verifiquei mais uma vez se
seu queixo estava levantado, tampei o seu nariz soprando o ar dentro
de si... Nada. Ela continuava imóvel, sem cor.
Esse era outro problema, estava frio, muito frio. Se ela continuasse
com aquele vestido molhado grudado em seu corpo com certeza
pegaria uma pneumonia.
– Tudo deve estar meio confuso em sua cabeça agora. Creio que
não nos apresentamos quando você foi até o meu haras na última
semana. Meu nome é Alexander – tentei sorrir e continuei um tanto
sem graça – por favor não entenda isso errado, mas você precisa tirar
o seu vestido o quanto antes. É extremamente perigoso continuar com
essa roupa molhada, está muito frio.
Ótimo.
– Confie em mim, não vou olhar, mas troque seu vestido pela minha
camisa, por favor. Seus dedos e lábios estão ficando arroxeados.
Corri em seu encalço com Lily latindo ao meu lado. Não tive
dificuldade em alcançá-la, mas quando a puxei pelo braço, ela
revidou.
Meu coração bateu tão forte que fez meu corpo inteiro vibrar e ao
invés de lidar com isso como um homem de verdade, fiz a única coisa
que eu não poderia. Não com ela e não daquela forma.
O homem dizia alguma coisa sobre fazer frio, mas eu não queria
ouvir sua voz, toda vez que eu olhava para ele, meu corpo todo
formigava. Eu precisava ir para casa, descobrir um jeito de como não
despertar ainda mais a fúria de Vicente, teria sido tudo tão mais fácil…
Não, por favor, não me ajude mais. Ter esperanças iria me matar
uma forma muito pior que me afogar na Queda da Viúva.
– Olha só, Rita, eu não sei qual é o seu problema comigo, mas
quem parece que não vê o que acontece nessa casa é você. Eu já me
conformei que ninguém vai me ajudar…
Ela disse que eu não conhecia o verdadeiro Vicente, mas ela sim,
então o que fez foi deliberadamente me jogar embaixo do ônibus por
pura mesquinharia. Sem pensar eu só agi, dei-lhe uma bofetada na
cara e, com a voz tremendo de raiva, disse.
Vicente saiu da cozinha sem dizer nada, Rita sem se dar por
vencida, abriu a boca para dizer algo não muito agradável a julgar pela
expressão que fazia, mas foi interrompida pelo meu padrasto que
chegou com uma arma na mão. Ele me agarrou pelo pescoço e beijou
minha boca. Retribui fingindo que gostei, tentando tirar as lembranças
do beijo de verdade e do gosto de Alexander da minha mente, agora
não era a hora. Nervosa, perguntei primeiro, tremendo de medo da
resposta.
– Q-qual é a da arma?
– Daqui por diante seus desejos serão ordens. Eu nunca menti para
você, sempre te prometi o mundo se você colaborasse.
– Mas eu não quero essa daí morta, deixa ela se matar de trabalhar
para mim, acho que ela aprendeu a lição e nunca mais vai se meter
com a futura noiva de Vicente Alcântara.
– Preciso sair, em cima da minha cama tem uma coisa para você.
Se eu chegar à noite e você não estiver usando seu presente, não
ficarei feliz, Ratinha gostosa.
Olhei para uma câmera que estava bem na nossa frente, ele seguiu
meu olhar, franziu a testa e entrelaçou seus dedos nos meus, com
firmeza.
– Vem comigo – disse ele incisivo, com uma ânsia na voz que fez
mais lágrimas descerem do meu rosto, então ele completou – preciso
te devolver o seu chapéu, vai ser, como vocês dizem mesmo por aqui?
Rapidinho.
Queria rir com ele, mas cada minuto a mais que ele passava
comigo, mais perigo corria, não suportaria se Vicente o matasse por
minha causa. Nas últimas semanas, sonhar com o nosso beijo me
manteve de pé. Respirei fundo e soltei minhas mãos bruscamente.
– Vá embora, não volte mais aqui – e contra cada fibra do meu ser,
completei – não quero saber de chapéu nenhum, fique para você, você
é um grosso insuportável e intrometido que eu quero distância.
– Não se preocupe loirinha, vai dar tudo certo. Só não saio daqui
sem o seu nome.
– Ok, ok! Eu vou. Você sabe onde eu moro, Lily sente sua falta –
ele disse intensamente, cada nota saída da sua voz batia direto no
meu coração.
– Obrigada.
Queria muito lhe dizer que não se preocupasse, que pela manhã
tudo ficaria bem, mas eu não podia, pela manhã provavelmente estaria
pior. Procurei um tranquilizante que escondi no armário e tomei ao
achá-lo. Subi resignada até o quarto de Vicente. Odiava entrar ali, a
presença da minha mãe era quase sufocante. Da janela sorri ao ver
minha árvore, mas meu sorriso morreu rapidamente quando observei
alguns homens ainda trabalhando no galpão, eles me davam medo,
pelo menos não entravam na casa quando Vicente não estava. Tinha
um tempo que eu não via aquele Serkan e esperava não ter que vê-lo
nunca mais.
O alívio pelo que ele disse ao telefone foi tão forte, mas tão forte
que eu sorria abertamente sem perceber. Disse a primeira coisa que
me veio à cabeça.
– Prometo para você que não vou te impedir, pegue a arma ou abra
as pernas. Mas seja rápida.
Não!
– Claro.
Olhei para ele com a testa franzida, nem me lembrava qual havia
sido a última vez que saímos juntos. Peguei em sua mão estendida,
mas ele bateu na própria testa como se tivesse esquecido algo
importante.
– Sempre sonhei com esse dia, Ratinha. Eu sabia que um dia você
iria me amar como eu te amo. Você só precisava de disciplina.
– Você é tão linda, tão linda! Por que você tinha que ser tão linda?
– disse apertando meu pescoço, como se isso fosse um tormento para
ele, mas do nada, suspirou e relaxou – Só falta o seu presente para
ficar perfeita, vamos?
– Cala a boca! Seu corpo pertence a mim, quem decide sobre ele
sou eu, não você – e virando para o homem estranho continuou – Está
tudo pronto?
Olhei mais uma vez para Vicente, implorar nunca tinha efeito, mas
foi mais forte que eu.
– Eu sei que dói, minha Ratinha, mas sua bocetinha vai ficar ainda
mais linda do que já é. Você é toda minha agora – e virando para o
tatuador, perguntou – vai demorar muito ainda?
– Vaza daqui! Se por algum acaso você comentar sobre isso com
alguém…
– O que é isso Dr. Vicente, eu não sei de nada… – disse ele com a
voz trêmula.
– Você não tem ideia de quão linda está, toda marcadinha para
mim. Nossa noite de núpcias será perfeita, Ratinha.
– Linda! Você está mais linda do que nunca. Minha! Minha Ratinha!
– Ela vai dar à luz a qualquer momento, Alex, mas não estou
gostando do quanto está prostrada – ele olhou no relógio – será que
ainda dá tempo de pegar Wagner da sede da prefeitura?
Ainda não eram cinco da tarde, se eu corresse daria sim.
– Não.
Cocei o nariz e olhei para sua mão que ficou estendida no ar.
– Vicente vai dar uma festa amanhã, Alex. Ele é o dono da fazenda
de flores, vizinho do seu haras.
Minha mão tremia visivelmente. Peguei meu zippo para ter uma
distração.
– Alex?
Mesmo sem a mínima fome, desci. Eu estava cada vez mais magra
e sem forças, sem saber se isso era melhor ou pior.
– Fiz o bolo de limão que você gosta, fiz ontem porque hoje essa
casa vai virar uma loucura por causa da festa – disse Rita assim que
me viu.
– Que dona?
Saí pela porta da cozinha, dando a volta pela estufa até chegar em
frente da feia e enorme construção sem acabamento. Caminho dos
Girassóis era uma fazenda muito charmosa, com canteiros de flores e
construções de madeira por todo canto e esse galpão destoava de
longe, chamando bastante a atenção. Mais um motivo para não ser
nada daquilo do que eu estava pensando. Olhei para além do galpão e
sorri por dentro ao ver meu ipê todo amarelinho com os azuis e roxos
das orquídeas nos troncos, eu deveria ir para lá e ficar até a
maquiadora chegar, mas não conseguia mais respirar de ansiedade.
Eu precisava mesmo saber o que Vicente estava fazendo com o
legado dos meus pais.
Dei um passo para trás, horrorizada. Era tudo verdade! Nunca usei
drogas e tinha um bom tempo que não via televisão, desde que
Vicente tirou todas da casa, alegando que eu não precisava me distrair
com romances de novela, mas havia vários tonéis com sacos de um pó
de uma cor estranha, parecendo areia. Ao lado deles, em caixas,
vários saquinhos minúsculos com um pó branco estavam sendo
colocados dentro da terra dos vasos das rosas. Não precisava ser
muito esperta para deduzir o que aquilo era.
Sua voz era sinistra e tinha um forte sotaque, diferente. Olhei para
o chão sem saber o que fazer. Ele se aproximou um pouco mais,
levantou meu queixo com o polegar e o indicador, obrigando-me a
encará-lo.
– Não se trata uma mulher assim… eu jamais faria isso com você –
disse ele acariciando uma pequena cicatriz em minha bochecha de
uma bofetada que Vicente havia me dado, com seu anel de delegado.
– Não está mais aqui quem falou, só não aponte essa arma para
mim se não for para atirar.
– Eu faço tudo por você, Cecília. Nossa festa vai ser tão linda e o
que você me dá em retorno? Se esfrega no primeiro pau duro que vê.
Você acha que eu não sei o que você quer?
– Pode, mas diga a elas que Cecília vai demorar para descer,
precisamos ter uma conversa antes que ela coloque o meu anel no
dedo.
– Não, meu amor, ainda não, você sabe muito bem que não vai sair
dessa sem uma punição – disse ele me levantando do sofá –, mas
primeiro preciso que você seja uma boa menina e assine uns papéis
da fazenda para mim, ok?
– Assine, Ratinha.
– Você não estava curiosa para saber o que tinha no meu galpão?
– E-eu?
– Então por que… – ele deu um puxão que quase rasgou os meus
mamilos – você sempre se comporta como uma puta imunda e
mentirosa?
– Por favor, Vicente, eu não posso mais viver desse jeito. Não fiz
nada errado, só queria saber o que tinha no galpão…
– Ótimo! A partir de agora eu vou confiar que você vai viver só para
mim, nada mais de sair dessa casa, não te quero nem na estufa sem
minha permissão, estamos entendidos? Você não pode me tirar do
sério desse jeito, um dia eu vou acabar te matando, Cecília, e eu não
imagino minha vida sem você.
– Mas Vicente…
– Eu juro que entendi, eu não vou mais sair da casa, passo o dia no
meu quarto se você quiser.
Ele me chutou dos seus pés, como se eu fosse uma cadela de rua
e me obrigou a levantar, ficando de pé em sua frente. Sentando-se na
beirada da cama, disse:
– Não putinha, hoje você não merece gozar… Vire de costas para
mim e coloque as mãos na janela.
– Rita – escutei ele dizer. Devia ser ao telefone, pois não virei para
ver. – Faça como eu te ensinei, não é para sobrar vestígio.
– Eu sou a única coisa que você tem – disse ele enquanto batia
com a vara nas minhas costas e Rita colocava fogo na minha árvore.
– Você está linda agora, uma obra de arte deliciosa. Amo tanto
você...
– Cecília e quando eu digo viver para mim, estou falando sério. Não
quero que você se corte sozinha, sei que uma vagabunda pervertida
como você, precisa de dor para se sentir bem, então peça para mim.
Estarei sempre aqui. – Ele respirou fundo e continuou. – Não me teste
nunca mais. Em hipótese alguma me desobedeça, eu ainda não
transformei sua vida em um inferno. Se você for uma boa menina
daqui para frente, seus privilégios podem voltar. Vou mandar Rita
cuidar dos seus cortes, seu vestido de festa é branco, não pode ficar
manchado de sangue.
