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https://centralnovel.com/mushoku-tensei-jobless-reincarnation-volume-4-capitulo-5/
Havia várias colinas onduladas ao seu redor e um porto que era mais animado
do que a própria cidade. A Guilda dos Aventureiros ficava, da mesma forma,
mais perto do porto do que do centro da cidade.
Dito isso, existiam alguns contrastes. Evidentemente, havia muito mais prédios
de madeira neste lugar do que em Porto Vento. Eles também eram pintados
com cores fortes, talvez para proteger o material da maresia. Árvores
ladeavam a estrada e era possível ver uma floresta além da orla da cidade.
Havia verde por toda parte. Era um contraste enorme com o Continente
Demônio, que era todo branco, cinza e marrom. Um oceano era tudo o que
separava os dois continentes e, no entanto, eram como mundos diferentes.
Eu já deveria esperar por isso, afinal, este era o Continente Millis, mas as
pessoas que vagavam pelas ruas não eram a mesma mistura estranha de
diferentes tribos de demônios que eu tinha visto antes. Em vez disso, havia
gente-fera, elfos, anões e hobbits – raças de pessoas que se assemelhavam
muito aos humanos.
Antes de irmos encontrar uma pousada, tive que verificar o estado de nossas
finanças. Na moeda do Continente Demônio, tínhamos duas moedas de minério
verde, dezoito moedas de ferro, cinco moedas de sucata e três moedas de
pedra. Era isso. Quando as trocamos, recebemos três moedas de ouro Millis,
sete moedas de cobre grande Millis e duas moedas de cobre Millis. Menos do
que presumi que conseguiríamos, mas suspeitei que fosse por causa das taxas
de transação. Se tivéssemos usado uma casa de câmbio que não tivesse sido
licenciada pela guilda, certamente teriam cobrado mais. Isso ainda estava
dentro de uma faixa aceitável.
A maioria das pessoas normalmente evitaria ficar presa em um lugar como este
durante a estação das chuvas, mas pelo visto certos monstros só apareceriam
durante essa época, graças às chuvas que os levaram em direção à cidade. Os
materiais pegos desses monstros eram vendidos por muitas moedas, então
muitos aventureiros iriam para a cidade e permaneceriam durante esta
temporada.
Quando ouvi isso, decidi mudar meus planos. Se passássemos os próximos três
meses arrecadando dinheiro diligentemente, poderíamos arcar com todas as
nossas despesas pelo resto da viagem. E ao mesmo tempo também poderíamos
divulgar o nome de Ruijerd. Decidir um plano de ação tornaria o resto de nossa
viagem no Continente Millis suave e relaxante.
Ainda assim, seria melhor não contar com os ovos dentro das galinhas, certo?
Não tínhamos muito dinheiro e também não conseguimos encontrar uma
pousada para nos hospedar. Os únicos lugares com quartos disponíveis
estavam fora do nosso orçamento ou eram extremamente ruins.
Seria impossível pagar com o dinheiro que não tínhamos, então só nos restava
uma opção: ficar em um lugar desagradável e permanecer no que era,
francamente, uma favela. Uma noite custava três moedas de cobre grande e
não havia outros serviços inclusos, incluindo refeições. Mas, apenas para
dormir, parecia barato e decente. De volta ao Continente Demônio, tínhamos
ficado em lugares muito piores. Mas valeria à pena ir para outro lugar assim
que conseguíssemos economizar algumas moedas.
— Hmm, acho que não é tão ruim! — Eris era filha de uma família nobre, mas
não tinha escrúpulos quanto ao estado dilapidado do edifício ou sua falta de
serviços.
Na verdade, eu era o único reclamando.
Por mais que eu quisesse responder: “Ah, é? Olha só quem fala”, não consegui.
Tomando cuidado e relembrando, percebi que essa jovem “nobre” garota
costumava dormir profundamente sobre um fardo de feno em um estábulo
infestado de baratas que cheirava a esterco de cavalo. Nós não éramos iguais.
Eu ainda ansiava pelo calor de uma boa cama, mesmo depois de ter
reencarnado.
Decidi não “agir como um bebezão”. Tudo o que pude fazer foi usar magia para
criar um vento quente que aniquilaria todos os ácaros da poeira e, em seguida,
daria uma limpada rápida no quarto. Eu não tinha mania de limpeza.
Honestamente, até gostava que as coisas ficassem um pouco bagunçadas, mas,
às vezes, em pousadas como essa, as pessoas que pernoitavam esqueciam
algumas de suas coisas. Poderia haver alguma moeda deixada debaixo da
cama ou um pequeno anel que caiu de uma bolsa. Podíamos embolsar qualquer
dinheiro que encontrássemos, mas, às vezes, se houvesse um anel ou algo
semelhante deixado para trás, poderia haver um pedido de busca na guilda.
