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Sempre que o tema penhora é levantado, surge, com ele, a exceção da impenhorabilidade do bem família.
E, de fato, esta é uma ressalva essencial à discussão. Afinal, muitas famílias não possuem outro imóvel
além daquele em que residem, quando possuem um imóvel de sua propriedade.
E conforme princípios e direitos constitucionais, o bem de família dever ser resguardado. No entanto, a
exceção também comporta exceções.
Portanto, apresenta-se, aqui, uma análise das exceções previstas em lei à impenhorabilidade do bem de
família.
Bens impenhoráveis
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07/03/2022 14:35 Impenhorabilidade do bem de família: exceções previstas no Novo CPC
Conforme o artigo 790, Novo CPC, podem ser penhorados os bens integrantes do patrimônio do devedor
ou dos terceiros responsáveis. Trata-se de uma consequência da responsabilidade patrimonial primária e
secundária.
Contudo, a legislação, apresenta exceções à penhora. Além da exigência de valor econômico expressivo,
uma vez que a função da penhora é garantir a satisfação do crédito, existem também casos de
impenhorabilidade previstos no artigo 833, Novo CPC, e na legislação extravagante. É, por exemplo, o caso
da famosa impenhorabilidade dos bens de família. Desse modo, são exemplos de bem protegidos, entre
hipóteses de impenhorabilidade relativa e absoluta:
Cabe ressaltar que algumas dessas hipóteses são relativas e comportam exceções. É, por exemplo, o caso
do bem de família de alto valor ou das joias, ainda que de uso pessoal.
A Lei nº 8.009/1990 dispõe acerca da impenhorabilidade do bem de família, reforçada no inciso II do artigo
833, Novo CPC. Mas o que, de fato, se entende como bem de família?
Os bens de família são regulados pelo Código Civil de 2002, em seus artigos 1.711 a 1.722. Assim, segundo
o artigo 1.712, CC, o bem de família consiste em:
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Portanto, os bens de família seriam aqueles integrantes da residência familiar, incluindo móveis e imóveis.
O parágrafo único do artigo 1º da Lei nº 8.009/1990, dispõe outros bens integrantes do bem familiar, quais
sejam:
a construção;
as plantações;
as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional;
e os móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
O bem de família convencional está previsto no artigo 1.711 do Código Civil. Trata-se assim, da parcela do
patrimônio destinada a instituir o bem de família, mediante escritura pública ou testamento. Deve,
contudo, ser respeitado o valor máximo equivalente a 1/3 do patrimônio líquido ao tempo da medida. A
partir do gravame, passa, então, a vigorar a impenhorabilidade. Logo, não se pode opô-la a dívidas
contraídas antes do gravame. Menciona-se que o próprio artigo prevê que as regras de impenhorabilidade
do imóvel residencial se mantêm. Ou seja, quanto ao imóvel residencial, observadas as disposições legais,
recairá impenhorabilidade legal.
A modalidade do bem de família legal, diversamente, possui efeitos mesmo a dívidas anteriores, salvo nos
casos de má-fé. Como o próprio nome revela, a constituição desse bem de família decorre da lei. No caso
em comento, da Lei nº 8.009/1990. E uma vez que a lei o institui como bem de família, não é necessária a
sua instituição prévia. Trata-se, portanto, da modalidade já vislumbrada.
Como vislumbrado, a impenhorabilidade do bem de família é uma proteção ao executado prevista tanto
no Novo Código de Processo Civil, quanto na Lei 8.009/1990. Todavia, não se trata de mera arbitrariedade
do legislativo. Pelo contrário, a proteção concedida é reflexo de previsões constitucionais.
A impenhorabilidade do bem família não apenas respeita o direito a moradia, previsto no artigo 6º da
Constituição Federal. Ela também está em conformidade ao princípio da dignidade humana previsto no
inciso III do artigo 1º da Carta Maior. Não pode, portanto, a pretensão de ressarcimento econômico através
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do processo de execução se sobrepor às garantias da existência digna, para a qual importa o direito à
moradia. Desse modo, restará protegido o bem familiar, ressalvadas as exceções previstas em lei.
Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza,
contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam,
salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Art. 833. São impenhoráveis:
Ressalta-se, ainda, que o conceito de impenhorabilidade do bem de família aqui trabalhado, abrange,
também, o imóvel de pessoas solteiras, divorciadas e viúvas, conforme a Súmula 364 do STJ. Ou seja, o
bem de família independe da quantidade de indivíduos.
Logo, os bens de família abordados anteriormente gozaram de proteção contra a penhora em juízo.
A regra da impenhorabilidade do bem de família, todavia, comporta exceções. Afinal, há hipóteses em que
o valor do bem não justificam a sua proteção contra a execução pela justificativa de manutenção da
dignidade e subsistência da família, quando extrapolados padrões médios. Nesses casos, seria, então,
possível que a família se desfizesse do bem, adimplisse com a obrigação do executado e ainda mantivesse
situação digna.
De igual modo, há bens que se consideram dispensáveis, não obstante tenham valor econômico
expressivo para o adimplemento da obrigação. É o caso, por exemplo, dos veículos de transporte, obras de
arte e adornos suntuosos, cuja impenhorabilidade é excluída pelo artigo 2º da Lei nº 8.009/1990.
Por fim, além desses exemplos, ainda podem ser citados como exceções à impenhorabilidade do bem de
família:
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Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal,
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu
coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses
em que ambos responderão pela dívida;
V – para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar;
VI – por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII – por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
É, por exemplo, a hipótese do bem de família do fiador, previsto no inciso VII do artigo 3º da Lei nº
8.009/1990. Apesar de caracterizado o bem de família, entende-se, jurisprudencialmente, que o fiador, no
uso de sua liberdade de disposição do bem, aceitou dá-lo em garantia. Desse modo, não haveria razão
para obstar a execução com a impenhorabilidade. E, portanto, seria constitucional o dispositivo. Nesse
sentido, ainda, decidiu o Supremo Tribunal Federal:
PENHORA – BEM DE FAMÍLIA – FIADOR EM CONTRATO DE LOCAÇÃO – CONSTITUCIONALIDADE.
(AgR no RE 495105, rel. Min. MARCO AURÉLIO, 1ª Turma, STF, julgado em 05/11/2013, publicado
em 28/11/2013).
Execução de hipoteca
Ainda acerca do artigo 3º da Lei nº 8.009/1990, o inciso V apresenta, como exceção à impenhorabilidade
do bem de família, a execução de hipoteca. Nesse sentido, convém observar a ementa de acórdão do STJ
em Agravo interno:
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3. Nesse contexto, considerando que a Corte local foi clara ao afirmar que não há dúvidas de que
o negócio jurídico tenha se revertido em proveito da própria família, qualquer conclusão em
sentido contrário ao que foi decidido pelo Tribunal a quo demandaria, necessariamente, novo
exame do conjunto fático-probatório acostado aos autos, providência incompatível com a via
estreita do recurso especial. Incidência, portanto, da Súmula 7 do STJ. […]
(AgInt no AREsp 1215736/SP, rel. Min. LUIS FELIPE SALOMÃO, 4ª TURMA, julgado em 09/10/2018,
publicado em 15/10/2018)
Em segundo lugar, a vaga de garagem com matrícula própria no registro de imóveis, como acontece em
diversos prédios residenciais, não constitui bem de família, de acordo com a Súmula 449 do STJ.
O artigo 5º Lei nº 8.009/1990 estabelece, também, que “para os efeitos de impenhorabilidade […]
considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia
permanente”. O mesmo se aplica ao indivíduo solteiro, divorciado, em união estável ou viúvo que possua
mais de um imóvel. Desse modo, os demais bens de sua propriedade poderão ser penhorados.
Por fim, apesar da previsão de impenhorabilidade do bem de família e ainda que não se constitua exceção
legal, o interessado deve questionar a penhora. Intimado, o executado deve defender-se e apresentar
impugnação. Então, deve alegar as motivações que impedem a penhora do bem e, quando possível,
oferecer outro bem em garantia.
Do contrário, poderá haver preclusão e perfectibilizar-se a penhora. Isto porque o artigo 278, Novo CPC,
dispõe que “a nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar
nos autos, sob pena de preclusão”. E uma vez configurada a preclusão, a parte não poderá rediscutir a
questão, de acordo com o artigo 507, Novo CPC.
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Athena Bastos
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