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Direitos da Diversidade

Sexual - Acesso Integral e


Humanitário a Saúde Pública
“Aspectos práticos e jurídicos do atendimento
da comunidade LGBT”

Enfermeiro Tércio Santos


Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Introdução

Comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais,


Transexuais e Travestis)

-Homofobia (violência física ou moral)


-Negação do reconhecimento à diversidade sexual
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da dignidade da pessoa


humana constitui a base, o alicerce, o
fundamento do Estado Democrático de Direito.

“ Não se é mais digno ou menos digno pelo


fato de ter nascido mulher, ou homem, ou
nordestino, ou de pele negra, ou branca... NEM
MENOS DIGNO POR SER HOMOSSEXUAL,
TRAVESTI OU TRANSEXUAL”.
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O princípio da dignidade da pessoa humana tende a


configurar-se um direito elementar, primordial do
homem, além do direito indispensável da vida.

A interpretação dos demais preceitos constitucionais


e legais há de fazer-se à luz das normas
constitucionais que proclamam e consagram direitos
fundamentais.
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PRINCÍPIO DA IGUALDADE

Conforme destacado pela Constituição


Federal é expressamente proibida à prática de
qualquer tipo de discriminação (artigo 3, IV
CF/88).

Todos são iguais perante a Lei, sem


distinção de qualquer natureza (artigo 5º CF/88).
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Direito a Intimidade
Direito a Privacidade
Direito a Liberdade
Direito a Não-Discriminação

*Máxima constitucional do Direito a Igualdade: “


tratamento igualitário (homens e mulheres),
DIREITO DA DIVERSIDADE SEXUAL A
TRATAMENTO ISONÔMICO COMO OS
HETEROSEXUAIS”.
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DIREITO A VIDA
O direito a vida é o mais fundamental de todos os
direitos, já que se constitui em pré-requisito à
existência e exercício e todos os demais direitos.

O direito à vida como cláusula pétrea e sua


íntima relação com o fundamento constitucional
da dignidade da pessoa humana: Necessidade
de o Poder Público assegurar a eficiente
prestação dos serviços públicos.
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DIREITO A SAÚDE

Artigo 6º da Constituição Federal - Direitos sociais:


garante o direito à saúde.

O direito à saúde pode ser conceituado como o


valor ideal da experiência humana, tanto na
dimensão individual como na coletiva, erigido a
preceito constitucional
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Artigo 196 da Constituição Federal: A saúde é


direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.

Lei n. 8.080/90: Dispõe sobre as condições para a


promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências.
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DIREITO A SAÚDE NO BRASIL


O direito à saúde no Brasil é fruto da luta do
Movimento da Reforma Sanitária e está garantido
na Constituição de 1988.
O Sistema Único de Saúde (SUS), tem como
princípios:
a) a universalidade do acesso;
b) a integralidade da atenção;
c) a participação da comunidade institucionalizada.
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GÊNERO, IDENTIDADE DE
GÊNERO, SEXUALIDADE E
ORIENTAÇÃO SEXUAL:
DIFERENÇAS
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Identidade de gênero: refere-se à masculinidade e à


feminilidade, ou melhor, à convicção que cada um tem sobre
si de ser masculino ou feminino. Logo, significa o gênero
com o qual o indivíduo se identifica, se apercebe
subjetivamente, psicologicamente, independentemente de
seu corpo físico.
Sexualidade: refere-se ao prazer e desejos sexuais.
Orientação sexual: é o elemento que se altera na
composição entre homossexuais e heterossexuais é a
orientação do desejo.
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HOMOSSEXUALIDADE

É o desejo afetivo sexual por indivíduos do mesmo


sexo biológico e se manifesta em ambos os
gêneros, ou seja, masculino e feminino.
Porém, é importante se deixar claro que a
homossexualidade é simplesmente uma forma de
viver, tanto que a orientação sexual não é uma
doença, pois na classificação internacional de
doenças, CID 10, o termo homossexualismo, foi
substituído por homossexualidade.
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BISSEXUALIDADE

O desejo afetivo sexual por indivíduos do mesmo


sexo biológico e se manifesta em ambos os
gêneros, ou seja, masculino e feminino.
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TRANSGÊNERO

Trata-se de conceito, formada a partir de dois


termos - “ trans” (prefixo que dá idéia de ir além, de
realizar uma travessia, uma mudança, uma
transformação) e “ gênero”.

Indica, portanto, situações em que a pessoa se


desloca, transita, entre aquilo que é socialmente
definido como masculino e feminino.
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TRAVESTI

Pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino,


mas que tem sua identidade de gênero oposta ao
seu sexo biológico, assumindo papeis de gênero
diferentes daquele imposto pela sociedade.
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TRANSEXUAL
O transexual refere-se à condição cuja expressão de gênero não
corresponde ao papel social atribuído ao gênero designado no
nascimento.

