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ARGUMENTAÇÃO E INTERAÇÃO

NA LINGUÍSTICA TEXTUAL

DO TEXTO OFF-LINE PARA O DIGITAL:


IMPLICAÇÕES SOBRE O PLANO DE TEXTO, A
INTERAÇÃO E A ARGUMENTAÇAO

Ana Lúcia Tinoco Cabral


USP-Porfletras – IP-PUCSP
altinococabral@gmail.com
PERGUNTA

•  Quais implicações trazem deslocamentos de textos produzidos


off-line quando trazidos para o ambiente digital, considerando
a organização textual, a interação e a argumentação?
•  O estudo do texto, em particular do texto de função
argumentativa, estabelece o diálogo entre conceitos
ligados a questões relativas à textualidade e sua
organização, àquelas concernentes à língua e aos
recursos digitais, quando eles são disponíveis.
OBJETIVO

•  Verificar como o de plano de um texto se transforma,


se modifica, ou adquire complexidade, ao incorporar
recursos digitais, e como esses recursos contribuem
para a interação e para a argumentação.
Texto

•  Produzimos textos o tempo todo para nos


relacionarmos com os outros e com o mundo e,
atualmente, com a disseminação do uso das TEDIC e
das redes sociais, isso é cada vez mais usual; nessa
ação, temos objetivos, intenções, operamos escolhas,
ativamos conhecimentos, organizamos a materialidade
linguística, construímos mundos, agimos, interagimos.
Produzimos textos!

•  O texto é um fenômeno prático, social; um objeto que


apresenta uma organização composicional a qual
retrata um projeto enunciativo argumentativamente
orientado; este, por sua vez, conduz a produção
textual e orienta sua leitura.
Texto

•  [...] o texto é um evento sociocognitivamente situado


em contextos de interação; ele se dá num quadro
enunciativo, numa relação intersubjetiva entre
produtores de textos que operam escolhas linguísticas
e organizam a materialidade textual em função de um
propósito enunciativo, o que implica uma visada
argumentativa. (CABRAL, 2016a, p.39)

•  Os objetivos do produtor, aliados à função do texto e


aos recursos (também os digitais) de que dispõe o
produtor, orientam o plano textual.

• 
Texto e interação - ambientes digitais

A produção de conteúdos para a Web conta com


profissionais especializados em Web design.

Três princípios fundamentais (NIELSEN, 2010):

1.  adequação às necessidades e exigências do


público-alvo;

2. adequação às diferentes plataformas digitais;

3. produção de conteúdos apelativos e criativos que


estimulem a atenção do leitor, o envolvam e o levem a
identificar-se com a informação, a marca, o produto ou o
serviço.
Texto e interação - ambientes digitais

Nielsen analisou websites utilizando a tecnologia do


EyeTrack (Nielsen, 2000)

Resultados:
1.  os leitores leem na diagonal;

2.  os leitores centram a sua atenção especialmente nos


títulos e subtítulos, nos números e nas
palavras-chave;

3.  o primeiro parágrafo é sempre o mais importante


para o leitor (FRANCO, 2008, p. 39-44).
Texto e interação - ambientes digitais
•  Leitor da Web - apressado, busca informações interessantes
e adequadas aos seus interesses. (CABRAL, 2013a)

•  Necessidades do leitor - três princípios fundamentais


(BAPTISTA, 2017):

•  1. o percurso textual deve partir do mais importante para o


menos importante - atrair a atenção do leitor;

•  2. leitura não necessita ser linear – hipertextualidade,


multimodalidade;

•  3. a leitura deve ser interativa – comentários.

