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Os Invasores - 5

6 - Brotherband
AGRADECIMENTOS...
Nossos merecidos agradecimentos vão a toda nossa equipe de tradução da .mafia
dos livros. e de seu Departamento#01 que esteve empenhada na conclusão de mais
esse projeto.
Obrigado a vocês, tradutores, revisores e organizadores que desprenderam de seu
tempo para uma atividade na qual não esperam nada além de respeito e admiração e
é esse o sentimento que temos para com vocês, por isso e graças a vocês somos uma
equipe tão forte!
Parabéns por terem nos presenteado com tamanha dedicação e para alguns casos
destaco um comprometimento incrível...
Parabéns e Obrigado...

Aos Tradutores: Jenifer Menezes, Rhanni Soares, Walter Montefusco, Dayze


Campany, Laís Seus, Carolina Anapaz, Guilherme Munaretto, Thalita Griffo, Keli
Loro, Kathy Kristine, Danna Lopes, Dygo, Line, Breno da Fonseca, AnaB. – Muito
Obrigado!

Aos Revisores: Everton Mack, Igor José da Silva, Jeremias silva, Diana S., Walter
Montefusco, Felipe Gomes, Dayze Campany, nina lobato, Paulo Henrique Rabello,
Gabriela Silva, Thalita Griffo, Nina, Adriano Santana, Caio César, Lilly, Jussara
Flores Arbues, Dany Silva, Breno da Fonseca, Lilian Boaventura, Aline, Carolina
Anapaz, Augusto Palmeira, Thais Alves, Guilherme Munaretto. – Muito Obrigado!

Ao Revisor Final: Walter Montefusco – Muito Obrigado!

À Organização da .mafia dos livros. e do Departamento#01 : Ricardo, Laila,


Walter Montefusco – Muito Obrigado!

E a Organização da tradução em si: Walter Montefusco – Muito Obrigado!

Os Invasores - 7
ATENÇÃO: Cuidado com a página falsa com o nome da
“máfia dos livros” no facebook. Existe uma falsa usando
o nosso nome para angariar membros, copiando nossas
traduções e lançando na página falsa como se fossem
eles que as fizeram, tentando se passar por nós. Estão
ludibriando e enganando muitas pessoas desta maneira!

MAFIA DOS LIVROS SÓ EXISTE UMA – QUALQUER


OUTRA NO FACE QUE NÃO ESSA ABAIXO É UMA
FARSA.

Nosso Endereço verdadeiro é:


http://www.facebook.com/mafiadoslivrosoficial

8 - Brotherband
BROTHERBAND
CHRONICLES
BOOKS 2
The INVADERS

Os Invasores - 9
RANGER’ APPRENTICE
BROTHERBAND
CHRONICLES

10 - Brotherband
LIVRO 2: OS INVASORES
JOHN FLANAGAN

Os Invasores - 11
TAMBÉM POR JOHN FLANAGAN
The Ranger’s Apprentice Epic
Livro1: As Ruínas de Gorlan
Livro 2: Ponte em Chamas
Livro 3: Terra do Gelo
Livro 4: Folha de Carvalho
Livro 5: Feiticeiro do Norte
Livro 6: Cerco de Macindaw
Livro 7: Resgate de Erak
Livro 8: Os Reis de Clonmel
Livro 9: Halt em Perigo
Livro10: O Imperador de Nihon-Ja
The Lost Stories
Brotherband Chronicles
Livro 1: Os Exilados

12 - Brotherband
Para meu irmão Pete, que fez as melhores espadas de
madeira que existem!

Os Invasores - 13
14 - Brotherband
Glossário de termos náuticos

N ossa narrativa envolve barcos a vela. Por isso, parece-me útil explicar alguns
dos termos náuticos encontrados neste livro.
Fique tranquilo, entretanto. Não exagerei nos detalhes técnicos, de
maneira que, mesmo que você não tenha familiaridade com navegação, entenderá tudo
o que se passa. Um pouco de terminologia náutica é necessária, não obstante, para que
a história fique realista.
Seguem em ordem alfabética:

Adriça
Cabo usado para içar e sustentar a vela no mastro.
Amurada
A parte da lateral do barco acima do convés.
Arribar
Girar a proa, afastando-a da linha do vento.
Barlavento
O lado de onde o vento sopra ou o bordo da embarcação atingido por ele.
Bicha
Um dos cabos que controla a tensão de uma vela.
Bombordo e estibordo (ou boreste)
Os lados esquerdo e direito do barco. Como lembrar qual é qual? Fácil. Quando
olhamos um mapa, o "leste" ou "este" está sempre à direita. Associe isso com o fato
de que estibordo ou boreste representam o lado direito de uma embarcação.
Bordo
A lateral do barco.
Brandal
Cabo que fixa o mastro à lateral da embarcação.
Cabeço
Pino de madeira utilizado para dar voltas ou amarrar cabos.
Cambar
Mudar o barco de direção, cortando com a proa a linha do vento, e colocando
um ou outro bordo contra ele. É importante saber que nenhum veleiro é capaz, por
motivos óbvios, de navegar diretamente contra o vento. Conforme sua estrutura,
porém, um barco a vela consegue navegar mais ou menos próximo da linha do vento.
Se o vento sopra de norte, por exemplo, e queremos navegar para nordeste, é preciso
fazer uma cambagem, de forma a apontar o barco para nordeste. Se, entretanto, fosse
preciso navegar para o norte, teríamos que executar uma série de cambagens curtas,

Os Invasores - 15
num zigue-zague, cortando a direção do vento a cada vez, para então lentamente
progredir no rumo desejado.
Cambar de roda ou jibe
Na cambagem, o barco muda de rumo, cortando com a proa a linha do vento.
No jibe, ou quando camba de roda, a embarcação muda de direção afastando a proa
dessa linha e perfazendo um arco muito maior, em sentido contrário, para a manobra.
Nos navios vikings, essa era a forma mais segura para mudar de rumo.
Cana do leme
O punho da pá do leme ou do leme.
Casco
O corpo da embarcação.
Biruta
Bandeirola presa ao mastro que serve para indicar a direção do vento.
Cavilha do remo
Haste de metal ou madeira que dá suporte ao remo na lateral da embarcação.
Enrizar
Diminuir a área de vela, enrolando-a na verga, para proteger a ela e ao mastro,
sobretudo em ventos fortes.
Escota
Cabo que regula o ângulo da vela em relação ao vento. Numa emergência, pode
surgir a ordem “Liberar escoras!”; o que afrouxa as velas e faz com que a embarcação
perca velocidade e pare.
Estai
Cabo de sustentação do mastro. Os estais de vante e ré amarram mastros à proa
e à popa.
Orçar
Girar a proa na direção do vento.
Pá do leme
Em embarcações antigas, como os navios escandinavos, um remo longo,
montado a estibordo, na popa do barco, fazia o papel de leme. Usaremos tanto essa
expressão, como também simplesmente "leme" para nos referirmos a ele.
Popa
A parte de trás do barco.
Proa
A frente do barco.
Quilha
A espinha dorsal do barco.

A parte traseira da embarcação.
Rizes
Cabos curtos passados através de ilhoses nas velas usados para recolher pano,
diminuindo a área de vela exposta ao vento.
Sotavento

16 - Brotherband
O lado para onde o vento sopra ou o bordo da embarcação contrário à direção
de onde o vento vem.
Vante
Parte dianteira da embarcação.
Vento de través
Quando sua direção forma um ângulo de 90° com a quilha.
Verga
Viga presa ao mastro para dar sustentação à vela.

Bem, agora você já sabe tudo o que precisa do jargão náutico. Bem-vindo a
bordo ao mundo de Brotherband!

John Flanagan

Os Invasores - 17
PARTE 1

BAÍA DO ABRIGO

18 - Brotherband
Capítulo um

ssim não podemos continuar — declarou Stig.


— A Hal o encarou com os olhos avermelhados pela água salgada e pela
exaustão. Ele tinha estado no comando da cana do leme do Garça-Real
pela maior parte do tempo durante os dez dias em que navegavam. Os ventos
violentos trazidos pela tempestade continuaram a se precipitar do sudoeste nesse
período, mantendo-os em uma constante cambagem a boreste — o que acabou sendo
vantajoso, visto que não tinha surgido nenhuma oportunidade de reparar a verga
quebrada na corrida final dos Irmãos em Armas.
Na qualidade de contramestre, sempre que possível Stig tentava dar breves
pausas a Hal, mas as ondas, impelidas pelo vento, tinham ficado tão altas e verticais
que quebravam sobre o pequeno navio com regularidade, inundandoo. A tripulação
era obrigada a baldear água continuamente. O trabalho era feito em grupos de quatro,
uma hora cada um. Quando o turno de uma equipe terminava, os rapazes caíam no
convés, encharcados e exaustos, tentando tirar um cochilo de alguns minutos,
indiferentes à água gelada do mar, que se derramava violentamente sobre eles.
Portanto, Stig não tinha tido muito tempo para ajudar Hal — não que o skirl gostasse
de ceder o comando. Ele se sentia responsável pela segurança de, seu navio e da
tripulação.
Stig observou, desconfiado, a esteira de espuma deixada pelo Garça-Real. Não
havia perseguidores à vista, mas eles certamente estavam por ali, em algum lugar.
— Você acha que já estamos suficientemente longe de Hallasholm? — ele
perguntou.
Na esperança de recuperar a Andomal, o artefato mais sagrado da Escândia, os
rapazes partiram da capital contrariando as ordens do Oberjarl, Erak Starfollower. E
eles fugiram a bordo do navio de Hal, o Garça-Real, que Erak planejava confiscar. Os
membros da tripulação não tinham dúvidas de que Erak ordenaria uma perseguição e,
caso fossem apanhados, não agradava a Stig pensar qual seria a possível punição.
— Não quero correr o risco de nos pegarem — Hal comentou.
Stig deu de ombros e observou as águas furiosas que os rodeavam.
— Eles não vão nos apanhar se naufragarmos — ele disse. — Mas isso não vai
nos fazer muito bem.
— É verdade — Hal concordou. — Talvez nem tenham saído do porto ainda.
Essa tempestade está soprando sem parar desde que partimos.
Os Invasores - 19
Perseguidos ou não, decididamente era hora de procurar um ancoradouro
seguro. Hal percebeu que a violência do vento tinha aumentado na última meia hora.
Borrifos brancos de água sopravam do alto das ondas sobre a embarcação. Ele
chamou um dos rapazes mais velhos para assumir a cana do leme e curvou-se sob a
tela de lona no pequeno abrigo protegido na popa do navio, em que mantinha o
equipamento e as notas de navegação — as quais tinham reunido assiduamente
durante o período de treinamento do Brotherband.
O capitão analisou o mapa da costa leste de Stormwhite durante alguns
minutos antes de encontrar o que procurava. A maioria das baías e enseadas ao longo
dessa região voltava-se para o sudoeste — quase diretamente para o vento e o mar.
Em seguida ele localizou uma pequena brecha que penetrava no litoral, cuja entrada
apontava para o norte e, ao mesmo tempo, era cercada por terras altas no lado sudeste,
que proporcionavam abrigo do vento e do mar. Aparentemente, era o lugar ideal para
montar acampamento até a melhora do tempo.
Com cuidado, guardou as notas na capa impermeável e saiu do abrigo para o ar
livre novamente. Uma onda que tinha acabado de quebrar o encharcou e o fez
engasgar. O skirl agarrou-se ao brandal e subiu à amurada, equilibrando-se com
facilidade conforme o movimento constante do navio, e analisou a costa a alguns
quilômetros de distância.
Ali! Finalmente Hal distinguiu os pontos de referência vistos no mapa, o
promontório elevado destituído de árvores com penhascos em cada lado. A rocha de
granito escuro se mostrava evidente contra os pinheiros cinza-esverdeados que
cobriam quase toda a costa.
Com leveza, saltou para o convés e retomou o comando da cana do leme.
Thorn, recostado ao mastro e encolhido na jaqueta de pele de carneiro encharcada,
tinha observado os movimentos do capitão e andou de costas para se reunir aos dois
garotos.
— Pensando em ir para a praia? — ele perguntou.
— Existe uma pequena baía protegida a cerca de três quilômetros ao sul — Hal
falou. — Estou indo para lá.
Thorn assentiu. Não que Hal, capitão do Garça-Real, precisasse de qualquer
aprovação de sua parte. Um skirl, mesmo jovem, tinha autoridade absoluta em seu
navio. Mas Hal ficou satisfeito por Thorn ter concordado. Seria tolice ignorar a
opinião do companheiro. O velho lobo do mar tinha visto muito mais tempestades
marítimas do que Hal e Stig.
Contudo, no decorrer da conversa, por pouco eles não perderam a entrada para
a baía. A visibilidade era ruim, pois o ar estava tomado por borrifos de água e chuva, e
o pequeno espaço entre os promontórios que protegiam a entrada tinha uma colina alta
e arborizada diretamente atrás dela, dando a impressão de que a linha costeira era
ininterrupta. No último momento, o olhar atento de Thorn avistou o indício de uma
praia arenosa na clareira quando o Garça-Real foi erguido por uma onda. O

20 - Brotherband
marinheiro estendeu o braço direito diminuído, apontando com o gancho de madeira
que Hal lhe havia fabricado.
— Ali está!
Stig e Hal se entreolharam rapidamente. Não havia necessidade de dar ordens a
Stig. O contramestre se adiantou com dificuldade, acenando para que Stefan e Jesper
se reunissem a ele junto às velas enrizadas e esticadas por causa do vento. Quando Hal
virou o navio a bombordo, fazendo com que o vento o atingisse por trás, os três
membros da tripulação afrouxaram a vela para que ela ficasse posicionada em um
ângulo quase reto em relação ao casco.
O Garça-Real, agora com o vento e o mar atrás dele, começou a se precipitar
como uma gaivota sobre as ondas altas. A sensação era estimulante, mas Hal manteve
o olhar atento para alguma onda traiçoeira. Se uma delas viesse com maior violência e
rapidez, o navio poderia facilmente ser inundado pela parte posterior. Nessas
condições, era impossível relaxar.
Depois de vários minutos, ele viu Thorn encará-lo com uma pergunta
estampada no rosto, e assentiu. Eles tinham se aproximado o bastante da costa
parapoder virar e retomar o curso que os levaria para a baía. Enquanto o skirl
empurrava a cana do leme e virava a proa a estibordo, Stig e os outros dois puxavam a
vela, esticando-a para receber o vento. O movimento do navio mudou novamente,
parando de investir e se precipitar para além do vento e voltando aos impactos
ondulantes e sobressaltados provocados pelas ondas que o atingiam de bordo. Hal
olhou à frente e avaliou a declinação do navio — à distância em que o vento o
empurrava na direção que soprava e fora do curso. Ele ajustou a direção da
embarcação até poder ver que atingiria a entrada da baía com facilidade.
Eles deslizaram para o interior da baía. Como os altos penhascos que a
circundavam os protegiam do vento e das ondas, o navioa navegou mais ereto,
cortando as águas calmas com suavidade. Os rapazes relaxavam à medida que o
movimento amansava. Eles se estenderam nos bancos dos remadores, largando os
baldes que vinham usando para tirar água. Somente nesse momento, ao encará-los,
Hal se deu conta do quanto se aproximaram da exaustão total e decidiu procurar um
abrigo imediatamente.
Na extremidade da baía havia uma faixa de praia arenosa atrás da qual se
erguiam colinas arborizadas. Hal apontou o navio em sua direção e o Garça-Real
reagiu à onda que batia na proa casquinando de encontro ao casco, agora audível
graças à diminuição do ruído provocado pela tempestade.
— Bem-vindo à baía do Abrigo — ele disse a Stig.
— Esse é o seu nome? — Stig indagou.
Hal lhe esboçou um sorriso cansado.
— Agora, é. — ele respondeu.

Os Invasores - 21
Inicialmente, o grupo dormiu a bordo do navio ancorado, com a pesada lona
esticada como uma barraca para protegê-losdas intempéries. Eles tinham passado os
dez dias anteriores preparando-se para suportar os violentos movimentos do Garça-
Real, mesmo enquanto dormiam. Relaxar totalmente foi uma mudança bem-vinda,
sem ter que se prevenir contra movimentos repentinos que pudessem lança-los contra
o sólido madeirame do casco. Contudo, na segunda manhã, começaram a construir um
abrigo mais permanente, semelhante à barraca armada para o treinamento dos Irmãos
em Armas.
Quando retiraram as armas e os bens pessoais do acampamento, Stig teve um
lampejo de inspiração. Ele tinha tirado a cobertura de lona usada como teto e a
enrolou, guardando-a a bordo do Garça-Real.
— A gente nunca sabe quando vai ser útil — ele disse.
Mais tarde, Hal e os outros deram valor à sua atitude. Eles cortaram e apararam
árvores novas da floresta para montar a estrutura das paredes e do telhado, e então
estenderam a lona no topo para formar um teto que lhes proporcionasse conforto. As
paredes eram mais baixas do que a barraca original, mas o teto baixo lhes fornecia
amplo espaço interior. O reboco, de lama nas paredes laterais de galhos entrelaçados
se mostrou bastante eficaz para impedir que o pior do tempo os atingisse, embora,
invariavelmente, houvesse frestas que deixavam entrar o vento feroz quando os
alcançava com toda a sua força. Mas eles eram jovens e algumas correntes de ar não
eram suficientes para diminuir-lhes o entusiasmo.
Thorn decidiu dormir no barco. Com os outros acomodados na barraca, ele teria
bastante espaço para si mesmo. Os garotos respeitaram seu desejo de privacidade. Ele
tinha passado muitos anos sozinho e se acostumara à solidão. Além disso, apesar de
gostar da tripulação do Garça-Real, a maior parte era formada por garotos
adolescentes, cuja tendência natural era discutir, falar em voz alta e contar piadas que
imaginavam ser novas, sem saber que gerações antes deles já as contavam.
Uma vez organizada a área de dormir, Hal, ajudado pelo eternamente prestativo
Ingvar, construiu uma pequena cobertura que lhe servisse de oficina. Em seguida, ele,
Ingvar e Stig entraram na floresta para escolher uma árvore nova que substituísse a
verga quebrada. Depois de várias horas, Hal encontrou uma que o agradou e fez um
gesto para Stig.
— Corte-a. — ele pediu.
Ingvar carregou a árvore de volta para o acampamento, arrancou a casca e a
deixou para secar por alguns dias, removendo a seiva que se acumulava na superfície.
Mais tarde, Hal cortou-a e aparou-a até que atingisse a forma desejada. Em seguida,
prenderam o tronco na vela de estibordo. Só então o capitão foi invadido por uma
sensação de alívio. Ele se deu conta de que o fato de estar na praia com um navio
semidanificado vinha corroendo a sua mente. Agora o Garça-Real estava totalmente
preparado para o mar caso ocorresse alguma emergência.

22 - Brotherband
O skirl elaborou uma lista de tarefas a serem realizadas no acampamento e cada
garoto se revezava na cozinha. Isso não durou muito. Após várias refeições preparadas
por Stig, Ulf e Wulf, Edvin bateu o pé.
— Não estou nesta viagem para morrer de intoxicação alimentar — ele afirmou
com aspereza. — De hoje em diante, eu cozinho.
E, considerando que o rapaz já tinha demonstrado alguma habilidade na área, os
outros ficaram satisfeitos em lhe passar a tarefa. Por outro lado, Hal o liberou de
outras obrigações no acampamento, como recolher lenha e água. Após alguns dias,
Edvin procurou Hal com mais um pedido.
— Ternos muitas provisões e alimentos desidratados — ele falou. — Mas
poderíamos usar carne e peixe fresco.
Os peixes fervilhavam na baía e Stig e Stefan eram pescadores eficientes. Eles
se comprometeram a manter um suprimento constante de bremas e linguados. Hal e
Jesper entraram na floresta em busca de caça de pequeno porte. Mais urna vez, Ingvar
seguiu Hal corno urna sombra leal. Infelizmente, ele era um pouco mais barulhento do
que urna sombra, passando disparatado por entre as árvores e pisando nos galhos
caídos sem tornar cuidado. Assim, enquanto os dois caçadores viam inúmeros sinais
de pequenos animais — coelhos, lebres e aves de caça — não chegaram a ver nenhum
espécime real. Por fim, Hal teve que colocar a mão no braço do rapaz imenso para
fazê-lo parar.
— Sinto muito, Ingvar, mas você está fazendo barulho demais. — advertiu Hal.
— Não estou fazendo de propósito — justificou-se o rapaz.
O jovem skirl assentiu.
— Eu sei, mas está assustando toda a caça. Quero que se sente aqui e espere
pela gente, tudo bem? — Hal sugeriu.
Ingvar ficou desapontado. Desde que se unira à tripulação de Hal, tinha sido
invadido por urna sensação nova de ousadia e determinação. Em sua curta vida antes
disso, ninguém jamais o procurara para contribuir ou esperara muito dele. Mas corno
membro da irmandade Garças tinha participado de seus sucessos e vitórias contra
outros grupos. Hal tinha sido a primeira pessoa a acreditar nele, e ele detestava
desapontar seu skirl — embora, bem no fundo, soubesse que Hal estava certo. Ele era
desajeitado e barulhento demais para ajudar na caçada. E agora que todo o trabalho
pesado de construção tinha terminado, não tinha nada para fazer.
— Tudo bem, Hal. Se é o que você quer... — ele se abaixou e se recostou no
tronco de urna árvore. Hal viu o descontentamento no rosto do rapaz.
— Ingvar, não se preocupe. Estou pensando em um trabalho para você. E será o
único capaz de realizá-lo. Tenha paciência. — pediu Hal.
Deixando Ingvar um pouco mais tranquilo, Hal e Jesper continuaram a penetrar
na floresta. Quase imediatamente, a ausência de Ingvar deu frutos. Eles não andaram

Os Invasores - 23
nem cinquenta metros quando viram um coelho gorducho mordiscando musgo na base
de um tronco caído na extremidade oposta de urna clareira.
Jesper colocou a mão no braço do skirl e apontou. Com cuidado, Hal tirou a
besta do ombro. Com um dos pés no estribo, ele puxou a pesada corda para trás com
as duas mãos até ouvir o clique do mecanismo do gatilho.
Cauteloso, o coelho olhou para cima por causa do som e os dois rapazes
congelaram. O focinho do animal pequeno e gordo estremecia enquanto testava o ar, e
as longas orelhas balançavam para a frente e para trás, procurando outros ruídos
desconhecidos. Por puro acaso, eles tinham se aproximado a favor do vento. Então,
prendendo a respiração, ficaram ali esperando até que o animal achasse que era seguro
continuar a comer.
Lentamente, Hallevou a besta ao ombro e levantou a mira traseira. Eles se
encontravam a menos de vinte metros do coelho, portanto seria um tiro horizontal sem
necessidade de elevação. Ele posicionou a marca inferior da mira em oposição ao pino
do ponto de mira, soltou o ar dos pulmões, inspirou brevemente e prendeu a
respiração.
E então apertou o gatilho.
Seguiu-se o feio craque habitual, quando os braços do arco saltaram para frente
e o dardo curto disparou pela clareira.
— Acertei! — exclamou Hal triunfante. Ele saiu correndo em direção à clareira,
seguido um pouco mais lentamente por Jesper,
— Acertou mesmo — Jesper comentou secamente ao alcançar o atirador
vitorioso. — A pergunta é... onde ele está?
O pesado dardo com ponta de ferro, projetado para penetrar em cotas de malha,
tinha destruído totalmente o coelho. A besta podia ser uma arma eficiente em batalhas,
mas para caçar pequenos animais era lamentavelmente ineficaz.
— Talvez a gente deva construir algumas armadilhas.

24 - Brotherband
Capítulo dois

J esper e Stefan estavam discutindo. Novamente. O clima estava miserável,


com o vento soprando constantemente e chuveiros de chuva regulares
dentro do mar. Não tinha nevado. Mas, a tripulação tendia a permanecer
dentro de sua tenda, deitados em seus sacos de dormir, encarando o teto de lona acima
deles. Era inevitável que o argumento era sair, simplesmente como forma de passar o
tempo. Os gêmeos, Ulf e Wulf, discutiam como sempre, mas agora o mal-estar tinha
se espalhado para os outros, e Jesper e Stefan pareciam encontrar várias razões para
discordar.

Thorn e Stig podiam ouvir suas vozes marchando para o campo, de volta de
uma patrulha do bosque atrás da praia. Como um velho guerreiro, Thorn nunca esteve
confortável, com suas costas para o mar e para o navio encalhado, ele sabia que não
havia inimigo em potencial nas proximidades. Ele olhou em volta, procurando por
Hal.

Mas ele e Ingvar estavam ocupados na oficina de tenda que ele montou a certa
distância. Eles estavam construindo algo, Thorn sabia. Mas ele não tinha idéia do que
era.

— Eu sei que você levou! — Stefan estava dizendo. — Porque você


simplesmente não adimite e me dá de volta?

— Ah, você sabe, não é? E como você sabe disso? — Desafiou Jesper.

— Porque todo mundo sabe que você é um la... — Stefan parou na hora certa.

— Um? — Jesper disse sua voz ainda mais furiosa. — O que quer dizer, um
“la...”? Talvez você fosse dizer ladrão?

— Eu não disse isso — disse Stefan, agora sombrio e desconfiado.

— Oh, pelo amor de Gorlog! — Stig murmurou. Ele empurrou a tela de lona de
lado e entrou na tenda.

Ulf, Wulf e Edvin estavam deitados em seus sacos de dormir. Stefan e Jesper se
enfrentaram no centro da tenda. Ambos estavam com os rostos vermelhos de raiva.

— Será que vocês dois podem parar? — Stig disse cansado. — Vocês estiveram
discutindo dia inteiro. O que é agora?

Os Invasores - 25
— Jesper roubou minha pedra de amolar! — Disse Stefan.

Instantaneamente, Jesper gritou de volta. — Isso é o que você diz!

— É, mas eu sei que você pegou. Você... pega as coisas. Todo mundo sabe
disso.

Tarde demais, Stig percebeu que ele não havia termindo discussão. Ele tinha
apenas levado de volta ao ponto de partida. — Olhe, deixe-o...

— Talvez eu pegue as coisas às vezes — gritou de Jesper, inclinando-se mais


perto de Stefan. — Mas eu sempre as devolvo!

— Bem, então me entregue a minha pedra de amolar!

— Eu devolveria, se eu tivesse pegado. Mas não a peguei! E pra falar a verdade


não tem como não pegar as suas coisas. Você está sempre as deixando espalhadas.

— Isso é verdade — disse Ulf, e instantaneamente Wulf também concordou.

— Como se você pudesse falar! As suas coisas estão sempre espalhadas por
todo o meu espaço de dormir! — Na verdade, no dia anterior, ele havia encontrado
uma das meias de Ulf ao lado de seu saco de dormir. Desde que era uma meia
excelente, ele teve de se apropriar dela, mas, aos seus olhos isso não altera o fato de
que estava infringindo seu espaço.

— Talvez se você não ocupasse mais espaço do que deveria, isso não
aconteceria! — gritou Ulf.

Então Stefan voltou para o ataque.

— Bem, eu não deixo minha pedra de amolar “espalhada por aí”, como você
falou. Então você deve ter pegado.

— Por que eu? Por que não outra pessoa? — Jesper gritou. — Por que não Ulf
ou Wulf?

— Você está dizendo que eu peguei? — Wulf disse. Ele teve um momento
fugaz de culpa. Talvez Jesper o tivesse visto guardar a meia de Ulf em sua mochila.

Stig olhou ao redor da tenda para os rostos raivosos. Ele encontrou o olhar
firme de Edvin. Edvin recostou-se em seu travesseiro, fechando os olhos.

— Eu desisto — disse Stig. — Estão todos loucos.

Fora da tenda, Thorn balançou a cabeça.

26 - Brotherband
— Eu não poderia estar mais de acordo — disse ele. Virando-se para marchar
através à grama molhada para oficina de Hal. Enquanto ele ia, as vozes furiosas na
tenda continuavam, acusações encontrando contra acusações.

— Garotos — ele murmurou para si mesmo. — Graças a Lorgan eu nunca fui


um!

Hal e Ingvar estavam empenhados sobre uma construção de madeira na


bancada improvisada que Hal tinha construído. Era um arranjo de aparência
complexa, e Thorn, olhando, não poderia definir qualquer função possível para ele.
Hal olhou para cima quando ouviu a abordagem velho guerreiro.

— O que você está fazendo aí? — Thorn perguntou. Hal deu de ombros e virou
um pedaço de lona sobre a engenhoca para cobri-lo de vista.

— Apenas algumas ideias — disse ele vagamente, gesticulando ao redor do


refúgio. Entre as sobras e pedaços dispersos de madeira estava uma estranha caixa de
tampa aberta, com uma fenda na parte inferior e uma e um pedaço talhado reto, meio
parecido com lâmina larga, e sem cega, inserida nele. Mais uma vez, Thorn não podia
advinhar a função disso e, obviamente, Hal não estava pronto para discutir suas idéias
ainda. Pondo isso de lado, Thorn voltou ao assunto em questão.

— Bem, fazendo o que quer que esteja fazendo, você pode estar interessado em
saber que sua tripulação está se desmantelando.

— A tripulação? — Hal respondeu, franzindo a testa. — O que há de errado


com eles?

— Eles estão entediados. Eles não têm nada para se ocupar. E estão começando
a brigar entre si. Stefan acusou Jesper de pegar sua pedra de amolar.

Hal encolheu os ombros. — Isso? Bem, isso não é muito grave. Acho que é
natural que eles estejam um pouco entediados. Assim que voltar para o mar, as coisas
vão ficar bem de novo — disse ele descuidadamente.

Thorn balançou a cabeça. — Isto é sério, Hal. Já ocorreu a você que Zavac tem
uma tripulação de mais de cinquenta homens, todos eles piratas e guerreiros
endurecidos? Enquanto você tem uma equipe de garotos que estão gastando seu tempo
brigando sobre assuntos totalmente sem importância?

Zavac era o pirata que havia roubado o Andomal de debaixo de seus narizes.
Por um momento, Hal não disse nada. Talvez Thorn tivesse razão, pensou ele. Thorn
prosseguiu implacável.

— Quando você estava fazendo seu treinamento brotherband, você construiu


um verdadeiro espírito entre este grupo. Você trouxe todos numa força de disciplinada
com um propósito comum. Eles eram uma irmandade. Agora eles estão se
Os Invasores - 27
deteriorando em um monte de crianças entediadas Se você deixar isso ir mais longe,
tenho pena de quando você apanhar de Zavac. Se você não deixa-los em forma, você
vai fazer com que todos morram.

— Talvez por isso... — disse Hal, relutantemente enfrentando a verdade.

— Isso é, se algum momento alcançar Zavac! Quando você for para o mar
novamente, todo o trabalho em equipe, todo o sentido de agir como uma tripulação
terá corroído. Você pode muito bem tê-los todos mortos no primeiro mar revolto.
Você sabe que um navio viking não é lugar para ciúmes ou disputas. Eles têm que
trabalhar juntos!

— O que você quer que eu faça? — Hal perguntou e Thorn bufou.

— Eu quero que você comece a agir como o skirl! — Disse. — Assuma o


controle! Isso é o que skirls fazem! Coloque sua tripulação de volta em forma em vez
de perder todo o seu tempo aqui com estes... — Ele fez um gesto com raiva para os
itens não identificados na oficina. — O que quer sejam!

Hal corou ligeiramente. — Eu não estou perdendo meu tempo. Eu estou


trabalhando em algumas idéias que vão ajudar-nos quando nos deparamos com o
Corvo — ele disse. O Corvo era o navio de Zavac.

Thorn revirou os olhos.

— Muito bem. Mas eles não vão ser muito úteis para você sem uma tripulação!
Faça-os levantarem os traseiros e os ponha para fazer algo útil! Aí então você pode
voltar para o suas engenhocas.

— Se você diz assim... — Hal começou, mas Thorn ergueu gancho de madeira
para detê-lo.

—Não se eu digo. Se você disser que sim! Isso tem que vir de você. Deixe-os
saber você ainda é o skirl.

— Você tem certeza que é tão ruim quanto você dizendo? — Hal perguntou.

Thorn olhou malignamente por alguns segundos antes de responder.

— Deixe-me colocar desta forma — disse ele. — Ontem, Ulf e Wulf estavam
discutindo sobre seus espaços de dormir.

Hal fez um gesto de desprezo. — Bem, isso não é nada. Ulf e Wulf estão
sempre discutindo. É o que eles fazem de melhor.

— Os outros começaram a tomar partido na briga — disse Thorn. Olhos de Hal


abriam-se mais com as palavras.

28 - Brotherband
— Isso é um problema — ele concordou. — É melhor a gente ir e resolver isso.
Vamos, Ingvar.

Colocou suas ferramentas de volta para os seus lugares em uma prateleira atrás
da bancada, ele saiu da oficina, com o imenso Ingvar o seguindo atrás dele como um
urso treinado.

Thorn assentiu com satisfação. — E já estava na hora também — disse ele a si


mesmo.

Os Invasores - 29
Capítulo três

em, não admira que eu não pudesse vê-lo! — Stefan estava gritando
— B quando Hal entrou na cabana. — Meu espaço fica muito longe da
entrada. É escuro e é abafado. Está tudo certo para você! Você
consegue bastante ar fresco e luz onde você está!

Jesper estendeu as mãos, frustrado pela falta de lógica no argumento de Stefan.

— Isso é culpa minha? — Perguntou. Antes de Jesper pudesse responder, Ulf


interveio, tomando um passo em direção a Stefan.

—Você tem de reclamar! Eu estou bem na entrada. Está frio e venta, e na noite
passada alguém pisou em mim quando se dirigiu ao banheiro!

— Eu suponho que você ache que era eu — disse Wulf, sempre pronto a se
ofender quando seu irmão falava.

Ulf olhou para ele. — Provavelmente era. É o tipo de coisa que você faria.

— Só que eu não me levantei para ir ao banheiro na noite passada! Então se


enrole em seu cobertor e se jogue no riacho!

— Garotos — Hal começou, esforçando-se em usar um tom razoável —, apenas


se acalmem e...

Mas sua voz foi abafada por uma explosão de brigas de Ulf, Wulf, Stefan e
Jesper. Os gêmeos continuaram a debater se Wulf tinha ou não ido para o banheiro;
Ulf sustentava que, mesmo se ele não tivesse ido, ele não iria colocar de lado o fato de
que seu irmão simplesmente pisou encima dele para passar. Stefan e Jesper,
entretanto, tinham se lançado em uma discussão sobre a inadequação do espaço de
dormir de Stefan, duramente escorada contra parede traseira da cabana. Hal,
percebendo que sua voz jamais iria sobrepor suas palavras acaloradas, virou-se para
Ingvar e fez um gesto para ele dar um passo adiante.

— Cale a boca deles, por favor, Ingvar?

O menino grande assentiu. Hal sabia desde seu período de treinamento com os
Brotherband que o peito enorme de Ingvar podia produzir um volume de som

30 - Brotherband
ensurdecedor. Ele se afastou quando viu o menino grande tomar uma respiração
profunda.

— QUIETOS! — Ingvar cresceu. — QUIETOS, TODOS VOCÊS!

O silêncio encheu a cabana quando os quatro meninos que discutiam foram


surpresos com o barulho repentino. Todos se viraram e, pela primeira vez, notaram
Hal. Aproveitando o silêncio repentino, ele falou antes que pudessem recuperar sua
inteligência e retomar a briga.

— O que em nome Gorlog está acontecendo aqui? Vocês estão loucos? O que
estão discutindo?

— A área da minha cama não é boa — disse Stefan. — É escura e é muito perto
da parte de trás da tenda. É abafada. E todo o fedor de meias podres se concentra lá
atrás.

— Você deveria tentar ficar na entrada onde estou! — Ulf disse. — Está muito
frio!

Hal olhou para ele, franzindo a testa. Ele ficava no espaço em frente ao de Ulf e
gostava do fato de que havia bastante ar fresco. Se ventasse um pouco, era uma
simples questão de puxar os cobertores e se encolher debaixo deles. Hal, de fato,
gostava muito disso.

— Nós sorteamos as posições em que cada um iria dormir — ressaltou ele,


esforçando-se para manter um tom razoável.

Ulf encolheu os ombros com petulância.

— Bem, se eu soubesse que ia ser tão perto da porta, eu teria sorteado uma
diferente.

Hal desistiu de tentar ser razoável. Ele olhou para Ulf.

— Você percebe o quão absurdamente estúpida esta declaração é? — Ele


exigiu.

Ulf recuou meio passo, desconcertado com a raiva na voz de Hal. Hal era seu
skirl. A tripulação o havia elegido, por unanimidade, para a posição e ele se provou
mais do que digno. Ele tinha ganhado seu respeito e lealdade. Durante o treinamento
dos Brotherband, ele tinha mostrado uma capacidade de pensar, planejar e enganar
seus adversários. Ele era um exímio timoneiro e navegador — qualidades altamente
estimadas por todos os escandinavos. Além disso, ele tinha outra qualidade indefinível
— um ar natural de autoridade e liderança. Todas essas coisas combinadas ganharam
o respeito e deferência de Ulf. Como resultado, quando Hal ficava com raiva, como

Os Invasores - 31
estava agora, Ulf tendia a recuar. Se Hal era um líder natural, Ulf era um seguidor
natural.

— Bem, eu... er...

Hal o deteve com um gesto de desdém e virou para os outros.

— Qualquer pessoa tem um problema com seu espaço para dormir? — Ele
exigiu.

Os outros trocaram olhares. Stig foi o primeiro a falar.

— Eu estou bem — disse ele.

Edvin, Wulf e Jesper todos murmuraram em acordo. Atrás dele, Hal ouviu o um
profundo ribombar de Ingvar.

— Estou feliz onde estou.

— E eu também — disse Hal, voltando seu olhar sobre Ulf e Stefan. — Assim
restam apenas os dois, correto?

Ambos os meninos pareciam desconfortáveis, percebendo que eles estavam em


minoria. Stefan deu de ombros sem jeito.

— Bem, como eu disse, o meu espaço é meio escuro e...

— Não há necessidade de um discurso — Hal disse-lhe bruscamente. —


Apenas sim ou não servirá. Você tem um problema com o seu espaço para dormir?

Stefan olhou ao redor da tenda, assim como Ulf. Nenhum deles viu qualquer
apoio ou simpatia de seus companheiros.

— Hum... Sim. Eu acho que sim — disse Stefan finalmente.

Hal mudou seu olhar para Ulf. — E você? Você não está feliz também, não é
mesmo?

— Er... Sim. Acho que sim.

— Bom — disse Hal. — Nesse caso, vocês dois podem trocar.

Houve um momento de silêncio. Os outros meninos se viraram para esconder o


riso. Stefan e Ulf olharam para Hal, não completamente certos do que haviam ouvido.

— O que? — Stefan disse, finalmente.

— Trocar de área. Você pega a do Ulf. Ele paga a sua. Façam isso agora.

32 - Brotherband
— Mas... — Ulf começou. Na verdade, ele estava relativamente contente com o
seu espaço na entrada. Ele tinha se queixado simplesmente para ter algo a dizer. E
Stefan pensava a mesma coisa. Seu lugar na parte de trás da cabana era quente e
aconchegante. Podia ficar entupido ocasionalmente, mas que era uma questão pequena
neste tempo frio.

Ambos os meninos percebiam o quão tolo pareceria se eles mudassem de ideia


agora. Ainda assim, eles hesitavam.

— Eu posso pedir a Ingvar trocar os lugares, caso queiram — Hal propôs, e isso
foi o suficiente para fazê-los se moverem. Eles sabiam que se Ingvar trocassem seus
pertences de lugar, ele deixaria suas coisas caírem e as dispersaria através de toda a
cabana. Eles trocaram de lugar, movendo seus sacos de dormir, as pequenas pilhas de
pertences e suas roupas para os novos lugares.

Quando Stefan desdobrou seu saco de dormir, uma rajada de vento gelado
balançou a cabana. O retalho de lona na entrada fez pouco para pará-lo. Ele olhou
relutantemente de volta para o seu antigo lugar acolhedor na parte de trás, onde Ulf
agora estendia seu próprio saco de dormir. Ele suspirou. Ele supôs que devesse sentir
ressentimento para com Hal, mas ele era honesto o suficiente para admitir que fosse
tudo culpa sua. Como Ulf, ele só tinha se queixado porque era uma das poucas
atividades disponíveis para eles. Hal tinha feito nada mais do que pagado para ver seu
blefe.

Hal assistiu, de pé, com os braços cruzados sobre o peito, enquanto os dois
rapazes trocaram de lugar. Os outros deitaram em seus sacos de dormir, apoiados em
seus cotovelos e assistindo com sorrisos largos. Eles admiravam o modo que Hal
puxado o tapete dos dois tripulantes resmungões. Seus sorrisos diminuíram quando a
troca foi concluída e a voz de Hal disparou um novo comando.

— Muito bem, todo mundo! Levem seus traseiros para fora! Imediatamente!

Eles levantaram-se incertos. Jesper franziu o cenho quando olhou para fora
através da entrada e de volta em direção a seu saco de dormir.

— Está chovendo — disse ele. — Por que nós temos que ir lá fora?

Ele sentiu o aperto de um punho de ferro em seu braço esquerdo e olhou em


volta para ver o rosto de Stig a poucos centímetros do seu.

— Porque o seu skirl disse! — Stig disse a ele, sorrindo ferozmente. — Agora,
vamos!

Em seguida, Jesper foi empurrado através da cortina de lona e atirado


cambaleando na grama molhada do lado de fora. Ele levantou desconsolado,
esperando os outros se juntaram a ele. Um por um, eles vagaram para fora da cabana.

Os Invasores - 33
Stig foi o último a sair. Ele parou ao lado de Hal enquanto ia.

— É bom ter você de volta no comando — disse ele.

Hal assentiu, desculpando-se. — Desculpe, eu deixei as coisas relaxarem. Os


coloque em formação, tudo bem?

Stig assentiu, ainda sorrindo, e seguiu os outros para fora no aberto. Hal
esperou alguns segundos, tomou uma respiração profunda, em seguida, saiu para se
juntar a eles.

Ele viu Thorn em um canto, sentado em um tronco. O velho lobo do mar


esfarrapado acenou discretamente em aprovação. Obviamente, ele tinha ouvido tudo o
que se passou dentro da cabana.

Os outros membros da tripulação estavam alinhados em um semicírculo,


esperando por ele. Stig estava no lado direito do fim da linha. Hal se adiantou e olhou
intensamente ao longo da linha de rostos, com atenção especial para os de Ulf e
Stefan. Ele teve o prazer de ver que nenhum traço de ressentimento remanescia em
suas expressões. Honestamente, ambos tinham uma admiração relutante com a
maneira que Hal tinha lidado com suas queixas. Jesper, ele observou, parecia um
pouco mal-humorado, possivelmente por causa do tratamento rude de Stig. Hal deu de
ombros mentalmente. Jesper muitas vezes parecia mal-humorado. Os outros meninos
estavam esperando ansiosamente para ouvir o que ele tinha a dizer.

— Perdemos nossa vantagem — disse Hal, e viu alguns deles o olhar com
curiosidade. — Passamos três meses em treinamento com os Brotherband para
ficarmos aptos, aprendendo a criar armas e marinharia. O melhor de tudo, nós
aprendemos a operar como uma irmandade — trabalhar juntos como uma equipe e
ajudar um ao outro. Agora isso parece ter evaporado. Nós nos tornamos estranhos
outra vez.

Os meninos trocaram olhares e ele podia ver seu acordo relutante com o que ele
tinha dito. Edvin deu um meio passo a frente.

— Nós estamos entediados — disse ele. — É simples assim. Não há nada para
fazer aqui, a não ser ficar parado o dia todo.

Vários dos outros murmuraram em acordo. Hal escondeu um sorriso encantado.


Ele poderia ter alegremente abraçado Edvin por afirmar o problema para ele.

— Isso está certo. — disse ele. — E isso vai mudar. A partir de amanhã, vamos
voltar ao treinamento.

Houve uma reação mista para isso. Stig, Edvin e Stefan assentiram em
aprovação imediata. Os gêmeos consideraram por alguns segundos e depois acenaram
com a cabeça também. Jesper, previsivelmente, foi o único a levantar uma objeção.
34 - Brotherband
— Treinamento? Que tipo de treinamento?

Hal o encarou firmemente até Jesper baixar os olhos. — O tipo de treinamento


que fizemos no Brotherband. Habilidades de arma. Treinamento físico. Marinharia.
Manuseio de velas.

— Mas nós fizemos isso. Por que fazer isso de novo?

Hal aproximou de Jesper para fazer seu ponto.

— Nós fizemos isso por três meses. Três meses! Você acha que sabe tudo
depois de um período tão curto? E nós estamos planejando enfrentar o Corvo e sua
tripulação de cinquenta piratas. Eles são guerreiros que passaram toda a sua vida
lutando e matando. Você acha que o treinamento de três meses nos preparou para
enfrentá-los? Porque eu não. E eu quero ganhar o Andomal de volta quando enfrentá-
los, e não ser morto na tentativa. — Ele virou-se para Thorn, ainda sentado no tronco
caído.

— Thorn — ele chamou. — Você vai assumir o cargo de treinador?

A figura peluda se levantou lentamente do tronco e caminhou para se juntar a


eles.

— Com prazer — disse ele, quando estava mais perto.

Stig levantou a mão para chamar a atenção de Hal. — Hal, você disse que ia
praticar marinharia e manejo de vela. Como podemos fazer isso enquanto estas
tempestades continuam soprando?

Hal acenou com a apreciação de questão. — Nós vamos montar um mastro aqui
em terra e fraudar as velas e vergas nele. Nós vamos fazer com que Ingvar possa girá-
lo de acordo com o vento, e nós vamos trabalhar em nossas habilidades de manusear e
montar a vela. Se houver uma calmaria, vamos montar no mar, ou fazer o treinamento
na baía.

Stig pensou na resposta, com a cabeça inclinada para um lado. — Boa ideia —
disse ele.

Hal sorriu. — Eu pensei que fosse. — Então, como outra mão foi levantada, ele
voltou-se um pouco cansado para Jesper. — Sim, Jesper. O que foi agora?

— Bem, sem querer ofender — ele começou, e Hal teve um momento para
refletir que sempre que as pessoas começaram com “sem ofensa” que,
invariavelmente, era extremamente ofensivo. — Mas o que qualifica Thorn para nos
treinar? Eu quero dizer... Ele é Thorn, apesar de tudo. Sem ofensa — repetiu ele.

Thorn sorriu para ele, mas o sorriso não alcançou seus olhos.

Os Invasores - 35
Hal virou-se para ele. — Thorn, gostaria de mostrar Jesper o quanto você está
qualificado?

Thorn pareceu pensar sobre a questão. Em seguida, moveu-se com uma


velocidade estonteante, cobrindo o a distância entre ele e Jesper.

Jesper, um ex-ladrão, estava acostumado a se movimentar rapidamente quando


ameaçado. Mas ele nunca teve tempo para registrar que Thorn estava se movendo. A
mão esquerda do velho lobo do mar se fechou no colarinho de Jesper em um punho de
ferro e ergueu o menino fora de seus pés, segurando-o suspenso, seus pés balançando
acima do solo.

Então, ele concentrou-se e atirou Jesper longe como um saco de batatas. O


menino voou vários metros através do ar, bateu no chão e perdeu o equilíbrio, caindo
de costas. Enquanto ele estava sem fôlego, olhou para o rosto barbudo de Thorn, um
rosto envolto em um sorriso feroz.

— Como você avalia as qualificações?

Jesper assentiu várias vezes, e acenou fracamente em resposta.

— São muito boas — ele arfou sem fôlego. — Muito boas, de fato.

36 - Brotherband
Capítulo quatro

H avia apenas um leve brilho de luz tocando as copas das árvores no


promontório oriental quando Thorn acordou os meninos na manhã
seguinte.

Talvez acordar seja um pouco enganador. Isso implica certa quantidade de


cuidado e consideração. O velho lobo do mar irrompeu na cabana, gritando vários
decibéis acima de sua voz e sacudindo cobertores, onde se escondiam formas
choramingando. Ele carregava um bastão longo, feito de um ramo de nogueira
aparada e bateu ruidosamente sobre os quadros da cabana para pontuar seus gritos.

— Acordem! Acordem! Acordem! — Ele rugiu. — Há uma luz do dia


perfeitamente boa para que seja disperdiçada e nós temos apenas uma chance antes
que ela se vá! De pé e vistam-se. Acordem! Acordem! Acordem!

— Que luz do dia? — Stig resmungou, com os olhos turvos. — Eu não vejo
nenhuma luz do dia.

— Há muito dele nas estepes orientais — Thorn disse a ele. É claro, mais ao
leste, o sol teria subido horas atrás. Então, ele sorriu maldosamente a Stig. — E se
você não se mexer, eu vou te deixar vendo estrelas.

Ele bateu o bastão de nogueira no chão a poucos centímetros da cabeça de Stig.


Assustado, o menino musculoso saltou a frente de seu saco de dormir e começou
desastrado a pôr suas calças. Ainda meio adormecido, ele conseguiu tropeçar e cair
enquanto as puxava. Em torno dele os outros membros da tripulação estavam tendo o
mesmo problema. Thorn observou-os, balançando a cabeça em desgosto.

— Que bando de velhas tagarelas que vocês são! — Seu olho caiu em Hal, que
estava com as mãos nos joelhos, em busca de suas roupas, sem saber que elas estavam
escondidas sobre os cobertores que Thorn tinha arrastado de cima dele. Ele bocejou,
então o bocejo se transformou em um grito quando Thorn lhe deu uma batida não
muito suave no traseiro com o bastão de nogueira.

— E você é o skirl! — Thorn disse com desdém. — Você deveria estar


liderando o caminho, não tropeçando em volta, sobre suas mãos e joelhos, como um
velho e sonolento texugo! Levanta! Levanta! Levanta!

Os Invasores - 37
Em poucos minutos, os Garças estavam de pé em uma linha irregular fora da
tenda, alguns deles ainda fechando suas calças e jaquetas, todos eles de cabelos
desgrenhados e tremendo na fria e fraca manhã. O brilho tênue sobre as copas das
árvores era agora um vermelho muito mais definido. Stefan olhou com inveja para sua
cama quente. Apesar das previsões de Ulf que ele congelaria em seu novo e gelado
lugar, ele dormiu profundamente e feliz, até Thorn, o louco, aparecer gritando e
batendo, assustando-o.

Thorn, irritantemente jovial e depressivamente bem acordado, inspecionou


farejando, envergonhando o grupo.

— Pelos ossos secos e quebrados de Gorlog, mas vocês estão deprimentes —


ele trovejou. — Vocês dão medo em qualquer coração de pirata — falou assim que
parou de rir. — Agora, vamos ficar aquecidos! Pular! Pular e bater palmas sobre suas
cabeças. Vamos lá!

Relutantemente, eles começaram a saltar no lugar, batendo suas mãos sobre


suas cabeças como ele mandou. Thorn caminhou para a parte de trás deles, exortando-
os a maiores esforços com um fluxo de abuso e pancadas juridicamente colocados
com o bastão de nogueira.

Stig, próximo na linha de Hal, murmurou com o canto da boca enquanto ele
saltou no ar e bateu palmas.

— Acho que preferia quando ele era um velho bêbado. Este Thorn reabilitado é
um pouco difícil... OW!

A exclamação veio quando Thorn, que havia se aproximado sem Stig se dar
conta, colocou um pouco de veneno extra em uma pancada em seu traseiro. Ardido
pelo golpe, Stig pulou um tanto mais alto do que ele havia planejado, e Thorn riu.

— Esse é o caminho, menino Stig! Alto e mais duro! Mostre aos outros como
fazê-lo!

Stig reprimiu uma réplica, irritado e continuou a pular e bater palmas. Enquanto
o fazia, percebeu que já estava se aquecendo. O sangue estava fluindo livremente
através de seus braços e pernas e aquecendo suas extremidades. E, como respirava
profundamente com o exercício, o oxigênio que estava entrando em seus pulmões
estava levando a sonolência para longe.

Ao lado dele, Hal sorriu para ele sem simpatia. As pessoas sempre acham
divertido quando vêem um amigo sofrendo, Stig pensava.

— Serviu por estar conversando... OW! OW!

Hal tinha certeza de que Thorn havia se afastado de trás deles. Agora ele
percebeu que o velho e surrado lobo do mar tinha, furtivamente, passado para suas
38 - Brotherband
costas, despercebido. Não pela primeira vez, ele ficou maravilhado em como
silencioso e rapido Thorn podia se mover nestes dias.

— Devia estar dando um exemplo melhor, skirl! — Thorn deu uma gargalhada.

Alguns dos outros Garças riram também. Lentamente, esfregando seu traseiro
ardido, Hal refletia sobre as táticas de Thorn. Punindo o skirl, ele se certificou de que
não poderia haver acusações de favorecimento feitas a ele. E isso definitivamente
levantou o ânimo dos outros por verem Hal saltar, em choque - exatamente como
haviam aplaudido quando isso aconteceu a Stig.

Thorn se moveu para trás da linha, parando atrás de Ingvar. O menino grande
mal estava saindo do chão. Seu rosto foi definido em linhas determinadas e tentou
lançar-se mais alto acima do chão com cada salto. Era seu tamanho que o mantinha
preso a terra. Mas ele estava tentando. Thorn o observava com aprovação por vários
segundos, acenando com a cabeça para si mesmo. Havia muito valor em Ingvar,
pensou, míope ou não. O senso de lealdade de Ingvar para com Hal significava que ele
era sempre o primeiro a se oferecer quando havia uma tarefa a ser feita.

— Não me bata, Thorn — Ingvar disse, algum sexto sentido avisando-o que
Thorn estava atrás dele. — Estou saltando o mais alto que posso.

— Eu posso ver que sim, Ingvar — Thorn disse suavemente. Ele moveu-se,
casualmente sacudindo o bastão de nogueira no traseiro de Ulf conforme andava.

— Ai! — Ulf chorou. — Por que você fez isso? — Ele tinha estado pulando e
batendo palmas tão alto e forte quanto podia.

— Erro meu — disse Thorn. — Eu pensei que você fosse o seu irmão.

— Ah. Tudo bem, então — respondeu Ulf.

Thorn franziu o cenho, imaginando uma lógica perversa para um comunicado.


Finalmente, ele contornou o fim da linha onde os meninos se exercitavam e virou-se
para enfrentá-los.

— Isso é o suficiente — ele gritou e, agradecidos, eles pararam de pular e


pinotear. Alguns deles se inclinaram para frente, apoiando as mãos nos joelhos para
respirar profundamente. Houve uma ou duas tossidas a partir da linha da frente de
meninos.

— Vocês realmente deram tudo que tinham, não é? — Thorn repreendeu-os.


Não houve resposta. Os meninos tinham vergonha de perceber que ele estava certo. Já
havia várias semanas, desde que tinham sido submetidos a este tipo de exercício
rigoroso, considerando que durante seu treinamento brotherband tinha sido um evento
diário. Mesmo durante a corrida ao longo da costa com o Garça-Real, eles não tinham
tido que remar. Eles tiveram um vento constante sobre a viga o tempo todo.
Os Invasores - 39
— Muito bem — continuou Thorn. Ele apontou para a praia, longa e curva, que
corria ao longo da margem da baía. — Está na hora de uma corrida.

Os meninos olharam na direção que ele apontava e gemeram. A praia tinha


quase dois quilômetros de extensão.

— Para baixo e de volta — disse ele. — À direita da extremidade distante.


Vocês estão vendo aquela areia, agradável e firme ao longo da borda da água?

Ele esperou até que eles olhassem e depois acenou com a cabeça, eles viam.

— Bem, não iremos correr nisso, não é? Nós estamos indo correr na areia,
desagradável, macia e seca acima da marca d'água alta. Muito melhor para nós.

— Nós? — Stefan perguntou. — Você vem também?

Thorn olhou para ele, uma luz de diversão em seus olhos. — Bem, agora, o que
você acha?

Stefan encolheu os ombros com resignação. — Eu acho que você vai ficar aqui.

— E quem disse que você era lento pra pensar? — Thorn respondeu. Então ele
fez um gesto enxotando-os. — Podem ir. E lembrem-se, nada de andar. Eu estarei
observando vocês todo o caminho.

Os meninos se viraram e partiram em um grupo irregular, Jesper movendo-se


rapidamente para a liderança. Como eles enrolam sempre, Thorn soltou um comando.

— Edvin! Você não! Volte aqui!

Edvin abandonou o grupo e voltou para onde Thorn estava, com a cabeça
inclinada, curioso.

— Eu fiz alguma coisa errada? — Ele perguntou, olhando o bastão de nogueira


de Thorn com cautela.

Thorn balançou a cabeça. — Nem um pouco. Acenda uma fogueira. Faça chá e
tenha um pouco de bacon e pão pronto para eles quando voltarem. Eles vão precisar
de um bom café da manhã.

Havia um calor e um nível de preocupação em sua voz que desmentia seu jeito
indiferente, espreitando os meninos enquanto faziam aquecimento. Edvin, colocando
gravetos secos em uma pilha, na forma de pirâmide, na lareira, observou o velho
guerreiro astutamente.

— Você não é realmente tão mau como mostrou lá fora, não é?

40 - Brotherband
Thorn olhou friamente. — Oh, sim, eu sou — respondeu ele. — E você vai
descobrir o quão significa que eu posso ser, se você contar a alguém de outra forma.

Algum tempo depois, a perdida irmandade dos Gaças voltou para o


acampamento. Eles haviam enrolado durante a corrida. Jesper estava bem na frente
quando eles voltaram e Thorn percebeu que o menino estava respirando mal, com
dificuldade. Ulf, Stefan e Wulf vieram em seguida, e, finalmente, Hal e Stig
chegaram, cada um segurando um braço do pesado Ingvar. Thorn franziu os lábios.
Uma pena, pensou ele. Ingvar era tão grande e poderoso e tinha enormes reservas de
força. Era sua visão pobre que o estava prejudicando. A miopia o deixava desajeitado,
porque ficava constantemente preocupado com a perda do equilíbrio. Podia ver apenas
o suficiente para torná-lo temeroso.

Thorn bateu o bastão em sua perna. Talvez houvesse algo que ele pudesse fazer
sobre isso, pensou ele.

Então, distraidamente, ele bateu um pouco mais forte do que ele pretendia.

— Ai! — murmurou, fazendo uma nota mental para não fazer isso de novo. Ele
olhou para cima e viu que vários dos Garças, agora comendo pão quente e bacon,
estavam sorrindo para ele. Franziu a testa e os sorrisos desapareceram.

Mas ele sabia que aqueles sorrisos ainda estavam lá, abaixo da superfície, e ele
estava contente com o fato. Ele não os queria intimidados e ressentidos. Ele precisava
construir seus espíritos e ajudá-los a recuperar o espírito de equipe que tinham perdido
durante os dias longos e chatos em campo.

Ele acenou a Edvin. — Você já comeu? — Perguntou.

Edvin balançou a cabeça. — Eu estive ocupado servindo a comida. Estava


prestes a fazer.

— Então a coloque para um lado para se manter aquecida. É a sua vez de dar
uma corrida agora.

Edvin olhou desesperado. — Mas eu sou o cozinheiro! — Protestou.

— Sim, você é. E se você se encontrar enfrentando algum pirata sanguinário


intencionado em separar sua cabeça do seu corpo, eu tenho certeza que você pode
dizer isso a ele.

Ele fez uma pausa enquanto Edvin avaliava o que foi dito e, lentamente,
assentiu com a cabeça relutante.

— Entendo seu ponto de vista — ele falou.

Os Invasores - 41
Thorn deu um tapinha no ombro dele. — Além disso, desta forma você pode
ver que eu sou realmente como a maioria diz — ele disse. Então, ele arruinou o efeito
dessa declaração, apontando para um pequeno bosque de árvores no meio da praia.

— Não há necessidade de correr o caminho todo. Só para aquelas árvores e


volte. Então você pode ter o seu café da manhã.

Edvin virou-se, em seguida, voltou-se novamente.

— Thorn — disse ele — não se preocupe. Eu não vou dizer a ninguém que
você não é malvado.

— Faz bem ao meu coração ouvir isso —, Thorn disse a ele. Então ele fez o
mesmo movimento de enxotar e Edvin partiu para a praia, observado com curiosidade
pelos outros meninos. Eles tinham acabado de comer e estavam inclinados para trás,
relaxando, com o resto do último de seus chás quentes. O relaxamento não durou
muito tempo com Thorn forçando-os a ficar de pé.

— Tudo bem! Mais trabalho a fazer! Lavar e limpar o acampamento. Alguém


cuide das louças de Edvin, então estejam de volta aqui em 15 minutos! Tragam suas
facas saxônicas

Os meninos rapidamente passaram a trabalhar, lavar nas águas geladas de um


riacho que corria para fora da floresta e para a baía, em seguida, arrumar o
campamento direito. Edvin voltou a tempo e comeu seu café da manhã tardio, eles
foram agrupados em torno de Thorn que olhou pensativo para Hal.

— Esta geringonça que está construindo — disse ele, apontando para oficina na
tenda de Hal. Hal assentiu. — É importante, ou é apenas alguma grande idéia,
semelhante à rede de água que você construiu na cozinha de sua mamãe?

Hal suspirou. — Nunca vão esquecer isso, não é?

Thorn empurra para fora o lábio inferior, pensativo, em seguida, olhou para
Stig. — O que você acha, Stig?

O rapaz alto balançou a cabeça. — Eu acho que não. — respondeu ele.

— Nem eu — disse Thorn. Ele se voltou para Hal. — Bem, o que você dizia?

Hal deu a ambos os seus amigos um olhar resignado antes de responder. —


Esse vale a pena — disse ele. — Isso pode nos dar uma vantagem sobre Zavac e seus
homens quando alcançá-los.

Thorn assentiu, satisfeito. — Nesse caso, iremos em frente. Eu suponho que


você precise de Ingvar?

42 - Brotherband
— Sim. Ele está me ajudando com isso.

Thorn olhou para Ingvar e fez um gesto com o polegar. — Tudo bem, Ingvar,
você fica e ajuda Hal. O restante de vocês venha comigo.

— O que vamos fazer? — Ulf perguntou.

— Vamos reunir vinhas e mudas de faias jovens para fazer corda. Muitas
cordas.

— Por que queremos muitas cordas? — Wulf perguntou, e seu irmão fez uma
careta para ele. Ele ia fazer essa pergunta.

— Porque quando você faz uma rede, você precisa de muita corda — Thorn
respondeu. Então, vendo várias bocas abertas, ele antecipou a próxima pergunta. — E
ninguém pergunte por que precisamos de uma rede.

Os Invasores - 43
Capítulo cinco

E rak e Svengal observaram as ondas balançando através da estreita


entrada do porto de Hallasholm. Onde elas chocavam-se contra as
paredes protetoras de pedra de cada lado, spray branco explodia alto no
ar. Os dois lobos do mar ouviram o som alto das ondas quando elas quebraram, e
sentiram o impacto com uma fraca vibração abaixo dos pés. A parte inquebrável de
cada onda que passava pela entrada varria através do porto até bater no cais sólido.
Por um segundo, aquela onda parecia crescer, então ela erguia-se e água verde iria
crescer no cais, mais de um metro de profundidade, apenas explodindo em spray
quando batesse na parede interior de retenção.

O vento era implacável, soprando do sudoeste e lamentando-se através dos


mastros e cordames dos barcos rebocados em segurança na praia, bem acima da linha
d’água. Havia um constante chocalho de adriças soltas quando elas estalavam para
frente e para trás contra os mastros.

Wolfwind, o navio viking de Erak, estava na praia. Sentindo que o tempo ia se


deteriorar ainda mais, Svengal o havia movido de sua posição original contra o cais,
no oposto da entrada do porto. As ondas lá oscilando agora eram muito perigosas para
o navio. Não importava quantas defesas de vime eles haviam colocado ao longo das
laterais para protegê-lo da parede do cais, naquele tipo de tempo elas logo estariam
amassadas e lascadas, e então o próprio casco iria começar a sofrer danos.

No caso de uma grande onda, haveria ainda a possibilidade de o barco ser


varrido completamente para cima do cais.

Assim como os outros barcos na praia, ele tinha um longo toldo de lona sobre o
casco aberto para manter longe o pior do vento e do spray. Erak inspecionou-o
pensativo.

— Ele está equipado e com provisões? — ele perguntou.

Svengal assentiu pacientemente. Era apenas a décima vez que Erak lhe fazia
aquela pergunta na semana que havia passado.

— Até onde ele possa estar. Há alguns produtos perecíveis que nós iremos
colocar a bordo no último minuto: pão, carne e água fresca; E há outro equipamento
que eu não quero encharcado pela chuva e spray. Mas uma vez que essa tempestade
acabar, estaremos prontos para ir em uma hora.

44 - Brotherband
Erak resmungou, mal-humorado, olhando para o mar mais uma vez e farejando
o ar.

— Uma vez que essa tempestade acabar — ele repetiu. — Quando quer que
isso aconteça.

— Não pode durar muito mais tempo — Svengal falou otimista. — Tem caído
por dez dias seguidos.

— Conheci uma tempestade quando era garoto que caiu sem parar por um mês
— Erak respondeu.

Svengal arqueou uma sobrancelha. — Assim você continua me contando,


chefe. Mas pense sobre isso. Tempestades como essa não acontecem com muita
frequância. Você era um garoto, e isso faz muito tempo.

Erak olhou de soslaio para seu antigo imediato, refreando o que ele viu como
um insulto implícito.

— Não faz tanto tempo assim — ele falou rigidamente. — Eu não estou
exatamente com o pé na cova.

Svengal rolou seus olhos para o céu. — Você não está na flor da juventude,
tampouco.

Erak alinhou os ombros e virou-se para encarar Svengal diretamente.

— Flor da juventude? — ele repetiu incrédulo. — Flor da juventude? Isso é um


pouco sofisticado, não? Quando você se tornou um poeta?

— Tudo bem — Svengal respondeu. De fato, ele havia ouvido a frase em um


poema de amor lido para ele por uma moça impressionantemente atraente algumas
noites antes, e ele havia ficado bastante cativado com isso. É claro, isso parecia mais
apropriado em sua companhia do que na de Erak. — Se você prefere uma conversa
simples, deixe-me colocar desta maneira. Você não é tão jovem.

— É mesmo? — Erak deu meio passo para mais perto de Svengal, seu peito
estendendo-se agressivamente. O peito de Erak era uma questão substancial e havia
homens que poderiam ter se intimidado diante de um desafio tão óbvio. Svengal,
contudo, não era um deles. Ele era tão grande quanto Erak e conhecia o Oberjarl há
muitos anos. Eles navegaram juntos, invadiram juntos, celebraram juntos e
lamentavelmente perderam companheiros de navio juntos. Ele não iria ser intimidado
por ele agora só porque ele tinha um título extravagante.

— Chefe, eu não estou preocupado com sua idade avançada — ele falou, e viu
os olhos de Erak estreitarem-se. — O ponto em que estou querendo chegar é de que
você era um garoto quando aquela tempestade estendeu-se por um mês. E isso foi há
Os Invasores - 45
muitos, muitos anos atrás. Então não é o tipo de coisa que acontece frequentemente,
não é?

A expressão de Erak suavizou-se um pouco. O olhar morreu em seus olhos


enquanto ele pensava sobre as palavras de Svengal. — Eu suponho que não — Ele
falou relutantemente.

— Então, as chances de que esta tempestade não vá durar muito são boas, não?
— Svengal persistiu.

O Oberjarl assentiu. — Não. Acho que você está certo.

— E, em qualquer caso, aconteça isso ou não, não há nada que você, eu ou


minha querida velha tia Bessie possa fazer sobre isso, certo?

— Eu pensei que sua querida velha tia era chamada Winfreda? — Erak
desafiou.

Svengal encolheu os ombros. — Tia Bessie era sua irmã mais nova. Uma
mulher amável, ela era.

O Oberjarl balançou sua cabeça. Svengal gostava de invocar suas queridas


velhas tias para fazer apontamentos, mas seus nomes pareciam mudar regularmente.
Na última contagem, Erak conseguia lembrar-se de pelo menos nove.

— Em todo caso, o que ela tem a ver? — ele perguntou.

Svengal sorriu ironicamente para ele. — Ela gostava de dizer, Nós podemos
mudar nossos calções. Nós podemos mudar nossas mentes. Mas nós não podemos
mudar o tempo.

— Você acabou de inventar isso — Erak falou.

— Talvez, mas isso não faz com que seja menos verdade. Ou menos sábio. O
fato é, quando a tempestade finalmente perder suas forças, nós estaremos prontos para
ir em uma hora.

Erak pigarreou. A demora estava irritando-o. Ele não conseguia manter a


atitude filosófica de Svengal em relação a isso. Ele queria o Wolfwind longe e aueria
procurar pelos membros da irmandade dos Garças – e o navio pirata que havia partido
com o Andomal, o grande tesouro da nação de Escândia.

Ele olhou para as nuvens impulsionadas pelo vento correndo através do céu.
Não havia sinal de qualquer redução.

— Será apenas a minha sorte se essa for realmente à primeira vez que dure um
mês desde que eu era um garoto — ele murmurou.

46 - Brotherband
Svengal considerou aquele pensamento. — Eu acho que quando você pensa
sobre isso, o fato de que não tenha acontecido em muito tempo possa fazer com que
seja mais provável acontecer novamente agora.

Erak franziu as sobrancelhas para ele. — Você é de grande ajuda — ele falou.
Então ele se virou em direção ao caminho que conduzia de volta ao Salão Principal.
— Não há sentido permanecer aqui fora na chuva. Vamos dar uma olhada nos mapas
e ver se podemos descobrir onde eles podem ter ido.

Svengal acelerou o passo para juntar-se a ele. — Vamos ver se podemos


adivinhar, você quis dizer.

Erak grunhiu. — Isso também.

Eles entraram com passos largos no Salão Principal. O mal tempo significava
que havia mais homens reunidos ali do que o usual, bebendo e contando histórias
exageradas para passar o tempo. Eles olharam sem curiosidade para Erak e seu
primeiro imediato e alguns disseram cumprimentos. Muitos deles podiam adivinhar
onde os dois homens haviam estado.

Não houve permanência de atenção ou quaisquer outros sinais de consideração


quando Erak entrou. Ainda que ele fosse o Oberjarl, o líder supremo de toda Skandia,
Escandivanoos não acreditavam em reverências e mesuras. Eles eram muito
democráticos e gostavam de expressar sua independência com um show geral de
indiferença ao seu governante – a menos que ele estivesse zangado. Nesse caso, eles
certificavam-se em prestar atenção. Erak não ficou ofendido. Ele havia se comportado
da mesma maneira em relação ao Oberjarl anterior.

Gort era um em um grupo de homens sentados em uma mesa no outro lado.


Erak chamou sua atenção e acenou para ele. Gort havia sido o instrutor responsável
por treinar a Irmandade dos Garças. Ele provavelmente sabia mais sobre o barco deles
e suas capacidades do que qualquer outro em Hallasholm. Gort levantou-se, levando
seu copo de cerveja, e atravessou o Salão para se juntar a eles.

— Preciso do seu cérebro — Erak falou, e liderou o caminho para as salas


privadas.

Eles sentaram-se em uma larga mesa de madeira. Muitos dos móveis


Escandivanoos eram largos, condizentes com o tamanho de seus proprietários. Erak
abriu um mapa de Stormwhite diante deles e o analisou.

— Nós estamos tentando descobrir o quão longe Hal e sua tripulação podem ter
ido antes que tivessem de parar em alguma costa — ele explicou.

Gort inclinou-se para frente, seus olhos estreitando enquanto ele estudava o
mapa. Verdade seja dita, navegação estimada não era um de seus pontos fortes. Ele

Os Invasores - 47
havia instruído os garotos em náutica e construção de armas. Mas essa era uma
questão relativamente simples.

— Uma coisa, chefe — Svengal perguntou. — Por que eu estou procurando os


garotos? Por que não aquela cobra traiçoeira do Zavac?

Erak olhou para ele. — Obviamente, se você pode conseguir uma vantagem
sobre o Zavac, vá atrás dele. Mas há uma boa chance de que os garotos possam ter
alguma ideia de onde ele foi. Eles foram atrás dele quase que imediatamente e a trilha
ainda estava quente.

— E então se eu encontrar eles...? — Svengal perguntou hesitantemente. —


Você quer que eu os traga de volta? — Ele achava que sabia que estava na mente do
Oberjarl, mas ele gostaria de ter certeza.

Erak balançou sua cabeça. — Ajude eles — ele falou. — Há apenas nove deles
contra a tripulação do Zavac. Eles irão precisar de você.

— Eles têm Thorn, é claro — Svengal falou.

Gort olhou para ele. — E o que tem Thorn? — ele perguntou. — Ele é apenas
um velho bêbado quebrado, não é? — Ele lembrou que Sigurd, o instrutor sênior dos
Brotherband, uma vez deu a entender que havia mais em Thorn do que o olho podia
ver. Mas a conversa havia sido interrompida.

Erak e Svengal trocaram um olhar e Erak fez um gesto para Svengal explicar.

— Ele costuma navegar conosco — Svengal contou ao instrutor. — E ele era o


melhor lutador em nossa tripulação. Melhor do que eu. Melhor do que Erak — Ele
olhou para o Oberjarl em busca de confirmação e Erak assentiu brevemente. — O
único que chegou perto dele foi seu melhor amigo, Mikkel - o pai de Hal.

Gort franziu seus lábios, pensativo. — Ainda assim, que diferença um


guerreiro poderia fazer? Particularmente um homem com um só braço?

— Ele era mais do que apenas um guerreiro — Erak contou para ele. — Thorn
era o Maktig.

— Por três anos seguidos — Svengal adicionou, e aquilo fez Gort sentar
novamente.

— O Maktig? — ele falou. — Thorn? — O Maktig era aclamado como o


guerreiro mais poderoso em toda Skandia. Por alguma razão, Gort não conseguia
conciliar aquilo com a esfarrapada, bamboleante figura que ele conhecia. Então as
palavras de Svengal o golpearam e ele o encarou incrédulo. — Você disse três anos
seguidos? — ele perguntou. Ele tinha vinte e nove anos, era mais novo do que Erak e

48 - Brotherband
Svengal, e não tinha nenhuma memória dos dias antes que Thorn tivesse perdido sua
mão direita. Os outros dois assentiram sombiramente

— Ninguém nunca tinha feito aquilo — Erak falou. — Então mesmo sem uma
mão, ele ainda é uma força a ser contada.

— Particularmente desde que Hal fez aquele braço falso para ele — Svengal
falou. — Você viu? Um grande porrete incrustado de metais no final de um braço
falso. — Ele balançou sua cabeça. — Ele é um garoto e tanto, aquele ali.

Erak assentiu lentamente. — É por isso que quero que você os encontre e os
ajude.

— Mas você os puniu — Gort falou, franzindo as sobrancelhas. — Você os


separou e nos disse para excluirmos todos os registros da irmandade dos Gaças. E
você disse para eles entregarem aquele barco do Hal.

— Eu sei — Erak falou. — Eu tinha que ter visto para fazer aquilo. Eles
cometeram um erro terrível deixando o Andomal ser roubado, por isso tive que punir
eles. Mas eu também tive que dar uma chance para eles se redimirem. A única
esperança deles para qualquer espécie de futuro era recuperarem aquilo que haviam
perdido.

— Você sabia que eles iriam zarpar atrás do Zavac? — Svengal perguntou.
Erak nunca havia admitido aquilo para ele antes.

— Eu esperava que eles fossem. Não podemos nos dar o luxo de perder pessoas
assim. Eles têm muito potencial. Hal é praticamente um gênio quando se trata de
design de barcos, mesmo que a verga do Garça-Real pendesse um pouco para o lado.
E ele já é um timoneiro e navegador experiente.

— Ele perdeu um mastro na corrida final — Svengal protestou.

Gort balançou sua cabeça. — E ele recuperou-se disso. Ele lidou com o
problema brilhantemente improvisando. Todos podem cometer um erro, Svengal. É o
que eles aprendem disso e como se recuperam que mostra seu verdadeiro valor.

— Acredito que isso seja verdade — Svengal falou. Ele inclinou-se sobre o
mapa novamente. — Bem, vamos ver onde eles podem ter ido, e onde eles poderiam
ter se abrigado.

Ele fez um gesto circular sobre a seção do litoral com seu indicador.

Os outros se aproximaram. Svengal estava apontando para a costa oriental de


Stormwhite, uma área politicamente instável onde um número de pequenos estados
independentes, cada um mais conflituoso e incômodo que o outro, haviam competido
por anos para assegurarem uma seção da costa para si. Alguns eram pouco maiores do
Os Invasores - 49
que as cidades ou grandes vilas que eram nominalmente suas capitais. Outros podiam
esticar-se por dez quilometros ou mais ao longo da costa e além - até que algum
vizinho invejoso anexasse território deles.

Havia pelo menos uma dúzia dessas cidades-estado problemáticas e a situação


entre elas era de fluxo constante. Os cartógrafos da época haviam há muito tempo
desistido de tentar manter o controle delas, e tinham arbitrariamente marcado o
território como pertencente a Teutlandt. Os governantes de Teutlandt astuciosamente
aceitaram isso. Mas uma vez que seu país foi constantemente atormentado com
disputas internas e lutas pelo poder, eles não tiveram qualquer oportunidade de
verdadeiramente reivindigar à terra que lhes foi concedida pelos cartógrafos.

Mas então, Erak pensou, cartógrafos eram notoriamente preguiçosos e eles


raramente viajavam para aquela parte do mundo.

— Eles partiram aproximadamente dez dias antes que aquela tempestade tenha
se tornado realmente desagradável — Svengal falou. — Eu imagino que eles tenham
percorrido mais ou menos essa distância.

Mas Gort estava balançando sua cabeça mais uma vez. — Em um navio viking
normal, talvez. Mas o Garça-Real é rápido. Ele é um verdadeiro pássaro. E com o
vento em sua viga desse jeito, ele poderia muito bem ter ido a seu ponto de vela mais
rápido - mesmo com a vela rizada.

Ele pausou, apertando seus lábios em concentração enquanto movia seu dedo
mais longe abaixo na costa em relação ao ponto que Svengal havia indicado.

— Eles podem muito bem ter percorrido essa distância — ele falou, e os três
homens inclinaram-se para perto, estudando o mapa.

— Hal tinha uma cópia deste mapa, certamente? — Erak perguntou.

— Isso foi emitido para todas as irmandades em suas classes de navegação.


Conhecendo Hal, ele o manteve.

— Ali — falou Svengal repentinamente. Ele estava apontando para uma


pequena encosta, quase imperceptível, na costa. A entrada era virada para o norte e a
baía dentro era protegida por montes no lado sudoeste. — Aquele parece ser o melhor
abrigo em quilômetros ao longo da costa. Não é a favor do vento e é protegido por seu
promontório elevado. Se você pensa que ele podem ter ido tão longe, eu aposto que é
lá que os encontrarei.

— Se eles não tiverem afundado por causa da tempestade — Erak falou, mas
Gort fez um jesto negativo.

50 - Brotherband
— Eles não afundaram. Hal é um marinheiro muito bom. E o Garça-Real tem
uma boa tripulação. — Ele olhou desculpando-se para o Oberjarl. Erak tinha ordenado
que nenhuma referência jamais fosse feita para a Irmandade dos Garças — Desculpe.

Erak dispensou as desculpas.

— Então é lá que irei procurar por eles — Svengal falou, estudando o mapa
intensamente e imprimindo em sua memória os detalhes.

— Se essa tempestade algum dia acabar — Erak falou desanimadamente,


inclinando-se para trás da mesa.

Svengal sorriu ironicamente para ele. — Minha querida e velha tia Tabitha sabe
um pouco sobre o tempo — ele falou. — Irei ver o que ela pensa.

Gort franziu as sobrancelhas para ambos. — Sua querida e velha tia Tabitha? —
Ele não estava ciente de nenhuma senhora em Hallasholm com aquele nome. —
Quem diabos é ela?

Erak lhe lançou um olhar resignado. — Não pergunte — ele falou. — Apenas
não pergunte.

Os Invasores - 51
Capítulo seis

A
irmandade Garça gastou o resto do dia fazendo metros de fortes cordas,
torcendo jovens mudas de bétulas finas e trepadeiras juntas e então as
enrolando. No final do dia, seus dedos e pulsos doíam com o esforço de
torcer e entrelaçar os resistentes fios. Hal e Ingvar continuaram o trabalho na tenda
pequena. Os sons de cortes, conversas e martelar chegavam aos outros claramente.
Alguns deles queriam que os dois garotos parassem.

— Quando Hal estiver pronto ele nos dirá — Stig disse. — Ele não gosta de
mostrar seu trabalho muito cedo.

Apenas após o pôr do sol, Thorn deu uma pausa aos fazedores de corda e os
enviou em outra corrida pela praia enquanto Edvin preparava o jantar.

Naquela noite, depois da refeição, havia um pouco de conversa e certamente


nenhuma briga. Os garotos exaustos estavam contentes em rastejar para dentro de seus
sacos de dormir. Algumas horas mais tarde, o campo estava em silêncio, apenas com a
silhueta escura de Thorn aparecendo em frente ao que restou do fogo. Quando as
brasas finalmente morreram, ele andou em silêncio pela praia em direção ao navio,
subiu a bordo e se acomodou para passsar a noite.

Na manhã seguinte a rotina começou novamente depois da primeira luz. O


bastão de nogueira de Thorn batia forte tatuando a moldura da cabana e no traseiro de
qualquer garoto que era lento demais ao rolar fora de seus cobertores.

Ele os pôs no ritmo, agitando os braços e saltando alto no ar até que eles
estivessem perfeitamente aquecidos, então os enviou praia abaixo mais uma vez,
enquanto Edvin preparava a refeição.

Embrulhando um pedaço do bacon em uma fatia do pão, Thorn ocupou a si


mesmo projetando a corda em um padrão de rede, uns oito metros quadrados. Ele
ajustou os pedaços cruzados e então os lados quadrados da rede estavam com quarenta
e cinco centímetros de largura. A tripulação voltou faminta pelo café da manhã. Eles
agarraram seus pães com bacon e chá quente e lotaram ao redor para estudar o
trabalho de mão de Thorn.

— É uma rede — Disse Stig. — Porque nós precisamos de uma rede?

Thorn não falou nada. Garotos e suas perguntas, ele pensou consigo mesmo.

52 - Brotherband
— Uma grande e bonita malha —, Stefan comentou. — O que nós vamos pegar
com isto? Ursos?

Thorn o estudou por um momento, sério.

— Não. Nós estamos atrás de uma presa até mais horrível —, ele disse. Então,
como Stefan bateu cabeça com a questão, ele adicionou, — Garotos adolescentes. Eles
não são tão ferozes quanto ursos, mas cheiram pior.

— Você é o ultimo a poder falar isso —, Hal disse.

Thorn levantou suas sobrancelhas. — Eu cheiro bem — ele disse.

— Bem, você cheira. — Hal concordou.

Thorn olhou pra ele com suspeita. — Eu tomei banho apenas cinco semanas
atrás — ele disse, então decidiu que não havia um ponto em trocar palavras com o
jovem skirl.

— Arrumem o acampamento. Então voltem aqui — ele disse bruscamente, e os


garotos sorriram, apressados com suas tarefas.

O dia anterior, enquanto eles estavam cortando trepadeiras e partes de bétulas


jovens, Thorn juntou um estoque de fortes videiras, da espessura de cordas finas. Ele
as jogou no chão quando os garotos retornaram.

— Amarrem as interseções da rede juntas — ele disse. Então ele gesticulou pra
Ulf e Wulf. — Vocês dois, cortem um feixe de estacas de meio metro. Aparem-nas e
afiem as pontas.

— De quantas você precisa? — Ulf perguntou.

Thorn pensou por alguns segundos. — Dezesseis devem ser o suficiente.

Eles partiram para a floresta. No momento que eles retornaram com o feixe de
estacas, os outros terminaram rapidamente de juntar a rede. Thorn inspecionou,
puxando alguns nós. Mas todos os garotos tinham trabalhado com barcos, cordas e nós
desde pequenos e todos os nós estavam apertados.

— Muito bem —, ele disse. — Eu quero esta rede suspensa trinta centímetros
acima do chão naquelas estacas. Coloquem uma estaca em cada canto, e outra no meio
ao longo de cada lado. Puxem a rede até ficar bem apertada. Não a quero afundando.

— Para que é isto? — Stefan perguntou.

Os Invasores - 53
— Derrubar ursos — Thorn falou pra ele. Ele parecia estar completamente sério
e Stefan fechou a cara. Ele parecia lembrar-se de ter ouvido sobre “Derrubar ursos”
em algum lugar antes.

— Derrubar ursos? — ele falou em dúvida.

— Pequenos ursos com uma membrana clara entre os braços e pernas que os
permite planar por quilometros pelo ar. Quando eles ficam cansados, eles caem do céu
— Thorn disse pra ele. — Desta forma, estaremos preparados para pegar um.

— Tão logo ele considere cair neste lugar em particular — Hal disse.

Stefan sentiu um sorriso em sua voz e virou rapidamente. Ele viu os outros
Garças tentando esconder sorrisos e percebeu que ele era o alvo da piada.

— Oh — ele disse. Ele considerou pegar a ofensa, então percebeu que não
havia um ponto pra isso. A piada de Thorn não foi maliciosa. Ele sorriu por sua vez,
então desafiou os outros.

— Mas se vocês são tão espertos, talvez um de vocês possam me dizer para o
quê serve aquela rede na horizontal?

Então Thorn riu. — Bom ponto, Stefan —. Ele olhou para os outros. — Bem,
algum dos gênios tem alguma ideia de pra quê isto serve? — Todos eles olharam
apropriadamente repreendidos. — Então vamos descobrir. Armas e escudos e
informem de volta aqui. Em duplas!

Assim que eles correram para a tenda para pegar suas armas, Thorn sorriu para
si mesmo. Esta pequena brincadeira entre Stefan e os outros era um bom sinal. Um dia
atrás, a troca teria sido sarcástica e uma briga poderia ter começado. Hoje, depois de
um dia de exercícios físicos e trabalho duro, seguido de uma boa noite de sono e mais
exercícios acima de tudo, a atmosfera no acampamento já estava melhorando. O tédio
estava sendo aliviado e os garotos estavam ansiosos para ver para quê servia a rede.
Havia um senso de propósito no grupo mais uma vez. Thorn sentiu uma pequena
descarga de prazer por saber que estava ajudando a criar isto.

