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Profa.

Hélcia Macedo (83)98863-5683

A noite era escura e eu não lembro de muita coisa. Explosões ensurdecedoras


estouravam por trás de nós e resgato que, como tão cansado, estava sendo levado nos
braços dele para cada vez mais perto da costa. Os tiros e a gritaria eram
infindáveis. Às vezes penso na real razão de tudo o que aconteceu. Não sei, mas é
uma história que talvez não tenha nascido para saber.

Fomos resgatados por um navio que, se me recordo de fato, era da marinha. A


marinha... órgão de estima, mas que muito peca no mundo atual. Não me admira que as
forças dos exércitos revolucionários tenham angariado tanta força ao longo do
temerário e emocionante tempo que vivemos. Bem... não importa, críticas tecem
aqueles que pretendem mudar a realidade. Os que pretendem contá-la se importam tão
somente com a verdade, e não com o problema. Parece uma pensamento desarrazoado,
contudo, vos digo: não importa o que aconteça, o tempo nos corroe e nos faz
tremular... então abracemos unicamente nossos propósitos. O meu? Você Pergunta? O
meu é contar histórias, não criticá-las, e por isso foi-me dado meu nome pelo meu
pai. Gaiden, pode chamar. Saudades, pai.

Voltando à história - me perdoe. Naquela época a informação era dada de forma


rudimentar e ineficiente por onde andávamos. Não nos foi dado nome, idade, origem
ou razão. Fomos, dias depois, largados em um terrível orfanato na cidade de Logue
Town. Não se engane, caro leitor, eu já tentei caçar esta crônica mais do que
todos... algumas coisas simplesmente não foram feitas para serem compreendidas...
(é do que tento me convencer, habitualmente). De acordo com o Capelão, a quem nos
era incubida a educação, o que se sabe era que fomos deixados por um reles grumete
na porta do orfanato. Ele aparentemente vestia um uniforme maltrapilho e andava
desengonçadamente. Procurei saber posteriormente, mas não achei nada nos registros
do porto sobre algum navio da marinha atracar naquele dia. Não sou detetive, mas
existem coisas que a necessidade de uma boa história cria... e nos meus anos de
prática, ei de dizer que sempre fui curioso.

Capelão Vampeta era a única parte que nos agradava daquele ambiente. Ali fomos
éramos nominados por nossos números de quarto: eu era o 67. A comida era escassa e
pouca água potável também nos era oferecida. Não sabia como conseguíam criar
crianças em condições tão cruéis e desumanas. Nem mesmo escravos sofriam tanto...
ao menos eu pensava à época.

Eu e ** continuávamos amigos. Ele era um pouco mais velho que eu, e eu tinha
certeza de que o devia minha vida. Éramos irmão, não de sangue, mas de luta. Nossa
comidas eram compartilhadas. Nossas fronhas eram compartilhadas. Nossos problemas
eram compartilhados... mais do que deveriam. Em determinado momento da nossa vida
supomos nossas idades - eu 7 e ele 10. Ali, depois de sofrermos tanto nas mãos dos
diretores, professores e inspetores, logo chagamos à conclusão: teríamos de fugir.

O regime dracônico imposto pela gerêmncia local assolava qualquer alma que
confabulasse sobre qualquer tipo de escape. O território mais parecia uma prisão do
que um orfanato. Anos depois soube fato alegre - que o prefeito de Logue Town
resolvera descontinuar a prestação de serviço do estabelecimento. Sensato, eu
diria.

Num dia chuvoso, quando os guardas cuidavam de uma infiltração séria na parte
interna das dependências, finalmente conseguimos - a vitória era nossa - fugimos
como dois coelhos saindo da cartola de um mágico. Lembro que corremos como nunca
havíamos corrido. Eu levava meus cadernos - a única coisa que me alegrava, ou ao
menos me fazia menos triste - e ** levava (algum pertence).

Já que docas eram nosso ponto forte, não poderíamos nos furtar de ir novamente para
uma. Dessa vez, ninguém nos salvou. Simplesmente entramos num navio que vimos
atracar secretamente na costa pela madrugada. Mal sabíamos que Logue Town seria
alvo de saqueadores marítimos naquele mesmo dia... e os piratas que a saqueavam
eram os donos do barco em que nos escondemos, não por menos. A vida é incrível!

Entramos no barco inicialmente em busca por comida. A tripulação já não mais se via
à bordo, mas ousamos adentrar as dependências do navio no interesse de encontrar ao
menos o que beliscar. Encontramos, mas não era o que procurávamos. As únicas
refeições ali dispostas se deleitavam dentro de um baú velho. Sua abertura rangia
tanto que, em meio ao ato eu sentia uma calafrio de fato causado pelo ruído. Duas
frutas estavam no fundo desse baú. Uma amarela, em forma de gato, e uma cinza, em
uma tonalidade metálica. Ali foi onde tudo começou.

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