Transexuais possuem uma identidade de gênero diferente a


designado no nascimento, tendo o desejo de viver e ser aceito como
sendo do sexo oposto.

Cirurgia de transgenitalização: Altera cirurgicamente os órgãos


genitais de nascença para que os mesmos possam ter correspondência
estética e funcional à vivência psico-emocional da sua identidade de
gênero constituída.
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O DIREITO A SAÚDE E A
DIVERSIDADE SEXUAL
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Embora a Constituição Federal proíba a


discriminação, preveja a dignidade da pessoa
humana como princípio basilar, bem como o
atendimento a saúde de maneira igualitária o que se
observa na prática são tabus e preconceitos que
levam o grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais) a serem estigmatizados.
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Pesquisa realizada da Parada Gay de 2009:


Foram ouvidas 211 pessoas entre 10 e 24 anos.
O preconceito, discriminação ou falta de
respeito nos serviços de saúde foi citado por metade
das pessoas ouvidas.

Resultado dessa discriminação: os LGBT


demoram mais para procurar atendimento médico, o
que lhes prejudica significativamente a saúde.
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Ministério da Saúde: Política Nacional de Saúde


Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (LGBT) para ser implementada no Sistema Único
de Saúde (SUS).
Programa Brasil sem Homofobia: compromisso de
tratar a questão dos Direitos Humanos como uma política de
Estado e de enfrentamento à homofobia.
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Decisão Histórica do STF- União Estável


Homoafetiva

Grande exemplo de conquista ocorreu no dia


05/05/2011 quando o Supremo Tribunal Federal
julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI
n. 4277.
Reconhecimento da união homoafetiva como união
estável constitucionalmente protegida e segundo as
mesmas regras e consequencias da união estável
heteroafetiva.
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LEGISLAÇÕES – DIVERSIDADE SEXUAL


a) Lei Estadual de São Paulo n. 10.948/01: Estabelece
penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em
razão de orientação sexual e dá outras providências;

b) Decreto Estadual de São Paulo n. 55.589/2010: garante


o direito das travestis e transexuais de serem chamadas nos
estabelecimentos públicos, inclusive nos hospitalares, pelo
prenome (social) pelo qual são reconhecidas e denominadas
por sua comunidade em sua inserção social.
c) Decreto Estadual de São Paulo n. 46.037/05: institui o
Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual.
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RESOLUÇÕES DO CONSELHO DE
MEDICINA

a) Resolução 1482/1997 do CFM: aprovou a


realização de cirurgias de transgenitalização nos
hospitais públicos universitários do Brasil, em caráter
experimental.

b) Resolução 1652/2002 do CFM: ampliou as


possibilidades de acesso aos procedimentos de
transexualização, retirando o caráter experimental da
cirurgia.
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c) Portaria/GM n. 2227/2004 do CFM: Instituiu debates


acerca à assistência a pacientes transexuais;

d) Resolução n. 208/2009 do CREMESP: normatizou, do


ponto de vista ético, o atendimento médico a travestis e
transexuais em serviços de saúde especializados ou em
unidades de saúde e hospitais para os quais os pacientes são
encaminhados;

e) Portaria CCD/CRT n. A-1/2010 do CREMESP: implantou


o Ambulatório de Saúde Integral a Travestis e Transexuais no
Centro de Referência DST/AIDS da Secretaria Estadual de
Saúde do Estado de São Paulo.
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f) Resolução CFM n. 1.955/2010: dispõe sobre a


cirurgia de transgenitalização de transexual portador
de desvio psicológico permanente de identidade
sexual.

g) Resolução CFP nº 01/99 - Conselho Federal de


Psicologia: regulamenta que os psicólogos deverão
contribuir com seu conhecimento para o
desaparecimento de discriminações e
estigmatizações contra aqueles que apresentam
comportamentos ou práticas homoeróticas.
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DIVERSIDADE SEXUAL E
SAÚDE: CASOS PRÁTICOS
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NOME NA FICHA DE ATENDIMENTO

Resolução n. 208/2009 do CREMESP e o Decreto


Estadual 55.589/2010 determinaram o uso do “nome
social” das pessoas travestis e transexuais em
todos os registros relativos aos serviços públicos de
saúde, independentemente de serem ou não
operadas.

Essa determinação vale para as fichas de cadastro


inicial, formulários, prontuários, entre outros
documentos relativos ao atendimento médico.
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UTILIZAÇÃO DE BANHEIROS

Atualmente, tem-se chegado ao consenso de que a


travesti e a transexual (não operada) devem utilizar o
banheiro pelo qual se identifique com seu gênero.