Os garotos se enfileiraram com suas armas, cheios de expectativa. Thorn os


estudou pensativamente. Stig seria o melhor para começar, ele pensou. Ele era
atlético, bem coordenado e balanceado. Ele gesticulou para o garoto alto.

— Stig. Venha aqui. Coloque seus dois pés dentro da rede. Deixe um intervalo
de um quadrado entre eles.

Intrigado, Stig fez como ele falou, pisando dentro de dois espaços ao longo da
borda da rede. Ele olhou para Thorn.

54 - Brotherband
— Agora — disse o velho guerreiro, — Eu vou dizer as direções e você as
segue. Você vai avançar e voltar, ir à direita e à esquerda como eu falar pra você. Eu
irei dizer pra você quantos passos dar a cada vez. Você entendeu?

Stig concordou, franzindo a testa em concentração. Ele estava começando a


perceber para o que era isso.

— Tudo certo. Escudo pra cima. Machado pronto. Olhos pra cima - há um
selvagem Magyaran encarando você. Agora comece a se mover. Avance três... direita
dois... volte um... esquerda dois...

Enquanto ele dizia os movimentos, Stig realizava as ações, levantando alto seu
pé para limpar a rede e pisando levemente. A princípio, as instruções eram lentas e
constantes, mas conforme Stig ganhava confiança, Thorn aumentou o ritmo,
acrescentando meio à esquerda e meio à direita, então o garoto se movia
diagonalmente. Conforme Stig se movia, o rosto dele ficava mais sério estudando em
concentração, Thorn emitia outros comandos, relembrando Stig de manter o escudo
alto e os olhos para cima.

Depois de um minuto ou mais, o inevitável aconteceu, Stig prendeu seu pé


direito na rede conforme ele tentava seguir um comando para mover-se à esquerda e
foi caindo. Os outros riram, porém cada um deles sabia que seu companheiro teve um
desempenho muito bom. A maioria deles duvidou que pudessem igualar seus
movimentos seguros por tanto tempo.

Cabisbaixo, Stig subiu a seus pés. Mas ele foi recompensado por um aceno de
aprovação de Thorn, que então virou para inspecionar o resto do grupo.

— Nada para rir. Eu duvido que qualquer outro faça melhor.

O grupo acenou com bom humor. Mas Jesper - porque era sempre Jesper, Hal
pensou - teve que questionar Thorn.

— E quanto a você, Thorn? Você pode fazer aquilo bem?

Thorn considerou a questão e o garoto que perguntou, por alguns segundos.

— Hummm. Bom ponto. Eu posso fazer isso? Já faz um longo tempo. Eu posso
ter esquecido. Porém, vamos ver — Ele estendeu seu gancho de madeira para Stig —
Escudo — Ele disse, e Stig o ajudou a deslizar a correia sobre seu braço direito,
observando com interesse como Thorn fixou o engenhoso grampo na alça do escudo e
apertando isso.

— Machado — Ele disse, quando o escudo estava seguro. Ele pegou o machado
em sua mão esquerda e aprumou no seu ombro.

Ele andou em direção à rede, parando para olhar os garotos incertamente.


Os Invasores - 55
— Eu me pergunto se isto é mesmo uma boa ideia? — ele falou. Então ele
considerou e suspirou profundamente enquanto pisava dentro da rede. — Hal, você
comanda os passos.

Hal hesitou por um segundo, então começou a falar as instruções, colocando o


mesmo ritmo que Thorn havia começado com Stig.

— Avance dois... esquerda três... direita um...

— Mais rápido! — Thorn estalou e Hal aumentou o ritmo.

— Esquerda quatro, avance três, volte dois...

— Mais rápido! — Thorn falou. — O que é toda essa demora?

— Direita três, avance um, esquerda dois...

— Mais rápido! Vamos! Mais rápido!

— Volte-um-esquerda-dois-direita-três-meia-a-esquerda-avance-um...

E assim como Hal começou a emitir as ordens em uma aparentemente


interminável torrente, Thorn igualou-os facilmente, pisando alto e confiantemente
com cada um, nunca perdendo uma batida até parecer que ele estava dançando na
rede, movendo-se levemente na sola dos pés, sempre balançando, sempre em
movimento. Então ele começou a adicionar movimentos extras, arremetendo para o
lado com seu machado conforme ele foi para a esquerda, ou elevando seu escudo
sobre a cabeça conforme foi pra trás. Por fim, realizando a vez completa, pisando alto
ao redor de todo o circulo cheio, Hal hesitou na chamada. Um murmúrio de admiração
e surpresa passou pelos garotos quando eles viram, seus olhos rebitados na figura
saltando.

Então, ignorando a próxima série de ordens, Thorn girou de modo que estava
encarando-os e eles poderiam ver que ele estava com os olhos fechados. A voz de Hal
silenciou-se conforme Thorn executava um intrincado padrão de passos, seus pés
nunca tocando as cordas enquanto ele se movia. Então, seus olhos abriram
instantaneamente e ele avançou a frente para grupo de garotos que observavam,
correndo em grade velocidade e finalmente saltando no chão com os dois pés
abandonando a rede e agachando na terra a frente deles, o escudo pra cima e o
machado puxado pra trás da cabeça dele.

— YAAAAAH! — ele gritou para eles, e surpresos, eles recuaram


involuntariamente.

Thorn ajeitou de sua posição, abaixou o machado ao chão e sorriu para Jesper.

— Bem, o que você acha? — Ele disse. — Eu ainda consigo.

56 - Brotherband
Jesper acenou varias vezes. Ele estava impressionado - muito impressionado. A
ele fez um nota mental de não desafiar Thorn com muita frequência no futuro.

— Sim — ele disse. — E diria que você ainda consegue tudo certo.

— Thorn — Hal disse — pode nos dizer qual a função deste exercício?

Thorn olhou para ele e acenou. Hal tinha um bom entendimento dos princípios
de comandar um grupo, ele pensou. Algumas vezes, quando você primeiro impõe
disciplina, pode ser necessário exigir obediência cega. Mas existiam ocasiões que
havia real valor na explicação. Homens - e ele pensou no grupo agora como homens –
desenpenhavam melhor quando eles entendiam o porquê eles estavam sendo pedidos
para realizar uma tarefa. Com este exercício, ele queria mais do que obediência cega.
Ele queria que entendessem, sabendo que conduziriam ao maior compromisso e, ao
longo disso, às habilidades que poderiam salvar as vidas deles.

— Isto foi sobre velocidade e agilidade — ele disse. — Eles serão seus maiores
trunfou quando nós lutarmos com a tripulação do Corvo. Eles têm a experiência ao
lado deles da balança. Eles vêm assaltando e lutando por anos. Nós não temos isso.
Mas vocês são jovens. Seu principal trunfo será sua velocidade e agilidade quando
vocês lutarem. É o que nós estaremos trabalhando enquanto estivermos aqui.
Velocidade e agilidade. Nós treinaremos até nós as levarmos ao mais alto grau
possível para cada um de vocês. E se nós trabalharmos nisso, elas podem salvar suas
vidas.

Ele parou e olhou ao redor em suas faces, de repente sombrias de acordo com o
que eles pensavam sobre o que ele havia dito. Eles podiam ver além do bizarro
exercício com uma rede entre seus pés. Eles estavam vendo um momento quando o
tipo de agilidade e velocidade de movimentos que Thorn demonstrou poderia ser a
diferença entre vencer e perder. Viver ou morrer.

— Agora — ele disse, acenando em direção à rede — quem é o próximo?

Os Invasores - 57
Capítulo sete

A
manhã foi passando, e o resto da tripulação tiveram sua vez na rede,
com diferentes graus de sucesso.
Como Thorn esperava, Stig era o melhor neste exercício, e ele
melhorou cada vez que entrava na rede e fazia sua tentativa. Mas o velho guerreiro
ficou agradavelmente surpreso ao ver que Hal não estava muito atrás dele, e Jesper foi
praticamente igual ao Hal. Claro, Jesper era um ladrão e os ladrões tendem a ser ágil e
ter pés leves - bem como dedos leves. E Hal sempre teve um ótimo senso de
percepção espacial. Era uma das qualidades que fizeram dele um excelente exemplo
de timoneiro.
Ulf e Wulf foram bem, embora cada um tendia a zombar do desempenho do
outro — ridículo tendo em vista que um era igual ao outro. Stefan era capaz, mas
Edvin teve problemas com os buracos, muitas vezes efiando o pé neles e caindo antes
que tivesse avançado três ou quatro passos. Ele franzia a testa e tentava novamente -
invariavelmente tentando mover-se muito rapidamente e ficando triste novamente.
— Devagar — Thorn disse ele. — Você tem que trabalhar com isso para deixá-
lo se tornar instintivo. Andar antes de poder correr. — Edvin olhou para ele, face
vermelha e irritada com o que viu com o que via em seu próprio fracasso.
— Quaisqueres outros clichês que você gostaria de compartilhar comigo? —
Disse.
Thorn respirou fundo antes de responder. Seu primeiro instinto foi o de socar
Edvin na parte de trás da cabeça por ser tão insolente. Mas ele percebeu que o garoto
estava tentando. Na verdade, ele estava tentando muito. Ele podia ver os outros
realizando os movimentos com relativa facilidade e ele queria desesperadamente
combiná-los. Ele não tinha a mesma coordenação que os outros e estava tentando
compensar a fato indo rápido demais.
— Ouça minha contagem e desacelere — Thorn disse a ele. — Eu prometo a
você, você vai conseguir. Mas é algo que você tem que construir para cima. Você não
pode simplesmente entrar na rede e fazê-lo perfeitamente a cada vez.
— Stig pode. — Edvin respondeu.
Thorn balançou a cabeça. — Stig não pode — disse ele. — Ele foi melhor do
que você, porque ele é um pouco melhor coordenado e equilibrado do que você é. Mas
você pode fazer para isso. Você simplesmente tem que praticar. E construir a sua
velocidade. Não tente igualar a ele cada vez. Trabalhe em seu próprio ritmo e deixá-lo
construir. Tudo bem?

58 - Brotherband
— Tudo bem — Edvin concordou com relutância, e Thorn acenou a frente para
a rede mais uma vez.
— Agora, ouça minha contagem. Não tente chegar à frente de mim. Quando eu
ver que você está melhorando, eu vou acelerar. Entendido?
O rosto de Edvin foi definido em linhas determinados. Ele balançou a cabeça,
seus lábios se movendo sem palavras enquanto esperava comando da Thorn.
Desta vez, Edvin ficou com a contagem. Thorn ordenava os passos mais
lentamente do que antes e os outros meninos espreiguiçaram-se na grama e
observaram Edvin enquanto ele se movia, passos largos e com um cuidado exagerado
desta vez, com ritmo que Thorn ditava. Quando ele viu que o garoto estava
administrando o ritmo mais lento, Thorn imperceptivelmente aumentou a taxa da sua
orientação.
— Mantenha seus olhos para cima —, gritou repentinamente. Edvin deixava
cair o olhar para a rede a seus pés e isso era quase certamente um precursor de uma
queda. O garoto tinha de sentir o ritmo e a proximidade das cordas em torno de seus
pés. Se ele tentasse olhá-las, ele nunca iria acompanhar as orientações, mesmo com a
lenta velocidade que atualmente Thorn estava utilizando.
Thorn aumentou o ritmo um pouco mais e ainda assim Edvin se manteve de pé.
Finalmente, Thorn interrompeu o exercício e Edvin ergue-se, descansando a sua
espada em seu ombro, deixando o braço do escudo cair. Thorn bateu-lhe no ombro.
— Muito melhor —, disse ele.
Edvin balançou a cabeça. — Stig foi muito mais rápido do que isso — disse ele.
— Assim como Hal e Jesper.
— E você também será — Thorn disse a ele. — Quanto mais você trabalhar
nisso, mais rápido você vai conseguir. Confie em mim.
— Tão rápido quanto Stig? — perguntou Edvin. Thorn abriu a boca para
responder, em seguida, decidiu honestidade seria o melhor curso.
— Provavelmente não — disse ele, e viu uma luz raiva começar a arder nos
olhos de Edvin. — Mas você vai ser rápido o suficiente para salvar a sua vida no
campo de batalha, e isso não é tão ruim. Encare Edvin, todos nós temos diferentes
níveis de habilidade. O que devemos fazer é aproveitar ao máximo o que temos.
— Acho que sim — disse Edvin. Mas sua voz não tinha convicção.
Thorn olhou atentamente por alguns segundos, depois disse: — Eu sei o que
você está pensando. Você está pensando que se você praticar bastante e duro o
suficiente, você vai me mostrar que estou errado, que você pode ser tão rápido quanto
Stig. Correto?
O queixo de Edvin subiu e ele coloriu ligeiramente. Então ele respondeu,
desafiadoramente: — Sim. Isso é exatamente o que Eu estou pensando.

Os Invasores - 59
— Então, bom para você! — Thorn disse, e lhe deu um tapa com vontade nas
costas. O impacto foi tal que Edvin quase foi rolando ao longo da rede. Ele cambaleou
e, enquanto fez isso, deu vários passos largos para se recuperar.
— Boa escapada. — disse Thorn. — Agora, faça uma pausa. Você pode
praticar novamente mais tarde.
Ele viu quando o menino caminhou alguns passos de distância a partir da rede,
deixe o deslizamento escudo pesado de seu braço e caiu no gramado. Edvin iria
assumir o desafio, ele sabia. O menino tinha algo a provar para si mesmo, tanto
quanto para qualquer outra pessoa. Se isso lhe deu o incentivo que precisava para
melhorar o seu desempenho, tanto melhor. Como Thorn havia apontado, isso poderia
salvar sua vida um dia.
Finalmente, ele se virou para Ingvar e assentiu.
— Tudo bem — disse ele. — Vamos ver você.
Houve um murmúrio de expectativa a partir do resto do grupo. Até agora,
Ingvar não tinha tentado a rede. Ninguém esperava que Thorn fosse pedir-lhe para
tentar.
Ingvar se levantou, olhou na direção de Thorn e hesitou.
— Você tem certeza, Thorn?
— Sim, eu tenho certeza — Thorn disse irritado. — Eu não digo que as coisas
se eu não tenho certeza. Passo em frente para a rede.
Ingvar moveu-se desajeitadamente em frente para a borda da rede. Enquanto ele
ia para entrar nele, o seu dedo do pé esquerdo prendeu em uma das vertentes, e ele
cambaleou incerto, agitando os braços para manter o equilíbrio e soltando seu enorme
porrete no processo.
Alguém riu. Thorn se virou rapidamente e viu Stefan esconder um sorriso por
trás de sua mão.
Os olhos de Thorn se estreitaram.
— Rindo de um marujo, Stefan? — Disse ele, em tom enganosamente suave.
Stefan rapidamente assumiu uma forma mais expressão séria.
— Está tudo bem, Thorn — afirmou Ingvar. — Eu estou meio que acostumado
com isso.
— Bem, eu não estou. — Thorn dirigiu suas palavras ao grupo que assistia. —
No meu livro, nós nunca rimos ou tiramos sarro de um marujo que está tentando o seu
melhor.
— Yeah. Não seja idiota, Stefan — disse Ulf, e para surpresa de todos, Wulf
reiterou o pensamento de seu irmão.
— Isso mesmo. Cale a boca.

60 - Brotherband
As sobrancelhas de Thorn subiram em surpresa. Talvez a Grande Baleia Azul
voe até o sol, pensou.
— Desculpe — disse Stefan. Não era tanto a nota de advertência na voz de
Thorn que fez isso. Foi o fato que Ulf e Wulf, pela primeira vez em sua memória,
concordaram em alguma coisa. E esse algo foi o fato de que ele, Stefan, era um idiota.
Era um pensamento preocupante.
— Obrigado, companheiros — disse Ingvar.
— Não foi nada — disse Wulf.
E Ulf em coro: — Nada mesmo.
Então Wulf voltou para Thorn. — Continue, Thorn — disse ele
magnanimamente, fazendo um gesto com a mão direita.
Thorn balançou a cabeça. — Oh, muito obrigado — disse ele, e os outros
garotos todos sufocaram seu riso enquanto Wulf sorriu para eles.
— Isso foi bem dito — Ulf inclinou-se e disse-lhe.
Wulf assentiu satisfeito. — Eu sei.
— Na verdade, foi tão bem disse, eu estou surpreso que eu não disse isso — Ulf
continuou.
Wulf, que estava recostado sobre um cotovelo na grama, agora endireitou
abruptamente e olhou para seu irmão.
— Você está é? — Disse. — Bem, eu com...
— Deixem disso! — A voz de Hal cortou como um chicote e Wulf voltou-se
para ele.
— Deixar o quê? — Perguntou ele.
Hal abanou a cabeça em aborrecimento. — O que quer que você planeje dizer.
Só deixá para lá. Você conseguiu um riso de todos, pare enquanto você está ganhando.
— Mais como para enquanto você está perdendo. — Ulf riu, e Hal voltou seu
olhar para ele.
— Você deixe disso também — ele estalou e ficou surpreso quando Ulf parecia
bastante castigado.
— Sim, Hal — disse humildemente.
Hal voltou para Thorn e repetiu o gesto anterior de Wulf. — Continue, Thorn.
— Você tem certeza? — Thorn respondeu, com a voz cheia de sarcasmo. —
Ninguém tem nada a dizer? Vocês todos estarão satisfeitos por eu continuar, não é?
— Ele deixou o olhar viajar ao redor deles. Ninguém falou. — Bem, nesse caso, eu
acho que eu vou. Ingvar, você está pronto?
— Eu não tenho certeza, Thorn — Ingvar disse a verdade. Ele certamente não
sentia-se muito pronto.
Os Invasores - 61
— Tudo bem, então. Agora, você viu o que estava fazendo Edvin, correto?
— Ummm... não muito claramente. Houve um pouco de salto e braço acenando
acontecendo, não é mesmo?
Thorn reprimiu um sorriso. — Sim, pulando e acenando o braço é uma boa
descrição do que toda a gente vem fazendo —, disse ele. Edvin olhou devidamente
insultada pela descrição, mas ele não disse nada. Ele suspeitava que fosse uma
descrição bastante precisa do que ele estava fazendo.
— Muito bem, vamos tentar devagar, Ingvar. Pronto?
— Eu acho que sim.
— Eu gostaria que você saiba isso — Thorn disse ele.
O garotão assentiu várias vezes, lambendo os lábios nervosamente. — Tudo
bem. Eu sei que sim. — Mas ele não fez parecer convencido.
— Então, aqui vamos nós. Uma frente... dois para a direita... cuidado!
Este último comentário veio como Ingvar enganchou seu dedo do pé esquerdo
na rede e balançava precariamente. Com uma grande dose de dificuldade, ele
recuperou o equilíbrio e virou-se, olhando na direção de Thorn. Thorn esperou até ele
estava de pé uniformemente novamente e continuou.
— Bom. Agora, dois à frente... uma esquerda ... três certo ... uma ... ajuda-lo,
você vai, Stig?
Ingvar tinha prendido seu pé novamente e caiu em campo. No fim de Thorn,
Stig saltou para seus pés e soltou Ingvar vertical.
— Obrigado, Stig — disse Ingvar. Então ele se virou para Thorn. — Eu acho
que estamos perdendo tempo aqui, Thorn. Eu sou apenas nada de bom nisso.
Thorn coçou o queixo, pensativo. Ele notou que, como Ingvar movido, ele
estava olhando para baixo na net e aos seus pés. Foi uma reação natural. Na verdade,
ele tinha a dizer um par de os meninos não para fazê-lo, mas em vez de manter seus
olhos para cima e sentido em que seus pés estavam indo. Ele caminhou em direção
Ingvar agora.
— Ingvar, você pode ver a rede? — ele perguntou.
Ingvar encolheu os ombros com tristeza. — Está muito borrada.
— Eu acho que pode ser o problema. Você pode vê-la. Mas você não vê-la bem
o suficiente, e que está causando sua perda de equilíbrio. Você está tenso porque você
é incerto. Vamos tentar algo. Feche os olhos para mim.
Ingvar obedeceu.
— Agora respirar muito firmemente — disse Thorn. — Dentro e fora. Dentro e
fora. — Ele observou ombros do menino subindo e descendo. — Agora relaxe...
Agora imagine que você pode ver na net. Vê-lo no olho da sua mente.

62 - Brotherband
— Olhos da mente? — Jesper comentou baixinho para os outros. — O que é
isso?
— No seu caso — Hal respondeu secamente — é um olho bem pequeno.
Jesper foi responder, percebi que ele não tinha nada para cobri esse comentário
e fechar a boca.
— Você pode ver a rede agora, Ingvar — perguntou Thorn.
Ingvar, olhos fechados, acenou com a cabeça.
— Tudo bem. Então, com os olhos fechados e vendo a rede em sua mente,
vamos começar de novo. Uma volta... dois esquerda... três... dois para a frente
direita...
Os outros meninos com espanto, que Ingvar começou a seguir as instruções de
Thorn confiança e cuidado. O ritmo era lento, é claro. Mas ele estava pisando certo e a
tendência para balançar os braços descontroladamente e gangorra fora de equilíbrio
estava quase no fim. Uma vez, seu pé direito pegou um fio de rede e Thorn,
observando como um falcão, pediu imediatamente para ele parar.
— Fique em pé! — Ele ordenou. Ingvar fez e respirou fundo quando ele
recuperou seu equilíbrio. Em seguida Thorn começou novamente e Ingvar continuou
seus movimentos lentos e cuidadosos.
Cuidado, Hal notado, mas não mais cauteloso e falta de confiança. Ele balançou
a cabeça e murmurou baixinho para Stig. — Ele é incrível, não é?
Stig sorriu. — Quem teria pensado Ingvar poderia fazer isso, mesmo que
lentamente, como ele está se movendo?
Finalmente, Thorn chamado para Ingvar para parar e abrir os olhos. O garotão
estava no meio da rede, rosto corado de prazer.
— Muito bem, Ingvar. Vamos ter você correndo pela rede que antes de
conhecê-lo.
Ingvar balançou a cabeça, mas seu sorriso largo mostrou que estava muito
contente com seu progresso.
— Talvez não, em nenhum momento, Thorn. Mas me dê quatro ou cinco anos e
eu poderia trabalhar até andando ritmo.
O grupo reunido riu. Mas desta vez eles estavam rindo com o seu companheiro
de tripulação, e não para ele.
— Bom garoto — Thorn disse a ele. — Agora, saia da rede. Não! — Ele gritou
rapidamente Ingvar olhou cautelosamente para baixo para ver onde colocar os pés. —
Mantenha seus olhos para cima! Veja a rede em sua mente.
E para o espanto de quem está assistindo, Ingvar, cabeça erguida e olhos para a
frente, andou corretamente para fora da rede, pisando alto e de forma limpa, sem tanto
como um tropeço.

Os Invasores - 63
Então, infelizmente, quando ele pisou no solo claro, ele pegou o dedo contra um
tufo de grama e caiu de cara no chão. Desta vez, ele riu com os outros como ele pôs-se
de pé. Mas nada poderia diminui seu sentimento de realização.
— Eu acho que eu não vi isso na minha mente — ele disse, e todos riram
novamente. Thorn balançou a cabeça, sorrindo para o menino.
— Apenas continue praticando — disse ele. — Prática e prática e prática.
Quanto mais você pratica, melhor você vai se sair.

Mais tarde, naquela noite, muito depois do acampamento ir dormir, Hal


acordou, com um som estranho incidindo em seu subconsciente. Ele estava franzindo
a testa por alguns minutos. Era um som que marcha rítmica e ele se esforçou sem
sucesso, para identificá-lo. Até agora, ele estava acostumado com os sons da noite
habituais do mar e do vento e da chuva em todo o acampamento em Baía do Abrigo.
Mas isso foi algo novo.
Ele rolou para fora de seus cobertores e, agarrando o cinto com a faca Saxônica
em sua bainha, ele se levantou e saiu calmamente para fora da tenda.
Ele seguiu o som para a área onde eles treinavam todos os dias. Marchar...
deslizar... deslizar... marchar... deslizar. Ele tornou-se ciente de que ele podia ouvir
uma voz, armou baixo e resmungando. As palavras eram indistintas. Em seguida, ele
relaxou, jogando o cinto e bainha por sobre o ombro quando ele percebeu que não
havia perigo.
Ingvar estava no centro da rede. Ele estava de frente para Hal, e à luz do luar, o
skirl podia ver que Os olhos de Ingvar estavam fechados enquanto ele se movia
deliberadamente em um padrão complexo de etapas. Direita, para frente, para a
esquerda, para trás, esquerda, à direita, com os pés deslizou e arrastou na grama de
orvalho úmido. Seus lábios se moviam como ele chamou os passos para se em voz
baixa.
— Um direito dois... três... de volta à esquerda para a frente... dois...
Hal sorriu para si mesmo e afastou-se, voltando para o aconchego de sua cama
e deixando a Ingvar seu consultório particular.

64 - Brotherband
Capítulo oito

O
treinamento continuava a cada dia e os membros da tripulação melhoravam
suas performances na rede, até mesmo Ingvar – apesar de ele estar ainda
muito atrás dos outros. Após vários dias ele podia se mover na rede até
mesmo com os olhos abertos.

E mesmo que ele não conseguisse se igualar às performances dos outros, ele
estava se movendo com muito mais segurança do que jamais se movera na vida. Ele
nuca poderia ser chamado de ágil, mas seu senso de balanço e movimento havia
melhorado notavelmente.
O que o deixaria em boas condições quando tivessem voltado para o mar,
pensou Hal, e ele tinha de se mover ao redor de acordo com o balanço, lançando-se
através do convés do Garça-Real. Ele ia precisar de Ingvar para a ideia em que estava
trabalhando, e ele saudou a melhoria que o treinamento de Thorn tinha trazido.
Após trabalhar com os rapazes na rede por uma semana, Thorn introduziu uma
mudança no seu treinamento. Ele os fez treinar um combate simulado, com armas de
madeira, um contra o outro. E quando fez isso, ele rapidamente notou um problema
em suas técnicas.
— Não é de se surpreender — ele disse para Hal. A tripulação havia passado a
manhã inteira trabalhando duro, e Hal e Thorn estiveram sentados discutindo o seu
progresso.
— Apesar de tudo, os seus instrutores no Brotherbands não eram peritos. Eles
eram razoavelmente competentes, mas estavam ensinando apenas o básico, não os
pontos principais.
Hal sorriu para ele — Eu acho que nenhum deles foi um Maktig — ele disse.
Thorn balançou a cabeça, encolhendo os ombros. — Eu acho que não. Mas eu
me sinto frustrado quando vejo meninos praticando uma técnica ruim. Isso só tende a
consolidar maus hábitos, e eles são muito mais difíceis de esquecer.
— Então os mostre onde estão errando — Hal sugeriu.
Thorn franziu os lábios. — Você tem certeza? Você é o skirl, não eu. Eu não
quero minar a sua autoridade.
Hal riu. — Eu sou o skirl quando nós estamos no mar, eles irão me obedecer.
Eu sei disso. Mas como skirl, eu escolhi você como nosso treinador de batalha. Você é
o mais qualificado para o trabalho. Certamente não estou qualificado para o trabalho.
Eu mesmo ainda estou aprendendo.

Os Invasores - 65
— Estou feliz em ouvir isso de você — falou Thorn. — Eu só queria ter
certeza.
— Apenas uma coisa — falou Hal, então hesitou. Ele não tinha muita certeza
em como tocar no assunto. Então decidiu que a melhor maneira era simplesmente ser
direto. — Alguns deles estão imaginando quem é você, aquela demonstração na rede
os pegou de surpresa. Eles estão se perguntando de onde toda aquela habilidade e
conhecimento viera.
Thorn estava balançando a cabeça antes mesmo de ele terminar a frase. — Eu
não quero que os outros saibam sobre...
Mas Hal o interrompeu. — Eles não são os outros. Eles são sua tripulação.
Thorn, eu entendo que quando você estava em Hallasholm, você não queria as pessoas
olhando e dizendo, Viu o quanto Thorn decaiu? Ele era o Maktig. Mas os meninos
não pensam assim. Eles o admiram. Eles não estão o comparando com o que você
alguma vez foi. Eles o veem como você é agora e o admiram.
— Eles me admiram? — Thorn disse, com ceticismo em sua voz.
Hal balançou a cabeça empaticamente. — Mas é claro que sim. E ainda mais,
eu imagino que isso possa aumentar muito sua confiança sabendo que foram treinados
por um perito real. E confiança será importante quando eles forem enfrentar a
tripulação do Corvo.
Thorn encolheu os ombros com relutância. — Talvez você esteja certo — Ele
disse. — Deixe-me pensar sobre isso.
— Eu sei que estou certo, — Hal disse. Então sorriu. — Afinal de contas, eu
sou o skirl. Agora, o que você tem em mente para melhorar suas técnicas?
— Eu te mostrarei esta tarde, — Thorn disse.
Após a pausa para o almoço, Thorn chamou os rapazes e pediu para que se
juntassem ao redor dele. Ele os fez sentar em um semicírculo e caminhou para trás e
na frente deles, batendo o bastão de nogueira contra sua bota enquanto procurava as
palavras que queria dizer.
Finalmente ele decidiu que uma demonstração seria o melhor meio de abordar o
assunto. Ele pigarreou uma ou duas vezes, tentando ignorar o semicírculo de rostos
curiosos, então apontou o bastão para Stig.
— Stig, em pé, e busque sua arma e escudo de treino. Traga um escudo para
mim também.
Stig hesitou. — Apenas um escudo? Você não quer um machado de treino?
Thorn chacoalhou a cabeça e balançou o bastão de madeira no ar. — Isto será
suficiente. Agora busque os equipamentos.
Assim que o alto rapaz correu para buscar dois escudos e o machado de
treinamento na área de treinamento, Thorn voltou-se para os meninos que estavam
esperando.

66 - Brotherband
— Nós temos trabalhado em agilidade e balanço, — ele começou, — e todos
vocês melhoraram notavelmente. Até mesmo Ingvar. — Ele sorriu para o grandalhão.
— O problema é, que tudo isso sai para visitar sua vovó quando você começa a
praticar com armas.
Ele olhou para cima assim que Stig voltou com o equipamento. Ele pegou o
escudo e o deslizou sobre o braço direito, então assistiu enquanto Stig arrumava o seu
no braço esquerdo, e brandiu o machado de treinamento de madeira. Thorn manteve
seu bastão de nogueira na mão esquerda.
— Certo Stig — ele disse. — Vamos ver o seu estilo.
Eles encararam um ao outro, e ambos ficaram na mesma pose de agachada. Os
olhos de Stig ficaram semicerrados ferozmente concentrados na figura desgrenhada á
sua frente. Apesar da barba e cabelos grisalhos emaranhados, e as esfarrapadas, roupas
remendadas, Thorn com uma arma na mão era um assunto completamente diferente de
Thorn, o velho abandonado e desalinhado. Os anos pareceram cair de seus ombros
enquanto ele se movia leve e confiante enquanto eles se circulavam. O escudo estava
alto e preparado, enquanto o bastão de nogueira descrevia pequenos círculos no ar.
Exceto por Hal, Stig era o único membro da tripulação que estava bem avisado do
passado de Thorn. Ele sabia que estava enfrentando um guerreiro experiente, e não
tinha pressa de se jogar nele. A maneira leve e confiante de Thorn o fazia ficar ainda
mais relutante sobre isso.
— Hyyaaah! — Thorn gritou, saltando para frente e levantando o bastão para
um golpe por cima. Stig pulou para trás com um grito involuntário de surpresa. Seu pé
ficou preso em uma raiz e ele tropeçou, mal conseguindo ficar em pé.
Uma onde de risos correu através dos espectadores e Stig percebeu que o ataque
de Thorn era apenas uma finta. O velho lobo do mar estava sorrindo para ele e rolando
os olhos. Atirando a cautela aos ares, Stig atacou.
Ele martelou o escudo de Thorn com o machado de madeira, fazendo chover
golpe após golpe, batendo com cada grama de sua força. A arma de madeira rachou
contra o escudo, que sempre aparecia em posição justamente no tempo certo para
prevenir Stig de arrancar a cabeça do seu oponente de cima dos ombros.
Os meninos faziam gritos de encorajamento enquanto Thorn começava a perder
terreno com Stig indo sempre para cima dele, dobrando seus esforços.
Então, num piscar de olhos, tinha acabado.
Stig lançou um ultimo e massivo ataque contra Thorn. Dessa vez, ao invés de
bloquear o ataque, Thorn deixou ser pego pelo lado curvo de seu escudo e defletindo o
ataque. Sem encontrar nenhuma resistência real ao seu ataque, Stig cambaleou para
frente, sem nenhum equilíbrio, expondo seu flanco direito enquanto caia.
Desse jeito, Thorn estocou dolorosamente as suas costelas, rápido como o bote
de uma cobra.
— Auuu! — Stig gritou, recuando com o feriamento a cada impacto.

Os Invasores - 67
Instantaneamente, Thorn recuou. — É isso ai. Acabou!
Com isso Stig, completamente furioso, se preparou para lançar outro ataque,
Thorn levantou o bastão no nível do rosto e o apontou advertindoo.
— É isso ai Stig — ele falou claramente. — Acabou! — E manteu os olhos
fixados no menino. Gradualmente ele viu a raiva indo embora, e então o rapaz deixou
seu machado e escudo caírem no chão. Houve um tempo em que o temperamento de
Stig teria inflamado fora de controle, mas o treinamento dos Brotherband tinha o
ajudado a controlar isso. Ele esfregou suas costelas gentilmente.
— Isso dói, Thorn. — ele reclamou. Thorn balançou a cabeça, soltando o seu
gancho do puxador do escudo e deixando-o deslizar para fora do braço.
— Isso teria doido muito mais se isso fosse uma espada — ele disse, brandindo
seu bastão. Ele viu o entendimento aparecer nos olhos de Stig, e em seguida, ele deu
um sorriso envergonhado.
— Eu não tinha pensado por esse lado. — ele admitiu.
— Pense nisso. — Thorn falou. Então ele se virou para incluir os outros
membros da tripulação, que estavam assistindo em silêncio. A velocidade da mão de
Thorn, e a facilidade com que ele tinha lidado com os ataques de Stig, os tinham
pegado de surpresa.
— Todos vocês, pensem sobre isso — ele repetiu. Deixando seu olhar viajar
sobre os rostos de repente de expressão muito séria abaixo dele. — Imaginem que
fosse uma espada entrando pelas costelas de Stig. Nós estaríamos ocupados contando
histórias de como ele era um bom companheiro durante sua curta e colorida vida, e
quanto todos nós sentíamos sua falta. — ele fez uma pausa. — Ou talvez não.
O que trouxe uma pequena onda de diversão sobre o grupo, então ele
continuou.
— Stig é provavelmente o melhor de vocês com um machado — ele disse. E
olhou para eles procurando algum sinal de discordância, mas tudo que viu foram
pequenos acenos, confirmando sua declaração. — Mas seu treinamento tem sido
tristemente deficiente.
— Seu treinamento no Brotherband? — perguntou Edvin.
Thorn concordou. — Seus instrutores ensinaram apenas os movimentos mais
básicos. E eles os encorajavam a bater nas almofadas de treino e uns nos outros o mais
forte que podiam. Estou certo?
Novamente ele fez uma pausa e novamente foi recebido com acenos de cabeça.
— O ponto é que a maioria dos guerreiros escandinavos são muito capazes com
o machado. Mas apenas muito poucos são os melhores. E apenas um número muito
menor são os peritos. Seus instrutores eram apenas guerreiros medianos.
Ele fez uma pausa, vendo algumas carrancas. — Eu não estou falando isso com
desrespeito. É um fato. Eles apenas deveriam lhes ensinar o básico. E eles apenas

68 - Brotherband
tinham uns poucos meses para trabalhar com vocês, e neste tempo eles também tinha
que lhes ensinar um monte de outras habilidades básicas. O treinamento Brotherband
é apenas o início. E não ensina para vocês tudo. Não é possível. Os instrutores
simplesmente não têm tempo para mostrar-lhes os pontos mais delicados. Quando
vocês estavam praticando habilidades com armas, o comando que eu mais ouvia era,
Bata mais forte, deem tudo que têm! Você chama isso de bater? Este tipo de coisa.
Estou certo?
Alguns sins murmurados puderam ser ouvidos em resposta.
— Agora, isso é muito bom quando você quer construir músculos e se cansar
para dormir bem à noite. Mas isso não é bom o suficiente em uma luta.
— Pense desse jeito. Você está em uma batalha. Você balança seu machado em
alguém o mais forte que conseguir. Se você acertá-lo, você o abre ao meio mais ou
menos até aqui. — Ele indicou um ponto no meio do seu peito. — Agora, se você não
bate tão forte nele, você pode chegar apenas até aqui.
Ele apontou um lugar no meio de suas sobrancelhas. Novamente, acenos
concordando. Alguns acenos de cabeça confusos, mas ainda assim, eram acenos.
— Ele está de algum modo menos morto? — Ele perguntou, e viu algumas
faces mostrando entendimento. — Você tem que aprender a controlar sua força, — ele
continuou. — Mantenha balanceado quando atacar. Não se exija demais. Vocês viram
como foi fácil para eu desviar o ataque do Stig e o desequilibrar. E aquilo o abriu
inteiro para um contra ataque.
— Amanhã, iremos começar um novo treinamento, que irá os ensinar como
bater de um modo balanceado.
Os garotos trocaram olhares, e ele pode ver que tinha fisgado sua imaginação.
Eles estavam pensando em como esse novo treinamento seria.
Bom, ele pensou. Se eles estavam imaginando, isso significava que eles
estavam interessados.
— Isto é tudo por hoje. Vocês podem voltar para sua tenda e descansar.
Amanhã será um dia duro.
Foi Jesper quem fez a pergunta. Hal podia ter adivinhado que seria ele.
Os garotos estavam descansando em seus sacos de dormir, remendando roupas
e equipamentos, afiando armas ou conversando calmamente entre si, quando o ex-
ladrão expressou o pensamento que estava na mente de muitos.
— Como Thorn sabe tanto sobre lutas? — ele disse. — Afinal, até onde eu
lembro, ele era o bêbado da cidade. — Alguns dos outros concordaram, e ele
continuou, com seu olhar procurando Hal.
— Eu quero dizer, todos nós o vimos hoje, quando ele derrubou Stig. E ele fez
parecer tão fácil. — Stig relanceou rapidamente quando ouviu isso, e Jesper
apressadamente fez um gesto de desculpas. — Sem ofensas, Stig. Nós sabemos que

Os Invasores - 69
você não é um oponente fácil de ser vencido. Mas como Thorn conseguiu isso? E
você tem que admitir, ele realmente fez parecer fácil, mesmo se não fosse.
Hal e Stig trocaram um olhar rápido, com Stig fazendo uma pergunta sem falar.
E Hal finalmente acenou.
— Está na hora de eles saberem — ele disse. — Você pode ir buscar Thorn?
Stig concordou e ficou em pé. Assim que ele saiu da tenda, ele ouviu uma
tempestade de perguntas saírem de seus companheiros e sorriu sozinho. Eles teriam
uma grande surpresa.
Thorn puxou para o lado as abas da lona que cobria a entrada da barraca e
entrou através da abertura de luz. Assim que ele fez isso os murmúrios que vinham de
dentro dela pararam abruptamente, e cada olho se voltou para ele. Stig entrou por trás
dele e tomou o seu lugar em seu saco de dormir, sorrindo de expectativa.
Thorn escaneou o circulo de faces incrédulas e estacou em Hal.
— Eu imagino que você falou para eles?
Hal balançou a cabeça. — Era hora de eles saberem — ele respondeu.
Thorn mastigou as pontas de seu bigode por vários segundos, sem saber o que
dizer em seguida. Finalmente ele começou a ser virar e ir para a porta.
— Muito bem — ele disse. — Então vocês sabem.
Houve então uma tempestade de protestos quando os garotos perceberam que
ele ia ir embora.
— Só um momento! — era Jesper, obviamente. — Você não pode ir embora,
fale para nós sobre isso!
— Sobre o que? — Thorn respondeu.
Dessa vez, foi Stefan quem respondeu. — Sobre ser o Maktig — ele disse.
E Edvin adicionou — Três vezes!
— Bem, exigiu muito trabalho duro — Thorn falou incerto. Falar sobre si
mesmo nunca fora um ponto forte.
— Em quais eventos você competiu? — Hal o incitou. Ele podia ver que Thorn
precisava de uma pequena ajuda para continuar. O velho guerreiro olhou para o
infinito, pensando nos dias do concurso para se tornar Maktig.
— Oh... luta livre. Combate simulado com machado e espada. Arremesso de
lança. Corridas a pé. Testes de resistência...
— Como o que? — perguntou Ingvar, e um olhar pensativo tocou as faces
enrugadas de Thorn.
— Como passar a noite na montanha no inverno com nada além de minhas
cuecas.
— E como foi isso? — Ulf perguntou.
70 - Brotherband
Thorn se permitiu um leve sorriso enquanto respondia.
— Frio — ele disse sinceramente. — Muito frio. Quase congelei meu traseiro,
na verdade. — Uma onda de riso correu através dos garotos. Eles estavam sentados o
assistindo. Prestando atenção em cada palavra. E ele olhou de soslaio para Hal.
— Eu não vou sair daqui tão cedo, não é? — Ele disse, e Hal balançou a cabeça
devagar.
Thorn assentiu e se abaixou para se sentar em uma posição com as pernas
cruzadas no chão da barraca. Estranhamente, após todos estes anos tentando enterrar o
passado, ele descobriu que era vagamente agradável falar disso com estes meninos de
olhos arregalados, e ver a admiração imparcial em seus olhos.
— Poderia então ficar um pouco mais confortável então — ele disse, e assim
fez um gesto encorajador. — Muito bem, podem falar.
— As pessoas ficaram surpresas quando você venceu a segunda e a terceira
vez? — Stefan perguntou.
Thorn olhou para ele com um sorriso amarelo — Bem, eu certamente fiquei.
Novamente os meninos riram, e ele sentiu-se mais a vontade, mais em casa.
— Quem foi seu oponente mais forte? — Stig perguntou.
Thorn nem teve que pensar a respeito quando respondeu.
— O pai de Hal — ele disse, e todos os olhares se voltaram para ele, que corou
de prazer. Então Thorn adicionou — Seu pai era muito bom também, Stig. Ele chegou
às semifinais no meu segundo ano.
— Meu pai? — disse Stig, surpreso.
— Ele era um guerreiro muito poderoso. Muito bom com um machado. Você
tem um monte de seu talento.
Stig olhou para baixo, tentando esconder as lagrimas repentinas que saiam de
seus olhos. Em toda sua curta vida, ele nunca havia ouvido alguém falar bem de seu
pai, que havia desaparecido após ter roubado de seus companheiros. Ele ficou feliz
quando Jesper chamou a atenção dos outros.
— Quantos combates simulados você teve que lutar?
Thorn deu um grande suspiro enquanto calculava a resposta para aquela
pergunta.
E foi assim por mais de quarenta minutos, com os meninos ansiosamente
fazendo perguntas, e Thorn respondendo cada uma delas — hesitantemente no inicio,
mas gradualmente ganhando fluência quando percebeu que nenhum de seus jovens
companheiros estava olhando para critica-lo ou deprecia-lo. Muito pelo contrário, na
verdade. Eles estavam contentes por tê-lo como membro da tripulação, felizes por ele
os estar treinando. Orgulhosos de serem seus companheiros e estudantes. Hal estava

Os Invasores - 71
certo, ele pensou; sabendo de suas conquistas poderia fazer deles mais inclinados a
prestar atenção e trabalhar em suas habilidades.
E melhor de tudo, eles não estavam comparando o que ele é agora com quando
ele fora o Maktig. Isso fora antes de suas memórias. Eles estavam comparando-o com
o jeito que ele tinha sido quando ele era um abandonado bêbado trôpego, e a
admiração em seus olhos quando olhavam para ele agora era tudo muito óbvio.
Quando Hal finalmente pediu uma pausa para a discussão, afirmando que o
Maktig pessoal dos Garças tinha um grande dia planejado para eles na manhã
seguinte, Thorn sentiu como se um grande peso fosse tirado de seus ombros — um
peso que estivera lá por muitos longos anos. Ele sabia que esses garotos o admiravam
e respeitavam, e sabia que pela primeira vez em muito tempo, ele tinha uma razão
para se sentir orgulhoso de si mesmo.
Ele acenou com a cabeça boa noite e se levantou para ir embora. Assim que ele
pisou para fora da porta, houve um silêncio momentâneo, em seguida, Jesper o
quebrou.
— Obrigado, Thorn — ele disse simplesmente, e os outros do mesmo jeito
repetiram seus agradecimentos em coro.
Ele saiu na noite e olhou para as estrelas no céu gelado acima. E deu uma
profunda respiração.
— Quem iria imaginar? — ele disse para si mesmo. — Quem iria imaginar?

72 - Brotherband
Capítulo nove

A
tacar! Defender! Atacar! Desviar! Levante-se, Ulf!
— —Sou Wulf — disse o irmão gêmeo com o rosto vermelho.
— Seja como for — Thorn disse a ele. — Só não balance
tanto. Controle-se! Mantenha o equilíbrio! Você também, Wulf —, ele acrescentou
quando o outro gêmeo passou e caiu no chão também.
— Sou Ulf! — O segundo gêmeo protestou quando se levantou, esfregando
suas costas machucadas.
— Diga para alguém que se preocupa, — Thorn disse, olhando para longe com
o som de outro grito e vendo Stefan cair de costas no chão com as pernas para o ar. —
Eu te disse! — Ele gritou para o grupo em geral. — Não balance tanto que você perde
o equilíbrio. Comece aos poucos e gradualmente aumente o balançar. Vá com calma!
Os oito Garças estavam tentando dominar a nova técnica de Thorn na prática.
Enquanto estavam em sua corrida matinal pela praia, ele montou oito obstáculos
baixos. Em cada um, um galho redondo resistente foi apoiado cerca de vinte
centímetros do chão por uma forquilha em cada extremidade. As forquilhas foram
lubrificadas para que o galho rolasse e girasse facilmente nelas. O resultado foi uma
plataforma altamente instável para a prática de movimentos básicos de combate. Cada
um dos meninos tomou uma posição sobre um dos obstáculos e tentou manter o
equilíbrio enquanto praticava golpes de machado e defesas com o escudo.
Como Ulf, Wulf e agora Stefan já tinham descoberto, se eles balançassem
muito perderiam o equilíbrio, o galho redondo iria rolar sob os seus pés e eles cairiam
no chão.
No caso de Ingvar, Thorn tinha decidido deixar o garotão simplesmente praticar
equilíbrio no galho, sem tentar qualquer golpe simulado com o seu porrete.
— É tão pesado que nunca irá conseguir manter sua posição se você balançar
isto — disse a Ingvar. Agora Ingvar, a ponta de sua língua aparecendo através de seus
dentes, estava balançando precariamente em seu poleiro, braços estendidos ao bater no
ar para manter o equilíbrio.
— Relaxe — Thorn disse enquanto ele passava. — Se você ficar tenso, nunca
vai recuperar o seu equilíbrio. Solte os músculos e mantenha seus movimentos
contidos.
Enquanto ele falava, Ingvar oscilou para trás, o galho virou e ele caiu, mal
conseguindo impedir de se estatelar no chão.

Os Invasores - 73
— Mais contidos do que isso — Thorn disse a ele. Ingvar balançou a cabeça e
voltou devagar para o obstáculo, balançando e agitando os braços para manter-se
equilibrado. Ele forçou seus músculos tensos á relaxar e sorriu para Thorn quando
sentiu o pé firme.
— É muito melhor — disse ele, e imediatamente caiu para frente, batendo no
chão com um baque que fez Thorn estremecer. O velho guerreiro seguiu em frente
quando Ingvar se levantou novamente.
Os meninos estavam com variados graus de sucesso neste exercício. Hal e Stig
tinha dominado a técnica de forma relativamente rápida. Mesmo que tivessem caído,
eles poderiam controlar o movimento para que pousassem em seus pés. Jesper tinha o
dom também. Thorn franziu ligeiramente a testa, enquanto observava ele. Jesper era
um espertinho e tendia a ser preguiçoso - o que era uma pena, pois ele tinha muito
talento atlético natural.
Ulf e Wulf estavam deixando o seu mau humor habitual causar-lhes problemas.
A cada queda, eles lutavam furiosamente para voltar às barras transversais e começar
de novo. Mas sua frustração estava fazendo-os mover-se muito rápido, e em poucos
segundos, eles perdiam o equilíbrio e caiam no chão novamente. Era quase como se
sentissem que, movendo-se rapidamente de volta para o poleiro, eles iriam apagar o
fato de que tinham caído em primeiro lugar. Seria melhor esperar alguns segundos,
tranquilizar-se, então acelerar com cuidado.
Pelo menos eles tinham aprendido a não tentar recuperar o equilíbrio a todo
custo. Isso apenas levaria a uma queda mais grave quando a peça transversal girasse
de repente e jogasse fora seu ocupante. Agora, uma vez que os gêmeos sentissem o
equilíbrio chegando, eles aceitariam o inevitável e desceriam. Então, eles bufaram e
começaram de novo - geralmente lançando um insulto para o outro, como fizeram.
— Movam-se lentamente — Thorn exortou-os mais uma vez. Mas ele tinha
pouca esperança de que prestassem atenção nele. Ele deu de ombros. Eventualmente,
iriam aprender da maneira mais difícil a serem mais cautelosos em seus movimentos.
Ele deixou a sessão de treino continuar por mais alguns minutos, em seguida,
mandou parar. Cansados, os Garças desceram, ou, em alguns casos, tropeçaram de
seus poleiros e sentaram na grama. Alguns deles esfregavam os músculos da
panturrilha com cãibras, os tornozelos doloridos e os tendões do calcanhar. Tentando
ficar equilibrados em uma vara tão incerta colocava grande pressão sobre os músculos
e articulações, Thorn sabia.
Ele sorriu para eles. — Difícil, não é? — Havia concordância ao redor. —
Vocês vão pegar o jeito da coisa em pouco tempo.
— O que acontece quando fizermos? —, perguntou Edvin. Ele e Stefan tinham
passado razoavelmente sobre os obstáculos. Eles não eram excepcionalmente bons,
nem eram excepcionalmente ruins. O que praticamente resumiu os dois nos exercícios
físicos. Eles eram de nível médio. Ainda assim, Thorn pensou consigo mesmo, ele iria
trabalhar para torná-los acima da média.

74 - Brotherband
Ele olhou para Edvin ao respondeu. — Quando você puder ficar sobre as traves
sem cair por dois minutos, vamos combiná-lo com lutas práticas.
— Naqueles gloriosos poleiros? — Edvin disse incrédulo. E quando Thorn
assentiu, ele balançou a cabeça. — Nós nunca vamos conseguir.
— Você pode se surpreender — Thorn disse a ele. — Agora, quando você tiver
alguns minutos de descanso, que tal começar a fazer o almoço?
— Ulf e Wulf — Hal disse — vocês podem ajudar Edvin. Acenda o fogo para
ele Ulf. Wulf, você pode buscar água fresca e casca de algumas verduras. Qualquer
outra coisa que você precise fazer Edvin?
Edvin balançou a cabeça. — Isso deve bastar. Nós temos um pouco de veado
frio sobrando, e assei um pão na noite passada.
Thorn ouviu o dialogo. Era interessante, pensou, como Hal rapidamente
reassumiu o controle quando os treinos acabaram. Enquanto eles estavam trabalhando
em suas habilidades de combate, Thorn estava indiscutívelmente no comando. E ele
notou que, desde a sua conversa na noite anterior, os meninos pareciam prestar mais
atenção às suas instruções do que antes. Mas no momento em que a disciplina e
tarefas do acampamento voltaram ao normal, Hal assumiu novamente sem parecer
pensar sobre isso. Não pela primeira vez, Thorn refletiu que o menino era um líder
natural.
Hal levantou de onde havia se esparramado na grama, esfregando os músculos
da panturrilha ferida, e atravessou até Thorn. Ele estava mancando um pouco com os
músculos com cãibras e nós.
— O que você tem em mente para esta tarde? — ele perguntou. Thorn acenou
na direção do artefato, que estava suspenso acima do chão nas proximidades.
— Eu vou dar-lhes outra sessão na rede — disse ele. — Eles vão achar que é
muito mais fácil depois daqueles rolos lubrificados.
— Você pode poupar Ingvar e a mim? —, perguntou Hal.
Thorn assentiu. — Por que não? Se você sentir que está ficando para trás,
sempre pode se juntar a ele em uma de suas sessões de treino de meia-noite.
Hal ergueu as sobrancelhas para isso. — Oh, você já o viu também, não é?
Thorn olhou de relance para Ingvar, que estava sorrindo e conversando com
Stig e Stefan. — Ele quer muito ser um membro valioso da tripulação.
Hal seguiu seu olhar. — Ele vai ser — disse ele. — Quando você vir no que
temos estado trabalhando, saberá o que quero dizer. Ele vai fazer um trabalho que
nenhum dos outros conseguiria.
— Bom. Todo mundo precisa sentir que ele está contribuindo com a equipe e é
fácil para alguém como Ingvar se tornar alvo de piadas. Então, quando é que vamos
começar a ver esta maravilhosa engenhoca nova de vocês? — perguntou Thorn.

Os Invasores - 75
Hal considerou a questão. — Se tudo correr bem, esta tarde. Nós temos alguns
ajustes finais a fazer.
— Nenhum pequeno detalhe negligenciado? — Thorn disse, quase conseguindo
conter o sorriso que queria sair em seu rosto.
Hal suspirou. — Eu achei que você e Stig tinham superado isso.
Thorn assumiu um olhar de preocupação. — Você gostaria que parássemos de
dizer isso?
Hal deu-lhe um olhar duro. — Sim. Por uma questão de fato, eu gostaria.
Thorn finalmente deixou o sorriso aflorar.
— Não vai acontecer — disse ele alegremente.
— Não pensei que fosse.
Depois de quarenta minutos de trabalho duro no artefato, Thorn parou para um
período de descanso e os meninos caminharam de volta para suas tendas para se
esticar em seus sacos de dormir e relaxar. Thorn tomou um assento em um toco de
árvore perto da lareira e fez uma caneca de café. Seu suprimento de grãos de café era
limitado e decidiu esperar até que os meninos não estivessem por perto antes de
fazer outra panela.
— Não há sentido em desperdiçá-lo com eles —, disse a si mesmo, substituindo
por um saco de feijão do esconderijo que Edvin não tinha idéia de que ele conhecia.
Ele ficou satisfeito com o progresso dos meninos nos exercícios de agilidade
que inventara para eles. Em poucos dias, começou a trabalhar sobre os melhores
pontos de técnicas de combate. Ele também ficou satisfeito com a mudança da
atmosfera no acampamento. Não havia nada como o trabalho duro e músculos
doloridos ao final do dia para manter os meninos ocupados, pensou. Mas, mesmo que
tivesse esse pensamento, percebeu que ele e Hal teriam de continuar a tocar as
mudanças e criar novas maneiras de aumentar as habilidades da tripulação.
— Se o tempo facilitasse, poderíamos levar o navio para o mar —, disse
consigo mesmo. — Um período remando e o manuseio com as velas faria maravilhas
para eles.
Mas mesmo que tivesse havido algumas calmarias nos últimos dias, nenhuma
delas durou muito tempo e sempre havia o risco de ser pego em mar aberto, quando as
tempestades retomavam. Eles podem sempre praticar remo nas águas calmas de Baía
do Abrigo. Mas tal exercício seria bastante inútil. Eles tinham estado em torno de
barcos e navios por toda sua vida e sua técnica de remo era perfeita. Simplesmente
remar para cima e para baixo na baía não prenderia sua atenção por muito tempo.
Enquanto ele estava meditando sobre isso, se tornou consciente de um som
muito fraco. Uma voz? Não, duas vozes.
Ele se levantou e olhou para a praia. Com certeza, as figuras distantes de Hal e
Ingvar estavam olhando para trás em direção ao acampamento. Ele podia ver as faces

76 - Brotherband
pálidas de seus rostos. Em seguida, eles levantaram as mãos em concha em torno da
boca, e alguns segundos depois, ele ouviu o som fraco de novo, levado pelo vento.
— Tho-o-orn!
— Já era tempo — ele murmurou. Ele acenou para eles, deixando-os saber que
ele tinha ouvido, em seguida, jogou os restos de seu café no fogo. Ele estava
arrumando a caneca de boca para baixo quando um pensamento lhe ocorreu. Edvin
talvez possa identificar os restos de seu café no pote. Ele inclinou a água fresca do
balde em pé ao lado da lareira, girou ao redor até que não havia nenhum traço ou
cheiro de café deixado, e jogou-a fora.
Então, ele caminhou a passos largos para a tenda onde os meninos estavam
relaxando, alguns falando em voz baixa, vários cochilando e outros trabalhando na
reparação de roupas e equipamentos rasgados ou danificados. Aqueles que estavam
acordados olharam para cima quando se aproximou. Ele apontou o polegar em direção
à praia.
— Se algum de vocês estiver interessado —, disse ele, — o grande inventor
está pronto para mostrar-nos o seu mais recente trabalho.
Isso definitivamente ganhou o interesse. Desde que tinham visto o sucesso do
projeto da vela revolucionário de Hal, os Garças tenderam a tratar as capacidades
inventivas de Hal com grande respeito. Thorn e Stig, que tinham visto uma ou duas de
suas idéias geniais darem desastrosamente errado ao longo dos anos, estavam um
pouco mais céticos.
Mas agora, com os meninos saindo ansiosamente para fora da tenda, indo para a
praia em grupos irregulares, Thorn sentiu um pequeno arrepio de antecipação. Na
maioria das vezes, as idéias de Hal funcionaram, e funcionaram bem. Sem perceber,
ele encontrou-se apressando o passo para acompanhar os meninos.
O que quer que Hal tenha para mostrar-lhes, ele não queria ser o último a vê-lo.

Os Invasores - 77
Capítulo dez

— É uma besta — disse Stig, sacudindo a cabeça com espanto, enquanto olhava
para o dispositivo.

— A maior besta que eu já vi — comentou Edvin.

A besta enorme encostada em um carro de madeira na frente deles. Era de um


metro e meio de comprimento e as partes do arco eram quase um metro de ponta a
ponta. Elas foram feitas a partir de várias camadas de madeira, laminadas juntas,
coladas e presas com tendões de veado. Thorn assentiu pensativo, enquanto ele a
observava. Na semana passada, Hal tinha sido bem sucedido em caçar vários veados
para as refeições. Obviamente, ele não tinha perdido nada das carcaças. Ele deve ter
fervido os cascos para baixo para fazer cola- Thorn se lembrou de um terrível cheiro
que emanava da oficina há poucos dias.

Hal indicou os membros do arco. — Eu usei diferentes tipos de madeira para


este — disse ele. — alburno no lado exterior da curva para a flexibilidade e cerne do
lado de dentro para resistência e rigidez.

— Como você vai atirar?— Ulf perguntou. — Você nunca conseguirá levantá-
lo.

— Eu vou atirar do carro — disse Hal. Ele indicou um roquete de madeira de


um lado. — Eu posso levantá-lo com isso — Enquanto falava, ele virou a catraca com
a besta inclinada para cima em seu carro.

— Engenhoso — Stig disse, e ele sorriu para o amigo com admiração. — Você
já testou? Ele dispara bem?

Hal mostrou ao seu amigo um sorriso frio. Ele estava esperando a inevitável
questão sobre os pequenos detalhes e suspeitava que esse pudesse ser um prelúdio
para isso.

— Ele dispara muito bem — disse ele. — Nós o testamos esta manhã. Ele
consegue lançar um desses por quase quatrocentos metros.

Ele levantou um projétil de madeira pesada de meio metro de comprimento. A


ponta tinha sido afiada e endurecida a fogo, e reforçada com quatro tiras de ferro,
fixada em torno de suas bordas e afinando para a ponta. Na outra extremidade, três
finas aletas de madeira, de formato triangular, foram criadas em torno do eixo como
uma flecha sobre uma seta.
78 - Brotherband
— Embora para efeitos práticos, estamos dizendo que o intervalo é de 300
metros. Nós graduamos as miras enquanto muitos estavam cochilando — acrescentou.

Stefan se adiantou para estudar a grande arma mais de perto. — É magnífica —


disse ele. Segurou o cabo pesado que se estendia entre os dois membros da proa. Ela
foi feita a partir de entrançados de bétula trepadeira. Ele tentou em vão transportá-lo
de volta. Ele conseguia movê-la não mais do que alguns centímetros.

— A questão é, como você vai carregá-la? — Disse ele, frustrado.

— Eu não consigo — disse Hal. — E duvido que algum de vocês possa. Mas
Ingvar consegue.

Ele gesticulou para Ingvar demonstrar. O menino grande deu um passo à frente,
sorrindo, e um pouco envergonhado por ser o centro das atenções. Havia duas
alavancas, um conjunto de cada lado, inclinado para frente e chegando logo abaixo da
corda. Elas foram unidas por uma haste que atravessa o transporte, sob o corpo da
proa.

Ele puxou a alavanca para cima e para trás, e como elas viraram, pegou as
alavancas e a corda e começou a desenhá-lo de volta.

— Espere um momento, Ingvar —, Hal ordenou, e o jovem gigante deixou as


alavancas de volta à sua posição original. Hal olhou para Stig.

— Por que você não tenta? — Sugeriu.

Stig deu de ombros e se aproximou.

— Se você assim quiser — disse ele, sorrindo. Ingvar mudou-se para um lado
para dar-lhe acesso ao arco e tomou-o se detendo sobre eles.

E parou.

O sorriso sumiu de seu rosto quando ele percebeu que tinha movido a corda só
na metade do caminho antes que pudesse movê-lo para mais longe. Ele fez força e
poderosamente a cadeia mudou para mais alguns centímetros. Então, sacudindo
cabeça, ele deixou as alavancas para baixo novamente e fez um gesto para Ingvar.

— Mostre-nos como se faz — disse ele. Ele suspeitava que Hal tivesse
arranjado a demonstração não para tirar sarro dele, mas para indicar capacidade única
de Ingvar para seus companheiros. Ingvar entrou em cena novamente, aproveitou a
alavancas e arrastou-os por todo o caminho de volta em um movimento suave, até que
a corda fosse envolvida em uma trava definida no corpo do arco e estivesse apertada,
totalmente armada. Ele substituiu as alavancas em sua posição original, abaixo do
corpo principal do arco.

Os Invasores - 79
Houve um murmúrio de apreciação dos Garças reunidos. Stig era mais forte do
que qualquer um deles, exceto de Ingvar. Se ele não conseguisse armar o arco enorme,
eles sabiam que nenhum deles seria capaz de fazer isso. Hal chamou a atenção de Stig
e acenou para ele, confirmando a suspeita antes de Stig.

— Eu queria que vocês vissem isso — disse Hal. — Sem Ingvar, este arco seria
inútil. Ele vai carregar o arco para mim enquanto eu estiver atirando.

Thorn se aproximou, estudando a arma maciça. Havia um ar de ameaça


definitiva sobre ela, ele pensou. O esforço necessário para indicar que iria disparar
seus projéteis com enorme poder e velocidade. Mas ele não tinha certeza de como Hal
pretendia implantar uma peça de equipamento pesado em uma batalha.

— Mas como você pretende usá-lo? —, questionou. O sorriso orgulhoso de Hal


se alargou.

— Eu vou montá-lo na proa do Garça-Real — disse ele, — em uma plataforma


giratória. Então, quando alcançarmos o Corvo, podemos ficar longe uma centena de
metros ou mais e fazer grandes buracos nele. Duvido que eles vão gostar de serem
alvejados com estas belezas. — Ele levantou um dos projéteis pesados e todos
olharam para ele, imaginando-o batendo nas madeiras relativamente leves do casco de
um navio.

Houve um coro geral de aprovação e entusiasmo de sua equipe. Era uma idéia
verdadeiramente radical, mas eles esperavam ideias radicais de seu skirl. Até mesmo
Thorn parecia impressionado.

— Você pretende armar o navio — disse ele. Era algo que os Escandinavos
nunca tinham feito. Eles usaram os próprios navios como uma maneira de chegar a
uma batalha, não como uma forma de combatê-la.

— É isso mesmo. O navio se tornará nossa arma. Se ficar muito perto do Corvo,
eles chegarão a nós. Desta forma, poderemos manter a nossa distância e emaga-los. —
Ele olhou para Stig. — Você vai ter que tomar o leme enquanto estivermos lutando
contra ele. — acrescentou.

Stig sorriu e acenou com a cabeça. — O prazer será meu.

Hal olhou para os outros. — Stefan, Jesper, vocês estão encarregados de


levantar e abaixar as velas. Ingvar pode ajudá-los se necessário. Nós não poderemos
atirar se estivermos cambando ou ao cambar de jibe o navio. Ulf e Wulf, você irão
ficar com as rizes e escota para manusear a vela. Edvin, você ficará pronto para ajudar
Stig, e passar os meus sinais. Uma vez que pudermos voltar ao mar novamente, vamos
ter que ensaiar constantemente para coordenar todas as nossas ações - direção,
navegação e disparo - se quisermos que isso funcione.

80 - Brotherband
Ele voltou seu olhar sobre Ulf e Wulf. — E isso significa que os dois vão ter
que trabalhar juntos sem a habitual briga de vocês — disse ele firmemente. — Nossas
vidas vão depender de cooperação. Se vocês dois não puderem cooperar, eu vou ter
que mandar Ingvar jogá-los ao mar.

— E eu farei isso. — disse Ingvar muito sério. A tripulação sentiu que Ingvar
faria qualquer coisa que Hal lhe pedisse. E, depois de ter visto a exibição recente de
sua força incrível, ninguém duvidava de sua capacidade para realizar tal ordem.

Ulf e Wulf trocaram um olhar e chegaram a um entendimento.

— Nós não vamos desaponta-lo, Hal. Você tem a minha palavra —, disse Ulf.

— O mesmo vale para mim — acrescentou Wulf. — E não é apenas por causa
da ameaça de Ingvar - embora eu saiba que ele pode fazê-lo.

— E todos nós sabemos que ele faria isso — Ulf concordou. — Mas também
sei que você está certo. Todas as nossas vidas dependerão do manuseio rápido das
velas e do trabalho em equipe.

Hal olhou de um para o outro, olhando fundo nos olhos deles. Ele podia ver que
sua mensagem tinha obtido sucesso. Houve um novo olhar de determinação sobre os
gêmeos.

— Bom — disse ele. —Estou feliz em ouvir isso. — Então, como Ulf levantou
uma mão hesitante, ele continuou: — Sim, Ulf, o que é isso?

— Eu sou Wulf — o gêmeo disse, franzindo a testa.

Hal fez um gesto de como-eu-vou-saber. — Se você diz. O que é isso?

— Nós temos que parar de brigar quando não estivermos lutando contra o
Corvo? Quer dizer, em tempos normais como este? Não temos que parar de brigar
agora né?

— Nós não estamos discutindo agora — seu irmão apontou.

— Eu sei disso! Mas poderia ser a qualquer momento! — Wulf respondeu.

— Talvez, mas... — Ulf começou, mas Hal cortou.

— Seria bom se vocês não brigassem — disse ele. — Mas eu suspeito que
possa ser um pouco demais para fazer.

— Acho que sim — disse Ulf, que Hal havia anteriormente assumiu ser Wulf.
— Nós somos meio que... acostumados com isso, eu suponho.

— Só não parece a mesma coisa sem as brigas — Wulf concordou.


Os Invasores - 81
Hal suspirou profundamente. — Então você está livre de sua promessa durante
tempos normais. Desculpe por isso — acrescentou, lançando um olhar de desculpas na
direção dos outros membros da tripulação.

— Devo dizer, estou aliviado — disse Stig. — Não seria a mesma coisa se não
estiverem constantemente criticando um ao outro.

— Sim, não seria a mesma coisa — Edvin concordou, — mas seria uma
mudança agradável. — Ele disse que em um tom cansado, mas não havia nenhum
sentido subjacente de bom humor ou de risadinhas em meio às palavras.

Hal olhou profundamente em torno dos rostos jovens. As expressões eram


sérias como todos eles perceberam que acabaria por estar enfrentando um inimigo
muito perigoso e por lutarem por suas vidas. Mas não havia temor. Havia um
sentimento crescente de confiança em seus companheiros.

Thorn tossiu na expectativa de eles olharem para ele.

— Está tudo muito bem e bom — disse ele. — Mas nada disso importa se esta
máquina monstruosa não funciona. — Ele apontou o polegar para a besta enorme,
encostada em seu carro como uma ave de presa com suas asas abertas. — Você acha
que você pode ser capaz de nos mostrar o que ela pode fazer?

Hal assentiu e se mudou para ficar atrás da arma enorme. Ele agachou-se e
avistou-os rapidamente para fazer um comprimento, em seguida, olhou para Ingvar.

— Desalinhou após o último tiro — disse ele. — A nivele, por favor?

Havia um longo galho cortado, a poucos metros de distância. Ingvar andou em


volta do arco para buscá-lo. Tinha cerca de três centímetros de diâmetro e dois metros
de comprimento, mas ele levantou-o tão facilmente como se fosse um cabo de
vassoura. Ele deu um passo para trás para ficar ao lado da besta, enquanto Hal olhou
para comprimento do mesmo.

— Mova-se um pouco à esquerda — disse Hal.

Ingvar cavou o final do pedaço de madeira na areia do lado direito da besta.


Então, ele levantou lentamente contra ele para balançar a arma para a esquerda.

— Um pouco mais — disse Hal, ainda com a intenção de manter a linha de


visão.

Ingvar começou a tocar na extremidade da alavanca com sua mão direta dando
curtas batidinhas, golpes afiados que moviam a besta alguns centímetros de cada vez.
Finalmente, Hal levantou o braço e Ingvar parou.

82 - Brotherband
— É isso aí — disse Hal. Ele ficou para trás e virou-se para os outros. —
Quando eu colocá-lo em um suporte giratório, será muito mais fácil de transportar de
um lado para outro — disse-lhes. — No momento, estamos usando o que Ingvar pode
fazer com poder dos músculos. — Ele sorriu para o jovem gigante, que sorriu de
volta.

Ele está gostando de ter um propósito na vida, Thorn pensou. Em seguida,


levantou as sobrancelhas em surpresa com outro pensamento que lhe ocorreu: do
mesmo jeito que eu. Hal ainda estava falando quando o velho lobo do mar trouxe sua
atenção devoluta para o que estava sendo dito.

—... formou as atrações para aqueles alvos na praia esta manhã. Nós andamos a
distância e os configuramos com um intervalo de 50 passos. O mais próximo fica a
cem passos de distância.

Agora, como os outros olharam na direção que ele estava apontando, eles
puderam fazer uma série de cinco alvos de madeira criado em postes cravados na
areia. Thor olhou para o mais próximo. Tinha a forma de um quadrado, feito de ramos
grossos pregados em uma moldura de madeira. Os lados da estrutura pareciam ser de
cerca de um metro de comprimento.

— Eu acho que os ramos vão oferecer a mesma resistência das tábuas de um


navio — disse Hal. Ele tomou sua posição atrás do arco de novo, olhando para o alvo.
Então virou um pedaço de madeira ao lado da arma, marcando com uma escala de
distância. Ele apontou para a primeira marca e virou-se para observar as Garças.

— Isso indica uma faixa de cem metros — disse ele. — Quando eu alinhar esta
marca com o cordão da mira terei a elevação correta para o tiro.

Os meninos se inclinaram para frente da ponta da arma e eles viram um pino de


madeira, segura por uma pequena pérola branca, situado à frente dos membros, apenas
clara da linha de fuga que o projétil se seguiria.

— Isso é como a visão sobre sua besta pequena — disse Stig, reconhecendo o
sistema.

— É isso mesmo. Eu pensei que se funcionava corretamente lá, daria certo aqui.
E funciona.

Ele agachou-se e concentrou-se mais uma vez na imagem avistada. Ele viu a
corda da mira em linha com a meta, mas um pouco abaixo da marca graduada na mira.
Sua mão foi para roda dentada de madeira que os meninos tinham notado antes e
fechou-o lentamente. A frente do arco começou a subir quando ele fez isso. Então ele
parou, marcada mais uma vez e acenou com a cabeça para si mesmo. Ele pegou o
projétil pesado que estava deitado no chão ao lado dele e colocou-o em águas rasas da

Os Invasores - 83
calha cortando no topo do arco, a montagem de um entalhe na sua extremidade para o
cabo de espessura.

— Fiquem firmes — advertiu-os, e puxou o cordão do gatilho. Ele acionou o


trinco segurando a corda, e uma fração de segundo depois, houve um estrondo enorme
como os de membros sendo jogados. O arco inteiro contrariou com o recuo e o projétil
pesado tirou longe curvando na trajetória.

Inicialmente assustados com o barulho quando a proa fora lançada, a equipe


seguiu o voo do dardo com os olhos. Um segundo depois, eles viram o alvo tremer
sob um enorme impacto. Uma nuvem de lascas de madeira foi arremessada no ar e
eles ouviram o som de madeira quebrando. O poste que segurava o alvo cambaleou
para o lado e o próprio alvo soltou-se e ficou pendurado pendendo, balançando para
trás e para frente com a força do impacto.

— Não admira que ele saia da mira quando você atira — Stig murmurou.

Hal não respondeu. — Ingvar! — Ele chamou, e o menino gigante avançou,


pegou as duas alavancas para armar e soltou a corda de volta para a sua trava de
retenção. Hal colocou outro dardo na corda, em seguida, agachou-se atrás da linha de
tiro. Ingvar já havia recuperado sua alavanca e começou a movimentar o arco de
acordo com as ordens de Hal.

— Certo! — Hal ordenou e, como Ingvar começou a alçada da rodada da besta


para o direito de se alinhar com o segundo alvo, ele continuou em tom monótono.

— Certo... bem... bem... fácil agora. Um pouco pra direita. Um pouco mais. Um
pouco mais. Pare!

Seu braço voou em um sinal para parar. Ingvar colocou o polo de lado e ficou
com Hal por ferir a roda de elevação e a frente do arco veio mais e mais para cima.
Hal olhou para as vistas, fez outro pequeno ajuste para cima.

— Afastem-se! — Ele chamou. Ele puxou o gatilho novamente.

Mais uma vez, houve o barulho maciço da madeira batendo em madeira, e mais
uma vez, a besta contraiu com o recuo. Desta vez, os observadores puderam
acompanhar o voo do projétil mais facilmente, enquanto voava através de uma
distância maior e com um arco ligeiramente superior de voo.

O segundo alvo cambaleou sob o impacto e houve um som de mais estilhaços


de fragmentos de madeira voando. Desta vez, porém, o impacto foi um pouco fora do
centro do alvo e um dos corpos de apoio do poste foi arrancado.

Os membros da tripulação que estavam assistindo aplaudiram com a visão.


Nada como um pouco de destruição gratuita para deixar os meninos animados, Thorn
pensou sorrindo para si mesmo. Mas, ao mesmo tempo, ele sentiu como se quisesse se
84 - Brotherband
juntar a eles. Hal tinha aparecido com uma arma temível nesta besta gigante. Se eles
se encontrarem com Zavac e o Corvo, os piratas teriam uma surpresa muito
desagradável.

Hal estava sorrindo, aliviado a manifestação que tinha ido tão bem. Stig
avançou e bateu-lhe no ombro.

— Você fez de novo! — Disse. — Isso é brilhante - e não podemos deixar que
os pequenos detalhes sejam esquecidos — Ele acrescentou com um sorriso gigante e
outro tapa caloroso na parte de trás. Hal aceitou um tanto filosoficamente. Stig passou
a mão ao longo da madeira alisando a besta enorme e admirando a obra que tinha ido
para ele. Não havia nada ornamentado nela. Era simplesmente uma máquina bem
trabalhada.

— Eu mal posso esperar para ver o rosto de Zavac quando você começar a fazer
grandes buracos em seu navio! — Disse.

— E em sua tripulação! — Wulf acrescentou com entusiasmo enquanto


imaginava o pânico a bordo do navio pirata.

— Eles pularão no mar! — Ulf concordou, e todos riram com eles enquanto se
reuniam em volta do besta para admirá-la.

— Devemos chamá-la de alguma coisa — Jesper sugeriu. Houve um murmúrio


coletivo em acordo, então houve uma pausa enquanto cada um tentava chegar a um
nome antes que os outros pudessem pensar em um.

— Grande Bessie! — Ulf sugeriu impulsivamente.

Wulf bufou com desdém. — Você quer dar-lhe um nome de mulher — ele
zombou.

Ulf ficou vermelho. Às vezes, ele desejava que ele pudesse se lembrar de
pensar duas vezes antes de falar. Ou até mesmo uma vez.

— Que tal o Martelo de Gorlog? — Edvin sugeriu. Os outros olharam para ele,
franzindo a testa.

— Um pouco clássico, não é? — Disse Stefan. Edvin encolheu timidamente,


então Jesper apontou uma falha no nome.

— Gorlog não tem um martelo — disse ele. — Tharon tem um martelo. —


Tharon era o deus do trovão.

— Bem, Martelo de Tharon, então — Edvin sugeriu, tentando salvar a sua


ideia. Mas ele foi saudado por todo mundo balançando a cabeça negativamente.

Os Invasores - 85
— Naaah. Ainda muito clássico — disse Stig. — Nós queremos um bom nome
sanguinário para ele.

Houve outro silêncio. Hal finalmente quebrou.

— Eu gosto nome que Thorn chamou — disse ele. Eles olharam para ele com
curiosidade, e então os lembrou. — O Mangler.

Ele considerou. Aos poucos, os sorrisos começaram a sair.

— O Mangler — disse Stefan, com a aprovação óbvia em seu tom.

— Esse será o nome dele então, tudo bem — Ulf colocou, e até mesmo seu
irmão teve de concordar com isso.

Hal sorriu Stig. — Bem, o que você acha? É sanguinário o suficiente para você?
— Stig acenou, sorrindo amplamente por sua vez.

E assim a besta ganhou o nome de Mangler.

86 - Brotherband
Capítulo onze

O
Garça-Real navegava pela Baía do Abrigo.

Era um dia depois de Hal ter demonstrado o Mangler para


sua tripulação. Lá fora, em mar aberto, o vento ainda soprava para
o sul, castigando o oceano com ondas íngremes, que quebravam
em espuma branca. Ali não era lugar para um navio pequeno e
aberto, como o Garça-Real. Mas o promontório quebrava à força do vento de modo
que no lado da baía não havia nada além de uma brisa forte.

A tripulação percebeu as condições selvagens do lado de fora quando olhou


para as árvores no topo do promontório, e acima, na cordilheira costeira. Elas
balançavam e inclinavam loucamente, sacudindo suas copas nas rajadas selvagens que
as atingiam.

O Garça-Real estava navegando paralelo à praia, a cerca de 300 metros da


costa. O vento estava vindo a bombordo e a vela foi amarrada bem apertada.

— Stig — Hal chamou, e fez um gesto para o leme.

Seu amigo saltou ansiosamente até a plataforma de direção e assumiu o controle


do navio. Ele girou o leme de um lado para o outro, testando a reação instantânea do
navio, e sorriu para Hal.

— Eu amo isso — disse ele. — Ele é tão leve e ágil.

— Eu nunca me canso dele — concordou Hal. Então, em um tom mais


profissional, continuou. — Estamos chegando ao primeiro alvo. Quando eu sinalizar,
vire-o em direção à praia. Eu vou atirar quando estivermos a cem metros de distância.

Eles discutiram o plano na noite anterior e os detalhes estavam claros na mente


de Stig. Mas não custava nada repassá-lo mais uma vez. Hal hesitou. Parecia estranho
deixar o Garça-Real nas mãos de outra pessoa. Stig empurrou-o de brincadeira.

— Pegue o Mangler — disse.

Hal riu, virou-se e fez seu caminho até a proa. Ele passou por Ulf e Wulf, que
estavam agachados junto à grande vela enrolada. Acenaram para ele com rostos
sérios, e ele acenou de volta, sabendo que estavam obedecendo à regra de não discutir
a bordo. Ele abaixou-se sob as saias laterais do suporte do mastro e juntou-se a Ingvar
ao lado do Mangler.

Os Invasores - 87
A besta enorme agora estava montada sobre uma plataforma de madeira que
girava num ângulo de quarenta e cinco graus para ambos os lados da proa. Hal
adicionou ao suporte um pequeno banco para que ele pudesse observar o horizonte à
medida que Ingvar movesse a arma para os lados. Ele agachou-se sobre ela agora,
vendo o alvo em terra.

Virou-se então para Edvin, que estava esperando para retransmitir suas
instruções para Stig, e apontou para estibordo.

— Vamos para estibordo! — Edvin gritou, e assim que Stig deu um puxão no
leme, a proa começou a balançar, e o vento veio pela popa, Ulf e Wulf deixaram a
vela solta de modo que ela se projetou do casco. Foi uma manobra previamente
combinada que eles haviam discutido na noite anterior e todos sabiam a sua parte.
Thorn avançou pelo convés e ficou de costas para o mastro para observar o tiro.

Hal agachou-se e olhou a paisagem, definindo a marca de cem metros na mira.


Ele estava ligeiramente para a direita do alvo. Ele ergueu a mão esquerda.

— Esquerda... à esquerda... à esquerda —, ele falou quando Ingvar atravessou o


Mangler, levantando uma alavanca longa inserida em um soquete na parte traseira do
suporte. A grande besta moveu-se suavemente na plataforma.

— Pare — ele falou assim que a paisagem se alinhou com o alvo. Ingvar já
tinha engatilhado e carregado à arma enquanto Hal foi caminhando para a frente. A
mira ainda estava abaixo da meta, mas à medida que o Garça-Real se aproximava da
costa, foi gradualmente subindo. O navio estava lançando-se com as ondas, de modo
que a paisagem começou a mover-se ligeiramente acima da mira, e em seguida, descia
de novo. Ele teria que compensar isso, Hal pensava. Ele esperou até que o alvo
estivesse no meio do campo de visão, e puxou o cordão do gatilho.

SLAM!

As bordas da proa golpearam para frente, o suporte resistiu e o dardo saiu


rasgando. Ele sentou-se ereto para vê-lo, com os olhos fixos.

Houve uma explosão de areia cinco metros atrás do alvo.

— Errou — disse Thorn. Ele podia ser o mais velho membro da tripulação, mas
seus olhos ainda eram mais afiados do que os de qualquer outro.

Houve um gemido de decepção e Thorn se virou para falar com eles.

— É cedo ainda — disse ele. — Não é fácil atirar a partir de uma plataforma
móvel.

88 - Brotherband
— Retornar — disse Hal para Edvin, que repetiu a ordem a Stig. Estavam
chegando muito perto da praia. Hal não conseguiu esconder a decepção em sua voz.
Ele esperava por um tiro perfeito na primeira vez.

Ele subestimou a dificuldade de lidar com o movimento do navio, e do ligeiro


atraso entre o puxar do gatilho e liberação do arco.

Stig gritou ordens de içar velas e o Garça-Real girou cuidadosamente a


bombordo, inclinando para longe da praia.

Ulf e Wulf puxaram a vela para coincidir com o novo curso.

— Chegou perto? — Ingvar perguntou. Claro, Hal pensou, ele não conseguiu
ver o resultado.

— Cinco metros de distância —, disse ele.

— Mas na linha — Thorn lembrou.

Hal encolheu os ombros. Pelo menos isso era alguma coisa, pensou. Ele olhou
para Thorn.

— Isso vai ser mais difícil do que eu pensava —, disse ele.

O esfarrapado lobo do mar inclinou a cabeça. — Continue praticando. Você vai


conseguir.

Mas o sucesso continuou a iludir Hal. Eles tentaram mais quatro vezes. Na
terceira, o dardo bateu na lateral direita do alvo. Em todos os outros, passou perto —
ou acima, ou abaixo, ou ao lado. Hal ficou com apenas um dardo para a besta.

Eles afastaram-se da praia e Hal convocou um conselho de guerra com Stig e


Thorn.

— Nós vamos ter que chegar mais perto — disse ele. — Estamos lançando e
rolando e o Corvo vai fazer o mesmo. Cem metros é muito longe para a precisão.
Vamos levar o Garça-Real a cinquenta metros para o último tiro.

Thorn cerrou os lábios. Stig parecia em dúvida também.

— Cinquenta metros? — Thorn disse. — Isso é terrivelmente próximo se


formos lutar contra o Corvo.

Hal abriu as mãos em um gesto impotente. — Não é bom ficar longe, se não
posso acertar.

Thorn assentiu relutante. — Você vai ficar bem na linha de tiro, se algum deles
for arqueiro — ressaltou.
Os Invasores - 89
As sobrancelhas de Hal uniram-se em frustração. — Vamos lidar com isso mais
tarde — disse. — Vamos ver se conseguimos acertar o alvo a 50 metros.

Ele fez um rápido cálculo mental ao voltar para a proa. A configuração mínima
para a pontaria era cem metros, e o dardo voou praticamente plano nessa distância. Se
ele ajustar a pontaria um pouco abaixo da meta, deve ser suficiente.

— Carregue-a — disse ele para Ingvar. Assim que o menino grande soltou o
cabo de volta e colocou o último dardo em seu encaixe, ele disse o que estavam
planejando. A boca de Ingvar curvou-se numa expressão pensativa.

— Cinquenta metros? Isso não é muito próximo?

Hal levantou uma sobrancelha. — É o que todos dizem — disse ao sentar-se


atrás do arco.

A tripulação prendeu a respiração coletivamente enquanto o Garça-Real


impulsionava-se em direção à praia. Ingvar afrouxou a besta até alinhá-la e Hal
curvou-se para o horizonte, concentrando-se ferozmente. O alvo subiu e desceu acima
e abaixo da mira.

— A qualquer momento — Thorn falou. Ele foi estimar a distância.


Combinaram que ele avisaria Hal com cinco segundos de antecedência quando
estivessem se aproximando da marca de cinquenta metros.

Hal assistiu a subida e descida da mira. Permitindo o ligeiro atraso entre a puxar
o gatilho e liberação da besta, ele precisaria estar um pouco abaixo de seu ponto
selecionado de pontaria.