• 
Observação de um exemplo
•  Crônica de Ruy Castro, publicada no jornal Folha de S.
Paulo em 15 de novembro de 2019, e igualmente
publicada em sua versão digital, no site do mesmo
jornal.
Bloco 1 – composto de 1 parágrafo (parágrafo 1) – introduz o
tema: possível prisão iminente de Jane Fonda
Bloco 2 – composto de 1 parágrafo (parágrafo 2) – apresenta Jane
ativista
Bloco 3 – composto de 2 parágrafos (parágrafos 3 e 4 ) – analogia entre o
cronista e a atriz ativista
Bloco 4 – composto de 1 parágrafo (parágrafo 5) – conclusão
Considerações finais
•  O plano de texto, ao refletir a organização dos
conteúdos no tecido textual, expõe as intenções de
dizer o produtor e cumpre importante função na
orientação argumentativa.
•  O tratamento digital amplia as possibilidades de sentido
•  E reforça a orientação argumentativa.
•  Inserções reorganizam os conteúdos, propiciando
reforço argumentativo, na medida em que põem em
destaque determinados elementos.
•  O texto digital expande o plano do texto, oferecendo
uma ampliação das informações ao usuário
relativamente ao texto offline.
•  Se por um lado o plano em si se torna mais complexo no
ambiente digital, por outro, ele cumpre uma função de
simplificação para o leitor.
•  A interação também é facilitada no texto adaptado
para o ambiente online e, podemos dizer, estimulada.
•  Estabelece-se um diálogo entre texto e usuários, e entre
usuários sobre o texto.
•  Cria-se um ambiente propício à interação e à
argumentação.
Muito Obrigada
REFERÊNCIAS
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dos discursos. 2. Ed. revista e aumentada. São Paulo: Cortez, 2011.
BAPTISTA, Dina Maria. A importância do conteúdo na Web: para uma
estratégia de comunicação eficaz. In: A. M. Ferreira, C. Morais, M.
F. Brasete & R. L. Coimbra (Eds.), Pelos mares da língua portuguesa
III. 2017, p.925-944.
BLITVICH, Pilar Carcés-Conejos; BOU-FRANCH, Patricia. Introduction
do Analyzin Digital Discourse: New Insights and Future Directions. IN:
BOU-FRANCH, Patricia ; BLITVICH, Pilar Carcés-Conejos. (Ed.)
Analyzin Digital Discourse New Insights and Future Directions.
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CABRAL, A. L. T. Leitura de Textos Multimodais: simultaneidade e
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Maria Eduarda Giering
(UNISINOS/FAPERGS)
eduardajg@gmail.com

O IMPACTO DO DIGITAL
SOBRE A TEXTUALIDADE

https://klickpages.com.br/blog/como-criar-uma-pagina-na-internet/
Plano da apresentação

- Postulados da Análise
Textual dos Discursos para a
textualidade: faire texte
- O impacto do digital sobre a
noção de textualidade:
postulados da Análise do
Discurso Digital
- A possível noção de faire
texte para os discursos
digitais nativos
Para Adam e Philippe , há uma questão mais abrangente que implica não se perguntar
sobre O Trata se de se questionar quanto aos fatores que levam um sujeito
escritor ou leitor a ter, acerca de uma sequência de enunciados, um julgamento de
textualidade. A questão “O que é um texto?” arrisca fortemente apenas se deparar com
imaginários do texto datados e limitados a corpora restritos.

Refletir quanto aos fatores que levam um sujeito escritor ou leitor a ter, acerca de uma
sequência de enunciados, um julgamento de textualidade, assim como quanto às
consequências desse julgamento sobre a interpretação de tais enunciados. FAIRE TE TE

Os fatores que embasam o julgamento de textualidade, segundo Adam e Philippe ,


reafirmam a posição de que a análise feita pelo escritor e o leitor está baseada uma tripla
percepção:
• a conexidade ligações microtextuais dos enunciados ;
• a coesão percepção de totalidade local e global, das partes entre elas mesmas e delas em
relação ao todo do texto ;
• a coerência percepção de adequação dos enunciados a uma situação sociodiscursiva e a
um gênero de discurso .
(Adam, 2011, p. 61)
Adam (2015; 2019) postula três tipos de organização para as operações de ligação,
que são situadas num contínuum, que vai da uma textualidade assegurada pelas
ligações microtextuais à estrutura de ligação macrotextuais, passando pelas
mesotextuais.

As ligações microestruturais de base: ligações de significado (isotopia), as de atos de


discurso (o texto seria uma estrutura hierárquica de atos de discurso ligados);

As ligações mesotextuais: ligações semânticas e macrossintáticas proporcionadas


pelos períodos e sequências;

As ligações macrotextuais: organizadas pelos planos de texto, uma macrounidade


composicional restringida pela linearidade linguística da escrita e da leitura.

Os exemplos apresentados são textos escritos, offline.


O impacto do digital sobre a textualidade

Jean-Marie Viprey (2015)


Marie-Anne Paveau (2015)

Qual o postulado básico de Paveau (2015)?

As formas do discurso online, endêmicas do universo discursivo


digital, são compostas, ou seja, constituídas de uma matéria que
não é puramente linguageira, mas também tecnológica.