Uma fúria violenta tomou conta das minhas entranhas. Por que isso
estava acontecendo comigo? Por que ele simplesmente não me matou
naquele galpão? Endureci minha postura e disse olhando dentro dos
seus olhos:
Tentei alcançá-la, mas o corredor era escuro e parecia não ter fim.
Depois de muito procurar, vi duas portas abertas em minha frente.
Duas crianças brincavam… na sala da minha antiga casa?! Era
confuso, não consegui entender o que acontecia, nem onde eu estava.
Na outra porta Mollie chorava me pedindo ajuda. A alegria que eu senti
ao vê-la em carne e osso foi indescritível, quase senti seu cheiro, mas
por algum motivo, mesmo com ela ali, não consegui. Eu sabia que algo
estava fora do lugar, sabia que nunca mais a veria… ela chorava tanto,
eu precisava ir até ela, ajudá-la… Mollie era a razão da minha vida,
mas uma mão segurou o meu braço me impedindo ir…
Fiz o que me foi pedido, mas Mollie havia sumido. Em seu lugar
estava a loirinha, acorrentada em um X, se debatendo e chorando
compulsivamente. Corri até ela, mas não tinha como tirá-la dali…
– Alex – ela disse entre as lágrimas – você nunca vai conseguir me
salvar!
Fuck! Por que Brian não entendia? Que diferença faria agora achá-
lo ou não, mais de cinco anos depois? Minhas pernas amoleceram e
sentei-me no chão com o peito doendo e apertado. Os gritos das
minhas meninas desesperadas assistindo a mãe morrer, perfuravam o
meu cérebro como se estivesse acontecendo naquele momento. Com
as mãos mais trêmulas do que nunca, tentei tirar o chip do celular, mas
não consegui. O aparelho vibrou mais uma vez, Brian não ia desistir.
Ele jamais entenderia que eu não queria justiça, eu queria esquecer.
Levantei-me do chão, quebrei o telefone no meio e pisei em cima. Eu
focaria naquilo que ainda tinha uma solução.
Como costumam dizer no Brasil, nada é tão ruim que não possa
piorar. De todos os dias, logo nesse, todo o estoque de Jack Daniels
havia acabado na única distribuidora de bebidas da cidade. Eu
realmente precisava beber, no entanto, sou um homem de hábitos.
Tinha que ser whisky.
– Como assim acabou o seu estoque? Não faz uma semana que
estive aqui e essa prateleira estava lotada! – exclamei olhando
desolado para o lugar vazio.
– Não acredito que vou ter que ir até Vitória por causa dessa
maldita doença que a cidade inteira resolveu chamar de festa.
– Mas o que foi isso seu Alex? Só falei a verdade, não é culpa
minha que os pais não seguram essas meninas. Elas dão em cima
mesmo, treze, catorze anos já é tudo safada rebolando de short pela
cidade, aquela Cecília nunca enganou ninguém em Santa Maria, você
não estava aqui na época, seu Vicent…
Bati de novo sua cara no balcão fazendo questão de mirar o nariz
ao invés da testa. Os próximos seriam os dentes se ele fosse corajoso,
mas eu duvidava muito.
Quando ele olhou para mim mais uma vez, sua atitude mudou.
Com o rosto todo ensanguentado, não ousou mais abrir a boca.
– Pelo amor de Deus seu Alex, só falei por falar, eu tenho sobrinha,
nunca fiz nada errado – choramingou mijando nas calças. Patético.
– Lúcia, mas, por favor, não me chame de senhora… ei! Onde você
está indo?
– Como você não sabe? A cidade não fala em outra coisa, até o
prefeito vai.
Quando a moça se afastou, ela agarrou meu braço mais uma vez.
– Eu não sabia que estava tão grave assim, aquele dia que você
nos viu eu tentava convencê-la a estudar comigo, ela é tão talentosa
com a terra, idêntica à Helena, a mãe dela, sabe. Nós éramos amigas
de infância. Eu tinha que ter prestado atenção… Aquele homem é um
monstro, Alex.
– Que tráfico de drogas? Por que você está bebendo a essa hora
da manhã?
– De? – incentivei.
– Lúcia, ela precisa de ajuda agora, não terei tempo de saber quem
está por trás desse bosta, de quanta ajuda dentro da polícia militar ele
tem. Ela precisa sair do estado imediatamente, de preferência do país,
mas isso a gente vê depois. Você quer mesmo fazer isso?
– Claro, eu deveria ter ajudado essa menina anos atrás, nunca vou
me perdoar por não ter visto antes o que acontecia, eu desconfiava
que ele era violento, mas da outra coisa… Que horror!
– Alguns dias? Mas ela precisa de ajuda hoje, Alex! Posso ir à festa
e convencê-la a ir comigo…
– Mas…
Ele soltou o ar com força pelo nariz e pareceu contar até dez antes
de me responder.
Tirei o drone e uma das caixas do carro enquanto esperava que ele
dissesse o que queria. Lily pulava em mim sem parar, fazendo a maior
festa.
– Alex… você pode conversar comigo, não vou te julgar, eu não sei
o que aconteceu com você, mas alguns fardos podem ser pesados
demais para segurar sozinho.
– Podemos tentar virar o potro, mas acredito mesmo que terei que
fazer uma cesariana. Preciso de uma autorização por escrito de
Wagner, Jandira custa mais de 2 milhões de reais e há grandes
chances de não sobreviver à cesariana.
– Alex, aonde você vai? – Raul me chamou, mas não olhei para
trás. Ele me puxou pelo braço e rosnei em resposta.
– Que você se acalme, aonde vai desse jeito? Ainda preciso de sua
ajuda com Jandira.
– Ei mocinha! Que saudades – disse ela com uma voz tão deliciosa
que eu poderia passar dias ouvindo-a falar qualquer coisa. Quando ela
levantou seus lindos olhos até os meus, sua voz não estava mais
afetuosa. – Pelo amor de Deus, Alexander vá embora daqui!
– Você não precisa ficar nesse lugar mais nem um segundo, deixa
eu te levar daqui.
– Você não precisa sonhar, o que eu tenho para te dar é real, vem
comigo.
E antes que eu pudesse reagir ao que foi dito, ela virou as costas e
correu para longe do meu alcance, parecendo um anjo dentro daquele
vestido branco… uma raiva intensa, cega e perigosa se apossou de
mim ao imaginar para o que ela estava correndo. Eu não podia ir atrás
dela sem provocar uma tragédia. Caralho! Devia tê-la colocado no meu
colo e saído desse lugar de qualquer forma.
– Ei! – gritei.
– Ai, acho que sim… não sei o que me deu. – disse ela passando a
mão na testa.
– Eu não sei o que mais você quer de mim, Vicente. Esse vestido
é quente, quer controlar até quando meu corpo sua? – sei que pagaria
caro por falar assim, mas eu não era de ferro, essa situação estava
acabando com a minha sanidade.
– Que sortuda, hem? Esse seu noivo é um gato, ui! – disse uma
outra baixinha de cabelos encaracolados.
– Não sei pra que tanto mimimi com essa garota, ela não tem
nada demais, esquisitinha, parece doida…
– Alguma coisa está fora do lugar... Você fica assim sempre que
faz merda. Mas eu tenho tempo… posso arrancar a verdade de você
mais tarde. – Ele agarrou o meu pulso e passou por cima da sua calça
– meu pau vai ficar duro assim para você a noite todinha. Você será
finalmente toda minha e vai me contar tudo de errado que fez! Quem
sabe eu não te perdoo como presente de noivado?
Com lágrimas nos olhos ela me abraçou mais uma vez, dizendo
no meu ouvido.
Balancei a cabeça, tentando dizer para que ela não fizesse nada
contra Vicente, mas ele logo apareceu ao meu lado e preferi
desconversar.
– Minha filha, você tem que se preocupar consigo mesma, por que
se prende aqui com essa desculpa?
Não disse mais nada, meus motivos e minha covardia não eram
da conta de ninguém, apenas a puxei com mais força pelo braço. Abri
o portão e Dona Lúcia virou-se para mim mais uma vez, praticamente
implorando que eu fosse com ela.
Peguei seu rosto entre minhas mãos e olhei dentro dos seus
olhos, para ver se ela finalmente entendia.
– Mas…
– Por que está indo embora tão cedo, Lúcia? – Vicente disse.
Só não vomitei ali mesmo porque nem me lembrava da última vez
que comi. Apertei a mão da minha única amiga, como se isso pudesse
me dar força de alguma forma, mas nada vinha em minha mente que
pudesse nos tirar daquela situação.
Subi meus olhos do seu peito até o seu rosto e tentei sair dos
seus braços, mas ele não deixou. Queria explicar que eu tinha que
correr, mas eu não conseguia falar o que eu realmente queria. As
palavras não se juntavam de forma coerente, e eu tremia tanto que era
difícil articular o que dizer.
Alex… meu Deus eu tenho que sair de perto dele! Mas eu não
conseguia falar, por que logo agora eu não conseguia falar?
Cerrei as pálpebras mais uma vez esperando pelo golpe que não
veio. Ao invés disso fui colocada com delicadeza em uma cama macia.
Tinha algo errado, Vicente nunca era gentil. Ainda sem abrir os olhos,
inalei profundamente um cheiro maravilhoso e soube na mesma hora
de quem era, jurei que nunca o esqueceria… Alex cheirava à
liberdade.
– Cecília…
Sua voz parecia feita de veludo, ela fazia meu coração bater muito
rápido e meu corpo querer permanecer ao seu lado para sempre. Se
ele continuasse falando seria muito difícil ir embora. Abri a boca para
dizer que eu tinha que ir, mas eu parecia ter esquecido de como formar
frases.
– Não volte para lá, foque nos meus olhos, Cecília – fiz o que foi
pedido e ele sorriu ficando ainda mais bonito, tirando todo o ar do meu
peito – você está comigo agora?
– É… dele?
– Sei que você está muito cansada agora, mas não posso deixar
você dormir assim, coberta de sangue.
Relaxei tanto que ele teve que me levar até ao banheiro no colo,
esse dia estava cobrando seu preço. Com toda suavidade possível ele
me sentou na pia e começou a tirar minhas meias. Eu tinha cicatrizes
pelo corpo todo, mas não eram elas que me preocupavam, não queria
que ele visse os piercings e a maldita tatuagem, então encurvei o
corpo, numa vã tentativa de encobri-los. Alex franziu a testa e tirou a
camisa sem dizer nada. Seu corpo não possuía um defeito, era largo e
másculo. Então, uma coisa me chamou a atenção e endireitei minha
postura para olhar melhor. Assim como eu, ele tinha várias marcas
também, algumas eram mais profundas, outras mais superficiais,
passei os dedos em uma linha bem acentuada na parte lateral do seu
abdômen e ele sorriu orgulhoso.
–Pode não parecer agora, mas elas te fazem mais forte, sabia? –
disse intensamente com os olhos cravados nos meus.
– Você não vai a lugar algum, já disse. Deixe-me ver o seu pé.
– Te machuquei, loirinha?
Quase pedi para que ficasse comigo, mas não tive coragem, já
tinha dado trabalho demais. Deitada de costas no colchão, fitei os
desenhos no teto, até que minhas pálpebras pesaram, mas toda vez
que as fechava, os olhos vazios de dona Lúcia me encaravam sem
vida e eu acordava sobressaltada. Nervosa e com a boca seca, fui
procurar Alex ou a cozinha. O encontrei sentado à mesa da sala de
jantar, com uma garrafa de whisky em sua frente. Ainda sem camisa,
com os ombros curvados para frente, ele parecia profundamente triste.
Algo me dizia que essa tristeza tinha a ver com os desenhos que vi no
teto do quarto. Ele sentiu minha presença antes que eu falasse
qualquer coisa.
– E-eu não consigo, toda vez que fecho os olhos ela está lá.
– Não quero que você se preocupe com nada, agora. Tudo tem
solução, eu te prometo.
– Mas, Alex…
– M-mas Alex…
Eu sabia que ela obedeceria se fosse ordenada e foi o que fiz, não
queria tratá-la assim, mas era necessário, infelizmente.
– Cecília, AGORA! Faça o que eu estou mandando, vá para o meu
quarto e tranque a porta! Sem discussões.