Quase... Quase... Agora!

SLAM!

Ele sentou-se a tempo de ver o alvo explodir em uma saraivada de madeira


lascada. Eles estavam próximos o suficiente para ouvir o barulho devastador quando o
dardo colidiu com ele. Assim que caiu em si, também percebeu que estavam chegando
perigosamente perto da praia.

— Mantenham distância! — Falou, e Stig virou a proa mais uma vez. Hal caiu
em sua cadeira. A tensão dos últimos minutos o tinha esgotado. Os outros meninos
estavam dando vivas. Jesper e Stefan estavam dançando uma jiga no convés entre os
bancos de remo. Mesmo Ulf e Wulf davam tapinhas nas costas um do outro.

Thorn lhe deu um tapa no ombro. — Bom trabalho! — Disse ele, com um
sorriso largo no rosto. Hal revirou os olhos.

90 - Brotherband
— Talvez. Mas você estava certo. Nós vamos ficar muito perto deles. Vou ter
que descobrir como lidar com isso.

Vários dias se passaram, e os Garças continuaram em sua nova escala:


exercícios físicos e treinamentos de manhã e prática de tiro com o Mangler à tarde.

Os resultados do treino de tiro foram melhorando. Agora Hal podia acertar o


alvo pelo menos uma vez em cada quatro a distância de cem metros. De 50 metros, os
resultados foram muito melhores, com alvo após alvo sendo transformado em
estilhaços.

Mas 50 metros era uma distância perigosa, como Thorn tinha apontado. Além
do risco de flechas ou outros projéteis sendo disparados do Corvo, não havia margem
para quaisquer erros na manipulação do navio.

O navio Magyaran era rápido e, com remos, altamente manobrável. Qualquer


pequeno erro ou atraso poderia deixar o Garça-Real vulnerável àquele cruel aríete que
o Corvo tinha em sua proa. Pensando, tarde da noite, Hal teve visões daquela viga
medonha de ferro penetrando no madeiramento frágil do Garça-Real e a água gelada
passando por um rombo enorme no casco.

Ele discutiu o problema com Stig e Thorn tarde da noite, quando os outros já
tinham se recolhido para seus beliches.

— Não é tão ruim quanto você pensa, — Stig disse. — Afinal, o Corvo é muito
maior do que um alvo de um metro. Se você atirar a uma distância de cem metros,
você não vai errar o tiro completamente.

Hal balançou a cabeça. — Eu quero ser capaz de atingir alvos


específicos — ele disse. — O leme, por exemplo, ou o casco na linha da água. Ou os
baluartes onde os cabos de suporte do mastro estão atados. Ou o próprio Zavac ou
quem quer que esteja no leme. Nós não vamos ter dardos o suficiente para
simplesmente atirar no navio inteiro, então espero acertar alguma coisa importante.

— Por isso, precisamos chegar perto — disse Thorn e, quando Hal olhou para
ele, continuou. — Nós sempre poderemos montar nossos escudos numa altura maior
sobre os baluartes para proteger a tripulação. E Edvin poderia cobrir você e Ingvar
com um escudo.

— Ingvar particularmente — Hal disse. — Se ele estiver ferido, não poderemos


carregar o Mangler. Mas não é só isso. Se estivermos tão perto quanto 50 metros, e
qualquer um de nós cometer um erro - Stig no leme, ou eu com o intervalo de tempo,
Ulf e Wulf no cordame - poderíamos ficar entregues à misericórdia do Corvo.

— E isso não é uma qualidade pela qual eles são reconhecidos — Thorn disse.
Apesar de não haver nenhuma prova, ele estava convencido de que o Corvo estava por

Os Invasores - 91
trás do desaparecimento de uma pequena frota de comércio escandinavo muitas
semanas atrás.

— Podemos confiar em Ulf e Wulf no manejo da vela? — Continuou ele. —


Será que nós deveríamos trocá-los por Jesper e Stefan?

Hal franziu os lábios, pensativo. — Nós ainda vamos precisar usá-los em algum
lugar — disse. — E eles têm uma boa percepção para o manejo da vela, você não
acha, Stig?

— Sim — Stig concordou. — É uma coisa meio que instintiva fazer exatamente
o certo para obter o melhor desempenho do navio. Eles têm tato para isso. Eu não
tenho que ficar falando para eles ajustarem isso ou aquilo. Eles fazem certo já na
primeira vez.

Hal assentiu. Ele tinha notado a mesma qualidade nos gêmeos.

— Mas se eles começarem a discutir...

Hal interrompeu Thorn.

— Eu não acho que precisamos nos preocupar com isso. Eles sabem que suas
vidas dependem disso.

— Não é com a vida deles que estou preocupado — respondeu Thorn. — A


minha também depende disso.

Houve um breve silêncio enquanto consideravam isso. Então Hal tomou uma
decisão.

— Nós vamos deixá-los do mesmo jeito por enquanto e continuar exercitando.


Se houver qualquer sinal de discussão durante os treinos, eu vou colocar um deles
para levantar a lais da verga com Jesper e colocar Stefan no manejo das velas.

Thorn olhou intensamente para ele por alguns segundos. Não havia nenhum
traço de dúvida na voz de Hal, ou em seus olhos. Finalmente, o guerreiro maltrapilho
assentiu.

— Você é o skirl — disse ele.

— Tem mais uma coisa que eu quero trazer à tona —, disse Hal. — Você disse
que a chave para ganharmos a luta é a velocidade e a agilidade.

Thorn assentiu, esperando para ouvir o que estava por vir.

— Eu acho que vai ser a mesma coisa em uma luta navio-a-navio.


Especialmente se estivermos nos aproximando. Precisamos que o Garça-Real chegue

92 - Brotherband
à sua velocidade máxima. E precisamos fazer com que ele volte e mude de curso o
mais rápido que ele puder.

— Ele é muito sensível ao leme agora — disse Thorn. — E ele é rápido.

— Acho que podemos deixá-lo mais rápido —, disse Hal. Ele olhou para
Thorn. — O que você acha Thorn? Você acha que ele é mais rápido do que o Corvo?

Thorn esfregou o queixo barbudo antes de responder.

— Na maioria das vezes, sim —, disse ele. — Se houver um vento bom. Mas,
se o vento diminuir e o Corvo baixar os remos, ele vai ser mais rápido. E vai girar
mais rapidamente. Tudo o que Zavach precisará fazer é remar para trás de um lado,
para frente do outro e girar em seu próprio eixo. Qual é a sua ideia?

Hal fez uma pausa, ordenando seus pensamentos. — Dois anos atrás, fui a uma
viagem comercial com Anders — disse ele. — Ele estava comprando corda e
madeira e fomos para vários portos do Sonderland. Eu vi algumas de suas grandes
embarcações de comércio lá. Eles tinham enormes placas de madeira de cada lado do
navio que eles poderiam levantar ou baixar como quisessem. — Ele olhou
interrogativamente para Thorn, que assentiu.

— Chamam-lhes leeboards — Thorn disse. — Elas se estendem abaixo do


casco quando estão abaixadas. Isso dá ao navio maior resistência contra a água, para
que se faça menos manobra. Isso é importante para eles, porque perdem muito tempo
em águas costeiras rasas, com o vento soprando em direção à costa. Quando eles
adentram em águas muito rasas, podem subi-los novamente para não encalhar.

— Eu estava pensando em tentar algo semelhante no Garça-Real —disse Hal.

Os outros olharam para ele em dúvida.

— Você dificilmente conseguirá montar placas grandes e pesadas nas laterais


do Garça-Real — disse Stig.

Thorn concordou com ele. — Essas balsas de Sonderland são de laje maciça
dos lados — disse ele. — O Garça-Real tem uma construção muito mais leve e o
casco é curvo. Não haveria lugar para colocar placas - não há estrutura para apoiá-las.

— Eu não estava pensando em colocá-las nas laterais. Pensei em usar uma no


meio. Ao lado da quilha.

—E como você vai montá-la lá? — Thorn ainda estava tentando fazer sua
mente captar essa idéia.

—Eu pensei em cortar uma parte do tablado junto à quilha e...

Os Invasores - 93
— Só um momento! —Stig protestou. — Você está planejando cravar uma
prancha ao lado da quilha?

Hal assentiu. — É isso mesmo. Então, eu poderia...

— Você sabe o que acontece quando se corta um buraco no fundo de um navio,


não é? O navio tende a afundar. — Ele olhou para Thorn para comprovação. — Diga-
lhe, Thorn.

Thorn ergueu as sobrancelhas. Como regra geral, ele confiava nas ideias de Hal,
mas esta parecia extrema.

— Geralmente não se considera uma boa ideia fazer buracos no fundo de um


navio — disse ele. Stig jogou as mãos no ar em um gesto viu-o-que-eu-quero-dizer.

— Eu não estou cortando buracos no fundo do navio, da forma que você


colocou. É apenas um buraco...

Mas Hal não foi muito longe antes de Stig interrompê-lo de novo.

— E é apenas um navio. Quantos buracos você quer? Um só vai


definitivamente ser suficiente para fazer o trabalho. Você corta. Nós afundamos. Não
é uma boa ideia, Hal. — ele sacudiu violentamente a cabeça. — Ou esse é apenas
mais um daqueles detalhes que você tende a esquecer?

Hal reagiu furiosamente a essas palavras. — Eu me perguntava quando


chegaríamos nisso — Ele disse.

Stig jogou as mãos para cima novamente. — Bom, é uma questão bastante
óbvia, não é? Você com certeza deve ter alguma recordação da água entrando onde
não deve.

Todos pararam por um momento lembrando-se da cena desastrosa da cozinha


do Karina quando o sistema de água corrente de Hal deu desastrosamente errado
inundando a cozinha e quase acertando a cabeça de Stig com um grande barril.

— Isso é diferente — disse Hal.

Stig assentiu vigorosamente. — É diferente, tudo bem. Daquela vez nós só


ficamos molhados. Desta vez, podemos nos afogar!

Thorn decidiu que talvez fosse hora de intervir. Pelo menos, pensou ele, Hal
deveria ter chance de explicar a sua idéia.

— Vamos ouvir o que Hal tem a dizer sem interromper toda...

94 - Brotherband
— Quem está interrompendo? — Stig disse. Então, captando o olhar de aço de
Thorn, ele amenizou. — Ah... tá, bem. Acho que eu estou.

— Suponho que está — concordou Thorn. Stig encolheu os ombros várias


vezes, em seguida, fez um gesto de continue com a mão.

— Bem, desculpe. Vá em frente, Hal. Eu vou tentar não interromper.

— Isso seria bom — disse Hal. Ele fez uma pausa, para ver se seu amigo não
tinha mais nada a dizer. Como ele não disse nada, Hal continuou. — Veja bem, a água
busca seu próprio nível...

Mas Stig não se conteve.

— Isso é o que eu estou dizendo! Você faz um buraco e ela vai buscar o seu
próprio nível. Ela virá para o barco e vai afundá-lo e todos nós vamos nos afogar. —
Ele parou e balançou a cabeça para Hal. — Mas a sua maneira de colocar é muito
mais científica.

— Stig — disse Thorn, — se você não calar a boca por cinco minutos, eu vou
te levar para a praia e te afogar agora mesmo. Você não terá que esperar o barco a
afundar.

Stig encontrou os olhos de Thorn e viu um brilho desagradável lá. Ele sentiu
que o velho lobo do mar não estava fazendo uma ameaça vã.

— Tudo bem — ele disse muito sem graça. — Eu vou calar a boca.

— Se desse para creditar nisso — Hal começou. Mas Thorn cortou irritado.

— Não comece ou eu vou afogar vocês dois! Vamos em frente com este seu
esquema louco.

— Ah! — Disse Stig, sentindo que ele foi justificado pelas palavras de Thorn.
Thorn lançou-lhe um olhar furioso.

— Você está por um fio, garoto. Por um fio! Hal, vá em frente.

— Tudo bem. Stig, você está certo, se eu fosse fazer um buraco no fundo do
barco, estaríamos em apuros. — Ele levantou a mão para parar as palavras que
saltavam aos lábios de Stig. — Mas eu não vou fazer isso. Eu vou remover uma seção
de prancha ao lado da quilha, e então eu vou construir uma ensecadeira em volta dela.

Stig franziu a testa. — Socadeira? O que é uma socadeira?

Os Invasores - 95
— Ensecadeira — Hal o corrigiu. — É como uma barreira contra a água - uma
caixa reforçada em torno da abertura nas tábuas, que se estende além da linha da água.
A água vai subir até a linha de água do navio, e então vai parar.

Stig franziu a testa, sem entender. Thorn parecia um pouco mais convencido,
mas ele não tinha cem por cento de certeza.

— Por que a água para? — Stig perguntou.

— Porque ela atinge o seu próprio nível. Ela atinge o nível fora do casco e não
vai além disso.

— Você tem certeza? — Thorn perguntou. Tudo parecia muito teórico. Mas, na
sua experiência, as teorias nem sempre funcionam na prática.

— Eu tenho certeza — disse Hal, totalmente positivo. Mas eles já o tinham


visto ser positivo sobre as coisas no passado e ambos olharam-no com certo ceticismo.
Ele deu de ombros.

— Tudo bem — disse ele. — Eu construí um modelo para testar. Eu vou


mostrar para vocês amanhã de manhã.

Thorn se levantou, gemendo um pouco quando seus joelhos rangeram com o


movimento.

— Nós vamos olhar de manhã, então — ele concordou. — Por enquanto, vamos
dormir.

Os meninos também se levantaram e ele olhou-os malignamente, vendo a


facilidade com que eles realizaram o movimento.

— Um dia, seus joelhos vão ranger também — disse-lhes. Stig olhou para ele e
revirou os olhos.

— Se meu melhor amigo não me afogar nesse meio tempo.

96 - Brotherband
Capítulo doze

O
modelo era uma simples caixa retangular, um metro e meio de
comprimento, meio metro de largura e aberto no topo.
No centro da parte inferior, Hal talhou um furo retangular
estreito. Ele havia inserido outra caixa de quatro lados para isso, aberta na parte
superior e inferior, posicionando-a para que ela se elevasse a quase metade da altura
dos lados da maior caixa. Ingvar carregou a estrutura de madeira para a beira da água.
Eles haviam escolhido piscina natural feita de rochas para o experimento. Ao gesto de
Hal, Ingvar colocou a caixa grande na água.
Stig esticou-se a frente rapidamente, com a expectativa de ver a água
transbordando através da caixa menor e fluindo fora para a maior. Ele franziu a testa
em decepção quando viu que nada disso estava acontecendo. A caixa grande larga
flutuava serenamente sobre a superfície da água. A água subiu um centímetro ou dois
dentro da caixa menor, depois parou.
— A grande caixa está atraindo cerca de dois centímetros de água —, disse Hal.
— E isso é tanto quanto a água vai chegar através da caixa menor. Coloque algumas
rochas, Ingvar.
Havia uma grande quantidade de pedras disponíveis e Ingvar começou carregá-
las cuidadosamente na caixa. Ela afundou na água, enquanto o peso extra era
adicionado, até que a água tivesse atingido uma marca Hal tinha feito no lado.
— Verifique agora — disse ele.
Tanto Thorn quanto Stig avançaram na água, na altura do joelho, e olharam
para a caixa central e mais estreita. A água tinha subido para a segunda marca que Hal
tinha feito no interior.
— Essa marca corresponde à marca do lado de fora do casco — explicou Hal.
— Enquanto o barco começa a afundar, a água vai subir no interior - mas apenas na
medida em que faz do lado de fora.
— Fascinante — Thorn disse, balançando a cabeça enquanto olhava para a
caixa. — Acho que é lógico, quando você o vê. Mas você sabia que isso iria
acontecer, não é?
Hal hesitou, depois decidiu verdade era a melhor opção.
— Eu pensei que poderia trabalhar assim, mas eu não podia ter certeza. — Ele
sorriu para Stig. — Afinal de contas, parece ser tentar o destino colocar um buraco no
fundo de um barco. É por isso que eu pensei que eu deveria testá-lo.
Os Invasores - 97
— Eu não achei fosse dar certo também — disse Ingvar. — Mas Hal parece
saber sobre essas coisas.
— Sua fé em mim é tocante, Ingvar — Hal disse, e olhou significativamente
para Stig.
Seu amigo deu de ombros, imperturbável. — Isso é porque ele nunca viu o que
aconteceu com aquele barril na parede da cozinha — disse ele. — Mas eu tenho que
admitir que você está certo desta vez. Agora, diga-me, qual é o ponto de fazer esta,
artimanha se puder chamar assim?
— Tudo bem — disse Hal, de repente, estava todo rápido e eficiente
novamente. — Vamos supor que estamos velejando e o vento está vindo do lado. Nós
cortar com a vela hasteada, e o barco se inclina sobre a pressão do vento, certo?
Thorn e Stig assentiram. Hal apontou para Ingvar e ele empurrou para baixo de
um dos lados da caixa, inclinando-a para representar um barco à vela.
— Agora, quanto mais forte puxarmos a vela, mais rápido nós vamos. Mas...
quanto mais tensão aplicarmos, mais o barco se inclina.
Ingvar inclinou mais até que a água estava na borda do lado da caixa. Um ou
dois litros derramados no caixa.
— Eventualmente, podemos começar a tirar água para o lado, por isso temos de
deixar a vela para fora. O barco vem mais na vertical... — Ingvar permitiu a caixa de
retomar uma posição mais ereta. — E nós perdemos velocidade.
Hal olhou para eles para confirmação e ambos assentiram em entendimento.
— Mas, se pudéssemos manter a vela esticada e tensa sem deixar o barco
tombar, teríamos mais aceleração.
Enquanto falava, ele nadou de volta para a borda da piscina de pedra e pegou
uma pequena prancha que Ingvar tinha deixado lá. Ele inseriu a prancha para baixo na
caixa central e mais estreita. Coube perfeitamente e ele empurrou-o todo o caminho
até à prancha saliente abaixo da parte inferior da caixa.
— Agora, como o vento tenta inclinar o barco, há resistência extra da placa
abaixo da linha d'água. Essa resistência extra vai impedir o barco de inclinar até o
momento. O resultado final é, podemos manter a vela aparada e tensa e nós vamos ir
mais rápido.
— É como uma grande nadadeira abaixo da água —, disse Stig. Inicialmente
cético, ele havia sido conquistado pela demonstração. Ele olhou para seu melhor
amigo, admiração em seus olhos.
— Você fez de novo — disse ele. — Primeiro, a vela, agora esta grande
nadadeira retrátil. O que você acha, Thorn?
— Certamente parece lógico para mim — disse ele. — Às vezes, quando
Wolfwind estava inclinado demais, Erak faria a equipe sente-se no trilho de barlavento

98 - Brotherband
para ajudar a mantê-lo na posição vertical. Isso teria um efeito similar. Só não me faça
assistir enquanto você corta um buraco no fundo do Garça-Real.
Eles começaram a trabalhar na modificação naquela tarde. Stig supervisionou o
resto da tripulação enquato eles esvazivavam o convés do navio e as pedras de lastro
que estavam abaixo do convés. Ele sorriu desculpando-se pelo Thorn.
— Eu temo que você tenha que encontrar outro lugar para dormir por algumas
noites — disse ele.
Thorn resmungou. — Eu vou montar uma barraca sob as árvores. Qualquer
coisa para escapr de vocês. Eu não consigo permanecer perto do garoto mau cheiroso.
Stig levantou uma sobrancelha para isso. —Você não é exatamente um ramo de
flores, você sabe — disse ele, mas Thorn bufou com desdém.
— Aqui vamos nós outra vez... Não há nada de errado com a maneira que eu
cheiro — disse ele. — Eu tenho um cheiro maduro, isso que tenho.
— O queijo também — Stig disse ele.
Como Thorn não podia pensar em uma resposta esmagadora, ele se afastou,
deixando Stig sorrindo atrás dele.
Enquanto o resto da tripulação esvaziava o navio, Hal levou Ulf com ele para a
floresta para escolher uma árvore adequada para a barbatana. Eles encontraram um
jovem pinheiro com um tronco de cerca de cinquenta centímetros de diâmetro. Eles a
derrubaram, cortaram, começaram a serrar uma seção de um metro e meio de
comprimento. Quando a arrastassem de volta ao acampamento, Hal usaria suas
ferramentas para talhar progressivamente o exterior, as bordas curvas do tronco,
deixando um retângulo plano unilateral da madeira do interior com quinze centímetros
de espessura. Ele faria os cortes finais e modelagem com uma enxó.
No momento em que ele e Ulf retornaram ao acampamento, arrastando o tronco
pesado com eles, o navio tinha sido esvaziado. A corda foi fixada no topo do mastro.
Ingvar e Wulf puxavam, enquanto os outros ajudavam empurrando para rolar o casco
para o lado, e o escorando nessa posição, de modo que Hal teria acesso ao fundo do
navio.
Hal marcou uma seção de tabuá ao lado da quilha e entre duas ranhuras
semelhantes a nervos, do navio e, trabalhou rapidamente com sua broca de mão e
serra, cortando um pedaço fora.
— Vai ser um pouco fora do centro — disse ele. — Mas não podemos cortar a
quilha em si - que é a espinha dorsal do navio. Além disso, dessa maneira eu posso
prender a caixa interna com firmeza na quilha para dar-lhe a força extra.
Thorn e Stig assentiram sabiamente, como se eles entendessem tudo o que ele
estava dizendo. Então, ele acrescentou pregos adicionais nas extremidades cortadas da
tabuá, fixando-os de forma mais segura em duas partes do casco. A luz tinha quase
acabado no momento em que ele havia terminado e se levantou de sua posição
agachada e gesticulou para os apoios serem removidos.
Os Invasores - 99
— Você pode baixar o casco, por enquanto — ele disse. — Eu vou trabalhar
dentro do casco durante os próximos dias.
Cautelosamente, a tripulação afrouxou a corda e removeu os apoios, permitindo
que o Garça-Real rolasse para a posição vertical mais uma vez. Hal tirou o pó de suas
mãos, satisfeito com bom dia de trabalho.
— Agora vamos ver o que Edvin tem pronto para a o jantar. — disse ele.
Nos próximos dias, o resto da tripulação voltou para sua formação de combate
sob a direção de Thorn, enquanto Hal cuidava dos detalhes da montagem da nova
barbatana. Ele cortou e moldou a barbatana em si, em seguida, construiu a caixa à
prova d'água que ela iria deslizar para cima e para baixo dentro. Ele montou a caixa
no lugar, encaixando-a no buraco cortado e fixando-a firmemente à quilha em um
lado, com amarras na sua frente e a trás. Seu interior foi forrado com couro e pele de
carneiro para impedir a barbatana de deslizar e para impermeabilizar a própria caixa.
Hal lançou um olhar crítico as suas, cada vez menor, opções de materiais.
Quando eles deixaram Bearclaw Creek, ele tinha pegado todas as suas ferramentas,
além de seus suprimentos de madeira, cordas, pregos, lona e ferro a partir de sua
oficina.
Agora ele estava acabando.
— Eu vou precisar reabastecer em breve — ele murmurou. Ele verificou seus
mapas e sabia que havia um porto comercial de um dia de vela para o sul. Uma vez
que o clima abrandasse, eles poderiam tomar o Garça-Real para testar sua nova
barbatana e ele poderia pegar suprimentos. Ele estava particularmente em falta de tiras
de ferro que ele precisava reforçar os pontos de parafusos do Mangler e que ele
precisava preparar um bom estoque desses. Ele já tinha perdido um terço de seus
suprimentos durante os treinos.
Ele suspirou. Ele iria enfrentar esse problema quando o vento diminuisse, ele
pensou.
Ele endireitou-se momentaneamente, aliviando as dores musculares nas costas.
Então ele ao trabalho de colagem e pregar, e encalçar a nova junta com pedaços de
corda lubrificada e lã. Finalmente, como a última luz se apagou, ele calçou uma última
peça de lã lubrificada em seu lugar e sentou-se.
— Isso deve ser o bastante. — disse ele. — Amanhã, vamos ver se funciona.
Hal acordou de repente, mais tarde naquela noite. Ele ficou deitado por um
momento, imaginando o teria acordado, ouvindo os sons fracos dos outros meninos
dormindo. Alguém estava roncando baixinho, provavelmente Ingvar, pensou.
Outro dos meninos estava murmurando incompreensivelmente algumas vezes.
Mas não foram esses ruídos que tinham despertado nele. Ele levantou a aba de lona na
entrada da tenda e olhou para fora. A lua se pôs, então ele sabia que devia ser depois
de meia-noite. Silenciosamente, ele rolou para fora de seus cobertores, vestiu o colete
de pele de carneiro e foi para fora.

100 - Brotherband
O vento tinha morrido.
Isso era o que ele tinha acordado. O vento, uivando em do sudoeste, havia sido
um fator constante nas suas vidas o tempo todo em que tinham estado aqui na Baía do
Abrigo. Ele jogou as copas das árvores no alto dos promontórios em torno da baía, a
criação de um som como de surf em uma praia.
Quando ele se afastou da tenda, ele percebeu que ele ainda podia ouvir as ondas
fora da baía, quebrando nas cabeceiras de proteção. Levaria um tempo para que as
ondas dispersassem, ele sabia, mas as árvores não balançavam e, quando ele olhou
para cima, ele podia ver as estrelas, sem a nuvem usual tempestiva cobrindo eles. O
céu estava claro.
— Eu acho que a pior parte acabou.
Hal despertou com o som. Ele virou-se para encontrar Thorn a poucos metros
atrás dele.
— Por que você não faz barulho algum quando você anda atrás de alguém —
ele perguntou com um pouco de petulância.
— Apenas hábito — Thorn disse, sorrindo. Então ele olhou para as estrelas,
brilhante na escuridão do céu. — Nós provavelmente poderiamos colocar no mar
amanhã — disse ele. — Eu acho que a tempestade tem soprado para longe - ao menos
por um alguns dias.
Hal cheirou o ar. Ele não tinha ideia do por que. Ele tinha visto os marinheiros
mais velhos fazê-lo, mas não tinha nenhuma ideia do que eles cheiravam que os
ajudassem a determinar qual o tempo ira fazer.
— Eu acho que você pode estar certo — disse ele. Ele não tinha nenhuma base
para saber se Thorn estava certo ou não, exceto que ele confiava nos instintos do
homem mais velho. Thorn tinha passado muitos anos no mar e ele entendia os padrões
climáticos. — Eu preciso de alguns suprimentos. Vamos pegar Garça-Real amanhã e
partir para costa. Vi uma cidade no mapa, cerca de um dia velejando para o sul.
Chamada Skegall.
Thorn balançou a cabeça, em seguida, agitou os braços, batendo-os contra seu
corpo. Ele estava vestindo calça e uma camisa de lã, sem casaco. Agora que a
cobertura de nuvens foi embora, a temperatura havia caído consideravelmente.
— Está frio — ele murmurou. — Não consegui encontrar o meu colete de pele
de carneiro. Você o viu?
Hal hesitou. — Quando? —, Ele perguntou.
Thorn olhou para ele com um olhar irritado. — Quando você acha? Hoje!
Hal abanou a cabeça. — Não. Eu não a vi hoje. — Ele olhou para longe,
evitando os olhos de Thorn. Thorn estremeceu novamente.
— Um maldito incômodo. Eu estou congelando.

Os Invasores - 101
— Talvez você possa comprar um novo em Skegall — Hal sugerido, mas Thorn
bufou, irritado.
— Eu não quero um novo. Eu gosto do meu velho.
— Ele era muito surrado e esfarrapado — disse Hal.
— É por isso que eu gosto. Ele combina comigo — respondeu Thorn. Então,
depois de uma pausa, ele perguntou: — Por que você diz que era velho e esfarrapado?
— Bem... era. E é. Onde quer que esteja. Vou voltar para a cama.
E ele correu de volta para seus cobertores, com Thorn olhando com suspeita
para ele.

102 - Brotherband
Capítulo treze

O
Corvo estava no mar.

Á sul de Baía do Abrigo, o tempo havia melhorado alguns dias


antes e Zavac o tinha colocado ao mar imediatamente. O Corvo era um
navio maior que o Garça-Real, com uma equipe muito maior para lidar
com ele, e para ajudá-lo, se necessário. Então Zavac não tinha receios
sobre sua capacidade de lidar com as ondas.
E os instintos de caça de Zavac foram despertados.
Depois de uma longa tempestade como a que finalmente tinha passado, ele
sabia que os comerciantes estariam ansiosos para chegar ao mar o mais rapidamente
possível. Os primeiros navios a chegar a portos comerciais nas próximas semanas
poderiam exigir uma gorda remuneração por suas cargas, uma vez que bens seriam
escassos devido a atrasos da tempestade. Uma vez que mais e mais navios voltassem
ao mar, no entanto, os preços voltariam ao normal.
Isso significava que não haveria navios solitários no oceano, carregados de
valores e bens de comércio. Seus capitães estariam atrás desses lucros iniciais
elevados. Eles não iriam esperar para viajar em companhia de outros navios - mesmo
que tal curso pudesse ser mais seguro - sua velocidade seria restrita ao do navio mais
lento da frota. E eles estariam competindo com os outros capitães para vender suas
cargas.
Ganância e um apetite por ouro eram motivadores maravilhosos, Zavac
pensava. E ele deveria saber. Isso era que o motivava. Ele tinha levado o Corvo para o
mar no dia anterior, estando a postos à cana do leme poucas horas antes do
amanhecer. Então, decidindo que o clima se manteria sem surpresas desagradáveis
num futuro próximo, ele virou-se, deixando o timão para seu segundo em comando.
Ele acordou horas depois, sentindo o movimento no navio, como a equipe de
remo alterado. Ele rolou para fora de suas peles de dormir e sentou-se. Ao contrário
do Garça-Real, o Corvo tinha uma decoração - na seção de circulação e total
comprimento do navio. Zavac tinha uma pequena cabine para dormir na popa,
acessado por uma escotilha de correr perto da plataforma do leme. O espaço livre era
mínimo - apenas um metro e meio. Mas era abrigado e seco e lhe dava a privacidade
quando queria.
Também lhe dava um excelente lugar para guardar seus tesouros pessoais. Ele
sentou-se no convés e calçou suas botas de pele de foca e um casaco de couro. Sua
espada estava para um lado na bainha e ele a pegou, preparando para ir para o convés.
Ele meio que ficou de pé, agachando-se na baixa altura livre, então parou. Havia uma

Os Invasores - 103
prateleira ao lado da cabine, fixada em um ângulo para cima, para evitar que seu
conteúdo derramasse enquanto o navio rmanobrava. Ele estendeu a mão para ele e
acariciou um saco de camurça aninhado nele, como fazia toda vez que deixava a
cabine. Ele sentiu a forma redonda dura dentro do saco e sorriu consigo mesmo.
— Oh, Oberjarl Erak, você não gostaria de ter isso de volta? — ele disse
suavemente. Em seguida, ainda sorrindo, ele deslizou a escotilha e subiu para o
convés. Andras, seu primeiro companheiro, cumprimentou-o com um aceno de cabeça
enquanto olhava o horizonte.
— Alguma mudança? — perguntou Zavac, e seu capanga balançou a cabeça.
— O vento pode ter moderado um pouco — disse ele.
Zavac acenou com a cabeça, pensativo. — Isso vai nos convir.
Andras, uma mão no leme, apontava com sua mão livre.
— Viper ainda está na estação — disse ele. Zavac tinha visto o pequeno navio
quando examinou primeiro o horizonte.
Havia sido a primeira coisa que ele procurou, na verdade. Ele estava a meio
quilômetro de distância, subindo e descendo sobre as ondas que continuavam a varrer
em direção a eles. Como o Corvo, ele estava usando remos, com a vela abaixada até o
convés, assim ele seria menos visível para os outros navios.
Originalmente chamado de Lion Sea, ele tinha sido uma das pequenas frotas de
negociação escandinava que ele havia capturado alguns meses antes. Zavac ordenou a
seus homens que o queimassem com os outros navios comerciais. Mas poucos
minutos depois, ele havia rescindido o pedido. O Sea Lion, ou Viper, como tinha sido
renomeado, era um navio em condições de navegar, com abundância de espaço de
carga para o comércio de mercadorias, e ele pensou que poderia colocá-lo em boa
utilização.
Não que Zavac o usaria para o transporte de mercadorias do comércio. Mas, o
espaço de carga também poderia ser usado para ocultar quinze a vinte homens, e ao
contrário do Corvo, o Viper parecia relativamente inofensivo. A maioria dos capitães
de negociação se fosse sensato, iria virar e fugir com a visão do longo e baixo Corvo.
Mas o Viper era um assunto diferente.
Se ela parecesse estar desativado ou naufrágando, as chances eram boas de que
um navio viria em seu socorro. Uma vez que estavam ao lado, os piratas escondidos
sairiam de seus esconderijos e oprimiriam aqueles que seriam seus salvadores. Os
comerciantes transportavam relativamente pequenas equipes, como Zavac sabia muito
bem. E, claro, o Corvo pairando sobre o horizonte, poderia precipitar-se e terminar o
trabalho.
— Não há sinal dele? — Perguntou Zavac.
Andras balançou a cabeça. — Nada até agora. Mas ainda é cedo.

104 - Brotherband
Zavac resmungou. Seu primeiro oficial estava certo. Eles estavam no mar há
menos da metade de um dia. Ainda assim, ele estava impaciente. Eles passaram
semanas ancorados em um abrigo na enseada da costa de Stormwhite - um ponto
conhecido apenas para si mesmo e vários outros capitães piratas Magyaran - e ele se
ressentia do tempo improdutivo. Seus homens eram leais a ele - mas apenas enquanto
ele pudesse abastecê-los com ouro e prata e outro montante. Ele sabia que tinha uma
reputação de um capitão de sorte, mas isso poderia mudar depois de algumas semanas
de navegação sem encontrar quaisquer vítimas. Zavac era supersticioso e ele meio que
acreditava que se não encontrasse um navio para caçar hoje, eles teriam colheitas
magras ao longo dos próximos meses.
Ele olhou para baixo, para a linha dupla de remadores, observando-os se
inclinar para frente, juntando seus pés, então puxando de volta. Os remos subiam e
desciam de cada lado do navio como as asas de um pássaro, cada um deixando um
círculo de espuma branca na água quando o navio passava.
— Você quer levá-lo? —, perguntou Andras, indicando o leme. Mas Zavac
balançou a cabeça. A maioria dos capitães sentia uma afinidade com seus navios e
gostava da sensação de comando. Mas Zavac não tinha grande prazer em dirigir seu
navio. Ele era um meio para um fim, uma maneira de ir do ponto A ao ponto B, nada
mais.
Andras fez uma careta. Ele estava no leme por quase seis horas, enquanto
Zavac tinha dormido, e as fortes ondas atuais e íngremes do mar-cruzado tornava
difícil trabalhar para manter o navio no curso. A equipe de remo tinha mudado há dez
minutos. Eles mudavam a cada duas horas. Mas ele não teve descanso. Andras se
ressentia com Zavac e ele estava ansioso pelo dia em que tivesse poupado o suficiente
de seu saque para comprar seu próprio navio.
Ele também sentiu que o desinteresse de Zavac no Corvo fazia dele menos que
um especialista ao lidar com um navio. Na opinião de Andras, um capitão tinha que
estar completamente em sintonia com seu navio, para entender suas nuances e
idiossincrasias. Dessa forma, ele seria equipado para obter o melhor desempenho do
mesmo. A falta de sensação instintiva em relação ao navio de Zavac poderia custar-
lhes caro um dia. Até agora, ele tinha sido bem sucedido, porque ele era muito rápido,
mesmo que não fosse tratado tão bem quanto poderia ser. Mas nunca foi desafiado por
um navio que poderia combinar com sua velocidade, Andras sabia.
— Sinalização do Viper!
A razão da procura estalou a mente de Andras ao voltar ao assunto em questão.
Tanto ele como Zavac se esticaram para ver ao longo do comprimento do casco do
Corvo. A visão em frente estava relativamente sem restrições com a vela retraída. Eles
viram um clarão de luz partir da popa do Viper quando um dos tripulantes lá usou um
espelho para piscar os raios do sol em direção ao Corvo.
— Responda — Zavac estalou.

Os Invasores - 105
O vigia na proa pegou um pedaço polido de metal e, inclinando-o para o sol,
enviou uma série de flashes aleatórios de volta para o Viper. Não houve necessidade
de uma mensagem nesta fase. O simples ato de piscar a luz para o outro navio deixava
o capitão do Viper saber que eles estavam vendo, esperando que o outro navio se
comunicasse usando o código simples que Zavac tinha inventado.
Houve um lampejo solitário na popa do outro barco. Em seguida, uma longa
pausa, em seguida, outro único flash.
Um. Um navio. Só podia ser um navio. Não havia mais nada aqui fora para o
Viper sinalizar.
— Responda! — Zavac ordenou novamente. O vigia mandou outra série
aleatória de flashes através do oceano, dizendo por sinalização que o Corvo tinha
entendido a mensagem, até agora, e ele podia agora passar para a próxima parte, o que
seria para indicar o curso de seu alvo pretendido.
A luz piscou rapidamente do outro navio. Zavac e Andras ambos contendo suas
respirações.
— Oito — disseram eles ao mesmo tempo em que a luz parou de piscar. Houve
uma pausa, e então ele começou novamente. Novamente, ambos contaram oito
flashes. Zavac olhou para seu imediato para confirmação.
— Ele está se dirigindo a noroeste — Andras confirmou.
Em seu código simples, os principais pontos da bússola eram indicados por
números, com um sendo o norte, dois sendo nordeste, sendo três do leste e assim por
diante. Oito flashes significava noroeste. Como eles consideravam isso, a luz começou
suas rápidas piscadas novamente. O remetente iria continuar até que eles
reconhecessem que haviam recebido a sua mensagem.
— Responda maldito! — Zavac retrucou irritado ao vigia. O marinheiro revirou
os olhos. Não era competência dele reconhecer qualquer um dos sinais do Viper até
que foi instruído a fazê-lo. Zavac não tinha nenhuma necessidade de desabafar sua
raiva contra ele. Agora, ele inclinou a placa de aço através do sol em um movimento
de vai-e-vem para enviar uma série de retornos de flashes.
Zavac pensou por um momento. O vento saiu do sul, virando ocasionalmente
para o sudoeste. Estando a noroeste, o navio desconhecido estaria sob vela, com o
vento vindo do seu bombordo.
— Sinalizar três — ele falou para o vigia. O homem acenou com a cabeça e
começou a enviar uma série de lentos flashes, três de cada vez. Ele continuou até o
Viper respondeu com um sinal de rápidas piscadas, indicando que eles tinham
recebido a mensagem.
Zavac, com os olhos fixos no Viper, falou com o canto da boca para Andras. —
Pare de remar.

106 - Brotherband
Quando o primeiro imediato transmitiu a ordem, os homens levantaram os
remos paralelos à superfície do oceano e descansaram os cotovelos sobre eles. Aos
poucos, o trajeto do baixo navio negro diminuiu e ele balançou e parou nas ondas.
A bordo do Viper, a tripulação foi apressadamente empurrando um emaranhado
de vela, corda e um mastro quebrado mais a estibordo, para o casco listado
pesadamente. Então, quando um dos tripulantes na popa acendeu um pote pequeno de
ferro cheio com trapos oleosos, uma coluna de fumaça negra começou a ir para cima.
Em poucos minutos, o navio pouco guarnecido havia assumido a aparência de
danificado - e um em situação desesperadora.
— Levem-no ao porto — Zavac disse, e Andras ordenou a tripulação para
começar a remar novamente, subindo ao leme para que o Corvo começasse uma longa
volta para o nordeste. Gradualmente, o Viper desceu abaixo do horizonte, até que
todos pudessem ver era dela a coluna de fumaça, flutuando na brisa moderada.
— Espere-o aqui — disse Zavac.
Andras emitiu ordens para os remadores alternadamente remar e arribar de
modo que o Corvo manteve sua posição.
— Elevar o chicote de proa! — Zavac gritou, e vários tripulantes ficaram
ocupados, levantando um mastro esguio e anexando-o ao posto de proa. O vigia
rapidamente escalou o poste estreito. Ele balançou sob seu peso, mas manteve-se
firme. Havia uma peça transversal perto do topo e ele se estabeleceu nele, envolvendo
os braços e as pernas ao redor do mastro vertical.
— Eu tenho Viper à vista — ele chamou.
Zavac acenou com a cabeça, satisfeito. No mastro fino o vigia estava imóvel e
seria muito menos visível do que no mastro grosso e convés do. As chances eram da
vítima nunca veria a figura do vigia, suspenso logo acima do horizonte.
Eles esperaram. Minutos se passaram sem maiores relatório do mirante.
Finalmente, Zavac chamou em exasperação.
— Você está vendo alguma coisa?
— Apenas o Viper — foi à resposta.
Andras olhou para o capitão com desprezo suave. — Ele diria se tivesse visto
— ele murmurou.
Zavac virou para ele. — Não me ensine o meu trabalho — ele rosnou. —
Apenas certifique-se que você está fazendo o seu!
O seu e o meu, Andras pensava. Mas ele sabiamente não disse mais nada.
Mais espera. A mão de Zavac fechou e abriu no punho da sua espada, sua
bainha atravessava o cinturão pesado em sua cintura. Ele amaldiçoou sob sua
respiração, imaginando o que estava acontecendo além do horizonte. O navio
desconhecido pode ter cheirado um rato e se afastou. Seu código de sinal
apressadamente concebido não era suficientemente sofisticado para o Viper enviar-lhe

Os Invasores - 107
uma nota minuto a minuto. Ele poderia dizer-lhe quantos navios havia e de que forma
eles estavam indo, pouco mais.
— Vigia! — Ele estalou. — Você está vendo alguma coisa?
Houve uma pausa, enquanto o vigia consideradava gritar de volta Se eu visse,
eu diria a você, não é? Mas ele descartou a idéia. Zavac tinha um temperamento
incerto e o vigia tinha visto homens mortos por insubordinação muito mais suave do
que isso. Em vez disso, ele respondeu como antes.
— Apenas o Viper.
Houve outra pausa, enquanto Zavac caminhava no convés, e para trás,
franzindo a testa em fúria. Andras estava tentado a salientar que, se sua presa havia
zarpado, Viper não estaria mantendo-se a aparência de um navio em perigo. O fato de
que a fumaça ainda flutuava acima do horizonte indicava que ele estava fazendo isso.
— Capitão! — Gritou o vigia.
A cabeça de Zavac vociferou.
— Há outro navio à vista! Um mercante bom, espaçoso, pela aparência dele. E
ela está indo para o Viper!

108 - Brotherband
Capítulo quatorze

emos prontos! — Zavac gritou, sem se preocupar em transmitir a


— R ordem através de Andras. Os remadores se dividiam mais firmemente
nos bancos, rolando seus ombros e esticar seus músculos antes de
começar a remar.

O restante da tripulação estava ocupada armando-se, e fazendo piadas sobre o


destino de sua pretendida vítima.

— Cuidado! — Rosnou Zavac.

— Ela está chegando ao lado de Viper... quase lá. Agora ela está ao lado... Ha!
Lá vão as cordas do Viper!

O último relatório foi entregue com um grito de triunfo. O vigia se esticou


rodando em seu poleiro para ver qual seria a reação de Zavac. Ele não tinha tempo
para esperar.

— Remos! — Zavac gritou.

Os remos mergulharam na água fizeram uma pausa, em seguida, enviaram o


navio pirata para frente com uma súbita afluência de explosão de energia. O líder dos
remadores, sentado a meio caminho ao longo do lado de bombordo, onde ele podia ser
ouvido por todos os seus companheiros, comandou a cadência de algumas remadas,
em seguida, eles se estabeleceram em um ritmo e ele precisou de toda a sua folego
para remar.

Aos poucos os outros dois navios escalaram o horizonte quando Corvo navegou
para a batalha. Em alguns minutos, Zavac poderia dizer detalhes de seus próprios
homens populando ao longo dos baluartes no navio mercante, tripulação remando na
proa quando eles se forçaram para trás ao longo do convés. Os números negros de
piratas pareciam cobrir o convés do outro navio. Zavac poderia dizer não mais oito do
que na tripulação mercante. Possivelmente menos.

Ele se virou para Andras.

— Traga-nos ao longo da proa de bombordo. —, ele ordenou. O Viper já estava


agarrado a estibordo do navio mercante ao lado, agarrando-se como uma sanguessuga.

Os Invasores - 109
Andras assentiu e pegou o leme. O Corvo balançou até que ele estivesse a
caminho, então se firmou.

— Mais rápido! — Zavac gritou, e o líder dos remadores pesado chamou uma
nova cadência, aumentando o ritmo dos remos. O Corvo parecia saltar para frente.
Eles estavam perto o bastante para ouvir os gritos dos feridos e do choque de espadas
contra espadas, pontuada pelas maçantes batidas pesadas de eixos atingindo escudos
de madeira. Ocasionalmente, como um golpe foi para casa, eles podiam ouvir sons se
quebrando.

Estavam próximos aos dois navios e agora Zavac havia dado um aviso.

— Em remos!

Os remadores a porta ao lado instantaneamente ergueram os remos e se foram


de perigo, segurando-os verticalmente quando a navio deslizou ao lado do
comerciante, em seguida, raspou contra ela com um arrastado acidente, estremecendo.

Outros membros da tripulação ficaram de pé com fateixas e eles se atiraram


agora e se transportaram em um aperto sobre as cordas, Corvo estava bloqueado
contra o mercante. Quando os dois baluartes foram a terra, bem quando Zavac
desembainhou a espada e abriu o caminho para o outro navio.

— Vamos lá! — Ele gritou e um número de piratas o seguiu para a batalha.

Havia apenas quatro tripulantes do mercante deixados vivos agora. À vista dos
números esmagadores enfrentádos, eles soltaram gritos de desespero e depois em
resposta a um que era, obviamente, o seu capitão, eles deixam cair suas armas para o
convés com um barulho. O gesto de rendição já estava tarde demais para uma delas,
quando a lança de um pirata já estava empurrando para frente. Levando-o no meio do
corpo e levando-o de volta. Ele gritou e caiu no convés, a lança ainda transfixando-o
quando o pirata lutou para libertá-lo.

— Basta! — Rugiu Zavac. — Abaixem suas armas!

Alguns dos homens do Viper pareciam relutantes em obedecer. O seu sangue


fervendo ainda da luta foi para cima e eles não tinham que parar. Zavac esperava isso
e ele tinha preparado três homens de sua própria tripulação, todos os grandes armados
com porretes, para assumir o comando. Ele apontou para frente agora.

— Pare-os — disse ele.

Não foi feito por qualquer senso de misericórdia. Ele observou o capitão, que
tinha dado a ordem para render-se, era um dos sobreviventes. Zavac queria tempo para
interrogá-lo. Às vezes, a negociação de capitães poderia fornecer informações muito
valiosas.

110 - Brotherband
Os três grandes homens passaram pela tripulação do Viper, empurrando-os para
fora do caminho. Eles chegaram ao lanceiro assim quando ele libertou sua arma do
corpo do marinheiro. Seus olhos estavam selvagens e ele ainda estava olhando sua
outra vítima. Um dos grandes homens o atordoou com um golpe na cabeça. Foi tão
esplicito, tão casualmente brutal, quase uma reflexão tardia. O lanceiro se contorceu e
caiu do convés.

Zavac em seguida, empurrou para frente através do grupo que cercava os


restantes três marinheiros. Ele agarrou o colar do capitão em sua mão esquerda. E com
sua direita segurou sua espada em longa curva.

— Você! — Ele gritou. — Você é o Capitão, sim?

O homem olhou para ele com desprezo em seus olhos. Em seguida, cuspiu no
convés.

— Oui — respondeu ele. — Je suis le capitaine.

— Gallican? — Zavac exigiu, e o homem assentiu. Zavac olhou rapidamente


para os outros sobreviventes.

Ambos eram marinheiros comuns. Suas roupas lisas, rostos e mãos ásperas, eles
resistiam e se debatiam como rabo de porco obviamente como suas vitimas tinham.
Eles tinham pouca informação útil. Zavac gesticulou para eles com sua espada.

— Matem os dois.

Quando o capitão percebendo o que estava prestes a acontecer tentou gritar um


protesto, dois da tripulação Corvo se adiantaram e cortaram os marinheiros para
baixo. Um morreu em silêncio. O outro deu um grito de dor e teve um breve
desespero, em seguida, caiu no convés manchado de sangue.

— Avalie o navio — Zavac ordenou. Ele reembainhou sua espada, em seguida,


empurrou um dedo polegar no Galicana do capitão. — Traga-o para trás — ele
ordenou.

Dois dos grandes homens que o seguiram a bordo pegaram o capitão por um
braço de cada lado e escoltaram para a popa do navio. Ao sinal de Zavac, eles
atiraram o capitão para o convés. Zavac inclinou contra o baluarte perto do leme,
olhando com curiosidade para o capitão.

— Agora, vamos ver o que o seu navio está levando — ele disse suavemente.

Descobriu-se que o comerciante estava levemente carregado, o que indica que


ele já havia vendido mais de sua carga mais para o sul.

Os Invasores - 111
— Você foi rápido fora da marca — Zavac disse alegremente enquanto
inspecionava a pequena pilha de bens permanecidos de comércio e arrastou-se a partir
do espaço de carga. Havia alguns barris de vinho e cerveja, alguns jarros de argila,
óleo e vários fardos de lã.

Andras inspecionou o último.

— Qualidade muito ruim — ele chamou. Zavac assentiu. Eles devem ter sido
incapaz de encontrar um comprador para a lã, ele pensou.

— Então, você negociou todos os seus bens — disse ele para o capitão. O
homem olhou para ele, parecendo não compreender, até a fina camada de bom humor
de Zavac foi deixado de lado.

— Não brinque comigo! — Zavac gritou, atraindo uma longa adaga de uma
bainha em seu cinto. — Você fala a língua comum! Você é um comerciante!

Rápido como uma cobra dando o bote, ele passou a lâmina fina do punhal no
rosto do Gallican, a imposição abrir um corte longo. As mãos do homem voaram para
seu rosto, em seguida, ele olhou, sem compreender, na coloração de sangue em suas
mãos. O ataque de Zavac tinha sido tão rápido e sua lâmina tão afiada, que o capitão
mal tinha sentido o corte. Agora ele registrou a dor, uma sensação de queimação no
rosto acompanhado do sangue escorrendo em suas roupas.

Ele amontoou longe do Magyaran, encolhendo o ombro em uma tentativa


fútil de evitar mais punição.

— Fale comigo — Zavac exigiu, sua voz calma mais uma vez.

O capitão com uma mão ainda pressionado sob o corte em seu rosto, respondeu
devagar.

— O que eu devo dizer?

Zavac sorriu, e apontou a ponta da adaga no rosto do homem, segurando-o


levemente na palma de sua mão e deixando a lâmina saltar para cima e para baixo em
seus dedos.

— Você vendeu sua carga. Isso significa que seu bolso está cheio de dinheiro e
de ouro. Onde ele está?

Uma vida inteira saqueando outras naves disse-lhe que em algum lugar haveria
um cofre escondido, onde o ouro que tinha ganhado seria mantido. É claro, seus
homens poderiam encontrá-lo, eventualmente, se dividiriam e o enviariam separados.
Mas o ouro era relativamente fácil de esconder e era geralmente mais simples de ter
suas vítimas dizendo a ele onde estava o cofre.

112 - Brotherband
O gallican, porém, balançou a cabeça.

— Não há ouro — disse ele. — A negociação foi ruim. O navio foi danificado
nas tempestades e eu tive que pagar por reparos. Não há mais nada, eu juro. — Zavac
olhou para o punhal na mão, parecia chegar a uma decisão e reembainhou. Ele
suspirou profundamente, olhando para o céu, em vez da figura ranzinza do capitão no
convés na frente dele.

— Você sabe — disse ele em tom de devaneio — Eu me pergunto quantos


navios eu tomei e afundei ao longo dos anos. Cem? Duzentos? Provavelmente 200 é
mais perto da marca. E eu me pergunto por que, em apenas sobre cada um desses
casos, o capitão me disse que não há ouro. Não há cofre. Não há sem compartimento
escondido em seu navio. Eles dizem a mesma coisa o tempo todo. E você sabe o quê?

Agora, ele deixou seu olhar cair sobre o capitão. O homem ainda estava
pressionando seu rosto ferido, embora o sangue estava a começar a congelar e não
mais fluir livremente. O capitão olhou para o pirata com medo em seus olhos. Zavac
levou-o a responder a sua pergunta.

— O que? — Disse o capitão.

— Eles estavam todos mentindo. Cada um deles. Então, por que eu acho que
você é diferente?

— Eu... — o capitão começou. Em seguida, ele se calou. Ele sentiu que era
inútil falar com este homem. Ele sabia que sua vida estava perdida e a única vingança
possível que ele poderia ter era negar a Zavac o conhecimento que ele estava
procurando. Zavac olhou para ele com piedade fingida. Então ele fez um gesto de
desprezo.

— Eu posso ver que você não vai me dizer — disse ele. Ele se virou e foi
embora, voltando para o arco. Ele não tinha ido mais de três passos antes de se voltar
para seus dois capangas grandes.

— Torturem — disse ele brevemente. — Chame-me quando ele estiver pronto


para conversar.

Ele considerou sua declaração, em seguida, ele emendou. — Pensando bem,


quando ele estiver pronto para conversar, mantenha a tortura por mais cinco minutos.
Em seguida, me chame.

Demorou quinze minutos para o capitão Gallican cooperar. Então, conforme as


instruções, os torturadores continuaram seu trabalho medonho por mais cinco antes de
Zavac pedir a suspensão. O capitão ficou irreconhecível agora. Seu rosto era uma
máscara de sangue e mais sangue manchando sua camisa. Dois dos dedos da mão
direita estavam faltando, como sua orelha esquerda. Havia um corte profundo sob um

Os Invasores - 113
olho. Era isso que finalmente o convenceu a dar a boca dos dentes Mesmo que,
logicamente, ele sabia que estava indo para morrer, o pensamento de perder o olho
tinha sido muito horrível.

Zavac entrevistou com interesse profissional, então sorriu para seus dois
assistentes musculosos.

— É incrível o que você pode conseguir em poucos minutos com apenas um par
de lâminas afiadas — disse ele. Então ele caiu de joelhos ao lado do capitão, que
estava deitado de bruços em uma poça de seu próprio sangue, respirando
ruidosamente passando um nariz quebrado.

— Agora — disse Zavac. — O cofre.

Ele teve que se curvar mais perto para ouvir a resposta, arrastado e sem fôlego
com a dor como estava.

— Painel falso... atrás... cabo da âncora ...

Zavac bateu o homem de coração no ombro.

— Assim é melhor! — Disse. — Tenho certeza que a verdade tenha purgado


sua alma da maldade. — Ele se levantou e começou a ir em direção à proa. Um dos
torturadores o deteve.

— Devemos acabar com ele? — ele perguntou, mas Zavac balançou a cabeça.

— Espere até ver se ele está dizendo a verdade — disse ele. — Talvez eu tenha
que fazer mais perguntas.

Mas o cofre estava onde o capitão havia dito, escondido atrás de um painel
falso. Não houve bloqueio.

O esconderijo era considerado bastante seguro. Mas quando Zavac arrancou a


tampa e o abriu, seus olhos arregalaram com avareza.

Havia ouro ali, é claro. E muito. Mas aninhado em um pequeno compartimento


próprio estavam nove magníficas esmeraldas – as maiores e melhores que Zavac já
tinha visto.

— Olá — disse ele, intrigado. — De onde você acha que estes vieram?

Ele repetiu a pergunta para o capitão que balançou a cabeça cansado, incapaz
de reunir forças para responder. Zavac foi tentado por um momento para acertá-lo,
sacudi-lo e forçar a resposta dele. Mas ele percebeu que isso seria a abordagem errada.
Em vez disso, ele caiu de joelhos, inclinou-se e sussurrou para ele.

114 - Brotherband
— Diga-me de onde as esmeraldas vieram. E eu vou fazer a dor parar.

Os olhos de sangue de aros subiram ao encontro dos seus e ele assentiu


encorajando. Finalmente, o Gallican convocou sua força.

— Limmat. Eles vieram de Limmat.

Limmat era um porto comercial para o sul de onde eles estavam agora. Zavac
franziu a testa. Ele nunca tinha ouvido falar de esmeraldas em uma parte da costa.

— Não minta para mim — advertiu ele, o sorriso desaparecendo de seu rosto.
Mas o Galicana balançou a cabeça obstinadamente.

— Verdade. Há uma mina nas montanhas atrás da cidade. Escondida. Segredo.

— Escondido? Como é escondido?

— Um celeiro. Construído na base de uma colina. Ele oculta a entrada da mina.

Zavac esfregou o queixo, pensativo.

— Eles tiveram um monte de problemas para escondê-lo — ele meditou. O


capitão chamou em outro suspiro trêmulo antes de responder.

— Eles não querem que ninguém saibam.

O sorriso de Zavac voltou.

— Eu não os culpo — disse ele. — Se ele era bem conhecido, pode atrair a tipo
errado de pessoas.

Ele se levantou, uma expressão pensativa no rosto. Ele precisa de mais homens
se ele ia tomar Limmat. Era uma cidade bastante grande e seus habitantes,
presumivelmente, estariam prontos para lutar para salvar a sua mina de esmeralda.
Mas Zavac sabia onde poderia encontrar reforços. Havia uma baía algumas léguas de
distância, na costa que servia como um ponto de reunião para os navios Magyaran.
Era uma prática padrão para os piratas para chamar em suas viagens de ida, a
verificação de palavra de um alvo de ameixa como este. Qualquer capitão que tinha
que se deparar com uma oportunidade como essa e precisava de mais homens
poderiam encontrar reforços dispostos lá.

Ele ia lá, pensou ele, e ver se alguns de seus compatriotas estavam lá. Se não,
ele ia esperar alguns dias. Nesta época do ano, com a temporada de caça de partida,
um navio quase certamente chegaria ao próximo futuro. Ele começou a andar para
longe, imerso em pensamentos, quando o capitão o chamou.

— Você prometeu...

Os Invasores - 115
Zavac virou-se, franzindo a testa.

— Eu prometi? Prometeu o quê?

— Parar a dor... — O homem estendeu a mão suplicante. Com dois dedos


faltando e endurecido na rápida secagem de sangue, lembrou Zavac da garra de um
pássaro mais do que de uma mão humana.

— Será que eu o fiz? —, Disse ele, então ele sorriu enquanto ele parecia se
lembrar. — Então eu fiz. — Ele se voltou para o capitão e puxando a espada curva,
correu o homem completamente.

— E eu sou um homem de palavra.

Então ele se virou para seus cúmplices e apontou o polegar para o capitão
morto.

— Jogue-o ao mar.

116 - Brotherband
Capítulo quinze

os remos — disse Hal. Os Garças se apressaram para dar


— A cumprimento à ordem. Então, antecipando o próximo comando,
Jesper e Stefan dirigiram-se para as adriças, preparando-se para
levantar a verga da vela. Ao fazerem isso, Ulf e Wulf moveram-se para a vela para
aparar a escota.

O navio estava singrando as águas de Baía do Abrigo como uma gaivota, a uns
qinze metros da costa. Logo, eles veriam se a nova barbatana de Hal funcionaria ou
não.

A barbatana foi posicionada na parte superior da caixa da quilha. Thorn ficou


por ali pronto para empurrá-la para baixo, de modo que a estendeu mais abaixo do
casco.

— Velas a estibordo — Hal ordenou, e Jesper e Stefan posicionaram a verga a


estibordo e a vela subiu o mastro. O vento na baía estava moderado, mas ainda forte o
suficiente para empurrar a vela para estibordo. Sem necessidade de comando, Ulf e
Wulf foram em direção as escotas e apertaram a vela. O navio saltou, com a amurada
de estibordo chegando perto da água, até que abrandou e ficou mais ereto.

Hal sentiu o momento de emoção já costumeira, quando o navio voltou à vida,


surgindo em toda a baía, o leme vibrando um pouco contra sua mão. A água bateu
contra o casco, e ele podia sentir pequenos impactos através das solas dos seus pés.
Quando o Garça-Real ganhou velocidade, ele acenou para Thorn.

— Desça-a!

Thorn se inclinou sobre a barbatana e empurrou-a através da caixa da quilha na


água logo abaixo. O acolchoamento e defletores que Hal tinha adicionado no interior
da caixa foram feitos para um maior conforto. Alguns espirros de água vieram,
deslocados pela barbatana conforme ela desceu.

Instantaneamente, Hal sentiu a diferença quando a barbatana travou a


velocidade. Um barco quilha-rasa como o Garça-Real tende a ir com o vento, e o
casco colidia um pouco quando ele virava. Agora, a resistência adicional da barbatana
teve efeito, de modo que ao empurrar o leme para estibordo, o barco respondia
instantaneamente, girando em volta da barbatana com praticamente nenhum
movimento de colisão lateral.

Os Invasores - 117
Ele olhou para Stig, que o observava, ansiosamente da porta, ao lado do banco
do remo traseiro.

— Como é que está? — Stig perguntou. O enorme sorriso de Hal deu-lhe a


resposta. E o jovem skirl acenou-lhe da plataforma do leme.

— Veja você mesmo

Como Stig subiu para acompanhá-lo, Hal chamou Thorn.

— Levante a barbatana Thorn. — Ele queria que Stig sentisse a diferença com a
barbatana abaixada e fazendo efeito.

Thorn grunhiu com o esforço, e levantou-a. Hal sentiu a deriva começar de


novo, quase que imediatamente.

— Esse é um ajuste perfeito — disse Thorn. — O que você colocou nele?

— Oh, couro e alguma pele de carneiro — disse Hal distraidamente. Ele não
percebeu o olhar penetrante de Thorn quando ele disse pele de carneiro. Stig estava de
pé ao lado dele, ansioso para tomar o leme. Hal o entregou e chamou Thorn
novamente.

— Abaixe a barbatana, Thorn.

Thorn olhou para ele, e em seguida, empurrou a nadadeira para baixo


violentamente. Água foi espirrada para fora da caixa da quilha.

— Sobre que pele de carneiro, você quer dizer? — Ele murmurou


sombriamente.

Mas Hal estava observando o rosto de Stig quando ele sentiu o efeito. Um
sorriso largo combinou com a sua própria percepção sobre as características de seu
amigo.

— Isso é incrível! — Stig disse. — O Garça-Real acompanha com muito mais


realidade! E quase não há vento!

— Tente uma vez — Hal sugeriu. Mais uma vez, a barbatana nova mostrou o
seu valor quando Stig puxou o leme em direção a ele e o navio girou ordenadamente e
imediatamente, sem derrapar.

— O Garça-Real era bom antes — disse ele, os olhos arregalados de espanto.


— Mas agora é perfeito.

Eles foram mais ao longe, na baía e agora o vento soprava mais forte. Hal
tomou o leme e gritou para os gêmeos.

118 - Brotherband
— Tragam a vela rígida.

Eles hastearam aparando a escota. Com a vela rígida e achatada, o Garça-Real


deu um salto e a pressão para a frente aumentou. Mas foi equilibrada pela resistência
da nadadeira abaixo da superfície. Ulf e Wulf foram capazes de aparar a vela mais e
mais. O Garça-Real moveu-se mais e mais rápido através da água. Eventualmente,
eles chegaram a um ponto onde a água estava a poucos centímetros da amurada de
estibordo, correndo pelo costado do navio em uma esteira de espuma branca. Eles
aliviaram a vela um pouco para evitar que o barco inundasse. Na popa do navio, a
esteira branca mostrava a velocidade de sua passagem.

Stig e Hal ambos gritaram triunfantes.

— Incrível! — Stig disse. Hal estava muito feliz para dizer qualquer coisa. Seu
sorriso enorme disse tudo por ele. Ulf e Wulf olharam para a plataforma do leme. Ulf
balançou a cabeça em descrença.

— Surpreendente! — Disse. — Nós nunca poderíamos ter feito isso aqui antes!

— Olhe o quão rápido ele vai! — Wulf disse.

Hal acenou para Thorn.

— Venha experimentar, Thorn! —, Disse. — Afrouxem a vela, rapazes, e Stig,


você traz a barbatana!

Thorn e Stig trocaram de lugar. Stig esperou até que Ulf e Wulf havia
afrouxado consideravelmente a vela, em seguida, soltou a barbatana mais uma vez.

Como ele fez isso, Thorn disse significativamente, — Cuidado. É um ajuste


bem apertado. Aparentemente alguém forrou com pele de carneiro.

De repente, a preocupação de Thorn com o colete foi registrado e Hal olhou


com culpa o antigo lobo do mar.

— Ah... — disse ele sem jeito. — Desculpe, Thorn. Eu não sabia que era o seu
colete de pele de carneiro... eu meio que encontrei... e eu...

— Você assume que uma ovelha morreu e deixou-lhe o seu colete? — Thorn
disse com sarcasmo. — Só escorregou dele e deixou por aí para você encontrar?

— Bem, não. Não é verdade. Eu só não acho que...

— E todos nós estamos acostumados com isso, não estamos? — Thorn


respondeu. Ele segurou o olhar de Hal até que o skirl jovem baixou os olhos.

Ponto feito, Thorn pensava. Então ele pegou o leme.

Os Invasores - 119
— Certo. Vamos ver como esta belezinha de vocês funciona.

Mais uma vez, eles passaram a sequência de ações para testar o efeito da
barbatana, e como Stig, e Hal antes dele, Thorn foi surpreendido com a diferença que
fez para o desempenho do navio.

— Bem, você conseguiu — disse a Hal. — Velocidade e agilidade. Você tem


os dois, agora, em grande quantidade. — Mantendo a tensão do leme com o seu
gancho, ele bateu no ombro de seu jovem amigo com a mão esquerda. — Eu suponho
que mais tarde você vai colocar asas sobre ele para que possa voar?

Hal riu. — Eu estive pensando sobre isso. Não tenho certeza se eu posso fazê-lo
funcionar... ainda.

Ao testar a barbatana, foram para trás e para frente dentro de Baía do Abrigo.
Agora, eles estavam indo para a entrada novamente. Hal estudou o mar fora da baía.
As ondas eram maiores, mas nada com o qual não poderia lidar com o Garça-Real.
Ele olhou para Thorn.

— Você acha que esse tempo vai continuar? —, Perguntou. Thorn olhou para o
céu, seus olhos se estreitaram concentrados.

— Eu diria que ele está limpo agora. Devemos estar bem por um par de dias,
pelo menos.

— Então vamos nos dirrigir para a costa, para o comércio da aldeia —, disse
Hal. — Há suprimentos que quero comprar.

— Incluindo um bom, caro e novo colete de pele de carneiro — Thorn disse a


ele.

Hal assentiu várias vezes. — Bem, é claro. Esse é o primeiro item da lista.

— Sério? Eu gostaria de ver essa lista — disse Thorn.

Hal bateu na testa com um dedo. — Está tudo aqui na minha cabeça — disse
ele. — Mas o colete de pele de carneiro é o primeiro item lá. Confie em mim.

120 - Brotherband
PARTE 2

OS INVASORES

Os Invasores - 121
Capítulo dezesseis

A
Cidade de Limmat estava no lado leste de um pequeno porto, situada
na costa ocidental de uma ampla e profunda baía. Uma paliçada de
madeira cercava a cidade.

A entrada do porto era estreita com guaritas de madeira em ambos os lados.


Uma barragem pesada e longa corre pela boca do porto, impedindo a entrada de
navios estranhos. Qualquer navio que tentasse forçar seu caminho através da barragem
poderia ser abatido por setas e tiros de chumbo de arqueiros e fundeiros nas torres. No
interior, o porto era ampliado para proporcionar ancoragem abrigada. Qualquer força
invasora que se aproximasse do largo, pela baía aberta para o nordeste, teria que
romper essa paliçada. Um portão pesado foi posto lá, aonde um pequeno trecho de
praia ia da entrada até as águas calmas.

Na costa sudoeste, o terreno consistia em pântano com sua localização mais


baixa, impenetrável. A água atingia a altura da cintura, e no fundo, lama traiçoeira.
Qualquer ataque deste lado, rapidamente atolaria nos pântanos. Poderia ser navegado,
com botes pequenos ou coracles, mas muitos deles teriam que usar de muita força para
passar pelo pântano. E mesmo se os atacantes conseguissem, teriam que se espalhar
durante a abordagem e os defensores da cidade os avistariam antecipadamente.

Além disso, qualquer ataque bem sucedido através do pântano e mesmo


conseguindo reagrupar, ainda se encontrariam do lado errado do porto e da paliçada
que cercava a cidade.

Era uma excelente posição de defesa, Zavac pensou enquanto observava o porto
da plataforma do Corvo. O navio, longo e baixo cruzou, a remos, quatrocentos metros
da costa. Ele podia ver o movimento nas torres de vigia. Os defensores o viram. Ela
era, obviamente, um navio de guerra, não um navio comerciante, e o alarme logo seria
acionado.

Olhando para a entrada estreita do porto, ele poderia fazer uma linha imaginária
na água branca. Ele apontou para Andras.

— A barragem está fechada — disse ele.

O segundo no comando assentiu. — Eles provavelmente deixam assim o tempo


todo — respondeu. Com a mão acima dos olhos, virou para as cabeceiras de cada lado
da entrada. Haveria dispositivos em algum lugar que permitiria que os Limmatans a

122 - Brotherband
movessem como um registro, abrindo-a para a entrada dos navios que eles queriam e
fechando-a novamente para barrar os visitantes menos bem-vindos.

— Eles nos viram — disse Andras para Zavac. — Nós perdemos o elemento
surpresa.

Andras ficou intrigado. Se planejavam atacar e invadir Limmat, seria melhor se


os defensores não tivessem idéia de que eles estavam ali. Um ataque à noite seria o
melhor, pensou ele, deslizando acobertados pela escuridão e atacando uma das duas
guaritas com escadas de escalada. Mas agora que o Corvo tinha sido visto, haveria
pouca chance de surpreendê-los. Os defensores estariam alerta. Eles teriam chance em
dobro durante a escuridão, esperando só para atacar.

E uma guarnição prevenida e nervosa era uma porca muito mais difícil de
quebrar do que uma complacente que se sente segura e protegida dentro de sua
fortaleza.

Zavac sorriu para ele. — Eu quero que eles nos vejam — disse ele. — Eu quero
que eles saibam que estamos na aqui. Eu tenho um tipo diferente de surpresa para eles.
Agora, vamos dar-lhes um show.

Ele cutucou a cana do leme e virou o Corvo em direção à costa. Os remadores


mantiveram seu ritmo fácil e o navio negro deslizou pela água. Quando chegaram
mais perto, ele deu gritos desafiando os homens de plantão nas guaritas. A luz do sol
brilhou sobre as lâminas das armas quando os membros da guarnição as sacudiram.

Zavac apontou o Corvo para o fosso entre os promontórios do porto.

— Rápido — ele ordenou, e os remadores aumentaram seu ritmo. O Corvo


começou a fluir para frente, sua velocidade aumentando. Uma onda branca formou em
sua proa como uma flecha indo em direção à barragem - quatro toras maciças, ligadas
entre si por pequenos pedaços de corrente, flutuando logo abaixo da superfície da
água. Se não fosse pelas pequenas ondas que quebram em torno dela, seria
praticamente invisível.

Ele mediu a distância. Eram cento e cinquenta metros que faltavam agora e o
som de gritos e choque de armas era mais alto que cada golpe dos remos. De repente,
ele levantou seu braço.

— Arribar! — Ele gritou. Os remadores lutaram contra seus remos para reverter
a pressão. Ele sentiu o Corvo travar, de repente, e cambaleou um passo à frente antes
de recuperar o equilíbrio.

— Atrás bombordo! Frente estibordo! — Ele ordenou e, com os dois bancos de


remadores puxando e empurrando freneticamente em direções opostas, o Corvo

Os Invasores - 123
cambaleou, em uma curva difícil, adernando abruptamente fazendo a água correr ao
longo das amuradas portuárias.

Da costa, ele esperava, parece que tinham notado o aumento da barragem, no


último momento e jogado o navio em uma parada de emergência.

— Lento para frente — ele ordenou, e os remadores estabeleceram um ritmo


suave, mais uma vez.

Os gritos e vaias das torres foram redobrados quando o Corvo, aparentemente


frustrado, começou a afastar-se.

— O que foi aquilo? — Andras perguntou.

Zavac sorriu. — Nós vamos voltar amanhã.

O segundo no comando balançou a cabeça, perplexo. — Você espera que eles


façam alguma coisa diferente amanhã?

— Ah, sim. Amanhã, eles vão nos receber de braços abertos — disse Zavac, em
seguida, acrescentou, com um encolher de ombros, — Bem, com a barragem aberta,
pelo menos.

— Navio vindo! Ao sul!

O homem na torre de vigia leste berrou. Imediatamente, houve um alvoroço


entre todos em torno dele, saltando a seus pés para se juntarem na balaustrada de
madeira. Ele ouviu um movimento dentro do pequeno compartimento que fornecia
abrigo para aqueles que não estavam de serviço, em seguida, o assistente do
comandante surgiu, apressadamente desembainhou sua espada. Feito isso, espanou
algumas migalhas de sua túnica conforme se juntava ao vigia na balaustrada. Ele
obviamente teve seu almoço interrompido.

A tensão entre os guardas era alta. O número foi dobrado desde que o navio
pirata tinha sido avistado no dia anterior, e estavam prontos para um ataque.

— É o navio negro que vimos ontem? — O comandante perguntou.

O vigia negou com a cabeça, apontando. — Não. Muito menor. Um


comerciante, eu diria. E está com pressa.

124 - Brotherband
O comandante seguiu o braço apontando e franziu a testa. Era um pequeno
navio de comércio e estava definitivamente com pressa. Seus oito remos venciam a
água rapidamente. Mesmo à distância, ele pensou que podia sentir o pânico em seus
movimentos. Eles não estavam remando suavemente em um ritmo coordenado.

Pelo contrário, parecia que cada remador estava simplesmente debatendo o


remo na água o mais rápido que pudesse.

— Ele está com pressa, certamente — ele murmurou, apertando os olhos na


tentativa de captar mais detalhe. Mas a distância ainda é muito grande.

Além de seus oito remos, o pequeno navio tinha o seu conjunto velas quadradas
que subia seguindo o vento. Quando chegaram mais perto, o comandante pôde ver que
a vela era velha, estendida de forma tosca pelos anos de uso. Velas eram caras e a
maioria dos capitães de navios comerciais iria escolher, para economizar dinheiro, não
substituí-las, ou apenas tê-las reformadas, até perderem a sua eficiência. Eles
economizariam dinheiro até um dia, como o de hoje, quando o navio tem que correr,
por sua vida, do perigo.

E havia perigo agora. Dois quilômetros atrás do navio de comércio, uma forma
escura, sinistra moldou-se facilmente através do horizonte.

— Aquilo é o motivo do pânico! — Disse o comandante, apontando.

— São os pirata! — Alguém gritou. — O navio negro que tentou nos atacar
ontem!

— Pena que ele viu a barragem no último minuto — disse o vigia


resmungando. Ele esteve de plantão no dia anterior quando o navio negro tinha
dirigido a toda a velocidade para a boca do porto, apenas conseguindo deter seu
progresso quando avistou a barragem. A guarnição havia assistido ansiosamente
enquanto se aproximava, esperando para vê-lo quebrar seu arco contra os enormes
troncos que barravam a entrada do porto. Houve gritos de decepção quando conseguiu
parar, mesmo a tempo, então esgueirar-se e ir embora com o rabo entre as pernas.

Obviamente, tinham ido à busca de presas mais fáceis, atrás de algum navio que
estivesse indo para Limmat para comercializar.

— Ele está ganhando! — Um soldado gritou. Não é preciso dizer qual navio ele
quis dizer. Em contraste com as irregulares ações espasmódicas dos remadores do
comerciante, os bancos gêmeos de remos do navio negro moviam-se para baixo, para
trás, para cima, para frente e para baixo novamente no tempo perfeito. Ele estava
cruzando a água, diminuindo rapidamente à distância para o navio mercante.

— Há outro! — O grito subiu quando um terceiro navio apareceu no horizonte.


Seu casco era verde escuro e era quase tão longo quanto o navio negro.

Os Invasores - 125
— Outro pirata, eu vou ser preso — disse o comandante. Mas o novo
participante estava longe demais da popa para afetar o resultado da corrida
desesperada diante deles. Ele olhou para o navio comercial. Podia ver mais detalhes
agora. Os lados do casco foram enfeitados com setas e havia vários corpos
esparramados imóvel no convés.

A vela, velha e disforme como era, foi ainda mais afetada por um rasgo grande
que corria de um lado, permitindo que o vento espalhasse.

Ele olhou para o navio pirata negro. Definitivamente ganhava velocidade, mas
o navio comercial estava se aproximando, e muito, da entrada do porto. Estava sendo
uma perseguição, mas depois de alguns minutos, ele pode ver que o comerciante
queria apenas levar seu navio para segurança em tempo.

Ele virou-se para os homens encostados na balaustrada ao lado dele. Alguns


começaram a gritar, incentivando o navio pequeno e aflito, que se arrastava em
direção a eles.

— Desça para o dique — ele gritou. — Tem de abrir a barragem e deixá-lo


entrar!

A torre vibrou com a corrida dos homens que desceram as escadas para
obedecer-lhe. Ele os seguiu, demorando alguns minutos para medir as velocidades
relativas e distância dos dois navios envolvidos na corrida de vida ou morte.

O comerciante conseguiria, ele viu. Mas precisavam se mover de forma


inteligente e fechar a barragem novamente antes dos piratas chegarem até eles.
Correndo para o cais, pegou o chifre sinalizador do seu suporte e deu um longo
assopro para alertar os guardas no dique oposto. Seus próprios homens já estavam
soltando a enorme corrente que prendia o extremo leste da barragem no lugar. Ao
terminarem, ele acenou freneticamente para os homens do outro lado do porto.

A maré começou a balançar a barreira para longe do dique. Então, os soldados


do outro lado abriram o enorme molinete dali e começaram a arrastar a barragem para
abri-la ainda mais rápido. Conforme abria, seus homens já seguravam o cabo pesado
que eles usassem para trazer as toras de volta no lugar novamente. Como o deixaram
para fora, ele afundou, não impedindo o navio que se aproximava.

O assistente de comandante olhou para a abertura da barreira para ver que o


comerciante tinha apenas vinte ou trinta metros de distância e agora com um propósito
remando muito mais e coordenado. Mas em vez de ir direto para o porto, o navio
estava se dirigindo para o dique onde ele estava.

E, de repente, uma dúvida terrível o assaltou. O comerciante estava sob ataque


do pirata negro e seus consortes. Isso era óbvio, os corpos dos mortos no convés e as
setas ao longo do casco. Eles devem ter lutado durante um quarto - talvez uma

126 - Brotherband
centena- de metros ou menos. Então, como ele teria conseguido escapar? E como ele
tinha conseguido uma liderança tão grande em cima do navio negro?

Ele correu para frente quando percebeu o que estava acontecendo, gesticulando
para as suas tropas ao homem do molinete deste lado da boca do porto que traria a
barreira fechada novamente.

— Fechem a barragem! Fechem a barragem! É um truque! — O comandante


assistente gritou, a voz embargada com a tensão do momento. Mas já era tarde
demais.

O navio de comércio já estava apontando, dobrando em direção à abertura do


porto. Ele correu ao lado da parede de pedra como se fosse estilhaçar e, de repente,
homens fervilhavam de seus decks - muito mais do que um navio poderia ter em sua
equipe. Ele também observou que os esparramados marinheiros aparentemente mortos
que estavam a bordo, tinham vindo à vida como se por alguma magia negra e, de
armas na mão, foram escalando o dique, dando gritos de guerra e fazendo ameaças.

Ele sacou a espada e correu para tentar empurrá-los de volta. Já os seus homens,
apanhados de surpresa, estavam caindo. Alguns conseguiram juntar forças e montar
uma defesa. Mas eles eram lamentavelmente poucos.

Ele viu um homem alto, moreno pendurado para trás e gritando ordens para os
piratas e mudou de direção, indo para ele. Se pudesse matar seu líder, a cidade poderia
ter uma chance. Pelo canto do olho, podia ver o navio preto se aproximando mais
perto da boca do porto aberto. Teria que agir rapidamente, percebeu.

O líder dos piratas estava de costas e ele puxou sua espada para atacar.

Alguns segundos antes do Viper colidir com a lateral do muro do porto, Zavac
abriu a escotilha de carga e gritou para os homens agachados lá embaixo.

— Vamos lá!

Houve um rugido como resposta dos vinte homens escondidos abaixo do


convés que saíram de seu esconderijo, seguindo-o enquanto ele corria para a proa para
lutar em terra. Dois de seus homens, detalhados para o trabalho, pularam do navio e o
atracaram a um anel de amarração situado na parede do porto.

Quando ele chegou ao cais, Zavac ficou de lado e deixou a primeira onda de
homens atrás dele passar. Gritando e urrando, eles caíram sobre os membros da
guarnição desorganizados, alguns dos quais tinham começado a tentar operar o
guincho gigante e fechar a barreira novamente. Zavac desembainhou sua longa e
curva espada, e apontou para frente.

— Parem eles! — Ele gritou, e meia dúzia de seus homens inclinados para fora
em direção ao molinete, cortavam os membros da guarnição antes que eles tivessem a
Os Invasores - 127
oportunidade de se defender. Ele acenava o resto para frente, onde um pequeno grupo
de defensores estavam juntos, tentando desesperadamente conter a onda de piratas que
enxameava ao longo do cais.

— Mate-os! — Ele gritou. — Mate todos eles!

Ele olhou por cima do ombro. O Corvo estava quase na boca do porto. Como
tinha sido instruído, Andras garantiria seu lado mais distante do cais de dentro do
porto e enviaria o resto dos homens do Corvo para a terra numa corrida. Uma vez que
a guarnição da torre tivesse sido eliminada, Zavac e seus homens teriam, de cabeça
para baixo, o dique a se juntar a eles.

Stingray, o navio verde escuro tinha sido recrutado no ponto de encontro


Magyaran, fora da costa, desembarcaria seus homens em poucos minutos e qualquer
resistência adicional dos Limmatans seria inútil.

Ele respirou fundo para gritar outra ordem, então sentiu um movimento atrás
dele. Instintivamente, abaixou-se e sentiu o assobio de uma lâmina de espada passar
perto, logo acima de sua cabeça. Sem olhar, girou sobre seu pé direito e empurrou
violentamente a lâmina longa e curva com a mão. Sentiu uma resistência
momentânea, pausa, em seguida, penetrar.

Só agora, ele olhou, e viu a sua espada no fundo da barriga de um dos oficiais
da guarnição, a julgar por suas roupas e armaduras. A estocada de Zavac tinha parado
logo abaixo do peitoral altamente polido que o homem usava. Os olhos do policial
estavam totalmente abertos com o choque. Sua boca se abriu, movendo-se
silenciosamente. Então, suas pernas vacilaram e ele caiu de lado, apoiado por um
momento pela lâmina de Zavac, no fundo de seu corpo, em seguida, caindo, conforme
o pirata arrancou-a, deixando-o livre.

— Má sorte — Zavac sorriu para ele. — Quase me pegou.

Então o sorriso desapareceu, e uma raiva negra veio sobre ele, dirigida a este
cidade pequena, que tinha quase acabado com a vida de Zavac, com um golpe de sorte
de sua lâmina.

Ele colocou o pé no o soldado caído e o rolou para a borda do cais e para dentro
das águas do porto.

128 - Brotherband
Capítulo dezessete

O
cervo entrou delicadamente na clareira, fez uma pausa, em seguida, avançou
alguns passos para uma moita de capim grosso, exuberante. Parou, girou a
cabeça, orelhas levantadas para o menor ruído, narinas contraídas para
detectar qualquer cheiro estranho, dado a ele pela brisa leve.

Mas Lydia estava a favor do vento e nenhum traço do seu cheiro atingiu o
animal. Ele abaixou a cabeça para a grama, começou a pastar, e de repente levantou
novamente e correu, em busca das árvores que circundam a clareira à direita do local
onde Lydia ficou de pé, imóvel, à sombra de uma árvore.

O veado estava em excelentes condições, roliço e disposto, olhando. Ele tinha,


obviamente, se alimentado bem, desde a melhora do tempo ao longo das últimas
semanas. Estava meio crescido e Lydia adivinhou que esta era sua primeira temporada
longe de sua mãe. Sua carne seria suave e deliciosa, ela pensou, não dura e fibrosa
como a de um adulto maduro. E ela sabia que seu avô gostaria de receber a adição de
vinte quilos de carne de cervo nobre para a sua despensa. As coisas tinham sido
difíceis para ele, pois havia perdido seu pequeno navio de piratas duas temporadas
passadas e com ele seu filho e sua filha adotiva.

Ele contava, agora, com suas magras economias, e tudo o que ele conseguia
ganhar fazendo biscates no estaleiro em Limmat. Sua esposa estava morta há muitos
anos e o ponto brilhante em sua vida era Lydia. Embora, paradoxalmente, enquanto
ele estimava sua companhia, sentiu a responsabilidade por seu bem-estar como um
fardo.

Nas últimas temporadas, Lydia havia contribuído para a despensa e renda


familiar com carne fresca, que ela trazia. Ela era uma perita caçadora e foi capaz de
fornecer carne para sua própria mesa, bem como extra para vender para os
fornecedores no mercado. Coelhos lebres e aves de caça, todos vendidos bem. Mas o
mais popular de todos entre os cidadãos de Limmat era o veado, particularmente carne
macia de um jovem cervo como a que estava a vinte e cinco metros de distância. Ela
manteria os cortes de escolha e venderia o resto, ela decidiu.

Ela sorriu ironicamente. Primeiro matar o veado, pensou, então você pode
contar o dinheiro que vai fazer vendendo-o.

Lydia estava com dezesseis anos. Ela era um pouco mais alta do que outras
meninas de sua idade, possivelmente por causa de anos de atividade e exercício na
floresta. Ela poderia correr mais que a maioria dos garotos da cidade e era uma
Os Invasores - 129
perseguidora muito melhor do que qualquer um deles. Era magra, com longas, mas
bem musculosas pernas, e ombros levemente mais amplos do que a maioria das
meninas - de novo, provavelmente o resultado de uma vida de exercício.