(PAVEAU, 2013)
TECNODISCURSO:
Trata-se da dimensão digital dos discursos nativos da internet, ou seja,
produzidos online. São os discursos produzidos pela e na chamada web 2.0, a
web social, a web das redes sociais digitais, mas igualmente os discursos
produzidos anteriormente em fóruns ou outros lugares discursivos, e também
os discursos/dados que constituem o que começamos a chamar de web 3.0.

Tecnologia discursiva é o conjunto de processos de discursivização da


língua em um ambiente tecnológico.
É um dispositivo no interior do qual a produção linguageira e discursiva
está intrinsecamente ligada a ferramentas tecnológicas online ou off-line
(computadores, telefones, tablets, softwares, aplicativos, sites, blogs,
redes, plataformas).
A posição de Paveau :
As ciências da linguagem em seu componente TDI texto, discurso, interação têm
tratado as produções digitais é o caso da linguística textual e da análise do
a partir das ferramentas teóricas e metodológicas existentes nessas disciplinas, em
uma perspectiva comparativa comparação de traços de discursos impressos e
digitais ou de aplicação aplicação aos discursos digitais dos dispositivos de análise
de escritas impressas .
Para Paveau (2013; 2018), é preciso pensar não mais em enunciados isolados, mas no
conjunto do dispositivo no qual eles são produzidos, à maneira de E. Hutchins, que, na
perspectiva da cognição distribuída, considera que, na atividade de pilotagem de uma
avião, é o conjunto do cockpit, instrumentos de medida incluídos, que falam, e não
somente o piloto e o copiloto (Hutchins, 1994): esse dispositivo, ou ambiência
(environnement), pertence a um dispositivo teórico “simétrico”.
Uma abordagem simétrica considera, assim, que as unidades ditas “extralinguísticas”
participam plenamente da elaboração da produção de enunciados, no interior de um
continuum entre verbal e não verbal, e não mais uma oposição (Paveau, 2009).
(PAVEAU, 2017)
Há três ordens para os textos digitais:
1 texto digitalizado;
3 texto digital;

PAVEAU, 2015b) Os hiperlinks podem literalmente constituir o texto de alguns


gêneros digitais nativos
DESLINEARIZAÇÃO
- visual: a cor desempenha um papel importante no discurso
nativo on-line, tanto na escrita quanto na leitura; o
tecnológico e o linguageiro são coconstitutivos.

- sintagmática: há uma interrupção sintática. Os elementos


clicáveis remetem a outros segmentos discursivos
relacionados;

- enunciativa: há uma saída do enunciado do texto fonte para


um texto alvo, em que se tem um processo de mudança
enunciativa (que nem sempre é uma citação);

- discursiva: um simples clique pode me levar de um


ecossistema para outro (por exemplo do twitter para o
instagram). O gesto de clicar no link passa a ser um gesto de
enunciação;

- semiótica: a hiperligação remete a imagens, sons, gráficos,


ações (natureza compósita dos enunciados digitais).
(PAVEAU, 2017)
(KOCH, 2009, p. 63)
O hipertexto é uma forma de estruturação textual que opera com uma escrita
multilinearizada e permite o “acessamento praticamente ilimitado de outros textos, a
partir de escolhas locais e sucessivas em tempo real”

A deslinearização não abole necessariamente a continuidade textual ou discursiva,


afirma Paveau (2015). Ou seja, a não linearidade não significa necessariamente
descontinuidade textual (Clement, 1995 [online].

Por um lado, o escrileitor pode retornar ao texto-fonte depois de sua excursão


hipertextual; por outro, uma reprodução desviante por parte do leitor não é
necessariamente descontínua e a unidade textual/discursiva pode ser construída por
meio de percursos de leitura que “a torna texto" (faire texte).
AUMENTO ENUNCIATI O
Em um blog ou numa postagem no Face, por exemplo, uma postagem assinada por um autor será aumentada
pelas discussões: no final, quem será o enunciador da postagem?
A interatividade na web social permite aos usuários tecer comentários.
https: achatadasdietas.blogfolha.uol.com.br em tempos de coronavirus nutrologo diz o que ajuda
na imunidade e o que e fake news

Escrita colaborativa no Framapad:


https://framapad.org/en/
Postagem no stories do Instagram
TECNOGENERICIDADE
Os ambientes tecnodiscursivos permitiram o surgimento de gêneros de
discursos que são dependentes desse meio. Alguns deles só podem existir on-
line por causa dos recursos tecnológicos que os definem.