Não quis parecer ávido demais sobre assunto, Raul era esperto e
muito observador, confiava nele, mas até para a sua própria
segurança, era melhor que não soubesse de nada. Normalmente eu
não me interessaria pela vida do delegado e sabia que Raul me
contaria de qualquer forma.
– Ei! O que foi? Não precisa ficar assim, eu falei para você que
estava tudo bem, não falei?
Ela olhou nos meus olhos como se tudo dentro dela doesse.
Parecia que alguém pegava o meu coração e torcia toda vez que
eu a via chorar.
– Claro que deixo você ir embora, entenda uma coisa de uma vez,
a partir de hoje, você é uma mulher livre para fazer o que bem
entender, mas agora está tarde, você precisa descansar e não tem
roupas. Amanhã, você vai, ok?
Pela primeira vez desde que a conheci passou pela minha cabeça
a dimensão de quão nova Cecília devia ser. Talvez nem idade para
beber ela tinha.
– Você precisa se acalmar, não faz bem ficar assim por muito
tempo, só tem um pouquinho, olhe… – tomei um pequeno gole da
bebida de uma só vez – viu? Agora faça como eu.
– Alex?
– Sim, menina.
– Música?
– Até agora eu não acredito que você não ouviu todas as sirenes
na fazenda do delegado!
Minhas mãos tremeram, não podia ser… Eu disse a ela que não
fizesse nada!
Bom dia, Cecília, comprei algumas coisas para você, espero que
goste.
Ela lambeu o meu rosto e saiu correndo pela casa. Aproveitei para
observar melhor onde eu estava, na noite passada, não tive condições
de apreciar a decoração. A casa de Alex era muito masculina, com
paredes de tijolinhos aparentes e vigas de madeira. A impressão que
passava era de um rústico planejado, deixando o resultado muito
bonito. Andei por um corredor que deu em uma sala de estar com uma
televisão enorme em um painel de madeira, senti falta de fotos e
objetos pessoais; em alguns aspectos a casa parecia um tanto
inabitada. Entrei na sala procurando por Liberty quando o vi dormindo
no sofá. De novo senti aquele friozinho na barriga e minhas pernas
amoleceram pela visão de um Alex sem camisa só com uma calça de
moletom, ele era grande demais para caber naquele sofá, mas não tive
coragem de acordá-lo. É lindo até dormindo! Pensei sentindo um calor
que subia até meu rosto, o que contrastava com o frio que fazia essa
manhã! Santa Maria era uma cidade serrana, então as temperaturas
eram bem amenas. Busquei um edredom para cobri-lo, não queria que
ele pegasse uma gripe por minha causa. Ao chegar mais perto do sofá
vi que no chão havia uma garrafa de whisky pela metade, Alex parecia
beber muito, mas quase todo mundo em Santa Maria bebia muito, eu
não tinha como saber se era normal ou não.
Virei as costas para ir até à cozinha, mas fui impedida por Alex
que me segurou forte pelo pulso com uma mão, agarrando o meu
pescoço com a outra. Com apenas um movimento fui imobilizada sob
seu corpo no sofá. Tudo aconteceu muito rápido, era impossível sair
debaixo dele e seus dedos apertando firme o meu pescoço me
impediram de respirar. Encarei os seus olhos, tentando compreender
essa mudança tão brusca de comportamento. Meu coração batia
descompassado pelo susto enquanto o ouvia dizer palavras
desconexas em inglês e espanhol. O seu tom de voz era mortal, gelou
minha espinha. Tentei arranhar sua mão que me apertava, eu
precisava respirar, mas ele não se movia, seu olhar estava distante,
ele parecia… sonhando? Arranhei com mais força e ele me viu pela
primeira vez, confuso, desfazendo a pressão em meu pescoço. Seu
olhar intenso e cheio de perguntas mexeu em alguma coisa dentro de
mim, deixando minha boca seca. Lambi os lábios instintivamente e
seus olhos de tempestade seguiram meus movimentos, parando no
meu peito. Meu corpo reagiu a isso como se tivesse sido atravessado
por uma poderosa corrente elétrica, mesmo sem o aperto em torno do
pescoço minha respiração ficou curta e ofegante, os bicos dos meus
seios ficaram duros, doloridos e latejei tanto que molhou até minhas
pernas. Nada havia me preparado para sentir isso um dia, eu não
sabia o que estava acontecendo comigo. Alex pareceu finalmente
acordar e afastou de cima do meu corpo de uma só vez, indo parar do
outro lado do sofá.
Cheguei de Vitória com o dia raiando, desde que vim para esse
país nunca havia reparado como era lindo o nascer do sol por aqui.
Mas agora, dirigindo minha caminhonete pela estrada florida de terra,
eu reparei. Estava mesmo um dia lindo. Antes de ir para o haras, parei
na padaria da praça do centro da cidade, não que tivessem muitas
outras, mas a essa hora com certeza a conversa seria uma só e eu
queria saber qual era o estado de saúde daquele desgraçado.
– Não sei de muita coisa. Tive que ir em Vitória bem cedo comprar
remédio para um cavalo doente – menti. – Você tem alguma notícia do
estado de saúde dele?
Ah, que pena! Sorri por dentro pensando orgulhoso em Cecília, ela
não me disse muito sobre o que aconteceu, mas não precisou. Paguei
logo as compras e não dei muito mais abertura para conversa. Eu me
simpatizava com o Sr. Gabriel, não queria ter que dar um soco em um
idoso se ele começasse a falar da loirinha.
– Menina, eu sei que você deve estar com medo de mim e não
precisamos conversar se não quiser, só me diga se você está bem, por
favor!
– Caralho, garota! Sei que fodi tudo! Mas não faça isso, desconte
em mim, não em você!
– Não adianta eu achar que vou ser livre, Alex. Olha para mim… o
que você vê?
Puta que pariu! Foi como se ela tivesse cravado uma faca no meu
coração com essas palavras. Eu seria capaz de ir até Vitória e matar
aquele desgraçado em coma mesmo se Cecília não precisasse tanto
de mim ali. Olhando mais de perto vi que escorria sangue de um
profundo corte em sua coxa.
– Pode não parecer, mas tudo isso vai passar! Por favor, não
destrua seu corpo – agarrei os seus cabelos, fazendo com que ela
olhasse para mim – Eu vou proteger você!
Culpa! Uma velha amiga minha, eu sabia bem que não era algo
que se resolvia de um dia para o outro, seria mais fácil cuidar da parte
física primeiro.
Foi então que desci os olhos pelo seu corpo, o que eu estava
tentando evitar desde que entrei no banheiro, e vi o que ela realmente
fez. Tentou tirar a tatuagem com a gilete. Além de ter sangue no meio
das suas coxas, a renda da calcinha estava toda vermelha.
– Fique assim, bem quietinha para mim, você pode fazer isso? –
Perguntei acariciando seus cabelos.
– Cecília…
– Por favor, Alex, não quero que você me veja desse jeito.
– Você é perfeita eu não mudaria nada em você, queria que
conseguisse se ver como eu te vejo.
– Fuck!
– Alex… – ela chamou em um fio de voz tão doce e tão calmo que
tudo foi desacelerando.
– Não Alex, você que não quer ver o que está na sua frente.
Lambi meus dedos e beijei sua boca mais uma vez, era um beijo
duro, ardente… meu desejo por ela era vital e eu precisava que ela
sentisse isso, eu não conseguiria colocar em palavras a intensidade
que o calor de sua pele me trazia de volta ao mundo dos vivos.
– Cecília… eu...
A batida ficou ainda mais forte e uma voz grave disse do outro
lado.
– Não abra a porta, Alex. Você não sabe do que ele é capaz – ela
sussurrou de volta, com a voz tremendo.
Ela era a prova viva de que aquele bandido era capaz das coisas
mais perversas e eu esperava ansiosamente para o dia que ele
acordasse. Esse delegado de merda não poderia se safar tão fácil
assim.
– Seja uma boa menina para mim, ok? Vá para o meu quarto e só
saia de lá quando eu chamar. – Ela ainda me pediu com os olhos, mas
não lhe dei chance. – Obedeça, Cecília. Agora.
– Sim.
– Pelo que fiquei sabendo, levou uma facada, o que isso tem a ver
comigo?
– Não sei que horas foi esse ocorrido – respondi arqueando uma
sobrancelha.
Não dei chance para que ele retrucasse, virei as costas e voltei
para casa trancando a porta atrás de mim. Arrumei a bagunça na
cozinha bem rápido, aproveitando para montar um café da manhã
caprichado para Cecília. Ela precisava descansar não só o corpo, mas
a mente. Aconteceram coisas demais em poucas horas desde que
chegou aqui. Tive uma ideia antes de levar a bandeja até o quarto, fui
até lado de fora e peguei umas margaridas para enfeitar seu café da
manhã.
– Alex, o que fiz ontem foi errado, mas… eu não planejei, acredite
em mim, eu só não aguentei mais… Dona Lúcia, oh meu Deus!
– Acredite você em mim, Cecília. Porra, você não fez nada errado.
Nada do que aconteceu com você é culpa sua. Nunca foi. – Peguei
seu rosto e a fiz olhar diretamente para mim – Não há nada que você
possa fazer que vá me decepcionar, nada… Estou do seu lado e
sempre estarei. Se tem alguém culpado nessa história toda sou eu.
– Ah, Alex! Me sinto tão mal por te envolvido nisso tudo… Eu não
mereço a sua ajuda, tem tanta coisa que você não sabe! – ela disse
com um sofrimento tão grande na voz que por pouco não a beijei, mas
não o fiz. Jamais misturaria as coisas novamente.
– Estou aqui para ouvir tudo o que você quiser me contar, mas
minha opinião não vai mudar! – eu disse.
E nós ficamos assim abraçados, até que seu choro passou. Eu a
queria muito, era tanto que meu coração doía! A única coisa que eu
poderia fazer era ajudá-la a reconstruir a vida, nem que em último caso
eu tivesse que engolir o meu orgulho e pedir ajuda à Brian para tirá-la
do país. Em relação a um possível relacionamento entre nós dois, no
entanto, não havia solução, era tarde demais para mim e cedo demais
para ela.
Algumas semanas depois.
Olhei para cima e ele estava ainda mais lindo de perto, com uma
regata branca que marcava cada músculo da sua barriga. Senti o
friozinho por dentro que subia até no peito toda vez que ele se
aproximava, era claro que eu o queria, quem não iria querer?
Queria que ele viesse atrás de mim, mas me senti aliviada por não
ter vindo. Eu estava irritada, e não era boa com confrontos, odiava ter
que falar sobre o que estava sentindo. Do quarto ouvi a porta da
cozinha bater, o que significava que ele devia ter saído. Tomei banho,
brinquei com Lily, tentei ler, e vi televisão. Não sabia o quanto eu tinha
sentido falta de ver filmes e séries até essa semana… Horas e horas
se passaram e nada de Alex voltar… acabei dormindo agarrada a Lily,
sem nem perceber.
Entrei em casa puto com Alice e dei de cara com Cecília encolhida
no chão da cozinha chorando baixinho. Por pouco, muito pouco não a
coloquei no meu colo e beijei todas as suas lágrimas, mas consegui
respirar fundo e perguntar o que era a uma distância respeitável. E,
como eu havia previsto, ela estava se sentindo solitária e isolada.
Primeiro foi uma sensação, que logo virou uma certeza, alguém
me observava. Fingindo que não percebi, peguei dois vasos de flor e
fiz menção de voltar de onde vim e, assim que percebi o vulto, me virei
com tudo e o peguei pelo pescoço, batendo suas costas na lateral da
estufa. Era uma mulher morena de uns trinta anos que me olhava
assustada com os olhos pretos arregalados. Sem tirar minha mão do
seu pescoço, coloquei suavemente os vasos no chão e tirei minha
arma da cintura, apontando para sua cabeça.
– Por que você está me seguindo?
“Para a minha florzinha de maracujá que ama o mar. Papai e Cecília, Praia dos Fachos,
2009”
– A essa hora?
Domingo de manhã,
Domingo de manhã”
– Não para não! Você ficou tão feliz quando a música tocou, o que
eles falam? Tem hora que não consigo acompanhar.