Isso poderia nos render uma recompensa em dinheiro, independentemente
do rank do pedido. Normalmente, seria algo pequeno, mas poderia acontecer
de render uma grande quantia. Foi por isso que cuidadosamente limpei o
quarto.
Nesse meio tempo, Eris pegou alguns trocados emprestados para cuidar da
limpeza das roupas. Em seguida, rapidamente realizou os cuidados de rotina
do seu equipamento. Quando terminamos, o sol estava começando a se pôr.
Uma vez, ficamos em uma pousada perto das favelas. Um ladrão entrou em
nosso quarto enquanto estávamos trabalhando. Ruijerd havia seguido os
rastros do bandido e os puniu severamente, mas as mercadorias que roubaram
de nós já haviam sido repassadas para outra pessoa e nunca as recuperamos.
Na época, aquelas coisas não eram lá muito importantes.
— Você não entende? Alguém pode roubar a roupa de baixo que você acabou
de lavar.
— A única pessoa que roubaria algo assim é você! — Após esse corte eu gemi
por dentro.
Mas, sabe, Eris, eu nunca tentei roubar sua calcinha depois que você a lavou…
Nem uma vez.
Durante a noite, andei sozinho pela cidade. Levou algum tempo para persuadir
Eris. Entretanto, a prevenção ao crime era realmente importante.
Com a lança de Ruijerd em uma das mãos, fiz meu caminho até o cais e, em
seguida, até a orla. Lá estavam quatro grandes armazéns de madeira. Deslizei
para dentro daquele rotulado como “Armazém Três”.
Dentro havia um único homem, limpando tudo em silêncio. Ele tinha um dos
penteados mais comuns da virada do século: um moicano. Fui até ele e
perguntei:
— Yo, Steve. Como está Jane, sabe, aquela que mora perto da praia? — Essa
era a nossa senha.
Ah, merda, fiz errado? Não, não era isso – talvez ele simplesmente não
acreditasse em mim, já que eu era criança.
— Eu estou em uma missão para meu mestre. Estou aqui para pegar uma
carga.
O homem pareceu entender quando eu disse isso. Ele acenou com a cabeça
calmamente e disse:
Quando fiz isso, percebi que estávamos em uma caverna úmida. O Moicano
apareceu atrás de mim com sua tocha acesa e continuou em frente. Eu o segui,
tomando cuidado onde pisava para não escorregar.
— Tenho certeza de que você já sabe disso, mas é melhor manter este lugar em
segredo. Se não…
O Moicano bateu na porta da frente. Bang, bang. Bang, bang. Devia haver
algum ritmo combinado para abrirem a porta.
— Entrem.
Foi então que o mordomo de cabelos brancos olhou para mim, com suspeita em
seus olhos e perguntou:
— E quem o indicou?
— Ditz. — Esse era o nome que Gallus nos disse para usar.
— Ele, hein? Ainda assim, eu não esperava que ele usasse uma criança para
isso. Com certeza é um homem cauteloso.
— Hm, de fato. Então faça isso logo. É assustador e está além do nosso poder.
— O mordomo tirou um molho de chaves do bolso da camisa e passou uma
para o Moicano. — Quarto 202.
Eu podia ouvir o barulho do chão sob seus pés, bem como o som de alguém
gemendo em algum lugar do prédio. O cheiro de algum animal também
ocasionalmente surgia. Foi quando percebi que havia uma sala adjacente à
área principal, cercada por barras de ferro. Espiei lá para dentro. Mesmo sob a
luz fraca, pude ver um círculo mágico no chão. Contida dentro de seus limites
estava uma grande besta que estava acorrentada e estatelada. Estava muito
escuro para ter certeza, mas eu nunca tinha visto aquele tipo de criatura no
Continente Demônio. Devia ser algo nativo do Continente Millis.
Isso significava que os itens do segundo andar não eram motivo para
preocupação, caso alguém os encontrasse. Bens que eram altamente
tributados ou que, de outra forma, seriam condenados a duras penas se
contrabandeados, seriam mantidos no andar de baixo.
— Isso aí. — O Moicano parou em frente a uma porta com uma placa que dizia
“202”. Quando olhei para dentro, vi Ruijerd com as mãos algemadas atrás das
costas, cheio de ramos de cabelo esmeralda começando a brotar em sua
cabeça. Não foi nenhuma surpresa que agora tivesse algum cabelo nascendo
em sua cabeça, já que foi deixado assim por uma semana.
O Moicano acenou com a cabeça e assumiu seu posto do lado de fora da porta
da frente. Um vigia, presumi.
