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https://centralnovel.com/mushoku-tensei-jobless-reincarnation-volume-1-capitulo-10/
Minhas duas irmãzinhas, Norn e Aisha, estavam crescendo bem rápido. Elas
choravam quando faziam xixi, choravam quando faziam cocô, choravam
quando ficavam chateadas com alguma coisa e choravam quando não estavam
chateadas com nada. Choravam de noite, choravam de manhã e, quando ficava
de tarde, soltavam alguns lamentos particularmente cheios de energia.
— Veja! — disse ela, cuidando habilmente das duas garotas, conforme como
costumava fazer. — Agora sim, isso que é criar uma criança! As coisas com o
jovem Rudeus foram fáceis demais! Aquilo dificilmente poderia ser chamado de
uma verdadeira criação de filho!
Paul podia até ter agido como um lixo humano, mas uma coisa poderia dizer:
ele era bom com uma espada. Essas eram as suas habilidades:
Essa experiência o tornou astuto e pragmático. Era algo intuitivo, então eu mal
conseguia entender metade das coisas sobre isso, mas podia dizer que ele era
um verdadeiro desafio. Nos meus dois anos de treinamento com Paul, sequer
havia saído do nível Iniciante. Talvez isso pudesse mudar após meu físico se
desenvolver em mais alguns anos, mas, por enquanto, não conseguia me ver o
derrotando. Mesmo se usasse toda minha sorte de feitiços e tentasse todos os
truques sujos que conseguisse, a vitória não parecia estar ao meu alcance.
Na verdade, era mais preciso dizer que Paul me deixou ver. Após receber
alguns relatos de que monstros apareceram, me arrastou para que pudesse dar
assistência à distância, me dizendo que “ver uma batalha é uma ótima
experiência”.
E vou ser bem sincero aqui: aquilo foi incrível pra caralho.
Seu estilo de luta tinha uma certa beleza – seguia um ritmo misterioso que
fazia o coração de qualquer um disparar, mas ainda deixava todos à vontade
enquanto assistiam. Não havia um jeito bom de explicar, mas se fosse para
resumir em uma palavra, diria que tinha carisma.
Deixando o carisma de lado, fiquei grato por tê-lo por perto – por ter alguém
mais poderoso do que eu por perto. Se ele não estivesse ali, poderia acabar
crescendo e me tornando um punk arrogante. Ficaria convencido com minha
habilidade mágica e desafiaria alguns monstros para uma luta e, incapaz de
lidar com uma matilha de Cães de Assalto, acabaria sendo rasgado em
pedacinhos.
Ainda assim, mesmo Paul, sendo tão incrível, estava apenas no nível Avançado.
Havia muitas pessoas acima dele na estrutura de classificação oficial. E havia
indivíduos e monstros mundialmente famosos por aí, alguns que ele não
poderia derrotar, mesmo se tivesse ajuda.
Fiquei grato por ele me ensinar a empunhar uma espada. Fora isso, porém,
não era um bom pai. Era mais como um medalhista de ouro olímpico que
também foi condenado por algum crime.
Um dia estava em minha prática de espadas com Paul, assim como sempre
costumava fazer. Mais uma vez poderia dizer que não o venceria naquele dia.
Eu provavelmente também não o venceria no dia seguinte. Ultimamente, não
sentia que estava melhorando. Ainda assim, se não fizesse nada,
definitivamente não iria melhorar.
Além disso, mesmo que não estivesse tendo aquela sensação de melhora, meu
corpo ainda estava internalizando a prática. Digo, tinha que estar, não?
— Normalmente começam a frequentá-la com a sua idade, mas… será que você
precisa? Você já sabe ler, escrever e somar, não?
— Bem, sim.
Deixei todos pensarem que foi Roxy quem me ensinou aritmética. Com duas
novas garotinhas, a situação financeira em casa ficou bastante apertada e, com
Zenith constantemente sofrendo para calcular nossas contas, resolvi ajudar –
para o choque de todos. Parecia que haveria outro alvoroço com aquele papo
de eu ser um gênio, então soltei o nome de Roxy em algum momento para
evitar qualquer problema.
O resumo de Paul pareceu até uma experiência pessoal. Ele fugiu de casa
porque ficou desgostoso com a rigidez de seu pai e com toda aquela nobreza
corrupta. Etiqueta e história eram algo inevitável para se aprender quando
sendo um nobre Asurano adequado, então ele devia ter achado que eram
matérias difíceis de suportar.