– Cecília! Chegamos.
Esse era outro problema que já havia notado durante esses dias e
só fazia meu ódio crescer de tamanho. Cecília não conseguia tomar as
mais simples decisões, esperava doce e passiva que eu tomasse
conta de tudo. Um dia, fiz um comentário bobo sobre uma roupa que
colocara, e ela a trocou imediatamente. Não mentiria para mim mesmo
dizendo que esse ímpeto em obedecer não me deixava ainda mais
atraído, mas eu via o fogo em seus olhos, a vontade de ser
independente ali dentro, adormecida. Cecília era sim, doce, mas essa
pessoa indecisa não era ela, não sei como eu sabia disso, eu só
sabia.
– Mas... Eu não sei do que você gosta, acho melhor você mesmo
escolher, eu nem estou com muita fome…
– Tenho certeza que vou gostar de qualquer coisa que você pedir.
– Nunca experimentei.
– Já escolheu, moça?
– Texas.
– Ainda prefiro Jack Daniels, mas você tem bom gosto, loirinha.
– Mas, Alex… você sabe que eu não posso – ela disse baixinho,
só para mim.
– Eu disse que não dava para usar isso, olha as minhas costas.
– Alex, eu…
Ela abriu os olhos, pedindo algo com eles e por fim suspirou
desistindo.
– Alex, olha para mim – disse com firmeza, mas não sustentei e
abrandei o tom – por favor.
A chuva caía cada vez mais forte e uma neblina densa descia
impossibilitando enxergar a estrada. Essa região serrana do estado era
muito complicada no inverno. Com muito cuidado e o farol bem alto,
Alex virou a caminhonete, tentando achar a entrada do motel. Tensos,
procurávamos o letreiro do prédio, até que no que pareceram ser horas
depois, sem a chuva arrefecer um milímetro sequer, demos de cara
com um letreiro piscando neon em letras garrafais bem no comecinho
da cidade. Motel L’amour.
– Cecília! – ele chamou, mas nem olhei para trás. Com as mãos
trêmulas, fechei a porta, sem respondê-lo
– Cecília, abra essa porta. AGORA! – seu tom de voz fez meu
formigamento aumentar a um nível desesperador.
Prometi a ele que nunca mais me cortaria, e não suportaria
decepcioná-lo. Bati minhas mãos em punho na parede do box,
esperando um milagre que me tirasse daquela situação, eu não seria
forte o suficiente para manter minha palavra.
– Saia daí Cecília, você não vai se machucar Cecília! É fácil dar
ordens, mas como vou resolver essa necessidade, então? – puxei o ar
o máximo que pude procurando aquela parede e o empurrei mais uma
vez quando a vi.
Peguei o objeto mais parecido com a vara que Vicente usava, era
comprido e flexível, porém mais refinado com um cabo emborrachado.
Tremi da cabeça aos pés, com muitas imagens embolando no tempo,
vindo como flashes até mim. O barulho que essa maldita vara fazia
antes de cortar minha pele, aliadas às palavras humilhantes que
Vicente usava, me fizeram acreditar durante todos esses anos que eu
não era digna de nada. Levantei a cabeça devagar e Alex me
observava intensamente. Fitei dentro daqueles olhos que me levavam
para casa e despejei tudo que tinha dentro de mim.
– Me diga o que fazer! Eu preciso sentir outra coisa que não seja
ele, está tudo sujo aqui dentro e você me fez prometer que eu não me
cortaria mais…
– Sim, Alex, com todo o meu coração, você é a única pessoa que
eu confio – seus olhos abrandaram um pouco o desespero e sorriu ao
ver que estendi a mão para que se levantasse.
– Não… não entendo mais nada… Quando olho para você, meu
corpo parece que vai entrar em combustão e é tão bom… tão certo,
mas ao mesmo tempo dói aqui – pegou minha mão e colocou em seu
peito – dói muito, Alex, faz parar por favor.
– Ah minha menina!
– Não tem nada errado com o que está sentindo, Cecília, sinto a
mesma coisa quando olho para você – ela me encarou como se não
acreditasse – desde o primeiro dia que te vi, me sinto assim. Tentei
lutar contra isso, eu não sou o homem certo para você…
– Volte para mim, Cecilia, olhe nos meus olhos – cravei meu olhar
no dele, que me fitou de volta, com fome, desespero, paixão – aqui
nessa cama só tem espaço para nós dois. Você é minha, só minha!
– Pelo amor de Deus, Alex, não para agora. Eu quero sentir isso
de novo, isso nunca aconteceu antes.
– Por quê?
O ouvi bufar, mas já havia dado as costas para ele, com medo de
desabar de chorar como uma tonta a qualquer minuto. Eu deveria ter
insistido no motivo da sua mudança de comportamento, era a segunda
vez que esse nome o incomodava. Entrei depressa em casa,
lembrando dos desenhos de criança que vi colados no teto,
imaginando se uma coisa poderia estar ligada à outra. Eu também não
sabia qual era a idade de Alex, mas chutava ser mais de trinta e
menos de trinta e cinco. Será que havia uma família esperando por ele
em algum lugar? E por que ele nunca falava dele mesmo? Não iria
mentir para mim mesma dizendo que esse pequeno episódio não me
magoou, mas apesar do tamanho, das armas e da cara de poucos
amigos, por dentro, Alex era um homem muito machucado e agora que
eu o encontrei, não o deixaria se afastar de mim.
– Não disse que te amava da boca para fora, Alex. Eu não estou
com raiva, só confusa e preocupada. Não suma assim de novo, por
favor.
– Não sei como fazer isso, Cecília. Agora que eu te achei eu não
quero te perder… mas é tarde demais para m...
Calei sua boca com um beijo, agarrando seu corpo o máximo que
consegui.
Sem aviso ele pegou no colo e soltei um grito. Abri minhas pernas
em sua cintura e ele posicionou seu pau na minha entrada. Fizemos
amor assim, com a água caindo sobre nossos corpos e os lábios
grudados um no outro. Ele me encostou na parede enfiando o seu
membro até o fundo com arremetidas firmes, deliciosas. Não tive
vergonha, gemi o seu nome a cada estocada me sentindo cada vez
mais dele, nada poderia nos separar, muito menos ele mesmo.
– Repete, loirinha.
– Eu vou gozar…
Eu entendi muito bem o que ela quis dizer com isso, eu também a
queria por inteiro, mas a verdade era que não existia nada que ela
pudesse fazer que me afastaria, e mesmo eu acreditando em seu amor
por mim, a realidade era mais forte que ele.
Cuidado quando for assistir, é forte. Não sei se vale como prova
na justiça…
Tomei um gole do café fazendo uma careta por estar tão frio. Senti
um alívio enorme pelo teor do vídeo não ser o que imaginei, mas
infelizmente comemorei cedo demais. O juiz Bartolomeu apareceu
sentado sozinho à mesa, era outro dia, estava vestido com roupas
diferentes. O delegado surgiu segundos depois, arrastando minha
menina pelos cabelos e a jogou numa cadeira de qualquer jeito, com
bastante brutalidade. Ela lutava para respirar. O imbecil covarde do juiz
apenas olhou para baixo.
– Não dá mais para esperar... Eu deveria ter feito isso no dia que
você tentou se afogar na Queda da Viúva. Poderia ter salvado você e a
professora… – Acariciei seu rosto e fui até a cozinha em poucos
passos.
– ALEX, ESPERA! – Gritou. Parei sem olhar para trás. – ter feito
isso o quê?
– Não, você não vai! Não é matando ninguém que você vai me
salvar de alguma coisa... – Ela correu e me abraçou.
– Não preciso que você me proteja, sei me virar muito bem. O que
eu realmente preciso é que você volte para dentro daquela casa e me
espere.
– Vai dar tudo certo, Rita, não chore – eu disse tremendo tanto por
dentro que me surpreendi por não gaguejar, sempre tive pavor de
Serkan, desde a primeira vez que o vi. – Me solte, o que você quer
comigo? Não está satisfeito de ter roubado minha fazenda?
– Garota, não teste minha paciência. Eu sou um tipo de animal
bem diferente do idiota do seu noivo, muito mais civilizado e paciente,
mas não se engane comigo. Venha, vamos voltar para casa.
– Sim! Vocês são todos animais e eu não vou a lugar nenhum com
você…
– Não sei o que você quer comigo, mas isso que você está
pensando nunca vai acontecer. Você não faz ideia do que Vicente
pode fazer se…
Como ele viu? Devo ter feito uma expressão de dúvida muito forte
porque ele praticamente leu meus pensamentos.
– As câmeras filmaram tudo, você me deu muito prejuízo aquele
dia. Tivemos que tirar as drogas às pressas do galpão e desabilitar
todas as câmeras da fazenda para a polícia não desconfiar de nada.
Vicente era um filho da puta paranoico, ainda não sei em quais
policiais eu posso confiar.
Ele ainda deu ainda mais um passo, pude sentir seu cheiro e meu
estômago embrulhou.
Ele apertou meu braço com muita força, me trazendo para muito
perto e falou quase no meu ouvido.
Ele soltou meu braço com tanta força que caí no chão. Nos últimos
seis anos, esses foram os únicos doze dias que tive uma vida. Pensei
na quantidade de homens armados que havia na fazenda e no
descontrole de Alex naquela manhã. Se ele imaginasse que eu
pudesse estar ali tentaria me resgatar e acabaria morrendo. Eu não
poderia viver em um mundo sem ele e não aguentaria mais viver
subjugada, espancada e sem vontades. Eu não me arrependia de
nada, só gostaria de ter tido mais tempo para que Alex se sentisse
amado por mim. Enxuguei minhas lágrimas, decidida a provocar
Serkan em um nível que ele não tivesse outra opção a não ser me
matar. Então a primeira coisa que fiz foi rir. Ri bem alto e ainda do chão
o encarei nos olhos.
Ainda rindo pensei que a minha única saída desse inferno era
morrer e encontrar meus pais. Por um breve segundo, Alex invadiu
meus pensamentos. Meu coração quebrou-se em mil pedaços ao
imaginar que ele talvez se sentisse da mesma maneira: eu morreria
por ele, mas não viveria sem ele. E então, como uma onda gigante que
se forma lentamente em alto mar, uma raiva muito grande se apossou
de mim. Por que essas pessoas não podiam simplesmente me deixar
em paz? Eu queria ser forte para impedi-los, parar de chorar e tremer
de medo o tempo todo.
Infelizmente para mim, Serkan era pelo menos cem vezes mais
forte do que eu, e me arrastou pelos cabelos com bastante força. Com
minhas mãos livres, num ímpeto de ousadia com inconsequência,
esperei que ele se distraísse abrindo a porta do quarto, peguei sua
arma da cintura e apontei para ele. Imediatamente os homens ao
nosso redor sacaram as suas armas em minha direção. Serkan
levantou uma das mãos ordenando que as abaixassem, e a cada
segundo que passava, eu perdia a coragem. Além de não saber como
atirar com aquilo, descobri ser muito diferente, desejar com toda força
do meu coração, a morte de alguém e tê-lo sob minha mira. Por mais
ódio que eu sentisse, descobri que não conseguiria matá-lo. E o filho
da puta desgraçado parecia saber disso, pois me olhava fascinado,
sem nenhuma gota de medo em seu semblante.
– Eu disse para o seu noivo uma vez e vou repetir para você – sua
voz era cortante, fria, o fascínio tinha passado – não aponte essa arma
para mim se não for atirar.
Com ódio corroendo o meu peito, cobri meus lábios que sangravam
muito e o encarei, decidida a não deixar que ele me vencesse. Serkan
acariciou os meus cabelos e eu me desvencilhei batendo em sua mão.
Ele os agarrou com toda força até que eu gritasse de dor.
– Pare de lutar contra o inevitável, garotinha, em menos de meia
hora você vai assinar os papéis que eu preciso e iremos até aquele
porto, quero você bem boazinha sem fazer escândalo no caminho. Por
que não evita uma quantidade enorme de dor? Eu realmente não
quero ter que te machucar.
– Você pode ser louco, mas você não é mau. Sei que não vai me
jogar de um carro a mais de 100km/h e não vai matar um homem
indefeso.