Dezesseis anos de idade, as meninas tendiam, em Limmat, a enfeitar e alisar e


proteger a suavidade de suas mãos delicadas e as características, protegendo-os do sol
e dos rigores do trabalho duro. Lydia teve pouco tempo para isso. Ela se divertia com
a liberdade dos montes de madeira e roças. Ela estava bronzeada e em forma, e se
movia com a mesma graça e economia de movimentos que os animais que caçavam.

Seu cabelo e características eram o desespero de outras meninas. Enquanto elas


passavam horas diante de seus espelhos, penteando, provando e aplicando loções e
óleos perfumados, ela simplesmente escova seus brilhantes e negros cabelos e
amarrava-os com uma fita preta. E enquanto elas sentiam necessidade de aplicar
sombreamento e coloração em torno de seus olhos, os dela eram castanhos claros e um
pouco inclinados. Seu avô, muitas vezes pensou que em algum lugar, em sua
ancestralidade distante, um incursor Temujai tinha deixado nela, aqueles olhos. Suas
maçãs do rosto eram altas - outra indicação de um Temujai de tempos atrás - e sua
pele era imaculada.

De todo, ela era uma garota muito bela, embora fosse totalmente inconsciente
do fato. Seu avô, Tomas, muitas vezes disse isso a ela, é claro. Mas ela deu de ombros
modestamente. Todos os avós achavam que suas netas eram lindas. Ou, pelo menos,
disseram-lhe assim.

O veado, seus medos dissipados para o momento, baixou a cabeça para a grama
e começou a pastar a sério. Movendo-se com cuidado infinito, Lydia equipou o dardo,
que ela estava carregando em sua atlatl1, à vara que deu força extra e velocidade para
sua lança.

Ela havia escolhido o atlatl e seus dardos, longas setas parecidas com flechas,
como sua arma de caça, após longa consideração. A maioria dos garotos da Limmat
usavam arcos. Mas os meninos tendem a ser mais pesados e com músculos mais
construídos, e Lydia não poderia igualar sua força. Assim, um arco, com um pesado
desenho, estava além de suas capacidades. Ela poderia, é claro, optar por um arco de
baixa potência, mas de alguma forma a idéia de usar uma arma inferior não recorreu.
Em vez disso, ela escolheu o atlatl, uma arma que poderia reforçar sua própria
capacidade natural para lançar um projétil.

Uma vez que tinha escolhido a arma, começou a dominá-la com sua habitual e
simples mentalidade objetiva, praticando por horas e horas até que ela pudesse lançar
um dardo com a mão, com precisão e uma força surpreendente. A vara de lançamento
tinha cerca de quarenta centímetros de comprimento. Um pequeno esporão em forma
1
Atlatl – é uma vara com um gancho na ponta utilizado para aumentar a alavancagem ao atirar
uma lança.
130 - Brotherband
de gancho numa extremidade, encaixada num entalhe correspondente na parte de trás
do dardo. Quando ela lançou o dardo, o atlatl atuou como uma alavanca,
multiplicando a força do arremesso muitas vezes.

Os dardos tinham sessenta centímetros de comprimento, com penas passando


no final, como de uma flecha, mas ligeiramente deslocadas para fazê-los girar em voo.
As pontas eram como navalha afiada de ferro, uma vez mais como a de uma flecha.
Ela tinha dez dardos desses na aljava, em suas costas, que foi preenchido com pele de
carneiro que segurava os dardos firmemente no lugar, para não chocalhar e sinalizar
sua posição à sua presa. Quando estava caçando, ela sempre trazia um décimo
primeiro dardo em sua mão esquerda, evitando a necessidade de movimentos
desnecessários, com o seu potencial para ruído, ao retirar um dardo da aljava.

Ela saiu, suavemente, de trás da árvore. Velocidade era essencial agora, quando
o cervo, provavelmente, sentiria qualquer movimento. Com calma e destreza, levantou
seu braço direito e o inclinou para trás, o cervo levantou a cabeça.

Ela viu os músculos de suas ancas se retraírem, e se prepararem para saltar


longe, então ela trouxe o atlatl a frente, acelerando suavemente quando jogou, e
calculando os graus, colocou seu peso para trás.

Ela poderia acertar um coelho a sessenta metros. Um cervo meio crescido á


vinte e cinco era brincadeira de criança. O dardo atravessou a clareira e, até mesmo
quando o veado começou a virar e fugir, o projétil bateu em seu lado esquerdo, por
detrás e acima da pata dianteira, e penetrou seu coração, matando-o instantaneamente.

As pernas do cervo dobraram e ele desabou no gramado.

Lydia já estava a poucos passos de atravessar a clareira em que ele caiu. Ela
sabia, quando lançou o dardo, que era um bom lançamento. O veado estava do seu
lado, os olhos abertos, mas sem ver. Uma perna tremeu violentamente em uma reação
nervosa, mas ela sabia que já estava morto quando se ajoelhou ao lado dele.

— Sinto muito — disse ela. Era a reação automática de um caçador de verdade.


Ela havia matado o cervo por sua carne, não para o chamado esporte, e, de forma
alguma, não por prazer sádico. Lamentou que o veado tivesse de morrer, mas, ao
mesmo tempo, reconheceu a necessidade.

Ela cuidadosamente retirou o dardo de um lado do cervo. A pequena quantidade


de sangue que escorria do ferimento mostrou que o coração parou de bombear. Ela
enxugou o eixo limpo com um punhado de grama, então colocou o dardo em sua
aljava. Colocando a atlatl para um lado, ela estendeu a mão para a pequena faca de
esfolamento que pendia do lado direito de seu cinto. Estava equilibrando, do lado
esquerdo, um longo punhal de lâmina pesada. Se o animal não tivesse sido morto, ela
teria usado isso para um corte rápido e misericordioso através da garganta.

Os Invasores - 131
Ela revirou o cervo em suas costas e se preparou para fazer a primeira incisão
cuidadosa, antes de estripá-lo.

Então ela parou, farejando o ar.

Ela podia sentir o cheiro de fumaça. Essa nunca foi uma sensação bem-vinda
quando alguém estava no meio da floresta, entre milhares de pinheiros, que iriam
incendiar-se, iguais a muitas tochas caso um incêndio se alastrasse. Nervosa, ela
examinou as árvores ao seu redor. Não havia nenhum sinal de incêndio, mas o cheiro
estava mais forte agora e o vento estava vindo da direção da própria cidade, Limmat.
Franzindo a testa, levantou-se, deslizando o atlatl na bainha ao lado da faca de esfolar,
e deixou a carcaça do cervo onde estava, dando passos longos até uma pequena
inclinação para a esquerda, para um cume que ela sabia que levantaram para limpar o
terreno, com vista para a cidade abaixo.

Agora ela podia ver uma coluna de fumaça subindo além das árvores. O fogo,
definitivamente, vinha da cidade. E agora havia algo mais. Fraco, quase inaudível,
mas a brisa carregava com ela. Vozes. Vozes gritando.

Bem, gritando era lógico, se houvesse um incêndio, ela pensou. E a partir da


densidade crescente da coluna de fumaça, definitivamente havia um incêndio. Então,
ela ouviu vozes em uma nota mais alta. Havia pessoas gritando. Mulheres gritando.

Ela ficou no topo da colina e olhou para baixo. Abaixo, na queda acentuada, a
cidade de Limmat, com o seu porto e sua paliçada, espalhados abaixo dela. O fogo
chamou sua atenção em primeiro lugar. Concentrou-se na construção da guarnição
sobre a extremidade interna do cais. O edifício estava queimando ferozmente, e vários
edifícios menores perto de casas e lojas, pegou fogo também. Fumaça e chamas
saindo deles.

Mas ninguém parecia estar tentando manter o fogo sobre controle. Quando ela
olhou, viu homens correndo ao longo do cais, espalhando-se para as ruas que levavam
ao interior da cidade. Ela viu a luz solar piscar em armas e seu coração sacudiu com
medo. O povo de Limmat viveu com a preocupação de que o segredo da mina de
esmeralda, fora da paliçada, em face do cume que subia, abruptamente, por trás da
cidade, um dia seria descoberto. Quando esse dia chegasse, os invasores e piratas não
estariam longe dele.

E parecia que o dia havia, de fato, chegado.

Lançando seu olhar mais amplo, ela viu um navio estrangeiro no porto – um
comprido e esguio navio negro que fora amarrado ao cais interior. Olhando para trás,
para as torres de vigia e da barreira, ela avistou um pequeno navio, ancorado no ponto
onde a barreira deve fechar. E outro navio de guerra, este um verde escuro, foi
encalhado no final do interior do porto.

132 - Brotherband
— Piratas — ela murmurou para si mesma. Então, de repente, com medo, ela
olhou para a parte da cidade onde a casa de seu avô se levantou. Por um momento, ela
não conseguiu ver nada. As ruas estreitas restringiam sua visão do que estava
acontecendo. Então ela percebeu figuras correndo e viu as armas subindo e descendo.
Os invasores chegaram à parte da cidade onde ela morava. Vários pequenos incêndios
começaram a surgir. Um deles parecia estar ameaçadoramente perto da rua onde a
casa de Tomas estava. Mas ela não podia ter certeza. Sob esse ângulo, as ruas eram
estreitas demais e muito misturadas.

Uma coisa que ela sabia. Se os atacantes tinham penetrado tão longe para
dentro da cidade, seu avô seria um dos primeiros a correr para a rua para tentar levá-
los de volta. Mas ele era um homem mais velho agora, e a velocidade e o poder que
ele tinha gostado, de anos atrás, haviam o deixado. Ele seria páreo para um pirata
jovem, em forma, sanguinário e enlouquecido?

Ela tinha que descer do cume e ajudá-lo.

Ela hesitou. A queda diretamente diante dela era muito íngreme para negociar.
Havia uma trilha de corrida até a cidade, sinuosa para frente e para trás, descendo a
colina íngreme. Mas ficava a várias centenas de metros de distância, para o leste.

Não havia tempo a perder. Ela partiu, em direção ao longo do cume, seus
longos passos, devorando a distância até o ponto em que o caminho começou o seu
percurso descendente. O início da trilha era uma porta de entrada sombria entre as
árvores e ela mal notou o ritmo quando mergulhou e começou o caminho longo e
torcido, para baixo.

Ela tropeçou uma vez, mal conseguindo parar de cair e acabar, com força,
contra um pinheiro. Percebeu que muita velocidade era contraproducente. Se caísse e
se ferisse no caminho, seria inútil para seu avô. Ela diminuiu o ritmo para uma
corrida, escoriações na necessidade, mas sabendo que isso devia ser feito.

Galhos chicoteavam em seu rosto, enquanto ela continuava descendo. Em


alguns lugares, o caminho era pouco maior que os ombros e cipós e trepadeiras
cresciam em toda parte, agarrando-a e tentando retardar sua descida. Mas ela forçava
seu caminho, na sua mente vinha a horrível visão de seu avô afundando lentamente de
joelhos sob a espada de um pirata, o sangue jorrando entre seus dedos enquanto
tentava fechar uma grande ferida em seu corpo.

Pare, ela disse para si mesma. Esse tipo de pensamento não vai ajudar Tomas.
Ela acelerou novamente. Caiu, rolou, levantou-se, continuou, a imagem ainda
terrivelmente clara em sua mente.

No fim, o caminho foi se ampliando e a inclinação foi diminuindo. Ela entrou


na clareira, no pé do morro e fez uma pausa para poder se orientar.

Os Invasores - 133
A paliçada estava diretamente à sua frente. À sua direita, a cerca de 300 metros
de distância, havia um portão secundário. O portão principal, que levava à praia, era
mais longe. Mas foi na direção da casa de Tomas. Então, depois de um momento de
hesitação, ela virou à esquerda e começou a correr novamente.

O barulho de luta dentro da cidade era muito mais alto agora, intercalados com
gritos que só poderia ter vindo de mulheres. Ela aumentou seu passo.

Então, por trás dela, ouviu-se um grito.

Ela se virou. Havia um grupo de meia dúzia de homens correndo em sua


direção. Ela teve tempo de registrar as bandanas em volta da cabeça, as botas pesadas
e as espadas curvas e pequenas, escudos de metal redondos.

Magyarans, pensou. Piratas. E eles a tinha visto. Ela começou a correr


novamente, cegamente, sem nenhuma idéia de onde ela poderia ir para escapar. Os
piratas foram atrás dela. E havia mais deles na cidade à frente.

Algo bateu violentamente no chão ao lado dela. Era uma lança, atirada por um
dos homens atrás dela. Eles tinham, obviamente, conseguido quando ela olhou para
trás, diminuindo seu ritmo. Por um momento, ela brincou com a ideia de parar e
enviar de três a quatro eixos atlatl arremessado para eles. Mas, três ou quatro dardos
não iriam parar todos eles. E ela seria oprimida e levada.

Os gritos redobraram e ela aumentou seu ritmo, tentando afastar-se de seus


perseguidores. Mas um rápido olhar para a sua direita disse a ela que não estavam
gritando para ela, mas para os seus companheiros, na paliçada em torno da cidade. Ela
pôde ver cabeças e ombros lá, e armas sendo brandidas.

Então algo serpenteou sobre a parede e caiu no chão. Uma corda.

Quase imediatamente, um dos piratas, sobre a paliçada, passou erguendo-se


sobre a borda e iniciou o esforço para descer a corda para terreno externo. Seguido de
outro, e um terceiro. Eles eram marinheiros treinados e se moviam descendo a corda
habilmente, correndo em direção a ela e soltando-a assim que seus pés tocavam o
chão.

Ela virou para a esquerda, com o coração batendo forte, sua mente correndo.
Ela não tinha ideia para onde ir, como escapar. Todo o pensamento de chegar à casa
de seu avô tinha ido embora agora. Ela estava irremediavelmente se desviando
daquela direção.

Ela mergulhou nas árvores novamente e, forçando a mente para funcionar,


percebeu que estava indo para um riacho estreito cerca de cinquenta metros à sua
frente. Iria efetivamente barrar o seu caminho, deixando-a como uma presa fácil para
os homens a perseguirem.

134 - Brotherband
A menos!

Ela lembrou que Benji, um rapaz com quem ela teve um pequeno romance, às
vezes, deixava seu barco de pesca atracado sobre uma pequena praia em algum lugar
ao longo deste riacho.

Mas onde? Onde estava ela agora, e onde ficava a pequena praia de areia em
relação à sua posição atual? Ela não tinha certeza, mas o seu senso inato de direção e
instinto caçador disse a ela para a direita. Ela inclinou para esse lado, esperando, além
de toda a esperança, de que o barco estaria lá. O riacho estava, de repente, à sua
frente, e ela foi novamente à direita, andando em paralelo com seus bancos. Atrás, ela
ouviu gritos e o som de corpos pesados caindo através da vegetação rasteira.
Soluçando agora com esforço, e dobrando com uma pontada agonizante em seu lado,
ela andou cegamente ao longo da margem do riacho, seus olhos procurando os
arbustos e árvores à sua frente.

Ele estava lá!

Um esquife pequeno, apenas três metros e meio de comprimento. Mas


fortemente construído de tábuas de pinho. Foi posto bem fora da água, por cima do
ponto em que a maré alta poderia alcançar. Seu coração se apertou quando viu a
distância que teria que movê-lo para colocá-lo na água.

Ela cambaleou ofegante para a praia e se atirou no barco, empurrando e


levantando com toda a sua força para movê-lo. Ela poderia muito bem ter tentado
mover uma árvore. O barco permaneceu imóvel.

Então ela percebeu que deveria puxá-lo para a água levantando a popa
bruscamente, limpando a areia para que ele se movesse. Ela correu para o outro lado,
agarrou, levantou e puxou. O barco deslizou meio metro antes dela ser forçada a
deixá-lo cair.

Mais uma vez, ela levantou e soltou, desta vez mantendo o esforço até que o
barco tinha movido um metro inteiro e meio antes dela ter que soltá-lo mais uma vez.

As vozes e o som de pés correndo estavam mais perto agora. O terror deu-lhe a
força extra. Soluçando com esforço e medo, ela levantou e soltou, cambaleando quatro
passos, cinco, seis, com o barco a correr atrás dela, movendo-se mais facilmente
quando ela chegou a areia firme abaixo da linha da maré.

Suor corria em seus olhos, ardendo e cegando-a. Ajustou o barco. Levantou e


soltou novamente, sentiu a água em torno de seus tornozelos e percebeu que tinha
chegado ao riacho. Agora, o barco começou a deslizar mais facilmente e a água levou
o peso dela. Ela deslizou para dentro do riacho, com água nos joelhos, quando o
primeiro dos piratas veio tropeçando por entre as árvores, menos de 10 metros de
distância. Ele a viu e parou, voltando-se para gritar para os companheiros.

Os Invasores - 135
— Por aqui! Por aqui! Eu o encontrei!

Ela entendeu devidamente que, vestida como estava, em um gibão de camurça,


calças justas e caneleiras trançadas, a tinham tomado por um menino. Não que isso
importasse. O que importava era fugir. A ação do pirata, fazendo uma pausa para
chamar seus companheiros, foi o que a salvou. Se ele tivesse simplesmente corrido
atrás dela, teria pegado ela antes que chegasse a águas mais profundas. Mas agora o
barco estava bem e verdadeiramente à tona e ela saltou para dentro dele.

Havia dois remos deitados no fundo do barco. Ela se atrapalhou para ajeitá-los
nos toletes e manter o barco em movimento. Mas ela estava exausta e eles eram
pesados e de difícil controle. E agora o pirata percebeu seu erro. Ele mergulhou da
margem para a areia e correu atrás dela. Ela levantou os remos, procurou seu curso
com eles e caranguejou o barco para o lado. Em seguida, ele foi com água até a
cintura e quase até ela. A água mais profunda desacelerou-o, e por um momento, ela
pensou que ela havia fugido. Então ele agarrou a popa, o barco parou de se mover.

Ela desviou um dos remos e apontou para ele, visando a mão que segurava a
popa. Ele gritou de dor, liberando o barco. Mas em seguida, pegou o remo e começou
a puxá-la, como um pescador que bobina um peixe. Ela levantou novamente o remo,
tentando arrancá-lo de suas mãos.

Por um segundo ou dois, eles lutaram pela posse. Ele era mais forte do que ela e
não tinha corrido montanha abaixo antes deles começarem sua disputa mortal.

Aos poucos, ele foi ganhando a competição, transportando o barco de volta para
águas mais rasas. Em desespero, ela lançou suas forças sobre o remo, dando um
último empurrão contra ele.

Surpreso, ele cambaleou para trás e caiu, ficando completamente submerso sob
o impulso de seu empurrão final, o barco deslizou para longe em águas profundas. O
pirata voltou para a superfície, pragejando e cuspindo, e viu que o barco estava agora
dezenas de metros de distância. Seus companheiros surgiam das árvores agora e
gritavam ameaças atrás dela acenando armas para o ar. Ela ficou aliviada ao ver que
não tinha armas de projétil. Nenhum arco, ou lanças de arremesso.

Mas ela tinha.

Rapidamente, ela tirou um dardo da aljava, levou o atlatl de sua bainha em seu
cinto, e montou os dois juntos.

Ela mirou rápidamente para o homem que quase a pegou, então lançou. Seus
companheiros foram surpreendidos quando ele gritou e jogou os braços para cima, em
seguida, caiu para trás de novo na água, indo abaixo da superfície mais uma vez.
Quando ele reapareceu, eles viram o dardo enterrado em seu peito, e a bandeira de
sangue vermelho se afastando na água.

136 - Brotherband
Em pânico, eles voltaram e aos tropeções saíram da água, empurrando uns aos
outros de lado enquanto se esforçavam para colocar distância entre si e a figura do
esquife.

Mas Lydia não estava interessada em atirar mais dardos neles. Ela entrou em
colapso na parte inferior do barco. Tardiamente, ela percebeu que tinha apenas um
remo. Ela empurrou-o desajeitadamente sobre o lado do barco, usando-o como uma
pá. Era pesado e complicado e o barco respondeu lentamente a seus esforços. Mas ele
começou a caranguejar lentamente a jusante. A maré estava vazante, e depois de um
minuto ou mais, o barco foi pego por ele, movendo-se com velocidade crescente em
direção à baía, então Lydia continuou inábil, remando ineficazmente. Ela estava
exausta, física e mentalmente, mas os homens que a tinham perseguido agora estavam
fora da vista conforme o barco passava por uma curva. Devidamente, ela percebeu que
a maré iria levá-la para fora do riacho, para a baía, e depois para fora da baía, para o
oceano.

O que seria dela então, não tinha idéia. Mas trouxe o remo a bordo e ele caiu,
sacudindo, no assoalho do barco.

Ela se preocuparia em obter de volta mais tarde. Por enquanto, ela tinha que ir
embora.

Os Invasores - 137
Capítulo dezoito

S
kegall era uma pequena vila de pescadores, a meio dia de navegação ao
sul de Baía do Abrigo. Com o vento em seu bombordo, Hal estabeleceu a
rota do Garça-Real ao longo da costa. Como tinham decidido quando
testaram, a barbatana nova lhes permitiu fortalecer a vela, com muito menos
inclinação, eo barco moveu-se sensivelmente mais rápido.

Stig estava estudando o gráfico por vários minutos. Ele emergiu sob o abrigo
pequeno de tela e se moveu para ficar ao lado de Hal. Por alguns minutos, ele
observou o movimento do navio, varrendo a superfície das ondas que rolaram num
constante desde o oeste, e depois deslizando para baixo, do outro lado, para cortar a
água verde e espalhar gotículas para o alto, de cada lado da proa. A tripulação, sem
nada para fazer no momento, deitaram nos bancos de remo, aproveitando o sol.
Apenas Ulf e Wulf permaneceram alertas, no caso de haver uma necessidade
inesperada para ajustar a vela. Stig inclinou a cabeça para eles.

— Esses dois estão se comportando — disse ele.

Hal assentiu. — Eles ainda brigam como cão e gato, quando estamos em terra
— disse ele. — Mas nenhum deles quer perder sua posição como um aparador de
vela.

Depois do timoneiro, aparadores de vela gozavam de prestígio considerável a


bordo de um navio viking e nenhum dos gêmeos estava disposto a renunciar a ele.
Eles estavam orgulhosos de sua capacidade instintiva, e eles estavam cientes pela
antiga experiência que Hal cumpriria se fizesse uma ameaça. Então, se eles brigavam
enquanto o Garça-Real estava a caminho, eles sabiam que pelo menos um deles seria
imediatamente rebaixado e atribuído a outros deveres.

— Eu estava olhando para o mapa — disse Stig. — Limmat é apenas mais um


dia ao longo da costa, e é uma cidade muito maior do que Skegall. De acordo com as
notas de navegação, Skegall é pouco mais que uma vila.

— É por isso que eu o escolhi — disse Hal. — Eu não quero anunciar a nossa
presença no caso do Corvo estar em algum lugar na área. Quanto mais as pessoas nos
verem, mais as línguas vão comentar sobre isso.

Stig considerado o fato, com o rosto pensativo. — Verdade. Mas há um


mercado maior em Limmat.

138 - Brotherband
— Um pequeno mercado irá atender às nossas necessidades — disse Hal. —
Nós não queremos nada de exótico. Edvin quer alguns grampos, como farinha, sal e
café. E eu preciso de corda, ferro, pregos e madeira.

— E um colete de pele de carneiro novo e agradável para Thorn — disse uma


voz do lado da caixa de quilha, onde o lobo do mar de um braço só parecia estar
cochilando, com os olhos fechados. Hal revirou os olhos para Stig.

— E um colete de pele de carneiro novo e agradável para Thorn — repetiu ele.

Os olhos Thorn permaneceram fechados. — Apenas tenha certeza que você não
esquecerá.

— Como eu poderia? — Hal disse, em voz baixa.

— Ouvi isso. — Thorn falou.

Quando Skegall surgiu, Hal fez a tripulação baixar a vela triangular.

— Nós vamos remar — disse ele. — Eu não sei se Zavac já viu Garça-Real sob
vela. Mas se ele fez, não há sentido em deixá-lo saber que estamos aqui.

Com o mesmo pensamento em mente, Hal teve Ingvar cobrir a balestra gigante
com uma lona, e amarrá-la para baixo apertado.

Eles levaram o pequeno navio ao porto, os remos subindo e descendo


suavemente. O fato de que o vento estava vindo da terra ajudou seu subterfúgio. O
Garça-Real poderia fazer seu caminho em ziguezague, mas um navio normal de vela
quadrada iria remar. Como eles vieram através da entrada do porto, Thorn puxou a
barbatana e guardou-a atrás do mastro. Em seguida, ele deixou cair, sobre a caixa da
quilha, uma das velas.

— Não há sentido em todo mundo saber tudo sobre nós — comentou a Hal, que
assentiu com a cabeça.

Os poucos espectadores assistiram com poco interesse enquanto o pequeno


navio encostava. Mas o Garça-Real, sem a sua vela triangular visível, não era nada
fora do comum. A tripulação se reuniu na proa enquanto Hal deu-lhes suas
atribuições.

— Ingvar, você vem comigo. Notei um estaleiro na orla do porto quando


entramos. Eles devem ter tudo o que precisamos. Ulf, fique aqui e mantenha os olhos
no barco. Wulf, dê a Edvin uma mão na compra dos alimentos. Stig, você e Thorn
andem aoredor do mercado. Vejam o que podem descobrir. Jesper, você e Stefan
façam o mesmo. Mantenham seus ouvidos abertos para qualquer notícia sobre o
Corvo. Mas não tornem demasiado óbvio que estamos interessados. E Jesper, não
tente roubar nada, certo?
Os Invasores - 139
— Eu só peço emprestado. E sempre lhes devolvo — Jesper protestou.

Hal se perguntou por um momento se ele realmente queria ser skirl deste grupo.
Às vezes, ele pensou, manuseá-los era como pastorear gatos.

— Então, isso valhe poupar problemas — disse ele. — Nenhum empréstimo.

Um pensamento lhe ocorreu e ele olhou para Thorn.

— Thorn, talvez seja melhor se todos nós fingirmos que você é o skirl. Se
Zavac estiver na área e a notícia chegar até ele sobre um navio capitaneado e tripulado
por meninos, ele pode simplesmente somar dois mais dois.

Thorn assentiu. — Boa ideia — disse ele. — Eu também vou ficar de olho no
mercado para uma pele de carneiro agradável e cara.

Hal revirou os olhos. — Você faz isso — disse ele. Ele percebeu que Ulf estava
franzindo a testa para ele.

— Porque é que Wulf tem que ir com Edvin e eu tenho que ficar aqui? — Ulf
reclamou.

Hal olhou firmemente por alguns segundos, sabendo que Ulf já sabia a resposta.
Então, ele respondeu: — Porque nós não estamos no mar e se eu deixar você e Wulf
juntos, vocês vão brigar.

— Não, nós não vamos — disse Ulf.

— Sim, nós vamos — respondeu Wulf instantaneamente. Quando seu irmão


respirou fundo pela resposta, Hal levantou uma mão.

— Vê? Já está começando.

Ulf fez beicinho, em seguida, tentou mais uma vez. — Eu quero comprar algo
no mercado. Eu estou com fome.

Hal suspirou. Ele olhou de um gêmeo para o outro. Eles realmente eram
impossíveis de distinguir, pensou ele.

— Olha, eu não me importo qual de vocês fica e qual vai. Atire uma moeda
para decidir.

— Eu não tenho uma moeda — Ulf respondeu.

Hal estendeu as mãos. — Então, como você ia comprar alguma coisa no


mercado? Problema resolvido.

140 - Brotherband
Na verdade, Thorn era o único entre eles que tinha dinheiro. Ele rapidamente
distribuiu umas poucas coroas para cada um dos meninos, dando extra para Edvin e
Hal, que teriam que comprar suprimentos.

— Jesper — disse Hal, — Encontre uma barraca de comida e consiga uma torta
ou uma salsicha para Ulf. Compre. Não roube — acrescentou. Jesper pareceu
ofendido, mas não disse nada. Na verdade, ele tinha planejado "liberar" uma torta para
Ulf e poupar algum dinheiro. Ele não considerou que pegar comida seria estar
roubando. Todo mundo faz isso, pensou ele. Ele só fazia isso melhor do que a maioria.

— Tudo bem — disse Hal. — Vamos nos dividir e nos encontrar aqui em uma
hora.

Quando saiu, ele e Ingvar demoraram um pouco mais do que uma hora para
conseguir o que precisavam. O estaleiro foi capaz de suprí-los com madeira, pregos e
cordas. Mas eles não acham os lingotes de ferro pequenos que Hal queria. Dirigiram-
seu a forja de ferreiro, do outro lado da vila, onde compraram um bom suprimento.

Os outros estavam todos à espera quando eles voltaram, Ingvar carregando os


itens mais pesados. A tripulação estava sentada, em um círculo, na praia, comendo. Os
olhos de Ingvar brilharam quando viu um pacote embrulhado em frente de Thorn.

— Trouxe-lhe uma torta — Thorn disse Hal, apontando para o pacote. Hal
assentiu com a cabeça em agradecimento e afundou na areia, pegando o bolo ainda
quente. Ele percebeu que estava faminto.

— Você me dá um? — Ingvar perguntou. Seu rosto caiu quando Thorn


balançou a cabeça.

— Eu trouxe três para você — disse Thorn.

O rosto de Ingvar se iluminou. — Bem, isso vai servir para uma boquinha antes
do jantar — disse ele, acrescentando, após uma pausa apreciável — Quando é o
jantar?

Stig olhou de soslaio para ele.

— Você ainda nem almoçou — disse ele — E já está pensando em jantar?

Ingvar encolheu os ombros. — Eu sou um menino em fase de crescimento —


ele respondeu.

Stig olhou para a estrutura, já maciça, do amigo com algumas dúvidas. —


Esqueça o que eu disse — disse ele.

Hal engoliu o primeiro bocado enorme de torta que estava mastigando e limpou
a boca.

Os Invasores - 141
— Alguém descobriu alguma coisa? — Disse ele, olhando em volta enquanto
Edvin entrega-lhe uma caneca de café quente. Ele pegou e bebeu um gole.

— Há um grande navio na área — Jesper respondeu. — Um navio de guerra, as


pessoas acham. Algum dos barcos de pesca o avistou à distância.

— Nós ouvimos a mesma coisa — Thorn emendou — Aparentemente, ele


cruzou ao longo do horizonte um par de dias atrás, então se virou e voltou para o mar.

— É o Corvo? — Hal perguntou ansiosamente. O pensamento de que eles


poderiam estar ao alcance de suas presas pôs o seu pulso acelerado com apreensão e
excitação. Thorn e Jesper trocaram um olhar, para ver se o outro tinha mais
informações. Ambos encolheram os ombros.

— Ninguém pode nos dizer — disse Thorn. — Ele estava muito longe para
verem os detalhes. Eles disseram que ela tinha um casco de cor escura, mas qualquer
navio na distância parece ter um casco escuro.

— Os barcos de pesca não ficam rodeando para ver melhor — disse Jesper. —
Uma vez que o avistaram, voltaram ao porto.

— Faz sentido, eu acho — disse Hal, pensativo, seu entusiasmo anterior um


pouco embotado. — Mas pode ser o Corvo. Que outro grande navio poderia estart
nesta área?

— Bem, esse é o problema — respondeu Thorn. — Nós simplesmente não


sabemos. A partir da descrição, tal como é, poderia ter sido o Corvo. Ou poderia ter
sido qualquer navio, mesmo um grande navio viking.

— O que um navio viking estaria fazendo aqui, no extremo sul? — Hal


perguntou, franzindo a testa. Thorn deu de ombros. — Provavelmente nada. Eu só
estou dizendo, pode ser o Corvo. Ou talvez não. Poderia ser qualquer coisa.

— Acho que sim — disse Hal, relutantemente encarando os fatos. Foi frustrante
ter tão pouca informação. De certa forma, desejou não ter ouvido nada sobre o navio
estranho. Ele olhou para Edvin.

— Você conseguiu tudo o que precisa? — Perguntou ele.

O outro rapaz assentiu. — Até mesmo café extra. Parece que estamos passando
por isso as custas de uma taxa prodigiosa. — Ele olhou acusadoramente para Thorn
quando disse isto, e o velho lobo do mar assumiu um ar de inocência absoluta.

— Eu não sei o que quer dizer prodigiosa — disse ele, e Edvin bufou em
descrença.

142 - Brotherband
— Tudo bem então — Disse Hal, chegando a uma decisão. — Não há razão
para ficarmos aqui por mais tempo. Vamos voltar para Baía do Abrigo.

— Tem uma coisa — Thorn disse, levantando um dedo. Hal olhou com
curiosidade e ele continuou.

— Enquanto eu estava descobrindo tudo sobre este navio estranho, aconteceu


de eu ver esse agradável, colete de pele de carneiro bastante caro no mercado.

Ele levantou uma pele de carneiro nova. Hal teve que admitir que fosse de
excelente qualidade, e bem feita.

— Eu decidi que deveria deixar você compra-lo para mim. Eram dez coroas.

Ele estendeu a mão esquerda, palma para cima. Hal balançou a cabeça,
perplexo.

— Eu não tenho dez coroas — protestou ele. — Eu só tenho dois e alguns


tocados. E o dinheiro que me devolveu mais cedo. — Enfiou a mão no bolso lateral de
seu gibão e apanhou as poucas moedas que ele havia lhe devolvido.

— Thorn franziu os lábios, pensativo. — Entendo. Bem, então, de-me esse.

Hal deu.

— Agora você me deve oito coroas. — Thorn mergulhou a mão na pequeno


bolsinha que ele mantem em seu cinto e remexeu, produzindo o som de um punhado
de moedas. — Então vou lhe emprestar oito coroas. Aqui, tome.

Hal fez isso, desconfiado de toda esta alta finança. Ele percebeu que Thorn
estava estalando os dedos, impaciente.

— Você quer de volta agora? — Disse.

Thorn assentiu. — Você me deve para o colete. Entregue-me.

Intrigado, Hal o fez, deixando cair as moedas na palma da mão aberta de Thorn.
Thorn balançou a cabeça em satisfação e guardou-as em sua bolsa.

— Agora nós estamos quites — disse ele. — Só que você me deve dez coroas.

— Eu o que?

Thorn ergueu seu gancho para parar uma discussão mais aprofundada.

— Lembra-se? Eu lhe emprestei oito coroas, e eu também lhe emprestei as


outras duas. Pelo hálito fumegante de Gorlog, menino, foi apenas há alguns minutos!
Então você me deve dez coroas que eu lhe emprestei para comprar o colete para mim.
Os Invasores - 143
— Mas... — Hal olhou para os outros. Stig estava igualmente confuso, ele
podia ver. Ulf e Wulf pareciam pensar que tudo era perfeitamente lógico. — Não teria
sido mais simples apenas dizer que eu lhe devo dez coroas para o colete?

Thorn balançou a cabeça. — Não. Você pagou-me um colete. Lembra-se? Eu


apenas lhe emprestei o dinheiro para fazê-lo. Agora você me deve o dinheiro que eu
apenas lhe emprestei para que você pudesse me pagar.

— Mas teria sido o mesmo resultado! — Hal protestou.

Thorn sorriu inocentemente para ele. — Talvez. Mas eu só queria ter que te
entregar algum dinheiro.

Hal coçou a cabeça, tentando entender o pensamento de Thorn. Ele decidiu que
era uma tarefa impossível.

— Está tudo bem para você se sairmos agora? — Disse ele cedendo, e Thorn
fez um gesto magnânimo, movendo sua mão esquerda em direção ao mar aberto.

— Em todos os sentidos. Só não se esqueça de que você me deve dez coroas.

Eles lançaram o Garça-Real e remaram para fora do porto. Alguns dos


habitantes da cidade acenavam enquanto remavam para fora através do quebra-mar.
Uma vez que eles estavam longe o suficiente da costa, Hal ordenou que suspendessem
os remos e Jesper e Stefan levantaram a vela. O vento estava constante e logo o
pequeno navio estava se batendo sobre os cilindros da entrada. Hal se deliciava com a
sensação de que o navio iria levantar sobre cada crista, em seguida, voando para
dentro e um vale de água crescendo atrás dele, eo sentimento súbito de arrastar
conforme um pedaço da proa incide para dentro da água na base da onda, diminuindo
o barco momentaneamente até que o vento enviado o faz subir a face da onda
seguinte.

O sol estava muito baixo no horizonte, a oeste, e não chegariam a Baía do


Abrigo antes de escurecer. Ele fez uma nota mental para ir menos de remos. A entrada
para a baía era estreita e ele não tinha planos de voar por ali, à vela, no escuro. Mas no
momento, a equipe poderia relaxar.

Ele acenou Stig, na plataforma de direção e fez um gesto para o leme.

— Você pode muito bem levá-lo — disse ele, e Stig cumpriu com entusiasmo.
Verdade seja dita, Hal estava relutante em entregar o controle do navio. Ele era seu e
adorava dirigi–lo, adorava a sensação de controle e resposta que lhe dava. Mas Stig
estaria no leme quando eles fossem para a batalha, por isso fazia sentido para ele estar
completamente familiarizado com a sensação do navio.

E Stig era um bom timoneiro, ele teve que admitir.

144 - Brotherband
Seu amigo pareceu sentir seu humor e sorriu tranqüilizador para ele. — Não se
preocupe. Eu vou cuidar dele. Mas ele sabe quem é seu real mestre.

Hal assentiu e se sentou em um banquinho perto do posto de comando. Eles


continuaram num silêncio amigável por alguns minutos. O resto da tripulação estava
relaxando nos bancos de remo. Thorn estava em sua posição habitual, inclinando-se
de costas contra a caixa da quilha.

— Vela! Vela para o noroeste!

Foi Jesper que estava de vigia, na proa. Ele correu agilmente para trás agora e
escalou as mortalhas para a posição de vigia no topo do mastro.

— É um grande navio. Vela fraudada. Vindo para cá.

Assim que ouviu a primeira chamada, Thorn ficou de pé num salto e se juntou a
Stig e Hal na plataforma de comando. Sem qualquer necessidade de discuti-lo, Stig
entregou o leme para Hal.

— Será que nos viram? — Hal falou. Mesmo Jesper estando no alto do mastro,
eles poderiam reconhecer a sua linguagem corporal incerta enquanto ele protegia os
olhos e tentava ver mais claramente.

— Não tem como saber — ele falou, depois de uma breve pausa. — Mas não
está vindo diretamente para nós e não alterou o curso. Então, provavelmente não.

— Eles têm o pôr do sol por detrás — Thorn disse, pensativo. — Estamos
contra a massa escura da terra. Provavelmente não nos viu ainda.

Hal concordou e chegou a uma decisão. — Tragam a vela para baixo! — Ele
ordenou. — Salte nelas! Stig, dê uma mão!

Stig correu com Jesper abaixando as mortalhas. Os gêmeos deixaram a vela


voadora solta e Stig, Jesper e Stefan trouxeram o mastro e vela para baixo. Sem a sua
grande forma de luz colorida para pegar os raios oblíquos do sol, seriam quase
invisíveis para o outro navio.

— Remos para fora! — Hal ordena. — Não se incomodem arrumando a vela.


Faremos mais tarde!

A tripulação correu para os bancos de remo e colocou os remos para fora. Stig
assumiu o controle dos remadores.

— Em formação, todos. — ele ordenou, e eles baixaram os remos, colocaram


os pés e levantaram. O Garça-Real tinha vindo para uma parada após a vela ser
baixada. Agora ela começava a deslizar na água mais uma vez.

Os Invasores - 145
— Lá está! — Thorn disse, protegendo os olhos quando ao olhar pra cima a
estibordo. Hal seguiu a linha de seu olhar e viu um pequeno retângulo de cor clara,
apenas elevando-se acima do horizonte - a vela de outro navio, pegando os últimos
raios do sol.

— É o Corvo? — Ele perguntou, mas Thorn estava balançando a cabeça.

— Eu reconheceria esse navio em qualquer lugar — disse ele. — É o Wolfwind.

— Wolfwind? O navio de Erak? — Disse Hal, com uma mão de pânico


apertando seu coração. — Você tem certeza?

— Eu naveguei nele por vinte anos — disse Thorn. — É ele, tudo bem. Eu me
pergunto o que está fazendo por estas bandas?

A expressão de Hal era sombria quando respondeu ao seu amigo. — É óbvio,


não é? Ela veio para nos levar de volta.

— Então, o que vamos fazer? — Stig perguntou.

Hal hesitou, pensando. Se ele continuasse a dirigir para o norte, de volta ao seu
acampamento em Baía do Abrigo, aumentaria a chance do Wolfwind vê-los. Havia
realmente apenas uma escolha. Ele tinha que chegar o mais longe do outro navio
possível. Ele se inclinou na cana do leme, definindo o Garça-Real em um curso longo
e curvo até que estava indo para longe do Wolfwind.

— Nós vamos para o sul — disse ele.

146 - Brotherband
Capítulo dezenove

O
sol se pôs e os Garças levantaram a vela novamente, acelerando ao sul,
longe do curso que o Wolfwind vinha seguindo. Thorn, Stig e Hal
estavam em um pequeno grupo junto à cana do leme, lançando olhares
ansiosos à ré. Depois de uma hora, a lua voltara, lançando um caminho de prata
brilhante para baixo, no mar. Não havia nenhum sinal de um navio seguindo-os.

— Eles não devem ter nos visto — Stig disse esperançoso. Os outros não
estavam tão certos, mas não disseram nada. Hal tinha aprendido ao longo dos anos
que expressar suas esperanças, muitas vezes o levou a tê-las frustradas. Depois de
mais alguns minutos, Thorn respondeu.

— Você pode estar certo. Estávamos em relativa escuridão quando o avistamos.


E mesmo que eles tenha nos visto, e voltado depois de nós, não há nenhuma chance de
que pudessem segurar este curso. Eles perderiam distância com o vento baixo.
Estamos indo para o sul e ele sopra em um curso sudoeste.

O pensamento era reconfortante. Se os dois navios navegaram nesses cursos


divergentes desde as oito horas de escuridão que permaneceram, de madrugada devem
encontrar o Garça-Real sozinho no mar, sem nenhum sinal de Wolfwind.

—A menos que eles estejam remando, é claro — acrescentou Thorn, e estourou


a bolha de esperança deles.

Hal mexeu por alguns segundos, os dedos abrindo e fechando no leme.


Finalmente, ele chegou à sua decisão, a única lógica nessas circunstâncias.

— Nós vamos continuar — disse ele. — E vamos ver como as coisas são ao
raiar do dia.

Eles navegaram através da noite, permanecendo com as mesmas amuras.


Depois de várias horas, o sentimento tenso no estômago de Hal melhorou. Passou o
leme para Stig, e se deitou no seu saco de dormir para descansar. Stefan assumiu
tendo Jesper como vigia e o resto da equipe cochilaram em suas comodações. Mas
nenhum deles dormia profundamente. Eles estavam todos muito conscientes da
presença de Wolfwind, em algum lugar lá fora, na escuridão.

Ingvar estava acordado, sentado de costas para o mastro, pernas esparramadas


na frente dele. Um pouco depois da meia-noite, ele viu Edvin livrar-se dos cobertores,
passar para o trilho e observar a popa.

Os Invasores - 147
— Vê alguma coisa? — Ele perguntou.

Edvin virou-se para ele. — Nada. Muito escuro lá fora. Não posso ver além da
popa do navio.

— Bem-vindo ao meu mundo — Ingvar respondeu com um sorriso.

O sono iludiu Hal. Ele estava deitado no convés duro, sentindo o movimento do
Garça-Real através de seu corpo inteiro. Foi uma sensação calmante, e os rangidos e
gemidos do mastro e do aparelhamento foram amigos familiares. Mas o pensamento
de Wolfwind atrás deles, e o sentido devastador de desespero, que sentiria se ele o
encontrasse e o forçasse a voltar para Hallasholm, pesou em sua mente.

Esta viagem desesperada era a sua única chance de se redimir. Tinha


embarcado nela num impulso selvagem, porque, na verdade, era sua única esperança
para qualquer tipo de vida futura. Se eles pudessem alcançar o Corvo, e de alguma
forma recuperar o Andomal roubado, seriam capazes de retornar ao Hallasholm com
suas cabeças erguidas. Eles teriam expiado o terrível crime que haviam cometido, ao
permitir que Zavac roubasse o artefato mais precioso da Skandia, em primeiro lugar.

Mas se Wolfwind pegá-los agora e os forçar a voltar para Hallasholm em


desgraça, eles simplesmente empilhariam uma falha em cima da outra. E nunca teriam
outra chance de acertar as coisas.

Zavac estava em algum lugar por perto. Hal podia sentir isso. E essa seria a
melhor oportunidade de encontrá-lo e ter de volta o Andomal.

O que ele faria se Wolfwind os apanhasse? Eles não podiam lutar com a
tripulação de Erak. Ele sabia disso. Eles eram Escandinavos. Eles eram conterrâneos.

Embora, ele pensou amargamente, não eram seus compatriotas. Os


escandinavos tinha deixado isso bem claro toda a sua vida. Ele era um Araluen em
seus olhos. E num breve e maravilhoso momento, quando o aceitaram como um dos
seus, a maravilhosa sensação de pertencer a algum lugar, que ele sempre procurou,
tinha sido abalada por Zavac - e seu próprio descuido. Se ao menos não tivesse
deixado seu posto, nada disso teria acontecido. O Andomal ainda estaria a salvo em
Skandia.

Seu curso foi apenas para iludir o Wolfwind - usar qualidades de navegação
superiores do Garça-Real para escapar dele. Mas o tempo que passou fazendo isso foi
o tempo que Zavac poderia estar escorregando para mais e mais longe deles. Até
agora, o clima predominante ruim manteve o Corvo confinado a uma área
relativamente previsível, em algum lugar na costa sudeste do Stormwhite. Mas agora
o tempo estava melhorando e ela podia desviar em qualquer direção, não deixando
nenhuma pista atrás dela, nenhum vestígio de seu paradeiro.

148 - Brotherband
Ele rolou e tentou relaxar os músculos tensos, esperando que o ritmo constante
de sobe e desce do navio o acalmasse. Mas o pensamento amargo de fracasso corroia
sua mente e dissipou o calmante esquecimento do sono, hora após hora.

— A alvorada está chegando.

O chamado macio de Stig entrou em sua consciência. Em algum momento, ele


deve ter finalmente conseguido cochilar. Apesar de, tão logo se sentou, com olhos
turvos e espírito nebuloso, parecia que tinha sido a poucos minutos atrás.

Ele levantou-se, esticou os membros rígidos e doloridos e mudou-se para ficar


ao lado Stig. Ele viu que os olhos do amigo estavam avermelhados de cansaço.

— Você ficou de vigia toda a noite?

Stig encolheu os ombros. — Você precisava dormir.

Hal tocou no ombro de seu amigo em gratidão. — Não faço muito isso —
admitiu.

Ele olhou para trás. Stig seguiu seu olhar. — Ainda está muito escuro para ver
qualquer coisa — disse ele. — Mas estou com torcicolo de vigiar a noite toda.

Thorn estava encolhido perto da caixa de quilha, envolto em sua pele de


carneiro nova. O resto da tripulação estava dormindo em suas estações de navegação,
com apenas Wulf acordado. Ele tinha assumido como vigia algumas horas antes.

Hal disse a ele agora.

— Acorde-os, Wulf — disse, e o ajustador de vela começou a se mover entre os


seus companheiros, sacudindo-os e estimulando para longe o sono.

Eles se esticaram e bocejaram, como Hal tinha feito, tremendo ligeiramente à


medida que jogavam fora seus cobertores e olhando ao redor para ver se havia algum
sinal de perseguição.

Wulf se aproximou da forma encolhida perto da caixa de quilha, o último de


todos. Mas quando estendeu sua mão foi saudado por uma voz baixa, rosnando.

— Você me sacode menino, e eu te jogo ao mar.

Wulf puxou sua mão para trás a tempo e afastou-se. Thorn estava obviamente
acordado, ele pensou.

Para o leste, uma estreita faixa de luz cinzenta estava aparecendo acima do
horizonte. Não havia nenhum sinal de terra, mas a luz vermelha estava refletindo ao
longe, num banco de nuvens baixas. O mar sibilava atrás deles, a água branca de seu

Os Invasores - 149
rastro mostrando-se contra a escuridão. Aos poucos, a luz começou a crescer e eles
poderiam ver mais detalhes. As formas escuras deslocando em torno da parte dianteira
do navio se tornou reconhecível como membros da tripulação.

Entregando o leme para Stig, Hal subiu o trilho pelo posto de popa e equilibrou-
se com uma mão sobre o estai. Ele examinou o mar atrás deles sob a luz crescente. O
nó de ansiedade que estava em seu intestino durante toda a noite aliviou quando viu
um horizonte vazio. Stig estava olhando para ele, à espera de seu relatório. Ele sorriu
para o rosto ansioso.

— Nada a vista — disse ele, e viu os ombros de Stig relaxar. Ele caiu
levemente para o convés, sentindo-se melhor do que estava por algumas horas. Os
dois amigos trocaram sorrisos aliviados.

Edvin tinha começado a preparar um pequeno almoço frio para a tripulação. Ele
se moveu para a popa agora, equilibrando três pratos e canecas, e colocou-os no
convés ao lado de Hal e Stig. Ele olhou para a forma encolhida de Thorn.

— Thorn já está acordado? — Ele perguntou, indicando o terceiro prato.

— Tente me sacudir e descubra — veio um rosnado baixo.

Edvin levantou as sobrancelhas. — Soa como um urso no final do inverno.

Stig sorriu para ele. — Comparado a ele, um urso seria um gatinho.

Edvin olhou para a figura corpulenta novamente.

— Eu vou deixar o seu aqui — ele disse, e fez o seu caminho para frente
novamente. Edvin não era tolo.

A refeição foi pão duro, frios, bacon cozido e um pedaço de salsicha temperada.
Não era a comida mais apetitosa, Hal pensou. Mas ele estava faminto após a longa
noite e ele devorou-o com gratidão. Stig teve pouco trabalho com o dele também,
lambendo os dedos para ter certeza de que tinha toda a última parte da gordura do
bacon saboroso.

Eles lavaram tudo com água fria. Hal ansiava por uma bebida quente. Uma
caneca de café seria como o céu, pensou ele. Mesmo um chá de ervas teria sido
aceitável. Ou apenas água quente, pensou mal-humorado. Mas, claro, não havia
nenhuma maneira de acender um fogão e cozinhar a bordo do navio, de modo que
teve de se contentar com água fria.

— Levante para almoçar, Thorn — Stig chamado. — Mexa-se ou eu vou comer


o seu.

150 - Brotherband
Thorn, finalmente, se agitou. Ele se levantou e esticou os dois braços sobre a
cabeça. Hal observou ociosamente que Thorn havia retirado seu braço falso quando
ele dormia.

— Esta é a refeição do lobo do mar — ele disse aos seus dois jovens amigos. —
Uma esticada, uma coçada e uma boa olhada em volta.

Ele já tinha esticado. Agora, ele aplicou-se à segunda parte da fórmula, coçar-se
livremente e com entusiasmo.

— Cuidado para não rasgar aquela linda e nova pele de carneiro em pedaços —
disse Hal secamente. — Eu não comprarei outra pra você.

— Você não me comprou um presente ainda — Thorn resmungou. Finalmente,


terminando com as coçadas, ele olhou ao redor do horizonte, protegendo os olhos com
a mão esquerda. Ele ouviu o relatório de Hal para Stig, mas estava enraizado nele de
anos a velejar e atacar para buscar por possíveis problemas em todas as direções.
Enquanto ele verificava num círculo e seu ponto de vista passou a proa e foi em
direção à porta, parou, hesitou, depois voltou.

— O que é isso? — Disse ele com urgência.

O coração de Hal pulou em sua boca. O Wolfwind tinha, de alguma forma,


conseguido escapar passando por eles durante a noite? Thorn estava apontando para
algo apenas afastado da curva da proa e Hal seguiu a direção com os olhos.

Sua primeira sensação foi de alívio. Seja o que for que Thorn tinha visto, não
foi o Wolfwind. Era uma forma pequena e escura a vários quilômetros de distância.
Quando ele olhou mais de perto, pensou que poderia perceber movimento.
Instintivamente, ele foi para o balançar da proa em direção ao objeto, então parou
quando percebeu que o mastro e a vela iriam bloquear sua linha de visão, se ele assim
o fizesse. Além disso, não foi sempre aconselhável correr atrás diretamente para um
objeto desconhecido no mar, pensou. Ele manteve seu curso, visando um ponto de
cerca de vinte graus para a direita do objeto. A forma escura aparecia e desaparecia
regularmente conforme o Garça-Real subia e descia sobre as ondas.

O resto da tripulação tinha ouvido a exclamação de Thorn e estavam olhando


para ele também.

— Jesper! — Hal chamou. — Suba no mastro e relate!

Jesper acenou confirmando e saltou para as mortalhas, fervilhando em cima


delas até chegar à posição de vigia. Houve uma pausa enquanto olhava para frente,
período em que a distância diminuiu, tornando mais fácil para ele dar os detalhes.

— É um barco! — Ele gritou. — Um barco de pequeno porte. E há alguém


nele! Ele está acenando.
Os Invasores - 151
Isso foi o suficiente para Hal. Um homem em um pequeno barco não apresenta
qualquer perigo para o Garça-Real e sua equipe bem armada. Ele virou o navio para
bombordo, para que ele se dirigisse para o barco. Ulf e Wulf automaticamente
apararam a vela para o novo curso.

A mente de Hal girou com possibilidades. Um homem em um pequeno barco.


Um sobrevivente de um naufrágio, talvez? Então sua imaginação saltou para uma
pista totalmente nova. Talvez fosse mais do que um naufrágio simples. Esto poderia
ser o único sobrevivente de um navio atacado e afundado por piratas. Mais
especificamente, por um pirata! Este poderia ser prova da presença do Corvo nestas
águas!

Ele sentiu que Stig e Thorn estavam pensando a mesma coisa. Eles trocaram
olhares, nenhum deles querendo expressar a idéia. Hal atingiu a palma da mão
esquerda contra a cana do leme, como se incitando o barco a maior velocidade.

— Vamos lá! — Ele murmurou.

Ele aliviou da proa a estibordo, limpando a linha de visão novamente. Exceto


por Ulf e Wulf, que permaneceram pelas escotas, a tripulação foi agrupada na proa
enquanto corriam para baixo no pequeno barco.

Medida que se aproximavam, Hal podia ver que o barco era um barco de um
homem só. Seu ocupante estava de pé, acenando com um pedaço de pano na ponta de
uma vara - possivelmente um remo.

— Jesper! Desce. Prepare-se para baixar a vela com Stefan — Ele gritou. A
figura empoleirada no posto de vigia acenou com a mão, em seguida, deslizou numa
das mortalhas para o convés.

— Edvin! Pegue o gancho de barco! — Hal chamou. O homem no esquife


estava a apenas cinquenta metros de distância. Agora que estava óbvio que ele tinha
sido avistado, ele sentou-se, cansado, deixando de lado o remo que estava acenando.

Os olhos de Hal se estreitaram quando ele mediu a velocidade, ângulo e


distância.

— Escotas soltas. Descer vela! — Ele ordenou. Ulf e Wulf deixam a vela solta,
Jesper e Stefan puxaram rapidamente para baixo, reunindo suas dobras e arrumando-
as livremente como eles o sabem. Aos poucos, a velocidade começou a aumentar fora
do navio e Hal viu que ele havia programado a quase perfeição. O Garça-Real estava
mal se movendo quando o barco saiu de sua vista a bombordo da proa e Edvin se
inclinou para ele com o gancho de barco. Hal sentiu um baque leve quando o barco
encostou ao lado do Garça-Real e os dois cascos se juntaram.

152 - Brotherband
— Cuidado — ele murmurou, irritado. Stig, ao seu lado, olhou para ele e sorriu.
Sabia que Hal odiava qualquer coisa batendo contra seu navio, mesmo um inofensivo
barquinho como este.

— Você é tão ruim quanto Erak — disse ele calmamente. Hal ignorou.

— Pegue uma linha no esquife — ele chamou. — Nós vamos rebocá-lo para
trás de nós.

Na proa, Edvin acenou em reconhecimento. Ele jogou um pedaço de cânhamo


para o barco e fez rápido. Em seguida, ele ajudou o ocupante solitário do esquife ao
longo do trilho. Os outros se moveram para ajudá-lo Em seguida, houve um
burburinho de surpresa a tripulação do Garça-Real e Edvin voltaram a gritar de volta
para Hal.

— Ele é uma menina!

Os Invasores - 153
Capítulo vinte

E
le era uma garota de fato, Hal pensava. E quando ela fez seu caminho de volta,
seguida pelos membros curiosos da tripulação, ele percebeu que ela era uma
menina incrivelmente linda. Era magra e em forma, com a pele bronzeada e
longos cabelos negros amarrados para trás com uma fita simples.

Estava vestida com roupas de caça - um gibão de camurça sobre uma camisa de
lã e caneleiras trançadas na calça apertada. Ela tinha uma aljava com o que parecia ser
flechas penduradas sobre suas costas, embora ela não tivesse arco. Uma longa adaga e
um estranho cabo de madeira entalhado pendurado no cinto de couro largo. Ela era
mais alta do que a média, que colocava seus olhos no mesmo nível com o seu próprio.
Atrás dela, Ingvar estava sussurrando, numa voz completamente audível, para Edvin.

— Quem é ela? O que ela quer?

Edvin respondeu igualmente de forma audível: — Eu não sei. Mas ela é


realmente bonita.

Um sorriso tocou no canto da boca da menina, em seguida, quase que


imediatamente desapareceu. Ela olhou em volta da tripulação, intrigada com seus
rostos jovens e a ausência quase total de adultos. Então seu olhar pousou em Thorn
quando percebeu o gancho de madeira e a aparência grisalha.

— Você é o capitão? — ela perguntou.

Thorn jogou a cabeça para trás e riu. — Não eu, minha cara! Eu sou mais
parecido com o gato do navio. — Ela franziu a testa, e ele explicou. — Eu sou um
pouco como um animal de estimação para o capitão. Ele eu mantém ao redor para seu
próprio divertimento. Este é ele. Seu nome é Hal.

Suas sobrancelhas se ergueram enquanto ela estudava Hal, vendo sua face
jovem, um pouco mais velho do que ela.

— Sério? — disse ela um pouco cética. Hal estava à beira de se ofender, então
percebeu que sua reação era natural.

— Realmente — ele respondeu. — Este é o Garça-Real. Este é o meu navio.

— E eu sou Stig, primeiro imediato — Stig disse apressadamente, empurrando


Hal para oferecer-lhe a mão. — Encantado em conhecê-la. Bem-vinda a bordo.

154 - Brotherband
Enquanto falava, ele ficou vermelho brilhante. Hal sorriu sozinho. Stig, alto e
bonito como ele poderia ser, tendem a ser um pouco desajeitados com as garotas de
boa aparência. Ele iria tornar-se um gago ou tagarelar inconscientemente.
Obviamente, este foi um dia para tagarelar.

Ela apertou sua mão e o sorriso tocou suas feições novamente, mas apenas por
alguns instantes.

— Obrigado. Prazer em conhecê-lo.

Stig, ainda ruborizado, engoliu várias vezes, então percebeu que ainda estava
segurando a mão dela e liberou-a abruptamente, quase a empurrando para longe, na
pressa de fazê-lo.

— Ummm... er... Deixe-me saber se eu posso fazer alguma coisa para deixar
você mais confortável. Você sabe... o que for. Estarei encantado... apenas, você sabe...
deixe-me saber... — Ele percebeu que era a segunda vez que ele disse encantado e sua
voz foi sumindo incerta. A menina fingiu não perceber a sua falta de jeito.

— Eu certamente vou — disse ela seriamente.

Stig acenou várias vezes para si mesmo, limpou a garganta novamente para
uma boa medida, em seguida, deu um passo atrás, tropeçando em um rolo de corda e
rapidamente equilibrou-se para não cair.

Hal avançou. — Eu não entendi o seu nome — disse ele, e ela virou seu olhar
de volta para ele. Olhos castanhos, ligeiramente inclinados para cima. Aparência
impecável. Ele percebeu que ela havia respondido a sua pergunta e ele não tinha
ouvido uma palavra.

— Eu sinto muito. O que disse? — Disse ele, um pouco nervoso.

Atrás da menina, Thorn revirou os olhos para o céu.

— Oh barba trançada de Bungall — ele murmurou. Bungall era uma divindade


menor, geralmente referido como o deus das ações embaraçosas. Seu nome não foi
muitas vezes invocado e Hal desejou que Thorn tivesse optado por não fazê-lo neste
momento. Rapidamente, ele voltou à atenção para a menina, antes que tivesse que
pedir a ela para repetir seu nome mais uma vez.

— Eu sou Lydia — disse ela. — Lydia Demarek. — Ela pronunciou o


sobrenome com o acento na sílaba do meio. Hal assentiu com a cabeça várias vezes,
como se o nome não fosse nenhuma surpresa para ele. Percebeu que sua tripulação
estava olhando para ele com curiosidade, esperando que dissesse alguma coisa
significativa - ou mesmo ligeiramente inteligente - e não ficar ali boquiaberto como
um camponês na frente da linda garota.

Os Invasores - 155
— Então, Lydia Demarek, o que fez você ficar à deriva aqui no mar? Vocês
naufragaram?

Ela balançou a cabeça. — Não. Eu vim de Limmat. A cidade foi tomada por
piratas. Consegui escapar. Mas eu perdi um dos meus remos e estive à deriva.

Isso causou um comentário zumbido de animado pela tripulação. Hal deu


metade de um passo em direção a ela com a notícia.

— Piratas? — ele disse. — Eles estão liderados por um homem chamado


Zavac?

Mas ela balançou a cabeça mais uma vez. — Eu não tenho idéia. Eu estava nas
colinas, caçando, quando eles atacaram. Eu vi e consegui fugir. Alguns deles me
perseguiram, mas consegui chegar ao esquife e derivei na baía. A maré levou-me para
fora. Em seguida, a corrente me levou mais longe.

— Quando foi isso? — Perguntou Thorn.

Ela olhou para ele. — Ontem, por volta do meio-dia. — Sua voz falhou e uma
carranca tocou suas feições quando ela olhou para trás para Hal. — Eu poderia ter um
pouco de água? — Disse ela, com um pouco de censura. — Estou absolutamente seca.

— É claro! — Hal disse desculpando-se, percebendo que não havia mostrado a


ela a cortesia básica normal que um náufrago poderia esperar. Todos tinham sido
distraídos por sua beleza, e depois por sua referência aos piratas. Ele indicou o
banquinho da plataforma do leme. — Sente-se, por favor. Edvin pegue algo para
beber, pois não? Ele olhou para a menina. — Você está com fome?

Ela sorriu agradecida à sua súbita preocupação e fez um gesto negativo. — Não
agora. Mas eu realmente preciso de um pouco de água. Eu não tinha nenhuma no
esquife.

Edvin voltou com um copo grande de água fria. Ela tomou dele, sorrindo em
agradecimento, e bebeu profundamente, finalmente abaixando o copo com um
suspiro.

— Oh, isso é muito melhor! — Disse ela, e afundou-se com gratidão para o
banco, ainda segurando o copo meio cheio. Ela tomou um gole de novo, mais devagar
agora que sua sede inicial tinha sido apagada.

— Agora, onde eu estava? — Disse ela.

— Limmat — Hal a levou. — Você disse que foi atacada por piratas.

156 - Brotherband
E ela balançou a cabeça, seus olhos nublando enquanto se lembrava da cena, a
fumaça saindo da queima dos edifícios, os gritos das pessoas da cidade. Pela
centésima vez, ela se perguntou se seu avô estava bem.

— Eles devem ter forçado seu caminho através da barragem — disse ela. —
Havia um pequeno navio ancorado contra o cais, de modo que a barragem não poderia
fechar. Dois outros tinham começado a entrar no porto. Um navio verde escuro e o
maior dos três - o navio negro.

Houve um alvoroço de interesse entre a tripulação.

— Negro, você diz? — Disse Hal. — Você tem certeza disso?

Ela balançou a cabeça enfaticamente. — Eu tenho certeza. Ele foi avistado um


dia antes, passou cruzando. Por um tempo, pensei que ele estava indo tentar romper a
barragem. Então virou-se e partiu. Remaram para longe, na verdade — ela se corrigiu.
Novamente, os Garças trocaram olhares.

— Estamos à procura de um navio negro — disse Stig. — Ele tem quinze


remos nas laterais. Você notou quantos remos este tinha?

Mas Lydia balançou a cabeça. — Eu não o vi ali. Eu ouvi as pessoas falando


sobre ele. Quando o vi, estava atracado ao longo do cais, então eu não tinha maneira
de ver quantos remos ele tinha. Mas era grande. Poderia facilmente ter muitos remos.
— Ela olhou para os rostos que a rodeavam, viu o nível de interesse, viu como sua
menção de um navio preto tinha despertado, e percebeu que poderia ser sua chance de
voltar à Limmat.

— Meu avô ainda está lá — disse ela. — Eu tenho que voltar e me certificar de
que está tudo bem. Você pode me levar?

— É claro que pode! — Stig disse impulsivamente. Mas Lydia olhou para Hal.
Ele era o comandante, jovem como possa parecer. A decisão seria dele. Stig, também,
virou-se para olhar para o seu amigo. Hal estava esfregando o queixo pensativo.

— Eu acho que nós temos que ver se este é o navio que estamos procurando —
disse ele. — Nós vamos levar você de volta. Mas você pode não gostar do que vai
encontrar. E vai ser perigoso.

Ela encolheu os ombros à parte a menção de perigo. — Eu posso cuidar de mim


mesma — disse ela. — Quanto ao que eu poderia encontrar, eu tenho que saber de
uma forma ou de outra.

— Se os piratas ainda estiverem lá — Thorn colocou — dificilmente podemos


navegar para o porto e acenar olá.

Os Invasores - 157
Lydia pensou por um momento. — Há um pântano a sudoeste da cidade. Nós
poderíamos desembarcar lá, fora de vista, e tomar um bote para chegar mais perto.

Thorn, Hal e Stig trocaram um olhar e chegou a uma decisão.

— Você pode desenhar um mapa deste pântano? — perguntou Hal, e ela


balançou a cabeça ansiosamente.

— É claro.

— Então, vamos ao que interessa — disse Hal.

Eles tiveram bom tempo na volta para a costa, depois viraram ao sul em direção
à Limmat. Muito antes de a cidade em si entrar em seu campo de visão, eles podiam
ver o manto pesado de fumaça que ainda pairava sobre ela.

Os olhos de Lydia se encheram de lágrimas quando viu isso. As chances de seu


avô, ela sabia, estavam ficando menores e menores. Ele provavelmente teria resistido
aos piratas, apesar de tal resistência ter sido inútil. Ela dirigiu-se para a proa e olhou
para a fumaça no horizonte. A tripulação a deixou com seus pensamentos.

Por fim, ela voltou de novo. Seu rosto estava composto e seus modos estavam
calmos. Ela indicou o litoral raso.

— Devemos encalhar aqui o seu navio e ir ao esquife — disse ela. — Uma vez
que circularmos no próximo ponto, vamos estar à vista da cidade.

Hal virou o navio para a costa. Lydia observou com interesse enquanto Thorn
retirou a barbatana, permitindo que o navio passasse por águas rasas e suavemente rm
direção da praia. Stefan e Jesper saltaram em terra e ancoraram o navio rapidamente
com a âncora de praia. Eles tinham vindo rebocando o esquife de Lydia pela popa. Hal
desatou a linha que o prendia e arrastou-a pelo lado do navio para a praia.

Lydia indicou a pequena cabeceira ao leste da sua posição.

— Se remarmos ao redor daquele cabeceira, nós podemos ir para os pântanos.


Um pequeno barco como este será consideravelmente invisível entre os juncos e ilhas
de grama.

Hal assentiu. — Você, eu e Stig — ele disse a ela. — O barco não vai ter mais
nada.

Ele olhou para Thorn. — Você fica no comando aqui, Thorn — disse ele, e o
homem mais velho acenou com a cabeça.

— Nós vamos estar aqui — disse ele. — Se você entrar em qualquer


dificuldade, basta vir correndo.

158 - Brotherband
Hal sorriu para ele, agradecido que Thorn não protestou por ter sido deixado
para trás.

— Mantenha o navio virado, de frente para o mar — disse ele. — Apenas em


caso de termos que sair com pressa.

Eles embarcaram no esquife. Enquanto navegavam em direção a Limmat, Hal


tinha rapidamente talhado outro remo para o barco de um pequeno mastro. Foi difícil,
mas serviria, ele pensou. Stig colocou os remos na cavilha, testando seu equilíbrio
relativo, e acenou com a cabeça que estava satisfeito. Então, ele começou a remar
suavemente, movendo o esquife facilmente em direção ao promontório.

À medida que o esquife gradualmente se afastava, o resto da tripulação ocupou-


se empurrando o Garça-Real para fora da praia mais uma vez e virando-o, arrastando
primeiro sua popa para a praia. Hal olhou para trás, depois de cem metros e viu a
figura corpulenta de Thorn um pouco longe do navio. Thorn levantou o braço
esquerdo e acenou. Hal acenou de volta.

Uma volta ao ponto, não havia nada além do solo baixo por vários quilômetros.
Além, eles podiam ver as duas torres e os edifícios mais altos da cidade, elevando-se
acima do pântano de gramíneas e arbustos baixos. Um pequeno riacho corria para o
pântano e Stig remou para ele. Uma vez que estavam entre derivantes ilhas de grama e
altos juncos, eles ficavam praticamente fora da vista da cidade. Eles só tinham
vislumbres ocasionais das torres.

Eles seguiram por curvas, canais irregulares através do pântano, divergindo, por
vezes, mas sempre conseguindo retornar ao seu curso básico. Depois de uma hora de
remo, Lydia indicou para Stig a cabeça de um baixo espeto de areia, coberta de
árvores raquíticas e grama do pântano.

— É melhor deixar o barco aqui — disse ela. — Estamos chegando perto e as


chances são de que ele pode ser visto, se levarmos isso adiante.

Eles encalharam o barco e, por sugestão dela, colocaram um dos remos de pé na


areia.

— Eles não vão vê-lo da cidade — disse Lydia. — Mas ele vai marcar o local
onde o barco está para nós.

Atravessaram a língua de areia e entraram na água do pântano do outro lado.


Foi até a cintura, embora Lydia advertisse que havia ocasionais piscinas mais
profundas. Ela foi à frente, sondando em frente com um longo ramo que Hal tinha
cortado para ela.

Eles avançaram, e gradualmente podiam ver mais e mais da cidade. Além de


ocasionais direções bruscas de Lydia, eles não falaram. O esforço de empurrar através

Os Invasores - 159
da água e da, escorrendo no fundo lama mole do pântano impedia conversa fiada.
Finalmente, Lydia sinalizou a parada e indicou uma corcunda ilha, coberta de
vegetação rasteira e subindo mais do que os pântanos circundantes.

— Nós vamos ser capazes de ver o porto de lá — disse ela.

Hal abanou a cabeça com admiração. Mesmo com seu senso instintivo de
direção, ele sabia que teria se tornado irremediavelmente perdido neste emaranhado
inexpressivo e os canais sinuosos inumeráveis.

— Você certamente sabe o caminho de volta aqui — disse ele, e ela lhe deu um
sorriso rápido.

— Eu cacei e pesquei nesses pântanos desde que tinha nove anos de idade —
disse ela por alguns instantes.

Eles desembarcaram, as roupas encharcadas agarradas neles, e subiram para o


baixo cume da ilha, caindo com as mãos e os joelhos quando se aproximaram do topo.
Antes, eles podiam ver o porto de Limmat. Fumaça ainda subia em várias partes da
cidade, embora os fogos maiores parecessem estar sobre controle. O cheiro de
madeira queimada era forte em suas narinas.

Hal examinou o porto, observando o pequeno navio ancorado dentro da


barragem. Ele franziu a testa. Havia algo familiar nele. Então ele soube. Era o Sea
Lion, um comercial de pequeno porte da frota de Arndak que tinha desaparecido de
Hallasholm alguns meses antes. Ele havia trabalhado nele no estaleiro no ano anterior,
quando precisou substituir várias pranchas após um infeliz encontro com uma baleia.
Ele indicou o pequeno navio para Stig e viu um olhar de reconhecimento no rosto do
outro garoto.

— Então agora sabemos o que aconteceu com o navio mercante. — Hal disse,
apontando mais para baixo do porto.

Lá, ancorado contra o molhe interior, estava uma forma preta, longa que ambos
reconheceram.

— O Corvo — disse Stig.

Hal não disse nada, olhando para o navio mal-encarado com um ódio súbito em
seu coração. Depois de semanas de buscas e esperança, aqui estava sua presa, a menos
de um quilômetro de distância. Quase a contragosto, ele tirou os olhos dele e estudou
o resto da cidade.

As torres de cada lado da entrada do porto foram os principais pontos de


interesse. Elas eram plataformas de madeira simples, cada uma com uma balaustrada,
na altura do peito, de madeira em todos os quatro lados, provavelmente tábuas de
pinho, pensou - e um telhado plano em cima. Uma pequena sala fechada estava no
160 - Brotherband
centro da plataforma - a sala da guarda, supôs. As torres foram, obviamente,
concebidas como postos de observação e como defensivos locais a partir do qual as
setas poderiam chover sobre um atacante. Cada uma das plataformas estava em uma
estrutura de madeira - quatro grandes pilares ligados por uma treliça de peças
diagonais menores. No centro da estrutura de suporte, uma escada corria a partir da
plataforma para o chão.

Ele tinha visto o que precisava. Agora tinha que ir para cima com um caminho
para a sua pequena tripulação enfrentar e derrotar os cinqüenta e tantos piratas que
tripulavam o navio preto. Até agora, ele evitou fazer quaisquer planos concretos. Não
parecia haver qualquer ponto, até que encontraram o Corvo. Mas agora o problema
tinha de ser resolvido. E rapidamente. Não havia como dizer quanto tempo ficaria no
porto. Ele deslocou de volta do cume baixo nos cotovelos.

— Vamos voltar — disse ele. — Nós temos algumas reflexões a fazer.

Ele espirrou em seu caminho de volta através da água barrenta, Lydia liderando
o caminho mais uma vez. Depois de meia hora, Hal viu a lâmina do remo de pé em
cima dos juncos em uma ilha próxima e se dirigiu a ele. Ele olhou para Lydia em
aprovação. Ela era uma pessoa útil para ter por perto, pensou. Ele nunca teria
reconhecido aquela ilha em particular novamente. Eles aportaram em terra e, enquanto
Stig soltou o barco na água, Hal pegou o remo.

— Quer que eu reme por um tempo? — Ele ofereceu. Mas Stig balançou a
cabeça.

— Eu estou bem. E eu sou um remador mais rápido do que você. Vamos voltar
para o navio mais cedo.

— Você poderia — disse uma voz atrás deles e eles se viraram, assustados,
quando uma dúzia de homens levantou-se dos juncos e canas, movendo-se
rapidamente para cercá-los. — Mas neste momento, ninguém vai a lugar nenhum.

Os Invasores - 161
Capítulo vinte e um

H al e Stig haviam deixado suas armas no navio, sabendo que teriam que
se deslocar através dos pântanos. Mas ambos usavam suas facas
saxônicas enquanto se viravam para enfrentar o homem que havia
falado, suas mãos caíram instintivamente para o punho de suas pesadas facas.

— Eu não faria isso — o homem avisou, e seus seguidores brandiram suas


próprias armas. Alguns deles possuíam espadas. Os outros possuíam uma variedade de
porretes, maças e pequenas lanças.

— Esqueça isso, Stig — Hal disse gentilmente. Não havia por que lutar. Eles
estavam em uma grande desvantagem numérica. Ele se levantou da posição agachada
em que havia estado e afastou a mão da sua faca saxônica. Stig, olhando enraivecido
ao redor do circulo de homens que os enfrentavam, chegou à mesma decisão que seu
amigo alguns segundos depois.

Hal estudou o homem que havia falado. Ele era um pouco mais velho que
ambos os Garças, talvez vinte ou vinte e um anos. Ele era de uma altura média, porém
atarracado, com um rosto largo e cabelo na altura dos ombros. Ele estava bem
barbeado e seu nariz parecia ter sido quebrado e mal cicatrizado, de modo que estava
um pouco desalinhado, com um pequeno inchaço no meio. Ele estava armado com
uma espada curta e um pequeno escudo redondo de metal. Ele segurava suas armas
com facilidade, obviamente acostumado a usa-las.

A maioria dos piratas estava, Hal pensou amargamente.

O que fez as próximas palavras do homem um tanto confusas.

— Muito bem, homens — ele disse, sorrindo brevemente para os seus


seguidores, — parece que nós mesmo capturamos alguns piratas.

Confuso, Hal abriu sua boca para responder. Mas Lydia bateu nele por isso. Ela
tinha estado atrás de Hal e Stig quando o homem começou a emboscada. Ela havia se
movido entre os dois e tinha dado um passo a frente para enfrentar seu beligerante
captor.

— Piratas o caramba, Barat! — ela afirmou. — Você sempre fica do lado


errado na historia, não é? Agora abaixem essas armas. Todos vocês! — ela adicionou,
olhando em volta do semicírculo de homens que os enfrentavam.

Alguns deles murmuraram expressões de surpresa e diversão. O líder, o


homem que ela chamou de Barat, olhou para ela mais de perto. Assim como Stig e
Hal, ela estava coberta de lama e água suja devido à passagem pelo pântano, e a luz do
162 - Brotherband
entardecer deixava tudo incerto. Mas agora sua face havia se iluminado em
reconhecimento.

— Lydia? É você? É sim! Toda coberta de lama e sujeira, mas com certeza é
você!

Ele embainhou sua espada e saltou para frente, rindo alegremente, e a


envolvendo em um forte abraço. Os lábios de Stig se estreitaram. Os dois devem ser
amigos, talvez até mais que amigos, ele pensou, com uma pontada de ressentimento.
Mas então Lydia se contorceu inconfortavelmente e se libertou. Os outros homem se
reuniram em volta, sorrindo e cumprimentando ela. Muitos deram tapinhas em seus
ombros.

Após alguns momentos, Barat olhou atentamente para Hal e Stig.

— E quem são estes dois? — ele disse. — Eu nunca os vi antes.

— Eles são escandinavos, amigos meus — Lydia falou.

— Escandinavos? — O rosto de Barat se fechou em desconfiança. Aos seus


olhos, escandinavos eram apenas um pouco melhores que piratas.

Stig sentiu a mudança na atitude e se encheu de raiva. Ele deu meio passo
adiante, com sua mão caindo involuntariamente para o cabo da faca saxônica
novamente.

Hal pôs a mão em seu antebraço. — Calma, Stig, — ele disse suavemente.
Após alguns segundos, ele se sentiu aliviado ao ver os ombros de seu amigo relaxando
lentamente, e a mão de Stig movendo-se para longe da faca saxônica novamente.

Barat havia notado o movimento impulsivo e cruzou seu olhar com o de Stig. O
desagrado entre os dois era quase palpável.

— Sim, calma, Stig, — ele repetiu.

Hal apertou o antebraço do seu amigo. Mas desta vez, Stig não mordeu a isca.
Ele mudou, pensou Hal. O antigo Stig teria cedido ao seu temperamento explosivo e
feito algo precipitado.

— Pare com isso, Barat, — Lydia disse furiosa. — Eles são meus amigos e me
resgataram. Eles provavelmente salvaram minha vida, para dizer a verdade. Então
saíram de seus caminhos para me trazer aqui.

— Provavelmente procurando algo para porem suas mãos em cima, — Barat


disse com escárnio.

Os Invasores - 163
— Nós estamos procurando apenas uma coisa — Hal disse calmamente. — Que
é o barco negro ancorado em seu porto. Nós estamos atrás dele há semanas. Quando
Lydia disse que estava aqui, viemos para ver por nós mesmos.

— Então eu imagino que você não tenha interesse em...

— Cale a boca, Barat — um de seus homens gritou, o interrompendo antes que


pudesse falar demais. Barat corou e se virou para identificar o homem que havia o
interrompido.

— Eu pensei que...

— Você não pensou! — o homem disse. Ele era um pouco mais velho, alto e
musculoso que Barat. — Você é um bom comandante, mas você sempre deixa sua
língua solta demais. Está na hora de você aprender a ficar quieto. Se Lydia diz que
esses meninos são amigos, isso é suficiente para mim!

Alguns dos outros rosnaram em concordância e Barat cedeu, porém com má


vontade.

— Está certo, eu só estava dizendo...

Lydia olhou ao redor do grupo e tentou aliviar a tensão no ar.

— Então, Jonas, o que todos vocês estão fazendo nos pântanos? — Ela
perguntou para o homem que havia silenciado Barat. Ele encolheu os ombros.

— Alguns de nós fugiram quando os piratas atacaram. Eles nos pegaram de


surpresa. Você viu aquele navio menor no porto? – Ele fez uma pausa e quando eles
assentiram em confirmação, ele passou a descrever o estratagema dos piratas de fingir
uma busca para que os Limmatans abrissem a barragem.

— Em seguida outros dois navios se juntaram e atacaram a cidade. Eles


mataram a maioria dos guardas nas torres de vigia. Alguns de nós conseguimos nos
juntar em abrir caminho á força. Mas estávamos desorganizados e lutando de dois
para um. Nós não tínhamos a menor chance contra eles.

— Nós tivemos sorte em escapar, — outro homem adicionou.

Hal olhou para ele. — Quantos de vocês conseguiram sair?

— Trinta e oito, — Jonas disse. — Nós fizemos um acampamento no pântano.


Os piratas não conseguem nos alcançar aqui. Nós conhecemos muito bem o terreno.
Barat aqui nos organizou depois de termos saído, mas não temos homens o suficiente
para atacar os piratas - particularmente quando eles estão atrás da paliçada - então é
um beco sem saída.

164 - Brotherband
Hal decidiu que era hora de consertar algumas coisas, então ele fez a próxima
pergunta para Barat.

— Então você acha que eles estão aqui para ficar? — ele perguntou. — Existem
quantos deles lá?

Barat assentiu, sentindo abertura pacífica de Hal, e respondeu do mesmo jeito.


— Eles ficarão aqui por um tempo, eu diria — ele afirmou. — Quanto aos números,
eu não saberia dizer, mas com certeza mais do que a gente.

— Tem no mínimo uns cinquenta no Corvo — Stig disse pensativo. — Talvez


um pouco menos no outro barco grande. E o Sea Lion pode carregar algo entre quinze
e vinte homens.

— Sea Lion? — Barat perguntou.

Hal fez um vago gesto na direção do porto. — O pequeno navio. Ele foi tomado
pelo Corvo algum tempo atrás. Era de um comerciante escandinavo.

— Agora não mais — Barat disse pesadamente. — É um barco pirata agora.

— Verdade — Hal disse. — Mas a questão agora é, o que faremos agora?


Temos trinta e oito de vocês e nove nossos. Eles estão em maior número, então
teremos que os surpreender de algum jeito.

— Como? —– Stig perguntou, e o seu amigo sorriu para ele.

— Boa pergunta, — ele disse. — Quando eu descobrir, você vai ser o primeiro
a saber.

Barat olhou para os dois jovens marinheiros. Ele teve a graça de olhar um
pouco envergonhado.

— Quer dizer que você está planejando lutar com a gente?

— Nós temos um inimigo em comum — Hal disse. — Zavac roubou algo que é
nosso e eu quero de volta. Você o quer fora de sua cidade. Se nós trabalharmos juntos,
talvez ambos podemos conseguir o que queremos.

Barat considerou esta declaração durante alguns segundos. Em seguida, ele


assentiu com a cabeça. Ele estendeu a mão para Hal.

— Isso soa bem para mim — disse. Eles balançaram as mãos, então Barat
ofereceu sua mão para Stig e os dois também se cumprimentaram, embora ainda
houvesse uma reserva perceptível entre eles. Quem sabe tinha alguma coisa a ver com
a garota, Hal pensou.

Os Invasores - 165
— Devemos voltar ao nosso navio enquanto ainda há luz — disse ele, olhando
para o oeste, onde o sol estava deslizando cada vez mais para o oceano. — Como é
que você esta de alimentos em seu acampamento?

Barat franziu os lábios. — Nós estamos com muito pouco — ele disse. —
Existem peixes e algumas aves silvestres nos pântanos, mas não o suficiente para
alimentar uma grande quantidade de pessoas. E nós não trouxemos nada conosco.
Temo que não possa oferecer nada a vocês.

Hal balançou a cabeça, — Não era isso que eu estava perguntando. Nós temos
bastantes suprimentos no nosso navio. E mais ainda no acampamento mais acima na
costa. Se dois de seus homens vierem para o navio com a gente, nós dividiremos tudo
o que tivermos de sobra. Então subiremos à costa, pegamos o nosso equipamento, e
mais comida, então voltaremos aqui. Até lá, eu terei pensado em um plano de ação.

Barat assentiu com gratidão — Eu certamente não recusarei.

Rapidamente ele passou as ordens para o resto de seus homens. Ele e mais
outros dois iriam voltar para o Garça-Real e coletar os suprimentos que Hal tinha
oferecido, enquanto o restante voltaria para o acampamento no pântano. Stig lançou o
bote e fixou os remos nas cavilhas, e Barat e seus dois companheiros pegaram um
bote de artesanato parecido, em algum esconderijo que estava entre os juncos.

Hal olhou para aquilo, levantando uma sobrancelha. — De onde veio isso?

A imagem que os homens de Barat haviam pintado de sua retirada da cidade


não parecem incluir qualquer momento para parar e recuperar barcos.

— Muitos do nosso povo deixam botes ancorados no pântano — Lydia disse.


— Eles os usam para pesca e caça de aves selvagens.

Assim que Barat arrastou e nivelou o seu barco com o deles, ela se andou pela
praia em direção a ele. Foi falar, mas hesitou, então juntou determinação e continuou.

— Eu não tive a chance de perguntar, — ela disse, com a voz cheia de medo. —
Você tem alguma ideia do que aconteceu com meu avô? Ele conseguiu escapar?

A face de Barat já havia dito a resposta, antes mesmo de ele falar algo.

— Ele foi morto, Lydia. Me desculpe. Ele tentou lutar com os piratas - você
sabe como ele era.

Ela acenou tristemente. — Eu sabia que ele lutaria.