— Então talvez eu não vá à escola — disse. Ainda havia muito que queria
ensinar para Sylphie, para começo de conversa. E teria que ser louco para
querer frequentar um lugar onde sabia que com certeza seria intimidado. Não
fui um recluso por quase vinte anos só por frescura.
— Bem dito — disse Paul. — Se você sentir vontade de estudar, pode se tornar
um aventureiro e desbravar alguns labirintos.
— Um aventureiro?
Certo, deixando isso tudo de lado, com base no que li, os labirintos eram um
tipo de monstros por si só. Eles começavam como simples cavernas, mas eram
alterados pelo acúmulo de energia mágica, transformando-se em labirintos.
Na parte mais profunda deles havia um cristal mágico que poderia ser
considerado a fonte de energia, protegido por um chefão que seria o guardião.
O cristal mágico servia como isca, exalando sempre uma energia poderosa e
atrativa. Os monstros eram atraídos por ele e entravam no labirinto, onde eram
vítimas de armadilhas, morriam de fome ou eram mortos pelo chefão; e então o
lugar absorvia a essência mágica dos monstros mortos.
Mas monstros não eram as únicas coisas atraídas por esses cristais mágicos.
Humanos também achavam eles tentadores. Os cristais poderiam ser usados
como catalisadores para determinados feitiços, e tinham um preço bastante
alto também. O preço subia dependendo do tamanho, mas mesmo um pequeno
renderia o bastante para alguém viver um ano inteiro levando uma vida fácil. E
enquanto esses cristais mágicos eram os únicos tesouros com os quais os
monstros se importavam, não era o mesmo caso para os humanos.
Os itens mágicos não eram como os instrumentos mágicos, já que podiam ser
usados sem precisar da energia mágica do usuário. A maioria deles,
entretanto, não possuía habilidades úteis; quase todos tinham poderes que não
passavam de lixo. Ainda assim, havia uma chance de, no meio de tudo,
encontrar algo que daria ao usuário algo como habilidades de um mago de
nível Santo. Itens assim eram vendidos por uma fortuna e as pessoas se
enfiavam em labirintos sonhando com dinheiro fácil.
A maior parte morria antes de conquistar algo que prestasse, entretanto, suas
mortes alimentavam o labirinto, já que ele tomava suas essências mágicas e a
usava para crescer mais e mais. Era assim que os labirintos mais antigos
chegaram a ter suas partes mais profundas repletas de tesouros.
Aquele “buraco” não era uma cratera vulcânica ou coisa do tipo. O próprio
labirinto o criou para devorar dragões vermelhos; quando algum sobrevoava o
local, a Cova o sugava.
Não havia muitas provas para apoiar esse mito em particular. Mas não seria
algo surpreendente, já que a Cova era um monstro verdadeiramente ancestral.
Essa era basicamente toda a extensão do meu conhecimento sobre esse tópico
no momento.
O labirinto daquele livro só tinha cerca de cem andares, mas já era complicado
o bastante.
— Não. Dizem que os três grandes estilos que passamos ao longo das gerações
nasceram dentro daquele labirinto.
Antes que eu tivesse tempo para processar isso, ele passou para a história de
um mago incompetente que acidentalmente caiu em um labirinto, juntou-se a
um grupo que perdeu o mago e descobriu seus talentos latentes enquanto
envolvido pelo calor da batalha.
Parando para pensar nisso… Paul queria que eu fosse um espadachim, não é?
Acho que seu plano era me encher de histórias de aventura e deixar minha
cabeça lotada de sonhos com labirintos e de batalhas dramáticas.
Eu não diria que não tinha interesse, especialmente quando se tratando dos
labirintos. Mas, no geral, pareciam ser perigosos demais.
Um de seus aliados foi queimado no meio de uma conversa, atingido por uma
bola de fogo que apareceu do nada. Outro caiu por um buraco no chão e
sumiu. Ah, e também houve aquele outro cara que foi cortado no meio na
mesma hora que colocou a cabeça para fora de seu esconderijo. Até guerreiros
fortes o bastante para derrotar monstros assustadores foram mortos por
armadilhas no instante em que se descuidaram um pouco.
— O que achou? Ir para aventuras parece ser bem divertido, não acha?
— Acho que estou mais inclinado a passar a vida correndo atrás de rabos de
saias.
— Oho. Acho que você realmente é meu filho!
— Sério? Mas é melhor pensar em perseguir uma saia de cada vez, pelo menos
por enquanto.
Paul apontou para trás, sorrindo. Eu me virei para ficar cara a cara com uma
Sylphie muito mal-humorada.