– Mas…
– Não…
– Agora, caralho!
– O que eu vou falar? Que poderia tê-la tirado daquela casa meses
antes e não fiz porque estava bêbado demais para pegar em uma
arma? Ela não deveria olhar para minha cara nunca mais.
– Por que você acredita que precisa resolver tudo com armas?
Misericórdia!
– O que você sugere que eu faça com essa corja, leve flores e
chocolates?
– Como você não sabe? Alice contou várias vezes para gente que
veio para Santa Maria por causa do filho, e você estava perto que eu
lembro.
– Ei, você tem vontade de morrer, mas eu não tenho! O que foi
dessa vez?
– Vou ligar para Alice, ver se ela faz esse tipo de coisa. Conte
comigo para colocar esses corruptos na cadeia, Alex. Vamos fazer a
coisa certa, sem precisar sujar as nossas mãos de sangue como as
deles.
Olhei para além das baias, para Caminho dos Girassóis e, suspirei
resignado, engolindo meu orgulho. Eu precisava de ajuda, iria ligar
para Brian Crawford, meu único amigo, irmão de Molie, ele foi meu
superior no DEA. Essa palhaçada de conviver com uma fazenda que
abrigava traficantes internacionais tinha que acabar. Era estranho estar
finalmente vivo. Nada disso me importava mais. Fechei a porta da
caminhonete e senti imediatamente algo errado. Raul estava calado e
havia mais uma pessoa atrás de mim além dele. Saquei uma das
armas que trazia comigo e me virei na direção do barulho. Um homem
com uma espessa barba preta e as mãos totalmente tatuadas se
escondia atrás de Raul enquanto apontava uma arma para cabeça
dele.
– Abaixe essa arma agora, não vou dizer mais uma vez!
Ele soltou uma gargalhada estranha, e meu corpo todo gelou com o
pressentimento mais horrível do mundo. Cecília! Antes que eu
terminasse de processar o pensamento, ele falou mais uma vez, e eu
apenas olhei para o seu bigode retorcido, desejando que suas
palavras voltassem para dentro de sua boca.
– Não, não, de jeito nenhum! Não posso… o que você vai fazer
com ele?
Não precisava? Será que Raul vivia no mesmo mundo que eu?
Provavelmente não.
– Vai se f…
– O quê?
– Ei, ei… Calma, sou eu, Alex, você se lembra de mim? – eu disse
com a respiração falhando. – Eu preciso que você me diga onde
Cecília está.
– Rita…
– Não sei, acredito que sim – disse ela firmando os pés no chão,
gemendo de dor.
Dei as costas para eles, mas Raul puxou o meu braço me fazendo
gritar de dor.
Saí sem olhar para trás antes que ele se recuperasse do susto e
abrisse a boca mais uma vez. Entrei na minha caminhonete e pisei
fundo no acelerador. Como eu iria achar Cecília no meio do Porto de
Vitória? Sem diminuir a velocidade, coloquei o celular de Raul no viva
voz e disquei o número que tanto evitei nesses últimos anos. Ele
atendeu no terceiro toque.
– Brian Crawford.
Contei para ele tudo o que ocorreu, desde quando Cecília invadiu
meu haras até os acontecimentos daquela manhã.
– Alex…
– Porra, Brian, ela não tem absolutamente ninguém no mundo. Ela
precisa sair do Brasil.
Ele a agarrou mais uma vez pelos cabelos e ela soltou um grito
que por pouco não me fez largar a arma. Mas no lugar de ceder eu
disse como se nada pudesse me afetar.
Sua voz estava grogue, meu corpo todo tremia, eu não tinha
condições de viver sem ela. Não perdi tempo discutindo, coloquei sua
mão onde deveria ficar e liguei o carro, o celular de Raul estava
comigo quase sem bateria, mas ele me mostrou o hospital mais
próximo, ficava a menos de quatro minutos de onde eu estava.
– Por favor, loirinha não diga mais nada, poupe suas forças. Eu
prometo que te conto tudo que você quiser saber, você só precisa sair
dessa.
– O que aconteceu?
– Não.
– Cecília Lion.
Esse ainda não era o nome da minha loirinha, mas seria assim
que ela saísse dessa. Isso, pensar em como eu a pediria em
casamento me deixou mais calmo. Terminei de preencher os dados da
internação com a confiança renovada, mesmo com as minhas mãos
tremendo tanto que por pouco não consegui assinar a guia.
Por pouco não abracei a mulher! Estava certo de que ela tinha
vindo me dar a notícia que acabaria com a minha vida. Após respirar
aliviado por um segundo, pensei em como explicar não saber o tipo
sanguíneo da minha própria esposa. Havia tanta coisa que eu ainda
precisava aprender sobre Cecília! Esse tempo com ela não foi o
suficiente, na verdade, tempo nenhum seria, precisaria da minha
loirinha para sempre ao meu lado.
– Alô – atendi.
– Alex, você está aí? O que está acontec… – Raul insistiu do outro
lado da linha, mas eu já não prestava mais atenção
– Não! – rosnei. – Não vou a lugar nenhum sem ver minha mulher.
– Por favor, ela está sedada agora. Não vamos demorar na sua
radiografia. – Pensando que concordei com o meu silêncio, doutor
Garavinni ordenou para que eu fosse levado imediatamente para um
raio x.
Não sei se foi algo no meu tom de voz, mas ele não insistiu mais,
apenas deu um passo para o lado e apontou:
– Não quero ir a lugar algum, o que vocês tiverem que fazer façam
nesse quarto, eu pago o dobro da conta se precisar.
– Ouça sua esposa. Tome esse remédio para abaixar essa febre e
vamos imediatamente para o raio x.
Seu tom de voz não dava espaços para discussões. Eu não queria
ficar longe de Mollie, parecia que não a via há anos, mas fui ao bendito
raio x. Alguém trouxe uma cadeira de rodas e eu gargalhei alto,
lançando mais ondas de dor pelo corpo.
– Leve isso para longe de mim, apenas me aponte a direção que
eu vou andando.
– Minha filha….
– Por favor, só me diga algo se for para falar que ele está bem.
– Whisky… só pode ser whisky. Não pensei que fosse tão grave
assim, para falar a verdade eu nunca o vi bêbado.
Abaixei a cabeça.
– Senhora…
– Eu não sabia que ele tinha parado de beber, mas ontem à noite
ele bebeu, tenho certeza. Dá tempo de ter uma crise tão intensa
assim?
– Vamos ver como tudo vai evoluir e daí a gente pergunta para o
médico, combinado?
– Filha, você não precisa ficar assim, nós estamos ajudando o seu
marido, acredite em mim. – Ela olhou de relance para porta e abaixou
o tom de voz – talvez…
– Como estamos hoje? Fiquei sabendo que você está pronta para
ganhar alta, só falta a minha assinatura.
– Cecília, meu único intuito é ajudar você, eu não sou policial nem
detetive.
– Me ajudar no quê? A única pessoa que me ajudou vocês
separaram de mim.
– Para onde?
Ele não respondeu mais nada, apenas me fez segui-lo até a área
externa do hospital aonde chegamos em um canteiro de horta lindo,
muito bem cuidado. Havia flores por todo canto.
– Posso fazer tudo isso por ele. Ele não precisa mais passar por
nada sozinho.
Suspirei cansada.
– Não fiz isso comigo mesma, muito menos Alex. Acredite nisso
então.
– Eu ganhei…
– Cecília por favor, você está me assustando, foi algo que o Dr.
Temer te disse?
– Cecília olhe para mim – ela disse sacudindo meus ombros – vou
te levar até o seu marido, mas você não pode sair daqui chorando
assim.
– Sua alta já está saindo, então você vai ter que ficar com o seu
marido até amanhã, creio que ele vai receber a dele logo, a fase crítica
já passou.
Assim que saí de trás de Joana e ele me viu, parou de falar, com
lágrimas nos olhos.
Alex não disse mais nada, assim que a porta foi fechada ele
segurou forte minha nuca, enlaçou minha cintura e me beijou. Gemi
em sua boca assim que nossas línguas se encontraram, como senti
falta dessa boca, desse toque! Respirei fundo enquanto o beijava, para
sentir seu cheiro e me demorei explorando cada cantinho dos seus
lábios.
– Esqueci dessa merda, acho que você vai ter que cuidar de mim.
Deixei uma lágrima cair, emocionada por ele não fechar essa porta
e não rejeitar esse meu lado. Resolvi relaxar o corpo e deixei o meu
tesão me ditar o que fazer.
Mais do que depressa ele fez o que pedi e subi em seu colo. Meus
seios ficaram na altura da sua boca, exatamente como eu queria.
Estive pulsando pela sua língua em meus mamilos há cinco malditos
dias. Tentei colocar seu pau dentro de mim, mas… foi mais difícil que
imaginei. Ele sorriu para mim e me beijou intensamente e tão delicado
que eu me senti completamente amada. E sem que eu percebesse, me
penetrou.
Dessa vez não teve como, quem estava do lado de fora ouviu.
Gemi muito alto, ele era muito grande e grosso e nessa posição
entrava até no fundo. Alex colocou o rosto na base do meu pescoço e
gemeu meu nome.
– Alex…
Ele agarrou a minha nuca e sua voz grave e impositiva por pouco
não me fez gozar.
Ele sorriu, como eu amava esse sorriso, e fez o que pedi. E foi
assim que eu me perdi. Alex estava por todo o meu corpo, como se
fôssemos um só. Ele me segurou forte pela cintura e ditou o ritmo das
suas estocadas por alguns segundos e depois relaxou. Lambendo
meus seios, acariciando meus mamilos deixou que eu cavalgasse
como bem entendesse. E foi o que eu fiz. Rebolei naquele homem
enorme e maravilhoso, jogando a cabeça para trás, sentindo-o pulsar
dentro de mim, até que de repente, apenas sentindo suas mãos, sua
língua e seu pau, o que eu pensei que nunca aconteceria, aconteceu!
– Eu ganhei…
Pensei ter falado, mas nenhum som saía da minha boca. Não
consegui acompanhar quanto tempo passou, mas a idiota voltou com
outra mulher de branco que me olhou igualmente espantada.
– Rrrrrr aaaaa t…
– Ceeeeeecimmm…
CARALHO!
– Nem acredito que ela ainda está aqui! Não fechei nem as portas
quando tirei você às pressas.
– Não pensa mais nisso, esses dias ficaram para trás. Agora
teremos a vida mais normal de todas. Só espero que você não morra
de tédio.
– Alex…
– Fica tranquila meu amor, você será a senhora Lion, mais cedo
ou mais tarde.
– Mas, Alex…
– Como?
– Me desculpe… não por falar com ele, mas por não ter te contado
antes, não queria que soubesse enquanto estávamos no hospital.
– Eu ainda não entendo o que você faz comigo, Alex. É tão forte o
que eu sinto por você!
– Gostosa!
– Rita. – Eu disse.
– Isso Rita, estava presa no quarto, fiquei tão nervoso por achar
que fosse você que nem prestei atenção na cor dos cabelos, isso fez
eu me distrair e não vi o capanga atrás de mim, daí levei um tiro de
espingarda no colete.
Agora eu não sabia o que dizer então lembrei de outra coisa que
queria perguntar.
– Agora que sabe que sou rico, não vai me amar mais?
– Largue de bobagem, você sabe que nada no mundo me faria
parar de te amar, não me importo com a sua conta bancária, mas não
aguento mais esse mistério todo. Se você quer mesmo ser o meu
marido vai ter que confiar em mim na mesma proporção que eu confio
em você.
– Você é adulta demais para idade que tem, sabia? Claro que
confio em você Cecília, com todo o meu coração, você sabe disso.
Quero te contar tudo, eu vou te contar tudo, mas… Já ensaiei o que
dizer inúmeras vezes...
– Alex…
Antes que eu pudesse ficar feliz por ver meu amigo depois de
tantos anos, levei um cruzado de direita bem no queixo. Damn it! Eu
tinha que ter sido mais esperto, Brian sempre foi rápido e sem
paciência. Eu nunca ficaria impune por sumir todo esse tempo. E ele ia
continuar batendo se a minha “cavaleira” de armadura não viesse ao
meu resgate. Mesmo tendo bem menos da metade do tamanho de
Brian e sem ter a mínima de ideia de que ele, na verdade, era meu
amigo, Cecília foi para cima sem pensar duas vezes.