— Não tire suas algemas aqui. Não há nada que possamos fazer para impedir
um Superd se ele ficar fora de controle. — O homem parecia um pouco pálido
ao dizer isso.
Pelo visto, mesmo o pouco cabelo de cor esmeralda na cabeça de Ruijerd já era
eficaz. O Moicano ficaria ainda mais apavorado se eu removesse as amarras do
Superd e começasse a comandá-lo. Nah, não havia necessidade de fazer
alguma coisa do tipo – pretendendo ser um gênio do mal fracote capaz de
controlar um monstro.
Agora, onde coloquei a chave para suas algemas? Procurei no bolso da camisa,
mas não estava em lugar nenhum. Talvez tivesse deixado na estalagem. Me
preocupar seria muito incômodo, então decidi apenas usar minha magia.
Quando me aproximei de Ruijerd, percebi uma expressão sombria em seu
rosto.
Sim, eu sabia disso. As pessoas ficam irritadas quando estão com fome,
pensei. Espere um pouco mais e vamos pegar um pouco de comida para…
— O que foi?
Quando coloquei meu rosto mais perto, o Moicano pareceu entrar em pânico e
disse:
Nah, não esquenta. É de Ruijerd que estamos falando, ele vai no máximo fingir
que me mordeu, pensei enquanto me inclinava para mais perto.
— Não sei. Mas parece que não há mais ninguém por aqui.
Crianças. Escravas, presumi. Entre elas estava a pessoa que Gallus disse que
causaria problemas no futuro. Ou talvez fosse outra pessoa, alguém
importante.
De qualquer forma, poderíamos verificar cada quarto para ter certeza. Restava
apenas um problema.
— Matar todos.
Assustador!
Mas não era como se eu tivesse me oposto. Gallus nunca especificou quais
métodos poderíamos ou não usar. A julgar pela maneira como ele falava,
provavelmente presumiu que eu deixaria Ruijerd massacrar todos. Mas
originalmente planejei libertá-lo e partir, para depois me infiltrar furtivamente
e libertar os cativos. Parecia que meus planos foram muito ingênuos. Matar
todos poderia não refletir de maneira honrosa o nome da tribo de Ruijerd, pelo
menos na minha opinião, mas dessa vez não tínhamos escolha.
Eu não tinha certeza do que Gallus faria depois disso. Ele poderia enviar
assassinos atrás de nós para manter nossas bocas fechadas. Enquanto Ruijerd
estivesse conosco, não precisávamos ter medo de assassinos, mas não
conseguiríamos dormir em paz. Também não havia garantia de que o Superd
ficaria conosco o tempo todo.
Assustador. Uma veia azulada apareceu em sua testa. Ultimamente, achei que
ele tinha amolecido um pouco, mas o homem acabou revelando sua sede de
sangue. O que esses contrabandistas fizeram para irritá-lo tanto?
— Não. — Suas palavras foram como um espinho que acertou meu coração. —
Eu… também vou.
É verdade que, no último ano, evitei tirar a vida de alguém. Matei bestas sem
questionar, mesmo aquelas que eram humanóides. Eu, entretanto, não cometi
assassinato. Em parte, porque não precisava, mas também havia muitos
motivos para não o fazer. Também nunca havia sentido o impulso de matar
alguém antes.
Este mundo era implacável. Era um mundo onde as pessoas travavam batalhas
de vida ou morte todos os dias. Eu, eventualmente, teria que matar alguém.
Essa era uma situação que algum dia teria de enfrentar. Achei que tinha me
preparado mentalmente para isso, mas o que fiz não foi uma preparação
mental. Tudo o que fiz foi reduzir a força do meu Canhão de Pedra a um nível
em que não seria capaz de matar ninguém.
— Não faça essa cara. Suas mãos são para proteger Eris.
Ah, bem. Eu acho que ele estava certo. Não havia sentido em me forçar a
matar. Decidi deixar todo o trabalho para Ruijerd. Se ele podia fazer isso
sozinho, então seria melhor confiar nele. Se isso me tornava um covarde, tudo
bem. Era melhor me concentrar no que era capaz de fazer do que no que não
era.
— Então vamos lá. Vou libertar as crianças. Você sabe onde elas estão?
— Na porta ao lado.
— Então vamos lá. Tente reunir os cadáveres. Depois vamos queimar todos
eles.
— Entendido.
Sem falar mais nada, tirei suas algemas. A porta rangeu quando Ruijerd se
levantou lentamente.
— Hã…?
O Moicano foi a primeira vítima. Ruijerd o matou sem fazer qualquer barulho.
Então ele silenciosamente correu em direção às escadas. Fui na direção oposta
à sala onde as crianças estavam presas.
— Gaaaaah!