Infelizmente, na minha outra vida, saí da escola após chegar ao ensino médio.
Embora tenha tecnicamente sido aprovado apenas para uma escola de idiotas,
eu desisti quase na mesma hora.
Pelo olhar no rosto de Sylphie, ficou claro que ela realmente não entendia o
que eu queria dizer. Ainda assim, provou que aprendia tudo muito rápido.
Provavelmente porque sempre prestava muita atenção e se esforçava ao
máximo.
Eu não era professor nem nada do tipo, então isso era o melhor que poderia
fazer.
Sylphie era mais inteligente do que eu, de qualquer forma. Ela provavelmente
tentaria algumas coisas por si só até que tudo começasse a fazer sentido.
Graças à magia, realmente não seriam necessárias ferramentas para a maioria
dos experimentos.
Aliás, também existia um feitiço chamado Veio de Magma, que permitia criar
uma erupção espontânea de lava. Achei que devia ser uma mistura entre magia
da terra e de fogo, mas estava classificado como um feitiço de fogo de nível
Avançado.
Eu já tinha descoberto esse tanto até agora. Mas não muito além disso.
Minha habilidade como mago não melhorou desde que Roxy partiu. Só acabei
encontrando algumas formas para combinar meus feitiços atuais, usá-los com
mais eficiência e aumentar seu poder fazendo alguns ajustes científicos.
Na minha outra vida, era fácil encontrar todo tipo de informação que precisava
na internet, mas não havia algo tão conveniente assim neste mundo.
Roxy mencionara que as escolas mágicas tendiam a ter regras e padrões muito
rígidos, mas talvez eu pudesse encontrar um meio de entrar em uma.
Pelo visto acabei pensando em voz alta. Sylphie virou-se para olhar para mim,
demonstrando uma expressão ansiosa no rosto.
— Não, não estou. Meu pai disse que eu seria intimidado o tempo todo e que
não aprenderia nada.
Espera, sério?
Isso era novidade para mim. Estraguei tudo de novo? E estava me esforçando
tanto para atuar como alguém “totalmente distraído” quanto a tudo que estava
ao redor…
— Sou meio estranho desde que era um bebê, de acordo com meus pais.
Eu estava tentando usar isso como uma piada, mas Sylphie franziu a testa e
balançou a cabeça.
— Não é disso que estou falando. Parece que você anda meio triste.
Ah. Ufa.
Eu estava preocupado em ter feito algo para voltar a aborrecê-la, mas, pelo
visto, ela estava é preocupada comigo.
— Bem, recentemente não consegui fazer muito progresso, sabe? Não estou
melhorando nem com magia nem com espada.
Seria fácil me xingar por não ter estudado quando tive a chance, mas o que foi
feito, foi feito. E, claro, alguns fatos do meu velho mundo não seriam
necessariamente aplicados a este, de qualquer forma. Este lugar tinha seu
próprio conjunto de regras que eu precisava desvendar.
— Ainda assim, acho que já está na hora de dar o próximo passo adiante, sabe?
— Bem, talvez — respondi. — Meu Pai disse que eu deveria tentar explorar
alguns labirintos, e não há muito que eu possa fazer aqui na vila…
provavelmente vou acabar indo para uma escola ou vou fazer algumas coisas
de aventureiros, acho.
Falei bem casualmente, sem nem pensar muito. Mas, por alguma razão…
Mas, enquanto esse pensamento corria por minha mente, percebi que ela
estava tremendo.
— Uh… Sylphiette?
A garota estava me apertando com tanta força que ficou difícil até respirar.
Não tendo certeza de como reagir, fiquei em silêncio por um momento.
Por um momento ficou claro que ela precisava ser consolada, então acariciei
sua cabeça e esfreguei suas costas. Depois coloquei meus braços em volta de
Sylphie.
Quando enterrei meu rosto no cabelo dela, descobri que o cheiro era muito
bom.
— C-certo…
Parando para pensar, até que fazia sentido, sério.
Por um tempo, Sylphie começou a vir para a nossa casa em quase todas as
manhãs. Ela ficava feliz ao me ver praticando com a espada, e depois
passávamos para seus estudos e para a magia.
Quanto mais eu pensava nisso, mais carinho demonstrava. Eu era o único com
quem Sylphie se importava tão profundamente. Ela era minha, só minha e de
mais ninguém.
Como poderia pensar em deixar uma doce garotinha dessas de lado e sair
vagando pelos lugares? E para fazer o quê? Melhorar minha magia?