– Ah, essa merda vai machucar toda hora até sarar, impossível me
manter imóvel por quinze dias com a vida que a gente leva.
– Corta essa besteira, caralho. Você acha mesmo que meia dúzia
de palavras vai consertar essa merda?
Eu já ia responder, quando Cecília se aproximou.
Rita que estava ao seu lado, acariciou o seu braço pedindo para
ele se acalmar. Eu ia fazer um comentário, mas lembrei que não
apresentei Cecília a Brian.
– O que foi?
Beijei o topo da sua cabeça e ela foi até a casa principal, Rita se
despediu de Raul e a seguiu.
– Para quê?
– Ninguém pode fugir para sempre… você não foi nem no enterro
das meninas…
– Cecília está no banho, avise à Brian que o café está pronto, por
favor… desd…
Minutos antes.
– Sim?
– Você está bem? Estou te chamando desde que saiu da porteira
do haras!
– Eu sei, não diga mais nada, não vamos mais lembrar daquela
época.
– Não fale assim, meu amor. Não tem nada errado com o que
sentimos um pelo outro – eu disse com lágrimas escorrendo pelo rosto,
meu coração ficava muito apertado por vê-lo assim.
Alex me olhou com tanta tristeza que mesmo que ele não
quisesse, o abracei, ele não resistiu, só afundou a cabeça n0 meu
pescoço e continuou:
– Meu amor…
– Vamos por fora da cidade – ela disse – não quero a polícia atrás
da gente.
– Cecilia!
– Não consigo te ouvir daí, você e Trigger são muito lentos – falou,
galopando na frente.
Ela me olhou com tanta expectativa que não tive como negar. De
mãos dadas subimos a trilha e em alguns minutos estávamos no
mirante. A vista era de tirar o fôlego, o céu tinha uma cor alaranjada e
jogava uma sombra sobre a cidade. Cecília mais uma vez tinha razão,
esse lugar faria qualquer pessoa se sentir melhor.
– Tem muitos anos que não venho aqui, mas sei que está em
algum lugar…
– Tá vendo? Isso não está certo, você é tão jovem, tem uma vida
inteira pela frente… deveria andar com gente da sua idade, sem
bagagem...
– Não vou permitir que você troque uma prisão pela outra. Posso
te dar qualquer coisa que quiser, literalmente qualquer coisa, é só você
me falar o que quer fazer, ou para onde quer ir e será seu… mas não
posso e não vou ficar no seu caminho.
Ela cobriu minha boca com a mão e fechei os olhos sentindo seu
cheiro de flores.
– Ah, loirinha!
– Sei que eu sou mais nova que você, mas eu posso te fazer tão
feliz! Sei que posso... – ela disse de uma forma tão doce tão adorável
que ficou muito difícil lembrar de todos os empecilhos que estavam em
minha cabeça. – Não importa o quanto você se perca dentro de você
mesmo, Alex, eu sempre vou estar aqui para te tirar de lá, você me
ouviu?
– Cecília…
Ela ficou nas pontas dos pés e me beijou, um beijo doce e suave
com cheiro de flores, assim como ela era. E foi tudo o que bastou para
eu apertá-la em meus braços e decidir que nunca mais a soltaria.
Beijei de novo sua boca, lembrando que ela disse que meu beijo a
fez ter esperanças…
– Que… não! Não sei, ah meu Deus! – arfou quando enfiei mais
um dedo…
Eu sabia o que ela queria, sabia que ela queria sentir dor, mas
ainda havia uma parte de mim que relutava em ceder, apesar de meter
meu pau lá no fundo, com toda força que eu tinha… enquanto eu a
penetrava coloquei meus dedos de volta no seu cuzinho e que
delícia…
– Eu te amo mais do que tudo. Cecília – disse ofegante pausando
em cada arremetida – você.é.minha.vida!
Decidimos que iriamos para os Estados Unidos com Brian que por
ser um agente do governo conseguiria meu visto de entrada sem
problemas, no entanto, sem os meus documentos, era impossível sair
do Brasil.
Relaxa, Cecília não tem como nada dar errado. Eu disse para mim
mesma enquanto pegava um bloco de folhas para terminar um
desenho.
Saí da sala sem olhar para trás e, para piorar a situação, escutei a
voz de Alex do corredor.
– Tira a mão daí, Cecília. – Alex disse com a voz baixa e fria e eu
revirei os olhos. – Agora!
– Não desvia a cabeça, não. Agora você vai me olhar nos olhos e
repetir o que disse para mim…
– Ou o que, Alex?
– Seja lá o que for isso, por favor, não para! – eu disse e ele bateu
muito forte na minha bunda.
Outro tapa. Puta que pariu a onda de prazer veio ainda mais forte,
queria me esfregar em algum lugar, mas Alex mantinha minhas pernas
abertas, sem chances de eu me mover.
– Você sabe o que tem que fazer para conseguir gozar… olha
essa bocetinha latejando na minha mão, tão gostosa, tão molhada… –
ele deu outro tapa, dessa vez bem no meu clitóris. Era só ele
continuar, um pouquinho que eu gozaria, mas ele parava esperava um
tempo e batia de novo…
Virei o tronco de lado, olhei bem nos olhos dele e sorri. Sem dizer
uma só palavra virei para frente e deitei a cabeça no colchão, ficando
totalmente aberta para ele, dando-lhe livre acesso para fazer o que
bem entendesse. Nunca me senti tão dele quanto naquele momento.
– Puta que pariu – agora foi a vez dele gemer – puta que pariu,
Cecília, como você é gostosa, eu não vou ser gentil com você.
– Eu não gosto daquela mulher perto de você, sei que ela está
ajudando, mas eu não quero você sem camisa deixando ela encostar
no seu braço tempo todo.
Tentei sair debaixo do seu corpo, com muita raiva, mas ele
segurou firme meu cabelo e meteu mais uma vez.
– Quietinha…
Sem aviso recebi outro tapa, dessa vez ainda mais forte que os
outros, e outro e mais outro… Eu gritava e chorava enlouquecida…
– Só vai gozar depois que você falar para mim – ele disse
metendo muito forte puxando meus cabelos – que é a mulher mais
bonita do mundo e o amor da minha vida…
– Alex….
Mais um tapa.
– Agora!
Perdi o ar, mas repeti, nesse momento eu faria qualquer coisa que
ele quisesse.
Eu não saberia dizer por onde aquele orgasmo começou, mas ele
me fez contrair tão intensamente que Alex gozou junto comigo, de
tanto que apertei o seu pau. Ainda ficamos parados na mesma
posição, recuperando o fôlego durante um bom tempo.
– Não tenho dúvidas do seu amor… mas não controlei o que senti
quando vi aquela mulher encostando em você… Você é meu, só meu!
– O que é isso, mulher? Você quer me matar? Não vou dar conta
de você assim – ele disse com um sorriso nos olhos.
– Assim como?
– Não sei, não reparei, acho que é a ansiedade por não saber o
que vai acontecer.
Ele sorriu e acariciou o meu rosto, sem dizer nada beijou minha
boca de forma lenta e sensual. Gemi em sua boca o empurrando
gentilmente.
– Por que você diz isso? Ela não comentou nada comigo.
– Não sei, mas toda vez que apareço em um cômodo ela sai e
praticamente não me olha nos olhos.
– Foda-se, não vou falar disso mesmo assim. Não vou te dar
detalhes do que aconteceu e não vou falar de novo sobre Mollie e as
meninas, nunca mais. Você vai ter que conviver com isso.
– É desse jeito que você quer uma família de novo? Larga de ser
um certinho moralista, Alex. É muito fácil amar apenas as pessoas que
concordam com a gente.
– O veterinário não sei, mas a sua menina foi com a Rita na antiga
casa delas se eu entendi certo o que disseram. Espanhol eu falo até
dormindo, mas a língua daqui é diferente.
Balancei a cabeça.
– Foi até em casa com Rita – apontei com a cabeça para as terras
vizinhas.
Era incrível como um lugar que já representou tudo para mim, não
valia mais de nada. Eu carregaria meus pais e minhas boas
lembranças da infância para sempre no meu coração, mas permanecer
em Caminho dos Girassóis me encheu de tristeza. Olhei para o
horizonte e o sol já estava indo embora, no inverno os dias ficavam
bem curtos na região serrana.
– O que tanto você queria me mostrar, Rita? Nem falei com Alex
aonde eu estava indo.
– Acho que ele consegue sobreviver sem você por uns quinze
minutos – ela disse e nós caímos na risada.
– Por falar nisso, percebi um clima bem quente entre você e Raul
– sorri.
– Ainda estamos nos conhecendo devagar… ele parece entender
tudo que eu passei e que ainda é difícil ter outra pessoa me tocando,
mas ele é tão perfeito nessas horas, Cecília. Às vezes eu não
acredito…
– ... que é possível ser tão feliz só porque ele existe – completei a
frase dela.
– Sabe, Rita… por muitos anos, acreditei que você fosse minha
inimiga, uma carcereira ou algo do tipo, mas hoje sei que ninguém
poderia sequer começar a entender o que eu passei aqui dentro além
de você e sei também que a recíproca é verdadeira.
– Sim, há muito tempo, depois não soube mais onde seu Vicente
escondeu o álbum, tive medo de te dar a foto e ele achar – ela saiu do
quarto e me chamou. – Vem, quero mostrar só mais uma coisa antes
de você ir embora de vez desse lugar… Já sabe o que vai fazer com
Caminho dos Girassóis quando vocês se forem?
– Ainda não, acho que vou vender e usar o dinheiro para entrar
em uma faculdade, biologia ou agronomia, não sei como essas coisas
funcionam nos Estados Unidos. – Coloquei a mão no bolso da minha
calça e passei a mão no anel, finalmente ficou claro o que eu devia
fazer com ele. – Rita também quero te dar um presente.
– Não, se você não quiser vou jogar fora. Por favor, Rita, faça algo
bom de uma coisa tão ruim. Cuide do seu irmão... eu não quero nada
que venha de Vicente, mas ele deve muito a você.
– Não foi culpa sua… não se martirize com o que fomos obrigadas
a fazer aqui.
– Vamos?
– Vamos!
Colocamos fogo naquele pequeno pedaço de madeira que tanto
me fez sofrer. Observei a fumaça que se formava no ar, era última vez
que aquele homem cruzaria meus pensamentos. De alguma forma, foi
uma despedida.
Ele segurou meu rosto com as mãos e enxugou uma lágrima que
descia com o polegar.
Toda vez que ele dizia isso meu coração ficava em paz, com Alex
ao meu lado eu sabia que nada de ruim me aconteceria.
– Eles vão ter que passar por cima de mim também, irmão. – Brian
disse para Alex e, mesmo muito assustada, meus olhos encheram de
lágrimas de felicidade por saber que Alex não estava mais sozinho, ele
precisava muito de um amigo.
– Fica na sua, Raul, você sabe atirar por acaso? Eles sabem o
que estão fazendo…
– Alex disse que havia uma prova que não foi você que atacou o
delegado. Onde ela está?
– Eu não sei, Serkan contou que viu pelas câmeras, mas elas
estão desativadas. Talvez no escritório da fazenda?
– Ah!
– Por que você acha que deu alguma coisa errada? – disse
colocando as costas da mão na minha testa.
– Mas… e a polícia?
Alex ampliou ainda mais o sorriso e deu uma resposta que só ele
daria.
Ele acariciou o meu rosto, mas fez uma cara de susto. Colocou
uma mão na boca e disse, espantado.
– Alex…
– Sim?
– Você mima demais essa folgada, desde que você chegou ela
está cada dia mais sem noção.
– Ela merece, foi quem me trouxe até você mais de uma vez.
Além disso, é bom que já vou treinando com os nossos filhos… – antes
de sair da minha boca eu já tinha me arrependido de falar, sabia que
Alex não receberia bem o assunto.