— Havia muitos deles, — Barat continuou. — E ele era velho, Lydia. — Em


sua face uma sombra de raiva enquanto ele relembrava a cena. — Um velho. Eles não
tinham que mata-lo. Eles podiam ter o desarmado. Mas não o fizeram. Eles o

166 - Brotherband
mataram. — Ele fez uma pausa, olhando para ela. A sua faze estava inexpressiva,
mostrando nenhuma emoção.

— Eu não pude fazer nada para ajuda-lo Lyd. Eu tentei, mas eu não consegui
chegar a tempo. Então mais piratas chegaram e eu tive que fugir. Não havia nada que
eu pudesse fazer. Realmente.

Ela tocou o seu braço e deu um sorriso amarelo. — Eu sei, - ela disse. — Ele
nunca iria se render a eles. Ele não percebeu que estava velho.

Abruptamente, ela se virou, contendo as lagrimas que se espalhavam pelos seus


olhos enquanto lembrava-se do homem que havia tomado conta dela há tanto tempo.
Quando ela se voltou novamente, já havia recuperado seu autocontrole. Ela caminhou
para onde Hal estava segurando o seu bote contra a ligeira correnteza dos pântanos e
entrou a bordo, estabelecendo-se no banco da proa.

— Vamos voltar para o navio, — ela falou.

Enquanto Stig remava o pequeno barco ao redor da península, eles podiam


distinguir a silhueta do Garça-Real na praia. Hal acenou em aprovação. Thorn não
havia permitido que os meninos acendessem nenhum fogo. O suave, mas poderoso
remar de Stig os levou através da baia em poucos minutos. Quando eles estavam a
cinquenta metros do navio encalhado, ele ouviu um suave desafio e respondeu.

— É Stig e Hal. Temos algumas pessoas conosco. São amigos.

Eles remaram para o raso e ele saiu para orientar o barco em terra. Barat e os
outros dois Limmatans os seguiam de perto. Hal puxou o bote para a praia e olhou ao
redor. Para sua surpresa, ele viu que os Garças estavam todos armados. Seus escudos
haviam sido removidos da amurada do barco e eles estavam todos os usando. A luz
das estrelas brilhou nas cabeças de machados e lâminas de espadas.

Thorn, ele percebeu, estava usando o seu maltratado velho capacete com
chifres, e tinha mudado o braço falso do dia-a-dia, com o gancho de fixação, para o
porrete de guerra que Hal tinha feito para ele. Ele deu um passo frente então.

— Vocês estão bem? — Ele disse desconfiadamente.

Hal sorriu para ele. — Nós estamos bem. Eles homens são aliados. Lydia os
conhece. Eles vão nos ajudar a atacar o Corvo.

Thorn estudou intensamente os três Limmatans. Muito sensivelmente, nenhum


deles mostrou sinal de hostilidade. Finalmente, ele resmungou, com certeza que Hal
não estava falando sob ameaça.

— Muito bem, afastem-se, Garças.

Os Invasores - 167
Houve um ligeiro ruído de armas enquanto os meninos as colocavam para
baixo. Hal apresentou Barat e seus companheiros e explicou onde tinham vindo e sua
necessidade de abastecimento. Edvin concordou e se moveu rapidamente para o navio
para empacotar a comida. Os dois amigos de Barat o seguiram. Poucos minutos
depois, eles voltaram carregando duas pesadas sacolas.

— Obrigado por isso — Barat disse, e Hal assentiu.

— Nos traremos mais quando voltarmos. Procure-nos no prazo de dois dias.

Barat apertou sua mão, então se virou, chamando por cima de seus ombros.

— Vamos pessoal. Você também, Lydia. Vamos voltar para o acampamento.

Mas Lydia hesitou sem jeito, sem se mover em direção ao bote. Barat se virou,
um pouco confuso e irritado.

— Lydia? — ele disse. — Vamos.

Lydia olhou para baixo, fazendo pequenos círculos de areia com o pé.

— Eu acho... que vou ficar com os Garças — ela disse, então olhou
rapidamente para Hal. — Se estiver tudo bem para você?

Ele abriu as mãos em um gesto de surpresa. — Está tudo bem por mim.

Stig sorriu amplamente. — Eu também.

Barat deu-lhe um olhar azedo, então fez um gesto categoricamente para os dois
botes.

— Não seja boba, Lydia. Eles não são o seu povo. Venha conosco. Agora.

Ela levantou os olhos. Havia uma luz de determinação neles e ela balançou a
cabeça apenas uma vez.

— Não, - ela disse. — Eu vou ficar com os escandinavos.

Barat soltou um suspiro que era metade raiva, metade frustração.

— Tudo bem — ele disse. — Esqueça seus amigos, se é o que você quer. Fique
com estes estrangeiros.

— Sim, eu acho que ficarei, — Lydia disse para ele, com crescente convicção
em sua voz, e ele virou-se de costas, sem vontade de levar a discussão adiante. Ele
procurou através da praia pelos dois botes, com suas costas retas, sem nunca olhar
para ela, enquanto ele empurrava um dos botes para a água e começava a remar para

168 - Brotherband
longe. Seus dois companheiros apressadamente empilharam os sacos no segundo bote
e o seguiram.

Stig sorriu para Lydia, — Boa escolha, — ele disse.

Mas ela virou-se de costas e não disse mais nada.

Os Invasores - 169
Capítulo vinte e dois

L
ydia manteve seu silêncio durante a maior parte da viagem ao norte
da Baía do Abrigo.

Ela ficou sozinha atrás da figura de proa do navio, olhando


para a água que passava, não se esquivando das camadas contínuas
de espuma que voavam acima da proa.

— Ela vai ficar encharcada — Stig disse e ele virou para Hal sobre a plataforma
de direção. — Eu vou levar um cobertor. — Ele começou a se afastar, mas Hal o
parou.

— Deixe-a — disse Hal calmamente.

Stig hesitou. Ele queria falar com ela. Mas Hal balançou a cabeça e Stig
finalmente decidiu que seu skirl estava certo.

Ao contrário da corrida suave ao longo da costa, não foi uma noite fácil. O
vento mudou de direção para o noroeste e variou de intensidade, de modo que a
tripulação estava no trabalho continuamente, alinhavando e ajustando as velas. Lydia,
vendo que estaria no caminho se ela permanecesse na proa, mudou-se para um lugar
nos bancos de remo portuários, perto da popa. Ela observou como o Garça-Real
passou de um rumo para o outro, percebendo o quanto mais perto do vento ele poderia
navegar do que as naus-retas que eram a norma nesta parte do mundo. Mas, depois de
poucas mudanças de rumo, ela perdeu o interesse e retomou olhando para o mar.

Depois de quatro horas, o vento decidiu estabelecer-se em uma direção e força,


e os meninos tiveram a oportunidade de descansar nos bancos de remo. Vários deles
foram dormir imediatamente. Hal sorriu sozinho. Eles eram marinheiros experientes
agora, ele pensou, pronto para arrebatar o sono a alguns minutos sempre que a
oportunidade surgir. Ele virou o leme até Stig e olhou em torno de um local para
descanso. Lydia estava sentada em seu lugar de costume. Encolhendo os ombros, ele
desceu e sentou-se ao lado dela.

Ela olhou para cima e balançou a cabeça.

— Sinto muito pelo seu avô — disse ele sem jeito. Ele a advertiu contra Stig
incomodando-a anteriormente. Ele sentiu que ela não estava com humor para
tentativas inevitavelmente nada sutis de Stig para ganhar sua amizade. Mas ele sentia
pena dela, sozinha entre estranhos, e de luto pela perda de seu avô.

170 - Brotherband
Ela lhe deu um sorriso amarelo.

— Obrigado — disse ela. — Ele era um bom homem. Mas ele nunca deveria ter
tentado lutar contra eles. Ele estava muito velho.

Hal considerou isto por alguns momentos. — Talvez não teria sido feliz
simplesmente deixando-os andar em cima dele. Talvez soubesse que estava velho
demais para lutar contra eles, mas não estava disposto a simplesmente ficar de lado e
deixar que invadissem o seu caminho.

— Provavelmente. Isso seria igual a ele — disse ela. Havia uma nota de
orgulho suave e diversão em sua voz quando ela pensou no velho. Então, ela olhou
para a vela grande, triangular, inchada numa curva forte no rumo a bombordo. — Este
é um navio incomum.

Ele sorriu, incapaz de resistir à tentação de se gabar. — Eu projetei e o construi


— disse ele. — Ele é o meu orgulho e alegria.
Lydia olhou para ele com novo respeito. A visão de um capitão de navio jovem
tinha inicialmente a surpreendido. Agora ela começou a entender como ele tinha
chegado a essa posição em uma idade tão precoce.

— O que é aquela geringonça grande na proa? — Ela perguntou. — A coberta


com uma tela? É um guindaste de algum tipo?

Ele balançou a cabeça. — É uma arma. Nós o chamamos de Mangler — disse


ele. — E isso poderia ser a chave para um ataque contra os piratas.

Ela olhou para aquilo, esperando que ele dissesse mais. Mas ele sacudiu a
cabeça. Enquanto estava no leme, uma idéia lentamente se formou em sua mente.
Veio uma peça de cada vez e, no momento, era um conjunto de conceitos não
relacionados. Ele precisava de tempo para se sentar e colocá-los em ordem e
transformá-los em um plano coeso.

— Eu vou te dizer mais tarde — disse ele. Então, para mudar de assunto, ele
acrescentou, — Conte-me sobre Barat. Ele parece um pouco espinhoso.

Ela bufou com desdém. — Isso é um eufemismo. Barat é muito cheio de si para
o meu gosto. Ele é um bom guerreiro, um guerreiro muito bom, como disse Jonas. E
ele é um bom comandante de batalha. Mas é aí que termina. Como líder do dia-a-dia,
ele é muito impulsivo e também não gosta muito de cuidar de detalhes. — Ela fez uma
pausa. — E ele tem muito que aprender.

Hal sentiu a partir do tom de sua voz que esta última afirmação era mais pessoal
do que uma avaliação geral da Barat.

Os Invasores - 171
— Por isso eu suponho que você quer dizer acha que possui você? — ele
perguntou.

— Ele acha que é meu dono — disse ela. — E diz a todos que vamos nos casar
quando ficarmos mais velhos. — Ela fez um gesto irritado. — Nunca lhe ocorreu que
eu gostaria de ter algo a dizer sobre isso! É por isso que não quero voltar para o
campo com ele. Espero que você não se importe.

Hal balançou a cabeça. — Você é bem vinda para ficar conosco, desde que
você queira — disse ele. — Os meninos gostam de você.

— É bom saber — disse ela. Estava um pouco envergonhada por sua declaração
e não tinha certeza de como responder. Procurou algo a dizer e, olhando para cima,
percebeu a figura alta de Stig no leme.

— Há quanto tempo você conhece Stig? — ela perguntou, olhando para mudar
de assunto.

O-ho! Então é pra esse lado que o vento está soprando, Hal pensava. Ele olhou
para Stig por sua vez. Recortado contra o céu da noite, o primeiro companheiro
aparentava uma figura bastante heróica.

— Oh, nós temos sido amigos por anos. — Houve outra pausa, então ele disse:
— Agora, se me dão licença, eu gostariaria de descansar um pouco.

Ele se afastou alguns metros e estabeleceu-se, puxando um cobertor ao seu


redor. Perguntou-se por que a pergunta lhe tinha causado um vago sentimento de
decepção.

Amanhecia no momento em que chegaram a Baía do Abrigo. O sol estava


baixo, deslumbrante, para as montanhas e para a direita de seus olhos. Isso, e o fato de
que havia um mar agitado correndo e um vento cruzado complicado, convenceu Hal
que eles deveriam remar o Garça-Real para a baía. Eles baixaram a vela uma centena
de metros da costa. Os meninos pegaram seus remos para ele os guiar através da
estreita entrada para as águas mais calmas do interior. Mais próximos, as altas serras
circundantes bloquearam a primeira luz do sol e a baía ainda estava na penumbra.

Há um relaxamento inevitável que vem no fim de qualquer viagem, quando


casa, mesmo que temporária, como seu acampamento, vem à vista. Agora eles
estavam em águas seguras e familiares, Hal e os outros meninos descontraíram,
pensando nas camas quentes e confortáveis, que os aguardava na tenda. Como
resultado, sua vigilância foi reduzida e nenhum deles percebeu o vulto escuro
amarrado dentro do promontório sul da baía quando eles passaram. Foi só quando o
formato começou a se mover, que Hal sentiu sua presença.

172 - Brotherband
Ele virou-se. Havia um grande navio cinquenta metros à ré deles, movendo-se
para fora de seu esconderijo para bloquear qualquer possível fuga da baía. Ele ouviu
os gritos de alarme dos outros garotos quando eles perceberam o navio. Pego de
surpresa, os Garças pararam de remar. Agora Hal podia ouvir os respingos fracos dos
remos do navio por trás deles quando começou a alcançá-los.

— É o Wolfwind — Thorn disse calmamente.

Os ombros de Hal caíram em desespero. Depois de tudo o que tinham passado,


depois de encontrarem o Corvo e ter a chance de recuperar o Andomal, tudo estava
acabado. Eles seriam levados de volta para Hallasholm em desgraça. E sua recepção
seria ainda mais gelada do que antes, pois eles desafiaram o Oberjarl e desobedeceram
suas ordens.

E eu vou perder o Garça-Real, pensou amargamente. Erak já tinha dito que


pretendia confiscar o navio. Agora, depois de Hal ter fugido com ele, tinha a certeza
que cumpriria sua ameaça. Uma vez que o Garça-Real tivesse ido, a irmandade
Garças estaria terminada, ele sabia. Enquanto eles tinham o navio, eles tinham
esperança. Agora tudo se foi.

Wolfwind transferiu-se para dentro de dez metros de sua proa, então seus
remadores apoiaram na água, deixando o Garça-Real em estado de deriva. Tão perto,
Hal poderia reconhecer Svengal na proa do navio, de pé sobre os trilhos, segurando o
estai de equilíbrio.

— Hal — ele chamou através da distância entre eles. — Mantenha a remos.


Leve-o para a praia perto de seu acampamento.

Hal sentiu o movimento ao lado dele. Stig tinha saltado de seu banco no barco.

— Nós podemos fugir deles! — Disse. Mas Hal balançou a cabeça com
amargura.

— Não a remos. Eles são mais rápidos do que nós. E no minuto que tentarmos
levantar a vela, eles estarão ao nosso lado.

— Então nós vamos lutar com eles! — Stig disse com raiva.

Thorn rugiu um aviso. Os Garças estavam em menor número, e a tripulação do


Wolfwind eram guerreiros experientes. Mas, novamente, Hal se recusou.

— Eu não vou lutar contra meus compatriotas — disse ele simplesmente. —


Vamos enfrentar. É o fim.

Ele olhou para a tripulação, à espera nos bancos de seus remos para as suas
ordens. No banco mais à popa, Lydia o observava, uma expressão confusa no rosto.
Os Invasores - 173
Os Garças eram escandinavos, ela sabia. E o navio atrás deles era um navio
viking escandinavo. Ela se perguntou qual seria o problema.

Antes que ela pudesse se aproximar dele, Hal apontou para os meninos nos
bancos de remo.

— Remos — ordenou calmo. — Vamos levá-lo para dentro e encarar a música.

Stig olhou para ele, hesitou, e então balançou a cabeça em frustração. Desceu e
tomou seu lugar no banco de remo.

— Remos — ele repetiu a ordem. — À caminho!

Os remos mergulharam nas águas calmas da baía, criando duas linhas de


círculos ondulantes quando eles tocavam a superfície.

— Curso — Stig ordenou, e o Garça-Real começou a deslizar na água, a onda


de proa dando uma risadinha ao longo da lateral do casco. Pelo menos você pode rir,
Hal pensou miseravelmente. A poucos metros da areia, ele ordenou que os remadores
parassem e guiou a nave em direção à praia. Distraído e abatido como estava, ele
quase se esqueceu de levantar a barbatana. Felizmente, Thorn lembrou a tempo e
soltou-o para fora da caixa de quilha. A proa ralou na areia e o Garça-Real galgou
alguns metros em terra seca.

Stefan jogou a âncora na praia sobre a proa, em seguida, caiu para o lado.
Quando ele correu até a praia para prendê-la na areia, houve um ruído quando o
Wolfwind passou a encalhar sua proa ao lado deles. Um de seus tripulantes
observando as ações de Stefan.

Hal olhou tristemente em volta de seu pequeno barco. Esta seria a última vez
que ele ordenou-lhe, ele sabia, e ele não podia levar-se a deixá-lo. Ele estava ciente de
que os outros meninos estavam esperando por sua liderança e ele fez um gesto em
direção à proa.

— Todos em terra — disse ele. Eles se viraram e fizeram o seu caminho para a
frente, um grupo desconsolado. Lydia, ainda perplexa, saiu ao lado de Stig.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou a ele. Ele olhou para ela.

— Nós somos fugitivos — disse ele. — Eles vieram para nos levar de volta.

Ela olhou para ele, os olhos arregalados. Não havia nada que pudesse dizer a
isso. Apesar de ela pensar sobre isso, percebeu que significaria que seus compatriotas
estavam agora por conta própria contra os piratas. Havia apenas nove tripulantes do
Garça-Real, e oito deles eram meninos. Mas de alguma forma, tinham-lhe dado
esperança. Seu otimismo, sua confiança em Hal e sua capacidade de chegar a um

174 - Brotherband
plano de ação tinha mostrado suas crenças. Agora se foi. Abatida, ela seguiu os outros
para a proa.

Hal permaneceu na plataforma de direção. Ele enrolava o fio em volta da


restrição do leme, para impedi-lo de bater e voltar com o movimento da água. Em
seguida, ele permaneceu, uma mão sobre a madeira lisa, agora imóvel como o navio
encalhado.

Thorn deixou cair uma mão em seu ombro.

— Vamos lá — disse ele suavemente. — Nós também podemos descobrir o


pior.

Eles caminharam a extensão do navio, então subiram até a proa. Os outros


membros da tripulação estavam esperando num grupo abatido. Uma dúzia de
tripulantes do Wolfwind de pé em um semicírculo ao redor deles. Quando Hal caiu
para a areia molhada da praia, Svengal avançou, com um sorriso enorme no rosto.

— Finalmente! — Disse. — Pelo mau hálito de Gorlog, Hal, você nos levou em
uma perseguição alegre. Encontrei seu acampamento aqui um par de dias atrás, mas
não havia nenhum sinal do Garça-Real, por isso fomos à sua procura. Eu pensei que
nós o tínhamos avistado ao sul daqui na outra noite, mas você escapou. Portanto,
viemos aqui para esperar. E aqui está você!

Ele se adiantou e tomou conta do menino surpreendido em um abraço de urso


enorme, então o segurei com o braço estendido, estudando-o.

— Graças aos deuses que você está a salvo. Estivemos muito preocupados com
você. Erak teria me esfolado vivo se você sofresse qualquer dano.

— Acho que ele nos quer em um pedaço quando você nos levar de volta. —
disse Stefan amargamente.

— Levá-lo de volta? Nós não estamos aqui para levá-lo de volta. Erak enviou-
nos para ajudá-lo! — disse.

Lentamente, Hal sentiu esperança surgindo em seu coração. — Você quer nos
ajudar?

Svengal virou-se para sua tripulação. — Eles pensaram que tinha vindo até aqui
para arrastá-los de volta para Hallasholm! — Ele caiu na gargalhada. Seus homens se
juntaram e ele olhou para Hal.

— Quem iria querer um mal vestido muito sem gosto como você de volta? Não,
Erak achou que você tinha uma vantagem sobre nós, então você teria uma melhor
chance de encontrar do que assassinar o suíno do Zavac. Então, ele nos enviou atrás

Os Invasores - 175
de você para lhe dar uma mão. Afinal, essas Magyarans tem você seriamente em
desvantagem.

Svengal pareceu notar Thorn pela primeira vez e sorriu alegremente para ele. —
Olá Thorn. Bela pele de carneiro. O que aconteceu com a antiga? Será que ela
finalmente se desintegrou? Tinha mais buracos do que pele de carneiro de qualquer
maneira.

— Vejo que ainda fala demais, Svengal, — Thorn respondeu. Alguns dos
tripulantes do Wolfwind murmuraram em acordo. Svengal ficou imperturbável, no
entanto.

— Eu nunca fui o tipo forte e silencioso.

Hal balançou a cabeça considerando esta mudança inesperada dos


acontecimentos. Ele se perguntou se iria compreender o funcionamento da mente do
Oberjarl. Quando eles avistaram o Wolfwind na noite anterior, ele havia assumido
imediatamente que o navio tinha sido enviado para capturá-los e levá-los de volta para
Hallasholm em desgraça. Agora Svengal estava lhe dizendo que ele e sua equipe
estavam aqui para ajudar. As coisas estavam indo rápido demais, pensou ele.

— Por uma questão de fato — Thorn estava dizendo, — nós encontramos


Zavac. Ele está a um dia de vela ao longo da costa, escondido em uma cidade
fortificada. — Um murmúrio de interesse percorreu a tripulação do Wolfwind, e um
sorriso satisfeito se espalhou pelo rosto de Svengal quando ouviu a notícia.

— Maravilhoso — disse ele calmamente. — Simplesmente maravilhoso. Então,


qual é o nosso plano de ação?

— Nós ainda estamos trabalhando nisso — Thorn disse a ele. — Mas Hal vai
vir com algo devidamente brilhante. Ele normalmente vem. Então, podemos ir e o
caramujo comestível do Zavac sairá de seu buraco de rato.

— Que diversão — Svengal disse. Seus homens deram um grunhido


concordando. Zavac havia assassinado dois de seus amigos quando ele roubou o
Andomal. A tripulação do Wolfwind estava ansiosa para vingá-los.

Svengal bateu no ombro de Thorn. — É bom trabalhar com você novamente,


Thorn — disse ele. — Vai ser como nos velhos tempos.

Lydia olhou para os nortenhos ferozes e sentiu seus espíritos subindo.


Escandinavos eram lutadores de renome, ela sabia. Eles ainda estavam superados em
número pelos Magyarans, mas as chances foram ficando melhor o tempo todo. E já
que todos pareciam convencidos de que Hal viria com um plano para equilibrá-los
ainda mais, quem era ela para discordar?

176 - Brotherband
Capítulo vinte três

N
a manhã seguinte, eles desfizeram o acampamento e os dois navios
equipados, em comitiva, navegaram pela costa até Limmat.

Era meio da tarde, quando eles chegaram ao seu destino. Não havia
mais uma coluna de fumaça elevando-se acima da cidade. Aparentemente, os piratas
tinham começado os incêndios sobre controle. Ou talvez eles houvessem deixado o
povo da cidade para cuidar deles.

Quando o Garça-Real e o Wolfwind se dirigiram para a praia, viram dois


homens acenando. Barat havia ordenado que esperassem pela volta do Garça-Real e
os guiassem através dos pântanos para seu acampamento. Svengal deixara 10 de seus
homens para trás na praia para manter vigilância sobre os dois navios. O resto da
tripulação do Wolfwind e do Garça-Real, carregados com sacos de suprimentos,
marcharam através da lama e água profunda até a coxa, atrás de seus guias,
resmungando e reclamando sobre as moscas de areia e mosquitos, que pareciam
enxame aos milhares nos pântanos.

Eles seguiram um caminho aparentemente sem rumo até que chegaram a uma
ilha de areia maior do que o de costume. O sol estava quase se pondo e eles podiam
ver o brilho de várias foqueiras que se aproximavam.

Barat tinha os visto abrindo caminho através do pântano e nos últimos 50


metros ou mais ele fez o caminho até a praia para saudá-los enquanto eles
chapinhavam seu caminho para fora da água barrenta. Ele deu um pulo quando viu
como seus números aumentaram. Oito meninos e um homem mais velho tinham
partido dois dias antes. Agora, eles estavam de volta, com mais vinte escandinavos.

— Quem são estes? — Ele perguntou Hal.

— Reforços. Eles vão nos ajudar com o ataque. E esses sacos que estão
transportando estão todos cheios de comida.

A expressão suspeita de Barat atenuou consideravelmente.

— Fico feliz em vê-lo — disse ele. Mas a direção do seu olhar deixou dúvidas
de que era a comida que ele mais gostou de ver. Ele notou Lydia, que estava perto de
Hal e Stig, e sua expressão acalmou.

— Olá, Lydia.

Os Invasores - 177
Ela assentiu com a cabeça numa saudação. — Oi, Barat. Lugar lindo que você
tem aqui.

Ela olhou ao redor da ilha. Os homens que haviam escapado da cidade não
tiveram tempo de reunir tendas ou toldos, quando se retiraram. Em vez disso, eles
haviam construído ásperos abrigos de palha de galhos de árvores e arbustos. Uma
figura corpulenta estava se aproximando deles e Hal reconheceu Jonas, que havia sido
o segundo de Barat no comando quando eles se conheceram vários dias antes. O mais
velho Limmatan deu um sorriso de boas vindas agora.

— Você está de volta! — Ele também notou os sacos. — E você não veio de
mãos vazias! Bem-vindo à nossa encantadora casa de férias à beira-mar, Lydia. O que
você acha?

Ele varreu um braço ao redor, em um gesto que abrangia a insignificante ilha ao


nível do mar. Lydia retornou lhe sorrindo. — É simplesmente adorável, Jonas. Tudo
que uma garota poderia desejar.

— Bem, vamos para o acampamento e conheça o resto de nós — disse Jonas,


dirigindo-se a Hal. Ele franziu o cenho e se aproximou, e então falou num sussurro,
zombando, — Se não se importa que eu diga, você parece ter aumentado e
multiplicado desde que se foi.

Hal assentiu. Ele gostava de Jonas. Ele tinha um jeito fácil, alegre sobre ele, em
contraste com a abordagem desajeitada e suspeita de Barat. Hal também sentiu que a
saudação amigável de Jonas destinava-se a compensar a falta de boas-vindas de Barat.

— Vamos até seu acampamento — disse Hal. — Vou apresentar-lhe tudo,


então.

Eles abriram caminho para o acampamento próprio. Jonas os encaminhava ao o


fogo de cozinha e os sacos de comida foram jogados lá para os cozinheiros organizá-
los e preparar uma refeição. Hal não estava preocupado com a entrega do alimento.
Eles só ficariam aqui por alguns dias, se tudo corresse como planejado. Uma vez que
eles derrotassem os piratas, poderiam prover-se em Limmat.

E se não os derrotassem, ele pensou severamente, não teriam necessidade de


alimentos.

Eles se agruparam em torno de várias fogueiras, enquanto a refeição foi


preparada e servida. Bebidas espirituosas no acampamento eram altas. As maiorias
dos homens que haviam fugido da cidade estavam muito felizes de ver os seus
números aumentarem por um corpo de guerreiros treinados, como os escandinavos.
Ao contrário de seu líder batalha desconfiado, saudaram os recém-chegados com
vontade. Verdade seja dita, um sentimento de desânimo começou a permear o
acampamento. Os Limmatans sabia muito bem que quarenta deles tinham pouca

178 - Brotherband
esperança de desalojar mais de uma centena de piratas a partir de uma posição bem
fortificada como a cidade. A chegada dos nove membros da tripulação Garça-Real, e
agora vinte escandinavos adicionais, parecia ser um bom presságio. Assim, a refeição
foi alegre, com muito riso e bom companheirismo.

Quando terminaram de comer, os membros mais antigos do partido Limmatan


reuniram-se em volta de uma pequena fogueira com Hal, Stig, Lydia, Thorn e
Svengal. Ingvar, que tinham comido em uma das outras fogueiras, sentou-se alguns
passos atrás de Hal, no caso de ele ser necessário O segundo em comando de Svengal,
Lars Bentknuckle, se juntou a eles, enquanto esperavam que Hal expusesse os
detalhes de seu plano.

Svengal e Lars, como a maioria dos escandinavos, alegaram nenhuma


habilidade para planejar e nenhuma afinidade para táticas. Eles eram guerreiros e
deixavam esses detalhes para outras pessoas. Todos eles pediram para ser dado um
alvo claro e objetivo e eles iriam divertidamente para a batalha.

Barat teve alguma pretensão de ser um líder e um tático. Mas, na verdade, ele
vinha tentando pensar em uma maneira de atacar e derrotar os piratas por alguns dias
agora, sem sucesso. Enquanto ele mantinha a ficção de que tinha a autoridade para
aprovar ou rejeitar os planos de Hal, a verdade era que estava esperando que o jovem
escandinavo viesse com um plano de batalha que lhes traria uma vitória, embora ele
não tivesse a menor idéia do o que esse plano poderia implicar. Ao mesmo tempo, ele
estava um pouco ciumento do jovem skirl escandinavo, possivelmente devido ao que
ele via como a deserção de Lydia. Assim, mesmo que parte dele esperava um plano
viável, outra parte estava muito pronta para criticar o que quer que Hal fale.

— Surpresa — disse Hal, quando eles estavam todos reunidos próximo ao redor
do fogo. — Essa vai ser a chave do sucesso para nós. Se nós pudermos os pegar de
surpresa, podemos neutralizar a sua vantagem em números.

Hal falou com confiança. Mas a idéia, uma vez que ele tinha, parecia tão óbvio
que Barat estava inclinado a desconfiar dele. Não podia deixar de sentir que ele deve
ter deixado algo fora de seus cálculos. Deu de ombros mentalmente.

Se ele tivesse, ambos Thorn e Svengal eram militantes experientes. Eles podem
não ser capazes de colocar um plano em conjunto. Mas eles reconheceriam as
deficiências se a vissem.

Pelo menos, ele esperava que o fizessem.

— Eles sabem que estamos aqui — Barat zombou. — Um pouco difícil


surpreendê-los, não é?

— Eles não sabem que estou aqui — Svengal apontou. Ele já estava ficando
cansado deste Limmatan auto-importante, que parecia sempre pronto a criticar, mas

Os Invasores - 179
nunca apresentou uma idéia de sua autoria. — E isso é uma surpresa a um bom
número de inimigos no passado.

— É verdade — Thorn interveio — Svengal pode ser uma surpresa


desagradável.

Lars e alguns dos Limmatans riram disso. Barat levantou as sobrancelhas. Ele
estava irritado com a pronta resposta às suas críticas e irritado que seus concidadãos
tinham rido. Mas ele se recusou deixar este jagunço escandinavo vê-lo.

Hal empurrou, ignorando a mudança, procurando acalmar as coisas.

— Você está certo, Barat — disse ele. — Os piratas sabem que está aqui. E eles
vão esperar qualquer ataque vir deste lado da cidade.

— Naturalmente — disse Barat. — Se tentássemos dar a volta à paliçada, eles


nos veriam e poderiam simplesmente mover suas forças para combater-nos.

— Mas eles não sabem que você tem navios agora. Se se mover sob a cobertura
da escuridão, podemos transportar seus homens para o outro lado da cidade para o
leste. Vamos dar uma volta larga na baía para ficar fora de vista, curvar então de volta,
abraçando a costa norte. Eu acho que podemos fazer isso em duas noites. Há um
promontório sobre 400 metros da cidade, onde pode ficar fora de vista até que todos
os seus homens estejam em posição.

Durante a viagem ao longo da costa, ele pediu Lydia para desenhar-lhe um


mapa da cidade e seus arredores. Ele havia estudado de perto e agora esboçou uma
versão rudimentar deste na areia, apontando para o local onde a terra se projetava para
a baía.

— Na terceira noite, sob a cobertura da escuridão, mover seus homens mais


perto da cidade para que você esteja em posição de atacar a primeira luz. Zavac estará
observando o lado ocidental, onde os pântanos estão e onde ele acha que você está. E
ele terá os seus homens concentrados naquele lado, enquanto você vai atacar a partir
de uma direção completamente inesperada. Isso deve lhe dar uma boa chance de ficar
mais à paliçada, particularmente se montar um desvio nas torres de vigia e amarrar
mais de seus homens.

— A maioria deles estão nas torres de vigia — Jonas pôs em pensamento. — É


o local lógico para eles, afinal. Eles podem ver dos pântanos à entrada para o porto.

— O que me intriga — Svengal ponderou, — é por que eles ainda estão na


cidade. Certamente, agora, eles tiveram tempo para carregar-se com qualquer coisa
que eles querem e estar no seu caminho.

Hal estava olhando Barat e Jonas quando Svengal fez o ponto. Ele viu o olhar
rápido entre eles.
180 - Brotherband
Eles estão escondendo algo de nós, ele pensou. Nem ele nem Svengal estavam
cientes de que os piratas ainda estavam em Limmat por causa da mina de esmeralda.
Zavac colocou os mineiros trabalhando dobrado para extrair o maior número possível
de pedras preciosas do rico filão por trás da cidade. E, não tendo nenhuma ameaça
imediata do grupo relativamente pequeno, que havia fugido para os pântanos, ele não
tinha pressa nenhuma de sair.

Após um momento de hesitação, Jonas falou.

— Há um monte de ricos comerciantes na cidade — disse ele. — E eles


guardam o seu dinheiro bem escondido. Meu palpite é que os piratas estão levando
mais tempo do que eles planejaram pra encontrá-lo.

— Independentemente do motivo pelo qual eles estão aqui — disse Barat, — o


plano não vai funcionar. Eu teria pensado que um marinheiro como você podia ver a
falha óbvia.

Havia uma nota de algo parecido com triunfo em sua voz. Hal inclinou a cabeça
para um lado.

— Oh? E o qual foi o detalhe que eu perdi? — Se a objeção vem de Svengal,


Lars ou até mesmo Jonas, ele poderia ter dado alguma credibilidade. Mas Barat
parecia quase ansioso para encontrar a falha.

— O vento — Barat respondeu em um tom condescendente. — Eu pensei que


marinheiros sabiam tudo sobre isso. Nesta época do ano, o vento predominante à noite
vai vir da praia e vai ser inoperante contra você. Ele vai te levar a maior parte da noite
a bater na baía de encontro a ele, particularmente se você planeja fazer uma volta
ampla no caminho e para fora. Você apenas nunca vai administrá-lo à tempo e as
chances são altas de que os invasores vão vê-lo e adivinha o que estamos fazendo.

Hal sorriu, aliviado que Barat não tinha visto um problema real com sua idéia.
Veja bem, o seu ponto tinha certa validade. Se o Wolfwind, por exemplo, tentasse
transportar os homens para a baía, ele levaria muito tempo batendo no vento contrário
e a luz do dia iria mostrá-lo. Mas o Garça-Real era um assunto completamente
diferente.

— Não vai ser um problema — disse ele, confiante. — Meu navio pode
navegar contra o vento muito mais rápido do que o normal. Oito horas de escuridão
será tempo de sobra para nós chegarmos e voltarmos.

Barat abriu a boca para argumentar, mas Svengal antecipou ele.

— Hal está certo. Esse navio pequeno com suas velas contra o vento é como um
sonho. Ele vai ser capaz de beliscar e sair com tempo de sobra.

Os Invasores - 181
Barat afastou-se, uma carranca em seu rosto. Jonas se inclinou para frente para
manter a discussão em movimento.

— Você mencionou uma distração — disse ele. — O que você tem em mente?

— Eu percebi que as guaritas têm uma balaustrada de madeira — disse Hal.

Jonas assentiu. — É de pinho.

Hal assentiu. Ele havia suposto muito. Pinho era a madeira mais facilmente
disponível nesta parte do mundo.

— As pranchas são grossas o suficiente para parar uma flecha ou um dardo de


besta — Jonas disse.

— Não é o tipo que eu tenho em mente — Hal disse, sorrindo. Ele se virou para
Ingvar, sentado silenciosamente atrás dele, prestando atenção à conversa. — Ingvar,
pode me dar o dardo, por favor?

Ingvar colocou a mão sob a jaqueta e pegou um dos dardos do Mangler. Ele
entregou a Hal.

Hal jogou o projétil pesado na areia no meio do círculo.

— Eu já montei uma besta descomunal na proa do meu navio — disse ele. —


Ele atira um desses a trezentos metros.

Jonas ficou de joelhos e pegou o dardo. Ele pesou, estudou a ponta de ferro
reforçado e emitiu um assobio.

— Isso pode fazer um belo estrago nas coisas — disse ele, e passou o dardo
para Barat, que ergueu as sobrancelhas quando o examinou de perto. Apesar de sua
antipatia para os escandinavos, e seu jovem skirl em particular, ele não podia deixar
de ficar impressionado com a aparência do projétil mortal. Ele podia imaginar o
estrago que poderia causar nas torres de madeira.

— Eu pretendo cruzar a entrada do porto, atacando as duas torres de vigia com


o Mangler — disse Hal.

Ele viu as expressões intrigadas e sorriu. — Isso é como chamamos a besta


grande. Se esses dardos começarem a bater na balaustrada, vão esmagá-los em
pedaços. Pinho estilhaça facilmente, então eles vão enviar lascas voando em todas as
direções.

Seus ouvintes assentiram quando eles imaginaram a cena. As lascas de pinho se


tornariam tão pequenas, como projéteis mortais próprios, ceifando para baixo os
defensores.

182 - Brotherband
— Uma vez que tivermos a sua atenção concentrada na boca do porto, os seus
homens podem quebrar o disfarce e atacar a paliçada traseira. Com alguma sorte, você
vai estar sobre ele e a cidade antes deles acordarem para o que está acontecendo.

— E nós? —Svengal interrompeu. — Você espera que a gente se sente


calmamente enquanto você tem toda a diversão?

Hal sorriu para ele. — Bem, se você realmente quer — disse ele. — Depois de
tudo, você teve um momento cansativo procurando por nós e pode querer colocar os
pés para cima e descansar...

Ele deixou a frase pendurada e Svengal bufou com desdém. Em seguida, Hal
continuou.

— Mas eu prefiro que você talvez possa lançar um ataque nos pântanos. Se
tomar a torre ocidental depois que tivermos suavizado, você pode proteger a
barragem. Então pode usar a lança para atravessar o porto para a segunda torre.

Ele fez uma pausa, olhando interrogativamente para Svengal. O registro da


barragem maciço seria quase submerso, mas a tripulação do Wolfwind, usada para
manter o seu equilíbrio num convés agitado em uma tempestade, deve ser capaz de
usá-lo como uma ponte improvisada para atravessar para a torre oriental, e o dique do
porto.

Svengal considerou a idéia, então assentiu.

— Não deve ser um problema — disse ele. — Nós fizemos uma coisa
semelhante há alguns anos, em um porto em Teutlandt. E uma vez que estejamos do
outro lado, vamos batê-los em dois lados.

— Três — disse Hal. — Quando nós neutralizarmos as torres, eu pretendo levar


o Garça-Real do outro lado praia, onde o portão da praia está. — Ele tinha notado no
esboço de Lydia, que havia um portão de madeira pesada, no lado leste da cidade,
onde seguia a paliçada até a beira da água.

— Nós vamos quebrar esse baixo, enquanto você e Barat estão atacando e
vindo de uma terceira direção. — Ele olhou para Barat. — E o povo da cidade? Uma
vez que estamos dentro, eles vão participar?

Barat concordou imediatamente. — Eu posso garantir isso — disse ele. —


Quando eles vêem que não estão sozinhos, eles vão agarrar tudo o que puderem para
lutar contra os piratas.

— Como você planeja romper o portão da praia? — Thorn perguntou. Ele tinha
estado silêncio enquanto Hal esboçou seu plano. Mas agora ele podia ver uma área
onde ele estaria envolvido e ele estava interessado em saber o que o seu jovem amigo
tinha em mente. Hal sorriu para ele.
Os Invasores - 183
— Eu tenho uma idéia sobre isso. Eu vou te dizer quando eu tiver trabalhando
nisso. — Ele olhou ao redor do círculo de rostos, em busca de discordância ou crítica.
Ele viu apenas entusiasmo. Mesmo Barat, depois de seus comentários sarcásticos
anteriores, parecia pronto para abraçar a idéia.

— Bem — disse Hal, — você está comigo? — Ele abordou a questão de Barat.
Ele queria se comprometer com o plano antes de qualquer outra pessoa.

Lentamente, o líder dos Limmatans assentiu. — Quando é que vamos fazer


isso?

Houve um rugido geral de assentimento daqueles ao seu redor. Hal sorriu.

— O escuro da lua é de dois dias de distância — disse ele. — Vamos


transportar seus homens e voltar para o lado leste em seguida. Isso vai levar duas
noites. Dê-me outro dia para arranjar algo para o portão no lado da praia.

Barat olhou para cima, calculando. — Então, vamos atacar em cinco dias?

— É assim que eu vejo — disse Hal. — Como é que se adequam a você,


Svengal?

A boca de Svengal se curvou em um sorriso de lobo. — Isso me serve como


base. Mas como você propõe chegarmos a passar pelo pântano para atacar a torre? Eu
não gosto de vadear todo o caminho transportando armas e armaduras, e eu não vejo
mais do que meia dúzia de esquifes aqui.

Hal assentiu. Ele tinha vindo a antecipar a pergunta.

— Use o Wolfwind — disse ele. — Tire o mastro da carlinga e retire todas as


pedras de lastro abaixo das tábuas do convés. Sem todo esse peso, ela só vai precisar
de cerca de 20 centímetros de água abaixo dela. Você pode vara-la através do pântano,
sem muita dificuldade. E você não vai mesmo ter seus pezinhos molhados —
acrescentou, com um sorriso travesso.

Svengal olhou para ele por um longo momento. Estava acostumado a fazer
comentários zombeteiros para Erak. Parecia estranho ter a bota no outro pé.

— Você tem pensado em tudo, não tem?

O sorriso desapareceu lentamente do rosto de Hal.

— Espero que sim — disse ele. Mas eu tenho certeza que vai haver algo que eu
não tenho.

184 - Brotherband
Capítulo vinte e quatro

A
s duas tripulações fizeram o caminho de volta para a praia, onde Garça-
Real e Wolfwind estavam atracados. O acampamento na ilha de areia
estava no coração do pântano e os mosquitos e moscas eram um
incômodo constante. Na praia, a brisa do mar mantinha esses insetos na baía.

Eles colocaram sentinelas e acomodaram-se para a noite, deitaram-se na areia


macia enrolando-se em seus cobertores. Hal deitou-se, ouvindo a respiração regular de
seus amigos adormecidos.

Sua mente estava em tumulto enquanto pensava nos próximos dias e em tudo o
que tinha que ser feito.

O comentário final de Svengal ecoava em sua mente. O escandinavo entendeu


como um elogio, mas Hal estava muito consciente de que uma vez que a batalha
começasse, todo o planejamento do mundo não poderia prever o inesperado. Será que
ele tinha pensado em tudo? E se Zavac decidisse deixar Limmat nos próximos dois
dias? E se o Corvo saísse calmamente do porto na calada da noite e sumisse no
horizonte? O pensamento de que Zavac pudesse escapar depois de tudo que tinham
feito para encontrá-lo queimava na mente de Hal como um ferro quente.

E se a precisão de Hal com o Mangler não estivesse à altura da tarefa que ele
havia estabelecido a si mesmo? E se alguma coisa quebrasse no Mangler em um
momento crítico? Ele fez uma nota mental para preparar uma corda de reposição e
para inspecionar as tiras de couro que absorviam o recuo maciço do arco quando ele
largava o gatilho. E se um tiro perdido vindo das torres atingisse Ingvar? Ele precisava
da força do grandão para erguer e carregar o Mangler. Sem ele, a sua taxa de disparo
seria seriamente diminuída.

E se, e se, e se? As perguntas e dúvidas giravam em seu cérebro até que ele não
aguentou mais. Jogou os cobertores de lado e levantou-se, em seguida, caminhou
lentamente até a beira da água. Com a lua negra a apenas dois dias de distância, a
claridade era uma lasca fina de luz amarela, baixa no horizonte. Ele olhou para as
formas escuras dos dois navios. Amanhã, Svengal e seus homens começariam a
acender o Wolfwind. Ocorreu-lhe que deveria fazer o mesmo com o Garça-Real. Ele
estaria levando vinte homens em cada viagem para a baía, juntamente com sua
tripulação regular. Além disso, ele deveria definir sobre fazer mais um fornecimento
de dardos para o Mangler. Ele precisaria de tantos quantos pudesse fazer quando
atacassem as torres.

Os Invasores - 185
E ainda tinha o portão da praia. Como poderia ter certeza de que poderiam
queimar aquilo? Ele disse alegremente ao conselho de guerra que tinha um plano para
isso, mas ainda estava trabalhando nos detalhes. Simplesmente atirar flechas de fogo
de sua besta ou do Mangler não seria o suficiente. A madeira do portão deveria estar
seca após anos de exposição ao vento e à maresia. Mas era de madeira de lei e uma
única chama, não seria suficiente para fazer o fogo pegar. Eles precisariam de uma
fonte sólida de fogo para mantê-la queimando. Talvez uma pilha de gravetos e lenha
na base do portão? Mas não havia maneira de montar essa pilha sem ser visto e atirar
da paliçada acima deles.

Óleo, pensou ele. Se eles pudessem encharcar a madeira com óleo, em seguida,
a atingir com uma flecha de fogo, a coisa toda iria incendiar-se. Mas como ele poderia
gerenciar isso? Se tentassem aportar na praia e correr até o portão com recipientes de
óleo, seriam derrubados pelos defensores antes de avançar dez metros.

A menos que ele conseguisse colocar o óleo lá sem ser visto...

A semente de uma ideia começou a se formar em sua mente. Mas nesse


momento, ele ouviu um passo suave ranger na areia. Ele se virou rapidamente e viu a
forma esbelta de Lydia a poucos metros de distância.

— Não consegue dormir? — ela disse com simpatia.

Ele acenou com a cabeça. — Estou tentando descobrir todas as coisas que
podem dar errado — disse ele. — Até agora, já levantei cerca de uma dúzia.

— Só uma dúzia? — Ela disse, e ele podia sentir o sorriso em sua voz. Ele
olhou para ela, mas seu rosto estava na sombra.

— Bem — disse ele, tentando igualar com o humor leve dela. — Foi só o
começo. Eu realmente ainda não entrei no ritmo.

— Vamos isolar a sua maior preocupação — disse ela, com a voz mais seria —
E ver o que podemos fazer a respeito.

Ele fez uma pausa, pensando. Qual era a sua maior preocupação? Qual era o elo
que, se quebrasse, seria mais difícil de substituir? Não demorou muito tempo para
perceber o que era.

— Ingvar — disse ele calmamente. — Eu estou preocupado com ele.

— Ingvar? — Disse, surpresa. — Como você pode duvidar dele? Eu o tenho


observado e ele absolutamente adora você. Não há nenhuma chance de ele
decepcioná-lo.

Hal estava balançando a cabeça antes que ela terminasse.

186 - Brotherband
— Eu não estou preocupado que ele vá me decepcionar. Eu sei que ele nunca
faria isso — disse ele. — Muito pelo contrário. Estou preocupado em colocá-lo em
uma posição de perigo. Sinto como se eu fosse decepcioná-lo. — Ele pôde sentir que
ela não estava entendendo, e percebeu que, é claro, ela nunca os tinha visto atirar com
o Mangler.

— Ele é o único forte o suficiente para carregar a besta facilmente — explicou.


— Isso significa que ficará exposto na proa do navio quando estiver fazendo isso.

— Quão perto você tem que chegar do alvo? — Lydia perguntou.

Hal respirou fundo e olhou para o mar por alguns segundos antes de responder.
Queria aumentar a distância, mas sabia que comprometeria a precisão e a potência do
sólido arco se fizesse isso.

— Cerca de cem metros. Pode ser menos — disse finalmente. Mesmo na


escuridão, viu o branco de seus olhos quando se arregalaram.

— Isso é muito perto — disse ela. — Pensei que você disse que este arco de
vocês tinha um alcance de trezentos metros?

— O arco tem. Eu não. Se for para acertar a pontaria, tenho que estar a cerca de
cem de metros de distância. Isso significa que Ingvar estará exposto quando estiver
carregando. Ele vai ser o alvo mais proeminente do navio. E vai ser muito difícil não
notarem. Eu me pergunto se tenho o direito de colocá-lo em tal perigo, especialmente
porque sei que ele nunca irá recusar se eu pedir a ele.

— Claro que não — disse ela — Está se esquecendo de que você estará exposto
também. Os piratas podem muito bem ver você como um alvo mais importante. Afinal
de contas, você vai ser aquele quem estará atirando neles.

— Eu vou estar atrás do Mangler — ressaltou. — Precisa de um tiro muito bom


para me acertar. Mas Ingvar... — Fez uma pausa. — Bem, além de tudo, se ele for
atingido, estaremos em apuros. Ele é o único forte o suficiente para carregar o arco.

— Que tal Thorn? — ela perguntou. — Ele não é exatamente um fracote.

— É um trabalho de duas mãos — disse ele. — Mesmo para Ingvar. Thorn


pode muito bem ser forte o suficiente, mas eu duvido que o seu gancho suportasse a
tensão. Provavelmente arrancaria seu antebraço.

Ela virou-se e afastou-se alguns passos, pensando. Em seguida, voltou.

— Talvez eu possa ajudar — disse ela. — Se eu estiver na proa com você... —


Ela o viu começar a abrir a boca para protestar e antecipou-se a ele rapidamente. —
Não se preocupe, eu não vou ficar de pé a céu aberto. Vou ficar embaixo de alguma
coisa. — Ela fez uma pausa e Hal assentiu cauteloso. — De qualquer forma, se eu
Os Invasores - 187
mantiver a vigilância, poderei proteger a ambos. Posso apanhar qualquer arqueiro que
ficar muito interessado em você.

— Com aqueles seus dardos?

Ela assentiu com a cabeça.

— Você é tão boa assim? — A pergunta de Hal não foi de todo cética. Foi
interesse genuíno. Ele não estava familiarizado com atlatl como uma arma. Nunca
tinha visto um em uso e não tinha ideia de seu alcance ou precisão.

— Eu posso acertar um alvo humano a cem metros — disse ela, confiante. Em


seguida, fez uma pausa e qualificou a declaração. — Provavelmente, três em cada
quatro vezes.

Hal assobiou baixinho. — Isso é muito bom — disse ele. — Não tenho certeza
se eu poderia fazer melhor com a minha besta.

Ele pensou sobre isso. — E, claro, se você apanhar um ou dois deles, os outros
vão ficar menos ansiosos para serem heróis.

Ela sorriu e ele viu seus dentes brilharem na escuridão. — É bom pensar que eu
vou ser útil — disse ela. Então o sorriso desapareceu. — Essa é outra razão pela qual
eu queria ficar com você e com os meninos. Barat nunca me deixava chegar perto da
ação.

— Talvez nós não contemos a ele.

Ela suspirou. — Sinto muito sobre a maneira como ele se comportou. Ele não
consegue evitar Ele é muito possessivo sobre mim.

— Eu posso ver por que. As palavras saíram da boca de Hal antes que pudesse
detê-las e ele hesitou sem jeito, percebendo que soava como o mais desajeitado dos
elogios. Mas Lydia tocou em seu braço, agradecida.

— Obrigada — disse ela simplesmente.

Ele estava feliz pela escuridão, pois significava que ela não podia ver como seu
rosto ficou vermelho. Ele limpou a garganta sem jeito e mudou de assunto.

— Bem, agora que já resolvemos o problema de Ingvar, acho que eu seria capaz
de dormir.

— Eu também — disse ela. — Boa noite, Hal. E obrigada novamente.

— Boa noite — disse ele, e fizeram seus caminhos separados de volta a seus
colchonetes.

188 - Brotherband
Um pouco acima na praia, Stig tinha acordado pelo murmúrio suave de suas
vozes. Por alguns segundos, ele ficou deitado, franzindo a testa, tentando identificar o
som. Em seguida, levantou-se sobre um cotovelo e olhou para a beira da água. Ele
poderia reconhecer as duas silhuetas à luz fraca do luar. Hal e Lydia, pensou. Ele a viu
inclinar para frente e tocar o braço de Hal, em um gesto familiar e sentiu uma pontada
súbita de ciúmes.

Então ele corou, zangado consigo mesmo. Afinal de contas, Hal era seu melhor
amigo, e ele mal conhecia Lydia. Era uma tolice deixar que o ciúme se colocasse entre
eles, disse a si mesmo. Mas não importava quantas vezes repetisse o sentimento em
sua mente, não conseguia se livrar daquela pequena rusga.

— Eu sou tão ruim quanto Barat — disse a si mesmo. Ele rolou e puxou seus
cobertores até o queixo. Mas o sono lhe escapou por algum tempo.

Apesar do que ele disse a Lydia, Hal também permaneceu sem dormir, olhando
com os olhos arregalados para o céu escuro e as estrelas brilhantes acima dele,
remoendo o problema do portão da praia.

Óleo, pensou mais uma vez. Essa era a resposta. Se pudesse encharcar a
madeira em óleo, e em seguida atear fogo, o óleo queimando acabaria por fazer as
madeiras secas queimarem também. Também seria simples colocar fogo no óleo.
Poderia fazer isso com uma flecha de fogo da sua besta, ou do Mangler. Mas,
primeiro, o óleo teria de ser colocado no portão. O que o trouxe de volta a um círculo
vicioso. Qualquer um que tentasse lançar óleo sobre o portão durante a batalha seria
derrubado pelos defensores antes que pudesse alcançá-lo.

Hal mudou de posição. Havia uma pelota de areia sob seu ombro. Estava
tentando ignorá-la nos últimos minutos, mas agora se tornou uma real frustração -
provavelmente por causa de sua incapacidade de pensar em uma maneira de contornar
o problema do portão.

Irado, descobriu-se e se sentou. Dobrou a lona impermeável que estava usando


como um saco de dormir e alisou a pelota de areia até deixá-la plana. Em seguida,
recolocou a lona impermeável e, enquanto fazia isso, afofou o rolo de pele de carneiro
que estava usando como travesseiro.

Suspirando com satisfação, virou-se e estudou a praia mais uma vez antes de
deitar. Garça-Real e Wolfwind estavam inclinados agora, ele reparou. Como a maré
tinha baixado, os navios haviam sido deixados em pé na areia molhada e tinham
gentilmente tombado para a sua posição atual.

A maré tinha feito um longo caminho. Havia uma faixa de areia cintilante na
praia, entre os navios e o mar com cerca de vinte metros de largura. Ainda bem que
eles não tinham que zarpar com pressa, pensou. É claro que, pela manhã, a maré iria

Os Invasores - 189
subir novamente e os barcos iriam se levantar gradualmente da areia e flutuar na
posição vertical, mais uma vez.

A maré o fascinava, como fazia com a maioria dos marinheiros. Uma grande
parte de sua vida fora governada por ela e as fortes correntes que ela criava. Houve
uma inevitabilidade fascinante a respeito da maré, sobre a maneira como subia e
descia duas vezes por dia.

Ele sabia que alguns escandinavos mais velhos acreditavam que ela foi causada
por uma grande mítica baleia azul à medida que ela respirava água para dentro e para
fora. Ele olhou em torno das formas escuras amontoados na praia. Ele perguntou
quantos tripulantes do Wolfwind ainda secretamente acreditavam nessa fábula.

Não Svengal, pensou. Svengal era muito prático. Thorn? Quase


instantaneamente descartou a ideia. Thorn era muito cético para acreditar em tal
história de fadas. Mas então, se não foi a grande baleia azul que causou as marés, o
que foi?

Ele suspirou. O inventor nele queria entender como isso aconteceu. Mas até
agora, ninguém parecia ter uma explicação lógica. Talvez a resposta fosse
simplesmente aceitar o fato que a maré vinha e a maré ia, e pronto.

E assim que teve esse pensamento, descobriu como colocaria o óleo no portão
da praia.

190 - Brotherband
Capítulo vinte e cinco

H
al, Stig e Jesper estavam comigo um barco emprestado pelas pessoas de
Barat, a duzentos metros da costa, à leste da torre de vigia de Limmat.

— Você não está preocupado com eles nos verem? — Stig perguntou.
Os piratas que estavam na torre gritavam insultos enquanto eles passavam remando,
mas apesar de terem atirado flechas em direção ao barco, nenhuma chegou perto.

Hal balançou a cabeça. — Eles sabem que Barat e seus homens têm barcos de
pequeno porte, por isso não estamos dando nenhuma distância. E com essa distância,
eles não podem nos reconhecer como escandinavos.

Stig assentiu incerto. Mas, como sempre, ele deixava o raciocínio para Hal. —
Se você diz que é assim...

— Eles não podem ver que você é um Araluen — Jesper fala, sorrindo.

Hal revirou os olhos, percebendo que o comentário de Jesper foi feito como
uma piada.

— Pura verdade — disse ele. — Irônico, não é? Esses piratas pode muito bem
serem as primeiras pessoas a pensarem em mim como um escandinavo. Ah, o portão.

A cem metros além da torre de vigia, a paliçada virou em ângulo reto e se


dirigiu para o interior, para o norte. Havia um pequeno trecho de praia além do ponto
em curva, e um pesado portão de madeira foi definido na paliçada, que dá acesso à
praia.

— Está fechado — disse Jesper. Ele estava confuso com esta viagem de
reconhecimento. Hal não tinha dito a ele nada sobre seus planos, e tinha acabado de
dizer que queria vê-lo, talvez ele entendesse o que Hal tinha em mente, e apontaria
eventuais problemas.

— Lydia diz que está sempre fechado, a menos que haja navios estabelecidos
na praia — disse Hal. — Eles são muito desconfiados e não deixam navios estranhos
dentro do porto.

— Com razão — disse Stig, repousando sobre os remos. — Olha o que


aconteceu da última vez que eles fizeram.

Os Invasores - 191
— Exatamente — Hal concordou. — Então, se chega um navio que eles não
tenham visto antes, é onde eles dizem para atracar. Os estrangeiros podem descarregar
sua carga na praia e os moradores da cidade usam a porta para trazer a mercadoria
para o interior da paliçada.

— Muito bem — disse Jesper lentamente. — Então, aqui estamos nós, depois
de um agradável passeio de barco, olhando para uma porta que está trancada. Presumo
que não vão abrir para nós?

— Não. Nós iremos queima-la. — disse Hal. — Então, Ingvar vai bater com um
aríete para quebrá-lo.

— Bem, se qualquer um pode fazer, é Ingvar. Mas como é que vamos queimá-
lo?

— Vamos encharcar o portão com óleo, em seguida, atirar uma flecha com fogo
do Mangler.

— Até agora — Jesper respondeu: — Eu não posso discordar da sua lógica.


Com exceção de uma pequena coisa, e eu tenho que dizer, é ponto potencialmente
vital...

— Como é que vamos encharcar com o óleo o portão em primeiro lugar?

O ex-ladrão concordou.

— Nós vamos colocá-lo lá na noite anterior. Vamos pendurar uma bexiga cheia
de óleo no portão. Se colocá-la alta o suficiente, não será visível a partir da paliçada.
Em seguida, na manhã do ataque, perfurar a pele com uma seta, ou um dardo. O óleo
flui para baixo do portão e nós atearemos fogo a ele com outra flecha. Simples.

Jesper voltou de seu estudo da porta e inclinou a cabeça para Hal.

— Você tem um conceito interessante da palavra simples — disse ele. — E


você disse que vamos pendurar uma bexiga de óleo. Como vamos lidar com isso
exatamente?

— Bem, na verdade, não vamos — Hal admitiu. — Eu estou esperando que


você faça essa parte. Você poderia começar da borda da água para a porta sem ser
visto?

Jesper estudou o terreno entre o portão e a borda da água. Ele estendeu seu
lábio inferior.

— À noite? Acho que sim. Há muitas ondulações no chão para me dar


cobertura. Pode levar dez ou quinze minutos, mas eu posso fazer isso.

192 - Brotherband
— Como é que ele chegará à praia? — Stig perguntou. — Mesmo à noite, eles
vão ver se tentarmos chegar tão perto num barco. E se distinguirem alguém
desembarcando, eles podem muito bem verificar a porta e encontrar sua bexiga de
óleo.

— Não estamos levando o barco para perto — disse Hal. — Nós vamos para
dentro dos limites, a trezentos metros. Um pequeno barco deve ser muito difícil de ver
a essa distância e à noite. Então Jesper e eu iremos nadando – na passada da maré.

— Ah... Há outro problema — disse Jesper, segurando uma mão. — Eu não


nado. Eu afundo.

Hal era um excelente nadador. Jesper, como a maioria dos escandinavos, podia
ser um desastre nadando. Mas Hal tinha previsto esse problema.

— Eu sei nadar — disse ele. — E eu vou estar com você.

— Excelente — Jesper respondeu sarcasticamente. — Você pode me ver


afogar.

— Você não pode se afogar. Eu preciso de você. Vamos construir uma jangada.
Ou melhor ainda, encontraremos uma tora que será molhada como os troncos da
barreira. Nós vamos rebocar o barco para trás até que estejamos a poucas centenas de
metros da praia, então escorregaremos para o mar. Vou me amarrar em você, Jesper.
Você não vai afundar.

— Se você diz — disse Jesper dúvidando.

— Se ficar na água por trás da tora, não será visto. Os piratas, se notarem
qualquer coisa, irão ver um pedaço de madeira flutuante molhado, em terra. Nós
vamos dar-lhes dez ou vinte minutos para se acostumar com isso, então você desliza
para a praia com a bexiga de óleo.

— E como é que você sai? — Stig perguntou. O raciocínio mental de Hal o


fascinou. A idéia parecia bastante viável agora que ele ouviu.

— Do mesmo jeito que nós entramos. Vamos deixar a maré nos levar de novo e
você pode nos pegar fora da vista das torres.

— Eu? — Stig diz, surpreso.

— Você vai ter que levar o segundo grupo de homens de Barat descendo a baía
enquanto estivermos cuidando do portão. No caminho de volta, esperem em alto mar,
fora de vista, e vamos à deriva para fora, até você.

— Só isso?

Os Invasores - 193
— Só isso.

— E se nos perdermos de você? — Houve uma preocupação genuína na voz de


Stig.

— Isso seria constrangedor — Hal admitiu.

Jesper o olhou com certo alarme. — Eu vou ficar mais do que constrangido —
disse ele. — Vou ficar francamente desapontado. Poderíamos derivar a meio caminho
de Teutlandt se Stig não nos localizar.

— Isso poderia, eventualmente, ser um daqueles pequenos detalhes que você


muito ocasionalmente ignora? — Stig perguntou inocentemente.

Hal franziu o cenho enquanto considerava o problema.

— Deve dar tudo certo. Devemos ser capazes de prever para onde vamos
derivar. E uma vez que estejamos fora da praia, pode-se levantar uma bandeira sobre o
tronco, então você deve ser capaz de nos ver.

— Você sabe, eu não gosto de devemos — Jesper disse, com algum espírito. —
Eu acho que eu prefiro o faremos. Perdoe-me se não estou entusiasmo com este plano.

Hal franziu os lábios, imerso em pensamentos, em seguida, ele fez um gesto


para voltarem pelo caminho que eles tinham vindo.

— Não há necessidade de continuar andando por aqui — disse ele, mudando de


assunto. — Eu vou pensar em uma forma de melhorar este caminho de volta.

— Eu aprecio isso — disse Jesper.

Stig escondeu um sorriso. Jesper, um não nadador, estava sendo convidado a


flutuar na praia, segurando um tronco, fazer o seu caminho para o portão, evitando ser
visto por todas as sentinelas que patrulhavam a paliçada, pendurar uma bexiga de óleo
sobre ela, em seguida, derivar de novo para o mar na vaga garantia que Stig e os
outros Garças seriam capazes de encontrá-los. Bem-vindo ao mundo de Hal, ele
pensou.

Stig ajustou os remos na água e começou a remar de volta. Ele estava


planejando sugerir que Jesper poderia soletrá-lo no caminho de casa, mas ele decidiu
que ele já tinha o suficiente em sua mente. Mas não pode resistir a um ataque final.

— Você sabe, eu ouvi que Teutlandt é muito agradável nesta época do ano —
disse ele. — Eles têm umas salsichas muito boas lá.

Ambos Hal e Jesper olharam para ele. Ele riu para si mesmo. Hal vai vir com
algo, ele pensou.

194 - Brotherband
Mas no momento em que eles chegaram de volta ao acampamento, Hal ainda
não tinha encontrado uma maneira de resolver o problema.

— Deve dar tudo certo — disse ele para si mesmo enquanto se arrastava até a
praia, imerso em pensamentos. — Eu deveria ser capaz de calcular para onde vamos
derivar para Stig poder estar esperando por nós lá.

O problema com isso, ele percebeu, era que, enquanto Stig era um excelente
piloto, não era um navegador muito talentoso. Era competente, é claro. Tinha passado
no curso de formação do brotherband e navegação era uma parte importante disso.
Mas Hal tinha feito às aulas avançadas de navegação, e sabendo que excelente
navegador Hal era, Stig tendia a folhear o trabalho teorico, supondo que seu amigo
estaria por perto para fazer a parte difícil.

Eu vou trabalhar os pontos de referência para ele, Hal pensava. Dessa forma,
poderia dar a Stig dois pontos sobre o terreno em que se orientaria, e que o colocaria
na posição correta. Mas mesmo isso não era totalmente satisfatório. Um monte de
detalhes mais finos de navegação veio ao instinto e julgamento. Se o vento ficar mais
forte ou alterar a direção, por exemplo, levaria sua jangada improvisada para fora do
curso previsto. Hal seria capaz de perceber e ajustar.

Stig conseguiria? Se Hal fosse completamente honesto consigo mesmo, ele


tinha que admitir que duvidava disso.

Enquanto ponderava sobre o problema, ele caminhou ao longo da borda da


água, procurando um pedaço de madeira que ele e Jesper poderiam usar como uma
jangada. Havia um grande tronco de árvore que parecia adequado. Era cinza e seco
com sal e ainda tinha um emaranhado de galhos nus mortos, no final. Onde três deles
cresceram juntos, eles juntaram uma massa de galhos mais leves e secos de ervas
daninhas. Parecia um ninho de pássaro estranho, Hal pensava.

Ou um feixe de lenha, pensou distraidamente, enquanto caminhava de volta


para buscar Ingvar e alguns dos outros para ajudá-lo a arrastar o tronco para a água,
para que pudesse flutuar para onde o barco seria lançado. O tronco foi meio enterrado
na areia e seria além até mesmo das forças de Ingvar movê-lo por conta própria.

Hal parou a meio passo. O tronco se parecia com gravetos, pensou. Ele voltou
para a praia com uma nova energia em seus passos.

Ele encontrou Jesper e Stig perto do fogo de cozinha, bebendo café com Thorn.
O velho guerreiro olhou para cima enquanto ele se aproximava.

— Como é que foi o reconhecimento?

Os Invasores - 195
Hal olhou para ele em dúvida, sem saber se Stig e Jesper haviam esboçado
problema com seu plano. Ele decidiu que não tinham. A expressão de Thorn era
ingênua.

Stig e Jesper ambos aguçaram seus ouvidos para aquilo, olhando-o com
curiosidade.

— Há um grande tronco na praia que nos servirá — disse ele. — E tem um


monte de material mais leve enroscado em seus ramos. Eu estou pensando que, se eu
tomar outro jarro pequeno de óleo, e uma pedra e aço, envolto em uma embalagem à
prova de água, eu poderia atear fogo a ele, uma vez que estamos no mar. Você vai ver
a fumaça, Stig. Então poderá vir e recolher-nos.

Stig concordou com a idéia. Ele ficou impressionado. — Parece que vai
funcionar — disse ele. — Eu sabia que você encontraria algo.

Thorn assentiu também. — Boa ideia — disse ele. — Se você misturar um


pouco de alga úmida uma vez que se queima, você vai enviar fumaça em abundância.
Deve ser visível por quilômetros.

Todos olharam para Jesper, para ver se ele concordava. O ex-ladrão estava
balançando a cabeça enquanto olhava para Hal.

— Eu pensei que era ruim o suficiente quando você queria ir à deriva em


direção a Teutlandt — disse ele. — Agora você quer queimar a jangada em que
estamos.

Hal abriu a boca para protestar, em seguida, percebeu que era uma avaliação
justa da situação.

— Stig vai encontrar-nos antes de chegar a isso — disse tranquilizador e Stig


fazia ruídos adequadamente concordantes. Jesper olhou para Hal, então para Stig.

— É melhor — disse ele. — Ou eu vou voltar de minha sepultura para


assombrá-lo.

196 - Brotherband
Capítulo vinte e seis

F
icarei contente em me livrar de vocês — disse Thorn. — E desse tronco
maldito.

Ele e Hal estavam sentados lado a lado no assento do meio do


— barco, cada um levando um remo. Com o peso extra acrescentado pelo
tronco grande atrás do pequeno barco, Hal decidiu ajudar o amigo com
o remo na viagem de ida.

Na noite anterior, Hal tinha transportado o primeiro grupo de homens de Barat


para um ponto na costa da baía bem a leste de Limmat. Hoje à noite, enquanto ele e
Jesper estavam montando a bexiga de óleo no local, Stig levaria o segundo grupo na
mesma viagem. Então ele iria pegar Hal e Jesper na viagem de volta.

A esperança é a última que morre.

Thorn estava remando facilmente e Hal olhou com certo interesse de


proprietário para o braço direito de Thorn.

— Como está o desempenho do gancho — questionou. — A tensão é correta?

Thorn ergueu o dispositivo e o estudou.

— Está tudo bem — disse ele. — Veja bem, eu tinha que apertar as tiras de
contenção, tanto quanto eu podia para que não saísse do meu braço. Vou precisar
soltá-las, uma vez que você se for.

Hal assentiu. Na viagem de volta, com apenas Thorn no barco, e sem o peso
extra do tronco rebocado atrás, remar seria muito mais fácil. Ele olhou em direção à
costa, cerca de três centenas de metros de distância. As luzes que marcaram as torres
na entrada do porto foram lentamente apagando.

— Claro que você não quer que eu espere aqui fora para te pegar? — Thorn
perguntou. Ele estava preocupado com o plano em que Hal e Jesper ficavam à deriva
no mar para um encontro com Stig no Garça-Real. Havia muitas coisas que podem
dar errado. Mas Hal balançou a cabeça, sorrindo para a preocupação do homem mais
velho. Eles já haviam discutido isso várias vezes.

— Vai ficar claro na hora em que terminarmos — disse ele. — Há um risco


muito grande de você ser localizado. Vigias costumam ficar atentos na primeira luz.

Os Invasores - 197
Thorn deu de ombros. — Eu vou correr o risco.

— Eu sei que você vai. E obrigado. Mas se eles te avistarem, podem olhar com
mais cuidado e nos ver. Em seguida, eles vão começar a se perguntar que temos feito,
e podem verificar a praia fora do portão. Se fizerem isso, vão localizar a bexiga de
óleo e o jogo acabou.

— Eu só não estou feliz com a ideia de você se afastar com a maré — disse
Thorn.

Jesper, sentado na popa, se inclinou para frente. — Eu estou com você, Thorn.
Mas ninguém me ouve.

—Nós ficaremos bem — disse Hal, com mais convicção do que sentia.

— Se você diz — Thorn disse.

Hal assentiu. — Eu digo.

Jesper revirou os olhos. — Eu não.

Hal decidiu ignorá-lo. Deu uma olhada para o lado do barco e viu alguns ramos
pequenos à deriva na maré cheia. Deu uma olhada para a praia novamente e viu que
eles tinham vindo da entrada do porto.

— Isso deve dar — disse ele. — Vamos puxar a jangada para o lado.

A jangada de troncos estava sendo rebocado cinco metros atrás do barco no


final de uma linha de cânhamo robusto. Ele e Jesper a puxaram até flutuar ao lado do
esquife, batendo ocasionalmente contra o casco.

— Acalme-se — Thorn avisou. — Se destruir o barco, eu vou ter que


acompanhá-lo nessa balsa.

Hal sorriu para ele. — E nós adoraríamos tê-lo junto.

Thorn fez um gesto para o lado. — Mexam-se. Jesper, você já inverteu o seu
colete?

Ambos os meninos usavam coletes de pele de carneiro, como a maioria da


tripulação do Garça-Real. Jesper geralmente usava com o exterior do lado de lã, pois
a lã oleosa fornecia um bom escudo à prova d'água contra respingos e chuva. Hal
usava com o interior de lã, pelo calor extra que dava.

Jesper tirou seu coleto, virou-o do avesso e o vestiu. — Qual é a razão disso
novamente?

198 - Brotherband
— As bolsas de ar na lã irão interceptar a água, e o calor do seu corpo
gradualmente irá aquecê-lo — explicou Thorn. — Isso vai mantê-lo mais confortável
no mar, que vai ser frio.

— Que jeito ótimo de me explicar isso — Jesper murmurou.

Thorn deu de ombros. — Cada pequena ajuda conta.

Hal virou de modo que suas pernas estavam para o lado. Então, como Thorn
inclinou-se para equilibrar seu peso, ele escorregou para a água escura. O choque do
mar frio a bater-lhe quase lhe tirou o fôlego. Ele se absteve de qualquer exclamação,
no entanto, pois ele sentiu que Jesper estava, provavelmente, à beira de se recusar a
deixar o barco. Ele segurou o tronco e juntou-se a ele. Puxou um pedaço de corda, que
amarrou a um ramo saliente, passando a extremidade livre de volta para Jesper.

— Amarre-se — ele disse. —Então, entre na água.

Duvidosamente, Jesper prendeu a corda em volta de seu corpo, sob suas axilas.
Então ele estendeu a mão e a mergulhou na água.

— Está fria — queixou-se a Thorn.

O velho lobo do mar sorriu. — Que surpresa. Agora, vá em frente.

Com um último e relutante olhar para a base da popa do barco, Jesper permitiu-
se escorregar para dentro da água. Sua cabeça afundou e ele espirrou de volta à
superfície, ofegando com o frio repentino e se debatendo violentamente na água.

Com um último olhar relutante na base da popa do barco, Jesper permitiu-se a


afundar na água. Sua cabeça foi abaixo e ele emergiu de volta à superfície, ofegando
com o frio repentino e se debatendo violentamente na água.

— Cale a boca! — Hal sussurrou ferozmente, agarrando-o pelo pescoço e


arrastando-o para a enorme tora. — Eles vão ouvi-lo da terra!

Jesper agarrou a jangada com a ferocidade do terror absoluto. A idéia de estar


flutuando em águas profundas era completamente estranha. Normalmente, isso teria
sido suficiente para aterrorizá-lo. Mas o frio inesperado adicionou-se ao medo. Ele
olhou para Thorn.

— Quanto tempo antes que a água na lã ficar quente? — ele perguntou


lamentavelmente.

— Quente é um termo relativo — Thorn disse com um encolher de ombros. —


Ele vai realmente ficar apenas menos frio. Deve demorar alguns minutos.

— Eu vou estar morto, então! — Jesper reclamou.

Os Invasores - 199
— Cale-se — disse Hal com rispidez. Ele voltou ao barco e Thorn passou-lhe o
pacote à prova de água que continha um pequeno frasco de óleo e uma pedra e aço. A
bexiga de porco, cheia de óleo, já estava amarrada de forma segura no tronco. Hal
prendeu o menor pacote num ramo, testou o nó, em seguida, virou-se e acenou para
Thorn.

— Empurre-nos — disse ele. — Hora de nós seguirmos nosso caminho.

Thorn desatou a linha que prendia o tronco ao lado do barco, colocou um remo
contra ele e empurrou. O tronco se moveu lentamente para longe do barco. Então,
quando a maré tomou posse do tronco, ele começou a ir lentamente em direção à
costa.

— Boa sorte — Thorn disse suavemente. —Vejo vocês amanhã.

— Cale-se — Hal falou de volta. Sua voz soava tensa, como se falar fosse um
esforço. Dentes batendo faria isso com a voz, Thorn pensou. Então ele ouviu Hal
falando novamente. — Obrigado.

Ele acenou com a cabeça em direção a forma embaçada, já a cinco metros de


distância, endireitou os remos e virou o barco para casa. Sem o peso dos dois
passageiros adicionais, e o reboque do tronco atrás dele, o barco estava leve e fácil de
remar. Mas de alguma forma, ele descobriu que preferia a forma como ele se sentia
quando Hal e Jesper estavam em segurança a bordo com ele.

Enquanto a maré os levava para a costa, Hal se ergueu para se orientar. Eles
estavam à deriva ligeiramente para a esquerda, ele pensou.

Instintivamente, Jesper tentou puxar-se para cima do tronco, para estar seguro
da água. Hal colocou a mão em seu ombro para contê-lo.

— Fique deitado fora do vento — disse ele. — Você vai estar mais quente
desse jeito.

— Perlins e Gertz! — Jesper respondeu, invocando os semideuses escandinavos


da neve e gelo. — Está muito frio. — Mas ele se abaixou para trás na água, de modo
que apenas a cabeça estava acima da superfície e ele descobriu que Hal estava certo.
Depois de alguns minutos, ele percebeu que Thorn estava certo também. A água retida
perto seu corpo foi lentamente se tornando mais quente, formando uma barreira entre
ele e água do mar gelada.

Estava tudo bem, no que dizia respeito à sua parte superior do corpo. Mas suas
pernas, vestidas apenas com leggings grossas de lã, estavam dolorosamente frias.

— Minhas pernas estão dormentes — reclamou ele.

200 - Brotherband
Hal checou suas orientações novamente. — Então vamos aquecê-las. Nós
vamos ter que levar o tronco um pouco para a direita. A maré está nos levando em
direção ao porto, não a praia. Agarre-o e vamos nadar à direita dela.

— Eu já tinha agarrado — disse Jesper. — O que faz você pensar que eu a teria
soltado?

Hal sorriu para ele. Seus próprios dentes estavam batendo e ele sabia que o
exercício de orientar o tronco iria fazer bem aos dois.

— Tudo bem. Você viu como um sapo chuta? Faça a mesma coisa. Não deixe
seus pés quebrar a superfície ou vamos fazer muito barulho. Mas chute como um sapo
e vamos aquecer um pouco.

Juntos, eles começaram a chutar por baixo d’água com as pernas. Na primeira,
Jesper era inábil e descoordenado com a ação desconhecida. Mas aos poucos
encontrou seu ritmo e chutou constantemente, obrigando o tronco para a direita. Eles
fizeram um progresso lento, mas quando Hal verificou novamente depois de dez
minutos, eles tinham se deslocado para uma distância considerável em toda a maré.
Ele estimou distâncias e ângulos.

— Mais alguns minutos nadando — disse ele, — e nós estaremos lá.

Ele estava exausto e congelando, mas podia sentir o sangue fluindo através de
suas pernas, lutando contra o frio abraço do mar. Ele percebeu que não tinha
permitido o efeito debilitante do frio. Outro pequeno detalhe esquecido, ele pensou
ironicamente.

— Se você diz — Jesper respondeu. Sua voz era apertada. O frio tinha
enrijecido seus lábios e boca.

—Vamos lá! — Hal pediu a ele. — Marcha acelerada!

Eles chutaram mais do que nunca, todo o tempo garantindo que não batessem
na superfície e fizessem barulho, ou um respingo sortudo de água branca. Depois de
alguns minutos, eles se tornaram conscientes do som da suave ondulação das ondas na
praia, a poucos metros de distância. Em seguida, o tronco estava batendo e arrastando
sobre o fundo de areia, eventualmente indo parar no raso.

Eles ficaram por alguns instantes, descansando. Ambos os seus corações


estavam correndo, enquanto esperavam por um grito de alarme da paliçada, indicando
que sua presença tinha sido descoberta. Se isso acontecesse, Hal pensou, eles estariam
acabados. Não tinham nenhuma forma de fuga, além de flutuar para fora com o tronco
na maré vazante.

Talvez eu devesse ter pensado nisso também, ele disse a si mesmo. Mas, como
mais minutos se passaram e não havia sinal de que tinham sido descobertos, ele
Os Invasores - 201
começou a relaxar. Jesper agitou ao lado dele. Hal notou com interesse que o seu
amigo não se erguia para olhar por cima do tronco. Ele deslizou para o lado para que
pudesse espiar através do emaranhado de galhos em uma extremidade, evitando expor
seu rosto para quaisquer observadores possíveis sobre a paliçada.

Ele ficou observando por algum tempo, então se contorceu de volta para
colocar a boca perto do ouvido de Hal.

— Há um guarda patrulhando. Passa a cada três minutos, aproximadamente. Ele


parece totalmente entediado com o que está fazendo, dificilmente se incomoda em
olhar para o mar.

—Você acha que ele percebeu o tronco? — Hal perguntou.

Jesper encolheu os ombros. — É difícil dizer. Se ele tiver, não parece muito
preocupado. Vou esperar até que ele passe novamente e entrararei em movimento.

Hal assentiu. Ele estendeu a mão e desatou o cabo de segurança da bexiga de


óleo, levantando-o cuidadosamente, evitando movimentos bruscos em qualquer um
dos afiados e quebrados cotos dos galhos. Enquanto o fazia, Jesper alcançou um bolso
interno dentro de seu colete encharcado. Ele pegou um pequeno frasco e começou a
esfregar uma substância de cor escura em seu rosto, formando um padrão irregular de
listras e redemoinhos.

—O que é isso? — Hal perguntou curiosamente.

— Graxa e cinzas. Ele altera o formato do rosto para que ninguém veja uma
regular, oval e branca. Uma dádiva se você estiver escondendo-se de alguém no
escuro — contou Jesper a ele.

Hal assentiu, impressionado com esta informação sobre o ofício do ladrão,


anotando-o para referência futura. Você nunca sabe quando pode querer espreitar
alguém no escuro, pensou.

—Você realmente sabe o que está fazendo, não é?

Jesper terminou com sua pintura no rosto, sorriu para ele. Seus dentes eram
notavelmente brancos na máscara negra.

— É melhor que sim — disse ele, tomando conta da bexiga de óleo. — Caso
contrário, nós dois estaremos na sopa.

Ele fez uma pausa, depois disse com algum sentimento, — Lembre-se, agora,
estar na sopa pode ser uma experiência bastante agradável.

Ele deslizou para o final do tronco, ficando de bruços enquanto esperava a


sentinela em patrulha passar. Então, levantou a mão para Hal e deslizou para longe do

202 - Brotherband
tronco, ficando rente ao chão nos cotovelos e joelhos, arrastando a bexiga de óleo
atrás dele.

Hal, tendo aprendido com o exemplo de Jesper, resistiu à tentação de olhar por
cima do tronco. Em vez disso, ele deslizou de barriga para baixo até o final, onde os
ramos seriam sua tela, e olhou para fora na direção do ex-ladrão.

Não havia sinal dele.

— Ele realmente sabe o que está fazendo — Hal disse para si mesmo.

Os Invasores - 203
Capítulo vinte e sete

S
tig contava em silêncio os lutadores Limmatan que se enfileiravam na sua
frente para subir a bordo do Garça-Real. Quando o último subiu a amurada, ele
se virou para Jonas.

— Eu contei vinte e quatro — disse Stig com um tom de acusação na voz.


Esperavam carregar vinte homens em cada viagem. Com qualquer número a mais, o
Garça-Real ficaria seriamente lotado. Mas Jonas assentiu.

— Tivemos quatro homens saírem da cidade nos últimos dias. Barat queria que
viessem. Ele disse que quanto mais homem tiver, melhores as nossas chances.

Stig grunhiu em aceitação. Fazia sentido. Mas se tivesse sido informado disso
antes, poderia ter compensado descarregando algumas das pedras de balastro que o
Garça-Real levava debaixo do convés. Agora não tinha tempo de fazer isso.

— Não acha que alguém poderia ter me avisado?

— Desculpe, Stig. Não me ocorreu que faria alguma diferença.

Stig franziu os lábios. Não fazia sentido ficar chateado com Jonas. Ele era um
fazendeiro e não tinha conhecimento nenhum de navios. Barat, é claro, é uma questão
totalmente diferente. Era um negociante e esteve perto de navi-os durante a vida toda.
A família dele até era dona de vários.

— Bem, vou ter que diminuir o peso o máximo possível — disse Stig. — E só
uma coisa que posso pensar em fazer. — Gritou para o navio, flutuando a alguns
metros da praia. — Stefan! Edvin! Venham à margem!

Os rostos dos dois tripulantes apareceram na lateral do navio, observando-o


com curiosidade.

— Qual é o problema? — perguntou Stefan, e Stig gesticu-lou com o dedo para


que descessem.

— Estamos acima da capacidade. Vocês terão que ficar para trás.

— Mas quem vai abaixar e levantar a vela? — perguntou Edvin. Logo quando
falava, Ulf e Wulf também apareceram na amurada.

204 - Brotherband
— Os gêmeos cuidarão da vela — respondeu Stig. Tomou essa decisão, pois os
gêmeos eram os mais fortes dos quatro membros da tripulação a bordo. Só um deles
era o suficiente para abaixar e levantar a vela... ou ele poderia pedir ajuda para um dos
passageiros se necessário. Afinal, era somente uma questão de puxar uma corda.

— Ulf, você estará responsável pela vela.

— Eu sou o Wulf — disse o gêmeo que ele indicou.

Stig cerrou os dentes em raiva. Então disse, calmamente:

— Então, Wulf, você cuidará de levantar a vela. Ulf pode cuidar de ajustá-la.

— Fico feliz em levantar a vela se quiser que eu a levante — disse o gêmeo que
ele agora sabia que era Ulf. Stig respirou fundo. Começava a imaginar como Hal
conseguia ficar calmo com esses dois. Então percebeu que, na maioria das vezes, não
conseguia.

— Eu não ligo para quem faz o quê, contanto que os dois trabalhos sejam
feitos. Entenderam?

Os gêmeos encolheram os ombros.

— Tudo bem — disseram em coro. E Ulf adicionou: — Então você quer que eu
levante a vela?

— QUERO! — Stig estourou. — Você levanta a vela. E você, o outro, seja lá


que infernos for, você ajusta a vela.

— Eu sou Wulf — disse Wulf.

— Dane-se! — Stig lhe disse. — Faça o que eu te peço!

— Tudo bem — disse Wulf, revirando os olhos para indicar como Stig estava
sendo contraditório. Ele e o irmão saíram da lateral e foram até as suas estações.
Stefan e Edvin, que observaram a conversa em diversão, passaram por cima da
amurada e caíram na água rasa.

— Você está se deixando sem muitos trabalhadores — Edvin disse para Stig.

O garoto alto assentiu rigidamente.

— Eu sei, mas não tenho outra escolha, tenho?

Edvin considerou o argumento, e então encolheu os om-bros.

— Suponho que não. Mas se o vento morrer, você só terá duas pessoas para
remar.
Os Invasores - 205
— O vento tem soprado regularmente toda noite faz semanas — Stig lhe
contou. — Por que morreria agora?