Que se dane tudo isso. Eu já podia conjurar feitiços de nível Avançado e Santo.
Isso seria o suficiente para ganhar a vida como tutor, assim como Roxy. Então,
por que não poderia ficar com Sylphiette até termos idade suficiente para
sobreviver por conta própria?
A menina só tinha seis anos de idade. Claramente gostava muito de mim, mas
ainda não sabia o que era um romance.
E está me mostrando sua alma agora mesmo, devo só ficar sentado aqui com a
boca aberta?! Mas que bobeira! Nós dois sabemos como nos sentimos, então
devíamos confessar! Por que deveria me forçar a perder uma chance dessas?
Por que só não admito que fiz uma jogada errada?!
Meu querido pai provavelmente merecia alguma gratidão por isso. Estive a
dois passos de fazer uma confissão bem patética.
Querido Rudeus,
É difícil de acreditar, mas suponho que já passaram dois anos desde que nos
separamos.
Educar ele me traz de volta memórias de todo o tempo que passei na casa dos
Greyrat. Por um lado, o príncipe é realmente muito parecido com o jovem que
ensinei aí. Embora não seja tão talentoso quanto você, é um garoto perspicaz e
também um jovem mago em ascensão. Lamentavelmente, também é propenso
a roubar minhas calcinhas e me espiar enquanto estou me trocando, assim
como certo alguém. A personalidade dele é meio pomposa, e é
consideravelmente mais enérgico, mas no geral, seus padrões de
comportamento são bem semelhantes. Talvez homens ambiciosos sejam todos
bestas loucas por sexo, não?
Hmm. Talvez eu não devesse ter escrito isso. Se alguém lesse poderia me jogar
em algum calabouço por manchar a honra da família real.
De qualquer forma, parece que a corte real planeja me nomear como “maga da
corte” enquanto eu estiver aqui. Ainda há muita pesquisa mágica que anseio
por fazer, e isso deve servir perfeitamente para isso.
Ah, isso me lembra de uma coisa – finalmente consegui pegar o jeito para
lançar feitiços de água no nível Real. A biblioteca real daqui tinha alguns livros
com um conteúdo bastante útil.
Quando dominei a magia de nível Santo pela primeira vez, achei que era o
melhor que seria capaz de fazer, mas parece que um bom tanto de esforço
ainda foi de grande ajuda.
Roxy
P.S. É bem possível que eu já tenha deixado a corte real quando sua resposta
chegar, então não precisa responder.
Não ficava tão longe em linha reta, mas a cordilheira no meio do caminho
estava infestada de dragões vermelhos, tornando-a totalmente intransitável.
Seria necessário percorrer o caminho mais longo, pelo sul, para chegar lá.
— Hmm…
Agora eu pelo menos sabia por que Roxy nunca me disse nada sobre magias
acima do nível Real. Ela não conhecia nenhum feitiço mais avançado naquele
momento.
Decidi escrever uma resposta bem breve à carta, que foi um tanto vaga. Não
havia necessidade de explicar a triste verdade sobre a minha atual situação. A
garota parecia já me ver como um tipo de gênio, e eu não queria decepcioná-la.
Roxy sempre fazia aquele lugar parecer incrível. Mas não era lá muito perto de
casa, e eu não poderia simplesmente abandonar Sylphie.
O que faço?
No dia seguinte, esperei até que minha família estivesse reunida à mesa de
jantar e depois fiz meu movimento.
Felizmente sua resposta apenas o rendeu um bom tapa na cabeça, dado por
Zenith, que estava sentada ao seu lado, e um chute de Lilia, que estava
sentada do outro lado.
— Apenas diga ao seu pai o que você quer, Rudy. Ele fará o que você pedir —
disse Zenith, com um olhar de canto de olho na direção de Paul – que estava
segurando a cabeça com as duas mãos.
— O jovem mestre nunca pediu muita coisa. É uma oportunidade de ouro para
mostrar alguma dignidade paterna, Mestre Paul — disse Lilia em apoio.
— Olha, o garoto quer algo tão fora da casinha que pediu até permissão só
para tocar no assunto. Seja lá o que for, é bem provável que seja impossível.
Esse comentário rendeu-lhe mais dois golpes que quase o jogaram debaixo da
mesa. Era só a mesma palhaçada da nossa rotina familiar.
— Hã?
— Mas quando mencionei isso para Sylphie, ela começou a chorar e pediu para
eu não deixá-la.
— Ah, mas que destruidor de corações! De quem você herdou isso, hein? — E
mais uma vez ele levou dois daqueles golpes, claro.