– Alex…
– Eu falei por falar, não quer dizer nada, ok? Foi só uma frase da
boca pra fora. Não precisa de levar tão a sério.
– O quê?
– As boas – eu disse.
– Fale logo as más de uma vez – Alex disse ao mesmo tempo que
eu.
– Cecília, infelizmente…
Deus, por favor, me mate, mas não deixe aquele homem me levar
de novo, por favor! Era só o que eu conseguia pensar.
Deixei Alice falando sozinha na cozinha e corri atrás de Cecília,
puto por não ter o poder de tirar todas as lembranças ruins que a
assolavam. Mas tinha uma coisa que eu podia fazer para que ela se
sentisse menos desamparada. Quando a tomei nos meus braços, ela
tremia tanto que seus dentes batiam. Imaginei a boca daquele bosta
sem nenhum dente para me acalmar.
– Meu amor, não fica assim, por favor não fica assim.
– Passou? Agora olha para mim! – ela pousou seus lindos olhos
nos meus. – Você, Alice e Raul me pediram para lidar com essa
situação pelos meios legais e eu concordei, mas agora acabou! Vou
resolver isso do meu jeito e eu não quero ninguém interferindo. Você
pertence a mim, e não vai a lugar algum.
– Mas Alex…
– Como ela estaria bem? Enquanto a gente não sair dessa cidade
de bosta nada vai ficar bem.
– Cada dia melhor e mais esperto, ele sente muita falta dos
cavalos.
– Sinto falta dele também, por bastante tempo ele foi meu único
amigo. Vou arrumar alguém para me substituir nas aulas, não se
preocupe.
– Vamos, meu amor, vou te mostrar como não sentir mais medo
desses filhos da puta.
Andamos até uma área bem aberta no haras que ficava longe das
baias, se alguém entrasse pelo portão veria a gente, Lily veio conosco,
mas eu não estava mais no clima de piquenique. Olhei curiosa para
Alex que tirava várias garrafas de whisky de um cooler enorme que ele
trouxe.
– Quem dera fosse tão simples, sei de primeira mão que não da
para esquecer nada bebendo. Isso aqui são alvos, vou te ensinar a
atirar e a se defender.
– Alex… por favor, não entenda isso errado, mas eu não quero
matar ninguém. Não sei se conseguiria conviver comigo mesma
depois.
– Protegerei você até o dia que eu morrer, mas vou ficar muito
mais tranquilo sabendo que você consegue se proteger também, ok?
Agora vamos à primeira lição.
Ele riu ainda com a boca colada no meu pescoço, mas logo ficou
sério.
– Não importa o que você esteja sentindo, você tem um alvo. Nós
não temos tempo de te dessensibilizar, ou você acha que vai estar
calma se um deles chegar perto de você?
– Viu como é poderoso, meu amor? Você tem todo o poder aqui,
ninguém vai chegar perto de você, nunca mais. Agora de novo!
O pavor que senti quando Alice disse que Vicente acordou foi todo
embora, me virei de frente para Alex e fiquei nas pontas dos pés para
beijar sua boca. Agarrei o seu pescoço para baixo e o beijei
intensamente. Como eu amava esse homem! Separei nossos lábios
ainda eufórica.
– Eu mandei você parar por acaso? Vai cavalgar meu pau até eu
mandar, quero você gozando de novo.
– Mas Alex…
Outro tapa e eu rebolei mais uma vez, ainda sensível do intenso
orgasmo que tive. Alex então desacelerou e soltou os meus cabelos
acariciando meu rosto devagar. Colou nossos lábios em um beijo
intenso e devagar, muito sensual, desceu os dedos pelo meu colo e
passou o polegar no meu seio, gemendo na minha boca.
– Eu sei que você me acha boba, mas… eu não gosto que você
tenha que machucar pessoas por minha causa – ela suspirou – só
queria que fosse mais fácil.
– Por que você está se preparando para guerra sem mim? – Brian
entrou em casa com Raul ao seu lado.
– Meu amor, não pretendo demorar, mas não saia daquele bunker,
ok?
Ainda hesitante, ela pegou a arma da minha mão e me deu um
beijo profundo.
– Você nem vai sentir que eu fui, em poucos dias estaremos longe
desse inferno.
– Como você sabe…. Ah deixa para lá! – ele forçou a porta de trás
da caminhonete – abre isso logo que eu vou com vocês.
– Você o conhece há mais tempo que eu, Brian, ele pode saber o
que fazer, mas está cego… Eu cuido dos cavalos do juiz, a casa dele é
cheia de seguranças, posso colocar vocês lá dentro sem ter que matar
todo mundo – ele se dirigiu a mim – Rita me contou o que aquele
homem fazia com elas, Alex, eu entendo o seu ódio agora, mas você
não precisa matar todo mundo. Ódio nunca foi um bom conselheiro.
– Não! – respondi.
– Precisamos saber pelo menos dos pontos estratégicos onde os
seguranças estão – Brian continuou.
– Eu não sei o que dizer para os meus pais, Brian, não sei como
encarar os seus e além de tudo isso, Cecília está grávida.
– Nem acredito que vou ser tio de novo. Como Cecília está se
sentindo com tudo isso? Ela é tão nova.
Caralho.
– Brian… – pedi.
– Sim, mas quero um aumento de salário, isso não vai ficar assim
não. – E em português ele completou – Agora arreda daí.
– Boa noite, seu Raul. Qual o motivo da sua visita? – ele disse
olhando desconfiado para dentro do carro, onde eu estava com a
cabeça que fui escutar Raul?
– Alex do haras, ele entende mais de cavalo que eu. Acho melhor
prevenir do que remediar, eu realmente não sei se dei o remédio
errado ou não.
– Isso são horas de dar remédio para cavalo. Raul? – disse ele
descendo do carro, assim que ergueu a cabeça e me viu toda cor fugiu
do seu rosto. Tentou voltar de onde veio, mas Brian entrou em sua
frente.
– Eu acho que você sabe, velhote – olhei para Brian – não, não
funciona.
Dei um soco tão forte em seu rosto que um dente voou longe.
– Não tenta proteger esse bosta, Raul, essa noite ele é todo meu.
– Dei um tapa com a mão aberta em seu rosto – Não é assim que
vocês gostam de fazer com meninas?
– Não estou aqui para discutir sua falta de caráter, onde está o
processo de Cecília e como eu consigo a certidão de nascimento
dela?
– Eu sei que ele errou que eu errei, mas tenha humanidade, ele é
só um garoto…
Chutei sua barriga gorda com tanta força que ele vomitou, que
ódio da porra corria dentro de mim.
– Cecília era só uma garota, que você e seu filho se fodam… onde
está a porra da certidão de nascimento dela?
– Alex, foca no seu filho. Você mesmo disse que Cecília é muito
nova, ela vai precisar de você mais do que nunca. Não perca a sua
cabeça agora.
Coloquei uma mão no ombro de Raul grato por ele ser meu
amigo.
– Alex…
– Raul, vou fazer o que eu tiver que fazer. Sei que você pensa
diferente, mas preciso disso.
Lembrei de Cecília dizendo quanta falta dos pais ela sentia e dei
outro soco nele, só porque eu podia.
– Cara eu devo ser doente, mas você não tem ideia de quanta
falta disso eu senti.
– Senti muito a sua falta também, meu irmão. Só não sabia como
te encarar. Fui responsável pela morte da nossa família.
– Foda-se, seu saco de bosta, você acha que eu ligo para o nome
da aberração legal que vocês arrumaram? Anda logo.
Era para ser uma cena comovente, mas eu estava puto. Cecília
não teve a mínima chance de nada com eles ao redor dela.
– Isso, você sumiu por uma noite toda, eu não sei o que eu faria
se eu te perdesse.
– Sim, meu amor, você é uma mulher livre agora. – disse ele
andando comigo em seu colo até o quarto e fechando a porta com o
pé. Me jogou no meio da cama subindo em mim em seguida. –
Demorei para chegar porque já repassei todos os documentos para
Alice, em menos de dez dias nós estaremos na nossa casa, longe
daqui.
– Hum, Alice… – eu disse sem querer, foi mais forte do que eu.
– De tudo que eu disse a única coisa que você prestou atenção foi
nisso? – ele gargalhou contra o meu pescoço, lançando arrepios por
todo o meu corpo.
Ele tirou a boca dos meus seios, depositando beijos por toda a
minha barriga até chegar no primeiro elo da corrente daquela tatuagem
horrível. Meus olhos encheram de lágrimas e Alex se levantou me
encarando, sem deixar de acariciar toda a extensão do meu corpo
marcado.
E então ainda sem tirar os olhos dos meus, ele tirou o resto das
suas roupas e me penetrou, até no fundo, lento, calmo, sensual,
acariciando o meu rosto e me beijando de forma profunda. Entrelacei
minhas pernas nas suas costas e agarrei o seu pescoço
movimentando o meu quadril no ritmo das suas estocadas.
– Eu não posso ir embora até você falar com a sua mãe, Alex. –
Brian disse me entregando o seu telefone.
– Não estou ansioso por isso, Brian. Meu pai vai querer que eu
assuma a empresa, nunca quis trabalhar engravatado. Não sei como
minha mãe vai reagir à Cecília, ainda mais pela diferença de idade –
suspirei – acabam uns problemas e logo surgem vários outros.
– Nem me fale daquele lugar – rosnei –, mas o que você faria fora
dali?
– Brian tem quase um mês que você está aí eu não aguento mais
de saudade do meu menino, quero ele na minha casa nem que seja
arrastado!
– Quando foi que você começou a ficar violenta assim Sra. Lion?
– Estamos? Você já vem agora com Brian? – ela gritou mais uma
vez – Franklin! Meu Deus… seu pai não me ouve…
– Não, Brian na frente para arrumar uma casa para a minha futura
esposa, quero um casamento que fique para a história do Texas.
– Oh meu filho! Você me dá uma notícia dessas assim? Já estou
naquela idade que não pode aguentar fortes emoções. Fico tão feliz
por você, e não quero saber de você arrumando outra casa, vão morar
aqui vocês dois. Sobre o casamento não se preocupe, você está
falando com uma profissional.
– Mãe…
– Claro que farei, meu filho, com todo prazer. Como minha nora se
chama?
– Cecília.
– Que nome lindo! Agora espere que vou chamar o seu pai, ele
sente tanto sua falta, mas tanto.
Até aquela hora eu não sabia que também senti muito a falta
deles, mas já era hora de ir ou Brian perderia o voo.
Raul abraçou Brian que não sabia o que fazer, ele não era muito
chegado em demonstrações de afeto.
– Porque eu tive uma ideia, nós temos que esperar pelo menos
dez dias para o seu passaporte sair, o que você acha de usarmos esse
tempo aqui na Capital e fazer a tatuagem como você sonhou?
– Vou adorar, e vai ser muito bom ficar longe de Santa Maria um
pouco.
Concordei, aquela cidade não fazia bem para nenhum dos dois.
Aliás, o Festival de Inverno de Santa Maria se aproximava, era uma
festa que parava a cidade toda e era a última coisa que nós
precisávamos de ver, aqueles doentes de merda felizes e
comemorando a podridão da cidade.
– Estou realmente impressionado com a sua evolução, o empenho
do paciente em melhorar é a maior responsável pela plena
recuperação. – disse o médico com cara de bobo.
Ela corou e olhou para baixo, seria fácil arrancar qualquer coisa
dessa puta oferecida.
– Não acredito! Você era uma menina há cinco minutos, mas está
tão linda! Mundo pequeno esse.
– Sua noiva? Dr. Vicente o senhor está mesmo bem? Acho melhor
eu chamar o médico.
– Dr. Vicente, eu não sei, ela ficou internada mais de cinco dias,
eu lembro dele, era um cowboy lindo, americano, tinha um sotaque…
como era mesmo o nome?
“Vicente vai dar uma festa amanhã, Alex. Ele é o dono da fazenda
de flores, vizinho do seu haras.” A voz de bosta de Wagner Mol soou
nos meus ouvidos como se estivesse acontecendo naquela hora.
– Não.
Contei até mil para não sair matando tudo o que visse na frente.