Da transexual operada não restam dúvidas que


utilizará o banheiro pelo qual se identifica, inclusive
fisicamente.
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Nesse sentido, barrar a entrada de transexual no banheiro pelo


qual se identifica, pode gerar dano moral, conforme se verifica no julgado
abaixo:

DANO MORAL. ACADEMIA DE GINÁSTICA. TRANSEXUAL QUE SE


UTILIZAVA DO BANHEIRO FEMININO. EXCLUSÃO. AUSÊNCIA DE
UMA ADVERTÊNCIA PRÉVIA. DISCRIMINAÇÃO POR PRECONCEITO.
[...] O autor ingressou com a presente ação visando indenização por danos
morais sob o fundamento de que se matriculou na academia ré, tendo
informado o atendente da sua condição de transexual. Que passou a se
utilizar do banheiro feminino, e, por essa razão, acabou sendo impedida
de adentrar na academia, tendo a sua matrícula cancelada [...]. O Juiz
sentenciante deu pela procedência da ação por entender que ocorreu a
discriminação, porquanto sendo o autor transexual, tem um conflito entre o
sexo biológico e a sua identidade sexual, o que demonstra não ter agido
de má-fé ao ingressar no vestiário feminino. (TJSP. Apelação Civil n° 4
35.252-4/1-00. Relator: Testa Marchi. DJ: 15/07/2008). (grifo nosso).
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ATOS ADMINISTRATIVOS

Universidade Estadual do Rio de Janeiro: ato administrativo já


permite o uso do banheiro feminino pelas travestis tanto no campus da
universidade como no Hospital Pedro Ernesto.

Estado do Mato Grosso do Sul: determinação da Secretaria


Estadual de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul, onde as
travestis passaram a utilizar os banheiros dos professores, isso no ensino
fundamental e médio.

Universidade do Estado de São Paulo (USP): ato


administrativo, utilização do nome social das travestis/transexuais nos
registros acadêmicos.
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Deve-se primar pela redução do preconceito,


de modo que elas se sintam mais à vontade para
freqüentar a universidade, fazer cursos, trabalhar de
maneira digna e igualitária.
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ALA DA INTERNAÇÃO
No caso dos homossexuais e bissexuais, não existem
muitas dúvidas que esses deverão ser internados na ala a qual
pertence o sexo biológico, pois como já ressaltado, a sua
orientação é apenas sexual e não há dúvidas quanto a sua
identidade de gênero.

Já o transgênero, mesmo não operado, como sugestão


deve ser internado na ala a qual têm identidade de gênero, da
mesma maneira que ocorre com o banheiro.

Leitos específicos: escassez de recursos por parte do


SUS inviabilizam tais medidas.
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DA NÃO OBSERVÂNCIA DESSES


PRECEITOS
Dano moral contra o médico e o hospital

Artigo 6º da Lei n. 10.948/01: prevê as


penalidades aplicáveis aos que praticarem atos de
discriminação que poderá ser desde advertência, multa
pecuniária, suspensão de licença estadual para
funcionamento do estabelecimento ou mesmo cassação
definitiva, salvo aos órgãos e empresas públicas.
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Todo atendimento médico dirigido a população LGBT deve


basear-se no respeito ao ser humano e na integralidade da atenção
.

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS


MORAIS. DISCRIMINAÇÃO POR OPÇÃO SEXUAL. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. Comprovando a prova testemunhal que o
demandante foi vítima de discriminação por ser travesti ao ser
atendido em posto de saúde, sofrendo constrangimento diante de
outras pessoas, impõe-se o dever de indenizar por danos morais.
Indenização fixada na sentença que se mostra ajustada ao caso
dos autos, considerando a capacidade econômica dos
demandados. APELO DESPROVIDO. TJRS. Apelação Cível Nº
70025273111. Relator: Romeu Marques Ribeiro Filho. DJ:
03/09/2008.
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Para reflexão:
O objetivo principal de qualquer governo, mormente
daqueles que se afirmem democráticos, é planejar
políticas sociais que visem garantir a dignidade das
pessoas independente da orientação sexual, a
condição de cidadão merecedor de respeito,
consideração e apoio não depende de condições e
características em uma verdadeira democracia.
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Considerações Finais
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Preconceito Positivado: Prisão de


Homossexuais (Emirados Árabes Unidos)
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Manifestação a favor da
tipificação do crime de homofobia
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Adoção por casais


homossexuais
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Conscientização e Atitude
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

O respeito a diversidade
Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

Atendimento médico humanitário


Diversidade sexual – Acesso integral a saúde

“ Época triste a nossa, em que é mais fácil quebrar


um átomo do que o preconceito”.

(Albert Einstein)

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