— A solução ideal seria nós irmos juntos, mas a família de Sylphie não é tão
bem de vida quanto a nossa. Eu queria perguntar se você não poderia pagar
para nós dois.
E, mais uma vez, ele foi parar no chão. Mas dessa vez foi só teatrinho, Zenith e
Lilia não fizeram nada.
— Tenho três razões. Primeiro, você ainda está no meio do seu treinamento
com a espada. Se desistir agora, será um amador para sempre, sem qualquer
esperança de melhoria. Como seu professor, não posso permitir isso. Segundo,
o dinheiro seria um problema. Provavelmente poderíamos pagar para você,
mas não para Sylphie. Escolas de magia não são exatamente baratas, e não é
como se tivéssemos uma árvore mágica que dá dinheiro. Terceiro, você só tem
sete anos. É um garoto inteligente, mas ainda há muito que não sabe e não tem
nenhuma experiência com o mundo real. Seria impossível te enviar para lá
agora.
— Entendo, Pai. Vou continuar treinando com você, claro… mas posso
perguntar quantos anos acha que preciso ter para que isso não seja mais um
problema?
Isso não parecia ser algo em que Paul estava disposto a ceder. Não adiantaria
discutir sobre isso ou tentar atar suas mãos.
— Diga.
— Não acho que seja do interesse dela que você faça isso.
No final, Paul balançou a cabeça para si mesmo, pelo visto convencido de…
algo.
— Certo, tudo bem. Nesse caso, vou analisar algumas opções para você.
Eu sabia que meu filho estava crescendo muito rápido, mas a maioria das
crianças não começaria a falar igual a ele antes dos quatorze ou quinze anos,
no mínimo. Até eu não tinha chegado nesse ponto antes dos onze, que foi
quando alcancei o nível Avançado do Estilo Deus da Espada. E algumas
pessoas nunca chegavam a isso.
Como falavam mesmo? “Não corra com sua vida, ou ela acabará antes que
você perceba.” Há muito tempo um certo guerreiro me disse isso. Naquela
época só revirei os olhos. Do jeito que eu via, todo mundo estava tentando
seguir com as coisas devagar demais. Qualquer humano tem um prazo de
tempo limitado no qual pode realizar as coisas, mas ninguém parecia ter
qualquer senso de urgência.
Eu queria fazer tudo o que pudesse assim que tivesse a chance. E se alguém
me criticasse após algo, bem, eu daria um jeito em tudo.
É claro que, graças a “fazer” tudo o que queria, acabei me deparando com uma
esposa grávida em minhas mãos. Acabei saindo do negócio de aventureiros e
me apoiei nas conexões de meus parentes com status elevado para conseguir
um emprego estável como cavaleiro.
Entretanto, por enquanto posso deixar essas coisas de lado. A questão é que
Rudeus estava levando as coisas em um ritmo muito mais rápido que o meu. O
garoto estava correndo tão rápido que me deixou até um pouco nervoso só em
imaginar sua partida.
Ainda assim, acho que ainda preciso mantê-lo por perto por algum tempo.
Assim como Laws esteve me dizendo outro dia, Sylphie claramente estava
bastante apegada a Rudeus. Da perspectiva dela, ele era seu cavalheiro da
armadura brilhante que a salvou de uma infância miserável, e também o irmão
mais velho onisciente que poderia sanar todas suas dúvidas.
Laws, por sua vez, me disse que achava que em algum momento os dois
acabariam sendo esmagados. Na época, fiquei bastante feliz com a perspectiva
de ter mais uma filha fofinha daquelas na minha família… mas depois de ouvir
a proposta de Rudeus, tive que reconsiderar.
Essa vida não é tão ruim para o cara que está puxando os fiozinhos, pensei.
Enquanto Rudeus continuasse amando Sylphie, é provável que ficaria tudo
bem. Infelizmente, o garoto também tinha o sangue do pai. Resumindo, era um
mulherengo nato. Havia uma boa chance de sair correndo atrás de qualquer
rabo de saia que chamasse sua atenção.
Uma chance? Nah. O garoto era meu filho. Ele definitivamente faria isso. E
quando a poeira baixasse, poderia acabar não escolhendo Sylphie.
Meu filho poderia muito bem acabar arruinando a vida daquela doce criança.
Não podia permitir que isso acontecesse. Isso com certeza também não era do
interesse dele.
Dito isso… como convenceria aquele garoto com lábia de sobra a concordar
com essa ideia?