— Não sei — admitiu Edvin. — Talvez porque você precise dele agora.

Stig o mirou por vários segundos. Edvin lhe olhou de volta, mas teve a graça de
parecer pedir desculpas por ter levantado o assunto.

Finalmente, Stig disse firmemente:

— O vento não morrerá hoje. Entendeu?

— Tudo bem — Edvin concordou. — Você que sabe.

— Ótimo. — Stig percebeu uma figura magra andando em sua direção e ele
tirou os olhos de Edvin. — Olá, Lydia — disse. — Veio se despedir?

Na verdade, Lydia planejava convencer Stig a ir a bordo para a viagem. Estava


chateada com a falta de atividade, sentada em silêncio esperando que o ataque
começasse. Queria estar fazendo algo, e sentia que teria chance de fazê-lo mudar de
ideia. Mas a discussão que acabara de ouvir a convenceu do contrário.

— Só vim lhe desejar boa sorte — falou.

Stig sorriu.

— Ficaremos bem — ele disse, gesticulando para o navio. — Vai ser simples.
Navegar até lá, deixar os homens lá, ir embora.

— Eu quis dizer, boa sorte na procura por Hal — disse ela, e o sorriso de Stig
desapareceu quando pensou na noite a seguir.

— Sim. É claro. Não se preocupe. Vamos achá-lo, sem problema. — Sentiu


uma pontada de preocupação pelo amigo. E, estranhamente, também sentia uma
pontada de inveja também. Lydia não parecia preocupada com o bem-estar dele,
pensava. Ela estava preocupada com Hal.

Decidiu deixar a sensação vil de lado. Hal estava em uma situação muito mais
perigosa do que ele. Por que devia sentir inveja quando Lydia se preocupava mais
com Hal? Sentia mesmo assim, e ficava zangado com si próprio por isso.

— Melhor irmos — ele disse abruptamente, escondendo sua confusão. Sentido


que ela lhe havia ofendido de alguma forma, Lydia fez um gesto conciliatório para
ele. Mas Stig já se virara e subia pelo parapeito do navio, caminhando em direção à
popa no meio dos vários Limmatans.

206 - Brotherband
Lydia ajudou Edvin e Stefan a empurrar o navio para o mar. Ingvar, que estava
ali por perto, desceu até a praia para ajudá-los, e o Garça-Real deslizou para águas
mais fundas. Stig trabalhava com a cana do leme, girando a popa até o navio estivesse
mirando o mar aberto.

— Vela a estibordo — comandou, e um dos gêmeos levantou a verga e a vela,


enquanto o irmão as girava forte con-tra o vento.

Enquanto o navio ganhava velocidade, Stig lhe afastou da praia com uma rápida
curva. O Garça-Real se movia rápido pela noite, uma sombra escura num mar
igualmente escu-ro, até o único sinal do navio era o ocasional brilho branco das ondas
batendo na proa.

Jesper se encolhia nas tábuas duras do portão, mal ousando respirar, ouvindo o
ruído rítmico da sentinela pas-sando sobre a sua cabeça.

Onde estava, deixando da pendente do portão do jeito que estava, era


impossível que o guarda lhe visse, a não ser que o homem se inclinasse para fora do
cercado e e-xaminasse embaixo. Não havia motivo para ele fazer isso... a não ser que
Jesper fizesse algum barulho.

Não sentia mais frio. Adrenalina corria pelo seu organismo, afastando qualquer
sensação de desconforto. Esperou até que os passos desaparecessem. Sabia pela sua
observação que tinha três minutos antes que o guarda voltasse. Pôs o balão de óleo
com cuidado na base do portão, tirou do bolso uma pequena broca que Hal lhe dera, e
se estendeu o máximo que conseguiu para começar a furar um buraco no portão.

Hal pensa em tudo, ele pensou. Sozinho com seus próprios acessórios, Jesper
nunca pensaria em trazer a broca e o prego de Hal. Passaria com esforço por todos os
pro-blemas de chegar ao portão sem ser visto, e perceberia que não havia nada em que
pudesse pendurar o balão de óleo.

Girava a broca. Era uma ação estranha, acontecendo acima de sua cabeça. A
madeira fora endurecida com o efeito de secura de anos de sal e vento, o que havia
encolhido suas fibras, as unindo mais firmemente, tornando-as mais difíceis de
penetrar. Mas ele persistiu.

Os passos voltavam e ele congelou mais uma vez, permitindo que passassem
antes que voltasse a furar. Finalmente, decidiu que o buraco era fundo o suficiente e
tirou o prego do bolso e enfiou-o no buraco. Eram alguns milímetros menor que a
broca, então não havia necessidade de martelá-lo. Sorriu de forma triste. Nunca
poderia ter martelado o prego de qualquer jeito, pelo menos não sem ser ouvido. Por
esse motivo, havia usado a broca num ângulo para baixo quando furava. Dessa forma,
quando forçasse o prego no lugar, ele ficaria inclinado levemente para cima. Quando
pendurasse o oleado ali, o ângulo manteria o prego firme no buraco. Encaixou-o mais

Os Invasores - 207
fundo que conseguiu, sentindo tocar madeira sólida quando alcançou o fundo do
buraco que brocou.

Pendurou o balão no prego, arrumando-o para que ficasse plano com a madeira
do portão. Soltou com cuidado, se certificando que o prego continuaria firme. Parou
novamen-te quando ouviram os passos se aproximarem, e depois de-saparecerem.

Algo mais lhe veio à cabeça: obviamente o portão não era usado há semanas, e
um pouco de lixo e detrito se acumulavam na base da parede, junto com vários galhos
e fios de erva seca. Jesper juntou alguns rapidamente, saindo um pouco da cobertura
de baixo do pendente para pegá-los, e os empilhou no pé do portão, debaixo de onde o
oleado estava pendurado. Quando Hal o furasse, o óleo iria jorrar, ensopando o portão.
Mas uma grande quantidade iria simplesmente cair na areia. Dessa forma, o óleo
descendo do portão iria cair na pilha seca de lixo que acabara de coletar. Pegaria fogo
também, e quando queimasse, iria ajudar as chamas a se espalharem às vigas.

— Cada pedacinho conta — murmurou Jesper, observando o seu trabalho.


Agachou-se ao ouvir os passos de volta. Passaram sem parar, como faziam desde que
estivera no portão. Quando tinha certeza que o caminho estava livre, se arrastou sobre
os pés e joelhos, longe da parede. Havia uma pequena ondulação na areia a cinco
metros dali e aquele passou a ser seu primeiro objetivo. Alcançou-a e deitou-se com o
rosto para baixo, imóvel na sua sombra, até os passos passarem de novo na direção
oposta. Em seguida continuou a se arrastar, em direção à sua próxima parada: um tufo
de grama dura à sua direita.

Se arrastando de barriga para baixo, passando pela areia fria, sentiu uma
mudança. Havia algo diferente. Algo não estava do mesmo jeito de antes. Alcançou a
pequena cobertura do tufo e deitou-se ali, tentando se concentrar. Franziu a testa,
procurando determinar o que era aquilo que sentira.

Então ele percebeu. O vento havia morrido.

208 - Brotherband
Capítulo vinte e oito

A
viagem até o ponto de entrega Limmatans tinha transcorrido sem
problemas. Stig trouxe a Garça-Real em um curso longo e curvo para a
baía e depois de volta para a praia, onde o primeiro grupo de soldados
passou o dia.

Barat estava observando sua chegada. Quando a proa do navio raspou


suavemente a areia, e ainda com água até suas coxas, desceu do barco para
cumprimentá-los.

— Você está atrasado — disse ele. — Eu os esperava há uma hora.

Bondoso como sempre, Stig pensou sarcasticamente. Ele fez um gesto vago
para noite em torno deles.

— O vento não é tão forte como na noite passada — disse ele. — Nós não
conseguimos a mesma velocidade. — E com um tom ácido na voz, acrescentou: —
Além disso, estávamos carregando uma carga mais pesada, que ninguém mencionou a
nós.

— Hmmmph. Bem, antes tarde do que nunca, eu acho — respondeu Barat


enquanto seus homens começaram a desembarcar e formar-se em um círculo no solto
da praia, aguardando novas ordens. Ulf e Wulf estavam com os baluartes na proa,
ajudando a qualquer um que não tivesse certeza dos seus movimentos. Nem todos os
Limmatans estavam acostumados a mover-se a bordo do navio.

Stig apresentou uma braçada de peles de água e alguns sacos de alimentos, pão
e carne seca na maior parte, e entregou-os para Jonas. Em seguida, ele caiu sobre o
trilho para a praia.

— Isso deve mantê-lo — disse ele. Ele olhou para Barat. — Lembre-se, fique
fora de vista amanhã, em seguida, ataque no dia seguinte, duas horas depois do meio-
dia

Eles tinham acrescentado um dia ao calendário quando perceberam que Hal


provavelmente estaria esgotado quando o pegassem. Eles tinham definido o momento
do ataque à tarde, o que colocaria o sol nos olhos dos defensores como quando a
Garça-Real atacava as duas torres.

Barat bufou. — Ainda não sei por que não atacam de madrugada. Esse é o
momento tradicional.

Os Invasores - 209
Stig respirou fundo, controlando sua irritação com esforço. Isso tudo tinha sido
discutido. Mas, claro, Barat estava escolhendo convenientemente esquecer esse fato.
Stig estava começando a perceber que o líder Limmatan simplesmente gostava de
argumentar em causa própria. Ele se encaixa bem com Ulf e Wulf, pensou.

— É por isso que estamos deixando-o para o meio da tarde — ele respondeu em
tom comedido. — Os ataques de alvorada são tradicionais, o que significa que as
pessoas esperam por eles. É por isso que geralmente têm as guarnições pouco antes do
amanhecer. Eles estão em suas mãos. Por meio da tarde, eles estão mais interessados
em dormir depois de seu almoço. Já discutimos isso — acrescentou ele incisivamente.

Barat balançou a cabeça. — Não significa que eu concordo. — Então, ele


encerrou a discussão com petulância e olhando para o barco diz: — Lydia está com
você?

Stig balançou a cabeça. Ele tinha visto Lydia vagando pelo navio quando
estavam carregando e adivinhou o que ela tinha em mente. — Não foi possível
acomodá-la dentro do navio, ela queria vir, mas já estávamos sobrecarregados.

Barat olhou-o, hesitante. Ele não tinha certeza se Stig queria dizer que Lydia
queria vê-lo, Barat, ou que ela queria acompanhar Stig. Ele hesitou, sem saber o que
dizer em seguida.

— Stig... — Wulf disse calmamente.

Stig se virou para ele, grato pela interrupção. —O que é, Ulf?

— Sou Wulf — disse o gêmeo ofendido. Foi realmente uma ofença chamá-lo
pelo nome de seu irmão? Pensou ele. Afinal, ele não tinha nenhum. Stig levantou a
mão em pedido de desculpas.

— Desculpe — disse, fazendo uma nota mental de nunca chamá-los pelo nome
em conversa de novo. — O que é Wulf? — disse, e percebeu que tinha acabado
quebrar a promessa.

— O vento. Ele morreu — Wulf disse a ele.

Stig girou, olhando para as árvores no alto dos morros do interior. Então ele se
virou novamente, olhando através da água lisa da baía. Não havia ondulações sobre a
superfície. Wulf estava certo. O vento tinha morrido.

Ele olhou para as estrelas para medir o tempo. Em poucos minutos, a maré
começaria a baixar, e Hal e Jesper iria empurrar a jangada improvisada para fora da
praia, em busca do oceano ao seu redor para sua primeira vista do Garça-Real.

Exceto que o Garça-Real não estaria lá. Sem vento e com apenas dois membros
da tripulação para a linha, Stig nunca chegaria ao ponto de desembarque a tempo. Ele
210 - Brotherband
sentiu uma onda de pânico, obrigou-se a se acalmar e pensar. O que ele poderia fazer?
O que Hal faria?

A resposta veio com ele. Ele deu um passo para mais perto de Barat.

— Eu preciso de seis de seus homens — disse ele com urgência. — Seis


homens que já trabalharam em barcos — O Garça-Real tinha oito remos, embora eles
raramente usassem mais de quatro ou seis. Com oito homens — Ulf e Wulf e seis
Limmatans – eles chegariam ao encontro a tempo.

Barat deu uma risada curta. — Talvez você precise, mas não os terá — disse
ele. Seu tom era definitivo.

Stig olhou para Jonas, que deu um passo adiante, com as mãos gesticulando em
um apelo ao seu comandante.

— Barat, seja razoável. Podemos...

Mas Barat interrompeu-o com um gesto curto.

— Eu preciso de todos os homens que temos! — Disse. — Eu não posso cortar


nossa força por seis!

Eles estavam falando em voz baixa, e até agora, os Limmatans reunidos não
tinha ouvido o que eles estavam dizendo. Stig manteve a voz baixa agora.

— Você já tem quatro extras. Na verdade, eu só estou pedindo dois.

Barat estava balançando a cabeça. Stig respirou fundo, controlando a explosão


de raiva que queria incendiar-se. Ele tocou o braço de Barat e apontou para um
pequeno grupo de rochas a vinte metros da praia.

— Podemos discutir isso em particular, por favor? Não é bom os homens nos
vêem discutindo.

— Podemos discutir se você quiser, mas saiba que não terá os homens. — Mas
Barat permitiu que Stig tomasse seu braço e o guiasse em direção às rochas. Stig
gesticulou com a cabeça para Jonas, o que indicava que ele, o segundo em comando,
deveria acompanhá-los.

A areia rangia sob suas botas enquanto caminhavam ao longo da praia. Logo,
estavam atrás das rochas, fora do alcance das vistas.

— Você percebe — Stig disse calmamente, obrigando-se ainda a ser razoável,


— que se eu não estiver lá para pegar Hal, ele vai flutuar no mar?

Os Invasores - 211
Barat deu de ombros. — Ele sabia o risco quando assumiu o cargo — disse ele.
— Eu sempre pensei que era uma ideia ruim.

— E você percebe que sem Hal não vamos ser capazes de atacar as torres? Ele é
o único que está treinado para disparar a besta gigante. — No último momento, ele
optou por não chamá-lo de Mangler, sentindo que o nome só levaria a uma resposta
irônica. Mas Barat fez outro gesto negativo.

— Você pensa seriamente que o plano vai funcionar? — Ele disse com desdém.
— Você pode muito bem atirar para cima e para baixo da baía, cravar sua besta sobre
tudo que você gosta. Mas isso não vai prejudicar as torres. No final, nós vamos ter que
fazer todo o trabalho duro e enfrentar todo o perigo. E, para isso, vou precisar de cada
homem que eu tenho.

Stig olhou para Jonas. Ele poderia dizer a partir da expressão de dor no rosto do
homem, que ele discordou de Barat.

— O que você acha? — Disse.

Jonas hesitou, então parecia firme em sua opinião. — Eu acho que nós
poderíamos dispor...

— Não importa o que ele pensa! — Cortou Barat bruscamente. — Eu estou no


comando! Ele não!

— E essa é a sua palavra final? — Stig disse.

Barat bufou e não se preocupou em responder.

— Bem, eu tentei — Stig disse em um tom suave para Jonas. Em seguida, ele
bateu em Barat com toda a sua força.

O golpe foi tão inesperado, tão fora de sintonia com o tom suave, quase
decepcionado, de voz que Stig estava usando, que pegou Barat de surpresa.

Era um direito selvagem que atingiu sua mandíbula, levantando-o do chão e


fazendo-o cair como um saco de batatas. Stig ficou de pronto, com o punho esquerdo
armado para outro golpe, mas não foi necessário. Barat estava fora de combate.

— Por Gorlog, eu estava doido para fazer isso há dias! — Stig murmurou.

Jonas arregalou os olhos para ele. — O que você está fazendo? — Perguntou,
chocado com a inesperada explosão de violência.

— Estou levando seis dos seus homens para encontrar meu amigo — disse Stig
muito calmamente, mas com determinação. — Você os dirá para vir comigo.

212 - Brotherband
— Mas... e quanto a ele? — Jonas perguntou.

Stig pensou por um momento ou dois. — Quem é o Deus das batalhas nestas
partes?

— O quê? — Jonas perguntou, confuso com a súbita pergunta. Então, franzindo


a testa, respondeu: — Torika, eu suponho.

— Ótimo. Nós vamos dizer aos homens de Barat que eles ficarão para trás para
orar a Torika por uma grande vitória. Então você explica que eu partirei e que seis
homens virão comigo. A menos que você tenha outra ideia? — Ele desafiou.

Jonas jogou as mãos para cima. — Não. Nem um pouco. Na verdade, o desejo
que eu tinha de bater naquele idiota era tão grande quanto o seu. Vamos indo.

Eles caminharam até a praia e Jonas escolheu seis homens para embarcar no
Garça-Real. Stig assentiu em agradecimento e empurrados para fora da costa, Ulf e
Wulf e os seis Limmatans sacudiram seus remos através dos toletes.

Stig levantou a mão para Jonas.

— Vejo vocês em Limmat, depois de amanhã — ele chamou. Jonas acenou de


volta, então, com o barulho de remos na água, chamada de Wulf, o Garça-Real
deslizou para longe.

Stig olhou por cima do ombro para a praia recuando rapidamente. Por trás da
queda de rochas escuras, ele pensou ter visto uma figura, cambaleando e agitando os
braços. Um grito chegou levemente aos seus ouvidos. Ele sorriu.

— Mantenha o curso, Wulf — disse ele. — Faça-o bem alto.

Os Invasores - 213
Capítulo vinte e nove

H
al estava no fim do tronco, olhando ao redor, à procura de algum sinal de
Jesper, quando sentiu uma mão em sua perna. Ele pulou com o susto,
parando de pé em choque, e girou.

O rosto sorridente de Jesper estava a menos de um metro do seu. Seus dentes


pareciam estranhamente brancos em seu rosto enegrecido e cinza de graxa.

— Tudo no lugar — disse Jesper. — Vamos sair?

— Por Deus! — Hal disse, em um sussurro áspero. — Você assustou as


entranhas dentro de mim! Não faça isso!

O sorriso de Jesper se alargou. Seus nervos tinham estado numa tensão grande
como uma corda de alaúde pelos últimos quarenta minutos.

Sua atitude alegre agora fora devido ao alívio da tensão que ele tinha estado
sob.

— Desculpe — disse ele. Ele soava falso. — Se as sentinelas não conseguiram


ouvir eu me mover, eu acho que você não irá querer que ouçam agora.

— Como você faz isso? — Hal perguntou. Ele não tinha ouvido nenhum som
de abordagem do ladrão, nem visto nenhum sinal de movimento na praia.

Jesper encolheu os ombros. — Muita prática. Um ladrão que não pode se mover
sem ser visto e ouvido não permanece um ladrão por muito tempo. Agora eu
realmente gostaria de ir, se está tudo bem com você.

Hal fez um gesto para ele esperar e quebrou um pequeno fragmento de madeira
seca do tronco. Ele o jogou na água a um metro de distância e observou-o
atentamente. Lentamente, o fragmento começou a ir em direção à praia. Ele balançou
a cabeça.

— A maré ainda está chegando — disse ele brevemente. — Mas nós podemos
também ficar prontos. Vai virar em breve. Ajuda-me a arrastar o tronco para mais
longe na água.

Eles descobriram alças no tronco e puxaram-no para trás. Com dois deles
trabalhando nisso, o tronco movia-se mais facilmente e logo tiveram que flutuar

214 - Brotherband
livremente. Hal observou a superfície da água em torno deles, mantendo-se no lugar,
procurando o primeiro sinal de que a maré virou.

— Você já notou que o vento morreu? — Jesper sussurrou à medida que se


inclinava nas profundas coxas de água.

Hal olhou alarmado. Ele tinha sido distraído, primeiro pelo reaparecimento
inesperado de Jesper e depois pelo esforço de mover o tronco. Como resultado, ele
não havia percebido. Agora, quando olhou rapidamente ao redor, percebeu que o que
Jesper disse era verdade.

— Isso pode ser um problema — disse ele calmamente.

Nos próximos minutos, ele e Jesper teriam que arriscar-se à deriva com a maré.
Mas se não havia vento, Stig seria atrasado. Ele não poderia chegar ao ponto de
encontro a tempo. E se isso acontecesse, havia uma chance nítida de Jesper e Hal e o
tronco continuarem à deriva no mar.

Hal rangeu os dentes quando avaliou a situação. A mente de Jesper estava


obviamente trabalhando ao longo das mesmas linhas.

— Eu acho que eles podiam remar — disse ele.

Hal olhou para ele. — Quatro deles? Acho que sim. Mas vai ser uma puxada
longa e dura para quatro pessoas. — Ele fez uma pausa. — Talvez o vento comece de
novo — acrescentou ele, esperançoso.

— Talvez — respondeu Jesper. Ele soava muito menos esperançoso sobre isso.
— Eu descobri no passado que quando você está em um aperto e realmente precisa
que algo aconteça, normalmente não acontece.

— Deve ser muito bom ter uma visão tão positiva — Hal disse sarcasticamente.

Jesper encolheu os ombros. — Então, o que vamos fazer?

Hal hesitou antes de responder. — Vamos ver para o que não podemos fazer —
disse ele. — Nós não podemos ficar aqui. Nós vamos ser vistos uma vez que o sol
surgir.

— Então nós vamos? — Jesper perguntou.

Hal hesitou novamente, pesando as alternativas, conclusão não havia nenhuma.


Ele acenou com a cabeça.

— Stig vai encontrar uma maneira de chegar até nós — disse ele. — Talvez ele
pegue um ou dois remadores extras dos homens de Barat.

Os Invasores - 215
Enquanto falavam, ele estava assistindo a água ao seu redor. O pequeno pedaço
de madeira que ele tinha jogado fora mais cedo foi lentamente à deriva no mar.

— A maré virou — disse ele. Jesper respirou fundo e eles trocaram um longo
olhar. Ambos sabiam o risco que estavam prestes a tomar.

— Vamos então — o ex-ladrão disse relutantemente, amarrando-se sobre o


tronco mais uma vez. Mas, novamente, Hal levantou a mão para ele esperar.

— Eu vou deixar isso primeiro — disse ele.

"Isso" era um feixe de dez finas estacas de madeira, cada uma com trinta
centímetros de comprimento, enrolada com barbante. Quando Hal abriu o pacote,
Jesper pôde ver que o barbante amarrava na verdade as estacas em conjunto, com um
espaço de cinco metros entre cada uma. Cada estaca foi batida através de um pedaço
de rolha, de modo que dois terços do seu comprimento mantiveram-se acima da rolha.
Uma grande dose de breu tornou pesada a extremidade inferior de cada uma, enquanto
uma tira de tecido vermelho estava ligada à extremidade mais longa. Hal pôs a
primeira estaca na água. O peso do breu equilibrou a estaca que flutuou na posição
vertical, de modo que a fita vermelha ficava acima da água.

Lentamente, Hal lançava o fio enquanto ele se distanciava do tronco. Em


poucos minutos, as pequenas bandeiras balançavam para o mar em uma linha de 50
metros de comprimento, suportado na maré vazante. Na escuridão, as fitas vermelhas
eram tudo, menos visível. Depois que o sol se levantar, no entanto, devem se destacar.

— Foi idéia do Edvin — Hal explicou. — Ele fez isso ontem. Vai tornar muito
mais fácil para Stig nos ver.

Jesper estava impressionado. — De repente — disse ele — todo mundo é um


inventor.

Hal esperou até que a última bandeira estivesse à deriva cinco metros deles e
amarrou o fim do fio em um dos ramos mortos no tronco. Então, ele acenou para
Jesper.

— Hora de ir — disse ele calmamente. Ele respirou fundo, sabendo que Jesper
estava fazendo o mesmo. — Você está amarrado perto? — questionou. Jesper
assentiu. — Então, vamos lá.

Eles levantaram os pés da areia, deixando suas pernas flutuarem atrás deles.
Lentamente, o tronco começou a se desviar para fora, para longe da praia. À frente
deles, invisíveis no escuro, dez pequenas bandeiras vermelhas mergulhavam e
balançavam sobre as ondas.

Não me deixe desanimar, Stig, Hal pensava. Mas ele manteve o desejo para si
mesmo.
216 - Brotherband
A princípio, o seu movimento era quase imperceptível. Mas, como a maré
vazante ganhou força, eles começaram a se mover com maior velocidade, e a praia
rapidamente recuou de vista. Conforme flutuavam para mais longe, eles podiam ver as
tochas e lanternas queimando nas duas torres, e o halo sempre presente de luz que
pairava sobre a cidade em si. Por outro lado, o mar em torno deles parecia muito
escuro e muito vazio.

Deitados bem baixos na água como estavam, logo perderam de vista a cidade.
As torres mergulharam abaixo do horizonte e elas só poderiam ser vistas se os
meninos erguessem-se por cima do tronco para uma melhor vista. Uma vez que as
luzes estavam fora de vista, houve pequena sensação de movimento, embora Hal sabia
que eles ainda estariam se movendo a uma velocidade considerável. Ele tentou, em
vão, constituir os pontos de referência que tinha dado a Stig, mas ele estava muito
baixo na água para ver quaisquer características do terreno.

— A esperança é Stig chegar aqui em breve — disse Jesper. Sua voz estava
apertada de novo, a partir de uma combinação de nervos e frio.

— Ele deve aparecer depois do amanhecer — disse Hal. Ele girou e olhou para
o leste, mas até agora não havia faixas indicadoras de luz para ser vista.

Eles deixaram-se levar. Os dentes de Hal estavam batendo e seu maxilar doía de
tentar detê-los. Ele estava com frio. Sua parte superior do corpo não estava tão ruim.
A pele de carneiro cozida estava servindo o seu propósito. Mas suas pernas doíam
com o frio da água. Como todos os Garças, ele tinha crescido em torno de barcos e
navios e mau tempo e estava acostumado a estar molhado e com frio. Mas ele estava
imerso agora por algum tempo e ele não esperava que o frio minasse sua energia tanto
quanto tinha.

Supôs que Jesper estava sentindo o mesmo. Ele olhou de lado para seu
companheiro e percebeu que poderia distinguir detalhes do tronco - ele podia ver
galhos individuais e o pacote impermeável amarrado firmemente a sua jangada
improvisada. Ele girou a olhar por cima do ombro e distinguiu a bandeira vermelha
minúscula cinco metros de distância. Quando se levantaram em uma onda, ele podia
ver a bandeira momentaneamente seguinte.

Mas não havia nenhum sinal do Garça-Real em qualquer lugar no horizonte.

O tempo passou. A luz fortaleu, e rapidamente o céu no leste foi matizado com
o brilho vermelho do sol nascente. Então, que se desvaneceu como a luz endurecida.
Não havia nenhum sinal da cidade agora. Nenhum sinal de terra. Nenhum sinal do
Garça-Real.

Nenhum sinal de qualquer coisa, apenas o mar.

Finalmente, Jesper deu voz ao temor que estava crescendo em ambos.

Os Invasores - 217
— Eles nos perdeu — disse ele. Sua voz era plana, derrotada.

Hal balançou a cabeça. — Eles vão nos encontrar — disse ele, tentando soar
como se acreditasse. — Eu vou dar-lhe dez minutos ou mais, então vou acender o
sinal de fogo.

— Como saberemos quando os dez minutos estarão terminados? — Jesper


perguntou desanimado.

Hal chutou com as pernas abaixo da superfície, movendo-os, tentando fazer o


sangue fluir. Ele mal conseguia senti-las, ele percebeu.

— Vamos saber por que isso vai ser quando eu acender o sinal de fogo. — disse
ele.

Jesper o olhou por alguns segundos. — Isso não faz sentido.

Hal deu de ombros, ainda trabalhando suas pernas. Em seguida, uma cãibra o
atingiu e ele fez uma careta, gemendo. Quando se recuperou, ele respondeu.

— Nós escolhemos a deriva em um tronco, à milhas da costa, na esperança de


um navio nos encontrar, e você quer que eu comece a fazer sentido, de repente?

Jesper resmungou. — Estou com sede — disse ele. — Será que trarão alguma
água?

Hal balançou a cabeça. — Um desses pequenos detalhes que eu sou famoso —


ele disse a seu companheiro. — Stig diz que eles sempre parecem envolver água. Eu
me pergunto por quê?

— Nós deveríamos ter pensado em trazer água — disse Jesper.

Hal assentiu. Ele estava cansado demais para dizer qualquer coisa. Ele percebeu
que estava se afastando, em perigo de cair no sono. Sorriu para si mesmo. Isso é
exatamente o que você está fazendo, ele pensou. Afastando-se em um tronco. Ele
pensou que poderia ser uma boa idéia amarrar-se ao tronco, da maneira que Jesper
tinha feito. Mas ele não conseguia aumentar a energia para fazê-lo.

— Talvez eu devesse acender o sinal agora — disse ele. — Deve ter passado
dez minutos.

Não houve resposta. Jesper estava esparramado contra o tronco, de bruços,


mantido no lugar pela corda sob suas axilas. Hal fez uma tentativa de erguer-se. Mas o
seu peso, e o peso extra de sua roupa encharcada, eram demais. Ele deslizou para
dentro da água, quase perdendo o controle da tora. Agora suas mãos estavam frias,
bem como suas pernas, ele pensou.

218 - Brotherband
Na verdade, ele percebeu, todo o seu corpo estava frio. Seus dentes começaram
a bater e ele nada podia fazer para detê-los.

— Onde está você, Stig? — Disse. Pelo menos, ele tentou dizer. Tudo o que
saiu de sua garganta foi um som áspero. Ele realmente deveria ter trazido água, ele
pensou. Ele suspirou. Tinha parecido uma boa idéia. Flutuar com o grande tronco,
colocar a bexiga de óleo no lugar, então derivar para fora novamente.

Quem teria pensado que um pequeno detalhe, como a falta de vento poderia
jogar as coisas em tal desordem? Ele deveria ter tido conhecimento da possibilidade,
pensou. Por um momento, estava com raiva de si mesmo. Então, deu de ombros. O
que realmente importa, afinal? Estava caindo no sono e agora, estranhamente, estava
quente de repente. Quente e confortável.

Mas com muito sono. Queria apenas dormir um pouco, então iria acender o
sinal de fogo. Estaria mais forte depois que dormisse. Ele deitou sua cabeça contra o
tronco áspero. Sentiu a mão escorregar e deslizou de volta para a água.

Devia ter amarrado a mim mesmo, como Jesper, pensou. Havia uma ponta
afiada de um ramo quebrado perto dele e ele prendeu sua pele de carneiro sobre este
para manter-se no lugar.

Olhou de lado para Jesper. A cabeça do ex-ladrão foi pendendo, apenas fora da
água. Sua respiração soprou bolhas ocasionais.

Ele está dormindo, Hal pensava. Ele não é bobo.

Quanto mais ele considerou, mais atraente a ideia de dormir se tornou. Ele
descansou sua cabeça contra a grande tora e fechou os olhos, maravilhado com o fato
de que agora, depois de todos estas horas em uma água frígida, ele se sentia quente e
confortável.

Eu me pergunto se eu estou morrendo, ele pensou, então decidiu que, mesmo


que estivesse realmente não importava. Nada importava.

Quando ele adormeceu, um vento pata de gato agitava a água ao seu redor. Em
seguida, começou a soprar de forma constante.

Mas Hal estava longe demais para perceber.

Os Invasores - 219
Capítulo trinta

U
m som despertou-o.

Era um som estranho: Algo grande estava se movendo pela água


por perto. Seu primeiro pensamento, em pânico foi a de que poderia ser
um tubarão. Mas quando ele forçou seus olhos abertos e olhou por cima
do ombro, percebeu que era uma garça. Ele podia ver seu rosto. Mas,
estranhamente, foi esculpida em madeira. E parecia estar falando com ele. Ainda mais
estranho, estava falando com a voz de Stig.

— Hal! Jesper! Graças aos deuses que encontramos vocês.

Ele sorriu quando viu o rosto de seu amigo, agora, ao lado da garça de madeira.
Percebeu que estava olhando para a figura esculpida do Garça-Real, com Stig em pé
ao lado dela na proa, inclinando-se para agarrar seu braço.

— Eu estava com um pouco de sono — disse ele. Sua voz era grossa e arrastada
e ele se perguntou por quê.

Stig ergueu a forma flácida de Hal para cima e sobre o baluarte como se ele
fosse uma criança. Ulf e Wulf estavam à espera, prontos. Eles se apressaram com Hal
pela popa, sentaram-no e tiraram suas roupas encharcadas. Eles tinham um cobertor
grosso pronto e envolveu-o nele. Ulf começou a esfregar a lã áspera contra o corpo
quase congelado do seu skirl, friccionando-lhe para trazer o sangue de volta à tona e
para aquecê-lo. Hal estatelado no convés gemia com o frio e com as cãibras que
estavam agora destruindo suas pernas enquanto Ulf continuava a trabalhar sobre ele.

Wulf voltou para a proa, onde Stig estava tentando trazer Jesper a bordo. O ex-
ladrão estava inconsciente, longe demais para ajudá-los. Wulf segurou o braço
esquerdo de Stig enquanto Stig inclinava-se, agarrando o colarinho de Jesper e
esforçando-se para subí-lo. Algo parecia detê-lo não subindo mais do que alguns
centímetros. Depois de alguns segundos, Wulf percebeu a corda fina sob os braços de
Jesper, atando-o ao tronco. Ele sacou a faca Saxe e inclinou-se muito para o lado,
cortando a corda e rompendo-a. Uma vez que Jesper estava livre da restrição, era uma
questão simples para Stig levantá-lo para o lado, depositando-o na plataforma como
um peixe desembarcado.

Stig apontou para dois dos Limmatans que assistiam.

— Dê uma mão aqui — ordenou. — Seque-o. Aqueça-o. — Ele apontou para


onde Ulf estava socando Hal com o cobertor, esfregando-o ferozmente para aliviar as
220 - Brotherband
cãibras e obter a sua circulação. Os dois conterrâneos assentiram, compreendendo.
Um deles pegou o cobertor grosso que Stig tinha deixado à mão e, juntos, eles
começaram a trabalhar em Jesper.

Os olhos de Jesper se abriram lentamente enquanto o esfregavam e socavam.


Ele franziu a testa, viu Stig e sorriu em reconhecimento.

— Stig — disse ele. — Pensei que você tinha nos perdido.

Stig assentiu sombriamente. — Nós quase perdemos — disse ele. — Essa tora é
tão baixa na água que é quase invisível. Felizmente vimos uma das bandeiras
vermelhas de Edvin, então seguimos a linha para onde você dois estavam.

Ele percebeu que Jesper não tinha ouvido uma palavra do que tinha dito. Estava
deitado de costas, os olhos fechados de novo, gemendo baixinho com a circulação
gradualmente retornando. Stig estudou-o por um momento, ficou satisfeito que Jesper
não estava em perigo e se virou para Wulf.

— Vamos içar velas e voltar para a praia.

Ele se mudou para a cana do leme quando Wulf começou a levantar a vela. Ulf,
vendo o que estava acontecendo, virou Hal sobre os dois dos outros Limmatans e se
moveu para os lençóis. Um minuto mais tarde, o Garça-Real foi deslocado a
estibordo, sua onda de proa espumando para longe de cada lado, e voltava para o
acampamento na praia.

Thorn e Svengal andavam inquietos ao longo da praia, logo acima da linha das
ondas entrantes. Ambos estavam olhando para o mar, procurando o primeiro sinal do
retorno do Garça-Real.

— Eles estão atrasados — disse Thorn. — Eles deveriam ter voltado até agora.

Svengal olhou de soslaio para o seu velho amigo. — Alguma vez você já
conheceu qualquer plano executado a tempo? — Disse. — Não se preocupe. Eles vão
ficar bem.

Thorn balançou a cabeça. — Eu nunca deveria ter o deixado fazer isso — disse
ele. — Há muitas coisas que podem dar errado.

Svengal levantou uma sobrancelha. — Eu não tenho certeza se ele foi até você
para pedir permissão — disse ele. — Hal parece ter uma mente decidida.

— Isso é verdade. — Thorn fez uma pausa. — Mas se Stig errá-los, eles podem
estar perdidos para sempre. Eu não sei o que vou fazer se isso acontecer.

Eles passaram pela figura silenciosa de Lydia, sentada na areia com seus
joelhos dobrados até o queixo e olhando sem dizer nada para o mar.

Os Invasores - 221
— Parece que não somos os únicos preocupados com eles — comentou
Svengal.

Thorn seguiu seu olhar e grunhiu concordando.

— Desejo que ela se decida de qual deles ela gosta — disse ele. Ele tinha
notado o triângulo entre Lydia e os dois meninos, uma vez que eles tinham primeiro
resgatado a menina do mar. — Isso poderia causar problemas entre eles.

— Ela parece ser um bom tipo — Svengal disse. — Ela provavelmente não
sabe disso. E eles são amigos. Amigos geralmente encontram uma maneira de
contornar esse tipo de coisa. Eles não serão os dois primeiros companheiros a se
interessar pela mesma garota.

Havia algo em sua voz que sugeria um significado mais profundo, e Thorn
olhou para ele com desconfiança.

— Alguém particular em mente? — Disse ele, suas sobrancelhas se unindo.

Svengal sorriu para ele. — Vai tentar fingir que não se afeiçoou por Karina
quando você colocou os olhos sobre ela pela primeira vez?

Thorn abriu a boca para falar, mas um olhar para o rosto Svengal disse-lhe que
negar seria inútil.

— Como você sabe?

Svengal encolheu os ombros. — Era bastante óbvio. Todo mundo sabia. Você
ficou no mundo da lua durante dias, especialmente quando percebeu que Mikkel
gostava dela também - e que ela tinha olhos para ele.

Thorn fez um gesto de desprezo.

— Isso foi há muito tempo atrás — disse ele. — E Mikkel era um bom homem.

— Assim como você — Svengal disse. — Ainda é, de fato. Eu só estou


dizendo, bons amigos parecem ter uma forma de lidar com esse tipo de coisa. E esses
meninos são bons amigos.

Eles andaram em silêncio por mais alguns metros, então, por acordo tácito,
viraram-se para refazer seus passos ao longo da praia.

— Já pensou em tentar a sua sorte com Karina de novo? — Svengal perguntou.

Thorn balançou a cabeça. — Esse navio partiu há muito tempo.

222 - Brotherband
Svengal franziu os lábios, pensativo. Havia uma nota na voz de Thorn que
indicava que a avenida particular da conversa foi definitivamente fechada. Ele mudou
de rumo.

— Ele é um garoto incrível, não é? — Ele protegeu os olhos, olhando para o


mar. Ainda não havia sinal do navio em nenhum lugar.

— Erak diz que precisamos de pessoas como Hal — continuou ele. —


Pensadores e planejadores. Pessoas com idéias.

— Ele tem tudo isso, certamente — disse Thorn. Ele balançou a cabeça em
admiração quando pensou nos rápidos movimentos da mente fértil de Hal. — Eu
quero dizer, você me conhece, eu tive a minha quota de batalhas. Mas nunca poderia
planejar algo como este ataque. Nós escandinavos só tendemos a embarcar e começar
a bater nas pessoas. Mas olhe com o que ele vem - um ataque em três frentes,
coordenado para que as forças dos defensores sejam divididas. E quanto a essa
enorme besta que ele está montado no Garça-Real... bem, você pode pensar em
qualquer outra pessoa que poderia vir com uma idéia como essa?

Svengal assentiu. — Ele é impressionante, sim — disse ele. — Deve ser a


Araluen nele.

Thorn parou e olhou para o seu velho amigo com olhos frios. — Ele é um
escandianavo — disse ele sem rodeios.

Depois de alguns segundos, um leve sorriso tocou a característica cara barbuda


de Svengal. — Isso foi o que eu quis dizer.

Na praia, Lydia de repente ficou de pé, protegendo os olhos com uma mão
enquanto ela olhava para o mar.

— Lá está ele! — Disse.

A notícia se espalhou rapidamente e quando o Garça-Real embicou suavemente


para a praia, as tripulações do Wolfwind e do Garça-Real foram todos reunidos para
cumprimentá-lo. Conforme Stefan levava a âncora de praia correu pela praia,
dirigindo-a para a areia, Stig amarrou a cana do leme e se moveu para o arco, seu
enorme sorriso confirmando que Hal e Jesper estavam seguros.

— Estamos de volta — disse ele alegremente. — E temos dois potros meio


congelados que rebocamos para fora do mar a caminho de casa.

As duas figuras envoltas em cobertores foram trazidas para a proa e mãos


dispostas e preparadas para ajudá-los os desceram. Ingvar se enfiou através da turba,
com os braços estendidos, a tomar Hal quando Ulf e Wulf abaixou-o para o lado. Os
olhos do skirl estavam abertos, embora seus lábios ainda estavam tingidas azul com o
frio. Ingvar, lágrimas ameaçando enévoar seus olhos, marchou da praia, segurando
Os Invasores - 223
Hal como um bebê, para onde os escandinavos tinham construído duas fogueiras de
grande dimensão juntas.

Ele deitou Hal em um saco de dormir entre as fogueiras, onde o calor de ambas
poderia aquecê-lo. Thorn seguiu, carregando a forma semiconsciente de Jesper, e
colocou-o ao lado de Hal. Lydia mexia-se em torno dos dois meninos em recuperação.
Enquanto estavam esperando o Garça-Real chegar a terra, havia colocado quatro
grandes pedras nas fogueiras. Ela pegou-as agora e envolveu-as em cobertores,
colocando-os dentro dos sacos de dormir. Hal suspirou quando sentiu o magnífico
calor próximo ao seu corpo.

— Oh, isso é muito bom — disse ele. Jesper gemeu feliz em acordo.

Lydia sorriu para os dois. Ingvar estava pairando perto e ela sabia que ele
atenderia a qualquer de suas necessidades. Ela os deixou dormindo e caminhou de
volta até a praia para onde Stig estava contando os acontecimentos da noite anterior
para Thorn, Svengal e os outros.

—... Achei que estavamos perdidos quando o vento morreu. Mas, felizmente,
Barat reteve seis de seus homens para que pudéssemos recuar. Estávamos um pouco
atrasados, mas conseguimos encontrá-los a tempo. — Ele olhou para Edvin. — Esses
flutuadores de vocês foram um toque de gênio, Edvin. No momento em que os
encontrei, Hal estava exausto demais para acender o sinal de fogo que ele tinha
planejado.

Edvin sorriu e corou enquanto os outros olharam para ele com aprovação. Lydia
concordou saudando aos seis conterrâneos que haviam retornado com o Garça-Real.
Ela conhecia quatro deles pelo nome e os outros dois de vista.

Ela se aproximou e disse agora a Stig, — Estou surpresa por Barat deixar você
levar seis de seus homens. Isso não soa como ele. Ele tem algumas idéias muito
estranhas quando se trata de cooperação entre os aliados.

Stig estendeu as mãos em um gesto inocente. — Não. Ele estava de bem com
ele. Ele não disse uma palavra. — Ele fez uma pausa, então não pode parar um sorriso
sabendo que se espalhava por todo o rosto.

— Na verdade, agora que penso nisso, ele disse uma palavra. Ele disse 'Unngh!'

— 'Unngh'? — Thorn repetiu, com uma expressão perplexa no rosto. —


Quando ele disse isso?

— Foi pouco antes de ele ir para a areia — Stig disse ele.

Lydia inclinou a cabeça curiosamente. — Quando ele foi para a areia?

Stig tentou olhar arrependido e falhou miseravelmente.


224 - Brotherband
— Isso teria sido logo depois de eu bater nele.

Houve um longo silêncio, então, o significado do que ele tinha dito começou a
ser entendido. Lentamente, os ouvintes começaram a rir. Curiosamente, os seis
Limmatans se juntaram ao riso. Thorn se aproximou e colocou a mão esquerda no
ombro de Stig.

— Sabe, Stig — ele disse — você tem profundidades ocultas, rapaz.


Profundidades ocultas.

Os Invasores - 225
Capítulo trinta e um

H
al e Jesper dormiram por dezesseis horas direto. De tempos em tempos,
Lydia e Ingvar despertáva-os numa semiconsciência para alimentá-los com
sopa quente. Os dois rapazes responderam, sem jamais acordar.

Foi nas primeiras horas da manhã seguinte, quando Hal finalmente acordou. O
céu ainda estava escuro, mas a posição das estrelas disse a ele que devia ser em torno
de quatro horas. Ele se sentiu deliciosamente quente. As duas fogueiras haviam
queimado durante a noite, embora Ingvar tinha alimentado elas. Agora eram duas
camas maciças de brasas, irradiando um calor maravilhoso por todos os lado que
dissipou toda a memória da água quase congelada que tinha quase o matado.

Ele se esticou voluptuosamente, gemendo baixinho de prazer. Ingvar, que tinha


estado cochilando perto, enrolado em um cobertor e apoiado contra um tronco, ficou
instantaneamente alerta.

— Você está bem? — Disse ele, jogando de lado seu cobertor e se movendo
para ajoelhar-se ao lado de Hal.

— Eu estou bem. — Hal sorriu. — Eu estou quente, e eu não consigo pensar


em uma maneira melhor de estar.

Então, ele bocejou, se virou e prontamente voltou a dormir por mais de quatro
horas.

Ele e Jesper estavam ambos forma e saudáveis, e esses fatores, combinados


com a resistência natural dos jovens, os deixou sem efeitos nocivos na manhã
seguinte. Thorn viu como Hal e Ingvar trabalharam juntos, instalando o Mangler na
proa do Garça-Real, mais uma vez, e balançou a cabeça.

— O que é ser jovem — disse a Svengal. — Se eu tivesse feito o que ele fez, eu
não teria uma articulação no meu corpo que não estivesse rangendo e dolorida apta
para me matar. — Distraidamente, esfregou a mão na pequena das suas costas, que
estava sentindo um simpatico sofrimento pela provação de Hal na água fria.

Svengal olhou para ele com as sobrancelhas levantadas. — Isso é o que vem a
ser jovem — disse ele. — E, claro, ele leva uma vida limpa e sem culpa, que é mais
do que eu posso dizer para você.

226 - Brotherband
Thorn resmungou. — Você nunca conheceu ninguém inocente e limpo vivendo
como eu estou hoje em dia — disse ele. Depois acrescentou, um pouco melancólico,
— Embora não seja necessariamente por escolha.

Enquanto Hal e Ingvar trabalhavam no Mangler, o resto da tripulação do


Garça-Real tinha formado uma corrente e passavam as pedras de lastro pesado,
removidas para obter espaço para transporte nas viagens , para dentro do navio, uma
vez mais, onde Stig e Ulf estavam ocupados distribuindo-as no fundo do casco. O
assoalho tinha sido levantado e foram empilhados ao longo dos bancos de remo.
Conforme Svengal observava, um pensamento lhe ocorreu.

— É melhor eu colocar meus homens ocupados descargando nosso lastro —


disse ele. O Wolfwind estaria passando através dos rasos pântanos, e precisava tirar o
mínimo de água possível. Já, sua equipe haviam inclinado-a para a sua viga para
remoção do mastro pesado. Foi empilhada ordenadamente, com a vela yardarm e
maciça, acima da marca de água alta na praia. No momento em que eles terminaram, o
navio flutuou em pouco mais de vinte centímetros de água.

Um Limmatan idoso que tinha fugido da cidade foi detalhado para atuar como
guia dos escandinavos através dos pântanos. Ele foi considerado muito velho para
lutar e tinha o prazer de ser atribuído a um papel no ataque.

— Estive pescando e caçando nesses pântanos por quarenta anos — ele havia
dito a Svengal. — Conheço-os como a palma da minha mão.

Então, ele olhou para uma cicatriz no dorso da mão e fingiu choque.

— Minha nossa! O que é isso na parte de trás da minha mão? — Ele gritou, em
seguida, gritou em gargalhadas quando viu a reação assustada de Svengal. — Não se
preocupe, meu filho, eu vou chegar lá para o grande evento. — Ele deu um tapinha no
ombro enorme do lobo do mar. Svengal suportou a piada e o gesto condescendente
com boa graça surpreendente.

Um pouco antes do meio-dia, as duas partes estavam reunidas perto dos navios
na beira da água. Svengal, Thorn, Hal e Stig estava em um grupo apertado. Os
escandinavos levariam mais tempo para entrar em posição, já que tinham que enfiar-se
no caminho através dos pântanos.

Os quatro amigos apertaram-se as mãos, em seguida, Hal e Stig se viraram para


embarcar no Garça-Real. Lydia e o resto da tripulação já estavam a bordo. Edvin e
Stefan estavam de pé na proa com um remo cada um, prontos para empurrar o navio
para fora da costa.

Svengal e Thorn ficaram para trás para algumas palavras em privado - eles
tinham sido amigos e companheiros de bordo por muitos anos. O skirl do Wolfwind
não pôde resistir a um sorriso quando ele apertou a mão esquerda de Thorn. Ele

Os Invasores - 227
observou que o seu amigo estava carregando um porrete, o dispositivo guerra temível
que Hal tinha feito, em uma tipóia em torno de seu ombro. No momento, ele
continuava a usar seu gancho ajustável no final do seu braço direito. Ele havia trocado
os dois de um lado a outro quando os Garças atacaram o portão da praia.

— Eu vou te ver em Limmat — Svengal disse a seu ex-colega de bordo. —


Tente não se acertar na cabeça com essa coisa. — Ele fez um gesto para o porrete.

Thorn bufou de escárnio. — Tente não deixar cair o seu machado em seus
dedos — disse ele. — Você é desajeitado o suficiente para isso.

Os dois amigos sorriram um para o outro.

— Gostaria que você viesse conosco Thorn. Seria como nos velhos tempos —
Svengal disse.

Thorn sorriu. — Eu sou parte de uma equipe diferente hoje em dia. Eu tenho
que ficar de olho neles. Além disso, sabe que eu nunca recebo ordens de você.

— Mas você vai recebê-las de um menino de dezesseis anos de idade? —


Svengal perguntou.

Thorn assentiu. — Ele é inteligente.

Svengal encolheu os ombros. — Eu suponho que eu mereci essa. Tome


cuidado, Thorn — disse ele, sério, de repente, e deu um tapinha no ombro de seu
amigo.

— Você também. Não corra riscos desnecessários.

Os olhos de Svengal se arregalaram. — Eu? Eu nunca corro riscos. Os riscos


são para os que lutarem comigo — ele acrescentou, com um sorriso selvagem. Como
um típico escandinavo, ele estava saboreando a próxima batalha.

— Thorn! Vamos embora! — Hal chamou.

Thorn se afastou de Svengal, acenando com a mão em reconhecimento.

— É melhor obedecer às ordens — disse ele.

Svengal resmungou desdenhosamente. — Isso vai ser a primeira vez. Vemo-nos


em Limmat.

Thorn correu até a praia e pulou para aproveitar o trilho do navio. Ulf e Wulf
agarraram seus braços e ajudaram-no a subir do lado. Quando Edvin e Stefan
empurraram a nave para fora da costa, Hal remou sua popa ao redor de modo que
ficou apenas a poucos metros de Svengal.

228 - Brotherband
— Eu vou cruzar, subir e descer do lado de fora do porto para chamar a sua
atenção — ele chamou. — Uma vez que estiver em posição, pisca-me um sinal e eu
vou começar a disparar.

— Uma vez que vejam você, eles vão concentrar a maioria de seus homens nas
torres — Svengal chamou.

Hal assentiu. — Eu estou dependendo disso. Vai significar mais alvos para eu
atirar.

Isso também vai significar mais pessoas a atirar de volta, Svengal pensava. Mas
ele manteve para si mesmo. Hal sabia o risco que estava enfrentando.

— Velas a estibordo — Hal ordenou, e Stefan e Edvin soltaram cordas que


subiam a verga ao mastro. Conforme o vento encheu-o e os gêmeos aparados da vela
entrou, Garça-Real virou em uma curva suave, acelerando para longe da praia.
Svengal assistiu o navio pequeno e gracioso admirando sua velocidade e agilidade.

— Bonito de assistir — disse ele. Então ele voltou para o seu próprio navio,
fazendo uma careta quando ele olhou para seu mastro menor, linhas da vela inferior.
Tirando seu mastro, verga e vela, e flutuando alto na água, ela parecia mais um
esquife tamanho desproporcional que um navio viking, pensou. Mas ele teve que
admitir que o uso dela desta forma era prático. Se os escandinavos estavam a percorrer
até a cintura de água e lama dos pântanos, eles alcançariam a torre ocidental com suas
roupas saturadas e pesada e estariam meio exaustos como resultado.

— Vamos a caminho — ele gritou. Comandos de vela Skandian foram emitidos


no volume máximo como uma questão de curso. Ele caminhou até a praia. Dois de
seus tripulantes estenderam a mão para ajudá-lo sobre a curva do trilho e ele
caminhou à popa para o leme

— Onde está aquele Limmatan com boca afiada que está planejando nos guiar?
— Disse. O conterrâneo de cabelos grisalhos balançava ao lado da plataforma de
direção. Tinha estado descansando em um dos bancos de remo.

— Bem aqui, filho. Finalmente pronto para começar, você está?

— Remos! — Svengal ordenou. Eles estavam usando apenas metade dos remos
disponíveis. Uma vez que entraram no pântano em si, eles usam quatro deles para o
mastro do navio ao comprido. Ele olhou para um dos tripulantes que não estava
atualmente envolvido no remo.

— Lars! Você venha até aqui e me impeça se eu tentar jogar este falastrão
Limmatan ao mar.

Lars concordou, sorrindo. O velho guia apenas riu.

Os Invasores - 229
No outro lado da cidade, Barat e seus homens se agachavam, escondidos entre
as árvores, apenas cinquenta metros da paliçada.

Tarde na noite anterior, eles haviam se movido em silêncio da praia para seu
esconderijo. Eles haviam ficado dentro da linha das árvores, ao pé da escarpa por trás
da cidade, escondido da vista de qualquer sentinela nas paredes.

Eles podem ter passado os últimos dois dias aqui, Barat pensava. Então, ele
percebeu que estava errado. Que era seguro o suficiente para gastar algumas horas até
tarde da noite à vista do muro. Se eles tivessem estado aqui nos últimos dois dias, as
chances eram altas de que um movimento descuidado, o flash de luz sobre uma de
suas armas e capacetes, ou um ruído acidental teria levado a sua descoberta.

Hal estava certo ao insistir em que eles se movem apenas no último minuto, ele
pensou. Sua testa franzia em uma carranca quando ele pensava nos escandinavos. O
fato dele admitir que Hal estava certo não o faz afeiçoado deles. Seus dentes ainda
doíam onde Stig tinha batido nele. Havia uma contusão feia, descolorada em sua
mandíbula.

Ele vai pagar por isso, pensou ele.

Acomodou-se atrás de um tronco de árvore caído e coberto de líquen e


procurou a baía para o primeiro sinal do Garça-Real. Ele franziu a testa enquanto se
perguntou o que aconteceria se Stig não conseguisse pegar Hal. Em seguida, deu de
ombros fatalista. O navio e sua besta tamanho desproporcional eram nada mais do que
um exótico espetáculo à parte, ele pensou. Se eles não aparecessem, ele e seus homens
iriam abrir caminho para a cidade sem eles.

Por outro lado, se o Garça-Real aparecer, e sua equipe realizar sua parte do
plano, eles seriam pelo menos uma distração útil. Mas ele não tinha ilusões de que o
trabalho duro e perigoso viria para cima dos homens de Limmat. Talvez pela vigésima
vez, ele fez uma careta quando pensava nos seis homens que Stig tinham tomado de
sua pequena força.

Ele vai pagar por isso também, quando tudo isso acabar, ele pensou. Então ele
respirou fundo. Mas, primeiro, vamos acabar logo.

Hal estava no leme, pés bem separados para equilibrar contra a afluência do
convés quando o Garça-Real era levado pra acima ao longo de ondas sucessivas. O
Garça-Real estava levando as ondas á estibordo, de modo que o navio fazia a ação de
serpentear com regularidade. Para cima, rolar para a direita, para baixo, gire à
esquerda, em seguida, repita a seqüência.

— O Wolfwind está indo para os pântanos — Thorn relatatou, de sua posição a


meia nau, no leme de inclinação. Hal olhou por cima do ombro. O longo e magro
navio viking, estava viajando rápido sob remos. Isso provavelmente tem algo a ver

230 - Brotherband
com o fato de que tinha sido aliviado até que deslizou em poucos centímetros de água.
Menos arrasto, mais velocidade, ele pensou.

Ele dobrou o promontório que marava o fim da praia, onde tinham feito seu
acampamento. Mas, enquanto o Garça-Real estava indo para o mar, o Wolfwind
estava balançando para o porto, para o pequeno riacho que levava aos pântanos.

— Uma vez eles do que eu — disse Hal. Aqui fora, a brisa era fresca e o ar
estava limpo e revigorante. Nos pântanos, ele sabia por experiência anterior, o ar
estaria úmido e, ainda assim, cheio de nuvens de insetos irritantes.

Ele inclinou o Garça-Real mais para estibordo, com o objetivo de mantê-lo fora
da vista da cidade um pouco mais. Ele acenou com a cabeça em aprovação quando Ulf
e Wulf, sem qualquer necessidade de ordens, ajustaram a guarnição da vela para
combinar com o novo curso.

— Difícil ver o Wolfwind sem mastro, não é? — Hal comentou.

Stig, estando pronto ao lado dele, olhou para o navio viking conforme ele
inclinou para o riacho. O seu casco cinza misturado naturalmente com o cinza-
esverdeado das gramíneas e juncos do pântano. Ele resmungou concordando.

— Quanto tempo você acha que ele vai levar? — Hal perguntou.

— Wallis pensou pouco mais de uma hora — Stig respondeu. Wallis era o
Limmatan idoso que estava guiando Svengal.

Hal assentiu, pensando. — E nós vamos levar cerca de vinte minutos para
chegar à boca do porto — disse ele. — Nós vamos ficar fora de vista por mais dez
minutos, então vamos deixá-los ver-nos.

— Isso deve pôr o gato entre os pombos — Stig disse, sorrindo.

— Ou a besta entre os piratas — disse Hal calmamente.

Os Invasores - 231
Capítulo trinta e dois

H
al virou 30 minutos no copo de areia que ele usava para a navegação e
observou quando os grãos começaram a cascatear através da abertura estreita
de cima para baixo. Ele poderia ter estimado os vinte minutos, mas usando o
instrumento apelou para o senso de precisão. Ele sorriu quando se lembrou de sua
conversa com Jesper.

Como saberemos quando os dez minutos estarão terminados?

Vamos saber por que isso vai ser quando eu acender o sinal de fogo.

Ele percebeu agora que suas mentes estavam começando a vagar quando
tiveram essa conversa, como resultado do frio cortante e do cansaço que os estava
superando. Talvez seja por isso que ele queria ser mais preciso, esta manhã, para
provar que estava de volta no controle de suas faculdades.

Ele percebeu que Stig estava virando seu cotovelo e apontando para as marcas
de graduação no vidro de areia. Vinte minutos se passaram enquanto ele estava
distraído. Tanta coisa por seu amor à precisão, ele pensou.

— Estamos chegando perto! — ele falou. — Hora de começar a festa!

Eles cruzaram sem problemas, e uma vez que se deslocavam em direção à


praia, ele fez um gesto para Stig tomar o leme. Ele acenou com a cabeça em
aprovação quando viu que seu amigo tinha pendurado o escudo grande e redondo em
seu braço esquerdo, de modo que o cobria. Quando eles se afastaram da praia, Stig iria
escorregar o escudo em volta para cobrir as costas. Hal verificou os outros escudos,
que foram colocados ao longo dos baluartes. Eles foram montados maiores do que o
habitual, de modo que deu cobertura extra para a equipe. Ele chamou a atenção de
Thorn e empurrou sua cabeça para frente. O velho lobo do mar estava na cintura do
navio, balançando facilmente com o movimento do navio. Lydia estava perto,
verificando os dardos em seu quiver.

— Vamos nos preparar — disse ele. Thorn abaixou e pegou dois pequenos
escudos de metal redondo, moldados um pouco como tigelas desproporcionais. Ele
fechou seu gancho na alça de um, em seguida, enfiou a mão esquerda para a aderência
da segunda. Lydia levantou-se e os três fizeram o seu caminho para a proa. Os dois
escandinavos moviam-se facilmente, combinando o passo ao subir e descer regular do
navio. Lydia era menos firme de pé. De tempos em tempos, ela agarrava em uma
estadia ou no mastro para se firmar.
232 - Brotherband
Ingvar estava em pé pronto no Mangler. Ele passou os últimos dois dias
fazendo projéteis para a arma e foram divididas agora em duas prateleiras, um de cada
lado do arco. Hal olhou para eles. Havia uma dúzia de dardos em cada prateleira.

— Você fez os dardos de fogo também? — Hal perguntou.

Ingvar indicou uma banheira fixada no mastro. Havia meia dúzia de dardos de
fogo descansando lá - projéteis especialmente preparados com suas pontas envoltas
em pano embebido em óleo, então coberto liberalmente com piche. Hal planejava usar
um deles para incendiar o portão da praia embebido em óleo, quando chegasse o
momento. Eles estavam descansando de cabeça para baixo na banheira, que continha
vários centímetros de óleo no fundo para evitar o pano embebido de secar.

O Garça-Real subiu em uma onda e ele pode ver a torre oriental, mostrada
brevemente acima do horizonte.

Hal olhou em volta para Edvin, que estava pronto para retransmitir ordens de
seu leme para Stig.

— Volte, um pouco, a bombordo — disse ele. Com o arco colocado para um


ponto intermediário entre as torres, ele levantou as mãos e Stig firmou nessa via.
Automaticamente, Ulf e Wulf ajustaram a vela para a nova direção.

— Devo carregar? — Ingvar perguntou ansiosamente. Mas Hal balançou a


cabeça. Quanto mais tempo o Mangler for mantido tensionado, maior é a tensão sobre
o seu mecanismo de braços, cordas, e de disparo. Eles não seriam vistos por alguns
minutos, então não havia nenhum motivo de arriscar um disparo precipitado.

— Relaxe — disse ele, seus olhos estreitando quando as duas torres entraram
em plena vista. Ele imaginou a cena na passarela que rodeava a torre leste com o
vigia, descansando no corrimão, olhos meio fechados e sonolentos depois de um
grande almoço, de repente, tornou-se ciente de que um navio estranho estava se
aproximando - e se aproximando rapidamente.

Haveria um momento de confusão e indecisão. Então ele iria soar o alarme -


senão um sino ou um chifre - Hal assumiu. Ele virou a cabeça ligeiramente em direção
à torre, testando para ver se podia ouvir também. Mas a distância era muito grande.
Tudo o que podia ouvir era o silvo regular do mar, com a proa afiada do Garça-Real a
cortá-lo e enviá-lo escorrendo para os lados do navio, isso em regulares e suaves
baques enquanto descia em valas sucessivas.

— Eles nos viram — disse Thorn. Hal se maravilhou com a visão aguçada de
seu velho amigo. Então, como eles viajavam alguns metros mais perto, ele podia
divisar as formas minúsculas escuras correndo ao longo do molhe do porto e subindo
a escada para as torres de vigia. Parecia haver um monte deles, ele pensou, mas a esta

Os Invasores - 233
distância, foi impossível estimar seus números. E agora, ele percebeu, ele podia ouvir
o alarme, um lamento, ondulante explosão em um chifre.

Eles estavam a duzentos metros da entrada do porto. Hal abriu a boca para
chamar a Stig. Nesta fase, ele não queria ficar dentro da faixa das setas das torres.
Mas, conforme ele ia dar a ordem, Stig balançou o Garça-Real suavemente para
estibordo. O navio corria paralelo à costa agora. Ele estava armado demasiado longe e
Hal virou-se para emitir outra ordem. Mas Ulf e Wulf anteciparam-no, facilitando as
escotas para que ela rode mais ereta. Ele olhou para cima e encontrou os olhos de
Lydia. Ela tinha percebido como Stig e os gêmeos haviam antecipado suas ordens e
sorriu para ele firmemente.

Ela está nervosa, pensou.

— Parece que eu não sou necessário — disse ele, brincando para acalmar seus
nervos com a piada. Ele ficou surpreso ao descobrir que sua voz estava um pouco
mais aguda que o normal.

Estou nervoso demais, pensou ele.

Ele percebeu que estava sentado no banco em frente à pequena Mangler,


ombros e corpo tenso. Ele se inclinou para trás, forçando os músculos para relaxar.
Ele olhou de volta para o navio para onde os membros da tripulação se agacharam em
seus lugares. Nenhum deles parecia ser tão ousado como ele se sentia. Ele esperava
parecer tão confiante como eles fizeram.

Stig girou o navio de volta a correr na direção oposta. Stefan e Edvin assistiram
à passagem das velas. Hal sentiu o movimento suave da besta gigante debaixo dele
com Ingvar testando seus movimentos. Tinha uma longa e forte vara inserida na cauda
do carro e ele poderia rodar o Mangler através de uns noventa graus de arco –
quarenta e cinco graus em ambos os lados da curva do arco. Hal olhou para ele e
sorriu para o menino grande.

— Só testando — ele disse.

Hal assentiu. Ele não queria falar de novo caso sua voz estivesse demasiado
aguda.

— Alguém viu qualquer sinal de Barat e seus homens? — Lydia perguntou de


repente. Estavam passando no local onde a força de Limmatan devia estar escondida
na linha de árvore.

— Bem, eu certamente não posso — respondeu Ingvar, com seu sorriso largo.
Hal olhou para ele de novo. Os nervos do menino grande pareciam tão firmes como
uma rocha, ele pensou. Prestes a entrar em ação pela primeira vez e aqui estava ele,
friamente fazendo piada sobre sua própria miopia.

234 - Brotherband
— Pensei ter visto um movimento nas árvores há alguns segundos — disse
Thorn. — Mas isso só poderia ter sido porque eu sei que eles devem estar lá em algum
lugar.

— Bem, se não podemos vê-los, nem pode os piratas — disse Hal.

— Se eles estiverem lá — disse com desdém Ingvar. Ele tinha testemunhado a


maneira arrogante de Barat com Hal e ele tinha uma opinião deprimente sobre o
comandante de batalha do povo da cidade.

— Eles vão estar lá — Lydia disse calmamente.

Ingvar olhou em sua direção. — Desculpe, Lydia — ele disse. Antes de tudo,
ele tinha insultado um conterrâneo dela. Ela acenou ao pedido de desculpas de lado.

— Barat pode ser um poderoso atormentador e um pomposo idiota — ela disse.


— Mas ele é um bom comandante e um bom guerreiro. Ele não vai nos decepcionar.

Na linha irregular de respingos levantou um borrifar a 20 metros da costa de


onde o navio corrida. Setas da torre de vigia, Hal pensou. Eles ainda estavam fora da
faixa máxima. Só então uma flecha, lançada de um arco mais poderoso, agitou contra
o baluarte de estibordo e caiu no mar. Sua energia foi gasta e não teve força suficiente
por trás dele para penetrar na madeira.

Mas foi um aviso do que eles teriam de enfrentar quando se aproximassem.

— Você está pronto, Thorn? — questionou. Os pequenos escudos que seu


amigo estava carregando pareciam um pouco inadequados.

— Eu estou pronto. Não se preocupe comigo. Basta manter a sua mente sobre o
seu tiro — Veio á resposta calma. E, de repente, as preocupações de Hal foram
abrandadas. Thorn sabia o que ele estava fazendo, ele pensou. Os pequenos escudos
pode não ter sido a escolha de Hal, mas Thorn sabia mais sobre esse tipo de coisa do
que ele jamais saberia.

Enquanto navegavam passaram a primeira torre, se aproximando da segunda,


Thorn usando um dos escudos para proteger seus olhos, olhava para o emaranhado de
juncos e ilhas baixas que marcaram o pântano.

— Eu posso ver o Wolfwind! — Disse. — Ele está quase no ponto de partida.


Lá - exatamente para a esquerda das duas árvores inclinadas.

Hal seguiu seu olhar. Havia duas árvores raquíticas em uma ilha arenosa perto
da borda do pântano. Com tão pouca quantidade de raízes, o vento causou a inclinação
de ambas para um lado. Olhando para a esquerda, ele viu um ligeiro movimento, então
o casco baixo do Wolfwind apareceu conforme ele passou por um canal aberto.

Os Invasores - 235
Ele olhou de volta para a torre de vigia. Eles estavam perto o bastante para ver
detalhes agora e parecia que todos os olhos estava no Garça-Real. Até agora, o plano
estava funcionando. Ninguém em cada torre tinha ideia da ameaça que estava
rastejando em direção a eles através dos pântanos.

— Stig — ele chamou, esquecendo no calor do momento que ele tinha Edvin
postado para retransmitir suas ordens. — Leve-nos para o mar, em seguida, entra para
atacar a torre leste.

Com o Mangler unicamente capaz de disparar em um restrito arco de cada lado


da proa, ele teria que atacar o chefe da torre, virar as costas e voltar para o mar. Então
voltariam a realizar um ataque similar na torre ocidental. Dessa forma, ele teria menor
correção lateral para fazer, se encaminhando quase que diretamente para seu destino.
E ele apresentaria um alvo menor para os defensores, em vez de todo o comprimento
do casco.

A desvantagem era que ele e os outros na proa do Garça-Real iriam suportar o


peso dos tiros de retorno das torres. Ainda assim, ele estava confiante de que Thorn
iria cuidar dessa parte. E Lydia, ele pensou. Eles tinham discutido seu papel alguns
dias antes. Se qualquer um dos arqueiros na torre se tornar muito preciso, seria sua
tarefa eliminá-los.

Eles estavam a trezentos metros da costa agora e Stig balançou o navio em um


arco. Eles tinham que atacar as torres uma após a outra, repetindo os ataques até que
tivessem esgotado sua munição, ou as guarnições nas torres fossem neutralizadas - o
que viesse primeiro.

Havia uma terceira alternativa, é claro. Havia sempre a chance de que os


homens na torre pudessem apenas fazer uma pequena ação de defesa. Mas Hal não
queria pensar nisso.

Perscrutar sobre os alvos da besta, ele estava consciente, numa parte destacada
de sua mente, da tripulação içar e ajustar velas, então, o Garça-Real estabilizou-se em
seu curso.

— Carregue-a, Ingvar — disse ele.

Seu amigo gigante se inclinou para frente, aproveitou as duas alças armadas do
Mangler e puxou os braços para trás até que o cabo clicou no lugar sobre a trava de
retenção. Então Ingvar selecionou o primeiro dos dardos meterlong e o pôs na ranhura
na parte superior da arma, assegurando que o entalhe na extremidade traseira estivesse
acoplado com a espessura do cabo.

Hal estava ciente de que Thorn tinha se mudado para uma posição na proa,
agachando-se sob o posto da proa. Quando Ingvar recarregava, ele ficava e fornecia
proteção com os dois escudos pequenos.

236 - Brotherband
Agora Ingvar se moveu para trás da besta inclinando-se sobre. Hal olhou sobre
os locais.

— Esquerda um pouco... esquerda... esquerda... de volta direita...

Para evitar confusão, eles tinham concordado que, para dirigir ordens a Edvin,
ele iria usar os termos bombordo e estibordo. Direções instruídas para Ingvar seria
dado como esquerda ou direita.

Ele olhou para baixo, para os alvos do arco e flecha, observando a ascensão e
queda da torre conforme o navio subia e descia em ondas sucessivas. Uma seta brilhou
no mar ao largo da proa. Eles estavam entrando em alcance. Ele ouviu um som de
chocalho rápido quando três flechas golpearam a proa. Algo bateu no convés de um
lado. Não é uma flecha. Possivelmente uma pedra arremessada por um lançador.

— Todo mundo abaixado — ele gritou, sem tirar os olhos da torre, que foi se
aproximando cada vez mais. Sua mão esquerda virou erguendo a engrenagem
suavemente, elevando o arco de modo que a visão estava centrada no corrimão pinhal
da torre. Ele queria que o primeiro tiro fosse bem sucedido, então apontou para o
maior alvo possível.

Uma flecha passou zunindo através da vela do Garça-Real.

A torre parecia encher sua mira. Ele podia ver um dos defensores, distintivo em
uma jaqueta verde brilhante, na extremidade esquerda, apontando um arco recurvo, o
desenho da seta para trás. Em seguida, ele lançou e Hal perdeu de vista o eixo.

Alguns segundos depois, ela bateu, tremendo, no convés ao lado dele. Estavam
cerca de setenta e cinco metros fora de alcançe.

Então, sua vista e alvo foi alinhado e ele gentilmente puxou a corda do gatilho.

SLAM!

O Mangler vergou com o coice e o dardo saltou longe. Poucos segundos depois,
uma seção da balaustrada de pinho em torno da torre explodiu em uma chuva de
estilhaços quando o projétil pesado esmagou-o, seguindo de uma ponta a outra,
rodopiando entre os defensores e abatendo mais homens.

Outros foram atingidos por estilhaços de pinho voadores. Eles cambalearam


longe de dor e pânico, imaginando o que os atingiu.

Os defensores, apanhados completamente de surpresa, cairam sob a balaustrada


longe da vista. A chuva de flechas e projéteis de repente parou enquanto eles tentavam
descobrir o que estava acontecendo.

Os Invasores - 237
— Pronto! — gritou Ingvar. Ele não esperou para ouvir o que aconteceu com o
primeiro tiro. Ele saltou para frente e ergueu os olhos para carregar o Mangler. Lydia,
vendo uma maneira de ajudar, tinha se arrastado para frente de joelhos, ficando abaixo
do baluarte, e passou um dardo novo para ele.

Hal lesou a elevação dardo, gritando destinando direções para Ingvar. Como
sempre, a Mangler tinha saído da linha com o recuo do primeiro tiro.

— Esquerda... à esquerda... esquerda. Firme!

SLAM!

O alcance foi menor agora e o dardo bateu com força ainda maior. Ele apanhou
o topo da grade, despejando mais desses estilhaços mortais no ar, e girando acabou
direto sobre a extremidade na janela da guarita.

— Vamos lá! — Hal gritou, e quando o Garça-Real se afastou da torre oriental,


os defensores tardiamente vieram à vida, e uma chuva de flechas e pedras seguiu. Um
defensor, com o que parecia a Hal ser um ridículo otimismo, ainda jogou uma lança
atrás deles.

Mas apenas alguns atingiram o abrigo. A velocidade do navio e a distância


rapidamente ampliada deixou a maior parte dos mísseis em seu rastro. Hal olhou para
trás, inclinando-se para um lado para ver além da vela. A balaustrada da torre tinha
duas grandes lacunas irregulares rasgadas nele.

Ingvar estava pulando ansiosamente de um pé para o outro.

— Como é que fomos? — Perguntou ele. — Será que funcionou?

Hal teve tempo para considerar que a miopia de Ingvar era realmente uma
vantagem nesta situação. Como ele não podia ver o resultado dos tiros, ele não foi
tentado a esperar e observar. Uma vez que o dardo estava na sua forma, ele foi
imediatamente pronto para armar novamente e recarregar a arma maciça.

— Nós nos saímos bem — disse Hal. — Dois grandes buracos no parapeito da
torre e, provavelmente, uma meia dúzia de inimigos feridos por estilhaços e colocados
fora de ação. — Ele olhou para Lydia. — Boa ideia ajudando com a recarga.

Ela sorriu para ele. — Obrigado. Você notou aquele arqueiro com a camisa
verde? Eu poderia ter de cuidar dele da próxima vez.

Hal assentiu. — Eu ficaria muito grato se você fisesse. — Ele sorriu para
Thorn. — Você não tem muito a fazer do que correr — disse ele.

Thorn assentiu. Ele não devolveu o sorriso.

238 - Brotherband
— Eles vão estar prontos para nós quando voltarmos — disse ele. — Eles vão
saber o que está vindo.

Os Invasores - 239
Capítulo trinta e três

Z
avac montou seu quartel-general na casa de contagem de Limmat. Era o
prédio da administração oficial da cidade, onde os impostos eram fixados e
cobrados, obras públicas organizadas, e onde, em tempos normais, o conselho
da cidade se reunia para cuidar dos negócios em andamento.

Zavac estava usando um dos maiores escritórios do posto e separava as pedras


preciosas que estavam sendo entregues da mina todo dia. Os mineiros tinham atingido
um bolsão rico em esmeraldas pouco antes dos piratas atacarem invadindo a cidade.
Antigamente, Zavac os manteve trabalhando duro, obtendo um grande número de
pedras todo dia. Agora, ele notou, o rendimento diário estava diminuindo. O bolsão
estava praticamente sem nada e logo seria hora de sair.

Ele estava segurando um dos espécimes maiores, contra a luz, admirando a


maneira dos raios de luz refratados eram refletidos dentro da pedra, quando a porta do
quarto se abriu. Um de seus homens estava ali, ofegante, suor descendo em seu rosto.
Ele havia obviamente corrido muito.

Ele hesitou então Zavac baixou a pedra e olhou para ele.

— O que? — O capitão do Corvo perguntou, sua voz áspera.

O homem respirou fundo várias vezes. — Há um navio — ele disse finalmente.

Zavac levantou uma sobrancelha. — Um navio? — Repetiu ele. — Um navio?


Você vem entrando aqui sem bater para dizer-me que há um navio?

O homem olhou para trás por onde ele tinha vindo. Com Zavac, refletiu ele,
você nunca poderia ganhar. Se ele não tivesse sido informado sobre a aproximação do
navio estranho, ele teria voado em um acesso de raiva, golpeando para fora àqueles ao
seu redor.

— Ele está indo para a entrada do porto — disse ele.

Zavac estendeu as mãos em um gesto sarcástico. — E?

— Eu... bem... nós pensamos... que você devia ser informado.

— É um grande navio? — Zavac perguntou. — Um navio viking ou um navio


de guerra de algum tipo?

240 - Brotherband
— Não. É... pequeno. Mas talvez você deva dar uma olhada.

Zavac suspirou profundamente. Ele colocou a esmeralda de volta na bandeja


sobre a mesa em frente a ele, em seguida, levou a bandeja para um armário de madeira
fortemente reforçado no canto. Ele colocou dentro, deliberadamente virou a chave na
fechadura e colocou-a no bolso. Em seguida, ele considerou seu subordinado mais
uma vez.

— Muito bem — disse ele. — Vamos ver esse navio.

Ele liderou o caminho para fora do escritório, fechando a porta atrás deles. Sua
tripulação seguiu ansiosamente atrás dele, meio trotando para acompanhar as longas
passadas de Zavac.

Eles fizeram o caminho até a via ampla à frente do porto, Zavac apreciando a
forma como os cidadãos de Limmat encolhiam-se quando ele passava. No cais, ele
virou à esquerda e caminhou em direção à barragem, protegida ambos os lados pelas
torres de vigia.

Ele parou cerca de metros cinquenta da torre oriental. A partir daqui, do lado
interior, ele podia ver nenhum sinal do dano que o Mangler tinha infligido no primeiro
ataque do Garça-Real. Ele podia ouvir vozes gritando da torre de vigia, mas isso era
de se esperar. Os membros da vigia estavam provavelmente em gritante desafio ao
intruso. Além, para o mar e, obviamente, em retirada, ele podia ver um nítido
naviozinho, com uma vela triangular.

Ele tinha visto o navio antes, ele pensou. Então percebeu onde. Era o navio
pertencente à tripulação de jovens escandinavos sob cujos narizes ele roubou o
inestimável Andomal. Seus lábios se curvaram em raiva.

Em seguida, ele sacudiu a cabeça com impaciência. O navio era pequeno. Ele
carregava uma tripulação de menos de uma dúzia. E o porto era protegido por duas
torres e maciças toras da barragem de lado a lado da entrada.

Ele virou-se para seu tripulante, socando-o em toda a cabeça.

— Seu idiota! — Ele rosnou. — Eles são meninos, e não pode haver mais de
dez deles! Quais possíveis danos você acha que eles podem fazer conosco?

O pirata infeliz, que tinha deixado para alertar Zavac antes do Garça-Real
lançar seu ataque, não tinha resposta para a pergunta. Ele se encolheu para longe do
capitão furioso.

— Eu pensei...

Zavac cortou furiosamente. — Então, não pense no futuro! Você não tem
capacidade para isso!
Os Invasores - 241
Girando em seus calcanhares, ele caminhou de volta para a casa de contagem.

— E cuide para que eu não seja perturbado novamente! — Ele jogou por cima
do ombro.

Na torre ocidental, o comandante nomeado por Zavac assistiu com fascinação


horrorizada quando, o que parecia ser um pequeno navio viking escandinavo, lançou
seu ataque contra seus companheiros através do porto.

Ele não sabia exatamente o que estava acontecendo. Não parecia ser uma arma
enorme na proa do navio, disparando projéteis pesados na torre leste. Embora ele não
conseguisse distinguir os detalhes da arma - possivelmente uma grande besta, ele
pensou - ou os projéteis próprios, os resultados estavam óbvios demais.

Ele ouviu as rachaduras quebrando quando os dardos bateram na balaustrada de


pinheiro, em frente ao porto, e viu a chuva de estilhaços mortais quando eles voaram
entre os defensores. Ele também pode observar o dardo quando ele girou sobre a
extremidade final através da multidão de homens na passarela, ceifando vários deles
para baixo. Ele ouviu seus gritos. Em seguida, o navio se virou e saiu para o mar.

Agora estava voltando. Seus olhos se estreitaram quando ele o viu ajustar um
curso e percebeu que estava vindo direto para ele. A torre ocidental era obviamente o
próximo alvo.

Sua mente disparou. O maior perigo parecia-lhe, era a chuva de estilhaços que
cada tiro enviava voando em seus vigias. O projétil pode atingir uma ou duas pessoas,
mas os estilhaços poderiam colocar meia dúzia de outros fora de ação. Uma dúzia ou
mais de farpas criaria uma chuva mortal com cada tiro.

Ele olhou em volta, procurando alguma coisa para anular seu efeito, e seu olhar
pousou na guarita no centro da plataforma. Havia meia dúzia de beliches lá, onde os
homens pudessem descansar e relaxar enquanto eles estavam de folga. E beliches
significava cama.

— Coloquem esses colchões e cobertores aqui fora! — Ele gritou, apontando


para a guarita. — Estenda-os sobre o corrimão! E depressa, destrua sua visão!

Seus homens, ainda confusos com a mudança inesperada dos acontecimentos,


estavam olhando-o como se ele tivesse de repente perdido o juízo. Ele empurrou um
deles em direção a porta da guarita. Quando o homem se moveu lentamente em
direção a ela, ajudou-o em seu caminho com um chute. Outro o olhou boquiaberto e
ele esbofeteou-o nos ouvidos, gritando e praguejando.

— Começe a se mover, seu vigia idiota! Cobertores e colchões! Eles vão


impedir os estilhaços voadores!
242 - Brotherband
Aos poucos, sua raiva parecia energizá-los e um ou dois deles até mesmo
compreendeu a idéia que ele tinha em mente. Eles se moviam com crescente urgência,
dois deles correndo dentro e começando a passar a roupa de cama para fora através da
janela aberta, sem vidro. Os outros correram para armar os grossos cobertores e
colchões cheios de palha por cima da balaustrada. Os projéteis que passassem por
eles, o comandante pensou, mas eles tinham que abafar aquela mortal chuva de
fragmentos.

Convencido de que a balaustrada foi totalmente coberta, ele emitiu novas


ordens.

— Arqueiros! Aqui em cima. Preparem-se para corta-los! Há algum tipo de


arma infernal na proa daquele navio. Apontar os homens para dispararem.

Vários homens armados com arcos avançaram para tomar o seu lugar na
balaustrada pesadamente acolchoada. Vários outros, tendo visto o destino de seus
companheiros na primeira torre, ficou para trás. Ele rosnou para eles e empurrou um
deles para frente. Os outros relutantemente seguiram.

— O resto vocês abaixem-se! — Ele ordenou. — Fiquem abaixo da balaustrada


e fora da vista!

Os homens demoraram a obedecer-lhe. Eles assistiram com fascinação que o


gracioso navio pequeno se dirigia para eles. Todos os olhos na torre eram sobre ele.
Ninguém notou a linha de guerreiros emergindo do pântano no oeste, movendo-se
rapidamente em direção a eles.

A bordo do Garça-Real, Hal assistiu, perplexo, como os defensores começaram


a armar cobertores e colchões sobre a amurada da balaustrada. Thorn, agachando-se
ao lado dele, de repente, adivinhou o seu propósito.

— Eles estão na esperança de conter os estilhaços! — Disse. — Eles viram


quanto dano fazem!

Hal sentiu uma súbita onda de incerteza. Os estilhaços voadores provaram ter
um efeito mortal sobre os defensores, muito mais do que ele esperava. Agora, os
piratas tinham encontrado uma maneira de neutralizá-los. E o pesado pano drapeado
pode até impedir os dardos de penetrar a balaustrada. Eles certamente absorveriam um
pouco de sua força. Ele esfregou o queixo, pensativo, desesperado por uma maneira
de contrariar esta inesperada tática.

Em seguida, um sorriso triste se espalhou pelo seu rosto.

— Edvin, pegue um dardo de fogo pronto. Ingvar, carregue o dardo no


Mangler.

Os Invasores - 243
Originalmente, Hal apenas tinha planejado usar os dardos de fogo para acender
a bexiga de óleo no portão da praia. Mas agora ele viu uma oportunidade inesperada
para eles.

Ingvar removeu o projétil que ele tinha carregado no Mangler e substituiu-o na


cremalheira pronta. Edvin pegou um dos dardos de fogo na cuba do mastro. Agachou-
se no convés e produziu uma pederneira de aço, e uma caixa de fogo. Depois de meia
dúzia de ataques, ele tinha um pequeno punhado de estopa queimando no barril de
pólvora. Cuidadosamente, ele segurou a cabeça do dardo de fogo na chama. O pano
embebido em óleo pegou quase imediatamente, a chama rapidamente se espalhando
para o breu. Edvin fechou o caixa de fogo, apagando as chamas dentro, e entregou o
dardo ardente para Lydia.

— Segure isso — disse ele brevemente. Então, permanecendo abaixado, ele se


moveu para o arco e pegou um balde de água que tinha deixado pronto. Ele jogou a
água sobre a frente do Mangler, liberalmente embebendo a madeira onde a cabeça
flamejante seria assentada. Isso fazia parte de uma broca previamente combinada Hal
tinha inventado.

O barulho mortal de flechas contra o casco e convés começou mais uma vez.