– O Strike Team ainda está na ativa? – Marcos e eu liderávamos
um pequeno e seleto grupo de policiais que podíamos confiar para
executar problemas fora dos meios legais.
– Você vai ter que se acostumar, agora que não tenho mais
vergonha do meu corpo, vou me exibir muito para você.
Ele se aproximou e me abraçou por trás olhando dentro dos meus
olhos pelo reflexo no espelho.
– Você está linda, meu amor, mas sempre foi perfeita e eu te amei
desde o primeiro dia que te vi.
Era incrível como Alex sempre tinha algo perfeito para dizer, me
virei para beijá-lo. Meu telefone tocou e ele soltou um grunhido.
Fiquei nas pontas dos pés, beijei a pontinha do seu nariz de leve e
atendi o telefone.
– Ce-Cecília?
– Espere aí, Rita. Vou pôr no viva voz – demorei um pouco para
conseguir, eu ainda estava aprendendo a mexer naquilo – agora pode
falar, Alex também está ouvindo.
– Não, graças a Deus, não! Foi para casa do meu pai em Minas
Gerais, estava abalado demais para ficar em Santa Maria.
– Vamos sair daqui agora, não chore, ok? Vai dar tudo certo.
Fitei os seus olhos para ver se tinha algo mais, mas não consegui
saber, por fim eu disse:
– Sim, Cecília – ele disse saindo do quarto ao meu lado – vai dar
tudo certo, nem que seja na marra e eu tenha que explodir aquela
cidade.
Virei a cabeça para Alex, ele estava com uma expressão sombria
no rosto, com o maxilar duro e os nós dos dedos brancos de tanto
apertar o volante. Acariciei o seu braço querendo dizer qualquer coisa
que pudesse confortá-lo, mas achei melhor deixá-lo quieto. Ele sorriu
para mim e pousou sua mão na minha perna, às vezes palavras não
eram mesmo necessárias.
– Você vai direto para a delegacia? Vou lá em casa dar uma força
para Rita e matar a saudade de Lily…
Ele agarrou o meu braço me puxando para ele falou com uma
urgência estranha na voz.
– Não!
– Tem algo que não se encaixa nessa história toda, eu não quero
te levar até a delegacia comigo, por motivos óbvios e também não
quero te deixar sozinha. Eu sei que você não gosta, meu amor, mas
por favor, eu vou mais tranquilo ajudar o Raul se eu souber que você
está segura. Você me promete que não sai do bunker até eu voltar?
– Isso minha loirinha gostosa, você nem vai perceber que eu fui. –
Ele virou meu pulso e escreveu um número na palma da minha mão –
mudei a senha do esconderijo caso você tenha que sair… onde está a
arma que eu te dei?
– Não faço ideia, em uma das malas, por quê? Tem mesmo
certeza que não aconteceu nada, Alex?
– Para quê?
– Ratinha!
– Não! Você não é real! – fechei os olhos e tampei os ouvidos,
lembrando de Alex mandando eu atirar antes, mas Vicente se
aproximava lentamente de mim, a arma estava na mesinha ao lado da
cama, para eu chegar até ela eu teria que andar até onde ele estava e
meu corpo não obedecia, eu só conseguia tremer e pensar que esse
pesadelo não era real.
Meu Deus, Alex! Meu coração parou de bater e eu tive medo até
de respirar. Mesmo assim, limpei a garganta e perguntei:
– Quem disse que fui eu que o matei? Com quem você pensa que
está falando, puta? Não sujo minhas mãos com escória, tenho quem
faça isso por mim. Agora cala essa boca antes que eu esqueça a
promessa que fiz de te perdoar. Não me provoque Cecília porque se
eu começar a bater em você, não sei se consigo parar. Nem precisa
pegar nada desse lugar, deixe tudo aí e vamos.
Não, não era verdade, aquela não pode ter sido a última vez que
eu e Alex nos vimos, ele nunca iria me deixar, os homens de Vicente
não eram páreos para ele.
– Tudo bem, Vicente, me perdoe. Vou fazer tudo como você quiser
daqui a para frente.
Essa arma tem que estar aqui! Vicente estreitou os olhos e veio
como um doido em minha direção, essa era a maneira mais fácil de
irritá-lo, mas não tive outra opção, me abaixei mais e vi, a arma estava
embaixo da cama, estendi meu braço e a peguei no segundo que ele
levantou a mão para me estapear. Engatilhei e apontei para ele, séria,
tentando não demonstrar o pânico que me consumia.
Seus olhos faiscaram nos meus e ele abriu um lento sorriso, ele
estava me desafiando.
Seu braço sangrava muito, não acreditei que a merda do tiro que
dei pegou logo em seu braço, por que esse homem não morre, meu
Deus?
Meu coração me dizia para voltar todo o tempo que dirigia para
fora do haras, seria tão mais fácil se Brian ainda estivesse aqui. Tudo
nessa história cheirava mal, mas eu não deixaria Raul nas mãos
desses filhos da puta. Cecília estava segura e ela se defenderia por
mim caso o pior acontecesse. Liguei para Alice.
– E se for?
– Se for talvez você ainda consiga pegar o seu amigo com vida, se
não for… Seu telefone e sua arma ficam aqui comigo.
Uma cena vívida onde eu batia a cabeça dela na parede até que
me dissesse onde Raul estava dominou os meus pensamentos, mas
eu não tinha tempo para lidar com a repercussão. Entreguei o que ela
pediu, suspirei e a segui entre os corredores. Acabei em uma saída
dos fundos. O policial Marcos Rocha me esperava encostado em um
carro de polícia. Pela minha visão periférica, contei mais três policiais
ao meu redor. Eu estava certo, aquilo era uma armadilha.
– Que pena! Com toda aquela cara de bobo, ele lutou feito
homem. Dizia o tempo todo que o amigo dele iria foder com nossas
vidas.
– Vicente não sabe ainda, mas ele já está morto – apontei para o
pateta número três – seu amigo vai ficar atrás de uma mesa o resto da
vida, é o que você quer? Eu pago o quíntuplo que Vicente está te
pagando para você me falar onde Raul está.
– Não fala nada, Raul, vou te levar para o hospital. – Tentei apoiá-
lo em meu ombro, mas havia um buraco em seu pé direito.
– Oh Deus! Não aguento mais essa vida – ela gritou do outro lado
– obrigada, Alex vou correndo para o hospital, mais uma vez você
salvou o dia.
– Só àquela hora que vocês estavam no hotel, até achei que ela
viria para c…
– Por hoje minha paciência acabou, vamos logo. – disse ele para
Cecília
– Você não vai a lugar algum, filho da puta – Cecília era baixinha e
eu tinha cabeça deformada desse saco de lixo toda na minha frente.
Antes que ele se virasse para mim, mirei e atirei. A arma fez um clique
e nada, sem balas.
– Vou Cecília, eu vou matar esse bosta, mas não desse jeito!
– Ratinha…
Dei um soco tão forte dessa vez que senti a maçã de seu rosto
quebrando com o impacto e ele desmaiou.
– Estamos juntos nessa? Ele vai sofrer tudo o que você sofreu, eu
te prometo isso. Entendo se você não quiser ver, mas eu não me peça
para voltar atrás, eu preciso disso.
– Sim – ele finalmente olhou para mim – era uma armadilha, Raul
estava bastante machucado, o médico disse para nos prepararmos.
– Não quero que você me entenda mal, mas não vou me forçar a
ver tudo o que você pretende fazer com esse daí – apontei para
Vicente que começava a se remexer na pilastra e respirei fundo – eu
acho que estou grávida e não sei se isso pode fazer mal para o nosso
filho. Ainda tenho pesadelos com o que Serkan fez com Rita. Se eu
passar mal eu vou entrar, ok?
Sem tirar os olhos dos meus, Alex abriu o chicote e deu um golpe,
muito forte no rosto de Vicente, abrindo um corte enorme em sua
bochecha.
– Cecília…
– Está tudo bem, meu amor, não se preocupe – voltei a olhar para
Vicente que me fulminava com os olhos, quantas vezes esse mesmo
olhar me matou por dentro de tanto medo… – repare bem em mim,
Vicente, porque essa é a última vez que você vai me ver, não existe
mais nenhuma marca no meu corpo. Você não morreu para mim, você
nunca existiu.
– Minha gostosa, toda minha… eu te amo tanto que até dói! Quero
que fique só para uma coisa, que foi uma promessa que fiz no dia que
você chegou na minha casa. Você faria isso por mim?
– Foi você que fez isso, loirinha? – apontou para o grande buraco
do tiro que dei.
– Que nada, se eu não cauterizar essa merda ele morre logo. Mas
primeiro vamos ao que interessa.
– Você entendeu?
Não sei se era possível, mas amei Alex ainda mais por isso, ele
queria que eu visse que Vicente era só uma pessoa, que quebrava
como todo mundo e não um monstro invencível. Eu realmente
precisava disso e nem sabia. Acenei com a cabeça para ele que
prosseguiu com Vicente.
– Agora, covarde de merda, você vai pedir perdão para Cecília por
tudo que a fez passar. Vai olhar nos seus olhos e pedir perdão. E se
por acaso eu não acreditar nas suas palavras, você vai ser punido.
Tudo que essa menina sofreu nos cinco anos que passou em sua mão,
você vai sofrer em um dia.
– Me perdoa Rat…
– Então…
– Senhora Cecília…
– Brian, vou ter que sair do Brasil amanhã à tarde, sem chances
de voltar atrás. Você me garante que consegue entrar com Cecília sem
visto?
– Vai se foder.
– Nós vamos ter que ir para casa amanhã, sem olhar para trás.
Preparei uma pequena surpresa para o delegado e o prefeito e vai dar
merda para todo mundo.
– Delegado?
Ele olhou para cima e por um lampejo seu olhar era frio e
assassino e eu adorei. Não queria que se perdesse na própria mente,
ele tinha que sentir na pele e na alma tudo que aconteceria.
– N-não senhor.
– Você devia ver os outros caras… ai não me faça rir, tudo ainda
dói.
Eu também sorri.
– Brian tirou licença para celebrar, se você disser que sim, agora
mesmo você ser a minha senhora Lion! O que me diz?
– Espera eu parar de chorar pelo menos!
– Melhor ainda! Tudo o que você disser vai ser só para mim.
Alex bruto e ríspido desse jeito ia ser o pai mais babão de todos,
quem diria!
– Meu amor, você vai conversar comigo agora, senta aqui – bati
as mãos na minha perna, ela sorriu mais adorável do que nunca com a
testa franzida e fez o que eu pedi.
– Nós vamos para o Brasil mês que vem com eles, lembra? Não
se preocupe tanto, eu precisava da minha loirinha só para mim um
pouquinho. Tem mais de cinco anos que quero te trazer aqui.
– Você gostou?
Puxei seu cabelo com força e ela gemeu fazendo meu pau latejar.
Há semanas eu estava planejando pegá-la de jeito, como ela merecia.
Talmude.
Uau que jornada tiveram esses dois hem? Quero agradecer muito
a você que leu esse livro até aqui, que sofreu, riu, chorou e se
apaixonou por esse casal tão especial para mim que vai morar para
sempre no meu coração.
A Val Barboza minha linda parceira que vai trazer o livro 02 dessa
duologia tão maravilhosa e sempre me trouxe de volta para casinha
quando os surtos saíam de proporção.
[8] Ka-Bar (registrado como KA-BAR , pronunciado / k eɪ b ɑr / ) é o nome popular contemporânea para a
faca de combate primeira adotada pela Marinha dos Estados Unidos em novembro de 1942 como a faca 1219C2
combate (mais tarde designado o USMC Mark 2 faca de combate ou faca, utilitário de combate), e posteriormente
adotado pela Marinha dos Estados Unidos como o faca da Marinha dos EUA.
[9] O M16, oficialmente designado Rifle, Caliber 5,56 mm, M16, é uma família de fuzis
militares adaptados do ArmaLite AR-15 para as forças armadas norte-americanas
[12] Universal Soldier (br: Soldado Universal; pt: Máquinas de Guerra), é um filme
norte-americano de 1992, dos gêneros de ficção científica e ação, dirigido por Roland
Emmerich.