O pedido de amizade é um tecnogênero, na medida em que passa de forma


nativa e obrigatoriamente pelo botão adicionar”.
PLURISSEMIOTICIDADE
A deslinearização, a ampliação enunciativa e a tecnogenericidade podem
vir acompanhadas da multissemioticidade: quando online, as produções
discursivas podem conter imagens de todos os tipos, vídeos, gravações de som
etc.
PRODUTOR/ LEITOR / ESCRILEITOR (Read-Writer)
(PAVEAU, 2015)
O produtor do texto:
No momento da escrita (a tecnoescrita), o escritor realiza uma operação de
inserção de um link:

http://pedagogizando13.blogspot.com/2015/09/como-inserir-
links-em-apresentacoes-do.html
O leitor ou o escrileitor:
Há uma operação simétrica, a da navegação por clique, e a da leitura: a
escrileitura.
O texto é exatamente o que o escrileitor faz com tudo isso no plano, ao mesmo
tempo, semântico e técnico.

Roger Chartier materializa esse read-write, esse ler-escrever com a metáfora da dobra :

Não é preciso considerar a tela como uma página, mas como um espaço em três dimensões,
dotado de largura, altura e profundidade, como se os textos estivessem atingindo a superfície
da tela a partir da parte inferior do aparelho. Consequentemente, no espaço digital, não é o
objeto que é dobrado, como no caso da folha impressa, mas o próprio texto. A leitura consiste,
portanto, em «desdobrar» esta textualidade móvel e infinita. Essa leitura constitui, na tela
unidades textuais efêmeras, múltiplas e singulares, compostas por vontade do leitor, as quais
não são, de forma alguma, páginas definidas de uma vez por todas (CHARTIER, 2005, online).
PADRONI AÇÃO
As restrições tecnológicas da escrita digital atuam
no nível macro: determinismo de formatos dos dispositivos digitais de escrita do texto. Os
diferentes formatos de plataformas distintas como Facebook, Instagram ou Twitter, por
exemplo.
no nível micro: acionamento de elementos de linguagem em contexto digital, os quais
incorporam intrinsecamente uma dimensão técnica a dimensão tecnolinguageira . PAVEAU,
A enunciação editorial (PAVEAU, 2016)
- modo de elaboração plural do texto, marcado por uma forma polifônica enunciativa (várias instâncias, humanas e
não humanas, intervêm), uma hibridização (texto, imagem fixa ou animada, som), a natureza instável e
transformável do texto e suas possibilidades de circulação inéditas (SOUCHIER, 1998).
Os textos digitais apresentam traços específicos quanto a seus modos de produção, que não se deixam
observar do exterior, mas requerem um conhecimento dos dispositivos de escrita e de culturas
digitais, além de competência quanto aos usos e práticas escriturais: os corpora digitais não são, na
verdade, corpora entre outros, mas mais (terrains) terrenos que necessitam a presença do
pesquisador como usuário (PAVEAU, 2015b).

FAIRE TEXTE DIGITAL

Para Adam (2015), o faire texte é produzido pelas categorias de textualização.


Para Paveau (2015), as categorias que Adam evoca para o faire texte são pré-digitais. Apesar disso, a
noção de faire texte é interessante para pensar o texto nativo digital.
Não se trata realmente de pensarmos sobre O que é um texto?, mas sobre O que faz ser texto?

Para Paveau, é na escrileitura que se faz o texto.

A unidade textual discursiva pode ser construída por meio de percursos de leitura que “a torna texto”.
Koch (2007, p. 33), quando trata da coerência do hipertexto, afirma ser mais
adequado falar de
“um diálogo entre o usuário e o sistema hipertextual, cujo percurso não
pode ser gerenciado pelo produtor no decorrer do processo, mas pode ser
influenciado pela estruturação do hipertexto e pelo uso de suportes de
navegação e de orientação específicos”.

O desafio para a análise dos textos digitais:

Para o analista de textos digitais nativos, é necessário atentar para as


características do ecossistema em que estão inseridos esses textos,
precisando ir além dos elementos que marcam a textualidade
impressa, caso queira dar conta da complexidade tecnodiscursiva que
os caracteriza.
REFERÊNCIAS

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