— Carregar agora, Ingvar — disse Hal. Ele não queria esperar mais tempo para
Ingvar ser exposto. Lydia passou o dardo de fogo para Ingvar e o grandalhão chegou
até a colocar o dardo latente na posição. A cabeça flamejante chiou contra a madeira
encharcada, e Ingvar, permanecendo abaixado, afundou atrás de Hal.

— Fique aí, todo mundo — Hal advertiu. — Pronto Thorn? — Ele chamou.

O lobo do mar maneta encontrou seu olho e acenou com a cabeça.

Hal se agachou sobre o Mangler, lentamente girando a manivela de elevação e


observando a paisagem subir para alinhar com a balaustrada. Desta vez, ele tinha um
alvo muito maior a apontar para, então não havia necessidade de ir tão perto quanto
antes.

— Um tiro só — disse a Ingvar. Ele não queria o menino grande exposto,


enquanto ele recarregava. Se o fogo funcionasse, não haveria necessidade de um
segundo tiro.

Ingvar grunhiu assentindo. Ele estava agachado atrás da massa do carro besta,
com as mãos sobre a alavanca de deslocamento.

— Esquerda... à esquerda... direita um pouco. Firme aí — Hal gritou.

Ele se encolheu com uma flecha que atingiu a frente do carro do Mangler e
olhou ao longe. Então, concentrou sua atenção na mira, tentando ignorar o som das

244 - Brotherband
flechas atingindo o casco e zunindo através da vela. Vou ter que remendar essa vela
quando isto acabar, ele pensou com uma parte destacada de sua mente.

A mira traçada quando o navio chegou à crista de uma onda, afundou abaixo da
meta enquanto mergulhava na calha d'água, em seguida, começou a subir novamente.
Ele aliviou a engrenagem elevando para compensar, então, um segundo ou mais antes
do navio chegar à crista seguinte e a visão ser centrada na balaustrada muito drapeada,
ele puxou a corda do gatilho. Houve a demora normal e ligeira, então...

SLAM!

O Mangler corcoveou descontroladamente em recuo. O dardo de fogo disparou


para longe, trilhando uma fita fina de fumaça cinza por trás dele. No instante que
liberou, Hal sabia que o tiro era bom e observou a trilha fina de fumaça, uma vez que
foi direto para o centro da balaustrada.

Stig já estava trazendo a proa do Garça-Real ao redor para voltar para o mar e
fora de alcance. Eles ouviram o ruído surdo do dardo atingindo a torre, exatamente
onde Hal apontou. Permanecendo abaixado, ele esticou em volta para assistir o
resultado, enquanto o navio se afastou do alvo. Mais três setas sacudiu contra o casco
e os escudos alinhados ao longo do baluarte de estibordo.

Então ele viu. Um flash luminoso de fogo disparado a partir do centro da


balaustrada. O dardo de fogo tinha impactado no centro de um colchão cheio de palha.
Houve uma pausa de alguns segundos, enquanto as chamas, reprimidas pelo vento do
vôo do projétil, reacenderam. Depois, a palha seca e a lona apanhada e queimada
descontroladamente, alimentavam as chamas avidamente no pavio perfeito.

— Jogue-a fora! Livre-se dela! — o comandante da torre de vigia gritou. Mas


as chamas, ventiladas pela brisa do mar, estavam estalando ferozmente e nenhum de
seus homens estavam dispostos a arriscar a ser queimado. Eles se afastaram,
protegendo seus rostos do calor.

— Malditos sejam! Ajudem-me, seus covardes! — o comandante delirou. Ele


sacou a espada e, segurando-a com as duas mãos, tentou prender-la sob o colchão para
que pudesse jogá-lo completamente. Mas já as chamas tinham se espalhado para os
cobertores e colchões de cada lado. As chamas chamuscaram seus braços e
sobrancelhas enquanto ele lutava com a pesada, queimada massa de linho e palha.

Ele conseguiu incliná-lo sobre o lado do corrimão e sentiu uma onda de triunfo
momentâneo quando começou a soltar. Mas seu otimismo não durou muito. O colchão
estava firmemente preso à madeira pelo dardo que o tinha fixado ao fogo. Ele caiu um
metro ou mais, depois parou pendurado para fora de seu alcance, com chamas
queimando, lambendo avidamente a madeira da torre.

Os Invasores - 245
Quando Hal havia planejado usar um dardo fogo contra o portão praia, ele sabia
que ele iria precisar de óleo para ajudar a fazer com que a madeira queimasse. O
portão estava envelhecido, madeira experiente, e um único dardo de fogo não seria
suficiente para fazê-lo pegar. Mas a torre era um assunto completamente diferente. As
tábuas e frame eram de madeira de pinho macio madeira que tinha uma gosma com
resina e, consequentemente, altamente inflamável. Mas mesmo com essa madeira,
uma fonte de fogo única como um raio flamejante poderia não ter sido suficiente.
Podia ter sido rapidamente extinto. O comandante havia cometido um erro fatal
quando cobriu o comprimento da balaustrada com pano altamente combustível e
palha. Agora as chamas variavam ao longo de toda a face frontal da balaustrada, e as
pranchas e quadros já estavam começando a queimar por baixo do pano.

Para piorar a situação, não havia abastecimento de água real disponível, apenas
alguns poucos jarros de água potável para as sentinelas. Não havia nenhuma maneira
deles apagarem as chamas. A torre estava condenada.

A cem metros de distância da torre, Svengal levou seus homens para fora dos
pântanos e para terra firme. Os escandinavos fizeram uma pausa, um pouco
impressionados, ao verem as chamas subindo agora rapidamente os lados da
balaustrada e da guarita no topo da torre.

O Garça-Real, aparentemente ileso, cruzou suavemente de volta para o mar,


voltando-se para a companheira torre do outro lado da entrada do porto.

— Pelos olhos cruzados de Orlog, ele conseguiu. — disse Svengal. Ele


balançou a cabeça em admiração. Ninguém tinha previsto um resultado tão dramático
como este. Ele olhou em torno de seus homens. Todos eles tinham parado. Vários
estavam apoiando os punhos em seus machados enquanto observavam a
superestrutura da torre queimar. Até agora, as chamas não se espalharam para o
quadro de apoio, mas o que era apenas uma questão de tempo.

— Parece que o nosso trabalho foi feito para nós, chefe — um dos tripulantes
disse a ele. Então Svengal notou uma linha de homens apressadamente tropeçando na
escada de madeira que levava a torre de vigia. Ele apontou seu machado em direção a
eles.

— Não é bem assim — disse ele alegremente. — Ainda há um pouco de


limpeza a fazer.

Então ele respirou fundo e gritou o comando tradicional escandinavo para a


batalha.

— Vamos pegá-los!

A tripulação do Wolfwind se lançou para frente com um rugido. Os piratas


queimados e confusos que faziam o caminho para baixo da torre de vigia queimada se

246 - Brotherband
virou para ver um espetáculo ainda mais terrível do que as chamas que quase os
consumiu.

Escandinavos. Prontos para a batalha.

Escondido na linha de árvore, Barat e seus homens observavam o ataque do


Garça-Real na primeira das torres. De sua posição, a própria torre estava a maior
parte encoberta pela paliçada e os edifícios intervenientes da cidade.

Eles observaram o Garça-Real se aproximar da torre, ouviu o longínquo bater


ruidoso do Mangler liberando duas vezes, em seguida, viu o navio fazer uma pirueta
ordenadamente e voltar para o mar.

Barat olhou para Jonas. — Não parece fazer muito.

Jonas deu de ombros. — Quem pode dizer? Mas as chances são de que eles têm
todo mundo olhando em sua direção.

— Talvez — disse Barat. Ele brincava com o punho da espada quando viu o
Garça-Real virar mais uma vez e voltar para a costa, desta vez de olho na outra torre.
Os detalhes deste ataque foram completamente obscurecidos, mas poucos minutos
depois que o navio tinha saído de visão por trás da entrada do porto oriental, os
sentinelas Limmatans viram uma espiral fina de fumaça sobre a cidade, na direção da
torre ocidental.

Em pouco tempo, ele havia se tornado uma espessa, bandeira cinza-escura.


Alguma coisa estava bem e verdadeiramente em chamas e, a julgar pela direção da
coluna de fumaça, só poderia ser a torre.

— Eles conseguiram. — disse Jonas.

Barat franziu a testa. Parecia que o segundo ataque havia tido sucesso, mais
sucesso do que qualquer um tinha previsto. Ele olhou em volta. Seus homens estavam
posicionados atrás dele, armas prontas, rostos tensos. Atrás, nas árvores, eles não
tinham visto o que tinha acontecido.

— A torre está pegando fogo — disse ele a eles agora. — Isso vai chamar a
atenção de todos, então vamos.

Como um, eles se levantaram. Houve um grunhido baixo, num coro de trinta e
oito vozes e ele levantou uma mão com cautela.

— Silêncio! Não há gritos de guerra. Sem gritos. E fiquem perto das árvores. O
mais perto que podemos chegar antes de sermos vistos, a melhor chance que vamos
ter.

Os Invasores - 247
Ele esperou, olhando atentamente para seus rostos, até ter certeza de que a
mensagem tinha sido levada a sério.

— Onde estão os escaladores? — Ele perguntou, e quatro homens se


aproximaram. Cada um levava um pacote com tábuas grossas e curtas envolvidas em
corda – uma escada com cordas enroladas.

— Homens com arpéus?

Mais dois se apresentaram com as mãos levantadas. Além de suas armas,


levaram várias cordas, cada uma com um arpéu de três ganchos no final. Seria o seu
trabalho jogar os arpéus sobre a paliçada e segurar as cordas esticadas enquanto os
alpinistas subiam na parede e deixavam cair as escadas de corda por trás deles.

— Os restos de vocês estejam prontos para ajudar com arcos, pedras e lanças,
enquanto eles estão subindo — ele ordenou. Mais uma vez, houve um murmúrio de
assentimento.

— Tudo bem — disse ele finalmente. Ele olhou para o mar e viu que o Garça-
Real estava virando de volta para outra corrida na torre leste. A julgar pela fumaça, a
torre ocidental estava agora bem acesa.

Duvido que haja um único olho voltado para nossa entrada, ele pensou. Então,
ele acenou para seus homens seguirem em frente.

— Certo. Sigam-me e fiquem quietos! — disse ele, e começou a correr


margeando a linha das árvores. A areia fofa abafou o som dos trinta e oito pares de
pés que o seguiram.

Não havia nenhum sinal de defensores na parede da paliçada à frente deles.

248 - Brotherband
Capítulo trinta e quatro

Q uando chegaram à extensão mais distante na sua corrida para o mar, Stig virou
o Garça-Real de volta para chefiar um segundo ataque contra a torre oriental.
Hal se levantou de seu assento atrás do Mangler e levantou uma mão.

— Espere por um minuto, Stig — ele chamou. Stig balançou a cabeça, a testa
franzida um pouco confuso, e trouxe a cabeça do navio contra o vento.

— Soltar as escotas — disse para Ulf e Wulf. Quando eles despotencializaram a


vela, o Garça-Real desacelerou para uma parada, subindo e descendo suavemente no
mesmo lugar. Hal fez um gesto para Thorn segui-lo e fez o seu caminho para a popa.
Lydia, não querendo ficar de fora, seguiu os dois.

— Eu tive uma ideia — disse ele quando chegaram à plataforma de comando.


Stig foi gentilmente trabalhando a cana do leme para trás e para frente, mantendo a
cabeça do navio diretamente para o vento.

— Como sempre — Stig disse, sorrindo. Ele adivinhou isso quando Hal havia
sinalizado para ele a alçada.

— Você está pensando em usar outro dardo de fogo? — Thorn sugeriu.

Hal assentiu. — Exatamente. Assim que conseguir que a madeira de pinho


queime, nada vai pará-la.

— Só que desta vez, a tropa não vão ser gentil o suficiente para cobrir a
plataforma com um pano e palha seca — Thorn observado.

— Verdade. Mas olhe para a estrutura de suporte, logo abaixo da plataforma. —


Hal apontou e todos eles olharam para a estrutura distante. — Há um ponto onde há
três feixes que se cruzam: um vertical, um horizontal e um diagonal. É o ponto de
apoio principal para aquele lado da torre.

Aos poucos, os outros concordaram, ao verem o que ele estava apontando.

— Esse ponto de junção é um alvo muito grande. E mesmo se eu não acertar


exatamente, há uma boa chance de eu acertar uma das três vigas. Se eu puder colocar
um dardo de fogo lá dentro, a madeira vai pegar, talvez não tão rapidamente como a
torre de vigia com os colchões sobre ele. Mas ele vai queimar eventualmente. E uma
vez que ele queime, a plataforma em cima vai cair. Vai ser muito mais eficaz que
golpear longe com dardos comuns.
Os Invasores - 249
Stig e Thorn trocaram um olhar.

— Parece-me razoável — disse Stig, e Thorn concordou.

— Certamente vale a pena tentar. Você acha que você pode acertá-lo de uma
centena de metros? Eles estarão prontos para nós neste momento e vão atirar de volta.
Temos tido sorte até agora de que ninguém foi atingido.

Thorn sabia, embora os outros não, que a sua sorte era improvável para
considerar. A sorte era notoriamente instável em uma batalha. Se eles distraíssem ao
ajustar a distância, teriam vítimas.

— Eu acho que posso acertá-los de cem de metros — disse Hal.

Stig empurrou o lábio inferior para frente, em dúvida.

— Essa meta é um pouco maior do que os que praticávamos na baía — disse


ele. — Você precisava chegar a cinquenta metros para bater-lhes com toda a
consistência.

— Verdade. Mas estávamos nos movendo então, e movendo rapidamente. Eu


pretendo parar cerca de cento e vinte metros de modo que estarei atirando a partir de
uma plataforma estável. Isso vai tornar meu trabalho muito mais fácil.

— Vai fazer-nos mais fácil de acertar também — disse Stig.

Hal encolheu os ombros. — Nós só temos que manter nossos escudos e ficar
sob a cobertura, tanto quanto possível. Thorn, você pode manter Ingvar coberto? Eu
pretendo tentar dois dardos de fogo, então ele vai precisar recarregar.

Thorn olhou para a torre distante, retratando em sua mente, a chuva de flechas
que seriam lançadas contra eles.

— Farei o meu melhor — disse ele rispidamente. — Quando pararmos,


jogaremos alguns deles fora primeiro. Eles estarão julgando um alvo em movimento.
Mas, então, estaremos sentando no pato. — Ele olhou para Lydia. — Vigie esse
arqueiro de camisa verde. Ele é o seu melhor atirador.

Ela assentiu com a cabeça. — Eu vou cuidar dele. — Não havia nenhum traço
de dúvida em sua voz e o velho lobo do mar sorriu para ela.

— Você sabe, eu acredito que sim. — Ele olhou para Stig e Hal. — Eu disse
que esta era um bom partido.

Lydia corou enquanto os dois meninos sorriam. — Cale-se. Você não deixe de
fazer as suas tarefas com aquelas duas tigelas de jantar cobertas que você chama de
escudos.

250 - Brotherband
Thorn inclinou a cabeça. — Como você quiser, mocinha. Como você quiser.

— Se vocês dois já acabaram — disse Hal, recuperando a sua atenção, —


vamos arrancar novamente. Só me dê um minuto ou dois para informar os outros.

Ele começou a voltar em direção à proa, parando ao lado de Ulf e Wulf.

— Nós vamos parar... — ele começou, mas ambos concordaram.

— Nós ouvimos — disse Ulf. — Estaremos prontos. Só nos dê a ordem.

Ele olhou para eles por um segundo ou dois. Estavam mantendo sua promessa,
ele pensou. Uma vez no mar, não havia sinal de disputa entre eles. Trabalharam em
conjunto melhor e mais instintivamente do que duas outras pessoas possam ter.
Possivelmente por causa do vínculo mental estranho que muitos gêmeos desfrutam.

Percebeu que ficou olhando para eles por alguns segundos e os dois estavam
esperando ansiosamente, pensando que ele diria algo mais. Ele acenou com a cabeça e
virou-se bruscamente.

— Tudo bem — disse.

Os gêmeos trocaram olhares perplexos um pouco como ele fez o seu caminho
de volta para a proa. Ingvar e Edvin estavam esperando, sentindo que houve uma
mudança de planos.

Ele esboçou sua idéia para eles. Ambos assentiram entendendo. Edvin pegou o
balde agora vazio, puxou-o sobre o lado em uma corda e encheu-o, jogando água do
mar na frente do Mangler.

Então, ele repetiu a ação mais duas vezes.

— Poderia muito bem ter certeza de que está completamente encharcado —


disse ele.

Hal apontou para a banheira onde os cinco dardos de incêndio restantes foram
armazenados.

— Procure dois prontos e acenda quando chegar a hora — disse ele. — Ingvar
vai ter que recarregar rápido. Uma vez que estejamos parados, vamos balançar ao
sabor do vento em poucos minutos. Quando isso acontecer, eu não vou ser capaz de
estudar a volta do Mangler longe o suficiente.

Ele fez uma pausa, perguntando se tinha deixado algo de fora. — Outra coisa,
Edvin. Você vai ter que cuidar dele sozinho. Lydia vai estar ocupada apanhando as
pessoas que atiram a nós.

Os Invasores - 251
As sobrancelhas de Edvin uniram-se ao pensar sobre as ações que teria que
tomar. — Isso não será um problema. Eu acho que preferiria que ela estivesse com a
cabeça baixa.

— Tudo bem. Aos seus lugares, todos. — Hal virou-se para chamar de volta
Stig e os gêmeos. — Vamos nos mexer!

Quando a vela foi inflada, Stig deixou o Garça-Real partir com o vento. Em
poucos segundos, ele foi esculpindo um rastro branco liso através do mar novamente.

Barat parou no pé da paliçada. Sua respiração estava ofegante e irregular, mas


era o resultado da tensão nervosa, não exaustão. Incrivelmente, ele e seus homens
tinham coberto os 40 metros de espaço aberto ao longo da praia, sem qualquer alarme
ser acionado.

Ele virou-se para trás agora e chamou baixinho, — Arpéus! Montanhistas! Vão!

Quatro arpéus foram disparados por cima da paliçada, cada um com uma corda
comprida e trançada atada a eles. Ele ouviu as quatro pancadas que bateram em rápida
sucessão. Em seguida, os atiradores puxaram de volta as cordas, arrastando os
ganchos três-pontas de volta através da passagem até que prendeu e se manteve firme
contra as toras verticais que formavam a parede da paliçada de três metros de altura.
Um se soltou e caiu de volta para baixo. Quando o manipulador amaldiçoou em
silêncio e reuniu a o arpéu para outro lance, Barat fez um gesto para os outros três.

— Alpinistas! Em seu caminho! Não espere por ninguém!

Os homens que lançaram os arpéus agora inclinaram seu peso para trás contra
as cordas para mantê-las firmes. Mais dois homens se moveram para ficar em cada
corda, fazendo uma grossa alça laçada entre eles. Quando o primeiro alpinista
começou a subir a corda, ele colocou o pé na alça laçada e os dois homens o
levantaram, elevando-o de modo que suas mãos se fecharam sobre o topo da paliçada.
Tomando cuidado para não prender-se nas pontas afiadas dos troncos verticais, ele
saltou levemente para a passarela do outro lado. Dois outros alpinistas se juntaram a
ele quase que imediatamente. Eles sacaram suas espadas, giraram seus escudos em
torno de suas costas, e desceram a passarela para formar uma linha defensiva,
enquanto seus companheiros pulavam por cima da paliçada.

Barat veio com a segunda vaga. Ele olhou rapidamente ao redor. A passarela
estava vazia de cada lado. Não havia nenhum sinal de defensores.

Nós os pegamos completamente de surpresa, ele pensou. Em seguida, pulou de


volta alarmado quando o quarto arpéu de abordagem sobrevoou a paliçada e caiu nas
tábuas da passarela, errando-o por centímetros. Ele chutou o arpéu sobre a borda
interna da passarela para que os pinos travassem nas madeiras de lá. A corda passou

252 - Brotherband
esticada quando o atacante invisível abaixo puxou de volta firmando-a. Então
começou a vibrar como um alpinista armado.

— Alarme! Alarme! O inimigo está na parede!

A voz gritando chegou da cidade abaixo. Ele olhou para baixo em uma das ruas
estreitas e sinuosas que corriam para longe da paliçada em direção à praça aberta no
centro da cidade. Três Magyarans tinham acabado de dobrar uma esquina e viram os
Limmatans agrupando na passagem acima deles.

Os piratas foram em direção a paliçada, mas hesitaram quando viram o número


de homens já na passarela. Percebendo que estavam seriamente em menor número,
eles se viraram para correr, gritando o alarme conforme passavam.

— Impeça-os! — Barat gritou. Um de seus homens se aproximou e atirou uma


lança. Acertou o mais próximo Magyaran na perna e ele torceu e caiu no chão,
chamando por seus companheiros para ajudá-lo. Eles deram mais uma olhada para a
multidão de homens armados na passarela, viraram-se e desapareceram em torno de
um canto na rua, gritando o alarme conforme eles iam passando.

Barat hesitou um segundo. A paliçada estava indefesa deste lado. Hal tinha
razão, pensou ele. A maior parte dos Magyarans estaria nas torres, ou no centro da
cidade. Ele fez um gesto em direção aos degraus com sua espada.

— Desçam ao nível do solo — ele gritou. — Direto para a praça da cidade.

As tábuas da passarela vibraram sob os seus pés enquanto ele conduzia os 38


homens correndo em direção as escadas.

Perto da torre ocidental, os escandinavos estavam formados em forma de cunha,


com Svengal encabeçando. Eles esmagaram os Magyarans desorganizados, eixos
subindo e descendo em um ritmo mortal. Os piratas, atordoados e desmoralizados pelo
aparecimento súbito de fogo na torre de vigia, olhos lacrimejantes por causa da
fumaça, não tinham nenhuma chance contra a carga escandinava.

Os sortudos entre o inimigo eram os que simplesmente foram esbofeteados de


lado pelos escudos de madeira pesada.

Alguns, sangue escorrendo de suas feridas, tentavam se arrastar para longe da


luta, chorando copiosamente. Outros estendiam onde caíam, ameaçadoramente ainda.
Svengal viu-se diante de um dos poucos Magyarans que parecia capaz de colocar-se
numa luta. Eles circularam um ao outro cautelosamente. O Magyaran estava armado
com uma pesada lança, que prendeu na axila, equilibrando em seu ponto médio, de
metal redondo e um escudo de madeira.

Os Invasores - 253
Ele apontou a lança em direção ao maciço escandinavo. Mas Svengal estava
observando os olhos e algo lá lhe disse que o movimento era uma finta. Ele se
manteve firme e sorriu para o seu inimigo.

— Tem que fazer melhor do que isso — disse ele. Então, vendo o contramestre
do Wolfwind, Hendrik, aparecendo atrás de seu adversário com um machado, ele
retrucou: — Deixe-o! — Hendrik relutantemente se afastou, procurando outro
inimigo.

Em uma briga total, era cada um por si, e Svengal e seus homens golpeavam
para fora qualquer alvo que se apresentasse. Mas os Magyarans estavam quebrados e
derrotados e este era um combate único. O homem era um bravo e capaz guerreiro e
Svengal não tinha o desejo de vê-lo cortado por trás.

Escandinavos viviam para o combate - embora se deva dizer que alguns deles
morreram por isso também – e combate individual, o homem-a-homem, era a forma
final.

A lança disparou para frente novamente. Desta vez, foi um impulso genuíno e
Svengal jogou-a de lado com a cabeça de seu machado. Ele viu uma sombra de medo
nos olhos do outro homem, então, seu adversário viu a facilidade casual com que
Svengal lidava com arma pesada. A maioria dos guerreiros não seria capaz de
coincidir com a velocidade e precisão de movimentos de Svengal.

O Magyaran, de repente cauteloso, recuou um passo. Svengal avançava, seus


olhos ainda na intenção do outro homem. Ele viu o aviso de outro impulso lá, uma
fração de segundo antes de começar, e lançou o seu próprio ataque em vez disso,
prevenindo as estocadas do outro homem com uma sobrecarga poderosa de cortadas
do machado de cabo longo.

O Magyaran tem o escudo em cima da hora e rebateu o golpe contra o metal,


rachando a madeira por baixo fazendo o pirata cair de joelhos. Mas ele pôs-se de pé e
quase que instantaneamente se lançou de novo, com a força do desespero. Svengal
decidiu que era hora de esquecer a finesse. Ele jogou categórico, a lança em seu
escudo maciço, absorvendo a força por trás dele com os joelhos flexionados, sentindo
a profunda mordida na cabeça da madeira - e parou ali.

O Magyaran entrou em pânico quando tentou, em vão, retirar a lança presa.


Como resultado, ele nunca viu o golpe roundhouse do machado enorme, que terminou
a luta por bem.

Svengal recuou. Ele olhou em volta. Alguns dos Magyarans escapou,


direcionando ao redor do porto da cidade. A maioria deles estava deitada, imóveis e
em silêncio, sob a torre em chamas. Cinzas e cinzas incandescentes caíam sobre eles
como chuva quente. Hendrik chamou a atenção de Svengal.

254 - Brotherband
— É melhor sair daqui. Essa coisa toda poderia vir a baixo a qualquer
momento.

Svengal abaixou-se e puxou um manto livre de um dos corpos, limpando a


lâmina de seu machado com ele, em seguida, jogou para o lado.

— É hora de passar para a outra torre — disse ele.

Os Invasores - 255
Capítulo trinta e cinco

H
al acomodou-se atrás da enorme besta como o Garça-Real se dirigiu para a
costa mais uma vez. Ele se inclinou para trás, forçando-se a relaxar,
assistindo a regular subida e descida da proa com o passar de cada onda sob
o navio, sintonizando-se ao ritmo e tempo do movimento. Ele estimou que estavam a
cerca de duzentos metros da torre. Ele podia ver as pequenas figuras que revestem a
balaustrada, esperando até que o Garça-Real estivesse ao alcance.

Então, um pensamento lhe ocorreu.

O Mangler tinha um alcance de mais de trezentos metros. Naturalmente, a


variação é apenas um dos factores. Precisão era outra questão. No sobe e desce da
proa de um navio em movimento, Hal descobriu que ele precisava estar a uma centena
de metros ou menos de seu alvo para ter qualquer chance de acerta-lo. Mas isso era
um alvo que era um metro quadrado. Ele estava olhando para a própria plataforma,
uma caixa como a estrutura cerca de seis metros de comprimento e três metros de
altura, situado no topo da estrutura de madeira. Ele poderia acertar um alvo desse
tamanho facilmente a partir de duzentos metros, ele pensou. Os tiros seriam aleatórios.
Ele não seria capaz de mira-los com precisão, mas ele já tinha visto quão mortal as
lascas de pinho poderiam ser. E a chegada repentina de um dardo de metros de
comprimento, batendo na madeira criaria problemas para os nervos dos defensores.
Ele virou-se rapidamente para Ingvar.

— Arme-o e carregue um dardo normal, Ingvar. Vamos dar-lhes algo para se


pensar enquanto estamos entrando.

Ingvar pareceu confuso por um momento, então ele concordou. Ele estendeu a
mão para as alavancas duplas e soltou o cabo de volta até que estalou no lugar. Em
seguida, ele posicionou um dardo no encaixe.

— Assim que eu atirar, carregue de novo — disse Hal.

Ingvar balançou a cabeça, em seguida, mudou-se para a alavanca de preparação


atrás da besta.

Hal inclinou-se sobre os locais de interesse. — Direita... direita. Um pouco a


esquerda. Mantenha. — O Mangler agora estava apontado no meio do balaustre

256 - Brotherband
Ele fixou-se no intervalo de um pouco mais de duzentos metros. Um esguicho
de água à frente do barco confirmou. Os defensores estavam atirando, mas o navio
ainda estava fora do alcance das setas.

Ele deixou o navio subir numa onda, observando a mira, alinhando-se


ligeiramente acima da marca de duzentos metros. Conforme a proa firmou por um
momento na crista da onda, ele puxou a corda do gatilho.

SLAM!

O Mangler corcoveou selvagemente e o dardo cortou a distância.


Instantaneamente, Ingvar saltou para a frente e rearmou a besta, deixando cair um
dardo no lugar. Então, ele estava de volta na alavanca posicionado como Hal indicou a
ele para trazer o Mangler de volta em linha.

Enquanto ele o fez, Hal estava enrolando a engrenagem de elevação, de forma


que o ponto alvo estava agora um pouco abaixo da marca de duzentos metros na sua
mira. Como antes, ele esperou até que o navio estabilizou momentaneamente, em
seguida, disparou.

SLAM!

Quando o segundo dardo riscou longe, ele viu o primeiro tiro acertar em uma
explosão de estilhaços na balaustrada, logo abaixo do topo do corrimão e à direita do
centro. Os defensores dispersos do lugar em pânico.

Então Ingvar recarregou e estava posicionando a arma mais uma vez como Hal
acabou na roda de elevação para trazer as vistas para baixo.

O dardo que ele tinha acabado de disparar acertou o alvo naquele momento e
viu outro ataque quebrando na balaustrada. Desta vez, uma grande parte do trilho
superior foi arrancado e saiu girando.

— Direita... esquerda um pouco. Mantenha...

SLAM!

Outro tiro. Ele verificou a distancia e viu que eles não tinham tempo para um
quarto. Mas a salva de três tiros rápidos tinham feito seu trabalho, causando pânico e
confusão na torre. Ele poderia até mesmo ver várias figuras correndo para baixo da
escada sob o plataforma.

— Acenda os dardos incendiarios, Edvin — ele pediu. Ele não tinha visto o
ataque dardo terceiro, mas ele pensou que tinha sido um bom tiro. Ele tinha certeza de
que tinha batido em algum lugar. Agora, os defensores estavam rastejando de volta
para suas posições. Uma flecha atingiu o posto proa, tremendo. Em seguida, mais duas

Os Invasores - 257
chacoalharam contra o casco. Ingvar rearmava o Mangler e uma flecha quase o havia
acertado.

— Thorn — Hal gritou. Imediatamente, o esfarrapado velho lobo do mar pulou


para pés atrás do posto proa. Ele tinha os dois escudos pronto, e como Hal observou,
Thorn realizou um dos feitos mais incríveis de habilidade e coordenação que o skirl
jovem nunca voltaria a ver. Anos mais tarde, rodeado de seus netos, ele iria falar sobre
isso em voz baixa com admiração.

Thorn começou a usar os dois escudos de metal para bloquear ou desviar setas
que sibilavam para o barco. Ele ignorou os tiros que estavam indo para longe,
concentrando-se naqueles que estavam em linha.

Mão esquerda. Mão direita. Esquerda. Esquerda. Direita.

Os dois escudos movidos como um borrão que ele pegou ou golpeando ou


desviando flechas em rápida sucessão. Era óbvio agora por que ele havia escolhido
usar os escudos menores. Ele nunca poderia ter movido um escudo grande, pesado,
com tal destreza e precisão. Sua coordenação motora e visual foi simplesmente
incrível. Sua visão era soberba. E suas reações eram como um raio. O ar estava cheio
com o barulho, chocalho e zumbido de flechas desviadas ou bloqueadas. Agora, vendo
isso, Hal começou a entender como esse homem tinha ganhado o título Maktig por
três anos consecutivos e por que ninguém tinha feito isso, antes ou depois.

— Ele é incrível — Lydia disse calmamente, ao lado dele. Ocupado como


estava, Thorn ouviu e teve tempo para responder.

— Esse incomodo arqueiro de camisa verde está de volta. Pare de estupidez,


garota, e cuide dele.

Tinido, zumbido, estrépido, batida. Mais flechas quatro foram desviados. Lydia,
incentivada pela brincadeira de Thorn, desenhou um dardo de sua aljava e carregou
seu atlatl. Protegido pelo mastro, ela procurou o arqueiro de camisa verde, vendo ele
aparecer em sua antiga posição, ao lado esquerdo da plataforma. Ele puxou, mirou,
atirou, em seguida, recuou em torno em cobertura da guarita.

Lydia começou a contar em voz alta.

— Um, dois, três, quatro.

Uma fração depois de "quatro", o arqueiro recuou de novo, levantou o arco,


atirou de novo, então voltou para cobertura.

— Um, dois — contou Lydia e na contagem de "dois", ela deu um passo


evidente do mastro, braço direito voltando, o seu pé esquerdo para a frente. Conforme
Thorn ligou a seta para o mar com seu escudo esquerdo, ela arremessou o dardo no
local onde o arqueiro havia estado, em um circulo, ação poderosa.
258 - Brotherband
—... três, quatro... — Ela continuou a contagem sem perder uma batida.

A medida que ela disse "quatro", o homem de camisa verde reapareceu, seta
encaixada, metade arco puxado.

E pisou em linha reta o dardo que ela tinha acabado de jogar caindo.

Ele levantou as mãos, o arco foi girando para longe e ele cambaleou e, em
seguida derrubado sobre o parapeito, atingindo o estrutura de suporte várias vezes
enquanto ele caia.

— Isso foi sensacional! — Hal gritou, com a voz embargada de emoção. O


resto da tripulação comemorou. Thorn continuou a desviar flechas na proa, mas ele
bradou sem tirar os olhos dos mísseis.

— Nada ruim. Disse que ela era um bom partido, não foi?

— Basta manter sua mente seu próprio trabalho, velho! — Lydia respondeu
bruscamente.

Thorn cacarejou com o riso.

Hal podia ouvir Edvin incrementando às pressas o que tinha acontecido a


Ingvar, suas palavras tropeçando em sua excitação. Ingvar finalmente colocou a mão
em seu ombro.

— Diga-me mais tarde. Imagino que ela fez bem.

Já estava na hora. Hal virou-se e levantou a mão para Ulf e Wulf.

— Solte as velas!

Eles lançam as velas soltas, deixando a vela voar livre. Enquanto o vento
trasbordava sobre a vela, Garça-Real começou a desacelerar. Ingvar e Edvin não
precisava de ordens. Edvin tinha o primeiro a queima de dardos de fogo e pronto.
Colocou-na calha na parte superior do Mangler, a posição da ranhura para a corda do
arco. Ingvar assumiu o controle da alavanca de preparação mais uma vez.

— Desça, Thorn — Hal chamou. Ele alinhou-se à vista, definindo seu ponto de
mira entre a marca de cem e cento e cinquenta.

— Vir para a esquerda. Vir para a esquerda. Esquerda um pouco mais.


Mantenha...

Ele podia ver a junção das três vigas em sua mira agora. Garça-Real ergueu-se
em uma onda e emaranhou a roda de elevação abaixo, mantendo-se a previsão
constante no ponto em que as três vigas se encontram. Uma flecha bateu no convés

Os Invasores - 259
perto de seu pé. Ele fez uma nota mental de que a taxa de retorno de tiros, e sua
precisão, parecia ter diminuído desde Lydia havia apanhado o arqueiro de camisa
verde. Ele supôs que nenhum dos companheiros do homem caído estavam dispostos a
mostrar-se acima do parapeito por muito tempo.

— Um pouco direita — disse ele. Ingvar moveu-o para a direita. Os ajustes


foram feitos. Ele puxou a corda.

SLAM!

O momento em que o dardo disparou para longe, ele sabia que ele havia errado
o alvo. Ele não havia deixado o pequeno atraso suficiente entre puxar a corda soltar a
besta. A trilha de fumaça cinza fina chiou através do ar, passando apenas sob o ponto
de intersecção das três vigas.

Houve um gemido de desapontamento da tripulação. Já, Ingvar tinha saltado


para a frente e levantou as alavancas de armar novamente, redefinindo o arco para
outro tiro. Edvin, de joelhos ao lado do proa, estendeu a mão e colocou o segundo
dardo incêndiario no cocho. Tufos de fumaça subiu a partir dele, e vapor chiou da
madeira molhada da proa.

— Erramos — disse Hal, para benefício de Ingvar.

O menino grande resmungou. — Acerte-o desta vez.

Hal inclinou-se para mirar. Ele franziu a testa. A proa estava caindo para
estibordo quando o navio tentou virar-se contra o vento.

— Stig! — Hal chamou. — Mantenha-a em linha reta, pelo amor de Deus!

Ele ouviu Stefan repetir a ordem, ouvindo Stig bradar uma ordem para Wulf.
Houve um chocalho de madeira em madeira enquanto Wulf colocou um remo na
cavilha, correu para fora e apoiou na água várias vezes. A proa balançou para trás,
longe do vento.

Hal enrolou a roda elevação novamente, observando a visão aumentando após o


alvo. Ele estava um pouco fora de linha.

— Direita... direita... pare!

Ele aspirou profundamente. Raciocinou que os três tiros de fogo rápido,


direcionados a um alvo muito maior, afetou o seu ritmo. Ele não precisava da mesma
precisão. Se forçou a concentrar ferozmente. A proa afundou, em seguida, começou a
subir novamente.

260 - Brotherband
Atrás dele, ele ouviu um grito agudo de dor. Ingvar, ele percebeu, com um
sentido de choque. Em seguida, as tábuas do convés vibravam sob os seus pés
enquanto o grande garoto cambaleou e caiu.

Ele girou, viu Ingvar contorcendo-se no convés, agarrando-se a uma flecha que
estava saindo de seu lado esquerdo, perto do quadril.

— Ingvar foi atingido! — Hal ouviu o grito angustiado de Edvin e começou a


subir, depois parou quando ouviu Stig ordenar Stefan cuidar do gigante caído. Hal
estava dividido entre sua preocupação com Ingvar e da necessidade de obter o último
tiro de distância, enquanto o Mangler ainda estava mais ou menos em linha. Sem
Ingvar, ele não teria a chance de recarregar para um segundo tiro. Deliberadamente,
ele forçou a imagem do menino ferido de sua mente, odiando-se enquanto o fazia. Ele
gritou para Thorn.

— Thorn! Pegue a alavanca de preparação!

O velho lobo do mar assentiu e pulou para baixo de sua posição na proa,
movendo-se rapidamente para assumir o controle da alavanca de preparação. Mais
uma vez a imagem do corpo de Ingvar se contorcendo veio à mente de Hal e
novamente ele empurrou-a para longe. Ele podia ouvir Stefan falando com ele,
raciocinou que Ingvar ainda deveria estar consciente. E isso significava que ele ainda
estava vivo - até o momento.

Thorn pareceu sentir a tortura na mente de Hal.

— Stefan está com ele. Vamos em frente com nosso próprio trabalho — disse
ele asperamente.

Hal assentiu, percebendo que seu velho amigo estava certo. Ele inclinou-se para
observar de novo.

— Direita... direita... um pouco mais... constante.

O Mangler estava de volta na linha. Ele observou a vista cair abaixo do alvo,
sentiu o baque suave através do casco quando o navio atravessava entre as ondas.

Tome seu tempo, ele pensou. Não se apresse. Faça a contagem. Faça certo em
prol do Ingvar .

Então a proa estava subindo, e a visão estava chegando ao alvo. Ele enrolou a
roda elevador para baixo até que a visão cordão era uma fração abaixo da junção das
vigas, em seguida, puxou a arrida.

Uma breve pausa, então... SLAM!

Os Invasores - 261
Conforme a enorme besta lançou o dardo de fogo saltou longe, ele viu que a
visão tinha morrido no alvo.

Ele assistiu a trilha fina de fumaça cinza curva em todo o espaço intermediário,
viu o dardo bater na casa, diretamente para o feixe diagonal, um pouco à direita do
ponto de junção, e alojar lá. Um segundo depois, ele viu um clarão brilhante de
chamas.

— Liberar vela! — Gritou. — Tirem-nos daqui!

Ulf e Wulf puxaram a vela novamente e o vento começou a alimentar o navio


mais uma vez. Stig soltou no leme e a proa girou para longe da torre, através da boca
do porto, e, finalmente, voltou para o mar.

Uma salva final de três setas desfiou os escudos ao longo do baluarte. Em


seguida, eles estavam fora de alcance.

Na plataforma da torre, o comandante viu os últimos dois projéteis voar baixo.


Por um momento, pensou que tinha perdido ambas, então ele sentiu o baque da
segunda casa notável em algum lugar na estrutura.

Ainda assim, não poderia prejudicá-los lá em baixo, ele pensou. Os três


disparos rápidos que os precederam tinha sido uma questão completamente diferente.
Eles causando estragos na plataforma, quebrando e estilhaçando os trilhos e cortando
cinco de seus homens.

— Gaurdem suas flechas — ele bradou. O pequeno puro navio encheu a vela
mais uma vez, virou-se e voltou para o mar.

Ele estudou a balaustrada, tendo os buracos irregulares e rendimentos longos


que tinham sido separados da madeira macia. Ela não tinha sido construída para tomar
tal uma surra. Quando o navio se virou de novo, como ele sabia que seria, ele mudou
seus homens dentro da sala de guarda, e têm a maioria deles deitados. Ele deixaria
alguns arqueiros fora na ...

Ele parou, farejando o ar. Ele podia sentir o cheiro de fumaça de madeira.

Com um sentimento de crescente preocupação, ele se inclinou sobre a


balaustrada quebrado, olhando para baixo, para o quadro de apoio de madeira. Dez
metros abaixo da plataforma, as chamas começaram a lamber a madeira. Quando o
calor causou a resina vazariam lentamente do grão, eles chamejou e alimentou as
chamas, de modo que eles queimaram mais ferozmente.

Ele tinha visto o destino da torre de vigia outro. Todos eles tinham. O pinheiro
seco queimou ferozmente e não tinham forma de extingui-lo. Agora, as madeiras de
suporte abaixo dele estavam em chamas e ele sabia que era apenas uma questão de

262 - Brotherband
tempo antes que a guarita e plataforma cairia chão abaixo. Ele se virou para seus
homens e gritou um aviso.

— A torre está pegando fogo!

Ele olhou em volta desesperadamente, e viu um movimento na toupeira porto


oposto. Havia um grande grupo de escandinavos concentrando lá, na extremidade da
lança. Enquanto observava, um deles abaixou-se sobre o tronco enorme e começou a
aparar o seu caminho através de, movendo-se mais rápido enquanto ele ganhava
confiança.

Outro seguiu. Em seguida, outro.

— Saiam daqui! — O comandante gritou. — Desça antes que desmorone coisa


toda.

E, depois de ter soado o alarme, ele liderou a corrida até a escada.

Os Invasores - 263
Capítulo trinta e seis

A
ssim que eles estavam fora da faixa, Hal deu a ordem para a hasteamento. Ulf
e Wulf deixaram as escotas voar enquanto Stig trouxe o navio contra o vento.

Hal saltou do banco do Mangler. O grupo em questão foi agrupado em


torno da figura de Ingvar, de bruços.

— Edvin! — Hal gritou. — Vá buscar o estojo de curandeiro.

— Já estou aqui — a voz calma de Edvin respondeu, bem atrás dele. Durante o
treinamento do brotherband, um membro de cada equipe havia sido nomeado para
treinar como um curandeiro de emergência, aprender sobre as várias ervas e poções
que aliviam a dor, lutam com a infecção e facilitam a cicatrização. Edvin tinha sido o
candidato do Garças para esta tarefa.

— Dê-me algum espaço — Edvin ordenou, empurrando para se ajoelhar ao


lado de Ingvar. O grupo em torno deles embaralhou alguns passos para trás.

A flecha tinha atingido Ingvar na parte carnuda de seu corpo acima de seu
quadril direito e tinha passado através de modo que o fim se projetava farpado na
parte de trás. O ferimento de saída estava sangrando muito e o convés estava
manchado com o sangue de Ingvar. Stefan não tinha certeza do que fazer. Ele tinha
relaxado Ingvar mais para o lado esquerdo, onde estava deitado, de olhos fechados
apertado, tentando não gemer de dor.

Edvin avaliou a situação.

— Não é possível retirar — disse ele. — Eu vou ter que quebrá-lo fora e
empurrá-lo completamente.

Hal assentiu. Se Edvin tentasse retirar a flecha, a cabeça farpada iria agarrar e
rasgar Ingvar terrivelmente. Melhor deixá-lo suportar um breve momento de dor e
tirá-lo.

— Faça isso — disse ele.

Edvin agarrou a haste da flecha abaixo do final de penas, a poucos centímetros


do corpo de Ingvar. Ele tomou-a em sua mão direita para evitar o máximo de
movimento possível, então, rapidamente quebrou-a inteiramente com a esquerda. Ele
segurou a flecha tão firmemente como pôde, mas algum movimento era inevitável e
Ingvar gritou com a dor, tentando sentar-se.
264 - Brotherband
— Segure-o para baixo — Edvin disse a Wulf. Mas Wulf agarrou os ombros de
Edvin.

— Você está machucando! Pare com isso! Você deveria ajudá-lo — ele gritou.

Edvin olhou para ele, depois para Hal. Hal podia ver o início de pânico em seus
olhos. Foi tudo muito bem para praticar em feridas simuladas, mas para trabalhar em
um companheiro de bordo que estava se contorcendo de dor foi uma questão
completamente diferente. E isso certamente não ajudou à sua concentração ter Wulf
gritando objeções à maneira como ele estava tratando Ingvar.

— Cale-se, Wulf — Thorn rompeu, por trás de Hal. — Edvin está fazendo o
que tem que fazer. E ele está fazendo um bom trabalho. Enquanto você está
guinchando e gritando, está impedindo-o de ajudar Ingvar. Agora mantenha Ingvar
imóvel.

As palavras pareciam tranquilizar Edvin, e Hal viu a pequena luz de pânico em


seus olhos diminuir. Ele acenou com a cabeça encorajando o curador.

Wulf baixou os olhos. — Desculpe — ele murmurou. — Vá em frente. — Ele


inclinou-se e colocou as mãos sobre os ombros de Ingvar para mantê-lo quieto.

Edvin inclinou próximo a Ingvar. — Isso vai doer — disse ele calmamente. —
Eu sinto muito. Mas eu vou ser tão rápido quanto eu puder.

Ingvar balançou a cabeça, os dentes cerrados e os olhos fechados.

— Apenas faça — disse ele. — Eu estou pronto.

Edvin respirou fundo, pegou o eixo ensanguentado abaixo da cabeça da seta e


puxou, em um movimento longo e firme. Ficou surpreso com a quantidade de
resistência que teve de superar, mas a haste da flecha deslizou pela ferida e saiu pelo
outro lado. Ingvar soltou um grito longo, estremecendo de dor. Então, conforme a
flecha foi retirada, ele ficou em silêncio.

— Obrigado — ele disse em voz baixa, depois de alguns segundos. Sangue


jorrou ainda mais profusamente para fora da entrada e dos orifícios de saída. Era
vermelho brilhante, não de cor escura, e Edvin esperava que significava que a flecha
não tinha rasgado através de qualquer dos órgãos internos, mas agora que a seta não
estava impedindo seu fluxo, houve uma enorme quantidade dele. Edvin tomou uma
bandagem de linho e apertou-a contra o ferimento, tentando conter o fluxo de sangue.
A bandagem rapidamente ficou vermelha. Wulf, pálido, soltou Ingvar e se afastou.

Edvin curvou para falar com Ingvar novamente. — Eu tenho que limpar a ferida
tanto quanto eu puder, para parar a infecção de se alastrar dentro. Eu sinto muito, mas
eu vou ter que te machucar de novo.

Os Invasores - 265
Gotas de suor se destacaram no rosto de Ingvar. — Não fale sobre isso — disse
ele. — Faça-o o mais rápido possível.

Edvin levou uma sonda fina de metal do kit do curandeiro e envolveu um pano
de linho limpo em torno dele. Então ele encharcou o pano liberalmente com uma
pomada de um dos frascos do kit.

— Isto irá limpar a ferida — disse ele. — Mas eu tenho que trabalhar isso
dentro da própria ferida. Não é bom apenas limpá-lo em cada extremidade. — Ele
lambuzou mais pasta de outro jarro para o pano na ponta da sonda. — É um
analgésico. Ele vai anestesiar a ferida, enquanto eu limpo. — Ele olhou desculpando-
se para Ingvar. — Embora não completamente, eu tenho medo. Ele ainda vai doer.

— Basta ir em frente! — Ingvar disse a ele, com um flash de raiva.

Hal ajoelhou ao lado de Ingvar e segurou sua mão. — Firme, Ingvar. Edvin está
fazendo tudo o que pode.

Ingvar olhou para ele, e Hal, vendo a preocupação em seus olhos, percebeu que
a provação de espera para a dor era provavelmente pior do que a própria dor.

— Basta dizer-lhe para parar de falar sobre isso — disse Ingvar.

Hal olhou para Edvin. — Você pode muito bem ir em frente.

Edvin assentiu. Ele fez uma pausa, respirou fundo várias vezes, em seguida,
colocou os dedos de sua mão esquerda no orifício de entrada, separando as bordas
enquanto ele deslizava a sonda para a abertura.

Hal sentiu o estômago revirar e desviou o olhar rapidamente. Seu olhar viajou
ao redor do círculo de rostos pálidos e preocupados.

— Voltem para suas posições! Em pé ao redor curiosos não está ajudando —


ordenou. Os espectadores, um pouco envergonhados, arrastaram-se para longe. Hal
encontrou os olhos de Ingvar, mais uma vez, vendo a dor refletida neles. Os lábios de
Ingvar moveram. O skirl jovem inclinou-se para ouvir o que ele estava tentando dizer.

— Desculpe, Hal — Ingvar sussurrou, lutando contra a dor que queimava


através de seu corpo. Os olhos de Hal embaçaram quando ele pegou a mão de seu
amigo.

— Eu sou o único que deveria pedir desculpas — disse ele. — Eu esperei muito
tempo para atirar.

Ingvar balançou a cabeça, e mesmo este pequeno movimento fez sua testa
enrugar com a dor.

266 - Brotherband
— Você tinha que ter certeza — disse ele. Então, seus olhos fecharam, como se
o esforço de falar tivesse sido demais para ele, e ele escapuliu - inconsciente ou
dormindo. Sua respiração era curta e irregular e ele jogou a cabeça de um lado para o
outro, murmurando incoerentemente. Hal gentilmente soltou sua mão e olhou para
Edvin.

— Será que ele vai ficar bem? — Perguntou.

Edvin hesitou, olhando rapidamente para ver se Ingvar estava consciente


novamente. Ele não disse nada por alguns minutos. Enquanto Hal e Ingvar estavam
falando, ele havia embalado a entrada e saída das feridas com lençóis limpos e estava
enrolando uma atadura em volta do corpo de Ingvar para segurar os chumaços no
lugar. Quando terminou, ele se levantou e chamou Hal para o lado, onde Ingvar não
poderia ouvi-lo.

— Eu não sei exatamente, Hal. Eu limpei a ferida, assim como eu pude e o


enfaixei. Isso está parando o fluxo de sangue muito bem. Mas ele perdeu uma enorme
quantidade de sangue e deve tê-lo enfraquecido.

— Há mais alguma coisa que podemos fazer por ele?

Edvin respondeu com um gesto incerto. — Eu estou fazendo tudo que posso.
Mas eu não sei se é o suficiente. Eu só tive a formação de algumas semanas, você
sabe.

As últimas palavras foram adicionadas quase defensivamente. Hal estendeu a


mão e tocou o braço do outro garoto. Ele percebeu o peso da responsabilidade que
Edvin devia estar sentindo.

— Eu sei — disse ele. — Você está indo bem.

Ele desejava que sua voz pudesse ter passado mais convicção. Ele se deu conta
de outra figura ao lado deles. Com o navio não mais em movimento, Stig tinha
amarrado o leme e veio para a frente se juntar a eles. Ele olhou para Ingvar deitado de
bruços, tendo o rosto anormalmente pálido.

— Será que ele vai ficar bem?

Hal balançou a cabeça, hesitante. — Ele está dormindo. A seta atravessou e


Edvin conseguiu tirá-la. Ele está limpo e a ferida enfaixada. Tudo o que podemos
fazer agora é deixar Ingvar descansar. — Ele deu de ombros. — Pergunte-nos
novamente em doze horas.

Stig assentiu. — Em doze horas, nenhum de nós pode estar por perto.

— Isso é verdade.

Os Invasores - 267
— Então, o que vamos fazer agora? — Stig perguntou.

Hal olhou para longe. Verdade seja dita, ele não tinha idéia. Eles ainda tinham
de atacar o portão praia e tornar a bexiga de óleo em fogo. Mas com Ingvar fora de
ação, ele não tinha idéia de como ir sobre ele. Nenhum dos outros membros da
tripulação teve a força para carregar a besta gigante. Thorn poderia ter conseguido
isso, mas era uma tarefa à duas mãos e a mão artificial era um ponto fraco. As alças de
retenção em seu gancho de madeira não teriam a tensão ao lançar de volta no punho
torçido.

— Hal? — Stig disse.

Hal virou para ele com raiva. — Eu não sei! — Disse. — Deixe-me pensar por
um minuto!

Ele se mudou para o corrimão. Stig passou a se mover atrás dele, então pensou
melhor. Hal agarrou o corrimão, as mãos abrindo e fechando. Ele olhou cegamente
para a água ao seu redor, mas ele viu apenas a forma inconsciente de Ingvar, deitado
no convés.

Ele tornou-se consciente de que alguém havia se mudado para ficar ao lado
dele.

— A sua tripulação está esperando por ordens — Thorn disse calmamente. Hal
continuou a olhar para o mar.

— Minhas ordens? — Disse ele amargamente. — Minhas ordens podem muito


bem ter matado Ingvar.

— No entanto, aqui parado sentindo pena de si mesmo não vai ajudá-lo. — A


voz de Thorn foi tranquila e sem emoção. Hal se virou para ele.

— Como você pode ser tão frio sobre isso? — questionou. — É de Ingvar que
estamos falando - do grande, fiel Ingvar, que faria qualquer coisa que eu pedisse a ele.

Thorn encontrou seus olhos com um olhar firme. — Isto é uma guerra, Hal.
Você pensa seriamente que poderia passar por uma batalha sem alguém ser ferido ou
até mesmo morto?

Hal ia falar, olhou, e disse em voz baixa: — Eu não pensei sobre isso

— Isso não é treinamento do brotherband, onde você pode obter algumas


contusões ou arranhões. Esta é a coisa real. As pessoas se machucam. Elas morrem. E
se você for o líder, às vezes acontece, porque eles fazem o que lhes disser para fazer.
Você tem que enfrentar isso.

Hal abanou a cabeça com veemência. — Eu não quero enfrentar.

268 - Brotherband
— Você tem. — A voz de Thorn era baixa, mas insistente. — Se você
simplesmente desistir agora, Ingvar terá sido ferido, talvez morto, sem uma boa razão.
— Ele parou por alguns segundos para deixar aquele pensamento afundar. Então ele
continuou.

— Você é um pensador, Hal. Um planejador. E às vezes no campo de batalha,


um plano pode dar errado. Então você tem que repensar e replanejar. Temos que
atacar o portão e você tem que repensar o seu plano para fazê-lo. Agora vá em frente.

Hal voltou-se então para olhar para ele de novo. Viu determinação no rosto de
Thorn. E incentivo. Ele não viu nenhum vestígio de condenação. Ele respirou
profundamente.

— Tudo bem. Dê-me um minuto ou dois.

Thorn assentiu, satisfeito. Hal agarrou o corrimão de novo, pensando através


dos recursos que tinha à sua disposição. Nenhuma pessoa pode carregar o Mangler
com Ingvar ferido. Stig e Thorn eram os próximos dois membros mais fortes da
tripulação, mas ele precisava de Stig no leme e braço falso de Thorn era suspeito.

Ulf e Wulf, decidiu e, como ele tinha pensamento, sentiu um senso de propósito
renovado. Afastou-se da grade e percebeu que cada membro da tripulação estava
olhando para ele, à espera de suas ordens.

— Aproximem-se — disse ele, chamando-os em um meio círculo. — Mudança


de planos. Ulf e Wulf, vocês vão ter que armar o Mangler, tudo bem?

Os gêmeos assentiram e ele apontou para a arma maciça.

— Vamos ver o que vocês fazem — ele disse. Todos moveram para frente e os
gémeos tomaram a posição de ambos os lados do arco. Ele tinha meia espectativa que
eles discutiriam sobre quem tomaria que lado. Para sua surpresa, eles não fizeram.
Cada um deles pegou um punho armando em um aperto de duas mãos. Eles olharam
um para o outro e, com uma comunicação não-verbal, ambos ergueram de volta as
alavancas juntos, grunhindo com o esforço. A corda estalou no lugar sobre a sua trava
de retenção.

Ulf olhou para o irmão, em seguida, para a forma imóvel de Ingvar. — Como
ele conseguiu isso sozinho? — questionou.

— Eu estava pensando a mesma coisa — disse Wulf, encolhendo os ombros.

— Bom trabalho — disse Hal. — Eu quero que vocês juntem seus escudos
sobre os seus ombros quando estiverem fazendo isso. Vai lhes dar alguma proteção
contra quaisquer arqueiros em terra. Thorn, você vai ter que assumir a pontaria da
alavanca.

Os Invasores - 269
Thorn assentiu e Hal continuou rapidamente.

— Jesper. Você fica com o levantar e abaixar das velas. Pegue um dos
Limmatans para ajudá-lo.

— Sim, skirl — Jesper respondeu.

Um dos quatro Limmatans avançou e levantou uma mão. Ele era um homem
bem construído, musculoso.

— Eu posso fazer isso, capitão — disse ele.

Hal assentiu brevemente para ele, depois desviou o olhar para Stefan. — Stefan,
você pode aparar as velas?

Stefan respondeu sem qualquer hesitação, — Sim, Hal.

— Pegue um dos Limmatans para ajudá-lo também — Hal continuou. — Stig,


você está no leme, é claro.

— Certo — disse Stig.

— Edvin, deixe Ingvar o mais confortável possível. Então você vai se


encarregar de colocar os dardos de fogo.

— Eu vou colocar alguns colchonetes e escudos em torno dele para protegê-lo


— disse Edvin, e Hal assentiu agradecido.

— Boa idéia. — Ele hesitou, perguntando se tinha esquecido alguma coisa,


então se viu diante de Lydia.

— Lydia, com Thorn ajustando o Mangler para mim, irei depender de você para
manter todos os arqueiros ocupados.

— Isso não será um problema — disse ela.

Thorn soltou uma gargalhada. — Não devia pensar assim! — Disse. — Ela é
um habitual terror com os dardos cheio dela.

Lydia olhou para ele friamente. — Você faz o seu trabalho, meu velho — disse
ela. — Eu vou cuidar do meu afinal de contas.

Thorn riu de novo, e ela balançou a cabeça, desviando o olhar para verificar os
dardos restantes em sua aljava.

Hal olhou ao redor do navio. Ele não conseguia pensar em mais nada a dizer.
Olhou mais uma vez para Ingvar, na esperança de ver os olhos do menino grande
abertos. Mas ele ainda estava inconsciente, respirando irregularmente, estremecendo
270 - Brotherband
de vez em quando, quando a dor rompeu a barreira de analgésicos que lhe tinha sido
dada.

Relutantemente, ele desviou o seu olhar. Você vai ter que esquecê-lo por
enquanto, ele pensou. Então bateu palmas de forma decisiva.

— Certo! Vamos a caminho. Temos uma porta para queimar!

Eles correram para seus novos postos. Stefan e um dos Limmatans puxaram a
vela interna, de modo que ela endureceu com o vento. Stig soltou no leme e o Garça-
Real começou a se mover mais uma vez, cortando a água enquanto se dirigiam para o
portão da praia, mergulhando para cima e sobre cada onda sucessiva.

Hal deu um último olhar para as duas torres de vigia. A guarita e plataforma na
torre ocidental tinham desmoronado em uma chuva de faíscas e chamas. A armação
de apoio ainda estava praticamente intacta, mas agora não havia nada em cima dela.

No lado oriental, era uma história diferente. O fogo tomou conta e tinha
queimado através da estrutura de apoio, no ponto onde o dardo de Hal tinha atingido
ele. A plataforma superior agora se inclinou loucamente para um lado conforme o
canto da estrutura cedia. Era como se um vento forte enviasse a coisa toda num salto.
No chão, abaixo, ele podia ver homens lutando, e outros correndo ao longo da frente
do porto em direção à cidade.

Svengal e seus homens tinham atravessado a barragem, Hal pensava. O ataque


estava indo bem.

Agora era a hora de dar-lhes uma mão.

Hal estava ao lado Stig quando eles fizeram a curta viagem até o portão da
praia. Então ele foi para frente para tomar o seu lugar atrás do Mangler. Ele podia ver
os homens na paliçada acima do portão. Ocasionalmente, o sol brilhava suas armas e
armaduras. Mas havia apenas um punhado de homens visíveis. O maior número dos
piratas estava parado nas torres de vigia, e eles foram recuando agora para baixo do
cais, perseguidos por Svengal e seus Escandinavos. Outros defensores haviam sido
retirados por homens de Barat quando eles subiram na paliçada e para a cidade. O
número dos invasores estava sendo espalhado pelos múltiplos pontos de ataque e
havia poucos e preciosos disponíveis para defender a praia e seu portão, que estava
em grande parte esquecido na confusão da tarde.

Dois dos defensores tinham arcos e começaram a atirar, enviando setas


assobiando na água e fazendo barulho contra o poste, a proa e escudos mais uma vez.
Eles não eram muito bons em tiros, mas um deles pode ter sorte e Hal não podia pagar
mais baixa qualquer.

— Lydia? — Disse. — Você pode cuidar deles?

Os Invasores - 271
Ela assentiu com a cabeça enquanto estudou a situação com os olhos apertados.
Os atiradores não estavam preocupados em se esconder. Até agora, eles não tinham
experimentado nenhum tiro de retorno do navio e estavam um pouco arrogantes, ela
pensou. Ocorreu-lhe que provavelmente não tinham testemunhado o ataque do Garça-
Real sobre as torres de vigia e não tinham idéia do perigo que estavam correndo.

Ela escolheu um dardo, verificando para ver quantos lhe restavam. Ela havia
feito extras para o combate de hoje e agora ela tinha dezesseis sobrando. Ela ajustou o
dardo ao atlatl, caminhou completamente do mastro, avistou e atirou. Assim que o
dardo estava a caminho, ela escorregou um segundo de sua alijava, virou-o para o
atirador e mandou chicoteando após o primeiro.

A vantagem do atlatl é que era difícil ver o que o atirador estava fazendo. Um
arqueiro era mais evidente, já que o arco pode ser visto claramente. Mas os dardos
fino e relativamente pequeno alavanca atirando não poderia ser facilmente distinguido
de à distância. O primeiro dos Magyarans sabia sobre isso, um de seus arqueiros ia
cambaleando para trás do parapeito de madeira, paralisado por um dardo afiado que
parecia vir do nada. Alguns segundos depois, seu companheiro arqueiro sofreu o
mesmo destino. Os homens ao seu redor apressadamente abaixou abaixo do parapeito,
fora da vista.

Hal estava estudando o portão e notou com alívio que a bexiga de óleo saliente
ainda estava em posição. O pensamento de que ela poderia ter sido descoberta e
removida tinha atormentado sua mente todos os dias.

— Pegue um dos dardos de fogo prontos, Edvin — disse ele. Agora que Ingvar
estava tranquilo, Edvin havia retornado para sua posição no Mangler. Ele ocupou-se
com o barril de pólvora, e em um minuto ou menos Hal podia sentir o cheiro da
fumaça acre da cabeça de fogo ardente.

O Mangler já estava armado. Edvin embebeu a parte da frente do arco, mais


uma vez, em seguida, colocando o dardo latente na ranhura de carregamento. As
chamas chiaram contra a madeira úmida, enviando um punhado de vapor no ar.

Hal franziu o cenho quando olhou para as vistas. Apesar do Garça-Real estar
parado, ele estava subindo e descendo suavemente sobre as ondas. Pela primeira vez,
ele percebeu o quão pequeno o alvo oleado era. Era uma bexiga de porco simples,
cheio de óleo e era consideravelmente menor que os alvos de metros quadrados que
haviam praticado antes. Ele franziu o cenho, perguntando se poderia atingi-lo.

— Uma maneira de descobrir — disse ele. Ele se inclinou para frente, com a
intenção de avistar a imagem. Thorn estava pronto com a alavanca de pontaria.

— Esquerda... Esquerda... à esquerda um pouco... mantenha...

272 - Brotherband
Ele esperou que a proa se levantasse sobre as ondas, tendo a previsão com eles.
Pouco antes de chegarem ao topo da subida e armada no oleado, ele puxou a corda.

SLAM!

Ele sentou-se, observando a trilha agora familiar de fumaça cinza. O tiro


parecia bom, mas ele estava fora cerca de meio metro para a esquerda.

Ele franziu a testa. Ele tinha apenas dois dardos de fogo sobrando. Ele
tamborilou os dedos nervosamente sobre o transporte da besta, pensando
furiosamente. Eles tinham que chegar mais perto. Mas a qualquer minuto, os arqueiros
Magyarans poderiam encontrar mais arqueiros para os homens da paliçada. Lydia o
tocou de leve no braço e ele olhou para ela.

— Bem — ela disse, — agora que vi que você pode realmente atingir o
equivalente a uma porta de celeiro com essa besta que mata, eu poderia fazer uma
sugestão?

— Por favor, vá em frente — disse ele. Ela tirou outro dardo de sua aljava e
fixou o final de volta para o gancho em seu atlatl.

— Por que eu não acerto o óleo para você? O óleo irá jorrar e tudo que você
tem a fazer é bater na porta em algum lugar abaixo dela. Até mesmo você deve ser
capaz de fazer isso. — Ela acrescentou a última com mais que o indício de um sorriso.

Ele considerou a ideia. Todo esse tempo, ele estava pensando que ele teria que
bater o oleado com um projétil ardente. Mas ela estava certa. Se ela perfurá-lo e o óleo
escorrer para baixo do portão, um dardo de fogo em qualquer lugar iria colocá-lo em
chamas. Ele fez um gesto em direção ao portão distante.

— Vá em frente. Basta esperar até eu lhe dar a ordem — disse ele. Ela sorriu
brevemente para ele. Ele se virou para os gêmeos e Edvin.

— Coloquem outro dardo de fogo — disse ele.

Uma vez mais, Ulf e Wulf lutaram com as alavancas de armar para ajustar a
corda. Edvin colocou outro latente dardo de fogo na ranhura. Em seguida, dirigindo
Thorn a alavanca de pontaria, Hal alinhou o Mangler no portão abaixo do oleado. Ele
inclinou-se para trás e olhou para a garota magra, de pé pronta com o dardo na mão.

— Agora — ele disse. Ela assentiu com a cabeça, e seu braço foi para trás, em
seguida, para a frente. O dardo partiu. Ele perdeu de vista contra o céu e olhou ao
invés para a bexiga de óleo pendurada perto do topo do portão.

Ele viu o dardo quase imediatamente quando dobrava e perfurava a bexiga. Um


jato de óleo começou correndo para fora para baixo do portão. Ele podia ver a mancha
escura contra a madeira resistente cinza.
Os Invasores - 273
— Droga. Eu esperava a partir ao meio — Lydia murmurou, estendendo a mão
para um dardo segundo. Como Hal inclinou-se e ajustou suas vistas, ela preparou para
um segundo lance.

SLAM!

O dardo de fogo se arqueou à distância, batendo na porta abaixo da bexiga de


óleo, mas apenas em um dos lados do fluxo de óleo que escorria abaixo da madeira.
Lydia lançou novamente, grunhindo com o esforço extra neste momento. Novamente,
Hal perdeu de vista o dardo enquanto voava e preferiu se concentrar na porta. Ele viu
um lampejo de movimento quando o dardo se chocou contra o oleado. A bexiga,
enfraquecida agora em dois lugares, rompeu completamente entre os dois pontos e o
resto do óleo derramou em uma inundação, atingindo o dardo ardente fixado na
madeira e nos secos gravetos abaixo.

Houve uma breve pausa, em seguida, uma folha de fogo tomou conta do portão.

274 - Brotherband
Capítulo trinta e sete

B
arat levou seus homens em uma corrida constante através das labirínticas e
tortas ruelas em direção ao centro da cidade.

Meia dúzia de fugitivos que tinham feito o seu caminho para os


pântanos nos últimos dias havia informado que Zavac e seus capangas tinham tomado
toda a casa contagem, um amplo edifício, de dois andares que ocupava mais de um
lado da praça da cidade.

Barat e sua força estavam na parte mais antiga da cidade, onde as ruas eram
sinuosas e aleatórias, sem qualquer aparência de lógica ou ordem. Já por duas vezes
que tinha acabado com a resistência, em pontos onde a Magyarans tinha atirado às
pressas barricadas em rua estreita e tentou lançar seus atacantes volta.

Mas os atacantes Limmatan tinha uma vantagem significativa sobre os


Magyarans. Eles nasceram e cresceram nesta cidade e sabiam as ruas laterais e becos
intrincados como as costas das suas mãos. Como eles veio para cada barricada, os
partidos se separaram para os seguintes, becos e caminhos tortuosos para a esquerda e
para a direita para estreitar que às vezes os seu ombro raspando nas paredes dos
edifícios de cada lado. Em seguida, eles emergem atrás da barricada, tendo os
Magyarans surpreendeu na parte traseira, enquanto Barat e o resto da força agredido
los a partir da frente.

Com cada um desses encontros, os números dos piratas encolheu como os


defensores foram dispersos. Alguns conseguiram retirar-se para a próxima posição
defensiva, mas outros giraram seus calcanhares, abandonando a luta e busca de
esconderijos nas caves e sótãos das casas.

Na casa de Contagem, Zavac olhou para cima como mais um mensageiro


chegou, desta vez a partir do leste portão.

— Precisamos de mais homens! — ele gritou. — Esse navio navegou ao redor


da praia, e eles atearam fogo ao portão.

Zavac soltou uma maldição. O estranho, o navio aparentemente inofensivo,


com uma tripulação de menos de uma dúzia de homens, tinha agredido os dois pontos
fortes torre em fumegantes destroços com algum tipo de arma infernal montado em
seu arco.

Zavac olhou para o homem. — Quem está no comando da paliçada?

Os Invasores - 275
— Petrac — o mensageiro disse a ele. — Ele diz que precisamos de mais
homens. Particularmente arqueiros, como muitos como você pode poupar. Ele está
convencido de que vai ser atacar em breve.

Zavac pensou furiosamente. Relatórios tinham vindo para a casa contando


sobre a última hora, e enquanto ouviu este último, ele percebeu o quão sério ele havia
subestimado a ameaça à sua posição.

Com as torres reduzidas a destroços fumegantes, um grupo de escandinavos


surgiu a partir dos pântanos, atravessou a lança e estavam pressionando duro do lado
do porto da cidade. A força Limmatan teve invadiram o leste da paliçada sem
oposição, enquanto que ele havia enviado homens para lidar com atraso com os
escandinavos.

Agora ele estava sendo espremido entre as duas forças, e parecia que uma
terceira estava se preparando para se juntar ao batalha.

A maioria dos mortos na luta para as torres eram da tripulação do Stingray. Mas
seis de seus próprios homens sido perdidos também. Ele enviou uma dúzia de volta ao
Corvo para se certificar de que a embarcação estava segura. O resto deles estavam
reunidos aqui na casa de contagem, enquanto as tripulações do Viper e Stingray
combatiam com uma série de ações defensivas frente ao porto e na própria cidade.

Finalmente, ele apareceu para chegar a uma decisão. Ele balançou a cabeça
várias vezes, estudando um mapa da cidade, traçando o caminho de volta até o portão
praia com o dedo indicador.

— Muito bem — disse ele com firmeza. — Volte para Petrac. Diga-lhe que
estou enviando vinte homens, e tantos arqueiros quanto eu puder reunir. Basta dizer-
lhe para aguentar até chegarem lá.

O mensageiro assentiu com gratidão e se dirigiu para a porta, quebrando-se a


correr como ele chegou à cidade fora da praça.

Andras passo à frente, uma carranca em seu rosto.

— Você está louco? — Disse. — Vinte homens? Isso é quase a metade dos
homens que nos resta!

Zavac olhou ao redor, verificando que o mensageiro tinha ido, e balançou a


cabeça. — Não enviarei ninguém — disse ele a seu segundo em comando. — Mas se
Petrac sabe que, ele vai dobrar como uma camada vazia. Reuna os homens. Mas o
faça em silêncio. Vamos voltar para o Corvo e sair daqui.

Na verdade, não havia razão para ele ficar por mais tempo. Eles não tinham
conquistado Limmat, a fim de ocupá-lo de forma permanente. Eles estavam
hospedados aqui por tanto tempo quanto fosse necessário para obter a quantidade
276 - Brotherband
máxima de tesouro para fora da mina de esmeralda. Agora era a hora de pegar a
quantidade considerável que eles já tinham e desaparecer.

E se isso significava deixar os seus aliados de Stingray e Viper para cobrir sua
retaguarda enquanto ele escapava, que assim fosse.

Andras deixou a sala Zavac interior usava como escritório. Ele foi para uma das
salas centrais maiores da casa de contagem, onde os homens do Corvo estavam
aguardando ordens. O quarto estava praticamente nu de mobiliário. Em tempos
normais, era utilizado para assembleias, cerimônias e audiências públicas. Do outro
lado da o quarto, dez homens de Stingray estavam reunidos, incluindo o imediato do
navio, Rikard. Ele estava no comando do Stingray agora. O capitão tinha estado na
torre de vigia leste quando queimou e entrou em colapso. As duas tripulações piratas
pode estar trabalhando em conjunto, Andras pensou, mas havia pouco amor entre eles.

Rikard olhou para cima agora e atravessou o corredor como Andras começou a
reunir seus homens juntos.

— O que está acontecendo? — Perguntou ele. Andras apontou o polegar na


direção do portão praia.

— Mensagem do Petrac. Há um ataque ocorrendo no portão leste e ele pediu


reforços. Nós vamos resolver as coisas. Quer se juntar a nós?

Ele não tinha nenhuma dúvida de que Rikard iria recusar a sugestão.

— Poderia ser melhor se nós continuarmos de olho nas coisas aqui — disse
Rikard evasivamente. — Apenas no caso de que sermos necessários.

Andras fingiu considerar neste momento, então assentiu. — Talvez seja melhor
— disse ele finalmente. — Nós vamos ver vocês mais tarde.

Rikard assentiu. Uma vez que Andras e os membros da tripulação do Corvo


saíram, ele pensou, ele iria dar-lhes tempo para se afastarem. Em seguida, ele e seus
homens se dirigir para o Stingray, ancorado contra o cais no porto interior.

Deixamos a tripulação do Corvo lutar, ele pensou. Eles poderiam manter o


inimigo ocupado enquanto Stingray se distanciva sorrateiramente. Seu único
arrependimento era que seu capitão perdido nunca tinha dito a ele onde estava
escondido as partes das esmeraldas do Stingray. Ainda assim, eles tinham tomado
muitas outras de espólio quando capturaram a cidade. Seria suficiente para escapar
com elas e sua pele.

Rikard acenou em despedida enquanto a outra tripulação marchou atrás de


Andras.

Os Invasores - 277
Zavac, que tinha partido por uma saída nos fundos, estava à espera de seus
homens em um beco que dava em direção ao cais.

Ele tinha um saco pesado pendurado no ombro. Andras apontou para o saco.

— Isso é que eu acho que é? — ele perguntou.

Zavac sorriu ferozmente. — Esmeraldas — disse ele. — Nós vamos mantê-los


seguros para os outros.

Andras assentiu. — Claro. Bem pensado. Seria uma pena deixar as Limmatans
levá-los de volta.

Ambos sabiam que as tripulações do Viper e o Stingray não teriam chance de


ver qualquer parte do às pedras preciosas. Eles poderiam manter os Escandinavos e
Limmatans ocupados na baía enquanto Zavac e sua tripulação escapavam com o
Corvo. Zavac estudaram os rostos de seus homens durante alguns segundos, em
seguida, um selecionado que tinham estado com ele por várias temporadas de assalto.
Ele era um homem que provou ser confiável em várias ocasiões no passado.

— Zoltan — disse ele — tome o caminho através das vielas para o porto e corte
o cabo da barragem. E queime o Viper — acrescentou, como uma reflexão tardia. Não
há sentido em deixar um navio para trás por seus inimigos. — Vá para sul
inicialmente e você vai evitar os escandinavos. Em seguida, corte para oeste. Nós
vamos buscá-lo quando formos embora. Fique no porto e espere por nós.

O homem acenou com a cabeça. — Aye Aye, Zavac — disse ele. Ele engatou o
cinto da espada para cima, virou-se e correu para o sul, no labirinto de becos e ruas
transversais que levaram para fora da praça.

— O resto de vocês siga-me — disse Zavac.

Havia várias vias relativamente amplas que levam da praça para o porto, mas
ele escolheu ignorá-los. A qualquer momento, uma horda de escandinavos poderia vir
a gritar para baixo um deles. Em vez disso, ele levou seus homens através dos becos,
seu senso inato de direção mantê-los indo em direção ao porto, não importa o quanto
as ruas torcida e virou.

Eles finalmente emergiram para o cais a poucos metros de onde estava atracado
Stingray. Zavac olhou com cautela. Havia vários escandinavos a vista, mas o mais
próximo estava a quarenta metros de distância. Outros, vendo que o cais estava agora
vazio de inimigos - que tinham morrido ou fugido - haviam mergulhado na rede de
ruas e se dirigiam ao centro da cidade.

Havia três homens deixados a bordo Stingray para manter um olho nas coisas.
Zavac apontou o polegar para eles e falou baixinho para Andras.

278 - Brotherband
— Mate-os. Então queime o navio.

As chamas, que haviam queimado tão ferozmente, estavam finalmente


apagando no portão. A espessa coluna de fumaça gordurosa pendia no céu. Acima da
porta enegrecida, os defensores agruparam-se, olhando ansiosamente para avaliar a
extensão dos danos.

O Garça-Real ainda galgava as ondas algumas centenas de metros da praia. Hal


tinha chamado um conselho de guerra e sua tripulação tinha se movido para frente e se
agachou em volta dele.

— Ulf, Wulf — Hal disse calmamente. — Você tem o aríete?

No dia anterior, Ingvar tinha encontrado um tronco oco na praia e talhou um


aríete com o mesmo, inserindo alças de corda para que ele pudesse balançar nas portas
queimadas do portão. Agora, os gêmeos iriam utiliza-lo em seu lugar.

— Está pronto, Hal — Ulf disse ele.

Hal olhou para eles. — Deve ter uma barra de bloqueio de algum tipo no
portão. O fogo não terá queimado completamente, mas vai ter enfraquecido o
bloqueio. Algumas boas batidas com aríete deve terminar o trabalho.

Ulf e Wulf trocaram um olhar e ambos assentiram no mesmo momento. Hal


voltou sua atenção até o portão.

Até agora, não havia nenhum sinal de arqueiros na paliçada. Mas isso poderia
mudar a qualquer momento. Hal olhou em volta e chamou a atenção de Lydia.

— Afaste-se e nos cubra enquanto nos dirigimos até a praia. Uma vez que
estamos lá, nós provavelmente teremos sua atenção total, para que você possa se
juntar a nós.

Ela assentiu com a cabeça, lambendo os lábios nervosamente, em seguida,


olhou para cima e viu Thorn sorrindo para ela. Ela fez uma careta.

Ela não queria que ele pensasse que ela estava com medo.

Hal estava falando com os gêmeos mais uma vez.

— Uma vez que vocês tenham rompido, movam-se para ambos os lados. Thorn
vai liderar o ataque através do portão. Stig e eu vamos ficar com ele. Vocês virão
depois de nós. Lydia, encontrar um ponto desobstruído, uma vez que tivermos
invadido e apanhe qualquer um dos inimigos que pareçam estar causando problemas.

Lydia fingiu examinar a ponta de ferro afiada em um de seus dardos. Ela estava
preocupada que Hal iria tentar mantê-la fora da batalha. Seu plano fazia sentido. Ela

Os Invasores - 279
não tinha pretensões sobre sua capacidade para assumir qualquer um dos piratas em
combate corpo-a-corpo. Eles eram mais fortes do que ela, e mais qualificados em
combate próximo. Este plano fez o melhor uso de sua principal habilidade - sua
precisão incrível com o atlatl e seus dardos.

— E sobre Ingvar — perguntou Ulf. — Nós vamos deixá-lo sozinho?

— Eu vou ficar com ele — disse Edvin imediatamente. Mas Hal abanou a
cabeça. Thorn tinha muitas vezes ressaltado a ele o fato de que o rápido tratamento de
ferimentos de batalha deu ao homem ferido uma melhor chance de sobrevivência.

— Eu quero que você conosco no caso de alguém ser ferido. Stefan, você pode
ficar para trás e manter um olho em Ingvar.

Era um bom plano. Além de Edvin, Stefan era o menos hábil com armas. Ele
era o aquele que melhor poderia poupar de participar de uma luta. Como ele percebeu
que seria dois homens a menos, Hal soltou um supiro de agradecimento pela presença
dos guerreiros Limmatan. Isso ajudaria até mesmo as chances contra eles.

— Vou continuar a atacar enquanto invadimos. Isso os deve manter de cabeça


baixa. — Ele olhou para Ulf, Wulf e Edvin. — Mantenham batendo o máximo que
puderem. Thorn — disse ele, e o homem de um braço só corpulento olhou para ele.
Ele estava ocupado trocando seu braço falso - substituindo o gancho pelo massivo e
cravejado porrete de — Uma vez que estivermos na praia, você lidera. Você é o
comandante de batalha.

Ele olhou em volta do círculo de rostos, alguns ansiosos, alguns ansiosos para
lutar.

— Vocês todos ouviram isso? Thorn está no comando, uma vez que estamos
fora do navio. O siga. Faça o que ele manda. Tudo bem?

Houve um murmúrio de reconhecimento.

Thorn puxou apertou a alça de restrição em seu antebraço e olhou para suas
tropas.

— Quando os gêmeos tiverem derrubado ou quebrado o portão, nós nos


movemos rapidamente. Eu vou liderar, Hal a minha esquerda e Stig à minha direita.
Vamos formar uma cunha. O resto de vocês, fiquem atrás de nós e alargá-la para fora
como nós conduzir através do inimigo. Lembra-se do que eu te ensinei sobre golpes
exagerados. É provável que o chão sobre seus pés seja instável, portanto, fiquem em
equilíbrio.

Ele fez uma pausa em expectativa. Após um breve intervalo de tempo, houve
um murmurio afirmativo da tripulação. Eles estavam todos olhando para ele

280 - Brotherband
atentamente, perguntando se tinham esquecido algo vital, imaginando como eles iriam
atuar nesta sua primeira batalha.

Thorn sentiu sua incerteza e sorriu para eles.

— Vocês irão se sair muito bem — disse ele. — Basta lembrar o que eu te
ensinei. Já fiz isso centenas de vezes. Não há nada dedmais. Apenas mantenha sua
cabeça e me siga.

Ele olhou ao redor, viu uma medida de confiança retornando para seus rostos e
sorriu tranqüilizador.

— Toda vez que você estiver pronto, skirl — disse a Hal.

Os Invasores - 281
Capítulo trinta e oito

E
les estão chegando!

Petrac, o comandante Magyaran, gritou em aviso do portão da


praia. Não que houvesse qualquer necessidade real de fazê-lo. Todos os
— olhos, sobre a paliçada, estavem fixados no pequeno barco ao largo da
praia. Ele tinha estado adernando a deriva por alguns minutos,
presumivelmente, enquanto sua tripulação conferia. Agora que viram, a vela foi
puxada com força e o barco ganhou velocidade e virou na direção deles.

Onde estão os arqueiros que Zavac prometeu, pensou amargamente. Mas, em


seu coração, ele já sabia. Eles não viriam. Não havia arqueiros. Zavac os tinha
enganado e abandonado.

Um homem que tinha enviado para inspecionar os danos ao portão subiu de


volta na passarela agora.

— Nada bom — disse ele em resposta à pergunta silenciosa de Petrac. — O


portão está queimado. As madeiras estavam secas e algumas estavam mesmo podres.
O pior de tudo, a viga de bloqueio do portão está consideravelmente comprometida,
queimada no meio.

A viga de bloqueio era uma barra de madeira sólida, assentada em suportes de


cada lado da porta para mantê-la fechada. O óleo e as chamas tinham sido derramados
na brecha entre as duas metades da porta e feito sérios danos a ela. No rosto de Petrac
cravou-se uma expressão preocupada.

— Talvez devêssemos chegar até o portão e nos preparar para mantê-los fora —
um de seus homens sugeriu. Mas Petrac balançou a cabeça.

— Estamos melhor aqui no momento. Vamos tentar mantê-los para trás - jogue
qualquer coisa que tivermos. Lanças, pedras, machados. Quando eles chegarem perto,
vamos descer para o...

Ele estava prestes a dizer "portão", mas foi violentamente interrompido.

Algo grande e pesado colidiu com os postes de pinho verticais que formavam a
paliçada. Estilhaços voaram e o míssil, qualquer que fosse, cambalhotou sobre a
extremidade final por cima da parede, acertando um dos seus homens e arremessando-
o para trás fora da passarela para a rua abaixo.

282 - Brotherband
— Abaixem! Para baixo! — Petrac gritou, e atirou-se plano nas tábuas da
passarela. Seus homens seguiram o exemplo quando outro projétil bateu na parede,
alguns metros à esquerda do primeiro. Este bateu no pequeno espaço entre dois dos
postes verticais e perfurou uns vinte centímetros antes de vir a parar. Ele enviou mais
estilhaços voando, que feriu outro homem. Sua ponta afiada foi reforçada com tiras de
ferro, Petrac viu.

Ele teve pouco tempo para pensar em mais esta questão quando um terceiro
projétil atingiu o topo da paliçada, quebrando e estilhaçando mais postes, então
cambalhotou alto no ar antes de cair no chão abaixo. Este não deixou feridos, mas
com o som e a violência do impacto causado Petrac e os seus homens jogaram-se ao
solo ainda mais temerosos.

Agora, alguma razão voltou a ele. Os projéteis estavam vindo em intervalos de


cerca de quinze segundos. Ele sinalizou para um de seus homens.

— Depois que o próximo bater, levante-se e veja onde eles estão. Você terá
cerca de dez segundos antes que eles possam atirar novamente.

O homem sacudiu a cabeça enfaticamente, recusando-se a encontrar os olhos de


Petrac.

— Eu não estou cutucando minha cabeça para tê-la derrubada—ele murmurou.


Mas o comandante agarrou sua manga e puxou-a, forçando o homem a olhar para ele.

— Faça o que eu digo — ele rosnou. — Há uma lacuna entre os tiros enquanto
eles estão recarregando. Você vai estar perfeitamente seguro.

No entanto, outro dardo relanceou na parede e cambalhotou para cima e por


cima com um som estranho de choramingos.

— Agora! — Petrac gritou, e o homem, estimulado por medo de seu líder, de


repente, pôs-se de pé para ver o quão perto o navio estava.

— Eles estão quase... — ele começou, logo em seguida recuou, um dardo de


sessenta centímetros de comprimento estava enterrado em seu peito. Seus olhos
focaram Petrac, acusando-o, por um segundo. Então ele caiu fora da passarela e bateu
na rua abaixo. Chocado, Petrac deitou ao solo um pouco mais. Tendo visto aquilo,
nenhum de seus homens estaria disposto a mostrar seus rostos acima da paliçada,
pensou. Ele chegou a uma decisão abrupta.

— Desçam para o portão — ele gritou. — Nós vamos pará-los quando eles
tentarem atravessar!

Hal sentiu o arco do Garça-Real raspar suavemente sobre a areia da praia.

Os Invasores - 283
— A caminho — ele gritou. Os tripulantes já estavam transbordando pelos
baluartes e em águas rasas, correndo pela praia em direção ao portão. Thorn foi um
dos primeiros a ir.

— Espalhem-se! — Ele ordenou. — Debandar!

Ulf e Wulf transportavam o enorme aríete entre eles, tropeçando na areia macia
sob o seu peso. Lydia passou sobre a amurada a meio segundo atrás deles, pousando
como um gato de pé e começando a correr para o portão quase que imediatamente.

Hal tinha um último dardo colocado no Mangler. Ele estendeu os pés de cada
lado do carro e atravessou-a "passeando", a arma de lado a lado.

Thorn e os outros estavam quase no portão agora. Ainda não havia sinal de
ninguém olhando por cima da paliçada. A mão de Hal segurava a corda do gatilho,
pronto para liberar o dardo pesado do momento que ele visse alguém.

Mas não havia ninguém. Finalmente, vendo que os gêmeos e Lydia estavam
quase no portão, ele visa uma seção aleatória da paliçada acima do portão e libera. O
dardo sai faiscando. Houve o som habitual de estilhaçamento de madeira e uma
nuvem de fragmentos afiados voa. Então, agarrando seu escudo, ele desliza por sobre
a borda e cai para a areia.

A areia fofa agarra seus tornozelos, impedindo-o, tornando-o um alvo perfeito,


lento para qualquer arqueiro que pode estar à espreita na passarela. Mas não havia
nenhum e ele chegou com relativa segurança ao beiral do portão, bufando e ofegante,
em parte devido ao esforço, mas também de tensão nervosa.

— Fico feliz que você pode se juntar a nós — disse Thorn. — Você está
pronto?

Hal levantou a mão, recuperando o fôlego.

— Só... um momento... — ele suspirou. Então, depois de várias respirações


profundas, ele endireitou-se e acenou com a cabeça.

— Pronto — disse ele. Seus ombros ainda levantavam, mas ele estava quase
recuperado. Até o momento de Ulf e Wulf esmagarem o portão, ele estaria bem. Hal
apontou para a portão.

— Eu imagino que eles estão esperando por nós — disse ele. — Não há
ninguém na parede agora.

— Eu imagino que você está certo — respondeu Thorn. — E isso vai ser muito
ruim para eles. — Ele apontou para os gêmeos, então até o portão. — Tudo bem,
rapazes, vão até o fim!

284 - Brotherband
Segurando o aríete pelas alças de corda enrolada em ambos os lados, os gêmeos
fincaram seus pés e começaram a balançar para trás e para frente, aumentando
gradualmente o impulso.

Thorn deu um passo levemente para frente e apontou para o pequeno espaço
entre as portas, em um ponto cerca de um metro e meio do chão.

— Acerte-o lá — disse ele. Ulf e Wulf assentiram, suas sobrancelhas franzidas


com concentração. Eles deram uma última balançada para trás, em seguida, mandaram
o aríete para dentro do portão.

CRASH! O portão estremeceu sob o impacto. Mas aguentou.

— Mais uma vez — Thorn ordenou calmamente.

Novamente, os gêmeos balançaram a tora de volta segurando os laços da corda.


Desta vez, eles fizeram três balanços preparatórios, em seguida, despedaçaram a
frente, jogando todo o seu peso atrás dele.

CRASH!

Desta vez, a diferença entre as duas portas ampliou visivelmente, e eles


ouviram um som de estilhaçamento do outro lado.

— Mais uma vez — disse Thorn. Os gêmeos começaram seu vai-e-vem de


preparação. Uma onda de antecipação percorreu os Garças e eles involuntariamente
avançaram um passo.

— Firme — Thorn rosnou. — Mantenham suas posições.

Hal, de pé à sua esquerda e um pouco para trás, olhou para ele. O rosto do velho
guerreiro estava calmo e não excitado. Ele sentiu o olhar de Hal sobre ele, virou-se
para olhar o menino, então piscou lentamente.

— Deixe-os tê-lo, rapazes — ele ordenou.

Ulf e Wulf atiraram o aríete para frente em um último lançamento de ataque.


Houve uma fragmentação, a divisão de som do outro lado, então a porta do lado
esquerdo girou fora de suas dobradiças, quebrando livre, onde o fogo havia queimado
e enfraquecido a madeira. O aríete destruiu o bloqueio do portão no seu ponto médio.
As duas metades se afastaram. O portão do lado direito cedeu também, inclinando-se
em suas dobradiças.

Os gêmeos, que tinham tropeçado com a força desse impulso final, se


recuperaram e deram um passo para cada lado quando Thorn avançou.

Os Invasores - 285
— Vamos pegá-los! — O grisalho lobo do mar berrou. Os Garças animaram-se
e o seguiram, dando um passo para cima dos pedaços violados e quebrados de
madeira.

Os Magyarans avançaram para detê-los. Petrac estava na liderança, espada


desembainhada para trás, escudo levantado. Encontrou-se diante de um escandinavo
maciçamente construído, barba cinza e com o cabelo desgrenhado preso sob um
capacete com chifres. Ele teve tempo para perceber que todos os outros atacantes
pareciam incrivelmente jovens, em seguida, notou o enorme porrete cravejado que
estava substituíndo o antebraço direito e mão do escandinavo.

Thorn forçou o enorme porrete para baixo sobre o escudo do líder Magyaran,
estilhaçando-o e dividindo vários dos pedaços de madeira que o compõem. O pirata
cambaleou, então Thorn bateu o escudo de metal pequeno em sua barriga desprotegida
e ele engasgou e dobrou. Um soco racha-costela com o porrete acabou com ele,
mandando-o estatelado.

Ao lado de Thorn, Hal pegou uma lança de empuxo de um defensor com seu
escudo, inclinando-o para que a lança resvalasse e o lanceiro, esperando encontrar
firme resistência, cambaleou para frente, momentaneamente fora de equilíbrio.

Lembrando os conselhos de Thorn - a alguns centímetros do ponto pode ser tão


mortal como o ponto inteiro - Hal espetou rapidamente para frente e viu o choque no
rosto do homem, quando a espada penetrou sua defesa e deslizou entre suas costelas.
Então Hal retirou sua espada e empurrou-o, ferido, para o lado com o seu escudo,
passando por cima dele e forçando seu caminho mais para dentro do fosso.

Atrás dele, Ulf empurrava para frente também, agora armado com seu machado
e pronto para a batalha. Ele era ameaçador enfrentando e decidido, em busca de um
defensor Magyaran. Um dos piratas chamou sua atenção e saltou para frente, a espada
para trás para um corte violento. Ulf pegou a lâmina em seu escudo, em seguida,
balançou o machado de lado. As horas de prática e instrução sob o olho de águia de
Thorn deixou-o com bom proveito. O machado pegou o homem nas costelas. Ele caiu,
com um estranho, soluçante grito. Ulf, ainda em equilíbrio, retirou a arma e usou-a
instantaneamente para desviar a espada de outro Magyaran. O pirata, esperando uma
vitória fácil, empalideceu com a fúria fria nos olhos do jovem escandinavo. Ele deu
um passo para trás, impedindo um de seus companheiros, que o empurrou para frente
novamente. Fora de equilíbrio, ele não viu o impulso relâmpago de Hal vindo até ele
de lado até que fosse tarde demais.

No lado direito da Thorn, Stig era uma visão aterradora. A velocidade e a


potência de seus golpes de machado enviaram os defensores cambaleando - para
grande desgosto de Thorn que tinha marcado vários daqueles que recuaram como
potenciais adversários. O machado de Stig era um círculo de luz ofuscante que ele
empunhava. Thorn realmente parou por um momento para admirar a força e a destreza
do jovem estudante. Stig martelou o escudo de um homem, em seguida, despachou-o
286 - Brotherband
com um rodopiante e desajeitado corte. Em seguida, ele apontou para frente com a
cabeça do machado, enviando outro cambaleando para trás.

— Nada mal. Nada mal de qualquer modo — Thorn murmurou, admirando a


improvisação. Em seguida, ele rosnou quando viu um movimento pelo canto do olho,
casualmente desviando do cutelo de um Magyaran com seu pequeno escudo, em
seguida, bateu com a cravejada mão-porrete no capacete do homem.

Por trás do avanço dos Garças, Lydia se misturou em uma pilha de alvenaria
que havia arrancado com o portão. Seus olhos percorreram a dificuldade da contenda
de homens à sua frente. Na parte de trás dos piratas, ela viu um homem gritando
ordens e empurrando os outros para frente da batalha.

— Não, você não vai. — ela disse calmamente. Ela montou um dardo, recuou e
lançou. O pretenso comandante estava a ponto de empurrar outro pirata para frente
para enfrentar os machados rodopiantes e espetar espadas nos atacantes. O dardo
pesado atingiu-o no peito, cortando facilmente através de sua couraça de couro
endurecido, a força do seu impacto jogando-o para trás antes de cair.

Aqueles ao redor dele viu-o cair. De repente, se sentiram expostos. Em seguida,


outro dardo pegou um deles no braço e ele virou-se para longe, caindo de joelhos com
a dor inesperada. Seu companheiro mais próximo virou os olhos em pânico para onde
a menina magra estava na parte traseira dos atacantes. Eles fizeram contato visual e
viram-na sacar um daqueles dardos cruéis de sua aljava. E toda a vez que ela fazia
isso, seus olhos estavam fixos atentamente sobre ele.

Era mais do que podiam suportar. Ele virou-se e correu para o abrigo de um
beco próximo. Outro homem, vendo-o correr, foi atrás dele. Em seguida, um terceiro e
um quarto fez o mesmo.

Hal, cortando e apunhalando um oponente particularmente persistente, viu-os


passar.

— Eles estão correndo! Eles estão rompendo — gritou.

O homem com quem ele estava envolvido não pode proteger-se de sua reação
automática. Temendo que estivesse sendo deixado para enfrentar estes ataques
terríveis sozinho, ele olhou rapidamente por cima do ombro. Viu que seus
companheiros estavam rompendo, então a espada de Hal afundou em sua coxa e sua
perna cedeu debaixo dele, mandando-o estatelado impotente para a madeira quebrada
e pedras sob os pés.

O medo das pessoas na parte traseira da força de defesa era contagiante. Petrac,
seu líder, foi morto. Então foi Agrav, o homem que tentou brevemente tomar seu
lugar. A diminuição do número de homens que enfrentaram o ataque escandinavo
foram agora atingidos pelo medo de que eles seriam deixados sem apoio.

Os Invasores - 287
Eles, também, quebraram e saíram correndo.

Animados, os Garças triunfantes começaram depois deles, mas a enorme voz de


Thorn deteve em suas trilhas.

— Parem! — Ele rugiu. — Parem agora!

Se eles fossem adentrando as ruas estreitas agora, sem formação ou qualquer


pensamento real de onde estavam indo ou o que estavam fazendo, poderiam perder
metade deles. Melhor deixar os Magyarans escapar e correr, e manter seus jovens
combatentes em um grupo coeso.

Mas nem todos os Magyarans escaparam. Antes de chegarem ao abrigo, num


beco estreito por trás deles, outro dos dardos de Lydia encontrou o seu alvo e mandou
um pirata imenso de bruços nas pedras do calçamento.

Aos poucos, a loucura batalha saiu dos olhos dos Garçass enquanto levavam o
estoque. Alguns deles foram levemente feridos. A seus pés, meia dúzia de Magyarans
estava espalhado, alguns mortos, todos eles fora de ação.

Ao todo, Thorn pensou, eles manuseavam muito bem. Ele sorriu para Hal.

— Você foi bem — disse ele. — Você e Stig e todos eles. Muito bem.

Hal assentiu com a cabeça cansada. Agora que tudo acabou, um arrepio de
medo percorreu-o. No seu subconciente, ele podia ver aquele primeiro golpe de lança
de novo. Só que desta vez, ele passou por seu escudo e em seu corpo. Ele fechou os
olhos por um segundo ou dois, dissipando a imagem. Então ele abriu e olhou para
Thorn, levantando seu escudo galicano maior em seu braço esquerdo enquanto fazia
isso.

— Vamos encontrar Zavac — disse ele.

288 - Brotherband
Capítulo trinta e nove

T horn avaliou suas tropas. Eles tinham ido bem até agora, mas ele tinha
consciência do fato de que eram um grupo pequeno e qualquer bando
Magyaran que eles encontrassem, provavelmente, seria mais numeroso
que eles. Não havia nenhuma maneira de saber o que estava por vir, pensou ele com
cautela, ou quais armas Margaryan poderiam estar esperando por eles. Seria
necessário manter uma rígida disciplina. Eles teriam de se mover como uma unidade
coesa e não dispersar-se pela cidade.

Ele acenou para um dos Limmatans. — Qual é o caminho mais rápido para o
mar?

A batalha estava, obviamente, indo contra os Invasores. O pequeno número de


homens, bem como a falta de reforços indicavam isso. Se Zavac fosse como a maioria
dos marinheiros, ele estaria voltando para seu navio. Era onde se sentiria mais seguro
enquanto as coisas se voltavam contra ele. Thorn, um veterano de muitos ataques,
conhecia bem esse sentimento.

O nativo parou, refletiu e então apontou para um beco à esquerda.

— Isso vai nos levar para a praça da cidade. — Ele disse. — A rua principal do
porto sai da praça.

Thorn apontou para o beco com a clava.

— Vá à frente. Stig vá com ele. Fiquem dez metros à frente, mas não fora de
vista. Pare em cada esquina ou curva na estrada até que nós te alcancemos. O resto de
vocês em duas filas, uma ao lado da outra. Três metros entre cada homem. Não se
tornem alvos fáceis.

Como se viu, o seu progresso para a praça da cidade foi decepcionante. Quais
quer que fossem as forças Magyaran deixadas em Limmat estavam totalmente
ocupadas com os escandinavos e os homens de Barat cercando-os de ambos os lados.
Os Garças encontraram apenas alguns grupos dispersos de dois ou três piratas, que,
vendo a formação disciplinada de homens armados se aproximando, girou em seus
calcanhares.

O principal obstáculo foi o povo de Limmat em si. Quando eles perceberam que
os Invasores estavam fugindo, eles começaram a sair às ruas para saudar e abraçar
seus libertadores. Thorn, na dianteira, abriu caminho através dos bem-intencionados,
com os Garças seguindo seu rastro.
Os Invasores - 289
O primeiro grande grupo de homens armados que encontraram foi na praça em
si. Stig e o guia Limmatan chegaram ao final de uma rua transversal que levava à
praça e saíram para o campo aberto. Stig parou, levantando o escudo e alcançando o
machado. Atrás dele, vendo a postura de alerta, Thorn pediu para o resto da pequena
tropa reunir-se.

Havia mais de trinta homens armados do lado oposto da praça, emergindo de


uma rua lateral similar. Vendo Stig o primeiro deles também caiu em uma posição de
combate. Em seguida, ambos os lados relaxaram.

— Eles são homens de Barat. — O nativo com Stig disse. Ele avançou pela
praça, rindo e lançando cumprimentos aos seus compatriotas. Ao vê-lo eles abaixaram
as armas e foram de encontro a ele, abraçando-o e rindo, Stig, por sua vez, esperou o
resto do grupo se juntar a ele, então andaram pela praça juntos, encontrando seus
aliados do outro lado.

Os dois grupos se reuniram por alguns minutos, trocando piadas e relatos da


batalha até agora.

Jonas, o segundo Limmatan no comando se moveu para onde Hal estava em pé


e apertou a mão dele com gratidão.

— Esse foi um ótimo trabalho — Disse ele com entusiasmo. — Você atraiu as
tropas inimigas, completamente, para longe do muro leste. Nós simplesmente
passamos por cima, sem ninguém para nos parar. Qualquer Magyaran que vimos
desde então correu como um coelho.

Dentro da casa de contagem, Rikard e seu pequeno grupo olhavam com medo
para a praça onde seus inimigos riam e brincavam juntos. Rikard amaldiçoou sua
sorte. Tinha esperado muito tempo para voltar para o navio. Incerto de para onde
Zavac e seus homens tinham ido e suspeitando que eles pudessem voltar a qualquer
minuto. Agora já era tarde demais. O inimigo estava do lado de fora.

— Devem ser quarenta ou cinquenta deles. — Rikard murmurou.

Um dos homens de sua tripulação, que não era conhecido pelo raciocínio rápido
- ou, na verdade, qualquer tipo de raciocínio - tocou o gume do seu pesado facão.

— Nós iremos atacar, chefe? — Disse o homem, ele foi usado para atacar civis
desarmados e indefesos e, como resultado, espera que qualquer inimigo que ele
enfrente vire-se e corra.

Rikard olhou para ele com desdém.

— Atacar? Você é louco, ou apenas estúpido? Os homens lá fora estão todos


armados. Eles superam nossos números de quatro para um e estão à procura de

290 - Brotherband
vingança. Precisamos encontrar um meio de sair daqui. Vamos fugir para o navio. E
façam isso em silêncio! — Acrescentou num sussurro selvagem.

Silenciosamente, os demais homens da tripulação do Stingray fizeram o seu


caminho por trás da casa de contagem Por acaso, eles escolheram a mesma saída que
Zavac tinha escolhido. Então, sorrateiramente eles se dirigiram para o beco em
direção ao cais, continuamente, olhando para trás por cima do ombro, para onde eles
conseguiam ver breves vislumbres dos nativos e Garças se misturando.

Na praça, Barat abriu caminho através da aglomeração risonha de guerreiros.


Ele podia ver a figura alta de Stig, cabeça e ombros sobrepujando a todos ao redor
dele enquanto falava com Jonas. O comandante Limmatan se empurrou até eles,
parando com o peito a poucos centímetros do de Stig.

O imediato do Garça-Real estendeu a mão em saudação.

— Barat — Ele disse. — É bom ver você.

Barat afastou com um tapa a mão amigável. Seu rosto ficou sombrio enquanto
ele olhava para o jovem de rosto sorridente.

— Você e eu temos contas a acertar. — Disse ele. Os homens ao redor


recuaram hesitantes. Os Garças que tinham escutado-o pareceram irritados. Seus
próprios homens pareciam desconfortáveis com suas palavras desagradáveis e
ameaçadoras.

Stig olhou-o com cuidado. Com grande esforço manteu seu temperamento sob
controle. Thorn, observando de perto, ficou maravilhado com o quanto Stig tinha
amadurecido. Há alguns meses a ação de Barat teria provocado uma reação impensada
e agressiva de Stig. O garoto estava crescendo rápido, ele pensou. Talvez fosse a
responsabilidade acrescida que ele tinha nos ombros como o imediato de Hal e como
timoneiro do Garça-Real quando ele foi para a batalha. Mas havia um limite para o
quanto o seu temperamento mal contido iria suportar.

— Relaxe, Barat — Stig disse em uma voz calma. — Nós acabamos de ganhar
uma batalha. Não é hora de começar a lutar uns com os outros.

Barat soltou um curto zurro de riso. — Eu tenho certeza de que não quer
começar a lutar agora. Não quando eu estou preparado para você! Isso não é algo que
você faria, não é, seu covarde?

O rosto de Stig começou a ficar vermelho. Os Limmatans ao redor murmuraram


desconfortáveis com o insulto de Barat.

Jonas se aproximou e colocou a mão no antebraço do comandante de batalha.

Os Invasores - 291
— Barat, não é assim. Esses garotos escandinavos fizeram um ótimo serviço
hoje.

— Será que realmente fizeram? Eles deixaram a maior parte da luta para nós!
Legal da parte deles aparecerem quando está tudo acabado!

Jonas sacudiu a cabeça, perplexo.

— Ficamos praticamente sem oposição. — Ele apontou. — Não houve


defensores na muralha porque Hal e seus homens os atraíram. Dois dos nossos
homens tiveram ferimentos leves, apenas isso. Você chama isso de deixar a maior
parte da luta para nós?

Seus companheiros começaram a se aproximar, expressando concordância com


as palavras de Jonas com uma força crescente. Ainda assim Barat não abrandou. Ele
apontou o dedo indicador para o peito de Stig.

— Não importa o que você diz, Jonas, eu ainda tenho contas para acertar!

Uma voz profunda interrompeu. — Então você vai acertar isso comigo.

Thorn abriu caminho através da multidão para enfrentar Barat. Sua mão
esquerda foi para frente e empurrou o Limmatan para trás com uma força
surpreendente. Barat recuou vários passos antes de se recuperar. Quando ele fez isso
descobriu que Thorn o tinha seguido aproximando-se dele, colocando-se face a face
com o Limmatan.

— Seu idiota presunçoso. — Thorn continuou. — Eu só vi esses garotos


lutando pela sua preciosa cidade. E ninguém lutou mais, ou melhor, que Stig. No
momento nós não temos tempo a perder com você. Estamos atrás de Zavac. Mas, uma
vez que eu o tenha dentro de um saco, eu vou estar feliz em voltar e rachar seu crânio
por você. Apenas espere por mim, aqui mesmo.

Ele brandiu a enorme e cravejada clava debaixo do nariz de Barat. O cabelo de


Thor poderia ser cinza e suas roupas surradas, mas ele era um homem grande,
imensamente construído pelos padrões Limmatan. A pesada clava e a facilidade com
que ele a manejava, era uma visão assustadora. Barat empalideceu, ele abriu a boca
para responder e tornou a fechá-la.

Thorn se afastou desdenhosamente. — Garças! Vamos lá! Nós perdemos muito


tempo aqui, e o trabalho ainda não acabou! — Ele olhou em volta e viu o Limmatan
que tinha sido seu guia. — Você! Qual é o caminho para o cais?

O homem apontou para uma rua larga, no lado ocidental da praça.

— Isso vai levá-lo direto para lá. — Ele disse. — Você quer que eu te mostre?

292 - Brotherband
Thorn estudou a longa rua que seguia em linha reta. — Eu acho que podemos
encontrá-lo. — Disse ele. Então sinalizando para a tripulação segui-lo, ele caminhou
deliberadamente através da praça.

Quando se aproximaram do porto, Thorn ouviu os inconfundíveis sons de luta à


frente. Machados batendo em escudos, espadas retinindo umas contra as outras, e
acima de tudo, havia os súbitos gritos agudos dos feridos. Aumentou a velocidade
para uma corrida constante, com os Garças atrás dele em duas filas meio dispersas.

Com a queda das torres de vigia, grande parte da resistência Magyaran caiu
também. Svengal e seus homens tinham atravessado o porto, usando a comporta como
uma ponte improvisada, e escalaram para o cais oriental.

Os sobreviventes da guarnição da torre, que os tinham visto chegando, fugiram


adiante deles, dispersos em pequenos grupos e desaparecendo nas sinuosas e estreitas
ruas da cidade. Svengal fez uma pausa, em seguida, dividiu seus homens em três
esquadrões para perseguir os Magyarans dispersos. Dois deles, ele mandou para
dentro da própria cidade. O terceiro ele conduziu para baixo do cais. Ele podia ver o
Corvo amarrado no fundo do porto. Stingray, o navio verde, estava atracado ao longo
do cais a apenas uma centena de metros de distância. Enquanto ele observava uma
língua de fogo subiu pelo seu mastro. Ele podia ver figuras fugindo do navio,
descendo do cais em direção ao Corvo.

—Vamos lá. — Ele gritou, e liderou a investida atrás deles.

E foi esse o momento que Rikard e seus dez homens escolheram para surgir no
cais em frente a eles.

Eram dez contra dez. Então, como Svengal contou mais tarde, não havia
disputa. Ele tinha o inimigo em desvantagem de três para um.

A luta foi curta, nítida e viciosa. Rikard viu o enorme líder escandinavo caindo
sobre ele, e empurrou um de seus próprios homens entre si e Svengal, afastando-se de
medo. Os Magyaran não eram nobres guerreiros. Eles estavam mais acostumados a
atacar tripulações relativamente pequenas de navios desarmados ou fazer ataques
furtivos em cidades despreparadas, como Limmat.

Diante de guerreiros profissionais, e ansiosos como os escandinavos, eles


tiveram poucas chances.

Svengal simplesmente atropelou o homem que Rikard tinha tentado usar como
escudo, em seguida cortou o próprio Rikard. Alguns dos piratas tentaram lutar contra
os nortenhos selvagens. Eles foram abatidos pelos agitados machados, ou
simplesmente empurrados pela borda do cais, para o porto.

Os Invasores - 293
No momento em que Thorn e os Garças chegaram em frente ao porto, havia
apenas três dos Magyarans à esquerda. Eles estavam de joelhos, implorando por
misericórdia. Os escandinavos, que nunca haviam sido assassinos a sangue frio,
concederam com relutância. Alguns deles incitaram os Magyarans a pegar suas armas
e tentar a sorte mais uma vez. Os piratas poderiam ter sido covardes, mas não eram
estúpidos. Então os escandinavos se contentaram em chutar seus traseiros e deixa-los
estatelados no chão

Atrás deles, o Stingray estava agora completamente em chamas. Era tarde


demais para salvá-lo. O fogo se alastrou rapidamente pelo cordame alcatroado e se
espalhou pelo casco, alimentando-se da lã encharcada de alcatrão que vedava as
lacunas entre as tábuas.

Svengal girou cautelosamente quando ouviu passos apressados se aproximando.


Então ele relaxou quando reconheceu Thorn, Hal e os outros.

—Vocês estão atrasados! — Ele explodiu.

— Parece que você tem as coisas sobre controle — disse Thorn. — Exceto por
isso, é claro. — Ele apontou para o Stingray. Por um momento, o espetáculo do navio
em chamas fascinou a todos eles, com uma espécie de horror. Era uma visão que
nenhum marinheiro poderia apreciar, mesmo que o navio tenha pertencido a um
inimigo.

Thorn olhou em volta, para os corpos dos mortos e os sobreviventes encolhidos.


—Isso é tudo o que resta?

Svengal apontou para a rua atrás deles. — Os outros estão espalhados pela
cidade. Mandei homens para captura-los. — Ele olhou para Hal e Stig. — Seus
garotos agiram bem. — Ele disse calmamente. — Especialmente o jovem Hal.

— Eles realmente agiram. — Thorn concordou. Então ele olhou ao redor do


cais. —Por acaso você se deparou com Zavac por aí?

Svengal sacudiu a cabeça. — Ainda não o vi — ele respondeu. — Ele,


eventualmente, terá que aparecer. Estou ansioso por isso.

— Eu acho que você pode ficar desapontado. — Disse Lydia, apontando para o
porto. Ao contrário dos outros, ela não teve uma reação emocional ao navio
queimando, ao invés disso, ela estava olhando ao redor do porto, procurando por
danos à sua cidade natal.

Thorn e Svengal olharam para direção que o dedo dela apontava. No fundo do
porto, a trinta metros da costa, o Corvo estava subindo sua âncora. Enquanto
observavam, uma fileira de remos apareceu em ambos os lados do casco negro, como

294 - Brotherband
se por mágica. Eles começaram seu movimento rítmico de subir e descer, e pequenas
cascatas de ondas formaram-se ao redor de sua proa.

— Ele nunca vai sair. — Svengal disse com satisfação. — A comporta está
fechada.

Mas Thorn já estava olhando na direção dele, e podia ver as enormes toras de
madeira flutuando em direção ao dique oeste sendo levadas pela maré.

— Acho que alguém acabou de abri-lo. — Ele disse.

Os Invasores - 295
Capítulo quarenta

aldito seja! — Svengal rosnou. — Essa barragem era o nosso caminho

— M de volta para o Wolfwind!

Ele olhou em volta freneticamente, procurando outro caminho


para o outro lado do porto. A barragem obviamente tinha sido solta e não havia
nenhuma maneira de fechá-la novamente e usá-la como uma ponte improvisada.

— Nós podemos usar o Sea Lion! — Stig gritou, apontando para o pequeno
navio que Zavac tinha usado como isca em seu ataque a cidade. Ele ainda estava
ancorado ao lado do dique, dentro da boca do porto. Mas mesmo quando eles
começaram a correr em direção a ela, as chamas subiram por seu mastro e se
espalharam rapidamente ao longo do casco.

Hal olhou de volta para o porto. O navio de Zavac se movia lentamente,


enquanto fazia seu caminho através dos barcos de pesca ancorados e barcaças que
enchiam o interior do porto.

— Nós temos que voltar para o Garça-Real. — disse ele.

Thorn olhou para ele por um breve momento, depois assentiu. Ele olhou para
Svengal.

— Você vem com a gente?

Mas o skirl balançou a cabeça. — Vamos dar a volta no fundo da baía e parar
atrás ao longo do outro lado do Wolfwind. Podemos ter pouco tempo.

Ele e seus homens começaram a correr, espalhando-se em uma linha ao longo


do cais enquanto os mais rápidos entre eles se afastavam. A tripulação do Garça-Real
hesitou, então Hal olhou para o Corvo novamente e sentiu uma onda de esperança em
seu coração.

— Ele está encalhado! — Ele gritou, apontando. Como o próprio companheiro


de Zavac no começo tinha temido alguns dias antes, a falta de habilidade de Zavac
como piloto voltou para assombrá-lo. Ele calculou mal uma vez no estreito canal e o
Corvo tinha corrido direto para um banco de lama. A lama havia sido exposta na maré
baixa, mas a inundação entrante tinha coberto com alguns centímetros de água - o
suficiente para deixar o navio pirata correr para o banco por vários metros antes de ser
preso rápido. Eles mal podiam ver o contorno de carneiro do Corvo acima da
superfície - um pesado feixe guarnecido de ferro que se projetava a partir de sua proa -
296 - Brotherband
quando ele encalhou, e viu a inclinação não natural do mastro conforme virava de lado
em sua quilha.

Homens estavam correndo freneticamente em suas plataformas, enquanto


tentavam libertá-lo. Alguns tentaram reverter suas remadas e remar com ela. Mas
estava muito profundamente fixo na lama. Outros pegaram remos e tentaram empurrar
para fora do banco com eles. Mas a lama era muito mole e eles não estavam
conseguindo nenhuma vantagem, enquanto tentavam enfiar os remos na lama, suas
lâminas simplesmente afundavam no fedorento lodo semilíquido.

— Ele está preso! — Stig disse deliciado. — Os encurralamos.

— Não por muito tempo — Thorn disse a ele. — A maré está chegando. Ele vai
flutuar livre em dez minutos ou menos. Mas nos dará tempo para chegar ao Garça-
Real.

Eles se viraram e correram de volta para a grande avenida que levava à praça da
cidade. Atrás deles, os três membros sobreviventes da tripulação do Rikard olharam
um para o outro, sem acreditar na sorte. Furtivamente, eles recuperarão suas armas e
correram para uma das ruas estreitas que desembocavam fora do cais. De alguma
forma, eles se sentiram mais seguros, nos becos escuros e estreitos do que estariam
nas principais ruas largas.

Mas foi uma falsa sensação de segurança. Eles não tinham ido nem vinte metros
quando dobraram a esquina e viram-se diante de uma grande multidão de moradores
irritados, todos armados com armas improvisadas, como, porretes, facas, cutelos e até
mesmo bancos de cozinha.

Eles estavam à procura de retardatários Magyaran e tinham vários dias de


maus-tratos e cruel brutalidade para vingar. Depois de alguns breves momentos de
violência, os habitantes da cidade seguiram em frente, deixando os corpos quebrados e
agredidos dos piratas esparramados na calçada.

A espada de Hal na bainha batia desajeitadamente ao seu lado a cada passo. Seu
braço esquerdo ainda estava sobrecarregado com seu escudo, então ele puxou o cinto
da espada ao redor até que ele poderia segurar a espada firme com a mão direita.

Condições não ideais para correr, ele pensou sobriamente. Mas eles estavam
descendo a ampla rua principal, gradualmente em fileira, o barulho dos seus pés nas
pedras ecoando de volta nas faces dos edifícios.

Stig estava na liderança, com Jesper logo atrás dele. Hal e Thorn foram em
seguida, com Lydia facilmente mantendo o ritmo ao lado deles.

Os Invasores - 297
Eles irromperam na praça, atraindo olhares assustado dos moradores da cidade
e dos guerreiros ainda reunidos lá. Mas não havia tempo para explicar. Hal viu Stig
hesitar não tendo certeza qual rua levaria de volta para o portão.

— Segunda á esquerda — Lydia chamou, apontando. Stig assentiu e aumentou


o ritmo novamente, Jesper em seus calcanhares.

Era fim de tarde até agora e os becos e ruas laterais estavam todos
profundamente na sombra. O som de seus pés correndo e o chacoalhar de seus
equipamentos se fundiu com o aumento do volume nas paredes e casas. Stig olhou
para Jesper e sorriu.

— Sabia que eu deveria ter corrido a corrida contra Tursgud — disse ele.
Durante seu período de formação, Hal tinha selecionado Jesper antes de Stig para uma
corrida. Isso irritou Stig e, embora ele tivesse aceitado à decisão de Hal, sempre
acreditou que seu amigo tinha cometido um erro.

Jesper olhou para ele. — É mesmo? — ele disse, e bateu no ritmo, nívelando
com Stig, em seguida, à frente dele. Stig acelerou bem, mas Jesper continuou a
afastar-se, alargar o vão entre eles. Assistindo o passar pra trás de Jesper mais longe,
Stig murmurou para si mesmo.

— Ou não.

O cheiro de madeira queimada chegou até eles antes que avistassem a porta
quebrada. Mas, então, eles viraram uma esquina final e lá estava ele. Através da
abertura, eles podiam ver a forma de compensação do Garça-Real elaborado na praia.
A maré tinha subido e até passado o seu arco e ele estava começando a se levantar e a
agitar incansavelmente nas pequenas ondas enquanto corriam para dentro. Stefan, que
havia sido deixado para trás para cuidar de Ingvar, tinha colocado uma âncora de praia
na sua ausência.

A tripulação vertia através do portão para a praia em uma procissão irregular.


Jesper parou no meio da praia para recuperar a âncora, levantando-a com ele enquanto
sorria triunfante para Stig, vários metros atrás.

— Você estava dizendo sobre Tursgud? — ele disse.

Stig imaginava dar de ombros, em seguida, estendeu a mão para a âncora. —


Deixe-me retificar isso. Você é muito delicado para uma carga desse tipo.

Eles compartilhavam o peso entre eles. Quando chegou ao navio, Hal avaliou a
água subindo rapidamente em torno de proa do navio. Felizmente, eles não
precisariam da enorme força de Ingvar para dar o fora.

— Todos a bordo — ele gritou. — Stig, Jesper, empurra-nos para fora!

298 - Brotherband
Ele correu atrás do leme. O Garça-Real deslizou suavemente em águas mais
profundas quando Stig e Jesper empurraram contra o arco. Quando ele começou a
mover-se livremente, eles saltaram para o baluarte. Mãos dispostas agitaram-se a
bordo.

— Stig! Stefan! Estibordo, velejar acima! — Hal ordenou.

As cordas gritaram através dos blocos de madeira quando Stig e Stefan


agitaram, lançando a estibordo a verga e a vela voando pelo mastro, para se encaixar
com uma batida monótona. O navio começou a virar a cabeça na direção do vento e
Hal deixou-o ir por alguns segundos, em seguida, trabalhou o leme para trás para
trazê-lo mais perto.

Quando Ulf e Wulf interpuseram a vela de dentro, o vento pegou e o Garça-


Real virou mais rápido. Thorn, sem ser dito, apoiou-se no leme de inclinação e
empurrou-o para baixo. Hal sentiu a resposta positiva quando o navio realizou o curso
com mais firmeza. Ele trouxe o Garça-Real à volta até que o vento foi de ré. Ulf e
Wulf deixaram a vela à direita para correr diante do vento e o Garça-Real começou a
se mover mais rápido e mais rápido. As volumosas ondas contra sua proa e pelo seu
casco ficaram mais altas e mais rápidas. Então, ele estava cortando uma esteira branca
através da água enquanto se dirigia para a boca do porto para interceptar o Corvo.

Thorn juntou-se a Hal na plataforma de direção. Eles lançam olhares ansiosos


em frente, procurando a primeira vista do Corvo ou do Wolfwind.

— Você acha que estamos em tempo? — perguntou Hal. Havia uma nota de
desespero em sua voz. Eles tinham estado tão perto de pegar Zavac. Tão perto de
recuperar o Andomal. Tão perto de serem capazes de voltar para casa.

Thorn encolheu os ombros. Uma coisa que tinha aprendido ao longo dos anos
era para não antecipar uma situação. Se fossem no tempo, que assim seja. Se não, eles
tinham uma longa perseguição atrás do Corvo.

O sol estava caindo perto do horizonte agora, eles perscrutaram a frente do seu
brilho, protegendo seus olhos. Até agora, eles não podiam ver nada.

Svengal e sua tripulação tinham rodeado a margem inferior do porto e estavam


a meio caminho de volta ao longo do cais oeste antes do Corvo, que levantado pela
maré, finalmente derivou livre do banco de lama.

Enquanto corriam atrás dele, vários de seus homens tinham gritado abusos e
ameaças.

— Poupem o fôlego — disse Svengal para sua tripulação. — Vocês vão


precisar dele para correr.

Os Invasores - 299
Agora, ele olhou para trás por cima do ombro e viu o Corvo começar a se
mover novamente. O Wolfwind estava apenas a cem metros de distância. Se o Corvo
corresse para fora do porto, eles não teriam nenhuma chance de interceptá-lo. Mas
tinham que escolher seu caminho cuidadosamente através dos barcos de pesca
ancorados e barcaças, e depois de seu erro com o banco de lama, Zavac não teria
qualquer outra chance. Ele estava se movendo lentamente e deliberadamente.

Em seguida, os escandinavos foram subindo a bordo do Wolfwind e houve um


barulho urgente de remos quando a tripulação passou-os através da cavilha de remos.
Svengal tinha apenas dez homens com ele, o resto de sua tripulação ainda estava
perseguindo Magyarans vadios em ruelas de Limmat. Mas dez deve ser suficiente.
Eles poderiam manter Zavac e seus homens até Thorn e os Garças chegarem para
ajudar.

Eles ainda estariam em desvantagem pelos piratas, pensou. Mas, então, um


sorriso selvagem iluminou seu rosto. Estar em menor número não o preocupava. Eles
eram escandinavos, afinal.

Ele lançou-se ao leme quando os homens começaram a remar, cinco remos de


cada lado. Havia um riacho estreito através dos pântanos onde tinham deixado o
Wolfwind, que levava para o mar aberto. Olhando em direção ao porto, ele poderia ver
o mastro alto do Corvo, parecendo deslizar sobre a intervenção da areia e bancos de
lama dos pântanos. Ele estava ganhando velocidade quando veio para as águas mais
claras do porto, mas tinham uma vantagem sobre ele.

Ele estava chegando perto, pensou. Não há tempo para manobras extravagantes-
apenas cortar, correr ao lado e embarcar nele. Eles teriam uma chance. Uma vez que o
Corvo alcançasse o mar aberto, ele se distanciaria deles facilmente.

Mas o Wolfwind, iluminado como foi sua passagem através dos pântanos,
estava respondendo mais voluntariamente do que ele esperava. O homem inclinou-se
para os remos, sem qualquer necessidade dele impulsioná-los, e o casco, tirando
apenas vinte ou trinta centímetros de água, voou até o riacho e para o mar aberto.

Ele olhou por cima do ombro novamente. O Corvo estava quase na boca do
porto e agora ele atingia a velocidade máxima também. A posição relativa dos dois
navios se manteve constante e ele percebeu que estavam segurando a sua própria com
ele. Mas seus homens seriam os primeiros a se cansar nesta corrida, ele sabia.

Apresse-se, Thorn, Svengal pensava. Nós vamos precisar de você.

300 - Brotherband
Capítulo quarenta e um

Q uando o Corvo passou da entrada do porto, Zavac bateu no leme triunfante.


Eles estavam livres!

Então ele teve um sobressalto de surpresa quando viu outro navio


emergir dos pântanos. Ele não tinha notado porque, sem seu mastro alto, o Wolfwind
era quase indistinguível entre as ilhas de areia e raquíticas árvores dos pântanos.

Mas agora ele estava na água clara, com ondas brancas em sua proa. Ela parecia
um bote com remos coberto, pensou. Mas estava se movendo rapidamente através da
água, e ele podia ver os capacetes com chifres de sua tripulação.

Escandinavos.

Seus olhos se estreitaram quando estudou mais de perto e seu espírito começou
a se levantar após o choque inicial de vê-lo. Ele contou os remos - cinco em cada lado.
Então, tinha apenas dez homens a bordo dele, enquanto ele tinha mais de quarenta.

Ele poderia lutar com ele, é claro. Mas não havia necessidade. E ele não tinha
vontade de meter com escandinavos, mesmo dez deles. Em vez disso, ele arribaria
para bombordo e o deixaria em seu rastro. O navio escandinavo nunca poderia manter
o ritmo assassino que o Corvo tinha criado no momento, não com apenas dez homens
no remo. Ele olhou para o sol, que parecia se equilibrar na borda do horizonte, enorme
e vermelho. Em meia hora, estaria completamente escuro e ele poderia completar sua
fuga. Encostou-se ao leme, se preparando para virar o navio para bombordo, longe do
excesso de velocidade do navio viking. Quanto mais rápido ele pudesse fugir deles,
mais ele poderia arrastar a corrida para fora, e mais cansados os remadores
escandinavos se tornariam.

E mais para trás o navio escandinavo ficaria. Um sorriso começou a se espalhar


sobre o rosto.

— Velas! Navegando a bombordo da proa.

O sorriso de Zavac desapareceu em um flash. Ele virou-se para onde o vigia


estava apontando. Era aquele navio amaldiçoado com a vela triangular estranha. Ele
estava em sotavento na frente do vento, pulverizando seu convés em ambos os
lados, enquanto sua proa cortava as águas. Estava mais para o mar e se movendo mais
rápido do que ele. Ele podia ver que seriam facilmente interceptados se ele segurasse
este curso.

Os Invasores - 301
Havia apenas um caminho certo para ele. Dirigir para trás para estibordo, de
volta para o navio viking.

E bater nele.

Svengal viu o navio negro voltar para ele. Sentiu um momento de triunfo
quando o Garça-Real apareceu em volta do promontório, acelerando para interceptar
os piratas ao largo. Agora ele desapareceu quando viu o que Zavac tinha em mente. O
Wolfwind era o único obstáculo entre o Corvo e a liberdade e podia ver o ritmo de
suas remadas aumentando à medida que ia direto para ele.

— Remem —, ele gritou com sua equipe. — Remem por suas vidas!

Se ele virasse, o Corvo poderia facilmente ultrapassar o Wolfwind e abatê-lo.


Sua única chance era esperar até o último momento, então atravessar a proa do Corvo.
Se ele pudesse fugir aquela primeira tentativa de abalroar, eles sobreviveriam. Zavac
não voltaria para a segunda corrida, não com o Garça-Real acelerando pra cima deles.
Seus homens tensos e arfando, ofegando com o esforço. Svengal se inclinou para
vante, franzindo a testa enquanto media ângulos, velocidade e distância, e viu que
iriam passar livres. Eles evitariam aquela batida mortal por alguns metros.

Mas isso foi o suficiente. Eles ganharam!

Então ele percebeu que o Corvo tinha aumentado seu ritmo.

— Lá estão eles!

Foi Stig que gritou a primeira aparição dos dois navios. Hal esticou-se para
olhar sob a vela e viu.

O Corvo estava indo longe do Wolfwind, seus remos chicoteando a água


espumante para baixo dos flancos. Mas à medida que o viu, ele obviamente os avistou,
e depois de alguns segundos, se afastou, voltando para estibordo.

Agora o Corvo e o Wolfwind estavam em rota de colisão quando Svengal tentou


desesperadamente atravessar a proa do Corvo. Thorn estava ao lado de Hal na
plataforma do leme e eles observavam ansiosamente quando os dois navios se
aproximavam cada vez mais.

— Ele vai conseguir! — Hal gritou. Mas a longa experiência de Thorn disse-lhe
o contrário.

— O Corvo está enganando — disse ele calmamente. O triunfo de Hal se


transformou em horror quando viu que Thorn estava certo.

O Corvo começou a se mover mais rápido e seu aríete estava se dirigindo como
uma flecha para o lado frágil do Wolfwind.

302 - Brotherband
No último momento, vendo que a colisão era inevitável, Svengal jogou sua
cartada final, desesperado.

Quando a proa do Corvo se abateu sobre eles, ele gritou uma ordem para seus
homens.

— Todos para bombordo! Para bombordo! Agora!

Parecia uma ordem insana. O navio negro foi caindo sobre o seu lado bombordo
e o instinto era fugir para estibordo. Mas Svengal sabia que se eles fizessem isso, o
casco seria seu calcanhar, expondo suas partes baixas ao aríete.

Desta maneira, o peso da tripulação ao se mover para bombordo do navio


inclinou lateralmente para o Corvo, de modo que quando o aríete quebrou e se
estilhaçou em seu navio, fê-lo muito maior no casco.

O terrível, desastroso impacto jogou Svengal no chão e ele estatelou-se no


convés, olhando para o buraco maciço que o aríete tinha rasgado em seu navio.
Vagamente, ele podia ouvir os gritos triunfantes da tripulação pirata, e os gritos de
vários de seus homens que tinham sido feridos na colisão. Mas ele se recuperou, ficou
de pé e gritou ordens para seus homens não lesionados.

— Afastá-lo pra longe! Pegar remos e afastá-lo!

A água do mar estava verter para o navio em torno das bordas do aríete. Era um
feixe de ferro calçado que projetou dois metros à frente da proa do Corvo abaixo da
linha de água, e tinha perfurado uns trinta centímetros quadrados no lado do
Wolfwind. No momento, não estava ainda firmemente embutido no navio viking e,
em grande parte, estava tapando o furo. Mas quando a tripulação do Corvo arribasse e
se retirassem o mar iria entrar e Svengal e seus homens teriam apenas alguns minutos
para salvar o seu navio.

Quatro de seus homens tinham remos agora e eles estavam tentando empurrar o
Wolfwind livre do aríete. Mas os navios estavam presos apertado juntos e os seus
esforços estavam tendo pouco efeito. Então Svengal ouviu uma ordem da popa do
Corvo e sua tripulação começou a arribar, retirando-se e deixando o Wolfwind a
chafurdar com uma enorme lacuna em sua amurada e casco. Agora, o mar entrava
rápido e Svengal ouviu o riso zombeteiro de Zavac quando o Corvo virou-se e foi para
oeste.

Mesmo quando Svengal pegou um balde e gritou para seus homens para
começar a esvaziar, ele sabia que era impossível. Ele não tinha homens suficientes
para conter o fluxo de água que atingia o navio. Sem ajuda, ele estava condenado.

E ele sabia que perder o Wolfwind iria quebrar o coração de Erak. Seu velho
amigo nunca o perdoaria.

Os Invasores - 303
A tripulação do Garça-Real ouviu o triturante impacto dos dois navios sobre a
água. Alguém gemeu, provavelmente, mesmo sem perceber, o que refletia a agonia do
Wolfwind enquanto o aríete cruel ferrava seu casco lustroso.

Eles viram no último minuto a tentativa de Svengal para minimizar os danos.


Mas quando o Corvo moveu-se para trás lentamente, eles puderam ver que o buraco
no casco do Wolfwind era grande demais para sua reduzida tripulação manusear.

O Corvo se afastou do Wolfwind, deixando-o inclinando na água. Ele já teria


afundado se não fosse pelo fato de que, sem mastro e pedras de lastro, ela estava
voando alto na água. Mas tudo o que podia ver é que ele ficou parcialmente destruído
e era só uma questão de tempo antes que ele afundasse.

— O Corvo está virando em nossa direção! — Edvin falou da proa.

Hal tinha pensado que o Corvo tentaria escapar com o vento. Agora ele
observava sua forma escorçar quando o navio negro girou para apontar para o Garça-
Real. Parecia que Zavac, tendo lidado com o Wolfwind, estava agora buscando ter
certeza que nenhum navio seria deixado a persegui-lo. Os remos começaram a batida
constante, e uma onda de proa branca se formou na linha de flutuação do navio pirata.
Quando ele subiu em ondas sucessivas, o enorme aríete pode ser visto claramente.

O Garça-Real estava em ângulo para passar na frente do outro navio. Hal


agachado no leme, olhando para frente, usando o estai como um ponto de referência.
O ângulo com a Corvo foi mudando lentamente, o que indicou que os dois navios não
estavam em rota de colisão. Se ambos mantivessem seus cursos e velocidades atuais, o
Corvo iria passar com segurança pela popa do Garça-Real. Seria perto, mas o Garça-
Real estaria seguro.

Que era exatamente o que tinha pensado Svengal, ele percebeu. Ele estreitou os
olhos, observando o ritmo dos remos do Corvo. Sua tripulação era rápida remando,
mas ele pensou que provavelmente tinham um pouco de reserva.

Thorn tinha chegado atrás e estava em pé perto dele.

— Tenha cuidado — alertou.

Hal assentiu. — Eu sei. — Seu olhar ainda estava voltado para o Corvo,
prestando atenção para o inevitável aumento do ritmo. Ele olhou rapidamente para a
vante, para onde a forma inerte de Ingvar jazia enrolada em cobertores no convés do
mastro. Se tivessem pensado em recarregar a Mangler, pensou, ele poderia dar à
Zavac uma surpresa desagradável quando os navios se aproximassem. Mas então ele
descartou a idéia. Em uma situação difícil como esta, ele sabia que nunca iria entregar
o leme para Stig.

304 - Brotherband
Lá! Os remos tinham aumentado o seu ritmo, de forma quase imperceptível.
Mas como estava olhando, ele viu, viu a onda de proa branca crescer um pouco mais
alto. Agachou-se, usando o estai como referência uma vez mais. Agora, o rumo para o
Corvo permaneceu constante. Eles estavam em rota de colisão e o enorme aríete
visava implacavelmente o coração de Garça-Real.

Thorn viu seu movimento e percebeu que, poucos segundos depois de Hal tê-lo
feito, que o Corvo tinha aumentado à velocidade.

— Ele está...

— Eu vi isso.

Os dois navios varriam para frente. A testa de Hal estava vincada em


concentração e ele estava ciente de que todos os olhos do Garça-Real estavam agora
em cima dele. Se ele virasse cedo demais, o Corvo poderia girar rapidamente atrás
dele e, nessas condições, a remos, pegá-lo antes que ele pudesse ganhar velocidade e
aríetá-lo na popa. Para escapar, teria que esperar até o último momento, deixando o
outro capitão acreditar que ele não tinha notado o aumento da velocidade, em seguida,
passar corrido em segurança então eles estariam indo em cursos divergentes. Zavac
faria uma tentativa, ele pensou. Se Hal pudesse manter a sua velocidade e passar
despercebido, levaria muito tempo para o pirata correr de volta e segui-lo. Zavac
gostaria de afundá-los, mas a sua principal preocupação era escapar de encontro à
escuridão.

O Corvo estava muito perto agora. Ele se aproximava cada vez mais, subindo e
descendo em ondas sucessivas, revelando aquele terrível aríete como uma enorme
presa. Thorn passou nervosamente ao lado dele. Não havia um som da tripulação do
Garça-Real.

Por um momento terrível, Hal pensou que tinha julgado mal à distância. Ele
deixou o pânico súbito de lado. Estava prestes a cruzar a proa do Corvo. Viu Zavac
alterar o curso ligeiramente para bombordo, então empurrou o leme longe, gritando
para Ulf e Wulf enquanto fazia isso.

— Afrouxar as escotas! Agora!

O Garça-Real estava velejando com a vela de bombordo puxado bem apertado.


Agora, quando a cabeceira girou para bombordo, os gêmeos arremataram as escotas e
deixaram a vela direita para fora, com o vento por trás dela. Eles viraram fazendo o
caminho de volta que eles tinham vindo tarde demais para Zavac conter a sua
mudança radical de curso. Silenciosamente, Hal deu graças pela aleta, e o excesso de
velocidade e capacidade de virada dada pelo Garça-Real.

Thorn estava certo, pensou. Rapidez e agilidade são nossas melhores armas.

Os Invasores - 305
Zavac tentou igualar à curva do Garça-Real, virando o leme para trazer a proa
virada para eles, mas era tarde demais e a resposta do Corvo era muito lenta. Os dois
navios deslizaram um após o outro, a proa do Corvo, na verdade, cortando através da
água perturbada no seu rastro. A tripulação do Garça-Real festejou intensamente
quando viram os piratas enfurecidos passando por eles.

Ao leme do Corvo, Zavac sacudiu o punho, com o rosto escuro de raiva. Então
Hal viu um súbito pânico varrer o pirata e ele abaixar rapidamente sob a amurada,
largando o leme, de modo que o Corvo guinou violentamente para fora do curso, indo
para ainda mais longe do Garça-Real. Um segundo depois de Zavac ter abaixado, um
dos dardos de Lydia passou violentamente pelo lugar que ele ocupava, batendo,
tremendo, na coluna da popa.

— Errei! — Disse ela com desgosto. Em seguida, os dois navios estavam um a


frente do outro e a diferença entre eles foi aumentando.

— O Corvo está ajustando as velas! — Isso foi Edvin, na proa. Todos olharam
e viram a grande vela quadrada caindo de seu mastro principal, preenchendo com o
vento com sua tripulação envergada para casa. Ele começou a ganhar velocidade.

Hal olhou para ele, medindo condições de vento e mar. Com o vento em sua
quarta parte como esse, o Corvo estava em seu melhor ponto de partida. Mas, nestas
condições, o Garça-Real era provavelmente um pouco mais rápido. Tudo o que ele
tinha a fazer era ir atrás dele.

— Nós poderíamos estar do lado dele em duas ou três horas — disse ele.

Thorn assentiu. Mas ele não disse nada. Hal era o skirl. A decisão era dele.

Hal assistia em um frenesi de indecisão. O Garça-Real estava posicionado em


um a meio caminho curso entre Corvo e o Wolfwind. Ele tinha que escolher. Seu olhar
correu do Corvo para o Wolfwind, vendo o navio viking parado mais baixo na água a
cada minuto. Se ele não fizesse nada, ele iria afundar e sua equipe iria afogar-se à
vista dos companheiros.

Mas o Corvo estava escapando. O Corvo, e Zavac, com o Andomal, o maior


tesouro da Skandia.

Ela estava escapando, e a única chance de Hal e seus amigos tinham de redimir-
se, de viver uma vida normal em seu país de origem, estava em ir atrás dele. Se não
conseguissem de volta o Andomal, eles iriam permanecer excluídos e párias, sem país,
sem futuro, sem honra. A cada minuto, o Corvo estava se afastando. Logo seria escuro
e ele o perderia de vista. Ele estava indo embora.

E assim teriam alguma esperança para a sua felicidade futura. Ele tinha que
decidir. E ele tinha que decidir agora.

306 - Brotherband
Ele respirou fundo quando percebeu que não havia decisão a tomar. Havia
apenas um curso que ele poderia seguir. Não importa o que o futuro reservava, ele
teria que viver com isso.

— Preparem-se para virar — ele chamou. — Nós estamos indo ajudar o


Wolfwind.

Os Invasores - 307
Capítulo quarenta e dois

E
les viraram em uma curva suave e começaram a acelerar em direção ao navio
viking atingido.

— Peguem caçambas e baldes! — Hal gritou. — Qualquer coisa que vá


reter a água! Uma vez que chegarmos ao lado, subam a bordo do Wolfwind e
comecem escoando!

Lydia se aproximou dele. — Existe alguma coisa que eu posso fazer?

Ele balançou a cabeça bruscamente. — A mesma coisa que o resto deles. Se


apossar de um balde e escoar a água para fora dele. Temos que aliviá-lo ou vai
afundar.

— Existe alguma maneira que podemos tapar o buraco? — ela perguntou. Mas
sua voz era duvidosa. Todos tinham visto o tamanho do aríete na frente do Corvo. O
buraco esmagado no casco podia ser qualquer coisa com meio metro de largura. Hal
olhou para frente, onde Ulf e Wulf estavam de pé, prontos para aparar as escotas.

— Eu estou trabalhando nisso — disse ele. Ele olhou para frente novamente.
Eles tinham a vela do lado da porta levantada e ele podia ver que chegariam ao
Wolfwind sem a necessidade de aderência. Então, ele levantou a sua voz. — Ulf!
Wulf! Cortem a vela a estibordo e a soltem da verga. Traga com você quando nós
abordarmos.

Os gêmeos balançaram a cabeça e reagiram como um só. Sacando seus saxes,


eles começaram a cortar as duas dezenas de pequenas alças de corda que ligavam a
vela à verga delgada. Eles empacotaram a lona pesada, prontos para levá-la com eles.

Eles estavam quase sobre o navio viking afundado agora. Hal julgou que era o
momento certo e chamou os gêmeos para deixarem a vela voar solta. Eles costearam
mais pra frente, diminuindo gradualmente, até que sua proa ficou nivelada com o
suporte da popa do navio viking. Stig estava de pé na proa, pronto, com um pedaço de
corda. Hal assentiu consigo mesmo na aprovação e reconhecimento. Stig foi um ideal
primeiro oficial. Ele não de ordens para ser feito o óbvio. Quando os dois navios
colidiram suavemente juntos, ele chicoteou a corda em volta do suporte da popa do
Wolfwind e rapidamente, amarrou os dois navios juntos, proa à popa.

Vamos precisar cortar aquilo às pressas se Wolfwind for para baixo, Hal
pensava. Em seguida, ele amarrou o leme inteiramente e seguiu o resto da tripulação

308 - Brotherband
enquanto eles corriam para bordo do Wolfwind, baldes e caçambas prontas na mão.
Ulf e Wulf esperavam por ele no mastro, carregando o pacote com a vela do lado de
estibordo entre eles. Suas expressões disseram-lhe que não tinham idéia de que ele
tinha em mente, mas estavam prontos para seguir suas ordens instantaneamente.

— Entrar a bordo e ir em frente! — Ele ordenou, e o seguiram enquanto ele


saltava através da abertura estreita entre os navios.

Imediatamente quando seus pés tocaram o convés do navio viking, ele pode
sentir o quão pesado ele estava com a água que tinha levado a bordo. Enquanto o
Garça-Real levantou-se e caiu como uma ave sobre as ondas, o Wolfwind o fazia
lentamente, sentindo como se fizesse mais parte do oceano do que montando sobre
ele.

Ele liderou o caminho percorrido freneticamente socorrendo os membros das


duas tripulações. Com mãos extras para ajudar, a água estava indo para o lado em um
ritmo progressivo.

Svengal virou-se para ele, uma expressão perplexa no rosto quando viu a vela
que os gêmeos estavam carregando.

— Que bom que você veio — disse ele. — Mas não temos um mastro para isso.

Hal apontou para frente. — Vamos colocá-la sobre a proa, em seguida, arraste-a
sob o casco até cobrir o buraco — disse ele. — Vai diminuir a água por baixo.

Os olhos de Svengal arregalaram em entendimento.

— Boa ideia — disse ele. Ele se virou e liderou o caminho em direção à proa,
adentrando através do grupo misto de Garças e tripulantes do Wolfwind, todos
ocupados atirando duchas prateadas de água para o lado.

Eles rapidamente desdobraram a vela, colocando-a em volta do suporte da proa,


em seguida, deixou-a deslizar sobre a proa arredondada até que ela foi fixada sob o
casco. Ulf e Wulf pegaram o lado estibordo. Hal e Svengal ficaram do lado bombordo
e arrastaram a vela de volta ao longo do casco até que chegaram ao ponto onde o
aríete do Corvo tinha atacado as tábuas do Wolfwind.

— Só um momento — disse Hal. Ele tinha visto um escudo descartado perto da


mão. Pegou-o e empurrou-o para baixo entre a lona e o casco, posicionando-o sobre o
buraco irregular. Em seguida, eles puxaram a vela bem apertada até que estivesse
sobre o buraco, segurando o escudo firmemente no lugar, como um encaixe. A
irrupção de água forçou a lona nas brechas ao redor do escudo.

— Arrastei-a apertando! — Hal falou, e Svengal e os gêmeos responderam,


levantando sobre as linhas anexadas a cada extremidade da vela. A tela, pesada, de

Os Invasores - 309
tecido fechado e impregnada com óleo, não era completamente à prova d'água. Mas,
combinava com a blindagem, que servia para vedar a maioria da água.

A torrente inundando o Wolfwind reduziu a quase nada quando eles amarraram


as pontas da vela.

Alguns da tripulação do Wolfwind viraram para vê-los enquanto eles colocavam


a vela no lugar. Svengal rugiu furiosamente para eles.

— Voltem ao trabalho! — Ele gritou. — Nós não estamos fora de perigo ainda!

Assustados, eles começaram a escoar água para o lado novamente. Durante


alguns minutos, não houve diferença apreciável. Depois, com dezoito pessoas no
trabalho, escoando furiosamente, Hal sentiu o navio viking começar a aliviar. Ele
soltou um profundo suspiro de alívio. Enquanto eles estavam trabalhando para salvar
o navio, ele tinha tido a pequena preocupação de que seus esforços poderiam ser em
vão e o Wolfwind iria para baixo, arrastando o Garça-Real com ele. Se isso
acontecesse, haveria restos e destroços suficientes na água para as pessoas se segurar e
se manter à tona, ele sabia. Mas o Ingvar inconsciente, colocado atrás do mastro do
Garça-Real quase certamente se afogaria antes que alguém pudesse alcançá-lo.

Agora que o perigo imediato havia passado, ele deu um passo para cima do
trilho e virou-se para olhar a forma do Corvo desaparecendo rapidamente.

A noite estava quase em cima deles e ele só pegou um breve vislumbre de sua
vela a distância antes dela desaparecer na escuridão.

Svengal murmurou uma maldição. — Ele fugiu de novo — disse ele. — Ele
tem uma sorte do diabo, aquele.

Thorn se aproximou enquanto eles estavam assistindo a vela pirata a distância.


Ele assentiu com a cabeça.

— Isso não é surpreendente. Eu ouvi que o diabo cuida dos seus — disse ele.

Hal abanou a cabeça, o gosto do fracasso amargando na boca. Eles haviam


chegado tão perto, ele pensou. De alguma forma, ele não conseguia pensar em uma
maldição suficientemente veemente para combinar com o momento. Seus ombros
caíram.

Thorn viu o movimento e deixou sua mão esquerda sobre o ombro de seu jovem
amigo.

— Lembre-se — disse ele. — O dia não é uma perda total. Você atacou a
cidade, expulsou ou capturou mais de uma centena de piratas sanguinários, e você
salvou o Wolfwind e Svengal no negócio.

310 - Brotherband
— Erak pode não se preocupar comigo — Svengal acrescentou, com um
sorriso. —Mas ele vai ser grato que você salvou o Wolfwind.

Hal deixou o olhar alternar entre os dois. — Isso, porém, não vai compensar o
Andomal, não é?

Os dois antigos camaradas trocaram um olhar. Svengal encolheu os ombros.


Mas Thorn respondeu.

— Vamos nos preocupar com o Andomal mais tarde — disse ele. — Por
enquanto, vamos levar este navio para a praia.

Os Invasores - 311
epílogo

A
luz de cem tochas queimando e brilhando ao redor da praça, iluminando os
rostos das pessoas da cidade que comemoravam sua libertação.

Ovelhas e porcos inteiros girando atravessados no centro da praça, a


gordura escorrendo deles e crepitando sobre as camas em brasa de carvão abaixo
deles. Os homens girando os espetos tinham sua energia e entusiasmo mantidos por
jarras de cerveja de vários barris que tinham sido abordados para a ocasião. Ao lado,
uma pilha de barris adicionais esperado para substituir os que estavam sendo
rapidamente esvaziados.

Foi uma ocasião festiva e as tripulações do Garça-Real e Wolfwind estavam


felizes juntos. Quando a festa acabou Hal planejou partir, navegando com a maré da
noite em busca do Corvo.

Embora exatamente onde a perseguição iria levá-lo, ele não tinha idéia.

Por um momento, no entanto, eles puderam apreciar a agitação e o barulho da


festa, e os agradecimentos do povo da cidade, que os aproximou.

Svengal pegou uma jarra de cerveja de uma bandeja que passava e Hal bateu
em seu ombro. — Gostaria que pudéssemos ir com você — Svengal estava dizendo,
gritando para fazer sua voz transitar o burburinho de risos e canto que enchia a praça.

Hal encolheu os ombros. — Você precisa colocar o Wolfwind em condições de


navegar novamente, — disse ele. — Isso vai mantê-lo ocupado por pelo menos um
mês.

Uma vez que tinham encalhado o navio viking, Hal e Svengal tinham avaliado
o dano que o aríete do Corvo tinha feito. Várias armações foram quebradas e teriam
de ser substituídas, juntamente com dois dos principais barrotes de suporte que
corriam o comprimento do navio. Claro, havia pranchas quebradas ao ser arrancadas e
substituídas também. A experiência de Hal no estaleiro de Anders disse-lhe que o
navio precisava de grandes reparos. Um trabalho de improviso rápido não serviria.

Svengal assentiu sombriamente. — Isso é verdade — disse ele. — Eu preciso


deixá-lo em forma antes de levá-lo de volta para Erak.

Hal sorriu com simpatia. O afeto do Oberjarl para seu navio, e seus instintos de
proteção sobre ele, eram bem conhecidos em Hallasholm. Eles ficaram em silêncio
por um tempo, assistindo um Stig um pouco sobrecarregado, mas completamente
312 - Brotherband
encantado, sem reação enquanto uma sucessão de jovens moças atraentes da cidade
reivindicava-no como um parceiro de dança. Então um pensamento atingiu Svengal e
ele virou-se, olhando em volta da praça lotada.

— Onde está Thorn? — Disse. — Não é do feitio dele perder uma festa.

Hal franziu os lábios. Ocorreu-lhe que Thorn não se importava de ser cercado
pela tentação de barris de cerveja abertas e garrafas de aguardente.

— Eu não tenho certeza — disse ele. — Ele estava aqui antes, então pegou
Stefan pelo braço e afastou-o para longe. Eu não sei para onde eles foram.

— Hmmm, — Svengal disse, pensativo. — Eu posso garantir que ele está


aprontando alguma coisa.

A prisão Limmat era uma pequena, construção sólida de tijolos e madeira,


construída ao longo de um porão profundo, onde as celas eram concentradas. Como a
maioria das prisões, era mal iluminada, com apenas a sala central, que acomodava os
guardas tendo mais do que a iluminação básica.

Uma única tocha fora montada na parede acima maciça porta de carvalho com
fechaduras de metal. Sua chama lançava um círculo de luz amarela piscando nas
pedras abaixo dela. Duas figuras surgiram de uma rua lateral, e se aproximaram da
porta. O rumor da festa na praça da cidade chegava até eles.

Um dos homens era um escandinavo. Sua estrutura maciça e capacete com


chifres eram inconfundíveis. O outro era menor e mais leve na constituição, e envolto
em um manto pesado.

— Pronto Stefan? — Perguntou Thorn. Seu companheiro levantou uma mão.

— Só um minuto — disse ele. Então, ele reuniu suas idéias e esticou seus
ombros, deixando o capuz de seu manto cair para frente para sombrear mais seus
traços.

—Tudo bem, eu acho que estou pronto agora, — disse ele. Mas a voz não era
mais de Stefan. Era uma interpretação perfeita da voz de Barat.

Thorn sacudiu a cabeça com admiração. — Eu não sei como você faz isso.

Então, quando Stefan assentiu, Thorn bateu na porta com seu gancho de
madeira. Houve uma longa pausa, em seguida, eles ouviram passos lentos arrastando
em direção ao interior da porta. Houve um ruído de uma chave na fechadura, e a porta
foi arrastada semiaberta, a sua borda inferior raspando no chão de pedra.

— Sim? — O carcereiro era o guarda noturno. Ele olhou pela porta semiaberta
para eles, seu corpo bloqueando o caminho. Ele estava acima do peso e mancava

Os Invasores - 313
pesado, o que justificava os passos lentos. Ele também estava com um humor menos
do que amável, tendo sido despertado de seu cochilo depois do jantar pela autoritária
martelando na porta. As pessoas não vinham para a prisão muitas vezes. E elas
raramente vinham à noite.

— Sou Barat Tumansky — Stefan vociferou. — Eu preciso fazer algumas


perguntas ao prisioneiro Rikard. É urgente.

O carcereiro permaneceu bloqueando a porta. Ele olhou por cima do ombro


para os corredores escuros atrás dele.

— É tarde — disse iradamente. Thorn abriu a boca para falar, mas Stefan
parou-o, movendo-se a frente e respondendo com raiva.

— Eu sei que é tarde — ele retrucou. — Eu disse que isso é urgente! Eu preciso
interrogá-lo agora. Depressa, seu idiota! Estou atrasado para as festividades!

Ele apontou um dedo na direção dos sons de folia que vinha da praça. O
carcereiro vacilou, mas manteve-se de pé rapidamente. A voz de Stefan estalou em um
tom inconfundível de comando.

— Deixe-me passar! Você sabe quem eu sou?

O carcereiro, intimidado, mudou-se para um lado, inclinando a cabeça


ligeiramente. Ele arrastou a porta aberta e admitiu os dois homens. Stefan estalou os
dedos com impaciência.

— Certo! Onde ele está? Mexa-se, seu idiota! Eu não tenho a noite toda!

Lentamente, o carcereiro abriu o caminho para uma escadaria de pedra que


levava até as celas abaixo do nível do solo. Ele ofegou no caminho até embaixo,
Stefan logo atrás dele e Thorn seguindo. Eles surgiram na parte inferior das escadas
em um longo e baixo corredor, iluminado em intervalos irregulares por tochas. Havia
mais sombra do que a luz aqui em baixo, Stefan pensava.

O carcereiro indicou uma das portas das celas, a meio caminho ao longo do
corredor.

— Ele está lá dentro — disse ele. A raiva mal controlada de Stefan explodiu.

— Você espera que eu sussurre pelo buraco da fechadura? Abra a porta, seu
idiota!

Murmurando para si mesmo, o carcereiro arrastou-se até a porta, atrapalhou-se


com o molho de chaves no cinto, e em seguida, a abriu. As dobradiças rangeram
quando ele fez isso.

314 - Brotherband
— Eu vou ter que ficar enquanto você fala com el, — disse ele. Seu tom de voz
disse que não tinha certeza se Stefan iria concordar com isso. E ele estava certo.

— O inferno que vai! Volte lá para cima imediatamente. Não quero você
espionando o que estou fazendo e dizendo! Suma daqui!

— Mas... o prisioneiro — o carcereiro começou hesitante.

Stefan interrompeu-o vivamente. — O meu homem aqui vai se certificar de que


ele não fugirá. — Ele indicou a forma massiva de Thorn, aparecendo na penumbra ao
lado dele. — Agora, volte para o seu posto!

Resmungando para si mesmo, o guarda noturno cambaleou para longe, subindo


a escada com vários olhares para trás. Thorn ficou fascinado ao ver como a hipótese
de autoridade poderia intimidar uma figura subordinada tão rapidamente. Finja que
você tem autoridade, pensou, e a maioria das pessoas vai ceder a você.

Quando o carcereiro chegou ao degrau mais alto, Thorn fez um gesto para a
porta aberta.

— Vamos lá — disse ele, fazendo uma pausa para acrescentar — Bom trabalho,
a propósito.

Rikard olhou sem curiosidade quando as duas figuras entraram em sua cela. Ele
foi um dos poucos sobreviventes piratas que tinham sido capturados. Muitos fugiram
para a área circundante. Mais de metade tinha sido morta na batalha, e os outros
tinham escapado no Corvo.

Rikard tinha se envolvido em uma breve luta com Svengal e seus homens no
cais. Ele tinha imprudentemente escolhido Svengal como seu adversário e sofreu um
golpe de machado do escandinavo como resultado.

Mas, por sua vez, Svengal tinha estado ligeiramente fora do alvo e o golpe tinha
resvalado o capacete do pirata. Tinha sido o suficiente, porém, para deixá-lo deitado
atordoado, como se estivesse morto, pelo cais. Horas após de a batalha acabar, ele
recuperou a consciência, e foi rapidamente levado prisioneiro enquanto cambaleava
atordoado e tonto, pelas ruas.

Agora que o carcereiro tinha ido embora, foi Thorn quem assumiu o papel de
líder. Ele sentou-se em frente à Rikard, que estava sentado em um banco numa mesa
de madeira lisa.

— Eu quero a informação — disse ele, indo direto ao ponto.

Rikard zombou dele. — Por que eu deveria dar a você?

Os Invasores - 315
— Porque eu posso te tirar daqui — disse Thorn. Ele notou um despertar de
interesse nos olhos do outro homem e continuou. — Você sabe o que vai acontecer
com você se eu não te ajudar?

— Eles pretendem me enforcar — disse Rikard. Sua voz ficou presa com a
palavra sujestiva.

Thorn assentiu. — Isso mesmo. Isso é o que acontece com os piratas. Pessoas
os enforcam. Não é uma boa maneira de partir, na verdade.

— Você veio aqui para me atormentar? — Rikard exigiu, mas Thorn balançou
a cabeça.

— Nem um pouco. Eu vim para dar-lhe uma chance de fugir. Contanto que
você me diga o que eu quero saber.

Mas Rikard estava olhando para ele com desconfiança. — Por que você quer
me ajudar?

— Eu não. — respondeu Thorn. — Até onde eu sei, eles podem enforcá-lo tão
alto quanto à lavagem da semana passada. Ou não. Eu não me importo de qualquer
maneira. O que eu me preocupo com é onde Zavac está indo. E eu acho que você pode
me dizer.

Ele estava observando os olhos do homem de perto e até mesmo na luz fraca da
vela, ele viu uma faísca lá. Rikard sabia onde Zavac estava indo. Thorn tinha certeza
disso.

— Diga-me o que eu quero saber e eu vou te tirar daqui — disse ele.

Rikard abaixou a cabeça, olhando com cautela Thorn sob as sobrancelhas. —


Como eu posso confiar em você? Se eu te disser, você poderia facilmente me deixar
aqui.

O enorme escandinavo encolheu os ombros. — Isso é verdade. Mas eu não


estava pensando em deixar você solto — logo que você me disser. Você poderia estar
mentindo para mim. Eu pretendo levá-lo junto com a gente até que saibamos que você
está dizendo a verdade. Então eu vou te libertar.

Ele esperou enquanto Rikard digeria essa informação, e depois acrescentou com
uma voz mais suave, — Ou, se eu decidir que você está mentindo para mim, vou
simplesmente deixá-lo ao mar.

Houve uma longa pausa. Então Thorn falou novamente. — Sua escolha. Mas
estamos ficando sem tempo.

Rikard olhou para a porta aberta. — E sobre o guarda?

316 - Brotherband
Thorn deixou escapar uma pequena gargalhada. — Você acha que aquele saco
de banha poderia me parar?

Rikard balançou a cabeça lentamente, considerando.

— Tudo bem, — ele disse finalmente. — Mas eu não contarei até que
estejamos no mar.

Barat mudou-se para um podium armado em um dos lados da praça, em frente


da casa de contagem. Ele ergueu as mãos pedindo silêncio e, gradualmente, o
burburinho de ruído e vibração sumiu. Algumas pessoas chamaram o seu nome, e
acrescentaram exclamações elogiosas. Ele sorriu graciosamente em sua direção,
acenando para cada um.

— Obrigado, amigos — disse ele, quando as vozes finalmente morreram na


distância e houve um silêncio expectante. Ele sorriu, olhando em volta do mar de
rostos diante dele.

— Meus amigos, têm sido uma época terrível a que estamos passando. Todos
nós perdemos amigos e parentes, e nós vamos chorar por eles em dias vindouros.

Houve um murmúrio de concordância entre a multidão. Então Barat levantou a


sua voz em uma nota positiva.

— Mas esta noite, vamos comemorar! Vamos celebrar o que temos jogado fora
o jugo que os invasores tentaram colocar em nós. Nós já os enfrentamos e os
combatemos e os derrotamos!

A alegria espontânea tocou ao redor da praça. Ou foi espontânea, Hal pensava.


Ele podia ver várias das tropas de Barat liderando o aplauso próximo.

— Eu quero dizer como estou orgulhoso dos meus homens. Meus


companheiros Limmatans que invadiram a muralha comigo e expulsaram os invasores
para fora!

Mais uma vez, aplausos interromperam. Ele ergueu as mãos pedindo silêncio.
— E, em particular, quero louvar a uma jovem que lutou tão bravamente quanto
qualquer homem na batalha. — Ele olhou ao redor da praça.

— Lydia? Onde você está? Se junte a mim aqui.

Ele sabia que ela estava a poucos metros do palco, onde estava conversando
com vários velhos amigos e vizinhos. Ele apontou para ela agora e fez um gesto para
que se juntasse a ele. Irritada, ela balançou a cabeça. Mas a multidão começou a gritar
seu nome.

— Lydia! Lydia! Lydia!

Os Invasores - 317
Percebendo que não havia jeito de sair dessa, ela forçou o caminho e subiu na
tribuna, ignorando a mão estendida de Barat. Seu rosto estava tingido de vermelho.
Ele rapidamente puxou-a para ele, um braço ao redor dela.

Relutante, ela resistiu à tentação de se afastar.

— Aqui está ela, meus amigos. Nenhuma garota corajosa nunca agraciou esta
cidade, e eu estou orgulhoso de dizer, ela vai ser minha mulher!

— O quê? — Stig disse em voz alta. Então ele viu a reação de Lydia, vi
balançando a cabeça enquanto ela falava com raiva para Barat. Mas a multidão estava
selvagem com a idéia, e Barat apenas sorriu para ela enquanto eles aplaudiram.
Multidões adoram um bom romance, afinal de contas, e Barat estava ciente do fato.

Ele ergueu a mão pedindo silêncio novamente. Quando o barulho cessou, ele
falou em um tom sério.

— Como eu disse, todos nós perdemos amigos na semana passada ou dois.


Mas nós não desistimos quando as coisas pareciam negras. Continuamos lutando!

— Você fugiu para os pântanos, há de convir, — disse Edvin com raiva. Os


outros membros da tripulação do Garça-Real murmuraram de acordo quando Barat
continuou.

— Viemos com um plano para o nosso contra-ataque, um contra-ataque que eu


liderei em pessoa. E nós ganhamos totalmente!

— Engraçado — disse Stefan, seguindo o exemplo de Edvin, — Eu poderia


jurar que Hal veio com esse plano. Não me lembro de Barat ter feito muito alem de
contestar .

— Cale a boca — disse Hal, por entre dentes.

Barat olhou por cima das cabeças da multidão, então para onde ele podia ver o
pequeno grupo de escandinavos.

— E eu gostaria de agradecer aos nossos aliados para proporcionar o desvio


que nos ajudou a vencer. — Ele liderou um gracioso salva de palmas então, enquanto
os Garças fervilhavam.

Jesper virou-se para Hal, que estava assistindo, inflexível. — Você derrubou as
torres de vigia. Você transportou Barat e os seus homens para a parede leste. Você
derrotou os defensores no portão da praia. Você enviou Zavac e seus homens num
pacote! O que ele fez? Ele escalou uma parede!

— Deixa pra lá — disse Hal. — Você não pode ver que ele está querendo o
escritório? Ele está planejando se eleger prefeito.

318 - Brotherband
O ex-prefeito de Limmat tinha sido um dos primeiros alvos dos piratas. Ele
havia sido morto nos primeiros dias. Agora, Hal percebeu, Barat estava usando o
respeito que ele tinha ganhado como o líder das forças Limmatan, e a emoção positiva
de sua proposta pública para Lydia, para cimentar a sua posição como o novo líder da
cidade. Como ele tinha pensado, Hal percebeu que Lydia não estava mais no pódio.
Nos últimos minutos, ela tinha escorregado para algum lugar.

— Então, meus amigos — Barat estava concluindo — deixe-me dizer a todos


vocês, se houver qualquer maneira que eu possa atendê-los ou a nossa cidade nas
próximas semanas, então eu humildemente me torno disponível.

Houve uma onda de aplausos e apreço pela multidão. Ele sorriu, em seguida,
levantou as mãos para todos eles.

— Mas hoje vamos comemorar nossa vitória. Amanhã, podemos começar a


pegar as peças e fazer desta cidade grande novamente.

A multidão aplaudiu e ele ergueu as duas mãos para eles. Ele olhou em volta,
consciente de que Lydia não estava mais a seu lado. Uma carranca rápida atravessou
seu rosto, então ele cobriu-a com um sorriso, curvando-se e acenando para a multidão.

— Vamos lá — disse Hal para sua tripulação. — Vamos sair daqui antes que eu
adoeça.

Svengal e alguns da tripulação do Wolfwind o acompanharam até o porto, onde


o Garça-Real estava atracado ao lado do cais. Ingvar estava dormindo a meia nau em
uma pele de carneiro, coberto com cobertores. Edvin foi verificar, viu que ele estava
dormindo tranquilamente e acenou com tranquilidade para Hal. Eles discutiram se não
seria melhor deixar Ingvar se recuperar em Limmat, mas uma vez que ele tinha
recuperado a consciência, o garotão vetou essa idéia com grande vigor.

— Eu sou um Garça — disse ele decidido. — Eu vou com você. — E uma vez
que ele parecia estar se recuperando do ferimento muito bem, Hal tinha concordado.
Não seria o mesmo sem Ingvar, pensou.

Thorn e Stefan estavam esperando no navio quando eles chegaram, e uma vez
que ele tinha visto que Ingvar estava confortável, Hal olhou-os com curiosidade.

— O que vocês estão fazendo?

O sorriso de Stefan quase dividiu o rosto distante. — Nós tiramos Rikard da


prisão — disse ele. Ele apontou para uma lona empilhada desordenadamente na frente
dos bancos de remo. — Ele está lá embaixo.

Hal não disse nada durante vários minutos. Então ele olhou Thorn diretamente
nos olhos.

Os Invasores - 319
— Tudo bem — disse ele. — Por quê?

— Ele sabe onde Zavac está indo — Thorn disse. — Eu fiz um acordo. Ele nos
diz e nós o ajudamos a fugir.

— Exatamente como vocês o tiraram de lá? — perguntou Hal.

Thorn hesitou, mas Stefan estava pronto com a resposta.

— Thorn socou o carcereiro. O derrubou inerte. Então nós simplesmente


saimos.

— Você... bateu... no carcereiro. Será que ele o reconheceu? — perguntou Hal.

Thorn encolheu os ombros. — Nenhuma chance. Ele provavelmente vai me


confundir com algum outro escandinavo maneta.

— E se Rikard estiver mentindo?

— Nós vamos segurá-lo até que saibamos de uma maneira ou de outra. Se ele
está mentindo, eu vou jogá-lo ao mar.

Hal apertou os lábios enquanto pensava nisso. — Muito bem — disse ele. —
Mas vamos indo antes que o carcereiro acorde e dê o alarme.

Eles escalaram para dentro do Garça-Real. Svengal e dois de seus tripulantes se


preparavam para abandonar a proa e as linhas de popa, enquanto a tripulação se
estabelecia nos bancos de remo.

— Vou mandar um homem na frente para abrir a barragem — disse Svengal.

Hal acenou em despedida. — Bons ventos, Svengal — disse ele.

— Bons ventos, Hal. Vamos vê-lo novamente em Hallasholm.

— Com a Andomal — Hal disse com firmeza. Ele olhou em volta, certificando
se o caminho estava livre. Ele estava prestes a acenar para os homens de Svengal para
terminar, quando um corpo esguio disparou para fora das sombras.

— Espere um momento — disse Hal para os marinheiros. — Lydia? É você?

A menina havia parado na beira do cais. Ela olhou para o Garça, olhando para
os rostos voltados para ela. Ela viu vários sorrisos de boas-vindas.

— Eu quero ir com vocês — disse ela.

Hal ia falar, parou, não sabia o que dizer. Então ela continuou.

320 - Brotherband
— Você o ouviu, não é? Eu não posso suportar ficar aqui com esse pomposo,
idiota arrogante de homem. Como se atreveu a anunciar que eu iria me casar com ele?
Como ele se atreveu?

Hal ainda não disse nada, sem palavras. Ela entrou em desespero.

— Se eu ficar aqui, vou fincar um dos meus dardos nele antes do mês acabar.
Além disso, eu ainda tenho contas a acertar com Zavac. Seus homens mataram o meu
avô.

— Deixe-a vir, Hal, — disse Stig, e o resto da tripulação em coro concordou.


Hal jogou as mãos no ar, num gesto de derrota.

— Por que não? Quem sou eu para recusar? Alguém mais quer vir? E você,
Svengal?

O skirl do navio viking sorriu. — Eu adoraria, por uma questão de fato. Mas é
melhor eu ir reparar o Wolfwind.

Lydia tinha seu saco de dormir, uma mochila e suas armas presas em um pacote
e jogou-os para Wulf, que os pegou com facilidade. Em seguida, enquanto se
preparava para descer para o barco, Stig avançou, sorrindo, com os braços para ajudá-
la a descer.

Ela olhou para ele com desdém.

— Desista, escandinavo — disse ela. — Só porque eu não gosto de Barat não


significa que eu goste de você.

Ela deixou-se cair tão facilmente para dentro do barco que Stig se afastou,
transformando seu gesto em uma reverência.

Thorn lançou os olhos para o céu, quando o Garça-Real se afastou do cais.

— Oh, essa vai ser uma viagem tão interessante — disse ele.

Os Invasores - 321

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